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REDVET Rev. Electrón. vet. http://www.veterinaria.org/revistas/redvet 2017 Volumen 18 Nº 12 - http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n121217.html Características comportamentais dos bovinos: Influências da domesticação e da interação homem-animal http://www.veterinaria.org/revistas/redvet/n121217/121705.pdf 1 REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504 Características comportamentais dos bovinos: Influências da domesticação e da interação homem-animal - Cattle behavioral characteristics: Influences of domestication and human- animal interaction Fernandes, Tiago Albandes: Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Brasil. E-mail: [email protected] | Costa, Pablo Tavares: Doutorando em Zootecnia, UFPel, Brasil. | Farias, Gustavo Duarte: Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. | Vaz, Ricardo Zambarda: Professor do Departamento de Zootecnia, UFPel, Brasil. | Silveira, Isabella Dias Barbosa: Professora do Departamento de Zootecnia, UFPel, Brasil. | Moreira, Sheilla Madruga: Doutoranda em Zootecnia, UFPel, Brasil. | Silveira, Roberta Farias: Mestranda em Zootecnia, UFPel, Brasil. Resumo A revisão de literatura objetivou reunir informações sobre a domesticação dos bovinos e a interação homem-animal, além dos seus reflexos sobre as características comportamentais. Buscou-se temas relevantes para a compreensão da domesticação: conceito, questões históricas e seus impactos sobre as características da espécie. Discutiu-se como os sistemas de produção atuais e a interação homem-animal podem impactar nas características comportamentais da espécie e promover a piora ou a melhora de seu bem- estar e produtividade. Observa-se que a domesticação e sua motivação ainda não estão totalmente esclarecidas. Os bovinos apresentam uma vasta gama de características comportamentais complexas e interativas. Cada indivíduo tem seus derivativos comportamentais, reagindo distintamente aos estímulos que recebe. Estas características, tanto da espécie, quanto individuais, têm origem genética, ambiental, em situações e experiências vivenciadas. O ser humano, através do cruzamento seletivo, afetou de forma significativa as características produtivas e comportamentais do animal. Nos sistemas de produção vários fatores afetam o comportamento dos bovinos, pois inúmeras restrições lhe são impostas, principalmente espaciais. Ações positivas ou negativas do manejador determinam a reação do animal. Palavras chave: bem-estar animal | comportamento de brincar | comportamento social | cruzamento seletivo | relação homem-animal.

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REDVET - Revista electrónica de Veterinaria - ISSN 1695-7504

Características comportamentais dos bovinos: Influências da domesticação e da interação homem-animal - Cattle behavioral characteristics: Influences of domestication and human-animal interaction

Fernandes, Tiago Albandes: Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Brasil. E-mail: [email protected] | Costa, Pablo Tavares: Doutorando em Zootecnia, UFPel, Brasil. | Farias, Gustavo Duarte: Doutorando em Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil. | Vaz, Ricardo Zambarda: Professor do Departamento de Zootecnia, UFPel, Brasil. | Silveira, Isabella Dias Barbosa: Professora do Departamento de Zootecnia, UFPel, Brasil. | Moreira, Sheilla Madruga: Doutoranda em Zootecnia, UFPel, Brasil. | Silveira, Roberta Farias: Mestranda em Zootecnia, UFPel, Brasil.

Resumo A revisão de literatura objetivou reunir informações sobre a domesticação dos bovinos e a interação homem-animal, além dos seus reflexos sobre as características comportamentais. Buscou-se temas relevantes para a compreensão da domesticação: conceito, questões históricas e seus impactos sobre as características da espécie. Discutiu-se como os sistemas de produção atuais e a interação homem-animal podem impactar nas características comportamentais da espécie e promover a piora ou a melhora de seu bem-estar e produtividade. Observa-se que a domesticação e sua motivação ainda não estão totalmente esclarecidas. Os bovinos apresentam uma vasta gama de características comportamentais complexas e interativas. Cada indivíduo tem seus derivativos comportamentais, reagindo distintamente aos estímulos que recebe. Estas características, tanto da espécie, quanto individuais, têm origem genética, ambiental, em situações e experiências vivenciadas. O ser humano, através do cruzamento seletivo, afetou de forma significativa as características produtivas e comportamentais do animal. Nos sistemas de produção vários fatores afetam o comportamento dos bovinos, pois inúmeras restrições lhe são impostas, principalmente espaciais. Ações positivas ou negativas do manejador determinam a reação do animal.

Palavras chave: bem-estar animal | comportamento de brincar | comportamento social | cruzamento seletivo | relação homem-animal.

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Abstract The review aimed to gather information about the cattle domestication and the human-animal interaction, as well as their reflexes on the cattle behavioral characteristics. We searched for relevant themes for the understanding of domestication: concept, historical questions and their impacts on the specie characteristics. It was discussed how current production systems and human-animal interaction can affect the specie behavioral characteristics and promote the worsening or improvement of their welfare and productivity. It was observed that domestication and its motivation are still not fully understood. Cattle have a wide range of complex and interactive behavioral characteristic. Each individual has their behavioral derivatives, reacting distinctly to the stimuli it receives. The origin of these specie and individual characteristics is genetic, environmental, in situations and experiences. The human, through the selective breeding, significantly affected the productive and behavioral characteristics of the animal. In production systems, several factors affect the behavior of cattle, since many restrictions are imposed on them, mainly spatial. Positive or negative actions of the handler determine the animal reaction. Keywords: animal welfare | human-animal relationship | play behavior | selective breeding | social behavior.

Introdução

O processo de domesticação imposto aos animais pelos seres humanos

teve sua origem embasada em mudanças de hábitos e comportamentos, bem como nas alterações determinadas pelo convívio entre ambos. Uma vez que este processo teve origem em mudanças comportamentais e habituais do ser humano, é de se esperar que se instituíram mudanças nas mesmas características dos animais expostos a ele. O homem passou a controlar inúmeras características do comportamento natural destes animais, impondo uma série de limitações (sociais, sexuais, territoriais, dentre outras), onde estes, em um determinado ponto, só habitavam e se deslocavam, bem como socializavam e reproduziam, em locais e com indivíduos permitidos pelo homem.

Uma vez impostas estas condições e restrições pelo ser humano,

espera-se que os animais domésticos, ao longo do tempo e das gerações, apresentem características genéticas, fenotípicas e comportamentais, razoavelmente distintas das de seus ancestrais e parentes silvestres. Não necessariamente, a alteração de muitas das características comportamentais foi realizada pelo ser humano de maneira intencional, uma vez que, na época, o conhecimento sobre o comportamento, bem como sobre sua importância eram significativamente escassos.

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Diferentemente, nos tempos atuais o comportamento animal tem sido mais amplamente estudado, e sua importância para os sistemas de produção altamente reconhecida. Cada vez mais, um significativo número de características comportamentais vem sendo utilizado em programas de melhoramento genético de raças bovinas de aptidão leiteira e carniceira, em um significativo número de países (Miglior, 2004). Entretanto, tais características parecem ser muito mais difíceis de se avaliar do que as características de produção (Adamczyk et al., 2013), muito provavelmente em função do lento progresso do conhecimento sobre as características comportamentais dos bovinos e seus determinantes genéticos e ambientais (Mormède, 2005).

