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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE FÍSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA ENRIQUE RONALD YAPUCHURA OCARIS CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO ENDOCARPO DE BABAÇU TRATADO TERMICAMENTE VITÓRIA 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPIacuteRITO SANTO

CENTRO DE CIEcircNCIAS EXATAS

DEPARTAMENTO DE FIacuteSICA

PROGRAMA DE POacuteS-GRADUACcedilAtildeO EM FIacuteSICA

ENRIQUE RONALD YAPUCHURA OCARIS

CARACTERIZACcedilAtildeO POR ESPECTROSCOPIA

RAMANDO ENDOCARPO DE BABACcedilU TRATADO

TERMICAMENTE

VITOacuteRIA

2014

ENRIQUE RONALD YAPUCHURA OCARIS

CARACTERIZACcedilAtildeO POR ESPECTROSCOPIA

RAMAN DO ENDOCARPO DE BABACcedilU TRATADO

TERMICAMENTE

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Fiacutesica do Centrode Ciecircncias Exatas

da Universidade Federal do Espiacuterito Santo como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de mestre em

Ciecircncias Fiacutesicas na aacuterea de concentraccedilatildeo Fiacutesica da

Mateacuteria Condensada

Orientador Prof Dr Francisco Guilherme Emmerich

VITOacuteRIA

2014

ENRIQUE RONALD YAPUCHURA OCARIS

CARACTERIZACcedilAtildeO POR ESPECTROSCOPIA

RAMAN DO ENDOCARPO DE BABACcedilU TRATADO

TERMICAMENTE

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Fiacutesica do Centrode

Ciecircncias Exatas da Universidade Federal do Espiacuterito Santo como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de mestre em Ciecircncias Fiacutesicas na aacuterea de concentraccedilatildeo

Fiacutesica da Mateacuteria Condensada

Aprovada em dede 2014

COMISSAtildeO EXAMINADORA

_____________________________________

Prof Dr Francisco Guilherme Emmerich

Universidade Federal do Espiacuterito Santo

Orientador

______________________________________

Prof Dr Luiz Gustavode OliveiraLopes Canccedilado

Universidade Federal de Minas Gerais

_____________________________________

Prof Dr Jair Carlos Checon de Freitas

Universidade Federal do Espiacuterito Santo

_____________________________________

Prof Dr Alfredo Gonccedilalves Cunha

Universidade Federal do Espiacuterito Santo

(membro suplente)

A meu Pai Gregorio e irmatildes Ayde e

Mercedes e sobrinhas pelo apoio

desde sempre

AGRADECIMENTOS

Ao Prof Francisco G Emmerich pela orientaccedilatildeo paciecircncia e ensinamentos durante

o desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo

Ao Prof Jair C C Freitas um agradecimento especial que foi a primeira pessoa que

conversei para trabalharneste grupo de pesquisa e pelas discussotildees e

esclarecimentos diversos

Ao Prof Alfredo G Cunha que proporcionou informaccedilatildeo sobre o funcionamento do

equipamento Raman

Ao Prof Wanderlatilde L Scopel pelo esclarecimento em diversos temas

AoDr Miguel Schettino pelas discussotildees e pela revisatildeo do trabalho

Ao Pedro Dixini pela atenccedilatildeo e dedicaccedilatildeo na aquisiccedilatildeo das mediccedilotildees do

espectrocircmetro Raman

A LabPetroUFES pelo uso do equipamento e de suas instalaccedilotildees

A Capes pela concessatildeo da bolsa

A todos os membros de Laboratoacuterio de Materiais Carbonosos e Plasma Teacutermico

pela ajuda e paciecircncia

A todos os amigos e familiares que sempre apoiaram e acreditaram nos meus

sonhos

A todos os meus conterracircneos que fizeram a convivecircncia no Brasil mais faacutecil

ldquoO que sabemos eacute uma gota o queignoramos eacute

um oceanordquo

Isaac Newton

RESUMO

Este trabalho trata da caracterizaccedilatildeo por espectroscopia Raman do endocarpo

dococo de babaccedilu (biomassa nativa do nordeste e centro de Brasil) submetido a

temperaturas de tratamento teacutermico (TTT) entre 800 e 2200 ordmC com intervalos de

200 ordmC Temos tambeacutem amostras tratadas em temperaturas menores (200 400 e

650 ordmC) que permitem observar a evoluccedilatildeo estrutural inicial do material Durante o

processo de carbonizaccedilatildeo que envolve o tratamento teacutermico das amostras em

atmosfera inerte se produz grandes mudanccedilas estruturais no material carbonoso

estudado que eacute do tipo natildeo-grafitizaacutevel A ferramenta usada neste trabalho para

observar estas mudanccedilas eacute a espectroscopia Raman Esta teacutecnica tem permitido

determinar-se o tamanho meacutedioLa dos cristalitos tipo-grafite do material na direccedilatildeo

dos planos em materiais carbonosos grafitizaacuteveis e grafiacuteticos como nanografites e

avaliar a cristalinidade e os defeitos estruturais Foram usadas duas energias (EL) de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentam as bandas D e Gcaracteriacutesticas dos materiais carbonosos Foi

observado o comportamento dispersivoda banda D onde a frequecircncia do maacuteximo

da intensidadevaria quando se muda a energia de excitaccedilatildeo laser Esta

caracteriacutesticaeacute o contraacuterio do observado na banda G que exibe um comportamento

natildeo dispersivoAs bandas D e G apresentam picos alargados para as amostras com

baixas TTT Com o aumento da TTT as larguras dos picos D e G diminuem e as

linhas ficam mais proeminentes devido ao processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

material Esta carbonizaccedilatildeoque ocorre com um crescimento expressivo dos

cristalitos tipo grafite do material eacute evidenciada com a apariccedilatildeo da banda Grsquo A

banda Grsquo pode ser vista com maior clareza nos espectros obtidos com a fonte laser

de 532 nm das amostras com TTT a partir de 1800 ordmC Com a fonte laser de 633nm

soacute observamos a banda Grsquo na amostra com TTT de 2200 ordmC Nas amostras com TTT

a partir de 2000 ordmC eacute observada a presenccedila da banda Drsquo bem como de outros picos

menores (2D D+G e T+D)

As medidas dos valores deLa do endocarpo de babaccedilu com TTT entre 800 e 2200 degC

obtidas com difraccedilatildeo de raios-X foram utilizadas para verificar a relaccedilatildeo linear

(desenvolvida por Canccedilado et al para nanografites) entre 119871119886 e o inverso da razatildeo

entre as intensidades integradas das bandas Raman D e G (IDIG) levando em conta

a energia de excitaccedilatildeo laser Observou-se que a dependecircncia de Lacom a energia

de excitaccedilatildeo laser como sugerido por Canccedilado et al foi fundamental para colocar

as medidas Raman obtidas a diferentes energias laser sobre a mesma curva

Entretantoa reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 com melhor coeficiente de

correlaccedilatildeo para o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente natildeo passa pela

origem como nos nanografites Nossos resultados indicam que para materiais

carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a

expressatildeo de Canccedilado et al requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear) negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

Foram tambeacutem observadas linhas Raman devido a presenccedila de estruturas contendo

siliacutecio no material Na TTT de 800 degC temos regiotildees da amostra com uma linha

associada agrave presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha

associada agrave presenccedila de SiC Isto acontece porque o endocarpo de babaccedilu conteacutem

SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir da TTT de 1200

degC como eacute verificado com outras teacutecnicas As linhas Raman devido agrave presenccedila de

siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros pois as

estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo o material

do ponto de vista microscoacutepico como eacute detalhado num mapeamento da amostra

com TTT de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio

com a teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

ABSTRACT

This work deals with the characterization by Raman spectroscopy of the endocarp of

babassu coconut (a native biomass in the Northeast and Central Brazil) subjected to

heat-treatment temperatures (HTT) between 800 and 2200deg C with intervals of 200deg

C We have also samples heat treated at lower temperatures (200 400 and 650 ordmC)

that allowus to observe the initial structural evolution of the material During the

carbonization process which involves heat treatment of the samples in an inert

atmosphere large structural changes in the studied carbon material (which is non-

graphitizable) are produced The used tool in this work to observe these changes is

Raman spectroscopy This technique has allowed determining thein-plane average

size Laof the graphite-like crystallites of the material for graphitizable and graphitic

carbons such as nanografites and evaluating the crystallinity and the structural

defects Two different laser excitation energies (EL) were used 532 nm (233 eV) and

633 nm (196 eV)

The Raman spectra of all samples of heat treated endocarp of babassu

coconutpresent the bands D and G characteristics of carbonaceous materials The

dispersivebehavior of theD band was observed wherethe frequency

ofmaximumintensityvarieswhen changingthelaserexcitation energySuch behavioris

the oppositeof that observedin theGband whichexhibits anon-

dispersivebehaviorTheD and G bandshavebroadpeaksfor the sampleswith lowHTT

With increasingHTTthe widthsof the peaksD and Gdecrease and the lines becomes

more prominent due tocarbonizationprocessThiscarbonization that occurswith

asignificant growthofthe graphite-likecrystallites of the materialis evidencedby the

appearanceof theGband TheGrsquo band can be seenmore clearlyin the

spectraobtainedwith the532 nmlasersourcewithHTTsamplesfrom1800 degCWiththe

lasersource of633nmtheGband is onlyobservedin the samplewithHTTof

2200ordmCInsamples from the withHTTof 2000 degCthe presenceof theDrsquo bandisobserved

as well as otherminor peaks(2D D+Gand T+D)

Measurements of La values for the samples with HTT between 800 and 2200 degC

obtained with x-ray diffraction were used to verify the linear relationship (developed

by Canccedilado et al for nanografites) between La and the inverse of the ratio of

integrated intensities of the Raman bands D and G(IDIG) taking into account the laser

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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25 p 417 1987

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43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

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45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 2: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

ENRIQUE RONALD YAPUCHURA OCARIS

CARACTERIZACcedilAtildeO POR ESPECTROSCOPIA

RAMAN DO ENDOCARPO DE BABACcedilU TRATADO

TERMICAMENTE

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-

Graduaccedilatildeo em Fiacutesica do Centrode Ciecircncias Exatas

da Universidade Federal do Espiacuterito Santo como

requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de mestre em

Ciecircncias Fiacutesicas na aacuterea de concentraccedilatildeo Fiacutesica da

Mateacuteria Condensada

Orientador Prof Dr Francisco Guilherme Emmerich

VITOacuteRIA

2014

ENRIQUE RONALD YAPUCHURA OCARIS

CARACTERIZACcedilAtildeO POR ESPECTROSCOPIA

RAMAN DO ENDOCARPO DE BABACcedilU TRATADO

TERMICAMENTE

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Fiacutesica do Centrode

Ciecircncias Exatas da Universidade Federal do Espiacuterito Santo como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de mestre em Ciecircncias Fiacutesicas na aacuterea de concentraccedilatildeo

Fiacutesica da Mateacuteria Condensada

Aprovada em dede 2014

COMISSAtildeO EXAMINADORA

_____________________________________

Prof Dr Francisco Guilherme Emmerich

Universidade Federal do Espiacuterito Santo

Orientador

______________________________________

Prof Dr Luiz Gustavode OliveiraLopes Canccedilado

Universidade Federal de Minas Gerais

_____________________________________

Prof Dr Jair Carlos Checon de Freitas

Universidade Federal do Espiacuterito Santo

_____________________________________

Prof Dr Alfredo Gonccedilalves Cunha

Universidade Federal do Espiacuterito Santo

(membro suplente)

A meu Pai Gregorio e irmatildes Ayde e

Mercedes e sobrinhas pelo apoio

desde sempre

AGRADECIMENTOS

Ao Prof Francisco G Emmerich pela orientaccedilatildeo paciecircncia e ensinamentos durante

o desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo

Ao Prof Jair C C Freitas um agradecimento especial que foi a primeira pessoa que

conversei para trabalharneste grupo de pesquisa e pelas discussotildees e

esclarecimentos diversos

Ao Prof Alfredo G Cunha que proporcionou informaccedilatildeo sobre o funcionamento do

equipamento Raman

Ao Prof Wanderlatilde L Scopel pelo esclarecimento em diversos temas

AoDr Miguel Schettino pelas discussotildees e pela revisatildeo do trabalho

Ao Pedro Dixini pela atenccedilatildeo e dedicaccedilatildeo na aquisiccedilatildeo das mediccedilotildees do

espectrocircmetro Raman

A LabPetroUFES pelo uso do equipamento e de suas instalaccedilotildees

A Capes pela concessatildeo da bolsa

A todos os membros de Laboratoacuterio de Materiais Carbonosos e Plasma Teacutermico

pela ajuda e paciecircncia

A todos os amigos e familiares que sempre apoiaram e acreditaram nos meus

sonhos

A todos os meus conterracircneos que fizeram a convivecircncia no Brasil mais faacutecil

ldquoO que sabemos eacute uma gota o queignoramos eacute

um oceanordquo

Isaac Newton

RESUMO

Este trabalho trata da caracterizaccedilatildeo por espectroscopia Raman do endocarpo

dococo de babaccedilu (biomassa nativa do nordeste e centro de Brasil) submetido a

temperaturas de tratamento teacutermico (TTT) entre 800 e 2200 ordmC com intervalos de

200 ordmC Temos tambeacutem amostras tratadas em temperaturas menores (200 400 e

650 ordmC) que permitem observar a evoluccedilatildeo estrutural inicial do material Durante o

processo de carbonizaccedilatildeo que envolve o tratamento teacutermico das amostras em

atmosfera inerte se produz grandes mudanccedilas estruturais no material carbonoso

estudado que eacute do tipo natildeo-grafitizaacutevel A ferramenta usada neste trabalho para

observar estas mudanccedilas eacute a espectroscopia Raman Esta teacutecnica tem permitido

determinar-se o tamanho meacutedioLa dos cristalitos tipo-grafite do material na direccedilatildeo

dos planos em materiais carbonosos grafitizaacuteveis e grafiacuteticos como nanografites e

avaliar a cristalinidade e os defeitos estruturais Foram usadas duas energias (EL) de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentam as bandas D e Gcaracteriacutesticas dos materiais carbonosos Foi

observado o comportamento dispersivoda banda D onde a frequecircncia do maacuteximo

da intensidadevaria quando se muda a energia de excitaccedilatildeo laser Esta

caracteriacutesticaeacute o contraacuterio do observado na banda G que exibe um comportamento

natildeo dispersivoAs bandas D e G apresentam picos alargados para as amostras com

baixas TTT Com o aumento da TTT as larguras dos picos D e G diminuem e as

linhas ficam mais proeminentes devido ao processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

material Esta carbonizaccedilatildeoque ocorre com um crescimento expressivo dos

cristalitos tipo grafite do material eacute evidenciada com a apariccedilatildeo da banda Grsquo A

banda Grsquo pode ser vista com maior clareza nos espectros obtidos com a fonte laser

de 532 nm das amostras com TTT a partir de 1800 ordmC Com a fonte laser de 633nm

soacute observamos a banda Grsquo na amostra com TTT de 2200 ordmC Nas amostras com TTT

a partir de 2000 ordmC eacute observada a presenccedila da banda Drsquo bem como de outros picos

menores (2D D+G e T+D)

As medidas dos valores deLa do endocarpo de babaccedilu com TTT entre 800 e 2200 degC

obtidas com difraccedilatildeo de raios-X foram utilizadas para verificar a relaccedilatildeo linear

(desenvolvida por Canccedilado et al para nanografites) entre 119871119886 e o inverso da razatildeo

entre as intensidades integradas das bandas Raman D e G (IDIG) levando em conta

a energia de excitaccedilatildeo laser Observou-se que a dependecircncia de Lacom a energia

de excitaccedilatildeo laser como sugerido por Canccedilado et al foi fundamental para colocar

as medidas Raman obtidas a diferentes energias laser sobre a mesma curva

Entretantoa reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 com melhor coeficiente de

correlaccedilatildeo para o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente natildeo passa pela

origem como nos nanografites Nossos resultados indicam que para materiais

carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a

expressatildeo de Canccedilado et al requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear) negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

Foram tambeacutem observadas linhas Raman devido a presenccedila de estruturas contendo

siliacutecio no material Na TTT de 800 degC temos regiotildees da amostra com uma linha

associada agrave presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha

associada agrave presenccedila de SiC Isto acontece porque o endocarpo de babaccedilu conteacutem

SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir da TTT de 1200

degC como eacute verificado com outras teacutecnicas As linhas Raman devido agrave presenccedila de

siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros pois as

estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo o material

do ponto de vista microscoacutepico como eacute detalhado num mapeamento da amostra

com TTT de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio

com a teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

ABSTRACT

This work deals with the characterization by Raman spectroscopy of the endocarp of

babassu coconut (a native biomass in the Northeast and Central Brazil) subjected to

heat-treatment temperatures (HTT) between 800 and 2200deg C with intervals of 200deg

C We have also samples heat treated at lower temperatures (200 400 and 650 ordmC)

that allowus to observe the initial structural evolution of the material During the

carbonization process which involves heat treatment of the samples in an inert

atmosphere large structural changes in the studied carbon material (which is non-

graphitizable) are produced The used tool in this work to observe these changes is

Raman spectroscopy This technique has allowed determining thein-plane average

size Laof the graphite-like crystallites of the material for graphitizable and graphitic

carbons such as nanografites and evaluating the crystallinity and the structural

defects Two different laser excitation energies (EL) were used 532 nm (233 eV) and

633 nm (196 eV)

The Raman spectra of all samples of heat treated endocarp of babassu

coconutpresent the bands D and G characteristics of carbonaceous materials The

dispersivebehavior of theD band was observed wherethe frequency

ofmaximumintensityvarieswhen changingthelaserexcitation energySuch behavioris

the oppositeof that observedin theGband whichexhibits anon-

dispersivebehaviorTheD and G bandshavebroadpeaksfor the sampleswith lowHTT

With increasingHTTthe widthsof the peaksD and Gdecrease and the lines becomes

more prominent due tocarbonizationprocessThiscarbonization that occurswith

asignificant growthofthe graphite-likecrystallites of the materialis evidencedby the

appearanceof theGband TheGrsquo band can be seenmore clearlyin the

spectraobtainedwith the532 nmlasersourcewithHTTsamplesfrom1800 degCWiththe

lasersource of633nmtheGband is onlyobservedin the samplewithHTTof

2200ordmCInsamples from the withHTTof 2000 degCthe presenceof theDrsquo bandisobserved

as well as otherminor peaks(2D D+Gand T+D)

Measurements of La values for the samples with HTT between 800 and 2200 degC

obtained with x-ray diffraction were used to verify the linear relationship (developed

by Canccedilado et al for nanografites) between La and the inverse of the ratio of

integrated intensities of the Raman bands D and G(IDIG) taking into account the laser

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 3: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

ENRIQUE RONALD YAPUCHURA OCARIS

CARACTERIZACcedilAtildeO POR ESPECTROSCOPIA

RAMAN DO ENDOCARPO DE BABACcedilU TRATADO

TERMICAMENTE

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Fiacutesica do Centrode

Ciecircncias Exatas da Universidade Federal do Espiacuterito Santo como requisito parcial

para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de mestre em Ciecircncias Fiacutesicas na aacuterea de concentraccedilatildeo

