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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 1 Caderno de Direito Tributário II Aulas do Prof. Ubaldo Cesar Balthazar (UFSC) Luiza Silva Rodrigues O CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Lei 5.172, de 25/10/1996 1. A Emenda Constitucional nº 18/1965 - A EC 18 é um divisor de águas no direito brasileiro porque é a emenda que sistematiza a atividade tributária no Brasil – antes dela não havia um sistema tributário. - A EC 18 foi preparada por uma comissão de reforma tributária organizada em agosto de 1964 e forneceu as condições propícias à aprovação do novo código. 2. Histórico A Participação de Rubens Gomes de Sousa - O anteprojeto de lei que resultou no Código Tributário Nacional é de 1952. Rubens Gomes de Souza foi o pai da reforma na medida em que foi dele o anteprojeto de lei que estruturava a legislação tributária brasileira. - Do resultado do seminário, formou-se uma comissão de reforma tributária que preparou o projeto de Emenda Constitucional, resultando na EC 18/1965. Curioso é que, quando estavam discutindo a reforma tributária, Rubens Gomes de Sousa, participando, trouxe para debate o anteprojeto de lei que havia preparado em 1952; portanto, a reforma tributária deveria ser ampla de forma a conseguir aprovar também esse projeto de lei. - De qual reforma constitucional precisamos? Reforma constitucional ampla, restrita ou reforma infraconstitucional? Muitos defendem hoje que basta obedecer aos comandos, limites, princípios constitucionais, que já seria excelente para promover uma reforma tributária. - O direito tributário nasce em 1965 com a Emenda 18. Em 1966, é sancionada a Lei nº 5.172, denominada, pelo ato complementar nº 36 (publicado em março de 1967) como Código Tributário Nacional. - Curioso é que a Lei nº 5.172 (CTN) foi editada como Lei Ordinária, eis que nos regimes constitucionais anteriores a 1967 não havia a figura da Lei complementar no direito

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 1

Caderno de Direito Tributário II Aulas do Prof. Ubaldo Cesar Balthazar (UFSC)

Luiza Silva Rodrigues

O CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL Lei 5.172, de 25/10/1996

1. A Emenda Constitucional nº 18/1965

- A EC 18 é um divisor de águas no direito brasileiro porque é a emenda que

sistematiza a atividade tributária no Brasil – antes dela não havia um sistema

tributário.

- A EC 18 foi preparada por uma comissão de reforma tributária organizada em agosto

de 1964 e forneceu as condições propícias à aprovação do novo código.

2. Histórico

A Participação de Rubens Gomes de Sousa

- O anteprojeto de lei que resultou no Código Tributário Nacional é de 1952. Rubens

Gomes de Souza foi o pai da reforma na medida em que foi dele o anteprojeto de lei

que estruturava a legislação tributária brasileira.

- Do resultado do seminário, formou-se uma comissão de reforma tributária que

preparou o projeto de Emenda Constitucional, resultando na EC 18/1965. Curioso é

que, quando estavam discutindo a reforma tributária, Rubens Gomes de Sousa,

participando, trouxe para debate o anteprojeto de lei que havia preparado em 1952;

portanto, a reforma tributária deveria ser ampla de forma a conseguir aprovar

também esse projeto de lei.

- De qual reforma constitucional precisamos? Reforma constitucional ampla, restrita

ou reforma infraconstitucional? Muitos defendem hoje que basta obedecer aos

comandos, limites, princípios constitucionais, que já seria excelente para promover

uma reforma tributária.

- O direito tributário nasce em 1965 com a Emenda 18. Em 1966, é sancionada a Lei nº

5.172, denominada, pelo ato complementar nº 36 (publicado em março de 1967)

como Código Tributário Nacional.

- Curioso é que a Lei nº 5.172 (CTN) foi editada como Lei Ordinária, eis que nos regimes

constitucionais anteriores a 1967 não havia a figura da Lei complementar no direito

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brasileiro. A Lei Complementar surge com a Constituição de 1967, instituindo o

quórum qualificado para sua aprovação.

- A constituição de 1946 já fazia referência à Lei Complementar – já havia essa

expressão antes de 1967 – mas sem o quórum qualificado. A lei complementar, no

regime da CF de 1946, podia ser aprovada por maioria simples tal como lei ordinária.

- Essa figura da lei complementar com regime jurídico próprio, onde se estabeleceu

que tem que tratar de matéria constitucional (como a Constituição expressamente

determina) e com um quórum qualificado de maioria absoluta das duas casas do

congresso nacional, só surge em 1967.

- Entre outras coisas, a CF de 1967 estabeleceu que limitações constitucionais ao

direito de tributar e normas gerais de direito tributário só poderiam ser editadas

mediante lei complementar (ou seja, exatamente os dois livros do CTN). Aí muitos

defenderam que o CTN não havia sido recepcionado pela CF 1967, por ser lei ordinária.

- O STF, em meados de 1968, decidiu que a Lei 5.172 estaria sendo recepcionada com

natureza de lei complementar. O resultado mais notável disso é que qualquer reforma,

qualquer alteração no código tributário só poderia ser feita por lei complementar – o

que dificulta bastante. Em ambas as casas do Congresso Nacional, é preciso ter 50% +

1 de votos favoráveis de seus membros, para aprovar reformas.

- A LC 104/2001 – fez uma adaptação do Código à jurisprudência dos nossos tribunais

em vários aspectos – e a LC 118/2005, foram dois atos normativos que alteraram

dispositivos do CTN.

3. Análise dos Livros

- O código compõe-se de dois livros: I – Sistema Tributário Nacional (foi o mais afetado

pelas reformas constitucionais e emendas constitucionais); II – Normas Gerais de

Direito Tributário.

a) Livro I – Sistema Tributário Nacional

- Não há no CTN nada sobre o IPVA, porque foi um imposto criado por uma emenda

constitucional posterior ao Código. Igualmente, o ICMS, porque um Decreto Lei do

período da ditadura revogou tudo que fazia referência a impostos (a LC 87/96 regula

hoje o ICMS).

- Então o Livro I foi bastante alterado pelas constituições e emendas anteriores a 1966.

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b) Livro II – Normas Gerais de Direito Tributário

- O livro II foi alterado pela LC 104/2001 e a LC 118/2005, que mexeu bastante nos

arts. 183 e seguintes.

- Essa lei 118 adaptou o Código à nova lei de falências, Lei nº 11.101/05. Os

legisladores viram necessidade de, ao aprovar a nova lei de falências, adaptar o CTN, a

fim de facilitar o processo de recuperação judicial e falências.

4. Necessidade de uma Nova Codificação?

- Sim, mas para fazer um novo código, precisamos consolidar a constituição tributária

brasileira, o que não é nada seguro no Brasil.

- Existem dois projetos de lei no Congresso Nacional propondo um novo CTN.

AS NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO

TÍTULO I – LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

Capítulo I – Disposições Gerais

1. Art. 96, CTN: Conceito Amplo

Art. 96, CTN: “A expressão “legislação tributária” compreende as leis, os

tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas

complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações

jurídicas a eles pertinentes.”

- As Instruções Normativas são atos de quinta categoria porque há a CF, o CTN, a lei

instituidora do tributo, o decreto regulamentar, e, finalmente, a instrução normativa.

- O livro II do CTN, que trata das normas gerais de direito tributário, ora faz referência

à “legislação”, ora à “lei”; então quando se refere à legislação tributária, deve-se

entender qualquer ato normativo. De outro lado, quando se refere à lei, está se

referindo à lei em sentido estrito.

- A importância do art. 96 está na distinção que o próprio código faz entre lei e

legislação.

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2. Art. 97, CTN: Explicitação do Princípio da Legalidade Tributária

Art. 97, CTN: “Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a

sua extinção; II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto

nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; III - a definição do fato gerador da obrigação

tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do

seu sujeito passivo; IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de

cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65; V - a cominação

de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou

para outras infrações nela definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e

extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades.”

- O art. 97, CTN, explicita, no plano da lei complementar (código tributário), o princípio

da legalidade tributária, previsto no art. 150, I, CF – princípio da estrita legalidade

tributária. Ao contrário do que alguns dizem, o código não avançou em relação à

constituição: ela estabelece um princípio maior, que é desdobrado pelo código.

- O problema é que o CTN aparentemente desdobra esse princípio e vai onde a CF não

foi: “instituição de tributos, ou a sua extinção”.

Inciso I: extinção de tributos – costume ou lei? A interpretação é que o artigo explicita

melhor o comando constitucional.

- Ou seja, só lei pode instituir e só lei pode extinguir o tributo. E sempre fica a questão:

será que o tributo não pode revogar uma lei? Será que o costume não pode extinguir

tributo?

- Por exemplo, o presidente eleito em 1990 revogou a lei que havia instituído o selo de

pedágio no Brasil. O selo pedágio não era pago porque a lei, embora vigente, se tornou

ineficaz – não tinha eficácia nem social nem jurídica.

- Baleeiro cita outro exemplo: no Brasil império havia um imposto chamado dízimo

adeus, devido ao governo central, e cobrado de todo cidadão brasileiro maior de 21

anos que tivesse determinado número de posses, bastando que residisse no território

nacional. Na verdade, esse imposto foi revogado pela Constituição de 1891, laica.

Então essa Constituição revogou, por não recepção, toda a legislação do império que

regulava tributos relacionados à religião, ainda que já estivessem em desuso.

- Se o executivo por decreto extinguir o tributo, o contribuinte vai reclamar? Não, mas

o problema é a competência; o poder competente para instituir é o poder

competente para extinguir. Então não é competência nem do executivo nem do

judiciário instituir ou extinguir tributo.

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Inciso II: a Constituição fala em exigir ou aumentar, majorar. O código diz que é

instituição e extinção, majoração ou redução.

- O código faz uma ressalva, mas os artigos 39 e 57 já não foram recepcionados pela

Constituição de 1967. A constituição fala em ‘alteração’ das alíquotas dos impostos de

importação, exportação, IPI e IOF – são as quatro exceções constitucionais ao principio

da legalidade tributária quanto ao aumento. A constituição em momento algum

estabelece alguma exceção ao princípio da legalidade quanto à extinção do tributo.

- O art. 153, § 1º, CF, diz:

Art. 153, § 1º, CF: “É facultado ao Poder Executivo, atendidas as condições e os

limites estabelecidos em lei, alterar as alíquotas dos impostos enumerados nos

incisos I, II, IV e V.”

- Há duas questões tratadas pela Constituição, portanto:

A exceção constitucional hoje diz respeito apenas aos impostos de

Exportação, Importação, IPI e IOF – não se referem mais ao ITBI e ao ICM.

O executivo pode ‘alterar’ alíquotas. O presidente da república pode, por

decreto, tanto aumentar quanto reduzir uma alíquota – de um imposto de

importação, por exemplo.

Art. 21, CTN: “O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos

em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-lo

aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.” (Imposto sobre a

Importação).

Art. 26, CTN: “O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos

em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-

los aos objetivos da política cambial e do comércio exterior.” (Imposto sobre a

Exportação).

Inciso III: o dispositivo está de certa forma confirmando o que diz o seu inciso I: para

instituir o tributo, tem que definir o fato gerador.

- A ressalva também está superada (tratava-se da isenção de gêneros de primeira

necessidade do antigo ICM).

O ato normativo próprio para definir fato gerador do tributo é a lei,

e não qualquer outro normativo.

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Inciso IV: a referência aos artigos 39 e 57 está superada (não foi recepcionada pelas

constituições anteriores). Deve ser acrescentada aqui a referência ao IPI – a

Constituição estende a exceção ao IPI também.

- Além disso, a Constituição hoje faz referência apenas à alíquota, e não à base de

cálculo, conforme art. 153, § 1º, CF.

Art. 153, § 1º, CF: “Compete à União instituir impostos sobre: I - importação de

produtos estrangeiros; II - exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou

nacionalizados; III - renda e proventos de qualquer natureza; IV - produtos

industrializados; V - operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a

títulos ou valores mobiliários; VI - propriedade territorial rural; VII - grandes

fortunas, nos termos de lei complementar. § 1º - É facultado ao Poder

Executivo, atendidas as condições e os limites estabelecidos em lei, alterar as

alíquotas dos impostos enumerados nos incisos I, II, IV e V.”

- A Constituição suprimiu a possibilidade de o presidente da república, por decreto,

alterar a base de cálculo dos impostos.

- Até 1988, o presidente, por conveniência de política econômica ligada ao exterior, ao

invés de ajustar/ aumentar a alíquota de importação de determinado produto, a fim

de dificultar a importação (em prol do interesse da indústria nacional), poderia

desconsiderar o valor da importação e estabelecer uma base de calculo compatível

com o valor do produto no mercado interno. O problema é que começaram os abusos.

Alteravam as bases de cálculos sem justificativas plausíveis, o que acabou prejudicando

a concorrência no mercado interno.

Art. 65, CTN: “O Poder Executivo pode, nas condições e nos limites estabelecidos

em lei, alterar as alíquotas ou as bases de cálculo do imposto, a fim de ajustá-lo

aos objetivos da política monetária.”

Inciso V: penalidades só podem ser instituídas por lei. Não pode o chefe do executivo

por decreto definir infrações e penalidades.

Inciso VI: tais hipóteses são previstas no próprio CTN.

- A EXCLUSÃO pode se dar através de isenção ou anistia tributária (só através de lei) –

art. 175, CTN.

Art. 175, CTN: “Excluem o crédito tributário: I - a isenção; II - a anistia.

Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento

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das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja

excluído, ou dela consequente.”

- A SUSPENSÃO está no art. 151, CTN. Uma das hipóteses mais comuns é o

parcelamento.

- Muitos autores dizem que o parcelamento está incluído na moratória, que é a

hipótese de suspensão mais típica. Mas pode ser liminar em mandado de segurança;

pode ser até sentença de primeiro grau (porque cabe recurso); liminar em outras

espécies de ações; tutela antecipada; recurso administrativo; depósito do montante

integral para discutir alguma coisa na esfera administrativa ou judicial.

Art. 151, CTN: “Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II

- o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos

termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a

concessão de medida liminar em mandado de segurança. V – a concessão de

medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial;

(Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) VI – o parcelamento. (Incluído pela Lcp

nº 104, de 10.1.2001) Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o

cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal

cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes.”

- A modalidade mais corriqueira de extinção do crédito tributário é o pagamento.

Porém, nem sempre o pagamento extingue, já que quem o faz é o contribuinte e a

fazenda pública pode não concordar com o valor pago (então extingue quando não

houver mais possibilidade de discutir o pagamento).

- A dação em pagamento em bens imóveis também extingue o crédito tributário. A

prescrição e a decadência extinguem o crédito tributário? O CTN se equivoca porque

coloca as duas no mesmo inciso, no art. 156, mas decadência envolve o prazo para

constituição do crédito (5 anos).

Art. 156, CTN: “Extinguem o crédito tributário: I - o pagamento; II - a

compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a decadência;

VI - a conversão de depósito em renda; VII - o pagamento antecipado e a

homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º

e 4º; VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do

artigo 164; X - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a

definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação

anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado. XI – a dação em

pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.

(Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) Parágrafo único. A lei disporá quanto

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aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito sobre a ulterior verificação da

irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos artigos 144 e

149.”

- Redução ou dispensa de penalidade feita por decreto do executivo ninguém reclama,

mas é o problema do exercício de uma competência constitucionalmente prevista.

Parágrafo 1º: isso significa que por decreto não pode o executivo mexer na base de

cálculo tornando-o mais oneroso.

Parágrafo 2º: a atualização monetária da base de cálculo pode ser feita por Decreto.

- O índice a ser aplicado na atualização monetária, é aquele definido em lei.

3. Art. 98, CTN: Observações Críticas

Art. 98, CTN: “Os tratados e as convenções internacionais revogam ou

modificam a legislação tributária interna, e serão observados pela que lhes

sobrevenha.”

- Há algumas observações a serem feitas a respeito do dispositivo.

a) Tratado internacional? (Pleonasmo)

- Nós temos no plano interno ‘convênios’ e não ‘tratados’, propriamente ditos. A

maioria dos convênios se refere a interesses dos estados.

b) Distinção Clássica entre Tratado e Convenção

- O tratado envolve interesses de estados determinados que regulam entre si regras

para determinados assuntos de interesses recíprocos. O Tratado de Assunção, por

exemplo, envolve interesses determinados; qualquer outro estado só entra no

Mercosul se os contratantes originais permitirem.

- A convenção é um ato internacional de interesse do Estado, mas aberto – os estados

que não participaram da formulação original podem aderir se quiserem. Isso é

discutível, porque a China, por exemplo, quer entrar na OMC e há certa resistência em

função do seu regime comunista.

- A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, de 26/05/69, promulgada pelo

Dec. 7.030 de 14/12/2009, dispõe, em seu art. 2º, 1, a:

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“tratado” significa um acordo internacional concluído por escrito entre Estados

e regido pelo Direito Internacional, quer conste de um instrumento único, quer

de dois ou mais instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação

específica.

- Então hoje por força desse dispositivo da Convenção de Viena, a distinção clássica

entre tratado e convenção perdeu um pouco o sentido.

c) Revoga ou suspende a legislação interna?

- Essa é uma das maiores críticas que se faz ao dispositivo: um tratado, uma

convenção, um pacto, um acordo internacional, NÃO REVOGA a legislação tributária

interna; na verdade ele SUSPENDE A EFICÁCIA da norma que com ele conflita. Se o

tratado revogasse efetivamente a norma interna, o que aconteceria em caso de

denúncia do tratado? Haveria uma lacuna jurídica em função da repulsa de um

determinado estado à aplicação no âmbito interno de determinado tratado. Mas não é

isso que acontece, porque quando há denúncia do tratado, aquela norma que com ele

conflitava volta a viger.

- Então durante a vigência do tratado a lei interna teve sua eficácia suspensa

(continuou vigente, mas ineficaz). Uma vez denunciado o tratado, é afastado do direito

interno, não é mais aplicado, e volta a valer a regra interna. Isso significa que houve

repristinação? Não.

d) Quem suspende: o tratado ou a norma interna que o ratifica?

- Depois de assinado, o tratado só vai ser aplicado no direito interno mediante a

internalização.

- O Presidente encaminha ao Legislativo, que a aprova, e o Congresso Nacional edita

um decreto legislativo que vai à sanção pelo Presidente da República.

- Na verdade, o que suspende é o decreto que internaliza o tratado no direito

brasileiro – sem essa formalidade o decreto não pode ser aplicado aqui dentro.

e) O conflito entre a norma do tratado e a da CF: como resolver?

(monismo ou dualismo?)

- Aqui há uma discussão entre a corrente monista e a dualista: prevalece o direito do

tratado ou a CF e a legislação que a acompanha? O STF, dependendo da matéria, se

inclina para um monismo interno ou externo ou para um dualismo.

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- Uma questão que surge é quanto à estrutura constitucional do estado brasileiro, que

por vezes deve ceder face a um tratado internacional, a uma convenção.

Roque Carraza diz que o presidente, quando assina um tratado, pode fazê-lo,

desde que respeite a estrutura federativa brasileira. Não pode ferir a

autonomia de estados e municípios no âmbito interno. Ele é totalmente

contrário à aplicação de um monismo externo.

Já Bahal diz que o Presidente da República, quando assina um tratado, o faz

como chefe de estado e não como chefe de governo. E aí o problema da

estrutura interna federativa brasileira é um problema do Brasil e não dos

demais estados.

- Então existem duas correntes doutrinárias. A questão central é: pode o Presidente da

República assinar um tratado internacional ferindo o princípio da autonomia dos

estados e municípios? Aí surge a divisão doutrinária, explicitada acima.

- No processo de ratificação, o Senado participa na condição de representante dos

estados brasileiros. Então na medida em que o Senado diz que pode, é como se os

estados o estivessem fazendo – o que é mais um argumento.

- Se houver conflito entre uma norma do tratado e uma norma constitucional, qual a

solução? No monismo, um dos critérios prevalece sobre o outro; no dualismo, ambos

podem coexistir.

- Não há consenso doutrinário aqui. Na esfera tributária, os estados têm se inclinado

mais para um monismo externo, e o argumento principal é que o tratado é assinado

pelo Presidente da República como chefe de estado. (Bahal).

