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  • 7/24/2019 caracteristicas psicolgicas da primeira e da segunda gravidez: o uso do dfh e do tat na assistncia pre natal

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    IZABELLA PAIVA MONTEIRO DE BARROS

    CARACTERSTICAS PSICOLGICAS DA PRIMEIRA EDA SEGUNDA GRAVIDEZ: O USO DO DFH E DO TAT

    NA ASSISTNCIA PR-NATAL

    So Paulo2004

  • 7/24/2019 caracteristicas psicolgicas da primeira e da segunda gravidez: o uso do dfh e do tat na assistncia pre natal

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    IZABELLA PAIVA MONTEIRO DE BARROS

    CARACTERSTICAS PSICOLGICAS DA PRIMEIRA EDA SEGUNDA GRAVIDEZ: O USO DO DFH E DO TAT

    NA ASSISTNCIA PR-NATAL

    Dissertao apresentada ao Instituto de Psico-logia da Universidade de So Paulo como par-te dos requisitos para obteno do grau deMestre em Psicologia.

    rea de Concentrao: Psicologia Clnica

    Orientadora: ProfaDraEliana Herzberg

    So Paulo

    2004

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    CARACTERSTICAS PSICOLGICAS DA PRIMEIRA EDA SEGUNDA GRAVIDEZ: O USO DO DFH E DO TAT

    NA ASSISTNCIA PR-NATAL

    IZABELLA PAIVA MONTEIRO DE BARROS

    BANCA EXAMINADORA:

    ______________________________________

    (Nome e assinatura)

    ______________________________________

    (Nome e assinatura)

    ______________________________________

    (Nome e assinatura)

    Dissertao defendida e aprovada em: ______ / ______ / ______.

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    Aos meus filhos Diogo e Rafael,

    cujas existncias me proporcionam a alegria

    necessria para viver,

    Ao meu amor Lus,

    cuja confiana incondicional na realizao

    deste trabalho foi o meu refgio nas horas difceis e,

    minha me, Sheila,

    que me transmitiu seu intenso desejo de ser me.

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    AGRADECIMENTOS

    professora Dr Eliana Herzberg pela admirvel dedicao e competncia na

    orientao deste trabalho, processo permeado por amizade e parceria, elementos que

    foram essenciais.

    Ao Lus, meu marido e exemplo de dedicao pesquisa, que tanto me incen-

    tivou e, carinhosamente, esteve sempre ao meu lado contribuindo para a realizao

    de meus objetivos profissionais.

    Aos meus amados filhos, Diogo e Rafael, pela compreenso, carinho e pronta

    colaborao tanto na confeco dos crivos para as anlises dos desenhos como tam-

    bm nos momentos em que precisei ser criativa, j que estavam sempre dispostos acontribuir com sugestes.

    minha me Sheila pelo que de mais essencial vivemos como me e filha e

    que hoje norteia minha vida pessoal e profissional, e pelas trabalhosas transcries de

    fitas e digitao do complexo material manuscrito. S mesmo me capaz de deci-

    frar e entender certos enigmas.

    Ao meu pai Jos Romeu, meu pai-heri, pelo incentivo e vibrao com mi-

    nhas conquistas.s minhas avs Alice e Ezolede e, especialmente minha av Germana que

    sempre me incentivou a estudar, meu padrasto Luiz Felipe, meus irmos Mariana,

    Daniel e Mariuza e minhas tias Sandra e Evone, pelo carinho e torcida.

    s professoras, Dra Isabel Cristina Gomes e Dr Audrey Setton Lopes de Sou-

    za, pelas pontuais sugestes apresentadas no exame de qualificao.

    superintendncia do Hospital Universitrio que, atravs do Dr. Paulo Basto

    de Albuquerque, diretor da diviso obsttrica e ginecolgica do Hospital Universit-rio permitiu a realizao da pesquisa.

    s Dras. Ana Maria Mello Isern e Wilma Monteiro Frsca, integrantes da

    comisso de Ensino e Pesquisa do Hospital Universitrio, pelas informaes presta-

    das ao longo dos processos de autorizao para pesquisa e coleta de dados.

    Dr Ana Lcia Gaudenci Alves, mdica assistente da diviso obsttrica, que

    gentilmente me encaminhava suas pacientes de pr-natal, colaborando assim para

    que eu pudesse completar a amostra.

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    Dr Marisa Makiama pela disponibilizao da sala, enfermeira Rosana

    Sabato Montano pelas valiosas informaes de sua prtica de um trabalho de anos

    com as gestantes, e aos atendentes Mari, Cris e Robson pela ajuda na localizao das

    grvidas e por me deixarem invadir o balco de atendimento para consultar os pron-

    turios.

    s grvidas que, gentilmente dividiram comigo suas experincias, e dessa

    forma viabilizaram a realizao desta pesquisa.

    professora Dr Maria Cristina Machado Kupfer, minha supervisora, pela a-

    tenciosa colaborao nos momentos cruciais.

    minha analista Slmia Sobreira que, com sua escuta, pode me re-orientar na

    busca pelos meus objetivos.Aos meus amigos e colegas de trabalho da Secretaria de Educao de Santana

    de Parnaba, particularmente professora Eliana Maria da Cruz pelo apoio realiza-

    o deste trabalho, ao Joo Rodrigo pela digitalizao dos desenhos e Edinia pela

    fora.

    Aos meus companheiros, professores da Universidade Presbiteriana Macken-

    zie, especialmente Patrcia Gazire, Eloane e Jos Maurcio, que acompanharam e

    contriburam para a realizao desta pesquisa.s bibliotecrias do Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo, em

    especial Aparecida Anglica Sabadini e Lcia Terezinha Votta de Carvalho, pela

    ateno e contribuio com suas consistentes experincias.

    s secretrias do Departamento de Psicologia Clnica do Instituto de Psicolo-

    gia da Universidade de So Paulo, Ccera, Arlete e Cludia e ao pessoal da Secretaria

    de ps-graduao pela pacincia e contribuio com informaes essenciais no pro-

    cesso de execuo deste trabalho.Aos meus pacientes, pelos ensinamentos e manuteno do meu desejo de ana-

    lista e pesquisadora.

    s minhas queridas amigas Andra, pelos bilhetinhos incentivadores e pela

    companhia e Silvana que, com sua garra, foi uma companheira maravilhosa e cons-

    tante estmulo ao longo do desenvolvimento desta pesquisa.

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    Aos amigos, Hlio, Daniel, Samuel, Ane e Vtor, Paulinho, Anglica e Gabri-

    el, Elaine e Nlson pelos momentos em que fizeram companhia para os meus filhos

    enquanto estive ocupada.

    Cristiane pela amizade, ateno e carinhosa ajuda com o material das gr-

    vidas, alm do bom humor constante, mesmo nos dias em que eu estava uma pssima

    companheira de trabalho.

    Maria Lucia de Souza Campos Paiva, companheira efetiva desde o primei-

    ro dia de mestrado, sempre presente e disposta a contribuir. A amizade construda

    uma prova de que os resultados de uma pesquisa vo alm do mbito profissional.

    Dora, cuja ajuda foi fundamental para que eu conseguisse trabalhar em meu

    material. parte de Belm do Par da minha famlia, D. Helena, Virgnia e Giovana,

    Luzia, Hugo, Marina e Aline, Augusto, Katiane e Lucas, pelo carinho e, especial-

    mente Socorro, Rui, Marcos e Bruno que tornaram vivel, no momento mais difcil

    da realizao deste trabalho, a conciliao da minha vida acadmica com os cuidados

    com meus filhos, aspecto essencial para mim e fundamental para a concluso dessa

    dissertao.

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    ... a maternidade tem uma essncia problemtica... no se situa pura e simplesmente

    no nvel da experincia.

    (Lacan, 1956/1988, p.204).

    H, contudo, uma coisa que escapa trama simblica, a procriao em sua raizessencialque um ser nasa de um outro. A questo de saber o que liga dois seres no

    aparecimento da vida no se pe para o sujeito seno a partir do momento em que

    esteja no simblico, realizado como homem ou como mulher, e mesmo que um

    acidente o impea de ter acesso a isso. Isso pode ocorrer tambm em virtude dos

    acidentes biogrficos de cada um.

    (Lacan,1956/1988, p.205)

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    SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS ................................................................................................ xii

    LISTA DE TABELAS ............................................................................................... xv

    LISTA DE TABELAS ............................................................................................... xv

    LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................ xvii

    LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................ xvii

    RESUMO ............................................................................................................. xviii

    ABSTRACT .............................................................................................................. xix

    1 INTRODUO ........................................................................................ 1

    1.1 Conceitos gerais ........................................................................................ 51.1.1 Gravidez .................................................................................................... 5

    1.1.1.1 Aspectos biopsicossociais da gravidez: breve retomada .......................... 6

    1.1.1.2 Consideraes tericas sobre a segunda gravidez e o nascimento do

    segundo filho ............................................................................................ 9

    1.1.2 Maternidade, maternagem e os primrdios do vnculo me-beb: uma

    leitura psicanaltica ................................................................................. 11

    1.2 Reviso da literatura ............................................................................... 181.3 Tcnicas Projetivas ................................................................................. 28

    1.3.1 O Desenho da Figura Humana ................................................................ 30

    1.3.2 O Teste de Apercepo Temtica ........................................................... 31

    1.3.3 Observaes sobre o atual contexto de avaliao dos Testes Projetivos 33

    1.4 Justificativa do estudo ............................................................................ 37

    1.4.1 Relevncia clnica ................................................................................... 37

    1.4.2 Relevncia cientfica ............................................................................... 381.5 Objetivos geral e especficos .................................................................. 38