Fiacutesica da Mateacuteria Condensada

Aprovada em dede 2014

COMISSAtildeO EXAMINADORA

_____________________________________

Prof Dr Francisco Guilherme Emmerich

Universidade Federal do Espiacuterito Santo

Orientador

______________________________________

Prof Dr Luiz Gustavode OliveiraLopes Canccedilado

Universidade Federal de Minas Gerais

_____________________________________

Prof Dr Jair Carlos Checon de Freitas

Universidade Federal do Espiacuterito Santo

_____________________________________

Prof Dr Alfredo Gonccedilalves Cunha

Universidade Federal do Espiacuterito Santo

(membro suplente)

A meu Pai Gregorio e irmatildes Ayde e

Mercedes e sobrinhas pelo apoio

desde sempre

AGRADECIMENTOS

Ao Prof Francisco G Emmerich pela orientaccedilatildeo paciecircncia e ensinamentos durante

o desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo

Ao Prof Jair C C Freitas um agradecimento especial que foi a primeira pessoa que

conversei para trabalharneste grupo de pesquisa e pelas discussotildees e

esclarecimentos diversos

Ao Prof Alfredo G Cunha que proporcionou informaccedilatildeo sobre o funcionamento do

equipamento Raman

Ao Prof Wanderlatilde L Scopel pelo esclarecimento em diversos temas

AoDr Miguel Schettino pelas discussotildees e pela revisatildeo do trabalho

Ao Pedro Dixini pela atenccedilatildeo e dedicaccedilatildeo na aquisiccedilatildeo das mediccedilotildees do

espectrocircmetro Raman

A LabPetroUFES pelo uso do equipamento e de suas instalaccedilotildees

A Capes pela concessatildeo da bolsa

A todos os membros de Laboratoacuterio de Materiais Carbonosos e Plasma Teacutermico

pela ajuda e paciecircncia

A todos os amigos e familiares que sempre apoiaram e acreditaram nos meus

sonhos

A todos os meus conterracircneos que fizeram a convivecircncia no Brasil mais faacutecil

ldquoO que sabemos eacute uma gota o queignoramos eacute

um oceanordquo

Isaac Newton

RESUMO

Este trabalho trata da caracterizaccedilatildeo por espectroscopia Raman do endocarpo

dococo de babaccedilu (biomassa nativa do nordeste e centro de Brasil) submetido a

temperaturas de tratamento teacutermico (TTT) entre 800 e 2200 ordmC com intervalos de

200 ordmC Temos tambeacutem amostras tratadas em temperaturas menores (200 400 e

650 ordmC) que permitem observar a evoluccedilatildeo estrutural inicial do material Durante o

processo de carbonizaccedilatildeo que envolve o tratamento teacutermico das amostras em

atmosfera inerte se produz grandes mudanccedilas estruturais no material carbonoso

estudado que eacute do tipo natildeo-grafitizaacutevel A ferramenta usada neste trabalho para

observar estas mudanccedilas eacute a espectroscopia Raman Esta teacutecnica tem permitido

determinar-se o tamanho meacutedioLa dos cristalitos tipo-grafite do material na direccedilatildeo

dos planos em materiais carbonosos grafitizaacuteveis e grafiacuteticos como nanografites e

avaliar a cristalinidade e os defeitos estruturais Foram usadas duas energias (EL) de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentam as bandas D e Gcaracteriacutesticas dos materiais carbonosos Foi

observado o comportamento dispersivoda banda D onde a frequecircncia do maacuteximo

da intensidadevaria quando se muda a energia de excitaccedilatildeo laser Esta

caracteriacutesticaeacute o contraacuterio do observado na banda G que exibe um comportamento

natildeo dispersivoAs bandas D e G apresentam picos alargados para as amostras com

baixas TTT Com o aumento da TTT as larguras dos picos D e G diminuem e as

linhas ficam mais proeminentes devido ao processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

material Esta carbonizaccedilatildeoque ocorre com um crescimento expressivo dos

cristalitos tipo grafite do material eacute evidenciada com a apariccedilatildeo da banda Grsquo A

banda Grsquo pode ser vista com maior clareza nos espectros obtidos com a fonte laser

de 532 nm das amostras com TTT a partir de 1800 ordmC Com a fonte laser de 633nm

soacute observamos a banda Grsquo na amostra com TTT de 2200 ordmC Nas amostras com TTT

a partir de 2000 ordmC eacute observada a presenccedila da banda Drsquo bem como de outros picos

menores (2D D+G e T+D)

As medidas dos valores deLa do endocarpo de babaccedilu com TTT entre 800 e 2200 degC

obtidas com difraccedilatildeo de raios-X foram utilizadas para verificar a relaccedilatildeo linear

(desenvolvida por Canccedilado et al para nanografites) entre 119871119886 e o inverso da razatildeo

entre as intensidades integradas das bandas Raman D e G (IDIG) levando em conta

a energia de excitaccedilatildeo laser Observou-se que a dependecircncia de Lacom a energia

de excitaccedilatildeo laser como sugerido por Canccedilado et al foi fundamental para colocar

as medidas Raman obtidas a diferentes energias laser sobre a mesma curva

Entretantoa reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 com melhor coeficiente de

correlaccedilatildeo para o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente natildeo passa pela

origem como nos nanografites Nossos resultados indicam que para materiais

carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a

expressatildeo de Canccedilado et al requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear) negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

Foram tambeacutem observadas linhas Raman devido a presenccedila de estruturas contendo

siliacutecio no material Na TTT de 800 degC temos regiotildees da amostra com uma linha

associada agrave presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha

associada agrave presenccedila de SiC Isto acontece porque o endocarpo de babaccedilu conteacutem

SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir da TTT de 1200

degC como eacute verificado com outras teacutecnicas As linhas Raman devido agrave presenccedila de

siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros pois as

estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo o material

do ponto de vista microscoacutepico como eacute detalhado num mapeamento da amostra

com TTT de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio

com a teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

ABSTRACT

This work deals with the characterization by Raman spectroscopy of the endocarp of

babassu coconut (a native biomass in the Northeast and Central Brazil) subjected to

heat-treatment temperatures (HTT) between 800 and 2200deg C with intervals of 200deg

C We have also samples heat treated at lower temperatures (200 400 and 650 ordmC)

that allowus to observe the initial structural evolution of the material During the

carbonization process which involves heat treatment of the samples in an inert

atmosphere large structural changes in the studied carbon material (which is non-

graphitizable) are produced The used tool in this work to observe these changes is

Raman spectroscopy This technique has allowed determining thein-plane average

size Laof the graphite-like crystallites of the material for graphitizable and graphitic

carbons such as nanografites and evaluating the crystallinity and the structural

defects Two different laser excitation energies (EL) were used 532 nm (233 eV) and

633 nm (196 eV)

The Raman spectra of all samples of heat treated endocarp of babassu

coconutpresent the bands D and G characteristics of carbonaceous materials The

dispersivebehavior of theD band was observed wherethe frequency

ofmaximumintensityvarieswhen changingthelaserexcitation energySuch behavioris

the oppositeof that observedin theGband whichexhibits anon-

dispersivebehaviorTheD and G bandshavebroadpeaksfor the sampleswith lowHTT

With increasingHTTthe widthsof the peaksD and Gdecrease and the lines becomes

more prominent due tocarbonizationprocessThiscarbonization that occurswith

asignificant growthofthe graphite-likecrystallites of the materialis evidencedby the

appearanceof theGband TheGrsquo band can be seenmore clearlyin the

spectraobtainedwith the532 nmlasersourcewithHTTsamplesfrom1800 degCWiththe

lasersource of633nmtheGband is onlyobservedin the samplewithHTTof

2200ordmCInsamples from the withHTTof 2000 degCthe presenceof theDrsquo bandisobserved

as well as otherminor peaks(2D D+Gand T+D)

Measurements of La values for the samples with HTT between 800 and 2200 degC

obtained with x-ray diffraction were used to verify the linear relationship (developed

by Canccedilado et al for nanografites) between La and the inverse of the ratio of

integrated intensities of the Raman bands D and G(IDIG) taking into account the laser

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

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teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

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33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

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25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

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44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

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45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 4: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

A meu Pai Gregorio e irmatildes Ayde e

Mercedes e sobrinhas pelo apoio

desde sempre

AGRADECIMENTOS

Ao Prof Francisco G Emmerich pela orientaccedilatildeo paciecircncia e ensinamentos durante

o desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo

Ao Prof Jair C C Freitas um agradecimento especial que foi a primeira pessoa que

conversei para trabalharneste grupo de pesquisa e pelas discussotildees e

esclarecimentos diversos

Ao Prof Alfredo G Cunha que proporcionou informaccedilatildeo sobre o funcionamento do

equipamento Raman

Ao Prof Wanderlatilde L Scopel pelo esclarecimento em diversos temas

AoDr Miguel Schettino pelas discussotildees e pela revisatildeo do trabalho

Ao Pedro Dixini pela atenccedilatildeo e dedicaccedilatildeo na aquisiccedilatildeo das mediccedilotildees do

espectrocircmetro Raman

A LabPetroUFES pelo uso do equipamento e de suas instalaccedilotildees

A Capes pela concessatildeo da bolsa

A todos os membros de Laboratoacuterio de Materiais Carbonosos e Plasma Teacutermico

pela ajuda e paciecircncia

A todos os amigos e familiares que sempre apoiaram e acreditaram nos meus

sonhos

A todos os meus conterracircneos que fizeram a convivecircncia no Brasil mais faacutecil

ldquoO que sabemos eacute uma gota o queignoramos eacute

um oceanordquo

Isaac Newton

RESUMO

Este trabalho trata da caracterizaccedilatildeo por espectroscopia Raman do endocarpo

dococo de babaccedilu (biomassa nativa do nordeste e centro de Brasil) submetido a

temperaturas de tratamento teacutermico (TTT) entre 800 e 2200 ordmC com intervalos de

200 ordmC Temos tambeacutem amostras tratadas em temperaturas menores (200 400 e

650 ordmC) que permitem observar a evoluccedilatildeo estrutural inicial do material Durante o

processo de carbonizaccedilatildeo que envolve o tratamento teacutermico das amostras em

atmosfera inerte se produz grandes mudanccedilas estruturais no material carbonoso

estudado que eacute do tipo natildeo-grafitizaacutevel A ferramenta usada neste trabalho para

observar estas mudanccedilas eacute a espectroscopia Raman Esta teacutecnica tem permitido

determinar-se o tamanho meacutedioLa dos cristalitos tipo-grafite do material na direccedilatildeo

dos planos em materiais carbonosos grafitizaacuteveis e grafiacuteticos como nanografites e

avaliar a cristalinidade e os defeitos estruturais Foram usadas duas energias (EL) de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentam as bandas D e Gcaracteriacutesticas dos materiais carbonosos Foi

observado o comportamento dispersivoda banda D onde a frequecircncia do maacuteximo

da intensidadevaria quando se muda a energia de excitaccedilatildeo laser Esta

caracteriacutesticaeacute o contraacuterio do observado na banda G que exibe um comportamento

natildeo dispersivoAs bandas D e G apresentam picos alargados para as amostras com

baixas TTT Com o aumento da TTT as larguras dos picos D e G diminuem e as

linhas ficam mais proeminentes devido ao processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

material Esta carbonizaccedilatildeoque ocorre com um crescimento expressivo dos

cristalitos tipo grafite do material eacute evidenciada com a apariccedilatildeo da banda Grsquo A

banda Grsquo pode ser vista com maior clareza nos espectros obtidos com a fonte laser

de 532 nm das amostras com TTT a partir de 1800 ordmC Com a fonte laser de 633nm

soacute observamos a banda Grsquo na amostra com TTT de 2200 ordmC Nas amostras com TTT

a partir de 2000 ordmC eacute observada a presenccedila da banda Drsquo bem como de outros picos

menores (2D D+G e T+D)

As medidas dos valores deLa do endocarpo de babaccedilu com TTT entre 800 e 2200 degC

obtidas com difraccedilatildeo de raios-X foram utilizadas para verificar a relaccedilatildeo linear

(desenvolvida por Canccedilado et al para nanografites) entre 119871119886 e o inverso da razatildeo

entre as intensidades integradas das bandas Raman D e G (IDIG) levando em conta

a energia de excitaccedilatildeo laser Observou-se que a dependecircncia de Lacom a energia

de excitaccedilatildeo laser como sugerido por Canccedilado et al foi fundamental para colocar

as medidas Raman obtidas a diferentes energias laser sobre a mesma curva

Entretantoa reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 com melhor coeficiente de

correlaccedilatildeo para o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente natildeo passa pela

origem como nos nanografites Nossos resultados indicam que para materiais

carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a

expressatildeo de Canccedilado et al requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear) negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

Foram tambeacutem observadas linhas Raman devido a presenccedila de estruturas contendo

siliacutecio no material Na TTT de 800 degC temos regiotildees da amostra com uma linha

associada agrave presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha

associada agrave presenccedila de SiC Isto acontece porque o endocarpo de babaccedilu conteacutem

SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir da TTT de 1200

degC como eacute verificado com outras teacutecnicas As linhas Raman devido agrave presenccedila de

siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros pois as

estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo o material

do ponto de vista microscoacutepico como eacute detalhado num mapeamento da amostra

com TTT de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio

com a teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

ABSTRACT

This work deals with the characterization by Raman spectroscopy of the endocarp of

babassu coconut (a native biomass in the Northeast and Central Brazil) subjected to

heat-treatment temperatures (HTT) between 800 and 2200deg C with intervals of 200deg

C We have also samples heat treated at lower temperatures (200 400 and 650 ordmC)

that allowus to observe the initial structural evolution of the material During the

carbonization process which involves heat treatment of the samples in an inert

atmosphere large structural changes in the studied carbon material (which is non-

graphitizable) are produced The used tool in this work to observe these changes is

Raman spectroscopy This technique has allowed determining thein-plane average

size Laof the graphite-like crystallites of the material for graphitizable and graphitic

carbons such as nanografites and evaluating the crystallinity and the structural

defects Two different laser excitation energies (EL) were used 532 nm (233 eV) and

633 nm (196 eV)

The Raman spectra of all samples of heat treated endocarp of babassu

coconutpresent the bands D and G characteristics of carbonaceous materials The

dispersivebehavior of theD band was observed wherethe frequency

ofmaximumintensityvarieswhen changingthelaserexcitation energySuch behavioris

the oppositeof that observedin theGband whichexhibits anon-

dispersivebehaviorTheD and G bandshavebroadpeaksfor the sampleswith lowHTT

With increasingHTTthe widthsof the peaksD and Gdecrease and the lines becomes

more prominent due tocarbonizationprocessThiscarbonization that occurswith

asignificant growthofthe graphite-likecrystallites of the materialis evidencedby the

appearanceof theGband TheGrsquo band can be seenmore clearlyin the

spectraobtainedwith the532 nmlasersourcewithHTTsamplesfrom1800 degCWiththe

lasersource of633nmtheGband is onlyobservedin the samplewithHTTof

2200ordmCInsamples from the withHTTof 2000 degCthe presenceof theDrsquo bandisobserved

as well as otherminor peaks(2D D+Gand T+D)

Measurements of La values for the samples with HTT between 800 and 2200 degC

obtained with x-ray diffraction were used to verify the linear relationship (developed

by Canccedilado et al for nanografites) between La and the inverse of the ratio of

integrated intensities of the Raman bands D and G(IDIG) taking into account the laser

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

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Page 5: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

AGRADECIMENTOS

Ao Prof Francisco G Emmerich pela orientaccedilatildeo paciecircncia e ensinamentos durante

o desenvolvimento desta dissertaccedilatildeo

Ao Prof Jair C C Freitas um agradecimento especial que foi a primeira pessoa que

conversei para trabalharneste grupo de pesquisa e pelas discussotildees e

esclarecimentos diversos

Ao Prof Alfredo G Cunha que proporcionou informaccedilatildeo sobre o funcionamento do

equipamento Raman

Ao Prof Wanderlatilde L Scopel pelo esclarecimento em diversos temas

AoDr Miguel Schettino pelas discussotildees e pela revisatildeo do trabalho

Ao Pedro Dixini pela atenccedilatildeo e dedicaccedilatildeo na aquisiccedilatildeo das mediccedilotildees do

espectrocircmetro Raman

A LabPetroUFES pelo uso do equipamento e de suas instalaccedilotildees

A Capes pela concessatildeo da bolsa

A todos os membros de Laboratoacuterio de Materiais Carbonosos e Plasma Teacutermico

pela ajuda e paciecircncia

A todos os amigos e familiares que sempre apoiaram e acreditaram nos meus

sonhos

A todos os meus conterracircneos que fizeram a convivecircncia no Brasil mais faacutecil

ldquoO que sabemos eacute uma gota o queignoramos eacute

um oceanordquo

Isaac Newton

RESUMO

Este trabalho trata da caracterizaccedilatildeo por espectroscopia Raman do endocarpo

dococo de babaccedilu (biomassa nativa do nordeste e centro de Brasil) submetido a

temperaturas de tratamento teacutermico (TTT) entre 800 e 2200 ordmC com intervalos de

200 ordmC Temos tambeacutem amostras tratadas em temperaturas menores (200 400 e

650 ordmC) que permitem observar a evoluccedilatildeo estrutural inicial do material Durante o

processo de carbonizaccedilatildeo que envolve o tratamento teacutermico das amostras em

atmosfera inerte se produz grandes mudanccedilas estruturais no material carbonoso

estudado que eacute do tipo natildeo-grafitizaacutevel A ferramenta usada neste trabalho para

observar estas mudanccedilas eacute a espectroscopia Raman Esta teacutecnica tem permitido

determinar-se o tamanho meacutedioLa dos cristalitos tipo-grafite do material na direccedilatildeo

dos planos em materiais carbonosos grafitizaacuteveis e grafiacuteticos como nanografites e

avaliar a cristalinidade e os defeitos estruturais Foram usadas duas energias (EL) de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentam as bandas D e Gcaracteriacutesticas dos materiais carbonosos Foi

observado o comportamento dispersivoda banda D onde a frequecircncia do maacuteximo

da intensidadevaria quando se muda a energia de excitaccedilatildeo laser Esta

caracteriacutesticaeacute o contraacuterio do observado na banda G que exibe um comportamento

natildeo dispersivoAs bandas D e G apresentam picos alargados para as amostras com

baixas TTT Com o aumento da TTT as larguras dos picos D e G diminuem e as

linhas ficam mais proeminentes devido ao processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

material Esta carbonizaccedilatildeoque ocorre com um crescimento expressivo dos

cristalitos tipo grafite do material eacute evidenciada com a apariccedilatildeo da banda Grsquo A

banda Grsquo pode ser vista com maior clareza nos espectros obtidos com a fonte laser

de 532 nm das amostras com TTT a partir de 1800 ordmC Com a fonte laser de 633nm

soacute observamos a banda Grsquo na amostra com TTT de 2200 ordmC Nas amostras com TTT

a partir de 2000 ordmC eacute observada a presenccedila da banda Drsquo bem como de outros picos

menores (2D D+G e T+D)

As medidas dos valores deLa do endocarpo de babaccedilu com TTT entre 800 e 2200 degC

obtidas com difraccedilatildeo de raios-X foram utilizadas para verificar a relaccedilatildeo linear

