caderno de processo civil iv (ufsc) - luiza silva rodrigues

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 1

    Caderno de Processo Civil IVAulas do Prof. Eduardo Mello e Souza (UFSC)

    (Luiza Silva Rodrigues)

    Introduo

    1. Processo x Procedimento- Tudo em processo se explica na teoria da ao.

    - Procedimento diferente de processo: 90% do procedimento est no CPC, mas 90%

    do processo no. O importante saber como funciona o sistema.

    - Poucas pessoas percebem, mas existe uma lgica por trs dos cdigos que no uma

    lgica acadmica, didtica; na realidade, as pessoas estabelecem os cdigos de acordocom determinada histrica atravs da qual aquela determinada cincia se desenvolveu

    ou atravs da ordem lgica do fluxo de informaes.

    - Existe um livro do prof. Ovdio Batista de Teoria Geral do Processo que em seu 1

    pargrafo diz que a processualstica civil moderna provm de duas famliasento ele

    comea do comeo. Rene Davi dividia o direito em vrias famlias: oriental, continentaleuropeia, etc., e essas, em subfamlias: direito romano e direito germnico, e dentro

    disso h uma influncia maior de um de outro. Ento a histria dos institutos

    processuais influencia no sob o ponto de vista apenas filosfico.

    - O CPC tem 5 livros:

    1. Processo de Conhecimentodentro dele, as suas nuances histricas: cognioe recursos, na ordem do fluxo procedimental.

    2. Processo de Execuo3. Processo Cautelar para garantir que uma cognio chegue a uma execuo,

    em situaes extraordinrias eu preciso de uma tutela de urgncia.

    4. Procedimentos Especiais5. Disposies Finais e Transitrias

    - O objetivo de estruturar o sistema ver o fluxo e a histria.

    O CPC aborda essas duas lgicas: a lgica do fluxo permeada pela lgica histrica.

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    - O segundo conceito no o histrico nem o sistmico: didtico. Essa a lgica que

    os legisladores escolheram. Mas dentro dessa lgica, voc no encontra lgica

    sistmica.

    - Onde est a base da teoria da prova no CPC? Nos poderes do juiz: princpio

    inquisitrio (art. 130, CPC) e a livre disposio e o livre convencimento do magistrado

    (art. 131, CPC). a base psicanaltica da nossa prova. Mas o nus da prova est tratado

    no art. 332, 333, 334 e depois, a partir do art. 350, CPC, h a forma da realizao da

    prova (procedimento). Ento a teoria da prova est em trs lugares distintos do CPC.

    - A mesma coisa quando se fala de nulidade: se trata da instrumentalidade das

    normas, logo depois do efeito da declarao das nulidades, e depois na fase recursal

    h tambm referncia. Mais uma vez, a opo pelo fluxo quebra o sistema, pelo

    menos a visualizao do sistema j que o sistema abstrato, porque existe como

    teoria e no como prtica.

    - Tutelas de urgncia: a tutela antecipatria est no 273, 461-A, artigos inseridos no

    livro do processo de conhecimento. Mas as medidas cautelares esto no livro III, do

    CPC. Mais uma vez a opo pelo fluxo, a opo pelo procedimento linear, prejudica a

    ideia de sistema.

    - Existe, ainda, influenciando o nosso cdigo, uma fase procedimentalista, que to

    importante, to arraigada no inconsciente coletivo de um estudante de direito, que

    geralmente no se consegue visualizar de outra forma.

    Exemplo: o cara bateu no seu carro com uma Ferrari. Qual a ao que voc vai mover

    em face dele? Ao de danos.

    Exemplo: aparece um sujeito no EMAJ que recebe um salrio mnimo, trabalha na

    UFSC e fez um emprstimo consignado no BESC. Voc percebe que o banco est

    cobrando comisso de permanncia junto com correo monetria. Qual a ao?

    Indenizatria, de procedimento comum ordinrio.

    - Intuitivamente, respondemos s perguntas com base no direito civil.

    - O que a ADI tem em comum com a ao reivindicatria de propriedade particular e

    com a ao de reconhecimento de unio estvel? Sob o ponto de vista material, nada;mas sob o ponto de vista processual, todas querem declarar.

    O ideal ento conseguir separar: o FLUXO procedimental;processo SISTMICO.

    No se pode mais confundir uma coisa com a outra porque o prprio cdigo j faz

    questo de diferenciar, apesar de obedecer ordem do fluxo: diz o que processo e oque no processo so apenas procedimentos.

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    - Na verdade existem 4, ou, no entendimento de alguns, 5 aes, dependendo da

    escola qual se filia. s enxergar a subsuno processual.

    - O procedimento bvio que ordinrio. Mas o fundamental entender por trs do

    direito material.

    - Cargas de eficcia: o que determina o nome de uma ao a carga de eficcia

    preponderante, e no a carga de eficcia acessria. bvio que por trs de toda a

    condenao h uma declarao de culpa, mas a ao condenatria, porque o

    elemento caracterstico preponderante.

    Sobre isso, a metfora dos vinhos: muitos poucos vinhos so puros de uma uvas. Acima de determinado percentual, nem precisa colocar qual a uva.

    - A nfase no fluxo boa porque voc entende uma lgica rapidamente, mas essa

    lgica to simples que no serve para atingir passos mais profundos, e ao no

    permitir o acesso ao sistema, isso provoca acomodao. O processo civil tem 130 anos,

    enquanto o direito civil tem mais de 2000 anosento ele muito mais intuitivo.

    Processo civil direito publico; direito civil direito privado. Ento eles nopodem nem ser conjugados.

    - Chamar uma ao de ordinria confundir dimenses, conceitos completamente

    diferentes.

    - Voc tem que parar de olhar para o direito material e comear a enxergar o direito

    processual; e dentro do direito processual, deve parar de olhar o procedimento e olhar

    o processo.

    - Qual o recurso que cabe da deciso interlocutria de saneamento do processo em

    que o juiz saneia as provas que sero produzidas, mas exclui algum da lide, julgando

    extinto sem resoluo de mrito? No que toca aquele ru excludo, uma sentena;

    cabe agravo, mas no h artigo que diga qual o recurso cabvel nesse caso.

    Exemplo: medida cautelar: o juiz acabou de extinguir a ao principal. O que ele faz

    com a medida cautelar que est em apenso? H uma cautelar de sustao de protesto,

    mas na principal o juiz julga improcedente a ao. O que faz com a medida cautelar? A

    medida cautelar autnoma porque est assegurando outra coisa, a eficcia de direito

    material. O cara julgar em primeiro grau no significa nada ainda tem o segundo

    grau, os rgos de superposio.

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    Art. 75, CC de 1916: A todo o direito corresponde uma ao, que o assegura.- O artigo retrata essa intuio. Agora, este cdigo, apesar de ser de 1916, comeou a

    tramitar em 1850, junto com o Cdigo Comercial. Em 15 dias o Cdigo Comercial foi

    promulgado e demorou 66 anos para a promulgao do Cdigo Civil 1916, que retrata

    uma era pr-processual.

    - No existia cdigo de processo; existia cdigo de procedimento. Tudo s tinha

    regulamentao de procedimento. No Brasil, comeou a ser ministrado o direito

    judicirio (na Itlia, o direito jurisprudencial).

    Art. 501, CC de 1916: O possuidor, que tenha justo receio de ser molestado naposse, poder impetrar ao juiz que o segure da violncia iminente, cominando

    pena a quem lhe transgredir o preceito.

    - Poder impetrar. Essa norma de direito material?

    - Ento at o final do sculo XIX, havia um direito material e dentro desse direito

    material, regras procedimentais.

    Art. 972, CC de 1916: Considera-se pagamento, e extingue a obrigao odepsito judicial da coisa devida, nos casos e forma legais.

    - Depsito judicial essa a ao de consignao, prevista no Cdigo Civil de 1916.

    - Ento natural que o nosso cdigo de processo civil hoje ainda traga um livro dessa

    poca: o Livro IV, de Procedimentos Especiais. Por isso eles no so processoo Livro

    IV no entra no sistema, porque ele reflete uma realidade pr-processual.

    - Ainda que procedimentalmente a ele se apliquem regras, a eles no se aplicam as

    regras do sistema.

    - Por exemplo, art. 922, CPC:

    Art. 922, CPC: lcito ao ru, na contestao, alegando que foi o ofendido emsua posse, demandar a proteo possessria e a indenizao pelos prejuzos

    resultantes da turbao ou do esbulho cometido pelo autor.

    - Na contestao eu posso demandar alguma coisa? No processo de conhecimento

    no. No procedimento comum ordinrio, no se pode deduzir pedido na contestao;

    teria que formular a reconveno.

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    2. Problemas da Didtica Processual- H, portanto, dois grandes problemas da didtica processual:

    a) Praxismo- Esse vcio ancestral, atvico, de olhar o procedimento, o corpo, e no constatar a

    existncia de uma alma; olhar o globo ocular e no olhar o brilho do olho; ver a rosa

    mas no sentir o perfume. No conseguimos nos recordar de onde vem esse vcio.

    b) Materialismo- uma decorrncia do praxismo. Como no conseguimos conhecer o processo, o

    conhecimento de processo fica repleto de lacunas, as quais preenchemos com o

    direito material. Dentro do conceito da teoria da ao, recorremos ao praxismo e ao

    direito material.

    - Esses so os dois maiores erros de quem estuda processo civil: no compreender tais

    vcios. Tais defeitos acabam estabelecendo uma cognio mnima do que processo.

    - O primeiro erro porque o prprio cdigo estabelece esse conceito de fluxo, as leis

    so feitas dessa forma. No h, por exemplo, um dispositivo tratando da ao

    condenatria. O CPC se preocupa absurdamente na assinatura de um mandado isso

    procedimento e no processo.

    - O segundo, porque houve uma poca em que o cdigo era s de direito material

    (Cdigo Civil de 1916 que comeou a ser elaborado em 1850, que uma era pr-

    processual). Ainda havia aquela discusso se processo era uma relao jurdica

    autnoma ou vinculada ao direito material. Por que isso? Porque na realidade as

    pessoas j conseguiam enxergar no processo uma relao com regras prprias. At o

    final do sculo XIX, incio do sculo XX, ningum falava em direito processual, no

    existia uma cadeira de direito processual. A teoria que vigia na poca era

    IMANENTISTA.

    - O art. 75 do Cdigo de 1916 retratava a teoria imanentista: a todo direito

    corresponde uma ao que o assegure. Ao petitria, de reconhecimento,

    revocatria, anulatria.

    OBS: Nas Ordenaes Filipinas, no livro de procedimentos, pode-se encontrar uma lista

    de direitos materiais e a respectiva ao do lado.