    1.6 Problema de pesquisa ............................................................................. 39

    1.7 Hipteses ................................................................................................ 39

    2 MTODO ............................................................................................... 40

    2.1 Tipo de pesquisa ..................................................................................... 40

    2.2 Caracterizao da instituio onde a pesquisa foi realizada ................... 41

    2.3 Sujeitos da pesquisa ................................................................................ 42

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    2.3.1 Critrios de incluso ............................................................................... 42

    2.3.2 Critrios de excluso .............................................................................. 43

    2.3.3 Consideraes a respeito dos critrios .................................................... 43

    2.4 Instrumentos utilizados na coleta de dados ............................................ 44

    2.4.1 A Entrevista Clnica ................................................................................ 44

    2.4.2 DFHDesenho da Figura Humana ....................................................... 45

    2.4.3 TATTeste de Apercepo Temtica (TAT) ........................................ 45

    2.5 Procedimentos adotados para coleta de dados ........................................ 50

    2.6 Critrios e procedimentos para anlise dos dados .................................. 53

    2.6.1 Entrevista ................................................................................................ 53

    2.6.2 DFHDesenho da Figura Humana ....................................................... 542.6.2.1 Aspectos Gerais ...................................................................................... 54

    2.6.2.2 Aspectos estruturais ou formais .............................................................. 55

    2.6.2.3 Aspectos de contedo ............................................................................. 55

    2.6.2.4 Procedimentos ........................................................................................ 56

    2.6.3 TATTeste de Apercepo Temtica ................................................... 57

    2.6.3.1 Tempo de latncia inicial (TLI) ou reao ............................................. 58

    2.6.3.2 Tempo total ............................................................................................. 592.6.3.3 Apercepo ............................................................................................. 59

    2.6.3.4 Estrutura da histria ................................................................................ 60

    2.6.3.5 Tipo de soluo ....................................................................................... 60

    2.6.3.6 Procedimentos ........................................................................................ 61

    2.7 Outras anlises ........................................................................................ 61

    2.8 Observaes sobre o processo de coleta de dados .................................. 62

    3 APRESENTAO E ANLISE DOS RESULTADOS ....................... 653.1 Desenho da Figura Humana (DFH) ........................................................ 66

    3.1.1 Aspectos gerais ....................................................................................... 67

    3.1.2 Aspectos estruturais ou formais .............................................................. 79

    3.1.3 Aspectos de contedo ............................................................................. 97

    3.2 Teste de Apercepo Temtica (TAT) ................................................. 104

    3.2.1 Tempo de latncia inicial e tempo total ................................................ 104

    3.2.2 Apercepo ........................................................................................... 106

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    3.2.2.1 Anlise da apercepo na Prancha 1 ..................................................... 106

    3.2.2.2 Anlise da apercepo na Prancha 2 ..................................................... 110

    3.2.2.3 Anlise da apercepo na Prancha 7MF ............................................... 115

    3.2.2.4 Anlise da apercepo na Prancha 8MF ............................................... 121

    3.2.3 Estrutura da histria .............................................................................. 123

    3.2.4 Tipo de soluo ..................................................................................... 125

    4 DISCUSSO DOS RESULTADOS .................................................... 133

    4.1 Caractersticas do DFH das grvidas de primeiro e segundo filhos ..... 133

    4.1.1 Quanto aos aspectos gerais ................................................................... 133

    4.1.2 Quanto aos aspectos estruturais ou formais .......................................... 134

    4.1.3 Quanto aos aspectos de contedo ......................................................... 1364.1.4 Comparao com outras pesquisas ....................................................... 137

    4.2 Caractersticas do TAT das grvidas de primeiro e segundo filhos ..... 141

    4.2.1 Tempo de latncia inicial (ou reao) e Tempo total ........................... 141

    4.2.2 Apercepo ........................................................................................... 141

    4.2.3 Estrutura da histria .............................................................................. 142

    4.2.4 Tipo de soluo ..................................................................................... 143

    4.2.5 Comparao com outras pesquisas ....................................................... 1434.3 Caractersticas do DFH e do TAT das grvidas de primeiro e segundo

    filhos ..................................................................................................... 146

    5 LIMITAES E SUGESTES DE ESTUDO .................................... 150

    6 CONCLUSES E CONSIDERAES FINAIS ................................. 152

    ANEXO ATABELAS DE ANLISE DO DFH (MODELO UTILIZADO) ...... 157

    ANEXO BTABELAS DE ANLISE DO tat (MODELO utilizado) .................. 161

    ANEXO CTERMO DE CONSENTIMENTO PS-INFORMAO (MODELOUTILIZADO) ....................................................................................... 167

    ANEXO DROTEIRO DE ENTREVISTA .......................................................... 169

    ANEXO EREGISTRO DO DESENHO DA FIGURA HUMANA ..................... 174

    ANEXO FREGISTRO COMPLEMENTAR GRAVAO DO TAT ............. 176

    ANEXO GPRODUES NO DESENHO DA FIGURA HUMANA ................ 178

    ANEXO HTEMPO DE LATNCIA INICIAL E TEMPO TOTAL POR

    PRANCHA ........................................................................................... 189

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    ANEXO IESTRUTURA DA HISTRIA POR PRANCHA .............................. 195

    ANEXO JTIPO DE SOLUO POR PRANCHA ............................................. 201

    REFERNCIAS ....................................................................................................... 207

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Mtodo .................................................................................................... 53

    Figura 2 Resumo esquemtico dos procedimentos para anlise do DFH ............. 57

    Figura 3 Resumo esquemtico dos procedimentos para anlise do TAT ............. 62

    Figura 4 Manuteno da posio vertical da folha de papel. ................................ 67

    Figura 5 Desenho da figura feminina da primpara 1 ........................................... 68

    Figura 6 Localizao da figura na folha. Figura feminina. ................................... 69

    Figura 7 Localizao da figura na folha. Figura masculina. ................................. 70

    Figura 8 Desenho da figura feminina da primpara 5. .......................................... 72

    Figura 9 Desenho da figura masculina da grvida 11 de segundo filho. .............. 73Figura 10Tamanho da figura em relao folha. Figura feminina. ....................... 75

    Figura 11Tamanho da figura em relao folha. Figura masculina. ..................... 75

    Figura 12Desenho da figura feminina da primpara 2. .......................................... 77

    Figura 13Desenho da figura feminina da grvida 17 de segundo filho. ................ 78

    Figura 14Tipo de imagem do corpo. Figura feminina. .......................................... 79

    Figura 15Tipo de imagem do corpo. Figura masculina. ........................................ 80

    Figura 16Exemplos de desenhos de figuras femininas realistas. ........................... 81Figura 17Exemplos de desenhos de figuras masculinas realistas. ......................... 82

    Figura 18Exemplos de desenhos de figuras femininas compensatrias. ............... 83

    Figura 19Exemplos de desenhos de figuras masculinas compensatrias. ............. 84

    Figura 20Inclinao. Figura feminina. ................................................................... 85

    Figura 21Inclinao. Figura masculina. ................................................................. 86

    Figura 22Desenho da figura feminina da primpara 6. .......................................... 87

    Figura 23Desenho da figura masculina da grvida 14 de segundo filho. .............. 88Figura 24Ordem de desenho das figuras ................................................................ 89

    Figura 25Desenho da figura feminina da grvida 14 de segundo filho ................. 90

    Figura 26Tratamento diferencial. Figura feminina X masculina. Tamanho. ......... 93

    Figura 27Tratamento diferencial. Figura feminina X masculina. Elaborao

    (quantidade de detalhes). ........................................................................ 94

    Figura 28Tratamento diferencial. Figura feminina X masculina. Tempo. ............. 95

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    Figura 29Exemplos de desenhos em que houve tratamento diferencial com relao

    ao tamanho. ............................................................................................. 95

    Figura 30Exemplos de desenhos em que houve tratamento diferencial com relao

    quantidade de detalhes. ........................................................................ 96

    Figura 31Exemplos de desenhos em que houve tratamento diferencial com relao

    ao tempo utilizado para a realizao das figuras. ................................... 96

    Figura 32Marcao da regio dos seios. Figura feminina. .................................... 97

    Figura 33Marcao da regio dos seios. Figura masculina. .................................. 98

    Figura 34Desenho da figura feminina da primpara 7. .......................................... 99

    Figura 35Desenho da figura masculina da primpara 7 ....................................... 100

    Figura 36Desenho da cintura e/ou cinto. Figura feminina. .................................. 101Figura 37Desenho da cintura e/ou cinto. Figura masculina. ................................ 102

    Figura 38Desenho da figura feminina da primpara 3. ........................................ 103

    Figura 39Mdia em segundos dos tempos de latncia inicial/Prancha. ............... 105

    Figura 40Mdia em segundos do tempo total/Prancha. ....................................... 105

    Figura 41Percepto menino. .................................................................................. 107

    Figura 42Percepto violino. ................................................................................... 108

    Figura 43Percepto mesa. ...................................................................................... 109Figura 44Percepto jovem mulher. ........................................................................ 111

    Figura 45Percepto homem (trabalhando no campo). ........................................... 112

    Figura 46Percepto mulher mais velha (observando). ........................................... 113

    Figura 47Percepto livros. ..................................................................................... 114

    Figura 48Percepto campo. .................................................................................... 115

    Figura 49Percepto mulher mais velha (sentada em um sof). ............................. 116

    Figura 50Percepto menina. .................................................................................. 117Figura 51Percepto boneca ou beb (no colo da menina). .................................... 118

    Figura 52Percepto sof. ........................................................................................ 119

    Figura 53Percepto livro. ....................................................................................... 120

    Figura 54Percepto mulher jovem. ........................................................................ 121

    Figura 55Percepto cadeira. ................................................................................... 122

    Figura 56Percepto pedao de tecido. ................................................................... 123