(desenvolvida por Canccedilado et al para nanografites) entre 119871119886 e o inverso da razatildeo

entre as intensidades integradas das bandas Raman D e G (IDIG) levando em conta

a energia de excitaccedilatildeo laser Observou-se que a dependecircncia de Lacom a energia

de excitaccedilatildeo laser como sugerido por Canccedilado et al foi fundamental para colocar

as medidas Raman obtidas a diferentes energias laser sobre a mesma curva

Entretantoa reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 com melhor coeficiente de

correlaccedilatildeo para o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente natildeo passa pela

origem como nos nanografites Nossos resultados indicam que para materiais

carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a

expressatildeo de Canccedilado et al requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear) negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

Foram tambeacutem observadas linhas Raman devido a presenccedila de estruturas contendo

siliacutecio no material Na TTT de 800 degC temos regiotildees da amostra com uma linha

associada agrave presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha

associada agrave presenccedila de SiC Isto acontece porque o endocarpo de babaccedilu conteacutem

SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir da TTT de 1200

degC como eacute verificado com outras teacutecnicas As linhas Raman devido agrave presenccedila de

siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros pois as

estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo o material

do ponto de vista microscoacutepico como eacute detalhado num mapeamento da amostra

com TTT de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio

com a teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

ABSTRACT

This work deals with the characterization by Raman spectroscopy of the endocarp of

babassu coconut (a native biomass in the Northeast and Central Brazil) subjected to

heat-treatment temperatures (HTT) between 800 and 2200deg C with intervals of 200deg

C We have also samples heat treated at lower temperatures (200 400 and 650 ordmC)

that allowus to observe the initial structural evolution of the material During the

carbonization process which involves heat treatment of the samples in an inert

atmosphere large structural changes in the studied carbon material (which is non-

graphitizable) are produced The used tool in this work to observe these changes is

Raman spectroscopy This technique has allowed determining thein-plane average

size Laof the graphite-like crystallites of the material for graphitizable and graphitic

carbons such as nanografites and evaluating the crystallinity and the structural

defects Two different laser excitation energies (EL) were used 532 nm (233 eV) and

633 nm (196 eV)

The Raman spectra of all samples of heat treated endocarp of babassu

coconutpresent the bands D and G characteristics of carbonaceous materials The

dispersivebehavior of theD band was observed wherethe frequency

ofmaximumintensityvarieswhen changingthelaserexcitation energySuch behavioris

the oppositeof that observedin theGband whichexhibits anon-

dispersivebehaviorTheD and G bandshavebroadpeaksfor the sampleswith lowHTT

With increasingHTTthe widthsof the peaksD and Gdecrease and the lines becomes

more prominent due tocarbonizationprocessThiscarbonization that occurswith

asignificant growthofthe graphite-likecrystallites of the materialis evidencedby the

appearanceof theGband TheGrsquo band can be seenmore clearlyin the

spectraobtainedwith the532 nmlasersourcewithHTTsamplesfrom1800 degCWiththe

lasersource of633nmtheGband is onlyobservedin the samplewithHTTof

2200ordmCInsamples from the withHTTof 2000 degCthe presenceof theDrsquo bandisobserved

as well as otherminor peaks(2D D+Gand T+D)

Measurements of La values for the samples with HTT between 800 and 2200 degC

obtained with x-ray diffraction were used to verify the linear relationship (developed

by Canccedilado et al for nanografites) between La and the inverse of the ratio of

integrated intensities of the Raman bands D and G(IDIG) taking into account the laser

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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2684-2686 1997

Page 6: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

ldquoO que sabemos eacute uma gota o queignoramos eacute

um oceanordquo

Isaac Newton

RESUMO

Este trabalho trata da caracterizaccedilatildeo por espectroscopia Raman do endocarpo

dococo de babaccedilu (biomassa nativa do nordeste e centro de Brasil) submetido a

temperaturas de tratamento teacutermico (TTT) entre 800 e 2200 ordmC com intervalos de

200 ordmC Temos tambeacutem amostras tratadas em temperaturas menores (200 400 e

650 ordmC) que permitem observar a evoluccedilatildeo estrutural inicial do material Durante o

processo de carbonizaccedilatildeo que envolve o tratamento teacutermico das amostras em

atmosfera inerte se produz grandes mudanccedilas estruturais no material carbonoso

estudado que eacute do tipo natildeo-grafitizaacutevel A ferramenta usada neste trabalho para

observar estas mudanccedilas eacute a espectroscopia Raman Esta teacutecnica tem permitido

determinar-se o tamanho meacutedioLa dos cristalitos tipo-grafite do material na direccedilatildeo

dos planos em materiais carbonosos grafitizaacuteveis e grafiacuteticos como nanografites e

avaliar a cristalinidade e os defeitos estruturais Foram usadas duas energias (EL) de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentam as bandas D e Gcaracteriacutesticas dos materiais carbonosos Foi

observado o comportamento dispersivoda banda D onde a frequecircncia do maacuteximo

da intensidadevaria quando se muda a energia de excitaccedilatildeo laser Esta

caracteriacutesticaeacute o contraacuterio do observado na banda G que exibe um comportamento

natildeo dispersivoAs bandas D e G apresentam picos alargados para as amostras com

baixas TTT Com o aumento da TTT as larguras dos picos D e G diminuem e as

linhas ficam mais proeminentes devido ao processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

material Esta carbonizaccedilatildeoque ocorre com um crescimento expressivo dos

cristalitos tipo grafite do material eacute evidenciada com a apariccedilatildeo da banda Grsquo A

banda Grsquo pode ser vista com maior clareza nos espectros obtidos com a fonte laser

de 532 nm das amostras com TTT a partir de 1800 ordmC Com a fonte laser de 633nm

soacute observamos a banda Grsquo na amostra com TTT de 2200 ordmC Nas amostras com TTT

a partir de 2000 ordmC eacute observada a presenccedila da banda Drsquo bem como de outros picos

menores (2D D+G e T+D)

As medidas dos valores deLa do endocarpo de babaccedilu com TTT entre 800 e 2200 degC

obtidas com difraccedilatildeo de raios-X foram utilizadas para verificar a relaccedilatildeo linear

(desenvolvida por Canccedilado et al para nanografites) entre 119871119886 e o inverso da razatildeo

entre as intensidades integradas das bandas Raman D e G (IDIG) levando em conta

a energia de excitaccedilatildeo laser Observou-se que a dependecircncia de Lacom a energia

de excitaccedilatildeo laser como sugerido por Canccedilado et al foi fundamental para colocar

as medidas Raman obtidas a diferentes energias laser sobre a mesma curva

Entretantoa reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 com melhor coeficiente de

correlaccedilatildeo para o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente natildeo passa pela

origem como nos nanografites Nossos resultados indicam que para materiais

carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a

expressatildeo de Canccedilado et al requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear) negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

Foram tambeacutem observadas linhas Raman devido a presenccedila de estruturas contendo

siliacutecio no material Na TTT de 800 degC temos regiotildees da amostra com uma linha

associada agrave presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha

associada agrave presenccedila de SiC Isto acontece porque o endocarpo de babaccedilu conteacutem

SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir da TTT de 1200

degC como eacute verificado com outras teacutecnicas As linhas Raman devido agrave presenccedila de

siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros pois as

estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo o material

do ponto de vista microscoacutepico como eacute detalhado num mapeamento da amostra

com TTT de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio

com a teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

ABSTRACT

This work deals with the characterization by Raman spectroscopy of the endocarp of

babassu coconut (a native biomass in the Northeast and Central Brazil) subjected to

heat-treatment temperatures (HTT) between 800 and 2200deg C with intervals of 200deg

C We have also samples heat treated at lower temperatures (200 400 and 650 ordmC)

that allowus to observe the initial structural evolution of the material During the

carbonization process which involves heat treatment of the samples in an inert

atmosphere large structural changes in the studied carbon material (which is non-

graphitizable) are produced The used tool in this work to observe these changes is

Raman spectroscopy This technique has allowed determining thein-plane average

size Laof the graphite-like crystallites of the material for graphitizable and graphitic

carbons such as nanografites and evaluating the crystallinity and the structural

defects Two different laser excitation energies (EL) were used 532 nm (233 eV) and

633 nm (196 eV)

The Raman spectra of all samples of heat treated endocarp of babassu

coconutpresent the bands D and G characteristics of carbonaceous materials The

dispersivebehavior of theD band was observed wherethe frequency

ofmaximumintensityvarieswhen changingthelaserexcitation energySuch behavioris

the oppositeof that observedin theGband whichexhibits anon-

dispersivebehaviorTheD and G bandshavebroadpeaksfor the sampleswith lowHTT

With increasingHTTthe widthsof the peaksD and Gdecrease and the lines becomes

more prominent due tocarbonizationprocessThiscarbonization that occurswith

asignificant growthofthe graphite-likecrystallites of the materialis evidencedby the

appearanceof theGband TheGrsquo band can be seenmore clearlyin the

spectraobtainedwith the532 nmlasersourcewithHTTsamplesfrom1800 degCWiththe

lasersource of633nmtheGband is onlyobservedin the samplewithHTTof

2200ordmCInsamples from the withHTTof 2000 degCthe presenceof theDrsquo bandisobserved

as well as otherminor peaks(2D D+Gand T+D)

Measurements of La values for the samples with HTT between 800 and 2200 degC

obtained with x-ray diffraction were used to verify the linear relationship (developed

by Canccedilado et al for nanografites) between La and the inverse of the ratio of

integrated intensities of the Raman bands D and G(IDIG) taking into account the laser

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 7: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

RESUMO

Este trabalho trata da caracterizaccedilatildeo por espectroscopia Raman do endocarpo

dococo de babaccedilu (biomassa nativa do nordeste e centro de Brasil) submetido a

temperaturas de tratamento teacutermico (TTT) entre 800 e 2200 ordmC com intervalos de

200 ordmC Temos tambeacutem amostras tratadas em temperaturas menores (200 400 e

650 ordmC) que permitem observar a evoluccedilatildeo estrutural inicial do material Durante o

processo de carbonizaccedilatildeo que envolve o tratamento teacutermico das amostras em

atmosfera inerte se produz grandes mudanccedilas estruturais no material carbonoso

estudado que eacute do tipo natildeo-grafitizaacutevel A ferramenta usada neste trabalho para

observar estas mudanccedilas eacute a espectroscopia Raman Esta teacutecnica tem permitido

determinar-se o tamanho meacutedioLa dos cristalitos tipo-grafite do material na direccedilatildeo

dos planos em materiais carbonosos grafitizaacuteveis e grafiacuteticos como nanografites e

avaliar a cristalinidade e os defeitos estruturais Foram usadas duas energias (EL) de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentam as bandas D e Gcaracteriacutesticas dos materiais carbonosos Foi

observado o comportamento dispersivoda banda D onde a frequecircncia do maacuteximo

da intensidadevaria quando se muda a energia de excitaccedilatildeo laser Esta

caracteriacutesticaeacute o contraacuterio do observado na banda G que exibe um comportamento

natildeo dispersivoAs bandas D e G apresentam picos alargados para as amostras com

baixas TTT Com o aumento da TTT as larguras dos picos D e G diminuem e as

linhas ficam mais proeminentes devido ao processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

material Esta carbonizaccedilatildeoque ocorre com um crescimento expressivo dos

cristalitos tipo grafite do material eacute evidenciada com a apariccedilatildeo da banda Grsquo A

banda Grsquo pode ser vista com maior clareza nos espectros obtidos com a fonte laser

de 532 nm das amostras com TTT a partir de 1800 ordmC Com a fonte laser de 633nm

soacute observamos a banda Grsquo na amostra com TTT de 2200 ordmC Nas amostras com TTT

a partir de 2000 ordmC eacute observada a presenccedila da banda Drsquo bem como de outros picos

menores (2D D+G e T+D)

As medidas dos valores deLa do endocarpo de babaccedilu com TTT entre 800 e 2200 degC

obtidas com difraccedilatildeo de raios-X foram utilizadas para verificar a relaccedilatildeo linear

(desenvolvida por Canccedilado et al para nanografites) entre 119871119886 e o inverso da razatildeo

entre as intensidades integradas das bandas Raman D e G (IDIG) levando em conta

a energia de excitaccedilatildeo laser Observou-se que a dependecircncia de Lacom a energia

de excitaccedilatildeo laser como sugerido por Canccedilado et al foi fundamental para colocar

as medidas Raman obtidas a diferentes energias laser sobre a mesma curva

Entretantoa reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 com melhor coeficiente de

correlaccedilatildeo para o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente natildeo passa pela

origem como nos nanografites Nossos resultados indicam que para materiais

carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a

expressatildeo de Canccedilado et al requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear) negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

Foram tambeacutem observadas linhas Raman devido a presenccedila de estruturas contendo

siliacutecio no material Na TTT de 800 degC temos regiotildees da amostra com uma linha

associada agrave presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha

associada agrave presenccedila de SiC Isto acontece porque o endocarpo de babaccedilu conteacutem

SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir da TTT de 1200

degC como eacute verificado com outras teacutecnicas As linhas Raman devido agrave presenccedila de

siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros pois as

estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo o material

do ponto de vista microscoacutepico como eacute detalhado num mapeamento da amostra

com TTT de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio

com a teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

ABSTRACT

This work deals with the characterization by Raman spectroscopy of the endocarp of

babassu coconut (a native biomass in the Northeast and Central Brazil) subjected to

heat-treatment temperatures (HTT) between 800 and 2200deg C with intervals of 200deg

C We have also samples heat treated at lower temperatures (200 400 and 650 ordmC)

that allowus to observe the initial structural evolution of the material During the

carbonization process which involves heat treatment of the samples in an inert

atmosphere large structural changes in the studied carbon material (which is non-

graphitizable) are produced The used tool in this work to observe these changes is

Raman spectroscopy This technique has allowed determining thein-plane average

size Laof the graphite-like crystallites of the material for graphitizable and graphitic

carbons such as nanografites and evaluating the crystallinity and the structural

defects Two different laser excitation energies (EL) were used 532 nm (233 eV) and

633 nm (196 eV)

The Raman spectra of all samples of heat treated endocarp of babassu

coconutpresent the bands D and G characteristics of carbonaceous materials The

dispersivebehavior of theD band was observed wherethe frequency

ofmaximumintensityvarieswhen changingthelaserexcitation energySuch behavioris

the oppositeof that observedin theGband whichexhibits anon-

dispersivebehaviorTheD and G bandshavebroadpeaksfor the sampleswith lowHTT

With increasingHTTthe widthsof the peaksD and Gdecrease and the lines becomes

more prominent due tocarbonizationprocessThiscarbonization that occurswith

asignificant growthofthe graphite-likecrystallites of the materialis evidencedby the

appearanceof theGband TheGrsquo band can be seenmore clearlyin the

spectraobtainedwith the532 nmlasersourcewithHTTsamplesfrom1800 degCWiththe

lasersource of633nmtheGband is onlyobservedin the samplewithHTTof

2200ordmCInsamples from the withHTTof 2000 degCthe presenceof theDrsquo bandisobserved

as well as otherminor peaks(2D D+Gand T+D)

Measurements of La values for the samples with HTT between 800 and 2200 degC

obtained with x-ray diffraction were used to verify the linear relationship (developed

by Canccedilado et al for nanografites) between La and the inverse of the ratio of

integrated intensities of the Raman bands D and G(IDIG) taking into account the laser

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

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Page 8: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

entre as intensidades integradas das bandas Raman D e G (IDIG) levando em conta

a energia de excitaccedilatildeo laser Observou-se que a dependecircncia de Lacom a energia

de excitaccedilatildeo laser como sugerido por Canccedilado et al foi fundamental para colocar

as medidas Raman obtidas a diferentes energias laser sobre a mesma curva

Entretantoa reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 com melhor coeficiente de

correlaccedilatildeo para o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente natildeo passa pela

origem como nos nanografites Nossos resultados indicam que para materiais

carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a

expressatildeo de Canccedilado et al requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear) negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1 119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

Foram tambeacutem observadas linhas Raman devido a presenccedila de estruturas contendo

siliacutecio no material Na TTT de 800 degC temos regiotildees da amostra com uma linha

associada agrave presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha

associada agrave presenccedila de SiC Isto acontece porque o endocarpo de babaccedilu conteacutem

SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir da TTT de 1200

degC como eacute verificado com outras teacutecnicas As linhas Raman devido agrave presenccedila de

siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros pois as

estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo o material

do ponto de vista microscoacutepico como eacute detalhado num mapeamento da amostra

com TTT de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio

com a teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

ABSTRACT

This work deals with the characterization by Raman spectroscopy of the endocarp of

babassu coconut (a native biomass in the Northeast and Central Brazil) subjected to

heat-treatment temperatures (HTT) between 800 and 2200deg C with intervals of 200deg

C We have also samples heat treated at lower temperatures (200 400 and 650 ordmC)

that allowus to observe the initial structural evolution of the material During the

carbonization process which involves heat treatment of the samples in an inert

atmosphere large structural changes in the studied carbon material (which is non-

graphitizable) are produced The used tool in this work to observe these changes is

Raman spectroscopy This technique has allowed determining thein-plane average

size Laof the graphite-like crystallites of the material for graphitizable and graphitic

carbons such as nanografites and evaluating the crystallinity and the structural

defects Two different laser excitation energies (EL) were used 532 nm (233 eV) and

633 nm (196 eV)

The Raman spectra of all samples of heat treated endocarp of babassu

coconutpresent the bands D and G characteristics of carbonaceous materials The

dispersivebehavior of theD band was observed wherethe frequency

ofmaximumintensityvarieswhen changingthelaserexcitation energySuch behavioris

the oppositeof that observedin theGband whichexhibits anon-

dispersivebehaviorTheD and G bandshavebroadpeaksfor the sampleswith lowHTT

With increasingHTTthe widthsof the peaksD and Gdecrease and the lines becomes

more prominent due tocarbonizationprocessThiscarbonization that occurswith

asignificant growthofthe graphite-likecrystallites of the materialis evidencedby the

appearanceof theGband TheGrsquo band can be seenmore clearlyin the

spectraobtainedwith the532 nmlasersourcewithHTTsamplesfrom1800 degCWiththe

lasersource of633nmtheGband is onlyobservedin the samplewithHTTof

2200ordmCInsamples from the withHTTof 2000 degCthe presenceof theDrsquo bandisobserved

as well as otherminor peaks(2D D+Gand T+D)

Measurements of La values for the samples with HTT between 800 and 2200 degC

obtained with x-ray diffraction were used to verify the linear relationship (developed

by Canccedilado et al for nanografites) between La and the inverse of the ratio of

integrated intensities of the Raman bands D and G(IDIG) taking into account the laser

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

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Page 9: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

ABSTRACT

This work deals with the characterization by Raman spectroscopy of the endocarp of

babassu coconut (a native biomass in the Northeast and Central Brazil) subjected to

heat-treatment temperatures (HTT) between 800 and 2200deg C with intervals of 200deg

C We have also samples heat treated at lower temperatures (200 400 and 650 ordmC)

that allowus to observe the initial structural evolution of the material During the

carbonization process which involves heat treatment of the samples in an inert

atmosphere large structural changes in the studied carbon material (which is non-

graphitizable) are produced The used tool in this work to observe these changes is

