cap 2 dejours

Upload: patricia-bello

Post on 05-Apr-2018

245 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/2/2019 Cap 2 Dejours

    1/8

    ~-~-.,.,-.,,--,. ,- ..---~.,.--~- - - _ . _ - - - . _ - - - - - ------~,. ---"--. _ - _ , _ . " , - _ . "" -""- -,---_. ._._,_._Ie- -.-."- __ ..._ :~-:~c . ..- :._ .,--- ---. __. -.- ..~-..~-.-"'-"":'-" - .. -.: . . . . '\suas multiples vanantes, otema da indignidade operana, Sentunento fexperimentado macicamente na elasse operaria: 0da vergonha de ser !robotizado, de nao ser mais que urn apendice da maquina, a s vezes de .ser sujo, de nao ~er mais imaginacao ou inteligencia, de estar desper-sonalizado etc. E do contato forcado com uma tarefa desinteres-sante que nasce uma imagem de indignidade. A. f~ l t_ a ? c_sig:ni?ca~ao,a frustracao narcisica, a inutilidade dos gestos, Tormam, cl.d,? ~or"ciclo,uma imagem narcisica palida, feia, miseravel. Outra vlvencl~. inao menos presente do que a da indignidade, 0 sentirnentode =:"I lidade remere, primeiramente, a fal ta de qualificacao e de .ilna,ll?3.de

    I do trabalho. O'operario da linha de producac como 0 escnturar:o ~eu rn s er vi ce de contabilidade rnuitas vezes nao conhecem _2.. propnasignificacao de seu trabalho em relacao ao conjunto da a~l;'l?:de~aempresa. Mas, mais do que isso, sua taref a nao tern significacaohurnana. Ela nao significa nada para a familia, nern para os arrugos,'. 1 ~ ~ 0 ,-""A~f"\ de ""1 l'rl""I socialnern para 0 grupo SOC Ia e nem par a '-1 '-''''u" L l. w .. ~'~-" ~A~ ,altruista humanista ou politico. Raros sao aqueles que ainda creem .,no mitodo progresso social ou na participacao a uma obra util. C?~- \I relativamente elevam-se queixas sobre a desquaii j icari io. Desqualifi-cacao cujo sentido nao se esgota nos indices enos salari0s.. l'frata-seI mais da imagem de si que repercute do trabalho, tanto mars honr~soI se a tarefa e complexa, tanto mais adrnirada pelos outros se ~la eXlg~.;. :, .j .' urn know-how, responsabilidade, riscos. A v iv en c ia d e pr es s: va _ co~- r

    '. '\"._/ densa de alguma maneira os sentimentos de indignidadc:, ce ~nutl- ,lidade e de desqualif icacao, ampliando-os. Esta depressao e dorninada.. - . d f ro~ Inu,~'ul':lp~spelo cansac;:o. Cansaco que se origrna nao so os es,or y ~ \._ ,,-, '-i " . _ ' t e Dsicossensoria~s que resulta sobretudo do estado dos trabalha-1f ; / ~ . : ~ ; } 1 . 1 . dares tavlorizados. Executar uma tarefa sem investimento n1ater~aV I ou afeti~o exige a producao de esforco e de vontade, em oUl~a:0:-I I cunstancias suportada pelo jogo da motivacao e do desejo. A VI venera

    ~

    l denressiva alimenta-se da sensacao de adormecimento imeleclUal,de' anquilose mental, de paralisia da imaginacao e marca 0 triunt 0 co .condicionamento ao comportamento produtivo. ,,,' _--.,

    No que diz respeito a relacao do homem com 0 co~teudo. slgn!-ficativc" do trabalho, podern-se considerar, esquematl~Inente, dOIScomponentes: 0 conteudo significative em relacao ao Sujeito e con-teudo siznificativo em relacao ao Objeto.Du;ante 0 trabalho,. varies elementos contam na formacao daimagem de si, isto e, do narcisismo:. ','o nivel de qualificacao, de formacao nao e, VIa de regra, sufi-ciente em relacao a s aspiracoes. 0 sojr imento.coJnefG-qlHl.naQ_Cl_evo-l uc ii a d e st a r el ac ii o e bloqueada (22):-

    2Que sofrimento?

