caminhos para a teoria da histÓria - editora milfontes

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CAMINHOS PARA A TEORIA DA HISTÓRIA

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Copyright © 2020, Berber Bevernage.Copyright © 2020, Editora Milfontes.Av. Adalberto Simão Nader, 1065/ 302, República, Vitória, ES.Compra direta e fale conosco: https://editoramilfontes.com.brDistribuição nacional em: [email protected]

Editor ChefeBruno César Nascimento

Coordenadora da Coleção Fronteiras da TeoriaProf.ª Dr.ª Luisa Rauter Pereira (UFOP)

Conselho EditorialProf. Dr. Alexandre de Sá Avelar (UFU)

Prof. Dr. Arnaldo Pinto Júnior (UNICAMP) Prof. Dr. Arthur Lima de Avila (UFRGS)

Prof. Dr. Cristiano P. Alencar Arrais (UFG) Prof. Dr. Diogo da Silva Roiz (UEMS)

Prof. Dr. Eurico J. Gomes Dias (Universidade do Porto) Prof. Dr. Hans Urich Gumbrecht (Stanford University)

Profª. Drª. Helena Miranda Mollo (UFOP) Prof. Dr. Josemar Machado de Oliveira (UFES)

Prof. Dr. Júlio Bentivoglio (UFES) Prof. Dr. Jurandir Malerba (UFRGS)

Profª. Drª. Karina Anhezini (UNESP - Franca) Profª. Drª. Maria Beatriz Nader (UFES)

Prof. Dr. Marcelo de Mello Rangel (UFOP) Profª. Drª. Rebeca Gontijo (UFRRJ)

Prof. Dr. Ricardo Marques de Mello (UNESPAR) Prof. Dr. Thiago Lima Nicodemo (UERJ) Prof. Dr. Valdei Lopes de Araujo (UFOP)

Profª. Drª Verónica Tozzi (Univerdidad de Buenos Aires)

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Berber Bevernage

Caminhos para aTeoria da História

filosofia das historicidades e a questão da justiça histórica

Coleção Fronteiras da TeoriaVolume III

TraduçãoWalderez Ramalho

Editora MilfontesVitória, 2020

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Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação digital) sem a permissão prévia da editora.

RevisãoDe responsabilidade exclusiva dos organizadores

CapaImagem da capa:

Autor: não citado, logo, tenho declarado que não existe intenção de violação de propriedade intelectual

Bruno César Nascimento - Aspectos

Projeto Gráfico e EditoraçãoLucas Bispo Fiorezi

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

B571c Bevernage, Berber. Caminhos para a teoria da história: filosofia das historicidades e a questão da justiça histórica. Tradução Walderez Ramalho. Coleção Fronteiras da Teoria, volume 3. Vitória: Editora Milfontes, 2020. 118 p. : 15 cm

Inclui Bibliografia. ISBN: 978-65-86207-12-5

1. Historiografia 2. Teoria 3. Disciplina I. Bevernage, Berber II. Título.

CDD 901.02

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SumárioApresentação ..............................................7Da filosofia da História à filosofia das historicidades: algumas ideias sobre o futuro potencial da teoria da História ............... 17

Para além da dicotomia “crítica” versus “especulativa” ................................................. 21Rumo à filosofia das historicidades ............... 25Conclusão ........................................................ 33

O passado é mau/ O mal é passado: sobre política retrospectiva, filosofia da história, e maniqueísmo temporal ............................ 35

Introdução ............................................... 36Odo Marquard sobre a gênese e os paradoxos da filosofia progressista da história ........ 51O triunfalismo da política retrospectiva pós-1989 .................................................. 61Política retrospectiva e maniqueísmo temporal .................................................. 70O passado é mau/ O mal é passado ....... 89Conclusão: rumo às filosofias alternativas da história ............................................... 97

Referências: ............................................107

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Apresentação A teoria da história nas fronteiras entre tempo e justiça

Um pensamento de fronteira é aquele que consegue abrir novos horizontes de possibilidades de pesquisa em uma determinada área de estudos, propondo novas questões e abordagens sem, contudo, abandonar completamente o diálogo com a tradição existente. Entre os nomes que representam atualmente esse pensamento de fronteira no campo da teoria da história, não há como não mencionar Berber Bevernage, professor de teoria da história da Universidade de Gante, a mesma instituição onde realizou toda a sua trajetória acadêmica. Em Gante, além de dar aulas e orientar um grupo bastante ativo de jovens estudantes de doutorado (do qual eu tive a oportunidade de participar durante o período de estágio sanduíche), Bevernage coordena o grupo de pesquisa TAPAS (Thinking about the past), o

