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Jorge Enoch Furquim Werneck Lima Euzebio Medrado da Silva Embrapa Cerrados Planaltina, DF. Capítulo 2 Capítulo 2 Capítulo 2 Capítulo 2 Capítulo 2 Estimativa da produção hídrica superficial do Cerrado brasileiro Capítulo 2 Capítulo 2 Capítulo 2 Capítulo 2 Capítulo 2 Estimativa da produção hídrica superficial do Cerrado brasileiro Jorge Enoch Furquim Werneck Lima Euzebio Medrado da Silva Embrapa Cerrados Planaltina, DF. FOTO: ALDICIR SCARIOT FOTO: ALDICIR SCARIOT

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Jorge Enoch Furquim Werneck LimaEuzebio Medrado da Silva

Embrapa CerradosPlanaltina, DF.

Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2

Estimativa daprodução hídrica

superficial doCerrado brasileiro

Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2Capítulo 2

Estimativa daprodução hídrica

superficial doCerrado brasileiro

Jorge Enoch Furquim Werneck LimaEuzebio Medrado da Silva

Embrapa Cerrados Planaltina, DF.

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Reatto & Martins

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Solos e paisagem

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INTRODUÇÃO

O Cerrado constitui o segundo maiorbioma brasileiro, ocupando uma área deaproximadamente 204 milhões dehectares (Adámoli et al. 1986), o quecorresponde a cerca de 24% do territórionacional. Com o aumento da populaçãoe, conseqüentemente, da demanda poralimentos e outros bens de consumo, nosúltimos 40 anos, o Cerrado vem sendoocupado e explorado de forma rápida eintensiva, principalmente para odesenvolvimento do setor agrícola.

Devido às aptidões naturais e àstecnologias desenvolvidas e amplamentedifundidas para o aproveitamentoagropecuário da região, em pouco tempo

de exploração, o Cerrado já ocupaposição de destaque no cenário agrícolabrasileiro, sendo atualmente responsávelpor aproximadamente 25% da produçãode grãos e 40 % do rebanho nacional(Embrapa Cerrados, 2002).

Segundo Salati et al. (1999), apossibilidade de manutenção dasustentabilidade dos ecossistemasprodutivos dentro de uma escala detempo de décadas ou séculos,especialmente daqueles relacionadoscom a produção agrícola, dependerá deavanços tecnológicos, de mudanças deestruturas sociais e institucionais, bemcomo da implementação de mecanismos

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Lima & Silva

de proteção dos recursos naturaiscentrados na conservação do solo, dosrecursos hídricos e da biodiversidade.

Embora o Brasil possua cerca de13% da produção e 18% da dispo-nibilidade hídrica superficial de todo oplaneta, a distribuição da água nasdiversas regiões do país ocorre de formairregular no tempo e no espaço. A regiãoAmazônica, por exemplo, detém mais de70% da água doce superficial do país e,entretanto, é habitada por apenas 5%da população brasileira. Sendo assim,apenas 27% dos recursos hídricosnacionais estão disponíveis para 95% dapopulação (Lima, 2000).

A má distribuição espacial etemporal dos recursos hídricos, aliadaao aumento desordenado dos processosde urbanização, industrialização eexpansão agrícola, faz com queproblemas de escassez de água sejamcada vez mais comuns no Brasil.Exemplos de conflitos podem serobservados na bacia do rio SãoFrancisco, onde as projeções dademanda por água para a irrigação, paraa navegação, para o Projeto deTransposição, para o abastecimentohumano e de animais e para amanutenção dos aproveitamentoshidrelétricos, mostram-se preocupantesem relação à disponibilidade hídrica dabacia. No Sudeste, evidenciam-seconflitos nos rios Paraíba do Sul,Piracicaba e Capivari, citando apenasalguns casos. No Sul, a grande demandahídrica para a irrigação de arrozais e adegradação da qualidade da água,principalmente nas regiões de usoagropecuário intenso, são os casos quese destacam (Lima et al., 1999).