    Figura 57Histrias com boa estruturao. ............................................................ 124

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    Figura 58Tipo de soluo. Prancha 1. .................................................................. 126

    Figura 59Tipo de soluo. Prancha 2. .................................................................. 127

    Figura 60Tipo de soluo. Prancha 7MF. ............................................................ 129

    Figura 61Tipo de soluo. Prancha 8MF. ............................................................ 130

    Figura 62Tipo de soluo. Prancha 16. ................................................................ 131

    Figura 63Exemplos de desenhos de figuras masculinas da primpara 6 e da grvida

    11 de segundo filho. .............................................................................. 135

    Figura 64Exemplos de desenhos de figuras femininas e figuras masculinas da

    primpara 8 e da grvida 18 de segundo filho. ..................................... 139

    Figura 65Exemplos de desenhos da primpara 2. ................................................ 140

    Figura 66Maior quantidade de detalhes na figura masculina da grvida 16 desegundo filho. ....................................................................................... 147

    Figura 67Produes do DFH das primparas 1 e 2 .............................................. 179

    Figura 68Produes do DFH das primparas 3 e 4 .............................................. 180

    Figura 69Produes do DFH das primparas 5 e 6 .............................................. 181

    Figura 70Produes do DFH das primparas 7 e 8 .............................................. 182

    Figura 71Produes do DFH das primparas 9 e 10 ............................................ 183

    Figura 72Produes do DFH das grvidas 11 e 12 de segundo filho .................. 184Figura 73Produes do DFH das grvidas 13 e 14 de segundo filho .................. 185

    Figura 74Produes do DFH das grvidas 15 e 16 de segundo filho .................. 186

    Figura 75Produes do DFH das grvidas 17 e 18 de segundo filho .................. 187

    Figura 76Produes do DFH das grvidas 19 e 20 de segundo filho .................. 188

    Figura 77Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 1. ............................. 190

    Figura 78Tempo total em segundos. Prancha 1. .................................................. 190

    Figura 79Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 2. ............................. 191Figura 80Tempo total em segundos. Prancha 2. .................................................. 191

    Figura 81Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 7MF. ....................... 192

    Figura 82Tempo total em segundos. Prancha 7MF. ............................................ 192

    Figura 83Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 8MF. ....................... 193

    Figura 84Tempo total em segundos. Prancha 8MF. ............................................ 193

    Figura 85Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 16. ........................... 194

    Figura 86Tempo total em segundos. Prancha 16. ................................................ 194

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Descrio original das Pranchas. ............................................................ 46

    Tabela 2 Categorias de anlise da apercepo ...................................................... 59

    Tabela 3 Categorias de anlise do tipo de soluo ................................................ 61

    Tabela 4 Dados coletados de Julho de 2001 Novembro de 2002 no Hospital

    Universitrio da Universidade de So Paulo. ......................................... 65

    Tabela 5 Posio da folha de papel ....................................................................... 67

    Tabela 6 Localizao da figura na folha. Figura feminina. ................................... 69

    Tabela 7 Localizao da figura na folha. Figura masculina. ................................. 70

    Tabela 8 Tamanho da figura em relao folha. Subcategorias. .......................... 74Tabela 9 Tamanho da figura em relao folha. Categorias. ............................... 74

    Tabela 10Tipo de imagem do corpo ....................................................................... 79

    Tabela 11Inclinao. ............................................................................................... 85

    Tabela 12Ordem de desenho das figuras. ............................................................... 89

    Tabela 13Tratamento diferencial ............................................................................ 91

    Tabela 14Tratamento diferencial. Figura feminina X masculina. .......................... 92

    Tabela 15Marcao da regio dos seios. ................................................................ 97Tabela 16Desenho da cintura e/ou cinto .............................................................. 101

    Tabela 17Mdias em segundos do tempo de latncia inicial/Prancha. ................ 104

    Tabela 18Mdias em segundos do tempo total/Prancha. ...................................... 105

    Tabela 19Categorias para anlise da apercepo. ................................................ 106

    Tabela 20Apercepo Prancha 1. ......................................................................... 106

    Tabela 21Apercepo Prancha 2. ......................................................................... 111

    Tabela 22Apercepo Prancha 7MF .................................................................... 116Tabela 23Apercepo Prancha 8MF .................................................................... 121

    Tabela 24Histrias com boa estruturao ............................................................. 124

    Tabela 25Categorias para anlise do tipo de soluo. .......................................... 125

    Tabela 26Tipo de soluo. Prancha 1. .................................................................. 126

    Tabela 27Tipo de soluo. Prancha 2. .................................................................. 127

    Tabela 28Tipo de soluo. Prancha 7MF. ............................................................ 129

    Tabela 29Tipo de soluo. Prancha 8MF. ............................................................ 129

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    xvi

    Tabela 30Tipo de soluo. Prancha 16. ................................................................ 131

    Tabela 31Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 1 .............................. 190

    Tabela 32Tempo total em segundos. Prancha 1. .................................................. 190

    Tabela 33Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 2. ............................. 191

    Tabela 34Tempo total em segundos. Prancha 2. .................................................. 191

    Tabela 35Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 7MF. ....................... 192

    Tabela 36Tempo total em segundos. Prancha 7MF. ............................................ 192

    Tabela 37Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 8MF. ....................... 193

    Tabela 38Tempos total em segundos. Prancha 8MF. ........................................... 193

    Tabela 39Tempo de latncia inicial em segundos. Prancha 16. ........................... 194

    Tabela 40Tempo total em segundos. Prancha 16. ................................................ 194Tabela 41Estrutura da histria. Prancha 1. ........................................................... 196

    Tabela 42Estrutura da histria. Prancha 2. ........................................................... 197

    Tabela 43Estrutura da histria. Prancha 7MF. ..................................................... 198

    Tabela 44Estrutura da histria. Prancha 8MF. ..................................................... 199

    Tabela 45Estrutura da histria. Prancha 16. ......................................................... 200

    Tabela 46Tipo de soluo. Prancha 1. .................................................................. 202

    Tabela 47Tipo de soluo. Prancha 2. .................................................................. 203Tabela 48Tipo de soluo. Prancha 7MF. ............................................................ 204

    Tabela 49Tipo de soluo. Prancha 8MF. ............................................................ 205

    Tabela 50Tipo de soluo. Prancha 16. ................................................................ 206

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    xvii

    LISTA DE ABREVIATURAS

    DFH Desenho da Figura Humana

    TAT Teste de Apercepo Temtica

    APA American Psychological Association

    Pr Prancha

    HU Hospital Universitrio

    USP Universidade de So Paulo

    TLI Tempo de latncia inicial ou reao

    TT Tempo total

    CFP Conselho Federal de Psicologiagrav. Gravidez

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    xviii

    RESUMO

    Barros, I. P. M. de (2004). Caractersticas psicolgicas da primeira e da segunda

    gravidez: o uso do DFH e do TAT na assistncia pr-natal.Dissertao de Mes-trado, Instituto de Psicologia, Universidade de So Paulo, So Paulo (p.215).

    O objetivo geral da pesquisa consiste da ampliao do conhecimento acerca das ca-

    ractersticas psicolgicas das grvidas de primeiro e segundo filhos e, em especial,

    das diferenas existentes entre esses dois grupos, a fim de contribuir tanto para o

    aperfeioamento da utilizao do Desenho da Figura Humana (DFH) e do Teste de

    Apercepo Temtica (TAT) com grvidas, como contribuir para as suas assistncias

    pr-natais. Para tanto, por meio de estudo exploratrio, identificou-se caractersticaspsicolgicas observadas na primeira e na segunda gravidez, e comparou-se os dois

    grupos, cada um composto por 10 grvidas. Os dados foram coletados no Servio de

    Obstetrcia do Hospital Universitrio da Universidade de So Paulo atravs de entre-

    vistas individuais semi-dirigidas e aplicao do DFH e das pranchas 1, 2, 7MF, 8MF

    e 16 do TAT. O material resultante foi analisado, principalmente em seus aspectos

    estruturais, sendo que os dados da entrevista tiveram funo complementar neste

    processo. Realizou-se uma avaliao sistemtica do DFH e do TAT a fim de contri-buir para o aumento da confiabilidade no uso dessas tcnicas. Os resultados foram

    exemplificados com o material clnico obtido. As caractersticas psicolgicas das

    grvidas de primeiro filho apresentaram-se semelhantes entre si, porm diferentes

    das caractersticas psicolgicas das grvidas de segundo filho, as quais, como no

    primeiro caso, tambm se apresentam similares. As ansiedades da primpara parecem

    mais ligadas s modificaes biopsicossociais resultantes da gravidez, enquanto as

    caractersticas psicolgicas na segunda gestao parecem estar influenciadas pelo

    amadurecimento obtido na experincia anterior de gravidez. Diante dos resultados,

    ressalta-se a importncia do psiclogo conhecer as caractersticas psicolgicas da

    primeira e da segunda gravidez, no s para a atuao clnica individual, mas tam-

    bm em equipe multiprofissional. Por fim, sugeriu-se investigao longitudinal para

    avano do conhecimento sobre o tema.

    Palavras-chave: 1. Gravidez, 2. Maternidade 3. Assistncia pr-natal, 4. Tcnicas

    projetivas, 5. Desenho de Figuras Humanas, 6. Teste de Apercepo Temtica.

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    ABSTRACT

    Barros, I. P. M. de (2004). Psychological characteristics of first and second preg-

    nancies: the use of HFD and TAT in prenatal care.Masters Dissertation, Instituteof Psychology, University of So Paulo, So Paulo (215 pages).

    The general aim of this research is to extend knowledge on the psychological charac-

    teristics of mothers who are pregnant with their first and second children and, more

    specifically, on the differences between these two groups, in order to contribute both

    to streamlining the use of Human Figure Drawing (HFD) and Thematic Appercep-

    tion Test (TAT) with pregnant women, and also to contribute to their prenatal care.