    - S para ter uma ideia de como essa vinculao e, portanto, esse segundo defeito,

    materialismo, compreensvel, ele perdurou at o sculo XIX.

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    Como solucionar tais problemas?

    - Liebman, italiano, e radicado no Brasil, principalmente em So Paulo, tinha como

    alunos a Ada Pellegrini, o Buzaid ou seja, deu aula a grandes processualistas

    brasileiros. Liebamn dizia que procedimento corpo; processo alma. Essa frase

    rene conciso, preciso, e uma absurda licena potica.

    - O fato que esse conceito muito importante porque confundir processo com

    procedimento como confundir altura e largura. preciso ver a evoluo do processo

    civil.

    - Processo civil uma relao jurdica muito especial; tem uma formatao, tem regrasprprias, diferentes do direito material.

    - A cautelar protege a ameaa, que no tem nada a ver com o bem da vida que est

    sendo protegido. A cautelar protege justamente o bem, para que se mantenha ntegro.

    O fato de o juiz em primeiro grau ter dito que voc no tem direito aquele bem, no

    quer dizer que o bem no precise continuar a ser protegido. Alis, muito comum

    julgar improcedente o processo principal, mas julgar procedente a cautelar, porque

    entende que o bem ainda precisa ser protegido.

    Exemplo: ao de indenizao por danos em virtude de acidente de trnsito. Vou pedir

    a condenao do ru indenizao por perdas e danos.

    - Em segundo grau, julgam o relator, o revisor e o vogal. Eu formulei um pedido de

    dano emergente (o amassado no carro); porque eu tive que ir pra oficina, fiquei um

    ms sem o carro e sou representante comercial (lucro cessante); meu faturamento

    caiu e eu passei noites em claro vendo como pagaria as contas (danos morais).

    - O relator viu que a sua petio inicial estava instruda por dois oramentos; deu

    provimento ao pedido. Mas o lucro cessante no restou suficientemente provado; e o

    dano moral era mero aborrecimento no deu provimento. O revisor negou

    provimento aos danos emergentes; deu provimento aos lucros cessantes; dano moral,

    negou provimento. O vogal negou provimento aos danos emergentes e improveu os

    lucros cessantes e o dano moral.

    Relator Revisor VogalDanos Emergentes Deu provimento Negou provimento Negou provimento

    Lucros Cessantes Negou provimento Deu provimento Negou provimentoDanos Morais Negou provimento Negou provimento Deu provimento

    Procedimento corpo; processo alma.

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    - Eu perdi trs vezes por 2x1. Eu tenho um embargo infringente com trs captulos.

    - No se pode aplicar no processo civil a teoria imanentista (direito processual

    imanente ao direito material), que dizia que a cada direito corresponde uma ao. Eu

    tinha um direito e uma ao que s podia pedir um direito. Isso caracterstica do

    Livro IV do CPC, que procedimentos especiaisum eco oitocentista no CPC.

    - Na virada do sculo XIX para o sculo XX havia os cdigos judicirios estaduaiscada

    estado tinha o seu. A primeira constituio republicana, de influncia americana, deu

    aos Estados Unidos do Brasil, os cdigos judicirios. J se falava em ao declaratria,

    mas era uma coisa muito fluida. Os cdigos eram 5% processuais e 95%

    procedimentais.

    - A veio a constituio em 1932 e depois em 1937; a primeira coisa que Vargas fez foi

    mudar o pacto federativo, centralizando na Unio todos os poderes. Os cdigos

    estaduais viraram o primeiro CPC, em 1939. Esse CPC de 1939 j era 40% processual e

    60% procedimental; o CPC de 1973, quase que 80% processual. O CPC de 2014 ser

    quase que 95% processual.

    - medida que o processo vai evoluindo, vai absorvendo procedimentos especiais; a

    tendncia absorver o Livro IV.

    3. Diferenas das Regras que Regem a Relao Processual e a Material- Se o livro IV imanentista (a cada ao h um nico direito material) isso significa

    que eu s tenho um pedido.

    Exemplo: ao de reintegrao de posse. Pedido: reintegrar a posse.

    - Venceu Windscheid sobre Mutter, a nosso ver, porque era inevitvel que o processo

    fosse considerado uma relao autnoma, tendo em vista que o judicirio j no se

    administrava mais (devido falta de estrutura, ningum se preocupava em recorrer ao

    judicirio).

    - Como no existia uma autonomia da relao processual, a regra era o que o direito

    material estabelecia. A teoria imanentista estava gerando uma falncia.

    Ento os captulosde uma sentena dependem de quantos pedidos eu tenho na

    petio inicial (Capitulao pedido!)

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    - Ento a primeira grande reforma processual foi a necessidade de criar regras

    prprias, mas para isso era preciso criar um sistema prprio, com uma principiologia

    prpria. Hoje na Constituio Federal h mais princpios de direito processual que de

    direito material: duplo grau de jurisdio, contraditrio, ampla defesa. Tudo isso faz

    existir um direito processual autnomo.

    - Hoje j h procedimentos especiais convivendo com o direito processual. Nos

    procedimentos especiais, como h um nico direito, ou ele meu ou ele seu. Por isso

    que quando voc est contestando, j est reconvindo. Na reintegrao de posse, ao

    pedir a improcedncia, j est pedindo a posse.

    Art. 922, CPC: lcito ao ru, na contestao, alegando que foi o ofendido emsua posse, demandar a proteo possessria e a indenizao pelos prejuzos

    resultantes da turbao ou do esbulho cometido pelo autor.

    - lcito ao ru na contestao demandar. Essa regra de direito material, que

    imanentista, vale no direito processual? Eu posso na contestao formular pedido

    contraposto? No. Devo fazer uma reconveno. O nome disso ACTIO DUPLEX. Isso

    no reconveno, no pedido contraposto; actio duplex uma regra tpica da

    teoria imanentista ainda vinculada ao direito material.

    - Reconveno e pedido contraposto so institutos de direito processual e possuem

    requisitos diferentes. A actio duplex consequncia do direito material. A reconveno

    um contra-ataquemesmo eixo jurdico. E a actio o mesmo eixo ftico.

    - Se a teoria imanentista define apenas uma nica ao para aquele direito, ento a ela

    ainda se aplicam as feras do sculo XIX que so de direito material. Como eu s estou

    discutindo um direito, ou ele meu ou ele seu; a simples contestao j implica num

    pedido. Esse o carter dplice das aes possessrias.

    - No direito processual, no mximo eu fico como estou, se no formular qualquer

    pedido.

    - O pedido contraposto hoje s no rito sumrio (art. 278, 1, CPC). Reconveno

    em procedimento ordinrio.

    - Existe actio duplex possvel no direito processual? No. Ou formula pedido

    contraposto ou reconveno, no caso de procedimento ordinrio. Por qu? Quando

    voc transforma algo numa relao jurdica autnoma, ele ganha em complexidade,

    internamente. Ento no sculo XIX havia milhares de aes simples, mas por serem

    vrias, atulhavam o poder judicirio.

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    - Quando Bullow, em 1868, publicou a Teoria das Excees e as Defesas Processuais,

    deitou a primeira teoria a essa autonomia da relao processual e, quando fez isso,

    disse: para que eu possa acumular os procedimentos eu preciso criar um

    procedimento que seja comum a todas as exceesart. 271, CPC.

    - Ento, historicamente, o primeiro artigo que se deve ler o art. 271, CPC.

    Art. 271, CPC: Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvodisposio em contrrio deste Cdigo ou de lei especial.

    - Von Bullow visualizou: vou pegar todas as causas do meu sistema imanentista e vou

    criar um sistema nico para melhorar o fluxo. Ao criar o procedimento comum a todas

    as causas, estava criando todo um ramo cientfico.

    - O que a causa de pedir? o ato ou fato jurdico que irradiou a lide. Enquanto voc

    est parado no sinal, no h causa de pedir. Quando o cara bate no meu carro, surge a

    causa de pedir. Voc tem que olhar o acontecimento, o fenmeno a ser transcrito

    nesse silogismo. A CAUSA DE PEDIR exatamente o fenmeno que irradia no o

    direito material, mas o direito processual.

    - Ius as facultas agendi o direito uma faculdade de agir. O direito material

    exatamente a faculdade de fruir, por exemplo, de um bem.

    - O fenmeno um portal entre o direito material e o direito processual. Agora voc

    passa a outra faculdade, que a base da relao processual: ius facultas exigendi.

    Quando voc tem o fenmeno da causa de pedir, que irradia luz ao direito processual,

    voc passa a ter um outro direito subjetivo, que de exigir porque ela pode desistir.

    Esse direito tambm material.

    - O prazo para a ao rescisria, de 2 anos, decadencial, porque propor uma ao

    um direitopor isso decai e no prescreve.

    - Ento iuspassa a ser facultas exigendi.Da relao de direito material para a relaode direito processual h a causa de pedir. Aplica-se a todas as causas de pedir o

    procedimento comum (art. 271. CPC).

    Direito Material Direito Processual

    Causa de Pedir

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    - No Cdigo Civil de 1916, a cada direito material correspondia um direito de ao.

    Bullow criou uma primeira dimenso processual: um procedimento comum. Na ideia

    do autor, voc tem o procedimento comum para as relaes processuais. Mas como

    esse procedimento comum no resolveu todos os problemas, continuaram a existir

    ainda os procedimentos especiais.

    Exemplo: inventrio. No tem contestaoento no h como encaixar.

    - H procedimentos que nunca vo ser processualizados. O mximo que se pode fazer

    torna-los extrajudiciaiso que se est fazendo no inventrio, por exemplo: quando

    no h herdeiro menor e h consenso quanto partilha, pode fazer o inventrio de

    forma extrajudicial. O mesmo est acontecendo com o divrcio.

    - Essa primeira dimenso muito mais importante do que se imagina, mas ainda no

    o processo.

    - H, portanto, o procedimento comum e o especial, que continua vinculado ao direito

    material. como se fosse uma divisria entre o direito material e o direito processual.

    - Se o procedimento um caminho, processo uma segunda dimenso, um mtodo

    de resoluo. Ento h o procedimento, o processo e a ao. H meio fsico, mtodo e

    satisfao ou objetivo. So trs coisas completamente diferentes e essa a grande

    beleza da teoria de Von Bullow. Criou um procedimento comum e agilizou oprocessamento; criou todos os procedimentos estabelecendo dois mtodos

    processuais: cognio e execuo.

    - Von Bullow estabeleceu um sistema processual: o procedimento comum (hoje em dia

    sumrio ou ordinrio, de acordo com o nvel de complexidade da causa). Esse o

    fluxo. O conhecimento e a execuo formam a terceira dimenso, que a ao.

