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Boletim Criminal Comentado – maio 2018 (semana 3) 1 CAO-Crim Boletim Criminal Comentado - maio 2018 (semana 3) Subprocuradoria-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais Mário Luiz Sarrubbo Coordenador do CAO Criminal: Arthur Pinto de Lemos Júnior Assessores: Fernanda Narezi Pimentel Rosa Paulo José de Palma Ricardo José Gasques de Almeida Silvares Rogério Sanches Cunha Analista de Promotoria: Ana Karenina Saura Rodrigues

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Page 1: CAO-Crim · 2018-05-21 · Boletim Criminal Comentado – maio 2018 (semana 3) 6 Ap. nº 0035770-25.2012.8.26.0005, da Comarca de São Paulo, DESERÇÃO - PREPARO –QUEIXA-CRIME

Boletim Criminal Comentado – maio 2018

(semana 3)

1

CAO-Crim

Boletim Criminal Comentado - maio 2018

(semana 3)

Subprocuradoria-Geral de Justiça de Políticas Criminais e Institucionais

Mário Luiz Sarrubbo

Coordenador do CAO Criminal:

Arthur Pinto de Lemos Júnior

Assessores: Fernanda Narezi Pimentel Rosa

Paulo José de Palma Ricardo José Gasques de Almeida Silvares

Rogério Sanches Cunha

Analista de Promotoria: Ana Karenina Saura Rodrigues

Page 2: CAO-Crim · 2018-05-21 · Boletim Criminal Comentado – maio 2018 (semana 3) 6 Ap. nº 0035770-25.2012.8.26.0005, da Comarca de São Paulo, DESERÇÃO - PREPARO –QUEIXA-CRIME

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Sumário

ESTUDOS DO CAOCRIM.........................................................................................................................03

1 – Deserção no processo penal e na Lei 9.099/95................................................................................03

2 - Audiência de custódia. Art. 8o. da Res. 213 CNJ. Não proibição de as mídias da apresentação

acompanharem o processo....................................................................................................................06

STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM.....................................11

PROCESSO PENAL

1 - Lei 10.446/02. Atribuições da Polícia Federal e a competência estadual..........................................11

2 - Nomeação do Núcleo de Prática Jurídica em juízo. Desnecessidade da juntada de procuração.

Inaplicabilidade da Súmula 115/STJ.......................................................................................................12

3 - Pena restritiva de direitos e execução penal provisória....................................................................13

PENAL

1 - Princípio da insignificância e pesca no período defeso......................................................................15

2 - Crime do art. 54 da Lei n. 9.605/1998. Natureza formal do delito. Realização de perícia.

Desnecessidade. Potencialidade de dano à saúde.................................................................................16

STF/STJ: Notícias de interesse institucional..........................................................................................18

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ESTUDOS DO CAOCRIM

1 – Deserção no processo penal e na Lei 9.099/95.

Nos termos do art. 806 do CPP, nas ações intentadas mediante queixa, nenhum ato ou

diligência se realizará, sem que seja depositada em cartório a importância das custas.

Observa-se, desde logo, que a exigência das custas para a realização de alguma diligência

refere-se, apenas, às ações penais de iniciativa privada (exclusivamente privada ou

personalíssimas). Nas ações penais públicas – condicionadas ou incondicionadas –, não se

exige o prévio recolhimento de custas para que alguma diligência seja realizada (art. 804 CPP).

Tampouco há de se reclamar esse pagamento quando se tratar de uma ação penal privada

subsidiária da pública, na qual o particular, face à inércia do Ministério Público, assume a

titularidade do pedido, substituindo o parquet, exercendo verdadeira atividade estatal.

O §1o. do art. 806 importa em exceção à regra do caput, ao autorizar a realização o ato, sem

o recolhimento das custas, desde que pobre o réu. A forma de demonstração da pobreza é

aquela prevista no art. 32, § 2º, do código, isto é, por meio de atestado lavrado pela

autoridade policial. A prova da pobreza pode ser realizada por outras formas, como, opor

exemplo, pela juntada de um holerite. Ou mesmo por singela declaração do postulante,

conforme previsto no art. 4° da Lei n° 1.060/1950.

A despeito dessa observação, a jurisprudência consolidada no STJ é no sentido de que, embora

pobre, deve ser imposta ao réu a condenação ao pagamento das custas processuais,

suspendendo-se, porém, a obrigação pelo prazo de cinco anos, enquanto perdurar a pobreza,

no aguardo da prescrição (STJ – AgRg no ARESsp n. 254330- MG – Rel. Marco Aurélio Bellizze,

j. 19.03.2013, DJe 25.03.2013). E o momento de verificação da miserabilidade do condenado,

para fins de suspensão da exigibilidade do pagamento, é na fase de execução, visto que é

possível que ocorra alteração na situação financeira do apenado entre a data da condenação

e a execução do decreto condenatório (STJ – AgRg no AREsp n. 394701-MG – Rel. Rogério

Schietti Cruz, j. 21.08.2014, DJe 04.09.2014).

