carta-programa canto geral 2015

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  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    CANTO

    GERAL

    2015

    CARTA-PROGRAMA

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    2 NDICE

    4 conjuntura da universidade6 modelo de xi: colegiada8 instrumentos de participao11 abrindo a tesouraria13 a universidade que queremos15 congressos acadmicos16 memria, verdade e justia17 permanncia estudantil

    18 biblioteca e campus urbano19 cultura e espaos de vivncia21 feminismo24 lgbt27 igualdade racial29 nossas bandeiras de luta

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    Somos o que fazemos,

    mas somos, principalmente,

    o que fazemos para mudar o que somos.EDUARDO GALEANO

    O Canto Geral um coletivo de esquerda, feminista,

    anti-racista e anti-LGBT*fbico que, desde sua formao,

    em 2012, se prope a questionar a maneira como tradi-

    cionalmente se faz poltica na So Francisco, priorizando

    a construo de espaos horizontais que possibilitem a

    participao efetiva de todas as estudantes.

    Ano aps ano, o Centro Acadmico XI de Agosto vem

    aprofundando sua estrutura burocratizada e vazia de po-

    ltica, cada vez mais distante do cotidiano da faculdade e

    da luta por transformaes sociais. Sucessivas gestes tmreduzido o XI ao papel de mero prestador de servios para

    as estudantes, totalmente aptico e alheio aos debates pol-

    ticos que a faculdade e a sociedade demandam.

    O que deveria ser um instrumento de mobilizao de

    toda a faculdade se restringe, atualmente, a um grupo de

    menos de 10 estudantes fechados na salinha, ocupado com

    as tarefas de uma mquina falida e comprometido to so-

    mente com a sua autoconstruo, fazendo da gesto do

    Centro Acadmico um fim em si mesma. Ns do Canto Ge-

    ral acreditamos que esse modelo de XI de Agosto est es-gotado.Queremos transformar esse modelo para permitir

    que o XI cumpra seu papel mais importante: ser o centro

    organizador das mobilizaes estudantis.

    Ao transformar o modelo do XI de Agosto, transforma-

    remos a maneira de se fazer poltica na faculdade, no nos

    contentando com a poltica alienada e alheia do cotidiano

    das estudantes, mas sim, prezando pela sua participao.

    Acreditamos que a poltica um ambiente que deve nos

    unir, para que todas possam ter acesso a ela e constru-la. E

    ao horizontalizar o nosso movimento, reforamos a partici-

    pao daquelas que antes no conseguiam se inserir de ma-

    neira efetiva, como as mulheres, as LGBs, as negras e negros.

    A construo do movimento estudantil tem que ocorrer de

    forma que esses setores tenham voz e se sintam confort-

    veis e estimuladas para estar nos espaos.

    Ocupar o Centro Acadmico, ainda, no pode ser um im-peditivo para participar de outras atividades. Um coletivo

    incapaz de sair da salinha do CA torna-se necessariamente

    uma gesto incapaz de dialogar com as entidades e estu-

    dantes.

    Somente por meio da mudana dos sujeitos polticos

    e das estruturas do Centro Acadmico que o XI de Agos-

    to poder ser irradiador de politica, de movimento e de

    transformaes na sociedade. O Canto Geral, nesse sen-

    tido, apresenta seu compromisso em romper com o ana-

    cronismo que assola o movimento estudantil e abrir espa-

    os para efetiva participao das estudantes nos rumos

    da poltica acadmica e na disputa do ensino jurdico.

    Nas prximas pginas, apresentamos as nossas ideias

    para colocar em prtica esse projeto.

    Boa leitura!

    APRESENTAO 3

    Como forma de escancarar a desigualdade de gnero naturalizada no dia-a-dia, decidi-mos substituir, nessa Carta-Programa, todos os gneros considerados neutros pelo gne-

    ro feminino. Provavelmente, isso causar estranhamento e incmodo na leitura, mas serve

    como exerccio para repensar o protagonismo masculino arraigado na nossa sociedade.ATEN

    O!

    =)

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    4 CONJUNTURA DA UNIVERSIDADE

    Em fevereiro de 2014, a mdia pas-

    sou a veicular, para a surpresa da comu-

    nidade universitria, que a USP entraria

    em grande crise oramentria. A infor-

    mao repassada, sem qualquer deba-

    te ou abertura de contas, foi a de que,

    do repasse de 9,57% do ICMS, o gasto

    com pessoal consumiria 105%. Nesse

    contexto, a reitoria apresentou diversas

    medidas que teriam o intuito de sanar

    as contas da universidade, mas que na

    prtica significavam a expanso de um

    projeto que h dcadas tenta ser imple-

    mentado na USP: um corte total de 30%

    do oramento da universidade! Incidin-do, principalmente, nas verbas de pes-

    quisa, extenso e permanncia. Foram

    congeladas as contrataes de novas

    funcionrias e professoras, inclusive as

    substituies de aposentadas e demiti-

    das. Tambm foi anunciado o reajuste

    de 0% trabalhadoras da USP, UNESP

    e UNICAMP e um Plano de Demis-

    so Voluntria (PDV) com o intuito de

    abranger cerca de 1800 funcionarias. Areitoria tambm props passar a admi-

    nistrao de dois hospitais da universi-

    dade (HU e do HRAC) para o governo

    estadual e transferir a responsabilidade

    da permanncia estudantil para o go-

    verno estadual.

    Como qualquer instituio publica,

    a universidade surge e se mantem paracumprir um determinado objetivo, de-

    finido pelas foras sociais que influen-

    ciam na sua gesto. A atual crise na USP

    e as medidas propostas so resultados

    do embate entre diferentes projetos

    polticos de universidade, duas tentati-

    vas de definir para que serve a universi-

    dade pblica.

    O projeto neoliberal coloca a Uni-

    versidade a servio da explorao co-

    mercial. De um lado, para que o ensino

    superior pblico fornea mo de obra

    tcnica e qualificada ao mundo do tra-

    balho e que produza conhecimentos e

    mecanismos lucrativos; por outro lado,

    mercantiliza o ensino, criando um ver-

    dadeiro mercado universitrio, capaz

    de garantir altas taxas de lucratividade.

    Essas duas faces do projeto, esses dois

    objetivos, caminham sempre juntos,

    um influenciando o outro.

    A partir da dcada de 1980, ocorre

    uma sistemtica secagem financeira e

    A crise da USPEmbate entre diferentes projetos polticos de universidade

    desestruturao da universidade p-

    blica para justificar a implementao

    desse projeto. Essa a atual conjuntu-

    ra da USP: umacrise financeira impul-

    sionando o projeto de privatizao

    da universidade. fcil ver que todas

    as propostas da reitoria para sanar

    a crise financeira pertencem a esse

    projeto, pois so propostas de suca-

    teamento, privatizao e tecniciza-

    o do ensino.

    Para que a universidade sirva cria-

    o de mo de obra ao mercado priva-

    do, a formao estudantil deve ser ao

    mximo afastada da realidade social e

    dos problemas enfrentados pela po-pulao, o conhecimento produzido

    no pode ser de carter reflexivo, cr-

    tico ou baseado nas necessidades do

    pas. As grades curriculares devem ser

    definidas rigidamente, com predom-

    nio de matrias que orientam para as

    atividades empresariais e produtivas,

    a pesquisa e extenso perdem sua im-

    portncia e seu financiamento.

    O HU e o HRAC, por exemplo, so

    os principais instrumentos pelos quais

    estudantes de duas grandes faculda-

    des da USP constroem conhecimento

    crtico, baseado na realidade social e

    praticam extenso. A passagem deles

    para a administrao estadual retira-

    ria da formao daquelas estudantes

    a principal forma de apreenso dos

    problemas reais da sade brasileira e

    de administrao do SUS, assim como

    acabaria com um dos principais servi-

    os que a USP presta populao pau-

    lista. Os cortes nas verbas de pesqui-

    sa e extenso entram com o mesmo

    propsito e representam um enorme

    prejuzo na produo de conhecimen-

    to para o povo e na qualidade da gra-

    duao na nossa universidade O pla-

    no de demisses voluntrias (PDV),

    que prev a reduo de mais de 10%do quadro de funcionarias e o conge-

    lamento das contrataes de novas

    funcionrias e professoras, so medi-

    das que, evidentemente, precarizam

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    CONJUNTURA DA UNIVERSIDADE 5

    e sobrecarregam as funcionrias e pro-

    fessoras que se mantm na instituio

    com trabalho dobrado ou triplicado e

    representam considervel perda ao en-

    sino, uma vez que a reduo de pessoal

    afetar o oferecimento de disciplinas e/

    ou o aumento indiscriminado de alu-

    nas por turma. Tambm, as demissese o 0% de reajuste, que, so medidas j

    utilizadas em outros processos de pri-

    vatizaes no Brasil, que geram a fuga

    da mo de obra mais qualificada da

    empresa pblica para as universidades

    privadas e o aumento, j antigo na USP,

    da contratao de mo de obra tercei-

    rizada.

    A organizao sindical e o movi-

    mento estudantil, ambos os maiores

    entraves histricos aos projetos de pri-

    vatizao que tem surgido nas univer-

    sidades brasileiras, foram amplamente

    atacados pela reitoria durante a crise, a

    direo reprimiu militarmente o movi-

    mento, cortou o ponto das funcionrias

    grevistas e judicializou o conflito, ainda

    que no possusse qualquer inteno

    de negociar, mas to somente a anula-

    o do direito de greve e da dignidade

    das servidoras em luta.

    As propostas de soluo para a crise

    foram alm e novamente se cogitou o

    pagamento de mensalidades. A medi-

    da serve para elitizar ainda mais o ce-

    nrio discente da universidade e umaafronta busca de popularizar o aces-

    so USP, por meio, por exemplo, do

    implemento de cotas raciais e sociais.

    Essa proposta nada tem a ver com a cri-

    se financeira atual, pois ela vem sendo

    buscada h dcadas e, inclusive, ob-

    jeto da PEC 123/1995, de autoria do de-

    putado Luiz Carlos Hauly do PSDB/PR,

    partido que permanece frente do go-

    verno paulista, que prope a alterao

    da vedao constitucional cobrana

    de mensalidades nas Universidades

    pblicas. evidente que as mudanas

    propostas para a USP usam a crise fi-

    nanceira para legitimar tais respostas

    tcnicas problemas administrativos,

    mas, na realidade, so propostas an-

    tigas, que partem de um projeto que

    acaba com o carter popular e pbli-

    co da universidade, colocando aquela

    que deveria servir ao povo brasileiro

    para servir ao mercado privado. um

    processo global que envolve agentes

    importantes como as maiores empre-

    sas privadas de educao no mundo, a

    OMC e o Banco Mundial, que h cerca

    de dez anos avaliou o sistema universi-

    trio pblico do Brasil como incapaz de

    retornos satisfatrios e props a retira-

    da de recursos pblicos dessa reas e

    o incentivo para que o mercado global

    de educao suprisse a demanda pela

    ensino superior. Tambm afirmamos

    que a soluo para a crise da USP o

    reforo de seu carter pblico, popular

    e democrtico.