    Processo

    Ordinrio

    SumrioComum

    Especial

    Ao

    Conhecimento

    Execuo

    MEIO FSICO MTODO SATISFAO

    SISTEMA

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    - Tudo tem um meio fsico (PROCEDIMENTO), um mtodo (PROCESSO), rumo a uma

    satisfao (AO). Em uma palavra, um sistema, o sistema processual preconizado

    por Von Bullow.

    - Ento o sculo XIX marca uma crise do judicirio na Inglaterra. O problema do

    judicirio poca era a teoria imanentista, onde o direito processual imanente ao

    direito material cada direito, uma ao, cada ao um procedimento. Logo, apesar

    das aes serem muito simples, porque vinculadas exclusivamente aquele direito

    material (no podiam ser usadas para outro), no existia processo, mas s existia

    procedimento, cujo eco ainda est no nosso cdigo, no Livro IV procedimentos

    especiais.

    Esse formalismo existe at hoje. Mas o processo civil no tem mais espao paraesse tipo de formalismo oitocentista.- J na metade do sculo XIX, Mutter e Windescheid ficavam discutindo se havia

    condio de identificar no processo uma relao autnoma diferente do direito

    material ou no. Windscheid (processualista) dizia que sim, Mutter dizia que no (era

    civilista). E a comearam a entender que o processo tinha realmente regras diferentes,

    onde no necessariamente o acessrio segue o principal. Windscheid venceu.

    OBS: O grande pulo do gato de Buzaid foi dar ao processo cautelar autonomia. O que

    acontece com uma tutela se advm depois uma sentena em sentido contrrio? Elasesto proferidas no mesmo eixo processual. Agora, se voc cria uma tutela num eixo

    prprio, o julgamento de uma no necessariamente implica no mesmo julgamento da

    outra.

    - Os procedimentos especiais so muito simples e s discutem um direito, ento basta

    o simples fato de voc contestar (no h necessidade de reconvir, de formular um

    pedido contraposto) porque a negativa do seu direito implicar na afirmao do meu

    direito. Os trs tipos de resposta do ru so: contestao, reconveno, exceo.

    - O processo civil tem suas regras, caractersticas prprias que no se coadunam com

    os procedimentos do sculo XIX.

    Oscar Von Bullow: Autonomia do Direito Processual

    - Von Bullow e Adolf Wach viram que cada direito material tinha o seu procedimento

    dentro da seo. Ento ele enfeixou esses procedimentos e, na medida do possvel,

    criou um procedimento que fosse comum a todas as causas.

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    - CAUSA DE PEDIR aquele fenmeno ato ou fato jurdico que irradia do direto

    material ao direito processual. At que algum bata no sue carro voc tem direito

    material e no direito processual.

    - Bullow uniformizou, na medida do possvel, o procedimento. Mas h uma

    consequncia: para poder uniformizar, tem que sistematiz-los antes e, na realidade, o

    processo j sofria uma dicotomia de 2 mil anos, cognio e execuo (que existia desde

    o direito romano). Bullow estabeleceu o procedimento comum aos processos

    cognitivos e um procedimento comum dos processos de execuo e tentou enfeixar.

    Claro que ele no conseguiu. Para ele, s as aes de cunho pecunirio tinham

    procedimento comum, conhecido como execuo por quantia certa contra devedor

    solvente.

    - O que ele estabeleceu foram os primeiros passos, os primeiros rudimentos para um

    novo sistema no mais vinculados ao direito material e sim com um regramento, umaprincipiologia prpria porque o que autonomiza um sistema a existncia de

    princpios prprios, diferentes dos outros.

    - Ento o princpio segundo o qual o acessrio segue o principalpertence ao direito

    civil. No direito processual, como outra relao jurdica, vinculada a outro ramo do

    direito, h princpios prprios.

    - Voc no pode emprestar para o direito o conceito epistemolgico das cincias

    exatas. Nas cincias humanas a questo muito mais fluida.

    - Bullow partiu de uma premissa, Windscheid, de que o processo era relao autnoma

    do direito material, e criou:

    - Tentou conceber uma relao processual autnoma, que aquela que est no

    cdigo.

    1. A Ao Declaratria- Livro I, captulo II, CPC, Da Ao, no singular. Por conta dessa primeira montagem,por tradio, o Cdigo no trata das aes, mas s da primeira, a ao declaratria

    Processo

    Procedimento

    Ao

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 13

    porque quase tudo declarao. Ento Bullow conseguiu enxergar a declarao como

    nica ao, e conseguiu acabar com todas aes, antes procedimentos especiais, que

    tinham finalidade declaratria: paternidade, anulatria, etc.

    - claro que ele no conseguiu resolver todos os problemas do processo civil no livro

    dele. A sua teoria demorou dcadas para poder vencer, para poder ir se

    implementando aos poucos.

    - Ningum tinha a noo do processo como ramo cientfico, que ainda no tinha

    florescido. Na poca, no tinham noo do que estava acontecendo. O Cdigo Civil de

    1916 retratava claramente aquela era oitocentista; claro que nessa poca j existiam

    os primeiros procedimentos processuais. Essa uma concluso que voc s chega

    estudando a evoluo histrica.

    2. Procedimento Comuma) Cognio (cognitio)b) Execuo (executio)

    - Bullow concebeu a causa petendi, a causa de pedir, que exatamente o portal que

    separa um ramo jurdico de outro, e, ao faz-lo, estabeleceu um procedimento comum

    a todas as causas.

    Art. 271, CPC: Aplica-se a todas as causas o procedimento comum, salvodisposio em contrrio deste Cdigo ou de lei especial.

    Processo

    Ordinrio

    SumrioProcedimento Comum

    Procedimentos Especiais

    (actio )

    Ao declaratria

    Conhecimento

    Execuo por quantia certa contra devedor solvente

    Cautelar

    MEIO FSICO MTODO SATISFAO

    SISTEMA

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 14

    - O PROCEDIMENTO COMUMpode se realizar por dois mtodos: cognio e execuo.

    E, para Von Bullow, havia dois tipos: a) o mtodo de soluo das aes de

    conhecimento era o declaratrio; e b) nas de execuo, a execuo por quantia certa

    contra devedor solvente.

    - Ele estabeleceu, portanto, um sistema; voc tem um MEIO FSICO, um MTODO e

    uma SATISFAO.

    - O que fez foi aplicar a isso um sistema que absolutamente simples.

    Art. 3, CPC: Para propor ou contestar ao necessrio ter interesse elegitimidade.

    - Condies da ao. Liebman conclui que possibilidade jurdica do pedido uma parte

    do interesse de agir (por isso que consagra duas condies, enquanto o art. 267, de

    redao anterior, possui trs condies da ao).

    Art. 4, CPC: O interesse do autor pode limitar-se declarao: I -da existnciaou da inexistncia de relao jurdica; II - da autenticidade ou falsidade de

    documento. Pargrafo nico. admissvel a ao declaratria, ainda que

    tenha ocorrido a violao do direito.

    - O artigo trata da ao declaratria.

    Art. 5, CPC: Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relao jurdica decuja existncia ou inexistncia depender o julgamento da lide, qualquer das

    partes poder requerer que o juiz a declare por sentena. (Redao dada pela

    Lei n 5.925, de 1973)

    - Ao declaratria incidental.

    Art. 6, CPC: Ningum poder pleitear, em nome prprio, direito alheio, salvoquando autorizado por lei.

    - Princpio individualista.

    - E depois, no Ttulo II, Das partes e os procuradores. Por tradio do nosso direito

    processual, a gente s prestigia Von Bullow o cdigo no traz outras aes, que

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 15

    devem ser intudas. Se voc no intui as aes do sistema, voc no entende o

    processo e usa, numa petio processual, elementos de direito material.

    - Antigamente, havia 460 aes, uma diferente da outra. Bullow criou uma ao muito

    mais complexa que enfeixava todas essas aes, procedimentos e todos os mtodos

    que elas revelavam num procedimento. Agora as aes so em menor nmero, mas

    so mais complexas claro, porque tem que absorver o depsito da consignao em

    pagamento, a questo da paternidade, dos alimentos, em vrias tcnicas de tutela, e

    uma nova relao jurdica ( obvio, portanto, que intrinsecamente tornar-se- cada vez

    mais complexa).

    Ganhou tanta complexidade que o prximo cdigo vai tentar simplificar,trazendo uma srie de outros conceitos, outros subprincpios decorrentes

    dessa tempestividadepor exemplo, o princpio da cooperao.

    - No procedimento comum, bvio, especialmente no direito brasileiro, voc no

    pode aplicar um mesmo critrio dialtico para uma cobrana de condomnio ou para

    uma ao de erro mdico que condenatria. Voc tem um procedimento que, por

    conveno, estabeleceu-se uma via mais ampla (ordinrio) e outro, sumrio.

    - O processo de conhecimento surgiu depois do processo de execuo. Para melhor

    visualizar, basta voltar ao direito natural.

    Exemplo: um irmo mais novo e um mais velho. Os pais saram de casa = direito

    natural. O mais novo est sentado no sof com o controle remoto da TV na mo. Qual

    o nome disso? Autotutela.

    - Ento a execuo surgiu antes. Do direito natural, at o direito pr-clssico romano,

    s havia execuo. Voc tinha um procedimento de admissibilidade da ao executiva,e Roma nunca conheceu a responsabilidade patrimonial; sempre a responsabilidade

    pessoal do devedor. Ento havia vrias formas de execuo pessoal: humilhar

    publicamente o devedor, das quebras (quebrava todo o estabelecimento comercial

    do devedor).

    Sugesto de Leitura: Execuo Cvel Cndido Rangel Dinamarco- Por exemplo, Mercador de Veneza, um livro do sculo XVII que reflete essa

    responsabilidade pessoal na execuo. Por incrvel que parea, quem trouxe a

    responsabilidade patrimonial foram os brbaros e dessa miscigenao que nasceu osistema romano-germnico.

    O meio fsico (procedimento), o mtodo (processo) e a ao (satisfao) no se confundem!

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 16

    - V-se que a cognio no existia; s existia execuo. A cognio nasce da costela da

    execuo. Um dia, o devedor, admoestado pelo pretor romano a pagar a dvida, queria

    mostrar que no era o devedor havia condio da ao, era parte legtima e a outra

    parte no tinha interesse. Ento na admissibilidade da execuo voc poderia ter certo

    contraditrio quem mandou isso foi o csar, porque o devedor recorreu ao csar,que, mesmo ciente da rigidez da lei antiga, pediu que o pretor abrisse uma exceo

    (por isso at hoje a exceo uma matria de defesa, desde que ela seja preliminar).