Nos termos do §2o. do art. 806, a falta do pagamento das custas, nos prazos fixados em lei, ou

marcados pelo juiz, importará renúncia à diligência requerida ou deserção do recurso

interposto.

Estamos com parte da doutrina que identifica essa necessidade apenas em relação ao

querelante, não se estendendo ao querelado. Redundaria mesmo em franca violação ao

princípio da ampla defesa e do contraditório impor-se ao querelado tal exigência. Mesmo a

deserção decorrente da falta de preparo do recurso, tratando-se de recurso do querelado,

não deve ser declarada, por afrontar o princípio que assegura o duplo grau de jurisdição. É

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que, no fundo, o querelado nada mais é do que o réu, só recebendo este nome por se tratar

de uma ação penal privada. E, como tal, deve ter preservado todos os direitos inerentes a todo

e qualquer acusado, sem qualquer espécie de restrição. Não é, porém, o que pareceu ao STJ

(STJ – HC n° 82856-SP, Rel. Laurita Vaz, j. 17.02.2009, DJe 16.03.2009).

O promotor de Justiça Florindo Camilo Campanella, 3º Promotor de Justiça do JECRIM da

Capital, em sede de parecer na Apelação n. 1001252-75.2017.8.26.0050 – Colégio Recursal,

defendeu – e explicou – a deserção nos Juizados Especiais, valendo transcrever sua valiosa

manifestação:

“Efetivamente, no Juizado Especial Cível não se exige o recolhimento das custas iniciais, tanto

nos processos de conhecimento, como nas execuções de título extrajudicial, por força do

disposto no art. 54 da Lei nº 9.099/95. Porém, o parágrafo único do mesmo artigo define que

o preparo do recurso será completo, incluindo aquelas custas dispensadas inicialmente.

Assim, a ideia da gratuidade do processo perante o Juizado é tão somente para o 1º Grau,

buscando a satisfação da obrigação de forma simples e rápida, sem maiores ônus às partes.

Quando, porém, uma delas não aceita a conciliação ou a decisão do Juiz singular, provocando

o recurso, deverá necessariamente arcar com as despesas processuais e honorários

advocatícios, se ficar vencido. E nessa condição, indispensável o regular e tempestivo preparo,

sob pena de deserção.

Efetivamente, a Lei Estadual nº 11.608/2003 estabeleceu que o recolhimento das custas será

feito em três momentos. Na distribuição da ação será recolhido 1% sobre o valor da causa.

Para o recurso é exigido o recolhimento de 2% sobre o valor da causa ou da condenação. Por

fim, satisfeita a execução, será recolhido 1%, do valor executado.

Determina, no entanto, o § 1º, do art. 4º, da Lei Estadual, que: “Os valores mínimo e máximo

a recolher-se, em cada uma das hipóteses previstas nos incisos anteriores, equivalerão a 5

(cinco) e a 3000 (três mil) UFESP, respectivamente...”

É clara a letra da lei ao dispor que o valor mínimo do recolhimento será considerado em cada

uma das hipóteses previstas. Logo, ao fazer o preparo o recorrente deverá recolher novamente

o valor mínimo definido, ainda que já tenha feito esse recolhimento na propositura da ação

em razão do pequeno valor da causa.

E, como é sabido, no processo do Juizado Especial o parágrafo único do art. 54, da Lei nº

9.099/95, ordena que o preparo “compreenderá todas as despesas processuais, inclusive

aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição”, ou seja, o Recurso só poderá ser

admitido quando o Recorrente fizer o pagamento das custas que deveriam ter sido recolhidas

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e não foram, porque em primeiro grau de jurisdição não se exige o seu pagamento (art. 54,

caput), somadas àquelas de “incidência em segundo grau de jurisdição”.

Nota-se, assim, que a interpretação não pode ser outra, “data venia”, quando determina a lei

que o preparo deve compreender todas as despesas processuais.

Ora, no caso dos autos não houve o devido preparo, razão pela qual o Recurso deve ser julgado

“deserto”.

Por último, vale lembrar que a Colenda Primeira Turma Criminal do I Colégio Recursal da

Capital decidiu, por maioria de votos, em v. acórdão em que foi Relator o Eminente e Culto

Magistrado SILMAR FERNANDES, na Ap. n. 989.10.007410-3, j. em 25.10.2010, pela

“deserção” do Apelo da Querelante.