    Queremos uma universidade comrecursos para atender s estudantes

    negras e pobres por meio das cotas

    e da permanncia, para produzir um

    conhecimento socialmente til por

    meio da extenso e da pesquisa, para

    se integrar populao que est fora

    da universidade, para ser enfim uma

    excelente universidade: do povo e

    para o povo.

    Queremos uma universidade com recursos para atender s estudantes negras e pobres por meio das

    cotas e da permanncia, para produzir um conhecimento socialmente til por meio da extenso e da

    pesquisa, para se integrar populao que est fora da universidade, para ser enfim uma excelente

    universidade: do povo e para o povo.

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    6 MODELO DE XI: COLEGIADA

    Como forma de colocar em prtica a poltica que desejamos construir, acreditamos que necessrio que o Centro Aca-dmico XI de Agosto no se limite gesto dos instrumentos burocrticos, tampouco que se limite s ideias e aes de

    apenas 10 membras estatutariamente determinadas. Tendo em vista que acreditamos em um movimento estudantil

    composto por diferentes e novas vozes - incluindo todas aquelas que hoje no se encaixam no perfil de sujeito poltico

    tradicional e que agregue e coloque em movimento os desejos de mudana da faculdade, da universidade e da socie-

    dade, acreditamos que a nica forma de alcanar tal XI mobilizador, por meio da criao de mais espaos abertos

    e de participao de todas nos debates e construes coletivas das pautas.

    Precisamos de mudanas estruturais na poltica acadmica, para que o Centro Acadmico possa ser um instrumen-

    to de transformao poltica e social!

    POR UM XI TRANSFORMADOR!

    A colegiada um modelo de organizao de gru-

    po que busca a horizontalidade entre as pessoas que

    o compe. Ou seja, guarda o objetivo de dividir igual-

    mente o poder sobre as escolhas polticas do Centro

    Acadmico e a responsabilidade sobre este. Mas, mais

    que dividir o poder entre o coletivo, uma diretoria co-

    legiada tem a pretenso de dividir as decises comtodos as associadas do XI, uma proposta radical de de-

    mocratizao.

    Para que isso se concretize, na colegiada no h di-

    viso hierrquica de cargos.Disso resulta duas conse-

    quncias centrais. Primeiro, faz com que o cuidado com

    a gesto seja intensificado, uma vez que, no apenas a

    gesto se comprometa com a mesma carga de responsa-

    bilidade para a organizao e realizao das tarefas, mas

    tambm as alunas, que podero tocar diretamente o co-

    tidiano poltico da faculdade - aliado, claro, a reunies e

    decises abertas a toda a faculdade. Sem cargos, nos or-

    ganizamos na forma de comisses abertas, permitindo

    mais facilmente a diviso de tarefas de forma igualitria.

    A segunda grande consequncia da colegiada a

    alterao dos processos de deciso. Afinal, toda e qual-quer construo feita pelo Canto Geral necessariamente

    - e ser - discutida de maneira coletiva, seja dentro das

    comisses abertas, seja com o grupo todo, seja com a

    faculdade. Este modelo visa atingir a democracia nos

    espaos decisrios, alm da construo de melhores

    solues para as situaes, evitando, ainda, medidas ar-

    bitrrias e personalistas tomadas por um nico membro

    do grupo.

    O que quer dizer colegiada?

    preciso se atentar, contudo,

    desigualdade na participao devido

    existncia de opresses estruturais

    e institucionalizadas. Via de regra,

    determinados sujeitos polticos tm

    menos voz e se sentem menos von-

    tade para expor publicamente suasideias. o caso das mulheres, LGBTs,

    negras e negros. Devemos lembrar

    que o Centro Acadmico contou

    com apenas quatro mulheres, um

    negro e nenhuma LGBT eleita para

    presidncia. A fim de possibilitar a

    democratizao das discusses e,

    consequentemente, das tomadas de

    deciso, prtica do Canto Geral - e

    da futura gesto - realizar as plen-rias auto organizadas, compostas

    apenas pelos grupos mencionados.

    Estas plenrias, por serem soberanas

    perante o grupo, ajudam no cami-

    nho da emancipao coletiva e do

    empoderamento pessoal, permitin-

    do ainda mais a democratizao.

    Entender a organizao interna

    do XI de Agosto vai muito alm de

    uma simples questo de ttica ouforma. O modo de estruturao de

    um grupo que gere o centro acad-

    mico diz muito sobre quais sero

    CUIDADO COM AS OPRESSES

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    MODELO DE XI: COLEGIADA 7

    Os cargos estatutrios so um exemplo de ineficcia, como fla-

    grante na atual gesto do XI. No que essa diviso tem ajudado a polticaacadmica? A estatutria contribui para uma viso personalista da po-

    ltica da faculdade e, tal como feita, afasta a participao do corpo es-

    tudantil, que se dirigem ao XI como a uma prestadora de servios, sem

    se enxergar parte da estrutura ou responsvel pela poltica acadmica.

    preciso desmistificar a ideia de cargos hierarquizados na gesto do

    centro acadmico. O artigo 22 do Estatuto do XI dispe sobre o dever

    de cada cargo da chapa. A definio de cada tarefa deixa claro que esse

    modelo: i) na prtica no se realiza, pois as atribuies do estatuto no

    correspondem a diviso de tarefas entre os membros do grupo ii) man-

    tm um movimento estudantil extremamente elitizado, pois restringe

    o movimento apenas a quem pode se dedicar exclusivamente a execu-

    o das tarefas, impedindo que os membros se dediquem a outras ati-

    vidades tais como estagio, pesquisa e extenso. Esse fetiche em torno

    das atribuies dos cargos reproduz a logica patriarcal de politica, ou

    seja, de ter sempre o mesmo perfil representativo em cargos de po-

    der. Romper isso primordial para a democratizao da faculdade!

    O estatuto do Centro Acadmico

    prev a composio de 10 cargos

    estatutrios. Ns queremos re-

    formar esse estatuto para que a

    opo de chapa colegiada tam-

    bm seja possvel, trocando os 10

    cargos estabelecidos hoje por 10

    de diretoria geral. Enquanto essa

    reforma no feita, a composioda nossa chapa feita atravs de

    um sorteio entre todas que se com-

    prometem a construir a gesto, com

    proporo de gnero equivalente

    composio do grupo.

    suas prioridades polticas, como se

    dar sua relao com estudantes

    associadas e associados e, princi-

    palmente, a quem ele se prope

    representar. Assim, uma mudana

    dessa estrutura uma mudana po-

    ltica em si e que ir gerar consequ-

    ncias democratizantes com as quais

    as franciscanas s tem a ganhar.

    Temos uma estrutura verticaliza-

    da e hierrquica nas empresas, na

    poltica institucional, no Estado e etc.

    Por que nos espaos potencialmente

    livres e autogeridos reproduziramos

    essas formas viciadas de organiza-

    o? A experincia universitria de-

    veria ser menos engessada e abrir

    espao para a experimentao da

    poltica que julgamos ser mais be-

    nfica - por demandar mais a parti-

    cipao daquelas pessoas que so

    afetadas diretamente pelas decises

    tomadas.

    ?

    Como feita a escolhada chapa hoje

    COLEGIADA: UMA ALTERNATIVA REAL!

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    8 INSTRUMENTOS DE PARTICIPAO

    Para que haja um dilogo constante entre o Centro

    Acadmico e as estudantes, ns nos comprometemos a

    fazer reunies de gesto mensais abertas na faculdade.

    Hoje, as reunies abertas j so comuns, mas no se v,

    ainda, reunies ordinrias da gesto que sigam tais mol-

    des. O objetivo de tais reunies seria um espao onde

    as membras da gesto, das entidades e as estudantes

    possam apresentar suas idias, linhas polticas e proje-

    tos, com o intuito de no apenas manter um ou outro

    ciente de suas atuaes individuais, mas colocar em

    debate a possibilidade de atuaes conjuntas.

    A participao direta de todos os setores do corpo dis-

    cente contribui objetivamente para que sejam tomadas

    melhores decises e para que se efetive a transformao

    do ambiente em que estamos inseridas. Para que possa-

    mos atuar em construo coletiva, entidades, estudantes

    no organizadas, gesto do C.A, RD, etc, necessrio que

    estejamos todas cientes das demandas e interesses umas

    das outras e isso s se pode conseguir a partir de espaos

    que congreguem a todas.

    As reunies devero acontecer mensalmente, no es-

    pao da faculdade, com pautas previamente divulga-

    das, as quais podero ser construdas tambm pelas en-

    tidades e estudantes, por meio do envio prvio de tens

    que desejem inserir na reunio.

    REUNIES ABERTAS DA GESTO DO C.A.

    COMISSES ABERTAS

    As comisses abertas so uma opo da organizao

    do trabalho no Centro Acadmico, que tem por objetivo

    congregar mais estudantes em torno das pautas que so

    desenvolvidas, de forma contnua, ao longo da gesto. Tra-

    ta-se de um modelo no qual se organizam grupos que se

    apropriam de pautas, debatam as possibilidades de atua-

    o e encaminhem aes necessrias.

    A organizao de cada comisso, periodicidade de suas

    reunies, forma de diviso de tarefas, etc, ficar a cargo de

    cada um dos grupos que se organizarem, de acordo com o

    que julgarem adequado para uma boa atuao. Vale notar

    que as membras no precisam necessariamente se vincu-

    lar comisso de seu interesse de maneira permanente,

    podem - em acordo com o carter aberto do espao - auxi-

    liar em aes pontuais.

    Dessa maneira, o convite geral: que todas que se in-

    teressem por algum dos temas comissionados se juntem

    gesto, para que construamos um movimento estudan-

    til mais presente no cotidiano das estudantes e, portanto,

    mais forte. Propomos, assim, quatro comisses iniciais, a

    que podem ser somadas outras de acordo com o interesse

    das estudantes e o sucesso do modelo.

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    INSTRUMENTOS DE PARTICIPAO 9

    JORNAL

    O Jornal do XI de Agosto um meio de comunicao efetivo da

    vida acadmica, entretanto no por meio da construo vertical

    que praticada hoje na sua elaborao e divulgao. Ele deve

    ser um espao importante de discusso poltica, que traga deba-

    tes da conjuntura de interesse das estudantes, sempre prezando

    pela construo coletiva tambm com os grupos organizados,

    como as entidades e extenses.

    EMAIL

    O Email USP uma ferramenta para divulgao das atividades do

    CA que auxilia muito a vida de estudantes que no conseguem

    estar presentes com muita frequncia na faculdade, de modoque possam acompanhar um pouco mais de perto o que aconte-

    ce no ambiente universitrio.

