canto geral - carta programa 2016

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Não deixo os pés no chão Não me prendo à terra Nem sonho baixo porque depois das nuvens o céu é sempre azul Caio Doria 2016

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Carta Programa - Coletivo Canto Geral - 2016

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Não deixo os pés no chão Não me prendo à terra Nem sonho baixo porque depois das nuvens o céu é sempre azul

Caio Doria

2016

02

Para que a transformação possa continuar

Cantamos por mais mudanças!

Canto geral 2016

Nós somos o Canto Geral, nome que vem do Livro de Pablo Neru-da que canta o combate às opressões em suas mais variadas for-mas. Assim, somos um coletivo de esquerda, feminista, anti-racista e anti-LGBTfóbico que luta dentro da Universidade para que ela se torne cada vez mais pública, popular e democrática. Esse ano, enquanto gestão do XI de Agosto, propusemos transfor-mar a estrutura do nosso Centro Acadêmico para que ele pudesse

desenvolver de fato seu potencial mobilizador das estudantes em torno de pautas centrais não apenas para a comunidade estudantil, mas para a sociedade como um todo, sempre em consonância com as mo-bilizações construídas dentro e fora da Faculdade, sobretudo com os movimentos sociais.

Começamos essa transformação através do próprio modelo de organização do Centro Acadêmico, sendo a primeira gestão da história do XI de Agosto a se organizar de maneira colegiada! A Colegiada busca horizontalizar os processos de decisão dentro da gestão, não se pautando através da hierarquia de cargos e garantindo que mais pessoas possam participar desses processos, uma vez que permite aos pró-prios membros uma melhor divisão de tarefas, possibilitando que além do Movimento Estudantil eles participem de atividades de extensão, pesquisa, estágio e atividades também fora da faculdade, criando um Movimento Estudantil mais popular. Além disso, através da Colegiada, há uma valorização e fortale-cimento das minorias políticas, pois combatemos o estereótipo do sujeito político tradicional (homem, branco, cis, hétero) transformando nosso espaço político para que outras sujeitas também sejam inseri-das .

Procuramos, também, aumentar a participa-

ção e envolvimento da Faculdade com o Centro

Acadêmico. Através das reuniões e comissões

abertas, abrimos os espaços de decisão do XI para

que ele não mais se restringisse às pessoas que

ocupavam a salinha e passasse a fazer parte do dia

-a-dia das alunas. Entendemos que o Centro Aca-

dêmico não deve ser um mero prestador de servi-

ços, do qual os alunos cobram sem se envolverem,

mas deve ser o propulsor da organização estudan-

til. Nesse sentido, nossos espaços abertos propuse-

ram uma forma coletiva e participativa de toda

comunidade se envolver nas questões de nossa en-

tidade. Ao longo do ano, debatemos com uma média surpreendente de 100 pessoas por reunião, temas

como o caso de racismo sofrido pelo estudante João Custódio em uma cervejada organizada pelo XI no

ano de 2014, o Saque do Fundo do XI, permanência estudantil, tesouraria do XI, modelo de festas, uso do

espaço do porão, redução da maioridade penal, dentre outros temas.

É evidente que não escapamos de um problema presente em todas as gestões do XI de Agosto e organizamos alguns espa-ços que foram esvaziados. Contudo, entendemos ser impor-tante sublinhar o fato de que isso nunca foi e nem será exclu-sividade de uma gestão específica. A média de frequentadoras nos espaços do Movimento Estuadantil é baixa devido a um problema de fundo do próprio movimento, que precisa sem-pre se repensar e reiventar para massificar suas pautas e de-bates. Dentro desse cenário de esvaziamento dos espaços, en-tretanto, nossa gestão teve sucesso em protagonizar, em con-junto com as demais estudantes, discussões massificadas no

pátio das arcadas sobre os já mencionados temas que nossas reuniões abertas de gestão abarcaram.

“Não deixo os pés no chão

Não me prendo à terra

Nem sonho baixo

porque depois das nuvens

o céu é sempre azul” Caio Doria

eleições—2014

1ª reunião aberta da gestão

Nos preocupamos, durante o ano de 2015, em dar centrali-dade para ações que se mos-trassem transformadoras e pa-ra projetos que fossem condi-zentes com a nossa busca por uma universidade mais popu-lar e consequentemente por um centro acadêmico menos burocratizado, desconstruindo sua lógica de funcionamento

empresarial. Ao longo de sua história, o XI acumulou funções e tarefas que o fazem cada vez mais ad-quirir as feições menos desejáveis para uma entidade estudantil.

Lutamos para que o XI pudesse ser menos atravancado e pudesse ser utilizado como instrumento de transformação. No entanto, entendemos que muitos avanços se mostram distantes pois são muitas as barreiras a ultrapassar.

Uma vez na gestão do XI, nos deparamos com uma série de contradições que esta entidade carre-ga, e que consequentemente entravam o processo de abertura. Assim, nos vimos em grande dificuldade de implementar nosso modelo de gestão, tendo sempre como uma barreira seu estatuto arcaico e limita-do.

Ainda há muito o que fazer para que nosso centro acadêmico atinja seu potencial mobilizador, para que ele seja utilizado na promoção de debates necessários presentes na sociedade, sempre de ma-neira engajada, tomando o lado das trabalhadoras e das sujeitas oprimidas.

Queremos avançar na abertura do XI de agosto para que seus processos e projetos se desenvol-vam de forma verdadeiramente participativa e inclusiva. Queremos escancarar toda a burocracia que envolve esta entidade e que impede que os processos de debates e lutas políticas se dêem de forma cons-tante. A burocracia não pode mais impedir que a política seja a prioridade do grupo que ocupa a gestão.

O que nós queremos para o Centro Acadêmico é que se desenvolva cada vez mais uma cultura de inclusão e participação, para que cada estudante se sinta sujeita em sua atuação; que ele seja desafogado de sua burocracia para que esteja aberto para encampar as lutas das sujeitas oprimidas; que seja central a luta constante por uma universidade mais inclusiva e popular e consequentemente menos elitizada e discriminatória; que as trabalhadoras e os trabalhadores do C.A. sejam realmente respeitadas pela facul-dade e que seu trabalho seja visibilizado; que o grupo que ocupa a salinha não seja responsável em fazer política PELAS alunas da faculdade, mas sim COM as alunas da faculdade, rompendo de forma definitiva com o modelo de prestação de serviços.

Canto geral 2016

Apuração das eleições—2014

Plenária de mulheres do canto geral

03

O que queremos para o xi de agosto?

Diretoria colegiada

O Canto Geral propõe um modelo colegiado e horizontal na gestão do XI de Agosto, pois entende que o modelo estatutário atual não contempla todas as sujeitas que pretendem e devem ocupar o Centro Aca-dêmico, promovendo uma política personalista e fechada em disputas internas.

O estatuto requer uma chapa dos coletivos que disputam o XI que contenha um presidente, duas tesoureiras, duas diretoras gerais, duas secretárias gerais e três suplentes. Esse molde apresenta diversos problemas: limitação do número de inscritos na chapa; responsabilização individual sobre questões que devem ser tratadas de modo coletivo; concentração das tarefas burocráticas, principalmente as financei-ras, invisibilização do trabalho de cuidado (historicamente cumprido por mulheres) dentro do coletivo - já que é impossível que esse trabalho se configure em um cargo; a possibilidade de utilização do Centro Acadêmico como trampolim político (se utilizar do cargo estatutário para conseguir cargos políticos fo-ra da faculdade); e o fomento da disputa pelos altos cargos dentro do grupo. Essas disputas colocam as pessoas do grupo contra elas mesmas, atrasando construções políticas, e que, ainda, é feita de modo de-sigual, pois uma mulher, uma pessoa negra e uma LGBT não partem do mesmo patamar social que a figura de um homem hétero cis e branco.

Assim, o modelo hierarquizado de tomada de decisões exige uma disputa pelo poder que não se dá de forma igualitária e simétrica para todas as envolvidas no processo. A coletivização das discussões e das decisões faz com que haja maior cuidado com as pautas, bem como maior responsabilidade, vez que algo decidido em consenso é responsabilidade de todas as envolvidas. A mudança da estrutura é, portan-to, uma mudança política, que reflete a escolha do coletivo em promover e visibilizar a participação e a tomada de decisão das sujeitas invisibilizadas na nossa sociedade.

Nessa primeira gestão colegiada do XI de Agosto, já é possível perceber avanços e entraves a esse modelo, que ainda precisa e deve ser aprimorado. Enquanto o estatuto não for alterado (pois hoje só aceita chapas hierarquizadas), tal modelo sofrerá obstáculos que afetarão o grupo na gestão, pois algu-mas tarefas burocráticas são incontornáveis e sobrecarregam membras inscritas na chapa - como exigir sempre das mesmas três pessoas idas semanais (e às vezes diárias) aos bancos do CA e, princi-palmente, responsabilização jurídica individu-alizada sobre os acontecimentos no Centro Acadêmico (que nem sempre são opção da ges-tão). No entanto, como foi observado ao longo do ano de 2015, a ausência de cargos não traz consequências negativas para a faculdade. Ao contrário, pois, a coletivização das responsabi-lidades promove um maior número de mem-bras aptas a resolver questões, tornando mais fácil a cobrança por parte das alunas e alunos interessados. Por isso, para uma futura gestão pautamos a Reforma do Estatuto do XI de Agos-to, possibilitando a inscrição de chapas colegiadas.

Problemas do modelo hierarquizado do Estatuto atual:

- limitação do nº de inscritos;

- responsabilização individual pelas decisões coletivas

- concentração de tarefas burocráticas;

- invisibilização do trabalho de cuidado, geralmente feito por mulheres;

- trampolim político;

-fomento de disputas internas por cargos.

Reforma do estatuto

Canto geral 2016

É proposta histórica do Canto Geral a reforma do estatuto. No entanto, não conseguimos massifi-car o debate e realizá-la na durante esta gestão, pois as prioridades foram deslocadas para outras inúmeras contradições materiais como processos judiciais e graves problemas financeiros. Na neces-sidade de elencar prioridades e realizar uma cons-trução sincera (não apenas superficial e formal), optamos pela mobilização para um possível saque no fundo do XI, que possibilitaria inclusive que mudanças estruturais fossem feitas em eventual re-

forma do estatuto. Uma dessas alterações é a união do Centro Acadêmico e da Representação Discente.

A atual separação foi determinada na Sanfran durante a Ditadura Militar e tem o objetivo de difi-cultar a mobilização dos Estudantes, pois retira o Centro Acadêmico dos ambientes de decisão insti-tucional da Faculdade, como se a RD assumisse um papel neutro dentro desses espaços. Acreditamos que a atuação dentro dessas instituições depende de decisões políticas da mesma forma que a atuação do Centro Acadêmico.

04

Entretanto, é importante notar que a estrutura de empresa adquirida pelo CA nos últimos anos, au-menta em muito o trabalho dentro desse espaço. As inúmeras funções e tarefas burocráticas já dificultam muito o desempenho das mobilizações atribuídas pelo próprio Centro Acadêmico, de modo que seria in-viável aumentar ainda mais a carga de trabalho burocrático realizado pela RD. Por isso, antes de se con-cretizar essa fusão é irremediável que se transforme o CA, através de um modelo de desburocratização da entidade, a fim de facilitar a mobilização políticas das estudantes e a utilização tanto do XI quanto da RD como instrumentos políticos para dentro e para fora da Faculdade e da Universidade.

comissões

O modelo de comissões em muito dialoga com o que entendemos por projetos de participação. Esse modelo é implementado tanto na realização de ta-refas e projetos internos ao grupo quanto na nossa tentativa de implementação de comissões abertas. Reconhecemos que, em uma primeira gestão aberta, o modelo apresentou obstáculos, apenas perceptí-veis quando colocados em prática.