A corroborar, o Supremo Tribunal Federal em recente julgado oriundo de São Paulo, onde o

disposto na Lei Estadual n. 11.608/2003 foi devidamente analisado, decidiu pela necessidade

de recolhimento do valor da taxa judiciária quando da interposição de recurso nos casos do

Juizado Especial Criminal, “in verbis”:

“A Turma Recursal considerou a apelação deserta, pois o recolhimento da taxa judiciária

ocorreu em desconformidade com o disposto na Lei Estadual 11.608/2003. (...) Não vislumbro,

na hipótese, a possibilidade de concessão de medida liminar, dada a ausência dos requisitos

inerentes à tutela pretendida. O acórdão recorrido julgou deserto o recurso, pois interposto

em 05 de julho de 2004, a taxa judiciária somente foi recolhida em 04 de maio de 2005, em

descumprimento do disposto no art. 4º, §9º, “b”, da Lei Estadual 11.608/2003. Verifica-se,

porém, que, segundo o citado dispositivo legal, a isenção do pagamento da taxa judiciária

somente se aplica às ações penais de competência do Juizado Especial Criminal em primeiro

grau de jurisdição. Fora tal hipótese, em primeira análise, a taxa judiciária deve ser recolhida

no momento da interposição do recurso. Independentemente de intimação. O questionamento

da exigência da taxa judiciária com base nos princípios do duplo grau de jurisdição, da ampla

defesa e do contraditório é incompatível com o caráter excepcional da medida liminar,

somente justificável nos casos de flagrante coação ilegal. Isso posto, ausentes os seus

requisitos viabilizadores, indefiro o pedido de medida liminar. Publique-se. Brasília, 24 de

agosto de 2.006. [g.n.] (Rel. Ministro RICARDO LEWANDOWSKI – HC 86264 MC/SP – São Paulo

– DJU 31.8.2006).

Aliás, os Colégios Recursais da Penha de França, na Capital e de Sorocaba vem declarando

“desertos” Apelos onde não foram recolhidos os valores da taxa judiciária e do porte de envio

e retorno, conforme as seguintes ementas:

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Ap. nº 0035770-25.2012.8.26.0005, da Comarca de São Paulo, “DESERÇÃO - PREPARO –

QUEIXA-CRIME - Valor não recolhido – Descumprimento dos artigos 4º, parágrafo 9º, alínea

“b”, da Lei Estadual nº 11.608/03 e do artigo 806, parágrafo 2º, do Código de Processo Penal

–- Deserção configurada – Recurso não conhecido” (Rel. MM. Juiz Carlos Alexandre Böttcher,

j. 13.02.2014);

Ap. nº 0030000-40.2011.8.26.0602, da Comarca de Sorocaba, “Queixa-crime – Exigência de

recolhimento do valor do preparo, nos termos do artigo 806, parágrafo 2º, do Código de

Processo Penal, c.c. o artigo 92 da Lei nº 9.099/95 – Consonância do artigo 4º, parágrafo 9º,

da Lei Estadual nº 11.608/2003 – Deserção caracterizada – Não conhecimento do recurso”

(Rel. MM. Juíza Adriana Tayano Fanton Furukawa, j. 17.3.2014).

No mesmo sentido, vem decidindo, reiteradamente e por unanimidade, a Colenda 2ª Turma

Criminal do Colégio Recursal Central desta Capital.

E a Colenda Segunda Câmara Criminal Extraordinária do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado

decidiu, por unanimidade, na Ap. n. 0347656-65.2009.8.26.0000, de São Paulo, em v.ac. de

26.7.2013, em que foi Rel. o Eminente Des. AGUINALDO DE FREITAS FILHO, por não conhecer

recurso do Querelante, para lá remetido por esta Turma Recursal, extinguindo o feito sem

julgamento de mérito, de vez que não houve o devido preparo, conforme comprova a ementa

então editada, “in verbis”:

“CALÚNIA, INJÚRIA e DIFAMAÇÃO. Apelação interposta em face da decisão de rejeição da

queixa-crime. Ausência de preparo. Apelação deserta - Falta do pressuposto processual do

preparo. Apelação não conhecida”.

Ante o exposto, embora tempestivo, é de ser declarado “deserto”, “data venia”, o presente

Recurso, impedindo, assim, o exame do mérito do inconformismo do Apelante.

2 – Audiência de custódia. Art. 8o. da Res. 213 CNJ. Não proibição de as mídias da

apresentação acompanharem o processo

Provocado pelos promotores de Justiça da Capital – Barra Funda -, o CAOCRIM firmou

entendimento de que o material de gravação da audiência de custódia deve integrar o bojo

dos autos, ficando à disposição das partes (acusação e defesa).

Não se ignora que audiência de custódia foi criada, precipuamente, para tratar da legalidade

e da necessidade da prisão, sem qualquer incursão no mérito do caso penal (art. 8o., incs. V e

VIII, e §1o., da Res. 213 CNJ).