- Mas Carraza representa outra parte da doutrina que defende a prevalência do direito

interno sobre o direito do tratado, porque diz que o Presidente da República pode

assinar qualquer tratado, desde que respeitada a estrutura federativa. O tratado não

pode ferir a autonomia dos estados e dos municípios, princípio constitucional

fundamental para a Federação Brasileira.

4. Art. 99, CTN – O Decreto como Fonte de Direito Tributário

Art. 99, CTN: “O conteúdo e o alcance dos decretos restringem-se aos das leis

em função das quais sejam expedidos, determinados com observância das

regras de interpretação estabelecidas nesta Lei.”

Portanto, os decretos têm alcance infra legem – hierarquicamente estão sempre subordinados aos termos

da lei. Quando muito, podem ser praeter legem, ao lado da lei, mas jamais ultra legem, além da lei.

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- Decreto é ato normativo, é fonte de direito tributário, mas é fonte secundária de

direito tributário – não pode inovar.

- Um problema que se apresenta são os decretos que regulamentam a fiscalização dos

tributos. Até que ponto os decretos não extrapolam os termos da lei? Existe uma

justificativa? O decreto normalmente não inova porque apenas pontua, estabelece os

mecanismos para a aplicação dos princípios gerais da norma instituidora do tributo.

Por isso é comum que o decreto regulamentar seja mais extenso que a lei.

5. Art. 100, CTN – As Normas Complementares

Art. 100, CTN: “São normas complementares das leis, dos tratados e das

convenções internacionais e dos decretos: I - os atos normativos expedidos

pelas autoridades administrativas; II - as decisões dos órgãos singulares ou

coletivos de jurisdição administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa; III -

as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas; IV -

os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os

Municípios. Parágrafo único. A observância das normas referidas neste artigo

exclui a imposição de penalidades, a cobrança de juros de mora e a atualização

do valor monetário da base de cálculo do tributo.”

Inciso I: as mais conhecidas são as instruções normativas, normas de quinta categoria,

formalmente falando. São normas complementares da legislação tributária.

- Em regra, essas Instruções Normativas constituem muito mais a forma como a

autoridade administrativa concebe a aplicação da lei e do decreto. O grande problema

é que essas Instruções Normativas adquiriram um peso enorme principalmente no que

tange à obtenção e fiscalização dos tributos.

- Na esfera federal os instrutores do tesouro nacional basicamente trabalham com

instruções normativas.

Inciso II: órgãos coletivos são os conselhos de contribuintes; quem compõe órgão

singular que pode decidir com forma normativa? É o Secretário de Finanças do

Município, o Ministro da Fazenda. Se ele decidir, tem que fundamentar sua decisão, e

se for uma política reiterada como jurisdição administrativa, pode eventualmente

publicar essas decisões para que tenham efeito normativo – desde que haja lei

autorizando a publicação dessas decisões.

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- É preciso que essas decisões tenham eficácia normativa. Quando essas decisões tem

eficácia normativa? Quando são publicadas com base em legislação própria para que

possam ter efeitos gerais erga omnes. Não basta a decisão em si.

- Se o contribuinte entra na esfera administrativa para discutir alguma questão, em

tese, de acordo com o art. 169, CTN, tem dois anos para ir ao judiciário. Há quem

defenda que essa limitação de tempo seria inconstitucional – a prescrição deveria ser

quinquenal como os demais casos. Mas isso é mais uma consideração doutrinária que

jurisprudencial.

Art. 169, CTN: “Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão

administrativa que denegar a restituição. Parágrafo único. O prazo de

prescrição é interrompido pelo início da ação judicial, recomeçando o seu curso,

por metade, a partir da data da intimação validamente feita ao representante

judicial da Fazenda Pública interessada.”

Inciso III: fala-se em costume como fonte secundária do direito tributário. Por força de

costume, o tributo não pode deixar de ser cobrado, o costume não pode alterar

alíquota do tributo. O costume é fonte de direito tributário apenas sob o aspecto

administrativo formal.

Exemplo: o contribuinte deixa de apresentar o formulário, numa cidade do interior,

porque a prática reiterada da autoridade fiscal é de não cobrar o referido formulário.

De repente muda o fiscal e começa a cobrar a apresentação do formulário, e notifica

os contribuintes pelos últimos 4 anos (não prescreveu ainda). É aqui que o costume

entra como fonte de direito tributário, como argumento de defesa: a prática reiterada

dispensava a apresentação do formulário.

- Isso é tão importante que o § único diz que ninguém pode ser penalizado porque

seguiu costume na prática que a própria autoridade administrativa reconhecia como

válida.

Inciso IV: o convênio seria o tratado interno – normas gerais firmadas no interesse da

fiscalização, políticas de benefícios fiscais que os estados estabelecem entre si (os

convênios mais comuns).

- A reforma constitucional de 2003 prevê a possibilidade de convênio entre União e

Municípios para a cobrança e fiscalização do ITR.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 13

- Há convênios entre municípios e estados (para que os municípios fiscalizem empresas

contribuintes de ICMS). Municípios também podem firmar convênios entre si,

principalmente municípios conurbados.

Capítulo II – Vigência da Legislação Tributária

1. Art. 101, CTN – Aplicação do Princípio Geral da LICC

Art. 101, CTN: “A vigência, no espaço e no tempo, da legislação tributária rege-

se pelas disposições legais aplicáveis às normas jurídicas em geral, ressalvado o

previsto neste Capítulo.”

- O art. 101, CTN, prevê a aplicação do princípio geral da Lei de Introdução ao Código

Civil, art. 1º (Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, conforme Lei 12.376 de

30/12/2010).

- Qualquer lei no direito brasileiro entra em vigor na data em que ela determinar. Se

for omissa, entra em vigor 45 dias depois da data da sua publicação. Para brasileiros no

exterior, se a ele se aplicar a norma, terá vigência três meses após a publicação.

- E o exercício seguinte? A lei pode entrar em vigor, mas não terá eficácia – só no

exercício seguinte. Por isso o código comete um equívoco ao dizer “ressalvado o

disposto neste capítulo”. A ressalva que se poderia entender é a do art. 103, que diz

respeito ao início de vigência das normas complementares previstas no art. 100 (aí sim

haverá exceções à regra geral da LINDB).

- Se a lei é publicada dia 30 de dezembro e entra em vigor na data da publicação, como

regra geral o tributo poderá ser cobrado dia 2 de janeiro. Porém dependendo do

tributo essa lei pode ter eficácia já no dia 2 de janeiro (como é o caso do IRRF), ou

deverá aguardar 90 dias após a publicação (IOF, por exemplo).

- Há dois critérios: anterioridade geral e especial. Isso porque os contribuintes

começaram a pressionar para que fosse aplicado o prazo de 90 dias. Alterava-se a

alíquota do imposto de renda e da contribuição social sobre o lucro, em lei que entrou

em vigor no dia 30 de dezembro; a mudança de alíquota do IRRF incidia a partir de 2

de janeiro; a mudança de alíquota da CSL, no começo de abril.

Então aos contribuintes era mais vantagem que a anterioridade, que era

exceção, se tornasse a regra.

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- Há a anterioridade geral (exercício seguinte); a mitigada, das contribuições especiais

destinadas ao financiamento da seguridade social (90 dias, não precisa aguardar o

exercício seguinte); e a especial (é acoplada à anterioridade geral; é observada desde

que seja observada também a anterioridade geral).

2. Art. 102 e 103, CTN – Vigência no Espaço e Normas Complementares

Art. 102, CTN: “A legislação tributária dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios vigora, no País, fora dos respectivos territórios, nos limites em que

lhe reconheçam extraterritorialidade os convênios de que participem, ou do que

disponham esta ou outras leis de normas gerais expedidas pela União.

- É uma exceção ao princípio da vigência no espaço. A lei tributária municipal de

Florianópolis vale para o território do município de Florianópolis. De São José, a

mesma coisa, e assim sucessivamente.

- Então uma lei do município de São José, por exemplo, a princípio não pode ter

vigência em Florianópolis. Mas digamos que o município de Florianópolis edite uma lei

sobre o imposto de serviços; o município de São José, por alguma razão, precisa fazer a

mesma coisa, mas não tem lei própria – enquanto isso firma um convênio com o

município de Florianópolis para aplicar a mesma lei em São José. É raro, mas é

possível.

- Ou então pode reconhecer a jurisdição de uma legislação externa aplicada à sua

jurisdição.

- A regra geral é cada município com suas leis e jurisdição; mas eventualmente pode

haver convênios.

Art. 103, CTN: “Salvo disposição em contrário, entram em vigor: I - os atos

administrativos a que se refere o inciso I do artigo 100, na data da sua

publicação; II - as decisões a que se refere o inciso II do artigo 100, quanto a

seus efeitos normativos, 30 (trinta) dias após a data da sua publicação; III - os

convênios a que se refere o inciso IV do artigo 100, na data neles prevista.”

- É a única exceção no tempo.

Inciso I: portanto, não se aplica a LINDB, porque esses atos entram em vigor na data da

sua publicação, mesmo que sejam omissos quanto ao início de vigência.

Inciso II: uma vez editadas as súmulas administrativas dos tribunais administrativos,

entram em vigor 30 dias depois.

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Inciso III: neste caso é possível eventualmente aplicar-se a LINDB. Entra em vigor na

data neles prevista, mas se forem omissos, o critério a ser utilizado é o da LINDB.

3. Art. 104, CTN: Recepcionado pela CF/88? – O Problema de sua Redação

O princípio da anterioridade tributária

Distinção entre vigência e eficácia

A publicação e a vigência da lei tributária

O problema da vigência nas cartas pré 1988

Isenção e princípio da anterioridade

Art. 104, CTN: “Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele

em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos

sobre o patrimônio ou a renda: I - que instituem ou majoram tais impostos; II -

que definem novas hipóteses de incidência; III - que extinguem ou reduzem

isenções, salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte, e

observado o disposto no artigo 178.”

- Há divergências quanto à recepção ou não desse artigo pela Constituição de 1988. O

STF ainda não reconheceu a inconstitucionalidade por não recepção do art. 104; ele

reconhece que o inciso III não foi recebido porque há decisão do STF contrária à sua

aplicação.

- “Entram em vigor”: o art. 104 faz referência à vigência; não é vigência, mas problema

de eficácia.

- “referentes a impostos sobre o patrimônio ou a renda”: o princípio da anterioridade

aplica-se a todos os tributos, com algumas exceções. Então o segundo problema é que

o artigo alcança só os impostos sobre o patrimônio ou a renda – isso não é verdade.

Realmente, a Constituição desde 1967 manda aplicar o princípio da anterioridade a

todos os tributos, salvo algumas exceções.

- Se tem dois problemas sérios, porque ainda não foi declarado inconstitucional a

partir de 1967? O prof. diria que por uma questão de ordem mais prática, porque

convém manter regulamentado no CTN o princípio da anterioridade.

- Luciano Amaro diz que o princípio da anterioridade no CTN no art. 104 é necessário

até para poder resgatar a questão da isenção (inciso III), não tratada pela Constituição.

Então uma lei que reduza ou extinga isenção, se o contribuinte é isento e a lei for

revogada, pelo que está no art. 104, CTN, esse tributo só pode ser cobrado no

exercício seguinte. Não é isso que diz o STF; defende que o inciso III não foi

recepcionado por uma questão principiológica – entre o princípio da isonomia e o da

anterioridade, o STF prima pela isonomia.

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A situação normal seria de tributação, mas, por certas razões, determinados

contribuintes são isentos ao recolhimento de tributos. Se a isenção for

revogada, por uma questão isonômica, incide o tributo imediatamente. Então

num conflito de princípios o STF decide por um princípio que ele considera

maior que é o da igualdade (face ao princípio da anterioridade).

- “salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte”: a doutrina não

consegue entender o que o legislador quis dizer com isso. É complicado exigir algum

tributo de forma mais favorável ao contribuinte.

Art. 178 - A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de

determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer

tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104.

- Aqui inclusive em 1975 a LC 24 alterou a redação deste dispositivo. A lei que concede

isenção, se estabelece um prazo e condições, pode ser revogada a qualquer tempo,

mas não para o contribuinte isento.

Exemplo: se fulano é empresário, tem empresa estabelecida em Palhoça e ganhou

isenção de 10 anos aos tributos municipais porque preencheu as condições da lei local

– mostrou a planta industrial, comprometeu-se com a criação de empregos, etc. Isso

ocorreu no dia 1º de dezembro de 2012. A administração municipal aprova o pedido e

antes de 31 de dezembro de 2012 o empresário recebeu o benefício fiscal. Entra novo

prefeito em Palhoça no dia 1º de janeiro decidido a acabar com os benefícios fiscais e

encaminha projeto de lei para a câmara de vereadores revogando todos os benefícios

fiscais para as indústrias lá estabelecidas e a lei é aprovada em março de 2013. A

empresa de fulano é atingida pela nova legislação? Não. Trata-se de um direito

adquirido; enquanto preencher as condições, a lei revogada vai gerar efeitos para

aquele caso concreto, até terminar o prazo.

Capítulo III – Aplicação da Legislação Tributária

1. Art. 105, CTN: Aplicação da Legislação a Fatos Geradores Futuros e Pendentes

Art. 105, CTN: “A legislação tributária aplica-se imediatamente aos fatos

geradores futuros e aos pendentes, assim entendidos aqueles cuja ocorrência

tenha tido início mas não esteja completa nos termos do artigo 116.”

- A lei entra em vigor, mas se for lei instituidora de tributo, possui sua eficácia

suspensa, ou seja, só vale para o exercício seguinte, ou respeitados também os 90 dias.

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- O problema é a segunda parte do art. 105: “e aos pendentes” – o que se deve

entender por isso? O restante da redação responde a pergunta: aqueles cuja

ocorrência tenha tido início, mas não esteja completa nos termos do artigo 116.

- A regra, do art. 116, CTN, é que, para caracterizar a hipótese de incidência de um

tributo, é irrelevante a sua configuração jurídica; basta a configuração fática. Isso

significa que ocorre o fato gerador e nasce uma obrigação tributária mesmo se o

sujeito resolve prestar serviço sem alvará, sem licença, sem CNPJ, nada.

Art. 116, CTN: “Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o

fato gerador e existentes os seus efeitos: I - tratando-se de situação de fato,

desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais

necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios; II -

tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja

definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável. Parágrafo único. A

autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos

praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do

tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária,

observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.”

2. Fato Gerador Pendente ou Complexivo ou Continuado

- O fato gerador pendente, também denominado de complexivo ou continuado é

aquele que começa a ocorrer numa data e só vai se completar numa outra. É o caso

típico do Imposto de Renda na sistemática anterior: ele é sempre cobrado em relação

a um exercício fiscal (de 1º de janeiro a 31 de dezembro).

- O fato gerador do imposto de renda é a “aquisição da disponibilidade econômica ou

jurídica: I - de renda, assim entendido o produto do capital, do trabalho ou da

combinação de ambos; II - de proventos de qualquer natureza, assim entendidos os

acréscimos patrimoniais não compreendidos no inciso anterior.” (nos termos do artigo

43, do CTN).

- Luciano Amaro, a fim de elucidar o conceito de fato gerador pendente, faz uma

analogia com uma partida de futebol, em que o resultado da partida somente pode ser

confirmado ao seu término, independentemente do placar em determinado momento

do jogo. Assim também o fato gerador pendente: só se aperfeiçoa ao término de um

período de tempo, quando se der o apito final. Qualquer situação vista

individualmente no curso do tempo (ou do jogo) não é suficientemente capaz de

apontar a consequência definitiva (seja o vencedor do jogo, seja a obrigação

tributária). (In Direito Tributário Brasileiro, 12ª. ed. São Paulo: SARAIVA, 2006)

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a) Fato Gerador Pendente e o CTN

- O caput do art. 116, CTN, combinado com o seu inciso I, é bastante elucidativo:

afirma que se considera ocorrido o “fato gerador e existentes os seus efeitos [...]

tratando-se de situação de fato, desde o momento em que se verifiquem as condições

materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios.”

b) Fato Gerador Pendente e a Constituição Federal

- Fato gerador pendente é um conceito de direito tributário que a maioria da doutrina

reconhece que não foi recepcionado pela constituição vigente. A jurisprudência deixou

de aplicar a súmula 584, do STF, porém ainda não foi revogada.

Súmula 584, STF: “Ao imposto de renda calculado sobre os rendimentos do ano-

base, aplica-se a lei vigente no exercício financeiro em que deve ser

apresentada a declaração.”

Exemplo: a declaração de imposto de renda é o ajuste do imposto em relação a todo o

ano anterior. O assalariado todo mês recebeu seu salário e teve o imposto retido pela

própria fonte pagadora, ao longo do ano. A legislação obriga que o próprio

contribuinte, no exercício seguinte, faça o ajuste para ver se recolheu o suficiente, se

recolheu pouco ou se recolheu a mais. Se na declaração está comprovado que ele

recolheu a mais, a receita devolve dinheiro pra ele – é a famosa restituição do Imposto

de Renda.

- Vamos supor que a tabela foi modificada em agosto, de 7,5 para 8%, mas só vale para

1º de janeiro do ano seguinte. Quando chegar em abril ele vai fazer o ajuste; qual a

alíquota a ser aplicada? Pela lógica, pelo princípio da anterioridade, como está fazendo

o ajuste em relação ao período anterior, a alíquota é de 7,5%. A Procuradoria da

Fazenda Nacional defende que não, que a alíquota aplicável é de 8%; assenta que se a

lei vigente no exercício da declaração prevê uma alíquota de 8%, deve aplicá-la,

porque o fato gerador do imposto de renda seria um fato gerador pendente. Não há

que se falar em aplicação retroativa da lei para fato anterior à lei porque o fato já

estava acontecendo (era pendente). Então no ajuste, para evitar a confusão de aplicar

até agosto uma alíquota e depois outra, aplica-se a alíquota vigente no momento da

declaração. O STF, por sua vez, deu razão à PGFN.

- Os tributaristas no Brasil, antes de 1988, bateram muito para derrubar essa súmula, e

não conseguiram. Na constituinte em 1987, segundo consta, o Ives Gandra assessorou

a comissão de direito tributário, e quis acabar com essa interpretação. Um dos

argumentos utilizado pelo Supremo para chegar a essa decisão – já que os

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 19

contribuintes diziam que tinham direito adquirido à alíquota anterior – é que aqui não

há direito adquirido porque o fato gerador é pendente.

- Ives Gandra defende a não recepção da súmula, face ao art. 150, III, da Constituição

Federal de 1988. Já que o problema não é de direito adquirido, vamos colocar na CF a

impossibilidade de aplicação retroativa da lei.

Art. 150, III, CF: “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte,

é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: [...] III -

cobrar tributos: a) em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da

vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; b) no mesmo exercício

financeiro em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou; c)

antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que

os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b; (Incluído pela

Emenda Constitucional nº 42, de 19.12.2003)”

- Com a previsão ele derruba essa interpretação porque, mesmo que a lei tenha

entrado em vigor em agosto, ela só terá eficácia no exercício seguinte, então só se

aplica aos fatos geradores possivelmente ocorridos no exercício seguinte. Assim, a

partir de 1988, o próprio judiciário brasileiro deixa de aplicar a súmula 584.

- A doutrina brasileira, por sua vez, passa a dizer que o conceito de fato gerador

pendente não foi recepcionado pela Constituição de 1988.

4. Art. 106, CTN: Exceções ao Princípio da Irretroatividade Tributária?

Noção de lei interpretativa

Retroatividade da lei mais benigna para o acusado (lei que deixe de

considerar o ato como infração, ou comine penalidade menos severa)

Art. 106, CTN: “A lei aplica-se a ato ou fato pretérito: I - em qualquer caso,

quando seja expressamente interpretativa, excluída a aplicação de penalidade

à infração dos dispositivos interpretados; II - tratando-se de ato não

definitivamente julgado: a) quando deixe de defini-lo como infração; b) quando

deixe de tratá-lo como contrário a qualquer exigência de ação ou omissão,

desde que não tenha sido fraudulento e não tenha implicado em falta de

pagamento de tributo; c) quando lhe comine penalidade menos severa que a

prevista na lei vigente ao tempo da sua prática.”

