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DISSERTAÇÃO CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA E PUNGÊNCIA EM PIMENTA (Capsicum chinense Jacq.) CAROLINA IATESTA DOMENICO CAMPINAS, SP 2011

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DISSERTAÇÃO

CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA E PUNGÊNCIA EM PIMENTA (Capsicum chinense

Jacq.)

CAROLINA IATESTA DOMENICO

CAMPINAS, SP 2011

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INSTITUTO AGRONÔMICO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRICULTURA

TROPICAL E SUBTROPICAL

CARACTERIZAÇÃO AGRONÔMICA E PUNGÊNCIA EM PIMENTA (Capsicum chinense Jacq.)

CAROLINA IATESTA DOMENICO

Orientadora: Dra. Arlete Marchi Tavares de Melo

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Agricultura Tropical e Subtropical, Área de Concentração em Tecnologia da Produção Agrícola.

Campinas, SP Junho, 2011

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Que o alimento seja teu único remédio. (Hipócrates)

Imagem: João Barcelos

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AGRADECIMENTOS

À Prof. Dra. Arlete Marchi Tavares de Melo, pela orientação e confiança depositada no meu

trabalho, pela amizade e carinho e principalmente por incentivar minhas ideias, que muitas

vezes eram chamadas de “sarna para se coçar”, e por acreditar no meu potencial.

Aos pesquisadores do Centro de Horticultura, em especial ao Prof. Dr. Luis Felipe Villani

Purquerio, pelo conhecimento compartilhado.

Aos colegas da Horticultura Jean, Jhou e Fernanda, pela colaboração no desenvolvimento do

experimento e por todos os momentos de descontração.

Aos técnicos de apoio do Centro de Horticultura Léo, João, Osvaldo e Ademir, pelo auxílio na

execução do experimento e pelos ensinamentos sobre agricultura.

Ao Programa de Pós Graduação do Instituto Agronômico, aos professores da Pós Graduação

pelos ensinamentos, apoio e incentivo aos estudos e em especial ao Prof. Dr. Rafael

Vasconcellos Ribeiro, que me ensinou que a pesquisa se inicia pela inspiração e finaliza após

muito trabalho e dedicação.

À Hortivale – Sementes do Vale, pela doação de sementes de um dos acessos avaliados.

A todos os amigos da PG/IAC, com carinho a Ana Carolina, Larissa, Raquel e Daniela.

À pesquisadora e amiga Dra. Maria do Carmo Soares Novo, pela oportunidade de trabalhar

em conjunto e por me acolher na fase de finalização do projeto.

À Prof. Dra. Helena Godoy e aos os alunos Marla e Janclei, da UNICAMP, pela colaboração

nas análises fitoquímicas do experimento.

Aos meus pais, Antônio e Mariângela, e ao meu irmão Tiago, pelo apoio, incentivo, amor,

diálogo, paciência e, principalmente, por acreditarem no meu sonho e investir nele junto

comigo.

Ao meu marido, Leonardo, por sempre incentivar e apoiar as minhas escolhas profissionais;

pelo companheirismo constante, compreensão, respeito, amor e por ser feliz comigo.

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS .......................................................................................... v

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... vi

RESUMO .............................................................................................................. vii

ABSTRACT .......................................................................................................... viii

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 1

2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................... 2

2.1 Origem e Dispersão de Capsicum ................................................................... 2

2.2 Importância Econômica da Pimenta Hortícola ............................................... 4

2.3 Valor Nutricional da Pimenta Hortícola ......................................................... 6

2.4 Biologia de Capsicum ..................................................................................... 7

2.5 Caracterização e Conservação da Diversidade Genética de Capsicum

chinense ................................................................................................................. 9

2.6 Pungência em Capsicum ................................................................................. 11

3 MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................... 14

3.1 Condução do Experimento .............................................................................. 15

3.2 Características Agronômicas Avaliadas ......................................................... 17

3.3 Determinação do Conteúdo de Capsaicina ..................................................... 18

3.4 Análise Estatística ........................................................................................... 19

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 20

4.1 Características Agronômicas .......................................................................... 21

4.2 Determinação do Conteúdo de Capsaicina ..................................................... 25

4.3 Considerações Finais ...................................................................................... 27

5 CONCLUSÕES ................................................................................................. 29

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 30

7 ANEXOS .…………………………………………………………………….. 36

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Acessos de Capsicum chinense utilizados no experimento e seus respectivos nomes comuns. IAC, Campinas, SP, 2010 .......................................................... 15

Tabela 2 - Resultado da análise química do solo da área experimental. IAC, Campinas, SP, 2010 ............................................................................................................... 16

Tabela 3 - Resultado da análise química do solo da área experimental, micronutrientes. IAC, Campinas, SP, 2010 ................................................................................... 17

Tabela 4 - Resumo das análises de variância para produtividade (PD), massa fresca do fruto (MF), comprimento do fruto (CF), largura do fruto (LF), altura da planta (AP), e conteúdo de capsaicina (CC) de nove acessos de Capsicum chinense. IAC, Campinas, SP, 2010 ................................................................................... 20

Tabela 5 - Valores médios de produtividade, massa fresca, comprimento e largura do fruto e, altura da planta de nove acessos de Capsicum chinense. IAC, Campinas, SP, 2010 ............................................................................................ 22

Tabela 6 - Características descritas para os frutos de nove acessos de Capsicum chinense. IAC, Campinas, SP, 2010 ................................................................................... 24

Tabela 7 - Valores médios de conteúdo de capsaicina (mg g-1) em frutos de nove acessos de Capsicum chinense. IAC, Campinas, SP, 2010 ............................................. 26

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa das zonas de expansão pré-colombiana para quatro das espécies domesticadas de Capsicum ..................................................................... 3

Figura 2 - Cálice com apresentação de constrição anelar (direita), característica específica de Capsicum chinense ............................................................ 9

Figura 3 - Corte longitudinal de um fruto de pimenta do gênero Capsicum, destacando a região da placenta onde se concentram os capsaicinóides. 12

Figura 4 - Estrutura química da capsaicina e diidrocapsaicina ............................... 12

Figura 5 - Vista geral do campo experimental. IAC, Campinas, SP, 2010 ............. 15

Figura 6 - Curva de calibração da capsaicina. IAC, Campinas, SP, 2010 ............... 18

Figura 7 - Cromatograma da solução padrão mostrando o pico de capsaicina (c). IAC, Campinas, SP, 2010 ....................................................................... 19

Figura 8 - Ilustração do tamanho, formato e cor de frutos de nove acessos de Capsicum chinense. IAC, Campinas, SP, 2010 ................................... 24

Figura 9 - Número de dias para a antese da primeira flor em nove acessos de Capsicum chinense. IAC, Campinas, SP, 2010 ...................................... 25

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LISTA DE ANEXOS

Anexo 1 - Características de formato do fruto, de acordo com o descritor de Capsicum (IPGRI, 1995) ........................................................................ 36

Anexo 2 - Características de hábito de crescimento da planta, de acordo com o descritor de Capsicum (IPGRI, 1995) ..................................................... 37

Anexo 3 - Valores de temperatura média e de precipitação em Campinas, SP, durante a avaliação de acessos de Capsicum chinense, no período de janeiro a outubro de 2010. IAC, Campinas, SP, 2010 ............................ 38

Anexo 4 - Características de planta e fruto de nove acessos de Capsicum

chinense em estádio de franca produção. IAC, Campinas, SP, 2010 ..... 38

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DOMENICO, Carolina Iatesta. Caracterização agronômica e pungência em pimenta (Capsicum chinense Jacq.) 2011. 38f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia da Produção Agrícola) Pós-Graduação – IAC.

RESUMO

O objetivo do trabalho foi avaliar características agronômicas e pungência de nove acessos de

Capsicum chinense do Banco de Germoplasma do Instituto Agronômico, nas condições

edafoclimáticas de Campinas, SP. O experimento foi realizado de janeiro a outubro de 2010,

utilizando delineamento experimental em blocos casualizados, com nove tratamentos, cinco

repetições e oito plantas por parcela. Foram avaliadas características de produção, do fruto e

da planta e o conteúdo de capsaicina, quantificado por meio de cromatografia líquida de ultra

pressão - UPLC. Os resultados foram analisados pelo teste F e as médias comparadas pelo

teste de Tukey. O acesso IAC 1646 destacou-se como um dos mais produtivos (566,7 g

planta-1), com maior largura (2,4 cm) e maior massa fresca do fruto (7,7 g). Para o

comprimento do fruto, o acesso IAC 1641 apresentou os frutos mais longos (7,7 cm). Quanto

ao formato do fruto, os acessos classificaram-se em alongados redondos, triangulares

campanulados e bloco. Em relação à coloração do fruto, observaram as cores amarela, laranja,

salmão e vermelha. Quanto à superfície do fruto, os acessos foram caracterizados como lisos,

semi-rugosos e rugosos. Constatou-se hábito de crescimento compacto das plantas para a

maioria dos acessos e, em apenas dois, observou-se hábito ereto. A altura das plantas variou

de 0,59 a 0,76 m nos acessos de hábito compacto, e de 0,85 a 1,13 m naqueles de hábito ereto.

O acesso IAC 1643 mostrou-se o mais precoce, com antese da primeira flor aos 75 dias após a

semeadura. Exceto dois acessos doces, os demais mostraram-se com alto conteúdo de

capsaicina, com valores de 18,82 a 71,56 mg g-1 de fruto fesco. O acesso IAC 1552

(‘Murupi’) destacou-se com maior conteúdo de capsaicina, superando IAC 1646 (‘Scoth

Bonnet’) e IAC 1644 (‘Fidalga’), do tipo habanero. Concluiu-se que, nas condições

edafoclimáticas em que a pesquisa foi desenvolvida e considerando os acessos avaliados,

existe alta variabilidade em pimenta de cheiro para características agronômicas e conteúdo de

capsaicina.