    Therefore, by means of an exploratory study, this dissertation identified the psycho-logical characteristics found in first and second pregnancies and makes a comparison

    of the two groups, each one comprised of 10 pregnant women. The data were ga-

    thered at the Obstetrics Service of the Hospital of the University of So Paulo, from

    individual, semi-structured interviews and the application of HFD and cards 1, 2,

    7GF, 8GF and 16 of TAT. The results of the study were analised mainly in its struc-

    tural aspects, and the interview data had complementary function in this process. A

    systematic evaluation method for HFD and TAT was made, as a means of contribut-ing to improve the reliability of these techniques. The results were exemplified with

    the acquired clinical material. The psychological characteristics of first children

    pregnants were found similar, although different from psychological characteristics

    of second children pregnants, which were, as in the latter, equally found having simi-

    larities. The anxieties of the first pregnancy seem to be more associated with the bi-

    opsychosocial changes that occur during pregnancy, while the psychological charac-

    teristics of second pregnancy appear to be influenced considerably by the maturing

    experience of the earlier pregnancy. From the results, the dissertation emphasizes the

    importance for psychologists to understand the psychological characteristics of first

    and second pregnancies, not only in their individual clinical work, but also in multi-

    professional teamwork. Finally, it recommends longitudinal research to advance

    knowledge on the matter.

    Key words: 1. Pregnancy, 2. Maternity, 3. Prenatal care, 4. Projective techniques,

    5. Human Figure Drawings, 6. Thematic Apperception Test.

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    1

    1 INTRODUO

    O vento o mesmo. Mas sua resposta em cada folha diferente.

    (Meireles, 1967, p.339)

    Curiosidade e desejo pela investigao mais profunda e sistemtica sobre o

    tema da gravidez foram despertados a partir das diferenas significativas sentidas e

    percebidas em experincias pessoais na primeira (1991) e segunda gestaes (1992)

    da autora deste trabalho.

    Ao final da graduao em Psicologia, houve a primeira oportunidade concreta

    de pesquisar sobre o assunto (Barros, 1999). Ao longo do trabalho foi percebido queo tema era, no s, bastante complexo, como tambm havia pouco material para con-

    sulta, em especial sobre a segunda gravidez, o que se mantm at hoje.

    Fazendo uma consulta ao estado da arte dos ltimos 10 anos (1984-2004) en-

    contra-se apenas o trabalho de Nobile (1987). Antes disso, localizam-se as pesquisas

    de Tsu (1980) e Doty (1967) com multparas.

    Fora isso, alguns livros como os de Raphael-Leff (1997), Szejer e Stewart

    (1997) e Wilheim (1997) fazem rpida meno a algumas caractersticas de outrosprocessos gestacionais que no s o primeiro.

    No estudo exploratrio da poca da graduao (Barros, 1999), a anlise dos

    protocolos do Teste de Apercepo Temtica (TAT) sugeriu que as primparas teriam

    as projees mais influenciadas pelas suas respectivas histrias de vida do que as

    grvidas de segundo filho. Aquela pesquisa teve como objetivo geral caracterizar,

    utilizando o referencial psicanaltico, as projees em relao gravidez e a partir

    disso, traar os lugares ocupados pelos filhos no inconsciente materno, entendendo oque estaria representando a vinda destes. Os dados foram coletados atravs da aplica-

    o das Pranchas 2, 7MF e 8MF do Teste de Apercepo Temtica (TAT) escolhidas

    para tal fim, alm de uma entrevista semi-dirigida, cujo roteiro foi desenvolvido ex-

    clusivamente para complementar o levantamento de dados.

    Naquela ocasio, a amostra foi composta de 5 primparas, 5 grvidas de 2 fi-

    lho e 3 mulheres na terceira gestao, todas pertencentes classe mdia. A pesquisa

    apoiou-se prioritariamente na teoria psicanaltica, cujos elementos puderam propiciar

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    2

    uma leitura clnica das entrevistas semi-dirigidas e do material resultante da aplica-

    o do TAT, sendo possvel a identificao de padres comuns de respostas, especi-

    almente nos protocolos do TAT. As informaes da entrevista semi-dirigida auxilia-

    ram na interpretao do material e, portanto, na compreenso das representaes do

    filho no inconsciente da me: amigo, frgil, queridinho, entre outros (Barros,

    1999).

    Assim, nas mulheres primparas, o que mais se destacou foi a interferncia de

    revivescncias de suas histrias de vida nas expectativas imaginrias que tm em

    relao ao filho, sendo ento este esperado como devendo compensar seus traumas

    pessoais. O desejo mais presente nas mulheres grvidas de segundo filho referiu-se

    preferncia por determinado sexo para o beb, devendo ser o oposto do de seu pri-meiro filho. Nesse caso, parece que o filho estava sendo esperado como devendo

    satisfazer seus desejos de conhecer como ser me de menino/menina (dependendo

    do sexo do primeiro filho). A dificuldade financeira e as preocupaes profissionais

    tomam o lugar das expectativas frente vinda do 3 filho que parece ser esperado

    como devendo, pelo menos, preencher os aspectos que os outros dois no preenche-

    ram (Barros, 1999).

    Levando-se em conta toda responsabilidade e comprometimento que um filhoexige, este foi visto como agente involutivo j que muitas vezes percebido como en-

    trave vida profissional. Isto se manifestou, na maioria das vezes, sob a forma de

    rejeio gravidez. A maternidade, que poderia ser uma vivncia de realizao, pas-

    sou a ser secundria, j que, em alguns casos, a realizao profissional prioridade

    (Barros, 1999; Gomes, 2000; Settee, 1991).

    Diante da hiptese geral de que as diferenas de expectativas para cada filho

    so determinadas pelo lugar que estes ocupam no inconsciente da me, o materialobtido com a pesquisa foi extremamente precioso j que a utilizao do TAT possibi-

    litou a emergncia de aspectos essenciais da subjetividade das gestantes no referente

    aos aspectos inconscientes. Alm dos complexos, as influncias do pessoal e do con-

    texto tambm puderam ser inferidas, e concluiu-se que, circunstncias da vida pre-

    gressa da mulher interferem na aceitao da gravidez e do beb.

    Este incipiente trabalho originou indcios mais consistentes a respeito da idia

    de que cada gravidez nica, no s do ponto de vista mdico e histrico, mas tam-

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    3

    bm psicolgico j que envolve, em um determinado momento, a atitude particular

    de cada mulher, frente gravidez e maternidade.

    Diante deste ponto de partida (Barros, 1999), a pesquisa atual visou ao apro-

    fundamento da investigao sobre o assunto ampliando-se a amostra e sistematizan-

    do o mtodo de investigao.

    Como em toda tarefa psicolgica, tambm no campo da gravidez se pode tra-

    ar certas pautas de carter geral, mas a observao direta de cada paciente a nica

    maneira de chegar a uma adequada compreenso de seu psiquismo (Soifer, 1992).

    Soma-se a isto o fato de que a psicodinmica da gestante sofre influncias de vari-

    veis do momento em que se encontra e as que esto ligadas sua histria de vida e s

    suas relaes com as suas imagens parentais (Bowlby, 2001; Mazet & Stoleru, 1990).Diante dessas afirmaes, parece muito pertinente que, querendo-se saber a-

    cerca das semelhanas e diferenas entre as caractersticas psicolgicas observadas

    na primeira e na segunda gravidez, se estude in locuas grvidas de primeira e segun-

    da gravidez para se ter acesso atividade psquica atuante ao longo da gestao, pos-

    sibilitando a identificao da penetrao dos contedos inconscientes e cenrios ima-

    ginrios (pr-conscientes), desejos e fantasias, enraizados nas camadas infantis e

    inconscientes da vida psquica da me.Concordando com alguns autores tais como Bowlby (2001), Maldonado

    (2000), Souza-Dias (1999) e Wilheim (1997), pensa-se que a relao me-filho j se

    inicia no perodo pr-natal, sendo este, portanto, um perodo crtico tanto para a me,

    que como denomina Bowlby, tambm recm-nascida, como para o beb:

    As leses provocadas na estrutura emocional do ser por acidentes graves ocorridos na

    comunicao entre a me e o beb durante o perodo pr-natal, vo constituir imprints

    traumticos, cujos efeitos propagar-se-o, seguindo o modelo de propagao das ondas

    acsticas, vida afora. (Wilheim, 1997, p. 66-67).

    As emoes maternas representam um ambiente pr-natal que influencia os

    padres de conduta do novo ser (Maldonado, 2000). Sendo assim, a disponibilidade

    afetiva da me fundamental para que ocorra o desenvolvimento psico-afetivo do

    indivduo, de clula a feto, de feto a beb e de beb a criana (Wilheim, 1997, p.

    66).

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    A partir disso surge a necessidade de aprofundamento do conhecimento sobre

    as caractersticas psicolgicas observadas na gravidez a fim de que se possa desen-

    volver propostas de intervenes especficas para a primeira e segunda gestaes,

    visando a um aprofundamento das pesquisas na rea das vivncias pr-natais e um

    posterior desenvolvimento da qualidade das relaes iniciais das mes com seus be-

    bs.

    A seguir (item 1.1) sero apresentados os conceitos gerais de gravidez, ma-

    ternidade e maternagem em seus aspectos biopsicossociais e psicanalticos respecti-

    vamente. Tambm sero apresentadas consideraes sobre a segunda gravidez e o

    nascimento do segundo filho. O item 1.2 traz os trabalhos mais relevantes em uma

    reviso da literatura sobre o tema, destacando o uso do Teste de Apercepo Temti-ca (TAT) e do Desenho da Figura Humana (DFH) em pesquisas empricas. Este pri-

    meiro captulo composto ainda por um rpido apanhado sobre as Tcnicas projeti-

    vas, especialmente o DFH e o TAT, alm de algumas observaes sobre o atual con-

    texto de avaliao das mesmas. Finalizando, tratar-se- da relevncia da pesquisa, do

    problema de pesquisa e sero esclarecidos seus objetivos e hipteses.

