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Caderno de Textos - Mes / PSOL

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CADERNO DE TEXTOS2016

APRESENTAO

Aps um ano de 2015 cheio de desafios, tarefas e vitrias coletivas, realizaremos, neste incio de ano, uma jornada de formao poltica de nossa corrente. Com ela, pretendemos ampliar o repertrio poltico dos militantes do MES, alm de oferecer aos companheiros que ingressaram mais recentemente na organizao e militantes prximos, conceitos e elementos de teoria e poltica marxista fundamentais para nossa atuao. Ao mesmo tempo, trabalharemos para atualizar nossa formao poltica e debater a ampliao da poltica ao redor do enraizamento e formalizao do MES.Por isso, trata-se de uma atividade prioritria, recomendada a toda a militncia no estado de Minas Gerais. Tambm um espao interessante para convidarmos, companheiros que estejam em discusso com a corrente e em vias de ingressar no MES. Tais casos devem ser discutidos com a direo de cada cidade. Esta jornada na capital faz parte de um calendrio de formao estadual que contar com encontros presenciais em 5 cidades entre os dias 18 de janeiro e 2 de fevereiro.Para cada dia, um tema ser abordado. Os temas so interdependentes e a recomendao de que a jornada seja acompanhada integralmente. No entanto, possvel, ainda que no ideal, acompanhar as atividades de cada dia independentemente. Para cada tema, h leituras obrigatrias indicadas.

Sara AzevedoPresidenta Estadual do PSOL-MG

O que ser trotskista no sculo XXI?Aos 75 anos do assassinato de Trotsky

por Pedro Fuentes (direo do MES e secretrio de relaes internacionais do PSOL)

Estamos no 75 aniversrio da sua morte produzida pelo ataque de Mercader, um agente daKGB, sob ordens diretas de Stalin. Muito tempo e muitas coisas ocorreram no mundo desde ento. Entre as mais importantes est que seu acirrado inimigo contra quem teve que lutar, Stalin, e o aparato burocrtico que ele criou e que se prolongaram muitos anos depois de sua morte, tambm caram; morreu com as revolues democrticas que derrubaram o Muro de Berlin e todos os regimes burocrticos herdeiros.O papel de Len Trotsky, a fundao da IV Internacional e do movimento trotskista merecem muito mais que uma nota. Mas no podemos deixar passar esta data porque ela tambm coincide com um fato notvel. Se fala e se conhece muito mais de Trostsky nesta ltima dcada do que em muitas anteriores. Se comenta e se simpatiza com sua figura. H alguns dias a TV Brasil fez um excelente documentrio sobre sua vida, e um livro do cubano Leonardo Padura que toca a tragdia de sua vida em paralelo de seu assassino, o homem que amava os cachorros se converteu em um dos mais comentados nos ltimos tempos. Agora que o mundo movimentado por muitas lutas democrticas, se compreende melhor sua luta incansvel e em condies totalmente desiguais que levou adiante contra Stalin e seu aparelho. Os jovens querem conhecer Trotsky e ns, mais velhos, temos que tentar ajudar para que se entenda o que ser trotskista hoje. indiscutvel que Trotsky foi um heri da revoluo russa, junto com Lnin, seu outro grande protagonista. Preso muito jovem e logo deportado para a Sibria, fugiu de l de tren, deixando sua primeira companheira e duas filhas. Em 1905 foi presidente e o principal orador do Soviet de Petrogrado. Em 1917 presidiu o Comit Militar Revolucionrio que dirigiu a operao da tomada do poder. Logo, durante a guerra civil, se converteu no chefe do Exrcito Vermelho que teve que enfrentar 21 exrcitos que invadiram a Rssia e ao exrcito branco. Teve a audcia de convocar generais do exrcito czarista para fazer parte do exrcito revolucionrio. O trem blindado de onde comandava as tropas se converteu em uma lenda viva. Contam os historiadores que Trotsky antes de decidir as operaes militares em determinada frente se reunia com as clulas do Partido Bolchevique dessas cidades.Em 1923, com Lnin j gravemente doente e terminada a guerra civil, Trotsky pediu para ir Alemanha para colaborar com o Partido Comunista na direo da revoluo. Era sabido que este partido novo no havia passado pela forja de Lnin, nem tinha uma direo e quadros experientes, ainda mais inexperientes com a morte de Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht. Nos anos de plena efervescncia da revoluo de 1919 a 1923 o partido alemo perdeu trs grandes oportunidades de tomar o poder, o que teria mudado a histria mundial. Mas o triunvirato que dirigia, Stalin com Kamenev e Zinoviev, no aceitou; o perigo de perder o aparato que ia construindo, no caso de Stalin, e os cimes de prestgio de Kamenev e Zinoviev, seguramente motivavam o triunvirato. Pensar que Trotsky que tinha se somado ao Partido Bolchevique ainda em 17 de abril poderia voltar Rssia como o novo heri da revoluo alem, era o que estava por trs da negativa de todos eles.No podemos, em poucas linhas, deter-nos em sua histria de militante apaixonado, brilhante orador e escritor. Existem historiadores como Isaac Deutscher que o fizeram muito bem, que importante ler para conhecer Trotsky, bem como suas obras mais importantes. Fez aportes imprescindveis para incorporar poltica revolucionria e manter vivo o programa revolucionrio logo depois da morte de Lnin e da degenerao da III Internacional.A Revoluo Trada, onde Trotsky explica a degenerao do estado operrio sovitico e faz o prognstico alternativo que foi corroborado pela realidade posterior: ou uma nova revoluo, desta vez poltica para derrotar o aparato burocrtico do estado, ou a dinmica at a restaurao capitalista, muito provavelmente conduzida por esta prpria burocracia. O conceito de revoluo poltica que nasceu de Trotsky uma ferramenta imprescindvel para entender muitas das revolues que aconteceram no sculo XX e XXI, e vo continuar acontecendo, ou seja, revolues que mudam o regime poltico e no o estado e o sistema, ou seja, o modo de produo.

A luta contra o fascismo na Alemanha, obra mestra para compreender o carter instvel ou oscilante da pequena burguesia, seu desespero como base do fascismo; a prpria definio do fascismo, como a poltica da frente nica para derrot-lo. A Alemanha foi, junto com a Rssia, o palco fundamental da polemica com Stalin e, uma vez mais, como havia acontecido na Rssia, faltou a Trotsky contar com uma grande corrente, um partido ou organizao de militantes revolucionrios para poder impulsionar esta linha e derrotar o nefasto ultra esquerdismo do terceiro perodo de Stalin. Depois da Alemanha, Trotsky compreendeu que a III estava totalmente degenerada e comeou os passos para a fundao de uma nova Internacional.

O Programa de Transioque foi a base para construir a IV Internacional (e seu antecessor, o Programa de urgncia para a Europa), pea fundamental sempre que no for retirado do contexto e do momento histrico em que foi escrito antes da segunda guerra mundial. / No se trata de repetir suas caracterizaes, seus prognsticos e consignas como fazem muitos grupos trotskistas, mas, como dizia Moreno, pegar sua essncia: sua estrutura e seu mtodo transitrio de ligao entre as orientaes de transio e as mximas, ou seja, a ruptura com o regime e o sistema.

A teoria da revoluo permanente qual o programa de transio est vinculado como mtodo para levar adiante a mobilizao permanente das massas. Tem duas formulaes, a de 1905 e a de 1927, esta ltima de forma mais acabada coloca a utopia da doutrina stalinista do socialismo em um s pas. uma contribuio decisiva para compreender a combinao de tarefas democrticas com as socialistas nos pases de desenvolvimento burgus atrasado. Esta teoria foi transformada em um programa por Trotsky e o trotskismo e nesse sentido tem pontos fracos, demonstrou ser muito normativo e por isso suas formulaes, se forem usadas esquematicamente, no permitem compreender a realidade das revolues do ps-guerra e a dinmica de muitos fenmenos novos que ocorrem agora. Como dizia Moreno em seu texto citado, a primeira condio de um trotskista ser crtico inclusive ao prprio Trotsky, j que a realidades sempre mais rica que a teoria. Sem dvida, em sua essncia mais profunda, o carter internacional da revoluo (ponto em que no diferia de Lenin, nem da Rosa Luxemburgo), foi Trotsky que teve que formular em sua luta contra a nefasta teoria stalinista do socialismo de um s pas, na realidade, tragicamente pela negativa, corroborado pelo colapso do chamado socialismo real. No texto j citado, Moreno diz que o trotskismo o nico conseqente com a realidade mundial quando um grupo de multinacionais dominam o mundo, a este fenmeno scio econmico necessrio responder com uma poltica internacional. E por isso a necessidade de retomar, contra as ideias nacionalistas, a concepo internacionalista, j que o socialismo ser mundial ou no ser.

A lei do desenvolvimento desigual e combinadoque deveramos tambm incorporar como uma contribuio fundamental da dialtica marxista. Trotsky elaborou esta lei a partir da anlise da Rssia, e ela foi a base da teoria da revoluo permanente. A interpretao dominante at ento era que os pases atrasados deveriam seguir o caminho dos mais adiantados, e ento passar por uma revoluo burguesa para cumprir uma etapa de desenvolvimento burgus, para ento se buscar uma revoluo socialista. Trotsky deduziu que na etapa do imperialismo no era assim, j que o capitalismo converteu o mundo inteiro em um s organismo, pelo que os pases atrasados se veem obrigados a pular etapas, e que portanto havia uma combinao. No caso da Rssia a formao econmica social feudal do campo se combina com o desenvolvimento da grande indstria capitalista. O privilgio dos pases historicamente defasados que realmente o so est em poder assimilar as coisas, ou melhor dizendo, em obrigar-se a assimilar antes do prazo previsto, saltando por cima de toda uma srie de etapas intermedirias.