Palavras-chave: pimenta de cheiro, diversidade, capsaicina, hortaliça, condimento.

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DOMENICO, Carolina Iatesta. Agronomic performance and pungency of chilli (Capsicum

chinense Jaqc.). 2011. 38f. Dissertação (Mestrado em Tecnologia da Produção Agrícola) Pós-Graduação – IAC.

ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate agronomic traits and pungency in nine accessions of

Capsicum chinense of Instituto Agronômico Germoplasm Bank, in climate an soil conditions

of Campinas, São Paulo State, Brazil. The experiment was carried out from January to

October 2010. The experimental design was randomized blocks, with nine treatments, five

replications and eight plants per plot. Fruit and plant traits, production and capsaicin content

were evaluated. Capsaicin content was measured by ultra-high pressure liquid

chromatography (UPLC). The results were analyzed by F test and means were compared by

Tukey test. Access IAC 1646 stood out with high yield (566.7 g plant-1), fruit width (2.4 cm)

and fresh weight (7.7 g). Access IAC 1641 showed the longest fruits (7.7 cm). As for fruit

shape, accessions were classified into elongated, round, triangular, campanulate and block.

Regarding the fruit color, were observed yellow, orange, salmon and red colors. As the

surface of the fruit, the accessions were characterized as smooth, semi-rough and rough. It

was found compact growth habit of plants for the most accessions, and only two there were

erect habit. Plant height ranged from 0.59 to 0.76 m in accessions of compact habit, and from

0.85 to 1.13 m in those of erect habit. Access IAC 1643 was the earliest to reach first flower

anthesis, 75 days after sowing. Except for two sweet accessions, others have high capsaicin

content, with values ranging from 18.8 to 71.5 mg g-1 fresh fruit. Access IAC 1552 ('Murupi')

stood out as the highly capsaicin content, outperforming IAC 1646 ('Scoth Bonnet') and IAC

1644 (‘Fidalga’), habanero types. It was concluded that in the climate and soil conditions of

research development and regarding to the accessions evaluated, there was high variability in

chili peppers for agronomic traits and capsaicin content.

Keywords: chili pepper, diversity, capsaicin, vegetable, spice.

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1 INTRODUÇÃO

Entre as hortaliças nativas da região tropical das Américas, a pimenteira do gênero

Capsicum foi uma das plantas domesticadas antes da chegada dos europeus. A partir das

espécies selvagens, os povos primitivos domesticaram pelo menos cinco espécies de

Capsicum: C. pubescens, C. baccatum, C. annuum, C. chinense e C. frutescens (NUEZ et al.,

1996). As pimentas foram, provavelmente, os primeiros temperos utilizados pelos índios para

conferir cor, aroma e sabor aos alimentos. Além de tornar as carnes e os cereais mais

atraentes ao paladar, as pimentas auxiliavam na conservação dos alimentos por apresentarem

função fungicida e bactericida (REIFSCHNEIDER, 2000).

Essa solanácea arbustiva, de pungência variada, atualmente, vem sendo mantida em

sítios de pequenos e médios agricultores em muitas regiões do mundo (CASALI & COUTO,

1984). Constituem um grupo muito peculiar pelo seu sabor e por estimular as funções

digestivas, sendo parte da dieta de um quarto da população do planeta (TEIXEIRA, 1996).

As pimentas, em sua maioria, possuem sabor pungente característico devido à

presença do alcalóide capsaicina na placenta e, em menor quantidade, nas sementes e no

pericarpo do fruto (REIFSCHNEIDER, 2000). Como na maioria das plantas, os frutos das

pimentas, além desse alcalóide, contêm ainda, água, óleos fixos e voláteis, carotenóides,

resinas, proteínas, fibras e elementos minerais. Esse conjunto de compostos químicos confere

aos frutos um alto valor nutricional (BOSLAND & VOTAVA, 1999).

A pungência é uma característica de qualidade para pimentas frescas e também para

produtos processados, sendo o conteúdo de capsaicina um dos requisitos majoritários para

determinar a qualidade comercial dos frutos de pimenta. A importância da capsaicina se deve

a diversos fatores, mas principalmente, ao fato de ser o princípio ativo que representa as

propriedades farmacêuticas das pimentas e por ser a principal responsável pela sensação de

ardor (NWOKEM et al., 2010).

O cultivo de pimentas no Brasil é de grande importância, quer por suas características

de rentabilidade, principalmente quando o produtor agrega valor ao produto, quer por sua

importância social. Do ponto de vista social, o cultivo de pimenta é feito por agricultores

familiares e gera empregos, pois exige grande quantidade de mão de obra, em especial

durante a colheita (MOREIRA et al., 2006). De acordo com a Embrapa Hortaliças, desde o

preparo do solo até a colheita, a atividade gera de três a quatro empregos diretos, com uma

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renda bruta que oscila entre R$ 4 e 12 mil/ha/ano (PANORAMA RURAL, 2006). A produção

ocorre praticamente em todas as regiões do país, sendo um dos melhores exemplos de

agricultura familiar e de integração pequeno agricultor com a agroindústria. São conhecidos

como principais produtores os estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Ceará e Rio

Grande do Sul (EMBRAPA, 2008).

No mercado brasileiro, são popularmente conhecidos e apreciados os tipos malagueta,

dedo de moça, de cheiro (ou de bode), americana doce, cumari e, mais recentemente, a

pimenta de bico, que não tem pungência. Dentre todos os tipos cultivados no Brasil as

pimentas de cheiro são consideradas as mais brasileiras e seu consumo e cultivo predominam

na região Norte. Destacam-se pela grande variabilidade no formato dos frutos, na pungência

e na coloração que vai de amarelo a vermelho, com diversas intensidades, e pode ser preta

(RUFINO & PENTEADO, 2006; MOREIRA et al., 2006).

De maneira geral, a diversidade e a pungência dos frutos de pimenta, seus atributos

sensoriais, a composição química, as ações fisiológicas correlatas e o crescimento da

aceitação e da preferência por várias populações, aumentaram o interesse na pesquisa

científica relacionada com os diferentes aspectos desta cultura (SURH et al., 2002). Apesar

de a espécie ser abundantemente encontrada em todo o país, há pouca informação científica

sobre a variabilidade existente entre acessos da mesma espécie.

Pelo exposto, objetivo desse trabalho foi avaliar características agronômicas e

conteúdo de capsaicina em acessos de pimenta de cheiro do Banco de Germoplasma de

Capsicum do Instituto Agronômico, nas condições edafoclimáticas de Campinas, SP.

2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Origem e Dispersão de Capsicum

O centro de origem do gênero Capsicum é a América, destacando-se as regiões

tropicais (REIFSCHNEIDER, 2000). Com base em informações geográficas e dados de

eletroforese, McLEOD et al. (1982), elaboraram a hipótese de que a “área nuclear” seria numa

zona central da Bolívia. Esses autores sugeriram que a espécie ancestral se dividiu em dois

agrupamentos, um de flores brancas e outro de flores púrpuras que, subseqüentemente,

sofreram especiação quando se formou a cordilheira dos Andes. As plantas foram forçadas a

adaptarem-se às novas condições climáticas que resultaram em características distintas como

pungência e porte ereto das bagas (SANTOS, 2009).

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Foi relatado por MARTIN et al. (1979), que o centro de origem de C. annuum é o

México; de C. frutescens as Américas tropical e sub-tropical; de C. baccatum, a América do

Sul; C. pubescens foi dispersada a partir dos Andes e C. chinense, em toda a América tropical,

sendo a espécie mais comum encontrada na Amazônia.

A associação do homem às pimentas teve início há 10 ou 12 mil anos, quando as

primeiras populações habitaram as Américas. Das várias espécies selvagens de Capsicum, o

mapa de expansão pré-colombiana revela quatro das cinco espécies domesticadas (Figura 1)

(NUEZ et al., 1996).

Figura 1 - Mapa das zonas de expansão pré-colombiana para quatro das espécies domesticadas de Capsicum.

Com a chegada dos navegadores portugueses e espanhóis nas Américas, as pimentas

foram introduzidas na Europa e, a partir daí, na África e na Ásia. Suas embarcações foram

essenciais para a dispersão das pimentas doces e picantes pelo mundo (ANDREWS, 1984).

Em meados do século XVI, já se cultivava C. annuum na Índia, levada para o Oriente Médio

pelos colonizadores espanhóis por ser mais ardida e por ser uma alternativa mais barata que a

pimenta do reino (Piper nigrum L.), cujo monopólio sobre a comercialização era dos

portugueses.

Nuez et al., 1996

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Nessa mesma época, pimentas das espécies C. frutescens e C. chinense,

principalmente, podiam ser encontradas na Europa e na África e, no século XVII já estavam

presentes na Oceania. Portanto, comparada a outras solanáceas hoje importantes na

alimentação humana, como por exemplo, o tomate e a batata, cultivados exclusivamente

como ornamentais logo após sua introdução na Europa, a pimenta foi aceita e difundida de

maneira muito mais rápida na dieta dos povos europeus e seus vizinhos asiáticos e africanos

(CASALI & COUTO, 1984; NUEZ et al., 1996).

2.2 Importância Econômica da Pimenta Hortícola

A cadeia produtiva de pimenta destaca-se na comercialização in natura, em pequenas

quantidades no atacado e varejo, valendo ressaltar que esse mercado é fortemente

influenciado pelos hábitos alimentares regionais. No entanto, outro segmento importante e

com grande potencial para exportação é o das pimentas processadas ou industrializadas para a

fabricação de produtos alimentícios, farmacêuticos, cosméticos e ornamentais (CASALI &

COUTO, 1984; RIBEIRO et al., 2008). Segundo REIFSCHNEIDER (2000), o agronegócio

de pimenta é bastante amplo, pois envolve desde pequenas fábricas artesanais caseiras de

conservação até empresas multinacionais que competem na exportação de especiarias e

temperos. A perspectiva do mercado de pimentas é praticamente ilimitada pela versatilidade

de suas aplicações culinárias, industriais, farmacêuticas e ornamentais.