O objetivo da presente revisão de literatura foi reunir informações

acerca do processo da domesticação dos bovinos e da consequente interação homem-animal, bem como os seus reflexos sobre suas características evolutivas comportamentais.

O processo de domesticação

Em um contexto geral, o processo de domesticação foi definido pela

visão do domesticador, o qual retirou a espécie a ser domesticada de uma população que vivia livremente e de maneira selvagem, assumindo o domínio sobre os aspectos de seu ciclo de vida (Ervynck et al., 2001).

A domesticação traz por conceito básico a condição em que a criação, o

cuidado e a alimentação dos animais são, em até determinado ponto, sujeitos ao controle do ser humano (Hale, 1962). Olhando-se de um ângulo diferente, a domesticação pode ser vista como o processo em que os animais se adaptam a viver na presença constante dos seres humanos, bem como ao ambiente proporcionado por eles (Price, 1998), através de mudanças genéticas que ocorrem ao longo das gerações e de eventos de desenvolvimento induzidos pelo ambiente, recorrentes durante cada geração (Price, 1984). A ideia comum destes dois conceitos corrobora com o proposto por (Stricklin, 2001), que define a característica comum dos animais domésticos, independentemente da espécie, como a ligação estreita e direta da vida destes animais às atividades do ser humano, diferentemente das espécies não domesticadas, que vivem livremente em seu ambiente natural em estado selvagem.

O processo de domesticação pode ser visto como a relação sustentada

de forma mutua e multigeracional, onde um indivíduo domesticador assume um determinado e significativo grau de influência sobre as características de reprodução e cuidado de outro indivíduo domesticado, de espécie diferente (Zeder, 2015). De acordo com o mesmo autor, o objetivo deste processo é a garantia de manutenção do suprimento de um dado recurso de interesse e, através do qual o indivíduo domesticado aproveita-se de determinadas vantagens ao ser comparado com os indivíduos que permanecem fora deste

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processo, muitas vezes aumentando a aptidão tanto do domesticador, quanto do domesticado. Questões históricas e evolutivas do processo de domesticação

A implantação do processo de domesticação marca uma transição evolutiva de extrema importância para a história da humanidade, apresentando impactos globais significativamente importantes, profundos e duradouros (Zeder, 2015).

Alguns estudos na área de antropologia e biologia evolucionária

(Clutton-Brock, 1999; Zeder & Hesse, 2000) indicam que o inicio da domesticação dos animais mais comumente conhecidos, ocorreu há aproximadamente 8 – 12 mil anos. A moldagem primaria das estruturas genicas dos animais domésticos atuais ocorreu bem antes do processo de domesticação, onde a maior parte da estruturação genética ocorreu, em função da seleção natural durante um longo período evolutivo, o qual precedeu as relativas poucas gerações que foram influenciadas pelo ser humano através de sua seleção artificial (Stricklin, 2001).

A motivação para o desencadeamento do processo de domesticação,

embora amplamente discutida, ainda não se encontra totalmente esclarecida, tampouco em consenso. Esta falta de consenso é proveniente da falta de crença dos pesquisadores no fato de que um único fator justifique o desencadeamento de todo o processo, onde em verdade, o processo seria explicado por uma série de fatores complexos e suas possíveis interações (Zeder & Smith, 2009). Alguns sugerem que, simplesmente, com o fim da era glacial e as consequentes drásticas mudanças ambientais, surgiram novas e vastas áreas passiveis de habitação pelos seres humanos e animais, resultando em uma expansão simultânea destes nos novos habitats, o que possivelmente está relacionado com a eventual domesticação de várias espécies (Coppinger & Smith,1983). Outros sugerem que, basicamente, a motivação é dividida em dois subgrupos, a motivação externa e a motivação interna. A motivação externa seria proveniente de fatores estressores externos, como climáticos e crescimento populacional, os quais forçaram o ser humano a domesticar espécies de plantas e animais e, consequentemente, adotar práticas agrícolas e pecuárias (Zeder, 2015). Já a motivação interna seria proveniente de questões mais amenas ou menos estressoras, onde o encorajamento do processo de domesticação surge do interesse de promoção social e/ou mudanças na forma de como o ser humano enxerga a sua relação com o mundo natural (Zeder, 2011).

Em um primeiro momento, provavelmente, o contato entre humanos e

animais tenha sido uma mera convivência em proximidade espacial (Coppinger & Smith, 1983), e a primeira relação social entre eles tenha ocorrido de forma simbiôntica e não de exploração ou controle (Budiansky, 1999). O processo de domesticação pode ser visto como uma relação mutualista e simbiôntica, a qual beneficia tanto o indivíduo que impõe a

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domesticação, quanto o indivíduo que se submete ao processo (O’Connor, 1997), onde os indivíduos domesticados, muitas vezes, beneficiam-se de maneira equivalente ou maior do que os seres humanos (Rindos, 1984).

Durante a grande maioria do tempo em que seres humanos controlam

os animais, em função da domesticação, a pressão de seleção exercida com maior frequência e intensidade, ao menos inicialmente, foi relacionada com o comportamento destes animais (Belyaev, 1979).

Nos estágios iniciais da domesticação os seres humanos rotineiramente

escolheram abater e consumir os animais de comportamento mais indócil e difíceis de manejar, antes que tivessem a oportunidade de se reproduzir (Stricklin, 2001).

Deve-se atentar ao fato de que uma tática de manejo que não altera

substancialmente a pressão de seleção sobre as características de um indivíduo domesticado, e que não persista ao longo de várias gerações da população de tais indivíduos, provavelmente não resultará em um real processo de domesticação (Zeder, 2015).

Muito provavelmente, o início da pressão de seleção artificial pelo ser

humano tenha a ver com o primeiro uso da técnica de castração, objetivando o controle de machos com comportamento mais agressivo (Briggs & Briggs, 1980). Provavelmente, este tipo de estratégia de seleção, influenciou o comportamento social dos animais, na medida em que indivíduos com tendência a permanecer juntos em rebanhos, foram, então, favorecidos, bem como indivíduos que aceitavam ou toleravam a proximidade dos seres humanos (Stricklin, 2001). Sustentar o processo de domesticação a longo prazo requer que ambos os indivíduos, domesticador e domesticado, passem por modificações, sejam genéticas ou facultativas, as quais aumentem os benefícios da relação existente entre eles (Zeder, 2015).

O grande problema dessa seleção, em que se envolveu a castração de

machos mais agressivos, está vinculada a redução da libido da população de machos (Stricklin, 2001), além de outras técnicas empregadas desde os estágios iniciais da domesticação, como o cruzamento de jovens e o desmame precoce, também terem afetado o comportamento materno bovino e, consequentemente, influenciaram o comportamento social.

No princípio da domesticação, os seres humanos tinham a crença de que

o comportamento e outras características dos animais eram controladas por forças sobrenaturais (Briggs & Briggs, 1980). Em consequência deste mito e superstição, bem como o desconhecimento dos mecanismos genéticos e de sua herança, pouca seleção efetiva e/ou intencional foi realizada sobre as características dos animais antes do século XX (Stricklin, 2001).

