camões lirico introd

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    A LRICA CAMONIANA

    Pouco se sabe, com segurana, sobrea vida deste grande poeta, em que alenda preenche as lacunas deixadaspelo tempo.

    Nascido provavelmente em Lisboa,por volta de 1524, pertencia a umafamlia da pequena nobreza, de origem

    galega. Pelos conhecimentos demons-trados em suas obras, possvel que najuventude freqentasse a Corte e al-gum curso escolar. Viveu algum tem-po em Coimbra, onde deve ter fre-qentado aulas de Humanidades noMosteiro de Santa Cruz, devido pre-sena de um tio padre. Regressou aLisboa, levando a uma vida de boe-mia, de amores. Talvez por causa deseu temperamento apaixonado, afas-

    tou-se do convvio palaciano, dirigin-do-se para Ceuta, como soldado, em1549. Perdeu um olho em combate,regressando a Lisboa. Em 1553, viajoupara as ndias, depois de ter sido presopelo envolvimento em uma briga: feriuGonalo Borges, servidor do Pao, eescapou da priso com a promessa dese engajar no corpo de tropa sediadono Oriente. Em 1556, deu baixa, as-sumiu o cargo de provedor dos bens

    de defuntos e ausentes em Macau,onde deve ter escrito grande parte dasua obra. Acusado de prevaricar, diri-giu-se a Goa com intuito de defender-se. Na viagem, por fins de 1558 ouprincpios de 1559, naufragou na fozdo rio Mecom, episdio em que, se-gundo a lenda, salvou o manuscrito d'Os Lusadas, mas perdeu Dinamene,uma moa chinesa que trazia comocompanheira.

    Lus Vaz de ames

    Em 1567, em Moambique, foi presopor dvidas. Obteve a liberdade, vi-vendo miseravelmente at que, com aajuda de Diogo do Couto, retornou aPortugal.

    Chegou ptria em 1569, pobre edoente. Em 1572, conseguiu publicarOs Lusadas, graas influncia dealguns amigos junto ao rei D. Sebasti-o, passando a receber uma tena(penso) de 15 000 ris anuais. Fale-ceu, pobre e abandonado, em Lisboano dia 10 de Junho de 1580.

    considerado o maior poeta portu-gus. Obras: Os Lusadas (1572), Ri-mas (1595), El-Rei Seleuco (1587),Auto de Filodemo (1587) e Anfitries(1587).

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    Influncia da poesia tradicional- o amor como tmida reverncia, caracterizado pela discrio em face da amada, emudecimento peran

    sua formosura e pela vassalagem, prometendo servi-la ainda alm da morte;- cantigas de amigo, presentes atravs do tema das confidncias com as amigas sobre a ausncia d

    amado;

    -

    o mar;- o humorismo, expresso atravs do processo de distrair da vida nesta transformao da dor em po

    ma; o conceito adivinha-deciframento dos equvocos e trocadilhos de palavras e smbolos; s vezem seus brinquedos lricos pe sob os audaciosos e risonhos metaforismo as verdades que costum

    dizer com gravidade. O humor em Cames a meia libertao da dor pelo sorriso. (Hernani Cidde);

    - a medida velha.

    Influncia da cultura e da poesia clssica- presena da mitologia; mistura do maravilhoso pago com o maravilhoso cristo.

    -

    de Ovdio (Metamorfose): semelhante a este poeta, Cames metamorfoseia o amor do plano pessopara o mitolgico; a sensualidade ovidiana manifesta-se em Cames de forma mais picante e viva;

    - de Virglio:a)

    naturalismo buclico, sentindo a natureza de forma viva e suave, o que recorda as albas das cantigde amigo;

    b) a expresso da mgoa pela morte de pessoa amada;c)

    idealizao da vida campestre focalizando quadros de vida pastoril (os pastores tm no amor o princpal motivo da vida interior);

    d) o amor pelas coisas simples; o desprezo de luxos e voluptuosidades que no se obtm sem perigos. calma felicidade do lavrador traduz um ideal de vida em Cames e Virglio.