- Na literalidade, o art. 106 diz que a lei tributária pode se aplicar a um acontecimento

passado, a um ato ou fato pretérito, em qualquer caso quando seja expressamente

interpretativa. O que é lei “expressamente interpretativa”? Ou a lei inova, e não é

expressamente interpretativa, ou repete lei anterior e é, portanto, desnecessária.

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- Um determinado comando normativo pode ser utilizado para interpretar um ato ou

fato pretérito, ou seja, o que se deve entender por lei interpretativa é que uma lei

nova permite esclarecer o sentido da lei vigente quando da ocorrência do fato.

Exemplo: LC 118 adaptou o CTN à nova lei de falências.

Art. 3º da LC 118: “Para efeito de interpretação do inciso I do art. 168 da Lei no

5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional, a extinção do

crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito a lançamento por

homologação, no momento do pagamento antecipado de que trata o § 1o do

art. 150 da referida Lei.”

- Havia uma celeuma doutrinária e jurisprudencial sobre quando ocorreria a extinção

de crédito tributário no tributo lançado por homologação: a partir do recolhimento

feito pelo contribuinte ou o prazo teria decorrido depois de 5 anos que a fazenda

pública tem para tomar conhecimento? A LC 118 disse que o art. 168 deve ser

interpretado assim: o crédito está extinto nos termos do § 1º do art. 150. Permite

interpretar um artigo do CTN.

- Portanto, o art. 106, I não é caso de retroatividade tributária; trata-se da aplicação do

conceito de lei interpretativa.

Inciso II: é caso de retroatividade da lei mais benigna para o acusado (lei que deixe de

considerar o ato como infração ou comine penalidade menos severa).

Exemplo: então quando aconteceu o fato, o sujeito cometeu um ato classificado como

infração à legislação tributária. O sujeito diz que não cometeu infração nenhuma e o

caso vai para o judiciário. No meio tempo, vem uma lei nova que deixa de definir o ato

como infração; ou, mesmo considerando como infração, a penalidade aplicada seria de

100% do valor do tributo e a lei nova diz que é de 20%.

- Estamos diante de uma anterioridade da lei tributária penal, que defina infrações

e/ou comine penalidades.

- A exceção prevista no CTN é quanto às leis que definam infrações ou apliquem

penalidades, em decorrência da aplicação do princípio penal ao direito tributário.

Não existe exceção ao principio da irretroatividade da lei tributária material

(lei que institua ou aumente tributo).

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- Existe outra possibilidade de aplicação retroativa da lei tributária, que é a lei

tributária administrativa, prevista no art. 144, § 1º, CTN.

Art. 144, § 1º, CTN: “O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato

gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que

posteriormente modificada ou revogada. § 1º Aplica-se ao lançamento a

legislação que, posteriormente à ocorrência do fato gerador da obrigação,

tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização,

ampliado os poderes de investigação das autoridades administrativas, ou

outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto, neste último

caso, para o efeito de atribuir responsabilidade tributária a terceiros.”

Capítulo IV – Interpretação e Integração da Legislação Tributária

- Integração significa ausência de norma aplicável que precisa completar, integrar,

promover a completude da norma. Como o julgador não pode decidir alegando

inexistência de lei, interpretar é procedimento prévio à realização da integração.

- Os métodos de interpretação existentes são: gramatical, histórico, teleológico,

sociológico, etc. No direito tributário o problema é o princípio da legalidade tributária:

nenhum tributo pode ser instituído ou aumentado sem lei que o estabeleça.

- Daí que o julgador deve tomar muito cuidado quando utiliza métodos de

interpretação do direito tributário exigindo tributos não previstos em lei.

1. O art. 107, CTN, como Norma Essencialmente Tributária

Art. 107, CTN: “A legislação tributária será interpretada conforme o disposto

neste Capítulo.”

- O legislador tributário aqui engessou os métodos de interpretação e integração

restringindo-os ao que está disposto no capítulo que envolve os arts. 107 a 112, CTN.

2. A Lista do art. 108, CTN: Numerus Clausus?

Art. 108, CTN: “Na ausência de disposição expressa, a autoridade competente

para aplicar a legislação tributária utilizará sucessivamente, na ordem indicada:

I - a analogia; II - os princípios gerais de direito tributário; III - os princípios

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gerais de direito público; IV - a eqüidade. § 1º O emprego da analogia não

poderá resultar na exigência de tributo não previsto em lei. § 2º O emprego da

eqüidade não poderá resultar na dispensa do pagamento de tributo devido.”

- O artigo trata do problema de integração da legislação tributária. O legislador

literalmente enquadra o intérprete, engessa a sua atuação.

- Apesar desse aparente engessamento, nenhum julgador se vale dessa ordem de

critérios elencados no art. 108, CTN. Os métodos mais utilizados hoje para

fundamentar as decisões são a jurisprudência e a doutrina.

Inciso I: analogia é estender o sentido de uma norma aplicável a um fato a outra

situação semelhante. Não se pode confundir analogia com interpretação extensiva;

esta implica uma aproximação maior.

- Ruy Barbosa Nogueira explica que há zona cinzenta entre analogia e interpretação

extensiva. Na analogia não existe norma sobre o fato.

- Pode-se utilizar analogia no direito tributário, observada essa ressalva do § 1º.

Inciso III: princípios de direito tributário são princípios de direito público.

Aparentemente há uma redundância aqui, mas na intenção original de engessar o

julgador, o legislador deu preferência aos princípios de direito tributário. São eles:

princípio da supremacia do interesse público, princípio da legalidade, impessoalidade,

moralidade, eficiência, dentre outros.

Inciso IV: a equidade é o método mais perigoso a ser usado no direito tributário

porque envolve um campo de subjetividade muito grande.

3. Arts. 109 e 110, CTN: Princípios Gerais de Direito Privado no Direito Tributário

- São normas dirigidas ao julgador (art. 109, CTN) e ao legislador (art. 110, CTN).

Art. 109, CTN: “Os princípios gerais de direito privado utilizam-se para pesquisa

da definição, do conteúdo e do alcance de seus institutos, conceitos e formas,

mas não para definição dos respectivos efeitos tributários.”

- Princípios de direito privado podem ser utilizados na esfera do direito tributário

desde que o julgador não o faça para alterar o sentido de um instituto de direito

privado alcançando com isso resultado diverso do que seria alcançado com os

princípios de direito privado.

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Exemplo: mercadoria é o objeto motivo de mercancia. Ou seja, o bem que pode ser

transmitido de forma onerosa. Então se o julgador vai decidir alguma coisa relativa ao

ICMS, tem que usar o conceito de mercadoria de acordo com os princípios de direito

privado – não pode alterar o conceito de mercadoria, violando o princípio de direito

privado.

- Um caso interesse foi a discussão se a energia elétrica era mercadoria. Houve quem

defendesse que não, porque a mercadoria deveria ser tangível. O judiciário entendeu

que é mercadoria porque há um comprador, um vendedor e uma transmissão – valeu-

se de princípios de direito privado para enquadrar o conceito conforme o direito

privado consagra. Então cabia a incidência de ICMS.

Art. 110, CTN: “A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o

alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expressa

ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados,

ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou

limitar competências tributárias.”

- Comando dirigido ao legislador ordinário tributário.

4. Art. 111, CTN: Interpretação Literal – Regra ou Exceção?

- Na realidade não se trata de uma interpretação literal; é uma interpretação restritiva

para normas concessivas de benefícios.

Art. 111, CTN: “Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha

sobre: I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; II - outorga de isenção; III

- dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias.”

- A regra geral é que todos sejam tributados de forma isonômica; se alguém recebe um

benefício fiscal, um incentivo, uma moratória, numa eventual discussão sobre a

questão o intérprete deve realizar interpretação mais restritiva possível porque se

trata de um benefício fiscal.

Exemplo: empresa de software recebe uma isenção de ISS Municipal por ser uma

empresa que desenvolverá softwares. Mas ele começa a vender softwares e outros

artigos de informática. Passa um fiscal do ISS e o cara diz que ISS é só uma parte, mas o

fiscal diz que vai considerar a movimentação financeira do mês; emite uma notificação

e o sujeito se defende dizendo ser isento e, portanto, indevido o ISS. Depois, passa o

fiscal do ICMS, vê a venda de mercadorias e notifica; o dono da loja diz que só deve

ISS.

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- É um benefício concedido a um tipo de atividade em virtude do interesse público. Em

Florianópolis, por exemplo, existe uma legislação dispondo sobre isenção fiscal para

empresas que desenvolvem softwares.

- Numa discussão judicial a interpretação deve ser restritiva, o que significa que o

julgador deve se ater à norma concessiva do benefício sem abarcar outras situações,

por força do principio da isonomia que prevalece no direito tributário.

Inciso I: trata das hipóteses de suspensão e exclusão.

- A suspensão está prevista no art. 151, CTN, e envolve: a moratória; o depósito do

montante integral; as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do

processo tributário administrativo; a concessão de medida liminar ou de tutela

antecipada, em outras espécies de ação judicial; o parcelamento.

- A exclusão está no art. 175, CTN. Isenção e anistia excluem o crédito tributário. Qual

a diferença entre a isenção e a anistia? A multa. A anistia é o perdão de penalidades

por infrações à legislação tributária e a isenção é a dispensa do pagamento do tributo

devido, tradicionalmente falando – mas não como um perdão, e sim como um favor

legal.

Inciso III: é o caso de uma empresa que se dedica a atividades sociais e pode ser

dispensada de alguns encargos administrativos exigidos comumente – são obrigações

tributárias acessórias, encargos administrativos.

5. Art. 112, CTN: Norma de Conteúdo Tributário Penal

Art. 112, CTN: “A lei tributária que define infrações, ou lhe comina penalidades,

interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado, em caso de dúvida

quanto: I - à capitulação legal do fato; II - à natureza ou às circunstâncias

materiais do fato, ou à natureza ou extensão dos seus efeitos; III - à autoria,

imputabilidade, ou punibilidade; IV - à natureza da penalidade aplicável, ou à

sua graduação.”

- De acordo com o artigo, estamos diante do princípio do in dubio pro reo. Ives Gandra,

que é contra a aplicação deste princípio ao direito tributário, diz que na verdade é o

princípio in dubio pro contribuinte.

Inciso I: se o fato concretamente ocorrido está previsto em lei ou não. Se houver

dúvida, beneficie-se o acusado.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 25

TÍTULO II – OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA

Capítulo I – Disposições Gerais

1. Relação Jurídica Unilateral ou Bilateral?

- A obrigação tributária é uma relação jurídica unilateral ou bilateral? Segundo o CTN é

unilateral porque envolve o direito de a fazenda pública exigir o tributo e a obrigação

do particular de pagá-lo.

- Por que a questão de bilateralidade? A doutrina coloca hoje a questão da

bilateralidade da relação tributária em virtude do princípio da legalidade tributária. A

Fazenda Pública também se subsume à lei; se é assim, quando ocorre o fato gerador e

nasce a obrigação tributária, a Fazenda só pode exigir o que está previsto em lei (tem o

direito de exigir, mas é obrigada a cobrar apenas o previsto em lei). O particular, o

sujeito passivo que é obrigado ao pagamento do tributo, por sua vez, tem o direito de

pagar somente o previsto em lei.

- Então numa análise teórica, é realmente possível vislumbrar os dois campos –

direitos e obrigações – tanto da Fazenda Pública quanto do particular.

- É nesse sentido que se entende hoje que a obrigação tributária seria uma relação

jurídica bilateral – e não unilateral, como entende o nosso direito positivo.

2. Obrigação Tributária: Obrigação Patrimonial (Obrigação de Dar)

a) Obrigação principal – objeto: pagamento de tributo e multa

A crítica doutrinária ao conceito do § 1º, art. 113, CTN

- Quando se fala em obrigação tributária, nos termos do CTN, pode ser uma obrigação

de dar ou de fazer. A obrigação tributária principal é uma obrigação patrimonial,

obrigação de dar.

Art. 113, CTN: “A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação

principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento

de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito

dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e

tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse

da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. § 3º A obrigação acessória, pelo

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simples fato da sua inobservância, converte-se em obrigação principal

relativamente à penalidade pecuniária.”

- Há uma crítica doutrinária ao conceito do § 1º porque o legislador aparentemente

confundiu as coisas. A obrigação principal é obrigação tributária, que surge com a

ocorrência do fato gerador previsto em lei e extingue-se com a extinção do crédito

dela decorrente. A penalidade pecuniária surge quando alguém infringe um comando

normativo – quando há uma infração à legislação tributária – não tem nada a ver com

a obrigação tributária principal porque não poderia ser objeto da obrigação tributária

(envolve o cumprimento de uma pena por infração à legislação tributária).

- Tributo nós pagamos porque praticamos o ato previsto em lei; a multa, pagamos

porque infringimos uma norma legal ou administrativa (coisas bem diferentes).

- Há quem entenda, por outro lado, que o § 1º não diz que tributo é multa e multa é

tributo; simplesmente afirma que o objeto da obrigação principal é o pagamento de

tributo ou penalidade pecuniária porque se algum de nós for penalizado pelo estado e

não pagar, como o estado vai cobrar? Por execução fiscal. E qual a base procedimental

necessária para ingressar em juízo com uma execução fiscal? Inscrição do débito em

dívida ativa, que é o titulo extrajudicial de que se vale o estado para cobrar suas

dívidas.

- Daí porque essa doutrina procura entender e justificar essa colocação que foi a única

forma que o legislador encontrou de equiparar a penalidade pecuniária à obrigação

principal para fins de execução; caso contrário o estado ficaria desamparado. Hugo de

Brito Machado defende esse posicionamento.

b) Obrigação acessória – encargos administrativos (fazer ou não fazer)

- O § 2º do CTN faz referência às obrigações tributárias acessórias, que têm por objeto

“as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou

da fiscalização dos tributos”.

- O que se deve entender por obrigação acessória? Ela decorre da legislação tributária.

A obrigação principal é a obrigação de pagar tributo ou penalidade pecuniária em

decorrência de lei – é preciso lei em sentido estrito para configurar o nascimento da

obrigação principal.

- O § 2º, quando faz referência à obrigação acessória, diz que ela decorre da “legislação

tributária”. O código deixa claro que as obrigações acessórias não precisam

necessariamente ser estabelecidas por leis, mas também por decretos, circulares,

regulamentos, instruções normativas.

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- Lembre-se do que foi discutido acerca do art. 96, CTN.

Art. 96, CTN: “A expressão "legislação tributária" compreende as leis, os

tratados e as convenções internacionais, os decretos e as normas

complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações

jurídicas a eles pertinentes.”

- Aqui é um daqueles casos em que fica clara a distinção entre ‘legislação’ tributária e

‘lei’ tributária. O § 2º deixa claro que esses encargos administrativos – que nada mais

são que essas obrigações acessórias, que Paulo Bastos de Carvalho chama de deveres

instrumentais para as obrigações acessórias – podem ser instituídas de acordo com o

CTN pela legislação tributária.

- Essa questão não deixa de ser importante porque há juízes hoje no Brasil que, apesar

dessa redação, dizem que não pode; se é uma obrigação tributária, algo que se impõe

ao particular, ao sujeito passivo, só através de lei e não qualquer ato normativo (afinal,

são obrigações impostas ao contribuinte).

- As obrigações acessórias, às quais alguns doutrinadores se referem como obrigações

de fazer ou não fazer, pelo que afirma o CTN, podem ser estabelecidas por qualquer

ato normativo – não precisa ser lei em sentido estrito.

- Paulo Bastos de Carvalho questiona a aplicação da teoria das obrigações do direito

civil ao direito tributário. O argumento é que a obrigação de fazer no direito civil tem

conteúdo patrimonial. As obrigações acessórias no direito tributário são encargos

administrativos, deveres instrumentais impostos pela legislação tributária para uma

boa fiscalização ou arrecadação do tributo – não tem, propriamente, esse cunho

patrimonial.

- Qual a obrigação do comerciante quando vende a mercadoria? Para recolher o

tributo ele precisa emitir nota fiscal – a emissão de nota fiscal é acessória, um encargo

administrativo. Note-se que não há um cunho econômico. Por isso Paulo Bastos de

Carvalho diz que não são obrigações de fazer ou não fazer, tal qual conceitua o direito

civil.

- O § menciona que as obrigações podem ser ‘positivas’ ou ‘negativas’. Obrigação

acessória negativa é aquele encargo imposto pela lei que exige um não agir; significa

que o contribuinte deveria se omitir de determinada ação.

Exemplo: vários municípios concedem isenção para imóveis tombados (com valor

histórico, arquitetônico). Alguns dizem que é uma prestação negativa no interesse da

fiscalização dos tributos, instituído pela lei. Dizem que o contribuinte não pode alterar

a faixada do imóvel, erroneamente. Mas a verdadeira ação aqui é preservar, manter o

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imóvel com suas características originais. Então na verdade a prestação é positiva, e

não negativa – e o exemplo é dado erroneamente.

- Qual seria uma prestação negativa? O contribuinte não pode impedir o acesso do

fiscal à sua empresa para realizar ato de fiscalização. É uma ação omissiva, ou seja, a lei

impõe um não agir. Se ele age impedindo o acesso do fiscal, o fiscal pode entrar com

força policial.

- “no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos”: por que esse ‘ou’?

Como regra geral, qualquer encargo administrativo é instituído no interesse da

arrecadação e da fiscalização. Mas esse ‘ou’ é porque há determinadas situações em

que os encargos são instituídos somente no interesse da fiscalização. Por exemplo, no

comércio exterior, a maioria dos encargos é instituída somente no interesse da

fiscalização dos tributos e não da arrecadação.

- A legislação do imposto de renda nos impõe manter conservados notas e recibos

durante 5 anos. Aqui o interesse é maior da fiscalização do que da arrecadação – é

muito mais para fins de controle.

c) O art. 113, § 3º - compreensível somente com o § 1º

- O art. 113 é um dos mais criticados pela doutrina e a crítica se acentua também no §

3º, quando diz que “A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância,

converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.”

- Na verdade, uma obrigação acessória não se converte em principal. A obrigação

acessória, não sendo observada, implica na aplicação de uma penalidade. Aí o

legislador cai na armadilha preparada pelo § 1º.

Capítulo II – Fato Gerador da Obrigação Tributária

1. O Conceito de Fato Gerador – Gaston Jèze

A crítica de Gianinni – os dois momentos do fenômeno

Art. 114, CTN: “Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei

como necessária e suficiente à sua ocorrência.”

- O art. 114 diz o que se deve entender por fato gerador da obrigação principal. Pela

leitura do dispositivo, qual seria a causa da obrigação tributária? Seria a lei em si, o

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fato gerador (o fato concretamente ocorrido que faz nascer a obrigação tributária) ou

seria a capacidade contributiva?

- A doutrina se divide nas três correntes: a) há quem diga que sem lei, não existe

obrigação tributária; b) outros dizem que pouco adianta haver a hipótese de incidência

se não houver alguém que pratique o fato e nasça a obrigação tributária; c) por fim,

outros dizem que antes de tudo é preciso que haja capacidade contributiva.

- É preciso que haja definição legal do fato, que ele ocorra concretamente, e que exista

capacidade contributiva. O hipossuficiente, economicamente, que ganha na loteria,

qual capacidade contributiva possui para pagar o IPVA do carro? Então ocorreu o fato

gerador, nasceu obrigação tributária, mas não possui capacidade contributiva – então

em tese não haverá obrigação tributária.

2. A Posição de Becker e Ataliba:

A hipótese de incidência tributária (h.i.)

O fato imponível (Luciano Amaro: “fato gerador”)

- Diz Becker que a expressão ‘fato gerador’ não gera coisa alguma.

- Quando o art. 114 fala em fato gerador da obrigação tributária, discute-se o sentido

do que o código está falando.

- O código não está se referindo ao fato concretamente ocorrido; faz referência à

definição legal do fato. E aí surge a distinção em hipótese de incidência e fato

imponível, de que Geraldo Ataliba fala.