As comissões permanentes (como a de tesou-raria e a cultural) tinham a finalidade de criar um canal de participação das atividades do dia-a-dia da gestão em relação aos respectivos assuntos. O que percebemos ao longo do ano é que, sem gerar peri-odicidade das reuniões abertas, as comissões per-manentes eram pouco atraentes, pois dificultava que alunas que não estavam na gestão construíssem todo o processo dos projetos. Entendemos, ainda, que a falta de interesse ou prioridade das pessoas em relação a reunião aberta ocorre porque por muitos anos a prática política do Centro Acadêmico não esteve referenciada no modelo aberto (mas sim no de prestação de serviços), o que criou uma cul-tura política pouco participativa. Por isso, para uma nova gestão, entendemos que as questões rotineiras do Centro Acadêmico devem ser tratadas em reuni-ões abertas de gestão, convocadas com periodicida-de (ou seja, com ocorrência quinzenal, mensal ou bimestral), para que as estudantes possam se pro-gramar para participar.

Já as comissões temporárias (de porão e peru-

ada, por exemplo) contaram com maior participa-ção, visto que as estudantes encontravam uma mai-or motivação e identidade com os projetos construí-dos. Por sua vez, os projetos pontuais podem ser abertos segundo os moldes implementados este ano para continuar agregando mais alunas durante seu processo, uma vez que entendemos que os projetos não pertencem exclusivamente à atual gestão.

Vale lembrar que o XI de Agosto deve servir como um instrumento de mobilização das estudan-tes em torno de pautas políticas e não de resolução de burocracias que, as vezes, até impedem a reali-zação de tarefas e projeção do XI enquanto entidade de relevância no movimento estudantil nacional - e, para isso, entendemos que é central mudar a cultu-ra política da faculdade e estimular sempre o maior envolvimento de todas as estudantes. A participa-ção, no entanto, não deve ser tomada como capaci-dade de voto e deliberação por maioria visto que, casos referentes a questões de minorias não serão abertos a todas e todos, mas sim serão trabalhados com mais cuidado, de acordo com a demanda dos grupos auto-organizados da faculdade.

O XI de Agosto é de todas e nos propomos a continuar trabalhando para aumentar a participa-ção nos seus processos decisórios e afazeres, repen-sando os equívocos e processos incompletos de 2015 para transformar a relação das alunas com o C.A. nos próximos anos!

Comissão CENTRO

Canto geral 2016

A Faculdade de Direito da

USP está localizada no meio do centro de São Pau-lo, região da cidade marcada por uma extrema contradição sócio-econômica. De um lado, gran-des prédios e companhias econômicas; de outro, um número alarmante de pessoas em situação de rua. Diariamente, o centro de SP expõe a violência institucional contra essa população em situação de rua e contra a população das ocupações de mora-dia, através de políticas higienistas e gentrifican-tes. Nesse sentido, nós, em visão ampliada, como estudantes de direito, e, em visão mais restrita, co-mo coletivo cujas militantes em sua maioria parti-cipam de extensões populares, devemos ter especi-al atenção ao nosso papel nessa realidade.

Diante dessa reflexão, propusemos no ano passado a criação da Comissão Centro, que visava a discussão acerca do projeto de Campus Urbano

em que acreditamos e o estabelecimento de um diálogo contínuo com a população de rua e com Movimentos Sociais. No que se refere à moradia estudantil, por exemplo, mapeamos alguns prédios desocupados que poderiam servir como residência das estudantes da Faculdade. No entanto, devido à intensa burocratização do XI de Agosto e de outras demandas que foram surgindo ao longo do ano, não conseguimos propor espaços em que a pauta fosse construída de forma aberta na Faculdade.

Continuamos entendendo, contudo, a im-portância da Comissão de Centro devido ao seu potencial de ser um espaço importante de debate e organização durante o ano, no que tange as pautas das câmeras na faculdade e da utilização do espa-ço público em festa, por exemplo. Pretendemos, assim, que ocorra no próximo ano a efetiva imple-mentação da comissão, dando mais prioridade ao projeto.

05

Sendo o XI de Agosto uma entidade em sua concepção ideal, mobilizado-ra, é extremamente importante que a comunicação seja exercida da melhor maneira possível, não só para que as associadas estejam a par do que está acontecendo no C.A., mas também para que se sintam estimuladas a participar, uma vez cientes dos acontecimentos. Sem dúvidas, a detenção da informação ao longo da história está ligada com o própria detenção do poder. Ao propomos um modelo colegiado e hori-zontal, priorizamos a disseminação do maior número de informações possível.

Nesse sentido, ao longo do ano de gestão, tentamos suprir as dificuldades que a extrema buro-

cratização do XI nos revelou, para dialogar melhor com as estudantes, disputando, também, a lógica de “C.A. empresa prestadora de serviços”. Assim, desenvolvemos no primeiro semestre os boletins e agen-das semanais. Panfletamos notas e as colocamos na internet e, no segundo semestre, criamos o “Painel da Gestão”, no quadro de avisos em frente a Sala das Estudantes, que procurava centralizar todas as in-formações que a gestão havia disponibilizado sobre os principais temas do XI. A tudo isso, é claro, soma-se a construção de reuniões abertas que ocorreram ao longo de todo o ano, além da disponibilização de suas atas para quem não pode comparecer se manter a par dos assuntos que estavam sendo massificados na faculdade.

Sobre nosso método de comunicação, admitimos, de antemão, que houve falhas, e temos ciência de que muito precisa ser revisto e melhorado. Primeiramente, a dificuldade de comunicação das associa-das para com o C.A. é agravada pela própria forma que as alunas enxergam a entidade, ou seja, como algo que as serve, e não algo na qual elas estão inseridas. Além disso, a lógica atualmente estabelecida em relação à comunicação é de que ela seja constante, imediata e via redes sociais.

As últimas gestões têm optado principalmente pela comunicação via grupo da faculdade no Fa-cebook, espaço esse que carrega consigo inúmeros complicadores. Primeirao, esse espaço exige que o movimento estudantil ocorra em um tempo irreal, ou seja, as pessoas exigem que as membras da gestão estejam em tempo integral disponíveis no Facebook para sanar suas questões, o que é inviável em um contexto de carga de faculdade, estágio e militância. Segundo, o espaço virtual cria um falso ambiente de debate pleno, em que as pessoas, por não estarem de fato frente a frente, sentem-se confortáveis para se colocarem de maneira que dificilmente se colocariam num espaço de conversa presencial, sem medir consequências e, dessa forma, reproduzindo, muitas vezes, opressões. Terceiro, esse espaço reforça a ló-gica do XI como instituição (tradicionalmente ocupada por homens cis, brancos e héteros), fazendo com que as pessoas se esqueçam que por trás do XI de Agosto existem pessoas com suas subjetividades (e ma-joritariamente mulheres e LGBTS, no caso).

Outro obstáculo a essa comunicação foi a denuncia do perfil do XI, que fez com que as militantes (em sua maioria desconfortáveis com o espaço pouco acolhedor do grupo da faculdade no facebook) passaram a ter que usar seus próprios perfis para veicular questões da gestão, o que gerou alta exposi-ção, muitas vezes com excessiva agressividade contra a pessoa, individualmente, exposta em nome de algum informe ou deliberação do Centro Acadêmico. A dificuldade da gestão em lidar especialmente com esse meio é evidente em um balanço e entendemos que a solução não é nem abandoná-lo por com-pleto, nem dar a ele centralidade.

A tentativa de encontrar esse equilibrio custou mudanças na política da gestão ao longo de todo ano, sem que tenhamos encontrado o ponto perfeito. Para um próximo ano mantemos, portanto, o diá-logo e a necessidade de buscar o melhor meio de nos relacionarmos pelo facebook. É em função desse cenário exposto acerca da comunicação virtual que, desde sempre, tentamos

inovar nas formas de diálogo, sejam estas feitas através de vídeos, músicas, intervenções visuais, calen-

dários, memes etc. Esses canais, justamente por serem novos, podem nem sempre alcançar o objetivo

pretendido ou satisfazer o interesse de todas, contudo demonstram o esforço da gestão em relação à

pauta da comunicação. Para o próximo ano de gestão, avaliamos ser necessário, além de continuar

questionando as formas de comunicação que têm sido utilizadas pelas últimas gestões, repensar alguns

dos caminhos que escolhemos nesse ano, além de refletir sobre novas alternativas, que devem, sempre e

cada vez mais, respeitar nossa linha de combate às opressões.

Para isso, continuaremos dispostos a ouvir propostas e a nos arriscarmos em busca de uma melho-

ria, já que o modo pelo qual será estabelecida essa comunicação não é algo concretizado e, a cada dia

mais, demanda maior criatividade para reinvenção.

COMUNICAÇÃO

06 Canto geral 2016

Por dentro da tesouraria

Não é novidade que a tesouraria do nosso centro acadêmico é deficitária. Contando com um nú-mero de despesas ordinárias maior do que receitas ordinárias, o XI de Agosto costuma fechar, em média, com R$ 10 mil negativos todo mês. Esse número só não se concretiza nas contas porque a gestão faz um planejamento financeiro a cada início e meio do mês para poder escolher os pagamentos prioritários, a fim de garantí-los. Nesse sentido, entendemos que as prioridades são os salários das funcionárias do XI e buscamos, ao máximo, manter em dia o repasse das entidades, sem esquecer a importância do pagamen-to de impostos, que garantem direitos trabalhistas. O repasse das entidades também representa uma ga-rantia ao salário de funcionárias que algumas dessas entidades possuem e, além disso, o fomento à ex-tensão e um papel de permanência, visto que a universidade não disponibiliza mais bolsas de extensão.

O Centro Acadêmico XI de Agosto também é o responsável por manter a Casa das Estudantes, principal moradia estudantil das estudantes da São Francisco. No entanto, a escolha de priorizar os re-passes das entidades em relação aos impostos, no primeiro semestre, acarretou um acúmulo de dívidas de encargos, inclusive trabalhistas, e por isso, no segundo semestre, priorizamos o pagamento de impos-tos (INSS, FGTS, PIS e IR), salários das funcionárias do XI e do Centro de Idiomas, repasse integral da Ca-sa e salário das funcionárias das entidades. É importante salientar que essas decisões não foram tomadas apenas gestão, tendo sido construídas em conjunto nas reuniões abertas realizadas desde o início de de-zembro, de modo que as entidades puderam participar e compreender o processo decisório, contribuin-do para uma construção coletiva das prioridades da tesouraria.

Quatro contratos de aluguel fazem parte da receita mensal do Centro Acadêmico. Dois de-

les são referentes ao Campo do XI, um de R$ 15.000,00 e outro de R$ 13.500,00. O primeiro, de R$ 15 mil, constitui o repasse da AAA e é pago diretamente à entidade. Inclusive, durante a ges-tão Canto Geral e dada a atual crise financeira do XI de Agosto, esse repasse foi dividido com as ou-tras entidades graças a construções feitas em con-junto nas reuniões abertas de tesouraria e Conse-lho de Entidades.

Um terceiro contrato é do bar do porão, que acabou nesse ano de 2015, e uma nova pro-posta vem sendo discutida e construída com a Fa-culdade ao longo do ano. O atual espaço do bar será dividido: uma parte será ocupada pela Coo-perativa de Mulheres Negras do ABC, cuja pro-posta de economia solidária propicia uma nova forma de interação com o espaço, além de trazer alimentos mais saudáveis e mais baratos; o segun-do espaço será ocupado por um terceiro, cuja concôrrencia foi aberta para que pudéssemos im-plementar um bar mais benéfico financeiramente para o Centro Acadêmico e que dialogue mais com as demandas sobre o espaço, seja através da promoção de mais festas e shows, seja pela diver-sificação das bebidas a serem comercializadas.

Desse modo, pretendemos aumentar as receitas, ao mesmo tempo em que conferimos uma melhor apropriação do principal espaço de vivência das estudantes da Faculdade. Por fim, temos o contrato de locação para a

xerox do XI, com duração de dois anos, que ven-

cerá no próximo ano, 2016. Atualmente, o con-

trato é extremamente prejudicial ao C.A., uma

vez que seu valor de R$ 1.500,00 nunca efetiva-

mente entra nas contas do XI. Isso ocorre porque

o preço e a quantidade de “cota livre” de xerox é

rapidamente excedida e, inclusive, o Centro Aca-

dêmico acaba pagando de volta para a locatária

uma média de R$ 1.500 por mês, para suprir a

quantidade impressa que não foi contemplada

pela reserva da cota livre. No ano de 2015, o con-

trato mostrou-se oneroso frente ao serviço presta-

do e os termos do próximo contrato devem ser

pensados para garantir a manutenção da Cota

Livre de Xerox, bem como garantir que o serviço

prestado esteja à altura das demandas das alunas

que o utilizam para ter acesso aos materiais utili-

zados nas aulas e nas atividades de cultura e ex-

tensão.

