capitalismo verde

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FFLG 0114 Mudanas Climticas Globais e Implicaes Atuais Disciplina Ministrada pelo Prof. Dr. Ricardo Aula de Daniela Miranda de Souza

NEGCIOS E PRODUTOS VERDES: SOLUO OU AGRAVANTE PARA O MEIO AMBIENTE E O HOMEM?

INTRODUO

A partir da dcada de 70 ocorreram diversos encontros, eventos, convenes para discutir o quanto de impacto a industrializao causava no meio ambiente, chegaram a concluso de que era um impacto muito grande e que algo deveria ser feito, era necessrio uma mudana de mentalidade, um pensamento mais verde, mais tico, tanto socialmente, quanto ambientalmente. As empresas viram nisso uma oportunidade de novos negcios. Os negcios se tornaram verdes, e seus produtos tambm, seu consumo amplamente incentivado, porque desse modo a populao estaria ajudando a preservar o meio ambiente. Sendo que o mais novo desses produtos o crdito carbono, para proteger o mundo do aquecimento global. O problema que h a tentativa de corrigir os erros do ser humano perante a natureza, atravs do ato que sempre a prejudicou, o consumismo. A soluo muito mais simples do que instalar MDLs, fabricar produtos verdes, tem-se que rever os padres de consumo instaurados hoje, no se deixar influenciar pela mdia, enfim, medidas simples, mas que no so interessantes s empresas.

PRIMEIRA PARTE: SEPARAO HOMEM E MEIO E O CAPITALISMO

Pode-se dizer que uma das primeiras formas de organizao social foi a constituio de cls e tribos, no qual as pessoas eram unidas pela existncia de um ancestral comum, baseados em grau de parentesco ou meramente simblico. 1

Essa reunio dos homens em torno de cls e tribos aconteceu devido a questes de sobrevivncia, isto , notou-se que as chances de sobreviver em um ambiente hostil eram maiores para aqueles que conviviam em um grupo, do que para aqueles que atuavam sozinhos. Assim, todos trabalhavam de acordo com as suas capacidades, voltados para o bem comum, a sobrevivncia do cl. Sabe-se que um dos primeiros modos de subsistncia desses grupos ocorria por meio da caa e da coleta, no qual eram aproveitados os materiais que estavam disponveis na natureza. Devido ao uso intenso dos mesmos, fazia-se necessrio a mudana constante desse grupo para novas reas, tem-se, ento, o nomadismo, neste caso, um deslocamento em busca de alimentos. Tudo mudou quando um grupo de pessoas notou que as sementes extradas da natureza, se plantadas, geravam novas plantas, iguais a anterior, deu-se incio agricultura e ao processo de sedentarizao dos grupos humanos. Isto porque o cultivo de diversas plantas aumentava a oferta de alimentos disponveis para o grupo, e este no precisava mais se deslocar, passou-se a produzir mais do que era preciso para o consumo imediato, passou-se a realizar a troca entre os grupos. Isso fez com que a diviso de trabalho que j existia, trabalho de homens e trabalho de mulheres, se aprofundasse, pois algumas pessoas eram responsveis pela plantao, outros pela fabricao de instrumentos, ou pela proteo do grupo contra invases, etc. O advento da agricultura fez com que emergissem duas coisas que mudariam o curso da histria, isto , surge o excedente de produo e o prottipo das classes sociais, culminando na possibilidade de se apropriar do trabalho do outro, e posteriormente na apropriao dos modos de produo, restando ao trabalhador a venda de sua fora de trabalho. A partir desse momento se sucederam outros modos de produo como o escravista, o feudal, culminando no capitalista. Com a evoluo desses modos de produo, houve o aprofundamento das diferenas entre as classes sociais (distanciamento), aumento do excedente de produo, com uma maior apropriao do trabalho de outro, cujo objetivo nico era ter lucros, acumular mais dinheiro. (NOVAES, RODRIGUES, 1996). Nota-se que a relao entre a sociedade e a natureza sempre foi pautada no trabalho, o que mudou durante o desenvolvimento da humanidade foi a qualidade dessa relao, isto , o motivo pelo qual a sociedade se relacionava com a natureza 2

(MARTINS, 2007). Em um primeiro momento era uma relao pautada, objetivada na sobrevivncia do grupo, como acontecia com os coletores e caadores. A pessoa, ou o grupo, ia at a natureza buscar alimentos para ele e sua tribo. Em um segundo momento, quando surge a produo de excedentes e as classes sociais, a sociedade passa a interagir com a natureza por meio do trabalho, no mais para garantir a sua sobrevivncia (diretamente), mas sim para a obteno de lucro e de renda. diferena entre o preo de custo da fora de trabalho (salrio) e o valor da mercadoria produzida, d-se o nome de mais-valia. Quanto mais baixo o salrio e mais alto o valor da mercadoria, maior a mais-valia, maior o lucro (NOVAES, RODRIGUES, 1996:51). Agora o trabalhador se direcionava ao empregador, e no mais natureza, para sobreviver. Pois o segundo detinha os meios de produo, comprava a fora de trabalho de outrem, pagava a este uma renda, sendo que esta no proporcional ao trabalho despendido. Observa-se que no sistema capitalista faz-se necessrio a gerao de uma renda, para que o ser humano possa comprar itens para a sua sobrevivncia. A relao com a natureza ocorre de forma indireta, e mesmo aqueles que se relacionam com esta, enxergam-na somente como fonte de matria-prima, um recurso natural a ser utilizada para a confeco de produtos, a sua venda, gerando lucros e acumulando capital. Isso gerou um consumo desordenado e acelerado da natureza. O consumo o momento final, mas tambm inicial, do processo produtivo capitalista, isto porque ao se consumir um produto, paga-se um preo, nele est incluso a mais-valia, o lucro do empregador, este por sua vez utiliza esse dinheiro extra para reinvestir no processo produtivo que tem por fim o consumo, portanto, a produo depende do consumo e vice-versa. O elemento fundamental do modo de produo capitalista a mercadoria O Capitalismo s se realiza na produo e venda de mercadorias. O Capitalismo transforma tudo em mercadoria. Conseguiu transformar at o trabalhador. (NOVAES, RODRIGUES, 1996:172). Em uma definio do dicionrio Consumir fazer o uso de alguma coisa para a subsistncia prpria (LAROUSSE, 1995:1588). Essa situao se agrava, a sociedade torna-se uma sociedade de consumo

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nome

dado

algumas nos

vezes

s

sociedades as

de

pases

industriais elementares

desenvolvidos,

quais,

estando

necessidades

asseguradas maioria da populao, os meios de produo e de comercializao so orientados a responder s necessidades multiformes, freqentemente superficiais e suprfluas (op. cit., 1995:1588).