Os trotskistas George Novack e Nahuel Moreno tem o mrito de ter desenvolvido esta lei de Trotsky em seus escritos sobre Lgica Marxista. Para ambos, a lei de Trotsky a lei mais geral que explica no apenas o desenvolvimento histrico mas tambm a origem do novo. Moreno em seu ensaio Lgica Marxista e Cincias Modernas esboa que a lei mais importante para compreender todos os fenmenos novos e a relao entre a genesis (o seja o movimento) e estrutura. impossvel compreender nenhum dos processos do desenvolvimento do capitalismo nesta nova fase se no for a partir da lei do desenvolvimento desigual e combinado, como to pouco nenhum fenmeno poltico que ocorra no sistema-mundo e sua fase imperialista da mundializao neoliberal, onde dominam as desigualdades e suas diferentes combinaes.Perguntas difceis, mas que devemos responderChegado a este ponto, surgem algumas perguntas, sobretudo na juventude e na esquerda que se separa do reformismo. Por que, se o trotskismo a corrente revolucionria em continuao ao leninismo, tem tido pouca incidncia nas revolues ocorridas depois da russa? E por que, se tem uma teoria e programa essencialmente corretos, existem tantas divises no movimento trotskista? A verdade que ambas so difceis de responder.E muito necessria esta resposta para aprender de nossos erros, porque se tem algo que temos que destacar no mundo que, diferente de outras pocas das quais a seguir falaremos, ns trotskistas estamos atuando muito. Estamos presentes na Grcia em Syriza, na Espanha em Podemos e outras formaes, nos EUA o trotskismo tem uma vereadora em uma grande cidade como Seattle e setores fazem parte da campanha de Bernie Sanders, na frica do Sul, na Turquia, na Bielorrssia e muitos outros pases do leste europeu e da Rssia. Aqui em Brasil somos muitos no PSOL, na Argentina praticamente toda a esquerda, no Per, na Venezuela para falar de alguns lugares.Leninismo e trotskismo

Uma primeira questo para tentar opinar sobre tais perguntas dar-lhe um contexto geral, um parmetro afirmao de que o trotskismo a continuidade do leninismo. Isto algo indispensvel que muitos trotskistas ou simpatizantes da causa levem em conta. verdade que Trotsky um continuador de Lenin, e pode ser tambm que em alguma das tantas polmicas que teve com Lenin tivesse tido razo em algumas. Mas como bem explica Roberto Robaina em seu folheto Notas teoria de Lenin sobre a revoluo de 1905, no captulo trotskismo e leninismo / tem um conceito importante que parte da elaborao que nossa corrente MES vem fazendo desde os finais dos anos 90. Trotsky um continuador em um contexto mundial diferente, marcado pelo triunfo da contrarrevoluo na Rssia. (Ver tambm O Internacionalismo e a construo de uma organizao internacional) / . Neste sentido o trotskismo foi um movimento mais defensivo e, portanto, mais parcial, menos universal que o leninismo.Lukcs em seu livro escrito quando jovem, diz que Lenin o formulador da teoria geral da revoluo e o via na dimenso terica, programtica e concreta da mesma. Ou seja, graas a esta compreenso foi capaz de levar a teoria ao concreto e ao e, tambm por isso, construir o partido bolchevique. Trotsky tambm terminou vendo-o assim, e da sua leal entrada ao partido bolchevique como mostra tambm Roberto no texto citado. Moreno considerava tambm que Lenin e todas as elaboraes da III Internacional eram mais universais, e creio que o mesmo se poderia dizer de Daniel Bensad lendo seus trabalhos sobre Lenin.Nahuel Moreno sempre comentava em seus cursos que o pensamento de Lenin era de uma totalizao mais aberta e portanto tambm mais concreta. Quando se discutia em seus cursos a revoluo permanente, Moreno dizia que a formula algbrica de Lenin ditadura democrtica de trabalhadores do campo resultou historicamente mais real que a de Trotsky que subordinava (para todo momento e lugar) o campesinato direo trabalhadora. E que Trotsky tinha uma tendncia generalizaes tericas e formulaes de leis que terminavam sendo mais esquemticas, como foi demonstrado na revoluo chinesa.No texto citado, Roberto afirma que parte dos militantes trotskistas, ao considerar Trotsky como o continuador de Lenin, do por entendido que a formulao revolucionria se faz essencialmente estudando e seguindo o que Trotsky escreveu, esquecendo-se de Lenin e suas obras.Trotsky cumpriu um papel histrico como continuador de Lenin. No haveria hoje revolucionrios internacionalistas sem Trotsky, que defendeu e susteve o legado do programa revolucionrio (no houve outro que o fizesse independente de seus aportes, no o fez Gramsci por exemplo), e tem o grande mrito de construir uma organizao, a IV internacional, para defend-la, uma bandeira sem mculas. Mas o fez em uma situao defensiva.O auge do stalinismo encurralou o trotskismo numa tarefa essencialmente de defesa do programa

Trotsky, apostava que a situao revolucionria que se abriria com a segunda guerra mundial iria permitir que a IV Internacional se transformasse em uma organizao de massas como foi a terceira depois da primeira guerra mundial. (Ver O internacionalismo e a construo de uma organizao internacional) Mas a realidade no foi assim. O stalinismo, que foi quem levou adiante a derrota do fascismo, saiu deste perodo com muito prestigio sobre os trabalhadores em todo mundo, e as revolues que ocorreram no ps-guerra terminaram sendo controladas na poltica de coexistncia pacfica surgida dos acordos de Yalta e Postdam e da diviso do mundo em zonas de influncia entre Stalin, Churchill e Roosevelt.Os revolucionrios que seguiam Trotsky j tinham sido enfraquecidos com a perseguio encarniada que fez o stalinismo antes da guerra. Stalin assassinou 90% do velho Comit Central Bolchevique e suas mortes alcanaram dezenas de milhares. Dez milhes morreram na Rssia sob a ditadura stalinista. A morte no chegou apenas a Trotsky, mas antes tinha tambm dizimado a sua famlia. Na luta contra o fascismo o trotskismo perdeu tambm uma grande quantidade de militantes, entre eles o brilhante Abraham Len, dirigente em Varsvia. No Vietnam, onde o trotskismo era forte, seu dirigente Ta Thu Thu foi assassinado pelo Partido Comunista do Vietnam sob a influncia de Stalin. O mesmo aconteceu na China.A IV, como lembrava Mandel na nota enviada ao MAS, quando da morte de Moreno, dizia que ele (Moreno) tinha defendido o programa em momentos difceis e isso extensivo a esta gerao dos anos 40, como a outras que seguiram e se formaram neste meio.Da que ante o auge stalinista, tanto a IV como as organizaes e partidos trotskistas que continuaram reivindicando-a e sendo parte dela, foram essencialmente de propaganda e defensivas. Isto significou tambm que nos ltimos anos de sua vida Trotsky contou apenas com punhados de seguidores nos diferentes pases, salvo possivelmente nos EUA com o SWP.Muitos de seus escritos deste perodo, onde coloca suas opinies para fortalecer seus grupos, esto influenciados por esta realidade. Em relao revoluo espanhola por exemplo, Trotsky escreveu textos brilhantes sobre a importncia das reivindicaes democrticas, mas se equivocou ao desqualificar aquele que era seu principal seguidor e principal dirigente, Andrs Nin, e fazer crticas fora de contexto quando este fundou o POUM com Maurin. Existem tambm outros debates exageradamente fracionrios em todo este perodo sobre tudo que teve que remar contra a corrente e intervir ante as disputas internas como as do trotskismo francs.Existem dois temas que merecem um estudo especial e que neste texto s poderemos enunciar e que se referem ao defeito que j citado por Roberto Robaina sobre a questo de levar em conta apenas as obras de Trotsky e, inclusive, tir-las de seu contexto. Um deles so seus escritos sobre a Frana, onde Trotsky mais desenvolve a anlise da poltica posterior ao terceiro perodo de Stalin das Frentes Populares. Nestes escritos Trotsky brilhante em sua anlise do bonapartismo e o proto fascismo, das milcias armadas da direita e da polcia da autodefesa trabalhadora para combat-las. Trotsky, corretamente oposto Frente Popular, ou seja, ao governo dos partidos de esquerda com setores da burguesia, inclusive chegou a sugerir, em algum momento, fazer os comits de ao popular pela base. Sem dvida, em suas anlises de todo este perodo, repetia a mesma poltica dos sovietes que se desenvolveu na Rssia.Em relao Catalunha tambm discutvel a crtica a Nin, quando o POUM entrou no governo (e logo saiu) j que no levava em conta, no caso da Espanha, a guerra civil que dividia o pas. Cremos modestamente que perdeu de vista a anlise concreta da situao concreta.Muitos trotskistas latino-americanos tambm confundiram os governos anti-imperialistas radicais com a Frente Popular que existiu nos pases adiantados. Assim, caracterizaram incorretamente o governo de Allende no Chile, esquecendo ento que este governo era muito mais uma frente nica anti-imperialista com traos kerenkistas, e o mesmo aconteceu com os governos bolivarianos.Propaganda e poltica

Os seguidores de Trotsky que continuaram a histrica tarefa de construir a IV Internacional viveram uma situao similar. Nos anos difceis aos que se refere Mandel, tiveram que enfrentar uma srie de presses que terminaram dividindo a IV Internacional.Ante enorme presso do reformismo e do stalinismo das dcadas posteriores a Trotsky, o trotskismo se fez essencialmente na defesa do programa, foi inexperiente e cedeu a presses na hora de fazer poltica. sabido que a poltica no se faz com o programa. O programa parte das necessidades sugeridas pelas massas em determinada etapa ou perodo e as organiza em relao s necessidades histricas, ou seja, luta pelo socialismo neste perodo. Enquanto a poltica tem que responder s necessidades presentes, partindo da correlao concreta de foras que h entre as classes sociais neste momento, ou seja, se faz baseada em uma anlise dos elementos presentes, que leva a uma caracterizao concreta e dinmica para, a partir desta, fazer a poltica que mobilize as massas por suas reivindicaes, tentando que neste processo mudem as condies e haja um avano em sua conscincia, para que faam a experincia com o governo e seu regime poltico.Fazer poltica com o programa o que leva ao propagandismo, uma tendncia que herdamos dos trotskistas. Da tambm que quando muitos grupos trotskistas fazem poltica, se baseiam na busca da diferenciao programtica com o centrismo ou o reformismo, e no na disputa da melhor poltica para mobilizar os trabalhadores.Partido, frao ou seita:A concepo de partido de Lenin