A crescente demanda pelo produto tem impulsionado o aumento da área cultivada e o

estabelecimento de agroindústrias, tornando o agronegócio de pimentas, tanto doces quanto

picantes, um grande segmento de hortaliças no país. Além do mercado interno, parte da

produção brasileira é exportada de diferentes formas, como páprica, pasta, desidratada e

conservas ornamentais (EMBRAPA, 2008).

O mercado de pimenta hortícola, cujo mercado é estimado em 80 milhões de reais ao

ano, é um segmento com grande potencial de crescimento em todos os continentes

(EMBRAPA, 2008). De acordo com Associação Brasileira do Comércio de Mudas e

Sementes, o Brasil cultivou uma área de 1979,89 hectares de pimentas (doce e ardida) e

comercializou o equivalente a 590,12 kg de sementes (ABCSEM, 2011). A produção de

pimenta como especiaria e como hortaliça apresentou um aumento mundial de 21%, de 1994

a 1998 (BOSLAND & VOTAVA, 1999). De acordo com o Trade Information Brief (TIB,

2005), a razão do aumento do consumo de pimentas, nos países desenvolvidos, está associada

a uma crescente conscientização dos benefícios de uma dieta salutar, à crescente migração das

populações que partilham seus hábitos alimentares e ao aumento da renda. Nos países em

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desenvolvimento, o aumento do consumo está relacionado ao aumento da produção, como

reflexo da crescente industrialização e urbanização.

Apesar de sua importância, os dados estatísticos de produção e comercialização de

pimenta hortícola no Brasil são escassos e a pouca informação disponível não reflete a

realidade econômica dessa hortaliça, visto que grande parte da produção é comercializada em

mercados regionais e locais que não fazem parte das estatísticas (DOMENICO et al., 2010).

Nos mercados atacadistas brasileiros, as cotações de preços para as pimentas não

distinguem os tipos, simplesmente os agrupa em classes genéricas, como “pimenta”, “pimenta

vermelha” ou “pimenta ardida”. Apenas as Centrais de Abastecimento de Goiás (CEASA-

GO) discrimina todos os tipos de pimentas e faz as cotações separadamente (HENZ, 2004).

Por sua vez, na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP),

faz-se levantamento apenas de três tipos, vermelha (dedo de moça), cambuci e verde

americana, embora muitos outros tipos sejam comercializados nessa central de

hortifrutigranjeiros. Apenas para esses três tipos, em 2010 foram comercializados 5,01 mil

toneladas, produzidas em 243 hectares em regiões do estado de São Paulo (CAMARGO1,

2011). Usando como exemplo somente a produção paulista, e considerando que o comércio

local é intenso, os valores de área cultivada e produção são subestimados comprovando a alta

informalidade na comercialização e a exigüidade de registros estatísticos sobre essa cultura.

Além do mercado in natura, também carece de informações estatísticas o segmento de

pimentas processadas ou industrializadas que constituem matéria prima para a fabricação de

condimentos, alimentos em conserva, molhos, geléias e temperos, além se serem

comercializadas com fins medicinais e ornamentais (CASALI & COUTO, 1984; RIBEIRO et

al., 2008).

Os dados mundiais de produção de Capsicum, quando disponíveis, englobam pimentas

e pimentões. Em 2009, a produção mundial de Capsicum in natura e desidratados foi de 31,44

milhões toneladas em 3,71 milhões de hectares, com produtividades médias de 15,2 t ha-1 e

1,61 t ha-1, respectivamente. A maior diversidade de dados é originária do continente asiático,

devido à importância econômica que a cadeia produtiva de Capsicum tem naquele continente.

Atualmente a Ásia obtém a maior produção mundial, com 20,97 milhões de toneladas em

2,36 milhões de hectares e produtividade média de 16,99 t ha-1. Nesse cenário, a Índia

destaca-se como grande produtora e também consumidora, pois emprega cerca de 90% do que

produz. Em 2003, o país produziu 4,5 milhões de toneladas de pimenta in natura em 945,5

1 Comunicado pessoal - Ana M.M.P. de Camargo, Pesquisadora Científica, Instituto de Economia Agrícola (IEA), Estado de São Paulo, 2011.

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mil hectares, mas com baixa produtividade, de apenas 4,7 t ha-1. Para Capsicum desidratados,

destacou-se o alto rendimento do Peru, com 7,67 t ha-1, quando comparado com a média

asiática, de 1,7 t ha-1. Comparados com os dados de produção da Ásia, em 2009, os da

América do Sul, ausentes no caso do Brasil, são extremamente baixos e certamente refletem a

falta de levantamento estatístico adequado. O continente sul-americano produziu 425,29 mil

toneladas em 28,58 mil hectares com produtividade de 14,88 t ha-1 (ALI, 2006; FAOSTAT,

2011).

2.3 Valor Nutricional da Pimenta Hortícola

Os frutos de Capsicum são fontes importantes de três antioxidantes naturais, as

vitaminas C e E e os carotenóides. É importante ressaltar que a secagem e o cozimento dos

frutos levam à perda de vitamina C, sendo praticamente 100% no primeiro caso e 60%

quando cozidos (RIBEIRO et al., 2008). Os frutos maduros de diferentes variedades de

pimenta concentram altas quantidades dos carotenóides capsantina e capsorubina, que são

sintetizados nos cloroplastos e têm a função de proteger o aparato fotossintético das reações

oxidativas deletérias (CAMARA et al., 1982) e conferir coloração vermelha e amarela aos

frutos (NUEZ et al., 1996). As pimentas são, também, fontes de vitaminas do complexo B

(tiamina, riboflavina, niacina, B-6 e ácido fólico) e A, e ainda de fibras, elementos essenciais

no processo da digestão e prevenção de doenças intestinais (REIFSCHNEIDER, 2000).

Tão importantes quanto os outros elementos, as antocianinas, que são compostos

flavonóides encontrados nas pimentas, são responsáveis pela coloração vermelha ou roxa em

órgãos como frutos, flores, talos e folhas. No caso de Capsicum, geralmente imprimem

coloração nos tecidos, o que torna as plantas mais atrativas do ponto de vista ornamental

(OCHOA-ALEJO & RAMÍREZ-MALAGÓN, 2001).

As pimentas doces são amplamente usadas como corantes naturais na forma de pó

(páprica) e de extrato concentrado na forma de oleoresina, sendo esta última também utilizada

em cremes para tratamento de dor (OCHOA-ALEJO & RAMÍREZ-MALAGÓN, 2001).

Além disso, os frutos de pimenta são ricos em minerais e produzem compostos responsáveis

pelos diversos sabores e aromas que os distinguem entre si e que se acumulam durante o

processo de maturação. Segundo RATHORE & SHEKHAVAT (2008), o indiano consome

9,5 g de condimentos por dia, contribuindo com aproximadamente 7% da necessidade diária

de nutrientes.

Nos países em que a população já tem consciência da importância de uma alimentação

saudável, os consumidores vêm substituindo açúcar, sal e aromatizantes artificiais por

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produtos alternativos. Nesse processo de mudança, a indústria também está substituindo os

condimentos artificiais por produtos naturais. Conseqüentemente, essa tendência deverá

demandar aumento do uso de pimentas e pimentões (TIB, 2005). Com efeito, tem se

verificado aumento do consumo per capita de Capsicum. Segundo VALENZUELA (2011), o

consumo norte americano de pimentas e pimentões passou de 6 kg em 2000, para 7,3

kg/pessoa em 2008.

Segundo o TIB (2005), o consumo apenas de pimenta hortícola nos Estados Unidos

passou de 1,8 kg, em 1985, para 2,8 kg/pessoa, em 2004. Ao mesmo tempo, há estudos de

setores ligados à saúde humana sobre a ação negativa do consumo excessivo de pimenta. Em

pesquisa feita pela European Commission Health & Consumer Protection (ECHCP, 2002)

verificou-se que o consumo per capita na Índia e Tailândia, em 1983, foi de 0,7 e 1,8 kg,

respectivamente, e no México, em 1994, foi de 7,3 kg de pimenta/pessoa/ano. No entanto, a

comissão concluiu não ter dados suficientes para estabelecer um nível seguro de conteúdo de

capsaicinóides nos alimentos.

2.4 Biologia de Capsicum

As pimentas hortícolas pertencem à família das Solanaceas e ao gênero Capsicum,

assim denominadas para diferenciá-las da pimenta do reino (P. nigrum L.), da pimenta rosa

(Schinus molle L.) e da pimenta da jamaica (Pimenta officinalis Lindl.). Todas elas, embora

chamadas de pimentas e utilizadas como condimento, não possuem parentesco entre si e cada

qual apresenta propriedades químicas distintas (CARVALHO et al., 2006).

O nome do gênero Capsicum deriva do grego: Kapso (picar) ou Kapsakes (cápsulas) e

a palavra pimenta aparece na língua castelhana no século XIII, derivada do latim pigmenta,

plural de pigmentum, corante (NUEZ et al., 1996).

Devido à grande variação na forma, tamanho e cor dos frutos de Capsicum, assim

como nos demais componentes morfológicos desse gênero, uma maneira prática de organizar

essa enorme diversidade é pelo agrupamento em espécie, variedade e cultivar. Além desses

agrupamentos usuais, as pimentas também podem ser englobadas em complexos de espécies,

que reúnem os indivíduos passíveis de cruzamento entre si. Esse arranjo é importante, pois se

trata da primeira aproximação entre as espécies selvagens. Atualmente, estão estabelecidos

três complexos: 1) C. annuum, que inclui as espécies C. annuum, C. frutescens e C. chinense;

2) C. baccatum, formado apenas pela espécie C. baccatum var. pendulum; e 3) C. pubescens,

também constituído de somente uma espécie, C. pubescens (BOSLAND & VOTAVA, 1999).

