casos prÁticos de direito comercial i 2020/2021, turma …

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1 CASOS PRÁTICOS DE DIREITO COMERCIAL I 2020/2021, TURMA A Regência: Profs. Doutores António Menezes Cordeiro e Ana Perestrelo de Oliveira ACTOS DE COMÉRCIO E COMERCIANTES CASO N.º 1 António, casado com Beatriz, e Carlos, solteiro, donos de uma pastelaria na Avenida de Roma, compraram à sociedade Fruta, Lda. um carregamento de mangas para fazerem os seus conhecidos sumos, que atraem multidões. Pode a Frutas, Lda. demandar apenas António, exigindo- lhe o pagamento do preço total? E, em caso de não pagamento voluntário, pode esta sociedade executar os bens comuns de António e Beatriz? A pastelaria pode não ser uma pessoa coletiva se os donos forem pessoas singulares, os sujeitos são o António e o Carlos. Os sujeitos da relação jurídica são comerciantes. A lógica da lei entende que quando um comerciante exerce a sua atividade fá-lo, por forma que os proveitos da sua atividade para beneficio próprio e da sua família, se o beneficio é para a família também os bens comuns respondem pela atividade, a esposa pode ou não pertencer a sociedade. No caso de nada dizer quanto ao regime de casamento aplica-se o regime supletivo que é a comunhão de adquiridos, art.º 1717º CC. Quanto à segunda questão, nada tem a ver com solidariedade passiva, apenas temos que saber se são executados os seus bens próprios ou se também os bens comuns (art.º 1691/1 – d) CC). + 15º CCOM – dupla presunção. Presume-se que praticam atos lucrativos para proveito comum do casal. Qual o maior ato de amor que um comerciante pode tomar? Casar-se em separação de bens. A solidariedade passiva pode exigir o cumprimento da obrigação a A ou a C, indiferentemente. No caso dos cônjuges não vai exigir cumprimento a B, só pode exigir o cumprimento ao A? Cônjuge tem de provar que não foi para proveito comum. Há uma presunção que é para proveito comum, cabendo ao cônjuge, em caso disso, ilidir essa presunção mediante contraprova. Neste caso não há sociedade, pois não há dados neste caso que nos permitam dizer isso. Há o A em título individual e o C em título individual que alugam um espaço e passam a exercer uma

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CASOS PRÁTICOS DE DIREITO COMERCIAL I 2020/2021, TURMA A

Regência: Profs. Doutores António Menezes Cordeiro e Ana Perestrelo de Oliveira

ACTOS DE COMÉRCIO E COMERCIANTES

CASO N.º 1

António, casado com Beatriz, e Carlos, solteiro, donos de uma pastelaria na Avenida de

Roma, compraram à sociedade Fruta, Lda. um carregamento de mangas para fazerem os seus

conhecidos sumos, que atraem multidões. Pode a Frutas, Lda. demandar apenas António, exigindo-

lhe o pagamento do preço total? E, em caso de não pagamento voluntário, pode esta sociedade

executar os bens comuns de António e Beatriz?

A pastelaria pode não ser uma pessoa coletiva se os donos forem pessoas singulares, os

sujeitos são o António e o Carlos. Os sujeitos da relação jurídica são comerciantes. A lógica da lei

entende que quando um comerciante exerce a sua atividade fá-lo, por forma que os proveitos da sua

atividade para beneficio próprio e da sua família, se o beneficio é para a família também os bens

comuns respondem pela atividade, a esposa pode ou não pertencer a sociedade.

No caso de nada dizer quanto ao regime de casamento aplica-se o regime supletivo que é a

comunhão de adquiridos, art.º 1717º CC. Quanto à segunda questão, nada tem a ver com

solidariedade passiva, apenas temos que saber se são executados os seus bens próprios ou se também

os bens comuns (art.º 1691/1 – d) CC). + 15º CCOM – dupla presunção. Presume-se que praticam atos

lucrativos para proveito comum do casal. Qual o maior ato de amor que um comerciante pode

tomar? Casar-se em separação de bens.

A solidariedade passiva pode exigir o cumprimento da obrigação a A ou a C,

indiferentemente. No caso dos cônjuges não vai exigir cumprimento a B, só pode exigir o

cumprimento ao A? Cônjuge tem de provar que não foi para proveito comum. Há uma presunção

que é para proveito comum, cabendo ao cônjuge, em caso disso, ilidir essa presunção mediante

contraprova.

Neste caso não há sociedade, pois não há dados neste caso que nos permitam dizer isso. Há o

A em título individual e o C em título individual que alugam um espaço e passam a exercer uma

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atividade juntos, podendo ser coarrendatários do espaço, coproprietários das máquinas, nas relações

jurídicas que estabeleçam dirigidas a operacionalidade do estabelecimento comercial estão sempre

numa posição paritária, há muitos sujeitos de direito, neste caso não há um sujeito de direito que seja

autónomo face aos dois sujeitos. Os devedores são A e C, a solidariedade passiva pode o credor

escolher quem quer que lhe pague, até pode pedir aos dois, o credor tem essa opção (art.º 100 do

CCM).

A questão em causa está relacionada com a definição do que sejam atos de comércio, sendo

que ato de comércio, neste caso é inequívoco na medida em que estamos perante um contrato.

O Código Comercial, ao destacar atos de comércio, pretende regular factos jurídicos em

sentido lato.

Facto jurídico divide-se em facto jurídico e ato jurídico em sentido estrito. Ato jurídico divide-

se em negocio jurídico e ato jurídico em sentido estrito.

Um facto jurídico é todo acontecimento, natural ou humano e suscetível de produzir efeitos

jurídicos. Um facto em sentido amplo é todo aquele em que o direito associa uma constituição,

modificação ou extinção de situações jurídicas.

O que distingue um facto jurídico em sentido estrito de um ato jurídico, mesmo quando são

humanos o direito não associa consequências à vontade humana manifestada, pode ser um facto de

natureza (caiu uma árvore em cima de um carro, faleceu o Sr. X), isto não são atos jurídicos, pois não

há uma vontade manifestada. O ato jurídico traduz no ato em que a vontade é juridicamente

relevante quanto á pratica do ato ou quanto ao conteúdo do ato (liberdade de celebração e liberdade

de estipulação, isto é o que distingue os atos jurídicos em sentido estrito dos negócios jurídicos).

No ato jurídico em sentido estrito só há contrato de celebração, mas a vontade de estipulação

ou não existe ou não é juridicamente relevante e os negócios jurídicos é relevante a liberdade de

celebração e a liberdade de estipulação (Prof. Menezes Cordeiro).

Negócios jurídicos podem ser unilaterais ou bilaterais em que os bilaterais podem ser

contratos.

Para efeitos da limitação para que seja um ato comercial sabemos que tudo aquilo que seja um

ato jurídico. A árvore que cai em cima de um carro produz efeitos jurídicos no contexto do contrato

de seguro, a seguradora fica obrigada a indemnizar o tomador do seguro.

O ato que esta em causa é um ato comercial tanto no sentido objetivo como subjetivo. É um

contrato que está preenchido no conceito de ato jurídico, sendo um negócio jurídico bilateral,

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preenche o 463/1 do CCM, é praticado por um comerciante a titulo profissional. Assim, é um ato de

comércio em sentido objetivo pois está “especialmente regulado(s) neste código” (não apenas pelo

Direito Comercial, mas outras normas que tenham natureza especial;)– art.º 2.º Código Comercial.

É também um ato de comércio em sentido subjetivo. Atos subjetivamente comerciais são atos cuja

comercialidade depende do sujeito que os pratica (artigo 2º/2ª parte do Código Comercial),

preenchendo o artigo 13º Código Comercial – “São comerciantes: 1.° As pessoas que, tendo

capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão;”, não havendo quaisquer indícios

que se tratem de pessoas incapazes (7º Código Comercial).

Se não aplicássemos a regra do art.º 2 CCM, sairia a aplicação do art.º 100 CCM e não tínhamos

um regime de solidariedade. Neste caso aplicaríamos o regime da parcialidade prevista no art.º 513

do CC, podendo exigir metade tanto ao A como ao C. Sendo que no caso a divida era divisível, art.º

534 CC.

Se o A tem uma divida própria, só podem afetar os bens do cônjuge devedor art.º 1692 CC, e

1696 CC. Depende do que se disse em cima.

Quem é chamado a execução dos bens é A (titular dos bens) como devedor e B (titular dos

bens), sendo que B não é devedora apenas é chamada a ação para se defender.? Depende do que se

disse acima.

• Sujeitos são comerciantes? Ato tem natureza exclusivamente civil?

Podemos ter atos objetivamente comercial praticado por quem não é comerciante.

Artigo 2/segunda parte – alguma doutrina diz que há uma presunção. O comerciante tem o ónus de

declarar eu aquele ato não foi exercido no âmbito do comercio.

Temos um ato subjetivamente comercial. Aplicar artigo 100º - por contraposição 513º código civil, em

que a regra geral é a parciariedade.

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CASO N.º 2

David, fotógrafo, vende, todos os fins-de-semana, fotografias por si captadas nas feiras da

região. Cansado das longas deslocações, propõe a Elvira, que se dedica à venda de produtos

biológicos por si cultivados, que comprem em conjunto uma carrinha para chegarem às feiras. Assim

fizeram. No entanto, Elvira arrepende-se e não quer pagar o preço acordado. Pode a sociedade

Automóveis, SA. demandar apenas David?

A questão em causa está relacionada com a definição do que sejam atos de comércio. O

conceito de ato abrange contratos, negócios unilaterais, atos jurídicos em sentido estrito e, ainda, para

alguns autores, factos jurídicos em sentido estrito e efeitos jurídicos.

Os atos podem ser objetiva ou subjetivamente comerciais.

Os atos comerciais objetivos são aqueles que estão especialmente regulados no Código

Comercial (artigo 2º/1ª parte) - não apenas pelo Direito Comercial, mas outras normas que tenham

natureza especial (diplomas avulsos; leis extravagantes). O art.º 464º/2 Código comercial enuncia que

“As vendas que o proprietário ou explorador rural faça dos produtos de propriedade sua ou por ele

explorada, e dos géneros em que lhes houverem sido pagas quaisquer rendas” não são consideradas

comercias (caso de Elvira), pelo, neste sentido, a compra e venda não se trata de um ato

objetivamente comercial, uma vez que a lei é clara quando diz que atos deste tipo não são comerciais.

O mesmo se diga a respeito de David, nos termos do art.º 230 na exceção 3 – “§ 3º Não se haverá como

compreendido no nº 5 o próprio autor que editar, publicar ou vender as suas obras.”

Não sendo a compra uma atividade comercial não cabe no art.º 463/1 CCM, e não sendo um ato

objetivamente comercial não cabe no art.º 2/ 1 parte CCM. Falta a lógica da revenda, a lógica de

intermediação – 463º.

Por sua vez, atos subjetivamente comerciais são atos cuja comercialidade depende do sujeito

que os pratica (artigo 2º/2ª parte do Código Comercial). Conforme art.º 13º/1 Código Comercial, são

comerciantes as pessoas que, tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão.

Ora como vimos a profissão a que ambos se dedicam não são consideradas atividades comerciais, do

ponto de vista objetivo, pelo que não os podemos entender como comerciantes. Estes ato terão

natureza exclusivamente civil, uma vez que “em determinado momento não esteja regulado pelo

direito comercial: Menezes Cordeiro”.

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O que esta previsto no art.º 230 são conjunto de atos que a lei qualifica expressamente como sendo

comerciais, porque são atos que nos termos do art.º 2/ 1 parte, são classificados como objetivamente

comerciais, pois é praticado a titulo profissional pelo David. No entanto houve a exclusão no

paragrafo 3 e exclui o número 5 do artigo 230 CCM, visto ele ser fotografo, logo não sendo um ato

objetivo comercial, não sendo um ato comercial (art.º 2/ 1 parte CCM) o David não é comerciante. No

caso da Elvira também não é comerciante de acordo com o art.º 464/2 CCM.

Contrariamente, no caso da venda esta foi comercial, porque foi praticado por comerciante de

acordo com o art.º 13/2 CCM (porque o Stand se trata de uma sociedade comercial) então é um ato

subjetivamente comercial nos termos do art.º 2/segunda parte. + 463º/3.

Assim, até aqui, concluímos que se trata de um ato unilateralmente comercial, devendo-se

aplicar o regime do art.º 99º Código Comercial, que reitera que “Embora o ato seja mercantil só com

relação a uma das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os

contratantes, salvas as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o ato é mercantil”

– fica de fora a disposição do art.º 100º - (porque o ato não é comercial, mas civil) a solidariedade

como regime regra – a solidariedade dos devedores, neste aspeto, só se verifica relativamente àquele

por cujo respeito o ato é mercantil (STAND). O artigo 99º cede sempre pelo art.º 100º. Aplica-se,

portanto, o artigo 513º, que segue a regra da parciariedade, regime regra do direito civil.

Contrariamente, no direito comercial a regra é a da solidariedade, pelo artigo 100º do Código

Comercial.