Uma das bases para que tantas divises ocorressem esto bem explicadas em um artigo de John Ross, um trotskista ingls, em seu trabalho: Partido ou Frao/Seita, no qual reivindica o critrio de partido de Lenin frente aos partidos faces.Contra a ideia bastante generalizada no trotskismo de que Lenin desde 1903 dividiu a socialdemocracia russa em dois partidos (bolcheviques e mencheviques), Ross demonstra que Lenin era uma faco da social democracia com a qual se reunificou organicamente em 1906, e se conservou como parte do partido socialdemocrata que existiu com suas diferentes alas, Trotsky inclusive era uma delas, at 1914, quando comea o novo auge revolucionrio. Ou seja, que o leninismo existiu como parte da socialdemocracia e posteriormente a partir de 1914 como partido bolchevique. Para o leninismo o partido se sustentava sobre a base do programa geral e em suas normas organizativas, estes eram e devem ser os critrios de partido e no a poltica. Logicamente este programa mudou no perodo revolucionrio e sobre a base dessa nova situao se produziu a ruptura.Este critrio de partido que permite que hajam diferenas polticas em seu interior, e que estas se discutam democraticamente, inclusive de forma pblica. Assim ocorreu no partido bolchevique.Contra a ideia do hegemonismo ou totalitarismo que as correntes luxemburguistas ou espontaneistas atribuem ao leninismo, o partido bolchevique foi um partido de disputa permanente de posies polticas, de tendncias e correntes de opinio. Lembremos as diferenas pblicas entre Stalin e a maioria do CC do partido com Lenin em maro de 1917 sobre apoiar ou no o governo menchevique, e posteriormente com Zinoviev e Kamenev sobre a tomada do poder. O bolchevismo foi um exemplo de democracia com tendncias e correntes de opinio pblicas. Foi o comunismo de guerra que obrigou a um regime mais estrito e a suprimir as tendncias e faces.Estes critrios do partido programa geral e normas de organizao somado insero dos trabalhadores, foram transformados em seu contrrio por Stalin, dito de maneira direta em um aparelho burocrtico que terminou sendo contrarrevolucionrio. Mas tambm foram deformados por correntes revolucionrias e pelo movimento trotskista. A etapa defensiva, de propaganda, de certo isolamento das massas, fez que primassem pelo carter e os hbitos de faco aos de partido.Uma faco ou tendncia se organiza ao redor de uma luta poltica determinada e, portanto, requer e tem uma alta homogeneidade poltica. Mas essa homogeneidade poltica difcil de conservar porque a poltica dinmica, muda e sempre existem diferenas, matizes, choques de opinies. Da que esse critrio de partido faco com o qual se construram numerosos grupos trotskistas leve s divises por qualquer diferena poltica que rompem a unidade estabelecida. Definitivamente ocorre porque se perderam os verdadeiros critrios de partido: suas normas de organizao e seu programa.Ao mesmo tempo, para que essa unidade poltica se sustente, necessrio que o mesmo regime interno seja de uma disciplina estrita, necessrio para acatar essa poltica. Por isso o partido faco deixa de ser um organismo vivo no qual a poltica se nutre da discusso sadia dos militantes em organismos, em um contato direto sadio entre a base e a direo. Falamos de organismos de base intimamente vinculados e inseridos em uma base social que seja receptiva s necessidades dela, e de organismos de direo em estreito contato com seus militantes e seus organismos para fazer uma interao que permita procurar a melhor poltica e a unidade de ao para aplic-la. Ao contrrio, os partidos faces terminam tendo direes com traos aparatistas. Da faco seita h um passo; essa poltica se transforma em um dogma que se repete e repete. E os laos polticos sadios da militncia partidria so substitudos por laos criados ao redor da f na poltica transformada em dogma.Este tem sido um problema que arrasta o trotskismo e explica tambm, muitas vezes, as divises. Cremos que na corrente morenista que ns reivindicamos no temos sido alheios a isto, da a importncia de reconhec-lo para no repeti-lo.O que ser trotskista hoje? (tema inconcluso)

Responder esta pregunta nos leva, em primeiro lugar, a afirmar a mesma resposta que Moreno deu em 1986, a qual compartilhada por outros revolucionrios de sua gerao como Ernest Mandel.em primeiro lugar, ser trotskista significa ser crtico inclusive ao prprio trotskismo.

Ser trotskista hoje no significa estar de acordo com tudo o que foi escrito ou disse Trotsky, seno fazer-lhe as crticas para super-lo () O marxismo pretende ser cientfico e a cincia ensina que no existem verdades absolutas.Compreender que estamos ante um novo perodo histrico que nos tem colocado novas tarefas e novos desafios que s podemos compreender tendo uma viso internacionalistaA caracterizao deste novo perodo um tema aberto, cheio de incertezas. O sculo XXI nos trouxe um novo perodo histrico muito complexo, talvez seja o perodo mais difcil para ser explicado pelos leninistas trotskistas, embora tenhamos boas ferramentas para faz-lo: a radiografia essencial do capitalismo que nos deixou Marx, a teoria revolucionria de Lenin, Trotsky e os novos marxistas que tem surgido, em particular as elaboraes que tem trazido muitos trotskistas formados na dcada de 60.Mais que em nenhum outro perodo, a nova realidade responde lei do desenvolvimento desigual e combinado. Vivemos em um perodo de decadncia do sistema e da maior crise do capitalismo; dizemos a maior porque na qual se renem mais elementos sistmicos, onde se apresentam diferentes crises (econmica, ambiental, poltica, social) em meio a uma nova fase do imperialismo que podemos chamar da mundializao neoliberal, na qual se tem produzido a maior concentrao de capital em mos de grandes corporaes, onde tambm se tem produzido o mais alto grau de financeirizao do mesmo e a maior e mais aguda desigualdade.Neste perodo ocorreu o fim do chamado socialismo real, que significou tambm o fim do stalinismo como aparato mundial, do qual j falamos sobre o papel de freio que cumpria. Foram revolues democrticas quer terminaram com as ditaduras burocrticas mas que no abriram o caminho at um socialismo com democracia, seno restaurao do capitalismo.A crise do capitalismo, de seu domnio e de seus regimes tem degenerado as conquistas de liberdades democrticas das prprias revolues burguesas. A democracia burguesa e suas instituies tem convertido os partidos polticos do regime em agentes do grande capital dominante, das grandes corporaes e dos bancos. Nos partidos polticos do regime surgiu uma casta poltica que atua como classe burguesa sui-generis, unida organicamente a essa neo-oligarquia mundial participando de seus benefcios, o que tem dado lugar a um perodo onde a corrupo permanente se transformou em uma forma de gerenciar o estado.Ser internacionalista hoje defender a bandeira sem mculas da IV Internacional e, ao mesmo tempo, lutar por uma nova internacional onde, como dizia seu criador, os trotskistas sejamos minoria. Isto significa uma nova organizao internacional na qual se possa organizar todos os internacionalistas que necessitam unir-se para enfrentar o imperialismo e as grandes corporaes donas do grande capital.

A grande contradio deste momento histrico que vivemos uma grande desigualdade (mais que desigualdade, uma contradio) entre a crise global do capitalismo e a ausncia de um modelo alternativo de sociedade, uma ausncia ideolgica de um novo paradigma provocado pelo fracasso do socialismo real.Ao mesmo tempo, esta nova fase da mundializao neoliberal terminou com a desigualdade norte/sul (no no sentido de pases imperialistas e pases dependentes que se aprofundou), mas no terreno social; a pobreza deixou de ser propriedade dos pases atrasados para expandir-se em todo o mundo, basta ver o nvel de pobreza nos EUA. Ser internacionalista hoje confiar tambm na classe operria e os setores explorados dos pases mais adiantados como destacamentos insubstituveis para derrotar o capitalismo e terminar com a explorao a nvel mundial.Estar na primeira fila nas mobilizaes dos trabalhadores e todos os setores explorados e oprimidos, especialmente da juventude, sem deixar de confiar nos trabalhadores como o sujeito social principal da revoluo.Os trabalhadores e os povos no deixaram de lutar. Neste novo perodo ocorreram as revolues rabes que logo evoluram, e os grandes levantes populares e juvenis dos indignados, grandes mobilizaes democrticas populares que seguem se espalhando, reclamando democracia real, enfrentando a corrupo, lutando por mais direitos, enfrentando o capitalismo. Assim sendo, sem um programa anticapitalista acabado, as massas esto longe de ser derrotadas. s rever o que ocorre nestes dias (Guatemala, Honduras, ndia, Indonsia). No somos de opinio de que haja uma ofensiva da direita em escala mundial. um perodo onde ao sujeito social revolucionrio da classe trabalhadora se somam numerosos novos setores da classe mdia despojada dos direitos democrticos e, por sua vez, relativamente empobrecida pela minoria que domina a economia mundial. Onde tambm se mobilizam por seus direitos e logram conquistas setores oprimidos, em primeiro lugar as mulheres, em sua luta por liberdade e igualdade de direitos, os negros que so os setores mais explorados em numerosos pases e a comunidade LGBT.Temos que reconhecer que a mundializao do capital tem permitido ao capitalismo mundializar a produo das multinacionais, fazendo cadeia de produo em diferentes pases, criando um exrcito mundial de reserva e, desta maneira, fragmentando tambm a nossa classe que no pode responder com uma organizao a nvel mundial. A precarizao do trabalho tambm um problema. Esta situao tem levado marxistas a posies ps-modernistas que negam as classes e os sujeitos sociais. Sem dvida, a classe trabalhadora cresce em nmero, e seguir representando o papel estratgico principal para a derrota do capital.Ser parte dos novos processos polticos e constru-los lealmente sem ocultar por isso nossas ideias e nosso programa, mas construindo-os essencialmente baseado em uma poltica de ruptura com o capitalismo.

Da crise que no para e das mobilizaes e, em particular, dos indignados, tem se nutrido tambm novos processos polticos que de forma intermediria, no entanto, assumem posies confrontadas com a globalizao neoliberal. Syriza na Grcia, Podemos na Espanha e as plataformas de unidade com movimentos sociais em Madri e Catalunha, o PSOL no Brasil, que tambm se tem que somar a revitalizao de esquerda no trabalhismo ingls e o fenmeno de Bernie Sanders, candidato independente socialista nas primarias do Partido Democrtico.Adiantando-se a este processo tivemos o surgimento do bolivarianismo em pases latino-americanos. Precisamente estes foram uma experincia e uma prova que tivemos que fazer os trotskistas latino-americanos. Contra o propagandismo que fechou a porta a este processo de nacionalismo radical progressivo, o que terminou isolando-os deles mesmos e das massas, fomos os que intervimos nos mesmos com a linha da frente nica anti-imperialista. O processo de esgotamento dos mesmos por seu processo de aburguesamento e burocratizao o que nos permite agora disputar as massas para levantar suas bandeiras progressistas e construir novas alternativas. Algo similar ao que agora ocorre com Syriza e a Plataforma de Esquerda.Ser trotskista significa ter o leninismo como a base metodolgica mais consciente e provada para a formao dos quadros revolucionrios.

A crise ideolgica que vivem as massas tem sido campo fecundo para o desenvolvimento de ideias ps-modernistas e a teorizao equivocada do horizontalismo, o neo-anarquismo em setores de vanguarda e em especial na juventude. O movimento trotskista o que melhor resistiu e resiste a estas presses ainda que, como j o dizamos neste texto, tendo setores que o fazem com respostas propagandistas ou de sectarismo. Lenin sustentava que as formas de organizao mudam de acordo ao perodo da luta de classes, mas nem por isso deixava de sustentar princpios centrais sobre os quais j falamos neste texto. Esses pilares so os que tem que nos dar a confiana para saber, como Lenin, adaptar a organizao do partido aos determinados momentos da luta de classes.Um aspecto importante da luta de Lenin e Trotsky foi o combate ao terrorismo individual, o qual consideravam uma forma negativa e distorcida da luta de classes que favorecia definitivamente represso e, por outro lado, substitua o papel dos trabalhadores e seus aliados. Ambos no o faziam de uma posio pacifista, j que ambos defendiam a necessidade da luta armada como mtodo de luta para enfrentar ao estado burgus. importante retomar esta tradio e suas consequncias j que so novamente um elemento da realidade. No Brasil apareceu de maneira incipiente atravs das aes de black blocks, mas no mundo rabe e islmico so uma realidade que no apenas atua nesses pases em organizaes reacionrias e retrgradas como o Estado Islmico e Al Queda, mas que estendem seus braos at a Europa, onde uma juventude de origem islmica se soma a estas organizaes. A formao no leninismo-trotskismo o que nos permite combater politicamente estes setores e afastar os setores de vanguarda desta concepo extremamente equivocada.Formular um programa de transio que incorpore as novas tarefas e em particular as tarefas democrticas, levando em conta a nova relao que existe entre a democracia e o anticapitalismo neste perodo.