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Entre as cinco espécies cultivadas no Brasil destaca-se C. chinense cujo cultivo e

consumo predominam na região Norte. Destacam-se pela grande variabilidade no formato,

coloração e pungência dos frutos (RUFINO & PENTEADO, 2006; MOREIRA et al., 2006).

NASCIMENTO FILHO et al. (2007) em trabalho realizado em Roraima verificaram que a

espécie C. chinense foi predominante entre os 78 morfotipos identificados em áreas indígenas

e, que a mesma espécie é apontada por migrantes, derivados de diversas regiões do país, como

a mais cultivada.

A denominação Capsicum chinense foi dada pelo físico e botânico holandês Nikolaus

Joseph von Jacquin e foi registrada no Hortus botanicus vindobonensis, 3: 38, pl. 67 como

Capsicum chinense Jacquin, 1776. Embora, na época, já se soubesse que todas as espécies de

Capsicum tinham o hemisfério ocidental como centro de origem, equivocadamente Jacquin

deu-lhe o nome de C. chinense por considerar a espécie como sendo originária da China

(ANDREWS, 1984; BOSLAND & VOTAVA, 1999).

O International Plant Genetic Resource Institute (IPGRI, 1995), órgão da FAO

atualmente denominado de Biodiversity International, propôs uma listagem de descritores

morfológicos e fenológicos para caracterizar o gênero Capsicum. Os descritores mais

importantes na diferenciação de C. chinense são a coloração da corola e a presença de

constrição anelar localizada no cálice em sua união com o pedicelo. Diversos autores

concordam com estas distinções morfológicas entre C. chinense e as demais espécies

cultivadas (NUEZ et al., 1996; CARVALHO et al., 2003).

Segundo SMITH & HEISER (1957) a espécie apresenta a seguinte descrição botânica:

C. chinense Jacquin (syn. C. sinense), plantas arbustivas com 0,45 a 0,76 m de altura; hábito

ereto, prostrado ou compacto; folhas e ramos essencialmente glabros, pequena pubescência,

folhas ovadas a ovado-lanceoladas de 10,5 cm, largas, macias ou rugosas, de tonalidade verde

claro a escuro; as flores aparecem de 3 a 5 por nó, exceto em plantas depauperadas; o pedicelo

é pendente, raramente ereto, relativamente curto e grosso na antese; cálice sem dentes com

forte constrição na base (Figura 2) e raramente sem constrição; corola verde-amarelada ou

raramente esbranquiçada, medindo de 0,5 a 1,0 cm de comprimento; anteras azuis, púrpuras

ou amareladas. De modo geral, apresentam flores hermafroditas com autofecundação sendo,

portanto, autocompatível. Entretanto os níveis de polinização cruzada variam entre e dentro

das espécies (0,5 a 70%), o que possibilita colocá-las no grupo intermediário entre alógamas e

autógamas (CASALI & COUTO, 1984). COSTA et al. (2008) afirmaram que a

autopolinização natural em C. chinense é eficiente, sem dependência de agentes polinizadores

e os acessos avaliados apresentaram o comportamento de plantas autógamas. Apresentam

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frutos de polpa firme que variam de 1,0 a 12,0 cm de comprimento, com formas variáveis, de

esféricas a alongadas, pouco ou muito enrugados, de cores salmão, laranja, amarela, vermelha

ou marrom. Sementes cor de palha com margem ondulada e raramente suave, número

cromossômico 2n = 24. O sistema radicular é pivotante, as folhas apresentam cor verde, em

ambientes naturais tem ciclo de vida perene embora em muitas partes do mundo se

comportem como anuais (RIBEIRO et al., 2008), principalmente, quando cultivadas para fins

comerciais, pelo fato de terem maior número de frutos no primeiro ano.

Figura 2 - Cálice com apresentação de constrição anelar (direita), característica específica de Capsicum chinense.

Algumas espécies de pimenta silvestres como a cumari (C. baccatum var.

praetermissum) apresentam mecanismos de dormência ainda muito atuantes. O principal tipo

de dormência envolvido é o endógeno em que estão presentes alguns tipos de fitormônios

inibidores da germinação. Nas espécies domesticadas, durante o processo evolucionário,

foram selecionados acessos sem dormência.

Em ambiente aberto, os pássaros são o principal meio de dispersão das sementes, que

se alimentam dos frutos e promovem a disseminação por meio das fezes. Além disso, a

passagem pelo sistema digestivo das aves parece melhorar a germinação de sementes,

notadamente daquelas com dormência (TEWKSBURY et al., 2006).

2.5 Caracterização e Conservação da Diversidade Genética de Capsicum chinense

Somente a partir do final do século passado, esforços de países caribenhos e latinos

foram iniciados no sentido de resguardar a diversidade genética em Capsicum, ainda

encontrada com populações tradicionais, como ribeirinhos, indígenas e pequenos agricultores

(HERNANDEZ, 2002; CARVALHO et al., 2003; ADAMS, 2004).

Luz, 2007

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CASALI & COUTO (1984) observaram que a maior diversidade de C. chinense está

na bacia amazônica, muito embora, já naquela época, fossem raras as ações regionais para

conservação dessa espécie. Segundo os autores, as atividades conservacionistas realizadas

com o germoplasma de pimentas da Amazônia eram a coleta de morfotipos e a conservação

em Bancos de Germoplasma (BAG), além de pequenas coleções, aliadas à conservação in situ

realizada informalmente por populações tradicionais da região. Mais recentemente, foram

conduzidas pesquisas que enriqueceram o conhecimento sobre a espécie, como por exemplo,

LANNES et al. (2007) que estudaram o desenvolvimento e a qualidade dos frutos de acessos

brasileiros de C. chinense. Por sua vez, FONSECA et al. (2008) avaliaram características

morfológicas e a diversidade genética de acessos de C. chinense do Alto Rio Negro, no estado

do Amazonas.

Alguns autores ainda apontam que o Brasil deveria priorizar a coleta e a caracterização

de germoplasma de Capsicum, devido à grande variabilidade de tipos, inclusive de espécies

silvestres e semidomesticadas, e considerando o rápido processo de erosão genética.

(CARVALHO et al., 2003; BIANCHETTI & CARVALHO, 2005).

Atualmente, existem várias coleções e alguns poucos Bancos Ativos de Germoplasma

de Capsicum no Brasil. No entanto, são constituídos, quase que exclusivamente, por espécies

domesticadas não se verificando germoplasma de espécies silvestres que, em última análise,

são fontes potenciais de genes de resistência, os quais poderão ser utilizados em programas de

melhoramento (BIANCHETTI & CARVALHO, 2005). Os BAG de pimenta que se destacam

no Brasil com maior número de acessos de pimenta são BAG-IAC (Campinas-SP), BAG-

UFV (Viçosa-MG) e BAG-Embrapa Hortaliças (Brasília-DF).

A prática de avaliação e conservação de germoplasma é fundamental para a

conservação dos recursos genéticos e para o processo de melhoramento que é altamente

dependente da amplitude da base genética disponível, a qual, por sua vez, é influenciada pelo

acervo disponível (QUEIROZ & LOPES, 2007).

A caracterização e a avaliação dos acessos dos BAG proporcionam melhor conhe-

cimento do acervo disponível e permitem a identificação dos acessos duplicados, o

estabelecimento de coleções nucleares e a identificação dos modos de reprodução

predominantes nos acessos, bem como da ocorrência ou não de variabilidade intrínseca em

acessos individuais (VALLS, 2007). Em termos gerais, a caracterização pode ser morfológica,

reprodutiva, agronômica, bioquímica, citogenética e molecular (VALOIS et al., 2001).

Independentemente da técnica utilizada, a caracterização deve ser feita a fim de garantir o

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conhecimento prévio das espécies conservadas dispondo-o de uma forma mais efetiva para a

utilização.

Estudos sobre a diversidade de C. chinense são fundamentais para o sucesso dos

programas de conservação de recursos e de melhoramento genético vegetal dessa espécie.

PINO et al. (2007) determinaram os capsaicinóides totais, cor e compostos voláteis de dez

pimentas habanero, um dos tipos mais cultivados em Yucatan, no México; FONSECA et al.

(2007) caracterizaram, com o uso de 51 descritores morfológicos, a diversidade genética de

38 acessos de C. chinense coletados no Alto Rio Negro, no Amazonas e que é a pimenta mais

cultivada e consumida na região; JARRET & BERKE (2008) examinaram e documentaram a

variação morfológica presente em frutos de 330 acessos de C. chinense da coleção de

germoplasma do Departamento de Agricultura de Griffin, GA, Estados Unidos; CASTRO &

DÁVILA (2008) realizaram caracterização morfológica de 93 acessos de Capsicum do banco

de germoplasma da Universidade Nacional da Colômbia; ANTONIOUS et al. (2009)

avaliaram a variação de pungência entre 63 acessos de C. chinense de diferentes países de

origem, incluindo do Brasil; SILVA FILHO et al. (2009) estudaram a diversidade fenotípica

em vinte etnovariedades de pimenteiras cultivadas na Amazônia. Esses autores avaliaram

várias coleções de C. chinense caracterizando-as do ponto de vista morfológico, agronômico e

de conteúdo de capsaicinóides. Os trabalhos são uma amostra da variabilidade existente em C.

chinense no mundo e demonstram a importância dessa pimenta do ponto de vista de

diversidade.

2.6 Pungência em Capsicum

O termo pungência é definido como aquele de sabor cáustico, de paladar forte, picante.

São considerados alimentos pungentes as pimentas e os temperos, em geral, como alho,

cebola, gengibre, pimenta do reino, entre outros alimentos.