    Ento a exceo de incompetncia, etc., so elementos que podemcomprometer a higidez do processo e, portanto, devem ser analisadas de

    plano, antes de adentrar a execuo.

    OBS: As Institutas de Gaio foram as primeiras coisas processuais que surgiram. Com adecadncia do imprio romano, viu-se o direito cannico, extremamente litrgico,

    influenciando o processo de conhecimento que cresceu at ficar absolutamente

    inadministrvel no sculo XX, de maneira que foi ganhando, ao longo dos sculos, uma

    estrutura dialtica cada vez mais complexa (inclusive de recursos, que fez com que ele,

    antes apenas uma admissibilidade da execuo, se tornasse o que hoje).

    - Apenas o Brasil trouxee j vai acabar no prximo cdigoo processo cautelar.

    - Processo de execuo por quantia certa contra devedor solvente: se observarmos,

    no h espao para defesa; h trs captulos: a) da penhora; b) da avaliao; e c) da

    expropriao. Defender-se- atravs de ao autnomaembargos do devedor.

    A execuo brasileira , em essncia, igual a que havia em Roma.- Desde o direito romano, voc tem a constrio sem o contraditrio. Ningum nunca

    alegou que a execuo por quantia certa fosse inconstitucional. Mas por que ela

    constitucional se h uma norma constitucional impedindo que seja um devedor seja

    privado de seus bens sem o devido processo legal? O conceito de privao no sexpropriao; por que a penhora pode ser feita antes de qualquer defesa?

    - Execuo tem um segundo nome. O primeiro artigo do Livro II do CPC deixa claro que

    a execuo fora, no conhecimento. Isso um eco do direito romano. Voc jteve a cognio.

    No se pode confundir cognitio com executio; naCOGNITIOh uma pretenso

    resistida, as pessoas esto em igualdade de condio processual; na EXECUTIO, trata-

    se de pretenso insatisfeita.

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    Art. 566, CPC: Podempromover a execuo forada: I -o credor a quem a leiconfere ttulo executivo; II -o Ministrio Pblico, nos casos prescritos em lei.

    - Por que alguns ttulos so considerados ttulos extrajudiciais? Porque eles travestem

    uma manifestao de vontade do devedor. Se o devedor j se manifestou pela

    liquidez, certeza e exigibilidade do ttulo, no h porque haver a cognio.O ttulo s

    ser executivo extrajudicial se houver a participao do devedor.

    - Onde estavam as tutelas de urgncia no sculo XIX, no sculo XVIII? Elas j existiam e

    estavam dentro das aes, sejam elas quais fossem. A possessria tinha a sua prpria

    tutela, bem como a consignao em pagamento (art. 899, 1, CPC).

    Art. 899, 1, CPC: Alegada a insuficincia do depsito, poder o ru levantar,desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a conseqente liberao

    parcial do autor, prosseguindo o processo quanto parcela controvertida.

    - Porque se o prprio autor da ao, que devedor, reconhece que ao menos aquilo

    devido, isso se chama parcela incontroversa, e desde j ele pode levantar. Isso uma

    tutela.

    - Cada ao tinha sua prpria tutela de urgncia. Mas e se o juiz errar, como ele faz?

    Mais do que isso, se o juiz mudar de ideia por algum outro motivo antes da sentena

    ou at na sentena? O que acontece com a tutela de urgncia que est dentro domesmo eixo cognitivo e a sentena derroga a liminar? Ela extinta.

    - O Prof. Buzaid observou que a tutela de urgncia, quando no tem a ver com a

    sentena, isto , ela no antecipatria, mas apenas acautelatria da eficcia da

    sentena, essa tutela merecia uma autonomia que a outra no pode ter.

    - Por evidente, se eu movo uma ao em face da Unimed, executiva lato sensu, para

    instalar uma prtese que o mdico me indicou, por falta de cobertura contratual; oque o juiz defere na liminar? A prtese. bvio que isso a sentena antecipada. Essa

    tutela nitidamente uma parcela substancial da sentena que est sendo antecipada;

    diferentemente de uma tutela meramente conservativa, onde voc est discutindo,

    por exemplo, probidade administrativa contra um prefeito e quer ter certeza que ao

    final desse processo o prefeito tenha solvncia para pagar essa dvida. Ento voc

    simplesmente congela determinado bem dele. Esse bem no tem nada a ver com a

    sentena de improbidade administrativa; mas se essa tutela for interna e a sentena

    vier a discordar dela, ela vai junto.

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    - Ento as TUTELAS CONSERVATIVAS merecem um tratamento diferenciado, elas

    precisam ser autnomas. No h uma obrigatoriedade ao magistrado de julgar a ao

    principal e, ao faz-lo, julgar no mesmo sentido a ao cautelar. Isso que Buzaid

    enxergou.

    Art. 273, 2, CPC: No se conceder a antecipao da tutela quando houverperigo de irreversibilidade do provimento antecipado.

    - A pergunta : para quem mais irreversvel: a concesso ou a no concesso? Isso

    uma caracterstica da Escola de so Paulo.

    - Como formular um pedido de implantao de marca-passo? Ao mandamental ou

    executiva lato sensu(pela escola de so Paulo).

    - Ns chegamos ao conceito mais abstrato: a AO.

    Teoria da Ao

    1. Ao Declaratria- Declarar s quando no h relao jurdica. Uma ao revisional constitutiva.

    Depois, por fora dessa desconstituio, muda a base de clculo, e eu, de devedor,

    posso passar a ser credor, mas ainda pode ter uma condenao da instituio

    financeira em danos morais. Voc combina esses pedidos para formar a parte capitular

    da sentena.

    - Tudo se manifesta atravs de verbos; as aes so verbos. Qual foi a nica ao que

    Von Bullow determinou? A ao DECLARATRIA, a nica que est no cdigo.

    Art. 4, CPC: O interesse do autor pode limitar-se declarao: I - da existnciaou da inexistncia de relao jurdica; II - da autenticidade ou falsidade de

    documento. Pargrafo nico. admissvel a ao declaratria, ainda que tenha

    ocorrido a violao do direito.

    - A primeira ao a declaratria. Mas a declaratividade muito radical (art. 4, I,

    CPC). A inexistncia e a existncia se relacionam mais ou menos como o preto e o

    branco e, na realidade, a ao declaratria no envolve os matizes de cinza que

    existem entre o preto e o branco.

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    2. Ao Constitutiva- H situaes em que a declaratividade existe, mas deve-se estabelecer o seu alcance.

    Ento h uma situao em que j existe uma relao jurdica, porm faz-se necessrio

    determinar quo profunda aquela relaoessas aes so CONSTITUTIVAS.

    - O que uma ao de alimentos sem o reconhecimento de paternidade?

    essencialmente uma ao CONSTITUTIVA e CONDENATRIA. O pai reconheceu o filho

    na certido de nascimentoexiste uma relao jurdica; mas ele no paga alimentos

    ento a ao de alimentos vai estabelecer uma regra dentro dessa declaratividade.

    - H duas aes: declaratria (expressa no art. 4, CPC) e constitutiva (intuda) que

    mexem na relao jurdica, estabelecem determinado direito, mas voc no consegue

    buscar uma atuao patrimonial, voc no constrange a parte; elas so

    autoenunciativas, meramente ENUNCIATIVAS.

    Processo

    Ordinrio

    SumrioProcedimento Comum

    Procedimentos Especiais

    (actio )

    Ao

    Conhecimento

    Execuo por quantia certacontra devedor solvente

    Cautelar

    MEIO FSICO MTODO SATISFAO

    SISTEMA

    Declaratria (art. 4)(In) existncia

    (Des) Constitutiva(Des)

    Regulamentao

    CondenatriaAtuao volitiva ou

    patrimonial

    Da costela da declaratria surge a ao CONSTITUTIVAou desconstitutiva.

    O seu objetivo regulamentar uma relao jurdica.

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    3. Ao Condenatria- O dualismo romano, cognitio e executio, nos faz intuir uma terceira ao, que a

    ao CONDENATRIA. Olhando para o cdigo, pode-se intuir essa terceira ao. At

    porque as relaes jurdicas no se resolvem atravs de meras enunciaes.Na ao

    condenatria vai haver atuao volitiva ou patrimonial. O nome dessa estrutura, at o

    presente momento, se chama teoria ternria das aes. As aes de danos, de

    cobrana, tornaram-se aes condenatrias.

    - O que Von Bullow fez pra estabelecer o dualismo metodolgico? Enfeixou as

    metodologias que existiam para se chegar a uma jurisdio. Concebeu a ao

    declaratria porque essa a mais visvel.

    - Existem mais duas aes, porque a classificao atual quinria. Para adentrar as

    duas aes, preciso primeiro entender as diferenas escolsticas. Alis, as tutelas de

    urgncia so o grande elemento de choque entre as escolas e que acaba reverberando

    inclusive na teoria da ao.

    Divergncias Escolsticas e Suas Influncias

    - Para Jos Roberto dos Santos Bedaque, de So Paulo, acabou a ao condenatria,

    porque a ordem de eficcia para pagar muito mais relevante que a condenao.

    Pontes de Miranda, por sua vez, adota a teoria quinria das aes.

    Exemplo: a ao pauliana. A,detentor do direito, observa Bque disps desse direito

    com relao a C com o objetivo de blindar patrimonialmente. A move uma ao

    predominante constitutiva negativa para desconstituir uma relao jurdica

    preexistente. O problema que essa desconstituio vai ser to radical que vai

    desconstituir a relao jurdica entre B e C, de forma que D, E, F possam se

    aproveitar disso. A simples existncia de uma inteno de uma ao pauliana implica

    no reconhecimento de uma relao jurdica. A aparncia externa de uma

    declaratividade, mas na verdade houve uma desconstitutividade radical.

    - Antes, nos casos de obrigao de fazer, de dar coisa certa ou incerta, pagar quantia

    certa, a ao era condenatria; tudo passava por uma condenao. S depois do

    A declaratividade, seja como carga de eficcia, seja como ao, permeia tudo.

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    trnsito em julgado, constitudo o ttulo executivo extrajudicial, poder-se-ia propor

    outra ao, agora de execuo, para a sim atingir o fim pretendido.

    - Na verdade, a escada tridimensional:

    - Porm, precisvamos achar aes que trouxessem para dentro do processo de

    conhecimento essas caractersticas executivas.