Esta nova fase da mundializao neoliberal, que definitivamente colocou as contradies e a crise do capitalismo a olhos vivos, colocou tambm uma importante quantidade de novas reivindicaes e novas tarefas que sempre tem estado presentes mas que agora so contradies muito mais notveis.Uma primeira e talvez mais importante questo seja a que o movimento dos indignados tem denominado como democracia real, que contm uma crtica frontal aos atuais regimes polticos da democracia burguesa para os 1%. O tema de sustentar uma reforma poltica radical de participao popular e de novas assembleias constituintes soberanas que reorganizem o pas sobre outras bases igualitrias se transformou em uma consigna relevante que surge como uma necessidade na medida que aparecem as fortes crises polticas vinculadas tambm corrupo em numerosos pases. No sentido de consigna de democracia real ou democracia para todos vai tomando um carter mais transicional, deixa de ser a bandeira com a qual a burguesia dominou o movimento de massas para comear a voltar-se contra ela neste novo perodo histrico.Est tambm como uma tarefa presente a questo ecolgica, de carter anticapitalista j que o capitalismo no pode resolver. Frente ao extrativismo como prtica das grandes multinacionais do imperialismo h uma resistncia campesina e popular em todo o altiplano e os Andes latino-americanos. O mundo vai tomando conscincia dos perigos que representa para a humanidade o ataque natureza e o aquecimento global.O ttulo deste captulo diz que o tema est inconcluso e assim que est. uma tarefa que precisa de muitas cabeas, muitas organizaes e muitas mos para ser formulada. um desafio a mais que colocamos ns, os revolucionrios.

Conceitos Polticos BsicosNahuel Moreno e Mercedes Petit

ApresentaoEste texto foi preparado primeiramente para o estudo dos militantes do Movimento aos Socialismo (MAS) argentino.Seu contedo trata de temas polticos bsicos: estratgia e ttica, propaganda, agitao e ao, programa e palavras-de-ordem, e alguns elementos das tticas de acordos, pactos, unidades de ao e frentes. At aqui, todo ele j foi publicado anteriormente, em novembro de 1986 no Caderno de Formao n7 da Convergncia Socialista e tambm em outra edio de agosto de 1989, que contava com um captulo sobre anlise, caracterizao e poltica, feito pelos editores brasileiros com base em materiais anteriores dos mesmos autores.Agora este texto novamente reimpresso dada a importncia do texto, que continua hoje sendo bastante procurado por novos e tambm velhos militantes revolucionrios que buscam bases para sua atuao cotidiana.So Paulo, abril de 2010

ESTRATGIA E TTICAO marxismo extraiu esses dois conceitos da cincia militar. Como explicvamos no texto Um documento escandaloso, de 1973, a estratgia tem a ver com o objetivo final, de conjunto, a longo prazo, e as tticas so os diversos meios para chegar a esse objetivo. Ambos so termos relativos. Ou seja, sempre temos que definir em relao a qu uma questo estratgica e em relao a qu uma questo ttica.Esse carter relativo dos dois conceitos faz com que o que estratgico numa determinada etapa ou tarefa parcial, seja ao mesmo tempo ttico em relao a um objetivo superior ou mais geral.No mesmo texto que citamos acima, dvamos como exemplo desse carter relativo o fato de que, numa etapa de retrocesso das lutas operrias, podemos dizer que temos a estratgia de desenvolver lutas sindicais defensivas, e que em relao a essa estratgia, a ttica pode ser, por exemplo, uma greve longa e no outras tticas, como a ocupao de fbrica, por exemplo. Mas a greve longa uma estratgia em relao tticas, ao meio que usamos para garanti-la, como por exemplo, a organizao de piquetes. E os piquetes passam a ser uma estratgia em relao tticas que usamos para constru-lo (se so pblicos, eleitos em assembleia, ou clandestinos, eleitos secretamente pelo comit de greve). E a prpria estratgia pela qual comeamos, o desenvolvimento de lutas sindicais defensivas, torna-se uma ttica em relao a nosso objetivo estratgico, que obter vitrias importantes que ajudem a transformar a etapa de retrocesso em uma etapa de ascenso do movimento operrio.O trotskismo tem s duas estratgias a longo prazo: mobilizar as massas e construir o partido para tomar o poderEstando clara a definio precisa dos dois termos, passemos agora a um problema poltico e programtico fundamental. Na atual poca histrica que vivemos da dominao imperialista decadente e da revoluo socialista ns, trotskistas, temos algum objetivo estratgico fundamental, decisivo, a longo prazo? A resposta que, a longo prazo e a escala nacional e mundial, ou seja, em cada um dos pases e em todo o mundo, temos duas estratgias, ou dois objetivos estratgicos permanentes: construir o partido, para que a classe operria e as massas tenham uma direo revolucionria, e a mobilizao da classe operria e das massas para tomar o poder e fazer a revoluo socialista vitoriosa.Para ns, esse o caminho para derrotar a burguesia, o imperialismo e seus agentes, as direes traidoras e burocrticas, ou seja, o stalinismo em todas as suas variantes, do maosmo ao castrismo, o sandinismo, a social-democracia e as burocracias sindicais do mundo todo, e instaurar o socialismo em nosso pas e no mundo Enquanto estivermos na atual poca histrica, de luta implacvel contra o imperialismo e seus agentes, em relao a esses dois objetivos estratgicos fundamentais, todo o resto ttico, mesmo que falemos uma infinidade de vezes em estratgias, em relao a todo tipo de tarefas e situaes ou etapas parciais.Para desenvolver essas duas estratgicas, podemos e devemos procurar e utilizar as tticas adequadas a cada momento: intervir nas eleies, formar chapas de oposio antiburocrticas, fazer reivindicaes econmicas mni- mas de aumento de salrios, etc, etc. Qualquer ttica pode ser vlida se que serve, na situao concreta da luta de classes, para melhor conquistar nossa estratgia. Por isso, as tticas so usadas e descartadas sempre que necessrio, de acordo com as mudanas na luta de classes.Como explicvamos no texto citado, esta definio dos fins estratgicos a longo prazo e do carter varivel e amplo das tticas caracterstica dos bolcheviques, do leninismo e do trotskismo. Outras correntes do movimento operrio fazem o oposto. Confundem a estratgia com algumas tticas privilegiadas e as transformam em estratgia permanente. Por exemplo, a social- democracia, desde o comeo do sculo, transformou as tticas corretas de interveno eleitoral e no Parlamento atravs de deputados operrios, em um fim em si mesmo, estratgico, ao qual subordinou todo o resto, inclusive a greve e a mobilizao independente das massas. Os partidos comunistas stalinistas transformam as tticas corretas de fazer acordos ou unidade de ao conjunturais com setores burgueses contra o imperialismo ou os fas- cistas (por exemplo, na Faculdade de Direito de Buenos Aires, formar um grupo armado junto com os militantes do Partido Radical para nos defender dos fascistas), em uma estratgia frentista permanente com a burguesia no terreno das frentes populares, ou seja, da conciliao de classes. Os guerri- lheiristas transformam a luta armada em estratgia sagrada e permanente. Os anarquistas cometem o erro oposto. S aceitam os princpios e as estrat- gias, no as tticas. A nica resposta do anarquismo clssico s lutas dirias do movimento operrio desde o sculo passado, por salrios, polticas, de- mocrticas, ou o que fossem, era Abaixo o estado burgus!A histria do bolchevismo, pelo contrrio, uma luta constante para impor em todos os campos (tanto o da construo do partido, como o da mobilizao das massas), os meios e as tticas adequadas a cada momento da luta de classes, contra as diversas correntes que reivindicavam um s meio ou ttica, transfor- mado em estratgia. O bolchevismo lutou contra os terroristas, mas soube usar o terror; lutou contra os sindicalistas, mas foi o campeo na luta sindical; lutou contra os parlamentaristas, mas usou o parlamento de forma hbil e revolu- cionria; lutou contra a guerrilha, mas soube fazer guerrilhas; lutou contra os espontanestas, mas soube colocar-se frente das mobilizaes espontneas. E, diferentemente dos anarquistas, que passaram toda vida ameaando com Abaixo o estado burgus, sem consegui-lo, o bolchevismo soube faz-lo quando foi necessrio e possvel. Isto porque todas as tticas, que utilizou com audcia e sem nenhum preconceito, sempre estiveram a servio de seu grande objetivo estrat- gico: seu desenvolvimento como partido dos trabalhadores, para que as massas russas tivessem uma direo revolucionria e, ao mesmo tempo, a mobilizao dessas mesmas massas, o que lhe permitiu tomar o poder e fazer a revoluo socialista em Outubro de 1917.Algumas caractersticas de nossos objetivos estratgicosNossas duas grandes tarefas permanentes, a construo do partido e a mobilizao, tm, cada uma delas, sua prprias caractersticas, suas prprias leis de desenvolvimento, especficas, ainda que estejam indissoluvelmente unidas e ambas se deem no mesmo marco, que determina tudo, que a luta de classes e sua dinmica. Aqui, para os objetivos de nosso estudo, queremos nos deter somente em um aspecto, no qual ambas as tarefas so apostas. Esquec-lo muito perigoso, j que pode destruir o partido e no ajuda a mobilizao. A primeira, a construo do partido, depende muito de ns ( subjetiva), enquanto que a mobilizao, no. E independente dos desejos e da vontade (e at da existncia) dos revolucionrios. Por isso dizemos que objetiva. Quando ocorre, ocorre. H etapas de luta e de mobilizao, e etapas nas quais estas no ocorrem. Por isso to importante procurar sempre as tticas, a poltica, que responda situao objetiva.Se no h vontades revolucionrias unidas que se proponham, de maneira constante e conseqente, a construir um partido revolucionrio, este no existir. Nesse sentido depende de ns, enquanto que a mobilizao o oposto. No depende da vontade ou do que faam os revolucionrios. Inclusive a mobilizao revolucionria, que provoca a crise revolucionria e o vazio de poder. Esquecer este aspecto decisivo da mobilizao de massas no somente levaria os revolucionrios como ns a errar nas tticas (uma ttica prpria da etapa de mobilizao, colocada numa etapa de retrocesso, no somente no provoca a mobilizao, como destri o partido), como tambm est na base de todos os desvios voluntaristas das diferentes variantes do guerrilheirismo foquista e terrorista.Nossa insistncia no carter objetivo da mobilizao, independente de nossa vontade, mais importante pelo fato de que, hoje em dia, todos os grupos trotskistas, inclusive ns, no somos partidos com influncia de massas. Diante de um partido revolucionrio com influncia de massas, a questo mudaria bastante, mas no totalmente. Independentemente do tamanho do partido, a busca sistemtica de mobilizao em nossa ttica poltica somente poder se dar nas etapas nas quais essas condies de mobilizao existam. Quando for este o caso, se j somos um partido com certa influncia, ou pelo menos um partido slido, mesmo que seja de vanguarda, e no um pequeno grupo, ser tarefa fundamental a busca sistemtica da ao, da mobilizao, aliada s tarefas especficas de construo do partido. A partir da podero se dar as tticas mais diversas.