    SITE COLABORATIVO

    O site do XI de Agosto uma das principais ferramentas de co-

    municao e deve ser valorizado como tal. Alm de conter todas

    as atividades do CA, deve conter tambm todas as informaes

    relevantes para facilitar o cotidiano das estudantes. Outro desta-

    que na utilizao do site para comunicao com a extenses

    e entidades. Vamos construir um site colaborativo no qual cada

    entidade ter a sua pgina de acesso, sem precisar da interme-diao do CA, para postar sobre todas as suas atividades, seus

    projetos e contatos. O site tambm contar com a Agenda Unifi-

    cada da Faculdade para facilitar tanto a organizao, como a di-

    vulgao dos eventos acadmicos.

    CANAL NO YOUTUBE

    Explorando novos meios para desenvolver um dilogo cada vez

    maior, queremos utilizar tambm os recursos audiovisuais. O Ca-

    nal do Youtube uma tima ferramenta para registro das ativi-

    dades estudantis que podero ser acompanhadas por aquelas

    que no puderam estar presentes. Alm de gravar nossas ativi-

    dades, o canal tambm poder ser usado de maneira informati-

    va, contando com vdeos informativos relevantes comunidade

    estudantil e, assim, ampliando a possibilidade de mobilizao e

    agitao tambm no espao virtual.

    Por defendermos uma Universidade Pblica,

    Popular e Democrtica, ns acreditamos que

    inaceitvel compactuar com um fechamento

    da Sanfran em sua prpria bolha. Nesse senti-

    do, o estabelecimento de um dilogo contnuo

    e consequente com as protagonistas da regio

    central da cidade de So Paulo ponto funda-

    mental para o Movimento Estudantil francisca-

    no. Prximo a ns, a realidade do centro carrega

    a violncia institucional e policial contra a po-pulao em situao de rua, a luta pelo direito

    moradia, a resistncia s desocupaes fora-

    das, as reiteradas tentativas de implementao

    de polticas higienistas e gentrificantes, entre

    tantos outros aspectos derivados de suas con-

    tradies. necessrio que somemos fora aos

    movimentos sociais e demais sujeitas polticas

    que j questionam, criticam e resistem s coti-

    dianas violaes de direitos.

    Visando uma maior interao entre a Fa-culdade e o Centro de So Paulo, propomos a

    criao de uma comisso que construa conti-

    nuamente o dilogo com a populao e com

    os Movimentos Sociais. Entendemos que a co-

    misso deve se estruturar a partir de dois ei-

    xos centrais: formao e lutas. A primeira para

    se estudar a construo do espao urbano, as

    contradies encerradas no centro da cidade e

    as polticas pblicas que tem se voltado para a

    regio; a segunda visando ter uma atuao pr-tica, somando fora s lutas dos movimentos e

    dialogando sempre com os grupos e entidades

    que j atuam nesse campo.

    COMISSO DE CENTRO COMISSO DE COMUNICAO

    Se queremos um XI participativo, devemos construir uma boa

    comunicao com toda a faculdade para que todas as estudan-

    tes saibam o que est acontecendo no Centro Acadmico e naFaculdade, de forma a se inteirar dos debates e participar de sua

    construo. Vale repetir aqui o quanto a chapa colegiada est

    construda na lgica da transparncia e horizontalidade, buscan-

    do a abertura e a coletivizao na tomada de decises.

    Assim, pensamos em alguns instrumentos que facilitaro a

    comunicao do CA com a faculdade.

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

    10/34

    COMISSO CULTURAL / FESTAS

    A autonomia da Representao

    Discente em relao ao Centro Acad-

    mico, herana do perodo ditatorial,

    visa fragmentar as estudantes, uma vez

    que as alija da compreenso global das

    questes da faculdade, e as enfraque-ce, pois tornam-se sub representadas

    junto aos rgos deliberativos. Enten-

    demos que essa ciso extremamente

    desmobilizante e despolitiza diversas

    pautas estudantis, como a luta pela de-

    mocratizao das instncias de poder e

    pela valorizao do trip universitrio.

    Assim, acreditamos que necessrio

    repensar esse modelo por meio de dis-

    cusses massificadas nos espaos p-

    blicos da faculdade que culminem com

    a elaborao de uma proposta de re-

    forma regimental, para que seja incor-

    porada a possibilidade de uma chapa

    ser organizada de maneira colegiada,

    unificada e horizontal, restruturando a

    atual ciso entre XI e RD. Temos a clare-

    za que esse impasse pode ser minimi-

    zado com participao das membrasda Representao Discente nas reuni-

    es abertas do Centro Acadmico, a fim

    de fomentar maior dialogo e unidade

    na construo das pautas estudantis.

    A necessidade de unificao fica

    clara ao analisarmos o processo de luta

    pela aprovao do novo Projeto Pol-

    tico Pedaggico e da Nova Grade no

    ano passado. A RD tinha clareza sobre

    muitos dos problemas desses instru-

    mentos e havia elaborado boas pro-

    postas para reformulao deles, porm

    sua estrutura afastada da construo

    coletiva com as estudantes fez com

    que a pauta no tivesse a devida aten-

    o da faculdade e no fosse capaz de

    mobilizar a comunidade para alcanar-

    mos nossos objetivos. Por outro lado o

    XI, que tem boa capilaridade e capaci-

    dade para construir pautas e mobilizar

    as estudantes, que est mais presente

    no dia-a-dia de todas no tinha a cla-

    reza necessria sobre o projeto nem

    podia entender a estrutura burocrtica

    de poder e disputa que teramos que

    enfrentar.

    A ciso de XI e RD foi determinante

    na nossa derrota. Hoje ainda se faz ur-

    gente reformularmos o PPP e a grade

    da faculdade, mas esse deve ser um

    processo feito em constaste e intenso

    dilogo entre XI, RD e estudantes para

    que possamos realmente construir

    solues conjuntamente, de forma

    ampla e democrtica e somar as for-

    as necessrias para vencer o imobi-

    lismo da faculdade.

    10 INSTRUMENTOS DE PARTICIPAO

    Cultura e arte so elementos essenciais da convi-

    vncia humana que esto tambm presentes na Uni-

    versidade merecendo uma construo destacada pelo

    Centro Acadmico. De acordo com todo o projeto do

    Canto Geral, as festas e eventos culturais devem ser

    construdos junto com as entidades e grupos artsticos

    da So Francisco. Com uma Gesto disposta e que reco-

    nhece a importncia da pauta, possvel potencializar

    os eventos que j ocorrem e melhorar as festas - cujo

    cenrio atual, infelizmente, se resume a modelos en-

    latados - com contedos de machismo, elitismo, euro-

    centrismo, preconceito de classe, racismo e LGBTfobia

    - pelo qual se paga caro para frequentar e que, por isso

    mesmo, altamente excludente!

    Dessa forma, acreditamos que as estudantes devemestar organizadas para elaborao e ocupao dos es-

    paos culturais estudantis. A cultura praticada pelo cor-

    po estudantil reflete muito o que somos e o que que-

    remos ser. A hegemonia cultural no pode reproduzir

    acriticamente estticas e espaos opressores, pois isso

    s perpetua o que deve ser combatido cotidianamente.

    Para uma cultura mais participativa e no excludente,

    necessrio que se tenha as alunas como autoras e no

    meras espectadoras!

    Representao Discente e Centro Acadmico

    Entendemos que essa ciso extremamente desmobilizantee despolitiza diversas pautas estudantis

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    ABRINDO A TESOURARIA 11

    TESOURARIA PARTICIPATIVAA primeira condio para modificar a realidade consiste em conhec-la.

    EDUARDO GALEANO

    Por trs de toda deciso administrativa est uma escolha poltica. Como tal, essas decises precisam ser debatidas pelasestudantes. Para isso, preciso acabar com quaisquer mistrios e indefinies que envolvam a mquina do XI e diagnosticar

    os seus problemas. S assim ser possvel pensar solues, que no sero resultado da ao de um ou outro grupo, mas do

    debate pblico, aberto participao e contribuio de todas.

    COTA LIVRE DE XEROX

    Outro instrumento essencial para garantir a

    participao estudantil a cota livre de xerox.

    Entendemos que uma gesto comprometida

    com a participao deve manter disponvel acota livre de xerox, para que os grupos e en-

    tidades consigam, sem custos, divulgar suas

    ideias e projetos na faculdade. Ainda, enten-

    demos o custo da cota livre de xerox ser irris-

    rio para a sade financeira do XI, de maneira

    que ela no onera as contas do XI de forma

    significativa.

    A atual diviso de verbas entre as entidades

    fruto de uma proposta feita em comum

    acordo entre vrias entidades, deliberada

    em 2008. De l pra c, entretanto, houve al-

    teraes principalmente no que se refere

    quantidade de entidades que existem na

    So Francisco e que demandam apoio fi-

    nanceiro por parte do XI de Agosto, bem

    como dos valores que necessitam e utilizam

    cada entidade.

    Frente a isso, no contexto de reforma do es-

    tatuto, necessrio reabrir o debate sobre a

    rediviso de verbas, de forma que o XI consi-

    ga responder ao atual quadro de entidades e

    suas respectivas necessidades.

    Logo, o Canto Geral se compromente a reali-

    zar uma Assembleia Geral com o fim de abrir

    o debate, nos termos mais amplos e demo-

    crticos possveis, para que repensemos a

    diviso feita em 2008.

    O Canto Geral acredita que estimular a participao intensa

    da Sanfran no debate de tesouraria do XI a nica forma de

    pensar solues para a crise que vivenciamos no presente mo-

    mento. Nesse sentido, lanaremos mo de dois instrumentos de

    participao direta no debate oramentrio de nossa entidade:

    a Comisso Aberta de Tesouraria e o Conselho de Tesouraria das

    Entidades.

    COMISSO ABERTA DE TESOURARIA

    De carter permanente, ser um canal aberto e transparente de

    dilogo com as franciscanas preocupadas com a sade financeira

    do XI de Agosto. Entendemos ser essencial que esse espao se

    mantenha de forma peridica para que passe a ser costumeiro o

    debate sobre os rumos do XI. Um espao perodico e aberto sem-

    pre ao dilogo estimula as e os estudantes a se apropriarem da

    situao financeira do Centro Acadmico e a pensarem solues

    de forma conjunta. Grandes mudanas passam por grandes de-bates e grandes mobilizaes: quanto mais pessoas refletindo so-

    bre a situao do XI, mais preparados estaremos para enfrent-la.