As necessidades passaram a ser produzidas pela sociedade, ou mais especificamente, por um grupo seleto de pessoas que visam aumentar os seus lucros. Vista por outro ngulo, a sociedade de consumo pode ser chamada de sociedade de venda. Para algum consumir algum tem que vender. Tudo vira um pretexto para vendas (NOVAES, RODRIGUES, 1996:173). Como exemplo disso podemos observar as datas comemorativas, Natal, Dia das Crianas, Pscoa, etc, nas quais o consumo se intensifica, o que no quer dizer que ele no exista nos outros 360 dias do ano. A sociedade de consumo chegou a ponto de chegar na seguinte premissa: ter mais importante do que ser. Isto marca uma mudana de valores no qual o homem no estava mais preocupado com questes existenciais, mas sim em ter/possuir adquirindo, assim, um status social diferenciado daquele que no possui. Assim, possuir qualidades como ser honesto, incorruptvel, educado, etc, perdeu importncia, valor diante do possuir coisas, quantidade, ter um carro importado, um TV de LCD de 50, um Iphone, a geladeira que acessa a internet, etc. E estes que tm so mais respeitados do que aqueles que so.Sem a preocupao do Ser, o Homem torna-se oco por dentro. Perde sua conscincia crtica, sua capacidade de reflexo, e torna-se uma presa fcil da trplice aliana formada pelo consumo, a publicidade e a televiso. O Homem deixa de ser sujeito e passa a ser objeto. Tem suas decises e sua prpria vida comandada pelas necessidades e pelo interesses de mercado. (NOVAES, RODRIGUES, 1996:175).

Com o advento da televiso acontece(u) uma difuso em larga escala de produtos, estilos de vidas, lugares, a serem consumidos. Ao construrem propagandas sobre um determinado produto, no se vende somente ele, o produto fsico, mas tambm uma fantasia, um simbolismo (fetiche da mercadoria) que se cria entorno desse produto, facilitando/incentivando/obrigando o seu consumo. Essa 4

fantasia anexada utilidade real do produto, uma relao social que existe entre os homens, mais exatamente uma relao que existe entre os homens que tm, que consomem aquele produto e aqueles que no o possuem, dando aos primeiros uma honra ou prestgio perante o resto da sociedade, ou seja, um status social maior que os outros que no possuem. O problema que isto incentiva mais ainda o consumo, pois ter mais, significa maior status social, e logo, tambm, outras pessoas tero aquilo que antes somente uma pessoa tinha. Essa nsia por status, que consome tudo que v gera um uso demasiado da natureza, esta vista como matria-prima, recurso natural, tendo em vista que ela a base do processo produtivo.Esse processo de separao entre indivduo e natureza, no a reconhecendo como legtima, mas como recurso, juntamente com as possibilidades acumuladas pela tcnica e pela cincia, conduziu a um processo de crescimento industrial desordenado, intensificando os

problemas ambientais, que atingem hoje um largo espectro, desde a dilapidao dos ecossistemas at o aumento da criminalidade (MELO, 2006:41).

O Homem passa a ser alheio a si mesmo, ou utilizando um termo mais conhecido, o Homem passa a ser alienado, se submetendo aos valores de outros, a alienao do trabalhador frente ao trabalho e frente ao produto de seu trabalho, perdendo a sua conscincia. O Homem deixa de Ser, como j fora comentado anteriormente, permitindo que se torne um ttere, um boneco manipulvel pelas mos de terceiros.

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SEGUNDA PARTE: A INSUSTENTABILIDADE DO SISTEMA CAPITALISTA

A preocupao do mundo com os limites do desenvolvimento iniciaram-se na dcada de 60, quando o planeta j sofria com o uso indiscriminado dos recursos naturais, bem como dos dejetos industriais. De forma sinttica, podemos dizer que isso comeou com um estudo encomendado pelo Clube de Roma ao pesquisador Dennis Meadows entitulado de Limites do Crescimento, no qual conclu-se que se fossem mantidos os nveis de industrializao, poluio, produo de alimentos e explorao dos recursos naturais, o limite do desenvolvimento do planeta seria atingido em at 100 anos. Com a inteno de discutir tais fatos a ONU (Organizao das Naes Unidas) promoveu a Conferncia de Estocolmo (1972), introduzindo na agenda poltica internacional a temtica ambiental, como resultado houve a criao do PNUMA (Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente) que coordena aes internacionais de proteo ao meio ambiente, bem como de desenvolvimento sustentvel. (ONU BRASIL, 2008). Em 1983/1987 a CCMAD (Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento) adotou em seu relatrio Nosso Futuro Comum, tambm conhecido como Relatrio Brundtland, o conceito de desenvolvimento sustentvel, postulando que o desenvolvimento sustentvel aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem a suas prprias necessidades (MELO, 2006:24). Tal conceito foi incorporado como um princpio durante a ECO-92.Publicado com o ttulo Nosso Futuro Comum, o documento props integrar o desenvolvimento econmico questo ambiental, surgindo no apenas um novo termo, mas uma nova forma de progredir. Para isso, o governo deve adotar as seguintes medidas: * Limitar do crescimento populacional; * Garantir de alimentao em longo prazo; * Preservar da biodiversidade e dos ecossistemas; * Diminuir o consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias que admitem o uso de fontes energticas renovveis;

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* Aumentar a produo industrial nos pases no-industrializados base de tecnologias ecologicamente adaptadas; * Controlar a urbanizao selvagem e integrao entre campo e cidades menores. No nvel internacional, as metas propostas pelo Relatrio sugerem que as organizaes do desenvolvimento devem adotar a estratgia de

desenvolvimento sustentvel; a comunidade internacional deve proteger os ecossistemas supranacionais como a Antrtica, os oceanos, o espao; as guerras devem ser banidas e que a ONU deve implantar um programa de desenvolvimento sustentvel (PORTAL UNB, 2008).