No gênero Capsicum, a pungência é considerada uma das mais importantes

características dos frutos (REIFSCHNEIDER, 2000). As substâncias responsáveis por essa

ardência são denominadas de capsaicinóides e são exclusivas das espécies do gênero

Capsicum. Os capsaicinóides são substâncias da classe dos alcalóides e 90% são produzidos

pelas células da placenta dos frutos (Figura 3) e liberados quando ocorre dano físico na região

placentária (ISHIKAWA et al., 1998). Devido à localização das sementes, junto à placenta, é

comum o equívoco de que a pungência está somente nas sementes. Na verdade, basta um leve

toque para que as células se rompam inundando as sementes de capsaicinóides.

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Dos 14 capsaicinóides já identificados, os de maior ocorrência nos frutos são a

capsaicina (C18H27O3N) e a dihidrocapsaicina (C18H29O3N) (Figura 4), além da

nordihidrocapsaicina (BOSLAND, 1993; BOSLAND & VOTAVA, 1999). Segundo

NWOKEM et al. (2010), a capsaicina e a dihidrocapsaicina constituem 90% dos

capsaicinóides e a capsaicina responde por 71% do total de capsaicinóides na maioria dos

tipos pungentes.

Figura 3 - Corte longitudinal de um fruto de pimenta do gênero Capsicum, destacando a região da placenta onde se concentram os capsaicinóides.

Figura 4 - Estrutura química da capsaicina e da diidrocapsaicina.

Linguanoto Neto, 2004

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A rota biossintética de capsaicina e seus análogos é bem caracterizada. Sabe-se que

essas substâncias são produzidas a partir dos aminoácidos fenilalanina e valina, pela via dos

fenilpropanóides, com ação de enzimas distintas (DIAZ, 2004). Contudo, ainda não é

conhecida a enzima que faz a conversão final para capsaicina, embora alguns estudos já

tenham identificado os genes candidatos (BLUM et al., 2002; 2003). O conteúdo de

capsaicina da matéria seca do fruto também é conhecido, sendo de 2,5% da placenta, 0,07%

nas sementes e 0,03% no pericarpo (NUEZ et al., 1996).

A sensação de ardência provocada pelos capsaicinóides no organismo humano é

percebida por receptores químicos, situados nas membranas mucosas, que desencadeiam

diversos processos fisiológicos. Um deles é a liberação de endorfinas, que provocam uma

sensação de bem estar, provável razão pela qual existem tantos “adeptos” do consumo de

pimenta hortícola. Os capsaicinóides apresentam efeito diferenciado quanto à sensação de

ardor e suas diferentes combinações são responsáveis pelas diferenças de sabor, aroma e

pungência dos frutos de Capsicum.

Dentre os três principais capsaicinóides, a nordiidrocapsaicina é o menos irritante, e a

sensação de ardência é localizada na superfície da boca e no pálato. A sensação de ardor é

percebida imediatamente após a ingestão da pimenta e rapidamente dissipada. Já, a

capsaicina e a diidrocapsaicina causam maior irritação e são descritas como tendo uma típica

sensação de ardor no meio da boca, bem como na garganta e na parte posterior da língua

(BOSLAND, 1993). NUEZ et al. (1996) apontaram que o limite mínimo para detecção da

pungência pelas papilas gustativas é de10 ppm de capsaicina no tegumento do fruto.

A concentração dessas substâncias nos frutos de pimenta é bastante variável,

dependendo de fatores genéticos e de ambiente, do manejo da cultura e da idade dos frutos

quando colhidos. Em relação a fatores genéticos, há variabilidade entre acessos da mesma

espécie e de espécies distintas (BOSLAND & VOTAVA, 1999). O estádio de

desenvolvimento do fruto também interfere no conteúdo de capsaicinóides, observando-se

acúmulo até o início do amadurecimento e decréscimo a partir desse estádio. Vários estudos

têm evidenciado a influência da temperatura e da luminosidade no acúmulo de capsaicinóides

(ESTRADA et al., 1999a; TEWKSBURY et al., 2006), do estresse hídrico (ESTRADA et al.,

1999b), da disponibilidade de nutrientes (ESTRADA et al., 1998) e das práticas de pós

colheita como época e métodos de secagem (YALDIZ et al., 2010). Com isso, os melhoristas

podem selecionar e desenvolver variedades com diferentes níveis de pungência e os

fitotecnistas podem controlar a pungência manejando adequadamente a cultura (BOSLAND,

1993).

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O controle genético da determinação dos níveis de pungência em frutos de Capsicum

tem sido estudado nos últimos 90 anos. Apesar de quase um século de pesquisas, o volume de

trabalhos publicados é pequeno e dentre esses trabalhos existem controvérsias quanto aos

resultados. Nos trabalhos mais antigos, há uma tendência de atribuir a herança da pungência a

um gene dominante. Em contrapartida, entre a década de 60 e os dias atuais, os resultados de

pesquisa atribuem o controle da herança a poucos genes de efeito pronunciado e a existência

de um complexo poligênico que regularia a expressão dessa característica (SACCARDO,

1992).

Os primeiros métodos utilizados para avaliação da pungência baseavam-se em análise

sensorial, empregando-se testes gustativos de frutos inteiros distinguindo apenas os

pungentes dos não pungentes. Posteriormente, Scoville, citado por ANDREWS (1984)

propôs um novo teste organoléptico, utilizando frutos macerados diluídos em água com

açúcar. As diluições eram ministradas a degustadores que indicavam a menor concentração

em que a pungência era percebida, dando a essa diluição um valor denominado de Unidade

Scoville. Quanto maior a diluição a qual a pungência podia ser detectada, maior a pungência

dos frutos analisados (ANDREWS, 1984).

Devido à subjetividade do método Scoville e com o objetivo de avaliar com maior

precisão a pungência dos frutos, foram desenvolvidos métodos químicos (RIBEIRO &

COSTA, 1990). Atualmente, a técnica de cromatografia líquida de alta precisão – HPLC

(High Performance Liquide Chromatography) é a mais utilizada, mas uma nova geração, a

de cromatografia líquida de ultra pressão – UPLC (Ultra-high Pressure Liquid

Chromatography) vem sendo aplicada devido à sua eficiência, rapidez e precisão no

resultado. Existem vários métodos cromatográficos para análise da pungência conforme

descritos por HOFFMAN (1983), ASTA (1985), COOPER et al. (1991) e PARRISH (1996).

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3 MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado em área do Centro de Horticultura do Instituto

Agronômico - IAC, em Campinas, SP (latitude 22° 54'S, longitude 47°05'O e altitude de 674

m, acima do nível do mar), de janeiro a outubro de 2010, com condições meteorológicas

apresentadas no Anexo 3. Uma vista geral da área experimental é apresentada na Figura 5.

O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com nove

tratamentos, cinco repetições e oito plantas por parcela. Os tratamentos foram nove acessos de

C. chinense do BAG de pimenta do IAC, relacionados na Tabela 1.

Figura 5 - Vista geral do campo experimental. IAC, Campinas, SP, 2010.

Tabela 1 - Acessos de Capsicum chinense utilizados no experimento e seus respectivos tipos ou nomes comuns. IAC, Campinas, SP, 2010.

Acesso Tipo/Nome comum

IAC 1552 Murupi original

IAC 1592 de cheiro Hortivale1

IAC 1641 Murupi vermelha

12IAC 1643 Biquinho

IAC 1644 Fidalga

IAC 1645 de cheiro

IAC 1646 Scoth Bonnet

IAC 1647 de cheiro

IAC 1648 de cheiro 1 Cultivar identificada e selecionada pela Hortivale, Sementes do Vale Ltda., na região Amazônica do Brasil. Fonte: http://www.hortivale.com.br/

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3.1 Condução do Experimento

A semeadura foi realizada em 28 de janeiro de 2010, em bandejas de poliestireno

expandido, com 128 células preenchidas com substrato comercial (PlantmaxR HT),

colocando-se três sementes por cavidade. Após a semeadura, aplicou-se uma camada de

vermiculita sobre a bandeja com o objetivo de manter a umidade. As bandejas foram

colocadas em bancadas para produção de mudas dentro do viveiro de mudas do Centro de

Horticultura. Essa estufa agrícola foi coberta com filme plástico polietileno de baixa

densidade (PEBD) transparente, de 150 µm. As laterais da estrutura foram fechadas com tela

de sombreamento de 2 mm de abertura. Em 23 de fevereiro, no estádio de primeira folha

verdadeira, foi realizado o desbaste das mudas, mantendo-se apenas a plântula mais vigorosa

em cada célula.

As mudas foram adubadas duas vezes por semana com nitrato de cálcio (32%N e 26%

Ca) e nitrato de potássio (12% N e 45% K), na dosagem de 1,5 g L-1 de cada formulação,

conforme recomendação de TRANI (2004).

O transplante para o local definitivo foi realizado em 16 de março, aos 37 dias após a

semeadura, quando as plantas estavam com três a quatro pares de folhas verdadeiras e com,

aproximadamente, 12 cm de altura, conforme as recomendações propostas por BOSLAND &

VOTAVA (1999) e RIBEIRO et al. (2008). O transplante foi realizado em canteiros

preparados com roto-encanteiradora, em condição de campo. O solo da área experimental

apresentou características químicas conforme as Tabelas 2 e 3.

Os canteiros foram preparados com 1,0 m de largura e 0,20 m de altura. Em cada

canteiro, foram colocadas duas linhas de plantas com espaçamento de 0,70 m entre as

mesmas e 0,50 m entre plantas. O espaçamento entre linhas foi de 1 m. Para evitar

competição com plantas infestantes e manter a umidade do solo, os canteiros foram cobertos

com filme plástico de cor preta (mulching).