Os animais foram sempre explorados de maneira extensiva, sem que

houvessem cercas ou controle eficiente (Briggs & Briggs, 1980), uma vez que

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a ideia de uma exploração mais intensiva surgiu apenas após a segunda guerra mundial (Stricklin, 2001). A partir desta intensificação da criação, algumas técnicas de seleção artificial foram desenvolvidas, com base em maiores registros de informações e planejamento mais específico de acasalamentos (Stricklin & Swanson, 1993). O uso destas técnicas gerou respostas genéticas advindas do processo de domesticação, as quais são claramente os seus indicadores mais convincentes (Zeder, 2015).

O animal doméstico moderno tem um repertório comportamental bem

vasto, embora o processo de domesticação não tenha removido ou incluído nenhum comportamento diferente a estes animais (Stricklin, 2001). Entretanto, deve-se notar que o nível de estímulos necessários para se acionar ou modificar um determinado comportamento animal foi remodelado (Wood-Gush, 1983). Nos animais, os impactos fenotípicos geneticamente condicionados reconhecidos a mais tempo e em amplo contexto, provenientes do processo de domesticação, são sobre as características comportamentais controladas pelo sistema endócrino, as quais reduziram a reatividade dos animais frente à interação com o ser humano e facilitaram sua adaptação ao ambiente imposto pela atividade humana (Zeder, 2012a). Estes impactos, segundo o mesmo autor, têm sua origem na redução das áreas cerebrais que controlam a função endócrina.

O fenômeno da domesticação na literatura é muitas vezes tratado como

sendo de cunho cultural, onde o ser humano, de maneira gradativa, altera seus hábitos migratórios de coleta e caça para o convívio de forma sedentária, iniciando o cultivo da terra há cerca de 10 ou 15 mil anos. Os animais que se encontravam disponíveis e ao alcance do homem foram, então, domesticados e explorados para fornecer força de trabalho, comida e, em alguns casos, fibras para confecção de vestes, com consequentes, maior garantia de alimentos, crescimento populacional e desenvolvimento da sociedade em todos seus contextos. Todavia, técnicas modernas envolvendo o sequenciamento do DNA, permitiram a constatação de indícios da domesticação de algumas espécies muito antes deste período (Giuffra et al., 2000; Ajmone-Marsan & Garcia, 2008).

A domesticação como processo evolutivo de algumas espécies animais

parece ter começado por, talvez, cinco ou dez vezes mais tempo do que o proposto anteriormente pela arqueologia (Clutton-Brock, 1999). Talvez a domesticação possa de fato ter dado um salto significativo, após os seres humanos terem se tornado sedentários e começarem a trabalhar com a agricultura, e os indícios arqueológicos sejam resultado do início de uma seleção e controle reprodutivo mais ativo por parte do ser humano (Jensen, 2002).

Com relação à dispersão e expansão do processo de domesticação, é

sugerido que a migração do ser humano e a colonização de novas áreas, ao invés da transmissão de cultura e sua aplicação, são as verdadeiras responsáveis, onde o ser humano adepto deste processo parte para novas

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regiões levando consigo os conhecimentos, ferramentas, amostras vegetais e animais que possui, resultando na disseminação de apenas uma parte do pool genético existente e, consequentemente, reduzindo a diversidade genética difundida para fora do centro do processo de domesticação (Ammerman & Cavalli-Sforza, 1984). Corroborando com isto, alguns pesquisadores (Medjugorac et al., 1994; Troy et al., 2001; Bradley & Magee, 2006) afirmam que as populações das distintas regiões europeias exibiram diferentes polimorfismos de DNA genômico e mitocondrial.

Entretanto, alguns resultados de pesquisas envolvendo genômica

nuclear sugerem que o que parecia ser múltiplos eventos independentes do processo de domesticação em várias espécies de interesse zootécnico é mais provavelmente atribuível a introgressão entre indivíduos domesticados e as populações já existentes em um determinado ambiente (Larson & Fuller, 2014).

Compreender o processo de domesticação na integra é compreender,

também, como as espécies responderam e respondem aos distintos níveis de manipulação pelo ser humano, que por sua vez, é diretamente e altamente relevante para os esforços envolvidos na melhora de espécies e práticas agrícolas e pecuárias existentes (Zeder, 2015).

A flexibilidade dietética do ruminante e sua importância dentro da domesticação

Um dos componentes básicos para a escolha das espécies a serem domesticadas foi a ausência de competição alimentar direta com os seres humanos (Famula, 2014). De fato, um dos atributos mais benéficos dos ruminantes, é a complementação da dieta humana e não a competição por alimentos (Pond et al., 2005). Em termos mais simplificados, os seres humanos consumiam os grãos e frutos de seus cultivos, já os animais consumiam o resíduo composto por folhas e hastes, fornecendo em troca carne, leite, lã e estrume para adubação no processo (Harris, 2012), resultando na implementação de um sistema altamente viável e sustentável de produção de alimentos, o qual persiste até hoje (Famula, 2014).

Os ancestrais dos bovinos

Os ancestrais selvagens dos bovinos eram os auroques (Bos primigenius), sendo que estes foram provavelmente domesticados há cerca de 9 mil anos na Ásia Ocidental, África, China e Índia (Clutton-Brock, 1999). Estudos arqueológicos e genéticos identificam dois pontos geográficos do início do processo de domesticação, ambos no continente Asiático, onde através de seu ancestral auroque, o Bos taurus e o Bos indicus ingressaram no processo de domesticação (Zeuner, 1963; Bouissou et al., 2001).

Na Índia, uma subespécie local do auroque foi domesticada, a qual deu

origem a um descendente portador de características, tais como,

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protuberância no dorso, orelhas flexíveis e papada pronunciada, características do cromossomo Y, juntamente com vértebras de forma distinta, sendo estes chamados de Zebuínos (Bos indicus), hoje muito comuns em ambientes tropicais e subtropicais em todo o mundo (Hall, 2009). Segundo o mesmo autor, os demais bovinos, originários de outras regiões, apresentam características bem distintas dos Zebuínos, sendo estes denominados de Taurinos (Bos taurus).

O polimorfismo da região de controle do DNA mitocondrial reflete esta

dicotomia, sugerindo um tempo divergente entre o processo de domesticação destas subespécies, fornecendo evidência de dois processos de domesticação independentes (Loftus et al., 1994). O recente sequenciamento completo do DNA mitocondrial de um significativo número de indivíduos corrobora com esta afirmação (Achilli et al., 2008; Hiendleder et al, 2008). Frente a tais questões, é sugerido que o processo de domesticação do Bos taurus e do Bos indicus ocorreram a partir duas distintas subespécies selvagens do Bos primigenius, sendo estas o Bos primigenius taurus na região que abrange as áreas da Mesopotâmia e dos territórios ou partes dos territórios de Palestina, Israel, Jordânia, Líbano, Síria e Chipre, e o Bos primigenius indicus no subcontinente indiano (Bradley & Magee, 2006; Bradley et al., 1996; Hiendleder et al., 2008).

Impactos da domesticação sobre determinadas características dos bovinos

As respostas genéticas observadas nos animais e provenientes do

processo de domesticação são resultados de diferentes pressões de seleção (Zeder, 2015). Dado o fato, muitas características foram afetadas em ordem e magnitude muito distintas de outras, mesmo que tenham sido selecionadas a um intervalo de tempo razoavelmente semelhante.