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qual promove uma série de iniciativas voltadas para pensar e discutir sobre as múltiplas formas de relação com o passado que ocorrem dentro e fora da academia, a partir de uma perspectiva transdisciplinar. Além disso, Bevernage é também co-fundador e um dos membros mais ativos da Rede Internacional de Teoria da História (INTH), um fórum criado em 2012 cujo objetivo é promover a colaboração entre teóricos da história ao redor do mundo, por meio da divulgação de eventos e publicações na área, bem como a organização de sua conferência bienal.

Com efeito, uma das principais qualidades profissionais de Bevernage é ser capaz de conciliar uma intensa atuação na construção de redes de sociabilidade e cooperação entre teóricos da história em nível global com uma produção intelectual que aponta efetivamente para as fronteiras da teoria da história, em vez de insistir em temáticas canônicas e abordagens mais tradicionais. Em relação a esse último ponto, é importante

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destacar que o foco central das pesquisas de Bevernage situa-se na convergência entre as noções de historicidade e tempo histórico, de um lado, e as concepções sobre (in)justiça histórica e ética da história, de outro. Essa problemática tem sido desenvolvida pelo autor em uma série de publicações, incluindo o livro História, memória e violência de Estado: tempo e justiça, fruto de sua tese de doutoramento defendida em 2009 e cuja tradução para o português foi recentemente publicada no Brasil pela Editoria Milfontes e pela SBTHH (2018). Nesse livro, Bevernage analisa os casos de justiça de transição e comissões da verdade na Argentina, África do Sul e Serra Leoa, e demonstra que a ideia de tempo dominante na historiografia moderna ocidental – a qual enfatiza a irreversibilidade do tempo e a separação entre presente e passado, este último compreendido como ausente e distante – contrasta com o discurso das vítimas de injustiças históricas, que afirma a presença ou a irrevogabilidade do passado. Devido a esse contraste, o discurso

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das vítimas é frequentemente visto como “irracional”; Bevernage, porém, afirma que essa visão evidencia na verdade uma lacuna ética do pensamento histórico moderno. Para superar essa lacuna e levar o discurso das vítimas a sério, o autor argumenta que é necessário romper com essa noção de tempo dominante na historiografia moderna, um argumento que ele desenvolve a partir de um diálogo denso entre história e filosofia, especialmente com o pensamento de Jacques Derrida. Dessa forma, Bevernage tem demonstrado que a teoria da história não é um campo de pesquisa que interessa apenas a (alguns) historiadores profissionais, mas pode oferecer contribuições únicas para questões relevantes no debate público, ao identificar e criticar as noções sobre tempo e historicidade que sustentam as diferentes posições nas discussões sobre, por exemplo, as ações afirmativas e de reparação histórica.

Os dois textos que agora o(a) leitor(a) de língua portuguesa têm em mãos tratam

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diretamente dessa questão, ainda que por abordagens e perspectivas distintas. O primeiro texto foi originalmente publicado em 2012 na revista Low Countries Historical Review, cujos editores convidaram três especialistas em teoria da história (Herman Paul, Harry Jansen, além do próprio Bevernage) para refletirem sobre o estado do campo no contexto dos Países Baixos. Nesse breve artigo, Bevernage argumenta que para a teoria da história manter-se como um campo de pesquisa relevante não só para a historiografia acadêmica, mas para a sociedade como um todo, ela deve se transformar em uma ampla “filosofia das historicidades”, isto é, ela deve concentrar-se em investigar as variedades de formas acadêmicas e não acadêmicas de lidar com o passado. Essa proposta é relevante porque ela vai diretamente contra uma tendência largamente estabelecida no campo; essa tendência afirma que com a decadência das chamadas filosofias “especulativas” da história (que buscavam determinar o sentido

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da história como um todo, tal como em Kant, Hegel ou Marx), restaria à teoria da história ocupar-se apenas em fixar os critérios científicos para a produção do conhecimento histórico acadêmico, um tipo de reflexão que ficou conhecido como filosofia “crítica” da história. A proposta de Bevernage procura ir além dessa divisão estéril entre filosofia “especulativa” e “crítica” da história, em direção a uma filosofia das historicidades que permitiria à teoria da história, por um lado, considerar outras ordens de questões concernentes ao fenômeno da história para além de uma reflexão estritamente epistemológica e, por outro lado, ampliar seu escopo de objetos próprios, passando a considerar também como a história é mobilizada no debate público pelos agentes sociais para além do âmbito acadêmico.