    Art. 644, CPC: A sentena relativa a obrigao de fazer ou no fazer cumpre-sede acordo com o art. 461, observando-se, subsidiariamente, o disposto neste

    Captulo. (Redao dada pela Lei n 10.444, de 7.5.2002)

    - Assim como a primeira ao de Von Bullow, nica expressamente prevista no cdigo,

    o resultado do enfeixamento de vrias outras aes imanentistas. De qualquer

    maneira o raciocnio ficou. Atravs disso, conseguiu-se, pouco a pouco, criar novasaes. A mesma coisa aconteceu com as tutelas de urgncia.

    Comum

    Conhecimento

    MEIO FSICO MTODO SATISFAO

    SISTEMA

    Declaratria

    Constitutiva

    Condenatria

    Comum

    Comum

    Execuo

    Cautelar

    Por quantia certa (devedor solvente/ insolvente)

    Obrigao de dar coisa certa ou incerta

    Obrigao de fazer ou no fazer

    AlimentosNominada

    Inominada

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    - No sculo X, quando Carnelutti comeou a sistematizar as tutelar de urgncia, quais

    tutelas existiam? Porque no perodo imanentista, determinadas aes tinham suas

    prprias tutelas de urgncia.

    Exemplo: O que a medida de arresto, por exemplo? A origem rest, prender,

    indisponibilizar.

    - So medidas de urgncia que eram deferidas muito ordinariamente. Desde sempre

    h conflitos possessrios e desde que comearam os primeiros rudimentos comerciais,

    quando o comerciante entregava ao capito do navio toda a sua economia para

    vender em outros portos sem nenhuma garantia que lhe devolveria o dinheiro. Ento

    em abas as situaes havia tutelas de urgncia no so uma inveno da

    humanidade.

    - Mas Carnelluti observou que num tipo de tutela no importa a situao ftica voc adianta a quem possivelmente tem razo o prprio bem da vida . E na outra voc

    no adiantava; voc garantia. Ento havia uma diferenciao muito grande, muito

    clara de voc mexer no mrito da aoou se voc apenas viabilizar algum mrito na

    ao.

    Exemplo: numa situao de ao possessria, quando eu dou uma liminar e tiro os

    invasores do terreno, o nome da ao reintegrao de posse. Ora, se eu te dou a

    posse liminarmente, estou mexendo no mrito dessa ao. Outra coisa

    completamente diferente o capito do navio recebe todas as minhas mercadorias e

    eu peo uma garantia de que, se um dia ele vender tudo aquilo, ele me d o dinheiro

    de volta. Estou apenas garantindo que haver mrito na ao.

    - Ento, apesar de existirem muitas tutelas, ou elas mexem no direito material ou

    garantem que haver um direito material a ser tutelado.

    - Sequestro de bens, arresto de bens, as medidas, por exemplo, para a improbidade

    administrativa.

    Exemplo: um prefeito que est sendo acusado de lesar. Qual a primeira coisa que o

    MP, na ao civil pblica, vai pedir, liminarmente, em relao aos bens pessoais dele?

    A indisponibilidade. Voc mexeu no mrito da ao? No. E essa liminar quer dizer que

    voc vai ganhar a ao? No, no mexe no mrito, apenas assegura que, quando vier a

    sentena de mrito, ela ser executvel.

    Art. 899, CPC: Quando na contestao o ru alegar que o depsito no integral, lcito ao autor complet-lo, dentro em 10 (dez) dias, salvo se

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    corresponder a prestao, cujo inadimplemento acarrete a resciso do

    contrato. 1o Alegada a insuficincia do depsito, poder o ru levantar,

    desde logo, a quantia ou a coisa depositada, com a conseqente liberao

    parcial do autor, prosseguindo o processo quanto parcela controvertida.

    (Includo pela Lei n 8.951, de 13.12.1994) 2o A sentena que concluir pelainsuficincia do depsito determinar, sempre que possvel, o montante devido,

    e, neste caso, valer como ttulo executivo, facultado ao credor promover-lhe a

    execuo nos mesmos autos. (Includo pela Lei n 8.951, de 13.12.1994)

    - O que uma ao de consignao? uma ao do devedor contra o credor quando o

    credor se recusa a dar quitao. O devedor deposita o valor que acha devido; o credor

    contesta a ao e diz que o devedor deve mais do que o valor consignado. No h

    sentido para o credor no levantar a parcela incontroversa.

    1: quem alega a insuficincia do depsito o credor, ru da ao. Isso umaantecipao de tutela. Mas as pessoas nem entendiam isso como uma tutela de

    urgncia.

    - O grande mrito de Carnelutti foi visualizar os dois tipos de tutelas de urgncia.

    Ento, por volta de 1910, 1911, Carnelutti publicou uma de suas primeiras obras onde

    sistematizou as tutelas de urgncia e batizou-as empiricamente de medidas

    cautelaresou acautelatrias, que poderiam ser satisfativas ou acautelatrias.

    - No sistema brasileiro, o Cdigo de Processo Civil de 1939, baseado no CPC Portugus,

    incorporou o sistema de tutelas de urgncia. O CPC de 39 tinha dez livros, mas,

    basicamente, dentro desses livros, havia o Livro I, com a parte geral, um livro de

    processo de conhecimento e um outro para o processo de execuo; depois tinha os

    processos acessrios e os processos especiais (Livro I: Disposies gerias; Livro II: Do

    processo em geral; Livro III: Do processo ordinrio; Livro IV: Dos processos especiais;

    Livro V: Dos processos acessrios; Livro VI: Dos processos de competncia originria

    dos tribunais; Livro VII: Dos recursos; Livro VIII: Da execuo; Livro IX: Do juzo arbitral;

    Livro X: Disposies finais e transitrias).

    - Ora, quando se fala em tutelas assegurando o resultado do mrito ou adiantando o

    mrito, de qualquer maneira, faz-se referncia ao mrito que ser apreciado no

    processo de conhecimento.

    - Ento dentro do processo de conhecimento, bolou-se uma norma, que mais ou

    menos a norma que est inserida no art. 798 do CPC, datada de 1939, mantida no CPC

    de 73 e que ser mantida no novo cdigo: chama-se de PODER GERAL DE CAUTELAS,

    que permite ao magistrado editar medidas provisrias que julgar adequadas toda vez

    1910

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    que uma parte puder gerar outra, antes do julgamento da lide, um dano de difcil

    reparao.

    Art. 798, CPC: Alm dos procedimentos cautelares especficos, que este Cdigoregula no Captulo II deste Livro, poder o juiz determinar as medidas

    provisrias que julgar adequadas, quando houver fundado receio de que uma

    parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra leso grave e de

    difcil reparao.

    - Ento h opericulum in morae a discricionariedade do magistrado diante das provas

    que lhe forem deferidas.

    Exemplo: o cliente est com patologia cardaca, mas pode esperar um pouco. Ento o

    juiz manda reservar um marcapasso e manda adiantar uma percia mdica no

    ordena implantar liminarmente um marcapasso, que seria uma medida satisfativa

    (defere uma medida que meramente acautelatria, em virtude das circunstncias do

    caso).

    - Em 1939, esse sistema, denominado PODER GERAL DE CAUTELA, foi inserido no livro

    I, no processo de conhecimento.

    - Isso ficou muito evidente quando em 1951 foi editada a nova Lei do Mandado de

    Segurana (Lei n 1.533/51), que consubstanciou tal sistema. No art. 7, est disposto

    que, ao despachar a inicial, o juiz ordenar (item II) que se suspenda o ato coator. Isso

    deu um problema hermenutico, ali pelos idos de 1952, justamente em relao a esse

    sistema.

    Art. 7, da Lei 1.533/51: Ao despachar a inicial, o juiz ordenar: [...] II -que sesuspenda o ato que deu motivo ao pedido quando for relevante o fundamento e

    do ato impugnado puder resultar a ineficcia da medida, caso seja deferida.

    Exemplo: em 1952, no existiam montadoras no Brasil, ento todos os carros eram

    importados e houve uma grande importao para o RJ de Cadillac americanos. O fiscal

    da aduana, por um problema qualquer de desembarao aduaneiro, no desembaraou

    os carros. A a nata da sociedade carioca consultou um grande advogado da poca e

    impetrou mandado de segurana. O juiz olhou a lei que dizia que ao despachar a inicial

    o juiz ordenar que se suspenda o ato coator. Ora, suspender um ato denegatrio, no

    Em situaes em que estiver presente a nota de urgncia, pode deferir as medidas

    que julgar adequadas, sejam elas satisfativas, sejam elas acautelatrias a

    situao do caso concreto que vai definir se uma ou outra.

    1951

    1939

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 25

    est na lei, e se a lei no permite, ento quem sou eu para deferir o que a lei no

    permitiu. Ento se apegou de uma forma literal, praxstica.

    - Com agravos e recursos inerentes ao CPC de 1939, chegou-se ao STF, que ficava

    tambm no Rio de Janeiro, Distrito Federal da poca. O STF decidiu que o poder geral

    de cautela a discricionariedade do magistrado entre deferir medidas satisfativas ou

    acautelatrias.Ora, quando o legislador fala que se suspenda, deve-se entender que

    significa ou satisfazer ou acautelar. Ento o STF disse que o juiz pode no apenas

    suspender como pode se substituir autoridade coatora e determinar que se faa

    alguma coisa.

    Eis a fora do sistema implantado por Paulo Batista em 1939.

    - H outro caso bastante famoso, ocorrido em 1965, com a Lei da Ao Popular (Lei

    4.717/1965).

    Art. 5, 4 da Lei 4.717/1965: Conforme a origem do ato impugnado, competente para conhecer da ao, process-la e julg-la o juiz que, de acordo

    com a organizao judiciria de cada Estado, o for para as causas que

    interessem Unio, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Municpio. [...] 4Na

    defesa do patrimnio pblico caber a suspenso liminar do ato lesivo

    impugnado. (Includo pela Lei n 6.513, de 1977)

    - suspenso liminar do ato lesivo: se pensar como o juiz no caso dos Cadillac, s pode

    suspender medidas positivas.

    Exemplo: vamos imaginar que est sendo omisso na demolio de um patrimnio

    histrico, numa situao de poluio ambiental. A vai dizer que no pode suspender o

    ato porque no h o ato para ser suspenso. Isso seria bobagem; onde se l suspenda-

    se, deve-se entender PODER GERAL DE CAUTELA, que a discricionariedade do

    magistrado em deferir uma medida que pode ser satisfativa ou meramente

    acautelatria.

    1910 1939 1951 1952 1965 1973

    Medidascautelares(urgncia)

    - Satisfativas- Acautelatrias

    CPCLivro IPoder

    Geral de

    Cautela

    Mandado deSegurana

    Dec.Art. 7

    CPCLivro III

    Autonomia

    Lei da AoPopular

    Art. 5, 4

    1965

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    - Em 1973, ditadura no Brasil, e o Cdigo de Processo Civil. Qual a diferena do CPC

    de 1973 para o CPC de 1939? Buzaid inovou: ele verificou que as tutelas, fossem elas

    satisfativas fossem acautelatrias, se elas estivessem no livro do processo de

    conhecimento, tinham um problema, que era a falta de autonomia.