Faz-se importante destacar que o processo de domesticação dos

animais os levou à alteração do seu comportamento social como uma adaptação evolutiva, que desempenhou um importante papel no processo de domesticação, sendo até hoje um traço de grande importância nos sistemas de produção animal (Stricklin, 2001). O processo de domesticação resultou em uma série de transformações nas características dos animais, as quais determinam a capacidade de adaptação destes animais aos novos sistemas e ambientes, incluindo mudanças fisiológicas, morfológicas e comportamentais (Mignon-Grasteau et al., 2005).

Uma das observações mais claras do efeito da domesticação sobre as

características dos animais é, com certeza, nas gerações iniciais do processo de domesticação, a redução do tamanho corporal, conduzida pelo ser humano durante a seleção para animais menores, mais jovens e mais fáceis de manejar (Famula, 2014). Em espécies domésticas de pequeno porte o tamanho corporal tem sido alvo de aumento, visando a elevação da produção de carne, mas em espécies de grande porte, buscou-se a redução do tamanho

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corporal, principalmente, com objetivo de se facilitar o manejo (Mignon-Grasteau et al., 2005). Outro exemplo simples, de como o processo de domesticação influenciou na aparência e funcionalidade dos animais, é a redução do tamanho dos chifres ou até sua eliminação (Zeder, 2012b), uma vez que os chifres antes utilizados para a defesa, hoje representam ameaças e problemas para os seres humanos que os manipulam, bem como para outros animais (Famula, 2014). Pode-se, também, facilmente observar que, em termos reprodutivos, os animais domésticos apresentam uma precocidade significativamente maior do que seus parentes silvestres, em função, principalmente, da seleção ativa realizada pelo ser humano (Mignon-Grasteau et al., 2005) e, possivelmente, por este fornecer um ambiente e condições nutricionais altamente favoráveis aos animais.

Um dos primeiros passos do processo de domesticação foi assegurar

que os animais apresentassem menor medo e reatividade frente ao contato com o ser humano e, portanto, as espécies domésticas são mais adaptadas a presença do homem (Lankin, 1997). A herdabilidade da característica de docilidade é estimada como moderada (h2 de 0,22 a 0,32) em algumas raças bovinas (Morris et al., 1994; Le Neindre et al., 1998).

Embora estas questões, o processo de domesticação deve ser visto

como uma via de mão dupla, onde os seres humanos visaram tirar proveito dos recursos ofertados por seus cativos domesticados, e os animais submetidos à domesticação encontraram um caminho para aumentar seu acesso a recursos necessários, como comida e água, ou seja, uma maior facilidade de sobrevivência (Budiansky, 1999).

O ser humano causou um grande impacto, através da domesticação,

sobre a anatomia e fisiologia destes animais, onde uma vaca especializada pode produzir 11.300 kg de leite em uma lactação de 10 meses, o que jamais ocorreria ou seria necessário em uma situação natural (Famula, 2014). Essa alteração fisiológica é muito grande e assombrosa, e, em muitos casos, elas não diminuíram o ritmo (Taylor & Field, 2011).

O ser humano, conforme as suas próprias necessidades, explorou cada

característica dos animais domesticados, quer seja taxa de crescimento, fertilidade, lactação ou componentes do comportamento, promovendo alterações significativas em algumas já estabelecidas pela seleção natural (Famula, 2014). Os seres humanos reformularam e revisaram estas espécies, muitas vezes com consequências negativas bem discerníveis (Mcgreevy & Nicholas, 1999). No caso de vacas leiteiras, existem muitos casos de problemas físicos em seus membros, derivados da seleção intensa para características produtivas, resultando em vários distúrbios de locomoção (Løvendahl & Munksgaard, 2005). Os bovinos, em contexto geral, têm demostrado um incremento no apetite e na atividade de alimentação, em função da necessidade de suprir suas exigências produtivas, derivadas do alto potencial genético para produção (Dado & Allen, 1994).

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Uma vez que o processo de domesticação envolve uma modificação genética em uma determinada população de animais, através da intervenção do homem na seleção para a reprodução, é de se esperar que os animais domésticos apresentem diferenças de seus antepassados em um significativo número de características. Diferenças morfológicas típicas na coloração, forma e tamanho do corpo e seus membros, bem como função e aptidão dos animais, quando comparados aos antepassados, levam a esperar-se, também, diferenças comportamentais (Jensen, 2002).

Por mais sutis que sejam estas diferenças entre os animais

domesticados e selvagens, elas estão tipicamente ligadas a limiares de estímulo modificados, fazendo com que alguns padrões comportamentais se tornem mais comuns, bem como outros mais raros (Price, 1998). Em exemplo, como o processo de criação dos animais domésticos envolve, até certo ponto, a proteção destes animais contra predadores por parte dos seres humanos, a incidência de comportamentos de vigilância e proteção em algumas espécies tem sido reduzida, em função da sua menor necessidade e, também, por não haver um planejamento de seleção para essas características, resultando em animais despreparados para enfrentar tais circunstâncias comuns numa vida selvagem, ou até mesmo em determinadas situações nos sistemas de criação mais extensivos (Mignon-Grasteau et al., 2005).

A grande maioria das espécies domésticas apresentam características de

comportamento social, vivendo em grupos organizados e hierarquizados, fatos que favoreceram o processo de domesticação, embora o próprio processo tenha interferido nestas relações sociais, tendo em vista o controle por parte do ser humano sobre características produtivas e reprodutivas destas espécies (Mignon-Grasteau et al., 2005). Entretanto, Clutton-Brock et al. (1976) afirmam que a organização e o comportamento hierárquico de bovinos livres e domesticados são muito semelhantes. Nenhum comportamento novo parece ter sido adicionado ao repertório comportamental dos animais através da domesticação e, de mesma maneira, poucos ou nenhum dos padrões ancestrais desapareceram completamente, onde o ser humano apenas criou diferenças no limiar de respostas a estímulos, através de sua seleção ativa (Jensen, 2002).

Obviamente, cabe ressalvar que nos indivíduos submetidos ao processo

de domesticação existe uma vasta gama de características que podem não ser resultantes diretas de nenhuma estratégia de seleção associada ao processo de domesticação, mas sim meramente vinculadas a outras características diretamente selecionadas (Zeder, 2015). Embora tenham ocorrido inúmeros avanços na área da genômica, a identificação de genes responsáveis pelas mudanças comportamentais dos animais domésticos tem se mostrado significativamente mais difícil do que a dos demais (Carneiro et al., 2014).

A flexibilidade de comportamento do animal, lhe permite se adaptar, ao menos até certo ponto, satisfatoriamente ao ambiente imposto pelo ser humano, e possibilita aos produtores, desde que respeitadas as necessidades

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comportamentais dos animais, obterem maior eficiência quantitativa e/ou qualitativa do produto final (Gruber et al., 2010; Sheahan et al., 2011). As características comportamentais intrínsecas ao bovino desempenham um papel importante nas relações e interações existentes entre o homem, o animal e o ambiente, sendo estas particularmente perceptíveis na intensificação dos sistemas de produção de bovinos, seja corte ou leite, onde podem surgir sérios distúrbios comportamentais (Brouček et al., 2008). Muitos estudos revelam que o comportamento dos animais domésticos, em condições naturais, é muito semelhante com o de seus ancestrais e parentes silvestres. Entretanto, o fato destes animais muitas vezes desenvolverem comportamentos anormais ou distúrbios comportamentais e patologias, indica uma forte capacidade de resposta ao ambiente a que são expostos ou mantidos (Jensen, 2002).