O desenvolvimento sustentvel deve estar comprometido com uma nova viso de mundo que contemple o sentido do que seja o bem-estar do ser humano, este no pode ser reduzido racionalidade econmica em busca de satisfao material. Para que o desenvolvimento sustentvel seja alcanado faz-se necessrio que a natureza seja entendida como parte integrante do processo de produo, e que ele finita. Este conceito dever ser absorvido pelas empresas como um meio de produzir sem destruir o meio ambiente, essa nova conscincia deve se estender a todos os nveis organizacionais da empresa, culminando na criao de um projeto que alie a produo e a preservao ambiental, com a adaptao tecnolgica esse preceito (AMBIENTEBRASIL, 2008). Muitos empresrios perceberam a um novo nicho econmico, isto , um novo espao para expandir o mercado e gerar lucro. a partir desse momento, com as idias de desenvolvimento sustentvel que emergem os primeiros produtos verdes, conseqentemente, empresas verdes, visando a sustentabilidade do sistema, entretanto sem revisar o foco do negcio: o consumo. Os produtos verdes se tornaram a soluo para a insustentabilidade do sistema capitalista.

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TERCEIRA PARTE: A SOLUO DISFARADA

3.1. MOTIVOS PARA INGRESSAR/INVESTIR EM UM NEGCIO VERDE Durante muito tempo os investimentos ambientais nunca foram vistos como algo que pudesse dar lucros para as empresas, ou ainda, como a alma do negcio, e por isso fora negligenciado. Os escassos investimentos que existiam eram devido a obrigaes legais, marketing ou filantropia (SCHARF, 2004). Entretanto, a ocorrncia de diversos eventos mundiais ambientais, como fora citado anteriormente, mudou o comportamento de algumas instncias, isto , no mbito legal surgiram leis mais rgidas, no ambiental e social, maior presso dos ambientalistas, alm de um interesse crescente da mdia sobre o assunto, atraindo as atenes da populao no geral. Tudo isso gerou uma presso em cima das empresas para estas serem mais ticas, tanto socialmente, quanto ambientalmente. Essas presses podem ser divididas em trs tipos:

Presso legal - aquela exercida por meio de leis e regulamentos. No caso do Brasil considera-se que seja uma das mais avanadas do mundo (Benjamin, 1999 apud CARIDADE, PFANNEMLLER, 2006). Uma breve percorrida na histria legal ambiental brasileira demonstra isso. Em 1980 foi instituda a Poltica Nacional do Meio Ambiente que prev padres de qualidade ambiental, zoneamento, avaliao de impacto ambiental, licenciamento de atividades potencialmente poluidoras. Em 1985 uma lei federal regulamenta aes civis pblicas quando h danos ao meio ambiente. Em 1988 promulgada a nova Constituio Federal, com um captulo especfico para o meio ambiente, em 1989 cria-se o Ibama. Entretanto a ao mais significativa ocorreu em 1998 com a Lei dos Crimes Ambientais alm de prever multas de at R$ 50 milhes para punir quem polui ou desmata indiscriminadamente, ela confronta dirigentes e donos de empresas com a possibilidade concreta de serem presos (SCHARF, 2004:16). H ainda as diversas resolues do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) que impes restries ao uso, despejo, emisso de certos elementos da/na natureza. 8

Presses ambientais - So aquelas causadas pelo esgotamento dos recursos naturais, devido ao consumo desenfreado desses bens. As empresas iniciam sua preocupao com o fim dos recursos naturais, pois elas buscam no ambiente seus inputs para o processo produtivo. O esgotamento de recursos alm de maior restrio ao uso de recursos naturais so, portanto, questes estratgicas das organizaes. (CARIDADE,

PFANNEMLLER, 2006:6).

Presses sociais acredita-se que hoje exista uma sociedade mais consciente da responsabilidade de cada indivduo perante os atuais cenrios econmicos e sociais. Isto percebido com o crescente nmero de ONGs dedicada ao social e meio ambiente. Esta mobilizao reflete-se no aumento de conscincia do consumidor, forando alguns mercados a adotarem prticas diferenciadas (CARIDADE, PFANNEMLLER, 2006:7).

Essas presses podem ser vistas de forma negativa, entretanto muitas empresas consideraram isso como uma oportunidade de se destacar perante a concorrncia, gerando mais lucro para a empresa. Assim, o Manual de Negcios Sustentveis (2004), lista as dez principais vantagens de ser um negcio sustentvel.1_ Um melhor acesso a mercados com algum tipo de filtro ou critrio. 2_ Um produto com maior valor agregado, que pode incorporar um prmio ao seu preo. 3_ Reduo dos custos de seguro, pela reduo dos riscos no negcio. 4_ Valorizao da marca, melhoria da imagem e das relaes com a comunidade. 5_ Maior produtividade, em funo dos investimentos em eficincia e do maior grau de aproveitamento da matria-prima. 6_ Economia nos insumos (matrias-primas, energia, gua, tempo). 7_ Garantia de acesso matria-prima no longo prazo, por se tratar de materiais renovveis. 8_ Melhor relacionamento com financiadores, por conta da garantia de longo prazo do negcio. 9_ Reduo de gastos com multas, conflitos legais e descarte.

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10_ Ganhos de eficcia na gesto, em decorrncia de uma equipe mais motivada (SCHARF, 2004:26).