CONTRATOS

... E O CENTRO DE IDIOMAS?

Canto geral 2016

O debate acerca do Centro de Idiomas tem sido feito desde o início da gestão, em dezembro, e foi intensificado a partir do mês de maio, com a proposta de fechamento. É fato que o preço acessível das matrículas propicia que alunas e trabalhadoras do centro façam cursos de idiomas, que em outros lugares, são mais caros. No entanto, é preciso entender em que moldes se dá tal prestação de serviço por parte do XI de Agosto. A cada ano, o Centro de Idiomas recebe um número menor de matrículas, fa-zendo com que o Centro Acadêmico precise tirar de suas próprias receitas (já insuficientes) para garantir ao menos o salário das funcionárias e professoras do CI.

07

Na atual gestão, o Centro de Idiomas conseguiu pagar as próprias despesas com suas receitas apenas nos meses de março, abril, maio, junho, agosto e setembro. Mesmo com o oferecimento de cursos intensivos nas férias e diversas tentativas de divulgação por inúmeros centros comerciais do centro da cidade e na própria Faculdade, as receitas do Centro de Idiomas não supriram seus pagamentos básicos e, muito menos, investimentos demandados pelas professoras em relação a infra-estrutura.

O atraso no pagamento de salários, a dívida de impostos trabalhistas e a falta de estrutura física e material configuram, portanto, um cenário de precarização do trabalho no Centro de Idiomas XI de Agosto. Além disso, o valor transferido do CA para o CI acarreta em consequências também para as fun-cionárias do próprio Centro Acadêmico, uma vez que o pagamento de seus encargos trabalhistas acaba ficando em segundo plano, a fim de pagar ao menos o salário das trabalhadoras do CI. As entidades tam-bém acabam tendo seus repasses atrasados ou até mesmo totalmente gastos, acarretando um acúmulo de dívidas também do Centro Acadêmico em relação a elas. Assim, consideramos que o Centro de Idiomas não é sustentável em seu modelo atual e as últimas gestões, que já haviam detectado e assumido tal pro-blema, não conseguiram oferecer modelos alternativos que façam com que o CI se mantenha como parte do Centro Acadêmico.

Por entender que o CI desempenha um papel de permanência e acesso a cursos de idioma, busca-mos convênios com outros cursos, que pudessem oferecer preços baixos a alunas da faculdade. Já em uma primeira busca, muitos cursos demonstraram interesse em negociar, oferecendo até mesmo idiomas hoje não oferecidos no nosso CI. As negociações não foram adiante apenas pelo fato de que o saque que possibilitaria o fechamento do CI não conseguiu quórum para aprovação. Assim, é necessário pensar em alternativas para que o Centro de Idiomas deixe de ser um entrave para as

finanças do XI, mas sem deixar de promover o acesso a línguas enquanto instrumento de permanência

estudantil.

REDIVISÃO DE VERBAS

Tendo em vista o acelerado crescimento do número de extensões e entidades nos últimos anos, como a abertura de três novas frentes do SAJU, o Coletivo Feminista Dandara, o Quilombo Oxê, o cursinho Arcadas, o Núcleo de Direito à Cidade entre outras entidades, a divisão de verbas atual (acordada em 2008) se mostra insuficiente para atender às demandas de atuação das entida-des. Entre as supracitadas, apenas o SAJU (à época da divisão com apenas uma frente) conta com repasse mensal contemplado na porcentagem do resgate do fundo e o NDC, que está fora do rateio percentual mas recebe um valor fixo de R$ 800.

Em um contexto de corte de bolsas de extensão na USP, o repasse feito pelo XI de Agosto se torna essencial para a manutenção das entidades e a garantia, mínima, de programas de perma-nência que não excluam alunas e alunos de baixa renda da atuação em atividades extensionistas. No entanto, dado o atual cenário deficitário da tesouraria do nosso Centro Acadêmico, muitas vezes as entidades deixam de receber seus repasses já previstos, de modo que se torna irresponsável uma redivisão de algo que não será pago. Por isso, a redivisão de verbas faz parte de um processo de reestruturação da tesouraria, que passa por sua desburocratização e fim da rotina deficitária.

O processo de redivisão de verbas, no entanto, não deve passar simplesmente em uma AGE. Entendemos que deve ser uma construção contínua com as entidades interessadas, tanto as que já estão na atual repartição, a fim de entender suas demandas, quanto as que ainda não rece-bem repasse, a fim de estruturar uma divisão que as contemple, sem que isso acabe por prejudicar diretamente alguma outra entidade.

Através de reuniões de Conselho de Entidades para estruturar um novo projeto de divisão, poderemos criar uma organicidade e compreensão das verbas enquanto coletivas e com o fim de possibilitar que o maior número possível de alunas possa participar das mais diversas atividades extensionistas.

Propomos, portanto, um processo de desburocratização e diminuição das despesas do XI de Agosto, o que engloba resolver a questão do Centro de Idiomas, responsável por grande parte do déficit anual do CA e uma redivisão de verbas das entidades planejada e consequente, para contem-plar as novas atividades extensionistas que surgiram nos últimos anos.

08 Canto geral 2016

DIREITO EM DISPUTA: CONGRESSOS ACADÊMICOS O Direito é, assim como outras instituições, determinado por fatores estruturais da nossa socieda-

de heteropatriarcal, racista e classista. Sendo reflexo dessa estrutura, o direito é entendido, muitas vezes, num aspecto individual, em detrimento do coletivo. De fato, o pressuposto do direito não é esse, suas ideias são para todos. Dentro do capitalismo, e atendendo à classe burguesa atual, esse ordenamento ju-rídico se tornou um dispositivo de (i)legalidade e de normatização. O papel de aplicabilidade dos con-juntos de normas e regras cabe ao Estado. Dessa maneira, dá-se, um caráter de imparcialidade - mas quando o estudamos a fundo, vemos que é apenas aparente.

No processo de luta ideológica e política travada pelos movimentos sociais, pelas comunidades marginalizadas e grupos que têm seus direitos negligenciados é preciso pensar uma outra aplicabilidade do direito. Pois, apesar do Direito ter sido criado para e pela a classe burguesa, ele pode ser instrumentli-zado visando a transformação social. É preciso que os grupos marginalizados consigam relevantes avan-ços mesmo dentro da ordem capitalista, visando a transformação social. Reconhecemos que na gestão de 2015, deixamos de encarar de forma prioritária os Congressos re-

alizados pelo Centro Acadêmico. Ponderamos que perdemos certos debates por não oferecermos tais

eventos e devemos priorizar essas construções enquanto projeto central para o Centro Acadêmico, vez

que entendemos ser fundamental não nos furtarmos das discussões jurídicas, enquanto entendemos nos-

so papel na luta enquanto estudantes da faculdade de Direito e futuros juristas. Somente por meio das

práticas alternativas e da resistência dos grupos populares de defensores dos direitos será possível uma

nova ordem para o direito, na qual a justiça não é cega para o que acontece na vida social. Assim, um

compromisso para uma próxima gestão é com Congressos Acadêmicos voltados a problematizar as dis-

putas colocadas no Direito.

DISPUTA CULTURAL

Canto geral 2016

O Coletivo Canto Geral entende a importância da disputa dos espaços culturais e de socia-bilidade da Faculdade de Direito, percebendo que neles ocorre a reprodução de problemas e contradi-ções de ordem estrutural da nossa sociedade. Assim, buscamos sempre nos colocar de forma a questio-nar o modus operandi das cervejadas no Largo, das festas no Porão, e de outros eventos culturais, de forma a entender o que neles estava em disputa e buscando meios de enfrentar as contradições colo-cadas. A experiência do FICA, em março deste ano, nos trouxe alguns acúmulos que são melhor com-preendidos quando se está na posição de organização da festa. O cercamento do espaço público do Largo São Francisco, que é originalmente aberto, usado como refúgio da população em situação de rua durante a noite, é tomado pelos estudantes que usam o Largo em favor de seu próprio interesse em promover uma sociabilidade acrítica. Neste espaço, configura-se uma estrutura que se utiliza da mão de obra de pessoas em situação de precarização do trabalho, em grande maioria negras, para impedir a entrada da população que utiliza o espaço durante a noite - também em maioria negra. A conformação deste modelo ensejou, por exemplo, uma situação de constrangimento racial de um aluno da USP que levou a uma ação civil contra o Centro Acadêmico - fato que reforça a necessi-dade de repensarmos estes espaços. Após a escolha feita pela Gestão de não organizar festas que levam ao cercamento do espaço pú-blico, o caminho que seguiríamos visava uma maior aproximação das estudantes, da cidade, e da po-pulação dessa cidade. Isso se deve ao fato de vermos de forma crítica a apropriação do espaço público para o uso privado. A Festa Junina cumpriu um importante papel nesse processo de reflexão sobre o espaço do Lar-go, já que foi um evento que contou com a participação de mais de 600 pessoas, da Faculdade e de fora dela, onde as entidades em conjunto com o Centro Acadêmico e com outros parceiros promove-ram um espaço de sociabilidade menos excludente e bastante massificado. A avaliação satisfatória que fizemos do evento motivou a realização de outras festas abertas no

Largo. A continuidade do processo se daria na Cervejada do XI, no mês de agosto, mas alguns conflitos

de data inviabilizaram sua realização, de forma que não conseguimos trazer alternativas de fato às

cervejadas fechadas e, como consequência, ao modelo elitista que está colocado. Apesar disso, entede-

mos que houveram avanços pelo próprio questionamento do uso do espaço e que essa é uma disputa

que está em aberto e ainda pode avançar muito.

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No mesmo sentido, nos propusemos desde o início do ano a repensar as festas do Porão da Faculdade, de for-ma a torná-las menos opressoras para as mulheres e LGBTs. As parcerias com CAs e coletivos de outras faculdades nos permitiram experimentar uma sociabilidade menos violenta para as minorias e com um público diverso do que geralmente frequenta o espaço, democratizando-o. No mesmo sentido, eventos como o FEMA e o Underground Cul-ture tiveram uma expressiva participação da população da cidade, crescendo em tamanho e diversidade. O ano de 2015 acaba com o maior acúmulo dos últimos anos sobre as discussões acerca da Peruada. Objeto em pelo menos cinco reuniões abertas, a Peruada foi questionada em cada um dos suas contradições: desde o prejuízo que vinha causando ao CA e seus funcionários, do papel de figuras como o Vitão em sua construção, até seu caráter opressor para as mulheres, LGBTTs e negras. O esforço no sentido de evitar o cercamento do espaço público para os fins privados também se deu como forma de combater as contradições e abrir mão de privilégios. Nas festas fecha-das, o espaço de uso comum de moradores e pessoas em situação de rua da cidade passava a ser exclusivo daqueles da Faculdade e que pudessem pagar. Na prática, isso significava um constrangimento - muitas vezes físico - aos que tentassem se colocar pra dentro das grades, geralmente negros e pobres. A decisão da Gestão por realizar a Peruada mesmo no cenário em que isso implicaria no fechamento do Largo se deu porque todos os espaços fechados que buscamos para a realização da festa estavam ocupados não se concre-tizaram. Assim, avaliamos que o ganho político é maior em se realizando a disputa do modelo de Peruada que vinha acontecendo, do que simplesmente se ausentando dele. Desta forma, estabelecer um novo paradigma sobre a cons-trução da festa - seja lidando de forma responsável com as questões financeiras , seja buscando meios de questionar e combater seu caráter opressor - funcionaria como forma de trazer acúmulos às construções futuras. Muitos avanços devem estar no horizonte das próximas gestões do Centro Acadêmico no que se refere a dis-puta cultural. As parcerias com os órgãos institucionais da prefeitura podem viabilizar construções mais abertas e participativas, voltadas para outros públicos da cidade, de modo que se desconstrua esse relação distante entre o franciscano e a cidade e as opressões que essa relação provoca. Assim, Peruada é um evento com grande potencial de construção em parceria com tais órgãos institucionais, já que historicamente ocupa o calendário do centro da cidade, parando as ruas e podendo mobilizar também seus frequentadores. Ao sermos eleitas no ano passado, tínhamos em nossa carta programa um projeto para a reestruturação do bar, im-

plementando uma cooperativa de alimentos em conjunto com a autoadministração da venda de bebidas por parte

do CA. Ao longo do ano, o projeto teve que ser adaptado para que se adequasse a conjuntura de não-Saque: ou seja,

percebemos que seria irresponsável a contratação de três funcionárias sem a diminuição da folha de pagamento do