    CONSELHO DE TESOURARIA DAS ENTIDADES

    Com a mesma motivao, pretendemos criar um Conselho de Te-

    souraria reunindo todas as entidades da faculdade. O intuito do

    Conselho forar com que administremos nossa verba sob uma

    perspectiva mais ampla. O que observamos, ao longo dos anos,

    que, se todas e todos soubessem melhor dos problemas de cada

    entidade, teramos solues construdas em conjunto que, porconsequncia, alocariam os recursos do XI de forma mais consen-

    sual e eficiente, haja vista que as entidades esto em dilogo e

    propondo solues que levam em considereo no s as contas

    de apenas uma das dezenas de entidades da Faculdade.

    ALTERAES NO PROGRAMA DE PARTICIPAO DOALUNO: OP E FIA

    Uma gesto que se proponha participativa, tem de ser compro-

    meter fortemente com os lanamentos de editais de projetos

    como o OP (Oramento Participativo) e o FIA (Fundo de Inicia-tivas Acadmicas) com antecedncia, devendo os mesmos se-

    rem realizados ainda no primeiro semestre, de forma que s en-

    tidades seja resguardado tempo suficiente para que organizem

    $ REDIVISO DE VERBAS

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

    12/34

    Uma dvida importante da comunidade acadmica

    em relao ao nosso modelo colegiado de chapa e de

    gesto em relao responsabilizao cvel e penal

    em eventuais problemas jurdicos com a gesto. Quan-

    to a isso, importante frisar que a responsabilidade

    solidria entre todas que ocupem cargos na diretoria,

    sempre, ou seja, independe da gesto ser estatutria

    ou colegiada.

    Ainda, entendendo o termo responsabilidade para

    alm de sua acepo jurdica, acreditamos que uma ges-

    to colegiada uma gesto mais responsvel, mais zelo-

    sa com o XI, que de todas, e portanto, necessariamente

    aberto e participativo, pois temos muito mais pessoas

    dispostas a zelar pelas tarefas como um todo. Acredita-

    mos que com o fortalecimento da mobilizao e envol-

    vimento de nossa comunidade nos grandes debates que

    envolvem as finanas do XI, conseguiremos empoderar

    as pessoas o suficiente das informaes, dados e fatos

    precisos para que tomemos juntas o XI como nosso ins-

    trumento de lutas e mobiizao, e no uma empresa a

    ser gerida por dez pessoas pretensamente as mais com-

    petentes a cada ano que entra e sai gesto.

    12 ABRINDO A TESOURARIA

    suas demandas e construam seus respectivos projetos. No

    entanto, repetidamente presenciamos as gestes do Centro

    Acadmico desrespeitando os prazos, como ocorreu neste

    ano, prejudicando entidades que se encontram com poucos

    recursos para a concretizao de projetos e manuteno de

    seu funcionamento ideal.

    Importante notar ainda que a gesto no se organizou

    para tornar maior o valor do OP deste ano, que no passou

    de pouco mais de 7.000 reais , o que no supre a demanda

    dos projetos e atividades das entidades organizadas (o OP

    j chegou a dispor de 11.000 reais). Para que o OP pudesse

    somar maiores recursos para os estudantes e no deman-

    dasse financeiramente da gesto, seria necessria uma re-

    viso da regra de clculo qual ele est submetido, dado

    que seu valor retirado do Fundo do XI. Entendemos que

    esse debate essencial e nos comprometemos a lev-lo ata comunidade acadmica para, eventualmente, realizarmos

    uma Assembleia Geral Extraordinria e, de forma democrti-

    ca, mudarmos a regra de clculo, para que o OP possa render

    maiores somas, contemplando um maior nmero de proje-

    tos e demandas.

    RESPONSABILIDADE E GESTO COLEGIADA

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

    13/34

    A UNIVERSIDADE QUE QUEREMOS 13

    A Universidade que queremos

    A universidade pblica, como insti-

    tuio social, exprime o modo de fun-

    cionamento da sociedade como um

    todo, devendo refletir, em seu interior,

    a composio desta, bem como pro-

    duzir conhecimento referenciado na

    comunidade que a sustenta. O carter

    pblico da universidade pressupe

    uma lgica de universalizao e de-

    mocratizao. Isto , sendo a educao

    um direito de todas, preciso ampliar o

    acesso das classes populares ao ensino

    superior por meio de polticas de inclu-

    so social e de permanncia. Alm dis-

    so, a autonomia universitria deve ser

    preservada, tanto atravs de prticas

    pedaggicas e linhas de pesquisa so-

    cialmente referenciadas, em oposio presso privatizante, quanto com sua

    democratizao.

    Nesse sentido, essencial o fortale-

    cimento do trip universitrio, fixado

    constitucionalmente, segundo o qual

    os pilares da universidade so: ensino,

    pesquisa e extenso. Devemos lutar

    por uma universidade na qual possa-

    mos estudar e produzir conhecimento

    sempre em dilogo com a sociedade,

    levando prtica o saber acadmico e

    valorizando o saber popular.

    A extenso possui papel funda-

    mental na aproximao destes polos

    histricamente distantes. A prtica de

    extenso universitria surgiu no Brasil

    como uma necessidade da universida-

    de em quebrar seu isolamento em rela-

    o sociedade. Aqui, diferentemente

    do que ocorreu nos Estados Unidos e

    na Europa, seguiu-se a tendencia da

    Amrica Latina e a extenso nasceu

    com forte carter social, muitas vezes

    ligadas a movimentos ou ideologias

    de esquerda. Isso foi fundamental para

    que as e os extensionistas e as prprias

    instituies percebessem a extrema eli-

    tizao do ambiente universitrio.

    Com o tempo, evidenciou-se a sub-

    valorizao das atividades de extenso

    por parte das instituies de ensino.Por vezes, por falta de interesse ou co-

    nhecimento do corpo docente, falta de

    verbas necessrias subsistncia dos

    grupos e coletivos ou at mesmo de-

    sinteresse dos centros acadmicos em

    apoiar e divulgar os grupos de exten-

    so, para que alcancem cada vez mais o

    corpo estudantil.

    Hoje, possvel analisar que, muitas

    vezes, a extenso uma necessidademaior dos alunos de se aproximar com

    a realidade econmica e social do pas,

    do que uma necessidade social de in-

    terveno da universidade. Isso ocorre

    por grande parte da sociedade ver-se

    excluida e marginalizada do ambiente

    universitrio, situao que poderia ser

    minimizada com a consolidao de

    uma universidade verdadeiramente

    popular.

    Isso fica evidente com a observao

    de estatsticas oficiais, que apontam

    que dos 12 mil ingressantes na Univer-

    sidade de So Paulo, a partir dos resul-

    tados do questionrio socioeconmi-

    co da FUVEST, 78,7% so brancas/os e

    62,9% cursaram escola particular. Na

    Faculdade de Direito, em consequncia

    do grande acirramento na disputa de

    vagas, perceptvel um cenrio ainda

    maior de excluso das camadas menos

    abastadas financeiramente, de maneira

    a atingir negras e negros de um modo

    violentamente mais excludente.

    Como causa de todo esse processo,

    a ideia de democratizao remonta

    necessidade de reformas das estruturasde poder da universidade. A impossibi-

    lidade de elegermos diretamente nosso

    Reitor, bem como a subrepresentao

    de alunos e funcionrios nos rgos co-

    legiados da USP e da Faculdade de Di-

    reito, evidenciam uma poltica interna

    ainda estruturada sobre resqucios de

    perodos de autoritarismo e fechamen-

    to poltico. Em decorrencia disso, hoje,

    portas fechadas, a prtica poltica dosrgos colegiados permanece inques-

    tionada, imune a quaisquer avanos j

    conquistados nos espaos estudantis.

    Nesse sentido, a hipervalorizao dos

    professores - sobretudo titulares - em

    detrimento dos outros dois setores

    materializa-se na forma de um ntido

    recorte de classe, raa e gnero nos es-

    paos deliberativos, que barra partici-

    pao e, consequentemente, avanos.

    Se no podemos participar ativamente

    das decises tomadas pela universi-

    dade desde as polticas gerais, at a

    gesto financeira e os projetos con-

    sequentemente somos impedidas de,

    institucionalmente, disputar a funo

    da universidade.

    Enfim, apesar de enxergarmos a

    universidade tal como est posta hoje

    como espao extremamente elitizado,branco e masculinizado, que opera so-

    bretudo sob a lgica da manuteno

    de privilgios, consideramos que ela

    tambm est em disputa. Assim, reco-

    nhecemos que papel do movimen-

    to estudantil e do Centro Acadmico

    lutar ao lado dos movimentos sociais

    por uma universidade pblica (aut-

    noma, socialmente referenciada e de

    todas), democrtica (tanto nas polticas

    de acesso e permanncia quanto nas

    estruturas de poder) e popular (pelos

    sujeitos que a ocupam, os saberes que

    reconhece e o conhecimento que pro-

    duz).

    (...) uma universidade na qual possamos estudar e produzir

    conhecimento sempre em dilogo com a sociedade, levando prtica o saber acadmico e valorizando o saber popular.

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    14 A UNIVERSIDADE QUE QUEREMOS

    A Calourada e a semana do XI so dois dos grandes

    espaos de visibilidade do ano na Sanfran, j que porocorrerem no incio de cada semestre, costumam agre-

    gar um nmero maior de estudantes. Assim, mais que

    meras atividades da gesto visando apenas sua au-

    toconstruo, esses dois grandes eventos devem ser

    construes da gesto em conjunto com os grupos or-

    ganizados da faculdade, em torno de pautas centrais

    do movimento estudantil e da conjuntura nacional.

    No se trata apenas de ceder pequenos espaos a algu-

    mas entidades de maneira pontual conforme o arbtrio

    da gesto, mas sim abrir espaos nas reunies abertas

    para as quais todas sejam convidadas a participar, de

    forma que tanto a Calourada quanto a Semana do XI

    sejam construes coletivas, com diversos eventos e

    intervenes de grupos organizados. Dessa forma

    possvel pensar os espaos de maneira mais racional,

    sem saturar as semanas de eventos esvaziados, j que

    com uma construo massificada, a divulgao e a pre-

    sena das estudantes tambm tende a ser bem maior

    e o planejamento, mais razovel e cuidadoso. Assim,

    privilegia-se a visibilidade e o avano das pautas popu-

    lares dentro da universidade e no do grupo da gesto.

    Semana do Estgio eSemana da Universidade

    A Semana do Estgio tradicionalmente se

    coloca como um momento em que as di-

    versas possibilidades de carreiras a serem

    seguidas pelos profissionais do Direito so

    apresentadas as universitrias. Porm, am-

    pliando a viso de Universidade Pblica,

    faz-se necessria a criao de espaos que

    tambm contemplem os debates que re-

    montam permanncia, extenso e pesqui-

    sa, que so costumeiramente esquecidos e

    deixados em segundo plano. Sendo assim,

    pensamos que necessrio realizar a Sema-

    na do Estgio, at porque, frequentemen-te, as bolsas oferecidas pela Universidade

    no so suficientes para que o estudante

    se sustente em So Paulo, mas suas ativida-

    des no podem estar dissociadas de uma

    discusso mais ampla sobre o papel que a

    Universidade Pblica deve cumprir. Alm

    disso, propomos que a prpria construo

    da Semana seja mais aberta Faculdade,

    considerando ainda que a Sanfran Jr. tem se

    mostrado aberta a isto.