O comportamento geral dos bovinos, mas principalmente, o seu

comportamento social apresenta influências genéticas, onde existem distinções entre algumas raças, e, aparentemente, muitas são dependentes da sua aptidão. Existe grande tendência de animais de aptidão carniceira apresentarem maior dificuldade e reatividade às situações de isolamento, do que raças leiteiras, onde as raças carniceiras apresentam maior grau de vocalização (Boissy & Le Neindre, 1990). Outra questão é relacionada à zona de espaço individual do animal (zona de conforto ou zona de fuga, a qual em ambientes de exploração intensiva, por necessidade, é significativamente reduzida, bem como bovinos de aptidão carniceira possuem maior espaço individual, do que os de aptidão leiteira, sugerindo que a menor distância das raças leiteiras é derivada da seleção ao longo da evolução do processo de domesticação) (Phillips, 2002).

Em bovinos criados em sistemas extensivos, o comportamento materno

se faz muito importante para a sobrevivência dos recém-nascidos e animais jovens, de maneira equivalente como seria nas condições silvestres. Entretanto, ao longo do processo de domesticação este comportamento pode ter sido negativamente influenciado em muitas espécies, através da intervenção do homem, que muitas vezes separa precocemente mãe e filho. Em bovinos de aptidão leiteira, provavelmente este comportamento tenha sido influenciado mais fortemente do que nos de aptidão carniceira, uma vez que a separação materno-filial, muitas vezes, ocorre já nas primeiras 24h após o nascimento. Fêmeas bovinas de aptidão carniceira permitem ao bezerro um maior tempo ininterrupto durante o ato da mamada, do que as de aptidão leiteira (27 e 23,3 segundos, respectivamente), dedicam mais tempo a lamber suas crias (7,2 e 2,3 minutos, respectivamente), bem como apresentam maior rejeição a amamentação de bezerros que não são seus (90 e 50%, respectivamente), garantindo maior disponibilidade de leite para o seu bezerro (Le Neindre et al., 1998). Entretanto, alguns estudos sugerem uma baixa herdabilidade (h2 de 0.11 a 0.13) para esta característica em algumas raças bovinas (Michenet et al., 2016).

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As características comportamentais dos animais devem ser vistas como de extrema importância para a obtenção e manutenção do seu bem-estar, sendo tais características as verdadeiras determinantes dos limites éticos do manejo e exploração destes animais pelo ser humano (D’Eath et al., 2010; Nicol, 2011).

Faz-se relevante lembrar que as características comportamentais destes

animais domésticos são controladas por mecanismos genéticos, os quais foram desenvolvidos durante milhares de anos e gerações de evolução natural, e foram, apenas, ligeiramente, em um período de tempo quase irrisório, alteradas pelo homem durante o processo de domesticação. Entretanto, faz-se igualmente interessante ressaltar que o processo de domesticação, provavelmente, ainda está ocorrendo e as populações domésticas encontram-se em constante evolução produtiva e adaptativa aos sistemas de produção impostos pelo ser humano, bem como a interação com este último (Mignon-Grasteau et al., 2005).

A reprodução seletiva e seus impactos no comportamento dos bovinos

O comportamento e o bem-estar animal sofreram e ainda sofrem grande influência do processo de domesticação e da reprodução seletiva, através de diferentes mecanismos, dependendo do número de características objetivadas (Canario et al., 2013). A elevação da taxa em que o genótipo bovino vem sendo alterado sugere que é possível, por meio do cruzamento seletivo, obter-se animais mais adaptados ao manejo dos sistemas de produção, principalmente, intensivos (Phillips, 2002).

No processo de domesticação, tanto as espécies, como os animais

dentro da espécie foram selecionados de acordo com a sua baixa sensibilidade ao estresse do confinamento (limitação espacial) e por suas habilidades sociais que favorecem a reprodução, mesmo em densidades populacionais significativamente mais altas que a natural (Mignon-Grasteau et al., 2005).

A seleção genética intensiva para objetivos produtivos provoca

alterações significativas em um limitado número de características produtivas, mas pode acarretar, como efeitos colaterais, em algumas alterações morfológicas prejudiciais e aparecimento de distúrbios fisiológicos e comportamentais (Rauw, 2007). Esta seleção intensiva para algumas características produtivas tende a elevar a sensibilidade dos animais aos agentes estressores do ambiente físico a que são expostos, resultando, também, em alterações na atividade geral e em seu comportamento social (Canario et al., 2013).

Apesar de alguns contestantes, a herdabilidade de muitas características

comportamentais é tida como alta, principalmente, para as características que não houve seleção anteriormente ou durante o processo de domesticação (Phillips, 2002).

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Com relação a comportamentos agressivos para com membros do grupo e seres humanos, não existem fortes indícios que a seleção genética para características de desempenho produtivo em bovinos tenha apresentado efeito negativo (Canario et al., 2013). Entretanto, existem influências genéticas atuantes sobre o medo dos bovinos em relação ao ser humano, onde este medo é geneticamente correlacionado de maneira desfavorável com as características de desempenho (Morris et al., 1994). Existe uma grande variabilidade entre as raças bovinas com relação ao medo do manejo por seres humanos, onde, normalmente, as raças selecionadas para a produção de carne tendem a ter maior nível de medo, do que as raças leiteiras, principalmente, em ambientes mais próximos ao natural, embora essa diferença possa desparecer em sistemas onde a proximidade com o ser humano seja maior (Fisher et al., 2001). Embora exista maior probabilidade de o medo do ser humano por parte dos bovinos se desenvolver após uma situação traumática envolvendo algum tipo de tratamento aversivo (Phillips, 2002), existem evidências de que pode ser uma característica inata, uma vez que bovinos criados em situação natural, mesmo que tenham contato mínimo com o ser humano o temem, pois, normalmente, correlacionam este contato ou aproximação como um encontro com um predador (Boissy & Erhard, 2014).

Apesar de um significativo número de gerações sob influência da criação

seletiva, as situações potencialmente mais estressantes e assustadoras que um animal enfrentará serão a exposição aos seres humanos que o manejam e as mudanças súbitas e drásticas em seus ambientes físico e/ou social (Boissy, 1995; Hemsworth & Coleman, 2011).

A exploração comercial, a interação homem-animal e o comportamento dos bovinos Condições de exploração comercial e os reflexos no comportamento social de bovinos

É importante lembrar que os bovinos, mesmo dentro de um sistema de produção altamente intensivo, são indivíduos que possuem vontade própria, bem como necessidades e desejos, os quais lhe caracterizam como um ser vivo em constante interação com o ambiente a que estão expostos, incluindo a presença do ser humano (Paranhos da Costa et al, 2002).

Dentre todas as necessidades que um bovino possui, dentro de qualquer

sistema produtivo, as necessidades comportamentais são as menos consideradas, bem como compreendidas, o que resulta em frustração, medo ou desconforto do animal, com consequências negativas quantitativas e qualitativas, para o sistema produtivo (Curtis, 1987). O mesmo autor classifica o desrespeito a tais necessidades como: 1) abuso – sendo crueldade ativa, como agressão física; 2) negligência – crueldade passiva, como quando ao animal são negadas suas necessidades fisiológicas básicas, envolvendo alimentação, água, sanidade e abrigo, principalmente em situação de

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confinamento; 3) privação – crueldade passiva, a qual engloba negar determinados elementos ambientais, os quais são considerados menos vitais do que as necessidades fisiológicas dos animais e/ou segurança.