XI.

porão

Canto geral 2016

Assim, consolidamos a entrada da Coopertativa de Mulheres Negras do ABC, que tem como proposta a venda de comidas mais saudáveis e mais baratas a partir de um projeto estruturado na economia solidária. Elas participaram de uma roda de conversa com as alunas e tiveram sua própria barraquinha na Festa Junina. Para o bar, propusemos a locação do espaço para um tercei-ro, desde que fosse mais saudável fincanceira e politica-mente para o XI. O contrato até então vigente, realizado pela gestão Resgate é extremamente abusivo, as figuras jurídicas de locador e locatária se invertem e, apesar de em dezembro de 2014 termos notificado que não querí-amos renovar o contrato, a locatária ainda não saiu do espaço. Assim, no nosso projeto, soma dos dois aluguéis, bem como o seu pagamento parcial nas ferias, aumenta consideravelmente a renda do XI, o que é excelente não só para as trabalhadoras, mas também para todas a en-tidades que dependem de repasse. Desse modo, tivemos cerca de dez reuniões abertas sobre o assunto ao longo do ano para dar sequência ao projeto da forma mais transparente e participativa possível.

Por fim, é importante trazermos o debate que envolve o consumo de drogas no Porão. O debate mais ruidoso sobre o consumo de drogas no Porão acontece em torno do uso de cigarro. É bem verdade que o con-sumo de cigarro é massivo em nosso principal espaço de convivência e que de fato possui um potencial nocivo à saúde de todas que o frequentam, sobretudo as traba-lhadoras que passam parte considerável de seu dia ali.

No entanto, para enfrentar de maneira conse-quente o debate do uso de droga no Porão não podemos ter uma visão pautada tão somente pela questão do ci-garro. O cigarro é uma das droga consumidas ali, mas

não é a única. No Porão se consome também álcool, ma-conha, crack, cocaína, ecstasy, LSD, diversas drogas. Cada uma delas possui uma especificidade e que precisa ser pensada a luz disso para entendermos a consequên-cia de seu consumo não só individual como também coletiva.

Para tanto, a gestão busca realizar o debate do consumo de drogas sob uma perspectiva da redução de danos, partindo do pressuposto que combater o consu-mo às drogas é fechar os olhos para e necessidade de tratá-lo como uma questão de saúde. Sendo assim, dife-rente do que pode parecer mais simples ou fácil de ser feito, a redução de danos não é uma medida de regras prontas e de imediata aplicação. Cada caso é um caso, e para que ela seja uma medida real para aplacar as con-sequências negativas do consumo de drogas no Porão, é necessário entendê-la como um processo longo de de-bate e formação para que se possa empoderar um con-junto grande de estudantes do prática da redução de danos. Nesse sentido, a gestão procurou ao longo do segundo semestre formar parcerias com agentes especi-alizados em redução de danos. O primeiro passo se dá na Peruada, contaremos com o Centro É de Lei e o Res-pire, para ajudar com material de informação do que fazer em caso de consumo abusivo de drogas e de plan-tão para ajudar eventuais casos mais graves que ocor-ram ao longo da festa.

Dessa maneira, é estabelecendo o paradigma da redução de danos para lidar com o consumo de drogas dentro do Porão e nas festas grandes frequentadas pela faculdade é que vamos conseguir efetivamente lidar com as consequências negativas do uso de drogas.

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Nós não falamos em terceira pessoa

Racismo em debate

Canto geral 2016

Debater sobre as relações raciais na socieda-de brasileira perpassa debatermos a história das relações de poder no Brasil. Nesse sentido, ao nos depararrmos com o perfil da/o ingressante no Direito-USP em 2015 e, entendendo a Universidade enquanto um espaço de poder, notamos que ainda são violentos os res-quícios de um passado socialmente dividido a par-tir das relações raciais. A maioria de nós, em nossa formação escolar, ao iniciarmos nossos estudos sobre história do Bra-sil, tivemos como ponto de partida o que romanti-camente se denomina como “Descobrimento do Brasil”. Entretanto, se analisarmos o início da his-tória de nosso país sob um olhar não eurocentrado - considerando a história dos povos que já habita-vam o território americano -, concluíremos que esse início da historiografia tradicional romantiza-do é demarcado por uma invasão européia arqui-tetada por sujeitos etnicamente brancos. Sob esse mesmo olhar, vemos que os anos posteriores à 1.500 podem ser lidos como o início da ocupação desses sujeitos sob esse território. Assim, nos quase quatro séculos imposição do projeto colonial europeu no Brasil - organizado sob o modo de produção escravista - vemos uma sociedade estruturada de maneira elementar em relações raciais, tendo suas relações de poder es-sencialmente dividida entre brancos e não-brancos (povos indígenas, africanos e seus descendentes). Dessa forma, todas as instituições sociais criadas nesse período (desde o sistema educacional até a criação da polícia) foram essencialmente embasa-das em uma hierarquia racial, feitas em benefício da população autodenominada como branca. Portanto, analisando o desenvolvimento das

relações raciais e sociais no Brasil, podemos cons-

tatar por meio de dados atuais - somados a conjun-

tura - como o passado escravista se mani-

festa em relações sociais da sociedade mo-

derna:

Rendimento médio mensal da população se-

gundo a cor (2013):

Homens brancos: R$ 1.848 \\ Mulheres

brancas: R$ 1.063 \\ Média total: R$ 1.423;

Homens negros: R$ 991 \\ Mulheres negras: R$

595 \\ Média total: R$ 790 (Dados: PNAD)

Distribuição Percentual de pobreza na população por cor/raça 2013

Brancos: Extremamente pobres: 2,5% \\ Pobres: 2,7% \\ Vulnerável: 40,3% \\ Não pobre: 54,6%

\\ Total: 100% Negros: Extremamente pobres: 5,3% \\ Pobres:

6,9% \\ Vulnerável: 57,5% \\ Não pobre: 30,3% \\ Total: 100 % (Dados: PNAD)

Taxa da população que faz ensino médio, segundo a cor, 2013:

Brancos: 23,7% da população branca reallizou en-sino superior.

Negros: 10,8 % da população negra realizou ensi-no superior. (Dados: PNAD)

A possibilidade de um jovem negro morrer assassi-nado hoje é 2,96 vezes maior que a de um jovem

branco. (GEVAC \ UFSCAR).

O mito da democracia racial, elaborado no início do século XX, está impregnado no imaginá-rio social de um modo que nos coage a harmonizar as presentes relações raciais a partir da romantiza-ção de um Brasil “moreno”. Entretanto, com um olhar minimamente realista, vemos que as posições de poder na nossa sociedade possuem cores bem definidas: o perfil do jovem ingressante na USP tem cor, o perfil do jovem assassinado pela polícia mili-tar diariamente também. Ao comparar a cor das pessoas que caminham pelo Shopping Higienópolis e das pessoas em situação de rua em São Paulo ve-rificamos o mesmo. Deve-se retomar na história também que o elemento miscigenador nasce a par-tir da violência sexual praticada pelos patriarcas das Casas Grandes e não por uma pré-disposição do brasileiro à “misturar-se” harmonicamente. Por fim, conforme tem se destacado, vemos mais uma vez na prática, com o aumento da vinda de imigrantes haitianos, andinos e africanos para o Brasil que, o país “das misturas” aplaude a misci-genação quando ela caminha para o tipo ideal branco europeu (ex. massivas imigrações euro-péias século XVIII), contudo, quando caminha para outros padrões étnicos-raciais - como atualmente - é motivo de preocupação e xenofobia.

Dados: fuvest.br

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O embranquecimento foi um elemento essencial para desenvolver no passado um olhar naturalizado das catequizações dos povos indígenas; da relação entre o “bom senhor” e as pessoas escravizadas negras; ou ainda da vinda massiva de imi-grantes europeus para o Brasil no pós-abolição. Nesse sentido, foi essencial para fun-dar a identidade brasileira, na medida em que ele permitiu (e permite) idealizar as

relações violentas impostas pelos brancos frente aos não-brancos, ocultando por meio do mito da misci-genação uma história inteira de violência. Portanto, negar os conflitos raciais aparentes hoje é uma posição embranquecida, que opera nessa lógica. Do mesmo modo, quando falamos de identidade racial, vemos que esse histórico de violências cri-ou o desejo no ideal coletivo de sempre aproximar-se do tipo ideal branco. Por conta de um racismo ainda bem estruturado, somos socialmente construídos para nos afastarmos do ideal “não branco”, afi-nal, os padrões de beleza, a representatividade nas mídias e a historiografia tradicional caminham nesse mesmo sentido. Com efeito, entendendo como o racismo opera, as pessoas que carregam em seus corpos elementos “não brancos”, ao afirmar sua identidade racial assumem uma postura política de enfrenta-mento aos ideais cotidianamente embranquecidos. O debate de identidade e racismo permeia, ainda, como se insere no contexto da sociabilidade urbana aquelas que se reivindicam indígenas, vez que o processo de embranquecimento cumpre o papel de isolar tal identidade,ou seja, visa dificultar que aquelas que possuem ancestralidade indigena se reconheçam enquan-to iguais para organizar as demandas colocadas. Tal debate ainda é extremamente incipiente dentro da faculda-de, e deve ser pautado tanto internamente - reconhecendo a existência de alunas indígenas - como externamente - através da visibilização e mobilização para as lutas colocadas. É papel do movimento estudantil colocar-se frontalmente contra a PEC 215, que transfere para o legislativo a regularização das terras indí-genas, bem como devemos sempre denunciar o genocídio que segue acontecendo contra as indí-genas, cuja luta prioritária ainda é garantir o pedaço de terra que seguem tentando tomar.

Raça e

identidade

Canto geral 2016

BALANÇO DE 2015. Vemos que as pro-

blemáticas por trás da questão racial brasileira se manifestaram cotidianamente durante 2015, in-clusive no âmbito interno da faculdade.

Foi emblemático na Faculdade o Caso en-volvendo o jovem negro João Custódio, expulso e agredido durante uma cervejada no Largo São Francisco. Ao assumirmos a Gestão de 2015, man-tivemos o nosso posicionamento adotado desde a data da ocorrência do fato: o de não negar o racis-mo alegado pela vítima. Da mesma forma, fizemos o possível para que a problemática não atingisse os trabalhadores negros envolvidos na situação, avali-ando irresponsável a postura de alguns alunos em criar hipóteses alarmistas para deslegitimar o posi-cionamento político de enfrentarmos de maneira séria um caso de racismo em nossa Faculdade.

Desse modo, ao fim do 1º semestre tivemos, a partir de um acordo, um resultado positivo para todos os envolvidos na situação. Dessa solução, re-sultou a mínima reparação envolvendo o jovem João Custódio, o não seguimento jurídico de qual-quer hipótese prejudicial aos trabalhadores e, ain-da, um avanço de consciência sobre a questão raci-al brasileira com os debates gerados a partir da po-larização e da semana promovida pelo C.A. de Combate ao Racismo, que identificamos a necessi-dade de avançar no debate envolvendo a questão indígena quando abordarmos a questão racial.

Outras ações referentes ao posicionamento da gestão envolvendo a pauta, foram concretizadas

durante as mobilizações conjuntas com demais grupos - em especial o Quilombo Oxê - para a AGE de Paralisação por Cotas Raciais na USP, em maio de 2015, onde foi realizada a coleta de assinaturas para o Projeto de Lei Popular da Frente Pró Cotas do Estado de São Paulo, sendo a unidade de Direito a com maior mobilização sobre a pauta.