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Porém, a solenidade de apresentação não deixa de ser importante ato judicial, submetido,

inclusive, ao sistema bilateral, que deve integrar o devido processo legal, revelando às partes

seu conteúdo. Nesse sentido, aliás, se posiciona Caio Paiva, Defensor Público federal: “não

vejo motivo e considero até mesmo impertinente se proibir a juntada dos autos da audiência

de custódia em apenso aos autos do processo principal, e isso porque o devido processo legal

e a garantia da publicidade dos atos processuais não devem conviver com pronunciamentos

ocultos”1.

Com a mesma sinceridade que se reconhece inadequado discutir o mérito da imputação na

audiência de custódia, mais inadequado parece vedar o acesso das partes (acusação e defesa)

ao seu conteúdo. Nesse tanto, merece ser lembrado que o contraditório é constituído dos

direitos de informação, reação, participação, influência e não surpresa.

Nem a Resolução 213 CNJ, nem os mandados internacionais que serviram para a criação da

audiência de custódia no nosso direito interno, repudiam, direta ou indiretamente, a

conclusão aqui exposta.

Primeiramente, a Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, no seu art. 7o., anuncia:

Artigo 7. Direito à liberdade pessoal

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. 2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas

causas e nas condições previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de acordo com elas

promulgadas. 3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.4. Toda pessoa detida ou retida deve ser

informada das razões da sua detenção e notificada, sem demora, da acusação ou acusações formuladas contra ela.5. Toda pessoa

detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer

funções judiciais e tem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que

prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. 6. Toda

pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente, a fim de que este decida, sem demora,

sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados Partes

cujas leis prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou

tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem

abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa. 7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este

1 https://www.conjur.com.br/2016-ago-23/tribuna-defensoria-depoimento-audiencia-custodia-utilizado-acao-

penal#_ftn4 - acessado em 17/5/2018. No mesmo artigo, o autor recorda que, embora tratando de outro tema,

o STF já se manifestou contrário aos pronunciamentos ocultos quando decidiu que, reconhecido o excesso de

linguagem da pronúncia, o correto a ser feito é anular aquela decisão, e não apenas desentranhá-la e “envelopá-

la”, subtraindo o direito dos jurados de conhecerem o seu teor (RHC 127.522, rel. min. Marco Aurélio, 1ª Turma,

j. 18/08/2015).

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princípio não limita os mandados de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação

alimentar.

De modo bastante similar tem-se o art. 9o. do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos:

ARTIGO 9

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá ser preso ou encarcerado arbitrariamente.

Ninguém poderá ser privado de liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos

nela estabelecidos.2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e notificada, sem demora,

das acusações formuladas contra ela.3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser

conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a exercer funções judiciais e terá o

direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam

julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que assegurem o

comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do processo e, se necessário for, para a execução da

sentença.4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou encarceramento terá o direito de recorrer a um

tribunal para que este decida sobre a legislação de seu encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão tenha sido ilegal.5.

Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à repartição.

Por fim, a Convenção Europeia de Direitos Humanos, no art. 5o., garante:

Artigo 5.º

(Direito à liberdade e à segurança)

1. Toda a pessoa tem direito à liberdade e segurança. Ninguém pode ser privado da sua liberdade, salvo nos casos seguintes

e de acordo com o procedimento legal:a) Se for preso em consequência de condenação por tribunal competente;b) Se for

preso ou detido legalmente, por desobediência a uma decisão tomada, em conformidade com a lei, por um tribunal, ou para

garantir o cumprimento de uma obrigação prescrita pela lei;c) Se for preso e detido a fim de comparecer perante a

autoridade judicial competente, quando houver suspeita razoável de ter cometido uma infracção, ou quando houver

motivos razoáveis para crer que é necessário impedi-lo de cometer uma infracção ou de se pôr em fuga depois de a ter

cometido;d) Se se tratar da detenção legal de um menor, feita com o propósito de o educar sob vigilância, ou da sua detenção

legal com o fim de o fazer comparecer perante a autoridade competente;e) Se se tratar da detenção legal de uma pessoa

susceptível de propagar uma doença contagiosa, de um alienado mental, de um alcoólico, de um toxicómano ou de um

vagabundo;f) Se se tratar de prisão ou detenção legal de uma pessoa para lhe impedir a entrada ilegal no território ou contra

a qual está em curso um processo de expulsão ou de extradição.2. Qualquer pessoa presa deve ser informada, no mais breve

prazo e em língua que compreenda, das razões da sua prisão e de qualquer acusação formulada contra ela.3. Qualquer pessoa

presa ou detida nas condições previstas no parágrafo 1, alínea c), do presente artigo deve ser apresentada imediatamente

a um juiz ou outro magistrado habilitado pela lei para exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada num prazo

razoável, ou posta em liberdade durante o processo. A colocação em liberdade pode estar condicionada a uma garantia

que assegure a comparência do interessado em juízo.4. Qualquer pessoa privada da sua liberdade por prisão ou detenção

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tem direito a recorrer a um tribunal, a fim de que este se pronuncie, em curto prazo de tempo, sobre a legalidade da sua

detenção e ordene a sua libertação, se a detenção for ilegal.5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou detenção em condições

contrárias às disposições deste artigo tem direito a indemnização.