    1. Insatisfactio e "conteudo significative" da tare]a

    Urna vez que os sistemas defensives individuais e coletivos naosao superfluos, como sua coerencia interna e a extensao de seu campode aplicacao poderiam indicar, resta descobrir contra 0 que eles saoconstruidos, isto e , sua finalidade. Para ser claro, infel izmente e pre-ciso ser esquernatico. Se, para fins expositivos, 0 sofr imcu: o operariol' dividido em dois componentes isso nao signifies que existarn doisi III';:. d istin ros de sofrim en to . Exisre uma vivcnc ia ;"" ',,. ~uja dcc i-lracao leva a descoberta de varies aspectos. Na vivenci, . no.liscurso dos trabalhadores, descreverernos provisoriamcntc dois' ,\ , I rirnentos Iundameritais organizados arras de CCliS s.m omas: aIlj" 'll:i~ ~fa ~a o e a ansiedade. A insarisfacao, ernoo:a lLir4.~LalrlCnl.edc"ignada em numerosos trabalhos, foi, na verdade, bem P()lXO estu-.I.ida. Se nos referirrnos aos trabalhos sobre este aSSUr1, l> constata-11'11105 que a maioria dos autores interessa-se mais pela questao dasa[ isfacao damotivacao do que pela da insatisfacao. 1550 result a deuiua preocupacao em esclarecerern-se os indicadores dos cornporta-mentes operarios (88). .'

    Do discurso operario podern-se extrair varios ternas que se repeltrru obstinadamente como urn refrao obsessivo. Nao ha um 56 texto: ~nina so entrevista, uma so pesquisa OU greve em que nao apareca, sob ~

    iIIIJ

    49

  • 8/2/2019 Cap 2 Dejours

    2/8

    Na adaptacao do contei:tdo datarefa a s competencies reais dotrabalhador, 0sujeito pode encontrar-se em situacao desubempregode suas capacidades ou, ao contrario, em situacao muito complexa,correndo assim 0risco de urn fracasso.Sucesso ou fracasso de urn trabalho obrigat6rio: sucessos reais,socialmente reconhecidos ou efetivamente desconhecidos nao causamo mesmo impacto sobre 0narcisismo.No conteudo significative do trabalho em relacao ao sujeito,

    entra a dificuldade pratica da tarefa, a significacao da tarefa acabadaem relacao a uma profissao (nocao que contem ao mesmo tempo aideia de evolucao pessoal e de aperfeicoarnento) e 0 estatuto socialimplicitarnente Iigado ao posto de trabalho deterrninado.o conteudo significative do trabalho em relacao ao objeto: aomesmo tempo que a atividade de trabaiho comporta uma significacaonarcisica, ela pode suportar invest imentos simbolicos e rnateriais des-;tinados a urn outre, isto e , ao Objeto. A tarefa pode tambern veicularuma mensagem simbolica para alguem, ou contra alguern. A atividadedo trabalho, pelos gestos que ela implica, pelos instrumentos que eiamovimenta, pelo material tratado, pela atmosfera na qual ela opera,veicula urn certo numero de sirnbolos. A natureza e 0 eneadeamentodestes sirnbolos dependem, ao -mesmo tempo, da vida interior dosujei to, isto e , do que ele poe, do que ele introduz de sentido simbo-lico no que 0 rodeia e no que ele faz. Todas estas significacoes con-cretas, e abstratas organizam-se na dialetica com 0 Objeto. Objetoexterior e real por urn lado, objeto interiorizado par outro, cujo papeJc decisi vo na vida. Acontece inevitavelmente que 0 interlocutor inte-rior e os personagens reais que 0 t rabalhador encontra opoern-se.Responder a urn, nao implica necessariarnente em responder simulta-ncamente ao outro. Estender-se mais sobre este assunto conduziria;1 mergulhar em generalidades. A significacao em relacao ao Objetof \ < ' ) e em questao a vida passada e presente do sujeito, sua vida intimal' sua historia pessoal. De maneira que, para cada trabalhador, estadi a letica do Objeto e especifica e unica.Separar assim conteudos significativos em relacao ao sujeito e aoobjcto e naturalmente arbitrario, na medida em que as regras de trocade investimento nao se deixam assim separar. De fate, toda atividade.)contem os dois termos. 0 investimento narcisico 56 pede renovar-se ~gracas ao investimento objetal e vice-versa. A complexidade do pro- ;blcma provem do fato de que 0essencial da significacao do trabalho }r subjetivo. 'Se uma parte desta relacao e consciente, esta parte naof mais do que a ponta do iceberg. A significacao profunda do tra-]balh!) para cada individuo so pode ser revelada por tecnicas parti-;