Em se tratando da região Cerrado,segundo Rebouças et al. (1999), oDistrito Federal já é a terceira piorunidade federativa brasileira em

disponibilidade hídrica superficial percapita por ano, superando apenas osEstados da Paraíba e de Pernambuco.Planejado, inicialmente, para chegar aoano 2000, com aproximadamente 500 milhabitantes, neste mesmo ano já haviaalcançado a marca de dois milhões(CODEPLAN & IBGE, 2000). Consi-derando o potencial hídrico superficialdo Distrito Federal como igual a 2,8 km3/ano (Rebouças et al., 1999), e, sendo asua população de dois milhões dehabitantes, estima-se que adisponibilidade hídrica anual per capitada área seja de aproximadamente 1.400m3/hab.ano. Segundo a classificaçãoapresentada por Beekman (1999), estevalor configura um quadro de alertaquanto à possibilidade de ocorrência deconflitos, havendo a necessidade de ummanejo cuidadoso dos recursos hídricosda região, de forma a minimizar asrestrições sociais, econômicas eambientais que a falta d’água podeocasionar.

Apenas para citar um dos problemasjá existentes no Distrito Federal,Dolabella (1996), efetuou o confrontoentre a oferta e a demanda dos recursoshídricos da bacia do rio Jardim econstatou que estes estavam sendosuperexplorados, indicando haverpotencialidade para a ocorrência deconflitos e de degradação ambiental naregião, em períodos críticos de seca.

Do ponto de vista hidrológico, porconter zonas de planalto, a região deCerrado possui diversas nascentes derios e, conseqüentemente, importantesáreas de recarga hídrica, que contribuempara grande parte das bacias hidro-gráficas brasileiras. Isso ressalta aimportância do uso racional dos recursosnaturais nestas áreas que, normalmente,possuem baixa capacidade de suporte(fragilidade), estando mais sujeitas a

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Produção hídrica

problemas de assoreamento, conta-minação (poluição) ou superexploraçãodos recursos hídricos.

Apenas para reforçar as informaçõessupracitadas, as águas brasileiras drenampara oito grandes bacias hidrográficas,e destas, seis têm nascentes na regiãodo Cerrado. São elas: a bacia Amazônica(rios Xingu, Madeira e Trombetas), abacia do Tocantins (rios Araguaia eTocantins), a bacia Atlântico Norte/Nordeste (rios Parnaíba e Itapecuru), abacia do São Francisco (rios SãoFrancisco, Pará, Paraopeba, das Velhas,Jequitaí, Paracatu, Urucuia, Carinhanha,Corrente e Grande), a bacia AtlânticoLeste (rios Pardo e Jequitinhonha) e abacia dos rios Paraná/Paraguai (riosParanaíba, Grande, Sucuriú, Verde,Pardo, Cuiabá, São Lourenço, Taquari,Aquidauana, entre outros), conformeapresentado na Figura 1.

O clima do Cerrado pode serdividido em duas estações bemdefinidas, uma seca, que tem início nomês de maio, terminando no mês desetembro, e outra chuvosa, que vai deoutubro a abril, com precipitação médiaanual variando de 600 a 2.000 mm,conforme apresentado na Figura 2(Assad, 1994). É importante ressaltar quedurante o período chuvoso desta regiãoé comum a ocorrência de veranicos, ouseja, períodos sem chuva (Assad, 1994).Portanto, para possibilitar a produçãoagropecuária nos períodos secos e(ou)assegurar a manutenção da produ-tividade quando ocorrem veranicos, ouso da água para a irrigação configura-se como uma alternativa importante parao desenvolvimento da região (Assad,1994).

A grande preocupação quanto ao usoda água para irrigação é que, geralmente,

Figura 1

Representação doslimites do Cerrado

em relação àsgrandes bacias

hidrográficas doBrasil.

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Lima & Silva

sua demanda aumenta nos períodosmais secos do ano, quando as vazõessão reduzidas. Nessas ocasiões, osconflitos e os danos ambientais podemser ampliados, ocorrendo com maiorfreqüência e intensidade.