    Calourada e Semana do XI

    Espao da antiga Saraiva

    O Frum de Extenso (FodEx) elaborou um projeto de utilizao da sala atualmente desocupada, em vistas ao

    dficit de espao fsico dos grupos de extensao. O Canto Geral compromete-se com o apoio e a defesa desse

    projeto, entendendo que a atividade extensionista, central para fazer avanar o nosso projeto de universidadepblica, democrtica e popular. Atualmente, no h um verdadeiro apoio institucional da universidade, bem

    como evidente a necessidade de reconhecimento concreto do Centro Acadmico.

    Oquequerem

    os? A Universidade que queremos carece de medidas urgentes e efetivas.

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

    15/34

    CONGRESSOS ACADMICOS 15

    Novo CPC

    Aps um longo perodo de tramitao e s vsperas de sua votao no Senado, muito importante que ns, estudan-

    tes de direito, faamos uma discusso profunda sobre novo Cdigo de Processo Civil onde poderemos colocar em

    pauta a questo da assimilao de valores democrticos prtica jurdica. Por exemplo, o novo CPC possui um dispo-

    sitivo que permite ao juiz converter uma ao individual em coletiva, o que contribuiria no apenas com a celeridade

    processual mas tambm com o acesso justia; ele traz tambm a valorizao dos MARCS (mtodos adequados de

    resoluo de conflitos) como a mediao e a conciliao, que prestigiam a autonomia das partes. essencial entenderesses dispositivos e tambm a correlao de foras polticas envolvidas na formulao, tramitao e possvel aprovao

    do novo cdigo, uma vez que auxiliam na formulao de uma possvel instrumentalizao do direito para a consolida-

    o dos avanos democrticos.

    Consideramos que os congressos acadmicos cumprem papel fundamental s estudantes ao trazer discusses atuais

    do direito geralmente no abordadas no curso de graduao na faculdade. Acreditamos que tais eventos devem ser

    construdos de maneira democrtica, privilegiando acesso gratuito e envolvendo o corpo estudantil. Entendemos queo direito um campo em disputa, e esta no deve se restringir apenas ao espao de eventos que, pelo seu prprio

    modelo, acaba tendo uma abordagem um pouco mais superficial.

    CONGRESSOS ACADMICOS

    Direito e Gnero

    A forma como o gnero estrutura o

    discurso jurdico ainda extrema-

    mente marginalizado no ambiente

    acadmico brasileiro. Raramente

    h nas faculdades de direito linhas

    de pesquisa dedicadas a pensar a

    mulher e as LGBTs.

    Direito Cidade

    essencial a discusso da reforma urbana pelos estudantes da Faculdade uma vez que luta histrica dos movi-

    mentos sociais. Essa disputa pelo direito cidade concebida de forma abrangente, envolvendo no s a busca

    pela garantia de direitos bsicos (como transporte, mobilidade, lazer e cultura) como tambm a luta por uma gesto

    democrtica e participativa da cidade e a luta pela funo social da cidade e da propriedade, bem como a discusso

    acerca da prevalncia do direito coletivo ao individual. preciso explicitar tambm o fato de que as desigualdades da

    cidade no so construdas apenas por questes de classe, mas tambm por questes de gnero. Assim, a cidade

    vivenciada de forma desigual por mulheres e homens. , portanto, muito importante que a universidade participe da

    discusso da reforma urbana, que perpassa por muitas questes sensveis construo de uma cidade democrtica.

    Justia Restaurativa

    O tema da justia restaurativa, muito negligenciado nas

    faculdades de direito brasileiras, pode cumprir um papel

    importante na construo de conhecimento crtico acerca

    da forma como se d a normatizao e normalizao em

    nossa sociedade. Abrir um espao de discusso que pro-blematiza to profundamente o significado de justia e as

    formas como se estrutura, principalmente, o Direito Penal

    - um dos maiores instrumentos de reproduo e acirra-

    mento de desigualdades sociais - muito importante para

    uma formao pautada na realidade e no compromisso

    com a construo de uma sociedade mais justa. Alm

    disso, trazer a discusso acerca de prticas comunitrias

    essencialmente populares de justia fundamental para a

    crtica do direito posto e para a democratizao do conhe-

    cimento produzido na faculdade.

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

    16/34

    No ano em que se completa o cin-

    quentenrio do Golpe Militar de 1964,

    o qual instaurou uma sangrenta dita-

    dura de 21 anos no pas, indispens-

    vel relembrar o passado. Enquanto a

    sociedade brasileira no encarar as vio-

    laes daquela poca, no conseguir

    avanar em suas pautas - na busca por

    memria, verdade e justia - e se con-

    solidar como uma democracia de fato.

    essencial entender as origens do

    aparelho ideolgico-repressor forjado

    na Ditadura para poder combat-lo na

    atualidade, at porque seus resqucios

    ainda hoje so claros: desde a vertica-

    lizao e o autoritarismo dos rgos

    pblicos, incluindo a Faculdade e a Uni-

    versidade, at a militarizao da polcia,

    que responsvel pelo verdadeiro ge-

    nocdio cometido contra a populao

    negra das periferias.

    Tambm este ano, no dia 16 de de-

    zembro, ser entregue o relatrio fi-

    nal da Comisso Nacional da Verdade

    (CNV). Haver inmeros relatos, docu-

    mentos e outros fatos que buscam re-

    velar, mesmo que parcialmente, o que

    realmente aconteceu no perodo do

    regime militar, incluindo perseguies,torturas, mortes e desaparecimentos,

    os quais geram sofrimento a inmeras

    famlias brasileiras at hoje e que per-

    mitiram consolidar uma desigualdade

    social profunda. No entanto, impor-

    tante ressaltar que o trmino da CNV

    no marca o fim da luta por memria,

    verdade e justia. Muito pelo contrrio,

    apenas o primeiro passo para a real

    concretizao desse processo de tran-

    sio.

    A Faculdade de Direito do Largo So

    Francisco, infelizmente, no conseguiu

    investigar seu passado e contribuir

    para o relatrio da CNV. Apesar de te-

    rem conquistado a instaurao de uma

    comisso da verdade paritria entre

    os trs setores da comunidade acad-

    mica, as estudantes no puderam ter

    acesso ao passado de sua Faculdade, jque nossa comisso foi destituda sem

    ao menos comear os trabalhos de pes-

    quisa, por causa da renncia dos trs

    professores. No entanto, no podemos

    esquecer que a Faculdade foi palco de

    dura represso a estudantes e profes-

    sores que fizeram parte da resistncia

    Ditadura, tendo sido, por outro lado,

    tambm responsvel por forjar, em

    grande parte, o aparato jurdico quesustentava o regime, inclusive forman-

    do alguns de seus mais importantes

    quadros, como Gama e Silva e Buzaid.

    Em 2015, completam-se 30 anos

    do incio da redemocratizao no Bra-

    sil, processo que ainda no se deu deforma plena. o momento oportuno

    para que retomemos as discusses

    sobre o que resta da Ditadura no pas,

    ampliando os debates acerca da jus-

    tia de transio e ressaltando falhas

    e incompletudes. No contexto da Uni-

    versidade, por exemplo, fundamental

    no perder de vista os impactos que a

    reforma universitria de 1968 gera at

    hoje no ensino jurdico e na capaci-dade de mobilizao dos estudantes.

    A departamentalizao e a comparti-

    mentalizao das disciplinas, fruto da

    reforma, tem um claro prejuzo peda-

    ggico ao ensino do Direito, bem como

    a separao entre a Representao Dis-

    cente e o Centro Acadmico, tambm

    decorrente da reforma, dificulta bas-

    tante a mobilizao dos estudantes em

    unidade.

    Numa Faculdade em que professo-

    res at hoje comemoram o aniversrio

    do Golpe - a que chamam de Revolu-

    o de 64 - e produzem documentos

    exaltando a Ditadura, mostra-se mais

    do que necessrio reavivar esse pas-

    sado nefasto para que, em coletivo,

    possamos lutar pela superao de

    seus resqucios e pela efetivao do

    processo de redemocratizao noBrasil.

    16 MEMRIA, VERDADE E JUSTIA

    QUE NUNCA SE ESQUEAPARA QUE NUNCA MAIS ACONTEA

    Por Memria, Verdade e Justiana Universidade

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

    17/34

    PERMANNCIA ESTUDANTIL 17

    A So Francisco foi criada muito an-tes do conceito de universidade ou de

    campus universitrio ser implementa-

    do no Brasil. Construda a partir de uma

    lgica de privilgios aos filhos da elite

    paulistana, a Faculdade de Direito nun-

    ca se ateve ao acesso democrtico e

    permanncia estudantil. H algumas

    dcadas, o Movimento Estudantil age

    no sentido de reverter a estrutura eli-

    tizada e excludente da faculdade, a fimde construir uma universidade verda-

    deiramente pblica, popular e demo-

    crtica.

    Uma universidade realmente p-

    blica no se limita gratuidade. Nesse

    sentido, nosso movimento estudantil

    tem lutado pela implementao de co-

    tas raciais e sociais como forma de po-

    pularizao do ingresso Universidade,

    sendo que at mesmo a nossa to con-servadora Congregao j se manifes-

    tou oficialmente a favor dessa medida.

    Entretanto, tranpassando a discusso

    sobre cotas, a Faculdade no basta ser

    gratuita para garantir que as camadas

    mais populares que superaram o desa-

    fio meritocrtico e elitista do vestibular

    se mantenham na academia. eviden-

    te, pelo simples convvio universitrio

    e por estudos cientficos, que os custospara se manter enquanto estudante

    vo alm da mensalidade: so diversos

    livros e materiais de estudo, transporte,

    alimentao, moradia, dentre outros

    gastos.

    Destaca-se o fato de que no possui

    nenhuma moradia estudantil da USP,

    nos moldes do CRUSP, no Centro de

    So Paulo, muito embora existam pr-

    dios desocupados da prpria Universi-

    dade ao lado da Faculdade de Direito,

    a exemplo do da Benjamin Constant.

    Diante dessa carncia institucional

    que advm da reitoria, o nico refgio

    s que carecem de moradia a Casa

    do Estudante que, por ser financiada

    pelo C.A, carece de muitos recursos

    para que possa se expandir e abrigar

    todas aquelas que necessitam de aux-

    lio moradia.