    /

    ~.culares (psicanalise individual). ~6s nos limitaremos, entao, a reco-\.:..~.. ,~~ . ., nhecer a Iugar importante da vida interior e subjetiva, mesmo se sopodemos apreende-la atraves de seus efeitos indireitos e concretes.Sabemos tambem que a decifracao desta relacao com as camadas pro-fundas da vida mental nao pertence a psicopatologia do trabalho.Entra em consideracao, no conteudo significative do trabalho emrelacao ao Objeto, a producao como Iuncao social, economics e poli-tica.Mesmo se 0 engajarnento pessoaJ no objet ivo social da producaonao e possivel, nao ha jarnais neutralidade dos trabalhadores emrelacao ao que eles produzem. Receber uma peca bern preparada, coo-fia-la bern montada ao onerario Que a recebera em seguida , pedepor ern jogo relacoes cornplicadasj'A colet ividade operaria sabe quaissao os postos mais duros e quais''-6s mais tranquilos. Ser colocado

    . . .i' -em um posto de t ra ba lh o p a rt ic ul ar rn e nt e duro tern um a s ignmcacaoem re lacao aos colegas, nao so do ponto de vista da p ro ducao m astarnbern do ponto de vista da ordem e da disciplina na e rn p re sa . T alposto equivale a "ser protegido do chefe" ou, ao contrario, "ser suavitima". 0 proprio posto de trabalho tern assim uma significacaoem relacao aos conflitos da oficina ou da fabrics, da mesma manei~aque as mudancas de posto, tern urn valor em re lacao as lutas atuaisou latentes. Resta a significacao das relacoes do trabalho fora dafabric~A tarefa nao e nunea neutra em relacao ao meio a~etivo dotrabalhador; el e pode falar de sua tarefa ou de ve c a la r -s e : as vezes,i: precise esconder dos outros 0 conteudo de seu rraba lho: por exem-.plo, os trabalhadores que inalarn 0 hexaclorociclohexano nao r odemlivrar-se do cheiro nauseabundo d e seu halite. de scu suor nos quaiso produ;c eiimir.a-se. All' no lei io conjugal , 0 cheiro permanece li-gado ao corpo como urna s or nb ra i rn po ss iv el de se r mascarada. fontcde vergonha e obstaculo para a vida aferiva e sexual. Resta. cnfirn, 0~alario, que content nurnerosas significacoes: prirne iramente concrctas( su S T e i\ c a r " '. . a" ierias, pagar as mcihonas 0';1 casa, fpagar as dividas) mas tambern mais abstratas na medida em que 0 ~salario conte rn sonhos, fantasias e projetos de realizacoes possiveis, INo caso inverse, 0 salario pode veicular todas as significacoes nega-t ivasque implicam as limitacoes materiaisque ele impoe.lFadiga, cargo de trabalho C ? insatisfaciio, A o in ve s de fazer refe-rencia a nocao de carga psiquica do tntbaIho .que corresponde, antesde tudo, a preocupacao em apresentar uma conoepcao coerente coma ergonomia contemporanea, e melhor interrogar-se sobre 0 custohumano da insatisfacao. A organizacao do trabalho, concebida porurn servico especializado da empresa, estrariho aos trabalhadores,choca-se frontalrnente com a vida mental c, rnais precisamente, com