Raman spectroscopy This technique has allowed determining thein-plane average

size Laof the graphite-like crystallites of the material for graphitizable and graphitic

carbons such as nanografites and evaluating the crystallinity and the structural

defects Two different laser excitation energies (EL) were used 532 nm (233 eV) and

633 nm (196 eV)

The Raman spectra of all samples of heat treated endocarp of babassu

coconutpresent the bands D and G characteristics of carbonaceous materials The

dispersivebehavior of theD band was observed wherethe frequency

ofmaximumintensityvarieswhen changingthelaserexcitation energySuch behavioris

the oppositeof that observedin theGband whichexhibits anon-

dispersivebehaviorTheD and G bandshavebroadpeaksfor the sampleswith lowHTT

With increasingHTTthe widthsof the peaksD and Gdecrease and the lines becomes

more prominent due tocarbonizationprocessThiscarbonization that occurswith

asignificant growthofthe graphite-likecrystallites of the materialis evidencedby the

appearanceof theGband TheGrsquo band can be seenmore clearlyin the

spectraobtainedwith the532 nmlasersourcewithHTTsamplesfrom1800 degCWiththe

lasersource of633nmtheGband is onlyobservedin the samplewithHTTof

2200ordmCInsamples from the withHTTof 2000 degCthe presenceof theDrsquo bandisobserved

as well as otherminor peaks(2D D+Gand T+D)

Measurements of La values for the samples with HTT between 800 and 2200 degC

obtained with x-ray diffraction were used to verify the linear relationship (developed

by Canccedilado et al for nanografites) between La and the inverse of the ratio of

integrated intensities of the Raman bands D and G(IDIG) taking into account the laser

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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Page 10: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

excitation energy It was observed that the dependence of La on the laser excitation

energy as suggested by Canccedilado et al was fundamental in putting the Raman

measurements obtained at different laser energies in the same curve However

thestraight lineof (119868119863 119868119866 ) 1198641198714as a function of 1119871119886with the best correlation coefficient

for the heat-treated endocarp of babassu coconut does not pass through the origin

as in nanografites Our results indicate that for non-graphitizable carbons such as the

heat-treated endocarp of babassu coconut the expression of Canccedilado et al require

the addition of a negative constant term (a linear coefficient) in the straight line of

(119868119863 119868119866 ) 1198641198714 as a function of 1119871119886 The new obtained expression indicated that the

maximum size of the crystallite size Lafor heat treated endocarp of babassu coconut

is of the order of 11 nm which is compatible value for a non-graphitizable material It

would be important that future works with other materials could check the results

here obtained including the values of the obtained constants (angular coefficient and

linear coefficient of the fitting)

Raman lines due to the presence of structures containing Silicon in the material were

also observed In the HTT of 800degC we have regions of the sample with a line

associated with the presence of SiO2 while in In the HTT of 2000degC we have a line

associated with the presence of SiC This occurs is because the endocarp of

babassu contains SiO2 in the mineral matter (ashes) which is transformed into SiC

from HTT of 1200degC as it is verified with other techniques The Raman lines due to

the presence of silicon (in the form of SiO2or SiC) are not observed in all spectra

because the structures containing silicon are not evenly distributed throughout the

material from the microscopic point of view as it is detailed in a mapping of the

sample with HTT of 800degC Thestructural changes involving silicon studied with

Raman Spectroscopy will be reported in more details in future works

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 11: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

RESUMEN

Este trabajo aborda la caracterizacioacuten por espectroscopia Raman del endocarpio

coco de babasuacute (biomasa nativa en el noreste y centro de Brasil) sometida a

temperaturas de tratamiento teacutermico (TTT) entre 800 a 2200degC con intervalos de 200

degC Tambieacuten tenemos muestras tratadas a temperaturas menores(200 400 e 650

ordmC) que permiten observar la evolucioacuten estructuralinicial del material Durante el

proceso de carbonizacioacuten que consiste en el tratamiento teacutermico de las muestras en

una atmoacutesfera inerte produce grandes cambios estructurales en el material

carbonoso estudiado que es del tipo no grafitizable La herramienta utilizada en este

trabajo para observar estos cambios es la espectroscopia Raman Esta teacutecnica ha

permitido determinar el tamantildeoLamediode los cristalitos tipo-grafitodel material en la

direccioacuten de los planos en materiales carbonosos grafitizaacuteveis grafito como en

nanografitos y evaluar la cristalinidad y los defectos estructuralesFueron utilizadas

dos energiacuteas (EL) de excitacioacuten laser 532 nm (233 eV) y 633 nm (196 eV)

Los espectros Raman de todas las muestras del endocarpio babasuacute carbonizado

presentan las bandas D y Gcaracteriacutesticas de los materiales carbonosos Fue

observado el comportamiento dispersivo de la banda D donde la frecuencia del

maacuteximo de la intensidad variacutea cuando se cambia la energiacutea de excitacioacuten laser Esta

caracteriacutestica es contrario a lo observado en la banda G que exhibe un

comportamiento no dispersivo Las bandas D y Gpresentan picos anchos para las

muestras con baja TTT Con el aumento de la TTT el ancho de los picos tienden a

disminuir y las liacuteneas quedan maacutes prominentes debido a la carbonizacioacuten que sufre

el material Esta carbonizacioacuten ocurre con un crecimiento expresivo de los cristalitos

tipo grafito del material que es verificada con la aparicioacuten de la banda G La banda

G puede verse con mayor claridad en los espectros obtenidos con la fuente laser de

532 nm de las muestras con TTT a partir de 1800 degCCon lafuente de laser 633 nm

soacutelo observamos la banda Grsquoen la muestra con TTT a 2200degC En muestras con TTT

de 2000 degC se observa la presencia de la banda Drsquo asiacute como y otros picos maacutes

pequentildeos (2D D + G y T + D)

Las mediciones de valores deLa del endocarpio babasuacute con TTT entre 800 y 2200 degC

obtenido con difraccioacuten de rayos x fueron utilizados para verificar la relacioacuten lineal

(desarrollada por Canccedilado et de nanografites) entre La y el inverso de la relacioacuten de

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 12: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

las intensidades integradas de las bandas Raman D y G (IDIG) teniendo en cuenta

la energiacutea de excitacioacuten del laacuteser Se observoacute que la dependencia deLa con la

energiacutea de excitacioacuten laser como fue sugerido por Canccedilado et al fue fundamental

para colocar las medidas Raman obtenidas a diferentes energiacuteas laser sobre la

misma curva Sin embargo la recta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en funcioacuten de 1119871119886 con mejor

coeficiente de correlacioacuten para el caso del endocarpio de babasuacute tratado

teacutermicamente no pasa por el origen como en los nanografitos Nuestros resultados

indican que para materiales carbonosos no grafiticos como el endocarpio de

babasuacutetratado teacutermicamente la expresioacuten de Canccedilado et al requiere de la adicioacuten

de un teacutermino constante (de un coeficiente lineal) negativo en la recta de119868119863 119868119866 ) 1198641198714 en

funcioacuten de 1119871119886 La nueva expresioacuten obtenida indico que o tamantildeo maacuteximo de la

dimensioacuten La de los cristalitos enel endocarpio de babaccedilu tratado teacutermicamente es

en el orden de 11 nm que es un valor compatible para un material carbonoso no

grafitizable Seriacutea importante que en trabajos futuros con otros materiales se puedan

verificar los resultados aquiacute obtenidos inclusive en los valores de las constantes

obtenidas (coeficiente angular e coeficiente lineal de los ajustes)

Fueron tambieacuten observadas liacuteneas Raman debido a la presencia de estructuras

conteniendo silicio en el material En la TTT de 800 ordmC tenemos las regiones de la

muestra con una liacutenea asociada a la presencia de SiO2 sin embargo en la TTT de

2000 ordmC tenemos una liacutenea asociada a la presencia del SiC Esto sucede porque el

endocarpio de babasuacute contiene SiO2en la parte mineral (cenizas) que se transforma

en SiC a partir de la TTT de 1200 ordmC como eacute verificado con otras teacutecnicas Las liacuteneas

Raman debido a la presencia de silicio (en la forma de SiO2 o SiC) no son

observadas en todos los espectros pues las estructuras conteniendo silicio no estaacuten

uniformemente distribuidas en todo el material del punto de vista microscoacutepico como

es detallado en un mapeamento de la muestra de con TTT de 800 ordmC El detalle de

los cambios estructurales que envuelven silicio con la teacutecnica de espectroscopia

Raman seraacute reportado en mayores detalles en trabajos futuros

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

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Page 13: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

LISTA DE FIGURAS

Figura 21- Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees 22

Figura 22- Estrutura cristalina do grafite 24

Figura 23- Estrutura turbostraacutetica 25

Figura 24- Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para

materiais carbonosos

27

Figura 25- O coco de babaccedilu 29

Figura 31- Espectro Raman de 1198621198621198974 32

Figura 32- Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman 34

Figura 33- Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de

espalhamento

36

Figura 34- Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes

de um focircnon

39

Figura 35- Espectro Raman de uma amostra de grafite mostra as

principais caracteriacutesticas Raman as bandas 119863119866 119863rsquo e 119866rsquo

41

Figura 36- Zona de Brillouin eletrocircnica de grafeno 41

Figura 37- Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees

42

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D 43

Figura 39- Esquema de dupla ressonacircncia 44

Figura 310- Espectro Raman de grafite nanotubo metaacutelico e semiconductor

carbonos amorfo de alto e baixo conteuacutedo de1199041199013

45

Figura 41- Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES 49

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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Page 14: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

Figura 42- Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 50

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado

com TTT de 200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser

de 532 nm

53

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

54

Figura 53- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

55

Figura 54- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

57

Figura 55- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com

temperaturas de tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC

para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

58

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de

2200 ordmC excitada com a fonte laser de 532 nm

60

Figura 57- Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na

amostra do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT

1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

61

Figura 58- Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (119868119863 119868119866 )

em funccedilatildeo de 1 119871119886 para todos os espectros com duas energias

diferentes de excitaccedilatildeo laser

62

Figura 59- (119868119863 119868119866 ) 1198641198714em funccedilatildeo de 1 119871119886 para o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

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Page 15: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

termicamente entre 800 e 2200 degC 63

Figura 510- Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo

da temperatura de tratamento teacutermico

65

Figura 511- Largura meia das bandas D e Gpara as duas fontes laser

com relaccedilatildeo agrave temperatura

66

Figura 512- Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura 67

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees

vermelhas verdes e azuis do material e b) espectros Raman

para cada regiatildeo

69

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

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42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

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46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 16: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

LISTA DE TABELAS

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu 29

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros

Precursores

30

Tabela 51- Dados do tamanho de cristalito obtidos por

Espectroscopia Raman comparados com os

dados de Difraccedilatildeo de raios X

64

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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Page 17: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 19

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU 21

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono 21

22 Estrutura do grafite 23

23 Modelos estruturais 24

231 Modelo de Warren 24

232 Modelo de Franklin 26

24 Materiais carbonosos de biomassa 27

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural 27

242 O endocarpo de babaccedilu 28

3 O ESPALHAMENTO RAMAN 31

31 Introduccedilatildeo 31

32 Concepccedilatildeo claacutessica 32

33 Conservaccedilatildeo da energia 35

34 Conservaccedilatildeo de momento 36

35 Concepccedilatildeo quacircntica 37

351 Taxa de transiccedilatildeo 40

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos 40

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais carbonosos 46

4 PARTE EXPERIMENTAL 48

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 18: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu 48

42 O espectrocircmetro Raman 48

43 Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman 51

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 52

51 Os espectros Raman 52

52 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito 60

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado 65

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado termicamente 67

6 CONCLUSOtildeES 70

7 REFEREcircNCIAS 72

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 19: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

19

CAPIacuteTULO 1

1 INTRODUCcedilAtildeO

O carbono eacute sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso de 12011 na escala

quiacutemica As amostras naturais de carbono consistem de 989 do isoacutetopoC12 e de

11 do isoacutetopo C13 contendo tambeacutem diferentes traccedilos do isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis O elemento carbono estaacute presente em apenas

004 da massa da terra e apenas uma parcela cerca de umaparteem cinco mil

ocorre na forma capaz de reagir com oxigecircnio (carbono dinacircmico) [1] O carbono

depois do hidrogecircnio eacute o segundo elemento que mais participa na formaccedilatildeo de

compostos associando-se quimicamente entre si a diversos outros elementos da

natureza dando origem agraves substacircncias denominadas orgacircnicas O nuacutemero de

compostos orgacircnicos conhecidos excede o de compostos inorgacircnicos Aleacutem do

carbono ser considerado um dos elementos mais importantes para a vida ele

tambeacutem participa de uma das principais fontes de energia (combustiacuteveis foacutesseis e de

biomassa) Uma parte representativa do elemento carbono ocorre na biosfera

terrestre na forma de plantas (vegetais) denominados de biomassa

O carbono puro pode ser encontrado em diferentes formas alotroacutepicas onde as mais

importantes satildeo o grafite e o diamante O carbono junto com outros elementos

como hidrogecircnio oxigecircnio nitrogecircnio e enxofre forma os denominados materiais

carbonosos que tem ampla e variada aplicabilidade em diversos setores da induacutestria

e tecnologia

O material carbonoso a ser estudado neste trabalho eacute o endocarpo de babaccedilu que

faz parte do coco de uma palmeira brasileira (orbignya martiana) representando

cerca de 57 de seu peso O endocarpo de babaccedilu apresenta uma das mais altas

densidades (127gcm3) dentre as biomassas encontradas na natureza [1] Os

materiais carbonosos de biomassa apoacutes serem submetidos a tratamentos teacutermicos

em atmosfera inerte (que podem ser considerados carbonizaccedilatildeo ou piroacutelise) sofrem

transformaccedilotildees em sua estrutura apresentando semelhanccedilas com carvotildees minerais

sendo entatildeo chamados de carvotildees vegetais O endocarpo de babaccedilu carbonizado eacute

um material carbonoso do tipo natildeo grafiacutetico [1]

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 20: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

20

Neste trabalho focalizaremos nossa atenccedilatildeo no estudo das modificaccedilotildees estruturais

que sofrem as amostras de endocarpo de babaccedilu tratado termicamente utilizando a

espectroscopia Raman como a principal teacutecnica de anaacutelise A espectroscopia

Raman tem sido extensivamente usada nas uacuteltimas deacutecadas para pesquisar e

caracterizar diferentes materiais Uma caracteriacutestica importante desta teacutecnica eacuteser

natildeo destrutiva e de raacutepida execuccedilatildeoo que contribui parasua grande aplicabilidade

em fiacutesica quiacutemica e engenharia

A espectroscopia Raman eacute uma das teacutecnicas mais usadas para caracterizar

materiais carbonosos As intensidades caracteriacutesticas presentes no espectro Raman

satildeo fortemente dependentes das propriedades estruturais O espectro Raman em

quase todos os materiais carbonosos apresentam bandas caracteriacutesticas

denominadas DeG junto com outras bandas

Uma das caracteriacutesticas principais do endocarpo de babaccedilu tratado termicamente

entre as temperaturas de 800 ateacute2200 ordmC eacute a presenccedila de siliacutecio (situado em sua

mateacuteria mineral tambeacutem chamado de cinzas) que se apresenta nas formas de siacutelica

(SiO2) (para temperaturas de ateacute 1200 ordmC)e de carbeto de siliacutecio (SiC) fase 120573(para

temperaturas acima de ateacute 1200 ordmC) OSiO2 e

oSiCpossuemumaestruturatetraeacutedrica[2]

A espectroscopia Raman pode permitir um mapeamento das diferentes regiotildees do

espectro Raman Esta teacutecnica e denominada micro Raman Com esta teacutecnica

podemos identificar as caracteriacutesticasde cada regiatildeo o que eacute uma ferramenta

fundamental para observar a presenccedila do siliacutecio no material Embora o estudo mais

detalhado seraacute desenvolvido em trabalhos futuros

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

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Page 21: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

21

CAPIacuteTULO 2

2 MATERIAIS CARBONOSOS E ENDOCARPO DE BABACcedilU

21 Ligaccedilotildees quiacutemicas do aacutetomo de carbono

O carbono eacute o sexto elemento na tabela perioacutedica e tem um peso atoacutemico de 12011

na escala quiacutemica [3] Consiste de 989 do isoacutetopoC12e de11 do isoacutetopo C13

As amostras naturais contecircm tambeacutem diferentes traccedilosdo isoacutetopo radioativo C14 e

outros isoacutetopos natildeo muito estaacuteveis

A configuraccedilatildeo eletrocircnicado carbono no seu estado fundamental eacute (1s2) (2s22p2)

Poreacutem esta configuraccedilatildeo natildeo eacute encontrada na natureza quando o carbono eacute ligado

consigo mesmo ou a outros aacutetomos Ao participar de ligaccedilotildees quiacutemicas o carbono

apresenta o fenocircmeno da hibridizaccedilatildeo Este fenocircmeno favorece a ligaccedilatildeo dos

aacutetomos de carbono entre si e com aacutetomos de outros elementos alcanccedilando o

estado de menor energia para o aacutetomo ligado A grande vantagem deste fenocircmeno

eacute que permite a construccedilatildeo de moleacuteculas maiores e com extrema diversidade [4] A

hibridizaccedilatildeo eacute um efeito quacircntico causado pelo emparelhamento de eleacutetrons dos

orbitais 2s e 2p de um aacutetomo como os eleacutetrons de outro Matematicamente este

fenocircmeno eacute expresso em termos de combinaccedilotildees lineares especiacuteficas que originam

os quatro orbitais De acordo como os elementos envolvidos e suas respectivas

ligaccedilotildees a densidade eletrocircnica dos aacutetomos de carbono envolvidos seraacute

representada em termos dos novos orbitais chamados orbitais hiacutebridos no lugar

dos anteriores A hibridizaccedilatildeo pode ser de trecircs tipos de acordo com o nuacutemero de

orbitais s e p nela envolvidos dois orbitais mistos sp e dois orbitais purosp trecircs

orbitais mistos sp2 e um orbital puro p ou quatro orbitais mistos sp3 como se pode

observar na figura 21 [5]

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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Page 22: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

22

Figura 21 -Estruturas esquemaacuteticas de algumas hibridizaccedilotildees (a) Acetileno (C2H2)

apresenta hibridizaccedilatildeo sp ligaccedilatildeo linear (1D) (b) Etileno (C2H4) apresenta

hibridizaccedilatildeosp2 ligaccedilatildeo planar (2D) (c) Metano (CH4) apresenta hibridizaccedilatildeosp3

ligaccedilatildeo espacial (3D) [6]

O aacutetomo de carbono com hibridizaccedilatildeo sp envolve a formaccedilatildeo de duas ligaccedilotildees 120589

entre os orbitais hiacutebridos sp e duas ligaccedilotildees 120587 entre os eleacutetrons dos orbitais p puros