Analisando essa lista nota-se que vantajoso o ingresso em um negcio sustentvel, mas para a empresa. A conservao da natureza relegada ao segundo, terceiro plano. Em nenhum momento mencionado que a inteno de se ter um negcio sustentvel a preservao da natureza por ela mesma, sem nenhum objetivo econmico, mas de conserv-la para que outras espcies no desapaream. Assim, a natureza considerada apenas na medida em que sua degradao prejudica as condies de produo (...) (Godard e Sachs, 1975 apud MELO, 2006:42), pois isso afetaria o lucro e a existncia futura dessa empresa, logo o ideal ter um uso racional da natureza, mas focado na economia que empresa ter conservando-a, e se possvel criar alguns produtos verdes e incentiva o seu consumo, gerando lucro para empresa tambm. Percebe-se que um negcio verde vantajoso em dois sentidos: economia de insumos (matria-prima, energia, gua, etc) da empresa, reduzindo os seus gastos; e na criao de produtos verdes, incentivando o seu consumo, aumentando o lucro da empresa.

3.2. FUNDOS VERDES Tendo o desenvolvimento sustentvel como premissa , e tambm vendo isso como uma oportunidade de expanso de mercados, muitos fundos passaram a destinar recursos financeiros para companhias com prticas sociais e ambientais positivas, estes so chamados de fundos ticos.Segundo Martinez (2000), a proposta de fundos ticos ganhou flego h trs dcadas, quando quatro fundos de investimentos com critrios ticos foram criados no mercado de valores mobilirios dos EUA. Naquela poca, gerenciaram cerca de 18,6 milhes de dlares. Hoje, os fundos ticos concentram US$ 1,00 a cada US$ 8,00 aplicados na bolsa americana. So 144 fundos ticos naquele pas, respondendo por 2,34 trilhes de dlares. (DIAS, 2007:2).

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No tardou para que este tipo de investimento chegasse ao Brasil, comeou em 2001 com o lanamento do Ethical pelo Banco Real, em 2004 foi a vez do Unibanco lanar o Unibanco Classe Mundial. A tabela a seguir mostra os fundos ticos que existem no pas.

FONTE: DIAS, 2007:4

Os motivos para que os investidores injetem seu dinheiro neste tipo de fundo no somente altrusmo (amor ao prximo), mas tambm, principalmente, de que h indicadores econmicos afirmando que as aes de empresas sustentveis 11

oferecem maior segurana e rentabilidade no longo prazo, quando se faz uma comparao com os fundos tradicionais (SCHARF, 2004). Segundo Christopher Wells gerente da rea de sustentabilidade do Banco Real verificou uma alta correlao da existncia de problemas ambientais e sociais e suspeitas quanto a um mau desempenho financeiro. (SCHARF, 2004:111). Entretanto essa expectativa de que fundos socialmente responsveis geram maior segurana e rentabilidade em longo prazo deve ser contida, poisAinda no h uma srie histrica que permita tirar concluses definitivas sobre uma correlao positiva entre tica e lucro. Um dos problemas para validar a tendncia ao melhor desempenho dos fundos ticos , em geral, o fato que eles existem h pouco tempo e que isso insuficiente para avaliar o desempenho de forma completa. (SCHARF, 2004:134).

A hiptese de que os fundos ticos possuem uma rentabilidade igual ou inferior aos fundos tradicionais fora pesquisada por Rezende (2005). Por meio de estudos empricos com dados coletados sobre a rentabilidade de 36 meses de fundos ticos, tradicionais e do Ibovespa, ela conclui todos os testes empricos realizados nessa pesquisa indicam que a rentabilidade dos fundos SRI [Socially Responsible Investiment] semelhante a dos outros fundos de aes e que sua performance tambm est em torno da mdia da amostra (op cit, p. 13). Dito isto, vale fazer uma explanao do fundo brasileiro pioneiro nesse segmento de fundo tico, isto , o Banco Real e o Ethical. Assim, em novembro de 2001, o Banco Real lanou o Ethical, o primeiro fundo de investimento tico destinado aos investidores locais (SCHARF, 2004), cujo objetivo remunerar o capital investido atravs da alocao em aes de empresas socialmente responsveis (ABN, 2008). Este fundo comeou com um patrimnio de R$ 3,1 milhes em dezembro de 2001, chegou a R$ 14,7 milhes em dezembro de 2002, a R$ 33 milhes em 2003 e em novembro de 2007, o patrimnio lquido do fundo da ABN chegou a RS 650 milhes. O pblico alvo deste fundo so pessoas que desejam investir em empresas cujas prticas demonstrem a preocupao com aspectos sociais, ambientais e com

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a governana corporativa (verificar se a empresa transparente na tomada de decises, bem como se ela permite a participao de pequenos acionistas). Para que tal objetivo seja alcanado, o gestor do fundo, para formar a carteira de aes do mesmo, deve selecionar aes de empresas que estejam de acordo com o objetivo do fundo, isto , empresas socialmente responsveis. Assim, alm dos critrios bsicos do fundo, isto , governana corporativa, responsabilidade social, ambiental e potencial de valorizao para os investidores, o gestor utiliza outros meios para realizar essa seleo:Critrio de Excluso Automtica: tem-se como premissa, excluir automaticamente, empresas cujos segmentos de atuao sejam

considerados negativos sociedade como: fumo, lcool, armas, energia nuclear, pornografia e jogo. Anlise do Balano Social das Empresas : Refere-se anlise das empresas a partir de pesquisas a dados pblicos. Anlise das Respostas ao Questionrio de Avaliao: Refere-se avaliao das empresas com base em informaes fornecidas pelas mesmas no Questionrio de Avaliao, especificamente desenvolvido pelo ABN AMRO Asset Management com o apoio do Instituto Ethos e do Instituto Brasileiro de Governana Corporativa - IBGC. (ABN, 2008).