    51

  • 8/2/2019 Cap 2 Dejours

    3/8

    : r~:~~~I~~:~~~~~S~=;~~~ti~~~;~~. a ~ : ~ - - - l = c = ' = ~ : C ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ : ~ : ~hoje, rege as tarefas muito qualificadas, uma parte da organizacao do' do trabalho.trabalho provern do proprio operador. A organizacao temporal dotrabalho, a escolha das tecnicas operatorias, os instrument os e osmateriais empregados permitern ao trabalhador, dentro de certoslimites e claro, adaptar 0t rabalho as suas aspiracoes e as suas cornpe-rencias. Em t e r rnos de economia psiquica, esta adaptacao espontaneado trabalho ao hom em corresponde a procura, a descoberta, aoemprego e a experirnentacao de urn compromisso entre os desejos e arealidade. Em tais condicoes, podernos perceber urn movirnenro cons-ciente de iura contra a insatisfacao oucontra a indignidade, a inuti-lidade, a desqualificacao e a depressao, gracas aos privilegios de umaorganizacao do trabalho deixada, em grande pane, a discrecao dotrabalhador. Num trabalho rigidarnente organizado, mesmo seele naofor muito dividido, parcelado, nenhuma adaptacao do trabalho apersonalidade e possivel . As frustracoes resultantes de urn conteudosignificative inadequado as potencialidades e a s necessidades dapersonalidade podem ser uma fonte de grandes esforcos de adaptacao.Mesmo as mas condicoes de trabalho sao, no conjunto, menos temiveis.do que u m - a organizacao de trabalho rigida e irnutavel.D sofrim~!UQ_~_9~rn~a.q,uando_a-re1a9AQJ12J!lem_:QrZ?J:!izafaOdo trabalhoesra blo- \g1!~ada;quando o , Jr ;: ;P ? I h '! .q Q L _ _U?Oll. 0 -rri~ximo~-desuas'faculd~d~s' t Y - .iI1~~lectuai~, psicoafetivasrde apre.nalZa~emeg~_--?~ip~9!~:-Quando \\t)um trabalhador usou de tudo de que dispunha de saber e de poderna organizacao do [;abalho e quando ele niio pode mais mudar de.areja: j3L", C, q ; _ ; _ a : - 1 C 1 C forarn esgot2:2':'5 rneios de defesa contra a-exigencia fisica. Nao sao tanto as exigencias memais ou psiquicas dotrabalho que fazem surgir sofrirnento (se bern que este fator sejaevidentemenre importante quanto a impozsibilidade de toda a evolucdoen; dire. :: ;" ' -0 sc: clivic. A certeza CE7:![ ' (l nivel atingido deinsatis- jfacao ruiopode mais dimil i i i lr i i iafcaUi:7Jmefo-(fo-soTrli i ignto.- , - - - D a - a - r i a - l i s e do'conte(ldosTgnificiri;;o do trab3Jho,-~ precise retera antinornia entre satisfacao e organizacao do trabalho. Via de regra,quanta mais a organizacao do trab_gJhQ_e rigida, mais a divisao d