- Geraldo Ataliba decompõe o fato gerador em seus dois momentos, porque a

expressão fato gerador é uma expressão dúbia. O que o CTN denomina de fato gerador

no art. 114, é a chamada hipótese de incidência tributária (é a previsão legal do fato);

outra coisa bem diferente é o acontecimento no mundo dos fastos daquela hipótese

prevista em lei.

LEI Hipótese de Incidência

Fato Gerador

Obrigação Tributária Capacidade Contributiva

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- Então há a previsão legal, que por si só não faz surgir obrigação tributária nenhuma. É

chamado a colher o imposto quem se coloca como proprietário de veículo automotor,

porque aí pratica em concreto o que antes não passava de uma descrição legal do fato.

- O legislador se apropria de atos, fatos ou negócios jurídicos que têm conteúdo

econômico, formula uma hipótese legal, e a partir daí sempre que alguém se colocar

na hipótese de incidência prevista em lei, ocorre o fato imponível da obrigação

tributária, que seria o acontecimento no mundo dos fatos correspondente exatamente

à definição legal desses fatos, à hipótese de incidência tributária.

- Essa dicotomia, quem pensou pela primeira vez foi um autor italiano chamado

Gianinni. Para ele, fato gerador é uma expressão ambígua que envolve o momento da

norma e o momento do fato. O equívoco dele é que, para distinguir um do outro,

chamou o momento da norma de hipótese de incidência e o momento do fato,

chamou de hipótese de incidência realizada – aí gerou uma contradição: se é

hipótese, não é realizada, e se é realizada, já não é mais hipótese. E foi o mesmo erro

de Becker.

- Vem o Ataliba depois e diz que não concorda com o termo “hipótese de incidência

realizada”; sugeriu, pois, “fato imponível”. Embora a doutrina brasileira durante muito

tempo tenha utilizado a expressão, Paulo de Bastos Carvalho e Luciano Amaro

criticaram a expressão dizendo que “imponível” é um “vir a ser” – fato imponível é um

fato sobre o qual poderá incidir a norma. Imponível é algo que poderá se impor.

- Paulo de Bastos Carvalho diz que o ideal seria “fato imposto”, mas poderia confundir

com o próprio imposto. Poderia ser “fato realizado”, mas a melhor solução é “fato

gerador” – e é o que vem sendo usado hoje pela doutrina.

IMPORTANTE: É preciso distinguir a expressão “fato gerador” do ponto de vista

doutrinário e do ponto de vista legal. Quando a doutrina fala em “fato gerador”,

refere-se ao que o Ataliba chamava de “fato imponível”, fato concretamente ocorrido

que corresponde à descrição legal desse fato, à chamada hipótese de incidência

tributária.

- O CTN não faz distinção entre hipótese de incidência e fato imponível. Cabe ao

intérprete fazer a distinção.

- Um ato, fato ou negócio jurídico com conteúdo econômico só terá relevância ao

direito tributário se houver previamente uma descrição legal.

De acordo com o código, fato gerador é uma situação descrita na lei que, se

verificada em concreto, faz nascer a obrigação tributária.

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Art. 150, § 7º, CF: “A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária

a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo

fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e

preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador

presumido.”

- Usa a expressão “fato gerador” nos dois sentidos: num primeiro momento como

hipótese de incidência e num segundo como fato concretamente ocorrido.

- A doutrina tributária nacional costuma usar mais a expressão “hipótese de

incidência” para tratar da descrição legal do fato e “fato gerador” para se referir ao

fato concretamente ocorrido.

- A expressão “fato imponível” começou a entrar em desuso a partir de 1990.

3. Art. 114, CTN: Hipótese de Incidência da Obrigação Principal

- Sempre que o contribuinte tiver que tirar dinheiro para cumprir uma obrigação

tributária, essa é a obrigação principal.

Art. 114, CTN: “Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei

como necessária e suficiente à sua ocorrência.”

4. Art. 115, CTN: Hipótese de Incidência da Obrigação Acessória

- Se por um lado o 114 se refere à lei, o 115 se refere à legislação tributária.

Art. 115, CTN: “Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que,

na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que

não configure obrigação principal.”

Exemplo: no imposto de renda, seria preencher a declaração.

- Uma obrigação acessória, nos termos do art. 115, é o comerciante emitir nota fiscal,

por exemplo.

- O fato gerador da obrigação acessória é o encargo imposto pela legislação tributária

consistentes em obrigações positivas ou negativas.

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5. Art.116, CTN: Fato Gerador e as Situações de Fato e de Direito

Art. 116, CTN: “Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o

fato gerador e existentes os seus efeitos: I - tratando-se de situação de fato,

desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais

necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios; II -

tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja

definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável. Parágrafo único. A

autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou negócios jurídicos

praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do fato gerador do

tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação tributária,

observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.”

- Para o direito tributário, para que haja fato gerador, não é preciso que haja uma

configuração jurídica desse fato. A situação pode ser meramente fática e permitir o

nascimento de obrigação tributária.

Exemplo: alguém se estabelece como prestador de serviço sem alvará, sem licença,

não paga tributo algum, mas presta serviços que estão definidos na lista dos serviços

que ensejam a cobrança de ISS. É uma situação fática. Passa o fiscal na rua, pergunta

pelo alvará, pelo CNPJ, o sujeito não tem nada e diz que não deve nada. O fiscal

notifica o sujeito para pagar tributos, com base nos cálculos de faturamento do sujeito

nos últimos meses.

- Eis uma situação fática. Por vezes a questão não envolve irregularidade. Por exemplo,

o fato gerador do ICMS é a saída da mercadoria do estabelecimento industrial ou

comercial. Durante algum tempo, alguns consideravam que a saída física da

mercadoria seria o fato gerador porque a legislação do ICMS não identificava que tipo

de saída do estabelecimento. Essa interpretação foi derrubada quando Geraldo Ataliba

comentou que se a mera saída física da mercadoria fosse fato gerador do imposto,

dever-se-ia avisar o ladrão.

- Então a saída física, fática, às vezes depende de interpretação. No caso do ICMS,

considera-se que a saída deve ser econômica, com a transmissão da titularidade do

bem.

a) O Parágrafo Único: Elisão, Evasão e Planejamento Tributário

- O parágrafo faz referência a fato gerador no sentido do fato concretamente ocorrido.

Não há necessidade de uma configuração jurídica do fato para que nasça obrigação tributária.

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“Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou

negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do

fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação

tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei

ordinária.”

- Esse parágrafo foi acrescentado em 2001 pela LC 104. Foi uma pressão da Fazenda

Pública, da Receita Federal para que o Congresso Nacional dotasse o código de um

mecanismo que desse condições à autoridade fiscal para fiscalizar melhor o

planejamento tributário.

- O verdadeiro planejamento tributário, como regra geral, visa fazer economia de

tributo. Não é ilegal, desde que cumpridos alguns requisitos. Como regra geral, tal

planejamento deve ser feito antes da ocorrência de fato gerador de tributo;

excepcionalmente, pode acontecer em momento posterior, mas é mais raro.

Exemplo: o contribuinte do ITBI em que o CTN e a LC que institui o ITBI diz que o

contribuinte pode ser o comprador ou o vendedor (geralmente é o comprador) e,

havendo operação de compra e venda, alguém vai ser responsável pelo recolhimento

do tributo. Aí eles podem, por contrato, acordar que o vendedor vai ser responsável

pelo recolhimento do tributo – a esse acordo a Fazenda Pública não pode se opor.

Exemplo: espécie de leasing imobiliário – um sujeito que precisa comprar um terreno

para expandir sua indústria, mas naquele momento não possui todo o valor que o

vendedor pede pelo terreno. Eles acordam, então, alugar por 10 anos e, ao final, o

sujeito paga realmente o valor do imóvel. Isso é uma hipótese de planejamento

tributário. O ITBI, por exemplo, não vai ser recolhido – só ao final.

- No leasing, previsto no art. 117, o arrendatário ao final tem três situações possíveis

ao desfecho do negócio: a) adquirir o bem pagando a diferença; b) devolver o bem

porque não tem mais interesse em continuar com o equipamento; c) pode pegar o

saldo e refinanciar, fazendo um novo leasing com o saldo.

- O que há no leasing é o planejamento tributário: a empresa faz economia de tributo

usando dos mecanismos que a própria legislação lhe permite, para economizar

imposto.

- Isso se chama ELISÃO FISCAL: utilização de técnicas que permitem economia de

tributo utilizando-se da lei ou das lacunas da lei. A elisão é lícita. A EVASÃO é ilícita, é a

sonegação.

- O § único propõe um mecanismo que desconsidera essas ações de planejamento

tributário se a autoridade verificar que houve uma dissimulação do fato gerador do

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tributo – como regra geral, dentro de 5 anos. Mas se comprovar que houve dolo, erro

ou coação, pode ser depois (art. 150, § 4º, CTN).

- O dispositivo é bastante criticado na doutrina hoje pela vagueza, pela forma como ele

dispõe sobre essa possibilidade de desconsideração do fato gerador. Essa regra do §

único é chamada equivocadamente de norma geral anti-elisiva.

- Na verdade, trata-se de uma norma anti-evasiva, e por isso a crítica: até que ponto o

fiscal pode desconsiderar os atos praticados pelo contribuinte se no caso ele praticou

atos de elisão fiscal? Até que ponto pode considerar que houve dissimulação do fato

gerador do tributo?

- Nós temos a Lei 8.137/90 que trata sobre os crimes contra a ordem tributária e diz

qual o procedimento a ser adotado para fazer essa penalização. Se houve crime, não

houve planejamento; se houve planejamento não houve crime. Então essa é a lei geral

anti-evasiva.

- O § único dota a autoridade fiscal de um mecanismo na verdade desnecessário

porque já há uma legislação que define os crimes contra a ordem tributária e

estabelece os procedimentos a serem observados nesses casos. Mas é importante

analisá-lo porque envolve a questão da evasão, elisão.

Exemplo: declaração de imposto de renda, que pode ser completa ou simplificada (a

própria receita permite que se faça essa opção).

- Regra geral, a sonegação fiscal ocorre após a ocorrência do fato gerador. Isso é ilegal

e é denominado evasão ou sonegação.

6. Art.117, CTN: Tributação Sob Condição Suspensiva e Resolutória

Art. 117, CTN: “Para os efeitos do inciso II do artigo anterior e salvo disposição

de lei em contrário, os atos ou negócios jurídicos condicionais reputam-se

perfeitos e acabados: I - sendo suspensiva a condição, desde o momento de seu

implemento; II - sendo resolutória a condição, desde o momento da prática do

ato ou da celebração do negócio.”

Exemplo: no caso de doação, é o ITCMD (imposto estadual). O pai faz um contrato com

a filha dizendo que o imóvel será registrado no nome da filha no dia do casamento. É

uma condição suspensiva; então não haverá incidência do imposto no registro desse

contrato em cartório, porque existe uma condição suspensiva.

- Ou então o pai pode fazer um contrato registrando imediatamente o imóvel no nome

da filha; mas ele coloca uma cláusula dizendo que se o casamento não se realizar,

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devolva-se o apartamento ao nome do doador. Aqui há uma condição resolutiva,

porque o contrato vai se resolver se não houver a celebração do casamento.

- Para o direito tributário, no caso da condição resolutiva, o imposto incide duas vezes:

no registro da doação e na devolução do imóvel se o contrato se resolver ao final.

- Na condição suspensiva, o que mais dá problema de interpretação é o leasing, e

principalmente no que diz respeito à incidência do ICMS.

Exemplo: um contrato de arrendamento mercantil. Uma empresa que compra uma

máquina para aumentar a produção. No Brasil existe o VRG, isto é, Valor Residual

Garantido. O leasing é um contrato de arrendamento (locação/ venda). Não existe

previamente um comprador e um vendedor, mas um arrendante e um arrendatário

(duas pessoas em que uma cede à outra a posse de um bem). O arrendatário vai pagar

durante 10 anos um valor estabelecido a título de locação pelo bem, restando a ele ao

final a opção de ficar com o bem pagando o saldo. Por menor que seja o tempo, há

uma depreciação do bem. Terminado o prazo de 10 anos, deve-se proceder a nova

reavaliação do bem para ver quanto está valendo.

- Supondo que o bem valorizou ao final do prazo, o arrendatário propõe um leasing

suplementar de 3 anos – é uma terceira opção (isso no leasing puro). Mas o Brasil

inventou que o arrendatário paga o saldo ao longo do contrato inicial, através do VRG

e com isso desnaturou o leasing, transformando-o num contrato de compra e venda.

OBS: Algumas fazendas estaduais cobram o ICMS no início dizendo que não existe mais

condição suspensiva. E se deve pagar esse ICMS sobre o valor do bem.

- Muitos contribuintes dizem que o VRG é uma espécie de seguro que é pago para

garantir o pagamento das parcelas do leasing, então não se trata de uma opção de

compra feita desde o início. Logo, a doutrina e a jurisprudência se dividem: há decisões

determinando que o ICMS seja pago no início, na assinatura do contrato; outros

entendem que se trata de um seguro – não é porque está pagando a integralidade que

optou por comprar. Como regra geral, como houve pagamento do VRG, a pessoa fica

com o bem ao final. O problema é se a pessoa não quiser o bem.

- No momento da assinatura do contato de leasing não há transferência da

propriedade; o ICMS só vai incidir ao final do contrato se ele fizer a opção de compra

porque aí há uma operação de circulação de mercadoria.

Exemplo: o sujeito adquiriu um imóvel por R$ 1.000,00; firmou contrato para pagar R$

800,00 e sobraram R$ 200,00. Em qualquer lugar do planeta, o sujeito sabe que haverá

o saldo de R$ 200,00 que será objeto de análise ao final do contrato. No Brasil criou-se

uma espécie de seguro para garantir o saldo; então esse saldo de R$ 200 vai sendo

pago ao longo dos anos e, quando chega ao final, não há mais saldo.

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- O judiciário se dividiu: uns entendem que o VRG é um simples seguro; mesmo sem

resíduo, a opção de compra vai ser feita ao final. A questão não está resolvida até hoje.

As decisões mais recentes do STJ vão no sentido de que o ICMS só pode ser cobrado ao

final do contrato – mas não é jurisprudência pacífica.

7. Art. 118, CTN: A Tributação de Atos Ilícitos – Princípio do Non Olet (Vespasiano)

- O fato gerador, in casu, é irrelevante.

- A expressão significa “dinheiro não cheira”.

Art. 118, CTN: “A definição legal do fato gerador é interpretada abstraindo-se: I

- da validade jurídica dos atos efetivamente praticados pelos contribuintes,

responsáveis, ou terceiros, bem como da natureza do seu objeto ou dos seus

efeitos; II - dos efeitos dos fatos efetivamente ocorridos.”

- Por exemplo, não há nenhum imposto que traga como fato gerador algo ilícito. O

princípio não significa a tributação de algo ilícito em si, mas a tributação da renda

obtida com o tráfico, por exemplo.

- O ilícito em si não é fato gerador de tributo algum, mas as consequências dele sim.

Capítulo III – Sujeito Ativo da Obrigação Tributária

1. Art. 119, CTN: Competência e Capacidade Tributária Ativa

As pessoas jurídicas de direito público com competência tributária

As pessoas jurídicas de direito privado: aplicação do art. 7º, § 3º, CTN

Art. 119, CTN: “Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público,

titular da competência para exigir o seu cumprimento.”

- Pessoa jurídica de direito privado pode ser sujeito ativo da obrigação tributária? Pode

cobrar tributo? Sim, porque a atividade de cobrança o poder público pode delegar ou

para uma pessoa jurídica de direito público ou para pessoa jurídica de direito privado.

- Pessoa física pode cobrar? Sim, pelo mesmo motivo que a pessoa jurídica de direito

privado. Teoricamente falando, pode. Paulo de Bastos Carvalho deixa isso claro em seu

livro: nada impede.

- A resposta positiva a essas perguntas leva a uma questão: não podemos confundir

competência tributária com capacidade tributária ativa. O art. 119 de certa forma

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 37

mistura os conceitos quando diz que sujeito ativo é o titular da competência para

exigir o seu cumprimento e que a competência tributária é a aptidão

constitucionalmente concedida para instituir tributo.

- De acordo com a parafiscalidade, em alguns casos o ente tributante institui o tributo

e delega a função de arrecadar a outra pessoa jurídica de direito público desde que

haja interesse público para tal.

Art. 7º, CTN: “A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das

funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou

decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa

jurídica de direito público a outra, nos termos do § 3º do artigo 18 da

Constituição. § 1º A atribuição compreende as garantias e os privilégios

processuais que competem à pessoa jurídica de direito público que a conferir. §

2º A atribuição pode ser revogada, a qualquer tempo, por ato unilateral da

pessoa jurídica de direito público que a tenha conferido. § 3º Não constitui

delegação de competência o cometimento, a pessoas de direito privado, do

encargo ou da função de arrecadar tributos.”

- A redação do art. 7º induz o leitor a pensar que a capacidade tributária ativa só pode

ser reservada a uma pessoa jurídica de direito público. Mas o direito positivo foi além,

e hoje pessoa jurídica de direito privado também exerce tal capacidade.

- O art. 119, portanto, mistura os conceitos de competência e capacidade. Daí porque

não procede o que alguns autores dizem no sentido de que sujeito ativo de obrigação

tributária no Brasil é União, Estados, Distrito Federal e Municípios – mas, sim, estes são

os únicos que exercem competência tributária. Até um Conselho Regional pode ser

sujeito ativo de obrigação tributária, porque exerce capacidade tributária ativa – pode

inclusive mover ação de execução em seu nome contra profissionais que não pagarem

a anuidade, que é tributo.

- Qual seria o fundamento para o exercício da competência tributária? Por que o

estado cobra tributo? A doutrina levanta diferentes fundamentos, desde o

fundamento histórico, finalístico, jurídico-constitucional, etc. O estado cobra tributo

porque exerce sua jurisdição, porque a Constituição assim o permite, porque faz parte

da sua finalidade para atender o bem comum. Evidente que os autores mais

normativistas centralizam o argumento no fundamento constitucional.

- Pessoa jurídica de direito privado que exerça capacidade tributária ativa? Sim, por

exemplo, os sindicatos.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 38

2. Art. 120, CTN: Desmembramento Territorial

- A pessoa política desmembrada sub-roga-se nos direitos da pessoa da qual

desmembrou-se, adotando a legislação tributária desta até instituir a sua própria.

Art. 120, CTN: “Salvo disposição de lei em contrário, a pessoa jurídica de direito

público, que se constituir pelo desmembramento territorial de outra, subroga-se

nos direitos desta, cuja legislação tributária aplicará até que entre em vigor a

sua própria.”

- Em caso de desmembramento, prevalece o raciocínio lógico – não tem o que discutir:

enquanto não forma o seu próprio corpo legislativo, o novo ente tributante (Município

ou Estado) adota in totum a legislação do ente do qual se desmembrou.

- Qual o princípio constitucional que está em jogo? O princípio da segurança jurídica. O

contribuinte não pode ser atingido por uma lei nova em começo de exercício porque o

município se emancipou.

- E em caso de fusão de pessoas jurídicas de direito público? Exige um trabalho

gradativo de harmonização das legislações. Por exemplo, o Estado da Guanabara e o

Estado do Rio de Janeiro, que se uniram em 1975.

Capítulo IV – Sujeito Passivo da Obrigação Tributária

Seção I – Disposições Gerais

1. Art. 121, CTN: Sujeito Passivo da Obrigação Principal

Art. 121, CTN: “Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao

pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito

passivo da obrigação principal diz-se: I - contribuinte, quando tenha relação

pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II -

responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação

decorra de disposição expressa de lei.”

- O artigo de 121 repete a expressão “tributo” ou “penalidade pecuniária”. Multa não é

tributo. Uma parcela da doutrina procura pacificar essa mistura aparentemente

incompatível dizendo que o código estabelece critérios para fins de cobrança. Ou seja,

tributo não é multa, mas a obrigação principal para fins de processo de execução tem

por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 39

- O art. 121 faz referência a sujeito passivo. O artigo não diz que sujeito passivo é

contribuinte, mas a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade

pecuniária. Isso porque nos §§ 1º e 2º ele vai desdobrar a ideia do sujeito passivo em

duas pessoas: o contribuinte e o responsável.