Adotou-se o sistema de irrigação localizado por meio de gotejamento, com

espaçamento de 0,20 m entre emissores, o qual foi instalado antes da colocação do mulching.

A irrigação foi realizada procurando-se manter a umidade do solo próxima à capacidade de

campo.

As adubações de plantio e de cobertura foram realizadas de acordo com as

recomendações de TRANI et al. (1996). Os tratos culturais no experimento foram realizados

sempre que necessário de acordo com as recomendações da cultura preconizados por MELO

& NAGAI (1998).

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Tabela 2 - Resultado da análise química do solo da área experimental. IAC, Campinas, SP, 2010.

pH M.O. P H + Al K Ca Mg SB CTC V%

CaCl2 g dm-3 mg dm-3 ------------------------------ mmolc dm-3 ----------------------------- %

5,5 35 99 20 7,1 49 27 83,1 103,3 80

Fonte: Laboratório de Fertilidade do Solo, IAC.

Tabela 3 - Resultado da análise química de solo da área experimental, micronutrientes. IAC, Campinas, SP, 2010.

B Cu Fe Mn Zn

--------------------------------------------------- mg dm-3 ---------------------------------------------------

0,3 2,6 10 10,1 4,2

Fonte: Laboratório de Fertilidade do Solo, IAC.

3.2 Características Agronômicas Avaliadas

Para avaliação dos componentes de produção e caracteres de fruto, foram

considerados os frutos maduros provenientes das quatro plantas centrais de cada parcela dos

nove acessos, colhidos semanalmente de junho a outubro de 2010.

Foram avaliadas as seguintes características:

a) Produtividade (g planta-1) – obtida pela pesagem de todos os frutos maduros de cada uma

das quatro plantas;

b) Massa fresca do fruto (g) – obtida pela avaliação individual dos dez primeiros frutos

maduros de cada planta;

c) Comprimento do fruto (cm) – obtido pela mensuração dos dez primeiro frutos de cada

planta;

d) Largura do fruto (cm) – obtida com auxílio de paquímetro digital, na parte mais larga dos

dez primeiros frutos de cada planta;

e) Formato do fruto – avaliado nos dez primeiros frutos de cada planta de acordo com a

classificação do IPGRI (1995) (Anexo 1);

f) Cor do fruto maduro – avaliado nos dez primeiros frutos de cada planta considerando as

cores: amarelo; salmão; laranja; vermelho claro; vermelho; vermelho escuro; roxo;

marrom; negro (IPGRI, 1995);

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g) Superfície do fruto – avaliado nos dez primeiros frutos de cada planta, considerando as

morfologias: lisa; semi-rugosa; rugosa (IPGRI, 1995).

Para a caracterização das plantas, as avaliações foram realizadas no final do

experimento, utilizando-se quatro plantas de cada parcela.

As seguintes características foram avaliadas:

a) Hábito de crescimento da planta – avaliado conforme método descrito pelo IPGRI (1995)

(Anexo 2);

b) Altura da planta (m) – aferida do nível do solo até o ápice do meristema apical;

c) Antese da primeira flor – anotou-se a data de abertura da primeira flor, obtendo-se o

número de dias entre a semeadura e a abertura da flor.

3.3 Determinação do Conteúdo de Capsaicina

O conteúdo de capsaicina nos frutos de cada acesso foi quantificado em outubro de

2010, utilizando-se a técnica de cromatografia líquida de ultra pressão – UPLC. Frutos

maduros colhidos aleatoriamente de quatro plantas de cada parcela foram misturados,

obtendo-se uma amostra composta para cada acesso. A análise foi feita de acordo com o

protocolo estabelecido pelo Laboratório de Análise de Alimentos da Faculdade de Engenharia

de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

Antes de iniciar as análises, obteve-se a curva de calibração (Figura 6) por meio da

comparação com o padrão de capsaicina comercial (Cayman Chemical, Michigan-USA), com

pureza maior que 95%. A quantificação foi realizada por integração da área do pico obtido

com a injeção de 3 µL de extrato da amostra. Os dados obtidos da análise foram interpolados

à curva de calibração construída com sete pontos da substância padrão (HA et al., 2010). O

tempo de retenção da capsaicina na coluna foi de 3,1 minutos (Figura 7).

Para extração da capsaicina, utilizaram-se três amostras de cinco frutos de cada acesso.

Após a retirada dos pedúnculos os frutos foram cortados e macerados com grau e pistilo. Em

seguida 1 g de pimenta macerada e homogeneizada foi transferida para um béquer,

adicionando-se 20 mL de metanol. Submeteu-se a solução a banho de ultrassom por 20

minutos. Posteriormente, filtrou-se o extrato, utilizando papel analítico qualitativo,

completou-se o filtrado com metanol até a marca de 25 mL do balão volumétrico. Uma

alíquota de 1 mL desse extrato foi filtrada em membrana, armazenando o extrato obtido em

um vial (BARBERO et al., 2008) para posterior análise em UPLC.

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Figura 6 - Curva de calibração da capsaicina. IAC, Campinas, SP, 2010.

Figura 7 - Cromatograma da solução-padrão mostrando o pico de capsaicina (c). IAC, Campinas, SP, 2010.

A análise cromatográfica foi realizada em cromatógrafo UPLC, equipado com detector

DAD monitorado a 280 nm e coluna Thermo Gold® C18 (octadecil) com 100 mm de

comprimento, 3,0 mm de diâmetro interno e tamanho de partícula de 1,9 µm. A fase móvel

inicial foi composta de 30% de água ultra-pura (A) e 70% da mistura metanol:acetonitrila

(95:5) (B) a um fluxo de 0,4 mL min-1. Com alteração gradativa, aos sete minutos, o fluxo

passou para 0,65 mL min-1 e 100% de B. O fluxo manteve-se constante até o tempo de nove

minutos e gradativamente voltou à condição de fluxo e composição da fase móvel inicial,

totalizando dez minutos de análise. As mudanças de fases seguiram a curva sete do software

operacional (Empower).

c

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3.4 Análise Estatística

Foram realizadas análises de variância, empregando-se o teste F. Quando houve

significância as médias foram comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05), utilizando o

programa estatístico SISVAR.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para as características produtividade, massa fresca, comprimento e largura do fruto,

altura da planta e conteúdo de capsaicina observou-se efeito significativo dos tratamentos

como pode ser observado através do resumo da análise de variância (Tabela 4).

Exceto para conteúdo de capsaicina, observaram-se altos valores de coeficiente de

variação para as características cujos dados foram submetidos à análise estatística, levando à

necessidade de transformação dos dados. Esses altos coeficientes se deveram à variabilidade

dos frutos para as características avaliadas. JARRET & BERKE (2008) não obtiveram

distribuição normal dos dados na avaliação de 330 acessos de C. chinense para massa e

comprimento do fruto e para a relação entre comprimento e largura do fruto. Segundo os

autores, a distribuição dos dados foi positiva e altamente assimétrica devido à pressão de

seleção para tamanho de fruto, ocorrida durante o processo de domesticação.

Tabela 4 - Resumo das análises de variância para produtividade (PD), massa fresca do fruto (MF), comprimento do fruto (CF), largura do fruto (LF), altura da planta (AP) e conteúdo de capsaicina (CC) de nove acessos de Capsicum chinense. IAC, Campinas, SP, 2010.

Fonte de variação

GL Quadrado Médio

PD MF CF LF AP CC

Bloco 4 524418,7* 3,3 ns 362,8* 493,1* 0,04* 2,0 ns

Acesso 8 172557,5* 391,6* 285,5* 2529,2* 0,50* 1626,3*

Resíduo 32 26278,5 2,3 11,5 34,5 0,00 11,4

Média 427,1 3,7 4,0 16,9 0,7 31,3

CV (%) 37,9 40,7 84,3 34,6 11,6 10,7

* Significativo pelo teste F (P< 0,05); dados transformados em 1+x , exceto para conteúdo de capsaicina e altura da planta; ns Não significativo pelo teste F (P< 0,05).

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4.1 Características Agronômicas Avaliadas

Observaram-se diferenças significativas (P<0,05) para todas as características de fruto

e de planta avaliadas.

A maior produtividade, de 566,7 g planta-1 foi observada no acesso IAC 1646, que não

diferiu estatisticamente de IAC 1552, IAC 1643, IAC 1645 e IAC 1648, respectivamente com

448,1, 526,4, 414,8 e 508,2 g planta-1 (Tabela 5). No anexo 4, observam-se características de

planta e frutos dos nove acessos de C. chinense em estádio de franca produção. SOUZA &

MALUF (2003) avaliaram de março a outubro, em Rio Branco-AC, a produção total de frutos

em quatro parentais e dez híbridos de C. chinense, obtendo de 76,8 a 591,1 g planta-1 para os

pais e de 80,3 a 705,5 g planta-1 para os híbridos. Os valores foram bastante divergentes entre

si, e também quando comparadas com os resultados obtidos nesse trabalho. As causas desta

diferença de valores devem estar relacionadas com as características genéticas de cada acesso

e também com a diferença edafoclimática do local de realização dos experimentos.

Considerando a grande variabilidade de tipos dentro de C. chinense, a exemplo do que

JARRET & BERKE (2008) afirmaram em relação ao tamanho do fruto, alguns tipos com

características preferidas pelo consumidor foram submetidos à maior pressão de seleção para

produtividade.

Para massa fresca do fruto, destacou-se o acesso IAC 1646, com massa média de 7,7

g, que foi estatisticamente superior aos demais. Esse acesso também se sobressaiu pela

largura do fruto, diferindo dos demais com média de 2,4 cm, com exceção ao valor

apresentado pelo IAC 1648 de 2,5 cm (Tabela 5).