  • 8/2/2019 Cap 2 Dejours

    4/8

    entretanto, fazer 0 balance nao mais dos eiementosda analise doposto global, a avaliacao e muito mais complexa.A pesquisa de urn indicador global de melhoria das condicoesdo trabalho teria u .ma utilidade que nem e neeessario demonstrar. Umacornparacao tornada da patologia medica, poderia i lustrar este pontode vista. Por exemplo, urn doente hospitalizado com urgencia comuma dor abdominal aguda. Apos administracao de rnorfina, a dordesaparece enquanto 0doente parece aliviado; mas ele morre algumashoras rna i s tarde de uma hemorragia interna por perfuracao de ulceraduodenal. Se se limitar 0 balance da intervencao medica a comparacaode urn elernento da analise da situacao, a dar, este balance e positive;ao contrario, se se tamar urn ponto de vista global, a intervencao me-dica e nefasta pois 0alivio dado ao doente, fazendo desaparecer a dor ,elernento necessario ao diagnostico de ulcera perfurada, precipitouurn homem na morte. Volternos it intervencao ergonomics: 0 indicadorglobal de melhoria das condicoes de trabalho que perrnitiria julgar aeficacia da ergonomia nao existe ate hoje (74). Por falta deste indi-cador, alguns autores sublinhararn a dificuldade em avaliar a eficaciada ergonomia e das disciplinas do homem no trabalho (97). No estadoatual desta questao, parece-nos fundamental nao negligenciar a apre-ciacao dos trabalhadores sobrea intervencao ergonornica e de nospor a escuta de sua "vivencia subjetiva" antes e depois da intervencao.Por que escolher a vivencia subjet iva dos trabalhadores? Esta escolhanao pretende resolver a questao de urn indicador global de melhoriadas condicoes de trabalho. Nossa perspectiva aqui e citada somentepelo interesse que nos conferirnos a relacao saude-trabalho. Sob estao tica con ta . acim a de tudo. a condicao do trabalhador . Esta , comoveremos, nao varia sernpre no mesmo sentido que as condicoes dotrabaiho . Para os psicopatologistas do trabalho, como para 0 traba-lhador. a vivencia subjetiva i: urn objeto privilegiado d e analise cuen()~ leva. rnuitas vezes. a entrar em contradicao com os eSDecialis'tasdas condicocs de trabalho, isto e, 0 ergonornista ou 0 enzenheiro dep_f?dU\;ao._A aten~ayao do barulho que rein a numa oficin; por dispo-SJIIVOS de insonorizacao eficazes leva, a s vezes, a resultados curiosos:os trabalhadores exprimern seu descontentamento acusando as novascondicoes de trabalho de aumentar seu cansaco, Isto resulta, de fato,do desaparecimento de urn estimulo sensorial (barulho) util a manu-tcncao da vigilancia necessaria, por exemplo, para a observacao sobrel ima tela de visualizacao (60)~Este fenomeno foi com certeza estudadopclos ergonomistas, mas sua atencao teria sido chamada da mesmaj011H:t se os trabalhadores MO se tivessem queixado? Numerososr xcmplos sirnilares na pratica mostram que nao e sernpre rnuito facil

    : : ~ : : :~ : : - . t = = = : : _ : :_ - = : : = : ~ . : . : : : = - . : .: ~ - . : . :~ = _ _ : . t ; . : . :: : :: : - :- : : :: - : - - == -- - - : :_ = - -= - - -: -: :- -- - - - - - - - -- - - . - . -- - - - - - .- - - _ -_ - -- _prever os efeitos de uma "rnelhoria objetiva~ascondic;5esdetra-balho. Isto confirrna, a nossos olhos, 0 interesse que 0medico ou 0psicopatologista deve ter pela "vivencia subjetiva" dos trabalhadores.Comefeito, esta ultima reflete, rnuitas vezes, urna apreciacao "globaldos efei tos da intervencao ergonomica que vai direto ao objetivo":Mas ha tambern casos em que a avaliacao subjetiva co s trabalha-dores opoe-se ao ponte de vista medico-sanitarioAccirn, urn ope-rario que utiliza 0 t ricloroetileno para dissolver a graxa escondida nasdobras cutaneas acha que e vantajoso conservar este habito enquantoque 0medico do trabalho sabe a nocividade desre produto para o or-aanismo. Ao contrario, acontece , a s vezes, de urn doente queixar-semais de seu estado quando sua sa ud e esta melhorando. E m certo scasos, ate, quando urn doente corneca a protestar, a defender-so e aqueixar-se, e porque precisamerue ele esta melhor. A revolta assinalauma melhoria de seu estado.De maneira que se referir it "vivencia subietiva" rem sempre 0r isco de induzir tambem em certos erros. Para levantar este obstaculo,pode-se recorrer it vivencia subjetiva coletiva, Com efeito, a discor-dancia "vivencia subjetiva" - "estado de saude" e observada sobre-tudo na economia individual de urn sujeito. Ao contrario, do grupoemana,em geral, uma vivencia subjetivacoletiva que envolve as va-riacoes individuais,Em materia de intervencao ergonomica, convem distinguir vi -vencia subjetiva a curto prazo e vivencia subjetiva a longo prazo: ebastante f requente que, num primeiro memento, os operarios experi-m en tern tim ben eficio real da inte rvencao ergonomica: m elhoria ciapostura de trabalho, diminuicao das lornbalgias, faciliiacao de ur ntrabaiho de precisao at.raves de uma iluminacao mais racional c.c.Estas vantagcns que sao inegaveis contituern 0 que poderlamos charnarde =positividade da pratica ergonomica":Entretamo, 0 rnais frequente e que 0 sentirnento de rnelhoria c deahvio ccsraz-se basram e rap idam cn tc, a s v ezc s er n a lg un s d:~:':