Uma das possibilidades que essa proposta abre para a teoria da história é refletir sobre a questão da (in)justiça histórica, um fenômeno que tem ganhado cada vez

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mais notoriedade no debate público global nas últimas décadas e que se concretiza, por exemplo, na emissão de desculpas públicas, ações afirmativas, comissões da verdade, reparações históricas, entre outros. O segundo texto desta coletânea, originalmente publicado na revista History and Theory em 2015, trata exatamente dessa questão. As opiniões sobre tais iniciativas por justiça histórica – ou “política retrospectiva”, como o autor prefere chamar – são bastante divergentes: para uns, trata-se de uma política baseada em padrões morais mais elevados e que contribui para a causa da democracia; para outros, no entanto, a política retrospectiva é um sintoma da incapacidade das sociedades contemporâneas em delinear projetos políticos dirigidos para o presente e o futuro. A posição do autor é a seguinte: uma política que desconsidera toda injustiça histórica não é desejável, no entanto, certas formas de política retrospectiva podem de fato produzir efeitos negativos. Isso acontece porque o discurso da política retrospectiva atualmente dominante, de acordo com

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Bevernage, está baseado em uma espécie de maniqueísmo temporal que, por um lado, opõe o passado ao presente e futuro e trata-os como entidades discretas e mutualmente excludentes, e por outro lado, postula que o mal é um resquício anacrônico do passado – quando se afirma, por exemplo, que o racismo ou a homofobia são “coisas do passado” e que elas “não têm lugar no século XXI”. Bevernage critica esse maniqueísmo temporal e afirma que para construir um projeto de política retrospectiva mais consistente, é necessário que ele esteja sustentado em uma noção radicalmente diferente de temporalidade histórica, que permite pensar as continuidades estruturais entre passado e presente, bem como ver o potencial utópico no futuro, no presente e no passado.

Como se vê, os dois textos reunidos nesta coletânea dialogam diretamente entre si e oferecem uma excelente porta de entrada para o trabalho de Bevernage, um teórico da história de fronteira que, embora

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bastante jovem, vem se afirmando como um dos principais nomes do campo em âmbito internacional. Os textos serão de grande valia para pesquisadores interessados em refletir sobre as dimensões ético-políticas do discurso histórico, tempo histórico, bem como as relações entre história, memória e justiça. Eles também constituem uma excelente referência para pensar sobre os caminhos futuros do campo da teoria da história, e também sobre a sua relevância não só para os historiadores profissionais, mas também como uma fonte de crítica e reflexão sobre os usos da história no debate público. Além disso, o(a) leitor (a) notará que as reflexões de Bevernage não são construídas em uma linguagem hermética; ao contrário, o estilo claro e direto dos textos favorece a leitura, inclusive para quem não está muito familiarizado com os temas abordados pelo autor.

Uma última nota relativa ao processo de tradução. Os dois textos selecionados para compor esta coletânea foram originalmente

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publicados em inglês. Como é sabido, a língua inglesa possui algumas estruturas gramaticais e estilísticas que não existem em português. Esse é o caso, por exemplo, da flexão de gênero nominal, que funciona de forma diferente em ambas as línguas. Nesta tradução, procurei empregar expressões que deixem o gênero neutro, mas quando isso não foi possível, optei por utilizar apenas o gênero masculino. Além disso, procurei evitar ao máximo utilizar palavras e expressões em inglês no corpo do texto, exceto quando um termo específico não possui uma tradução correspondente, ou quando tal escolha faria perder uma parte importante do significado – nesses casos, a palavra ou expressão em inglês estão marcadas entre colchetes. As palavras de língua estrangeira indicadas entre parênteses são do texto original. Por fim, deixei indicado entre colchetes as (poucas) notas de rodapé de minha autoria.

Walderez RamalhoDoutorando em História pela

Universidade Federal de Ouro Preto