    No captulo 2, denominadoMtodo, aps definio do tipo de pesquisa, ser

    apresentado o conjunto de estratgias metodolgicas, tanto para coleta de dados co-mo para anlise dos dados, a caracterizao da instituio onde a pesquisa foi reali-

    zada, os critrios de incluso e excluso da amostra utilizada e os instrumentos utili-

    zados. O captulo se encerra com as observaes sobre o processo de coleta de dados.

    Os principais resultados so apresentados no captulo 3 e discutidos no cap-

    tulo seguinte denominadoAnlise e discusso dos resultados.

    Por ocasio do captulo 5 so apontadas algumas limitaes do estudo, assim

    como so sugeridas novas investigaes sobre o tema, a partir de questes que surgi-ram ao longo da realizao deste trabalho.

    No ltimo captulo, Concluses e consideraes finais, so apresentados os

    aspectos conclusivos em torno da resposta ao problema lanado ao incio do trabalho,

    em torno da consecuo dos objetivos propostos, bem como da submisso preliminar

    da hiptese aos achados mais relevantes desta pesquisa.

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    O referencial psicanaltico foi utilizado como linha terica para embasamento

    da pesquisa, tendo em vista que esta manteve o mesmo objeto de estudo da psicanli-

    se: o inconsciente e sua interao com a instncia consciente.

    1.1 Conceitos gerais

    Vale a pena fazer uma ressalva sobre a diferena entre gravidez e maternida-

    de. Ocorre que ambas assemelham-se pelo fato de estarem repletas de aspectos psico-

    lgicos e culturais e, alm disso, a maternidade pode, ou no, estar presente na gravi-

    dez. No Novo Dicionrio Aurlio encontra-se o seguinte: Gravidez: estado da mu-

    lher, e das fmeas em geral, durante a gestao (Ferreira, 1986, p.866) e Matern i-dade: qualidade ou condio de me; lao de parentesco que une a me ao filho

    (Ferreira, 1986, p. 1103).

    Esta diferenciao de suma importncia, levando-se em conta que os resul-

    tados dessa pesquisa visam, atravs da possibilidade de interveno precoce, a au-

    mentar as chances da maternidade se incluir na gravidez, de forma a contribuir com o

    desenvolvimento saudvel do vnculo me-filho. A seguir, ambos os conceitos sero

    definidos e trabalhados um pouco mais.

    1.1.1 Gravidez

    Em termos conceituais, ao longo de todo o desenvolvimento dessa disserta-

    o, estaro sendo considerados como sinnimos os termos: grvida e gestante, assim

    como gravidez e gestao. Maldonado (2000) define a gravidez, assim como outros

    perodos crticos do ciclo vital, como um perodo de transio biologicamente deter-minado, caracterizado por mudanas orgnicas complexas, o que gera uma instabili-

    dade de equilbrio temporria devido s mudanas envolvidas nos aspectos biopsi-

    cossociais, incluindo a mudana de identidade.

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    1.1.1.1Aspectos biopsicossociais da gravidez: breve retomada

    Apesar da existncia da expressiva quantidade de material na literatura sobre

    os aspectos fsicos e mudanas orgnicas na gravidez (Maldonado, 2000; Soifer,

    1992; Souza-Dias, 1999; Wilheim, 1997) assim como aspectos mais psico-afetivos

    tambm relacionados a este perodo da vida da mulher (Fernandes, 1988; Maldona-

    do, 2000; Settee, 1991; Soifer, 1992; Szejer & Stewart, 1997) alguns pontos mere-

    cem nesse momento ser retomados.

    A literatura especializada costuma dividir a gravidez em trs trimestres a par-

    tir principalmente dos sintomas e modificaes corporais e aspectos psicodinmicos,

    os quais estaro sendo apresentados de forma resumida nas linhas que se seguem.O primeiro trimestre caracterizado por uma crise frente s intensas mu-

    danas fsicas e psicolgicas, tanto para a me, gestante, como para o beb conforme

    apontam estudiosos sobre o psiquismo pr-natal (Fernandes, 1988; Souza-Dias,

    1999; Wilheim, 1997). Souza-Dias, a partir de suas pesquisas com estudos ultrasso-

    nogrficos retrata a primeira experincia de dor frente impotncia de ser quando o

    concepto tem apenas de 24 a 48 horas de vida, e para que possa sobreviver, precisa

    nidar-se parede uterina. Wilheim (1997) por sua vez vai alm e aponta que todos osacontecimentos biolgicos, sem exceo, pelos quais o feto passa desde que era clu-

    la at que se constitua beb, ficam registrados numa memria, uma memria celular

    que far parte de uma bagagem inconsciente. O ataque por parte do sistema imuno-

    lgico da me logo que o concepto passa a existir, e portanto, caracteriza-se como

    um corpo estranho ao qual o organismo da me reage, representa para Wilheim

    (1997) a primeira matriz dos sentimentos de rejeio e de angstia, angstia de ani-

    quilamento.Quando se fala em crise, refere-se ao conceito de crise evolutiva, ou seja, pe-

    rodos da vida das pessoas onde a emergncia de fatos, naturais ou acidentais, exige

    resposta adaptativa. Tais perodos, momentos crticos da evoluo afetiva humana

    (Fiori, 1982), implicam na utilizao de novos recursos e solues, contribuindo,

    para o desenvolvimento da personalidade do sujeito e o estabelecimento de um novo

    perodo de equilbrio (Maldonado, 2000). Parece haver expectativas de que as mu-

    danas sejam boas (Fernandes, 1988), mas, h ao mesmo tempo angstia frente ao

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    desconhecido. Essa ambivalncia caracterstica da psicodinmica da grvida (Soi-

    fer, 1992; Bowlby, 2001). Outro aspecto que pode estar presente nessa ambivalncia

    a diferena, para a qual chamam a ateno Szejer e Stewart (1997) entre o desejo

    de ter um filho e o projeto de ser me. Ter um projeto de ser me projetar-se a si

    mesma no futuro como me desse filho. J quando se deseja um filho, o filho que

    se projeta imaginariamente no futuro. Tambm se destacam na categoria ambivaln-

    cia, os conflitos entre o desejo inconsciente e vontade consciente. Neste ltimo caso,

    uma ilustrao desse impasse so as gestaes que surgem devido a falhas nos pro-

    cedimentos anti-concepcionais.

    Pela gravidez a mulher tem necessidade de voltar-se para dentro de si e reto-

    mar as suas vivncias infantis, numa regresso que lhe facilitar o contato com ofilho. Soifer (1992) caracteriza a gravidez como uma experincia regressiva, caracte-

    rizada por sintomas tais como a hipersonia, ou sonolncia, e retraimento tornando-se

    a mulher ensimesmada. A regresso em si tem origem, como aponta Soifer (1992),

    na percepo inconsciente das mudanas orgnicas e hormonais e na sensao de

    incgnita, ou seja, a percepo tanto consciente como inconsciente, no consegue

    definir a causa das mudanas que vm ocorrendo: diante do conflito suscitado, a

    mulher adota a soluo de afastar os estmulos, tanto internos como externos, por viado repouso. (Soifer, 1992, p. 22). Encontra-se na literatura (Brazelton, 1988; Mal-

    donado, 2000) destaque para possveis repercusses do aumento deste retraimento na

    vida familiar. No caso da multpara, por exemplo, a partir do momento em que seus

    outros filhos captem inconscientemente ou sejam informados de tais mudanas, po-

    dem vir a desenvolver sintomas de inquietao, dificuldades de sono e alimentao

    com os quais a gestante se deparar. Portanto, para minimizar esses comportamentos

    reativos e preparar a criana mais velha para a chegada do irmozinho, recomenda-seque o filho mais velho seja informado sobre o que est acontecendo.

    Os vmitos e os enjos fazem parte do rol de sintomas que surgem muitas ve-

    zes no sentido de confirmar e anunciar a gestao, levando-se em conta que as altera-

    es do esquema corporal ainda so bastante discretas neste primeiro trimestre (Fer-

    nandes, 1988; Maldonado, 2000; Settee, 1991; Soifer, 1992).

    So sintomas comuns nesse perodo inicial o aumento de apetite e da sensibi-

    lidade nas reas de olfato, paladar e audio e tambm emocional, sendo essa ltima

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    caracterizada por oscilaes de humor manifestadas na maioria das vezes por maior

    irritabilidade e vulnerabilidade a estmulos externos e ao choro e/ou ao riso fceis

    (Maldonado, 2000).

    O segundo trimestre caracterizado pelo incio da percepo dos movimentos

    fetais (Fernandes, 1988; Settee, 1991; Soifer, 1992). Conforme Maldonado (2000),

    a percepo dos movimentos fetais que possibilitar mulher atribuir certas caracte-

    rsticas pessoais ao filho, segundo a interpretao que fizer destes: o feto pode ser

    sentido como carinhoso, agitado, agressivo, dentre outras caractersticas, dependendo

    da intensidade e freqncia dos movimentos.

    Este o perodo de maior estabilidade j que a mulher est segura da gravidez

    e ainda distante do parto. O estado gravdico evidente devido instalao das mo-dificaes corporais (arredondamento do ventre, perda da cintura, aumento dos seios,

    dentre outros). As ansiedades esto agora em torno do temor do filho nascer disforme

    e do sentimento de fealdade, ou seja, angstia frente ao corpo disforme e medo de

    permanecer assim para sempre. Esse tambm o momento em que h uma baixa na

    libido sexual (Soifer, 1992).