A ligaccedilatildeo quiacutemica entre aacutetomos com hibridizaccedilatildeosp2 envolve a formaccedilatildeo de trecircs

ligaccedilotildees 120589 a partir dos orbitais hiacutebridossp2 concentrados num plano fazendo acircngulos

de 120ordm entre si os eleacutetrons restantes nos orbitais atocircmicos p puros datildeo origem a

uma quarta ligaccedilatildeo denominada 120587 na qual a densidade eletrocircnica concentra-se na

direccedilatildeo perpendicular ao plano formado pelas outras ligaccedilotildees A hibridizaccedilatildeo do

tiposp3 liga-se quimicamente a quatro aacutetomos atraveacutes de ligaccedilotildees covalentes

denominadas ligaccedilotildees 120589 essas ligaccedilotildees satildeo formadas a partir da superposiccedilatildeo

entre as densidades eletrocircnicas oriundas dos orbitais atocircmicossp3 e levam a uma

orientaccedilatildeo tetraeacutedrica para a moleacutecula assim formada[4]

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

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Page 23: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

23

22 Estrutura do grafite

A estrutura dos soacutelidos formados pelo carbono estaacute diretamente ligada ao tipo de

ligaccedilatildeo ou hibridizaccedilatildeo com que o carbono combina-se com outro carbono ou com

outro elemento Como mencionado no Capiacutetulo 1 as formas alotroacutepicas mais

importantes do carbono puro satildeo o grafite e o diamante Outras formas alotroacutepicas

satildeo os fulerenos nanotubos grafeno e grafino Como o material carbonoso aqui

estudado apresenta cristalitos tipo-grafite iremos nos aprofundar num melhor

entendimento da estrutura do grafite

O grafite eacute formado a partir do empilhamento de camadas (estrutura laminar) de

arranjos hexagonais dos aacutetomos de carbono Este arranjo de aacutetomos de carbono

num sistema de aneacuteis hexagonais condensados forma uma estrutura plana

denominada plano grafeno De acordo com o empilhamento das camadas o grafite

apresentaraacute duas formas estruturais cristalinas distintas que satildeo a hexagonal

(arranjo tipo ABA) e a romboeacutedrica (arranjo tipo ABC) mostradas na Figura 22

sendo a primeira a forma mais estaacutevel da estrutura portanto a mais comum

Adistacircncia interatocircmica ldquo119886rdquono plano basal em ambas as estruturas eacute de0148 nm e a

distacircncia entre camadas ldquo119889rdquo entre os planos eacute03354 nm Na estrutura do grafite

(hibridizaccedilatildeosp2) soacute trecircs dos quatro eleacutetrons de valecircncia de carbono forma ligaccedilatildeo

covalente (ligaccedilatildeo 120589 ) com aacutetomos de carbono adjacente O quartoeleacutetron

120587ressoaentre as estruturasde ligaccedilatildeode valecircncia As ligaccedilotildees entre os planos satildeo

fracas do tipo Van der Waals

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 24: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

24

Figura 22 ndash Estrutura cristalina do grafite (a) Hexagonal (b) Romboeacutedrica [7]

23 Modelos estruturais

231 Modelo de Warren

A partir de experimentos de Difraccedilatildeo de raios X realizados nas deacutecadas de 1930 e

1940 foi observados que diversos materiais carbonosos como os carvotildees

apresentavam espectros com linhas largas centradas em posiccedilotildees angulares

proacuteximas agraves correspondentes ao grafite sendo verificadas reflexotildees tridimensionais

do tipo (00119897) onde 119897 eacute par e bidimensionais (ℎ119896) natildeo sendo observadas reflexotildees

trimensionais (ℎ119896119897) com os trecircs indices diferentes de zero Em 1941 Warren

apresentou uma anaacutelise teoacuterica [1] considerando o material carbonoso composto

por planos do tipo grafite numa estrutura de camadas randocircmicas Biscoe e Warren

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

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Page 25: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

25

sugeriram o termo ldquoturbostraacuteticordquo para esta classe mesomoacuterfica do soacutelido e por isso

denominamos Estrutura Turbostraacutetica Figura 23

Figura23 ndash Estrutura turbostraacutetica [1]

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

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Page 26: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

26

232 Modelo de Franklin

Rosalind Franklin mostrou que certos materiais carbonos natildeo-grafiacuteticos quando

submetidos a tratamentos teacutermicos mostram uma mudanccedila gradualem direccedilatildeo a

uma estrutura mais ordenada como a do grafite cristalino

Ela identificou duas classes de materiais com naturezas distintas e bem definidas os

materiais carbonosos grafitizaacuteveis e os natildeo- grafitizaacuteveis Os materiais da primeira

classe satildeo chamados de grafitizaacuteveis pois ao serem tratados termicamente em

temperaturas entre 1700 e 3000 ordmC apresentam evoluccedilatildeo em direccedilatildeo agrave estrutura

tridimensional do grafite Jaacute a segunda classe corresponde aqueles que mesmo

tratados ateacute 3000 ordmC natildeo mostram nenhum sinal de desenvolvimento homogecircneo

da estrutura grafiacutetica tridimensionais sendo portanto denominados materiais natildeo-

grafitizaacuteveis Nos primeiros estaacutegios do processo de carbonizaccedilatildeo podem-se notar

as diferenccedilas entre as duas estruturas como eacute mostrado nas Figuras 24 (a) e (b)

Existem tambeacutem os antracitos (Figura 24c) quea princiacutepio se trataria de um terceiro

grupo intermediaacuterio pois apresentam um forte sistema de ligaccedilotildeescruzadas

semelhantes ao dos materiais natildeo-grafitizaacuteveis poreacutem diferem apresentando uma

orientaccedilatildeo preferencial dos microcristalitos como ocorre nos materiais grafitizaacuteveis

Os antracitos tratados termicamente a temperaturas entre 1000 e 2000 ordmC

comportam-se como natildeo-grafitizaacuteveis Entretanto acima de 2500 ordmC eles se

comportam como quaisquer outros materiais carbonosos grafitaacuteveis e portanto

podem ser considerados como materiais carbonosos grafitizaacuteveis

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 27: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

27

Figura 24 ndash Diagramas esquemaacuteticos do modelo de Franklin para materiais

carbonosos (a) natildeo-grafitizaacutevel (b) grafitizaacutevel (c) antracito de temperatura de

carbonizaccedilatildeo moderada [1]

24 Materiais carbonosos de biomassa

241 Composiccedilatildeo e estrutura da biomassa natural

Os materiais carbonosos de biomassa naturais tais como madeiras e plantas em

geral satildeo constituiacutedos basicamente de trecircs poliacutemeros celulose hemicelulose e

lignina e de um 5 a 10 de outros materiais

A celulose eacute o constituinte encontrado geralmente em maior quantidade nas

biomassas correspondendo a aproximadamente 40-45 da massa total seca e

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

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Page 28: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

28

consiste num poliacutemero formado por unidades de glicose (C6H12O6) conectadas

atraveacutes de ligaccedilotildees quiacutemicas envolvendo aacutetomos de oxigecircnio [8]

A hemicelulose eacute um heteropolissacariacutedeo formado por outros accediluacutecares aleacutem da

glicose e sua composiccedilatildeo varia de acordo com o tipo de biomassa na qual eacute

encontrada Em geral representa 20 a 30 da massa total da madeira seca

A lignina apresenta uma natureza quiacutemica bem distinta da celulose e hemicelulose e

consiste num poliacutemero tridimensional formado a partir da condensaccedilatildeo de unidades

de fenilpropano que tecircm um crescimento aleatoacuterio em direccedilatildeo a uma moleacutecula

complicada com diferentes espeacutecies de ligaccedilatildeo entre os monocircmeros A lignina eacute o

outro constituinte necessaacuterio para uma planta ser classificada como madeira No

estado natural a lignina forma uma rede polimeacuterica tridimensional ilimitada com alto

grau de ligaccedilotildees-cruzadas [9]

242 O endocarpo de babaccedilu

Entre as espeacutecies das palmeiras utilizadas na induacutestria extrativista brasileira estaacute o

babaccedilu cientificamente chamada de orbignya martiana nativa do nordeste e centro

de Brasil eacute encontrado em extensas formaccedilotildees naturais nos estados do Maranhatildeo

Piaui Goias e Mato Grosso

Como mostrado na Figura 25 o coco de babaccedilu eacute constituiacutedo por trecircs camadas a

externa fibrosa (epicarpo) a intermediaacuteria fibrosa-amilaacutecea (mesocarpo) e a interna

lenhosa (endocarpo) na qual estatildeo inseridas as amecircndoas

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 29: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

29

Figura 2 5 ndash O coco de babaccedilu a) Corte transversal b) Corte longitudinal [1]

Tabela 21- Composiccedilatildeo meacutedia do coco de babaccedilu

Componente Participaccedilatildeo em peso ()

a Epicarpo 12

b Mesocarpo 24

c Endocarpo 57

d Amecircndoas 7

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 30: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

30

Na Tabela 22 eacute mostrada a anaacutelise do endocarpo de babaccedilu com relaccedilatildeo os

poliacutemeros de biomassa [10] onde se conclui que ele pode ser classificado como

madeira Entretanto deve-se destacar seu elevadiacutessimo teor de lignina em relaccedilatildeo

aacutes demais espeacutecies [11]

Tabela 22- Anaacutelise do endocarpo de babaccedilu em relaccedilatildeo aos poliacutemeros precursores

Poliacutemero Participaccedilatildeo em peso ()

Celulose 23

Hemicelulose 22

Lignina 39

Outros 16

Outra caracteriacutestica marcante do endocarpo de babaccedilu eacute sua densidade aparente de

127 gcm3 que eacute uma das maiores jaacute reportadas em relaccedilatildeo a outras biomassas

[11]

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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Page 31: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

31

CAPIacuteTULO 3

3 O ESPALHAMENTO RAMAN

31 Introduccedilatildeo

Em 1871 Rayleighformulou uma teoria claacutessica do espalhamento da luz sem

mudanccedila da frequecircncia para dar uma explicaccedilatildeo da cor azul do ceacuteu Anos depois o

fenocircmeno de espalhamento inelaacutestico da luz monocromaacutetica foi postulado

primeiramente por Smekal em 1923 [12] usando a teoria quacircntica poreacutem observado

experimentalmente apenas em 1928 por Raman e Krishman [13]

Fazendo uma regressatildeo conveacutem observar que em 1921 Raman [14] viaja agrave Europa

no veratildeo e observou a cor azul do mar Mediterracircneo Aquele fenocircmeno o levou a

pensar que aquilo era produzido pelo espalhamento de luz do sol que incide sobre

as moleacuteculas de aacutegua Para poder explicar isto quando retornou agraveCalcutaacute no

mesmo ano deu iniacutecio aos experimentos para poder explicar este fenocircmeno

O experimento consistiuem utilizar uma lacircmpada de mercuacuterio como fonte de luz

monocromaacutetica que atravessa um liacutequido purificado (CCl4) Figura 31 Raman

observou que uma pequena parte da luz monocromaacutetica espalhada pelo liacutequido

mudava de cor demonstrando assim o efeito Com esse trabalho explicando o

fenocircmeno que foi publicado em 1928 [13] Raman obteve o precircmio Novel em Fiacutesica

sendo que o fenocircmeno passou a levar o seu nome

Naquela eacutepoca a dificuldade de se obter uma fonte monocromaacutetica intensa e de boa

qualidadefez o desenvolvimento experimental do espalhamento Raman permanecer

praticamente estagnado ateacute 1961 quando foi inventado o laser e houve um

grandedesenvolvimento dos espectrocircmetros oacutepticos e das teacutecnicas de detecccedilatildeo

Com estes avanccediloso estudo do espalhamento da luz cresceu e a espectroscopia

Raman foi consolidada como uma teacutecnica de grande aplicabilidade

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

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Page 32: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

32

Figura 31 - Espectro Raman deCCl4(4880 nm de excitaccedilatildeo) [15]

32 Concepccedilatildeo claacutessica

A explicaccedilatildeo claacutessica do efeito Raman [15] estaacute baseada na interaccedilatildeo do campo

eleacutetrico da luz com as vibraccedilotildees das moleacuteculas de um meio Uma luz monocromaacutetica

de frequecircncia angular 1205960 incide sobre as moleacuteculas com um campo eleacutetrico 119864

119864 = 119864 0 cos 1205960119905 (31)

o dipolo eleacutetrico induzido eacute dado por

119875 120588 = 120572120588120589119864 = 120572120588120589119864 1205890 cos 1205960119905 (32)

onde120572120588120589 eacute o tensor polarizabilidade eletrocircnica que representa a resposta das

moleacuteculas ao campo eleacutetrico Por ser funccedilatildeo das distacircncias interatocircmica

120572120588120589 depende das vibraccedilotildees moleculares A variaccedilatildeo da polarizabilidade com as

vibraccedilotildees da moleacutecula pode ser expressapela expansatildeo de cada componente 120572120588120589

do tensor polarizabilidade em series de Taylor com relaccedilatildeo agraves coordenadas normais

de vibraccedilatildeo como segue

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 33: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

33

120572120588120589 = (120572120588120589 )0 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

119876119896 +1

2

1205972120572120588120589

120597119876119896120597119876119897

0

119876119896119876119897 119896 119897

(33)

onde(120572120588120589 )0 eacute o tensor polarizabilidade na posiccedilatildeo de equiliacutebrio e 119876119896 o modo normal

da coordenada da k-eacutesima moleacutecula associada com a frequecircncia vibracional 120596119896

Devido ao fato que os modos normais satildeo harmocircnicos119876 pode ser escrito como

119876119896 = 1198761198960 cos 120596119896119905 (34)

Substituindo (33) e (34) em (32) podemos obter o vetor dipolo linear induzida 119875 0

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905 + 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890 cos 120596119896119905 cos 1205960119905 (35)

pode-se ainda utilizar a relaccedilatildeo 2 cos 119886 cos 119887 = cos 119886 + 119887 + cos 119886 minus 119887 para

escrever (35) na forma

119875 120588(0)

= (120572120588120589 )0119864 1205890 cos 1205960119905

+ 120597120572120588120589

120597119876119896

0119896

1198761198960119864 1205890

2 cos 119905 1205960 minus 120596119896 + cos[119905 1205960 + 120596119896 (36)

O quedemonstra que o dipolo contem trecircs frequecircncias 1205960 1205960 minus 120596119896 e 1205960 + 120596119896 Elas

representam o espalhamento Rayleigh Stokes e anti-Stokes respectivamente O

espalhamento Stokes e o anti-Stokes satildeo os que representam o espalhamento

Raman

A Figura 32 esquematiza os processos de espalhamento mostrando as transiccedilotildees

entre os estados eletrocircnicos e vibracionais de uma moleacutecula No processo Rayleigh

as moleacuteculas do material em seu estado fundamental absorvem a energia dos

foacutetons incidentes e passam a um estado intermediaacuterio virtual para em seguida decair

de volta para o estado fundamental emitindo (espalhando) foacutetons da mesma energia

que os incidentes No processo correspondente ao espalhamento Stokes temos que

o sistema decai para um estado vibracional mais energeacutetico do que o estado inicial

espalhando foacutetons de menor energia jaacute que parte da energia do foacuteton fica no

sistema No caso dos soacutelidos se diz que um focircnon foi criado No espalhamento anti-

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 34: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

34

Stokes o sistema jaacute se encontra num estado vibracional excitado e ao absorver o

foacuteton incidente passa pelo estado intermediaacuterio virtual e decai para um estado

vibracional de menor energia Analogamente ao caso anterior no caso de um soacutelido

se diz que um focircnon foi destruiacutedo A diferenccedila do caso anterior eacute que o foacuteton

espalhado pelo decaimento tem energia maior que o incidente As transiccedilotildees entre

niacuteveis consecutivos de um modo vibracional correspondem ao chamado

espalhamento de primeira ordem

Figura 32 ndash Diagrama de Rayleigh e processos de espalhamento Raman O estado

vibracional de menor energia meacute mostrado acima estatildeo os estados de energia

crescentes Tanto aenergiabaixa (setas para cima) e da energia dispersa(setas para

baixo) tecircm energias muito maiores do que a energia de vibraccedilatildeo [16]

Este tratamento claacutessico relativamente simples nos fornece uma imagem qualitativa

uacutetil dos mecanismos de espalhamento Rayleigh e Raman O espalhamento Rayleigh

surge a partir da oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 induzido na moleacutecula pelo

campo eleacutetrico da radiaccedilatildeo incidente que oscila a uma frequecircncia angular 1205960 O

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 35: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

35

espalhamento Raman surge da oscilaccedilatildeo dipolo eleacutetrico em 1205960 plusmn 120596119896 que satildeo

produzidos quando a oscilaccedilatildeo do dipolo eleacutetrico em 1205960 eacute modulada pela oscilaccedilatildeo

da moleacutecula na frequecircncia 120596119896 O acoplamento necessaacuterio entre os movimentos

nucleares e do campo eleacutetrico eacute fornecido pelos eleacutetrons cujos rearranjos com o

movimento nuclear impotildeem uma variaccedilatildeo harmocircnica na polarizaccedilatildeo

A teoria claacutessica a dependecircncia correta da frequecircncia para o espalhamento Rayleigh

e para o espalhamento Raman Tambeacutem mostra corretamente a dependecircncia do

tensor espalhamento Rayleigh no tensor polarizabilidade de equiliacutebrio 1205720 e a

previsatildeo da dependecircncia do tensor espalhamento Raman vibracional com a

derivada do tensor polarizabilidade 120572prime119896para determinadas situaccedilotildeesNo entanto a

teoria claacutessica tem suas limitaccedilotildees Por exemplo natildeo pode ser aplicada a rotaccedilotildees

moleculares poisa teoria claacutessica natildeo atribui frequecircncia rotacional discreta

especifica para as moleacuteculas [12]

33 Conservaccedilatildeo da energia

No processo Raman Stokes a frequecircncia da luz incidente menos a frequecircncia da

luzespalhada eacute igual agrave frequecircncia de excitaccedilatildeo (do focircnon) Isto ocorre devido agrave

conservaccedilatildeo da energia Quanticamente podemos dizerque o foacuteton incidente de

energia ℏ120596119894 subtraiacutedo da energia do foacuteton espalhado ℏ120596119904 eacute igual agrave energia do focircnon

criado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119894 minus ℏ120596119878 (37)

Para o processo Raman anti-Stokes a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119860119878 eacute maior que

a energia do foacuteton incidente ℏ120596119894 Da diferenccedila entre ambos obtemos a energia do

focircnon aniquilado ℏ120596119902

ℏ120596119902 = ℏ120596119860119878 minus ℏ120596119894 (38)

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

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Page 36: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

36

Figura33 Geometria do vetor de onda envolvido nos processos de espalhamento

inelaacutestico Stokes (a) e anti-Stokes (b) considerando a conservaccedilatildeo do momento

34 Conservaccedilatildeo de momento

A conservaccedilatildeo de momento para os processos Stokes e anti-Stokespode-se

expressar da forma seguinte

ℏ119896 119878 = ℏ119896 119894 minus ℏ119902 (39)

ℏ119896 119860119878 = ℏ119896 119894 + ℏ119902 (310)

No processo Stokes o momento do foacuteton incidente diminui devido ao momento do

focircnon e no processo anti-Stokes o momento do foacuteton incidente aumenta devido ao

momento do focircnon

Na Figura 33 fazemos o desenho esquemaacutetico mostrando a conservaccedilatildeo do

momento linear Da equaccedilatildeo (39) obtemos a soma vetorial dos momentos com a

ajuda da lei dos cossenos

1199022 = 1198961198942 + 119896119878

2 minus 2119896119894119896119878 cos120601 (311)

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

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Page 37: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