  • 8/2/2019 Cap 2 Dejours

    5/8

    -~--F-:'-."--~-._...-----.... .-q.-~:... - " - ~ . - - . . ~ - " -~~ . - . - - . - . _apreciada pete operador. Masapos urn mes de trabalho, ele nao ternmais consciencia desta melhoria e, para falar ao interlocutor, ele ternque evocar a lembranca do momenta desta substituicao do assento,pois esta melhoria nao e mais perceptivelatualmente. Este elernentode "habituacao" desempenha certamente urn papel na obsolescenciacia vivencia da melhoria e do alivio, Todavia, ha casos em que nao seobserva uma tal diminuicao da sensacao, apesar do que afirmam ospsicoffsicos. Eo esgotarnento psicofisico da sensacao nao e suficientepara dar coma do fenorneno observado.A intervencao ergonornica, com efeito, pode libertar urn operadortI,. ' lombalgias relativas a uma torsao da col una por defeito de pos-/ :1 ' :~, Aliviado desre mal. ele aprende, pouco a p.lUCO, a conhecer uma.uura dar que tornou lugar da precedente: cervicalgia, par exemplo,till relacao com a posicao da cabeca e a distancia olho-tarefa. E que,.uucriorrnente, as do res lc rn bares arin gia rn urn tal nive l de intensidade'I'll' ocultavam as dares da nuca. Assirn, a subtracao de uma exigenciatltl t rabalho pode revelar uma violencia mascarada, subjacente. Assim\()!I10S levados a adrnitir a existencia de uma especie de edificio estra- .tl.'.lc..ado de prejuizos hierarquiza. dosorlQuando se faz desaparecerem os .\J IIejuizos que ocupam 0alto cia hierarquia sintomatica, faz-se as vezesnparecerem os de urn nivel inferior e assirn por diante, 0 inconveniente .tla intervencao ergonornica e sua acao limitada. Em todo caso, ela sot'Illlseguealiviar parcialmente os trabalhadores e este e , provavelmente, :() limite ultimo da acao ergonomica. Isto pode explicar, em parte, a,qlJl'l'ia

  • 8/2/2019 Cap 2 Dejours

    6/8

    ricao do episodic agudo. Este homem ocupava ha cerca de dez anos urnposto de chefe de armazem numa fabriea de sua regiao. Contramestre,sua funcao era de organizar e de controlar 0 trabalho de uma equipede urna duzia de operarios. Entretanto, ele punha a mao na massa e,alem de suas funcoes de vigilancia, assumia urn trabalho equivalenteao dos operarios que ele dirigia. Sua esposa, gerente de urn salao debeleza, insistia, havia varies meses, com seu marido para que eleabandonasse seu ernprego por uma profissao mais "respeitavel".Diante do esforco conjugado de sua mulher e de seus amigos, 0 pa-ciente havia finalmente renunciadc, a contragcsto, a seu trabalho nafabrics para aceitar urn ernprego numa cornpanhia de seguros. La,