    Embora a administrao da Casa

    seja autogerida pelos seus moradores,

    sua captao de recursos est sujeita

    ao XI. Entretanto, faz muito tempo que

    uma gesto no v a Casa como priori-

    dade: em 2013, por exemplo, a gesto

    Resgate simplesmente deixou de fazer

    os repasses financeiros para a Casa, o

    que paralisou as obras de readequa-

    o de sua estrutura. Esse ano, a gesto

    Contraponto no foi capaz de pagar d-

    vida estabelecida anteriormente, dan-do outras prioridades polticas aos seus

    recursos e, alm disso, no cumpriu sua

    promessa de campanha de regularizar

    a situao trabalhista do funcionrio da

    casa que permanece sem ser celetiza-

    do.

    Somente aps a iniciativa da direto-

    ria da Casa, foi proposto um termo de

    compromisso aos coletivos organiza-

    dos que se comprometeriam a quitar

    a dvida at o meio de 2015. O Canto

    Geral prontamente assinou o termo,

    pois temos como norte a construo

    de um projeto popular de universida-

    de e, na faculdade de Direito da USP,

    isso significa dar prioridade poltica e

    financeira Casa das Estudantes, bem

    como lutar por seu reconhecimento e

    importncia entre as e os estudantes

    da faculdade.

    A questo da permanncia estudan-

    til, quando pensada sob a perspectiva

    do trip universitrio, se torna ainda

    mais urgente, pois sabemos que uma

    formao de qualidade no pode se

    resumir sala de aula. A participao

    em projetos de extenso, grupos de es-

    tudo e pesquisa, atividades esportivas

    algo que requer tempo e dedicao.

    Se a faculdade no garante mecanis-

    mos para a permanncia estudantil,

    de se esperar que muitas estudantes se

    encaminhem, por necessidade finan-

    ceira, rapidamente a estgios e outros

    trabalhos, que impedem um convvio

    estudantil ou uma formao acadmica

    adequada, ou ainda, mais gravemen-

    te, acabem abandonando os estudos

    universitrios. Por isso, nos colocamos

    a favor de um poltica ampla de per-

    manncia, que passa pela expanso e

    aumento das bolsas de permanncia,

    pelas cotas de xerox, o fornecimento

    de livros e ampliao da moradia es-

    tudantil.

    PermannciaEstudantil

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

    18/34

    18 BIBLIOTECA E CAMPUS URBANO

    Em seu perodo de campanha, o atual reitor Zago

    comprometeu-se na Congregao da So Francisco a

    custear a nossa biblioteca, elemento fundamental para

    garantir a permanncia estudantil e a qualidade da pes-

    quisa produzida na faculdade. Colocando o debate da

    Biblioteca sobre a tica da permanncia, preciso ques-

    tionar as iniciativas privadas sobre esse projeto, umas vez

    que alternativas de financiamento publico da prpria

    Universidade tambm foram levantadas. Pressionar a rei-

    toria para que se cumpra com o quanto foi prometido,

    podendo ainda inserir a Nova Biblioteca no projeto do

    Campus Urbano faz com que no pensemos a biblioteca

    de maneira isolada, mas sim como parte de uma totalida-

    de em um projeto a ser custeado com recursos pblicos

    que consista em uma conjugao de planejamento do

    uso espao fsico, implementao de polticas de perma-nncia estudantil e que vise ampliao da atividade de

    produo de conhecimento na faculdade.

    A atual gesto da reitoria da USP tem como projeto

    para a Faculdade de Direito a construo de um cam-pus urbano no centro de So Paulo. Em 2013, a direto-

    ria da FD instituiu uma comisso com representantes

    dos trs setores para a elaborao de um Plano Diretor

    a ser enviado para a reitoria, que alocaria recursos p-

    blicos para a sua implementao. O projeto permite

    faculdade repensar seu espao fsico como um todo: a

    distribuio e priorizao das atividades e demandas

    da comunidade acadmica. Assim, primeiramente, es-

    sencial que o Centro Acadmico d centralidade a essa

    pauta, massifique a discusso entre o corpo estudantil e

    que se coloque na disputa por um modelo popular de

    Campus Urbano.

    So duas questes principais que se colocam: a pri-

    meira diz respeito a como a instalao de um campus

    urbano contribuiria para a construo de uma Univer-

    sidade mais popular, por meio do investimento em per-

    manncia estudantil custeado com verba pblica; j a

    segunda se trata de como esse projeto afetaria o desen-

    volvimento social e urbano da regio central da cidade.

    preciso, pois, pautar a construo de mais prdios

    para a moradia estudantil com verbas pblicas e nasproximidades do Prdio Histrico da Faculdade de Di-

    reito, alm de uma possvel ampliao do bandejo ou

    atendimento outras necessidades da permanncia,

    como a reestruturao da nossa biblioteca.

    Precisamos tambm pensar no impacto do projeto

    nos arredores da Faculdade. O centro de So Paulo

    uma regio-alvo de interesses antagnicos: pela boa in-

    fra-estrutura urbana e oferta de equipamentos pblicos

    e privados que atendem a maioria das demandas da po-pulao, uma regio de alto interesse para a instalao

    e massificao de habitao popular, mas tambm de

    alto interesse do mercado imobilirio, que busca expul-

    sar a populao pobre para poder revalorizar a regio e

    maximizar seus lucros. Nesse sentido, devemos buscar

    pautar um projeto que rompa com a lgica especulativa

    e higienista do mercado e que dialogue com a popula-

    o que vive no Centro, atendendo s suas necessida-

    des.

    CAMPUS URBANO

    BIBLIOTECA

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

    19/34

    CULTURA E ESPAOS DE VIVNCIA 19

    CULTURA E ESPAOS DE VIVNCIA

    A cultura e a arte so um fato na vida de todas as fran-

    ciscanas, e transpassam a vida universitria seja nos raros

    momentos de apresentaes diversas no prdio histrico,

    na publicao de materiais pela Alz, em intervenes do Te-

    atro, nas pinturas leo que ornam todos os cantos; e at

    nas festas semanais no poro, com apresentao de bandas

    e djs. Como instrumento potencializador de sensibilizao,

    fruio, e de formao crtica, as manifestaes culturais e

    artsticas so essenciais dentre as atividades de um XI que

    queremos. Atravs da prtica artstica, e do envolvimento

    e produo, possvel repensar o status quo, ter espaos

    necessrios de lazer e, ainda, a expresso via cultura e arte

    um poderoso instrumento de empoderamento humano,

    e por isso o Canto Geral pretende fomentar mais espect-a-

    toras que espectadoras de bandas de homens brancos e cis

    - como tem sido, por uma sria de questes histricas e de

    gnero.

    Ocupar a cultura de uma forma que descontrua as

    opresses ocupar um espao que tem sido dominado

    por homens, cisgenros, brancos, e heterossexuais, e que

    sempre buscou deslegitimar outras construes. Ocupar a

    cultura, no nosso projeto, construir uma experiencia sines-

    tsica que combata o machismo, a LGBTfobia, o racismo e o

    classismo, junto com todas que queiram faz-lo, e com os

    grupos que j o fazem. Alm disso, queremos que as estu-

    dantes ocupem fisicamente o espao da Universidade, de

    uma forma que combata o projeto privativista imposto, le-

    gitimando-a como espao pblico que ela , que permita e

    estimule que toda a sociedade usufrua dela.

    Repensar espaos de convivncia e de socializao

    tambm ampliar as formas com que disputamos consci-

    ncias. Na busca pela democratizao da universidade e

    pela massificao das pautas que o Canto gostaria de tra-

    zer para a So Francisco, temas como o poro e as festas

    so importantes canais de dilogo e construo coletiva

    com a comunidade discente.

    O PoroUm dos espaos mais queridos da

    rotina franciscana precisa ser pensa-

    do com responsabilidade pela gesto

    do Centro Acadmico. Em 2014, di-

    versos debates relativos ao poro fo-

    ram suscitados, porm h uma ques-

    to central que, muitas vezes, posta

    de lado: O que queremos do poro?

    Para o Canto Geral, discutir o poro

    discutir tambm qual a posio da Fa-

    culdade na sua relao com o centro

    de So Paulo. Precisamos repensar os

    pressupostos estabelecidos para esse

    espao e transform-los a partir da

    nossa intencionalidade poltica.

    O poro um dos poucos, seno o

    nico, espaos da regio da So Fran-

    cisco que pode cumprir uma funode convivncia entre as diversas pes-

    soas que vivem e circularam pelo cen-

    tro. Diferente do prdio histrico ou

    dos outros imovis da faculdade, que

    limitam a entrada de transeuntes, ou

    seja, de quem no faz parte da restrita

    comunidade acadmica da So Fran-

    cisco, o poro se consolida, ao longo

    dos anos, como uma exceo a essa

    lgica. Ao longo do dia, circulam pelo

    poro trabalhadoras/es do centro,

    moradoras/es da proximidade e pes-

    soas em situao de rua, que aprovei-

    tam o espao do poro como um dos

    raros espaos do centro em que se

    pode conviver sem obrigatoriamente

    consumir. Deste modo, um singular

    espao em que a comunidade francis-

    cana se abre para o centro.

    Entretanto, o poro tambm um

    espao de constante disputa. No

    podemos esquecer que temos uma

    empresa funcionando ali dentro eas implicaes disso na estrutura do

    espao. As reformas que aparecem

    de um dia pro outro, o alto preo dos

    produtos ali vendidos e as polticas

    higienistas, que cada vez se mostram

    mais presentes, demonstram que h

    uma constante presso para que se

    consolide um modelo segregador de

    socializao. Transformar o poro em

    mais uma dentre as tantas lancho-

    netes do centro, seletivizando quais

    normas valem ou no ali dentro, no

    combater privilgio algum. Pelocontrrio, eliminar mais um pouco

    o carter (j no to) pblico e demo-

    crtico da So Francisco.

    O Canto Geral reafirma seu posi-

    cionamento como coletivo que luta

    para que os espaos da faculdade

    se pintem de povo. E isso passa pela

    democratizao do acesso e da es-

    trutura de poder, pela conquista de

    uma universidade extensionista, e

    tambm por uma abertura em rela-

    o ao centro da cidade e suas con-

    tradies.

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    FEMINISMO 21

    O papel do feminismo na luta poruma universidade democrtica

    Vamo l mulherada pra rua, quero ver essa saia rodar.

    Entoando um canto de luta, se movendo pro mundo mudar.

    Hoje possvel observar uma crescente presena do debate sobre

    o feminismonos espaos pblicos e polticos. So vrios os exemplos

    de momentos em que a pauta conquistou ateno e ganhou voz, ain-

    da que de maneira limitada e por vezes problemtica, no decorrer do

    ano: a proibio da revista vexatria, a presena de trs candidatas

    Presidncia, a repercusso da campanha #eunomereoserestuprada,

    o debate sobre a implantao do vago exclusivo para mulheres no

    metr, entre outros. Dessa forma, a pauta feminista se fez presente nas

    ruas, nos debates legislativos, nas discusses acadmicas, nos grandes

    meios de comunicao, demonstrando a importncia que tem ganha-

    do na atual conjuntura nacional.