    - O que acontecia com uma tutela de urgncia deferida dentro de um processo de

    conhecimento quando sobrevm uma sentena em sentido contrrio?

    - Buzaid constatou que isso era prejudicial tutela de urgncia. Todas as tutelas de

    urgncia estavam inseridas dentro de um conceito maior chamadoPODER GERAL DE

    CAUTELA, dentro do livro relativo ao processo de conhecimento. Caso sobreviesse

    sentena em sentido contrrio, no subsistiria a tutela; caso a sentena fosse

    reformada, muitas vezes no havia mais direito a ser acautelado (o direito j havia

    perecido).

    - Buzaid pensou em criar algo que mantivesse viva a tutela de urgncia ao longo do

    processo de conhecimento. Buzaid abarcava a teoria ternria. Ento qualquer atuao

    patrimonial que eu pretendesse, teria que mover uma ao condenatria; depois que

    transitasse em julgado e retornasse origem, a ento faria uma execuo. Ento

    como Buzaid prestigiava esse sistema, para essas situaes ele criou um processo

    autnomo.

    - So duas as situaes:

    a) evitar que a oscilao jurisprudencial comprometesse uma tutela interinal;b) evitar que a demora no processo prejudicasse o direito nele pretendido.

    - Ento, por esses dois motivos, Buzaid concebeu um processo autnomo: o juiz no

    est obrigado a julgar a ao cautelar no mesmo sentido da ao principal. O objetivo

    de Buzaid era gerar AUTONOMIA.

    - Buzaid diferenciava PODER GERAL DE CAUTELA do DIREITO ACAUTELADO (que

    ser discutido no livro I, no processo de conhecimento). No se pode confundirsegurana da execuocom execuo da segurana. Buzaid criou, ento, um sistema

    onde no havia mais apenas o dualismo clssico romano; mas havia um mecanismo

    processual para dar autonomia a todas as tutelas.

    Art. 796, CPC: O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no cursodo processo principal e deste sempre dependente.

    - A relao de dependncia : eu s posso ajuizar a cautelar se existir um direito a sertutelado. A dependncia agora outra, e se chama REFERIBILIDADE. A relao de

    1973

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    dependncia muito mais em termos de interesse de agir cautelar do que aquela

    questo de acessrio seguir o principal.

    O Cdigo de Processo Civil de 2014 vai denomin-las tutela de evidncia, e nomais tutelas de urgncia.

    - Pontes de Miranda, no tratado das aes, lana a classificao quinria e, na verdade,

    faz uma crtica absolutamente pertinente ao livro III.

    - A sentena terminativa agora a que julga a execuo no mais a que julga o

    mrito da ao, como era antes.

    - Buzaid constatou a falta de autonomia das tutelas quando deferidas interinamente e

    criou essa soluo processual que s existe no Brasil. Mas isso gera consequncias.Teve-se que criar um procedimento. Primeira pergunta: essa sentena tem mrito? E

    mesmo ao criar esse procedimento, esbarrou em outros problemas. sumrio, no

    est investigando o mrito, mas apenas a plausibilidade da coisa; mas qual a eficcia

    dessa sentena?

    - O objetivo de Buzaid era retirar as tutelas de dentro do processo de conhecimento,

    trazendo-as para um processo prprio para que houvesse a proteo ao bem da vida, a

    fim de que permanecesse ntegro durante a ao de conhecimento. Quando a tutela

    era interinal, havia uma submisso.

    - Com essa situao de transferir tudo para um processo e procedimento prprio,

    (sumrio, mas prprio), Buzaid correu alguns riscos de concepo, de design. Ele

    diagnosticou um equivoco anti-autonomia na situao do CPC de 1939; para curar esse

    equvoco, retirou todas as tutelas e as trouxe para um livro prprio. Na realidade, no

    meio que estava a virtude: nem tanto as tutelas deveriam ficar interinais, e nem

    tanto deveriam ser elevadas a um status num processo prprio.

    - Quem comeou a identificar esses equvocos de design no CPC foi justamente Pontes

    de Miranda. Em 1974 ele comeou a editar o 1, 2 e 3 volumes do Tratado das

    Aes, onde Pontes concebeu as outras duas aes, que so a ao mandamental e a

    executiva lato senso.

    - Todas as aes que tinham cunho ou mandamental ou executivo ficavam segregadas

    no cdigo.

    - Pontes, em 1974, especialmente quando editou o 1 volume comeou a perceber

    que o desenho de Buzaid, a despeito de ter sido uma boa ideia, era um sistemaimperfeito.

    1974

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    - Pontes, quando desenvolveu a nova teoria da ao, quando sistematizou e foi o

    primeiro a sistematizar a teoria da aoolhou para o livro III do CPC:

    Art. 807, CPC: As medidas cautelares conservam a sua eficcia no prazo doartigo antecedente e na pendncia do processo principal; mas podem, a

    qualquer tempo, ser revogadas ou modificadas. Pargrafo nico.Salvo deciso

    judicial em contrrio, a medida cautelar conservar a eficcia durante o perodo

    de suspenso do processo.

    - Essa a base da autonomia.

    Art. 810, CPC: O indeferimento da medida no obsta a que a parte intente aao, nem influi no julgamento desta, salvo se o juiz, no procedimento cautelar,

    acolher a alegao de decadncia ou de prescrio do direito do autor.

    - Porque na realidade so duas coisas completamente diferentes: o poder geral de

    cautela completamente diferente do direito acautelado. Quando eu movo uma

    cautelar, no estou perguntando a opinio do juiz sobre o meu direitoque ele vai dar

    na ao principal; estou perguntando: independentemente da sua opinio pessoal, eu

    tenho plausibilidade nesse direito?

    - Entender a cautelar como algo autnomo , acima de tudo, um exerccio de

    humildade do magistrado.

    - Buzaid partia do princpio de que existiam dois direitos materiais. O direito

    processual, naquilo que no procedimental, tambm material.

    Exemplo: qual a natureza jurdica do prazo de 2 anos para ajuizar uma ao

    rescisria? um prazo decadencial.

    O fato de se chamar direito processual no significa que seja exclusivamenteprocessual tambm material.

    - Buzaid bolou, para o Livro I, o DIREITO ACAUTELADO, e para o livro II, o PODER GERAL

    DE CAUTELA. Basta ver o dispositivo constitucional que o prprio Buzaid inseriu na

    carta de 1967: eu tenho direito constitucional higidez da minha pretenso

    processual.

    Art. 5, XXXV, CF: XXXV - a lei no excluir da apreciao do Poder Judicirioleso ou ameaa a direito;

    Por que o julgamento da cautelar no interfere no julgamento da ao principal?Porque so duas coisas diferentes: direito material a uma cautela diferente do

    direito material acautelado.

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    - Sugesto de Leitura: Comentrios ao CPC, Joaquim Calmon de Passos Editora

    Forense.

    - Feita essa diviso, fica mais fcil compreender Pontes. Pontes olhou para o Livro III epensou: tudo bem, tenho autonomia manifestada fisicamente por meio de um

    procedimento prprio, mas h problemas com os efeitos dessas sentenas.

    Art. 888, VIII, CPC: O juiz poder ordenar ou autorizar, na pendncia da aoprincipal ou antes de sua propositura: [...] Vlll -a interdio ou a demolio de

    prdio para resguardar a sade, a segurana ou outro interesse pblico.

    - na pendncia da ao principal em qualquer momento.

    - Interdio cautelar; demolio, do ponto de vista do Pontes, no podia ser. Comoeu, antes da propositura da ao principal, poderia ordenar, em cognio liminar

    muito mais que sumria uma demolio? O cara ganha a liminar 30 dias antes de

    mover a ao principal, e j pode demolir (de repente nem ajuza a ao).

    - uma situao em que o estadoe no s o particularpode fazer isso com voc.

    Art. 888, IV, CPC: O juiz poder ordenar ou autorizar, na pendncia da aoprincipal ou antes de sua propositura: [...] IV - o afastamento do menor

    autorizado a contrair casamento contra a vontade dos pais;

    - bvio que essa norma hoje no tem mais sentido. Essa a tutela mais satisfativa

    que existe. Eram medidas provisrias, mas algumas delas traziam efeitos definitivos. A

    que entra Pontes de Miranda.

    - Pontes comeou a se debruar sobre o DNA das aes para tentar entender que,

    numa viso mais bsica, na primeira lente do microscpio, voc consegue nitidamente

    tirar da sentena, em maior ou menor grau, dois elementos bsicos: toda sentena de

    mrito (portanto toda ao de mrito) possui dois elementos principais: a) um

    provimento efetivo; b) acertamento da ao.

    - Viu que toda a ao que busque algum mrito e que obtenha esse mrito tem um

    efeito concreto (PROVIMENTO EFETIVO), algo que se realiza no mundo concreto, em

    Sentena de Mrito Provimento Efetivo Acertamento da Ao

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    maior ou menos grau. E toda ao tem tambm um efeito normativo, um efeito

    abstrato (ACERTAMENTO DA AO) que edita uma norma comportamental.

    - O que acontece que quando declaratria, tem um acertamento da ao

    gigantesco e um provimento efetivo bem pequeno. Mas em maior ou menor grau isso

    est presente em todas as sentenas de mrito. As cargas de eficcia decorrem desse

    raciocnio.

    - Buzaid teve que fazer escolhas doutrinrias. Por exemplo, at pouco tempo atrs, a

    redao do art. 267, CPC, era: extingue-se o processo sem julgamento de mrito;agora sem resoluo. Mas se eu julgo um mdico, no despacho saneador, parte

    ilegtima para compor aquela lide em que se busca a reparao de danos causados por

    erro mdico, deixando s o hospital, ele no est declarando a inocncia dele? Isso

    no mrito? Extinguiu em face do mdico com base no art. 267, CPC; teoricamente,

    o medico poderia responder de novo, mas, na prtica, no responde mais.

    - Se um objeto impossvel, nada vai torn-lo possvel. Ento quando voc extingue

    uma ao por carncia de ao, claro que mrito.

    - Da mesma forma, o art. 269 no consagra s possibilidades em que h resoluo de

    mrito. Na realidade, mrito mesmo s no inciso I. Os outros quatro incisos foram

    eventos fora da alada do magistrado, que se limita a declarar a situao de fato.