A composio da carteira do fundo pode ser vista no grfico a seguir

Carteira de Investimentos do Ethical0,81% 0,52% 1,18% 3,40% 2,37% 4,14% 4,50% 4,55% 6,05% 6,53% 6,85% 17,14% 24,81%

17,17%

Bancos Minerao Energia Alimentos Petrleo e Gs Metalurgia e Siderurgia Telecomunicaes Transporte Papel e Celulose Infra Estrutura Sade Fundos Operaes Compromissadas Outros

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Nota-se que trs setores predominam na composio da carteira, totalizando quase 60% dela, o setor de bancos, da minerao e de energia, no foi possvel identificar quais eram as aes das empresas participantes, pois o stio do Banco Real estava com informaes de 02/2007, o que gera uma contradio perante a teoria e a prtica, pois um dos itens avaliados pelo fundo para que as aes sejam compradas por ele, a governana corporativa, que inclui transparncia nos atos da empresa. Vale lembrar aqui no stio de apresentao do FIA Ethical apresentado como objetivo investir em empresas socialmente responsveis, o que incluiria os trs itens apresentados anteriormente, responsabilidade social, ambiental e governana corporativa. Entretanto ao ler o regulamento deste fundo nota-se uma incongruncia entre o primeiro e este ltimo, sendo que este mais importante, por ser o documento guia do fundo. Neste regulamento encontra-se que os investimentos ocorrero em aes de empresas que tenham praticas que evidenciem preocupao com aspectos sociais

e/ou relacionados proteo do meio ambiente e/ou que adotem, voluntariamente,boas prticas de governana corporativa (ABN, 2007). Utilizando-se do portugus, E uma partcula aditiva, e OU alternativa, disso conclui-se que h mais do que uma possibilidade para ter aes compradas pelo FIA Ethical, isto , a empresa ser por completo socialmente responsvel, ela pode ser responsvel com o social, mas no com o ambiental, ou vice-versa, ou ainda ter somente uma boa prtica de governana corporativa. No h evidncias de que isso ocorra, mas abre uma prerrogativa para o seu acontecimento. Mas isso no um motivo de preocupao para aqueles investidores que no so altrustas, isto , aqueles que se interessam exclusivamente pelo lucro, no importando a sua origem, pois o fundo de investimento sempre buscar meios de sobreviver, mesmo que isso esbarre no seu objetivo divulgado, mas que comprove seu objetivo oculto, a gerao de lucros.

3.3 EXEMPLOS COMERCIAISFoi por causa dessa nova mentalidade de ser tico, tanto socialmente, quanto ambientalmente, juntamente com a possibilidade de expanso de mercados que diversas empresas modificaram partes do processo produtivo com inovao 14

tecnolgica, alm de diversificar as linhas de produtos, gerando os chamados produtos verdes. Existem diversas empresas que se intitulam de verdes, algumas delas inclusive com certificados e selos internacionais que atestam, comprovam o quanto essas empresas so ambientalmente responsveis. Podemos citar a Natura, o Boticrio, a Cartepillar, Klabin, Wal-Mart, General Eletric (GE), os exemplos no param na rea de empresas, eles se estendem at a agricultura, madereiras, silvicultura, entre tantos outros. Vale exemplificar, para tanto foi escolhida a GE.

3.3.1 GENERAL ELETRIC - GEAtualmente a GE um conglomerado que produz desde locomotivas, turbinas de avies, eletrodomsticos, alm de ser uma financeira. A sua histria comeou em 1879 quando Thomas Edison criou a lmpada eltrica incandescente, nessa poca a empresa se chamava Edison Electric Light Company, mas conforme foram surgindo outros produtos o nome foi alterado para Edison General Eletric Company, mas somente aps a fuso com outra empresa, em 1892, que ela passou a se chamar apenas General Electric Company, mais conhecida como GE. Como ocorre em todas as empresas a GE realiza a troca de seus presidentes, e com essas mudanas, a cara da GE tambm foi se alterando. Com Jack Welch, gesto de 1981 2001, houve a construo de uma GE mais magra, mais forte, mais competitiva com menos pessoas, menos unidades de negcio, menos nveis, e menos gestores (MUNDO DAS MARCAS, 2008). Tudo isso contribuiu para aumentar o valor do mercada da empresa que passou de US$ 14 bilhes, no incio de sua gesto para US$ 410 bilhes em 2001. Ele ganhou, inclusive, o ttulo de executivo do sculo, entretanto todo o avano da GE acarretou na poluio do meio ambiente onde se encontrava, e o seu presidente se recusou a limpar a sujeira. Entretanto essa realidade mudou em 2001, quando Jeff Immelt tornou-se presidente da empresa, e criou uma nova linha de produtos da GE: a Ecomagination, esta uma proposta que pretende ajudar os clientes a combaterem os desafios ambientais, s que com novas tecnologias da GE. Em entrevista Immelt definiu a Ecomagination como o compromisso da GE para enfrentar desafios como a necessidade de fontes de energia mais eficientes e limpas, emisses reduzidas e fontes abundantes de gua limpa (GE BRASIL, 2008). 15

Tudo isso porque durante os tradicionais encontros para o planejamento estratgico da empresa perceberam que cada vez mais clientes chegavam eles com preocupao sobre novas e mais rgidas leis ambientais, gastos crescentes de energia, gua, etc. Percebemos que no eram problemas pontuais, mas algo muito grande que comeava a afetar os clientes em todas as nossas reas de atuao. Ficou evidente que havia uma oportunidade de negcios, poderamos sair na frente e desenvolver os produtos e servios que ajudariam aquelas empresas a lidar com o problema. disse a vice-presidente da GE, Lorraine Bolsinger (POCA NEGCIOS, 2007). Para que a proposta da Ecomagination no russe, a empresa deveria ser coerente com a sua poltica interna de funcionamento e com os produtos verdes que vendia, isto , a empresa perderia credibilidade se fabricasse produtos ecolgicos de maneira poluente. Foi por isso que a GE tornou os seus processos produtivos mais limpos. A empresa traou duas metas: eficincia energtica e a reduo dos gases do efeito estufa. Assim, para o primeiro item a GE reduziu cerca de 33% do consumo de energia, alcanando uma economia de US$ 100 milhes. J para o segundo houve uma reduo de 8%. E justamente com esses exemplos internos que ela vende seus produtos, principalmente no que tange energias renovveis e produtos com baixa emisso de gases do efeito estufa. Nota-se que o primeiro item tem como fonte de preocupao a economia de gastos, j o segundo provm de uma idia cultivada na cabea das pessoas pelo IPCC e, conseqentemente pela mdia. Foi dessa maneira de pensar que surgiu o novo lema de Jeff Immelt: Green is Green, ou seja, uma relao direta entre a venda de produtos sustentveis e dlares, isso demonstra que a inteno principal da GE usar a natureza como uma forma de obteno de lucros, no nos moldes da Revoluo Industrial, mas o objetivo continua o mesmo. Assim, todas as reas da empresa (da fabricao de turbinas aos servios financeiros) deveriam se empenhar para criar produtos ambientalmente corretos. Ns concentraremos nossas capacidades de energia, tecnologia, fabricao e infraestrutura exclusivamente para desenvolver solues para o amanh, como energia solar, locomotivas hbridas, clulas de combustvel, motores de aeronaves com 16