No direito comparado não é diferente, preocupando-se todos os ordenamentos alienígenas

com a finalidade maior da audiência: prazos de apresentação do preso para análise da

autoridade judiciária, sem vedar sua publicidade no processo. Assim, na Alemanha, as

pessoas detidas por iniciativa da polícia devem ser levadas à presença do juiz no máximo um

dia após o encarceramento. Na Inglaterra, o prazo é de 24 horas. Na França, o prazo de 24

horas pode ser prorrogado por até 96 horas. Nesses ordenamentos, repise-se, não se exclui

dos autos o valioso conteúdo da apresentação, apreciado democraticamente pelas partes

(acusação e defesa)2.

Em suma, os elementos colhidos na audiência de custódia não são mais importantes ou menos

importantes do que aqueles colhidos após o ajuizamento da ação penal. O juiz e as partes

(acusação e defesa) devem considerar, para fins de formação do seu convencimento diante

de uma eventual divergência, os autos da audiência de apresentação, tendo como norte o

princípio da verdade real. As declarações apresentadas pelo preso na audiência de

apresentação não são imprestáveis. Colhidas com a participação dos personagens

processuais (Juiz, Ministério Público e Defesa), as declarações do custodiado não podem ter

menos valor (ou nenhum valor) quando comparadas com aquelas obtidas em sede policial

quando da lavratura do auto de prisão em flagrante.

Não sem motivo, em quase todas as circunscrições judiciárias deste estado, o acesso às mídias

da audiência de apresentação é garantido às partes. Também na Justiça Federal a solenidade

fica inserida no próprio feito digital, acessível a todos.

Destaque-se, ainda, a necessidade de ter a imagem do autuado em flagrante para instruir

Cartas Precatórias, na eventualidade da vítima ou testemunhar ter que proceder ao

reconhecimento do agente criminoso. Nesse contexto, a imagem do réu, na oportunidade da

audiência de custódia, afigura-se como imprescindível para a instrução processual e,

sobretudo, busca da verdade real.

Vale ressaltar, por fim, que a E. Corregedoria Geral da Justiça, no COMUNICADO 1290/2016,

ANUNCIA aos Senhores Magistrados, Dirigentes e demais Servidores das Unidades Judiciais

que o encaminhamento de autos digitais para o Ministério Público deverá conter as cópias

das respectivas mídias porventura existentes, a fim de se evitar prejuízos na apresentação de

2 DELMAS – MARTY, Mireille (org). Processos Penais na Europa, trad. Fauzi Hassan Choukr e Ana Claudia Ferigaro Choukr. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2005.

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eventuais manifestações e na interposição de recursos. COMUNICA que as cópias das mídias

deverão ser acondicionadas em envelope no qual deverão constar a Unidade a que pertence,

o número do processo e o nome das partes. COMUNICA que nas Comarcas onde houver

instalações do Ministério Público, o encaminhamento das cópias das mídias (tanto a carga,

quanto a baixa), deverá ser registrado em livro físico próprio (autos e papéis), podendo ser

utilizado livro de folhas soltas (artigo 66 e parágrafo único, das Normas de Serviço da

Corregedoria Geral da Justiça). COMUNICA, finalmente, que nas Comarcas sem instalações do

Ministério Público ou nas hipóteses de encaminhamento para local diverso do prédio do

Fórum a remessa deverá ser realizada pelo sistema Malas e Malotes, onde disponível ou pelo

serviço de malote.

Diante desse quadro – e considerando o pleito dos promotores de Justiça criminais da Barra

Funda -, o CAOCRIM peticionará junto ao DIPO requerimento para que o material de gravação

da audiência de custódia integre efetivamente o bojo dos autos, ficando à disposição das

partes (acusação e defesa).

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STF/STJ: decisões de interesse institucional COMENTADAS PELO CAOCRIM

DIREITO PROCESSUAL PENAL:

1-Tema: Lei 10.446/02. Atribuições da Polícia Federal e a competência estadual

Consoante nossa Constituição Federal (art. 144), a segurança pública, dever do Estado, direito

e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da

incolumidade das pessoas e do patrimônio, e dentre os seus órgãos inclui-se a Polícia Federal.

Ainda de acordo com o texto constitucional, a Polícia Federal, instituída por lei como órgão

permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: a)

apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e

interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras

infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão

uniforme, segundo se dispuser em lei (art.144, §1º., I, CF); b) prevenir e reprimir o tráfico

ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação

fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; c) exercer as

funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; d) exercer, com exclusividade, as

funções de polícia judiciária da União.

O objetivo da Lei nº 10.446/02 é cumprir o mandamento constitucional, regulamentando o

art. 144, §1º., I, da Carta Magna. Com isto, a Lei dispõe sobre infrações penais de repercussão

interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme.