Diferentes tipos de bovinos são utilizados em diferentes tipos de

sistemas de produção e manejo, não apenas em função de sua aptidão produtiva para carne ou leite, mas também em função de seu comportamento. Muitas raças bovinas com aptidão para carne são mais seletivas do que raças leiteiras e rejeitam ativamente bezerros que não são seus (Bouissou et al, 2001). Os bezerros também tendem a ter diferenças, onde os de raças de corte buscam uma maior proximidade da mãe do que os de raça leiteira, bem como apresentam maiores problemas com a sua adaptação à amamentação artificial (Le Neindre, 1989). Estas distintas raças, hoje estão adaptadas a distintos sistemas de produção.

De acordo com Bouissou et al. (2011), as interações sociais dos bovinos

podem ser divididas em agonistas (comportamento agressivo ou de reação, agressão e evitação/esquiva) e não-agonistas (comportamento de lamber-se uns aos outros e comportamento sexual).

Em condições naturais, a introdução de novos membros ao grupo já

formado, são bem raras, entretanto em condições de sistemas de produção, são bastante frequentes. Uma característica marcante é que os relacionamentos de dominância são estabelecidos de maneira extremamente rápida e, em muitos casos, sem luta e/ou contato físico. A experiência social dos indivíduos que compõem o grupo afeta profundamente a velocidade e os meios pelos quais a hierarquia social é estabelecida, onde animais mais socialmente experientes lutam menos, estabelecem as relações de dominância muito mais rapidamente e essas relações são mais estáveis (Bouissou et al., 1975). Dentro deste contexto, quando os animais jovens, durante a sua criação, são mantidos em grupo, eles apresentam maior e mais rápida capacidade de aprendizagem, devido à socialização e a atividade em grupo (Babu et al., 2004). Estes animais apresentam menor medo e são socialmente mais confiantes e abertos (Duve et al., 2012). A inclusão de um bezerro em grupo é facilitada se este já teve contato com outros bezerros, onde animais criados em isolamento apresentam maiores interações negativas com seus novos companheiros (Veissier et al., 1994).

As relações de dominância entre fêmeas adultas são extremamente

estáveis e podem persistir por anos, onde nem mesmo o estro e a prenhes modificam o posto social já estabelecido, contudo, estas relações de dominância são menos estáveis em grupos de animais jovens e de machos (Bouissou et al., 2001). O mesmo autor destaca que a presença de chifres confere uma vantagem significativa no momento do estabelecimento da ordem social, entretanto, a remoção dos chifres dos indivíduos de um grupo já bem estabelecido, causa pouco ou nenhum efeito nas relações já existentes.

A existência e compreensão de tais relações têm grande importância econômica, pois reduz as consequências desfavoráveis da existência de

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relações de dominância para os subordinados. São estas relações que determinam o estabelecimento da estrutura hierárquica de um grupo de indivíduos. A dominância é definida como a habilidade de um dado indivíduo dominante influenciar ou suprimir algumas determinadas características comportamentais de um outro indivíduo subordinado ou grupo de indivíduos subordinados, sendo esta dependente da idade, tamanho corporal, idade, sexo, temperamento e experiências já vivenciadas (Albright & Arave, 1997). Normalmente, os indivíduos dominantes possuem um melhor acesso à alimentos, água e locais mais favoráveis para repouso (Phillips & Rind, 2002), sugerindo que a posição hierárquica de dominância pode estar vinculada a uma situação de maior conforto e bem-estar. Quanto menor a classificação hierárquica do indivíduo, maior a sua necessidade de ajustar e adaptar sua estratégia de alimentação, em função da competição por alimentos com os seus dominantes, consumindo mais alimentos no período da noite (Olofsson, 1999) e, consequentemente, dedicando menos tempo para seu descanso (Wierenga & Hopster, 1990).

O ser humano, através de suas técnicas de manejo, apresenta grande

interferência sobre várias características comportamentais dos animais, principalmente, características de comportamento social (Phillips, 2002). Em exemplo, o manejo de castração dos machos, embora tenha impactos no crescimento, torna estes machos mais dóceis e fáceis de manejar. Entretanto, este manejo traz significativas melhoras para a qualidade da carne destes animais, bem como reduz o comportamento de motivação sexual, que por sua vez, caso elevado, poderia gerar uma série de transtornos e prejuízos nos sistemas de exploração intensivos com altas taxas de lotação (Hall, 2009).

A alta densidade de animais, a qual reduz o espaço mínimo por

indivíduo, juntamente com a formação de grandes grupos apresenta a vantagem da redução do trabalho humano e, consequentemente, nos custos de produção. Entretanto, esta questão de aglomeração dos animais impede que os mesmos mantenham uma distância individual adequada e força-os a um grande, constante e difícil deslocamento para evitar os indivíduos dominantes. Em bezerros, uma alta correlação negativa é encontrada entre o espaço individual e o comportamento agonístico, bem como em vacas, o aumento da agressividade é visto em função do manejo de altas densidades populacionais (Kondo et al., 1989). Em condições de grupos excessivamente grandes, é proposto que os bovinos tenham dificuldade em memorizar o status social de todos os membros, fato que resulta em grande incidência de interações agressivas (Stricklin et al., 1980).

A maioria destas condições está associada às respostas fisiológicas que

indicam o estresse crônico (Bouissou et al., 2001), que por sua vez causa problemas de desempenho, como reduzido ganho de peso diário em bovinos (Mogensen et al., 1997). O tamanho de cocho disponível para os animais nessa condição de superlotação é um problema ainda maior do que o simples fato do grupo ser extremamente grande, por si só (Albright & Arave, 1997).

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Detendo-se mais especificamente aos sistemas de exploração de bovinos leiteiros, nos tempos atuais é comum a separação da mãe e do recém-nascido, cerca de 24h após o parto, sendo o bezerro alimentado artificialmente e, muitas vezes, com substitutos do leite. Este período de apenas 24h de contato, não permite a formação completa da relação materno-filial (Le Neindre,1993). Por sua vez, tal fato pode ter grande interferência em sua capacidade de aprendizado e no desenvolvimento de algumas características comportamentais, uma vez que a presença da mãe é um importante estimulador do comportamento de brincadeiras do bezerro, inspirando-lhe maior segurança ao se envolver em algumas das atividades características deste comportamento (Phillips, 2002). Entretanto, uma vez que não há tempo suficiente para a formação deste vínculo, tal separação precoce pode ser menos estressante para ambos, do que se fosse feita mais tardiamente, após um maior contato e formação do vínculo (Phillips, 2002). Estes bezerros separados das mães, frequentemente, demonstram comportamentos anormais, como sucção não nutricional de objetos ou componentes de outros animais e, quando mais velhos, comportamento de montar excessivamente em outros, causando retardo no crescimento (Fraser & Broom, 1997).