O CONTRIBUINTE é aquele que está numa relação pessoal e direta com a

situação que constitua o respectivo fato gerador.

O RESPONSÁVEL é aquele que possui obrigação decorrente de lei.

- Não se pode confundir essa classificação de contribuinte e responsável com a

classificação de contribuinte de direito e contribuinte de fato. Dizem os autores que o

contribuinte de direito é aquele que pratica os atos previstos em lei como condição

necessária e suficiente ao nascimento da obrigação tributária.

Exemplo: no caso do ICMS, o contribuinte de direito é o comerciante, mas o

contribuinte de fato é o consumidor, é quem paga efetivamente – porque a legislação

permite que o comerciante transfira o encargo ao consumidor, que é o contribuinte de

fato.

- O contribuinte de direito é redundância; contribuinte é de direito. E aí dizem que o

consumidor é o contribuinte de fato porque ele que arca com a carga tributária. Mas

isso é uma contradição porque ou ele é contribuinte ou ele é consumidor – não existe

contribuinte de fato numa perspectiva jurídica. Mas o próprio supremo, quando da

edição da súmula 546, se confundiu:

Súmula 546 do STF: “Cabe a restituição do tributo pago indevidamente, quando

reconhecido por decisão, que o contribuinte "de jure" não recuperou do

contribuinte "de facto" o "quantum" respectivo.”

- Contribuinte de fato é quem paga o tributo – não tem relação nenhuma com a

Fazenda Pública. Essa classificação, portanto, comete um equivoco na medida em que

confunde a categoria contribuinte com o consumidor, mas ela existe e é adotada

inclusive na súmula do supremo.

- Contribuinte, na expressão do art. 121, § único, é a pessoa que pratica os atos

descritos na lei como condição necessária e suficiente para o nascimento da obrigação

tributária. No caso do ICMS o contribuinte é o comerciante; no caso do ITBI, o

contribuinte fica a critério da lei municipal definir (o código não coloca expressamente

que será o vendedor).

- Em se tratando do “responsável”, em algumas situações a lei afasta o contribuinte da

relação jurídica tributária e indica um RESPONSÁVEL, que vai ser a pessoa que vai

assumir todos os encargos legais que corresponderiam ao contribuinte. O responsável

é denominado sujeito passivo indireto; é uma espécie de contribuinte indicado por lei

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 40

e sua responsabilidade surge sempre que, por alguma razão, em algumas situações

não há como, ou é mais cômodo cobrar de outra pessoa que não o contribuinte.

Exemplo: a Volkswagen do Brasil faz uma operação de remessa de lucros à matriz, na

Alemanha. Quem é o sujeito passivo da obrigação de recolher o Imposto de Renda no

Brasil? Contribuinte é quem recebe renda – então é a matriz. Quem remete está

fazendo com que alguém fora ganhe dinheiro e o imposto incide sobre o lucro, sobre a

aquisição de renda. A filial brasileira já recolheu o imposto sobre seu lucro. O que ela

está fazendo é remetendo o seu lucro à matriz da Alemanha, país que também tributa

o lucro. Mas a lei brasileira não alcança esse contribuinte. Então por absoluta

impossibilidade jurídica de atingir o contribuinte, a legislação brasileira determina um

responsável, que vai ser a filial. Deve-se prestar atenção para não incidir duplamente o

imposto.

- Há situações em que o problema não é de impossibilidade, mas de comodidade.

2. Art. 122, CTN: O Sujeito Passivo da Obrigação Acessória

Art. 122, CTN: “Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às

prestações que constituam o seu objeto.”

- É a pessoa obrigada ao cumprimento das obrigações de fazer, aos encargos

administrativos.

- O sujeito passivo da obrigação acessória no caso do ICMS é o próprio comerciante

(também sujeito passivo da obrigação principal).

Art. 123, CTN: “Salvo disposições de lei em contrário, as convenções

particulares, relativas à responsabilidade pelo pagamento de tributos, não

podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do

sujeito passivo das obrigações tributárias correspondentes.”

- Convenções, contratos feitos entre particulares não podem ser opostos à Fazenda

Pública para eximir da obrigação tributária o contribuinte.

Exemplo: contrato de locação de bem imóvel. O inquilino recebe o carnê de IPTU –

cujo pagamento é de sua responsabilidade. Depois, o proprietário retoma o imóvel e é

notificado a recolher o IPTU atrasado. Ele vai se defender mostrando o contrato de

locação – que atribui a responsabilidade pelo recolhimento ao locatário.

- Outro exemplo é a imobiliária que assina um contrato com o proprietário eximindo-o

de qualquer responsabilidade sobre o assunto e a imobiliária acerta com o inquilino

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 41

que recolherá o IPTU. A Fazenda Pública vai demandar o proprietário, que vai entrar

com ação regressiva contra a imobiliária.

- Existe uma decisão do TJSC num processo de execução da Fazenda Pública contra o

proprietário, em que se entendeu que a responsabilidade é do proprietário e não da

imobiliária.

3. A Sujeição Passiva Indireta: Crítica de Paulo Bastos de Carvalho

- Paulo Bastos faz crítica a essa doutrina que classifica o tema como sujeição passiva

indireta – porque o contribuinte é afastado e se escolhe outra pessoa para recolher o

tributo, recebendo os encargos como se contribuinte fosse.

- Paulo Bastos diz que o responsável na realidade é um novo contribuinte; então não é

indireto porque a lei diz expressamente quem é responsabilizado pelo recolhimento do

tributo.

O empregador é obrigado a fazer o recolhimento do IRRF e o empregado não

tem obrigação nenhuma; o máximo que vai poder fazer é um cálculo para

conferir se recolheu realmente o que era devido.

- Então, para o autor, eis um exemplo típico de situação em que a lei afastou o

contribuinte original e determinou outro porque a empresa é obrigada a cumprir todos

os encargos legais como se contribuinte fosse.

- Apesar da crítica, como a maioria quase absoluta dos autores trabalha com essa

classificação de sujeito passivo indireta, adota-se a classificação.

Sujeição Passiva Indireta

I – Substituição

- A substituição é a sujeição passiva determinada antes da ocorrência do fato gerador.

De certa forma a doutrina localiza a substituição no art. 128, CTN.

Art. 128, CTN: “Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de

modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa,

vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a

responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do

cumprimento total ou parcial da referida obrigação.”

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 42

- Remessa de lucros para o exterior é caso de substituição.

- O único caso expresso previsto no CTN de substituição é o do art. 45, § único, que

trata do Imposto de Renda.

Art. 45, CNT: “Contribuinte do imposto é o titular da disponibilidade a que se

refere o artigo 43, sem prejuízo de atribuir a lei essa condição ao possuidor, a

qualquer título, dos bens produtores de renda ou dos proventos tributáveis.

Parágrafo único. A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos

proventos tributáveis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção e

recolhimento lhe caibam.”

- Isso não significa que a substituição seja pouco utilizada no direito brasileiro.

- Quando aplica o regime de substituição, de acordo com o princípio da não

cumulatividade, o imposto é recolhido com base na diferença entre o imposto das

compras e o imposto das vendas. Com a substituição não existem créditos nas vendas.

- A substituição pode ser pra frente – e aí é regulada na Constituição, em seu art. 150,

§ 7º.

Art. 150, § 7º, CF: “A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária

a condição de responsável pelo pagamento de imposto ou contribuição, cujo

fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e

preferencial restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador

presumido. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)”

- Não existe no Brasil a restituição imediata.

- Aqui há a discussão doutrinaria acerca do ‘fato gerador presumido’. Ives Gandra

critica a redação dizendo que não existe fato gerador presumido – ou ele acontece ou

não acontece (não há uma presunção).

- A terceira questão diz respeito a quando ele ocorre. A posição do judiciário brasileiro

até 2009 é que se o fato gerador ocorresse a menor, ele não teria ocorrido.

Ementa: “MS – Substituição tributária. (...) O entendimento deve estender-se às

hipóteses em que o fato gerador ocorreu a menor do que o valor previsto, valor

este que serviu de base de cálculo para o recolhimento antecipado da exação,

sob pena de o substituído arcar com o pagamento de tributo indevido. Recurso

conhecido e provido...” (STJ, 2ª Turma, MS 10425/GO, Rel.Franciulli Neto, dec.:

05/09/2000)

- Hoje, a posição é a seguinte:

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 43

EMENTA: Agravo regimental em recurso extraordinário. 2. ICMS. Substituição

tributária. Venda de automóvel por preço inferior ao estipulado pela fábrica.

Restituição. Art. 150, § 7o, da Constituição Federal. 3. Restituição que se

restringe apenas à hipótese de não ocorrer o fato gerador presumido, não

havendo que se falar em tributo pago a maior ou a menor por parte do

contribuinte substituído. Precedentes 4. Agravo regimental a que se nega

provimento (RE-AgR 397677 / RJ; Relator: Min. GILMAR MENDES -

Julgamento: 29/11/2005)

- A substituição tributária já é aplicada há muito tempo no Brasil. Antes ainda da

reforma tributária de 1966, já se aplicava, mas de forma pontual.

- Esse § 7º do art. 150 foi colocado para resolver um problema especifico da indústria

automobilística. A indústria montadora é obriga a recolher o ICMS que a

concessionária deveria recolher quando vende o veículo para o consumidor final.

Quando compramos um carro, por exemplo, o imposto já foi recolhido – é a chamada

substituição pra frente.

- Outro julgado: AI 743212 AgR/SP

PROCESSUAL CIVIL. INTERPRETAÇÃO DE LEI LOCAL. FUNDAMENTO SUFICIENTE

NÃO ATACADO. DESCARACTERIZAÇÃO. TRIBUTÁRIO. ICMS. SUBSTITUIÇÃO

TRIBUTÁRIA. DIFERENÇA ENTRE A BASE DE CÁLCULO PRESUMIDA (SUBSTITUTA)

E A BASE CALCULADA (SUBSTITUÍDA). REGIME DE COMPENSAÇÃO. PRÉVIA

AUTORIZAÇÃO DA AUTORIDADE FISCAL. AGRAVO REGIMENTAL. As orientações

firmadas nas Súmulas 280 e 283/STF são inaplicáveis ao caso em exame, na

medida em que a questão central decidida pelo Tribunal de Justiça do Estado de

São Paulo refere-se ao direito de preferencial e imediata restituição do ICMS

recolhido no regime de substituição tributária, bastando a constatação da

diferença entre a base de cálculo presumida e a base de cálculo efetiva. A

matéria relativa ao regime de compensação é ancilar, dependente da resolução

da questão principal. Correta a aplicação do art. 543-B do CPC. Agravo

regimental ao qual se nega provimento.

II – Transferência

- Nos casos de transferência, o responsável aparece se o tributo não for recolhido pelo

contribuinte – ou seja, depois de ocorrido o fato gerador e nascida a obrigação

tributária, por alguma razão de interesse do legislador ou do estado, o contribuinte é

afastado e é indicado um responsável.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 44

Exemplo: o caso de sucessão; o sujeito morreu e deixou o tributo em aberto. Ele é o

contribuinte; alguém vai responder. Num primeiro momento, o espólio, depois o

inventariante e, por fim, o herdeiro na medida de seu quinhão.

- Às vezes há o recolhimento de imposto tendo em vista o fato gerador futuro, o carro

que ainda seria vendido. Antes havia divisão, como fazer a devida substituição

tributária. Na situação de uma promoção, por exemplo, o carro é vendido com uma

base de cálculo menor. Quem recebe de volta? Pode o comerciante pedir algo de

volta?

- Na questão de perda total do veículo, devolve-se o veículo, mas nos casos de

diferença de impostos já havia dúvida.

- Quando a base de cálculo é menor, o conceito de fato gerador presumido, na

verdade, não ocorreu. Porém, é possível que esta orientação esteja mudando.

- Há grande divergência. Para muitos, pode ocorrer a suplementação do tributo

quando a base de cálculo foi inferior ao real, em especial nos tribunais superiores.

Porém, para outros, se o Estado não devolve quando a base de cálculo é superior, não

pode cobrar se a base é menor.

- A transferência, sujeição passiva indireta, inclui três situações: a) solidariedade; b)

sucessão; e c) responsabilidade.

II.1 – Solidariedade (art. 124, CTN)

Art. 124, CTN: “São solidariamente obrigadas: I - as pessoas que tenham

interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação

principal; II - as pessoas expressamente designadas por lei. Parágrafo único. A

solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem.”

Inciso I: por exemplo, três irmãos proprietários do mesmo imóvel e que devem pagar

IPTU. Eles são solidariamente coobrigados a pagar o IPTU.

Inciso II: a solidariedade de direito: proprietário do imóvel e o construtor da obra, os

dois codevedores do ISS, situação comumente aplicada nas leis municipais.

Exemplo: casamento – duas pessoas que assumem, por contrato, responsabilidade

solidária.

A transferência é aquela modalidade de sujeição passiva indireta em que o

responsável é indicado após a ocorrência do fato gerador (se o tributo não for

recolhido, quem vai se responsabilizar pelo adimplemento).

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 45

§ único: não importa o grau de participação na responsabilidade contratual envolvida,

qualquer um pode ser chamado. A solidariedade não comporta o benefício de ordem,

salvo raras exceções.

1. Efeitos da Solidariedade (art. 125, CTN)

Art. 125, CTN: “Salvo disposição de lei em contrário, são os seguintes os efeitos

da solidariedade: I - o pagamento efetuado por um dos obrigados aproveita aos

demais; II - a isenção ou remissão de crédito exonera todos os obrigados, salvo

se outorgada pessoalmente a um deles, subsistindo, nesse caso, a solidariedade

quanto aos demais pelo saldo; III - a interrupção da prescrição, em favor ou

contra um dos obrigados, favorece ou prejudica aos demais.”

Inciso II: é a situação de três codevedores que tenham participação solidária num

imóvel – num arrendamento rural, por exemplo. Um deles sofreu em virtude das secas

e não consegue pagar o tributo. A princípio a concessão de perdão do crédito

aproveitaria aos demais, salvo nos casos em que for concedido como benefício

pessoal, em virtude das particularidades pessoais dele enquanto produtor.

Inciso III: essa interrupção de prescrição envolve sempre a obrigação de pagar o

tributo; se ocorre prescrição, o sujeito fica dispensado do pagamento do tributo. Se

interrompe a prescrição, ele terá que voltar a pagar o tributo – então não é ‘em favor’.

- Se há interrupção da prescrição a favor de um dos obrigados, esta favorece os demais

(crítica). Se há interrupção da prescrição contra um dos obrigados, esta prejudica os

demais.

II.2 – Sucessão (arts. 129 a 133, CTN)

- Há basicamente três formas de transferência pela sucessão: causa mortis, inter vivos

e de pessoa jurídica.

Art. 129, CTN: “O disposto nesta Seção aplica-se por igual aos créditos

tributários definitivamente constituídos ou em curso de constituição à data dos

atos nela referidos, e aos constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde

que relativos a obrigações tributárias surgidas até a referida data.”

- Estabelece a regra geral sobre sucessão.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 46

1. Sucessão Inter Vivos

Art. 130, CTN: “Os créditos tributários relativos a impostos cujo fato gerador

seja a propriedade, o domínio útil ou a posse de bens imóveis, e bem assim os

relativos a taxas pela prestação de serviços referentes a tais bens, ou a

contribuições de melhoria, subrogam-se na pessoa dos respectivos adquirentes,

salvo quando conste do título a prova de sua quitação. Parágrafo único. No

caso de arrematação em hasta pública, a sub-rogação ocorre sobre o respectivo

preço.”

- No caso de tributos, créditos relativos a impostos cujo fato gerador seja a

propriedade, domínio útil ou a posse, ou taxas relativas a tais bens ou contribuição de

melhoria, a responsabilidade recai sobre o adquirente (ou seja, o tributo será cobrado

sempre do proprietário, como regra geral).

Exemplo: se o imóvel foi vendido no dia 1º de fevereiro de 2012 e ninguém se deu

conta de que havia o IPTU referente a 2009 em aberto.

- ”salvo quando conste do título a prova de sua quitação”: aqui há as famosas

Certidões Negativas de Débito. Todo comprador de imóvel diligente, antes de fechar o

negócio, deve ir às fazendas e solicitar as CNDs, que são documentos que dão certa

garantia. Tal garantia, porém, é relativa, porque se consta na CND a prova da quitação

dos tributos, o tributo será cobrado de quem vendeu e não de quem comprou (porque

a CND prova que não havia débitos).

- A CND é uma fotografia do momento. Como regra geral, tributos que incidam sobre a

propriedade, domínio útil ou a posse que tenham créditos tributários vencidos, os

créditos sub-rogam-se na pessoa do adquirente, salvo quando conste no título prova

de sua quitação.

- Muitos entendem que vale a teoria da boa-fé do adquirente: se ele adquiriu,

conseguiu a CND e fez o negócio, não pode ser responsabilizado por eventuais créditos

vencidos descobertos posteriormente. Outros dizem que a CND é um documento

formal emitido pela Fazenda Pública que corresponde a uma fotografia do momento.

Em caso de eventuais débitos, deve ser cobrado do proprietário adquirente.

§ único: se alguém arremata um bem em leilão público e paga o preço da

arrematação, a subrogação ocorre sob o respectivo preço, ou seja, no preço está

embutido já o valor dos tributos (não há como cobrar impostos apurados

posteriormente, porque no preço mínimo para a arrematação, já estão incluídos).

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2. Sucessão Causa Mortis

Art. 131, CTN: “São pessoalmente responsáveis: I - o adquirente ou remitente,

pelos tributos relativos aos bens adquiridos ou remidos; (Vide Decreto Lei nº 28,

de 1966) II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos

devidos pelo de cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada esta

responsabilidade ao montante do quinhão do legado ou da meação; III - o

espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da

sucessão.”

Inciso II: uma vez concluído o inventário e feita a partilha, verifica-se que há tributos

abertos ou anteriores. Quem é o sujeito passivo? O sucessor a qualquer título e o

cônjuge meeiro.

Exemplo: são quatro herdeiros – a esposa viúva e três filhos. Cada um vai ser

responsável de acordo com o quinhão que recebeu.

Inciso III: até a data da abertura da sucessão, a responsabilidade é do espólio. O

espólio é o conjunto de bens deixados pelo de cujus – quem por ele responde é o

inventariante. Então a massa de bens a ser inventariados responde pelos impostos

devidos pelo de cujus até a abertura da sucessão.

- O inventariante vai ser responsabilizado em duas situações: a) pelos tributos devidos

pelo de cujus desde o falecimento até a abertura da sucessão por ser administrador do

espólio; b) pelos tributos incidentes sobre o espólio.

3. Sucessão de Pessoa Jurídica

Art. 132, CTN: “A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão,

transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos

tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado

fusionadas, transformadas ou incorporadas. Parágrafo único. O disposto neste

artigo aplica-se aos casos de extinção de pessoas jurídicas de direito privado,

quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer

sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob

firma individual.”

- Se extingue definitivamente, não há que se falar em sucessão.

Art. 133, CTN: “A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de

outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial,

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 48

industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou

outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos,

relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I -

integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou

atividade; II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na

exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova

atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. § 1o

O disposto no caput deste artigo não se aplica na hipótese de alienação judicial:

(Parágrafo incluído pela Lcp nº 118, de 2005) I – em processo de falência;

(Inciso incluído pela Lcp nº 118, de 2005) II – de filial ou unidade produtiva

isolada, em processo de recuperação judicial.(Inciso incluído pela Lcp nº 118, de

2005) § 2o Não se aplica o disposto no § 1o deste artigo quando o adquirente

for: (Parágrafo incluído pela Lcp nº 118, de 2005) I – sócio da sociedade falida

ou em recuperação judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em

recuperação judicial;(Inciso incluído pela Lcp nº 118, de 2005) II – parente, em

linha reta ou colateral até o 4o (quarto) grau, consangüíneo ou afim, do

devedor falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de seus sócios; ou

(Inciso incluído pela Lcp nº 118, de 2005) III – identificado como agente do

falido ou do devedor em recuperação judicial com o objetivo de fraudar a

sucessão tributária.(Inciso incluído pela Lcp nº 118, de 2005) § 3o Em processo

da falência, o produto da alienação judicial de empresa, filial ou unidade

produtiva isolada permanecerá em conta de depósito à disposição do juízo de

falência pelo prazo de 1 (um) ano, contado da data de alienação, somente

podendo ser utilizado para o pagamento de créditos extraconcursais ou de

créditos que preferem ao tributário. (Parágrafo incluído pela Lcp nº 118, de

2005)”

Inciso II: o comprador responde de forma subsidiária, o que significa que a

responsabilidade principal é do alienante. Se for difícil cobrar do alienante ou ele não

tiver como pagar tudo, o comprador tem responsabilidade subsidiária de completar o

saldo.