É fundamental recordar que esta Lei trata das atribuições da Polícia Federal, não influindo

em nada na competência para o processo e julgamento do crime por ela investigado. Os

crimes federais, isto é, os crimes de competência da Justiça Federal, são aqueles cuja

identificação se depreende da atenta leitura do art. 109, CF. O fato de o crime demandar

repressão uniforme, nos termos da Lei em apreço, atrai a atribuição da Polícia Federal, mas

não a competência da Justiça Federal (permanecendo estadual).

Em resumo, podemos concluir que os crimes de competência da Justiça Federal serão

investigados pela Polícia Federal (a quem cabe exercer, com exclusividade, as funções de

Polícia Judiciária da União), mas nem todo crime investigado pela Polícia Federal será julgado

na Justiça Federal.

A atribuição da Polícia Federal, alargada pela Lei 10/336/02, ocorrerá quando houver

repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme. O objetivo do

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legislador é evitar o tumulto oriundo de informações desencontradas entre as Polícias Civis

ou Militares de distintas unidades da Federação.

A despeito desta constatação, vale recordar que, nos termos do art. 1º. da Lei, a atuação da

Polícia Federal se dará sem prejuízo da responsabilidade dos órgãos de segurança pública

arrolados no art. 144 da Constituição Federal, em especial das Polícias Militares e Civis dos

Estados.

Sobre o tema – e no mesmo sentido – o STJ publicou PESQUISA PRONTA:

Vinculação, ou não, das atribuições da Polícia Federal ao âmbito de competência da Justiça

Federal

2- Tema: Nomeação do Núcleo de Prática Jurídica em juízo. Desnecessidade da juntada de

procuração. Inaplicabilidade da Súmula 115/STJ.

INFORMATIVO 624 STJ

TERCEIRA SEÇÃO

PROCESSO: EAREsp 798.496-DF, Rel. Min. Nefi Cordeiro, por unanimidade, julgado em

11/04/2018, DJe 16/04/2018

DESTAQUE: A nomeação judicial de Núcleo de Prática Jurídica para patrocinar a defesa de réu

dispensa a juntada de procuração.

A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça pacificou entendimento que encontrava

dissonância no âmbito das Turmas que a compõe. A Quinta Turma se posicionava no sentido

de que "o advogado integrante do Núcleo de Prática Jurídica não está dispensado de

apresentar a procuração ou ato de nomeação judicial, por ausência de previsão legal, visto

que somente é equiparado à Defensoria Pública no tocante à intimação pessoal dos atos

processuais". Em sentido oposto, a Sexta Turma. A Terceira Seção seguiu a tese da Quinta

Turma. A nomeação judicial do Núcleo de Prática Jurídica para patrocinar a defesa do réu

dispensa a juntada de procuração, por não haver atuação provocada pelo assistido, mas sim

exercício do munus público por determinação judicial, sendo, portanto, afastada a incidência

da Súmula 115/STJ. Além disso, asseverou que não se mostra admissível a exigência de

procuração, porquanto não raras as vezes sequer há contato do advogado dativo com o

acusado, sendo certo que manter a exigência de mandato acarretaria gravosos prejuízos à

defesa da população necessitada, inviabilizando o acesso à Justiça.

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3 – Pena restritiva de direitos e execução penal provisória

STF, nas ADCs 43 e 44, decisão que a prisão após a apreciação de recurso pela segunda instância não

desobedece a postulados constitucionais – nem mesmo ao da presunção de inocência – porque, a essa

altura, o agente teve plena oportunidade de se defender por meio do devido processo legal desde a

primeira instância. Uma vez julgada a apelação e estabelecida a condenação (situação que gera

inclusive a suspensão dos direitos políticos em virtude das disposições da LC nº 135/2010), exaure-se

a possibilidade de discutir o fato e a prova, razão pela qual a presunção se inverte. Não é possível, após

o pronunciamento do órgão colegiado, que o princípio da presunção de inocência seja utilizado como

instrumento para obstar indefinidamente a execução penal.

A decisão proferida abordou expressamente a execução da pena privativa de liberdade, sem menção

específica à possibilidade de execução de penas restritivas de direitos.

Em razão disso, o próprio STF já concedeu liminar em habeas corpus para determinar a suspensão da

execução provisória da pena de um ex-prefeito condenado pela prática do crime de falsidade

ideológica. Referindo-se às disposições do art. 147 da LEP, o ministro Lewandowski afirmou que a

decisão do STF permitindo a execução provisória da pena diz respeito somente às reprimendas

privativas de liberdade, não às restritivas de direitos, condicionadas ao trânsito em julgado por

expressa disposição legal (HC 144.908/RS, j. 23/06/2017).