    No ltimo trimestre, da metade do stimo ms em diante a criana se coloca

    de cabea para baixo encaixada no canal do parto. A percepo dos movimentos ute-rinos e fetais provoca uma intensa crise de ansiedade que pode expressar-se pelo par-

    to antecipado, manifestaes psquicas ou ainda por vrias somatizaes: hiperten-

    so, diarrias, lipotimias, cimbras, que traduzem diferentes fantasias inconscientes.

    (Soifer, 1992). Aparecem os temores em relao ao parto. Novamente a mulher se

    depara com sentimentos contraditrios: a vontade de ter seu filho nos braos e termi-

    nar a gravidez e, ao mesmo tempo, a vontade de prolong-la, visando adiar a neces-

    sidade de fazer novas adaptaes exigidas pela vinda do beb (Maldonado, 2000),visto que a estrutura e o relacionamento familiar sofrem modificaes aps o nasci-

    mento de um filho. Segundo De Felice (2000), essas mudanas so muito significati-

    vas quando se trata da vinda do primeiro filho por causa da passagem para triangular

    da antes relao dual a que o casal estava acostumado.

    Como visto, com relao parte emocional, ambivalncia afetiva, temores,

    medo, tenso e ansiedade so alguns dos sentimentos caractersticos ao longo da gra-

    videz (Fernandes, 1988; Maldonado, 2000; Settee, 1991; Soifer, 1992). Um dos te-

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    mores mais universais a alterao do esquema corporal, receio de no conseguir

    recuperar a forma antiga, ou que possa ficar modificada como pessoa, num sentido

    mais profundo. H ainda o receio de ser incapaz de dar luz e nutrir o filho, de o

    beb nascer deformado, alm do temor quanto aos prprios sentimentos destrutivos

    contra ele (Maldonado, 2000). Sobre a origem dos sentimentos hostis contra o beb,

    Bowlby (2001) aponta que estes so despertados nos pais semelhana dos que fo-

    ram suscitados quando estes pais eram ainda crianas por seus respectivos pais e ir-

    mos: A me que, quando criana, tinha cimes de um irmo mais novo, poder

    experimentar agora uma hostilidade absurda e exorbitante pelo novo e pequenino

    estranho que veio instalar-se na famlia (Bowlby, 2001, p. 34).

    A partir das consideraes de De Felice (2000) pode-se acrescentar ainda que:

    A identificao com a figura materna e a plena aceitao do papel materno podem entrar

    em conflito com aspectos narcsicos da mulher. As mudanas corporais devidas gravi-

    dez, parto e amamentao, podem conflituar com os desejos narcsicos da mulher de pre-

    servar o corpo como objeto de atrao ertica (De Felice, 2000, p. 91).

    A gravidez, no um perodo transitrio para a maternidade j que essa con-

    dio pode ou no estar presente a priori, assunto que ser tratado nos prximos i-

    tens, mais especificamente no intitulado Maternidade, maternagem e os primrdios

    do vnculo me-beb: uma leitura psicanaltica.

    1.1.1.2Consideraes tericas sobre a segunda gravidez e o nascimento do se-

    gundo filho

    Cada gravidez vivenciada como nica (Fernandes, 1988; Szejer & Stewart,

    1997). No entanto, Fernandes (1988) define que na primeira experincia de gravidez

    as mudanas demarcam um momento irreversvel: mudana de identidade, de papis

    e sensaes jamais vividas. Alm disso, a gestante sente-se impotente frente a isto.

    Segundo Raphael-Leff (1997), os obstetras se referem s gestaes como a-

    contecimentos sem conexo, cada uma das quais como acontecimentos isolados. Po-

    rm para esta autora (Raphael-Leff, 1997), cada concepo influenciada por todas

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    as concepes anteriores e influenciar as futuras j que ocorre um reembaralhamen-

    to da constelao familiar cujos efeitos so sentidos por todos os membros.

    Toda gravidez evoca na mulher, sua prpria histria e a remete a ela. Szejer e

    Stewart (1997) do um exemplo: se a me primognita, sua relao com seu pri-

    meiro filho ser marcada pela forma como ela mesma viveu esse lugar. Assim, o

    lugar singular de cada filho do casal far eco muitas vezes inconsciente - aos dife-

    rentes lugares ocupados por seus pais entre os prprios irmos.

    Os resultados da pesquisa de Doty (1967) indicaram que as atitudes maternais

    no ps-parto variaram consideravelmente em funo de j terem passado pela experi-

    ncia da gravidez antes. As idias de Raphael-Leff (1997) tambm concursam com

    as de Doty, j que apontam a influncia da experincia de criar o beb anterior, nodesenvolvimento emocional e na resoluo de conflitos no interior da psique da me.

    Quais so as caractersticas psicolgicas observadas na segunda gravidez, que fazem

    essa diferena?

    Como j foi dito, as gestaes so diferentes e cada uma vai ter seu prprio

    significado. Ser que existem caractersticas que se repetem nas grvidas de segunda

    gravidez? Se possvel traar um perfil da psicodinmica da primpara (Cury, 1997;

    Fernandes, 1988; Maldonado, 2000; Soifer, 1992), ser que h diferena significativaentre as caractersticas psicolgicas observadas na primeira e na segunda gravidez?

    Voltando-se para o nascimento do segundo filho, Brazelton (1988) com base

    em suas experincias clnicas aponta que a coisa mais difcil por ocasio da chegada

    deste a necessria desero do primeiro (p. 45). Segundo ele, h uma grande

    dificuldade por parte da me de conceber a idia de diluir o vnculo com o filho mais

    velho em funo do nascimento do outro beb. Brazelton (1988) aponta que este

    um medo universal, at baseado em termos reais porque a me precisar se afastarum pouco para cuidar do novo beb, ficando em jogo o prejuzo que o filho mais

    velho poder sofrer com a rivalidade junto ao irmo. Ser que esta caracterstica po-

    der ser observada no grupo de grvidas de segundo filho da pesquisa aqui em ques-

    to?

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    1.1.2 Maternidade, maternagem e os primrdios do vnculo me-beb: uma

    leitura psicanaltica

    Entende-se por maternidade a relao me-filho como um todo sociolgico,

    fisiolgico e afetivo. A relao da mulher com o marido e com a famlia, sua situao

    econmica e a posio do beb em sua existncia do uma matiz pessoal tendncia

    maternal de cada mulher (Fernandes, 1988). Essa tendncia maternal no um pen-

    samento compartilhado pelas autoras Badinter (1985) e Chodorow (1990) que acredi-

    tam que a responsabilidade pela criao e cuidados com os filhos por parte da mulher

    no passa de uma exigncia da sociedade machista e patriarcal que se repete ao longo

    dos tempos.A gerao de mes dos anos 50 tinha a funo materna bem definida, limitada

    e valorizada dentre os papis femininos. O estudo e o trabalho eram considerados

    secundrios, diferente do que vem ocorrendo com a gerao de mes dos anos 80,

    nas quais verifica-se diferenas marcantes em relao ao significado da maternidade

    a comear pela possibilidade de programar a gravidez para um momento mais con-

    veniente especialmente no que se refere conciliao da maternidade com as metas

    profissionais (Settee,1991).Badinter (1985) e Chodorow (1990) se contrapem ao pensamento de que o

    amor materno algo instintivo, ou seja, uma espcie de tendncia inata das mulheres.

    Defendem que assim como as atitudes maternas, o papel de me tem se modificado

    ao longo da histria, o que faz pensar que a maternidade um comportamento social

    que se adequa a um determinado contexto scio-histrico no qual deve se incluir a

    necessidade da diviso entre mulheres e homens, dos cuidados com os filhos medi-

    da que a mulher se insere no mercado de trabalho. Gomes (2000) tambm chama aateno para a importncia do psiclogo clnico estar atento s situaes crticas den-

    tro da famlia que surgem a partir da ascenso profissional da mulher e de questes

    sociais atuais:

    A famlia na maioria das vezes se desestrutura quando o papel de mantenedor passa a ser

    desempenhado por ela(grifo da autora), pois essa prpria mulher se sente desconfortvel,

    explorada, culpada, roubando(grifo da autora) esse lugar, em vez de simplesmente ocu-

    p-lo (Gomes, 2000, p.162).

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    Independente de quem venha a exercer a funo materna, e das diferenas i-

    deolgicas e no constructo terico de cada uma das correntes dentro da psicanlise,

    ao abordarem o processo de constituio da subjetividade, de uma forma geral, h

    um ncleo comum que diz respeito ao peso significativo que o sentimento materno e

    a qualidade do vnculo na maternagem1possuem neste processo. A me est assen-

    tando, sem que o saiba, as bases da sade mental do indivduo quando constri a sub-

    jetividade deste: a princpio imaginariamente quando deseja o filho e posteriormente,

    atravs de seus cuidados. Sendo assim pode-se considerar que a dimenso primeira

    da experincia psquica intersubjetiva (Souza, 2000).

    1Por maternagem entende-se aqui o exerccio da funo materna, que como o prprio nome diz, uma funo que pode ser desempenhada por qualquer pessoa que se disponha a cuidar da criana e porela se interesse. Neste trabalho, particularmente, a maternagem ser associada diretamente com a

    figura da me biolgica em funo da especificidade da pesquisa.

    Alis, o processo de constituio de um sujeito, desde os momentos mais ini-

    ciais, tem sido j h bastante tempo um dos temas com o qual os psiclogos no secansam de trabalhar, ainda mais levando em conta o aprimoramento de parmetros

    de escuta e manejo clnico que pesquisas e estudos nessa rea tm agregado cincia

    psicanaltica.