  • 8/2/2019 Cap 2 Dejours

    7/8

    por urn estado deansiedade raramentetraduzido em palavras, rara- .\ *mente precisada, raramente explici tada pelo proprio trabalhador.Para esquematizar esta relacao sutil entre 0conteudo ergonornicodo trabalho e a estrutura da personalidade, podernos tomar, no tra-balho, tres co.mponentes principals. 0 primeiro e relative as exigenciasde ordem fisica e psicomotora. Outras sao de ordem psicossensorial eas ultirnas sao de ordem intelectual: toda carga de trabalho supoe umacornposicao especif ica de cargas elementares dependentes de cada urndesies setores. A atividade intelectual nao escapa ao esquema de queialarnos. Certos sujeitos apresentarn aptidoes particulares no campoci c raciocinio intelectual logico e racional. Estes s uje it os te rn , antes delL~":'.uma predilecao pelas atividades mentais de upo maternatico,, x : > : : : calculo, a econometria, a contabilidade etc, mais do que par ati-,dades intelectuais que necessitem de faculdades imaginativas, inven-uvas ou criativas. Alguns dentre estes encontram nas atividades inte-iecruais deste tipo e, portanto, nas profissoes de caraier social geral-mente elevado, uma via privilegiada para descarregar suas necessidadesde atividade, Se, ao mesmo tempo, eles nao tern aptidao particularpara a producao de fantasias 0 devaneio e a imaginacao, a atividadeinrclectual na base de sua tarefa profissional toma urn carater deuecessidade para seu equilibrio mental. Tais personalidades se fazemuotar, desde muitos jovens, nao apenas por suas aptidoes para os,",; udos, mas igualrnente pela ausencia de fracasso ao longo de urn\lIr~:O que parece poder se desenvolver sem nenhum incidente. Contra-I I;t: nente ao que .sepoderia crer , a maioria dos sujeitos que apresentarnIi " .al perf il de carreira sao, mental e scmaticamente, relativarnente

    , ': '" S e l he i nte rd ita re rn 0 traba lho , se f'orern v itirn as de u rn ~~

  • 8/2/2019 Cap 2 Dejours

    8/8

    . - "inteiramente 0 trabalhadore sua personalidade a prova de uma reali-dade material, primeiramente, 0 confli to nao e outro senao 0 queopoe ohomem a organizacao do trabalho (na medida ern que 0 con-tendo ergonomico do trabalho resulta da divisao do trabalho).No centro da relacao saude-trabalho, a vivencia do trabalhadorocupa u rn I ng ar part icular que the e conferido pela posicao privilegiada

    do. aparelho psiquico na ec~nomia psicossornatica. 0 aparelho psi-qUlCOsena, de alguma rnaneira encarregado de representar e de fazertriunfar as aspiracoes do sujeito, nurn arranjo da realidade suscetivelde produzir, simultanearnente, satisfacoes concretas e simbolicas .. ~ ~ _ : ; q _ { i s _ [ a _ ( ; J j e sconcretas dizern respeito a protecao da vida, aohun-estar f is ico. oiologico enervoso. iSIO e . a saude do corpo. Estas-at isfacoes concretas analizam-se em terrnos de economia psicossorna-IIG, segundo duas linhas diretriz~~:.s:.lbtrair 0corpoa nocividade doIIab~l~,?,.e permitir ao corpo'entregar-se a ati\'idade"capaz-d~"ofercer;t~. viasrnelhor adaptadas a descarga da energia. Isto e: fornecer ati-v i?,ades. fi~:._~~I1~~~ais __~_~telr;.l:tuais.-segundo ..p.tQP6..i:~6es_.que,_es-I(J;:t!1)_~~2_~~.?E~~!:~i.?-_"S:.~!D.aeconomia.psicossomaticg.ind] vic iu';l,. r . .15:.gf is [f ! i t?~~_sJ! !?fJ6I icas: desta vez, trata-se da yi!:~nfia--ql~~lf~Iuiva da tarefa. Eo sentido, a significacao do trabalho que import amlias su~sr~I'l.s:ge~eQro.o~desejo. Nao e mais questao das necessidades,'(11110 no caso do corpo, mas dos desejos ou das motivacoes. Isro.k-pcnde do que a tarefa veicula do ponto de vista simbolico, -----

    Assirnrseparar os dois seiores da satisfacao corn C) trabatho e umaIW'c\sidad.e de exposicao. Mas c o rn p re en d er emo s f ac ilm en te que as,;fll',;ts mtrmcarn-se de rnane ira rnuito ma is c or n pl ex a na realidade de'iltla ,