PROPAGANDA, AGITAO E AOQueremos simplesmente recordar as definies clssicas.Propaganda a atividade de dar muitas idias a poucas pessoas. Agitao a atividade de dar poucas idias a muitas pessoas. No texto Partido mandelista ou partido leninista?, dizamos:A propaganda abrange desde um curso de economia marxista ou de l- gica dialtica at a conversa individual com um ativista operrio ao qual ex- plicamos a situao nacional e internacional, nosso programa e as diferenas entre a nossa e as outras organizaes operrias. A agitao, pelo contrrio, consiste em colocar umas poucas palavras de ordem (s vezes somente uma), que dem soluo para a luta que esteja colocada em cada momento para o movimento operrio ou de massas (aumentos salariais, liberdades democrticas, assemblia constituinte, todo o poder aos soviets, etc.) (p. 40)O MAS, que no momento um partido pequeno em relao a toda a classe operria argentina, em relao populao explorada do pas, faz com seu jornal um trabalho sistemtico, semanalmente, de propaganda sobre os ativistas e trabalhadores dos sindicatos e bairros que no lem. Durante a campanha eleitoral tivemos a oportunidade de fazer agitao para uma audincia muito maior, em torno, por exemplo, da palavra de ordem de no pagamento da divida externa. Em geral, a propaganda se dirige vanguarda e a agitao a toda a populao trabalhadora, classe operria e s massas exploradas. Devido s nossas foras atuais, dificilmente o partido pode fa-zer agitao para toda a populao no sentido estrito do termo, salvo uma situao excepcional como a campanha eleitoral. Entretanto, ao falar de um sindicato ou uma fbrica, podemos sim fazer agitao quando, em funo de uma luta ou de uma campanha de eleio sindical, nos jogamos com tudo, imprimimos milhares e milhares de panfletos, fazemos piquetes nas portas de fbricas etc. Nos colocando na perspectiva de nos transformarmos em um partido com influncia de massas, podemos dizer que o que caracteriza a atividade de um partido revolucionrio a agitao sobre o conjunto da po- pulao explorada. Atualmente, salvo algumas excees, podemos intervir assim somente em sindicatos ou empresas.O companheiro James Cannon, antigo dirigente norte-americano da III Internacional, e um dos primeiros a acompanhar Trotsky em sua luta contra a burocratizao do PCUS (Partido Comunista da Unio Sovitica) e da III Internacional, nas dcadas 20 e 30, fez uma contribuio importante para estas definies clssicas de agitao e propaganda. Cannon agregou um segundo tipo de agitao, para a ao: o lanamento de palavras de ordem para serem concretizadas. No somente para que sejam ouvidas por milhares de pessoas, mas tambm para que, ao ouvi-las, esses milhares passem ao, porque esto maduras as condies subjetivas. A palavra de ordem ser meramente agitativa, ou para a ao, segundo as possibilidades de que seja concretizada, segundo a conscincia da classe trabalhadora. As palavras de ordem que colocamos em nossa agitao refletem necessidades prementes, urgentes, e se combinam, ou melhor dizendo, quando se combinam com um amplo nvel de conscincia ou seja, com o fato de que os trabalhadores se do conta de que tm que faz-las, ou que tm que sair com deciso luta para conquist-las se transformam em palavras de ordem para a ao. Por exemplo, a palavra de ordem que Trotsky sempre sugeria aos companheiros do SWP dos EUA, de formar um par- tido trabalhista, era meramente agitativa. De repente, os companheiros a transformaram em outra palavra de ordem parecida, mas errada: faamos j um partido trabalhista. Dissemos errada porque ningum queria faz- lo naquele momento, nem os operrios, nem seus dirigentes sindicais. O que quer dizer a palavra de ordem que o MAS levanta sistematicamente, de que necessitamos de um partido dos trabalhadores? Significa que estamos chamando os dirigentes sindicais, os ativistas classistas e todos os trabalhadores a no se unirem politicamente com os patres, e sim ter um partido da classe, considerando-o uma tarefa urgente, muito necessria, e que deve ser feita o quanto antes. Mas sabemos que, infelizmente, no podemos faz-lo j, no podemos convocar uma reunio ou congresso de fundao desse partido operrio, porque no existem correntes operarias, dispostas a faz-lo. Desgraadamente no existe esse nvel de conscincia e, portanto, no uma palavra de ordem para a ao. Entretanto, no Brasil, em 1979, o chamado da Convergncia Socialista, nosso partido irmo brasileiro, teve um eco favorvel, e foi tomado para a ao por um importante setor de vanguarda operria, em particular pelos metalrgicos da Grande So Paulo, encabeados pelo dirigente Lula, e se formou o PT.Um exemplo positivo, que se concretizou de imediato, pode ser o chama- do Faamos uma marcha unitria contra a OTAN, na Espanha, neste ano, quando comearam a desenvolver as mobilizaes pacifistas anti-OTAN, antes do plebiscito feito por Felipe Gonzles, sobre se se entrava ou no na OTAN (Organizao do Tratado do Atlntico Norte, a direo militar dos principais passes imperialistas europeus e Estados Unidos). Apesar de que nosso partido, o PST espanhol, muito pequeno, a marcha unitria se realizou, houve uma ao das massas, porque o chamado correspondia dinmica da situao do pas naquele momento.Esta importante preciso de Cannon sobre a agitao para a ao nos permite fazer uma vinculao ao que dizamos anteriormente em relao s nossas tarefas estratgicas. Podemos dizer que h agitao para a ao para as massas, e agitao para a ao para o prprio partido, internas a nosso movimento. Por exemplo, em 1984/85, o MAS discutiu e resolveu colocar uma palavra de ordem para a ao partidria: Faamos mil equipes de base. Mesmo que estejam indubitavelmente vinculadas, existe uma diferena evidente entre as aes e mobilizaes que fazem as massas e as que propomos a nossos partidos.PROGRAMA E PALAVRAS-DE-ORDEMEsquematicamente poderamos dizer que a palavra-de-ordem uma s idia ou tarefa, e o programa todo um sistema, um conjunto de palavras-de-ordem que respondem s tarefas para toda uma etapa, para um perodo. Para dar um exemplo de programa, podemos dizer que os documentos dos quatro primeiros Congressos da III Internacional (1919-1922), o Pro- grama de Transio (1938) e outros documentos trotskistas importantes, at chegar ao Manifesto da LIT (1985), so para ns a base programtica, o enunciado das tarefas histricas para a classe operria e a direo revolucionria na poca de dominao imperialista decadente que estamos vivendo.Em 1985 o MAS votou seu Programa, onde colocamos o que necessrio fazer na Argentina atual para sair da decadncia, para resolver o problema da explorao e da submisso ao imperialismo.Tanto nos programas que mencionamos anteriormente como no nosso, existem inmeras idias e tarefas, inmeras palavras-de-ordem, mas de importncia diferente. Podemos sintetizar a estrutura de um programa assinalado que ele deve responder em toda etapa a trs problemas fundamentais: o do governo, do regime e do sistema. E em tomo da resposta que damos a estes trs problemas ou eixos fundamentais, em cada etapa, que iro se combinando todos os demais problemas e tarefas. No folheto 1982: comea a revoluo, em relao s mudanas no programa em funo das mudanas na etapa, dizemos: Esta mudana na situao objetiva (pela vitria da revoluo democrtica) impe uma mudana no programa e palavras-de-ordem partidrias. Na etapa contra-revolucionria, sob a ditadura militar, nossa palavra-de-ordem central era negativa: Abaixo a ditadura! Assim como foi na Rssia, Cuba ou Nicargua: Abaixo o Czar, Batista ou Somoza! Porque para abrir caminho para a revoluo socialista, devamos, antes de mais nada, destruir o obstculo do regime burgus contra-revolucionrio. Porm, a partir da vitria da revoluo democrtica, da queda desse regime, as palavras-de-ordem anticapitalistas passam a ser centrais. Se antes chamvamos os trabalhadores a concentrar suas mobilizaes para derrubar a ditadura, agora os chamamos para que concentrem foras para liquidar o sistema capitalista imperialista. Dizemos a eles que a grande tarefa derrotar os partidos burgueses e pequeno-burgueses que esto no poder, para que a classe operria assuma o governo com seus partidos e organizaes. Os chamamos a fazer uma nova revoluo para mudar o carter do estado, no somente do regime poltico: uma revoluo social ou socialista. Poderamos dizer que os chamamos para que faam de forma consciente e centralizada o que esto fazendo de fato de forma inconsciente e dispersa: lutar contra o capitalismo e o estado burgus.Aparentemente, as palavras-de-ordem parciais nesta etapa so as mesmas que na anterior: sempre chamamos luta por salrios, empregos, educao, moradia, sade, liberdade e libertao nacional da opresso imperialista. Porm, antes da queda da ditadura, todas essas palavras-de-ordem se uniam em tomo de derrubar o regime poltico, a ditadura militar. Agora, nesta etapa revolucionria e sob o novo governo se unem em torno ao eixo de terminar com sistema capitalista semicolonial, ou seja, com o estado burgus, para impor o socialismo.Por isso, nesta etapa, nossas palavras-de-ordem centrais j no so negativas como antes, mas sim positivas. Dizemos, evidentemente, Abaixo o regime capitalista semicolonial!, mas colocamos fundamentalmente Por um governo de classe operria apoiado no povo trabalhador!. Esta palavra-de-ordem central assumir as formas mais concretas possveis, como foi na Rssia, Todo o poder aos Soviets, ou na Bolvia, Todo o poder COB!. Neste momento, como ainda no existem na Argentina organismos e poder das massas, como foram os Soviets ou os sindicatos revolucionrios, temos que colocar uma palavra-de-ordem mais abstrata em geral: Por um governo socialista ou operrio e socialista. Mas devemos nos preparar para detectar o surgimento desses organismos de poder das massas. E tambm, no caso de que no surjam, ou sejam fracos, ou se dem ao mesmo tempo que o aparecimento de partidos burgueses ou pequeno-burgueses, que se enfrentem objetivamente com o imperialismo, devemos estar preparados para chamar esses partidos que hoje no existem a que tomem o poder e rompam com a burguesia, ou seja, o governo operrio e campons ou no nosso caso operrio e popular. (p. 27 e 28)No Programa do MAS, introduzimos uma palavra-de-ordem programtica muito importante como expresso atual, como ponte ou transio para a palavra-de-ordem de poder do governo operrio e popular, que por um Plano econmico da CGT, que seja votado democraticamente e controlado pelos trabalhadores, e que foi adquirindo cada vez mais atualidade frente ao crescente deterioramento da situao econmico-social do pas e a entrega ao imperialismo.As palavras-de-ordemEnquanto que para cada etapa de classes h um programa, podemos dizer que as palavras-de-ordem so infinitas. No pagamento da divida externa! Moratria! Fora Rockfeller! Vote chapa 2! Abaixo o burocrata tal! Paremos todos no dia 25!, so todas palavras-de-ordem.Poderamos continuar dando centenas e milhares de exemplos. Podemos agrupar ou classificar as palavras-de-ordem a partir de diferentes pontos de vista. Pelo tipo de tarefas que foram surgindo nas diversas pocas histricas, nosso programa abarca vrios tipos de palavras-de-ordem. As democrticas, desde o sculo XVIII, arrancadas pelo povo e para todo o povo na poca do ascenso do capitalismo (liberdade de trabalho, igualdade perante a lei, go- verno eleito pelo voto, reforma agrria, independncia ou unidade nacional, etc.). A partir da segunda metade do sculo XIX, as mnimas, econmicas ou parciais, arrancadas por e para a classe operria, na poca das reformas do capitalismo e surgimento do imperialismo (jornada de oito horas e demais leis trabalhistas, como a proteo do trabalho das mulheres e das crianas, justia trabalhista, liberdade de organizao nos sindicatos, legalidade para os partidos operrios, etc.).Com a entrada na poca atual, de revoluo socialista internacional e decadncia e contra-revoluo do imperialismo e da burguesia, iniciada com a guerra