    Grandes tericos como Freud (1913/1973, 1937/1996a e 1937/1996b) e La-

    can (1969/1998), assim como seus discpulos e comentadores Dolto (1996), Mannoni

    (1995), Spitz (1988), Bowlby (2001), Lebovici (1999), Cramer (1997), dentre outros,

    inclusive alguns brasileiros tais como Jerusalinsky (1997), Lajonquire (1999), Cori-at (1997), Rosenberg (1994), Batista Pinto (1999) etc. se dedicaram a estudar o que

    est em jogo nas primeiras relaes que estabelecem (ou no...) as mes com seus

    filhos.

    Dolto (1996) faz referncia aos sentimentos de uma mulher por seu filho co-

    mo essencialmente um modo de linguagem que instrumenta todos os gestos e todas

    as palavras que ela dirige ao filho. A autora define que se trata de uma linguagem

    pr-verbal que ao mesmo tempo, produto da educao da menina, das interaesfamiliares e scio-culturais e das influncias do momento presente, incluindo neste,

    sua relao com o genitor da criana. Essa linguagem, a qual chamou sentimento

    materno, inconscientemente ensinada e se constitui na infncia, no contato com e a

    exemplo das mulheres das duas linhagens (materna e paterna) e posteriormente tam-

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    bm com suas educadoras, segundo as relaes de identificao ou a recusa da iden-

    tificao da criana com estas.

    Algum tempo depois, j adulta, a mulher que teve suas emoes marcadas por

    aquelas mulheres tutelares do passado, idealiza quantos filhos quer ter, como sero

    chamados, imagina suas fisionomias. Ao encontrar um parceiro, juntos comeam a

    unir as expectativas que tiveram incio, desde o tempo em que ainda eram cuidados.

    Menino ou menina? Qual a melhor poca para nascer? Que nome escolher?

    essa representao do futuro beb e dela prpria como futura me que dar

    impulso para quando do nascimento do beb, a me invista afetivamente e libidinize

    o corpo que lhe entregue (Piccinini, Gianlupi, Levandowski, De Nardi & Oliveira,

    V., no prelo). Essa capacidade imaginativa dar origem ao vnculo primordial me-beb.

    Diante disso, pode-se perceber que o exerccio da funo materna j supe a

    colocao em prtica de um desejo (Falsetti, 1990). O desejo da me encontra-se no

    modo como ela se ocupa da criana j que as manobras, atenes, atitudes e cuidados

    ... tm a marca de um interesse particularizado, ainda que o seja pela via de suas

    prprias faltas (Lacan, 1969/1998, p.5).

    Perante o que teorizou Lacan, Laznik-Penot (1997), fez uma analogia entre omito de Ado e Eva e a ligao entre uma me e seu filho e contou que Lacan evocou

    o mito da costela de Ado em seu seminrio de 1968 para ilustrar a questo do papel

    do objeto ano desejo de um homem por uma mulher. Ele se perguntou por que teria

    Ado desejado justamente esta Eva, constituda a partir de uma falta nele mesmo?

    Encontrou a resposta no fato de que para uma criana ser desejvel para sua me,

    convm que seja portadora, aos seus olhos, daquilo que a ela falta.

    Soma-se a isso o fato de que a criana um ser dependente e assim se encon-tra durante longos anos. Necessita de cuidados especiais, tanto em relao s suas

    necessidades materiais como depende de amor. Isto a faz submeter-se e adequar-se

    aos desejos e presses dos outros. Para manter-se na vida, a criana precisa que o

    Outro a impulsione a viver (Lajonquire, 1999).

    As mes no so culpadas, mas responsveis pelo destino subjetivo de seus filhos. Enten-

    de-se a a me em posio de Outro materno, atravessa pela articulao entre a sua fan-

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    tasmtica e sua posio de falada pelo discurso social, e que tem diante de si um beb que

    se apresenta com uma materialidade que no pode ser negada. (Kupfer, 1999, p.101)

    Barros (2002) ressalta que a famlia, como primeira ordem social em que oindivduo inserido, estruturalmente regida por uma srie de mitos que servem, no

    processo de constituio subjetiva, como ponto de ancoragem simblica e imaginria

    que situam o beb em um lugar pr-determinado no grupo familiar.

    Ao fazer referncia a esse lugar previamente estipulado encontra-se conso-

    nncia nas idias de Cramer (1997) que discorre sobre um tipo de memria que per-

    corre geraes, j que justamente porque a memria das geraes anteriores se ins-

    creve to cedo no desenvolvimento da nova gerao, que sua marca se torna indel-vel. Referiu-se tambm s marcas que se estabelecem desde as primeiras trocas cor-

    porais as quais denotam tal intimidade que o beb parece ligado diretamente aos pen-

    samentos e sentimentos de seus pais, como se durante esses perodos precoces, hou-

    vesse continuidade entre o inconsciente dos pais e o do beb.

    Freud (1937/1996a) em Anlise terminvel e interminvel j havia aponta-

    do essa marca indelvel:

    De todas as errneas e supersticiosas crenas da humanidade que foram supostamente su-

    peradas, no existe uma s cujos resduos no perdurem at hoje entre ns, nos estratos

    inferiores dos povos civilizados ou mesmo nos mais elevados estratos da sociedade cultu-

    ral. O que um dia veio vida, aferra-se tenazmente existncia. Fica-se s vezes inclina-

    do a duvidar se os drages dos dias primevos esto realmente extintos (Freud,

    1937/1996a, p. 261).

    Mannoni (1999) e Andrade (1994) assinalam a importncia, para o psicanalis-ta, da escuta da fala materna no tratamento da criana, j que essa j sabe, mesmo

    que inconscientemente, desde antes do nascimento do filho a satisfao ou a no sa-

    tisfao, dentre outros aspectos, que aquela criana trar. A fala da me, segundo ela,

    contribui para a escuta do lugar ocupado pela criana no inconsciente materno.

    Infante (1997) e Mannoni (1999) discorreram sobre a importncia da escuta

    do discurso familiar, uma vez que a partir dos significantes disponveis nesse dis-

    curso que podemos discernir o lugar que a criana ocupa no imaginrio dos pais.

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    Rosenberg (1994) tambm compartilha semelhante opinio dizendo que des-

    de que o beb concebido, o inconsciente materno empresta ao filho pedaos de fan-

    tasias, empresta-lhes palavras e permite estruturar representaes para formar seu

    prprio imaginrio, havendo posteriormente um entrecruzamento das duas subjetivi-

    dades num dado momento. Os determinantes da qualidade desse tipo de ligao co-

    meam a ser agrupados desde quando a menina, ao brincar de boneca, cuida de seu

    beb. Levando isso em conta, so inmeros os fatores que permeiam a espera de

    um filho. A criana que chega, j est, das mais variadas formas, idealizada. Ela j

    faz parte do desejo da me. Quase sempre tem um lugar determinado, seja o de satis-

    fazer as aspiraes narcsicas dos pais, unir o casal, preencher o vazio deixado pela

    morte de um ente querido, ser o herdeiro da fortuna da famlia, ser o que vai vencerna vida diferente do que aconteceu com os pais, entre outros.

    Assim, a futura mame est longe de funcionar como uma tbula rasa, j que

    est habitada pela lei, pelo desejo, pela lei da linguagem (Lajonquire, 1999). Essa

    mulher que espera um filho pode esper-lo ansiosa, desejante, enlouquecida, depri-

    mida, para depois vend-lo, abandon-lo, cuidar como ensina os manuais, cuidar da

    maneira como no foi cuidada, manuse-lo com toda sua devoo primria materna,

    dentre inmeras outras maneiras e um sem nmero de razes mais ou menos consci-entes.

    De maneira geral, o filho que espera produto de um campo de desejos con-

    traditrios e de fantasias ambivalentes inconscientes. Laplanche (1992) aponta que a

    me intervm junto de seu filho com todos os seus desejos recalcados. Esse um

    campo delimitado pelo entrelaamento de sua histria singular, como sujeito desejan-

    te, como desejo de seus pais, avs, enfim do Outro. As expectativas ainda podem

    estar cifradas pela forma na qual o filho vem a se inserir no imaginrio do casal. Des-ta maneira, a criana antes mesmo de nascer, j objeto depositrio de inmeras ex-

    pectativas e projees, que vo sendo lanadas anacronicamente sua real existncia.

    Na medida em que aquilo que deseja no decurso da gravidez , antes de mais nada, a re-

    compensa ou a repetio de sua prpria infncia, o nascimento de um filho vai ocupar um

    lugar entre os seus sonhos perdidos: um sonho encarregado de preencher o que ficou va-

    zio no seu prprio passado, uma imagem imaginria que se sobrepe pessoa real do fi-

    lho. Esse filho de sonho tem por misso restabelecer, reparar o que na histria da me foi

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    julgado deficiente, sentido como falta, ou de prolongar aquilo a que ela teve que renunciar

    (Mannoni, 1995, p. 4).

    Perante a investigao das particularidades desses momentos iniciais da rela-o materno filial, so relevantes as contribuies de Jerusalinsky(1997) que assina-

    lou que, cada ato da me que rodeia a criana, atualiza passado e futuro, inscrevendo

    no presente a filiao e o ideal, aos quais espera que a criana responda.

    preciso deixar claro desde j que a passagem pela identificao com essas

    expectativas que refletem o desejo da me no algo prejudicial, mas fundante para

    que o sujeito se constitua de forma saudvel.

    Diante disso Aulagnier (1979) diz que todo indivduo toma seu lugar no mitofamiliar a partir do discurso dos seus pais, o qual ir constitu-lo como sujeito.