O Art.º 101 CCM diz-nos que ainda que não seja comerciante será solidário com o respetivo

afiançado, pois a divida que está a ser garantida é relativa a um ato comercial, então a

responsabilidade do fiador será solidaria (Elvira e David).

CASO N.º 3

Frederico, advogado e amante de pintura, comprou um conjunto de quadros de Júlio Resende

numa galeria de arte, no Porto, pretendendo fazer uma surpresa a Helena, sua mulher. Helena,

contudo, não gostou dos quadros e exigiu que Frederico os tirasse rapidamente de casa. Triste,

Frederico decidiu vender os quadros. Jeremias, comerciante de arte, mostrou-se logo interessado e a

venda realizou-se. Ficou, no entanto, combinado que Frederico guardaria os quadros durante 15 dias,

pelo que este contratou o depósito dos quadros com a galeria de arte onde os comprara, por aquele

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período. Para garantir a segurança dos quadros, Frederico contratou ainda um guarda para vigiar as

pinturas. Qual a natureza dos vários atos descritos?

1º Compra de cinco quadros por parte de Frederico advogado- não se trata de um ato de comércio

nem a título subjetivo, nem a título objetivo uma vez que Frederico não é comerciante, é advogado,

não faz da pratica de atos de comércio a sua profissão, não se encontra preenchido o art.º 13, nem o

art.º 2º 2ª parte. À luz do art.º 464/1 este ato é igualmente não comercial uma vez que o conjunto de

quadros comprados se destinava ao uso do comprador ou da sua família (neste caso da sua mulher

Helena), posto isto, e de acordo ao art.º 464 nº1 e ao art.º 2º 1ª parte não se encontra preenchido o

critério objetivo de ato de comércio.

2º venda desses quadros pela galeria de arte - Trata-se de um ato de comércio, em primeiro lugar a

título objetivo por via do art.º 2º1ª parte e da classificação da galaria de arte como comercial feita pelo

do art.º 230º nº 5, não se aplicando a exceção do terceiro parágrafo do mesmo artigo. Em segundo

lugar trata-se de um ato de comércio a título subjetivo à luz Art.º 13º nº 2 (sociedade) e do art.º 2º 2ª

parte.

MC elucida uma categoria daqueles que, não sendo comerciantes, podem ser aplicadas, em

determinados casos, casuisticamente, regras comerciais.

Qual aa diferença entre contrato de trabalho e a prestação de serviços? Na prestação de serviços não

há dependência. No contrato de trabalho o empregador tem poder de direção sobre o contratado.

Quando o frederico compra não tem a intenção de revender. A revenda é apenas uma vicissitude.

Nesse sentido, o ato tem natureza civil.

Compra por jeremias é um ato objetivamente comercial – 463º/1 e também subjetivamente, uma vez

que se trata de uma sociedade comercial, nos termos do artigo 13º/2.

Deste modo, trata-se de um ato misto – cuja aplicação do artigo 99º é perentória.

Prevalece a venda ou compra no caso do deposito? Depósito é civil, segundo o professor. F foi quem

contratou os serviços de deposito; enquanto estão depositados não estão destinados ao comércio;

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Contrato de prestação de serviços: não é objetivamente comercial, nem subjetivamente.

ESTUDAR MATERIA DOS ATOS ACESSORIOS? É PRECISO UM ATO COMERCIAL

POR/PARA SER ACESSÓRIO?

RELACIONAR ESTE PROBELMA COM OS ATOS COMERCIAIS POR ANALOGIA.

Coloca-se a questão da possibilidade de considerar comerciais atos que não surjam nem no

Código Comercial, nem em leis que alteraram o Código Comercial, nem em leis que se assumam, elas

próprias, como comerciais. Isso implicaria o recurso à analogia para qualificar, como comercial, um

certo ato.

A doutrina dividiu-se quanto a esta matéria:

a) Contra a analogia, pronunciaram-se, nomeadamente, Guilherme Moreira e Oliveira

Ascensão.

b) A favor da mesma, pronunciaram-se nomes como Cunha Gonçalves e Coutinho de Abreu

(primeiro qualifica e depois aplica o regime).

c) Outros autores, como Azevedo e Silva e Eduardo Saldanha, preferem falar no caráter

taxativo da enunciação dos atos de comércio objetivos, excluindo a analogia.

d) No campo oposto surge a teoria do acessório, segundo a qual seriam objetivamente

comerciais, também aqueles que sejam acessórios dos atos comerciais regulados na lei. Defende

esta teoria, por exemplo, Cunha Gonçalves. Ex.: Maria vai à almedina e compra 100 CC para

revender. Para o efeito, compra caixas de cartão moldáveis. A compra dos CC é objetivamente

comercial? Sim. Já a Maria não é comerciante. E a compra das caixas? Tendo em conta os quatro

requisitos não. Levando a teoria do acessório ao extremo vivencia-se uma insegurança jurídica. É

preciso alguma certeza e previsibilidade. Hoje em dia o problema tende a conduzir-se ao seguinte.

Não devemos reconduzir os atos acessórios… hoje em dia a teoria do acessório tende a reconduzir-se

ao instituto da analogia. Não tem limites ao que é/pode ser considerado acessório; aquilo que faz

parte do complexo de produção).

e) O Prof. PPV vai mais longe e diz que podem ser qualificados como comerciais por

analogia não apenas os atos acessórios, mas também outros que fossem valorativamente próximos

dos atos especialmente regulados na lei comercial.

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Para o Prof. Menezes Cordeiro, o problema da qualificação de certos atos como comerciais,

com recurso à analogia, representa um exercício teórico de interpretação e de construção jurídicas.

Não lhe parece de todo possível discutir a possibilidade do uso da analogia na qualificação de atos

como comerciais sem antes saber quais as implicações em jogo.

Para este, o debate da possibilidade do recurso à analogia na qualificação de atos de comércio

corresponde a uma inversão metodológica. A qualificação não é causal do regime (10º - Coutinho

abreu faz inversa, como supra dito); antes decorre deste, isto é, dever-se-ia partir do regime jurídico

para a qualificação e não o contrário.

Não se deve a priori e em abstrato qualificar ou não qualquer ato como comerciante. O

caminho certo é o inverso:

1º Perante um ato, há que lhe determinar o regime;

2º Conhecido este: se se tratar de um regime comercial, o ato é comercial, sob pena de

inutilidade do próprio conceito.

As regras do Direito comercial são especiais: à partida, não são excecionais. Comportam, como

se viu, aplicação analógica. Posto isto, pode assentar-se o seguinte:

- Perante um ato que não esteja “especialmente regulado neste Código” – ou situação

equivalente – há que verificar se o seu regime é “comercial e especial”; sendo a resposta positiva, o

ato é comercial.

- Perante um ato lacunoso, há que lhe apurar o regime: seja pela analogia, seja pela norma

que o intérprete criaria. Na integração da lacuna, podem ser usadas normas e princípios comerciais –

desde que não excecionais – de acordo com as regras gerais aqui aplicáveis. Perante o resultado

obtido, se chegarmos à conclusão de que o ato ficou como que “especialmente regulado neste

Código”, ele é comercial. Um exemplo: as obrigações resultantes da culpa in contrahendo,

verificadas aquando da preparação de um contrato comercial, serão elas próprias comerciais.

Vejamos um exemplo mais pormenorizado:

A culpa em contrahendo na preparação de um ato comercial. Rompo injustificadamente as

negociações e aproveito-me da informação que recolhi durante o processo negocial e vou concorrer

com a contraparte usando a informação que lhe tinha sido disponibilizada no processo negocial.

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A e B negociavam com C para obtenção de peças classificadas como secretas, há ultima hora

decidem fazer umas peças na China usando a informação facultada pelo C. Que responsabilidade

têm o A ou o B?

Há solidariedade Passiva ou é uma obrigação solidaria.

Pode ou não (de acordo com o Prof. Menezes Cordeiro) aplicar o regime de acordo com o art.º

100 do Código Comercial?

Primeiro: é um ato de comercio para efeitos do art.º 2? Não, pois não houve nenhum ato de

comercio, não houve contrato.

Mas a esta situação aplica-se analogicamente o registo previsto para os atos de comércio,

porque o art.º 227 Código Civil manda aplicar a responsabilidade que decorreria de um contrato em

si, logo devemos aplicar com a necessárias aplicações o regime do contrato que teria sido celebrado,

para efeitos da obrigação de confidencialidade. Temos que ir ver analogicamente qual é a norma que

se aplicava, porque por aplicação analógica das regras dos contratos comerciais à negociação pré-

contratual, implica que aquela situação é regulada pelo Direito Comercial e se é regulada pelo Direito

Comercial aplica-se o art.º 100 Código Comercial, então são solidariamente responsáveis. Se são

Solidariamente responsáveis dizemos que há uma regulação especial do Direito Comercial aplicado

ao ato em causa, se assim é então o ato é também ele um ato de comercio para este efeito.

CASO N.º 4

Vasco, trabalhador dos correios, entra, todos os dias, às 9h00 e sai às 17h00. Amante de

filatelia, decidiu, há algum tempo, montar um pequeno quiosque numa Praça lisboeta, para se

distrair um pouco ao fim do dia, antes de ir ter com a mulher, por volta das 19h00. Para manter

aberto o quiosque todo o dia, Vasco contratou um empregado, Manuel. Qual a natureza (civil ou

comercial) do contrato celebrado?

A primeira questão aqui em causa está relacionada com a definição do que sejam atos de

comércio.

O Código Comercial, ao destacar atos de comércio, pretende regular factos jurídicos em

sentido lato.

Facto jurídico divide-se em facto jurídico em sentido estrito e ato jurídico. Ato jurídico divide-

se em negocio jurídico e ato jurídico em sentido estrito.

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Um facto jurídico é todo o acontecimento, natural ou humano, suscetível de produzir efeitos

jurídicos. Um facto em sentido amplo é todo aquele a que o direito associa uma constituição,

modificação ou extinção de situações jurídicas.

O que distingue um facto jurídico em sentido estrito de um ato jurídico, mesmo quando são

humanos o direito não associa consequências à vontade humana manifestada, pode ser um facto de

natureza (caiu uma árvore em cima de um carro, faleceu o Sr. X), isto não são atos jurídicos, pois não

há uma vontade manifestada. O ato jurídico traduz no ato em que a vontade é juridicamente

relevante quanto á pratica do ato ou quanto ao conteúdo do ato (liberdade de celebração e liberdade

de estipulação, isto é o que distingue os atos jurídicos em sentido estrito dos negócios jurídicos).

No ato jurídico em sentido estrito só há contrato de celebração, mas a vontade de estipulação

ou não existe ou não é juridicamente relevante e os negócios jurídicos é relevante a liberdade de

celebração e a liberdade de estipulação (Prof. Menezes Cordeiro).

Negócios jurídicos podem ser unilaterais ou bilaterais em que os bilaterais podem ser

contratos.

Para efeitos da limitação para que seja um ato comercial sabemos que será tudo aquilo que seja

um ato jurídico. A árvore que cai em cima de um carro produz efeitos jurídicos no contexto do

contrato de seguro, a seguradora fica obrigada a indemnizar o tomador do seguro.

No caso sub judice estamos perante um contrato de trabalho, cabendo averiguar se se trata de

um contrato objetiva e subjetivamente comercial.

Nos termos do art.º 2.º Código Comercial “Serão considerados atos de comércio todos aqueles

que se acharem especialmente regulados neste Código” (não apenas pelo Direito Comercial, mas

outras normas que tenham natureza especial;). O contrato de trabalho não vem regulado no código

comercial, mas sim no código do trabalho, pelo que, tendo em conta o preceito do art.º 2º do Código

Comercial, este ato não é objetivamente comercial.

Por sua vez, um ato que não seja objetivamente comercial não implica que o autor do mesmo

não seja considerado comerciante, isto é, não seja considerado um ato subjetivamente comercial.

Os atos subjetivamente comerciais são atos cuja comercialidade depende do sujeito que os

pratica (artigo 2º/2ª parte do Código Comercial – “e, além deles, todos os contratos e obrigações dos

comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não

resultar.”), preenchendo o artigo 13º Código Comercial – “São comerciantes: 1.° As pessoas que,

tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão;”.

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Nos termos do art.º 13º são comerciantes; (a) as pessoas que tendo capacidade (de exercício)

(art.º7º+127º do CC); (b) pratica atos de comercio (230/5? – 463º/1 - 464º); (c) fazendo deste profissão:

índices de profissionalidade segundo o professor Menezes Cordeiro – pratica habitual e reiterada

(não tem de ser continua); prática lucrativa (o comércio visa o lucro); prática juridicamente autónoma

em nome próprio (não trabalhar por conta de outrem; a autonomia não pode falhar para o Prof. MC);

ou prática tendencialmente exclusiva (não possibilidade de dedicar-me a uma serie de atividades de

forma limitada - ele trabalha nos correios, o professor Oliveira Ascensão nem considera este

requisito) - índices de profissionalidade segundo o professor Coutinho Abreu – prática

tendencialmente habitual e reiterada1; prática juridicamente autónoma; O professor considera

também que para ser comercial basta que tenha conexão com o comercio. Não é por ser um ato

secundário que deixa de ser comerciante.