- A responsabilidade subsidiária pressupõe que se cobre primeiro de um – ou

integralmente ou parcialmente. Se não der para cobrar integralmente do alienante,

demanda-se o comprador.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 49

II.3 – Responsabilidade

1. Responsabilidade de Terceiros – Crítica ao art.134, CTN

Art. 134, CTN: “Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da

obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos

atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: I - os

pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores; II - os tutores e curadores,

pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; III - os

administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; IV - o

inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; V - o síndico e o comissário,

pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário; VI - os

tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos

sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício; VII -

os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. Parágrafo único. O

disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de caráter

moratório.”

Inciso I: porque filho menor não tem capacidade civil – a Fazenda Pública não pode

persegui-lo diretamente. Mas se é impossível exigir o cumprimento da obrigação

principal diretamente do menor, como falar em responsabilidade solidária? Pela

redação do inciso, poder-se-ia entender que a Fazenda poderia cobrar de um ou de

outro.

- A maioria da doutrina entende que seja responsabilidade subsidiária. É uma

responsabilidade direta nos atos em que intervenham nos negócios dos filhos; e

subsidiária nos casos de omissões de que forem responsáveis – o pai é administrador

do bem do filho menor e não paga o tributo. Neste último caso, a Fazenda vai executar

o pai duplamente: como representante legal e por omissão nos atos de administração

do bem (aqui o filho, mesmo sendo menor, acaba perdendo o bem, eventualmente,

para cobrir o débito gerado a partir da omissão do pai).

Inciso III: aqui fica claro que não se trata de uma responsabilidade solidária e sim uma

solidariedade de fato porque, ao contrário do tutor, do curador, do pai, o

administrador de bem de terceiro é mero administrador. Esse terceiro não tem

impedimento legal para administrar o bem.

Inciso IV: o inventariante responde duplamente pelos tributos gerados pelo espólio e

pelos tributos não pagos pelo espólio.

Inciso V: com a nova lei de falências, a concordata foi revogada e foi criada a

recuperação judicial. O código coloca em mesmo pé de igualdade o síndico e o

comissário; mas o síndico responde como a massa falida (massa de bens que não tem

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 50

personalidade jurídica – é o mesmo caso do inventariante com o espólio); já o

comissário com relação à empresa concordatária é diferente: o administrador

responde pelos tributos devidos pela empresa no processo de recuperação judicial,

mas o administrador da empresa continua à frente do negócio. A empresa está com

muitas dívidas, não está conseguindo honrar seus compromissos, mas continua suas

atividades, num plano de recuperação.

Inciso VI: o que pode ocorrer, eventualmente, é um recolhimento de imposto a menor

– então a diferença será recolhida do tabelião.

- Alguns autores criticam a expressão ‘responsabilidade de terceiros’ sob o argumento

de que a responsabilidade sempre cai sobre um terceiro.

2. Responsabilidade por Infrações

a) Art. 135, CTN: Atos Praticados com Excesso/ Infrações

Art.135, CTN: “São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a

obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes

ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo

anterior; II - os mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores,

gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado.”

- O artigo está colocado na mesma seção que o art. 134 que trata da responsabilidade

de terceiros. O art. 135 na verdade trata de uma penalização do contribuinte por atos

praticados; porém ele responsabiliza pessoalmente a pessoa que pratica os atos com

excesso de poderes, ou infração de lei, contrato social, ou estatutos.

- Luciano Amaro diz que se o ato é praticado com excesso de poderes, dificilmente ele

não será considerado como uma infração à lei, ao contrato social ou ao estatuto.

OBS: o artigo trata de responsabilidade pessoal tributária.

b) Desconsideração da personalidade jurídica: Crimes contra a ordem

tributária ou simples inadimplência?

- Uma questão importante concerne ao seguinte: até que ponto o ato praticado com

excesso de poderes ou praticando uma infração à lei, contrato social ou estatuto, pode

ser caracterizado como crime contra a ordem tributária, ou simplesmente a infração

consiste numa decisão de não pagar o tributo para salvar a empresa? O tributo é

devido pela empresa – pessoa jurídica que pratica os atos que constituem fatos

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 51

geradores de obrigações tributárias. Se o sócio gerente não recolhe o tributo no prazo

estabelecido em lei, a Fazenda Pública pode desconsiderar a personalidade jurídica da

empresa e cobrar o crédito diretamente de quem praticou o ato?

- A jurisprudência dos nossos tribunais vem entendendo que nem sempre o ato

praticado pelo sócio, pelo mandatário, pelo preposto da empresa, caracteriza crime

contar a ordem tributária e só se houvesse tal crime seria possível desconsiderar a

personalidade jurídica da empresa.

Exemplo: a empresa não recolhe o ICMS de dezembro para conseguir pagar o 13º dos

seus empregados. Numa situação como essa, os tribunais têm entendido que não se

trata de crime contra a ordem tributária e sim simples inadimplência escusável – não

há dolo do representante da empresa.

- Então essa responsabilidade pessoal significa, a princípio, que a Fazenda Pública pode

desconsiderar a personalidade jurídica da empresa por ato praticado por um de seus

prepostos, mandatários, etc.

c) Art. 136, CTN: Responsabilidade independente da intenção

Art. 136, CTN: “Salvo disposição de lei em contrário, a responsabilidade por

infrações da legislação tributária independe da intenção do agente ou do

responsável e da efetividade, natureza e extensão dos efeitos do ato.”

- A responsabilidade por infrações tributárias independe da intenção do agente.

- Hugo Machado diz que a responsabilidade é subjetiva – não há que se perquirir se há

dolo. Estamos tratando de infração: então a questão é saber se existia uma intenção

de praticar o ato ou não. Mas o artigo diz que a responsabilidade é objetiva.

d) Art. 137, CTN: Responsabilidade do agente em nome de outrem

Art. 137, CTN: “A responsabilidade é pessoal ao agente: I - quanto às infrações

conceituadas por lei como crimes ou contravenções, salvo quando praticadas no

exercício regular de administração, mandato, função, cargo ou emprego, ou no

cumprimento de ordem expressa emitida por quem de direito; II - quanto às

infrações em cuja definição o dolo específico do agente seja elementar; III -

quanto às infrações que decorram direta e exclusivamente de dolo específico: a)

das pessoas referidas no artigo 134, contra aquelas por quem respondem; b)

dos mandatários, prepostos ou empregados, contra seus mandantes,

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 52

preponentes ou empregadores; c) dos diretores, gerentes ou representantes de

pessoas jurídicas de direito privado, contra estas.”

- Responsabilidade do agente, agindo em nome de outrem.

e) Art. 138, CTN: Denúncia Espontânea – Princípio Universal

Art. 138, CTN: “A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da

infração, acompanhada, se for o caso, do pagamento do tributo devido e dos

juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada pela autoridade

administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração. Parágrafo

único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de

qualquer procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados

com a infração.”

Exemplo: a empresa não recolheu três meses de ICMS. Faz uma reserva, paga seus

funcionários, 13º, paga seus fornecedores, mas gerou uma dívida fiscal – cometeu uma

infração contra a ordem tributária, porque não havia intenção dolosa de fraudar o

fisco. No dia 10 de janeiro ele vai ao banco, quita o mês de janeiro, vai à Fazenda

Estadual e informa o agente fiscal que está em débito quanto aos três meses

anteriores e quer fazer um acerto para liquidar a dívida.

- O artigo 138 fixa o princípio da denúncia espontânea, ou autodenúncia. Nesta

situação o contribuinte não pode ser responsabilizado, porque a denúncia espontânea

possui os seguintes pressupostos de admissibilidade:

i. a tempestividade (ele não pode querer se autodenunciar depois de ser

procurado pelo fisco);

ii. a especificidade do procedimento;

iii. e tem que comprovar, se for o caso, o pagamento do tributo, dos juros de mora

ou o depósito de importância arbitrada, quando o montante depender de

apuração.

Exemplo: o sócio gerente da empresa fez tudo direitinho para pagar o tributo,

calculou, preencheu a guia de recolhimento, preencheu o cheque e mandou o

contador para o banco no último dia do vencimento. O cara foi atropelado na frente

O artigo 138, CTN, é uma norma indutora de conduta (facultas agendi), que coloca à

disposição dos destinatários um prêmio, qual seja o direito à exclusão da

responsabilidade pela infração cometida, quando o autor do fato delituoso optar pelo

saneamento voluntário da falta (DENÚNCIA ESPONTÂNEA).

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 53

do banco. No dia seguinte um agente fiscal autua a empresa; o cidadão foi para o

judiciário e disse que não podia ser responsabilizado porque havia a intenção de pagar;

só não pagou em função do acidente que aconteceu. Caberia, quando muito, uma

denúncia espontânea pelo atraso no pagamento.

- Então, para que haja um início de procedimento no processo de fiscalização, é

preciso que o contribuinte tome conhecimento do início do processo, ou seja, é

preciso que haja um termo de abertura do processo de fiscalização.

- A denúncia espontânea pressupõe o desconhecimento completo da instituição

fazendária acerca da situação do contribuinte. O contribuinte não pode ser alvo de um

processo de fiscalização para depois proceder à denúncia espontânea. O indivíduo se

antecipa à Fazenda Pública para quitar a dívida, ou seja, a denúncia espontânea tem o

pressuposto do desconhecimento da Fazenda Pública em relação à infração.

- “pagamento do tributo devido e dos juros de mora”: até um tempo atrás o

contribuinte estava em débito com a Fazenda Pública e não era fiscalizado. Resolvia-se

colocar em dia; ia até a fazenda e promovia o parcelamento: pagava o principal, com

juros.

- Por que “acompanhada, se for o caso”? Porque, por vezes, a denúncia espontânea diz

respeito a uma obrigação acessória, a um dever instrumental.

- Até um tempo atrás, a jurisprudência entendia que estaria incluído na expressão do

código o parcelamento também. O sujeito se autodenunciou, parcelou o débito, pagou

a primeira parcela. Hoje, a Receita Federal passou a entender que no parcelamento ele

não está pagando o tributo devido – ele está parcelando, então pode ser aplicada

penalidade, descaracterizando denúncia espontânea.

Logo, a denúncia espontânea hoje pressupõe o pagamento integral do crédito

em atraso. Se for parcelamento, ele pode ser penalizado.

- Pode acontecer, por exemplo, um atraso no pagamento em razão de uma catástrofe

na empresa, pegou fogo no prédio/ houve uma enchente que levou todos os

documentos contábeis. Quando se trata de uma apuração por arbitramento, nunca é

exato; a autoridade fiscal vai se basear nos meses anteriores para fazer o cálculo do

crédito tributário.

- Em 1995 acrescentaram o art. 34 que nada tinha a ver com a ementa da lei,

estabelecendo a extinção da punibilidade dos crimes contra a ordem tributária se o

agente pagasse o tributo antes do recebimento da denúncia.

A Lei 9.249/95 e a Lei 10.684/03

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 54

Art. 34 da Lei 9.249/95: “Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei

nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965,

quando o agente promover o pagamento do tributo ou contribuição social,

inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.”

- Isso significa que o agente está sendo investigado pela polícia federal como

sonegador, é crime contra a ordem tributária, o MP entra na parada, monta todo o

processo, apura, comprova preliminarmente que houve crime, e de repente o sujeito

paga a primeira parcela e extingue.

- Em 2003 o art. 9º da Lei nº 10.684 estabeleceu:

Art. 9º, Lei 10.684: “É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos

crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e

nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –

Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o

agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento. § 1o A

prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão

punitiva. § 2o Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo

quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento

integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive

acessórios.”

- A denúncia espontânea pressupõe a boa fé do contribuinte em atraso.

- De qualquer forma, essas regras ainda são consideradas uma violência contra o bom

pagador, porque quem paga em dia não recebe um tratamento privilegiado como

esse.

Seção III – Capacidade Tributária Passiva

1. Art. 126, CTN (art. 3º e 4º CC)

- Sendo o sujeito passivo da obrigação uma pessoa natural, ou física, sua capacidade

tributária independe da civil; mesmo sendo juridicamente incapaz, nos termos do

Direito Civil, face ao Direito Tributário tem ele plena capacidade tributária.

Art. 126, CTN: “A capacidade tributária passiva independe: I - da capacidade

civil das pessoas naturais; II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas

que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais

ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios; III - de

estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma

unidade econômica ou profissional.”

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 55

Art. 3º, CC: “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da

vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou

deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática

desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir

sua vontade.”

Art. 4º, CC: “São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os

exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios

habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o

discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental

completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será

regulada por legislação especial.”

- Isso se coaduna com aquela ideia de que a obrigação tributária alcança a todos. Basta

que alguém pratique o fato descrito na lei que nascerá a obrigação tributária. Alguém

vai responder: ou o contribuinte ou o responsável.

Seção IV – O Domicílio Tributário

- A regra geral é a liberdade de escolha: o contribuinte que elege o seu domicílio.

Art. 127, CTN: “Na falta de eleição, pelo contribuinte ou responsável, de

domicílio tributário, na forma da legislação aplicável, considera-se como tal: I -

quanto às pessoas naturais, a sua residência habitual, ou, sendo esta incerta ou

desconhecida, o centro habitual de sua atividade; II - quanto às pessoas

jurídicas de direito privado ou às firmas individuais, o lugar da sua sede, ou, em

relação aos atos ou fatos que derem origem à obrigação, o de cada

estabelecimento; III - quanto às pessoas jurídicas de direito público, qualquer de

suas repartições no território da entidade tributante. § 1º Quando não couber a

aplicação das regras fixadas em qualquer dos incisos deste artigo, considerar-

se-á como domicílio tributário do contribuinte ou responsável o lugar da

situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à

obrigação. § 2º A autoridade administrativa pode recusar o domicílio eleito,

quando impossibilite ou dificulte a arrecadação ou a fiscalização do tributo,

aplicando-se então a regra do parágrafo anterior.”

- Alguns tributos possuem legislação específica que exclui ou restringe a faculdade de

escolha, pelo sujeito passivo, de seu domicílio tributário. É o caso do imposto de renda

de um grupo empresarial – o domicílio vai sempre onde se situa o estabelecimento.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 56

- Nos demais, vigora a liberdade de escolha, que não pode ser usada para impedir ou

dificultar a arrecadação ou fiscalização do tributo, pois neste caso o Fisco poderá

recusar o domicílio escolhido;

- Ocorrendo a recusa, o domicílio tributário será o do lugar da situação dos bens ou da

ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à obrigação.

- Então se ele não determinar, a Fazenda Pública vai determinar que seja a residência

habitual; ou ainda, o centro habitual de sua atividade. Isso acontece principalmente na

questão sobre imposto de serviços municipal.

- Pessoas jurídicas de direito público também são contribuintes. São imunes? Sim, diz a

CF que são imunes quanto a impostos. O município não pode cobrar IPTU da UFSC que

é uma entidade autárquica fundacional e é imune, de acordo com o art. 150, § 2º, CF.

Art. 150, § 2º, CF: “Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao

contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos

Municípios: [...] VI - instituir impostos sobre: a) patrimônio, renda ou serviços,

uns dos outros; [...] § 7º. A vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e

às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao

patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas finalidades essenciais ou

às delas decorrentes.”

- Mas a UFSC paga taxa de coleta de lixo? E se houver uma contribuição de melhoria

porque o município ampliou as ruas que circundam a UFSC? A UFSC, enquanto

autarquia, não é imune a todos os demais tributos – só aos impostos. A constituição se

refere a impostos. Logo, o domicílio da universidade é o Campus Universitário da

Trindade.

- As regras dos § 1º e 2º são importantes.

§ 1º: é o exemplo do argentino que vem aqui, compra um apartamento em

Canasvieiras, é proprietário, e, como tal, contribuinte do IPTU. Ele que escolhe:

determina que o domicílio dele é na Argentina. O município diz que vai ser o local de

situação dos bens. Os critérios do inciso I não podem ser aplicados; nem do inciso II.

Então aplica o disposto nesse § 1º: o domicílio será o endereço do apartamento que

comprou ou, no limite, o endereço do procurador dele em Florianópolis.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 57

TÍTULO III – CRÉDITO TRIBUTÁRIO

Capítulo I – Disposições Gerais

1. Art. 139, CTN: Natureza Jurídica do Crédito Tributário

Art. 139, CTN: “O crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a

mesma natureza desta.”

- Isso sempre gerou uma discussão enorme na doutrina tributária brasileira quanto à

natureza jurídica do crédito tributário. Ocorrendo o fato gerador, nasce

automaticamente a obrigação tributária.

- Diz o código que o crédito decorre da obrigação e tem a mesma natureza desta. Visto

dessa forma, poder-se-ia concluir que o crédito tributário pode ser cobrado desde que

ocorra o fato gerador e nasça a obrigação tributária. Então o crédito tem uma natureza

constitutiva ou declaratória da obrigação? Eis a grande discussão que existe na

doutrina brasileira.

2. O Lançamento Tributário: Ato Declaratório ou Constitutivo do Crédito?

- Depois da interferência do Alberto Xavier, a conclusão que se chega é que o

lançamento teria uma natureza constitutiva do crédito e declaratória da obrigação.

- Então isso significa que o que decorre da obrigação é o direito do estado ao crédito,

eis que esse só existirá com o lançamento tributário. O lançamento constitui o crédito

e tem natureza declaratória da obrigação.

- Sempre se discutiu isso em função da redação do art. 139, CTN. Embora ainda haja

quem discuta esse assunto e divirja da doutrina majoritária, entende-se no geral que o

lançamento tem natureza constitutiva do crédito, mesmo no chamado lançamento de

homologação, que consiste numa técnica de recolhimento do tributo em que não há

ato administrativo de lançamento, porque o contribuinte que declara. A doutrina diz

que o lançamento por homologação não deixa de se aproximar ao lançamento porque

a atitude do contribuinte formaliza o crédito, apesar de não ser ato administrativo, o

que leva à natureza constitutiva.

- No confronto do art. 139 com o art. 142, logo depois que o código foi editado, em

1966, quando começaram a surgir os tributaristas no Brasil, deparou-se com o

aparente conflito entre tais artigos porque o 139 diz que o crédito decorre da

obrigação e tem a mesma natureza desta; e o 142, quando vai definir o que é

lançamento tributário, diz:

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 58

Art. 142, CTN: “Compete privativamente à autoridade administrativa constituir

o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento

administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação

correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do

tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da

penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento

é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.”

- Aí ficou a dúvida: afinal, o crédito decorre da obrigação (já existe antes do

lançamento) ou o lançamento que vai constituir o crédito tributário? Durante muitos

anos houve debate intenso na doutrina brasileira sobre essas questões. Embora haja

ainda quem queira divergir, a opinião dominante hoje é que é ato constitutivo do

crédito tributário. Portanto, o que decorre da obrigação é o direito do estado, da

Fazenda Pública, de exigir esse crédito.

Fato gerador Obrigação Tributária Direito ao Crédito

3. Crédito e Obrigação: arts. 140 e 141, CTN

Art. 140, CTN: “As circunstâncias que modificam o crédito tributário, sua

extensão ou seus efeitos, ou as garantias ou os privilégios a ele atribuídos, ou

que excluem sua exigibilidade não afetam a obrigação tributária que lhe deu

origem.”

Exemplo: comerciante que é contribuinte do ICMS e tem que realizar registros das

operações que a empresa realiza. Nasce a obrigação tributária; tem que recolher o

tributo até o dia 10 do mês seguinte – então o fato gerador ocorre no máximo até o

dia 30 do mês. O prazo de 10 dias para fazer isso é resquício dos tempos em que não

havia computador.