“Cotas sim, Genocídio não”. No 2º semestre, buscamos dar visibilidade para a pauta do Genocí-dio da População Negra, envolvendo debates sobre Segurança Pública. Dessa maneira, as intervenções realizadas durante aulas do atual Secretário de Se-gurança Pública (responsável pelo recorde de ho-mícidios da Policia Militar já no primeiro semestre de seu mandato), serviram para pautarmos essa questão latente, alinhados politicamente ao Movi-mentos Negro, com destaque para o Movimento das Mães de Maio. Com isso, num balanço feito até aqui, enten-

demos a centralidade de trazer o tema da questão

racial de forma permanente para todos os outros

demais debates e ações realizadas na faculdade,

sendo ainda necessário muito a ser feito. Entenden-

do o compromisso do movimento estudantil com as

questões que tocam concretamente o povo brasilei-

ro, é certo que esse debate deve continuar como

desafio à próxima gestão, avançando dia a dia, com

ações políticas colocadas em prática, no combate

ao racismo.

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VOZES QUE NÃO SE CALAM: MULHERES EM MOVIMENTO

Canto geral 2016

A conjuntura de crise política e econômica do primeiro semestre de 2015 teve um forte impacto na vida e direitos das mulheres: ao passo que vemos as questões que são historica-mente bandeiras feministas, como a

legalização do aborto, o combate à violência contra mulher e a luta pela equidade salarial, ganhando espaço nas redes sociais, nos debates no legislativo e executivo, e até mesmo na grande mídia, aparece também a reorganização de diversos ataques aos avanços nos direitos das mulheres. Tal reação con-servadora se dá através da proposição de medidas que são reais ataques aos direitos da classe traba-lhadora, que estimulam o aprofundamento do ra-cismo (expresso no acelerar do genocídio dos povos negro e indígena) e do patriarcado, através da mer-cantilização do corpo e vida das mulheres e o con-trole da função reprodutiva das mesmas.

Fazendo o paralelo da atual conjuntura na-cional com a luta das mulheres para dentro da Uni-versidade, a discussão sobre feminismo também te-ve avanços e retrocessos. Ao mesmo tempo em que o pátio foi ocupado diversas vezes para discutir questões da conjuntura nacional com a perspectiva de gênero, como a questão urbana, a terceirização e a legalização do aborto, a USP também mostrou grandes recuos à pauta feminista, como, por exem-plo, o fechamento de vagas nas creches. Em 2015, devido à “crise financeira na USP”, as creches não abriram vagas pra inscrição, dificultando o acesso à Universidade para as estudantes, e desfavorecendo o trabalho das professoras e funcionárias. Já para dentro da Sanfran, o Diretor da Faculdade protago-nizou diversas interrupções de falas de mulheres, de forma autoritária e machista, sob desculpa de que o som estava incomodando. Nós, mulheres do Canto Geral, acreditamos

ser importante pontuar o papel das campanhas de

combate à opressão nos espaços de festas da facul-

dade, campanhas essas que foram uma constante ao

longo do ano, através de uma construção em cole-

tivo, aberta à toda a Faculdade, e que se mostrou

bastante positiva, trazendo um real avanço no de-

bate contra as opressões nas festas universitárias,

tão citadas nas CPI das Universidades como palco

de abusos e violências.

A CPI das Universidades que, a partir de 37 audiências e mais de 100 pesssoas ouvidas, produ-ziu um relatório final de 194 páginas, nas quais foram relatadas uma série de violências vividas por mulheres, negros e negras e LGBTs nas universida-des paulista. O relatório aponta para uma suspeita de 112 estupros ocorridos apenas na USP nos últi-mos dez anos. O movimento feminista está denun-

ciando há bastante tempo que os os casos de estu-pros na Universidade de São Paulo não são pontuais nem eventuais, mas sim reflexo da cultura do estu-pro que se faz presente na Instituição, no trote, na sala de aula e nos espaços de convivência estudantis muitas vezes com a participação ou conivência de docentes. Nós, mulheres do Canto Geral, estávamos presentes na CPI e revindicamos ações enérgicas comprometidas a acabar com a violência contra as mulheres na universidade. Enquanto medidas não forem tomadas, a Universidade de São Paulo estará dizendo que a Universidade não é espaço das mu-lheres, negros, LGBTs.

Enquanto mulheres do Centro Acadêmico, realizamos continuamente ações para reduzir as opressões nos espaços estudantis, como a campanha “trote sem opressões”, que em conjunto com outros centros acadêmicos de direito, ganhou atenção não só das alunas, mas também da mídia, que divulgou uma série de matérias sobre tal articulação e tam-bém na construção da Peruada, festa permeada de contradições, mas que foi pensada coletivamente para promover, a partir de mudanças estruturais, uma sociabilidade menos agressiva paras as sujeitas oprimidas.

Sabemos, contudo, que a campanha de com-bate às opressões, por mais importante que seja, não resolve todos os problemas. Por diversas vezes fomos procuradas para resolver questões de abusos machistas e LGBTfóbicos, inclusive em festas que não estávamos organizando. Assim, entendemos que a campanha precisa se estender para que se dispute a organização da festa, para que todas as festas promovidas na Sanfran sejam pensadas de uma forma em que as mulheres, as LGBTTs e os ne-gros e negras se sintam confortáveis e seguras no espaço, para ocorrer uma real disputa de consciên-cia coletiva das estudantes.

Ser mulher e participar ativamente da po-lítica produz enormes desafios: estamos dispu-tando espaços que nunca foram pensados para nós ocuparmos e, portanto, nunca foram pensados para atender nossas demandas, funcionando a partir de uma lógica masculinizada e heteronormativa. O avanço de uma mulher ao ocupar esse espaço de-verá ser sempre o avanço de todas nós. Por essa razão que acreditamos que a chapa colegiada é uma alternativa feminista para ocupação de espa-ços criados por e para homens. A organização cole-giada de um grupo político é também um meio de empoderamento coletivo de todas as mulhe-res, alterando as sujeitas que têm voz na políti-ca, desfazendo os modelos pelo qual a estrutura do Movimento Estudantil tradicional se firma. Nós, mu-lheres do Canto Geral, lutamos por alterar a organi-zação hierarquizada da política acadêmica por es-tarmos certas de que é necessário repensar as es-truturas de poder patriarcais que historicamente marcam a política do XI de Agosto.

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A gestão de um Centro Acadêmico é também um processo muito mais difícil para as mulheres: nossas militantes ocuparam todos os espaços da gestão, realizando tarefas na tesouraria, no projeto do porão, nas festas, fazendo falas em eventos, AGEs e até em espaços mais hostis promovidos para se con-trapor à atual gestão. Ocuparam também espaços que não gostariam de terem ocupado, sendo muitas vezes expostas violentamente em grupos do Facebook. Essa exposição determinou, muitas vezes, a forma de ocupação do espaço público pelas mulheres do grupo e sua relação com a política acadêmica e as as-sociadas e associados. Inclusive, em diversas vezes, houve dificuldade de compreensão entre as diversas mulheres da faculdade, de dentro e de fora da gestão, o que acreditamos ser extremamente prejudicial na forma como foi feita. A divergência de linhas não descontrói a luta, mas a forma hostil como muitas vezes tal divergência foi tratada dificultou diversos avanços do feminismo na faculdade.

Desde o surgimento do Canto Geral, a colegiada foi colocada como resposta feminista para mu-danças estruturais dentro do movimento estudantil, na medida em que nós mulheres entendemos que um dos objetivos desse modelo de chapa é possibilitar a construção da solidariedade entre as mulheres dentro e fora da política acadêmica, e também acabar com a lógica competitiva de conquista de cargos estatutá-rios.

A colegiada permite que não haja simplesmente uma representação da mulher em cargos de po-der: e sim que todas as mulheres tenham o poder para tomar as decisões políticas do coletivo. Acredita-mos em um grupo que se organize de uma forma a permitir que todos os sujeitos políticos possam colo-car suas vozes e demandas: mulheres, negras e negros, LGBT´s. É a única forma das pautas desses sujeitos serem de fato incorporadas nas lutas cotidianas do coletivo. Assim, após um ano de prática na gestão do Centro Acadêmico, continuamos considerando o modelo da colegiada essencial para a construção de um grupo e um movimento estudantil feminista, ficando cada vez mais explícita a necessidade de uma esta-tuinte, pois sem mudar institucionalmente a organização do XI de Agosto, as tarefas e funções mais buro-cratizadas vão continuar se concentrando em mulheres, as invisibilizando.

Entendemos a questão do machismo como estrutural em nossa sociedade patriarcal, racista e capi-talista. Reivindicamos, assim, um feminismo de raça, de classe e anti-capitalista, em que se construa a luta considerando a especificidade de cada mulher, reconhecendo que cada mulher tenha uma forma de socialização e um papel diferente na luta feminista. Reconhecemos, ainda, nossas limitações como estudantes de uma universidade bastante elitizada e

racista, e, que, portanto, não pode se descolar da realidade em que está inserida, para que não se aliene e

se torne uma bolha ainda mais fechada na sociedade. Por isso, o Canto, pautado por sua plenária autor-

ganizada de mulheres, entende que o coletivo precisa ter um compromisso em adequar a sua linha e suas

construções com os movimentos de mulheres, que historicamente, pautam os debates que nos propomos

a trazer, para que a luta avance de maneira honesta, massificada e junto com os setores populares.

CORPOS QUE DISPUTAM

Canto geral 2016

Em um contexto de ascenso de violência LGBTTfobica, se faz necessário pensar de que for-ma os discursos conservadores têm perseguido determinadas sexualidades e identidades de gêne-ro. A sociedade possui uma estrutura de matriz cis-hétero, em que a heterossexualidade é naturali-zada e que se perpetua a ideia da identidade de gênero atrelada a um órgão sexual. Nessa lógica, se você nasce com uma vagina, é necessariamente mulher, e é necessariamente hétero. Essa forma de se organizar os corpos e rela-ções é extremamente violenta, visto que ao definir o que é correto, o que é normal, se nega a existên-cia e afirmação de diversas sujeitas que não se identificam nessas categorias. A Plenária LGBTT do Canto Geral propõe para este ano discussões de como podemos tornar o espaço da faculdade o mais aberto possível para todas e como podemos atuar para fora da Sanfran combatendo a LGBTT-fobia. Sob essa ótica, as festas universitárias sem dúvida são um importante espaço para a integra-

ção e celebração entre as alunas da faculdade e a sociedade em geral. No entanto, não é incomum existirem relatos de uma série de fatos que escan-caram que tais espaços muitas vezes não são segu-ros para LGBTTs. Sendo assim, organizamos ao longo do ano de 2015 uma série de festas procurando disputar a estruturação desses eventos, como a “Balança mas não cai”, “Alice no Porão das Maravilhas”, “Descaradas”; e a intevenções em outros espaços. Uma delas, a festa “N.D.A. - Nenhuma das Anteri-ores", teve o objetivo de denunciar, já em seu pró-prio nome, que o ato de rotular sexualidades e identidades de gênero em categorias limitadas é em si mesmo opressor. Desse modo, propomos pa-ra o próximo ano a continuidade da organização de festas que vão no mesmo caminho: através da escolha do tema da festa, das músicas a serem to-cadas, da estética em geral, pautamos a consolida-ção de espaços que sejam confortáveis para todos os corpos.