37

onde120601 eacute o aacutengulo entre a luz incidente e espalhada Das equaccedilotildees (37) e (39)

temos que moacutedulo do vetor de onda incidente eacute 119896 119894 = 120596119894 119888 e o moacutedulo do vetor de

onda espalhado eacute 119896 119878 = 120596119894 minus 120596119902 119888 mas 120596119894 ≫ 120596119902 Entatildeo 119896 119894 = 119896 119878 = 120596119894 119888

Portanto na equaccedilatildeo (311) temos

1199022 = 411989611989421199041198901198992 120601 2 (312)

Para 120601 = 120587obtemos o valor maacuteximo de 119902 no caso de retroespalhamento Entatildeoo

maior valor do vetor de onda 119902 que pode participar no espalhamento eacute

119902 asymp 2119896119894 (313)

Analisando a equaccedilatildeo final o valor de 119896119894 para a luz na regiatildeo do visiacutevel eacute 119896119894 asymp

10minus7119898minus1 Entatildeo os focircnons com vetores de onda entre0 le 119902 lt 10minus7119898minus1 podem

participar do processo de espalhamento Como para os soacutelidos o paracircmetro de rede

eacute da ordem de 10minus10 119898 o limite da primeira zona de Brillouin eacute da ordem de

1010 119898minus1 o que eacute 1000 vezes maior que o modulo do vetor de onda 119902 do focircnon

observaacutevelno espalhamento Raman A partir da conservaccedilatildeo do momentum linear

no espalhamento Raman de primeira ordem (que envolve soacute um focircnon) obtemos

uma regra de seleccedilatildeo indicando que os focircnons de vetores de onda que participam

do processo de espalhamentosatildeo muito pequenos (119902 asymp 0) proacuteximos agrave primeira zona

de Brillouin

35Concepccedilatildeo quacircntica

De acordo comateoriaquacircntica a radiaccedilatildeo eacute emitida ou absorvidacomo resultadodo

sistema fazeruma transiccedilatildeopara baixooupara cimaentredoisniacuteveisde energias

discretos Umateoriaquacircnticadeprocessosespectroscoacutepicosdeve por conseguinte

tratararadiaccedilatildeoe a moleacuteculaem conjunto comoumsistema completo eexplorarcomo

a energia eacutetransferidaentrearadiaccedilatildeoea moleacutecula como umresultadodasua interaccedilatildeo

Em 1963 Loudon [17] apresentou um modelo totalmente quacircntico para o caacutelculo de

intensidade Raman As taxas de transiccedilatildeo e consequentemente as intensidades satildeo

calculadas empregando teoria de perturbaccedilatildeo de terceira ordem e tratando o

sistema como um todo composto de foacutetons eleacutetrons e focircnons Neste modelo

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 38: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

38

devemos considerar que o Hamiltoniano do sistema como um todo pode ser

decomposto em uma soma de Hamiltonianos

119867 = 119867119872 + 119867119877 + 119867119872119877 + 119867119890119891 (314)

onde119867119872 corresponde ao hamiltoniano do material 119867119877 eacute devido agrave radiaccedilatildeo119867119872119877

corresponde agrave interaccedilatildeo radiaccedilatildeo-mateacuteria e 119867119890119891 eacute o hamiltoniano de interaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon Este hamiltoniano do sistema pode ser convenientemente reescrito

como a soma de duas partes

119867 = 119867119900 + 119867prime (315 )

onde

119867119900 = 119867119872 + 119867119877 (316)

119867prime = 119867119872119877 + 119867119890119891 (317)

Se 119867prime ≪ 119867119900 pode-se tratar o problema com Teoria de Perturbaccedilotildees dependente do

tempo onde 119867119900 eacute o hamiltoniano natildeo perturbado e 119867prime eacute tratado como a parte

perturbada do sistema de estados pelos quais o sistema passa durante uma

transiccedilatildeo Raman de primeira ordem

Na Figura 34 mostra o diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de

um focircnon Em cada etapa os estados do Hamiltoniano natildeo perturbado 119867119900 podem ser

definidos por kets do tipo 119899119894 119899119895 119899 120593 onde 119899119894 119899119895 119899 e 120593 satildeo respectivamente o

nuacutemero de foacutetons incidentes o nuacutemero de foacutetons espalhados o nuacutemero de focircnons e

o estado eletrocircnico Assim os estados 119894 119886 119887 e 119891 e suas respectivas

energias podem ser escritos como

119894 = 119899119894 0 119899120595119900 119864119894 = 119899119894ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119881

119886 = 119899119894 minus 10119899120595119886 119864119886 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

119887 = 119899119894 minus 10119899 plusmn 1120595119887 119864119887 = 119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + 119899ℏ120596119902 + 119864119890119862

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 39: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

39

119891 = 119899119894 minus 11 119899 plusmn 1120595119900 119864119891 =

119899119894 minus 1 ℏ120596119894 + ℏ120596119904 + 119899 plusmn 1 ℏ120596119902 + 119864119890119862 (318)

Figura 34ndash Diagrama de Feynman associado com o processo Stokes de um focircnon

[18]

onde ℏ120596119894 eacute a energia do foacuteton incidente ℏ120596119904eacute a energia do foacuteton espalhado ℏ120596119902 eacute a

energia do focircnon 119864119890119881 representa a energia na banda de valecircncia e 119864119890

119862 representa a

energia na banda de conduccedilatildeo O sinal (+) corresponde ao processo Stokes (criaccedilatildeo

de focircnons) e o sinal (-) corresponde ao processo anti-Stokes (destruiccedilatildeo de focircnons)

Os foacutetons incidentes de frequecircncia120596119894 e vetor de onda 119896 119894 incidem na amostra criando

um par eleacutetron-buraco O eleacutetron neste estado intermediaacuterio ao ser espalhado

inelasticamente cede parte de sua energia para a criaccedilatildeo de um focircnon ou recebe

energia de um focircnon aniquilado O eleacutetron ao se recombinar com o buraco emite

radiaccedilatildeo correspondente agrave diferenccedila de energia apoacutes a interaccedilatildeo com o focircnon

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 40: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

40

351 Taxa de transiccedilatildeo

A taxa de transiccedilatildeo para o processo da Figura 34 eacute dada pela Teoria das

Perturbaccedilotildees dependentes do tempo de terceira ordem [19]

1

120591=

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(319)

onde119864119894 119864119886 e 119864119887 satildeo os autovalores do hamiltoniano1198670 e 119894 119886 e 119887 satildeo os

autovetores Haveraacutedivergecircncia para os valores de 119864119894 = 119864119886 e 119864119894 = 119864119887 quando a

energia do foacuteton incidente e a do foacuteton espalhado forem iguais agrave diferenccedila da

energia entre as bandas de conduccedilatildeo e de valecircncia do material Este fenocircmeno eacute

denominado efeito Raman ressonante

A seccedilatildeo eficaz para o processo Raman de um focircnon eacute [19]

120589 = ℏ120596119868

1198680

2120587

ℏ2

119891 119867119872119877 119887 119887 119867119890119891 119886 119886 119867119872119877 119894

119864119894 minus 119864119886 119864119894 minus 119864119887 119886 119887

2

120575 119864119894 minus 119864119891

119891

(320)

36 Espectroscopia Raman em materiais carbonosos

A espectroscopia Raman tem sido largamente utilizada na caracterizaccedilatildeo de

materiais carbonosos Os trabalhos com esta teacutecnica permitem identificar as

diferentes formas mais organizadas como grafite grafeno nanotubos e fulerenos e

tambeacutem estruturas mais desorganizada como o carbono amorfo que possui uma

combinaccedilatildeo de hibridizaccedilotildees sp sp2 e sp3Os espectros Raman materiais

carbonosos exibem picos caracteriacutesticos na regiatildeo entre 1000 a 1800 cm-1 Para os

materiais do tipo grafiacutetico pode-se encontrar as bandasD G e Drsquo como mostra a

Figura 35

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

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Page 41: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

41

Figura 35 ndash Espectro Raman de uma amostra de nanografite mostrando as

principais caracteriacutesticas das bandas D G Drsquo e Grsquo [21]

Para entender a espectroscopia Raman do grafite eacute importante conhecer sua

nomenclatura e atribuiccedilotildees A Figura 36 mostra a primeira zona Brillouin do grafeno

e um esquema da dispersatildeo eletrocircnicarepresentada pelos cones de Dirac O cone

de Diraceacute um cone formadopela banda de valecircncia e a banda de conduccedilatildeo que se

juntam num uacutenico ponto a uma energia conhecida como energia de Fermi

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

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43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

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Page 42: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

42

Figura 36ndash Zona de Brillouin eletrocircnica do grafeno (hexaacutegonos pretos) A primeira

zona de Brillouin focircnon (rombo vermelho) e esquema de dispersatildeo eletrocircnica (Cones

de Dirac) [20]

A espectroscopia Raman proporciona a mudanccedila nafrequecircncia de vibraccedilatildeo na

moleacutecula quando esta eacute excitada com uma energia esta mudanccedila pode ser

observada numa dispersatildeo de focircnons de grafite (Figura 37) onde inclui trecircs ramos

acuacutesticos e trecircs ramos oacuteticos Os modos com movimento fora do plano (119900119879119874 119900119879119860)

satildeo considerados mais suaves que aqueles dentro do plano (119871119860119879119860119879119874 119871119874) Os

pontos (Γ 119872119870) satildeo pontos da primeira zona de Brillouin do grafite

Figura37 - Caacutelculo da relaccedilatildeo de focircnons de dispersatildeo de grafite em duas

dimensotildees 119871119874 119894119879119874 119900119879119874 119871119860119879119860e119900119879119860 satildeo os modos do focircnon no ponto Γ e Aprime1

119864rsquoAprime2 e 119864rsquorsquo satildeo as representaccedilotildees irredutiveis para modos do focircnon no ponto K

Ref [21]

Agora podemos descrever as principais bandas do espectro Raman de grafiteEm

1969 Tuinstra e Koening [22]mostraram que o espectro Raman do

grafitemonocristalino apresenta um uacutenico pico centrado em 1575 cm-1 denominado

banda G Tuinstra e Koening propuseram que a banda G tem origem no modo

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

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Page 43: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

43

vibracional duplamente degenerado Γ6+ (E2g) que acontece no cruzamento dos

ramos dos focircnons119894119871119874 e 119894119879119874 no ponto Γ na primeira zona de Brillouin do grafite

conforme mostra a Figura 35 Ferrariet al [23]destacam que o modoGtem

simetriaE2g O mostrado na Figura 38a envolve o movimento de alongamento de

ligaccedilatildeosp2no plano dos pares de aacutetomos de C

Figura 38- Movimentos de carbono nos modos G (a) e (b) D [23]

A presenccedila de um pico adicional centrado em 1350 cm-1 foi observada em materiais

grafiacuteticos [22] denominado banda D A origem desta banda eacute associada com os

focircnons proacuteximos ao contorno da primeira zona de Brillouin (ponto K) Tuinstra e

Koening mostraram que a banda D eacute induzida por defeitos que levam agrave perda da

simetria cristalina ativando este modo de espalhamento Raman de primeira ordem

atraveacutes do relaxamento das regras de conservaccedilatildeo do momento O pico D eacute um

modo de respiraccedilatildeoda simetria A1gque envolve focircnons perto da zona de contorno K

como mostra a Figura 38b Este modo eacute proibido em grafite perfeito e soacute se torna

ativa na presenccedila de desordem O modo D eacute dispersivo e varia com a energia de

excitaccedilatildeo do foacuteton mesmo quando o picoG natildeo eacute dispersivo

Entretantoem 2000 Thomsen e Reich [24]propuseram que a bandaD eacute produto de

um processo de dupla ressonacircncia no qual participam um focircnon e um defeito Esta

eacute a explicaccedilatildeo atualmente aceita na literatura Eles descrevem que tanto o eleacutetron

quanto o buraco satildeo espalhados das proximidades do ponto K para as proximidades

do ponto Krsquo Na Figura 39(a)processo de ativaccedilatildeo eacute descrito em quatro passos

[2425] 119894) Uma excitaccedilatildeo laser induz um par eleacutetron-buraco 119894119894) o espalhamento

eleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento q perto de K 119894119894119894) o

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 44: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

44

espalhamentoeleacutetron-focircnon com intercacircmbio de momento-q 119894119907) a recombinaccedilatildeo

eleacutetron-focircnon A condiccedilatildeo eacute alcanccedilada quando a energia eacute conservada em todos os

processos [2425] Este processo explica porque quando a energia do laser

aumenta aumenta o valor do vetor de onda k do eleacutetronexcitado e

consequentemente do vetor de onda q do focircnon

Figura 39 - Esquema de dupla ressonacircncia para o picoD (fechado em 119870) e o picoDrsquo

(fechado em Γ) EL eacute a energia laser incidente [25]

Outra caracteriacutestica Raman no grafite pode ser observada na frequecircncia1620 cm-1

Estaacute banda eacute denominadaDrsquo[26] A banda Drsquoeacute tambeacutem induzida por desordem A

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 45: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

45

Figura 39(b)mostra o esquema de dupla ressonacircncia para a banda Drsquo O processo

descreve a ativaccedilatildeo de focircnons com pequenosvalores de q resultando no pico Drsquo

que pode ser visto ao redor de 1620 cm-1 num grafite com defeitos [2425]

O espectro Raman de segunda ordem de grafite eacute marcado pela presenccedila de um

pico forte centrado em 2667 cm-1 denominado Grsquopor Nemanich e Solin [27] No

entanto Ferrrariet al [28]denominam a banda Grsquo como 2D uma vez que

corresponde ao sobretom da bandaDEsta banda eacute a segunda mais intensano

espectro Raman do grafite

As bandas descritas acima satildeo observadasno espectro Raman do grafite Em outros

materiais carbonosos como em carbono amorfo soacute eacute possiacutevel observar as bandas

deD e G Em materiais como grafeno e nanotubos podem ser obtidas mais linhas

que satildeo uma combinaccedilatildeo das primeiras e uma que eacute caracteriacutestica dos nanotubos

que eacute RBM (do inglecircsradial breathing mode) Na Figura 310 satildeo apresentados

espectros Raman de alguns materiais carbonosos tiacutepicos

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

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Page 46: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

46

Figura 310 - Espectro Raman de grafite nanotubos metaacutelico e semicondutor

carbonos amorfo de alto e baixo teor de sp3 [25]

37 Determinaccedilatildeo do tamanho de cristalito em materiais

carbonosos

A espectroscopia Raman eacute uma teacutecnica que tem sido usada para determinar o

tamanho de cristalito de materiais carbonosos Em 1970 Tuinstra e Koening [22]

realizaram estudos por espectroscopia Raman e Difraccedilatildeo de raios X com diferentes

amostras de grafite policristalino com tamanhos de cristalito distintos e concluiacuteram

que a razatildeo entre as intensidades das bandas D e G (119868119863e119868119866 ) satildeo inversamente

proporcionais ao tamanho de cristalito 119871119886

119868119863119868119866

=119862(120582)

119871119886 (321)

onde119862 120582 = 5155 119899119898 = 44 Å [2229] Esta relaccedilatildeo corresponde a uma expressatildeo

empiacuterica para determinar 119871119886 Entretanto Mernaghet al [30] mostraram que a

razatildeoIDIG depende fortemente da energia laser usada na experiecircncia

Para o estudo realizado neste trabalho iremos utilizar uma expressatildeo empiacuterica

diferente da anterior que eacute vaacutelida para qualquer valor da energia de excitaccedilatildeo laser

Esta expressatildeo foi desenvolvida por Canccediladoet al [31] em 2006 para materiais

carbonosos grafiacuteticos como nanografites A expressatildeo de Canccediladoet al pode ser

escrita como

119871119886 119899119898 =560

1198641198714

119868119863119868119866 minus1

322

ou

119868119863119868119866 119864119871

4 = 560 1

119871119886 119899119898 323

onde119864119871 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressada em (eV) e(IDeIG)correspondem a

intensidades integradas

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

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25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

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46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

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Page 47: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

47

Eacute importante mencionar que as intensidades e consequentemente a razatildeo

IDIGpodem ser determinadas de formas diferentes na literatura Alguns autores

como Tuinstra e Koening [22] fazem uso das intensidades tomando as alturas dos

picos enquantooutros como Canccedilado et al[31] utilizam as intensidades integradas

Como iremos utilizar a expressatildeo de Canccediladoet al[31] nesta dissertaccedilatildeo iremos

empregar as aacutereas integradas dos espectros das bandas D e G para calcularmos119871119886

Para obtermos as intensidades integradas precisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo

que permita realizar um ajuste adequado Entre as funccedilotildees temos Gaussianas [32]

Lorentzianas [31] Peuso-Voigt [33] Breit-Wigner-Fano [34] e tambeacutem uma

combinaccedilatildeo delas [2335] Antecipando podemos informar que as funccedilotildees mais

adequadas para a anaacutelise em nosso caso foram as funccedilotildees Lorentzianas pois

forneceramum melhor ajuste para todos os espectros obtidos

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

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Page 48: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

48

CAPIacuteTULO 4

4PARTE EXPERIMENTAL

41 Tratamentos teacutermicos das amostras de endocarpo de babaccedilu

As amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizadas utilizadas neste trabalho foram

produzidas na Tese de Doutorado de F G Emmerich [1] As amostras com

temperatura de tratamento teacutermico (TTT) menor que 1100 ordmC foram tratadas

termicamente em vaacutecuo com uma taxa de aquecimento de 2 ordmCmin num forno

eleacutetrico O tempo de permanecircncia (residecircncia) da temperatura final foi tal que a aacuterea

abaixo da curva temperatura versus tempo foi constante (igual a 3x105 ordmCmin) Isto

impede carbonizaccedilotildees incompletas As amostras com TTT maiores que 1100 ordmC

sofreram um tratamento preacutevio ateacute 1000 ordmC usando a mesma rotina Em seguida

utilizou-se um forno o vaacutecuo com um elemento resistivo de grafite com uma taxa de

aquecimento de 60 ordmCmin e um tempo de permanecircncia na temperatura final de 5

minutos Maiores detalhes sobre os tratamentos teacutermicos satildeo encontrados nas

referecircncias [140]

42 O espectrocircmetro Raman

As medidas de espalhamento Raman foram realizadas utilizando um microscoacutepio

Raman confocal Witec (sistema alpha 300) localizado nas instalaccedilotildees do laboratoacuterio

de LabPetro UFES Este sistema combina um microscoacutepio confocal extremamente

sensiacutevel com um sistema de espectroscopia de alta taxa de transferecircncia com uma

grande sensibilidade quiacutemica Uma combinaccedilatildeo eficiente de componentes oacutepticos

tais como filtros objetivas e lentes usadas em conjunto com os detectores sensiacuteveis

disponiacuteveis fornecem uma grande resoluccedilatildeo espacial e espectral[36]

Como mostra a Figura 41o equipamento tem um controlador digital (alphacontrol)

que faz a varredura na amostra O microscoacutepio conta com trecircs lentes (20x 50x e

100x) que trabalham a uma distacircncia de 38 mm 048 mm e 026 mm com NA

(abertura numeacuterica) de 04 08 e 09 respectivamente O equipamento conta com

uma cacircmera CCD (do inglecircs charge-coupled device) que eacute

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Page 49: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

49

resfriadatermoeletricamente O microscoacutepio possui dois acopladores laser Raman de