Portanto, considerando a importân-cia do Cerrado, no cenário hidrológiconacional, e a necessidade de que osrecursos naturais da região sejamutilizados de forma racional, é essencialconhecer a produção e disponibilidadehídrica das áreas sob este bioma. Oobjetivo deste capítulo é apresentar umaavaliação preliminar da contribuiçãohídrica superficial do Cerrado para asgrandes bacias hidrográficas brasileiras,visando subsidiar estudos maisaprofundados, além de ações e soluçõespara o desenvolvimento competitivo esustentável dessa região.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a execução deste trabalho,foram utilizados os dados de vazão das

estações fluviométricas existentes nobanco de dados “Hidro”, sob gestão daAgência Nacional de Águas – ANA,disponível no site http://hidroweb.ana.gov.br. Como esses dados estãoclassificados como consistidos, elesforam usados diretamente neste trabalho.

Com base na localização dasestações fluviométricas existentes naárea de Cerrado e na disponibilidade dedados, foram selecionadas e analisadas34 estações, para realização daestimativa da produção hídricasuperficial média da área em estudo.

Por se tratar de uma avaliação decaráter preliminar, não foi analisada asimultaneidade dos dados de diferentesestações, portanto, a vazão média delongo termo (Qmlt), apresentada naTabela 1, refere-se à média aritmética detoda a série existente no banco de dadospara cada estação, utilizando valoresdiários. Além disso, foram adotadasoutras simplificações que serãodevidamente explicitadas no decorrer dotrabalho.

Figura 2

Distribuição espacialda precipitação médiaanual no Cerrado(Fonte: Assad, 1994).

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Produção hídrica

Em muitos casos, apenas parte daárea de drenagem de uma dada estaçãoestava inserida no bioma Cerrado, demodo que foi necessário utilizarferramentas de geoprocessamento(ArcView) para distinguí-las e determiná-las. Conhecida esta área e a vazão médiada estação correspondente, estimou-se,proporcionalmente, a produção hídricareferente ao domínio do Cerrado.

A Figura 3 apresenta as estaçõesutilizadas e suas respectivas áreas deCerrado, bem como a bacia hidrográficacorrespondente.

Observa-se na Figura 3, que ospostos fluviométricos existentes nãoforam suficientes para coberturacompleta da área de Cerrado. Foinecessária, então, para estimar a vazãototal produzida neste bioma, a realizaçãodo estudo em duas etapas. Na primeira,

foram determinadas a produção hídricatotal e a vazão específica média nas áreasde Cerrado cobertas por estaçõesfluviométricas, em cada baciahidrográfica. Em seguida, utilizando avazão específica média, obtida naprimeira etapa, estimou-se a vazãogerada nas áreas sem cobertura deestações fluviométricas. Dessa forma, foipossível estimar a contribuição hídricatotal deste bioma, para cada baciahidrográfica brasileira, a partir da somados valores obtidos nas áreas sobCerrado, com e sem cobertura deestações fluviométricas.

As áreas de Cerrado, integrantes dasgrandes bacias hidrográficas brasileiras,foram determinadas a partir da Figura1, utilizando ferramentas de geopro-cessamento. Estes valores estãoapresentados na Tabela 2, sob o título“A Cerrado”.

Figura 3

Estações utilizadasno trabalho,

numeradas de 1 a34, e suas

respectivas áreas deCerrado,

diferenciadas porcores, de acordo

com a baciahidrográfica em que

estão inseridas.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 1 apresenta as estaçõesfluviométricas utilizadas neste trabalho,suas respectivas áreas de drenagem e operíodo de dados usados na deter-minação da vazão média de longo termoe da vazão específica de cada posto.

O item “A Cerrado” corresponde à fraçãoda área de drenagem de uma dadaestação, sob Cerrado. O parâmetro“Q Cerrado” representa a produçãohídrica superficial estimada nas áreas deCerrado, cobertas por estações flu-viométricas.

Tabela 1. Análise dos dados hidrométricos das estações sobinfluência do bioma Cerrado.