imperialista de 1914 a 1918, com o triunfo da revoluo socialista na Rssia em Outubro de 1917, e que logo se expressou nos fenmenos contra-revolucionrios do fascismo nos pases capitalistas e de stalinismo no primeiro estado operrio, surgem novas tarefas e palavras-de-ordem: as transitrias, as da revoluo poltica ou luta antiburocrtica na URSS e, frente ao fascismo e a contra-revoluo burguesa, as democrticas tradicionais readquirem uma importncia enorme.O Programa de Transio (Trotsky, 1938) define assim esta poca:...a poca do capitalismo em decomposio, quando j no lhe possvel tratar de reformas sociais sistemticas, nem da elevao do nvel de vida das massas; quando a burguesia retoma cada vez mais com a mo direita o dobro do que deu a esquerda (impostos, inflao, deflao, vida cara, desemprego, taxas alfandegrias, lei de greve, etc.); quando qualquer reivindicao sria do proletariado e at qualquer reivindicao progressiva da pequena-burguesia conduzem inevitavelmente alm dos limites da propriedade capitalista e do estado burgus.Poderamos definir as reivindicaes transitrias propriamente ditas como aquelas solues socialistas, aquelas tarefas do poder operrio que levantamos atualmente diante do agravamento das condies de vida das massas sob a decadncia do sistema capitalista. Diz o Programa de Transio: preciso ajudar as massas no processo da luta cotidiana, a encontrar a ponte entre suas reivindicaes atuais e o programa da revoluo socialista. Esta ponte deve consistir em um sistema de reivindicaes transitrias, partindo das condies atuais e da conscincia atual de amplas camadas da classe operria e conduzindo invariavelmente a uma s e mesma direo: a conquista do poder pelo proletariado.A revoluo polticaAlm disso, o Programa de Transio assinala outro aspecto caracterstico desta poca: a burocratizao das organizaes operrias, em particular dos sindicatos e muito especialmente, a partir da dcada de vinte, a burocratizao do primeiro estado operrio - a Unio Sovitica -, o que tem como conseqncia trgica a crist histrica da direo do proletariado, e coloca como urgentes e decisivas as tarefas e reivindicaes da revoluo poltica, da luta antiburocrtica e a necessidade de construir uma nova direo revolucionria internacional.A expresso revoluo poltica, desenvolvida por Trotsky em seu livro A Revoluo Trada (1936), onde analisa detalhadamente o fenmeno social da burocratizao na Unio Sovitica, faz aluso ao fato de que ali no necessria uma revoluo no sentido de arrancar o poder econmico das mos de uma classe para que passe a outra, que denominamos classicamente de revoluo social. Toda a anlise da burocratizao da Unio Sovitica parte da demonstrao categrica de que se mantm a base social do estado operrio, a mxima conquista da Revoluo de Outubro: a expropriao econmica da burguesia e do imperialismo, ou seja, que se mantm a conquista da revoluo social de 1917-1918. O triunfo da contra-revoluo burocrtica encabeada por Stlin significou a perda do controle democrtico dos trabalhadores sobre suas instituies de poder, a perda de democracia operria que havia florescido nos primeiros anos da Revoluo. Para reconquist-la, necessrio uma revoluo, mas somente na superestrutura. Uma revoluo no sentido da mobilizao e do enfrentamento contra a casta burocrtica que no est disposta a renunciar a seus privilgios. O que preciso revolucionar so as instituies do novo regime contra-revolucionrio e, por isso, dizemos revoluo poltica. Porque a estrutura, a base econmica da sociedade, continua nas mos da classe dominante no pas, os trabalhadores, apesar de terem sido expropriados em seus direitos democrticos pela casta burocrtica. Por tudo isso, a necessidade da revoluo poltica na URSS vem junto com outra reivindicao fundamental: a defesa da mesma diante dos ataques do Imperialismo, pois continua sendo um estado operrio, apesar de burocrtico, e essas bases econmicas operrias conquistadas na revoluo social de Outubro so patrimnio de todos os trabalhadores do mundo.A partir do enorme ascenso revolucionrio iniciado em 1943, surgiram novos estados operrios, todos eles burocrticos desde o incio. Polnia, Tchecoslovquia e as demais democracias populares do leste europeu foram conquistadas diretamente pelo Exrcito Vermelho. China, Vietn, e Iugoslvia foram produto de grandes revolues de massa, encabeadas, controladas e dirigidas pelo stalinismo, ainda que com uma grande margem de independncia de Moscou. Tambm em Cuba, um grande movimento de massas derrotou Batista e obrigou a direo pequeno-burguesa de Castro a ir em frente, contra sua vontade, diante da agresso imperialista. E a primeira revoluo operria triunfante do ps-guerra no dirigida pelo stalinismo, ainda que depois tenha sido cooptada por ele.Enquanto o estado operrio revolucionrio de Lnin e Trotsky, devido a um complexo processo nacional e internacional, de profundamente democrtico passou ao oposto, transformando-se num estado operrio burocrtico, os novos estados operrios do ps-guerra nasceram diretamente burocrticos, tiveram desde o incio regimes totalitrios e nunca conheceram a democracia operria sovitica. No h dvida que a conquista destes novos estados operrios, apesar de seu carter burocrtico, ampliaram as tarefas de defesa, em particular de Cuba - que foi invadida, sem xito, em 1961, pelos EUA- dos ataques do imperialismo. E ampliaram tambm as tarefas da revoluo poltica, j que em todos eles est colocada a luta por derrubar as direes burocrticas e instaurar a democracia operria. As lutas antiburocrticas dos operrios de Berlim Oriental (1953), dos trabalhadores hngaros e poloneses (1955-56) e dos tchecoslovacos (1968), comearam a colocar em prtica este programa de revoluo poltica dos trotskistas. Ns conhecemos exemplos prximos. A luta antiburocrtica dos operrios poloneses que se reiniciou em 1970-71, organizados no sindicato independente Solidariedade, que agrupou milhes de trabalhadores, - que hoje luta na clandestinidade contra a represso de Jaruzelski.O desenvolvimento da revoluo poltica e o carter degenerativo crescente das burocracias contra-revolucionrias que parasitam os estados operrios, multiplicam os problemas e as tarefas. Em 1956, para reprimir e sufocar as mobilizaes antiburocrticas dos operrios hngaros, a URSS invadiu a Hungria com o Exrcito Vermelho. Pela primeira vez vimos a monstruosidade stalinista de um estado operrio invadir militarmente outro. Evidentemente, nossa resposta imediata foi de solidariedade aos operrios hngaros e exigimos a imediata retirada do Exrcito Vermelho. Em 1968 repetiu-se uma situao semelhante diante do desenvolvimento da revoluo poltica na Tchecoslovquia.Nossa corrente trotskista ortodoxa no somente deu grande importncia a esses fatos como parte do desenvolvimento da revoluo poltica antiburocrtica, mas tambm fomos os nicos que, em 1978, antecipamos que a degenerao burocrtica levaria a guerras diretas entre estados operrios. Darioush Karim dizia em seu texto A ditadura revolucionria do proletariado: ... um dos fatos mais espetaculares das ltimas dcadas em relao s diferentes ditaduras proletrias existentes: a invaso de uma ditadura proletria por outra da Hungria e Tchecoslovquia pela URSS.... Ns acreditamos que, desgraadamente, esta uma perspectiva certa e que entramos nas dcadas nas quais, muito possivelmente, voltem a se repetir guerras entre ditaduras proletrias, entre estados operrios.Estas possveis guerras entre estados operrios ou ocupao de uns pelos outros, vo adquirir uma nova dimenso assim que surja a prxima ditadura revolucionria do proletariado. At agora vimos duas invases de estados operrios pela URSS, provocadas pelo temor da casta burocrtica sovitica de que esses estados se transformem em revolucionrios, como conseqncia do comeo da revoluo poltica e do surgimento de embries de soviets ou organismos parecidos. Para ns, muito procedente pensar que essas burocracias operrias entraro em estado de desespero crnico quando virem surgir ditaduras revolucionrias do proletariado, que signifiquem sua liquidao como casta privilegiada.Mas tambm no est descartado que, devido a interesses econmicos nacionalistas, estourem guerras parecidas a que se iniciou agora entre Camboja e Dieta. Sem entrar na discusso se so ou no ditaduras proletrias, est colocado o fato novo da possibilidade de guerras entre estados operrios sem que um dos adversrios seja uma ditadura revolucionria. Por outro lado, a campanha que a China faz h alguns anos contra o social-imperialismo russo a preparao ideolgica de uma possvel guerra entre estes dois superestados operrios burocratizados.Este grave problema terico, da possibilidade de guerras entre estados operrios burocrticos, ou entre um estado operrio burocrtico e um estado operrio revolucionrio, tem importncia capital, e nos obriga a comear a dar, a ns mesmos, um curso de ao marxistas diante destas possibilidades....Uma variante desta possibilidade o inevitvel levantamento arma- do das nacionalidades oprimidas por estas ditaduras burocrticas, que ns apoiaremos incondicionalmente.Se a guerra ocorre entre um dos dois maiores estados operrio (URSS e China) contra um pequeno, acreditamos em princpio, que se estabelece uma luta que se insere no do direito autodeterminao das pequenas naes proletrias, e que essa guerra provocada pelo af hegemnico do tipo nacionalista da grande nao contra a pequena nao operria. Nesse caso, acreditamos que preciso lutar contra o grande chauvinismo russo e chins, pelo direito autodeterminao nacional do pequeno estado operrio.Suponhamos, pelo contrrio, o caso de uma guerra entre dois estados burocratizados de fora relativamente semelhantes. Digamos, por exemplo, Camboja ou Dieta, supondo que sejam estados operrios. Nossa pol- tica mais geral ser de fraternidade entre todos os estados operrios e pela soluo pacfica e democrtica da disputa. Esta posio deve estar acompanhada por urna campanha permanente pela federao democrtica das repblicas operrias existentes. Esta palavra-de-ordem decisiva, e deve ser a mais importante de nossa Internacional a partir do acontecimento (...) Tende a superar o atraso atual do desenvolvimento das foras produtivas dos estados operrios e dar um duro golpe no imperialismo. Serve tambm para impedir que este manobre com as diferenas entre os estados operrios, opondo-lhe uma frrea unidade. Evitar, ao mesmo tempo, a explorao econmica dos estados operrios menos desenvolvidos pelos mais desenvolvidos, atravs do intercmbio comercial. Esta palavra-de-ordem de Federao dos estados operrios existentes tem uma importncia muito maior do que a que, em seu tempo, Trotsky lanou, de Federao das Repblicas Socialistas da Europa. Tambm propagandstica, mas fundamental. Tem a ver, inclusive, com a revoluo poltica, porque os atuais governos burocrticos jamais aceitaro essa Federao, porque ela ataca a fonte de seus privilgios, os estados operrios atuais, com suas fronteiras.Porm, essa linha essencialmente propagandstica e no podemos nos restringir a ela no caso de estourar uma guerra ou choques militares. Em princpio, estudando cuidadosamente se alguns dos estados tm ambies hegemnicas sobre o outro, teremos uma poltica de defesa do estado operrio que foi agredido, e contra o responsvel por ter iniciado a agresso. Quando a guerra se d entre um estado operrio burocratizado e um revolucionrio, os trotskistas apoiaro incondicionalmente o revolucionrio, seja ou no o agressor.Infelizmente, pouco tempo depois de publicado este texto, sua preocupao foi tragicamente confirmada, ao ocorrer a guerra entre China e Vietn.O problema da invaso do Afeganisto (um pas capitalista pauprrimo, que faz fronteira com a Unio Sovitica pelo sul, e onde a maioria da popu- lao muulmana) pelo poderoso Exrcito Vermelho, est colocado desde 1980. A LIT (QI) denunciou o suposto defensismo stalinista burocrtico - militar, e chama a retirada do exrcito ocupante, para respeitar o direito de autodeterminao da nao afeg.