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Parte do combate às estruturas opressoras passa também pela realização de eventos que visam discutir temas invisibilizados do movimento estudantil, como conservadorismo religioso no Congresso, e a questão Trans; essa última muitas vezes deixada de lado por conta da própria composição das discentes das univer-sidades, com poucas alunas trans. Por isso, é importan-te que essas pessoas ocupem esse espaço e, pensando nisso, realizamos ao longo do ano a “Roda de Conversa com Luisa Marilac”, intervenções com a performer Shanawaara, cine-debate com o “Canal das Bee” e evento na Semana do XI sobre o conservadorismo no congresso e a questão LGBTT. Para além disso, a ideia foi de trazer a pauta das sexualidades e identidades de gênero para além de eventos com temáticas LGBTT, uma vez que nós esta-mos presentes em todos os espaços da sociedade. A co-munidade não deve ser restrita a discutir apenas sexu-alidade e corpos, uma vez que a opressão que sofremos perpassam todas as áreas da sociedade. A partir desse pensamento, convidamos este ano Amanda Palha, uma militante travesti, para debater na Semana do XI o ajus-te fiscal e terceirização . É preciso desconstruir os referenciais políticos que hoje alicerçam a sociedade. As pessoas trans e não-heterosseuxais, sob o regime da LGBTTfobia, têm deter-minados papéis designados compulsóriamente na soci-edade, comumente não sendo o espaço político um de-les. Reivindicamos uma política não-tradicional, que não passe pelos métodos normativos de se debater questões, e nesse sentido, acreditamos que a estética e a valorização de sujeitos não-normativos é central no debate politico. Essa disputa, contudo, traz diversas contradições. Na nossa experiência enquanto LGBTTs ao longo do ano na gestão do Centro Acadêmico, por exemplo, sen-timos muita dificuldade em corroborar com o calendá-rio tradicional em que o XI se insere, pois muitas vezes fomos cobradas e obrigadas a reproduzir estruturas cis-heteronormativas, como determinadas festas, determi-nados modelos de eventos e determinadas colocações no espaço público, que invariavelmente reproduzem violências as nossas companheiras de luta e as nós mes-mas. Além disso, o fato de estarmos por trás da "instituição XI de Agosto" faz com que muitas pessoas da faculdade tenham posições destrutivas e agressivas em relação a nós, esquecendo-se que por trás de toda entidade política há pessoas e suas subjetividades, no dia-a-dia, tentando lutar por transformação. E isso, ao contrário do que parece, não é culpa de quem agride ou de quem foi agredido, mas é culpa da própria forma que os associados há muito se relacionam com o XI, imerso no modelo burocratizado e empresarial, carac-

terizado pela despessoalização das relacões. Ainda no sentido de tornar nosso espaço políti-

co o mais inclusivo possível, propomos uma discussão para o próximo ano: a implementação de banheiros com gênero neutro na faculdade. Os banheiros na so-ciedade são distribuídos de forma binária: há o mas-culino e há o feminino, devendo todos se enquadra-rem em uma dessas categorias de gênero. Essa binarie-dade é extremamente violenta, haja vista que força aqueles que não se identificam com nenhuma dessas

categorias a escolher uma delas. Lembrando que as vezes essa "escolha" de ba-

nheiro, que as pessoas cis levam de forma muito natu-ral, gera diversos constrangimentos no dia-a-dia, ha-vendo na sociedade diversas denúncias de transfobia nesses espaços. A Plenária LGBTT do Canto Geral pla-neja verificar a possibilidade de um banheiro de gênero neutro no porão, em que todes poderão frequentar. Além disso, é preciso defender também perante a facul-dade a implementação desse banheiro em sua própria estrutura física, para que o espaço da São Francisco seja de fato para todes e para que diminuamos a invisi-bilização de identidades de gênero.

Discutimos até aqui as violências simbólicas às pessoas LGBTTs, porém, é importante também tratar da violência física que se direciona a essa população. En-tendemos que o movimento LGBTT, em geral, tem co-mo pauta, atualmente a criminalização da homofobia. Contudo, o Coletivo Canto Geral problematiza a utili-zação do Direito Penal enquanto mecanismo de solução dos conflitos sociais, visto que esse tem como função implícita a reprodução das desigualdade social e racial, bem como o isolamento da população preta e periféri-ca. Sendo assim, nos posicionamos politicamente no sentido de procurar alternativas que conciliem a defesa simbólica da nossa existência marginalizada sem, com isso, gerar ainda mais marginalizações e violências.

Entendemos também que não há como lutar contra o cis-heteropatriarcado sem lutar contra o capi-talismo e o racismo. É preciso compreender que o neo-liberalismo é responsável pela manutenção dessas desi-gualdades e opressões e uma atuação coletiva e comba-tiva a esse sistema é mais do que necessária. Isso por-que o próprio capitalismo cria em seu sistema precon-ceitos estruturais e “sub-classes” de trabalhadores das quais se alimenta, isto é, àqueles que acabam vendendo a sua força de trabalho por menos, haja vista o modo inferiorizado que são vistas. Assim, essas pessoas são as negras, as mulheres e as LGBTTs.

Finalmente, pautamos a nossa atuação princi-palmente na auto-organização e empoderamento das sujeitas nos espaços políticos. Uma vez que se quere-mos uma sociedade verdadeiramente democrática e horizontal, todas as minorias políticas devem ser capa-zes de se colocarem nos espaços, serem agentes de mu-dança e, sobretudo, sentirem-se capazes de atuar em pról da transformação que desejam. Isso, ainda, é algo que se relaciona com a importância das visibilida-des, em especial a bissexual, a lésbica e a trans, que muitas vezes acabam sendo ofuscadas no movimento. Lutamos para que finalmente seja visibilizado o traba-lho desses corpos que tanto importam e tanto se esfor-çam para serem reconhecidos.

02 15 Canto geral 2016

Por que cantamos?

“A estrutura do Estado brasileiro historicamente tem servido aos interesses das elites e para a manutenção de seu poder sobre os/as trabalhadores/as, os/as excluídos/as, sobre o povo brasileiro. Poucos são os espaços nos quais o povo tem realmente sua voz escutada e poucas são as oportunidades de interferir nos rumos da política em geral, especialmente na construção de políticas públicas voltadas para a maioria da população. Nos últimos anos temos presenciado essa estrutura de poder oprimindo as populações quilombolas, indígenas, ribeirinhas pelo desrespeito a sua cultura e seus territórios. Nas re-giões rurais, indígenas e sem-terra têm seus direitos violados em favor dos empresários do agronegócio. Nos estados e municípios, principalmente nas regiões periféricas, as polícias militares matam jovens, principalmente os negros homens entre 15 e 29 anos. As forças de repressão perseguem lutadoras e lutadores, organizados ou não, que protestam por um país mais justo e igualitário. A estrutura do Judi-ciário opera com dois pesos e duas medidas, atuando em favor dos poderosos e contra o povo. As elei-ções para os cargos legislativos e executivos são um grande balcão de negócios e impedem, através das regras de organização eleitorais, que mulheres, negros/as, sem terra, trabalhadores/as, indígenas, qui-lombolas e outros setores populares da sociedade acessem os espaços de exercício do poder. O sistema político impede avanços sociais de interesse do povo”.

Canto geral 2016

2015 se mostrou como o inicio de um período complexo e de acirramento das lutas no Brasil. O segun-do mandato do governo Dilma se inicia com grande ar-ticulação dos setores de oposição, em que confluência de três crises - econômica, política e social - somada à ofensiva imperialista aos governos progressistas da América Latina, tornam a conjuntura especialmente ins-tável e ameaçadora às conquistas da classe trabalhadora e dos setores mais explorados da sociedade.

A crise estrutural do capitalismo que estourou em 2008 avança sobre os países periféricos. No Brasil, através do fortalecimento do mercado interno, valoriza-ção do salário mínimo e investimentos no setor produti-vo nacional, foi possível manter os efeitos imediatos da crise afastados. Mas tais políticas não foram suficientes, vez que foi mantido o modelo econômico agroexporta-dor e não foram realizadas reformas estruturais, como a agrária e a tributária, mantendo a vulnerabilidade fren-te ao imperialismo e aos países centrais.

Temos um aprofundamento de uma crise social, em que a população começa a ser afetada, tendo a sua expressão no aumento do desemprego, no aumento da inflação, principalmente sobre os alimentos e tarifas de energia, e nos cortes de programas sociais de moradia e educação, além disso, os setores de oposição aproveitam o momento para sangrar o governo e as conquistas po-pulares. Os escândalos de corrupção na Petrobrás, a perda da base no Congresso e as manifestações pelo im-peachment cerceiam cada vez mais os setores progres-sistas, e aumentam os retrocessos.

Tendo isso em vista, a Coalizão pela Reforma Política Democráticas e Eleições Limpas, composta por 101 entidades como a CUT, OAB, UNE, centrais sindi-cais etc., tem um projeto de iniciativa popular que visa reformar o sistema político brasileiro numa perspectiva de fato democrática. Os pilares da proposta, que neces-sita de 1,5 milhão de assinaturas para ser apresentado ao Congresso, baseiam-se na proibição do financiamen-to empresarial a partidos e candidatos; o voto em lista em dois turnos: no primeiro turno o eleitor vota em uma lista de candidatos apresentada pelo partido e, no se-gundo turno, em um candidato específico, tendo em vista um fortalecimento dos partidos; fim das coligações proporcionais; paridade entre homens e mulheres nas listas partidárias; e fortalecimento dos mecanismos de

democracia direta com a participação da sociedade em decisões nacionais importantes.

O financiamento privado de campanha é o prin-cipal responsável pela “privatização da vida pública”, pois para se eleger, os partidos precisam se submeter às demandas dos proprietários de capital, o que impede a eleição de partidos pequenos e autônomos e distorce os programas dos partidos grandes de esquerda, em favor dos empresários que financiaram sua campanha (desde grandes empreeiteras até bancos). Torna o espaço políti-co um verdadeiro “balcão de negócios”, abrindo cami-nho para lobbies e tráfico de influência e elitiza a políti-ca impedindo qualquer possibilidade de reformas radi-calmente democráticas.

Tudo amparado e amplificado pela aparato mi-diático. A mídia, no Brasil, é um ator político paraestatal com grande poder de influenciar tanto a percepção so-cial da vida política como a formação de consciências. É, portanto, partícipe do jogo político, embora estrategica-mente seu discurso oculte tal atuação. Deve-se, dessa forma, considerá-la como parte do sistema político, o que implica necessariamente sua reforma. Os meios de comunicação são controlados pelos mesmos grupos mo-nopolistas da época da ditadura, levando a uma realida-de marcada pela elitização e hegemonização. Sendo as-sim, a democratização da mídia é urgente e necessária para a democracia no Brasil.

A atual configuração do sistema político bra-sileiro em conjunto com uma mídia desregulada e eliti-zada, culmina com o Congresso mais conservador desde a época do Golpe de 1964. Sob a presidência de Eduardo Cunha, figura marcada por um histórico de envolvi-mentos em esquemas de corrupção, e eleito com grande apoio e financiamento do empresariado nacional, o Congresso torna-se o protagonista dos mais diversos ataques às camadas populares, a exemplo do PL da ter-ceirização, a proposta de redução da maioridade penal e o Estatuto da Família, os ataques da bancada ruralista aos direitos indígenas através da PEC 215, o PL 1610/96 e o PLP 277 e do PLS 131/2015, do senador José Serra, que visa retirar a exclusividade de explora-ção da Petrobrás sobre o Pré-sal e alterar a Lei da Parti-lha, que estabelecia a destinação de 75% dos royalties do petróleo e 50% do Fundo Social do Pré-Sal para a educação.

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Apesar das diversas medidas para agradar o empresariado, a presidenta Dilma têm sido alvo de uma intensa campanha de golpe. O que nos indica que o outro lado é muito mais conservador, e não se satisfaz com regalias, mas somente com um dos seus no poder. É importante, portanto, se posicionar con-tra o impeachment, tendo isso em vista, o XI realizou uma aula pública contra o impeachment e partici-pou da organização do Ato Juristas e Movimentos Sociais: Por uma outra Política Econômica, em defesa dos Direitos Sociais e da Democracia.

Entender os problemas do sistema político brasileiro e os enfrentados por Dilma como estruturais, não nos exime, no entanto, de cobrar e criticar os retrocessos proporcionados pelo Ajuste Fiscal. O pro-grama anunciado pelo governo, no começo do ano, prevê uma série de medidas de austeridade a fim de reequilibrar as contas do Estado, sinalizando ao mercado e aos investidores a “boa” condução da econo-mia. O ajuste se baseia no aumento dos tributos, no corte de benefícios (na educação e saúde principal-mente) e no congelamento de gastos não obrigatórios (como o programa Minha Casa Minha vida e o PAC de infraestrutura). Grandes empresas e bancos sofrem alguma taxação, mas é muito pouco quando com-parado às perdas que a população vai sofrer. A crise não pode cair sobre os trabalhadores! A reforma tri-butária, a taxação de grandes fortunas, a destinação do CPMF para o governo federal e a diminuição da taxa de juros são exemplos de medidas que aumentariam a receita estatal, fazendo com que os ricos pa-guem pela crise.