baixa emisso, materiais mais fortes e mais leves, iluminao eficiente e tecnologia de purificao de gua. (GE BRASIL, 2008). Para que isso se concretize Immelt pretende estabelecer parcerias com seus clientes, no qual eles trazem o problema e a GE desenvolve a soluo, o trabalho compartilhado no gerenciamento do projeto ou no desenvolvimento de novas tecnologias. Podemos citar como exemplos a parceria da GE com a Boing para desenvolver uma turbina que ajudar a reduzir as emisses das aeronaves de companhias areas. O produto tambm ser menos barulhento que seus similares (POCA NEGCIOS, 2007), ou ainda com o setor sucroalcooleiro no Brasil, no qual devem desenvolver solues para reduzir a emisso de gases e que usem racionalmente a energia, h cerca de cem novas usinas que devem ser construdas no pas at 2011, com um custo de US$ 120 milhes cada (POCA NEGCIOS, 2008). E com investimentos na rea de pesquisa de novas tecnologias que a GE pretende encontrar solues para os problemas de seus clientes, em 2005, quando o Ecomagination foi lanado, a empresa investiu cerca de US$ 750 milhes, em 2007 essa quantia subiu para US$ 1,1 bilho, e h uma projeo para que em 2010 seja de US$ 1,5 bilho. Eis algumas das frentes de inovao da GE

Energia Renovvel - a empresa quer desenvolver sistemas de energia

elica mais eficientes e baratear a energia solar [este o setor que a empresa mais se dedica e desenvolve]; Carvo - os pesquisadores estudam tecnologias que permitam reduzir

as emisses atmosfricas na queima do carvo mineral; Hidrognio - a GE quer atuar em todas as etapas da cadeia do

hidrognio para gerao de energia, da produo ao armazenamento e gua - os cientistas criam sistemas de tratamento que possam ser

utilizados na agricultura, na indstria e no saneamento. (POCA NEGCIOS, 2007).

A GE possui cerca de 60 produtos com o selo da Ecomagination, entre eles h de locomotivas hbridas a turbinas menos poluentes para avies ou sistemas industriais de filtragem e reso de gua, mas nem todos os produtos desenvolvidos 17

nos seus centros de tecnologia vo para o mercado, pois o produto deve combinar o melhor desempenho ambiental com o melhor desempenho econmico (PLANETA SUSTENTAVEL, 2008). H um processo pormenorizado de produtos que possui potencial para ser comercializado, preciso oferecer preo e qualidade. As vendas dos produtos verdes da GE j superam o faturamento de companhias como Google e Avon nos Estados Unidos. A receita gerada, inicialmente, em 2005, com os produtos da Ecomagination era de US$ 10 bilhes, em 2007 foi de US$ 14 bilhes, e a meta para 2010 de US$ 25 bilhes. A receita de 2007 representava cerca de 10% das receitas totais da GE. De fato green is green. Entretanto esse movimento da GE para a sustentabilidade no significa o abandono dos antigos negcios, muitos deles grandes poluidores, "No final do dia, se o cliente quiser mais turbinas a carvo, isso que ele ter", diz Lorraine. (PLANETA SUSTENTAVEL, 2008)

3.3.2 CRDITOS CARBONOPodemos considerar o crdito carbono como um tipo de produto verde, pois um crdito desenvolvido/obtido de forma sustentvel, como um meio de reduzir o impacto das industrias, conseqentemente, do homem no aquecimento global, para aqueles que acreditam em tal tese. O termo crdito carbono surgiu do Protocolo de Kyoto em 1997, este um tratado internacional que demonstra o compromisso dos pases que o ratificaram com a reduo da emisso dos gases do efeito estufa (CO2, CH4, N2O, HFC (hidrofluorcarboneto), PFC(perfluorcarboneto) e SF6 (hexafluoreto de enxofre), sendo que o CO2 tem o menor e o SF6 o maior potencial para aquecimento global) (FIESP, 2008), este foram considerados como os causadores antropognicos do aquecimento global (GREENPEACE, 2008). Essa reduo deve ser de pelo menos 5,2% em relao aos nveis medidos em 1990, e acontecer at o ano de 2012. Vrios setores econmicos, principalmente na rea de energia e transporte, devem reduzir a emisso. Os pases devem cooperar entre si por meio das seguintes aes:

reforma dos setores de energia e transportes; promoo do uso de fontes energticas renovveis;

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eliminao de mecanismos financeiros e de mercado inadequados aos

fins da Conveno de Kyoto; reduo das emisses de metano no gerenciamento de resduos e dos

sistemas energticos; proteo de florestas e outros sumidouros de carbono. (POCA, 2008a)