Após esta separação materno-filial, em alguns casos os bezerros são

mantidos em grupos, onde o tamanho das baias, também apresenta grande influência sobre este comportamento de brincar, onde baias pequenas reduzem a quantidade e a qualidade das interações (Jensen et al., 1998). Em sistemas mais intensivos, comumente os bezerros são mantidos isolados dos demais, para evitar a disseminação de doenças, não permitindo que estes animais tenham contato direto uns com os outros e que enriqueçam sua maneira de agir por meio deste convívio, onde a criação em grupo favoreceria um desenvolvimento comportamental mais completo, com consequente melhor bem-estar. Dentro deste contexto, o comportamento de brincar e a associação com outros indivíduos, que só são possíveis em grupo e possuem clara importância para o desenvolvimento comportamental dos bovinos, ficam comprometidos (Hall, 2009). Este comportamento tem papel fundamental no aprendizado do funcionamento e posicionamento na hierarquia, o qual evita, muitas vezes, interações agressivas futuras, além de atuar na aprendizagem de padrões e respostas comportamentais úteis durante toda vida e, provavelmente, nas características psicológicas do indivíduo (Phillips, 2002). É importante ressaltar, que estas interações sociais, provenientes deste comportamento, podem apresentar a função de estimular a liberação de sinais neuroquímicos positivos, resultando em melhoras no sistema imunológico e redução de respostas ao estresse em algumas espécies (Bartolomucci, 2007).

Os bovinos são extremamente adaptáveis e geralmente respondem bem

às práticas da exploração animal moderna, entretanto, essa capacidade de adaptação pode ser prejudicada, onde a intensificação excessiva e o manejo incorreto podem causar distúrbios sociais, que resultam em problemas comportamentais, que por sua vez afetam de maneira negativa a produção e bem-estar dos animais (Bouissou et al., 2001). Os animais, principalmente

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domésticos, possuem um determinado grau de elasticidade comportamental, ou seja, podem modificar o seu comportamento para satisfazer algumas necessidades fisiológicas, até um determinado ponto (Phillips, 2002). De acordo com o mesmo autor, esta elasticidade comportamental é limitada na situação de comportamentos inatos nos recém-nascidos, como por exemplo a sucção na ação de mamar.

Considerando o fato do ser humano poder impactar significativamente

no comportamento dos animais e as questões envolvidas com o bem-estar destes, pode-se ver que muitas das práticas dos sistemas de produção atuais desafiam significativamente a prevalência do comportamento natural e, consequente, bem-estar. Os bovinos leiteiros estão constantemente sob estresse nutricional, bem como muitas vezes são submetidos a ambientes de criação bem pequenos e desconfortáveis, que podem favorecer determinadas lesões e impedem a expressão de seus comportamentos normais, além do fato da separação precoce entre mãe e filho. Situação semelhante ocorre com bovinos de corte mantidos em confinamento. Em contrapartida, animais criados em condições de pastejo, com um pouco mais de liberdade, independentemente de sua aptidão, leiteira ou carniceira, provavelmente apresentem um melhor bem-estar do que os demais (Hall, 2009).

A interação entre o ser humano e o bovino dentro do sistema de produção

O processo de domesticação com toda certeza intensificou o contato e a interação entre o ser humano e os bovinos (Boivin et al., 1994), sendo a compreensão das características deste relacionamento de extrema necessidade e valia para ambos os envolvidos (Hemsworth & Coleman, 2011). A qualidade desta relação existente entre homem e animal pode ser definida como o grau de proximidade ou distância entre eles, ou seja, a percepção mútua, que se desenvolve e se expressa no comportamento de ambos.

A grande maioria dos produtores, tratadores e, até mesmo,

pesquisadores da área de ciência animal enxergam os animais meramente como objetos ou mecanismos para se obter resultados produtivos, e, consequentemente, esquecem que as características de sua relação para com estes, têm alto impacto sobre a sua saúde, comportamento e bem-estar.

Nas situações do cotidiano de um sistema produtivo, seres humanos e

bovinos vivem um significativo número de interações ao longo do desenvolvimento de atividades rotineiras, tais como, manejos de ordenha, alimentação, sanidade, dentre outros (Hemsworth & Coleman, 2011), tendo estas interações grande influência sobre as respostas fisiológicas, comportamentais e produtivas destes animais, bem como em seu bem-estar (Krohn et al., 2001).

Seabrook & Bartle (1992) classificam as interações existentes entre

animais e seres humanos em três principais tipos: 1) interação táctil, a qual

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envolve mãos e braços; 2) interação vocal; e 3) interação empática holística, a qual envolve o olfato e outros sentidos. Dentro desta classificação, as interações podem ser de ordem agradável, como caricias, ou de ordem aversiva, as quais envolvem algum tipo de agressão, podendo ambas as ordens serem executadas em diferentes intensidades e graus de confiança pelo ser humano responsável pelo manejo.

Uma das principais razões para as diferenças de comportamento reativo

dos animais observadas entre propriedades está nas características quantitativas e qualitativas das interações diárias entre ser humano e animal (Hemsworth & Coleman, 2011), onde a tecnologia e automação do sistema, visando a redução do trabalho humano, podem prejudicar e tornar mais angustiante o contato do animal com o homem, em função das reduzidas oportunidades de contato (Rushen et al., 1999).

O ser humano que realiza o manejo dos bovinos apresenta um papel

altamente importante na formação do seu temperamento, principalmente na fase inicial da sua vida, uma vez que a sensibilidade às interações é reduzida com o avançar da idade do animal (Phillips, 2002). Dentro de um sistema produtivo, se os humanos utilizam ações negativas, existe uma forte tendência de se aumentar o nível de medo dos animais para com os humanos, incluindo-se a elevação do tom de voz, agressões físicas e, até mesmo, práticas rotineiras como vacinação, marcação e castração (Pajor et al., 2000). Entretanto, quando pelos humanos são utilizadas ações positivas, como afagos, caricias, conversas com tom de voz adequado, assovios e música, pode-se observar melhora nas características quantitativas e qualitativas de produção, melhora dos índices reprodutivos, bem como maior facilidade de manejo dos animais (Boivin et al., 1992; Lewis & Hurnik, 1998; Jago et al., 1999; Breuer et al., 2000). A manutenção de interações positivas entre ser humano e bovino resultará na formação de uma relação de respeito mútuo, uma vez que há uma simbiose entre as necessidades de ambas as espécies (Phillips, 2002).

A percepção dos animais sobre os seres humanos e as suas respostas a

determinadas interações são fortemente relacionadas e influenciadas por seus traços de personalidade básicos, por exemplo, medo e emotividade. Tratamentos de origem negativa elevam o medo do animal frente ao contato humano, que, por sua vez, leva o animal a uma situação de estresse crônico ou agudo, incidentes traumáticos, lesões, má qualidade de carne e, em casos estremos, até à morte (Hemsworth & Barnett, 2000; Lensink et al., 2001a; Breuer et al., 2003). Entretanto, tratamentos regulares de natureza positiva são capazes de contornar estes efeitos indesejáveis do medo e estresse (Lensink et al., 2001a; Lensink et al., 2001b).

Existem estudos que demonstram a capacidade de os bovinos

descriminarem os seres humanos que os manejam e tratam na rotina diária. Em exemplo, bezerras de raças leiteiras possuem a capacidade de distinguir os seres humanos que as manejam com características positivas, dos que as

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tratavam com características de manejo negativas (de Passillé et al., 1996). Fêmeas adultas, de maneira similar, aprendem de forma rápida a distinguir os seres humanos que as manejavam, mesmo em ambientes distintos do que ocorrera a antecedente interação positiva ou negativa (Munksgaard et al., 1997).