Indícios móveis: basta que haja indício que demonstrem com clareza para se poder que se faz

deles profissão - Prática reiterada habitual. Não é pela falha de um destes requisitos que se vai deixar

de se considerar que a prática é comercial.

Em suma, subjetivamente Vasco é comerciante.

• Discussão sobre a prática tendencialmente exclusiva

Se ele só tivesse o quiosque 2h era considerado comerciante? SIM

Por fim, observado o art.º 2º in fine, são considerados atos comerciais aqueles que não sejam de

natureza exclusivamente civil. A doutrina diverge neste âmbito:

• doutrina tradicional, subscrita nomeadamente por Guilherme Moreira, entende que a natureza

“exclusivamente civil” assiste aos atos regulados apenas no Código Civil;

• teriam natureza exclusivamente civil os atos não especialmente contemplados no Código

Comercial;

• Oliveira Ascensão, numa evolução desta orientação, vem dizer que o ato exclusivamente civil

é o que não possa ser regulado pelo Código Comercial;

1 Exemplo: alguém que explore um parque de campismo só no verão considera a pessoa comerciante.

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• seriam atos de natureza exclusivamente civil os que, pela sua natureza, não são conexionáveis

com o exercício do comércio2 – Cunha Gonçalves; Coutinho de Abreu, entre outros.

• O professor Menezes Cordeiro entende por “ato exclusivamente civil”, os atos que, no atual

momento histórico, não estão regulados no Código Comercial. Defende que não parece

viável dar um critério universal para tais atos: caso a caso teríamos de discutir se, perante as

valorações em presença, o ato em jogo ainda se poderia submeter a regras comerciais. O Prof.

Ferreira Borges (e o professor Diogo Coelho) não concordam; o primeiro por achar esta uma

visão excessivamente restritiva. Isto porque o art.º 2º ele próprio alarga o âmbito de aplicação

do Direito Comercial, ao determinar que os atos praticados por comerciantes são atos

comerciais, independentemente de o serem em sentido objetivo ou não. Os “atos

exclusivamente civis” são então uma fronteira à expansão do Direito Comercial. O que o Prof.

FB critica é que a tese do Prof. MC, ao ter como critério para determinar os atos

exclusivamente civis o próprio Direito Comercial, tira quase totalmente a relevância dos atos

em sentido subjetivo.

Assim, estando perante um contrato de trabalho, regulado pelo Código do Trabalho, que é

considerado um contrato de natureza exclusivamente civil (ordenado, horário…), não sendo, por isso,

regulado pelo Código Comercial.

Dependente da posição adotada.

• JOSÉ FERREIRA GOMES – considera o contrato de trabalho de natureza exclusivamente

civil.

O que se podia discutir de uma vertente objetiva – compra de selos podia ser enquadrada no

art.º 230º/5. 463º chega.

2 Atos que visem promover o comércio.

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CASO N.º 5

José e Luís, arquitectos, pretendendo remodelar o atelier de que são proprietários, no Chiado,

contrataram Matias, empreiteiro, para fazer as obras. No dia 15 de Janeiro de 2019, já com as obras

prontas e aprovadas, Matias apresenta a factura a José, conhecido pelas suas maiores

disponibilidades financeiras. Contudo, até agora, José não pagou a dívida, alegando que só está

obrigado a pagar metade do valor da factura. (i) José tem razão? (ii) A dívida está vencida? (iii) Em

caso de mora, qual a taxa de juro aplicável, sabendo que nada foi convencionado?

A primeira questão aqui em causa está relacionada com a definição do que sejam atos de

comércio.

O Código Comercial, ao destacar atos de comércio, pretende regular factos jurídicos em

sentido lato.

No caso sub judice estamos perante um contrato de empreitada, cabendo averiguar se se

trata de um contrato objetiva e subjetivamente comercial.

Os atos subjetivamente comerciais são atos cuja comercialidade depende do sujeito

que os pratica (artigo 2º/2ª parte do Código Comercial – “e, além deles, todos os contratos e

obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do

próprio ato não resultar.”), preenchendo o artigo 13º Código Comercial – “São comerciantes: 1.° As

pessoas que, tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão;”.

Nos termos do art.º 13º são comerciantes; (a) as pessoas que tendo capacidade (de exercício)

(art.º7º+127º do CC); (b) pratica atos de comercio (230º/6); (c) fazendo deste profissão: índices de

profissionalidade segundo o professor Menezes Cordeiro – pratica habitual e reiterada (não tem de

ser continua); prática lucrativa; prática juridicamente autónoma em nome próprio (a autonomia não

pode falhar para o Prof. MC); ou prática tendencialmente exclusiva (o prof. Oliveira Ascensão nem

considera este requisito) - índices de profissionalidade segundo o professor Coutinho Abreu –

prática tendencialmente habitual e reiterada3; prática juridicamente autónoma; O professor considera

também que para ser comercial basta que tenha conexão com o comercio. Não é por ser um ato

secundário que deixa de ser comerciante.

3 Exemplo: alguém que explore um parque de campismo só no verão considera a pessoa comerciante.

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Indícios móveis: basta que haja indício que demonstrem com clareza para se poder que se faz

deles profissão - Prática reiterada habitual. Não é pela falha de um destes requisitos que se vai deixar

de se considerar que a prática é comercial.

Relativamente a José e Luís, estes são profissionais liberais, o que os leva a não serem

comerciantes pelo que se aplica o disposto no art.º 99º e no art.º 100º.

Nos termos do art.º 2.º Código Comercial “Serão considerados atos de comércio todos

aqueles que se acharem especialmente regulados neste Código” (não apenas pelo Direito Comercial,

mas outras normas que tenham natureza especial;). Ora o contrato de empreitada, regulados nos

artigos 1207º e ss. do Código Civil, constitui um contrato cuja natureza e regime é compatível com o

exercício da atividade mercantil, podendo até integrar esse exercício, não sendo ato por sua natureza

insuscetível de comercialização, vindo, implicitamente, regulado no código comercial (230

º/6). No entanto, é preciso analisar este artigo, de modo a concluir de deve ser feita uma

interpretação objetivista ou subjetivista deste enunciado. Por outras palavras, este artigo define atos

de comercio ou comerciantes?

• Para a maioria da doutrina o cariz é objetivo - Argumentos: (a) em 1888, a noção de pessoa

coletiva não era utilizada e tão pouco conhecida da doutrina, logo, por empresa, deve entender

empreendimento/atividade; (b) solução mais consonante com a sistemática do Código

Comercial, que, nos termos do artigo 1º, tem como função a regulação de atos de comércio; (c)

admitir que se tratavam de sujeitos seria esvaziar o artigo 13º (comerciantes).

• José Tavares: estamos perante atos subjetivamente comerciais, pela interpretação da letra da

norma.

Perante o que foi dito, tendo a concordar com a posição maioritária, pelo que, tendo em conta o

preceito do art.º 2º do Código Comercial (+230º/6), este ato (contrato de empreitada) é objetivamente

comercial, pelo que, no que há solidariedade diz respeito, devemos atender aos artigos 99º e 100º do

Código Comercial. Atendendo ao preceito do artigo 2º segunda parte, o ato não é de natureza

exclusivamente civil - apesar do contrato de empreitada estar previsto no CC, esta igualmente

previsto no Código Comercial.

Do lado dos arquitetos o ato é civil, do lado do Matias o ato é comercial. Se fizermos um

exercício de decisão analítica temos um ato Misto. Nestes casos aplica-se o art.º 99 para considerar o

ato como comercial.

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Assim, até aqui, concluímos que se trata de um ato unilateralmente comercial, devendo-se aplicar o

regime do art.º 99º Código Comercial, que reitera que “Embora o ato seja mercantil só com relação a

uma das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os contratantes,

salvas as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o ato é mercantil” – fica de fora

a disposição do art.º 100º - (porque o ato não é comercial, mas civil) a solidariedade como regime

regra – a solidariedade dos devedores, neste aspeto, só se verifica relativamente àquele por cujo

respeito o ato é mercantil. O artigo 99º cede sempre pelo art.º 100º. Aplica-se, portanto, o artigo 513º,

que segue a regra da parciariedade, regime regra do direito civil. Contrariamente, no direito

comercial a regra é a da solidariedade, pelo artigo 100º do Código Comercial.

(ii) A dívida está vencida?

D.L.62/2013 de 10 de Maio.

J e L não são consumidores, para efeitos deste caso. De acordo com o art.º 4/3 a) a obrigação já

se encontra vencida, pois de acordo com este artigo conta-se 30 dias após o devedor ter recebido a

fatura que neste caso seria no dia 15 de Setembro, 30 dias corridos com base no art.º 279 do Código

Civil.

Para o efeito deste diploma o J e o L são considerados uma empresa, porque desenvolvem de

forma autónoma uma determinada atividade económica, art.º 3 d).

ii) O art.º 4 nº3 a) Dl 62/2013 “diz nos que sempre que o contrato não tenha prazo de vencimento,

são devidos juros de mora após o termo de 30 dias a contar da data em que o devedor tiver recebido a

fatura, posto isto a obrigação venceu-se a 15 de setembro a contagem dos 30 dias corridos é feita com

base no art.º 279 do CCivil deste diploma aplica-se a José e Luís como se pode ler na epígrafe do

artigo. são considerados pelo presente diploma uma “empresa” uma vez que desenvolvem de forma

autónoma uma determinada atividade económica cf. o art.º 3º al d). J e L não são considerados

comerciantes uma vez que são profissionais liberais, pagamento efetuado como uma transação

comercial. Há uma amplitude da empresa.

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Abrir a sub hipótese de que só quando Luís receber a fatura é que se começa a contar o prazo de 30

dias. Há uma transação comercial.

➔ 3 momentos temporais autónomos e distintos: momento do consumo, da fatura e do

vencimento

(iii) Em caso de mora, qual a taxa de juro aplicável, sabendo que nada foi convencionado?

Sabendo que nada foi convencionado, devemos ter em conta o disposto no DL 62/2013 art.º 11

que remete para o art.º 102º do Código Comercial, aplicando-se o numero 5º e ainda a portaria

277/2013 de 26 de agosto que indica que a taxa de juro é de 8% (preambulo). Poderiam ter

convencionado que não havia taxa de juro ou até que era de apenas 1%. Aviso emitido: 854/2017 que

vem manter a taxa no mínimo de 8% no segundo semestre.

Comercial: juros 80 euros civil: 40 euros

CASO N.º 6

Francisco, estudante, decidiu montar uma pequena livraria: tomou de arrendamento uma loja

na Baixa, comprou as estantes e todo o mobiliário necessário, encomendou os computadores e

celebrou um contrato de fornecimento de livros com uma editora. No entanto, mesmo antes de a loja

abrir, Francisco apercebeu-se que o curso de Direito lhe deixava pouco tempo para gerir o negócio,

acabando por vender a loja a Gustavo e Octávio, estudantes de gestão. Estes nunca pagaram o preço.

A responsabilidade de Gustavo e Octávio é solidária ou é conjunta?

• Trespasse: venda definitiva de um estabelecimento comercial

• Há leis que se autoqualificam como comerciais. Parte da doutrina considera que o

arrendamento e o trespasse são atos objetivamente comerciais, porque os traços materiais são

iguais após a reforma legislativa.

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• Pode uma pessoa ser considerada comerciante mesmo antes de exercer a atividade?

OA considera que só pode uma pessoa ser considerada comerciante quando a atividade

é exercida.

▪ Apoio argumentativo: 95º.

CA - tem de haver atos reguladores da possibilidade de um sujeito vir a tornar-se

comerciante. Se alguém pratica atos de comercio ou organização de uma empresa e que

constituem atos de que essa pessoa vai explorar a atividade torna-se comerciante. Basta

a mera prática de atos preparatórios, desde que demonstrem a vontade e possibilidade

de praticar aquela atividade. Defende que também a celebração de um contrato que seja

demonstrativo da possibilidade e vontade em proceder aquela atividade, deve

determinar a aquisição de comerciante.

• Aplica-se assim o regime da solidariedade previsto no art.º 100 do Código Comercial em que

ambos estão obrigados a pagar a totalidade do preço.

• Contrato de fornecimento de livros – 463º/1 – ato objetivamente comercial – 2º

• Compra e venda da loja a Gustavo e Octávio – trespasse - O trespasse é a transmissão a título

definitivo do estabelecimento comercial. Objetivamente comercial - Este é um ato comercial,

não obstante estar numa norma que não consta do Código Comercial, uma norma comercial, é

uma norma que regula o estabelecimento. O estabelecimento é uma unidade funcional ligada à

prática do comércio com direitos e deveres.