Na mesma esteira, o STJ tem decidido reiteradamente que o art. 147 da Lei de Execução Penal não foi

objeto de julgamento pelo STF e impede a execução provisória. Esta orientação foi inclusive

consolidada por meio da Terceira Seção do tribunal:

“Nos termos do artigo 147 da Lei de Execução Penal, a execução da reprimenda restritiva de direitos é

condicionada ao trânsito em julgado da sentença condenatória, conforme entendimento consolidado

no âmbito da Terceira Seção desta Corte Superior de Justiça” (AgRg na PetExe nos EAREsp 828.271/SC,

j. 11/10/2017).

O STF, todavia, negou recentemente seguimento a um habeas corpus (HC 156.661/SP) no qual se

pretendia obstar a execução da pena restritiva de direitos após o esgotamento da segunda instância.

Embora o não conhecimento do habeas corpustenha ocorrido pelo não cumprimento dos requisitos

para a impetração, o ministro Roberto Barroso abordou a questão de fundo aduzindo à jurisprudência

firmada a respeito da execução provisória da pena e lembrou que o tribunal não restringiu essa

possibilidade às penas privativas de liberdade. A restrição de direitos é sanção penal que, se

descumprida, pode converter-se em segregação, razão pela qual não há razão para conferir-lhe

tratamento diferente.

De fato, ainda que o texto da Lei de Execução Penal mencione o trânsito em julgado, não há dúvida de

que não há o menor sentido lógico em admitir que o condenado seja encarcerado antes de transitar

em julgado a sentença penal condenatória, mas não possa ser submetido a medida muito menos

restritiva como, por exemplo, a prestação de serviços a uma entidade pública.

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O art. 283 do CPP – objeto de declaração de constitucionalidade nas ADC 43 e 44 – também menciona

o trânsito em julgado, e o tribunal conferiu interpretação conforme à Constituição para excluir a

possibilidade de que o texto legal fosse interpretado para obstar a execução provisória. Dá-se, como

fundamento, exatamente o mesmo sobre o art. 147 da LEP. A decisão tomada no habeas

corpus 156.661/SP se adéqua à intenção do STF nas decisões anteriores: conferir efetividade às

sentenças judiciais no âmbito criminal e evitar que recursos de índole extraordinária sejam utilizados

como instrumentos de protelação do cumprimento da pena.

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DIREITO PENAL:

1 – Tema: Princípio da insignificância e pesca no período de defeso

INFORMATIVO 901 STF

PRIMEIRA TURMA

DIREITO PENAL - TIPICIDADE

Princípio da insignificância e pesca no período de defeso

A Lei 9.605/98, no seu art. 34, pune:

“Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão

competente:

Pena - detenção de um ano a três anos ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.

Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:

(…)

II - pesca quantidades superiores às permitidas, ou mediante a utilização de aparelhos,

petrechos, técnicas e métodos não permitidos”.

A Primeira Turma do STF, para esse crime, negou a aplicação do princípio da insignificância. A

Turma afirmou que as circunstâncias da prática delituosa não afastam a configuração do tipo

penal. Tais circunstâncias devem repercutir na fixação da pena. Ademais, a natureza do bem

protegido — o meio ambiente — afasta a construção jurisprudencial do crime de bagatela (HC

122560/SC, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 8.5.2018).

De fato, percebe-se crescer movimento na doutrina e jurisprudência buscando restringir a

aplicação do princípio da insignificância nos crimes que tutelam bens difusos, como acontece

com os delitos ambientais. Para tanto, usam a teoria do delito de acumulação. Essa teoria não

evita a incidência do citado princípio, mas diminui seu campo de atuação. Ao criar

determinados tipos penais, o legislador busca proteger interesses supraindividuais (de caráter

coletivo). Nesses casos, é possível que não se compreenda como pode uma conduta isolada

causar relevante dano ou perigo de dano ao bem jurídico. De fato, alguém que corta uma

árvore em área de preservação permanente, despeja pequena quantidade de detritos em um

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rio cujas águas servem uma cidade ou captura alguns peixes em período de defeso não comete

um ato de lesão grave ao meio ambiente.

No entanto, a lesão – ou o perigo de que ocorra – passa a ser compreendida quando se leva

em conta não apenas a conduta de um agente, mas o acúmulo de condutas e resultados

semelhantes caso não haja punições individuais. Uma pessoa que pesca sem autorização legal

um determinado peixe não viola de forma expressiva o bem jurídico (meio ambiente), mas se

considerarmos a soma de várias condutas análogas, percebe-se o dano que ocorreria.

Sustenta-se, portanto, a punição da conduta isolada, mesmo sem lesividade aparente (mas

projetada). Percebe-se que a lesão relevante ao bem jurídico somente é considerada com a

soma de várias condutas hipotéticas.

O que legitima a punição, portanto, é a soma de pequenas lesões ao bem jurídico coletivo.