Em tal acirramento da conjuntura, é necessário que o movimento estudantil se some as lutas po-pulares, contra o avanço neoliberal, defendido pelas grandes empresas, banqueiros, mídia de massas e partidos da direita, a partir do realinhamento da nossa economia aos EUA, a volta ao estado mínimo, com cortes de gastos sociais e do investimentos públicos, além da diminuição do custo de mão de obra redu-zindo direitos trabalhistas. Devemos, assim, buscar a construção de um projeto popular, democrático e soberano para o Brasil, com políticas públicas que garantam acesso de todos à saúde, educação, moradia e emprego, com participação e democracia

Quais são as ameaças?

Pl 4330—terceirização

Canto geral 2016

Nesse contexto, a saída neoliberal encontrada é a redução dos custos da produção, sendo a mão de obra o principal fator flexibilizado. A redução de direitos, o aumento da precarização e do desempre-go fazem parte desse cenário, assim como a ampliação da terceirização - ataque direto às conquistas tra-balhistas desde a CLT. O projeto de lei, do Deputado Sandro Mabel (PMDB- GO), prevê a possibilidade de terceirização das atividades-fim. Hoje, ela é restrita às atividades-meio, como vigilância, limpeza e tele-marketing. Com a aprovação do PL, é previsto que ela passe a ser a principal forma de contratação no mercado de trabalho brasileiro em poucos anos.

Atualmente, as terceirizadas ganham cerca de 30% a menos que as celetizadas (Dieese), têm jor-nadas de trabalho maiores, e menos garantias de segurança no trabalho, auxílios, seguro-desemprego e aposentadoria. A aprovação do projeto permite um progressivo cenário de retirada de direitos, fim da estabilidade do funcionalismo público, cortes de benefícios, aumento de riscos de acidentes, menor arre-cadação estatal e maior impunidade aos empregadores que desrespeitem os direitos trabalhistas. No pla-no político, o projeto é um golpe frontal às conquistas trabalhistas e à organização das trabalhadoras: além da alta rotatividade a que às terceirizadas estão submetidas, o que já dificulta sua articulação nos locais de trabalho, as terceirizadas de um mesmo local têm patrões diferentes e podem ser representadas por sindicatos distintos, o que fragiliza qualquer forma de pressão ou de ações concretas, como greves e negociações coletivas.

É central também que façamos os recortes sociais da terceirização, entendendo que a classe traba-lhadora tem raça e gênero, e que os retrocessos atingem os setores de forma diferenciada. Cabe o desta-que de que os serviços em que a terceirização já é permitida são aqueles exercidos majoritariamente por mulheres, negros, negras e pela juventude, reforçando a lógica a divisão sexual e racial do trabalho, e a precarização a que esses grupos são submetidos. Dados do Ipea confirmam que a maior rotatividade nos empregos terceirizados se dá com os jovens de 18 a 29 anos, fazendo com que a juventude não consiga se fixar e ter segurança nos primeiros empregos. Além disso, as mulheres serão ainda mais prejudicadas, pois já ganham cerca de 80% do valor recebido por homens, e com a terceirização, esse valor tende a ser menor. Nesse processo, as mulheres negras se consolidam enquanto base na hierarquia social, ganhando ainda menos que mulheres brancas e ocupando postos desvalorizados de trabalho reprodutivo e de cui-dado, como os serviços domésticos, reforçando a superexploração dessas mulheres e ampliando as dife-renças sócioeconômicos entre elas e os outros grupos sociais.

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Mas e aí, nós nos perguntamos, porque essa realidade diz respeito a todos que frequentam diaria-mente essa faculdade ?

Essa realidade diz respeito a todos nós não apenas porque enquanto estudantes de direito devemos lutar pela preservação dos direitos sociais já alcançados, mas também porque convivemos diariamente com trabalhadoras e trabalhadores em situação igual ou bem parecida. Por exemplo, as funcionárias de limpeza da faculdade são terceirizadas, por isso observamos uma rotatividade grande e jornadas de tra-balho extenuantes para essas pessoas. No bandejão, essa diferença fica bastante evidente, quando obser-vamos que os salários das funcionárias do noturno (terceirizado) são aproximadamente ⅓ menor do que o salário das funcionárias do diurno, contratadas pela própria faculdade. Diante das atuais medidas de cortes da USP, há altos indícios de que, para o ano que vem, o serviço do bandejão diurno também será terceirizado. Além delas, o XI de Agosto possui dois funcionários em situação de precarização: o Luciano, que trabalha no porão, e o seu Pedro que trabalha na casa dos estudantes. Assim, a luta pelo fim da pre-carização do trabalho se dá desde combatermos esta realidade dentro deste contexto até a mobilização para frear o conservadorismo, que insiste em retirar direitos da classe trabalhadora.. Nesse sentido, organizamos o evento antes do ato contra o PL da terceirizacao, que propôs uma discussão

da qual participaram os coletivos políticos e professores da faculdade e, desde o começo da gestão, o Can-

to Geral propôs o saque do FIXI para que fosse possível a celetização dos funcionários já citados e o paga-

mento das dividas trabalhistas que o centro acadêmico possui com o Silvão, vez que não foram quitadas

quando ele foi celetizado. Por isso, reestruturar o XI de Agosto é politicamente importante, para o XI seja

coerente nos seus posicionamentos externos e nas suas práticas para dentro da entidade.

Violência Policial e Genocídio da População Preta, Pobre e Periférica

Canto geral 2016

Redução da Maioridade Penal: desmistificando o golpe: A redução da maioridade penal é pauta histórica da direita brasileira, que coloca o encarceramento dos jovens, negros, pobres e periféricos como solução para a criminalidade no país. A PEC 171, apresentada ao plenário da Câmara em 1993 é a síntese desta visão punitivista, significando intenso retrocesso aos direitos fundamentais, tutelados pelo art. 228 da CF/88 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - uma das grandes conquistas legislativas pós-constituinte. A po-sitivação da proteção ao menor de idade decorre de uma política criminal que remonta a Declaração Uni-versal de Direitos Humanos.

Com a terceira maior população carcerária do mundo, o Brasil é um exemplo da falência do modelo penal punitivo. O atual índice de reincidência de 70% demonstra a incapacidade de cumprir a promessa de prevenção especial positiva. Contudo, essa falência não é noticiada. O que vemos através dos grandes meios de comunicação é a exposição do projeto de criminaliza-ção da pobreza e privação da liberdade da juventude preta, pobre e periférica, que começa por negar-lhes acesso a serviços públicos que garantam direitos fun-damentais e responde às consequências dessa ausência com encarceramento. Tudo aliado ao discurso de ódio que retroalimenta o imaginário do senso comum e cul-mina com 87% da população favorável à redução, se-gundo o Datafolha.

Há também uma "alternativa" à PEC, que seria uma reforma no ECA para aumentar o tempo de inter-nação da Fundação Casa. Tal medida, longe de ser uma solução alternativa à redução da maioridade penal,, significa o aumento do poder punitivo do Estado e a manutenção da juventude em cárcere - sem progressão de regime. Nas unidades da Fundação Casa são relata-dos frequentemente casos de maus tratos, tortura, vio-lência física, emocional e sexual. Essa instituição não tem por objetivo a ressocialização dos internos, mas a manutenção de um projeto de neutralização dos jovens

encarcerados, de modo que aumentar o tempo de in-ternação só agrava o problema.

Desse modo, pautas urgentes como a mobili-zação contra a redução da maioridade penal e a refor-ma do ECA devem ser encampadas de forma prioritária pela esquerda, uma vez que representam um grande retrocesso de conquistas obtidas após muita luta dos movimentos sociais e da sociedade civil na Constitui-ção de 1988.

Ao falarmos da criminalização da juventude e da população negra e pobre, é essencial entender como principal instrumento jurídico desta criminalização, consubstanciada na política de guerra às drogas. Se-gundo dados do Departamento Penitenciário Nacional, cerca de 26% de toda a população carcerária está pre-sa devido ao cometimento de um delito relacionado às drogas, sendo negra a imensa maioria dessa popula-ção. Isso ocorre devido ao tipo penal aberto que prevê o tráfico de drogas como crime, presente na Lei 11.343/06. Como não há parâmetro para definir em números o que configura tráfico e o que é considerado para consumo próprio, fica a critério de delegados e juízes dizer quem é usuário e quem é traficante. O re-sultado é a incidência violenta da seletividade do direi-to penal sobre a massa pobre, negra e jovem.

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Nesse sentido é necessária a adoção de uma nova política de drogas por parte do Estado brasileiro. Um primeiro passo é o julgamento do Recurso Extraordinário 635.659 pelo Supremo Tribunal Federal, onde o Relator, Ministro Gilmar Mendes, deu voto no sentido de descriminalizar o porte de drogas para uso pessoal, defendendo a inconstitucionalidade do art. 28 da Lei 11.343. Ainda, o Ministro Luis Roberto Barroso deu voto favorável e que determinou a quantidade de 25g maconha como quantidade máxima de porte para consumo pessoal, o que representa um avanço para que parem de prender arbitrariamente a população preta, pobre e periférica. No entanto, a descriminalização é somente uma primeira etapa frente à necessidade de legalização de todas as drogas e de uma correspondente política de desencarcera-mento de todas as pessoas vítimas da guerra às drogas.

Nenhum tipo de cárcere tem como fim a ressocialização e a reinserção dos internos na sociedade, como repetidamente se fala, mas sim a punição e o afastamento de pessoas indesejáveis ao sistema, tor-nando-o mais eficiente. Assim, o fim do sistema carcerário deve estar no horizonte de nossas batalhas, pois apenas compreendendo-o como instrumento opressor da classe dominante é que poderemos avançar no seu combate, lutando contra a desigualdade sem nos pautarmos apenas pela agenda contra o retroces-so.

Qual o papel do XI de Agosto nessa luta?

O Canto Geral, ao longo deste ano de gestão fez diversos eventos e atos na tentativa

de mobilizar as estudantes da faculdade contra a Redução da Maioridade Penal sempre contando com o apoio e dando centralidade para os movimentos sociais que são os protagonistas dessa pauta. Ao lon-go do ano, o que o XI fez?

Um grande ato contra a redução da maioridade penal no salão nobre, que contou com a presença de importantes juristas e professores da casa e de fora, movimentos sociais e ONGs que encampam a luta contra o sistema carcerário atual;

O XI acompanhou a Frente Estadual contra a redução comparecendo às reuniões e constru-indo o ato do dia 15 de Outubro;

Na Semana do XI, que ocorreu no segundo semestre, promovemos um dia inteiro de mobilização contra a redução, feita em conjunto com a faculdade de direito da USP de Ribei-rão. Foram feitos cartazes e uma faixa que foi estendida no viaduto que dá acesso ao termi-nal Bandeira. Junto à colocação dessa faixa houve a panfletagem em conjunto com pessoas de outros coletivos e independentes, na tentativa de dialogar com a população. O dia termi-nou com um evento que contou com a presença das Mães de Maio e de outros militantes do movimento negro;

Realizou-se também o Seminário de Combate ao Racismo que foi feito como parte do acordo judicial do Centro Acadêmico com o estudante João Custódio que sofreu um caso de racismo no ano passado em uma das cervejadas realizadas pelo XI. O seminário contou com a presença de diversos militantes do movimento negro. O Seminário conseguiu atrair muitas pessoas de dentro e de fora da faculdade que encheram o auditório.