A reduo dos gases deve acontecer nos pases desenvolvidos, j os em desenvolvimento o protocolo no prev um compromisso de reduo, mas devem ajudar os primeiros a cumprirem as suas cotas, isto , os pases ou indstrias que no conseguirem reduzir a emisso podem negociar com os pases atravs dos mecanismos de flexibilizao. Este mecanismo de flexibilizao permite que a reduo da emisso dos gases gere um impacto menor na economia daquele pas, ajudando-o a cumprir a sua meta. Existem trs tipos de mecanismos de flexibilizao: Comrcio Internacional de Emisses (CIE) realizado entre os pases desenvolvidos, no qual um pas tenha reduzido as emisses mais do que a meta exigia, ento transfere esse excedente de reduo para um outro pas que no tenha atingido a meta. Implementao Conjunta (IC) projeto de carter bilateral entre pases desenvolvidos que tenham metas de reduo. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) realizado nos pases que no possuem metas de redues. (MAIA, BOZZA, 2008). O mais conhecido desses trs mecanismos o MDL, no qual pases desenvolvidos, Partes do Anexo I, podem implementar, financiar projetos de desenvolvimento sustentvel e que contribuam para a reduo dos gases, ou ainda, a sua captura, obtendo a Reduo Certificada de Emisses (RCE), ou seja, crdito carbono, emitidos/produzidos em pases em desenvolvimento, Partes No Anexo I. O primeiro projeto de MDL do mundo foi o do aterro sanitrio de Nova Iguau, no Rio de Janeiro, no qual eles realizaram o aproveitamento energtico do biogs, produzido pela decomposio da matria orgnica (NOVAGERAR, 2008), sendo que os seus crditos carbonos foram negociados com a Holanda. Existem cerca de 142 projetos brasileiros registrados no Conselho Executivo do MDL, o Brasil est em terceiro lugar em nmero de projetos registrados perdendo somente para a ndia (348) e para a China (238) (MCT, 2008). 19

O processo de venda ocorre atravsda comercializao de certificados de emisso de gases do efeito estufa em bolsas de valores, fundos ou atravs de brokers, onde os pases desenvolvidos, que tem que cumprir compromissos de reduo da emisso desses gases, podem comprar crditos derivados dos mecanismos de flexibilizao (CARBONO BRASIL, 2008).

Pelo fato de existir esse comrcio h dois tipos de RCEs, as primrias, aquelas que so adquiridas diretamente de quem desenvolveu o projeto de reduo, e as RCEs secundrias que so obtidas de uma empresa que as comprou do desenvolvedor do projeto de reduo, esta empresa pode ter crditos vindos de diversos projetos. Os Estados Unidos, que no ratificaram o protocolo, foi o primeiro a criar uma bolsa de valores para a venda de crditos carbono, a Bolsa do Clima de Chicago (CCX), uma bolsa para aqueles setores, ou pases, que no so obrigados pelo Protocolo de Kyoto a reduzirem as emisses, mas que querem negociar os seus crditos carbono. Um crdito carbono, ou seja, o equivalente a uma tonelada negociada por US$ 1,8 dlar. A Bolsa de Mercados e Futuros (BM&F) de So Paulo lanou contratos para a compra/venda de crditos carbono, para eles como se fosse o surgimento de uma nova moeda, pois quem diminuiu os nveis de emisso de carbono mais do que o necessrio deve negociar essas cotas (POCA, 2008). O crdito carbono aprovado pelo MDL, o RCE, recebe cerca de cinco a seis dlares por tonelada. Em 2007 houve o primeiro leilo de crditos carbono cuja provenincia era de um rgo pblico, a Prefeitura de So Paulo 808.450 crditos carbonos, gerados a partir da conteno do metano do Aterro Sanitrio Bandeirantes. O Fortis Bank da Holanda comprou o lote, com o valor de 16,20 por tonelada, rendendo cerca de R$ 34 milhes. Quem realizou o leilo foi a BM&F. Este ano j aconteceu outro leilo de 713.000 crditos carbonos, estes foram comprados pela Mercuria Energy Trading, Estados Unidos com o valor de 19,20 por tonelada. Toda essa ao financeira deve ser cautelosa poisExiste o risco dos certificados de carbono serem transformadas apenas numa operao financeira para dar lucros aos seus investidores e acabar

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no gerando nenhuma vantagem para o meio ambiente. Isto , se os instrumentos econmicos forem uma promessa de capturar carbono no futuro. (EL KHALILI, 2003)

PARTE 4 A REAL SOLUO CONSIDERAES FINAIS

O elemento fundamental do capitalismo a produo da mercadoria e o seu consumo, e estes se constituem como parte essencial do problema ambiental que hoje existe, pois a natureza reconhecida somente como um recurso, algo passvel de consumo indiscriminado. Essa situao se agrava quando h o consumismo, isto , o consumo em excesso de produtos que no so necessrios para a sobrevivncia do indivduo. Este tipo de comportamento incentivado pela mdia, ao veicular propagandas que vendem no somente o produto, mas tambm o status social que ser obtido ao compra-lo, pois atualmente vivemos em uma sociedade em que ter mais importante do que ser. Na dcada de 70 inicia-se uma srie de encontros, convenes para discutir os impactos ambientais causados pela industrializao acelerada que aconteceu no mundo. Percebeu-se que era necessria uma nova atitude perante essa situao, e o capitalismo sempre em movimento, notou que essa era uma nova oportunidade de negcios.Os desenvolvimentos recentes nos mercados de servios ambientais demonstram a capacidade do capitalismo para criar novos negcios. A receita simples. Primeiro, divulgam-se algumas evidncias sobre a crise ambiental, causada por uma conjugao de pequenas aces individuais. Governantes e ex-governantes, celebridades e cientistas surgem como os protagonistas de uma estratgia que visa explorar os problemas de conscincia dos cidados de pases industrializados. A fase seguinte, uma vez criada a ideia de que todos somos igualmente responsveis pela degradao ambiental1, a de criar um negcio de indulgncias. Com um clique que transfere dinheiro da nossa conta pessoal para uma empresa qualquer, podemos facilmente expiar o nosso sentimento de culpa. A fase final a da distribuio dos lucros pelos especuladores. (COELHO, 2008).