Nas palavras de Ana Carolina Carlos de Oliveira,

“Trata-se, em síntese, de uma soma de microlesões e de uma técnica de tipificação baseada

em um grande número de atos. Nesse sentido, e conforme sustentam Wohlers e von Hirsch,

a acumulação é mais do que uma técnica legislativa, é também um fundamento para a

justificação ou legitimação de condutas perigosas contra bens jurídicos coletivos”. E, de

acordo com a mesma autora, “as condições para que se verifique uma conduta merecedora

de punição com base na acumulação são: (i) prognóstico realista de realização de condutas;

(ii) existência de resultado efetivo, ainda que reduzido; (iii) consideração de condutas pouco

significantes”( http://www.ibccrim.org.br/docs/integra_interativa.pdf).

2 - Tema: Crime do art. 54 da Lei n. 9.605/1998. Natureza formal do delito. Realização de

perícia. Desnecessidade. Potencialidade de dano à saúde.

INFORMATIVO 624 STJ

A Lei 9.605/98, no seu art. 54, pune:

“Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar

em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição

significativa da flora:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

(...)

§ 2º Se o crime:

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I - tornar uma área, urbana ou rural, imprópria para a ocupação humana;

II - causar poluição atmosférica que provoque a retirada, ainda que momentânea, dos

habitantes das áreas afetadas, ou que cause danos diretos à saúde da população;

III - causar poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público de

água de uma comunidade;

IV - dificultar ou impedir o uso público das praias;

V - ocorrer por lançamento de resíduos sólidos, líquidos ou gasosos, ou detritos, óleos ou

substâncias oleosas, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou regulamentos:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

(...)”.

O art. 54, caput, prevê um crime de dano quando se refere à poluição que resulta em danos à

saúde humana ou que provoca a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora.

A consumação, nesse caso, ocorre quando sobrevém um desses resultados. Tratando-se de

crime plurissubsistente, admite-se a tentativa (conatus). Por outro lado, o art. 54, caput,

prevê crime de perigo abstrato ou crime de perigo formal quando se refere à poluição que

pode resultar em danos à saúde humana. Nesse caso, basta a prática da conduta,

independentemente da superveniência de qualquer resultado naturalístico. Assim se

posicionou a Terceira Seção do STJ, pacificando indisfarçável controvérsia entre as Turmas.

Os tipos previstos no art. 54, § 2º, I a IV, exigem a ocorrência do resultado material neles

previstos para fins da sua consumação. Já o tipo previsto no art. 54, § 2º, V, se consuma

quando a conduta nele descrita é praticada, independentemente de qualquer resultado

naturalístico, sendo, por isso, classificado como crime formal.

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STF/STJ: Notícias de interesse institucional

Notícias STF 16 de maio de 2018 1-Negado habeas corpus a ex-juiz Rocha Mattos em condenação por destruição de provas Clique aqui para ler a íntegra da notícia 2-1ªTurma considera cabível recurso interposto por e-mail no TJ-MG com base em regulamento local Clique aqui para ler a íntegra da notícia 3-Ministro substitui prisão preventiva do empresário Milton Lyra por medidas cautelares Clique aqui para ler a íntegra da notícia 4-1ª Turma: MP não tem direito a prazo recursal em dobro em matéria criminal Clique aqui para ler a íntegra da notícia 5-2ª Turma inicia julgamento de ação penal contra o deputado Nelson Meurer Clique aqui para ler a íntegra da notícia 6-Negado trâmite a HC de ex-deputado que pedia para suspender execução provisória de pena restritiva de direitos Clique aqui para ler a íntegra da notícia 17 de maio de 2018 7-Ministro julga inviável HC de condenado por matar a namorada em Salvador Clique aqui para ler a íntegra da notícia

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8-Negado pedido de liberdade a ex-delegada acusada de integrar organização criminosa Clique aqui para ler a íntegra da notícia 19 de maio de 2018 9-Suspensa execução provisória da pena por condenação contrária à jurisprudência do STF Clique aqui para ler a íntegra da notícia 10-Ministro concede extensão de liminar em HC para ex-chefe da Dersa Clique aqui para ler a íntegra da notícia Notícias STJ 16 de Maio de 2018 11- Direito ao esquecimento relativiza avaliação de antecedentes baseada em condenação de 25 anos atrás Clique aqui para ler a íntegra da notícia 12- Pedido de vista suspende julgamento sobre limitação de foro por prerrogativa de função no STJ Clique aqui para ler a íntegra da notícia 18 de maio de 2018 13- STJ restabelece condenação por estupro de homem que molestou criança de quatro anos

Clique aqui para ler a íntegra da notícia 14- Concedido habeas corpus a mulher denunciada pelo furto de uísque e queijo em supermercado

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Clique aqui para ler a íntegra da notícia 15- Negada liminar a Eduardo Cunha em processo sobre propina para campanha de Eduardo Alves no RN Clique aqui para ler a íntegra da notícia