    Na Faculdade, tambm podemos observar o avano dessa pauta.

    Atravs da luta do Coletivo Feminista Dandara e de tantas outras mu-

    lheres, vrias das prticas machistas antes naturalizadas nas arcadas,

    agora, ao menos, so questionadas. Pela primeira vez o trote da matr-

    cula dos e das calouras no contou com msicas cujas letras degradas-

    sem a imagem da mulher, sendo suprimidas tambm nos Jogos Jur-

    dicos Estaduais. Assim, aos poucos, o feminismo se fortalece a medida

    que mais mulheres se empoderam e unem suas vozes. Hoje, vemos asmulheres dos vrios grupos de extenso em que militam ao lado de

    homens se esforando para construir dentro do grupo espaos auto

    organizados feministas, alm de vrias alunas no tolerando assdio

    em festas ou comentrios machistas em salas de aula.

    Entretanto, alcanar tais avanos s nos faz pensar o quanto ain-

    da temos que lutar para que seja dada a devida centralidade a esta

    pauta. O que reivindicamos vai muito alm de discutir o feminismo

    de forma secundria e eventual, pois o movimento que acreditamos

    ser alcanado com luta diria protagonizada pelas mulheres unidas

    Mulher, tua mente farta

    de brilho, de fora e futuro

    Mulher, o caminho escuromas com as irms, a enfrent-lo,

    unidas, faam dele halo

    Gigantes, conquistem-lhe o sonho!

    E o que vem ento medonho

    s para o machismo pois .

    Mulher, prossiga de p!

    Danando, se assim desejar

    Cantando, se forte o bradar

    ou se leve o canto te acolher;

    Coa fora da quietude, se escolher,

    mas siga, forte e certa

    ao alto, frente!

    Mulher, e que no seja diferente

    pra cada irm que o mundo receber

    a fora que nos une essa a fonte

    de que a Revoluo deve beber!

    Mulher, e ento que seja novo

    o mundo a cada irm que a vida trouxer

    que se revolucione esse sentido

    que o mundo ento nos d - de ser mulher!

    Avante, ento, Mulher, que o mundo seu!

    Deste grito revolucionrio o cunho.

    Seja de todas as Rosas forte o punho

    e a voz do Manifesto Gineceu!

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    22 FEMINISMO

    visando alcanar a desconstruo do

    machismo.

    Por entendermos que esta

    opresso estrutural em nossa socie-

    dade patriarcal, racista e capitalista,

    ns reivindicamos um feminismo

    de raa, de classe e anti-capitalis-

    ta, e que, portanto, preza pela unio

    de todas as mulheres na construo

    da sororidadecomo nica forma de

    organizao que possa nos trazer li-

    berdade. Colocando tudo isso para

    dentro da nossa faculdade, inserida

    nessa sociedade e que reflete todos

    seus problemas, nos preocupamos

    em agir de forma transformadora.

    No Movimento Estudantil, o cen-

    rio deve ser o de acompanhar esses

    avanos. A invisibilizao das mulhe-

    res que fazem poltica acadmica

    reflexo de todas opresses que so

    colocadas sobre elas quando se co-

    locam no espao pblico. Isso torna

    mais difcil a sua luta para entrar e,

    mais difcil ainda, para continuar nosespaos de disputa poltica onde

    sistematicamente deslegitimada por

    expectativas machistas do que deve

    ser a forma como ela fala, o tipo de

    tarefa que deve cumprir e o modo

    como ela o faz.

    O que devemos entender aqui

    que os homens e as mulheres no

    partem do mesmo patamar quan-

    do falamos da ocupao do espao

    publico. Para comear, a mulher no

    foi educada para ocup-lo, mas o ho-

    mem sim. Desde crianas os homens

    so encorajados a falar altivamente, a

    desprezar o espao privado e assim

    se direcionar ao espao pblico ondeeles se vem representados nos car-

    gos de poder. O mesmo no ocorre

    com as mulheres, que so educadas

    para valorizar o espao privado em

    detrimento do pblico (em maior ou

    menor grau, dependendo de sua raa

    e classe, principalmente).

    Outro ponto que uma vez no

    espao pblico as mulheres esto

    expostas de uma maneira muito maisagressiva que os homens, pois foi

    construda na sociedade uma cultu-

    ra de objetificao da mulher. Logo,

    quando ela se coloca vista ela es-

    pera, internamente, ter sua imagem

    analisada, julgada e comparada a

    outras mulheres, reduzindo a credibi-

    lidade do que diz em detrimento de

    sua aparncia ou pelo simples fato de

    ser mulher. Disso pode resultar inse-gurana e dificuldade de posiciona-

    mento explcito.

    Justamente por isso, entende-

    mos que o melhor instrumento de

    fora para o movimento feminista

    que acreditamos a construo da

    sororidade para que as mulheres

    possam juntas ocupar o espao p-

    blico de forma definitiva, sem mais

    a barreira da competio, imposta a

    ns, mulheres, de maneira cruel du-

    rante toda a vida.

    Por isso, entendemos que s atra-

    vs da mudana desse espao pol-

    tico que conseguiremos que mais

    mulheres se sintam empoderadas e

    confortveis o suficiente para ocup-

    -lo. Acreditamos que a proposta de

    um movimento horizontal estrutu-

    rado em uma chapa colegiada a

    resposta feminista para mudanas

    estruturais no movimento estudan-

    til! Afinal, um dos objetivos da chapa

    colegiada possibilitar a construo

    da solidariedade entre as mulheres

    dentro e fora da poltica acadmica.

    A ideia acabar com a lgica com-

    petitiva de conquista de cargos esta-

    tutrios (presidncia, diretoria geral,

    tesouraria, etc). Assim, no haveria

    simplesmente uma representao da

    mulher em cargos de poder: todas as

    mulheres teriam o poder para tomar

    as decises polticas do coletivo. Sa-

    bemos o quanto o reconhecimento

    das mulheres na politica importan-

    te e um passo necessrio, mas no

    bastam ganhos formais nessa luta.

    Assim, acreditamos em um grupo

    que tenha seu espao aberto para

    que todos os sujeitos polticos pos-

    sam colocar suas vozes e demandas:

    mulheres, negras e negros, LGBTs. a

    unica forma das pautas desses su-

    jeitos serem de fato incorporadas

    nas lutas cotidianas do coletivo.

  • 8/10/2019 CARTA-PROGRAMA Canto Geral 2015

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    FEMINISMO 23

    Alm do fortalecimento do

    feminismo nos grupos j orga-

    nizados, muito importante tra-

    zer o debate do feminismo para

    toda a comunidade acadmica,buscando de fato avanar nessa

    pauta que, felizmente, desper-

    tou tanto interesse.

    Espaos como congressos,

    eventos e seminrios, so espa-

    os essencialmente formativos

    onde quem nunca teve contato

    com a pauta poder inici-lo e

    quem j tem poder aprofund-

    -lo. A ideia fazer alguns ciclos

    de formao sobre temas femi-

    nistas especficos como aborto,

    violncia obsttrica, sexualidade

    e etc. que permitam que consi-

    gamos abordar um assunto des-

    de a sua superfcie at pontos de

    anlise mais profundos, fortale-

    cendo nossos posicionamentos

    polticos enquanto mulheres

    feministas e contribuindo paraque coloquemos os acmulos ali

    construdos no nosso dia-a-dia.

    O Canto Geral acredita que, apesar de sermos unidas por sermos todas mulheres,

    importante lembrar que outras opresses como o racismo, o classismo e a LGBTfobia fa-

    zem com que cada mulher tenha uma forma de socializao e um papel diferente na luta

    feminista, o que chamado de feminismo interseccional. Essa ser a linha poltica que pre-tendemos construir, porque ns acreditamos que apenas considerando todos os tipos de

    opresso que as mulheres sofrem, possvel construir um feminismo realmente libertador.

    por isso que o feminismo reivindicado aqui tem cor e classe. Reconhecemos, ainda,

    nossas limitaes como estudantes de uma universidade extremamente elitizada e racista,

    e, que, portanto, no pode se descolar da realidade em que est inserida, para que no se

    aliene e se torne uma bolha ainda mais fechada na sociedade. Por isso, o Canto se compro-

    mete a manter sempre sua linha e suas construes em consonncia com os movimentos

    organizados que historicamente pautam os debates que nos propomos a trazer, para que

    a luta avance de maneira honesta, massificada e junto com os setores populares.

    FEMINISMO COM QUEM?

    Ns, do Canto Geral, acreditamos que para avanar nessas pautas

    necessrio que massifiquemos a pauta da construo de espaos autoor-

    ganizados para que cada vez mais sujeitos polticos possam se fortalecer

    nos grupos que constroem na faculdade.

    muito importante que haja espaos auto organizados porque atra-

    vs da identificao entre as mulheres que sofrem a opresso do machis-

    mo que se constri a solidariedade e o empoderamento para tensionar aslinhas do grupo num sentido a valorizar e fortalecer ao feminismo como

    uma forma de militar e no uma pauta descolada da atuao.

    Na prtica, a gesto que prioriza a autoorganizao das atrizes polti-

    cas centrais como meio para a superao concreta das opresses avana

    esquerda. No h, ainda mais em um pas como o Brasil, por mais limi-

    tado que seja o espectro social da So Francisco, ganhos populares que

    no sejam protagonizados pelos setores mais afetados. Sejam mulheres,

    LGBTs, as poucas negras e negros, ou as alunas de menor renda e mais

    dependentes de permanncia. O protagonismo para a construo de um

    movimento estudantil verdadeiramente combativo garante as conquistasreais.

    AUTO ORGANIZAOCONGRESSOS, EVENTOS E

    SEMINRIOS

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    24 LGBT

    NOSSO CANTO TAMBM PELA DIVERSIDADE!

    Rompi tratados, tra os ritos

    Quebrei a lana, lancei no espao

    Um grito, um desabafo

    E o que me importa no estar vencida

    A luta contra a LGBTfobia demanda centralidade den-

    tro do ambiente universitrio. Para que isso seja possvel,

    importante entender que a opresso sofrida pelas lsbicas,gays, bissexuais, travestis e transexuais expresso origina-

    da do patriarcado, mais especificamente, do hetero-patriar-

    cado, e seu consequente machismo, que historicamente

    inferioriza e invisibiliza mulheres e LGBTs, imputando-lhes

    tanto uma sexualidade, como uma identidade gnero com-

    pulsria.

    A partir disso, notamos que nossa sociedade para alm de

    ser cis-heterossexual, cis-heteronormativa*. Isso significa

    dizer que a naturalizao da imposio da relao apenas

    entre homens cis para com mulheres cis impe o silnciono lugar de quaisquer outras manifestaes de comporta-

    mento que fujam desse padro, entendidos como desvian-

    tes e, ainda hoje, patologizados. A homossexualidade s foi

    afastada do posto de doena pela OMS em 1980; a transge-

    neridade e a travestilidade, por sua vez, ainda so considera-

    das transtornos mentais.