- Digamos que ele recolha o imposto no dia 10, formalizou o crédito tributário. Pagou,

mas o art. 140 diz que as circunstâncias que modificam o crédito não afetam a

obrigação tributária que lhe deu origem. Isso significa que se dali a dois meses o fiscal

passa na empresa e vê que foi recolhido valor diverso, vai se basear na obrigação

tributária e não no crédito apurado – porque foi formalizado pelo recolhimento feito

pelo contribuinte e independe da obrigação (ele não afeta a obrigação).

- Crédito e obrigação não se confundem!

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 59

Art. 141, CTN: “O crédito tributário regularmente constituído somente se

modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos

previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob pena de

responsabilidade funcional na forma da lei, a sua efetivação ou as respectivas

garantias.”

- O CTN estabelece como se extingue, como se suspende ou como se exclui o crédito

tributário. Nenhuma autoridade fiscal, nenhum juiz, nenhum administrador, nenhuma

autoridade fiscal, pode criar uma nova forma de extinção, exclusão ou suspensão do

crédito tributário. As formas de extinção estão no art. 156, CTN.

- Os contribuintes defendiam que era uma novação o parcelamento. A receita entendia

como uma moratória. Mas sempre se interpretou que os dispositivos que tratam da

suspensão, extinção, e exclusão eram rols taxativos.

- Mas a tese dos contribuintes de que era novação – e por isso não podia ser aplicada a

penalidade por ser crédito novo – não coincidia com a interpretação dominante de que

o art. 156 era rol taxativo. Mas o parcelamento é previsto na regra sobre moratória no

art. 153, CTN. Daí a discussão.

- Quando foi editada a LC 104, confirmou-se que essas relações/ modalidades de

extinção e suspensão são taxativas porque acrescentaram como modalidade de

extinção a dação em pagamento em bens imóveis e não colocaram a novação,

acrescentando o parcelamento como inciso distinto no rol do art. 151. Isso acabou, de

certa forma, com a discussão.

4. Constituição do Crédito Tributário

O Lançamento Tributário – conceito do art. 142, CTN: a crítica

doutrinária

Art. 142, CTN: “Compete privativamente à autoridade administrativa constituir

o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento

administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação

correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do

tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da

penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento

é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.”

- LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO não é procedimento administrativo, mas um ato

administrativo, portanto de competência de autoridade administrativa. Quem lança o

tributo é a autoridade regularmente constituída, competente para tal. O particular não

realiza lançamento tributário.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 60

- O código deixa muito claro que o lançamento constitui o crédito tributário – e não o

declara previamente existente. Caso contrário, o crédito poderia ser cobrado

independentemente de lançamento, porque já estaria constituído.

- O código não está errado em si; o equívoco do legislador aqui é chamar o lançamento

de procedimento (porque para fazer o lançamento é necessário um procedimento).

IMPORTANTE: O que determina uma multa é o auto de infração. O que constitui o

tributo é a notificação fiscal, o lançamento tributário. Mas por medida de economia

administrativa a fazenda pública faz as duas coisas num documento só e chama de

“notificação fiscal” – quando é só multa, chama de “auto de infração”, que é a

aplicação de uma multa por descumprimento de obrigações acessórias.

- “propor a aplicação da penalidade cabível”: na literalidade isso significa que no caso

da multa, não pode aplicá-la, tem que propor a aplicação e o contribuinte concorda ou

não. Mas isso não existe.

Capítulo II – Constituição de Crédito Tributário

Seção I – Lançamento

1. Conceito

- Com relação ao conceito do lançamento, ele é ato administrativo e não

procedimento – esse conceito do código diz respeito ao procedimento necessário para

a realização do lançamento.

Art. 142, CTN: “Compete privativamente à autoridade administrativa constituir

o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento

administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação

correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do

tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da

penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento

é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional.”

- Alberto Xavier diz que lançamento é o “ato administrativo de aplicação da norma

tributária ao caso concreto”.

- Aqui tem um problema com relação ao lançamento por homologação, que é alvo de

críticas por Alberto Xavier. Lançamento por homologação é técnica de recolhimento

do tributo em que não ocorre lançamento enquanto ato administrativo – porque quem

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 61

edita um ato administrativo é a autoridade administrativa competente para exercer tal

atividade.

2. Artigos 143 a 146, CTN

Art. 143, CTN: “Salvo disposição de lei em contrário, quando o valor tributário

esteja expresso em moeda estrangeira, no lançamento far-se-á sua conversão

em moeda nacional ao câmbio do dia da ocorrência do fato gerador da

obrigação.”

- Aqui a regra vale para tributos incidentes sobre a importação. O art. 19 diz que o fato

gerador é a entrada do produto no território nacional. A redação do art. 19 precisou de

um ajuste porque, tecnicamente falando, quando um navio está entrando no mar

territorial brasileiro, está entrando em território nacional.

- Qual é o momento, o aspecto temporal da hipótese de incidência do imposto de

importação? É quando o contribuinte é chamado para promover o desembaraço

aduaneiro. Na verdade é um momento intermediário entre a chegada da mercadoria

na alfandega e o desembaraço aduaneiro.

Art. 144, CTN: “O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador

da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente

modificada ou revogada. § 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que,

posteriormente à ocorrência do fato gerador da obrigação, tenha instituído

novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os poderes

de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado ao crédito

maiores garantias ou privilégios, exceto, neste último caso, para o efeito de

atribuir responsabilidade tributária a terceiros. § 2º O disposto neste artigo não

se aplica aos impostos lançados por períodos certos de tempo, desde que a

respectiva lei fixe expressamente a data em que o fato gerador se considera

ocorrido.”

- A autoridade, quando faz o lançamento, vai se reportar à data da ocorrência do fato

gerador. Se quando ocorreu o fato a alíquota era de 25%, o sujeito não recolheu o

tributo, depois vem outra lei que o reduz para 17%, o sujeito é fiscalizado, observando

a alíquota de 25%, ele não pode reclamar e exigir a aplicação de 17%.

Se fosse mudança no percentual da penalidade pecuniária, aí então poderia

alegar.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 62

- Quando a lei tributária pode retroagir para alcançar fatos ocorridos antes do seu

período de vigência? § 1º do art. 144, CTN.

Art. 145, CTN: “O lançamento regularmente notificado ao sujeito passivo só

pode ser alterado em virtude de: I - impugnação do sujeito passivo; II - recurso

de ofício; III - iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos

previstos no artigo 149.”

- Podem acontecer duas coisas: a) lançamento regularmente notificado – o

contribuinte não dá seu aceite e impugna; b) lançamento através de recurso de ofício –

a mesma autoridade que realizou o lançamento, que é regular, verifica um erro e faz

recurso de ofício à autoridade superior recomendando a retificação do lançamento.

Inciso III: o art. 149 trata do lançamento direito, ou de ofício.

Seção II – Modalidades de Lançamento

1. Lançamento por Declaração (“Misto”) – art.147, CTN

Art. 147, CTN: “O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito

passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na forma da legislação tributária,

presta à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato,

indispensáveis à sua efetivação. § 1º A retificação da declaração por iniciativa

do próprio declarante, quando vise a reduzir ou a excluir tributo, só é admissível

mediante comprovação do erro em que se funde, e antes de notificado o

lançamento. § 2º Os erros contidos na declaração e apuráveis pelo seu exame

serão retificados de ofício pela autoridade administrativa a que competir a

revisão daquela.”

- O sujeito passivo é chamado para prestar informações sobre matéria de fato. A

autoridade as registra e elabora o lançamento – faz o lançamento tributário,

denominado “por declaração”, porque é elaborado com base nas informações

prestadas pelo contribuinte.

- É chamado por muitos de lançamento misto – nomenclatura com a qual o professor

não concorda porque leva ao entendimento equivocado de que é um lançamento feito

pelos dois. Jurídica e tecnicamente, o lançamento é ato privado da autoridade

administrativa.

- O ITCMD é um exemplo de tributo cujo lançamento dá-se por declaração.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 63

- Muitas taxas são lançadas por declaração. O contribuinte presta a informação ao

funcionário que preenche a guia de recolhimento, o sujeito paga, e é lançamento por

declaração também.

- No Imposto de Importação, para realizar o desembaraço aduaneiro, se for uma

importadora habitual, ela já preenche as guias de recolhimento e a autoridade fiscal

depois vai fazer um controle a fim de verificar se o recolhimento foi feito de forma

adequada.

2. Lançamento direto (“de ofício”) – art.149, CTN

Art. 149, CTN: “O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade

administrativa nos seguintes casos: I - quando a lei assim o determine; II -

quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na

forma da legislação tributária; III - quando a pessoa legalmente obrigada,

embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe de

atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de

esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo

ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade; IV - quando se

comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na

legislação tributária como sendo de declaração obrigatória; V - quando se

comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no

exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte; VI - quando se

comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente

obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária; VII - quando se

comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com

dolo, fraude ou simulação; VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido

ou não provado por ocasião do lançamento anterior; IX - quando se comprove

que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade

que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade

especial. Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada

enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública.”

Inciso I: por exemplo, o IPTU, o IPVA. Quanto ao IPVA há certa controvérsia, porque há

quem diga que é lançamento por homologação. A contribuição de melhoria também é

um exemplo.

- O ITR é um imposto em transição. Em muitas regiões do Brasil ainda é por

homologação, mas no Sul e Sudeste já está sendo aplicado por homologação.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 64

3. Lançamento por Homologação (“Auto-lançamento”) – art. 150, CTN

Art. 150, CTN: “O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos

cuja legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento

sem prévio exame da autoridade administrativa, opera-se pelo ato em que a

referida autoridade, tomando conhecimento da atividade assim exercida pelo

obrigado, expressamente a homologa. § 1º O pagamento antecipado pelo

obrigado nos termos deste artigo extingue o crédito, sob condição resolutória

da ulterior homologação ao lançamento. § 2º Não influem sobre a obrigação

tributária quaisquer atos anteriores à homologação, praticados pelo sujeito

passivo ou por terceiro, visando à extinção total ou parcial do crédito. § 3º Os

atos a que se refere o parágrafo anterior serão, porém, considerados na

apuração do saldo porventura devido e, sendo o caso, na imposição de

penalidade, ou sua graduação. § 4º Se a lei não fixar prazo a homologação,

será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse

prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se

homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se

comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação.”

- No lançamento por homologação não há qualquer participação da autoridade

administrativa até o momento posterior ao pagamento.

- O conceito de lançamento do art. 142, CTN, é de que constitui o crédito tributário,

possibilita que ele possa ser exigido pela autoridade administrativa. O art. 150 diz que

o tributo já foi identificado, calculado, recolhido, e o lançamento por homologação se

concretiza quando a autoridade toma conhecimento do que o particular fez e

expressamente a homologa. Mas homologação, no direito administrativo, pressupõe

ato administrativo a ser homologado; não existe a ideia de homologar ato realizado

por particular.

- Por isso Alberto Xavier diz que é uma técnica de recolhimento de tributo em que não

há lançamento tributário.

- O lançamento por homologação é uma fórmula que foi definida para identificar uma

situação em que a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o

pagamento sem prévio conhecimento da autoridade administrativa.

- Vitório Cassoni diz que se homologa o DARF – documento de arrecadação.

- A fazenda tem cinco anos para homologar. De regra, é esse prazo que conta. A

doutrina e, atualmente, o STJ consideram-no prazo de decadência: a fazenda tem

cinco anos para lançar, porque ela tem cinco anos para homologar. Findo o prazo, se

ela não se manifestou, não pode mais realizar qualquer lançamento, que seria um

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 65

lançamento direto – se foi constatado algum erro, alguma falha no importe recolhido

pelo contribuinte.

- Por que é prazo de decadência hoje? Porque em 1993 o STJ entendeu que esse prazo

de homologação não decadencial, era simplesmente prazo de homologação, e que o

prazo decadencial começaria a contar após o encerramento desses 5 anos para a

homologação (então a receita teria mais 5 anos).

- Ives Gandra diz que se for comprovado o dolo ou a fraude de que trata o § 4º do art.

150, CTN, a receita teria mais 5 anos para lançar o crédito. Marco Aurélio Greco diz

que não haveria esse prazo; a apuração poderia estender-se ad eternum.

Capítulo III – Suspensão do Crédito Tributário

Seção I – Disposições Gerais

1. Art. 151, CTN: Modalidades de Suspensão da Exigibilidade do Crédito

- O artigo 151 do Código Tributário Nacional elenca as modalidades de suspensão da

exigibilidade do crédito tributário.

Art. 151, CTN: “Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II

- o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos

termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a

concessão de medida liminar em mandado de segurança; V – a concessão de

medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial;

(Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) VI – o parcelamento. (Incluído pela Lcp

nº 104, de 10.1.2001) Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o

cumprimento das obrigações assessórios dependentes da obrigação principal

cujo crédito seja suspenso, ou dela conseqüentes.”

- Antes da LC 104/2001, havia uma jurisprudência no sentido de que a liminar em

outras modalidades de ações também suspenderia o crédito tributário.

“Em ação cautelar, a suspensão do crédito tributário não se pode dar via liminar e sim com

o depósito de seu montante integral [...]” (TRF 1ª R., Rel.: Tourinho Neto, dec.: 10/11/93).

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 66

- Era uma discussão frequente, mas consolidou-se o entendimento de que não só

liminar em mandado de segurança (inciso IV) como também em outras modalidades

de ações teria o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário. Isso de

certa forma contrariava o entendimento de que a lista do art. 151, CTN, era taxativa.

- Para evitar maiores discussões, a LC 104 acrescentou os incisos V e VI ao artigo 151,

ampliando as hipóteses de suspensão de exigibilidade do crédito tributário.

- Prevaleceu a tese da moratória no judiciário, até porque o próprio art. 153 já prevê o

parcelamento como uma modalidade de moratória.

- O código, no art. 151, elenca seis modalidades de suspensão do credito tributário, e

nos artigos 152 a 155, trata exclusivamente da moratória – o parcelamento é também

uma espécie de moratória.

- Todas as demais modalidades do art. 151, dizem respeito ao processo administrativo

(principalmente) ou judicial.

Seção II – Moratória

1. Art. 152, CTN: Hipóteses de Concessão da Moratória

Art. 152, CTN: “A moratória somente pode ser concedida: I - em caráter geral:

a) pela pessoa jurídica de direito público competente para instituir o tributo a

que se refira; b) pela União, quanto a tributos de competência dos Estados, do

Distrito Federal ou dos Municípios, quando simultaneamente concedida quanto

aos tributos de competência federal e às obrigações de direito privado; II - em

caráter individual, por despacho da autoridade administrativa, desde que

autorizada por lei nas condições do inciso anterior. Parágrafo único. A lei

concessiva de moratória pode circunscrever expressamente a sua aplicabilidade

à determinada região do território da pessoa jurídica de direito público que a

expedir, ou a determinada classe ou categoria de sujeitos passivos.”

“A sentença em MS, a exemplo da liminar, tão-só, suspende a exigibilidade do C.T., não o

extingue, máxime que está sujeita ao reexame necessário e, por decorrência, passível de

reforma” (TRF 4ª R., Rel.: Ari Pargendler, Dec.: 16/06/94).

“É direito do contribuinte, mesmo em ação declaratória, fazer o depósito do montante

integral da quantia em dinheiro para suspender a exigibilidade do C.T...” (TRF 3ª R.,

Rel.Lúcia Figueiredo, dec.: 21/03/95)

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 67

- A moratória abrange somente os créditos definitivamente constituídos à data da lei

ou do despacho que a conceder, ou cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data

por ato regularmente notificado ao sujeito passivo (conforme o art. 154, CTN)

- A esse respeito, Baleeiro leciona que “a moratória [...] não abrange o tributo cujo fato

gerador ainda não ocorreu, ou aquele que, embora isso tenha ocorrido, ainda não

houve ou não se iniciou o lançamento nem se fez a notificação do sujeito passivo”

(Direito Tributário Brasileiro, p. 536).

OBS: Não se pode confundir esta moratória, modalidade de suspensão da exigibilidade

do crédito tributário, com moratória financeira (que é política). Assim, deve-se ter em

mente as hipóteses de cabimento da moratória, ora em comento, previstas nos incisos

I e II do artigo 152, CTN.

2. Arts. 153 a 154, CTN

Art. 153, CTN: “A lei que conceda moratória em caráter geral ou autorize sua

concessão em caráter individual especificará, sem prejuízo de outros requisitos:

I - o prazo de duração do favor; II - as condições da concessão do favor em

caráter individual; III - sendo caso: a) os tributos a que se aplica; b) o número de

prestações e seus vencimentos, dentro do prazo a que se refere o inciso I,

podendo atribuir a fixação de uns e de outros à autoridade administrativa, para

cada caso de concessão em caráter individual; c) as garantias que devem ser

fornecidas pelo beneficiado no caso de concessão em caráter individual.”

Art. 154, CTN: “Salvo disposição de lei em contrário, a moratória somente

abrange os créditos definitivamente constituídos à data da lei ou do despacho

que a conceder, ou cujo lançamento já tenha sido iniciado àquela data por ato

regularmente notificado ao sujeito passivo. Parágrafo único. A moratória não

aproveita aos casos de dolo, fraude ou simulação do sujeito passivo ou do

terceiro em benefício daquele.”

- Moratória não gera direito adquirido!

3. Art. 155, CTN: Revogação da Moratória

Art. 155, CTN: “A concessão da moratória em caráter individual não gera direito

adquirido e será revogado de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não

satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou não cumprira ou deixou de

cumprir os requisitos para a concessão do favor, cobrando-se o crédito

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 68

acrescido de juros de mora: I - com imposição da penalidade cabível, nos casos

de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele; II -

sem imposição de penalidade, nos demais casos. Parágrafo único. No caso do

inciso I deste artigo, o tempo decorrido entre a concessão da moratória e sua

revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança do

crédito; no caso do inciso II deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de

prescrito o referido direito.”

4. Art. 155-A, CTN: Parcelamento

Art. 155-A, CTN: “O parcelamento será concedido na forma e condição

estabelecidas em lei específica. (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) § 1o

Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não

exclui a incidência de juros e multas. (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) §

2o Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições desta Lei,

relativas à moratória. (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) § 3o Lei

específica disporá sobre as condições de parcelamento dos créditos tributários

do devedor em recuperação judicial. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005) § 4o A

inexistência da lei específica a que se refere o § 3o deste artigo importa na

aplicação das leis gerais de parcelamento do ente da Federação ao devedor em

recuperação judicial, não podendo, neste caso, ser o prazo de parcelamento

inferior ao concedido pela lei federal específica. (Incluído pela Lcp nº 118, de

2005)”.

- O art. 155-A, CTN, trata do parcelamento, e o seu § 2º manda aplicar

subsidiariamente ao parcelamento as disposições concernentes à moratória (então o

próprio legislador reconhece que o parcelamento é uma modalidade de moratória).

Capítulo IV – Extinção do Crédito Tributário

Seção I – Modalidades de Extinção

1. Art. 156, CTN

- O art. 156, CTN, estabelece, formalmente, nos seus onze incisos, doze modalidades

de extinção do crédito tributário (porque no inciso V coloca como modalidade de

extinção do crédito tributário a prescrição e a decadência – que não se confundem).

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 69

Art. 156, CTN: “Extinguem o crédito tributário: I - o pagamento; II - a

compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a decadência;

VI - a conversão de depósito em renda; VII - o pagamento antecipado e a

homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º

e 4º; VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do

artigo 164; IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a

definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação

anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado. XI – a dação em

pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.

(Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) Parágrafo único. A lei disporá quanto

aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito sobre a ulterior verificação da

irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos artigos 144 e

149.”

- O artigo também sofreu modificação provocada pela Lei Complementar nº 104, no

que se refere ao acréscimo da ‘dação em pagamento’ como forma de extinção do

crédito tributário.

- Até a edição da LC 104, havia três modalidades de extinção do crédito previstas na

legislação cível e não previstas no art. 156, do CTN: a novação, a confusão, e a dação

em pagamento.