    - de Horcio:a) aurea mediocritas: idealizao da vida campestre atravs do amor vida mediana, de horizontes f

    chados mas harmoniosos, sem ambies e lutas;b) carpe diem: chorar o dia que passa, a fugacidade do tempo, gozar o momento;c) fugere urbem: fugir da cidade para o campo, como ideal de vida simples.

    -de Petrarca:a) o amor um atrevimento, um pensamento levantado;b) expresso das paradoxais contradies do corao enamorado;c)

    a amada mais divina que humana: lbios de rubis, testa de marfim, dentes de prola, pele de nev

    colo de marfimpara o retrato da amada e seu ambiente s podiam servir os elementos mais nobrespuros;d) renncia prpria personalidade, substituda pela do objeto amado, pois e norma platnica transfo

    mar-se o amador na coisa amada (Plato via Petrarca).e) concepo de uma natureza antropoptica: a amada de Cames como Laura faz florescer a verdu

    que andando com os divinos ps tocava;f)

    a natureza est intimamente associada s emoes da alma enamorada, quase sempre evocada em seuaspectos amveis nos momentos de tristeza. Em Cames encontramos um sentimento de natureza e

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    que se conjugam as ledas e serenas madrugadas com as tempestades trgicas, os abismos e as terrficvises;

    g) angstia ante a fugacidade do tempo, da vida e da beleza, dilacerado entre o efmero e o eterno.

    Cames Renascentista

    Cames aproxima-se da mundivivncia renascentista atravs: do idealismo neo-platnico; da fidedade ao amor humano e vida em carne e osso (antropocentrismo); da exaltao entusistica do maravlhoso geogrfico ou cosmogrfico; da influncia clssica.

    Cames ManeiristaOs temas preferenciais do maneirismo so: o engano e o desengano da vida; a transitoriedade d

    coisas humanas, o gosto pelos contrastes, pelo surpreendente.(PIRES, Orlando.Manual de Teoria e Tcnica Literria

    Cames, melhor do que ningum, registra o espanto diante do desconcerto do mundo, onde o bem

    a glria esto sempre ausentes. O desajuste entre o eu e o mundo imenso, no havendo correspondncentre o desejo e sua realizao, entre o mrito pessoal e o que lhe reserva sua sorteo destino confusoirracional. A este tema conjuga-se o da conscincia das transformaes operadas pelo tempo, mostrandomudana e o relativismo, o emprego de antteses e paradoxos.

    Bibliografia recomendada:

    AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Cames: labirintos e fascnios. Lisboa: Cotovia, 1994.

    BERARDINELLI, Cleonice. Estudos camonianos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Ctedra Pe. AntnVieira, Instituto Cames, 2000. Disponvel em: http://www.letras.pu

    rio.br/Catedra/livropub/camoes.html______.Estudos de Literatura Portuguesa.Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1985.

    CAMES, Lus de.Lricas. Sel. Rodrigues Lapa. Lisboa: Livraria S da Costa.

    CAMES, Lus de.Lrica. Sel. Massaud Moiss. 4.ed. So Paulo: Cultrix, 1972.

    CAMES, Lus de. Os Lusadas. Ed. organizada por Emanuel Paulo Ramos.Porto: Porto, 1980.

    CIDADE, Hernani.Lus de Cames: o lrico.Lisboa: Presena.

    CIDADE, Hernani.Lus de Cameso pico. 3.ed.Lisboa: Presena, 2001.

    SARAIVA, Antnio Jos.Lus de Cames. 2.ed. Lisboa: Publicaes Europa-Amrica, 1972.

    SENA, Jorge de. A estrutura de "Os Lusadas" e outros estudos camonianos e de poesia penisular dsculo XVI.Lisboa: Ed. 70, l980.

    SILVA, Anazildo Vasconcelos. Semiotizao literria do discurso.Rio de Janeiro: Elo, 1984.