    Dessa forma, entendemos que a LGBTfobia estrutural:

    quando nos restringimos a individualizar tal opresso esta-

    mos negando aquilo que a sustenta. A partir da identificao

    da opresso, surge o questionamento das estruturas que a

    reforam e tais atitudes adquirem essencialidade no proces-

    so de auto-afirmao. Nesse sentido, a unio da parcela LGBT

    de extrema importncia no sentido de identificar essas es-

    truturas e unir foras para combat-las conjuntamente.

    Com isso em mente e voltando nossos olhos para a uni-

    versidade, acreditando que a gesto colegiada a nica ma-

    neira institucional de transformar nossas LGBs** em agentes

    polticos, rompendo com a lgica que a elas reservava ape-

    nas os trabalhos burocrticos, reprodutivos e invisibilizados.

    fundamental romper com o silncio e buscar caminhos

    para que todos os espaos sejam abertos e ocupados por

    essas pessoas, que diariamente lutam por empoderamen-

    to para avanar em nossa luta.

    ELEIES E DIREITOS LGBTs

    Nos ltimos anos, temos notado um gradual crescimen-

    to do debate LGBT em mbito nacional, pautado pela mdia

    e pelo governo. A unio civil homoafetiva, o kit Escola Sem

    Homofobia, a PLC122 de criminalizao da homofobia e o

    uso de nome social de travestis e transsexuais so alguns

    exemplos. No entanto, ainda que o debate tenha avana-

    do, h pouca ou nenhuma reverberao sobre as violncias

    constantes e crescentes que ns, LGBTs, sofremos cotidia-

    namente. Violncia que se manifesta desde a falta de repre-

    sentatividade na mdia at as pesquisas que indicam que

    a cada 26h uma pessoa LGBT assassinada no Brasil, fato

    que torna nosso pas campeo em crimes por motivao de

    dio e discriminao em razo de orientao sexual e/ou

    identidade de gnero.

    Diante da agravante situao de vulnerabilidade e cons-

    tante agresso sofridas pelas LGBTs mais do que necess-

    rio que o Estado aja em combate a essa opresso sistemati-

    zada. Os esforos devem ser no sentido de instruir agentes

    estatais sobre a discriminao em funo de identidade de

    gnero e/ou orientao sexual, reconhecendo a violncia

    que a ns dirigida, bem como coibindo a prpria LGB-

    Tfobia institucional, que advm do prprio aparelho esta-

    tal, pois nele est encrustada, a exemplo de diversos casos

    de agresses a transexuais e travestis em situao de rua

    por parte das foras policiais. Alm disso, faz-se necessria

    a criao de um espao eficaz e seguro para denncias de

    violncias, para que sejam tomadas as devidas medidas le-

    gais, com um posterior acolhimento psicolgico, a fim de

    que sejam minimizados os danos dessas constantes agres-

    ses.

    Respaldados pela capa protetora da liberdade de ex-presso ou religiosa, discursos de dio surgem aos mon-

    tes a todo instante, proferidos por figuras polticas que se

    julgam protetoras da famlia. As eleies desse ano me-

    recem destaque para o elevado nmero de candidatas/os

    presidenciveis fundamentalistas e LGBTfbicos, que aten-

    tam despudoradamente contra a laicidade do Estado e os

    Direitos Humanos, como o Pastor Everaldo e Levy Fidlix,

    que felizmente no atingiram juntos a margem de votao

    da candidata Luciana Genro que emcampou corajosa e de-

    claradamente um discurso de defesa s lgbts. Levy Fidlix,

    inclusive, em ocasio de um dos debates para a presidncia

    exibidos em rede nacional, adotou postura declaradamen-

    te LGBTfbica ao ser indagado acerca da violncia sofrida

    pela comunidade LGBT, afirmando que precisamos de tra-

    tamento psicolgico e afetivo. O ento presidencivel, no

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    LGBT 25

    obstante, reforou as razes para a violncia existente, esti-

    mulando o fortalecimento da maioria sobre a poro mar-

    ginalizada e incitando o enfrentamento.

    Por fim, no esqueamos da candidata Marina Silva, que,

    construindo sua candidatura s pressas em cima do j recu-

    ado programa de governo de Eduardo Campos, veio a pbli-

    co com outro ainda mais obscuro e particularmente confuso

    no que tange causa LGBT, retirando algumas importantes

    questes e pautas que o antigo programa previa, logo aps

    declaraes do pastor twitteiro e fundamendalista Silas Ma-

    lafaia.

    Ainda que hoje seja possvel, atravs da burocrtica e

    lenta via judicial, o reconhecimento do nome social, a vio-

    lncia da sociedade e do Estado ainda uma constante

    no tocante identidade de gnero. Em todos os ambien-

    tes, as mulheres trans, homens trans e travestis (mulheres

    e homens trans) precisam se reafirmar diante de uma so-

    ciedade que no apenas no reconhece suas identidades

    de gnero, como tambm as estigmatizam socialmente e

    exclui dos ambientes de trabalho. Diante deste cenrio,

    bvia a necessidade de apoio ao Projeto de Lei de Iden-

    tidade de Gnero, tambm conhecida como Lei Joo W.

    Nery, que garantir a todas e todos o reconhecimento de

    sua identidade de gnero, passando a ser obrigatrio por

    fora de lei o tratamento pelo nome com o qual as pesso-

    as se identificam.

    Diversas outras garantias se encontram no texto da

    lei, como o direito redesignao genital e hormoniote-

    rapia, alm de acompanhamento endocrinolgico, psico-

    lgico e psiquitrico pelo SUS sem que seja reconhecida

    enquanto patologia. necessrio que a invisibilizao

    de pessoas trans* seja combatida e, nesse sentido, a PL

    5002/2013 um passo fundamental,ainda que incipien-

    te, nesta luta.

    fundamental nos atentarmos, ainda, para a ausncia

    de mulheres declaradamente lsbicas nos espaos que

    ocupamos.

    A construo feminista a que o Canto Geral se pro-

    pe no apenas para o empoderamento das mulheres

    heterossexuais, tampouco a descontruo da LGBTfo-

    bia ser feita privilegiando os homens gays.

    Reiteradamente ocorrem casos de violncia contra aslsbicas e bissexuais da So Francisco, como os recorren-

    tes casos de assdio em festas e cervejadas, e isso no

    pode mais ser ignorado ou tratado de forma meramente

    individualizada.

    Enquanto mulheres j sofremos com a constante obje-

    tificao em tais espaos, sendo lsbicas, ento, tal violn-

    cia aumentada, de forma que nossa sexualidade sempre

    questionada (voc so no encontrou quem te comesse

    direito), diminuda (sexo entre mulheres nem sexo) e

    fetichizada (posso entrar ai no meio?). Reforamos, as-sim, que nosso compromisso vai alm de trazer debates

    formais sobre tal assunto, nossa atuao ser combativa

    no que se refere aos frequentes casos de violncia contras

    as mulheres lsbicas na faculdade.

    Fica evidente s lgbts que, diante da violncia diria que

    sofremos, inclusive nos espaos da faculdade, bem como

    nos espaos cotidianos onde estamos submetidas, h ne-cessidade de um compromisso concreto e palpvel com o

    combate lgbtfobia. Entendemos que isso no deve ser

    tolerado, mas o que s vezes nos deparamos que sem-

    pre em resposta dessa violncia os caminhos institucionais

    apontem para uma via meramente burocrtica e reativa.

    No apenas disso que precisamos! Para alm de en-

    tendermos que as lgbts no devem se limitar em serapenas reativas aos ataques sofridos, preciso que nos-

    sa pauta seja construda propositivamente, isto , com a

    insero desses sujeitos polticos pautando e formulan-

    do seus projetosa fim de se libertar da condio oprimida.

    Lei Joo W. Nery e Visibilidade Trans No s mulher, mulher e lsbica

    No s de respostas que vive o movimento

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    A delimitao de dias especficos por ano para que haja

    festas LGBT promove, ainda que de maneira implcita, a res-

    trio da nossa liberdade sexual a estas datas. A necessidade

    de demarcar uma festa como LGBT, ainda que cumpra um

    importante papel de resistncia, acaba tambm por contri-

    buir a uma lgica segregacionista que discrimina essas pes-

    soas nos demais eventos que no levantam essa bandeira.

    Dessa forma, nossa diverso no pode se limitar a dias,

    O espao reservado ao Centro Acadmico, classicamente

    utilizado pelo corpo discente apenas para armazenamento

    de pertences e utilizao de computadores, ruma a uma ob-

    solescncia originada da falta de contato poltico direto com

    as alunas e alunos, que muitas vezes demandam ateno ins-

    titucional frente a graves problemas.

    Um canal aberto de comunicao com as integrantes do

    coletivo da gesto se faz urgente para acolher reclamaes

    de franciscanas e franciscanos que sofrerem alguma forma

    de violncia advinda de machismo, LGBfobia e racismo no

    espao universitrio. O Canto Geral se dispe a criar esse es-

    pao de amparo e respaldo institucional frente a comporta-

    mentos intolerantes, que j no possuem razo para existir

    h muito tempo e, no entanto, ainda persistem.

    Uma causa de luta argumento forte suficiente para

    agregar pessoas que intentam transformar o seu entor-

    no. Nesse sentido, a militncia LGBT do XI de Agosto no

    pode se contentar em agir de maneira tmida e solitria,

    mas sim se mostrar resistente e unir foras com iniciativas

    amigas tanto de dentro da faculdade, como de fora dela,

    a exemplo da Frente LGBT da USP, dos grupos de estudos

    militantes (como o NEGSS - Ncleo de Estudos em Gne-

    ro, Sade e Sexualidad/FMUSP e o GEDS/FDUSP), alm

    de coletivos feministas e centros acadmicos de outras

    faculdades e universidades que militem paralelamente

    ao nosso lado.

    Assim como j existem datas e eventos especiais

    destinados a visibilizar as opresses de raa e gnero

    na faculdade, a comunidade LGBT necessita ganhar sua

    prpria: a semana da visibilidade LGBT. Essa emprei-

    tada, visando o posto a que se pretende, envolver di-

    versas atividades relacionadas causa, desde oficinas

    abertas e intervenes no ptio, seguindo o exemplo

    das Dandaras com o Colorindo a faculdade de negra

    at a realizao de eventos com convidadas especiais

    que proporcionem debates qualificados e agregadores.

    O Canto Geral como grupo femi-

    nista, anti-racista e anti-LGBTfbico

    se coloca na disputa por um Centro

    Acadmico com compromisso a por

    em prtica o discurso do combate s

    opresses e no que ele ac