Os bovinos são capazes de identificar as características individuais de

cada ser humano e, então, valer-se delas como estímulos para a distinção dos que apresentam ações de caráter positivo, dos que possuem caráter negativo, com base em experiências e interações anteriores com estes mesmos indivíduos (Taylor & Davis, 1998). Estes animais são capazes de utilizar mais de uma característica para a identificação e distinção dos seres humanos, reconhecendo e discriminando os indivíduos mesmo que utilizem roupas de mesma cor e aparência (Rybarczyk et al., 2001).

De acordo com alguns autores (Boivin et al., 1994; Rushen et al., 1999;

Krohn et al., 2001), a concepção do relacionamento entre bovino e ser humano é dependente das características quantitativas e qualitativas das formas de interação entre estes, como formas visuais, olfativas, auditivas, tácteis e gustativas, e, também, do momento, situação e condições de como essas interações ocorrem. Pode-se dimensionar o grau de intimidade da relação entre ser humano e bovino, baseando-se nas reações comportamentais do animal, em função das ações do ser humano durante a interação (Hemsworth & Coleman, 2011).

Animais jovens que recebem tratamento com características positivas

apresentam comportamento mais tranquilo e são menos agressivos nos períodos subsequentes (Boivin et al., 1992). Bovinos jovens são altamente suscetíveis às ações positivas, as quais são facilitadas por sua grande curiosidade, oferecendo uma boa oportunidade para uma melhora da relação com o ser humano que os maneja e em sua qualidade de vida (Lürzel et al., 2016).

Bezerras de raça leiteira em fase de aleitamento, que são privadas de

tratamentos com características positivas, tendem a apresentar comportamento mais agressivo e, quando em grupos, hierarquia social mais pronunciada, bem como maiores sinais de estresse e desconforto, como maior frequência de micção e defecação, ao serem submetidas a ambientes não habituais, diferentemente das que recebem tratamento de características positivas, as quais mostram comportamento pronunciadamente mais dócil (Arave et al., 1985). Ações positivas, como caricias no pescoço e falar em tom de voz suave, por parte do ser humano que maneja os bezerros, resultam, a curto prazo, na redução da distância de fuga do animal e permite que ele apresente um maior ganho de peso diário (Lürzel et al., 2015). Contudo, os efeitos destas ações gentis durante a fase inicial da vida do bovino podem ser reduzidos ou até mesmo desaparecer se o indivíduo parar de receber de forma regular este tipo de ação ou se passar a receber um tratamento com ações negativas (Lürzel et al., 2016).

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As características do manejo aplicados aos bovinos adultos, também apresentam impacto em seu comportamento e quantidade e qualidade de sua produção. Por mais tranquilo e dócil que seja um determinado indivíduo bovino, frente às situações que lhe são aversivas ou lembram tais ações já vivenciadas, ele pode apresentar um comportamento alterado e agitado, dificultando e tornando perigoso o seu manejo (Lindahl et al., 2016). Sistemas produtivos de bovinos leiteiros, que utilizam práticas de manejo com características negativas, ou seja, manejo agressivo aos animais, apresentam estas características negativamente correlacionadas com a produção de leite dos animais, bem como, nas características qualitativas do leite produzido, como teores de proteína e gordura, provavelmente, influenciados pelos maiores níveis de cortisol sanguíneo, positivamente correlacionado com estas práticas de manejo negativas (Hemsworth et al., 2000). Vacas submetidas a manejo de características negativas durante o processo de ordenha, apresentam maior reatividade durante as práticas de condução à sala de ordenha, inquietação durante a ordenha, dificuldade de fixação e retirada do conjunto de teteiras, bem como maior reatividade na saída da sala (Breuer et al., 2000). Vacas ordenhadas por um ser humano que não lhe é familiar apresentam maior frequência cardíaca e menor produção de leite (Knierim & Waran, 1994), bem como se o ordenhador anteriormente apresentou uma ação negativa ao animal (Rushen et al., 1999).

Em bovinos leiteiros, procedimentos fora da rotina, como por exemplo o

manejo de apara de casco, resultam, muitas vezes, em novas experiências para os animais e podem resultar em alguns tratamentos dolorosos, onde ocorre um maior número de interações táteis, do que ocorreria num procedimento rotineiro como a ordenha (Lindahl et al., 2016). Segundo os mesmos autores, nestes procedimentos atípicos os bovinos mostram um comportamento mais aversivo e demonstrativo de medo, como maior resistência à locomoção, bem como maior frequência cardíaca, indicando um maior estresse do que na situação de procedimentos rotineiros.

É possível desenvolver uma relação positiva entre o ser humano e o

bovino dentro da rotina de um sistema de produção, sem a necessidade de significativos investimentos, apenas utilizando-se de conhecimento e pequenos ajustes de manejo, para suprir algumas necessidades dos animais (Paranhos da Costa & Cromberg, 1997; Hemsworth & Coleman, 2011). Por se tratar de uma espécie com características altamente sociais, em situações em que os laços do grupo são quebrados, os bovinos buscam alternativamente outros indivíduos para manter o equilíbrio hierárquico, situação na qual, o ser humano pode assumir o papel de dominante, desde que as interações sejam frequentes e de qualidade (Phillips, 2002).

Considerações finais

Pode-se observar vasta gama de características comportamentais nos

bovinos, bem como a complexidade destas características e suas interações. Ainda assim, cada indivíduo tem seus próprios derivativos das características

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comportamentais, reagindo de maneira única, dentro das suas limitações de comportamento, a cada estimulo recebido. Estas características de comportamento, tanto da espécie, quanto individuais, possuem origem genética, ambiental e em situações, bem como experiências vivenciadas pelos animais.

O ser humano, através das restrições impostas pelo processo de

domesticação, principalmente restrições ligadas ao cruzamento seletivo, obviamente contribuiu de forma significativa nas características dos animais expostos a este processo, sendo estas de cunho não só produtivo, mas também comportamental. Deve-se considerar, que nos primórdios do processo de domesticação, mais facilmente, eram domesticados os animais de cada espécie que melhor aceitavam e se adaptavam ao processo e ao contato com o ser humano, sendo estes, na maioria das vezes, os escolhidos para comporem os grupos e reproduzirem-se. Mesmo posteriormente à esta fase inicial do processo, embora sempre com enfoque produtivo, o ser humano tendeu a selecionar e cruzar os animais mais dóceis e de fácil manejo, de maneira a facilitar o trabalho e reduzir os perigos envolvidos nos tratamentos e interações, tanto para os humanos, quanto para os próprios animais, resultando, também, em menores perdas para o sistema.

O ser humano pode manipular as características comportamentais dos

animais através de vários mecanismos, desde genéticos até ambientais, podendo, inclusive, haver interações positivas ou negativas entre estes.

A compreensão por parte do ser humano referente a sua real influência,

bem como mecanismos de influência sobre as características comportamentais dos animais deve ser vista como o ponto chave mais importante para aliar-se a alta produtividade de um sistema, com a simultânea alta qualidade de vida e bem-estar destes animais.

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