CASO PRÁTICO N.º 7

Albano tomou de arrendamento a Belarmina e Carmelinda um espaço no qual instalou um

snack-bar, em 1999, a que chamou “Altanaria”. Segundo Albano, o espaço nunca tinha sido usado

para qualquer atividade, pelo que Albano teve de comprar e pagar todos os móveis e produtos

necessários ao funcionamento do seu snack-bar.

Em 2014, Albano, farto de servir tostas mistas, decidiu passar o negócio ao seu primo, Diogo.

Para o efeito, contactou Belarmina e Carmelinda para saber se nada tinham a opor e, para sua

grande surpresa, estas comunicaram-lhe que se opunham terminantemente a tal transmissão,

dizendo-lhe: «Não queremos cá esse seu primo que, toda a gente sabe, é um caloteiro!».

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Perante esta recusa, Albano não teve outro remédio senão continuar a servir tostas mistas.

Recorrendo a todas as forças que lhe restavam, promoveu o nome da Albanaria, melhorou o

serviço e passou a anunciar “as melhores tostas do mundo!”.

Dois anos mais tarde (2016), porém, um seu cliente de longa data, Ernesto, disse-lhe entre

duas dentadas numa tosta: «Oh Albano, se estás assim tão farto disto, eu dou conta do recado! A

Belarmina e a Carmelinda são loucas por mim!». Dito isto, logo ali acordaram no preço, apertaram

as mãos e deram o negócio por concluído.

Quem não gostou da situação foi Filipa, filha única de Albano que queria ficar com a

Albanaria e tinha planos para expandir o negócio, abrindo outras “Albanarias” por toda a cidade.

Albano, desolado, disse-lhe: «Oh filha, se eu soubesse... Agora é tarde para isso, mas não te

preocupes: ajudo-te a abrir um snack-bar igualzinho a dois quarteirões daquele: vamos chamar-lhe

Nova Albanaria e vamos recuperar “as melhores tostas de Lisboa”!».

1. Imagine que, perante a tentativa de Albano de “passar o negócio” ao seu primo, Belarmina e

Carmelinda pretendiam reagir. Segundo estas, o contrato celebrado não era de arrendamento, mas

de “cessão de exploração”: contrariamente ao afirmado por Albano, com o gozo do espaço foi

igualmente cedido mobiliário e equipamento identificado num anexo ao contrato. Não existiam,

porém, empregados e clientela. Quid iuris?

Por cessão de exploração (424º CC) entende-se a transmissão temporária do gozo de um

estabelecimento comercial. Por sua vez, esta pode ser a título gratuito (comodato) ou oneroso

(locação – 1109º CC). Neste caso, alegado por Belarmina e Carmelinda, estaríamos perante uma

locação.

Contudo, para que seja considerada uma locação, e por sua vez cessão, exige-se, desde logo, um

estabelecimento.

Por estabelecimento, por sua vez, entende-se o conjunto de meios materiais, coisas corpóreas e

incorpóreas, devidamente organizado para a prática do comércio, visando, dotados destas coisas

materiais corpóreas e incorpóreas, a obtenção do lucro através de clientela. A clientela integra as

coias corpóreas respeitantes ao ativo do estabelecimento, pelo que, neste caso, não estaríamos

perante um estabelecimento, prima facie. MAS BASTA A CLIENTELA POTENCIAL, PELO QUE

NÃO É UM ELEMENTO NECESSÁRIO?

Não existindo um estabelecimento, a jurisprudência tem vindo a fixar estarmos perante um

arrendamento “puro”. Assim, o primeiro contrato é de arrendamento - tem por base pagamento de

uma renda.

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Por trespasse entende-se a transmissão definitiva do estabelecimento comercial, sendo o regime

excecional, sendo o da cessão o regime geral.

Para se verificar uma situação de trespasse de estabelecimento o negócio deve ter como objeto um

estabelecimento comercial, composto por um elemento ativo e um elemento passivo.

No respeitante ao ativo, abrange coisas corpóreas, incorpóreas, aviamento e clientela. Estes

elementos encontram-se interligados para a prática do comércio.

Por outro lado, o elemento passivo abrange as dívidas.

A clientela equivale ao conjunto de pessoas dispostas a contratar com o estabelecimento, nele

adquirindo bens ou serviços.

Os contratos de trabalho inserem-se nas coisas incorpóreas.

O aviamento é a aptidão funcional e produtiva do estabelecimento.

Faltando estes 2 elementos não considero que esteja em causa um estabelecimento comercial, não

podendo haver trespasse.

Inexistindo trespasse, a cessão da posição de arrendatário seria ilícita sem a comunicação ao

senhorio, sendo fundamento para o direito de resolução do contrato de arrendamento, à luz do art.º

1083/2/e) e de pedido de indemnização nos termos da responsabilidade obrigacional (798º).

O primeiro arrendamento é de um estabelecimento comercial? Não.

O trespasse é um efeito jurídico – depende de um contrato, um negócio base – não é, sem si, um negócio.

No contrato de trespasse as partes são trespassante e trespassário.

• Não há clientela – à partida o estabelecimento nunca chegou a funcionar. A doutrina entende que basta é estar

preparado para tal.

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• Quanto à falta de empregados: CA – podemos considerar nestas situações que há, desde que seja descortinada já

uma organização e um bem complexo potenciado para funcionar. Já há um mínimo comum para o funcionamento

do negócio.

• Neste caso temos elementos desagregados. Parece que, neste caso, foi Albano a criar o estabelecimento.

2. Ignorando a pergunta anterior:

Precisava Albano do consentimento das senhorias para transmitir a sua posição a Diogo?

Segundo o art.º 1112/1/a) no caso de trespasse de estabelecimento comercial, a transmissão não depende de autorização

do senhorio. Isto é uma norma expressiva da tutela ou defesa da circulação negocial dos estabelecimentos e da

manutenção deles/proteção do interesse e desenvolvimento comercial.

Porém, o senhorio deve ser comunicado. Se existisse verdadeiro trespasse: 1112/3 tem que haver comunicação, no

prazo de 15 dias - 1038/g). deve ser por escrito e acompanhada pelo contrato de trespasse (para ver quem é o

trespassário e se foi efetivmaente um trespasse, poruqe s enão ouve tnha de dar autorização)

No caso de trespasse por venda ou dação em cumprimento o senhorio tem direito de

preferência (112º/4).

Protege o interesse dos trespassantes em transmitirem, sem entraves dos senhorios, os estabelecimentos e o interesse das

trespassárias em adquirirem empresas o mais possível valiosas e funcionais.

Se não era um verdadeiro trespasse era exigido um consentimento – 1112/1. A violação do dever de comunicação é

fundamento para o direito de resolução do contrato (1083º/2-e)) e de indemnização por responsabilidade obrigacional

(798º).

E como é que as senhorias se poderiam proteger face à perspetiva de ter um caloteiro como arrendatário?

O 1112/3 consagra que a transmissão deve ser celebrada por escrito e comunicada ao senhorio.

Sem essa comunicação o trespasse é ineficaz em relação ao senhorio.

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Esta necessidade de comunicação justifica-se pelo direito de preferência que o senhorio detém no

trespasse por venda (1112/4 CC). Tem de haver uma comunicação para o senhorio preferir. Mas esta não

substitui a do 1112º/3.

A cessão de gozo do prédio é ineficaz perante o senhorio é fundamento de resolução do contrato de arrendamento nos

termos do art 1083/2/e)

Podiam preferir. Mas tem de estar em condições de exercer essa função. Poderia a partir do momento em que existe mora,

resolução do contrato por incumprimento.

E se o Diogo adquirisse a posição de Albano na Albano e Lda.?

A personalidade coletiva vale sempre?

Não é um trespasse (07A/1274) – a pessoa coletiva é exatamente a mesma, independentemente de quem a integra.

O Supremo diz que não há nenhum abuso de direito que justifique o levantamento da personalidade coletiva.

3. O que transmitiu Albano a Ernesto?

O trespasse exige uma transmissão do estabelecimento no seu todo: é insuficiente aquele que incida apenas em algum dos

seus elementos, à luz do art.º 1112/2/a) - INT RESTRITIVA. O trespasse não deixará de o ser até ao limite de o conjunto

transmitido ficar de al modo descaracterizado que não se pode considerar um “estabelecimento” em condições de

funcionar. Tem de ser transmitido de maneira a que não perca a sua aptidão funcional. Se perder aplica-se o regime geral

– cessão de exploração.

Porém, ao abrigo da autonomia privada poderão as partes retirar alguns elementos. O trespasse não deixará de o ser até ao

limite de o conjunto transmitido ficar de al modo descaracterizado que não se pode considerar um “estabelecimento” em

condições de funcionar. Tem de ser transmitido de maneira a que não perca a sua aptidão funcional. Se perder aplica-se o

regime geral – cessão de exploração.

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O artigo 1112º/3 estipula que a transmissão do estabelecimento deve ser celebrada por escrito. Não parece ter sido o

caso. Assim, estamos perante um vício de forma, cujo desvalor é a nulidade. O acordo entre Ernesto e Albano não

produziu qualquer efeito. Nada foi transmitido.

• Trespasse pode ser verbal? Doutrina diverge. Uma segue o 219º. Outra parte diz que é necessária a forma escrita,

simples. Se é preciso aquando da comunicação ser acompanhada de contrato não parece exequível que a

transmissão não seja feita sob forma oral.

• E se for proprietário do imóvel, incluído? Quanto a bens imoveis é preciso escritura publica ou documento

particular autenticado – 875º. CA entende que mesmo aqui basta a forma simples. A lei em lugar algum distingue

o trespasse com ou sem imóvel. Mas depois essa escritura tem de ser levada a registo.

• O que o Albano transmite? Na omissão pelas partes transmite-se tudo o que compõe o estabelecimento, com as

limitações existentes – âmbito natural da entrega. E quanto aos prédios?

➔ Na falta de acordo das partes – âmbito natural (CA). Muitas vezes são determinantes para a atividade

desenvolvida (como hotéis, parque aquático…). Não há razão para diferenciar os imoveis dos outros elementos.

Via de regra transfere-se juntamente com o estabelecimento.

4. Ernesto está furioso com a traição de Albano ao ajudar a filha a abrir a Nova Albanaria ali tão perto. O que

pode fazer?

Albano e a sua filha estão obrigados a, num certo espaço e num determinado tempo, a não concorrerem com o trespassário

O Prof. NUNO AURELIANO diz, que o dever não-concorrência só existe se estiver expresso no contrato; caso contrário

violar-se-ia a liberdade de iniciativa económica – 61º/1 CRP. Argumento do dono que tem mais de um estabelecimento.

Também o professor PEDRO PAIS VASCONCLEOS adere a esta ideia. Quando não há previsão, há aplicação analógica do

contrato de agencia. Temos lacuna, aplicamos uma norma suscetível de aplicação analógica - será o contrato de agencia.

Art.º 9º/1 - não ser que seja expressa não estão vinculados.

Professor Jorge Miranda diz que isto seria inconstitucional.

Prof. MC afirma que este dever decorre do princípio da boa fé (e da lealdade), maxime da responsabilidade post

pactum finitum. Quando violado, gera responsabilidade pós-contratual nos termos dos princípios da culpa post pactum

finitum. Se as partes afastarem o dever de não concorrência, convencionam, geralmente, uma remuneração

proporcional.

➔ Boa Fé - importante princípio jurídico no qual se presume que as pessoas agem com boas intenções na

realização dos negócios jurídicos. Quando prejudicam terceiros presume-se, em caso de boa fé, que

desconheciam estra a lesar direitos de terceiros.

➔ Post Pactum Finitum – há uma violação de deveres que subsistem depois da cessação de um vínculo,

baseados no principio da boa-fé. Assim, depois de cessar um contrato pode subsistir uma obrigação pós-

contratual de sigilo, não podendo uma das partes divulgar, nomeadamente, factos de que teve conhecimento

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em razão das funções desempenhadas (p.e. os trabalhadores responsáveis pelos ficheiros informatizados sobre

dados pessoais ficam obrigados a sigilo profissional, mesmo após o termo de funções).

Professor ML: O dever de não concorrência do trespassante perante o trespassário – este dever baseia-se na boa-fé:

seria de má-fé que o trespassante, após fazer lucro com a transmissão do estabelecimento, abrisse um outro, do

outro lado da rua. Seria de esperar que a clientela do estabelecimento trespassado o seguisse para esse novo, pelo

que ao trespassário restaria um estabelecimento um tanto ou quanto inútil. A violação deste dever de boa-fé pode

resultar em deveres de cessar a concorrência e ainda de indemnização, pretendendo-se a reconstrução da situação que

existiria se não tivesse ocorrido qualquer violação.

Já o Prof. COUTINHO DE ABREU fala neste âmbito de uma obrigação implícita. Enumerando fundamentos que têm sido

avançados para a obrigação Implícita de Não Concorrência

• Princípio da boa fé (na execução dos contratos) o MC: Dever de não concorrência do trespassante perante o

trespassário é exigência da boa fé – impõe-se, pela boa fé, como dever pós-eficaz, uma obrigação de não-concorrência.