Intervenções que o Canto Geral realizou nas aulas do secretário de segurança pública, Alexandre de Moraes que é também professor das matérias Direito Constitucional e Direitos Fundamentais na Faculdade. Uma das intervenções teve uma repercussão bastante grande, chegando a aparecer no Datena, na Folha de São Paulo, no Jornal Nacional e outros meio da mídia de massas. As intervenções começaram como forma de questionamento ao secretário sobre o genocídio de Osasco, mas acabaram abordando também o tiroteio que ocorreu na Sé e resultou na morte de duas pessoas, sendo que uma delas com mais de 20 tiros. Assim, foi questionado a sistemática violência policial que se dá contra população pobre, preta e periférica, seja por policiais fardados, seja pelos grupos de extermínio formado por policiais militares. As intervenções foram construídas em conjunto com as Mães de Maio e com de-mais alunos da Faculdade.

Ainda sobre essa questão a gestão participou da audiência pública que discutiu o genocídio de Osasco.

Sobre a pauta da desmilitarização da PM, o Centro Acadêmico foi convidado para parti-cipar do seminário da ALESP que discutia a adoção ou não do Ciclo Completo na investiga-ção de crimes. Essa medida faz com que crimes pela cometidos pela polícia sejam investi-gados por ela própria e estabelece, também, que qualquer delito seria investigado pela polí-cia militar, ou seja, o infrator é conduzido a um quartel, não a uma delegacia de polícia. Nós do Canto Geral, nos colocamos contrários a medida que dá aos policiais militares o poder investigar seus próprios crimes.

19 Canto geral 2016

São Paulo: 20 anos de retrocesso

O projeto que enfrentamos na USP, de corte de gastos sociais, sucateamento e privatização dos serviços públicos é apenas parte do programa neoliberal imple-mentado pelo PSDB que está no comando do governo de São Paulo desde 1º de janeiro de 1995. A política é de cortes de verbas em saúde, educação, transporte, sanea-mento e lazer, buscando privatizar ou possibilitar que o mercado lucre com esses serviços, ao passo que se au-menta o aparato repressor do estado para conter a insa-tisfação social. Esse ano essa política privatista foi ex-pressa nos atos de privatização do fornecimento de água, no corte de verba nas universidades estaduais, na demissão de mais de 2 mil professores na rede estadual, na falta de pagamento dos professores na greve em São Paulo, e pelo recente anúncio do fechamento de mais de 150 escolas da rede pública do Estado. Passamos pela pior crise hídrica de nossa história, devi-da à falta de investimento por parte do governador e a privatização da Sabesp, que corta a água na periferia mas distribui milhões de lucros para os acionistas da bolsa de Nova York. A grande mídia trabalha pela prote-ção da imagem do governo estadual, que sai ileso, e por isso, mesmo com grande porção da população diaria-mente sem água, o Governador do Estado, Geraldo Alck-min, recebeu em Brasília um prêmio por boa gestão

frente à crise hídrica. Outro aspecto do governo tucano, é a sua prio-

ridade na construção de penitenciárias, em detrimento de universidades estaduais e escolas. Desde o govweo-Mário Covas, há 20 anos, até a atual gestão de Geraldo Alckmin, o governo paulista não criou nenhuma univer-sidade estadual. No entanto, neste mesmo período, fo-ram construídas 53 penitenciárias, além de outras uni-dades prisionais.

Também foram recorrentes os escândalos de corrupção nos transportes metropolitanos como trem e metrô, que nunca passaram pela prometida expansão, muito menos chegaram perto da periferia, onde se gasta até 3 horas para se chegar ao emprego. Novamente blindados pela grande mídia, pouco se fala na investiga-ção dessas denúncias, mesmo com o governandor assu-mindo que não haverá crescimento de nenhuma linha pelos próximos anos e colocando os documentos em si-gilo pelos próximos 25 anos.

Como forma de enfrentamento, este ano o XI de Agosto passou a ser uma das entidades que compõe o Fórum dos Movimentos Sociais de São Paulo, uma arti-culação ampla dos setores populares e movimentos soci-ais para combater os retrocessos tucanos e propor um programa de oposição para o Estado.

Canto geral 2016

Os cortes realizados pelo atu-al ministro da Fazenda Joa-quim Levy, reduziram em 9 bilhões o orçamento para a educação no Brasil. Tais cor-tes fazem parte da política

de ajuste fiscal neoliberal realizado pelo ministro, que prioriza cortes em políticas sociais, provocando diversos transtornos, principalmente, para as Universidades Fede-rais pelo Brasil e para as alunas beneficiadas por progra-mas como o Prouni e o FIES. Após os cortes serem feitos várias instituições federais decretaram greve, frente ao fato de não haver fundos para o pagamento do salário dos funcionários. Assim, os cortes em bolsas e outras modalidades de permanência, assim como os cortes no financiamento e bolsas para faculdades privadas fazem com que as alunas não tenham como se manter nas uni-versidades. É preciso reverter esse cenário, e pressionar o governo para que a saída da crise seja o investimento nos gastos públicos, como a educação, e lutar para que o Fundo Social do Pré-Sal se concretize, para que os ga-nhos dessse recurso sejam revertidos para a educação pública universal e de qualidade.

Nas universidades estaduais paulistas é essencial apontar a implementação do projeto neoliberal das ges-tões do PSDB no Estado, que investe cada vez menos em gastos sociais, e desenvolve um projeto de privatização da universidade pública, a partir, principalmente, do sucateamento e desmonte, com investimentos insuficien-tes, infraestrutura inadequada e profissionais cada vez menos valorizados, promovendo a privatização indireta, com a introdução de mecanismos de administração e gerenciamento corporativo-empresariais e busca de re-cursos junto ao mercado. A educação é vista como mer-

cadoria, e temas como cobrança de mensalidade é defen-dido pelos setores conservadores e a grande mídia.

Sob uma aparente crise orçamentária, há uma tentativa de legimitar a precarização da universidade. Todavia, nada se fala sobre o constante aluguel de salas, inclusive na nossa unidade ou sobre os projetos de insta-lação de câmeras e catracas já concretizados em diver-sos campi. Esses gastos mostram como a suposta crise orçamentária é relativa, vez que há disponibilidade de recursos para instalar um projeto gentrificante de uni-versidade. Assim, vemos a universidade realizar cortes de bolsas de extensão e pesquisa, auxílio moradia e ali-mento, de vagas para moradia estudantil e nas creches.

Vemos ainda a proposição de uma comissão res-trita a pessoas próximas ao reitor Zago para a estrutura-ção do novo Estatuto da USP, perpetuando uma política fechada e pouco transparente. O novo estatuto substitui o vigente, feito durante a ditadura civil-mlitar, cuja re-dação. Atualmente, a comissão formada para a redação do novo estatuto conta com a presença do Diretor da nossa Faculdade, Rogério Cruz e Tucci. A postura do atu-al Diretor durante o seu primeiro ano de gestão o mos-trou refratário ao diálogo com as estudantes, e o princi-pal projeto defendido por ele é a colocação de câmeras no “território livre” das arcadas. Proposta essa que o Canto Geral é veementemente contra, pois entende que a mesma tem objetivos muito nítidos: intensificar do pro-cesso de gentrificação do espaço da Faculdade e promo-ver a criminalização dos movimentos estudantil e sindi-cal, que frequentemente fazem intervenções no pátio e nas salas, e que assim, serão coagidos a não se posicionar diante da constante vigilância que se estabelecerá com a implementação de câmeras. Vale lembrar, ainda, que a instalação destes instrumentos em nada diminuirá os casos de furto dentro da faculdade, dado que se trata de uma medida paliativa para a criminalização das condu-tas e não para a sua prevenção.

Cortes na educação

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Canto geral 2016

ENEM

Historicamente, a USP é uma universidade criada para e pela elite, sendo a forma de ingresso um claro exemplo disso. Assim, a luta pela democratização da universidade passa, para além da per-manência estudantil, pela implementação de cotas raciais, pauta tradicional do movimento negro e do movimento estudantil, que foi propositalmente negligenciada por anos pela direção da USP. So-mente após a intensificação das lutas por cotas nos útlimos anos, o julgamento favorável do próprios Supremo Tribunal Federal e a Ocupação Preta em diversas faculdades da USP, que conseguimos no ultimo ano uma vitória, abrindo margem para que, de fato, se democratize o acesso à USP.

A entrada pelo SISU, com a previsão do ENEM como forma subsidiária à entrada de estudantes na USP pela fuvest foi um avanço, porém limitado: No total serão 1.489 vagas pelo Sisu no vestibular de 2016, ou seja, 13,5% das 11.057 vagas ofertadas, a maioria delas (1.159) foi destinada apenas a estudantes que fizeram os três anos do ensino médio na rede pública, 214 vagas foram reservadas a estudantes auto declarados negros ou indígenas e 330 vagas serão abertas para a ampla concorrên-cia. Porém, os cursos mais disputados e também mais elitizados como Engenharia, Medicina, Arquite-tura e Urbanismo e Economia não aderiram ao ingresso pelo ENEM.

A recepção destes estudantes na Faculdade de Direito deve ser prioridade. Atualmente a Casa dos Estudantes não tem condição de comportar nem metade dos alunos que entrarão com a porcenta-gem de vagas destinadas para os ingressantes do ENEM, para além disso, está muito difícil conseguir bolsas nas extensões e pesquisa da faculdade que sofrem um reiterado boicote da universidade.

Hoje, o XI de Agosto é deficitário, e não consegue pagar a dívida acumulada com a Casa das Estudantes, necessária para a manutenção do espaço e dos funcionários que lá trabalham. Nesse sen-tido, preocupadas com a permanência durante o primeiro semestre encampamos uma campanha pe-lo saque para pagar a dívida com a Casa (e outras entidades), e reestruturar a tesouraria do XI, para que essa situação não se perpetuasse.

Entendemos, contudo, que a mobilização no sentido de cobrar políticas amplas de permanên-cia estudantil da Universidade ainda precisa ser massificada. É preciso, junto da Casa e de outros co-letivos, fortalecer a Frente Permanente por Permanência.

Construção conhecimento x extensão popular: O Canto Geral sempre se colocou ao lado dos coletivos de extensão popular, que buscam a re-

al interação do conhecimento acadêmico com o popular, se propondo à não hierarquização dos sabe-res. Desde sua criação, o Coletivo esteve ao lado dessas extensões nas lutas por mais créditos, verbas, espaço físico e reconhecimento institucional. Por fim, entendemos como nossa a tarefa de fortalecer a extensão popular. Isso porque entendemos que disputar os rumos da universidade é disputar a socie-dade como um todo, visto que é a disputa da produção de conhecimento.

“ E talvez assim possamos aproximar um pouquinho o dia de justiça que os guaranis, perseguidores do paraíso, esperam para sempre. Acreditam os guaranis que o mundo quer ser ou-tro, quer nascer de novo, e por isso o mundo suplica ao Pai Pri-meiro que solte o tigre azul que dorme debaixo de sua rede.

Acreditam os guaranis que algum dia esse tigre justiceiro rasgará este mundo para que outro mundo, sem mal e sem mor-te, sem culpa ou proibição, nasça de suas cinzas. Acreditam os guaranis, e eu também, que a vida bem que merece essa festa.”

Eduardo Galeano

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Se cada hora vem com sua morte Se o tempo é um covil de ladrões Se ares já não são tão bons ares E a vida é nada mais que um alvo móvel

Você perguntará por que cantamos

Se nossos bravos ficam sem abraço A pátria está morrendo de tristeza E o coração do homem se fez cacos Antes mesmo de explodir a vergonha

Você perguntará por que cantamos

Se estamos longe como um horizonte Se lá ficaram as árvores e céu Se cada noite é sempre alguma ausência E cada despertar um desencontro

Você perguntará por que cantamos

Cantamos porque o rio esta soando E quando soa o rio / soa o rio Cantamos porque o cruel não tem nome

Embora tenha nome seu destino

Cantamos pela infância e porque tudo E porque algum futuro e porque o povo Cantamos porque os sobreviventes E nossos mortos querem que cantemos

Cantamos porque o grito só não basta E já não basta o pranto nem a raiva Cantamos porque cremos nessa gente E porque venceremos a derrota

Cantamos porque o sol nos reconhece E porque o campo cheira a primavera E porque nesse talo e lá no fruto Cada pergunta tem a sua resposta

Cantamos porque chove sobre o sulco E somos militantes desta vida E porque não podemos nem queremos Deixar que a canção se torne cinzas.

POR QUE CANTAMOS?

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