    - Ento voc tem que fazer escolhas quando est fazendo uma lei processual. E nem

    todas so as mais certas/ defensveis. So situaes que esto na raiz e que preciso

    transcender um pouquinho mais para alcanar a capacidade crtica.

    - Qual a repercusso disso? O que isso tem a ver com as duas medidas cautelares do

    art. 888, CPC? Trata-se, nos dois exemplos, de provimento efetivo.

    - H outros exemplos: a criana move uma ao de reconhecimento de paternidade

    c/c alimentos. O juiz no vai deixar a criana sem alimentos at o DNA.

    - Pontes observou o conjunto e encontrou cautelares, mas tambm outras medidas

    que Carnelutti tinha colocado como espcies do gnero de cautelar. At ento qual era

    o critrio de classificao de Carnelutti para colocar as duas tutelas uma ao lado da

    outra? Na realidade, o nvel probatrio:

    Comportamento e eficcia no mundo concreto; efeito normativo e efeito

    executivo; efeito abstrato e efeito concreto respectivamente,

    ACERTAMENTO DA AO e PROVIMENTO EFETIVO.

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    a) Se eu tenho pouca prova, CAUTELAR;b) Se eu tenho muita prova, eu antecipo (tutela ANTECIPADA).

    - O NVEL COGNITIVO o elo que liga as duas tutelas na doutrina italiana. Se eu tenho

    a prova inequvoca, que me d certeza, eu defiro uma tutela mais prxima do que eu

    estou buscando na ao principal, que o provimento efetivo e o acertamento da

    ao.

    - Pontes entendeu que h equvoco na escola italiana, que coloca como tutela de

    urgncia (gnero) as tutelas satisfativas urgentes e as tutelas acautelatrias (espcies).

    O critrio que liga uma outra o nvel cognitivo. Quanto maior a cognio, mais

    satisfativo; quanto menor, mais acautelatrio.

    Exemplo: um sujeito, classificado num concurso pblico, discute por que chamaram o

    classificado a ele imediatamente subsequente, ao invs de cham-lo. Se o juiz reserva

    a vaga a medida acautelatria. Ou ento d a posse e barra o 5 colocado: essa

    tutela satisfativa. Esse o raciocnio italiano.

    - como se eu tivesse o no direito e o direito:

    - Pontes concluiu que a TUTELA SATISFATIVA est diretamente relacionada ao

    Provimento Efetivo, enquanto a TUTELA ACAUTELATRIA sobrepaira a Sentena de

    Mrito, que a soma do provimento efetivo e o acertamento da ao.

    Tutelas de Urgncia

    Satisfativa

    Acautelatria

    DIREITO

    NO DIREITO

    Tutelas Satisfativas

    Urgentes

    Tutelas

    Acautelatrias

    Nvel Cognitivo

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    - Pontes no fez uma crtica destrutiva a Buzaid. Apenas reconhece que uma boa

    inteno a autonomia, mas com resultados duvidosos. Por conta deste critrio de

    relacionamento entre as tutelas, o Cdigo de Processo Civil de 1939 havia cometido

    um erro ao radicalizar e colocar todas as tutelas no Livro I e Buzaid cometeu o mesmo

    exagero levando todas as tcnicas de tutela para o Livro III.

    - O processo cautelar que Buzaid criou tem uma cognio sumria, tem uma coisa

    julgada meramente formal; mas mesmo ele tendo essa cognio muito sumria,

    algumas daquelas tutelas chegam a situaes incontornveis, definitivas. H, na

    realidade, um processo cuja arquitetura no suporta o peso da definitividade. O

    processo cautelar leve, gil; e para ser como tal, no pode ter uma dialtica

    gigantesca, no pode ter o peso de uma executabilidade.

    IMPORTANTE!

    - O que Pontes concluiu que: se a tutela antecipatria uma parcela da sentena de

    mrito, e a cautelar no tem sentena de mrito, no tem sentido uma cautelar

    satisfativa. uma contradio em termos, porque se cautelar, no tem sentena de

    mrito, portanto no tem cognio exauriente, no tem arquitetura.

    - Para Pontes, a cautelar tinha uma arquitetura muito leve; cognio sumria e

    sentena, que faz coisa julgada formal. Tais caractersticas no so condizentes comsatisfaosatisfao eu s posso ter no Livro I, que onde h cognio exauriente e

    sentena de mrito (processo de conhecimento).

    - Ento qual a tutela cuja lgica ser preservada na pendncia do processo principal?

    a CAUTELAR. Agora, se a questo instalar um marcapasso, no tem sentido decidir

    em cautelar tem que decidir no livro I onde vai haver uma sentena que vai

    confirmar essa medida.

    Sentena de Mrito Provimento Efetivo Acertamento da Ao

    Tutela Acautelatria Tutela Satisfativa

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    - Na realidade, Paulo Batista tinha cometido o pecado de colocar a cautelar no Livro I,

    mas acertou ao colocar l a tutela antecipatria. Buzaid trouxe as duas para o Livro III e

    criou tambm cautelares satisfativas, o que incongruente.

    - Portanto, Pontes de Miranda, em 1973/74, ao publicar o Tratado das Aes, intuiu

    esse equvoco. Fez algumas crticas ao CPC 1973, dentre elas exatamente a

    incapacidade dos paulistas de no enxergar o bvio: existem procedimentos especiais

    executivos, e existem procedimentos especiais mandamentais. Por que deix-los nos

    procedimentos especiais?

    - Todas essas execues podem ser feitas sem a necessidade de uma execuo; basta

    que se traga a execuo para dentro do processo de conhecimento. Quando fez essa

    crtica, criticou indiretamente o sistema de tutelas de urgncia do cdigo. Narealidade, Buzaid cometeu o pecado do exagero: essas tutelas sequer so aparentadas

    entre si.At ento, a cognio, a prova, o nvel de conhecimento, eram o linik entre

    elas. Para os italianos, elas eram parentes entre si;mas, para poder criticar Buzaid,

    Pontes foi no DNA das tutelas.

    - Pontes, ao olhar a sentena com um microscpio, entendeu que a sentena obedecia

    a uma equao:

    - Qual a parcela desse binmio que tem repercusso prtica no bem da vida? O

    Provimento Efetivo. E aquele que se limita apenas a normatizar a situao o

    Acertamento da Ao. H sempre os dois efeitos, em maior ou menor grau.

    - Pontes de Miranda desmistificou a premissa de Carnelutti; entendeu que essa

    premissa como elemento de classificao, vlida. Porm, o elemento classificatriono induz a uma verdade cientfica. Eis a concluso de Pontes.

    - Pontes foi na natureza, na raiz, e viu que h tutelas que so o Provimento Efetivo(e,

    portanto, esto dentro da sentena de mrito e delas no tem como se separar); e h

    outras tutelas que apenas protegem a eficcia da sentena, mas no antecipam nada.

    Na verdade, as tutelas de urgncia nunca se viramenquanto a doutrina italiana as

    entendia como parentes entre si.

    - Na classificao de Carnelluti, quais as tutelas que, segundo Pontes, estariam dentro

    da Sentena de Mrito? As SATISFATIVAS; as ACAUTELATRIAS simplesmenteprotegem. A convico no entra nesse critrio de natureza; apenas uma

    Sentena de Mrito Provimento Efetivo Acertamento da Ao

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    caracterstica, mas no as diferencia em termos de essncia das demais. Os italianos

    pegaram essa caracterstica como um elemento gentico quando na verdade no o ;

    um dogma.

    - Ento Pontes estabeleceu esse conceito: a sentena de mrito traz dentro de si a

    tutela antecipatria e, protegendo-as, h as acautelatrias.

    - A ele esbarrou no grande dogma que sustentava a escola italiana: nulla executio sine

    titulo (nula a execuo sem ttulo). Ttulo, para Buzaid, era a sentena de mrito

    transitada em julgado porque, caso contrrio, no seria lquida, nem certa, e muito

    menos exigvel antes do trnsito em julgado.

    - Era necessrio quebrar esse dogma: para poder conceber o Provimento Efetivo antes

    do Acertamento da Ao ter transitado em julgado, era preciso conceber novos tipos

    de aes. Naquela poca, no era possvel o efeito da condenao o antes de a

    condenatria ter transitado em julgado.

    Art. 928, CPC: Estando a petio inicial devidamente instruda, o juiz deferir,sem ouvir o ru, a expedio do mandado liminar de manuteno ou dereintegrao; no caso contrrio, determinar que o autor justifique

    previamente o alegado, citando-se o ru para comparecer audincia que for

    designada. Pargrafo nico. Contra as pessoas jurdicas de direito pblico no

    ser deferida a manuteno ou a reintegrao liminar sem prvia audincia dos

    respectivos representantes judiciais.

    - Essa justificao uma CAUTELAR. Essa a base do raciocnio italiano; o que

    aproxima uma da outra o nvel de convico do magistrado.

    Sentena de Mrito Provimento Efetivo Acertamento da Ao

    Tutela Acautelatria Tutela Satisfativa

    (Antecipatria)

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    Exemplo: vamos supor que algum resolve invadir a reitoria. A reitoria, atravs da

    UFSC, ajuza ao de reintegrao de posse. O juiz defere a liminar. O que acontece, na

    prtica? Todos devem sair dali.

    OBS: O Prof. Eduardo Lamy entende que seja um critrio classificatrio ou de DNA;

    essa diferenciao importante para definir o sistema, mas enquanto o sistema no se

    define, voc usa o que tem, joga de acordo com as regras do sistema. a ideia da

    fungibilidade.

    - Quando Pontes estabeleceu esse paralelo, ele concebeu, em contraposio s aes

    meramente enunciativas declaratria e constitutiva que havia outras que no

    que no tenham execuo, mas elas dispensam a execuo. E a ele definiu a

    classificao quinria:

    a) Aes mandamentais;b) Aes executivas lato sensu que englobam as aes executivas sentido

    estrito:

    i. Execuo por quantia certa contra devedor solvente;ii. Execuo por quantia certa contra devedor insolvente (insolvncia

    civil);

    iii. Execuo de obrigao de fazer ou no fazer;iv. Execuo de obrigao entregar coisa certa ou incerta;v. Execuo de alimentos.

    - Ento surgiu a classificao quinria. O que faz um procedimento ser especial? A

    incapacidade que ele tem de se adaptar s regras do processo, seja por conta de regras

    processuais propriamente ditas, seja por conta de uma incompatibilidade

    procedimental.

    - Se voc tem um procedimento especial que em forma de estrela, ele no se adapta

    a um processo que um crculo.