• Princípio da equidade

• Usos do comércio

• Concorrência leal

• Garantia contra evicção – Cassiano dos Santos também fala desta garantia.

• Assegurar o gozo pacífico da coisa alienada, após ser entregue – PARECE-LHE O PREFERÍVEL – o alienante não pode

pôr em risco a subsistência da empresa alienada e as relações pessoais que ele desenvolveu com clientes, fornecedores

e etc. poderia ser perigosas para a concorrência, devido a uma concorrência “diferencial”. Aproveitamento normal.

Retirar o máximo proveito.

Januário: advém da entrega do bem – aquele que trespassa o bem tem obrigação de não evicção – não pode

haver reapossamento de bem, com uma reorganização similar para ter as vantagens que faziam parte do objeto

de alienação.

Quanto ao dever de não-concorrência, existem três limites apontados pela doutrina:

(a) Limite material – tem de existir uma similitude entre a atividade praticada nos estabelecimentos.

(b) Limite temporal – não se observar um prazo de consolidação do novo estabelecimento (geralmente 2/3 anos –

professor diz que a jurisprudência vai oscilando entre os 2 a 5 anos).

(c) Limite espacial – tem de existir uma proximidade geográfica entre os dois estabelecimentos, que possa ser

suscetível de atrair clientela do estabelecimento trespassado.

Outras pessoas podem ficar vinculadas pela obrigação implícita de não concorrência: interpostas pessoas (relacionadas

com o trespassante). Têm conhecimentos do negócio e da clientela.

• Cônjuge do trespassante (pois o cônjuge beneficia, normalmente, dos conhecimentos deste relativos à organização,

clientes, fornecedores e etc. do estabelecimento trespassado);

• Filhos (quando colaboraram na exploração da empresa transmitida – possuem aptidão para uma concorrência

diferencial);

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• Sócios (no caso de uma sociedade – que tenham conhecimentos relativos à empresa trespassada indispensáveis a uma

concorrência qualificada) o Exigem-se ativas funções de administração ou porque detinham participação social

dominante e exerciam efetivo controlo sobre a sociedade. o Não basta ser mero sócio e nunca intervir.

• Entre os sujeitos ativos (ou credores) da obrigação implícita de não concorrência conta-se não só o primeiro

trespassário como os sucessivos: cada um é credor do primeiro sujeito passivo da obrigação, bem como de outros

trespassários-trespassantes, enquanto for proprietário do estabelecimento transmitido.

Ficando o trespassado vinculado a não iniciar atividade similar à exercida pois:

• Conhece as características organizativas da empresa;

• O dever de não concorrência permite Aproveitamento normal. Retirar o máximo proveito. Conhece os

fornecedores, financiadores e clientes; não há uma concorrência leal - uma coisa é abrir um estabelecimento numa

terra diferente, outra é abrir na rua ao lado, por exemplo.

• Põe em risco a subsistência da empresa alienada;

• Impede uma efetiva entrega da mesma ao adquirente;

Em aula:

É difícil traçar os limites, principalmente o espacial. Os limites têm de ser analisados casuisticamente.

E uma loja online? Como é que justificamos o dever de não concorrência? Como se mede o limite espacial?

Primeiro há que perguntar se se pode ou não abrir o estabelecimento.

Professor: há partida a clientela vai movimentar-se para o estabelecimento novo – problema fático. Problema

jurídico – tem de haver uma adequação no respeitante à estipulação de cláusulas, nomeadamente quanto ao limite

espacial.

PPV e Aureliano: questão da concorrência da UE – quanto maior a competência maior a oferta, é o desejável.

Questão do trabalhador independente – que tem conhecimento e será muito mais “perigoso” e neste caso já pode

concorrer com o dono do estabelecimento. Há uma incoerência sistemática. Sede adequada para suscitar a questão

– no contrato de trespasse, e não depois. Já não se pode exigir uma compensação findo o contrato de trespasse. Se a

questão não é suscitada e não há cláusula não há um impedimento à concorrência.

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PARA EFEITOS DE TESTE TEMOS QUE ABRIIR A HIPOTESE DE QUE HÁ DEVER DE CONCORRÊNCIA,

UMA VEZ QUE É A ÚNICA FORMA DDE ABORDAR OS LIMITES.

Posto isto, poderá Ernesto exercer os direitos previstos nas normas de não concorrência: nomeadamente intentar um

procedimento cautelar para a cessação do estabelecimento novo por ocorrência indevida e pedir uma indemnização.

Consequências (admitindo que há dever de concorrência):

• Pedir indemnização pelas perdas e por danos (art. 798º CC);

• Resolver o contrato de trespasse (art. 801º/2);

• Requerer sanção pecuniária compulsória (art. 829º-A);

• Exigir que o novo estabelecimento do obrigado seja encerrado (art. 829º/1). Esta é uma questão discutível.

o Januário: trespassário pode pedir em tribunal que o trespassante não explore um estabelecimento,

violando a obrigação = Cassiano dos Santos

Mas antes, para que possa intentar um procedimento cautelar, é necessário que estejam preenchidos dois pressupostos:

• Haja indícios de que direito de facto existe

• Haja perigo na mora – tem de haver um risco de perda de efetivação do direito se tiver de se aguardar pela

intervenção.

O AC da Relação de Lisboa de 15/12/2009 mostrou-se da opinião de que nos contratos de trespasse existe uma cláusula

implícita, na medida em que torna dispensável a sua expressa estipulação, que dá surgimento ao dever jurídico de não

concorrência.

Como fundamento jurídico desta obrigação invoca-se o 879/6, conjugado com o artigo 762/2(principio da boa fé) que

refere ser efeito essencial da CV a obrigação de entregar a coisa.

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5. Imagine por fim que Albano tinha também arrendado um armazém de apoio ao funcionamento da Albanaria.

Pode trespassá-lo a sua filha para apoio ao funcionamento da Nova Albanaria?

O trespasse exige uma transmissão no seu todo, como universalidade.

No entanto, as partes gozam de liberdade para excluírem da transmissão alguns elementos do estabelecimento.

Porém, tal exclusão não pode abranger os bens necessários e suficientes para a transmissão de um estabelecimento.

Sendo um armazém de apoio ao funcionamento do estabelecimento trespassado, este faria parte do âmbito natural de

entrega, devendo transmitir-se com o estabelecimento trespasso ex silencio, salvo convenção das partes em sentido

contrário.

O 1112/2/a) exige a transferência de todos os seus elementos - basta a falta de 1 deles para que não se possa falar em

trespasse.

Noção de estabelecimento abrange coisas corpóreas, ficando abarcados os direitos relativos a imóveis, particularmente os

direitos reais de gozo(propriedade) e pessoais de gozo (arrendamento).

No silencio das partes, que utilizaram a expressão global, devemos ter em conta o critério funcional – é o que

permite distinguir de entre o património do alienante, quais os elementos.

tos que funcionalmente dele fazem parte; critério interpretativo, ou seja, o que o alienante quis transpassar; posições

jurídicas que funcionalmente fazem parte do critério do objeto trespassado.

Não pode trespassar.

• Pode-se trespassar o armazém “órfão” sem autorização do senhorio? Em princípio não. Sem autonomia (CA) vs.

fator funcional (MC).

CASO PRÁTICO N.º 8

Continuação do caso n.º 7:

1. No contrato pelo qual Albano transmitiu a Albanaria a Diogo podia ler-se:

1) Pelo presente contrato, Albano transmite a Diogo o snack-bar “Albanaria”, incluindo a sua posição contratual em todos os contratos de fornecimento, por 100.000 euros.

O trespasse exige uma transmissão no seu todo, como universalidade. Este não pode ficar de tal modo descaracterizado

que já não possa considerar-se um estabelecimento.

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27

Os contratos de fornecimento fazem parte das coisas incorpóreas, que incluem os direitos a prestações provenientes de

posições contratuais, parte integrante e essencial de um estabelecimento. Âmbito natal? Transmite-se

automaticamente salvo declaração em contrário?

À partida, integrará o Âmbito máximo ou convencional (?): que é composto pelo conjunto de

elementos que necessita de convenção das partes para serem transmitidos.

Destes fazem parte Contratos ligados à exploração da empresa, (mas cujos objetos não

sejam elementos do estabelecimento) – destes fazem parte os débitos resultantes da

exploração do estabelecimento, não devendo ser considerados elementos ou meios empresariais.

Mas podem igualmente ser transmitidos juntamente com o estabelecimento trespassado; no

entanto, não fazem parte de qualquer dos âmbitos de entrega; nem sequer do âmbito

convencional – pois a respetiva transmissão exige a intervenção de terceiros; assim, devemos

aplicar:

Artigos 424º e ss. do CC – é necessário não apenas o acordo entre trespassante e

trespassário, mas também o consentimento do contraente cedido.

Aqui temos cessão da posição contratual (424º). Também temos créditos e débitos.

➔ Há quem entenda que estas normas do CC não se aplicam ao trespasse desde que não seja

exploracionais – furtar-se-iam às regras do CC.

➔ CA e MC – estas normas do CC aplicam-se mesmo às questões exploracionais.

➔ 577º CC - cessão de créditos não exige consentimento do devedor.

Assunção de dívida – neste caso é preciso é preciso consentimento? 595º - credor não poe ficar

prejudicado. O novo devedor pode não ter capacidades financeiras. Se o credor não intervém ficam

solidariamente responsáveis e assim o credor não fica prejudicado.

2) Ficam ainda expressamente incluídas as dívidas já vencidas a todos os fornecedores, ficando Albano exonerado do seu pagamento.

As dívidas caracterizam-se por serem uma situação jurídica comum, integrando o âmbito convencional da entrega, ou

seja, só se transmitem por acordo das partes. Num trespasse de âmbito máximo, que engloba o passivo, distingue-se

os efeitos internos e externos.

No plano Interno - o trespassário adquirente fica adstrito, perante o trespassante, a pagar aos terceiros o que lhes devia.

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28

No plano Externo - o alienante só fica exonerado se os terceiros, nos termos da assunção e de dívida e cessão da posição

contratual, o exonerarem ou derem acordo. (595º CC).

Desta forma, na transmissão da universalidade de facto do estabelecimento, não decorre a obrigação de pagar o passivo

por querer adquirir o ativo.

Na assunção do passivo o adquirente do estabelecimento apenas responde pelas dívidas se tal for convencionado pelas

partes. No entanto, se as dívidas forem exploracionais, indissociáveis do estabelecimento, segundo o Professor Oliveira

Ascensão elas são transmitidas tacitamente.

Quanto à convenção, mesmo no caso de ser convencionado o alienante não fica automaticamente desobrigado;

necessita de consentimento(ratificação) dos credores - art.º 595º.

O passivo não integra a universalidade em que o estabelecimento se traduz.

A declaração emitida pelo alienante pela qual assume o pagamento das dívidas não tem qualquer efeito jurídico

externo, não constituindo uma assunção de dívida pois ele já é vendedor.

Considera-se que a transmissão do passivo faz parte do âmbito material do estabelecimento, mas não do seu núcleo

essencial, podendo haver trespasse sem transferência do passivo.

Mesmo que conste de escritura a transmissão de dívidas, a nível externo o trespassante continua obrigado a

satisfazer as dívidas aos credores se estes não o exonerarem.

3) Ficam expressamente excluídas:

a) O direito a usar o nome “Albanaria” para identificar o estabelecimento;

O nome pode ser visto de duas perspetivas:

Pode integrar o âmbito natural – caso em que se transmite automaticamente se as partes não convencionarem o contrário.

Pode também trata-se de uma situação jurídica comum, de âmbito máximo ou convencional, pelo que só se transmite por acordo das partes.

Transmitindo-se um estabelecimento, transmite-se naturalmente com ele o respetivo logotipo e marca – art.º 256º/2 CPI. Porém, Quando neles figure nome individual, firma ou denominação do titular do

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estabelecimento – artigo 30º/3 do CPI (código da propriedade industrial) cai no âmbito

convencional de entrega.

A transmissão do logotipo deve ser provada por doc escrito

b) A máquina que permite fazer “as melhores tostas mistas do mundo”;

As partes gozam de liberdade para excluírem da transmissão alguns elementos dos estabelecimentos. Porém, tal

exclusão não pode abranger os bens necessários e suficientes para a transmissão de um estabelecimento.

Em regra, a maquinaria pertencerá ao âmbito natural – pelo que são transmitidas independentemente de estipulação,

desde que não excluídas por clausulas.

Contudo, esta trata-se da maquina que permite conceber as melhoras tostas mistas do mundo, pelo que poderá ser um

bem essencial ao trespasse – âmbito mínimo - , imprescindível para viabilizar o trespasse, pois o

estabelecimento é conhecido pelas suas tostas, pelo que retirando-lhe este bem essencial à sua reputação, retirar-lhe-á

aptidão, descaracterizando-o quanto aquilo por que é conhecido, o seu valor de posição e aquilo porque o torna

reconhecível.

Máquina – depende se é a única- características essenciais.

Professor não considera que não há uma descaracterização do estabelecimento se a maquina não for transmitida.