LANNES et al. (2007) e JARRET & BERKE (2008) avaliaram 40 e 330 acessos de C.

chinense, respectivamente, dos BAG da Universidade Federal de Viçosa (UFV), cultivadas de

outubro a março, e do Departamento de Agricultura de Griffin, GA, Estados Unidos,

cultivadas de maio a outubro. Os primeiros observaram massas variando de 0,9 a 19,1 g,

enquanto no segundo trabalho, foi observado variação de 0,1 a 22,7 g. Por sua vez,

SCHUELTER et al. (2010) avaliaram a massa fresca do fruto de dez acessos de C. chinense

também na UFV, e obtiveram variação menor, entre 2,8 e 12,8 g.

CASTRO & DÁVILA (2008), na Colômbia, encontraram variação de massa em C.

chinense de 1,8 g a 22,2 g. Em função da diversidade da espécie e, portanto, dos acessos

avaliados, pode-se considerar que os valores obtidos no presente trabalho estão próximos aos

obtidos por esses autores.

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Tabela 5 - Valores médios de produtividade, massa fresca, comprimento e largura do fruto e, altura da planta de nove acessos de Capsicum chinense. IAC, Campinas, SP, 2010.

Acesso Produtividade (g)

Massa fresca (g)

Comprimento (cm)

Largura (cm)

Altura (m)

IAC 1646 566,71 a2 7,7 a 4,4 bc 2,4 a 0,63 def

IAC 1643 526,4 ab 1,4 g 2,3 e 1,1 e 0,60 ef

IAC 1648 508,2 abc 5,6 b 3,9 cd 2,5 a 0,69 cd

IAC 1552 448,1 abc 2,9 de 5,8 b 1,3 cde 0,59 f

IAC 1645 414,8 abcd 2,8 de 2,8 de 1,8 b 0,73 c

IAC 1644 380,7 bcd 2,7 ef 3,1 cde 1,4 cd 0,76 c

IAC 1647 360,5 cd 2,0 fg 3,7 cde 1,2 de 0,85 b

IAC 1641 356,1 cd 4,8 c 7,7 a 1,4 c 1,13 a

IAC 1592 282,6 d 3,4 d 2,5 de 1,8 b 0,68 cde

CV% 37,9 40,7 84,3 34,6 11,6

dms 161,13 0,67 1,49 2,58 0,08

1 Dados originais; Para a análise estatística, os dados foram transformados em 1+x ; 2 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).

Em relação ao comprimento do fruto, os valores médios variaram de 2,1 a 7,7 cm. O

acesso IAC 1641 apresentou os frutos mais compridos, com 7,7 cm, diferindo estatisticamente

dos demais acessos.

Quanto à largura do fruto, os valores médios variaram de 1,1 a 2,5 cm. Destacaram-se

os acessos IAC 1646 e IAC 1648 como os mais largos, com valores de 2,4 e 2,5 cm,

respectivamente, que não diferiram entre si (Tabela 5). JARRET & BERKE (2008)

observaram variação de 0,8 a 11,4 cm para comprimento e de 0,6 a 4,0 cm para largura do

fruto nos 330 acessos avaliados. Nos 40 acessos avaliados por LANNES et al. (2007), o

comprimento variou de 1,4 a 7,6 cm e a largura variou de 0,8 a 4,2 cm. FONSECA et al.

(2008) caracterizaram 38 acessos coletados no alto Rio Negro, AM, utilizando 51 descritores

morfológicos. Para comprimento do fruto, foram obtidas cinco classes, cujas medidas

variaram de 1 a 12 cm, enquanto que, para a largura, obteve-se três classes, cujas medidas

variaram de 1,0 a 2,5 cm. Comparando os resultados para essas duas características, verificou-

se, mais uma vez, a grande variabilidade em C. chinense, porém semelhança numérica dos

valores entre os acessos avaliados no presente trabalho.

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As características massa fresca, comprimento e largura do fruto foram relatadas por

CASTRO & DÁVILA (2008) como aquelas que contribuem de maneira significativa para

descriminação de variabilidade dentro das espécies de Capsicum.

Quanto ao formato do fruto, os acessos IAC 1552 e IAC 1641 apresentaram frutos

alongados, IAC 1645 produziram frutos redondos, IAC 1592, IAC 1643 e IAC 1647 tiveram

frutos triangulares, IAC 1646 e IAC 1648, frutos campanulados, e IAC 1644 produziu frutos

com formato em bloco (Tabela 6, Figura 8). LANNES et al. (2007) classificaram 49 acessos

de C. chinense em alongados, quase-redondos, triangulares, campanulados e em bloco.

FONSECA et al. (2008) caracterizaram 38 acessos de C. chinense nos formatos alongado,

redondo, triangular e campanulado. Segundo JARRET & BERKE (2008) 92% dos frutos de

330 acessos de C. chinense apresentaram formato alongado.

Em relação à cor do fruto maduro, observaram-se quatro classes: amarela nos frutos

dos acessos IAC 1552, IAC 1644 e IAC 1645, laranja em IAC 1592 e IAC 1648, salmão em

IAC 1646 e IAC 1647 e vermelha nos frutos de IAC 1641 e IAC 1643 (Tabela 6, Figura 8).

LANNES et al. (2007) observaram nos 49 acessos avaliados apenas as cores amarela, laranja

e vermelha. Em contrapartida, FONSECA et al. (2008) classificaram 38 acessos de C.

chinense em nove cores caracterizadas por amarelo, amarelo-pálido, amarelo-limão, amarelo-

alaranjado, laranja, salmão, vermelho, vermelho-escuro e roxo. Os 330 acessos avaliados por

JARRET & BERKE distribuíram-se nas cores vermelha, laranja, amarela e chocolate.

Em relação à característica superfície do fruto, os acessos IAC 1643, IAC 1644 e IAC

1647 apresentaram superfície lisa, os frutos de IAC 1592, IAC 1645, IAC 1646 e IAC 1648

tiveram superfície semi-rugosa e IAC 1552 e IAC 1641 produziram frutos rugosos (Tabela 6,

Figura 8). As características de formato, cor e superfície do fruto para os nove acessos

avaliados concordam também com os observados por CARVALHO et al. (2006) e RIBEIRO

et al. (2008).

A altura das plantas variou de 0,59 a 0,76 m nos acessos de hábito de crescimento

compacto, e de 0,85 a 1,13 m nos dois acessos de hábito de crescimento ereto (Tabela 5). As

diferenças se devem à diversidade genética dos acessos. Esses resultados concordam em parte

com a descrição feita por SMITH & HEISER (1957) de que a altura das plantas de C.

chinense variam entre 0,45 e 0,76 m de altura para hábito de crescimento compacto.

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Tabela 6 - Características descritas para os frutos de nove acessos de Capsicum chinense. IAC, Campinas, SP, 2010.

Acesso Formato Cor Superfície

IAC 1552 Alongado Amarela Rugosa

IAC 1592 Triangular Laranja Semi-rugosa

IAC 1641 Alongado Vermelha Rugosa

IAC 1643 Triangular Vermelha Lisa

IAC 1644 Bloco Amarela Lisa

IAC 1645 Redondo Amarela Semi-rugosa

IAC 1646 Campanulado Salmão Semi-rugosa

IAC 1647 Triangular Salmão Lisa

IAC 1648 Campanulado Laranja Semi-rugosa

Figura 8 - Ilustração do tamanho, formato e cor do fruto de nove acessos de Capsicum

chinense. IAC, Campinas, SP, 2010.

Entre as características da parte vegetativa, constatou-se hábito compacto para sete dos

nove acessos, IAC 1552, IAC 1592, IAC 1643, IAC 1644, IAC 1645, IAC 1646 e IAC 1648 e

hábito ereto para apenas dois acessos, IAC 1641 e IAC 1647. Verificou-se ainda que plantas

com o mesmo hábito de crescimento apresentaram alturas diferentes, mesmo que pequenas e

visualmente discretas.

O número de dias para a antese da primeira flor variou entre 75 e 102 dias após a

semeadura, dependendo do acesso. Esses valores mostraram-se próximos aos verificados por

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SILVA FILHO et al. (2009) que observaram antese entre 70 e 93 dias em vinte etnovariedade

de pimenteiras, sendo doze C. chinense, cultivadas em Manaus-AM, de agosto a abril. Por

outro lado, o maior valor descrito por esse autor condiz com o menor valor apresentado por

CASTRO & DÁVILA (2008) que observaram antese entre 93 e 120 dias, nos acessos por eles

avaliados em Palmira, Colômbia. Nesse experimento, o acesso IAC 1643 mostrou-se o mais

precoce, enquanto os acessos IAC 1592 e IAC 1646 apresentaram-se como os mais tardios

(Figura 9).

Figura 9 - Número de dias para a antese da primeira flor em nove acessos de Capsicum

chinense. IAC, Campinas, SP, 2010.

4.2 Determinação do Conteúdo de Capsaicina

Os resultados obtidos para conteúdo de capsaicina mostraram diferenças significativas

entre os acessos avaliados, com valores variando de 18,8 a 71,5 mg g-1 (Tabela 7). Os valores

de capsaicina encontrados neste experimento estão além dos resultados encontrados por

ANTONIOUS et al. (2009) que obtiveram, dentre 63 acessos de C. chinense, variação na

concentração de capsaicina de 0,01 a 1,52 mg g-1 de fruto fresco.

O acesso IAC 1552 destacou-se produzindo 71,5 mg de capsaicina por grama de

matéria fresca de fruto. ‘Murupi’ é considerada uma pimenta altamente pungente, mas seu

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conteúdo de capsaicina não havia sido determinado até o momento. O valor médio encontrado

de 71,5 mg g-1 diferiu estatisticamente dos demais, porém o acesso IAC 1641, Murupi

vermelha, não apresentou valor tão expressivo com 41,7 mg g-1 de fruto fresco, não diferindo

do acesso IAC 1648, de cheiro e IAC 1644, Fidalga. Também em C. chinense, NWOKEM et

al. (2010) avaliaram frutos frescos e obtiveram, como a concentração mais alta de capsaicina,

o valor de 9,17 mg g-1, enquanto ANTONIOUS & JARRET (2006) determinaram o valor de

2,9 mg g-1, como o maior conteúdo de capsaicina nos acessos avaliados.