Um resumo do Programa de Transio que Trotsky escreveu:*A decadncia e a crise crescente e inexorvel da economia capitalista mundial coloca para os trabalhadores a necessidade de lutar permanente- mente contra dois flagelos crnicos: o desemprego e a inflao, que exigem palavras-de-ordem e mtodos generalizados de luta (PT): a escala mvel de salrios e a escala mvel de horas de trabalho.*O imperialismo decadente utiliza e incentiva a burocratizao e stalinizao crescente dos sindicatos. preciso lutar pela independncia dos sindicatos em relao ao estado e pela democracia operria.*Dentro de cada fbrica, de cada empresa, nesta luta cada vez mais agu- da contra os patres, para estar atento s iniciativas das massas e para dar uma expresso organizada pergunta decisiva que a mobilizao e a greve colocam quem o dono da fbrica, o capitalista ou os operrios? necessria a comisso de fbrica. Eleita por todos os operrios e funcionrios da empresa, a comisso de fbrica cria, de cara, um contrapeso vontade da administrao. O Programa de Transio diz:Os burocratas dos sindicatos se opem, regra geral, criao de comisses, assim como se opem a todo passo mais audacioso no caminho da mobilizao das massas. Entretanto, sua oposio ser tanto mais fcil de quebrar quanto maior for a extenso do movimento. Onde os operrios j estejam sob a coordenao dos sindicatos, nos perodos tranquilos, a comisso coincidir formalmente com o rgo do sindicato, mas renovar sua composio e ampliar suas funes. Entretanto, o principal significado dos comits o de transformarem-se em estados maiores para as camadas operrias que, geralmente, o sindicato no capaz de abarcar. E justamente dessas camadas exploradas que surgiro os destacamentos mais dedicados da revoluo.Quando surge um comit de fbrica, se estabelece, de fato, uma dualidade de poder. Por sua essncia, ela tem algo de transitrio, porque encerra em si mes- ma dois regimes inconciliveis: o regime capitalista e o regime proletrio.*O controle operrio sobre a indstria, a expropriao, sem indenizao, dos grandes grupos capitalistas e dos bancos privados, a estatizao do comrcio exterior so as principais medidas para quebrar o controle do capital financeiro e dos monoplios da produo econmica e da distribuio da riqueza social. A partir da poder se reorganizar a economia do pas, baseada num plano econmico votado democraticamente, e controlado pelos trabalhadores.*Os operrios em luta buscaro e encontraro aliados importantes entre os trabalhadores do campo, o proletariado agrcola e as camadas mais baixas e exploradas do campesinato, assim como entre os pequenos comerciantes e artesos e as massas urbanas empobrecidas, todos eles cada vez mais arrui- nados pela voracidade capitalista. Por isso, incorporamos as exigncias desses setores como parte do programa de luta do proletariado revolucionrio. Para o campo, fundamental a expropriao dos latifundirios sem indenizao, a reforma agrria, os comits de controle de preos (em intercmbio com os trabalhadores urbanos), o crdito barato, etc.*Piquetes de greve, destacadamente de combate, milcia operria, arma- mento do proletariado. Diz o Programa de Transio:A radicalizao da luta do proletariado significa a radicalizao dos mtodos de resistncia por parte do capital. As novas ondas de greves com ocupao de fbricas podem provocar e provocaro inevitavelmente medi- das enrgicas de reao por parte da burguesia. O trabalho preparatrio j est sendo feito nos estados-maiores das grandes empresas. Desgraadas as organizaes revolucionrias, desgraado o proletariado que se deixa pegar novamente de surpresa!A burguesia no se limita, em nenhum lugar, a utilizar somente a polcia e as foras armadas. Nos Estados Unidos, inclusive nos perodos de calma, mantm destacamento militarizados de elementos pr-patronais e grupos armados de carter privado nas fbricas. Agora preciso acrescentar os grupos nazistas norte-americanos. A burguesia francesa, quando sentiu a proximidade do perigo, mobilizou os destacamentos fascistas semi-legais e ilegais, at dentro do Exrcito. A burguesia v claramente que, hoje em dia, a luta de classes tende, inevitavelmente, a se transformar em guerra civil.Depois desta descrio da violncia destrutiva da burguesia, acrescenta que as direes traidoras dos trabalhadores (...) tentam convencer sistematicamente os operrios de que a sagrada democracia est mais segura onde a burguesia est armada at os dentes e os operrios desarmados. Por isso nosso dever acabar com esta poltica servil:Os piquetes de greve so as clulas fundamentais do exrcito do proletariado. necessrio comear por eles. preciso incluir esta palavra-de-ordem no programa do setor revolucionrio dos sindicatos. Em todos os lugares onde for possvel, comeando pelas organizaes juvenis, preciso formar, na prtica, milcias de autodefesa, treinando-as no manejo das armas.* Frente agresso imperialista, nesta poca de guerras e agresses crescentes, a defesa dos pases coloniais e semicoloniais, e da Unio Sovitica ou qualquer outro estado operrio, se transformam em palavras de ordem per- manentes. J dissemos antes que esta posio de defesa da Unio Sovitica caracterstica do trotskismo, desde seu rompimento com a III Internacional burocratizada. O Programa de Transio coloca tambm as principais palavras-de-ordem da revoluo poltica: a burocracia e a nova aristocracia devem ser banidas dos soviets.o novo ascenso da revoluo na URSS comear, sem dvida nenhuma, sob a bandeira da luta contra a desigualdade social e a opresso poltica. Abaixo os privilgios da burocracia! Abaixo o stajanovismo! Abaixo a aristocracia sovitica com seus graus e condecoraes! Mais igualdade no salrio de todas as formas de trabalho!A luta pela liberdade dos sindicatos e dos comits de fbrica, pela liberdade de reunio e de imprensa se desenvolver na luta pelo renascimento e regenerao da democracia sovitica.A burocracia tem substitudo os soviets, em suas funes de organismos de classe, pela farsa do sufrgio universal ao estilo de Hitler-Goebbels. necessrio devolver aos soviets no somente sua liberdade de forma, demo- crtica, como tambm seu contedo de classe. Da mesma forma que antes a burguesia e os kulaks no eram admitidos nos soviets, agora, a burocracia e a nova aristocracia devem ser banidas dos soviets. Nos soviets s h lugar para os operrios, para os membros de base dos kolkoses, os camponeses e os soldados vermelhos.A democracia nos soviets inconcebvel sem a legalizao dos partidos soviticos. Os operrios e trabalhadores rurais, por si mesmos e pelo seu voto livre, decidiro que partidos sero considerados como partidos soviticos.Reviso completa da economia planificada, de acordo com os interesses dos produtores e consumidores! preciso devolver aos comits de fbrica o direito de controlar a produo. A cooperativa de consumo, democraticamente organizada, deve controlar a qualidade dos produtos e seus preos.Reorganizao dos kolkozes de acordo com a vontade e interesse dos trabalhadores que os integram!A poltica internacional conservadora da burocracia deve ser substitu- da pela poltica do internacionalismo proletrio. Toda a correspondncia do Kremlin deve ser publicada. Abaixo a diplomacia secreta!Todos os processos polticos montados pela burocracia termidoriana devem ser revistos, com uma ampla publicidade e livre exame. Os organizadores de falsificaes devem receber o castigo merecido. impossvel realizar este programa sem derrubar a burocracia, que se mantm pela violncia e falsificao. Somente a insurreio revolucionria das massas oprimidas pode regenerar o regime sovitico e assegurar a continuidade em direo ao socialismo. Somente o partido da IV Internacional capaz de dirigir as massas soviticas insurreio.*O carter cada vez mais totalitrio e explorador do capitalismo imperialista, que se expressa no surgimento da barbrie fascista e a crescente explorao econmica dos povos coloniais, d fora s palavras-de-ordem democrticas e anti-imperialistas, como as de Assembleia Nacional Constituinte, defesa dos direitos democrticos contra o fascismo e a luta pela libertao nacional da opresso imperialista.*Para derrotar a burguesia, o imperialismo e seus agentes, as direes traidoras (fundamentalmente a social-democracia e o stalinismo), o proletariado, dirigido pelo partido revolucionrio, tem que tomar o poder encabeando os organismos democrticos dos operrios e das massas mobilizadas, que na Rssia de 17 foram os soviets. Por isso, todas as palavras-de-ordem anteriores convergem para a formao do organismos de poder operrio e popular como os soviets, por exemplo e para a imposio de um governo operrio e campons (ou operrio e popular), ou seja, um governo independente da burguesia que exclua a burguesia e seja encabeado pelos trabalhadores.* E, para concluir, coloca a necessidade de frente traio das direes tradicionais do movimento operrio construir esse partido revolucionrio, ou seja, construir uma nova direo: a IV Internacional.A IV Internacional goza, desde j, do justo dio dos stalinistas, dos socialdemocratas, dos burgueses liberais e dos fascistas. No tem e no pode ter lugar em nenhuma frente popular. Combate irredutivelmente todos os grupos polticos ligados burguesia. Sua misso consiste em aniquilar a dominao do capital, seu objetivo o socialismo. Seu mtodo, a revoluo proletria. Sem democracia interna no h educao revolucionria. Sem disciplina no h ao revolucionria. O regime interno da IV Internacional se pauta pelos princpio do centralismo democrtico: completa liberdade na discusso, absoluta unidade na ao.A crise atual da civilizao humana a crise da direo proletria. Os operrios revolucionrios, agrupados em torno da IV Internacional, mostram sua classe o caminho para sair da crise. Propem a ela um programa baseado na experincia internacional do proletariado e de todos os oprimi- dos em geral, propem a ela uma bandeira sem manchas.Nosso programa: num sistema de reivindicaes transitriasVoltando ao esquema classificatrio inicial das palavras de ordem (democrticas, mnimas ou parciais, transitrias e da revoluo poltica), podemos dizer que:A IV Internacional no despreza as reivindicaes do velho programa mximo quando elas conservam alguma fora vital. Defende incansavelmente os direitos democrticos dos operrios e suas conquistas sociais, porm realiza este trabalho no quadro de uma perspectiva correta, real, ou seja, revolucionria. Na medida em que as reivindicaes parciais mnimas das massas entram em conflito com as tendncias destrutivas e degradantes do capitalismo decadente e isto ocorre frequentemente a IV Internacional prope um sistema de reivindicaes transitrias, cujo sentido o de atacar vez mais aberta e resolutamente as bases do regime burgus (PT).Agora podemos dizer que, segundo o mtodo, os ensinamentos e as palavras-de-ordem expostos no Programa de Transio, que resumimos antes, o Programa do MAS, por exemplo, o sistema de reivindicaes transitrias que elaboramos para ajudar a classe operria argentina a atacar cada vez mais aberta e resolutamente as bases do regime burgus. Como se explica no documento 1982: Comea a revoluo.Dentro deste programa para fazer a revoluo, destacam-se nitidamente trs grupos de palavra-de-ordem de transio, de importncia fundamental. As que vo contra o imperialismo, as que vo contra o novo regime poltico da burguesia e as que respondem ao grande problema democrtico no resolvido: o desaparecimento de milhares de pessoas, o genocdio.Dentro deste marco, no Programa do MAS desenvolvemos todos os problemas centrais relacionados com explorao imperialista do nosso pas e do mundo, com o papel de explorador local e cmplice do imperialismo por parte da burguesia nacional e sua cpula, a nova oligarquia latifundiria, industrial e financeira, que esto afundando os trabalhadores e todo o pas na misria e na runa. Propomos as possveis solues, que s sero possveis e duradouras com uma mudana total da estrutura do pas, imposta pela mobilizao revolucionria de todos os trabalhadores e todo o povo explorado, conduzido por uma nova direo.Periodicamente vamos formulando e hierarquizando de vrias maneiras todo tipo de palavra-de-ordem que nos permitam expressar estes objetivos nas lutas e tarefas de todos os dias. Por exemplo, impulsionando as novas chapas de oposio, a renovao das comisses de fbrica e delegados sindicais, arejando estes organismos com novas ativistas antiburocrticos e anti-patronais, ou colocando a importante palavra-de-ordem de voto direto das bases para eleger a direo da CGT (na Argentina a direo da CGT se elege por via indireta, no em Congressos, como na CUT brasileira). Vamos pro- curando tambm as palavras-de-ordem que permitam responder necessidade imperiosa de completa reestruturao e democratizao das Foras Armadas e policiais, a dissoluo dos rgos repressivos e demais palavras-de-ordem de defesa dos trabalhadores e do povo frente represso e o perigo de golpes militares.Assim, podemos dizer que vamos elaborando e desenvolvendo um pro- grama militar como parte do nosso sistema de reivindicaes transitrias, com o objetivo final de destruio do estado burgus, ou seja, de suas foras armadas reacionrias.O Programa do MAS prope, diante da decadncia e bancarrota total do pas, a necessidade de uma assembleia constituinte, democrtica e soberana, onde se discuta tudo, em particular nossa misria e a entrega do pas ao imperialismo, e onde, como socialistas, levantaremos nossas propostas por uma Argentina socialista. E assim por diante. O mesmo acontece no terreno econmico e das lutas. Por exemplo: aumento imediato de emergncia de 100 austrais! Vigncia imediata das converses coletivas! Imediato congresso de unidade de todos os que apoiam os 26 pontos e a moratria! Solidariedade com a luta dos eletricitrios!Para terminar, podemos dizer que, nesta etapa onde, qualquer reivindicao sria conduz inevitavelmente alm dos limites da propriedade capitalista e do estado burgus, apesar do esquema classificatrio, qualquer palavra-de-ordem pode adquirir um carter transitrio, no sentido de ser a ponte para a revoluo socialista que se transforma em bandeira da mobilizao revolucionria. A classe operria tomou o poder na Rssia dirigindo as massas de milhes de camponeses, com trs reivindicaes super-mnimas ou democrticas: po, paz e terra, porque a nica forma de consegui-las o que era imprescindvel para continuar vivendo era varrer a burguesia, para que os trabalhadores tomassem o poder, era varrer o estado burgus e os capitalistas.Voltando a nosso pas, e nos interrogando sobre os prximos passos e palavras-de-ordem que ir colocar o desenvolvimento da revoluo em curso, pensemos, por exemplo, que uma reivindicao democrtica bsica como justia e castigo para os culpados, muito possivelmente necessitar de uma mobilizao revolucionria para se impor, uma mobilizao revolucionria que varra tanto os cmplices atuais o governo radical de Alfonsin e as Foras Armadas como todo o regime e o capitalismo na Argentina.A arte de encontrar as palavras-de-ordemPara o partido revolucionrio, tanto a elaborao correta do programa, como a busca permanente de sua expresso nas palavras de ordem que, como dizia Trotsky, lei em as massas adiantei, so decisivas. Por isso, queremos nos deter no tema. No texto Partido mandelista ou partido leninista dizemos:Um partido bolchevique comea fazendo uma anlise da etapa da luta de classes. Dessa anlise surge um programa que coloca, entre outras secundrias, umas duas ou trs tarefas essenciais para o movimento de massas, que concretizamos em palavras-de-ordem. Este o aspecto concreto da nossa poltica, por isso o fundamental. A teoria e propaganda servem para precisar este aspecto. Toda a nossa atividade (incluindo a teoria e a propaganda) est subordinada a este objetivo ltimo: definir quais so as tarefas gerais que as massas enfrentam numa determinada etapa (o programa), para concretiz-las em forma de palavra-de-ordem.Vejamos, por exemplo: sob um novo regime ou governo. O grosso do esforo terico do partido se concentrar em defini-lo com preciso, em analisar cuidadosamente a relao de foras entre as classes, os setores que integram o novo governo e os que esto em oposio, e as relaes de ambos com o imperialismo, o papel que cumprem as foras armadas, etc. Se da se deduz, por exemplo, que um regime bonapartista contra-revolucionrio, definiremos umas poucas palavras-de-ordem agitativas que respondero s necessidades que o movimento de massa coloca (defesa das conquistas econmicas; liberdades democrticas; defesa das organizaes operrias). Porm, nos encontraremos diante do fato de que esta caracterizao e estas tarefas so diferentes das que colocam as direes reformistas, burocrticas e ultra-esquerdistas, e que se chocam tambm com as tendncias espontneas da vanguarda. Isto nos obrigar a fazer com que tambm nossas propaganda gire em tomo da explicao constante das caractersticas desse regime, da polmica com os nossos inimigos dentro do movimento operria em torno de tal caracterizao e de porque as tarefas que propomos ao movimento de massas so as corretas. Em sntese, nossa teoria estar a servio da descoberta das palavras-de-ordem que devemos agitar, nossa propaganda explicando para a vanguarda porque devemos agitar essas bandeiras e no outras. Isto no quer dizer que sejam essas as nossas nicas atividades tericas e propagandsticas, mas sim que so as principais.Esquematizando, podemos dizer que toda a cincia e arte trotskista s sintetizam na capacidade para elaboraras palavras-de-ordem adequadas a cada momento da luta de classes. E o mesmo que dizia Lnin: Portanto, o contedo central das atividades da organizao de nosso partido, o centro de gravidade destas atividades, deve consistir em um trabalho que possvel e necessrio, tanto durante o perodo da exploso mais violenta, como durante o da mais completa calma, ou seja: um trabalho de agitao poltica unificada em toda a Rssia que ilumine todos os aspectos da vida e que se dirija s grandes massas. (Que fazer?)Lnin baseia esta linha de denncias polticas numa confiana cega na capacidade de organizao e de mobilizao de operrio atrasado ou do operrio mdio, e no na capacidade especial dos operrios de vanguarda ou avanados. (...) Para Lnin, se convencemos as massas com uma dessas campanhas, os operrios so capazes de tudo. O papel do partido iniciar essas campanhas, acompanhar e dirigir o movimento de massas. Por isso ele criticava os intelectuais que no sabem ou no tem a possibilidade de unir o trabalho revolucionrio com o movimento operrio para formar um todo. Devemos jogar a culpa em ns mesmos, no nosso atraso em relao ao movimento de massas, por no saber ainda organizar denncias suficientemente amplas, ressonantes, rpidas contra todas essas ignomnias (...), o operrio mais atrasado compreender e sentir (...) e, ao senti-lo, ele mesmo vai querer reagir, vai querer com uma vontade incontvel, e ento saber organizar hoje uma batalha contra os censores, amanh desfilar em passeata em frente casa do governador que tenha sufocado uma revolta no campo, depois de amanh dar uma lio aos policiais com batina que desempenham a funo de santa inquisio, etc. (Que fazer?)