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Produção hídrica

Tomando-se por base a média daprodução hídrica específica de cadaestação (Tabela 1), observa-se que, namesma bacia, em geral, estes valores sãopouco variáveis. Entretanto, entre bacias,esta variação é bastante significativa,indicando que este parâmetro pode serutilizado para indicar regiões com maiorpotencial para ocorrência de escassez deágua, o que depende, também, dademanda local por recursos hídricos. Aárea de Cerrado presente na baciaAmazônica (bacia 1), por exemplo,registrou uma vazão específica média de24,49 L/s.km², enquanto as baciasAtlântico Norte/Nordeste (bacia 3) eAtlântico Leste (bacia 5), apresentaramvalores bem menores, 3,68 e 5,22 L/s.km², respectivamente.

A Tabela 2 contém a produçãohídrica do Cerrado nas áreas desprovidasde monitoramento fluviométrico,

calculada segundo procedimentodescrito anteriormente.

Conforme indicado anteriormente,as vazões geradas nas zonas não-monitoradas foram obtidas, a partir dasvazões específicas médias de cada baciae suas respectivas áreas. Considerandoque o percentual de contribuição dasáreas de Cerrado, com e semmonitoramento, para cada bacia, varia,o mesmo vai ocorrer com a vazãoespecífica média. Neste estudo, foiencontrado, para área monitorada, ovalor de 12,39 L/s.km² e, para a não-monitorada, de 13,78 L/s.km².

A Tabela 3 apresenta o resumo dosresultados obtidos nesta análise,demonstrando a produção hídricasuperficial do Cerrado e sua importânciapara seis das oito grandes baciashidrográficas do país.

Tabela 2. Estimativa da vazão gerada na região de Cerrado sem cobertura dasestações fluviométricas utilizadas.

Tabela 3. Produção hídrica do Cerrado por bacia hidrográfica.

* Produção hídrica em território brasileiro.** SIH/ANEEL, 1999

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Para melhor interpretação dos dadosapresentados na Tabela 3, há na primeiralinha, dados referentes à bacia 1, ou seja,à bacia Amazônica, que abrange 3,9milhões de km² em território brasileiro,46% da área do Brasil. A produçãohídrica desta bacia é, em média, de209.000m³/s (DNAEE, 1994), entretanto,no território brasileiro, ela é igual a133.380m³/s. O complemento de suavazão média provém dos países queestão a montante na bacia. A vazãogerada na fração brasileira da baciaAmazônica corresponde a 73% daprodução hídrica nacional.

O item “A Cerrado” indica a área dabacia sob o bioma Cerrado, enquanto o“Q Cerrado” e o “Q esp.” representam,respectivamente, a parte da vazão geradae a vazão específica média obtidas nestaárea.

Depreende-se da Tabela 3 que oCerrado, mesmo englobando 24% doterritório nacional, contribui com apenas14% da produção hídrica superficialbrasileira. Entretanto, excluindo-se abacia Amazônica da análise, verifica-seque o Cerrado passa a representar 40%da área e 43% da produção hídrica totaldo restante do país.

Conforme apresentado na Tabela 3,a vazão específica média das áreas sobo bioma Cerrado é de 12,85 L/s.km².Porém, dada a grande variabilidade destevalor entre as diferentes baciashidrográficas, fica evidente a impos-sibilidade de uso de um único coeficientedesta natureza para toda a região deCerrado. Em termos médios, essesvalores apresentaram uma variação de3,68 L/s.km² na bacia Atlântico Norte/Nordeste a 24,49 L/s.km² na baciaAmazônica.

Como a área de Cerrado na baciaAmazônica é pouco representativa, se

excluída do cálculo da vazão específicamédia deste bioma, obtém-se o valor de11,52 L/s.km², redução esta, consideradapequena em relação à disparidade entreos dados desta bacia e das demais.