Ex. no caso da forno de ouro. O que carateriza o espaço é mais o forno do que as pizzas. Assim, uma cláusula que a exclui iria descaracterizar o estabelecimento.

c) A marca “As melhores tostas mistas do mundo”;

As partes gozam de liberdade para excluírem da transmissão alguns elementos dos estabelecimentos. Porém, tal

exclusão não pode abranger os bens necessários e suficiente para a transmissão de um estabelecimento.

Nos termos do art.º 256º/2 a marca integra o âmbito natural de entrega, ou seja, transmitir-se-á automaticamente,

salvo convenção em contrário, o que aqui sucede.

Contudo, como se disse também a respeito da maquina das tostas, estamos a falar da marca que caracteriza e

emblematiza o conceituado café, que permite atrair clientela e posicioná-lo bem quanto a esse reconhecimento. .

Podemos estar perante um caso de âmbito mínimo, pois é indispensável à transmissão do estabelecimento,

imprescindível para viabilizar o trespasse.

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d) A trabalhadora Maria Albertina.

Engrácia Antunes (e Coutinho abreu ) - Artigo 285º do CT – transmite-se automaticamente os contratos de trabalho, no caso de transmissão do estabelecimento comercial. Integrará, portanto, o âmbito natural - pelo que são transmitidas independentemente de estipulação, desde que não excluídas por clausulas.

Outra parte da doutrina entende que os ocntratos de trabalho, coisa incoprorea do ativo do estebclemtno, intera-se no âmbito necessário/imperativo – vindo regulado no artigo 285º CT, pelo que é um elemento que

acompanham obrigatoriamente a transmissão do estabelecimento independentemente da

vontade das partes

Porem, a trabalhadora podia ser caracterizada como know how poderia, pelo que não estar incluída no trespasse podia levar à descaracterização do estabelecimento – pelo que deveria integrar o âmbito mínimo - sendo um

imprescindível para viabilizar o trespasse .

Know-how é um termo em inglês que significa “saber como” ou “saber fazer”. Refere-se ao conjunto de conhecimentos técnicos e práticos (fórmulas, tecnologias, técnicas, procedimentos, etc.) referentes à determinada atividade. Esse é um termo muito utilizado no universo corporativo, podendo ser aplicado ao profissional ou à empresa. Ao determinar que um indivíduo ou uma organização possuem know-how, quer-se dizer que ambos têm domínio especializado sobre um mercado, produto ou serviço. Isso os transforma em referência, visto que detêm o conhecimento que outros, que atuam em sua mesma área, não têm. Assim, observa-se que a competência é determinante para ganhar vantagem competitiva perante seus concorrentes.

Maria albertina tinha o direito de ficar vinculada.

4) Sem prejuízo do disposto na alínea a) do n.º anterior, Diogo poderá usar a referência à “Albanaria” na sua firma pessoal.» Quid iuris?

2. Albano, entretanto cedeu o direito a usar o nome “Albanaria” em estabelecimentos comerciais à sua

filha Filipa, para que o pudesse usar no seu novo projeto empresarial.

Quid iuris?

A transmissão da firma só é possível em conjunto com o estabelecimento a que ela se achar ligada – 44º RNPC.

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CASOS INSOLVÊNCIA

CASO PRÁTICO N.º 9 A Praia e Campo, S.A. (PCSA) anda pelas ruas da amargura. Durante o passado inverno, tendo em

conta a sua atividade sazonal, decidiu investir os proveitos obtidos no verão em ações do Banco

Possível e Provavelmente Nacionalizado (BPPN). Estas ações do BPPN, praticamente o único ativo da

PCSA, desvalorizaram fortemente nos últimos meses, e a probabilidade de uma recuperação está

completamente afastada.

As dívidas, essas sim, acumulam-se: a vários fornecedores, a instituições de crédito e ao Estado. Estes

credores começam a perder a paciência e equacionam requerer a declaração de insolvência da PCSA.

Caso decidam avançar, em 2016, (i) um dos sócios da PCSA invocaria um crédito por suprimentos

efetuados, (ii) o Banco Menos invocaria um crédito hipotecário, (iii) um fornecedor de tendas de

campismo invocaria um crédito relativo ao preço de bens alienados e (iv) a Administração Tributária

invocaria um crédito relativo ao Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis

devido pela aquisição da sede da empresa, em 2012. (v) E o administrador da insolvência, a nomear

pelo tribunal, também quererá cobrar os respetivos honorários...

a) A PCSA pode ser considerada em situação de insolvência?

Está em situação de insolvência quele que é incapaz de cumprir as suas obrigações, normalmente por

ausência necessária de liquidez, ou seja, não tem ativo que cubra o passivo.

A finalidade da declaração do estado de insolvência é a satisfação do direito do credor sobre o

património do devedor.

Esta apresenta-se:

• Como um processo executivo – a sua finalidade é a obtenção da realização coativa de uma

obrigação

• Como uma ação coletiva – o seu fim é a satisfação de todos os credores de um devedor

• Um processo de execução universal – abrange todo o património do devedor;

➔ A insolvência é ainda uma forma de execução para pagamento de quantia

certa – o rateio do património do devedor não é realizado em espécie, envolvendo antes um processo de liquidação (venda) que converte os bens do devedor em

dinheiro.

A incapacidade do devedor insolvente em cumprir as suas obrigações tem de ser certificada – através

da declaração de insolvência (art.º 36º CIRE).

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• Critério do fluxo de caixa (cash flow) – o devedor é insolvente assim que se torna incapaz de

pagar as suas dívidas no momento em que estas se vencem, por falta de liquidez.

O Direito Nacional estabelece este critério - (art.º 3º/1 CIRE)

ML – este artigo 3º/1 CIRE deve ser interpretado no sentido de se ter a insolvência

como a impossibilidade de cumprir pontualmente as respetivas obrigações por carência

de meios próprios e por falta de crédito.

• Critério do balanco ou do ativo patrimonial – a insolvência resulta do facto de os bens do

devedor serem insuficientes para o cumprimento integral das suas obrigações.

✓ Apesar de não ser o critério admitido por lei, esta chega a adotá-lo – a insuficiência

patrimonial funciona como critério acessório da definição de insolvência, aplicável às

PC´S e aos patrimónios autónomos (art.º 3º/2 CIRE).

✓ Funciona em alternativa ao critério do fluxo da caixa, de modo a facilitar o pedido de

insolvência por parte dos credores destas entidades. Esta disposição é, contudo,

limitada pelo art.º 3º/3 CIRE (vide).

➔ A insolvência atual, para efeitos da lei, é equiparada à insolvência iminente,

caso o devedor se apresente à insolvência (art.º 3º/4 CIRE). Isto faz com que o devedor possa declarar-se insolvente ainda antes do vencimento das

dívidas, através de um juízo de prognose do qual resulta a suposição de que, nessa altura, se verificará uma impossibilidade de cumprimento.

✓ Só serve para o devedor declarar a sua insolvência. Os credores não podem invocar esta.

Nos termos do art.º 2º/1 CIRE: Podem ser objeto de processo de insolvência:

1. Quaisquer pessoas singulares ou coletivas; • As PS podem sempre ser declaradas insolventes;

• Se a PS for empresária não haverá distinção entre o seu património e o da empresa – todo ele responderá por dívidas empresariais;

• As PC´S englobam: associações, fundações, sociedades comerciais, sociedades civis sob forma comercial e as cooperativas. Regra geral, a

declaração de insolvência de uma PC acarreta a sua dissolução.

NESTES TERMOS, TRATANDO-SE DE UMA PC, ESTA PODIA SER OBJETO DE

INSOLVÊNCIA.

DESTE MODO, TENDO EM CONTA QUE AS DÍVIDAS SE ACUMULAVAM E O SEU ÚNICO

ATIVO ERAM AS AÇOES QUE SE DESVALORIZAVAM NOS ULTIMOS MESES, A EMPRESA

ESTARIA EM SITUAÇÃO DE INSOLVENCIA, OU NA IMINENCIA PARA TAL.

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Relevante para a insolvência é a massa insolvente – 46º

Noção: património autónomo composto por todos os bens e direitos que integram o

património do devedor à data da declaração de insolvência, como pelos bens e direitos que este adquira na pendência do processo de insolvência.

Finalidade: A massa insolvente destina-se a ser liquidada (vendida) para que o

respetivo produto possa ser afeto ao pagamento aos credores do processo de insolvência (satisfação dos créditos dos credores da insolvência), depois de pagar as

suas próprias dívidas – da massa insolvente.

Dívidas da massa insolvente – art.º 51º CIRE:

• custas do processo de insolvência; • remunerações do administrador da insolvência;

• despesas com a apreensão dos bens; • (…)

As dívidas da massa insolvente vão ser satisfeitos em primeiro lugar – art.º

46º/1 CIRE e 172º CIRE.

Importante também é a existência de Créditos Sobre a Insolvência – art.º 47º CIRE

Corresponde àqueles que, cujo fundamento seja anterior à declaração de insolvência ou

surjam no decurso do processo, o devedor insolvente tem de satisfazer, tendo estes natureza patrimonial. O que se verifica.

O pedido de declaração de insolvência

O processo de insolvência tem início com o pedido de declaração de insolvência – art.º

18º e ss. CIRE.

A legitimidade para apresentar este pedido é: a. Em primeira linha, do próprio devedor – 18º/1 CIRE – o que implica o

reconhecimento por este da sua insolvência – art.º 28º CIRE. É um dever b. Se este for incapaz, terá legitimidade o seu representante legal.

c. Se o devedor não for uma pessoa singular, a legitimidade recairá sobre o órgão social incumbido da sua administração ou sobre a entidade incumbida da

administração ou liquidação do património – art.º 19º CIRE. d. Para além do devedor, tem legitimidade para apresentar o pedido de declaração

de insolvência qualquer credor, independentemente da natureza do crédito e do

vencimento do mesmo, bem como o Ministério Público – art.º 20º CIRE. Mas não é um dever.

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É, ainda assim, necessário que se tenha interesse na respetiva declaração. Da petição inicial terá de constar, no caso do credor, a natureza e o montante do crédito,

tendo este de fazer prova do mesmo através de qualquer meio – art.º 25º CIRE.

Excetuando-se as pessoas singulares que não sejam titulares de uma empresa na data em que incorram em situação de insolvência (art.º 18º/2 CIRE), impende sobre o devedor o dever de requerer a declaração da sua insolvência dentro dos 30 dias seguintes à data do conhecimento da situação de insolvência (nº1). Se houver incumprimento deste dever de requerer a declaração, a insolvência será declarada culposa (art.º 186º/3 CIRE). Para além disso, o devedor incorre em responsabilidade aquiliana, por violação de disposição

legal destinada a proteger interesses alheios.

Mas, como se disse, os credores também têm legitimidade para requerer a

insolvência do devedor.

A estes caberá produzir prova relativa à sua condição de interessados na declaração, exigindo-se a verificação de uma das circunstâncias do art.º 20º CIRE.

A petição inicial deverá obedecer ao disposto no art.º 23º CIRE, exigindo-se em conjunto os documentos estabelecidos no art.º 24º do mesmo diploma.

• Escrita; • Exposição dos factos.

b) Em caso afirmativo, como seriam graduados os créditos sobre a massa insolvente e sobre a insolvência?

Temos que ter, primeiramente, ideia do que seja a massa insolvente:

Massa insolvente – art.º 46º CIRE

Noção: património autónomo composto por todos os bens e direitos que integram o património do devedor à data da declaração de insolvência, como pelos bens e

direitos que este adquira na pendência do processo de insolvência.

Finalidade: A massa insolvente destina-se a ser liquidada (vendida) para que o respetivo produto possa ser afeto ao pagamento aos credores do processo de

insolvência (satisfação dos créditos dos credores da insolvência), depois de pagar as suas próprias dívidas – da massa insolvente.

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Dívidas da massa insolvente – art.º 51º CIRE: • custas do processo de insolvência;

• remunerações do administrador da insolvência; • despesas com a apreensão dos bens;

• (…)

As dívidas da massa insolvente vão ser satisfeitos em

primeiro lugar – art.º 46º/1 e 172º CIRE.

➔ Devem considerados integrados na massa insolvente os bens dos responsáveis

legais das dívidas do insolvente - pessoas que, nos termos da lei, respondam pessoal e ilimitadamente pela generalidade das dívidas do insolvente, ainda que a

título subsidiário – art.º 6º/2 CIRE. ➔ Se o insolvente for casado em regime de comunhão geral de bens ou de

comunhão de adquiridos, a massa insolvente também engloba a meação dos bens comuns. Se o outro cônjuge não for parte no processo de insolvência, este ganha

o direito de separar os seus bens da massa insolvente e a sua meação nos bens

comuns (art.º 141º/1-b)).

Classificação dos créditos

Quais as obrigações que integram o passivo – que o ativo pode ser chamado a

satisfazer?