ANLISE, CARACTERIZAO E POLTICAO partido revolucionrio parte da realidade para elaborar a sua poltica. como o mdico, que para poder receitar, precisa antes fazer um minucioso exame (anlise), do qual chega a um diagnstico (caracterizao), que se traduz num tratamento (poltica). Se o mdico faz o diagnstico errado, o tratamento pode matar o paciente.A anlise objetiva, parte dos fatos da realidade. Significa ver como algo funciona, quais so as suas partes. Da mesma maneira que quando abrimos um relgio vemos que peas tem e como elas se articulam para que ele funcione.A caracterizao toma o conjunto dos fatos objetivos detectados na anlise e trata de precisar sua dinmica, partindo de como eles se combinam num determinado momento. Com a anlise vemos as partes da estrutura da realidade estudada; com a caracterizao vemos o todo e seu movimento, de onde vem e para onde vai, dando-nos assim uma viso de conjunto que nos permite estabelecer os prognsticos ou as tendncias do processo em questo.A poltica do partido serve para intervir na realidade a favor da revoluo, ajudando no avano das lutas, da organizao e da conscincia da classe trabalhadora. Para isso, a poltica pressupe o conhecimento a fundo da realidade, ter uma anlise e uma caracterizao, as mais corretas possveis. Se os falos centrais da realidade se modificam, o partido deve alterar sua poltica, no deve ficar preso a uma poltica se ela no corresponde mais realidade. Esta poltica, por sua vez, se concretiza num programa e em palavras-de-ordem, que se aplicam utilizando o que j estudamos anteriormente: estratgia e ttica; propaganda, agitao e ao.Vejamos o que dizia Moreno sobre esses trs conceitos - anlises caracterizao e poltica no texto Partido mandelista ou partido leninista?:Lnin dizia que o marxismo busca alcanar uma anlise estritamente exata e objetivamente verificvel das relaes de classe e das caractersticas concretas prprias de cada momento histrico.Ou seja, estudar cuidadosamente a realidade para descobrir as tendncias que apontam para a revoluo proletria e as que se ope a ela, bem como as relaes entre ambas. Isto nada menos que a caracterizao do momento histrico dado. E a base cientfica do que fala Lnin; necessria... para construi