    Exemplo: um inventrio uma administrao de uma coletividade de bens deixados

    pelo de cujus. No , necessariamente, uma dialtica rumo a uma sentena. No mais

    das vezes, sua sentena de cunho homologatrio. Ento o inventrio no se adapta,procedimentalmente, a uma dialtica e, portanto, o inventrio no vai sair nunca do

    Teoria Quinria das Aes

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 36

    Livro IV (procedimentos especiais) para o Livro I (processo de conhecimento). O que

    pode acontecer sair do cdigo e ir para a legislao extravagante, mediante o

    procedimento extrajudicial, quando no h menores envolvidos. Ento a tendncia

    para esses procedimentos que decididamente no vo se adaptar, retir-los do

    cdigo.

    - Mas existem outras aes que podem perfeitamente ser processualizadas, podem

    evoluir. A ao de imisso de posse virou condenatria, por exemplo antes estava

    nos procedimentos especiais.

    - Pelo Cdigo de 1973, uma tutela antecipatria s poderia ser deferida no processo

    cautelarou simplesmente no tinha tutela de urgncia.

    - Pontes disse que essas aes adaptveis no podem ficar no Livro IV; negar uma

    realidade dizer que elas simplesmente no so processo. A partir disso, criou as aes

    MANDAMENTAISe as aes EXECUTIVAS LATO SENSU.

    - Com base nessa observao, pontes concebeu que, se quebrasse o mito da nulla

    executio sine titulo, poder-se-ia tranquilamente ter um PE (Provimento Efetivo) antes

    de um AA (Acertamento da Ao) se a minha prova assim permitisse.

    - O fato de uma coisa ser repetida desde o direito romano no o transformava em

    cincia. Para Buzaid, as decises iam se aperfeioando de acordo com a instncia. Masisso, depois de um, tempo no fazia o menor sentido. Qual o prximo passo?

    Diferenciar as duas aes.

    - O procedimento de uma medida cautelar sumrio e no exauriente. Faz coisa

    julgada meramente formal. Ento eu no posso pegar um elemento que est dentro

    de uma sentena de mrito e passar para uma sentena sem mrito, que a sentena

    da ao cautelar.

    - Von Bullow, em 1868, olhou para o sistema e viu que a declaratividade pairava sobre

    tudo, porque at no processo penal todas as aes so, em maior ou menor grau,declaratrias. Por isso at hoje a nica prevista no CPC, explicitamente, no art. 4.

    - Qual a diferena entre as aes mandamentais e as executivas lato sensu? A tnica

    da execuo o art. 566, CPC: execuo forada.

    Art. 566, CPC: Podem promover a execuo forada: I -o credor a quem a leiconfere ttulo executivo; II -o Ministrio Pblico, nos casos prescritos em lei.

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 37

    - A penhora recai sobre o devedor; a astreinte, tambm. Igualmente, os alimentos, a

    obrigao de dar coisa certa ou incerta. Ento a execuo forada sobre o devedor.

    - Outra coisa completamente diferente : o devedor deve, mas no d para cumprir.

    Ento voc, juiz, com a sua autoridade, implementa o bem da vida. EXECUTIVA a

    ao cuja fora recai sobre o devedor. A ao que, tirando o devedor da linha, o

    prprio magistrado, utilizando seus poderes, satisfaz o direito, MANDAMENTAL.

    - A DECLARATRIAexiste para declarar existncia ou inexistncia de direito a mais

    radical das aes. Quando eu sei que a relao existe, mas quero apenas modific-la,

    implementando ou retirando direitos, tenho uma ao CONSTITUTIVA. Depois, a

    CONDENATRIA. Quando quero atuar desde logo no prprio corpo da sentena sobre

    o devedor, EXECUTIVA LATO SENSU. E quando o juiz tira o devedor da linha de tiro e

    implementa a obrigao com o poder que a lei lhe confere, a ao ser

    MANDAMENTAL.

    O problema que a Escola de So Paulo continuou recusando a existncia.

    - Em 1977, Jos Carlos Barbosa Moreira escreveu um artigo dizendo que a ao

    popular no bastava mais para a defesa dos interesses coletivos; ns precisvamos

    elaborar uma lei nova, com base nas aes coletivas francesas, para ampliar. Na

    verdade, ele quase foi preso pelos militares, porque voc tinha que passar a

    coletivizar. Estavam nascendo, nesse artigo que ele escreveu, as bases da nova aocivil pblica.

    - Em 1985, a Lei da ao civil pblica(Lei n 7.347/85) foi promulgada.

    19101939

    1951 1952 1965 1973

    Medidascautelares(urgncia)

    - Satisfativas

    - Acautelatrias

    CPCLivro IPoder

    Geral deCautela

    Mandado deSegurana

    Dec.Art. 7

    CPCLivro III

    Autonomia

    Lei da AoPopular

    Art. 5, 4

    1977

    1985

    1977 1985

    ArtigoJos Carlos

    BarbosaMoreira

    Lei da AoCivil

    PblicaArts. 4, 11 e 12

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 38

    - um procedimento especial.

    Art. 4, da Lei 7347/85: Poder ser ajuizada ao cautelar para os fins destaLei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor,

    ordem urbanstica ou aos bens e direitos de valor artstico, esttico, histrico,

    turstico e paisagstico (VETADO). (Redao dada pela Lei n 10.257, de

    10.7.2001)

    Art. 11, da Lei 7347/85: Na ao que tenha por objeto o cumprimento deobrigao de fazer ou no fazer, o juiz determinar o cumprimento da

    prestao da atividade devida ou a cessao da atividade nociva, sob pena de

    execuo especfica, ou de cominao de multa diria, se esta for suficiente ou

    compatvel, independentemente de requerimento do autor.

    Art. 12, da Lei 7347/85: Poder o juiz conceder mandado liminar, com ou semjustificao prvia, em deciso sujeita a agravo.

    - Isso a quebra de um mito. Os arts. 11 e 12 identificam que o juiz pode dar a

    obrigao de fazer ou no fazerque at ento eram aes executiva stricto sensu

    como liminar em ao cognitiva. Aqui, Pontes est vencendo a queda de brao.

    - A tese de Pontes foi vencendo a formalidade. Por isso um erro estudar o processo

    civil sob a tica dogmtica. No pode ser assim porque se deve compreender ainda

    mais um ramo cientfico to ligado a uma realidadeface realidade.

    - De acordo com o entendimento de Buzaid, para fazer a Petrobrs parar de poluir o

    rio Iguau num vazamento, preciso mover uma ao condenatria, esperar que ela

    tramite em todas as instncias, e, depois que baixar origem, dever-se-ia mover uma

    ao executiva stricto sensuonde somente a que o juiz aplicaria uma multa. Se isso

    no faz sentido a nvel individual, imagina a nvel coletivo.

    - A ao civil publica diferenciou pela primeira vez os dois institutos:

    Quando para mover ao cautelar, o art. 4. Quando para pedir uma tutela mandamental ou executiva lato sensu, voc

    tem que mover uma ao de cunho mandamental ou executiva lato sensu.

    - A redao prev isso: o juiz determinar; e, logo em seguida, sob pena de execuo

    especfica. V-se nas entrelinhas que h duas aes a: em uma, o juiz implementa, e,

    noutra, obriga a cumprir.

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    Caderno de Processo Civil IV (UFSC) Luiza Silva Rodrigues Pgina 39

    - Sabe-se que uma ao EXECUTIVA quando a fora executiva incide sobre o

    devedor.

    Exemplo: a ao possessria, quando o juiz defere a liminar e manda a polcia federal

    desocupar a reitoria; essa ao executiva. Voc tem uma ao executiva quando a

    fora da jurisdio se exerce sobre o devedor (seja strictoseja lato sensu).

    - A ao MANDAMENTAL ocorre quando o juiz retira o devedor da linha de tiro e

    realiza, ele mesmo, a ao.

    Exemplo: Lara compra um apartamento prestao. Esse apartamento est financiado

    num sistema hipotecrio qualquer. Todo ms, paga construtora e vai amortizando a

    hipoteca. Quando termina de pagar, quer escriturar o imvel que o nico mtodo

    de transmisso de propriedade imobiliriae depois quer que ela seja averbada numa

    matrcula limpa do imvel, sem a hipoteca, que grava o bem de indisponibilidade. Mas

    descobre que chegou ao final e a construtora pegou o dinheiro para quitar suas

    dvidas. A construtora diz que vai demorar 6 meses para escriturar. O consumidor at

    aceita. Ou ento, move uma ao executiva ou mandamental. Tudo uma questo de

    estratgia.

    Na executiva, vai exercer a fora sobre a Construtora Despencol. E na mandamental, vai usar a fora do juiz para viabilizar.

    - No sculo XIX, era ao cominatria ou ao de adjudicao compulsria.

    - Baixar uma hipoteca obrigao de fazer. Como se realiza a execuo? Atravs de

    astreintes. Nas perdas e danos, depois h execuo por quantia certa (no tem

    astreintes). Agora, se a empresa no solvente, melhor fazer o 466-A, CPC.

    Art. 466-A, CPC: Condenado o devedor a emitir declarao de vontade, asentena, uma vez transitada em julgado, produzir todos os efeitos dadeclarao no emitida. (Includo pela Lei n 11.232, de 2005)

    - Isso mandamentalidade. O que vale como escritura? A sentena; igualmente, a

    averbao no registro imobilirio. Mando baixar a hipoteca na marra e a sentena

    passa a ser o ttulo aquisitivo da propriedade.

    Exemplo: marcapasso no velhinho. Qual a ao? Executiva, porque a fora recai

    sobre o devedor.

    Exemplo: mandado de segurana para dar posse a voc num concurso pblico. Qual anatureza jurdica? Executiva.

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    OBS: A ASTREINTE nada mais que uma constrio psquica, para atuar sobre a

    vontade, e no no bolsomas o estado reconhece no bolso a forma mais persuasiva

    para fazer alguma coisa.

    - Uma das grandes achados do Pontes foi descobrir que as aes no so 100% aquilo

    que voc destina. As aes so, em maior ou menor grau, uma determinada natureza

    que voc atribui a ela. E Pontes dizia mais: no existem aes 100% puras. Por isso ele

    criou um conceito que o conceito de CARGA DE EFICCIA. A carga de eficcia nada

    mais do que, dentro daquela equao, (Sentena de Mrito = Provimento Efetivo +

    Acertamento da Ao), a existncia, em menor ou maior grau, de um ou de outro.

    - As condenatrias so as nicas que redundam num segundo tempo, que a

    execuo. As aes auto-executivas so a mandamental e a executiva lato sensu.

    - No caso das aes declaratrias, o AA (Acertamento da Ao) maior e o PE

    (Provimento Efetivo) menor.

    - S a descoberta desse fenmeno, fez com que Pontes se aprofundasse