• Passivo: conjunto de créditos que podem ser exercidos contra o insolvente;

Primeiro satisfazer-se-ão as dívidas da massa insolvente (art.º 51º CIRE), e só

depois os créditos sobre a insolvência – art.º 46º/1 CIRE

A) Créditos Sobre a Insolvência – art.º 47º e 173º e ss. CIRE

Corresponde àqueles que, cujo fundamento seja anterior à declaração de insolvência ou

surjam no decurso do processo, o devedor insolvente tem de satisfazer, tendo estes natureza patrimonial.

Nos termos do art.º 47º CIRE, verifica-se uma graduação de créditos: • Créditos garantidos:4 créditos que beneficiam de uma garantia real ou de

privilégios especiais – consignação de rendimentos, penhor, hipoteca ou direito de retenção. O seu pagamento é feito depois de serem pagas as dívidas da

massa insolvente. 174º CIRE

4 A penhora, apesar de ser uma garantia real das obrigações, não faz parte dos crédito garantidos para efeitos do processo de

insolvência. O mesmo se passa com a hipoteca judicial.

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• Créditos privilegiados: créditos que beneficiam de privilégios creditórios gerais. Não constituem garantias reais por não incidirem sobre coisas determinadas. O

seu pagamento é feito depois de serem pagos os créditos garantidos. Exemplo: dívidas de doença. 175º CIRE

• Créditos comuns: créditos que não beneficiam da garantiam real, nem de privilégio geral, e não são objeto de subordinação. O seu pagamento surge

depois da satisfação dos créditos privilegiados. art.º 176º CIRE • Créditos subordinados: correspondem ao conjunto de créditos que são

satisfeitos depois dos restantes créditos sobre a insolvência. Serão pagos se ainda restar saldo. São os últimos a serem satisfeitos, portanto. Art.º 48º CIRE.

177º CIRE. Não conferem direito de voto na assembleia de credores – art.º 73º/3

CIRE; Não conferem ao titular assento na comissão de credores.

Os créditos subordinados dividem-se em várias categorias: vide art.º 48º CIRE.

Entre os quais: • “créditos detidos por pessoas especialmente relacionadas com o devedor” –

48º/1, remetendo para o 49º: ✓ Cônjuge;

✓ Ascendentes ✓ Sócios

✓ (…)

Os créditos sobre a insolvência são satisfeitos de acordo com o art.º 47º/4 CIRE:

1º - créditos garantidos 2º - créditos privilegiados

3º - créditos comuns – art.º 47º/b) e 448º CIRE 4º - créditos subordinados

Pode-se observar a extinção de privilégios creditórios e garantias reais –

art.º 97º CIRE. Passam a comuns.

Os créditos serão assegurados pelos bens da massa, e para que sejam

considerados terão de ser constituídos antes da declaração de insolvência, ou surjam no decurso do processo.

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Assim:

(i) um dos sócios da PCSA invocaria um crédito por suprimentos efectuados,

crédito subordinado art.º 47º/4 48º/1-a;g e 49º/2-a)

(ii) o Banco Menos invocaria um crédito hipotecário,

crédito garantido.

(iii) um fornecedor de tendas de campismo invocaria um crédito relativo ao preço de bens alienados

crédito comum - créditos que não beneficiam da garantiam real, nem de

privilégio geral, e não são objeto de subordinação. O seu pagamento surge

depois da satisfação dos créditos privilegiados. art.º 176º CIRE

(iv) a Administração Tributária invocaria um crédito relativo ao Imposto Municipal sobre as

Transmissões Onerosas de Imóveis devido pela aquisição da sede da empresa, em 2018.

À partida, seria um crédito privilegiado - créditos que beneficiam de privilégios

creditórios gerais. Não constituem garantias reais por não incidirem sobre coisas determinadas. O seu pagamento é feito depois de serem pagos os créditos

garantidos.

(v) E o administrador da insolvência, a nomear pelo tribunal, também quererá cobrar os respetivos

honorários...

Os honorários do administrador integram as dívidas da massa insolvente – art.º

51º/1-b) CIRE – dividas essas satisfeitas em primeiro lugar - art.º 46º/1 e

172º CIRE.

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CASO PRÁTICO N.º 10

Há mais de seis meses que Telma e Luísa, gerentes da Rainha dos Frangos, Lda.

(RF) não promovem o pagamento de salários aos trabalhadores da empresa.

Sempre que estes se queixam, as duas amigas respondem que o Estado está

bem pior, uma vez que não entregam o Imposto sobre o Valor Acrescentado

que têm liquidado há mais de um ano. A situação financeira, de facto, não é

famosa. Como ato desesperado, as duas gerentes negociaram em nome da RF

um contrato de abertura de crédito com o Banco Crédulo Português (BCP), para

a compra de frangos e venda dos mesmos, assados, a € 1/kg, no afamado

restaurante.

20º CIRE

Trabalhadores têm legitimidade para requerer a insolvência

Questão do iva – onde se integra? Priveligados? Cai no 97º?

Crédito com o banco – priveligiado?

a) A calma com que Telma e Luísa estão a lidar com a situação financeira da RF

será passível de censura, caso esta última venha a ser declarada insolvente?

Telma e Luísa têm o Dever de declaração de insolvência dentro dos 30 dias

seguintes à data do conhecimento da situação de insolvência (basta a

iminência) – 18º e 28º

Se houver incumprimento deste dever de requerer a declaração, a insolvência

será declarada culposa (art.º 186º/3 CIRE). Para além disso, o devedor incorre

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em responsabilidade aquiliana, por violação de disposição legal destinada a

proteger interesses alheios.

Sabe-se já que a insolvência iminente é equiparada à insolvência atual, do que

resulta que o devedor pode declarar insolvência ainda antes do vencimento das

obrigações. Resta saber se a insolvência iminente determina, então, o início da

contagem do prazo para efeitos do art.º 18º/1 CIRE.

MENEZES LEITÃO defende que o prazo apenasse conta a partir do momento em

que ocorre a insolvência atual (“o art.º 18º/1 remete apenas para o art.º 3º/1

e não para o nº 4, aliado ao facto de ser extremamente insegura a

determinação do momento em que se verifica a insolvência iminente”).

CREDORES COM LEGITIMIDADE PARA REQUERMENTO.

Estes têm legitimidade, mas não é um dever. O dever apenas pende sobre o devedor

insolvente.

A estes caberá produzir prova relativa à sua condição de interessados na

declaração, exigindo-se a verificação de uma das circunstâncias do art.º 20º

CIRE.

Aqui teríamos a alínea g) Trata do incumprimento generalizado, nos seis

meses anteriores, de obrigações de natureza específica.

✓ O artigo 18º/3 diz-nos que “Quando o devedor seja titular de uma empresa,

presume-se de forma inilidível o conhecimento da situação de insolvência decorridos pelo menos três meses sobre o incumprimento generalizado de

obrigações de algum dos tipos referidos na alínea g) do n.º 1 do artigo 20.º” – 18º/3 CIRE.

Exemplo: prestações de contrato de trabalho

Declarada a insolvenvencia, observer-se-ão uma panoplia de efeitos:

➔ Efeitos da sentença de declaração de insolvência sobre o insolvente – art.º 81º CIRE

transferência dos poderes de administração e disposição dos bens da massa insolvente para o administrador da insolvência. A declaração de insolvência

implica a privação do devedor dos seus poderes de administração e disposição do património - art.º 81º CIRE . Perde-se, assim, a posse

material e as faculdades de administração e disposição, quer dos bens que

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possui aquando da declaração, mas também dos bens e rendimentos futuros (realidade que deriva do próprio conceito de massa insolvente – art.º 46º

CIRE). ✓ Excluídos do âmbito desta privação estão:

▪ Os bens excluídos da massa insolvente (bens impenhoráveis) ou

abrangidos por uma separação de patrimónios. ▪ Os negócios obrigacionais – o devedor pode contrair dívidas,

mas estas não responsabilizarão a massa insolvente. ▪ Os administradores (representantes legais e mandatários no

caso das pessoas singulares; encarregados da administração e

liquidação do património ou titulares de órgãos sociais no caso de pessoas coletivas).

apreensão dos bens – art.º 36º/1-g) CIRE. A apreensão abrange todos os

bens suscetíveis de penhora, mesmo que já penhorados, arrestados ou por

qualquer forma apreendidos ou detidos noutro processo.

✓ Apenas serão excluídos os bens insuscetíveis de penhora (art.º 822º e ss. CPC). Vigora ainda um regime especial para o caso de apreensão

da casa de morada de família: se arrendada, o arrendamento não pode ser apreendido. Se for habitação própria,

pode o insolvente requerer o diferimento da desocupação com

fundamento em razões sociais imperiosas.

✓ Se os bens já tiverem sido vendidos, a apreensão terá por objeto o produto da venda (art.º 149º/2 CIRE). A entrega dos bens é feita de

acordo com o previsto no art.º 150º.

➔ Efeitos da sentença de declaração de insolvência sobre as ações judiciais

– art.º 85º CIRE

o facto de serem restringidas as faculdades de administração e disposição do insolvente faz com que este deixe de poder instaurar ou prosseguir ações

em que estejam em causa bens compreendidos na massa insolvente – art.º 85º/1 CIRE.

leva à suspensão de quaisquer diligências executivas que atinjam os bens integrantes da massa insolvente – o processo de insolvência gera assim a

proibição de instauração ou prosseguimento de ações executivas, qualquer penhora ou arresto sobre os bens.

➔ Efeitos da sentença de declaração de insolvência sobre os créditos – Art.º

90º CIRE

Durante a pendência do processo os credores apenas poderão exercer os seus direitos no âmbito do mesmo (art.º 90º), pelo que não podem

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instaurar ações independentes ou continuar a prosseguir outros processos à margem deste.

a declaração de insolvência gera o vencimento imediato de todas as obrigações do insolvente (art.º 91º/1), com exceção dos créditos

tratados no art.º 50º. Esta antecipação do vencimento prende-se com a falta de confiança dos credores na solvabilidade do devedor. Assim sendo, as

obrigações passarão a vencer juros legais a partir do momento da declaração.

gera a suspensão de todos os prazos de prescrição e caducidade oponíveis pelo devedor, durante o processo – art.º 100º CIRE.

Dá-se também a extinção de certas garantias – art.º 97º CIRE. Existem também consequências para o regime da compensação. A partir do

momento da sentença, os credores apenas podem compensar os seus créditos com dívidas da massa se se verificar uma das situações previstas no

art.º 99º CIRE. A compensação não é admissível nos termos do nº 4.

Admitida a compensação, esta faz extinguir tanto o crédito do declarante como o do insolvente. Assim, o declarante vê o seu crédito satisfeito por

inteiro, pelo que deixa de ser necessário que reclame o seu crédito. Terá de o fazer, somente, se o valor do seu crédito ultrapassar o montante do

crédito do insolvente (caso em que reclamará o remanescente).

➔ Efeitos sobre os negócios em curso – art.º 102º e ss. CIRE

A regra geral é a de garantir ao administrador da insolvência a possibilidade

de optar pela execução do negócio ou, antes, pela recusa do seu cumprimento – art.º 102º. Assim sendo, procede-se à suspensão dos

contratos, até que o administrador da insolvência comunique a sua opção. A outra parte reserva para si a possibilidade de fixar um prazo, findo o qual a

não comunicação se tem como recusa ao cumprimento – art. 102º/2. Este

regime é justificado pela necessidade de adotar medidas de proteção dos credores, pois que forçar o devedor a cumprir com todos os seus negócios

faria com que este tivesse de optar por cumprir uns negócios em detrimento de outros.

✓ a opção pela recusa por parte do administrador da insolvência não prejudica o direito à indemnização pelos danos causados à outra parte

pelo incumprimento, ainda que essa seja fortemente restringida. ✓ a opção pelo cumprimento do contrato garante-lhe o direito a exigir as

prestações contratualmente acordadas, tendo a outra parte igualmente o direito de exigir esse cumprimento, o qual constituirá uma dívida da

massa, nos termos do art.º 51º/1º f).

b) Caso a RF venha ser declarada insolvente em Janeiro de 2016, será que a

sociedade Frango Gorducho, S.A. (FG) pode compensar um crédito sobre a RF

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de que é titular, emergente do fornecimento de frangos durante o primeiro

semestre de 2015, com uma dívida decorrente do fornecimento de almoços

pela RF aos trabalhadores da FG, durante Setembro e Outubro de 2014? Ambos

os créditos deveriam ser pagos nos 30 dias seguintes ao fim do prazo do

correspondente fornecimento.

créditos estavam vencidos e eram judicialmente exigíveis. Art. 847º cc e 91º

CIRE

Declarada a sentença, repercutem-se efeitos sobre os créditos – art.º 90º CIRE

Existem também consequências para o regime da compensação.

A declaração de insolvência não afeta o direito do credor da insolvência à

compensação, se esta for permitida pela lei aplicável ao contra-crédito do

devedor – art.º 286º CIRE.

A partir do momento da sentença, os credores apenas podem compensar os

seus créditos com dívidas da massa se se verificar uma das situações

previstas no art.º 99º CIRE. A compensação não é admissível nos termos

do nº 4.

a) Ser o preenchimento dos pressupostos legais da compensação anterior à

data da declaração da insolvência.

b) Ter o crédito sobre a insolvência preenchido antes do contra-crédito da

massa os requisitos estabelecidos no artigo 847.º do Código Civil.