Tabela 7 - Valores médios de conteúdo de capsaicina em frutos de nove acessos de Capsicum

chinense. IAC, Campinas, SP, 2010.

Acesso Nome comum Capsaicina (mg g-1)

IAC 1552 Murupi 71,5 a

IAC 1646 Scoth Bonnet 50,9 b

IAC 1641 Murupi vermelha 41,7 bc

IAC 1648 de cheiro 37,9 c

IAC 1644 Fidalga 36,2 c

IAC 1645 de cheiro 25,1 d

IAC 1647 de cheiro 18,8 d

IAC 1592 de cheiro Hortivale 00,0 e

IAC 1643 Biquinho 00,0 e

CV% - 10,7

dms - 9,82

1 Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey (P<0,05).

Exceto dois acessos, nos quais não foi detectada capsaicina, todos os demais

mostraram-se com alto conteúdo desse capsaicinóide, apesar de estatisticamente diferentes,

com valores de 50,9 a 18,8 mg g-1 (Tabela 7). Além de ‘Murupi’, os acessos ‘Scoth Bonnet’ e

‘Murupi vermelha’ também apresentaram alto conteúdo de capsaicina. O conteúdo de

capsaicina determinado em frutos frescos desses acessos foi comparável a resultados

observados na literatura em mg g-1 de fruto seco. PINO et al. (2007) em trabalho de

caracterização de capsaicinóides totais, cor e compostos voláteis de dez cultivares de C.

chinense verificaram diversidade no conteúdo de capsaicina, que variou entre 41,8 e 65,9 mg

g-1 de fruto seco.

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Verificou-se, ainda, que mesmo os acessos IAC 1645 e IAC 1647, que apresentaram

os menores conteúdos de capsaicina (25,1 e 18,8 mg g-1 de matéria fresca, respectivamente),

não diferindo estatisticamente entre si, foram superiores àqueles descritos em literatura como

os mais picantes. LANNES et al. (2007) avaliando 49 acessos de C. chinense, verificaram que

o maior conteúdo de capsaicina foi de 14 mg g-1 de fruto seco.

Segundo MASI et al. (2007), o valor do conteúdo total de capsaicinóides em frutos

frescos de oito populações de C. annuum variou de 346 mg kg-1 a 1460 mg kg-1, enquanto que

o valor mínimo obtido em frutos secos da mesma população foi de 662 mg kg-1, e o máximo

foi de 3689 mg kg-1. Esses mesmos autores apontaram que a oscilação entre os valores totais

de capsaicinóides em frutos frescos e secos é devida a diferentes porcentagens no conteúdo de

água.

Quando a água de uma amostra é removida através da secagem, permanece uma fração

sólida de menor peso e maior concentração que em seu estado fresco. Nesse processo, há

perda de algumas vitaminas solúveis em água, mas em compensação, essa perda de água

aumenta bastante a concentração de açúcar e de outros nutrientes presentes no fruto fresco.

Por exemplo, enquanto 100 g de pimenta fresca fornecem 369 mg de vitamina C, nas

pimentas secas só restam 154 mg. Por outro lado, em 100 g de pimenta fresca há

770 unidades de vitamina A, enquanto que, para pimentas secas têm-se 77.000

unidades (KOKOPELLI, 2011). Sendo assim, o fruto desidratado difere do fruto fresco,

quanto à composição química, havendo necessidade de cuidado na comparação dos dados,

pois resultados de análises feitas com a matéria fresca são diferentes daquelas feitas com o a

matéria seca.

A diversidade de valores encontrados para o conteúdo de capsaicina é explicada por

alguns autores como uma resposta afetada pela interação genótipo-ambiente, algumas vezes

com predomínio dos fatores ambientais. A mesma cultivar de pimenta plantada em diferentes

locais apresenta diferentes conteúdos de capsaicinóides, pois qualquer estresse à planta altera

a pungência do fruto (BOSLAND & VOTAVA, 1999; HARVELL & BOSLAND, 1997;

RIBEIRO et al., 2008; BORGES-GOMÉZ et al., 2010).

Analisando a relação da cor do fruto com o aroma, PINO et al. (2007) concluíram que

variedades que produzem frutos de cores laranja e marrom apresentaram melhor composição

química relacionada ao aroma do que variedades de frutos vermelhos. Esses mesmos autores

sugeriram que o teor dos capsaicinóides responsáveis pela pungência de pimentas pode estar

associado à cor do fruto, pois verificaram que as cultivares de cor laranja foram as mais

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pungentes. NWOKEM et al. (2010) encontraram maior pungência em frutos de cor amarela.

No presente experimento, não se estudou a relação entre teor de capsaicina e cor de fruto.

4.3 Considerações Finais

Do ponto de vista agronômico, o desejável são plantas precoces, produtivas e de altura

mediana, que produzam frutos pungentes ou não pungentes. Ocorre que nem sempre os

acessos domesticados e selecionados ao longo de cinco séculos essencialmente para o caráter

pungência, possuem as características agronômicas hoje desejáveis pela cadeia produtiva.

Assim é que, concordando com autores como JARRET & BERKE (2008), LANNES et al.

(2007) e SUDRÉ et al. (2010), é preciso ampliar as pesquisas de caracterização dos BAG a

fim de fornecer subsídios aos programas de melhoramento genético de modo que cultivares

melhoradas para as características apontadas possam ser obtidas. Na opinião de JARRET &

BERKE (2008), a literatura atual contém pouca ou nenhuma informação sobre a gama de

características morfológicas de C. chinense. Para esses autores, descrições detalhadas sobre

morfotipos, disponibilidade de sementes ou o registro fotográfico ainda não foram realizadas.

Por sua vez, para LANNES et al. (2007), apesar da importância de C. chinense no Brasil,

pouco se sabe sobre o desenvolvimento do fruto, a variabilidade no conteúdo de

capsaicinóides e a intensidade da cor nos acessos coletados em todo o país durante as últimas

três décadas. Da mesma forma, SUDRÉ et al. (2010) enfatizaram que a caracterização de

espécies domesticadas de Capsicum são de grande interesse, particularmente para curadores

de BAG, visto que a ampla variabilidade existente na espécie ainda não está inteiramente

conhecida e explorada.

Além das características avaliadas neste experimento, foram realizados, sem rigor

estatístico e metodológico, testes olfativos, gustativos e visuais das pimentas. As plantas de

‘Biquinho’ mostraram uma arquitetura interessante do ponto de vista ornamental e seus frutos

apresentaram aroma muito peculiar e intenso, ausentes de capsaicina, fazendo jus à

denominação “pimenta de cheiro”. Por outro lado, a elevada pungência de ‘Murupi’,

confirmada pelo alto conteúdo de capsaicina obtido, foi um resultado surpreendente e inédito

para uma pimenta de cheiro brasileira. Esse resultado é promissor, notadamente para o

mercado farmacêutico, que já utiliza a capsaicina como princípio ativo para a produção de

diversos fármacos.

De acordo com essas informações e levando em consideração a influência do ambiente

no desenvolvimento vegetal e na pungência dos frutos, sugere-se que estudos numa mesma

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coleção de pimenta de cheiro sejam conduzidos em diferentes locais e condições

edafoclimáticas a fim de avaliar a o efeito do ambiente.

5 CONCLUSÕES

Nas condições edafoclimáticas de desenvolvimento da pesquisa e considerando os

acessos avaliados, conclui-se que:

1. Existe alta variabilidade em Capsicum chinense para características agronômicas e

conteúdo de capsaicina;

2. O acesso IAC 1646 destacou-se com os maiores valores de produtividade, massa fresca e

largura do fruto;

3. Todos os acessos apresentaram altos conteúdos de capsaicina, exceto dois em que houve

ausência desse capsaicinóide;

4. O acesso IAC 1552 destacou-se com o maior conteúdo de capsaicina.

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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7 ANEXOS

Anexo 1 - Características de formato do fruto, de acordo com o descritor de Capsicum

(IPGRI, 1995). 1 Alongado 2 Redondo 3 Triangular 4 Campanulado 5 Bloco

Fonte: IPGRI, 1995

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Anexo 2 - Características de hábito de crescimento da planta, de acordo com o descritor de Capsicum (IPGRI, 1995). 3 Prostrado 5 Compacto 7 Ereto

Fonte: IPGRI, 1995

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Anexo 3 - Valores de temperatura média e de precipitação em Campinas, SP, durante a avaliação de acessos de Capsicum chinense, no período de janeiro a outubro de 2010. IAC, Campinas, SP, 2010.

Período (mês)

Temperatura absoluta Temperatura mensal Temperatura média Precipitação

máxima mínima máxima mínima

-------------------------- o C ----------------------------- (mm)

Janeiro 32,2 14,9 27,5 18,0 22,8 322,1

Fevereiro 32,6 16,2 30,0 19,0 24,5 63,5

Março 32,2 14,0 28,8 18,5 23,7 201,5

Abril 30,9 11,3 27,0 16,5 21,8 56,4

Maio 30,6 8,00 24,7 13,3 19,0 24,2

Junho 28,8 6,7 24,1 11,4 17,8 21,9

Julho 29,7 9,6 25,6 13,6 19,6 54,8

Agosto 32,8 8,4 26,8 12,5 19,6 0,0

Setembro 33,6 13,4 28,4 15,9 22,1 68,6

Outubro 33,9 10,3 27,4 15,8 21,6 61,8

Fonte: CIIAGRO, 2010 Anexo 4 - Características de planta e fruto de nove acessos de Capsicum chinense em estádio de franca produção. IAC, Campinas, SP, 2010.