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Muitos acreditam que essa uma nova fase do capitalismo, o chamado capitalismo verde, no qual h uma preocupao dos impactos causados pelas indstrias e seus produtos no meio ambiente. Quando na verdade o tradicional capitalismo fantasiado de verde. No transcorrer do trabalho percebe-se que a realidade um todo complexo, no qual as partes de inter-relacionam, s olh-las atentamente. O Protocolo de Kyoto, cujo texto foi escrito em 1997, prev uma reforma dos setores de energia e transporte, alm da promoo de fontes de energia renovvel, tudo para diminuir a emisso de gases do efeito estufa lanados para a atmosfera. Este Protocolo entrou em vigor em fevereiro de 2005, aps a ratificao em novembro de 2004 pela Rssia. Em dezembro de 2004 Jeffrey Immelt, presidente da GE, anunciou a proposta da Ecomagination para os executivos dessa empresa, essa nova linha de produtos so ambientalmente corretos, isto , visam a economia de energia, de gua, diminuio da emisso de gases do efeito estufa, tudo isso em comparao com os seus similares. O destaque da GE o setor de equipamentos para gerao de energia mais limpa. Isso reflete no total de produtos vendidos da linha Ecomagination, metade de suas vendas provm de equipamentos de energia elica, alm desse tipo de energia a GE desenvolve alternativas com a energia solar. E este um tipo de negcio que tende movimentar muito dinheiro, atualmente cerca de US$ 600 bilhes por ano, pois normas como a do Protocolo de Kyoto incentivam energias alternativas na Europa. "Hoje, somos talvez a maior empresa de energia renovvel do mundo, com faturamento de cerca de 10 bilhes de dlares por ano", diz Immelt. PLANETA SUSTENTAVEL, 2008). Outro setor importante da Ecomagination o de transportes, a empresa afirma ter cerca de 2 mil pedidos de ecolocomotivas e 700 turbinas mais limpas para avies. Assim, coincidentemente, a GE faz uma proposta de produtos verdes, justamente quando o Protocolo de Kyoto entra em vigor, bem quando os empresrios so forados a possurem modos de energia mais limpa. A GE, uma das maiores empresas do mundo, trouxe solues verdes para os problemas ambientais de seus clientes, e tambm como uma nova forma de gerar lucro. 22

Mas a gerao de novas tecnologias, a sua criao, desenvolvimento e instalao possuem um custo, e da onde provem o dinheiro para fomentar essa inovao tecnolgica verde? Uma parte retirada das prprias empresas, mas outra de fundos de investimentos ticos que financiam projetos ticos, tanto socialmente, quanto ambientalmente (SCHARF, 2004). Um dos braos da GE a GE Money (GE Capital, no Brasil), este o setor mais lucrativo da empresa, na verdade a GE a maior empresa de servios financeiros do mundo. A GE Capital, sua subsidiria financeira, uma potncia impressionante, capaz de oferecer desde crdito popular no Brasil a leasings de 1.800 avies para 225 companhias areas ou administrar cartes de crdito para a rede varejista Wal- Mart. (ISTO DINHEIRO, 2008). A GE Money /era um eficiente canal de financiamento para os negcios do setor industrial da companhia. Diz-se /era pelo fato da atual crise econmica em que se encontra o mundo e principalmente os Estados Unidos. Este brao financeiro, que inclui seguro, cartes de crdito, emprstimos pessoais para a casa prpria, registrou o menor lucro por causa da crise. No se sabe ainda se isso afetar o financiamento de projetos para desenvolver ou implementar tecnologias verdes. O recuo da oferta do crdito ocorre em todo o mundo. Cada vez mais o Protocolo de Kyoto, juntamente com as RCEs, demonstra a que veio este mundo, criar uma nova necessidade mundial para que as empresas captassem mais dinheiro. A gegrafa italiana Teresa Isenburg cita o seu pas como exemplo, que passou a investir em MDLs na China e no Marrocos pois no conseguiu diminuir suas emisses, na verdade, as emisses aumentarem. Segunda a pesquisadora o mercado de crdito carbono se tornou um jeito barato de mascarar o problema sem resolve-lo. Se a Itlia fosse reduzir as emisses em seu prprio solo, gastaria 80 euros por tonelada de dixido de carbono, na China esse valor de 3 euros e a Itlia no precisa parar de poluir, afirmou (FAPESP, 2008). Se o aquecimento global fosse um fato o Protocolo de Kyoto em nada ajudaria. Adjetivar as coisas de verdes, ecolgicas, ou ainda, demonstrar que seu consumo ajudar a salvar o planeta virou uma forma de se obter lucro, um tipo de pensamento que foi difundido pelo mundo com o intuito de comrcio, e mesmo que a inteno inicial no fosse, tudo que um capitalista toca pensando em seu benefcio prprio, difcil ter um ato desinteressado, em especial, num mercado dominado por um pequeno grupo de empresas (Bourdieu (2005b), apud, DIAS, 2007:13). A 23

postura tica, ambiental ou social, no provm de um altrusmo, mas sim da oportunidade de se realizar um bom negcio, reforando o lema da GE: Green is Green. O nico meio, vislumbrado at o momento, para deter a explorao exacerbada dos recursos naturais, e evitar o colapso da sociedade que hoje se conhece, por meio da reviso dos padres de consumo de cada um, e isso significa, rever o funcionamento do prprio capitalismo como sistema econmico. No Brasil, e provavelmente em outros pases, essa uma questo delicada pois o consumo est relacionado ao status, faz o sujeito se identificar com a classe mdia. Isso reflete a baixa auto-estima do brasileiro. uma noo de bastardia, um complexo de povo colonizado que se arrasta desde os tempos da Metrpole portuguesa" analisa o socilogo e antroplogo Maurcio Waldman, doutor em geografia (YAHOO NOTCIAS, 2008). A sociedade atual necessita retornar ao bsico, isto , recuperar a sua conscincia crtica, sua capacidade de reflexo, ser capaz de tomar suas prprias decises, reconhecer suas reais necessidades. Retornar ao valor mais bsico, no qual, ser mais importante do que ter. Afinal de contas, o que de fato o status comprar o que voc no precisa, com o dinheiro que voc no tem, para mostrar para aqueles que voc no gosta, aquilo que voc no (INSTITUTO VITA, 2008).

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