    Provavelmente, a verdadeira fora que impulsiona o desenvolvimento numa

    trajetria natural esteja nestas primeiras experincias subjetivas j que se conhece na

    prtica clnica a violncia perceptvel do medo, ressentimento, efeitos da privao e

    no contingncia de nunca ter se sentido querido, esperado, desejo de um Outro.

    Lacan (1969/1998) em Duas notas sobre a criana teorizou que a funo de

    resduo que sustenta (e ao mesmo tempo mantm) a famlia conjugal, na evoluodas sociedades, valoriza o irredutvel de uma transmisso, ou seja, a relao da cons-

    tituio do sujeito com um desejo que no seja annimo.

    Quanto investigao da relao me e filho que se estabelece a partir dessa

    dinmica inconsciente, Aulagnier (1989) trouxe grandes contribuies em seus traba-

    lhos, quando discorreu sobre a decodificao de experincias marcantes que permite

    ao sujeito saber de que desejo seu nascimento foi culminao. Aponta que a partir

    da se obtm um contato com a qualidade dos projetos que os desejantes (em espe-

    cial a me) esperavam realizar por meio de sua vinda ao mundo.

    Nesse sentido, Coriat (1997) reforou essa idia, quando comentou que a i-

    magem que propicia que um sujeito advenha aquela que se constitui incluindo os

    significantes do desejo dos pais.

    Alm disso, a criana tem um certo papel no jogo dos desejos infantis e das

    pulses da me. A criana que vai nascer est, em particular, integrada na dinmica

    do conflito edipiano da me (e do pai), que, em cada gestao, tem de maneira com-

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    plexa seus desejos edipianos exaltados e, igualmente reavivadas, as angstias que lhe

    so correlativas (Mazet & Stoleru, 1990).

    A me atua na constituio subjetiva do filho criando a criana imaginria, a

    partir da recuperao de seu narcisismo perdido na infncia, e a criana simblica, a

    que vai substituir uma equao simblica, ter um valor flico de equivalncia (Vor-

    caro, 1999). Lacan (1969/1998) considera que a criana envolvida em uma fantasia

    que diz respeito subjetividade da me j que substitui nessa fantasia o seu objeto de

    desejo. Com isso, ela acaba por saturar o modo de falta em que se especifica o pr-

    prio desejo.

    Bowlby (2001) teorizou que se a mulher teve bons vnculos iniciais, mais

    chances ter de estabelecer bons vnculos. Fonagy (2000), Golse (2001) e Rappaport(1981) tambm tm estudos entre o tipo de vnculo que a me teve com sua prpria

    me e o tipo de vnculo dela com o seu beb.

    O psiclogo deve aprofundar a pesquisa nesta rea, de forma a ampliar o en-

    tendimento e facilitar sua prtica, no sentido de desenvolver estratgias de manejo

    cada vez mais eficazes, diante da psicodinmica da gravidez, evitando assim que

    sintomas psicofuncionais ou mesmo patologias mais graves se instalem na me e no

    beb. Alm disso, pode-se estar diante de situaes de risco para a interao, e con-seqentemente para o vnculo, no caso da criana no se mostrar com condies de

    desempenhar bem o papel que lhe foi atribudo pela famlia (Batista Pinto, 1999).

    Ainda segundo essa autora, cabe a interveno psicolgica precoce detectar e tratar

    conflitos relativos maternagem, contribuindo assim para o estabelecimento de vn-

    culos saudveis, favorecendo o desenvolvimento da criana e prevenindo psicopato-

    logias.

    Por outro lado, Freud (1937/1996b) alertou para o cuidado de no haver qual-quer supervalorizao mstica da hereditariedade, no sentido de achar que antes

    mesmo do ego surgir, as tendncias e reaes que o indivduo apresentar j esto

    pr-estabelecidas para ele.

    No se trata, portanto, como ressaltou muito bem Cramer (1997), de abolir a

    memria, mas antes, de torn-la consciente, a fim de estabelecer em seguida novas

    relaes com o passado.

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    1.2 Reviso da literatura

    Diversos autores pesquisaram e escreveram sobre a gravidez com enfoques

    variados. Cabe destacar que, embora a gestao seja sempre tratada nesses trabalhos,

    o , de forma geral ou especificamente, como primigestao. Sendo assim, so escas-

    sas as pesquisas que abordam a segunda, terceira (e assim por diante) gestao, tendo

    sido encontradas apenas as j citadas pesquisas de Tsu (1980), Doty (1967) e Nobile

    (1987).

    Muitas pesquisas associaram o estudo de algum aspecto da gravidez ao uso de

    tcnicas projetivas e/ou testes psicomtricos. So exemplos nacionais, Grant (1984),

    Herzberg (1986,1993), Nobile (1987), Fernandes (1988), Settee (1991), Aguirre(1995), Villac e Herzberg (1996), Cury (1997), Falivene (1997), Dias e Lopes (no

    prelo) e Piccinini, Gianlupi, Levandowski, De Nardi e Oliveira, V. (no prelo).

    Davids e De Vault (1960), Doty (1967), Baz (1994), Nathan (1995), Kenner

    (1996) e Bucci (2000) realizaram pesquisas fora do Brasil relacionando os dois te-

    mas.

    Fazer-se- um rpido panorama das pesquisas mencionadas, a comear pelas

    nacionais.Em seu trabalho sobre regresso a partir da anlise de sonhos de gestantes,

    Tsu (1980) aps apresentar um estudo histrico-crtico do conceito de regresso,

    discute o relato dos sonhos das gestantes, material coletado em 7 grvidas, com ida-

    des entre 21 e 30 anos, todas multparas. Parte primeiramente de uma anlise de con-

    tedo baseada nas categorias tericas de Oralidade, Analidade e Genitalidade, para

    posteriormente interpretar os relatos em termos da situao objetal interna, segundo

    um referencial kleiniano. Os resultados demonstraram a ocorrncia de contedosonricos de carter regressivo durante a gravidez uma vez que no relato desses foi

    observada a presena das categorias avaliadas. Alm da constatao da existncia de

    amplas diferenas individuais na forma como cada gestante revive seu passado emo-

    cional, Tsu (1980) tambm observou que o carter da regresso depende da fase ges-

    tacional, o que indicou inclusive a existncia de relao entre os dois fenmenos.

    Como a pesquisa foi realizada somente com multparas, fica a lacuna da existncia

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    ou no de diferenas entre as caractersticas regressivas na primeira e nas demais

    gestaes.

    Grant (1984) comparou um grupo de grvidas perfazendo um total de 30 pri-

    mparas no terceiro trimestre da gravidez com 32 mulheres no grvidas, com o obje-

    tivo de estudar os ndices de ansiedade nos dois grupos. Para tanto, fez uso do Inven-

    trio de Ansiedade Trao-Estado (IDATE) de Spielberger e dos ndices de ansiedade

    de Handler (IA). O ndice Tamanho da figuraapresentou-se mais intensamente no

    grupo experimental, evidenciando mais ansiedade nas gestantes do que nas no ges-

    tantes, apesar de desenhos menores em tamanho. Comprovou-se assim uma de suas

    hipteses com relao ao tamanho mdio das figuras, no Desenho da Figura Huma-

    na, como indicativo de menor nvel de ansiedade. Esse dado foi avaliado a partir daEscala de Handler a qual define como expresso de ansiedade desenhos abaixo de

    13,9 cm e os acima de 21,1 cm. Dentre outros resultados esto tambm a constatao

    que, ao serem comparados com dados de outras pesquisas, os desenhos das mulheres

    grvidas, alm do tamanho menor, apresentaram mais figuras nuas enfatizando os

    genitais assim como distoro da figura. Posteriormente esses dados tambm foram

    encontrados em Herzberg (1986, 1993). Com base na Escala utilizada para a avalia-

    o dos resultados, o abaulamento do ventre no foi considerado como distorosendo associado pela autora com a qualidade da vivncia do processo de gravidez: se

    a grvida estava se sentindo bonita ou monstruosa.

    Herzberg (1986) em sua pesquisa de mestrado buscou caracterizar as gestan-

    tes atendidas no Setor de Obstetrcia do Hospital Universitrio e refletir sobre as re-

    laes entre aspectos da personalidade das gestantes e a assistncia que o hospital

    oferecia naquela ocasio. Para tanto, acompanhou 8 primparas desde o ltimo tri-

    mestre de gravidez at o ps-parto imediato. Fez uso das duas tcnicas projetivas quea presente pesquisa utilizou: o DFH e o TAT. Dentre os dados obtidos no Desenho

    da Figura Humana, destacam-se:

    a) quanto ordem do desenho das figuras apenas 2 gestantes desenharam o

    prprio sexo em primeiro lugar;

    b) com relao ao tamanho relativo das figuras, foi observado que, embora

    desenhadas com maior freqncia em segundo lugar, as figuras femininas apresenta-

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    ram tamanho igual ou maior que a figura masculina, o que indica uma valorizao da

    prpria imagem corporal;

    c) quanto postura, foi observado em 5 desenhos de um total de 12 que

    houve um pequeno desequilbrio vertical, geralmente para a direita, principalmente

    nas figuras femininas;

    d) com relao categoria tipo de imagem do corpo da figura do prprio se-

    xo, apenas duas gestantes fazem figuras realistas, ou seja, apresentaram visvel alar-

    gamento da regio da cintura (os outros trs desenhos foram figuras compensatrias).

    No TAT, destacam-se aqui as anlises das Pranchas 2, 7MF e 16, a partir das

    quais Herzberg (1986) identificou:

    a) das 8 gestantes apenas 3 caracterizaram a mulher mais velha da Prancha 2como grvida;

    b) na Prancha 7MF, 2 gestantes viram boneca ou nen, 3 viram animal e 1

    referiu-se somente s outras duas mulheres ignorando a boneca ou beb;