532 nm (Nd YAG) com luz de cor verde e outro de 633 nm(Heacutelio-Neocircnio) de cor

vermelha Uma das ferramentas principais deste equipamento eacute um sistema de

viacutedeo que permite fazer imagens de zonas especiacuteficas da amostra estudada Todos

os dados coletados satildeo processados por um computador com software da WitecA

anaacutelise dos espectros eacute feita com software Origim Pro 85

Figura 41ndash Imagem do Espectrocircmetro Raman Lab-Petro UFES

Na Figura 42 eacute feita uma breve descriccedilatildeo dos componentes do microscoacutepio Raman

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

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Page 50: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

50

Figura 42 ndash Ilustraccedilatildeo esquemaacutetica do microscoacutepio Raman 1- Espectrocircmetro 2-

Fibras oacutepticas multi-modo 3- Saiacuteda da unidade de acoplamento de fibra oacuteptica 4-

Laser 5- Fibra oacuteptica mono-modo 6- Filtro da unidade deslizante 7- Pushrod 8-

Tubo ocular binocular com cacircmera 9- Entrada da unidade de acoplamento oacuteptico

laser 10- Fonte de iluminaccedilatildeo 11- Estaacutegio do microscoacutepio com motor de passo Z

12- Refletor deslizante 13- Turret objetivo 14-Turret objetivo com os objetivos 15-

Etapa de digitalizar16- Posicionador XY [36]

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

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Page 51: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

51

43Mediccedilotildees de Espectroscopia Raman

Para calibrar o equipamento antes do experimento foi usada uma amostra padratildeo de

siliacutecio cujo sinal Raman eacute maior que osinal Rayleigh Todas as experiecircncias foram

feitas agrave temperatura ambiente (20 ordmC) A amostra eacute colocada na base do

microscoacutepio A seguir deve- se focalizar a regiatildeo a serestudada Depois faz-se a

luz do laser incidir na amostra A luz eacute retroespalhada sendo enviada para o

espectrocircmetro O sistema envia osinal para o computador que mostra a imagem do

espectro Aimagem projetada no computador eacute a do sinal Stokes

O sistema tambeacutem permite fazer imagens das diferentes regiotildees do espectro

Raman Este processo permite visualizar outras linhas que natildeo foram detectadas no

inicio Para isto se ilumina a amostra com a fonte laser e obteacutem-se o espectro

Raman deste espectro selecionamos as possiacuteveis regiotildees a detectar outras linhas

diferentes agraves iniciais Destas regiotildees o sistema mapeara uma imagem a qual gerara

seu proacuteprio espectro Raman onde eacute possiacutevel encontrar um espectro diferente ao

inicial O tempo de iluminaccedilatildeo utilizado para mapear cada regiatildeo foi de 85 minutos

para cada amostra A lente utilizada foi de times 20 e os feixes de excitaccedilatildeo luminosa

foram o laser de (NdYAG) 532 nm (233 eV) e o laser de (Heacutelio-Neocircnio) 633 nm

(196 eV)

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

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Page 52: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

52

CAPIacuteTULO 5

5 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

51 Os espectros Raman

As amostras de endocarpo de babaccedilu carbonizadas com temperatura de tratamento

teacutermico (TTT) de 800 a 2200 ordmC foram as que forneceram maior informaccedilatildeo

quantitativa na pesquisa As amostras com TTT menores que 800 ordmC tambeacutem para

mostrar como os espectros Raman evoluem ateacute chegar a TTT de 800 ordmC

Na Figura 51 satildeo mostrados os espectros Raman das amostras tratadas a

temperaturas de 200 400 e 650 ordmC A fonte de excitaccedilatildeo laser foi a de 532 nm

Estas amostras possuem quantidades muito maiores de hidrogecircnio e oxigecircnio que

as amostras com TTT ge 800 ordmCO espectro Raman da amostra com TTT de 200 ordmC

apresenta intensidade muito baixa isto ocorre porque a amostra ainda natildeo foi

carbonizada completamente o ruiacutedo presente no espectro eacute devido agrave parte bioloacutegica

ainda presente

As amostras com TTT de 400 e 650 ordmC apresentam um incremento na intensidade

dos espectros Raman Em amostras deste tipo a desordemeacute alta e o material

apresenta ligaccedilotildeessp3 Nos materiais carbonosos a presenccedila de ligaccedilotildeessp3

favorece a desordem estrutural

As Figuras 52 e 53 mostram os espectros Raman para as amostras com TTT entre

800 a 1400 ordmC excitadas com as fontes lasers de 532 nm e 633 nm

respectivamente

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

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Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

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27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

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JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

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41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

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42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

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45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

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46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 53: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

53

Figura 51- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT de

200 400 e 650 ordmC excitadas com a fonte laser de 532 nm

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

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Wiley amp Sons 1977

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Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

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Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

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73

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1978

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74

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JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

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9 p 1433-1441 2009

75

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25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

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44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

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45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

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2684-2686 1997

Page 54: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

54

Figura 52- Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

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New York Oxford University Press 2001

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2006

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Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

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Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

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11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

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12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

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19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

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22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

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25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

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MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

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1984

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JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

36 WITEC Witec Product Catalogue Disponiacutevel em lthttpwwwwitecdegt

Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 55: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

55

Figura 53 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 800 a 1400 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

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New York Oxford University Press 2001

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2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

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73

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19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

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74

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JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

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Acesso em 28 nov 2013

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38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 56: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

56

Pode-se observar a presenccedila das bandasD e G caracteriacutesticas dos materiais

carbonosos entre as frequecircncias de 1000 e 1800 cm-1 Adicionalmente para o

conjunto as amostras excitadas com a fonte laser de 532 nm(Figura 52) nas

frequecircncias entre 2500 a 3000 cm-1 pode-se perceber uma banda alargada (ou

ldquoombrordquo) muito fraca Esta banda tem relaccedilatildeo com o processo de carbonizaccedilatildeo da

amostra

Na Figura 54satildeo fornecidos os espectros Raman das amostras com TTT entre 1600

a 2200 ordmC Aleacutem da presenccedila das bandasD e G pode-se notar que a banda

alargada fraca observada na Figura 52 tende a crescer e formar a denominada

bandaGrsquo que analisaremos com mais detalhes agrave frente Nas Figuras 54e 55 a

amostra com TTT de 2000 ordmC temos tambeacutem um pico na frequecircncia em torno de 750

cm-1que estaacute relacionado ao carbeto de siliacutecio [37] que seraacute discutido na secccedilatildeo 54

Vamos agora realizar um estudo individual para o espectro Raman da amostra com

TTT de 2200 ordmCdevido agrave maior definiccedilatildeo e intensidade das linhas contidas O

espectro eacute mostrado na Figura 56 Em ~1338 cm-1 temos a banda D na frequecircncia

de ~1574 cm-1 temos a banda GNa frequecircncia de ~1610 cm-1 estaacute a denominada

banda Drsquo que eacute outra banda induzida por desordem Tsuet al [26] observou a

banda Drsquo no estudo de grafite policristalino Para a frequecircncia de ~1089 cm-1

observamos um pico que provavelmente este associado com contribuiccedilotildees de

regiotildees perto do ponto K da primeira zona de Brillouin [38] Todos os picos ateacute agora

satildeo espectros Raman de primeira ordem A seguir descreveremosos espectros

Raman de segunda ordem que tem relaccedilatildeo direita com os espectros de primeira

ordem

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

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6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

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73

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21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

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27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

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33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

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Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 57: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

57

Figura 54 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 532 nm

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

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5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

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6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

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74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

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Page 58: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

58

Figura 55 - Espectros Raman do endocarpo de babaccedilu com temperaturas de

tratamento teacutermico de 1600 a 2200 ordmC para a fonte de excitaccedilatildeo de 633 nm

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 59: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

59

O pico na frequecircncia de ~2673 cm-1 corresponde agrave denominada banda 119866rsquo informada

primeiro por Nemanichet al [26] A bandaGrsquo natildeo tem relaccedilatildeo com a banda Gpor

isso Ferrariet al[28] a denominam de 2D pois a banda Grsquo eacute um sobretom da banda

D No enquanto ela natildeo depende da desordem na rede para existir como eacute

verificado no caso dos HOPG (do inglecircshighly oriented pyrolytic graphite) ou grafite

monocristal cujos espectros Raman mostram a presenccedila das bandas G eGrsquo (2D)

mas natildeo da banda D [2239]

A linha situada na frequecircncia de ~2911 cm-1 eacute a banda denominada (D+G) devido

ao fato a que eacute uma combinaccedilatildeo das bandas D e G Em ~3214 cm-1temos a banda

2Drsquo [40] que eacute a segunda ordem do pico DrsquoOs picos 2De 2Drsquotecircm origem no

processo de espalhamento Raman onde a conservaccedilatildeo de momento eacute cumprida

Por uacuteltimo encontramos a linha localizada em ~2441cm-1 que Tan et al[38]

denominaram D+Tpois eacute o resultado da soma das frequecircncia de D e T onde T eacute a o

pequeno pico com frequecircncia ~1089 cm-1 Este pico eacute atribuiacutedo agraves caracteriacutesticas da

densidade de estados [38]

60

Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

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Figura 56- Espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 2200 ordmC excitada

com a fonte laser de 532 nm O quadro de acima mostra o ajuste feito para detectar

a linha na frequecircncia de 1610 cm-1

52 Determinaccedilatildeo do tamanho Lade cristalito

Conforme discutido na seccedilatildeo 37 para obtermos asintensidades integradas e

determinar Laprecisamos fazer uso de alguma funccedilatildeo que permita realizar um ajuste

adequado As funccedilotildees mais adequadas e que forneceram um melhor ajuste para

todos os espectros por noacutes obtidos foram as funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 57

temos o espectro Raman do endocarpo de babaccedilu com TTT de 1600 ordmC excitado

com a fonte laser de 532 nm (233 eV) e analisada com as funccedilotildees Lorentzianas Os

dados dos espectros Raman das amostras foram coletados no intervalo entre 1000 a

2000 cm-1

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

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New York Oxford University Press 2001

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T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

14 RAMAN C V The molecular scattering of light1930 Disponiacutevel em

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lecturehtmlgt Acessoem 14 ago 2013

15 FERRARO J R NAKAMOTO K BROWN CW Introductory Raman

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16 SMITH E DENT G Modern Raman Spectroscopy Chichester John Wiley amp

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18 Yu P Y Cardona M Fundamentals of Semiconductors Heidelberg

Springer 2010

19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

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30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

1984

31 CANCcedilADO L G TAKAI K ENOKI T ENDO M KIM YA MIZUSAKI H

JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

36 WITEC Witec Product Catalogue Disponiacutevel em lthttpwwwwitecdegt

Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 61: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

61

As medidas do tamanho Lade cristalito foram obtidas por Freitas et al [8] atraveacutes da

teacutecnica de difraccedilatildeo de raios X As amostras com TTT de 200 400 e 650 natildeo foram

incluiacutedas nos caacutelculos do tamanho de cristalito porque seu teor de oxigecircnio eacute

relativamente alto as linhas satildeo muito largas e as incertezas experimentais satildeo

muito altas

Figura 57ndash Exemplo do procedimento do ajuste das Lorentzianas na amostra do

endocarpo de babaccedilu carbonizado com TTT 1600 ordmCe excitaccedilatildeo laser de 532 nm

As aacutereas integradas das bandas D e G do espectro Raman de cada amostra foram

coletados a partir da integraccedilatildeo das funccedilotildees Lorentzianas Na Figura 58fornecemos

o graacutefico da relaccedilatildeo das intensidades integradasIDIGem funccedilatildeo do inverso do

tamanho de cristalito1La para as amostras com TTT entre 800 ateacute 2200 ordmC

excitadas com duas fontes de laser os pontos aproximam-se a diferentes linhas

retas para cada valor de energia usado Isto muda quando a relaccedilatildeo IDIGeacute

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

3 REYNOLDS WN Physical properties of graphite Amsterdam Elsevier 1968

4 CLAYDEN J GREEVES N WARREN S WOTHERS P Organic Chemistry

New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

14 RAMAN C V The molecular scattering of light1930 Disponiacutevel em

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lecturehtmlgt Acessoem 14 ago 2013

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Spectroscopy Amsterdam Elsevier 1994

16 SMITH E DENT G Modern Raman Spectroscopy Chichester John Wiley amp

Sons 2005

17 LOUDON R Proceedings of the Royal Society of London Series A

Mathematical and Physical Sciences v 275 p 218-232 1963

18 Yu P Y Cardona M Fundamentals of Semiconductors Heidelberg

Springer 2010

19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

29 KNIGHT D S WHITE W B J Mater Resv 4 p 385-393 1989

30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

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31 CANCcedilADO L G TAKAI K ENOKI T ENDO M KIM YA MIZUSAKI H

JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

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Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 62: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

62

multiplicada pela energia elevada agrave quarta potecircncia (EL4) como eacute sugerido no

trabalho de Canccedilado et al [31]isto eacute observado na Figura 59 onde todos os pontos

aproximam-se de uma mesma linha reta

Figura 58 ndash Relaccedilatildeo das intensidades integradas das bandas D e G (IDIG) em

funccedilatildeo de 1Lapara todos os espectros com duas energias diferentes de excitaccedilatildeo

laser

Entretanto a linha reta (de cor preta contiacutenua) que apresenta o melhor coeficiente

de correlaccedilatildeo (R2= 0920) natildeo passa pela origem A linha reta tracejada (de cor azul)

que passa pela origem obedecendo a equaccedilatildeo 323 de Canccedilado et al [31] (vaacutelida

para nanografites) tem um coeficiente de correlaccedilatildeo mais baixo ( R2=0799)Conveacutem

tambeacutem observar que a reta de melhor ajuste aos dados (cor preta contiacutenua)

apresenta um coeficiente angular mais proacuteximo ao do observado em nanografites

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

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11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

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27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

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40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

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44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

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45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

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em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 63: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

63

(560 nm(eV)4) do que a reta que passa pela origem Tambeacutem o ponto P que a reta

preta contiacutenua corta o eixo dos x (1La = 00907 nm-1) que corresponde a (IDIG) EL4

= 0 tem um significado fiacutesico mais correto que a origem (1La = 0) Enquanto o ponto

P corresponde a um valor de La maacuteximo igual a 11 nm a origem corresponde a

valores de La muito maiores tendendo ao tamanho macroscoacutepico da amostra

(matematicamente La tendendo a infinito) o que eacute incompatiacutevel para um material

natildeo-grafitizaacutevel como o endocarpo de babaccedilu tratado termicamentePortanto estes

resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacuteticos como o endocarpo

de babaccedilu tratado termicamente a equaccedilatildeo 323 (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Laobtida

do trabalho de Canccedilado et al [31]) requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de um

coeficiente linear)negativo diferente de zero

Figura 59ndash (IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1Lapara o endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente entre 800 e 2200 degC

64

Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

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New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

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Sons 2005

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19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

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30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

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JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

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563 1990

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FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

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41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

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Da Figura 59obtemos os dados necessaacuterios para obter a equaccedilatildeo (51)e poder

deduzir o tamanho de cristalito das amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

A equaccedilatildeo fica da forma seguinte

119871119886 119899119898 =119886

1198641198714 119868119863 119868119866 + |119887|

(51)

onde 1198641198714 eacute a energia de excitaccedilatildeo laser expressa em (eV)4 aeacute o coeficiente

angularda reta de(IDIG) EL4 em funccedilatildeo de 1La que eacute igual a 388 plusmn 31 nm(eV)4 eb eacute

o coeficiente linear da mesma reta que eacute igual a -352 plusmn 76 (eV)4Na Tabela 51

temos os dados obtidos do caacutelculo do tamanho de cristalito por espectroscopia

Raman comparada com os dados de Difraccedilatildeo de raios X

Tabela 51Comparaccedilatildeo do tamanhode cristalitoLa obtidos por Espectroscopia

Raman e por Difraccedilatildeo de raios X (XRD)

TTT

(ordmC)

La- XRD

(nm)

La- Raman (EL= 196 eV)

(nm)

La- Raman (EL= 233 eV)

(nm)

800 30 32 30

1000 33 34 33

1200 39 35 37

1400 40 42 38

1600 42 45 38

1800 46 48 43

2000 53 53 59

2200 56 58 58

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53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

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A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

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Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

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CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

3 REYNOLDS WN Physical properties of graphite Amsterdam Elsevier 1968

4 CLAYDEN J GREEVES N WARREN S WOTHERS P Organic Chemistry

New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

14 RAMAN C V The molecular scattering of light1930 Disponiacutevel em

lthttpwwwnobelprizeorgnobel_prizesphysicslaureates1930raman-

lecturehtmlgt Acessoem 14 ago 2013

15 FERRARO J R NAKAMOTO K BROWN CW Introductory Raman

Spectroscopy Amsterdam Elsevier 1994

16 SMITH E DENT G Modern Raman Spectroscopy Chichester John Wiley amp

Sons 2005

17 LOUDON R Proceedings of the Royal Society of London Series A

Mathematical and Physical Sciences v 275 p 218-232 1963

18 Yu P Y Cardona M Fundamentals of Semiconductors Heidelberg

Springer 2010

19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

29 KNIGHT D S WHITE W B J Mater Resv 4 p 385-393 1989

30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

1984

31 CANCcedilADO L G TAKAI K ENOKI T ENDO M KIM YA MIZUSAKI H

JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

36 WITEC Witec Product Catalogue Disponiacutevel em lthttpwwwwitecdegt

Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 65: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

65

53 Dispersatildeo e carbonizaccedilatildeo do endocarpo de babaccedilu carbonizado

O endocarpo de babaccedilu carbonizado pode ser classificado como um material

carbonosonatildeo-grafitizaacutevel que aleacutem de siacutetios sp2 tambeacutem apresenta siacutetios sp3 como

outros materiais carbonosos que apresentam desordem Os siacutetios sp3 tecircm soacute

estados 120589 no entanto os siacutetios sp2 possuem 120589 e120587 As ligaccedilotildees 120589 e 120587 tecircm um

significante comportamento diferente [23]

Com o aumento da TTT os siacutetios sp3 diminuem progressivamente passando a ser do

tipo sp2 aumentando o nuacutemero de ligaccedilotildees tipo 120587 Os eleacutetrons (e buracos) tipo 120587satildeo

os que proporcionam a conduccedilatildeo nosplanos tipo grafeno A Figura 510 mostra que

a resistividade eleacutetrica cai exponencialmente com o aumento da temperatura de

tratamento teacutermico O processo deconduccedilatildeo eletrocircnicaocorre nestaestruturacom a

participaccedilatildeo dosmicrocristalitos[41]Este comportamento da resistividade eleacutetrica

estaacute relacionado diretamente com o processo de carbonizaccedilatildeo que sofre o

materiale pode ser aqui evidenciado com a espectroscopia Raman pela evoluccedilatildeo

das bandas D e G analisando os valores das larguras a meia altura destas bandas

Figura 510 ndash Resistividade eleacutetrica do endocarpo de babaccedilu em funccedilatildeo da

temperatura de tratamento teacutermico [41]

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

3 REYNOLDS WN Physical properties of graphite Amsterdam Elsevier 1968

4 CLAYDEN J GREEVES N WARREN S WOTHERS P Organic Chemistry

New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

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13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