Se para a bacia Amazônica ainfluência territorial e hidrológica doCerrado é pouco representativa, comapenas 5% da área e 4% da suaprodução hídrica, por outro lado, paraas bacias Araguaia/Tocantins, SãoFrancisco e Paraná/Paraguai, este biomamostrou-se responsável por mais de 70%da vazão gerada. Deve-se salientar quea concentração populacional e ademanda por recursos hídricos são muitomaiores nestas bacias que naAmazônica.

Na bacia Araguaia/Tocantins, oCerrado representa 78% da área e 71%da sua produção hídrica, mesmo sendoparte desta bacia influenciada pelafloresta Amazônica. A contribuiçãohidrológica da área de Cerrado ésignificativa, o que pode ser comprovadopela sua vazão específica de 14,22 L/s.km².

Na bacia Atlântico Norte/Nordeste,a contribuição da área sob Cerradoapresentou-se baixa, menor que a médiada bacia, pois engloba 27% da área eproduz apenas 11% da vazão.

A bacia do São Francisco étotalmente dependente, hidrologica-mente, do Cerrado que, com apenas 47%da área, gera 94% da água que fluisuperficialmente na bacia. Merecedestaque sua importância para oabastecimento hídrico da RegiãoNordeste, bem como para a produçãode alimentos sob irrigação e a geraçãode energia hidrelétrica, fundamentaispara o desenvolvimento regional enacional.

Na bacia Atlântico Leste, a influênciaexercida pelo bioma Cerrado é muito

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Produção hídrica

pequena, tendo em vista sua pequenarepresentatividade em relação à área totalda bacia e a baixa vazão específicaapresentada.

Conforme supracitado, a baciaParaná/Paraguai é outra que recebeimportante contribuição hidrológica doCerrado que, compreendendo 48% desua área total, gera 71% da vazão médiadesta bacia.

É importante destacar que, apesarde toda a área analisada pertencer a ummesmo bioma, a disparidade entre asvazões específicas obtidas nas diferentesbacias hidrográficas demonstra que oparâmetro “cobertura vegetal”, emtermos globais, não teve tanta influênciana estimativa da produção hídrica. Sendoassim, não é recomendável utilizar umúnico valor médio de vazão específicapara toda a área de Cerrado.

Cabe ressaltar que, por serem dadosmédios, obtidos por meio de estimativase aproximações, em escala regional, semconsiderar o fator sazonal em sua análisee, por isso, as informações apresentadasnão devem ser utilizadas para fins degestão de recursos hídricos em escalalocal. Entretanto, elas podem serimportantes para a identificação de áreasprioritárias para estudos e ações, comvistas a evitar ou remediar conflitos pelouso da água. Um exemplo claro e queilustra a aplicação destas informações éa importância demonstrada dacontribuição hídrica superficial doCerrado para o Nordeste do Brasil e comoeste bioma deve receber especialatenção, em função do que representapara aquela região.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Fica evidente neste trabalho a grandeimportância que a região de Cerradopossui em relação à produção hídrica noterritório brasileiro, contribuindo paraseis das oito grandes bacias hidrográficasdo país.

Apesar de esta região ocupar 24%do território nacional e representarapenas 14% da sua produção hídricasuperficial, observa-se, que excluindo-se a bacia Amazônica da análise, regiãode grande produção hídrica e onde vivepequena parcela da população do país,um aumento substancial nestes valores,que passam para 40% e 43%,respectivamente, estando, portanto,próximos à média do restante do Brasil.

Merece destaque a participação doCerrado na geração de vazão para a baciado rio São Francisco, fundamental parao desenvolvimento da Região Nordeste,tão carente em recursos hídricos.

Diante do exposto e sendo a área deCerrado uma região com cabeceiras debacias hidrográficas, locais, geralmente,com pequena capacidade de suporte, éfundamental a ampliação dos conhe-cimentos referentes ao seu com-portamento hidrológico. Isso, porque,além dos prejuízos locais que o mau usodestes recursos pode provocar, estesefeitos podem ser propagados porextensões maiores, uma vez que ocorremnas áreas de montante das baciashidrográficas.

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Lima & Silva

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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