Admitida a compensação, esta faz extinguir tanto o crédito do declarante como o do insolvente. Assim, o declarante vê o seu crédito satisfeito por

inteiro, pelo que deixa de ser necessário que reclame o seu crédito. Terá de o fazer, somente, se o valor do seu crédito ultrapassar o montante do

crédito do insolvente (caso em que reclamará o remanescente).

c) Em caso de insolvência, o que sucede ao contrato de compra e venda

celebrado entre a RF (vendedora) e a Frango Imperial, S.A. (FI) relativo a

uma carrinha de distribuição? O contrato foi celebrado com reserva de

propriedade, mas a carrinha ainda não tinha sido entregue à FI, que, no

entanto, já pagara metade das prestações.

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➔ Efeitos sobre os negócios em curso – art.º 102º e ss. CIRE

A regra geral é a de garantir ao administrador da insolvência a possibilidade de optar pela execução do negócio ou, antes, pela recusa do

seu cumprimento – art.º 102º. Assim sendo, procede-se à suspensão dos contratos, até que o administrador da insolvência comunique a sua opção. A

outra parte reserva para si a possibilidade de fixar um prazo, findo o qual a não comunicação se tem como recusa ao cumprimento – art.º 102º/2. Este

regime é justificado pela necessidade de adotar medidas de proteção dos credores, pois que forçar o devedor a cumprir com todos os seus negócios

faria com que este tivesse de optar por cumprir uns negócios em detrimento de outros.

✓ a opção pela recusa por parte do administrador da insolvência (art.º 102º/3 CIRE) não prejudica o direito à indemnização pelos danos

causados à outra parte pelo incumprimento, ainda que essa seja

fortemente restringida (art.º102º/3-d)). ✓ a opção pelo cumprimento do contrato garante-lhe o direito a exigir as

prestações contratualmente acordadas, tendo a outra parte igualmente o direito de exigir esse cumprimento, o qual constituirá uma dívida da

massa, nos termos do art.º 51º/1º f).

art.º 104 nº1: não se aplica porque não houve entrega da coisa;

nem o 105º porque não houve transmissão de propriedade;

aplica-se o art.º 102º. Ou ele recusava o cumprimento ou ele não recusava.

102º/3 – RECUSADO O CUMPRIMENTO

a) Nenhuma das partes tem direito à restituição do que prestou;

b) A massa insolvente tem o direito de exigir o valor da contraprestação correspondente à prestação já efectuada pelo

devedor, na medida em que não tenha sido ainda realizada pela outra parte;

c) A outra parte tem direito a exigir, como crédito sobre a insolvência, o valor da prestação do devedor, na parte

incumprida, deduzido do valor da contraprestação correspondente que ainda não tenha sido realizada;

d) O direito à indemnização dos prejuízos causados à outra parte pelo incumprimento

d) E o que sucede ao contrato de arrendamento, celebrado entre a RF e a

Fábrica de Miúdos e Miudezas, S.A. (FMM) por 10 anos, relativo a um armazém

de que é proprietária a RF, do qual consta uma cláusula resolutiva, em caso de

insolvência de uma das partes?

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Nos termos do Art.º 108º/1 - A declaração de insolvência não suspende o

contrato de locação em que o insolvente seja locatário, mas o administrador da

insolvência pode sempre denunciá-lo com um pré-aviso de 60 dias, se nos

termos da lei ou do contrato não for suficiente um pré-aviso inferior.

Exceptua-se do número anterior o caso de o locado se destinar à habitação do

insolvente …

Art.º 109º - locação em que o insolvente é o locador - A declaração de

insolvência não suspende a execução de contrato de locação em que o

insolvente seja locador, e a sua denúncia por qualquer das partes apenas é

possível para o fim do prazo em curso, sem prejuízo dos casos de renovação

obrigatória.

Art.º 119º - 2 - É em particular nula a cláusula que atribua à situação de

insolvência de uma das partes o valor de uma condição resolutiva do negócio

ou confira nesse caso à parte contrária um direito de indemnização, de

resolução ou de denúncia em termos diversos dos previstos neste capítulo.

O locatário tinha sempre a sua situação acautelada pelo 1057 do CC, não

suspende a locação e uma eventual alienação da coisa locada não o priva dessa

mesma coisa art. 119 nº3, o contrato mantem-se tal e qual, se há algo que da

frutos à massa insolvente não faz sentido que o contrato se considere cessado,

tem que haver uma coerência do sistema, a declaração de insolvência só por si

não faz com que um contrato de locação se resolva.

e) Por último, pronuncie-se sobre o seguinte acordo, celebrado entre a RF e a

Piripiri, Lda. (PP), em outubro de 2015: perante uma dívida de € 20.000,

decorrente do fornecimento de condimentos pela PP à RF, vencida em agosto

do mesmo ano, esta última comprometeu-se a pagar a quantia em apreço em

20 prestações mensais, a partir de novembro de 2015, acrescida de uns

simpáticos juros; para garantir o cumprimento, foi constituída hipoteca sobre a

sede da RF.

Resolução em beneficio da massa

A) Resolução em benefício da massa insolvente

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O processo de insolvência tem como objetivo a satisfação igualitária dos direitos dos

credores. Assim sendo, não é admissível a concessão de vantagens especiais a qualquer um deles, a partir do momento em que a situação de insolvência do devedor é

conhecida. (tendo em conta o enunciado a mesma já seria, pelo menos, eminente – art.º 3º CIRE).

A lei permite que o administrador da insolvência determine a resolução de atos

e omissões em benefício da massa insolvente, nos casos em que o devedor tenha concedido alguma vantagem desse tipo no período suspeito anterior à

declaração – 2 anos. Tal decorre dos art.º 120º/1 e ss.

A resolução em benefício da massa insolvente obedece a vários requisitos.

Requisitos gerais – art.º 120º CIRE:

• Realização pelo devedor de determinado ato; • Prejudicialidade do ato em relação à massa insolvente – exige-se que os atos do

devedor frustrem, diminuam, ponham em perigo ou retardem a satisfação dos credores da insolvência. Do art.º 120º/3 decorre ainda uma presunção iuris et de

iure: certos atos, presumem-se prejudiciais à massa. Remissão art.º 121º. • Presume-se a existência de má fé do terceiro, aquando do conhecimento (art.º

120º/5 CIRE) ✓ De que o devedor se encontrava em situação de insolvência;

✓ Do carácter prejudicial do ato e de que o devedor se encontrava à data em situação de insolvência iminente;

✓ Do início do processo de insolvência.

Requisitos da resolução incondicional – art.º 121º CIRE • São resolúveis em benefício da massa insolvente os actos seguidamente

indicados, sem dependência de quaisquer outros requisitos:

✓ c) Constituição pelo devedor de garantias reais relativas a obrigações preexistentes ou de outras que as substituam, nos seis

meses anteriores à data de início do processo de insolvência; hipoteca em princípio nao resistiria.

Art.º 120º/3 – tinha de provar a má fé e que tinha sido praticada nos últimos

dois anos.

Poderia continuar a ter o crédito, mas não garantido com uma hipoteca.

Há atos em relação aos quais a lei exclui a possibilidade de resolução em benefício da massa. Desde logo, os que estão previstos nos art.º 120º/6 e 122º.

Legitimidade para o exercício deste direito:

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• Legitimidade ativa – art.º 123º: legitimidade exclusiva do administrador da insolvência – nos 6 meses seguintes ao conhecimento do ato e nunca depois de

dois anos sobre a data de declaração de insolvência; • Legitimidade passiva – a mesma deve ser dirigida contra ambas as partes no

ato que se pretende resolver.

Quanto à forma de exercício da resolução, a mesma pode ser feita por simples declaração à outra parte (regime geral do art.º 436º/1 CC). Esta terá de conter os

respetivos fundamentos, sob pena de nulidade. • Carta registada com aviso de receção – art.º 123º/1 CIRE.

ESTUDO DA INSOLVÊNCIA EM AULA:

Processo de insolvência

• De execução universal

• De execução concursal – todos os credores são chamdos ao processo

➔ Medida de igualdade: segundo uma medida de proporcionalidade. Credores são

satisfeitos na medida dos seus créditos

Liquidação – venda. Com o produto paga aos credores. Leva à extinção da pessoa

coletiva.

Plano de insolvência: plano de pagamento dos créditos. No caso de pc estas continuam a

funcionar.

Pressupostos da insolvência – 2º e 3º e 18º e ss. CIRE

• Legitimidade passiva – quem pode ser objeto – 2º CIRE.

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✓ Por ex, as instituições de crédito não podem. Têm um regime específico.

Temos vários processos de insolvência.

• Situação material da insolvência – 3º

✓ Critério do fluxo de caixa/critério da liquidez – não tem liquidez. Posso não

ter caixa, mas ter recurso ao crédito. Neste caso não estamos numa situação

de insolvência. Posso não ter liquidez, mas ter ativos superiores aos passivos

– ainda assim estou em insolvência face a este critério. Ex.: não tenho

dinheiro para pagar a um comediante. Mas tenho o imóvel que vale 10

milhões – ainda assim estou insolvente para este critério.

✓ Critério do balanco ou do ativo patrimonial – aplica-se às coletivas, mas não

às singulares. Insolvente quando o passivo excede o ativo. Mas o nº3 ajuda

o devedor. Fortalece o ativo. No passivo vamos tentar cortar – dívidas pagas

depois dos credores. Aborda-se a empresa e verfica-se se tem

postencialidade do ativo estar suerior ao passivo daqui a uns meses. So

depois desse tempo é que s everifica se o critéro esta preenhido.

3º/4 – insolvência atual equiparada à eminente - só serve para o devedor declarar

a sua insolvência. Os credores não podem invocar esta.

• Legitimidade ativa – 18º

✓ Pode o devedor. E tem o dever em determinados casos – 30 dias apos

conhecer ou dever conhecer a situação de insolvência. Art.º 18º/3 é

importante. Atualmente não se aplica este dever. Não pode ser

reposanbilizado. Está suspenso (leis pos covid).

✓ Qualquer credor e MP – 20º

Como os crofr conseguem arvorar se estamos erante o critério do balanco ou da liquiez

– artigo 3º - atraves do 20º/1 – dos factos ilícitos. Tem de ser demonstrados pelos

credores.

Há um premio para terceiros que rqeriam a declaração de insolvência do devedor – art.º

98º CIRE – passa a adquirir a posição de privilegiado.

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20/a – moratória generalizada; b – incump defini c)fuga; d – esbanjamento do

património; e-insuficencia; f- incumprimento do plano – g) incump. Generalizado -

remissão 18º/3

Efeitos da declaração – 81º e ss

Guiados por alguma desconfiança na capacidade de gerir o negocio; não beneficiar um

credor em detrimento de outrem

• Regra geral ano é permitida a compensação

• Regra geral 102º - contrato bilateral; incumprimento total lou parcial; por ambas

as partes – são os requisitos

✓ Suspensão

✓ 103º e ss. – regras especiififcas quanto a incidecia da declaração de

insolvência nos negócios em curso.

Resolução em benefício da massa insolvente – 120º

• Destrói-se um ato considerado prejudicial para a massa insolvente.

• Porque é que a resolução em benefício da massa é tao perigosa? Estamos a

destruir negócios que já foram praticados e já produziram efeitos. ex.:

financiamento bancário (121º/e) – banco empresta dinheiro à empresa. Ira exigir

hipoteca, por ex. Importante porque passa a ser um credor garantido. Não tem de

concorrer com os credores comuns. Passado um mês entra em insolvência (por

causa dos 2 anos). É resolvida em beneficio da passa. Perde a garantia e passa a

credor comum.

Temos dois tipo de

➔ 120 - pressupostos: período suspeito (a logica é fortalecer a massa insolvente);

ser um ato prejudicial (120º/2 e 3); má fé do terceiro. Verificados o ato é

destruído – pelo administrador da insolvência - 123.

➔ 121: opera de forma automática, no sentido de não depender de prova (do carater

prejudica, má fé do terceiro).

➔ (num caso pratico olha-se primeiro para o art.º 121º) se esta previsto no 121º,

mas fora do prazo, podemos ir ainda ao 120º.

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Como articular com a ação de impugnação pauliana? – podem os credores intentar uma

ação de impugnação? Não há compatibilização. 127º. A açao de impugançao pauliana

pode ser usada quando? Art.º 127º/2.

Qualificação créditos – 47º e 173º e ss CIRE

• 47º/4 – enumera os tipos de crédito

✓ Garantidos – reais, como a hipoteca e o penhor, que são os mais comuns -

✓ Privilegiados – ex. indemnizações resultantes do contrato de trabalho

✓ Comuns – são residuais.

✓ Subordinados – atenção para a primeira e ultima alínea do 48.

Pagamento dos créditos 172º e ss.

Procede-se à liquidação