14 RAMAN C V The molecular scattering of light1930 Disponiacutevel em

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lecturehtmlgt Acessoem 14 ago 2013

15 FERRARO J R NAKAMOTO K BROWN CW Introductory Raman

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16 SMITH E DENT G Modern Raman Spectroscopy Chichester John Wiley amp

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17 LOUDON R Proceedings of the Royal Society of London Series A

Mathematical and Physical Sciences v 275 p 218-232 1963

18 Yu P Y Cardona M Fundamentals of Semiconductors Heidelberg

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19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

29 KNIGHT D S WHITE W B J Mater Resv 4 p 385-393 1989

30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

1984

31 CANCcedilADO L G TAKAI K ENOKI T ENDO M KIM YA MIZUSAKI H

JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

36 WITEC Witec Product Catalogue Disponiacutevel em lthttpwwwwitecdegt

Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 66: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

66

A Figura 511 descreve como variam os valores da largura a meia altura para as

bandas D e G em funccedilatildeo da TTT excitadas com fontes laser de 532 e 633 nm Os

valores das larguras a meia altura diminuem com o aumento da temperatura de

forma similar agrave resistividade eleacutetrica

Figura 511 ndash Largura meia das bandas D eG para as duas fontes laser com relaccedilatildeo

agrave temperatura

As caracteriacutesticasdosespectros Raman de materiais carbonosos com o uso de

diferentes fontes laser foram estudadas por Vidanoet al[42] queobservou que cada

banda tem um comportamento distinto quando se muda a energia de excitaccedilatildeo da

fonte laser No nosso caso pode-se observar que a banda Dmuda sua posiccedilatildeo

quando mudamos a energia do laser corroborando seu comportamento dispersivo

Para a banda Ga posiccedilatildeo muda levemente comprovando seu caraacuteter natildeo dispersivo

Nos espectros do endocarpo de babaccedilu carbonizado podemos observar este

comportamento naFigura 512

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

3 REYNOLDS WN Physical properties of graphite Amsterdam Elsevier 1968

4 CLAYDEN J GREEVES N WARREN S WOTHERS P Organic Chemistry

New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

14 RAMAN C V The molecular scattering of light1930 Disponiacutevel em

lthttpwwwnobelprizeorgnobel_prizesphysicslaureates1930raman-

lecturehtmlgt Acessoem 14 ago 2013

15 FERRARO J R NAKAMOTO K BROWN CW Introductory Raman

Spectroscopy Amsterdam Elsevier 1994

16 SMITH E DENT G Modern Raman Spectroscopy Chichester John Wiley amp

Sons 2005

17 LOUDON R Proceedings of the Royal Society of London Series A

Mathematical and Physical Sciences v 275 p 218-232 1963

18 Yu P Y Cardona M Fundamentals of Semiconductors Heidelberg

Springer 2010

19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

29 KNIGHT D S WHITE W B J Mater Resv 4 p 385-393 1989

30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

1984

31 CANCcedilADO L G TAKAI K ENOKI T ENDO M KIM YA MIZUSAKI H

JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

36 WITEC Witec Product Catalogue Disponiacutevel em lthttpwwwwitecdegt

Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 67: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

67

Figura 512 ndash Variaccedilatildeo da posiccedilatildeo da banda com relaccedilatildeo agrave temperatura

54 Presenccedila do siliacutecio no endocarpo de babaccedilu tratado

termicamente

A espectroscopia Raman permite observarlinhas devido a presenccedila de estruturas

contendo siliacutecio no material como eacute verificado na frequecircncia de ~750 cm-1 da

amostra com TTT de 2000 (cf Figuras 54 e 55) Isto acontece porque o endocarpo

de babaccedilu conteacutem SiO2 na parte mineral (cinzas) que se transforma em SiC a partir

da TTT de 1200 degC Tal transformaccedilatildeo eacute verificada com teacutecnicas como difraccedilatildeo de

raios-X [141] e ressonacircncia magneacutetica nuclear (RMN) [8]

Entretanto as linhas devido agrave presenccedila de siliacutecio (na forma de SiO2 ou SiC) natildeo satildeo

observadas em todos os espectros pois as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo

uniformemente distribuiacutedas em todo o material do ponto de vista microscoacutepico Para

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

3 REYNOLDS WN Physical properties of graphite Amsterdam Elsevier 1968

4 CLAYDEN J GREEVES N WARREN S WOTHERS P Organic Chemistry

New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

14 RAMAN C V The molecular scattering of light1930 Disponiacutevel em

lthttpwwwnobelprizeorgnobel_prizesphysicslaureates1930raman-

lecturehtmlgt Acessoem 14 ago 2013

15 FERRARO J R NAKAMOTO K BROWN CW Introductory Raman

Spectroscopy Amsterdam Elsevier 1994

16 SMITH E DENT G Modern Raman Spectroscopy Chichester John Wiley amp

Sons 2005

17 LOUDON R Proceedings of the Royal Society of London Series A

Mathematical and Physical Sciences v 275 p 218-232 1963

18 Yu P Y Cardona M Fundamentals of Semiconductors Heidelberg

Springer 2010

19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

29 KNIGHT D S WHITE W B J Mater Resv 4 p 385-393 1989

30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

1984

31 CANCcedilADO L G TAKAI K ENOKI T ENDO M KIM YA MIZUSAKI H

JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

36 WITEC Witec Product Catalogue Disponiacutevel em lthttpwwwwitecdegt

Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 68: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

68

demonstrar esta natildeo homogeneidade de distribuiccedilatildeo fornecemos na Figura 513o

mapeamento da amostra com TTT de 800 ordmC A superfiacutecie do material eacute diferenciada

por cores (vermelho verde e azul) onde cada regiatildeo eacute caracterizada por seu proacuteprio

espectro Observa-se que nas regiotildees verde do material aparece uma linha estreita

muito forte em torno da frequecircnciade ~500 cm-1 que eacute associada aacute presenccedila de

SiO2 [43] enquanto nas regiotildees vermelha e azul tal pico forte natildeo aparece Isso

mostra que na TTT de 800 degC temos regiotildees com linha associada agrave presenccedila de

SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave presenccedila de SiC

Embora tenhamsido realizadas mais medidas o detalhamento obtido atraveacutes da

teacutecnica de espectroscopia Raman das mudanccedilas estruturais no material envolvendo

estruturas com a presenccedila de siliacutecio seraacute reportado em maiores detalhes em

trabalhos futuros

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

3 REYNOLDS WN Physical properties of graphite Amsterdam Elsevier 1968

4 CLAYDEN J GREEVES N WARREN S WOTHERS P Organic Chemistry

New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

14 RAMAN C V The molecular scattering of light1930 Disponiacutevel em

lthttpwwwnobelprizeorgnobel_prizesphysicslaureates1930raman-

lecturehtmlgt Acessoem 14 ago 2013

15 FERRARO J R NAKAMOTO K BROWN CW Introductory Raman

Spectroscopy Amsterdam Elsevier 1994

16 SMITH E DENT G Modern Raman Spectroscopy Chichester John Wiley amp

Sons 2005

17 LOUDON R Proceedings of the Royal Society of London Series A

Mathematical and Physical Sciences v 275 p 218-232 1963

18 Yu P Y Cardona M Fundamentals of Semiconductors Heidelberg

Springer 2010

19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

29 KNIGHT D S WHITE W B J Mater Resv 4 p 385-393 1989

30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

1984

31 CANCcedilADO L G TAKAI K ENOKI T ENDO M KIM YA MIZUSAKI H

JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

36 WITEC Witec Product Catalogue Disponiacutevel em lthttpwwwwitecdegt

Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 69: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

69

Figura 513- a) Mapeamento do espectro Raman da amostra de endocarpo de

babaccedilu carbonizado com TTT de 800 ordmC mostrando regiotildees vermelhas verdes e

azuis do material e b) espectros Raman para cada regiatildeo

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

3 REYNOLDS WN Physical properties of graphite Amsterdam Elsevier 1968

4 CLAYDEN J GREEVES N WARREN S WOTHERS P Organic Chemistry

New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

14 RAMAN C V The molecular scattering of light1930 Disponiacutevel em

lthttpwwwnobelprizeorgnobel_prizesphysicslaureates1930raman-

lecturehtmlgt Acessoem 14 ago 2013

15 FERRARO J R NAKAMOTO K BROWN CW Introductory Raman

Spectroscopy Amsterdam Elsevier 1994

16 SMITH E DENT G Modern Raman Spectroscopy Chichester John Wiley amp

Sons 2005

17 LOUDON R Proceedings of the Royal Society of London Series A

Mathematical and Physical Sciences v 275 p 218-232 1963

18 Yu P Y Cardona M Fundamentals of Semiconductors Heidelberg

Springer 2010

19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

29 KNIGHT D S WHITE W B J Mater Resv 4 p 385-393 1989

30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

1984

31 CANCcedilADO L G TAKAI K ENOKI T ENDO M KIM YA MIZUSAKI H

JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

36 WITEC Witec Product Catalogue Disponiacutevel em lthttpwwwwitecdegt

Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 70: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

70

CONCLUSOtildeES

Este trabalho permitiu acompanhar as mudanccedilas estruturais ocorridas no endocarpo

do coco de babaccedilu em funccedilatildeo da temperatura de tratamento teacutermico (TTT) ateacute 2200

ordmC atraveacutes do uso da espectroscopia Raman utilizando-se duas energias de

excitaccedilatildeo laser 532 nm (233 eV) e 633 nm (196 eV)

Os espectros Raman de todas as amostras do endocarpo de babaccedilu carbonizado

apresentaram bandas D e G caracteriacutesticas dos materiais carbonosos [22 23 2627

38 42] Conforme previsto na literatura [42] a banda D teve um comportamento

dispersivo (a frequecircncia do maacuteximo da intensidade varia com a energia de excitaccedilatildeo

laser) e a banda Gexibiu um comportamento natildeo dispersivo

A carbonizaccedilatildeo do material ocorre com um crescimento expressivo dos cristalitos

tipo grafite em funccedilatildeo do aumento da TTT que eacute evidenciada pela diminuiccedilatildeo da

largura das bandas D e G e uma maior definiccedilatildeo e proeminecircncia dos picos A

apariccedilatildeo da banda Grsquo em na TTT de 1800 ordmC e de outras bandas como 2Drsquo D+G e

D+Tevidenciam um maior tamanho e ordenamento dos cristalitos tipo-grafite do

material com os espectros apresentando caracteriacutesticas parecidas agraves de nanofibras

de carbono [44] grafeno multicamadas [40 45] e nanotubos de carbono [46] nos

espectros com maior TTT

Nossos resultados indicam que para materiais carbonosos natildeo-grafiacutetizaacuteveiscomo o

endocarpo de babaccedilu tratado termicamente a expressatildeo de Canccedilado et al [31] para

os valores da dimensatildeo Lados cristalitos requer a adiccedilatildeo de um termo constante (de

um coeficiente linear)negativo na reta de (119868119863 119868119866 ) 1198641198714 em funccedilatildeo de 1119871119886 A nova

expressatildeo obtida indicou que o tamanho maacuteximo da dimensatildeo La dos cristalitos no

endocarpo babaccedilu tratado termicamente eacute da ordem de 11 nm que eacute um valor

compatiacutevel para um material carbonoso natildeo-grafiacutetizaacutevel Seria importante que

pesquisas futuras com outros materiais pudessem verificar os resultados aqui

obtidos inclusive nos valores das constantes obtidas (coeficiente angular e

coeficiente linear dos ajustes)

A mudanccedila estrutural envolvendo o siliacutecio (transformaccedilatildeo de SiO2 em SiC) que estaacute

presente na parte mineral (cinzas) do endocarpo de babaccedilu que pode ser

observada com outras teacutecnicas foi aqui verificada com a espectroscopia Raman Na

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

3 REYNOLDS WN Physical properties of graphite Amsterdam Elsevier 1968

4 CLAYDEN J GREEVES N WARREN S WOTHERS P Organic Chemistry

New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

Wiley amp Sons 1977

7 HARRY M HEINTZ E A RODRIacuteGUEZ-REINOSO F Introduction to Carbon

Technologies Alicante Universidad de Alicante 1997

8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

9 GOLDSTEIN I S In Goldstein IS (editor) Organic chemicals from biomass

Boca Raton CRC Press Inc p 20-40 1981

10 FIGUEREIDO H B et al Atualidades do CNP 1977 9(57) 76

11 ABREU S F O coco de babaccedilu Instituto Nacional de Tecnologia 2a ed Rio

de Janeiro 1940

73

12 LONG DA The Raman EffectChichester John Wiley amp Sons 2002

13 RAMAN C V KRISHNAN K S Nature 121 (1928) 2

14 RAMAN C V The molecular scattering of light1930 Disponiacutevel em

lthttpwwwnobelprizeorgnobel_prizesphysicslaureates1930raman-

lecturehtmlgt Acessoem 14 ago 2013

15 FERRARO J R NAKAMOTO K BROWN CW Introductory Raman

Spectroscopy Amsterdam Elsevier 1994

16 SMITH E DENT G Modern Raman Spectroscopy Chichester John Wiley amp

Sons 2005

17 LOUDON R Proceedings of the Royal Society of London Series A

Mathematical and Physical Sciences v 275 p 218-232 1963

18 Yu P Y Cardona M Fundamentals of Semiconductors Heidelberg

Springer 2010

19 LOUDON R The Quantum Theory of Light New York Oxford University

Press 2000

20 FERRARI A C BASKO D M N Nanotechnology v8 p 235-246 2013

21 PIMENTA M A DRESSELHAUS G DRESSELHAUS MS CANCcedilADO L G

JORIO A SAITO R Phys Chem Chem Phys v9 p1276-1291 2007

22 TUINSTRA F KOENIG J L J Chem Phys v 53 p 1126-1130 1970

23 FERRARI A C ROBERTSON J Phys Rev B v61 p14095-14107 2000

24 THOMSEN C REICH S Phys Rew Letters v 85 p 5214-5217 2000

25 FERRARI A C Solid State Comm v 143 p 47-57 2007

26 TSU R GONZAacuteLES J HERNAacuteNDEZ I Solid State Comm v 27 p 507-510

1978

27 NEMANICH RJ SOLIN S A Solid State Comm v 23 p 417-420 1977

74

28 FERRARI AC MEYER JC SCARDACI V CASIRAGHI C LAZZERI M

MAURI F PISCANEC S JIANG D NOVOSELOV K S ROTH S GEIM A K

Phys Rew Letters v97 p 18740 1-4 2006

29 KNIGHT D S WHITE W B J Mater Resv 4 p 385-393 1989

30MERNAGH T P COONEY R P JOHNSON RA Carbon v 22 p 39-42

1984

31 CANCcedilADO L G TAKAI K ENOKI T ENDO M KIM YA MIZUSAKI H

JORIO A COELHO L N MAGLHAtildeES-PANIAGO R PIMENTA M A Appl

Phys Letters v 88 p 163106 1-3 2006

32 JOHNSON C A PATRICK J W THOMAS K M Fuel v 65 p 1284-1290

1986

33 ZICKLER G A SMARSLY B GIERLINGER N PETERLIK H PARIS O

Carbon v 44 p 3239-3246 2006

34 EKLUND P C SUBBASWAMY K R Phys Rev B v20 p 5157-61 1979

35 MALLET-LADEIRA P PUECH P WEISBECKER P VIGNOLES G L

MONTHIOUX M Appl Phys A v 114 p759-763 2013

36 WITEC Witec Product Catalogue Disponiacutevel em lthttpwwwwitecdegt

Acesso em 28 nov 2013

37 HARIMA H J Mee v 83 p 126-129 2006

38 TAN P H DENG Y M ZHAO Q Phys Rev B v 58 p 5435-5439 1998

39 WANG Y ALSMEYER D C Mc CREERY R L Chem Mater v 2 p 557-

563 1990

40 CASIRAGHI C HARTSCHUH A QIAN H PISCANEC S GEORGI C

FASOLI A NOVOSELOV K S BASKO D M FERRARI A C Nano Letters v

9 p 1433-1441 2009

75

41 EMMERICH F GDE SOUSA JC TORRIANII L LUENGOC A Carbon v

25 p 417 1987

42 VIDANO R P FISCHBACH D B Solid State Comm v 39 p 341-344 1981

43 DRESSELHAUS M S DRESSELHAUS G HOFMANN M Vibrational

Spectroscopy v 45 p 71-81 2007

44 DONGIL A B BACHILLER-BAEZA B GUERRERO-RUIZ A RODRIacuteGUEZ-

RAMOS I MARTIacuteNEZ-ALONSO A TASCOacuteN J M DJournal of Colloid and

Interface Science V 355 p 179ndash189 2011

45DONG J YAO Z YANG T JIANG L SHEN CControl of

Superhydrophilic and SuperhydrophobicGraphene Interface 2013 Disponiacutevel

em lthttpwwwnaturecomsrep2013130425srep01733fullsrep01733htmlgt

Acessoem 30 sep 2013

46LI W ZHANG H WANG C ZHANG Y XU LAppl Phys LettV 70 p

2684-2686 1997

Page 71: CARACTERIZAÇÃO POR ESPECTROSCOPIA RAMANDO …portais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_7717_Disserta%E7%E3o%20Enrique... · obtidas com difração de raios-X foram utilizadas para verificar

71

TTT de 800 degC observamos regiotildees da amostra com uma linha associada agrave

presenccedila de SiO2 enquanto na TTT de 2000degC temos uma linha associada agrave

presenccedila de SiC Entretanto as linhas Raman devido agrave presenccedila de siliacutecio (na

formade SiO2 ou SiC) natildeo satildeo observadas em todos os espectros Isto acontece

porque as estruturas contendo siliacutecio natildeo estatildeo uniformemente distribuiacutedas em todo

o material do ponto de vista microscoacutepico como foi observado na amostra com TTT

de 800 degC O detalhamento das mudanccedilas estruturais envolvendo siliacutecio com a

teacutecnica de espectroscopia Raman seraacute reportado em maiores detalhes em trabalhos

futuros

72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

Universidade Estadual de Campinas

2 HULL D CLYNE T W Introduction to Composite Materials Cambridge

Cambridge University Press 1996

3 REYNOLDS WN Physical properties of graphite Amsterdam Elsevier 1968

4 CLAYDEN J GREEVES N WARREN S WOTHERS P Organic Chemistry

New York Oxford University Press 2001

5 SHRIVER D F ATKINS P W OVERTON T L ROURKE J P WELLER M

T ARMSTRONG F A Inorganic Chemistry New York Oxford University Press

2006

6 COHEN-TANNOUDJI C DIU B LALOEuml F Quantum Mechanics New York John

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8 FREITAS J C C Estudo de materiais carbonosos obtidos por

decomposiccedilatildeo teacutermica de precursores orgacircnicos atraveacutes de espectroscopia de

alta resoluccedilatildeo por ressonacircncia magneacutetica nuclear em conjunccedilatildeo com outras

teacutecnicas experimentais 2000 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash Centro Brasileiro de

Pesquisas Fiacutesicas

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72

REFEREcircNCIAS

1 EMMERICH F G Modelo granular percolaccedilatildeo-resistividade SER e moacutedulo

de elasticidade de materiais carbonosos aplicaccedilatildeo ao endocarpo de babaccedilu

tratado termicamente ateacute 2000 ordmC 1987 Tese (Doutorado em Fiacutesica) ndash

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