- O Supremo Tribunal Federal já se manifestou várias vezes acerca da

inconstitucionalidade das leis municipais que autorizam a dação em pagamento com

bens móveis de forma geral. Mas o legislador complementar achou por bem permitir a

dação em pagamento em bens imóveis, o que gerou certa perplexidade na doutrina

brasileira, porque, se por um lado Paulo Bastos de Carvalho entende que o art. 3º,

CTN, já exprimia essa possibilidade, outros entendem que a redação do inciso deve ser

entendida como ‘títulos’ e não ‘bens’, e que o art. 156 deveria ser lido em

conformidade com o art. 3º.

- Hugo de Brito Machado, por exemplo, entende que não há conflito entre o art. 3º e o

inciso XI do art. 156, porque o art. 3º nos dá um conceito de tributo, que no direito

brasileiro não pode ser pago em bens; o inciso XI trata de modalidade de extinção do

crédito tributário (assim como o pagamento, a prescrição), que não tem nada a ver

com o conceito de tributo.

Inciso VIII: A propositura de uma ação de consignação em pagamento não extingue o

crédito tributário. O inciso VIII diz: “a consignação em pagamento, nos termos do

disposto no § 2º do art. 164, CTN”. O artigo 164, diz, por sua vez:

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 70

Art. 164, § 2º, do CTN: “Julgada procedente a consignação, o pagamento se reputa

efetuado e a importância consignada é convertida em renda; julgada improcedente a

consignação no todo ou em parte, cobra-se o crédito acrescido de juros de mora, sem

prejuízo das penalidades cabíveis.”

- Na verdade, é a decisão, a sentença transitada em julgado, que extingue o crédito

tributário em discussão.

- O modo mais usual de extinção do crédito tributário está consagrado no inciso I, do

artigo 156: o pagamento.

Seção II – Pagamento

1. Arts. 157 a 158, CTN

Art. 157, CTN: “A imposição de penalidade não ilide o pagamento integral do

crédito tributário.”

- Não é “não ilide”, mas “não elide”. Se o sujeito paga a multa pelo não pagamento do

tributo, isso não o dispensa do pagamento do tributo. O fato de se pagar uma multa

não significa que está dispensado do cumprimento do principal – o pagamento da

obrigação tributária.

- O tributo é uma exação cobrada no interesse público; então é diferente de uma

relação jurídica privada. No direito tributário, não há um contrato entre o Estado e o

particular para a cobrança de tributo. O que se estabelece entre o particular e a

Fazenda Pública é uma relação jurídica unilateral, em que o Estado se impõe exigindo,

por força de lei, o pagamento do tributo.

- Se o sujeito não paga o tributo no prazo, incide a penalidade, de forma que o sujeito

terá que pagar o principal e a multa. Se quiser pagar só a multa, pode? Como regra

geral, é quase que impossível, porque a multa, via de regra, é calculada junto à

notificação fiscal.

- Então o pagamento da penalidade não elide o pagamento do principal.

Art. 158, CTN: “O pagamento de um crédito não importa em presunção de

pagamento: I - quando parcial, das prestações em que se decomponha; II -

quando total, de outros créditos referentes ao mesmo ou a outros tributos.”

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 71

Inciso I: se o sujeito parcela em 60 meses o seu crédito vencido; pagou 59 e acha

suficiente e não paga a última. A regra é simples: se ele foi decomposto em 60

parcelas, para ser pago esse credito devem ser pagas as 60 parcelas.

Inciso II: um crédito relativo ao ICMS é sempre especificado com relação ao período.

Os créditos são únicos em relação a seu fato gerador e à obrigação tributária.

2. Art. 159, CTN: Local do Pagamento

Art. 159, CTN: “Quando a legislação tributária não dispuser a respeito, o

pagamento é efetuado na repartição competente do domicílio do sujeito

passivo.”

- A regra geral é efetuar o pagamento no domicílio do sujeito passivo.

3. Art. 160, CTN: Tempo do Pagamento

Art. 160, CTN: “Quando a legislação tributária não fixar o tempo do

pagamento, o vencimento do crédito ocorre trinta dias depois da data em que

se considera o sujeito passivo notificado do lançamento. Parágrafo único. A

legislação tributária pode conceder desconto pela antecipação do pagamento,

nas condições que estabeleça.”

- É pouco utilizada porque, em regra, quando há o lançamento, é estabelecido o prazo

para pagamento. O contribuinte é notificado a pagar até uma data determinada.

4. Art. 161, CTN: Atraso no Pagamento

Art. 161, CTN: “O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de

juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da

imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de

garantia previstas nesta Lei ou em lei tributária. § 1º Se a lei não dispuser de

modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa de um por cento ao mês.

§ 2º O disposto neste artigo não se aplica na pendência de consulta formulada

pelo devedor dentro do prazo legal para pagamento do crédito.”

- É o que acontece se o crédito não for pago.

§ 1º: as leis estabelecem as taxas de juros de mora cobrados. Mas se a legislação for

omissa, é de 1% ao mês.

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- Há jurisprudência que entende que não basta a certidão, no que diz respeito aos

juros de mora, indicar o artigo da lei; tem que indicar o artigo da lei e qual o percentual

de juros de mora, para informar o contribuinte sobre quanto está pagando de juros de

mora. Caso contrário, é caso de anulação da certidão.

§ 2º: é um complemento do caput do artigo. É a situação típica do contribuinte que é

notificado para pagar o tributo e tem dúvidas sobre a notificação: se tem que pagar,

qual é o percentual, etc.

5. Arts. 162 a 163, CTN

Art. 162, CTN: “O pagamento é efetuado: I - em moeda corrente, cheque ou

vale postal; II - nos casos previstos em lei, em estampilha, em papel selado, ou

por processo mecânico. § 1º A legislação tributária pode determinar as

garantias exigidas para o pagamento por cheque ou vale postal, desde que não

o torne impossível ou mais oneroso que o pagamento em moeda corrente. § 2º

O crédito pago por cheque somente se considera extinto com o resgate deste

pelo sacado. § 3º O crédito pagável em estampilha considera-se extinto com a

inutilização regular daquela, ressalvado o disposto no artigo 150. § 4º A perda

ou destruição da estampilha, ou o erro no pagamento por esta modalidade, não

dão direito a restituição, salvo nos casos expressamente previstos na legislação

tributária, ou naquelas em que o erro seja imputável à autoridade

administrativa. § 5º O pagamento em papel selado ou por processo mecânico

equipara-se ao pagamento em estampilha.”

- O artigo tem valor histórico.

Art. 163, CTN: “Existindo simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do

mesmo sujeito passivo para com a mesma pessoa jurídica de direito público,

relativos ao mesmo ou a diferentes tributos ou provenientes de penalidade

pecuniária ou juros de mora, a autoridade administrativa competente para

receber o pagamento determinará a respectiva imputação, obedecidas as

seguintes regras, na ordem em que enumeradas: I - em primeiro lugar, aos

débitos por obrigação própria, e em segundo lugar aos decorrentes de

responsabilidade tributária; II - primeiramente, às contribuições de melhoria,

depois às taxas e por fim aos impostos; III - na ordem crescente dos prazos de

prescrição; IV - na ordem decrescente dos montantes.”

- O dispositivo estabelece a ordem de pagamento dos diferentes créditos tributários.

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Inciso I: Se o sujeito passivo é contribuinte e responsável ao mesmo tempo, deve

pagar primeiro os tributos decorrentes de obrigação própria, como contribuinte;

depois, os decorrentes de responsabilidade tributária.

6. Art. 164, CTN: Consignação

Art. 164, CTN: “A importância de crédito tributário pode ser consignada

judicialmente pelo sujeito passivo, nos casos: I - de recusa de recebimento, ou

subordinação deste ao pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou ao

cumprimento de obrigação acessória; II - de subordinação do recebimento ao

cumprimento de exigências administrativas sem fundamento legal; III - de

exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público, de tributo

idêntico sobre um mesmo fato gerador. § 1º A consignação só pode versar

sobre o crédito que o consignante se propõe pagar. § 2º Julgada procedente a

consignação, o pagamento se reputa efetuado e a importância consignada é

convertida em renda; julgada improcedente a consignação no todo ou em

parte, cobra-se o crédito acrescido de juros de mora, sem prejuízo das

penalidades cabíveis.”

Inciso I: Exemplo: o sujeito deve ICMS referente a seis períodos; quer pagar o tributo

referente a três períodos, deixando os demais débitos em aberto. De acordo com o

artigo, o contribuinte paga o crédito porque cada crédito é único; então o recebimento

de um crédito não pode ser subordinado ao pagamento de outro.

Inciso III: o cara é contribuinte do imposto de renda e o município estabelece uma

base de cálculo para o ISS que leva em conta o lucro da empresa.

- A base de cálculo é um elemento nuclear do fato gerador do tributo. Então, na

verdade, está-se exigindo dois tributos sobre o mesmo fato gerador. Se tiver que pagar

esse ISS sobre o lucro, pode ingressar com ação de consignação em pagamento

levantando a tese de exigência simultânea de dois tributos, por duas pessoas jurídicas

distintas, sobre o mesmo fato gerador; quer pagar, mas quer discutir essa questão. Às

vezes é uma discussão que envolve imposto e taxa, por exemplo.

- A redação do inciso pode levar à interpretação de que se trata de dois tributos

“idênticos”; essa identidade diz muito mais respeito à identidade da hipótese de

incidência do que à denominação do tributo (por exemplo, um imposto de renda

estadual e um federal).

§ 2º: o contribuinte consignou e ganhou; “convertida em renda” significa extinção do

crédito tributário.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 74

- O problema é o restante da redação: alguns dizem que se for julgada improcedente,

não extinguiu o credito tributário porque ele foi acrescido com juros de mora com a

aplicação de penalidades cabíveis se for o caso.

- O inciso VIII do art. 156, diz que extingue o crédito tributário “a consignação em

pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164”, e não nos termos do

disposto na primeira parte do § 2º do artigo 164. Mas o § 2º tem duas situações;

então, numa análise formal, é fácil explicar e dizer que não importa qual seja a decisão

na ação de consignação em pagamento (favorável ou desfavorável), extingue o crédito

tributário.

- O crédito que foi consignado, com a decisão desfavorável, será pago, será liquidado

com juros e correção monetária, se for o caso, mas é aquele crédito.

- Essa discussão que existe na doutrina perde um pouco o sentido de que o crédito

tributário deve ser exigido de forma única.

Seção III – Pagamento Indevido

1. Art. 165, CTN: Hipóteses de Restituição do Tributo

- O art. 165, CTN, é uma regra geral, que elenca em quais situações o contribuinte

pode receber de volta o que pagou indevidamente.

Art. 165, CTN: “O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio

protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja qual for a modalidade do

seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes

casos: I - cobrança ou pagamento espontâneo de tributo indevido ou maior que

o devido em face da legislação tributária aplicável, ou da natureza ou

circunstâncias materiais do fato gerador efetivamente ocorrido; II - erro na

edificação do sujeito passivo, na determinação da alíquota aplicável, no cálculo

do montante do débito ou na elaboração ou conferência de qualquer

documento relativo ao pagamento; III - reforma, anulação, revogação ou

rescisão de decisão condenatória.”

Inciso III: o tributo é devolvido porque o contribuinte consegue a reforma da sentença

condenatória no tribunal. Então, se o tributo cobrado foi considerado indevido, tal

importância deve ser restituída ao contribuinte. Da mesma forma, se houve excesso de

exação.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 75

2. Art. 166, CTN: A Quem Deve Ser Feita a Restituição

Art. 166, CTN: “A restituição de tributos que comportem, por sua natureza,

transferência do respectivo encargo financeiro somente será feita a quem prove

haver assumido o referido encargo, ou, no caso de tê-lo transferido a terceiro,

estar por este expressamente autorizado a recebê-la.”

- Se o artigo 165 consagra a regra geral de cabimento da restituição, o artigo 166

especifica a restituição, orientando o contribuinte, a autoridade fazendária e o

julgador na questão de tributos pagos indevidamente, e na questão dos tributos

indiretos.

- No tributo indireto é o consumidor que arca efetivamente com a carga tributária; ele

não é autor do fato gerador, mas o imposto lhe é repassado. É assim que agem os

comerciantes: o contribuinte recolhe o imposto e transfere a carga tributária para o

consumidor; por isso o tributo é chamado de indireto. Aqui o consumidor é,

equivocadamente, chamado de ‘contribuinte de fato’.

IMPORTANTE! Imposto indireto não é substituição. Na substituição e na transferência,

o responsável decorre de lei.

- “Repercussão do imposto” é a possibilidade que tem o contribuinte de transferir o

peso da tributação para outro.

- O artigo 166 é importante porque estabelece uma regra muito discutida na

jurisprudência. De acordo com a Súmula 546, do STF, cabe a restituição de tributo

quando, por decisão, se confirmou que o contribuinte de direito não recuperou

totalmente o tributo que repassa ao consumidor.

Súmula 546, STF: “Cabe a restituição do tributo pago indevidamente, quando

reconhecido por decisão, que o contribuinte "de jure" não recuperou do

contribuinte "de facto" o "quantum" respectivo.”

- Essa súmula não resolve o problema. No caso do IPI e do ICMS, não cabe a restituição

porque o imposto é transferido e discriminado na nota. Para pleitear a restituição, tem

que estar autorizado pelo ‘contribuinte de fato’.

- O que acontece, na verdade, é que o contribuinte não tem como pleitear no caso de

IPI e ICMS. Nesses casos, só vai poder pleitear quando o ‘contribuinte de fato

autorizar’; mas se for diluído no preço de venda, não tem como fazer a devolução.

- O STF diz que no caso de contribuições sociais, o contribuinte pode pleitear o que

pagou indevidamente e não há destaque na nota.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 76

- Hoje, a doutrina e jurisprudência aceitam que a Fazenda Pública fica com o dinheiro

em nome dos consumidores, prevalecendo o interesse público sobre o privado.

3. Art. 167, CTN

Art. 167, CTN: “A restituição total ou parcial do tributo dá lugar à restituição, na

mesma proporção, dos juros de mora e das penalidades pecuniárias, salvo as

referentes a infrações de caráter formal não prejudicadas pela causa da

restituição. Parágrafo único. A restituição vence juros não capitalizáveis, a

partir do trânsito em julgado da decisão definitiva que a determinar.”

4. Art. 168, CTN: Direito de Pleitear a Restituição

Art. 168, CTN: “O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso do

prazo de 5 (cinco) anos, contados: I - nas hipótese dos incisos I e II do artigo

165, da data da extinção do crédito tributário; (Vide art 3 da LCp nº 118, de

2005) II - na hipótese do inciso III do artigo 165, da data em que se tornar

definitiva a decisão administrativa ou passar em julgado a decisão judicial que

tenha reformado, anulado, revogado ou rescindido a decisão condenatória.

- O artigo 168, CTN, traz um prazo de prescrição que corre contra o contribuinte: este

tem 5 anos para pleitear a restituição, contados da data da extinção do crédito

tributário.

- Em 1986, o governo Sarney instituiu empréstimo compulsório sobre combustíveis e

lubrificantes, cujo pedido de devolução prescrevia em 1993. Os contribuintes que

tinham recolhido, não precisavam exigir nota, porque a lei que instituiu o empréstimo

compulsório definiu que a devolução se basearia numa média de consumo mensal de

combustível. Em 1993, o STJ propôs e foi aceita a tese de que o prazo para restituição

é de 5 anos, contados não do pagamento antecipado, mas depois de encerrado o

prazo da Fazenda Pública para reconhecimento do crédito tributário (o que resultou

em 10 anos para pleitear a devolução do empréstimo: 5 anos para pleitear a devolução

a partir da extinção, e 5 anos da Fazenda Pública para homologar o lançamento). O STJ

considerou que o prazo de homologação era uma coisa e outra era o da decadência,

previsto no art. 173.

- Em 2005, foi editada a Lei Complementar nº 118, que pôs fim a essa interpretação do

STJ, que totalizava um prazo de 10 anos.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 77

Art. 3º, LC 118/05: “Para efeito de interpretação do inciso I do art. 168 da Lei no

5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código Tributário Nacional, a extinção do

crédito tributário ocorre, no caso de tributo sujeito a lançamento por

homologação, no momento do pagamento antecipado de que trata o § 1o do

art. 150 da referida Lei.”

- O direito de pleitear a restituição acaba com a ideia de que o pagamento antecipado

não extinguiria o crédito tributário, porque a Fazenda ainda teria 5 anos pra

homologar; a condição resolutória é só uma condição, e a extinção ocorre com o

pagamento.

- Então se a Fazenda não fez o lançamento, não pode mais fazer. Se o contribuinte não

pagou o tributo nesse prazo de 5 anos que a Fazenda tinha para homologar, acabou o

prazo para cobrar. A Fazenda tem 5 anos para tomar ciência da atividade exercida pelo

particular; se não o fizer nesses 5 anos, não pode mais fazer.

- Entretanto, a LC 118 só se aplica aos fatos posteriores à sua publicação. Não retroage

para fatos anteriores.

Inciso I: a interpretação remete ao § 1° do art. 150, CTN: o crédito está extinto com o

pagamento antecipado.

Inciso II: se for decisão administrativa, o prazo começa a contar da data que se torna

definitiva.

5. Art. 169, CTN: Prescrição

Art. 169, CTN: “Prescreve em dois anos a ação anulatória da decisão

administrativa que denegar a restituição. Parágrafo único. O prazo de

prescrição é interrompido pelo início da ação judicial, recomeçando o seu curso,

por metade, a partir da data da intimação validamente feita ao representante

judicial da Fazenda Pública interessada.”

Exemplo: o contribuinte, ao invés de ir ao Judiciário, pleiteou a restituição em recurso

administrativo e perdeu, foi negado o seu pedido. A partir daí, o contribuinte tem 2

anos para propor ação anulatória desta decisão administrativa que denegou a

restituição.

§ único: o procurador é notificado e o prazo começa a correr, mas o contribuinte nem

sabe se o prazo já iniciou.

- A interpretação concedida ao parágrafo único é que o prazo inicial é de 2 anos, e,

proposta a ação, começa a contar mais 1 ano. Isso porque o procurador (representante

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 78

judicial da Fazenda Pública) foi notificado, apresenta resposta, e o contribuinte é

intimado para responder a manifestação do procurador – nesse ponto começa a

contar o prazo por metade, ou seja, a partir da ciência do contribuinte da resposta do

procurador da fazenda.

Seção IV – Demais Modalidades de Extinção

1. Arts. 170 e 170-A, CTN: Compensação

Art. 170, CTN: “A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou

cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a

compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou

vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública. (Vide Decreto nº 7.212,

de 2010) Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei

determinará, para os efeitos deste artigo, a apuração do seu montante, não

podendo, porém, cominar redução maior que a correspondente ao juro de 1%

(um por cento) ao mês pelo tempo a decorrer entre a data da compensação e a

do vencimento.”

- Se o contribuinte é credor e devedor, ele pode propor compensação de contas.

Exemplo: empresa que fornece material para o Estado e é devedora de ICMS, pode

propor compensação de contas. A compensação é entre débitos e créditos do

particular com o Estado.

- O ICMS pode ser compensado porque há lei que permite; não pode haver

compensação sem lei prévia determinando a matéria.

- A compensação teria que envolver créditos tributários com créditos líquidos e certos,

vencidos ou vincendos do sujeito passivo. Depois, pensou-se na possibilidade de um

acerto de contas de débitos e créditos tributários. Se o contribuinte é credor e devedor

de tributo, ele pode compensar. Contribuintes queriam compensar IR com PIS e

COFINS. A Procuradoria Nacional disse que não se podiam compensar créditos

tributários entre si; o Judiciário disse que podia. Então, a Fazenda Pública colocou a

condição de que tinha a possibilidade de compensação envolve apenas tributos iguais

entre si: PIS com PIS, etc. O Judiciário manteve o seu posicionamento, e aos poucos

consolidou-se a interpretação de que a compensação pode ser entre tributos federais,

e não entre tributos federais e estaduais.

- Hoje se entende que o contribuinte pode fazer a compensação, desde que

comunique, previamente, a Fazenda. Esta deve conferir se cálculos estão certos e se há

lei disciplinando o assunto.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 79

Art. 170-A, CTN: “É vedada a compensação mediante o aproveitamento de

tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em

julgado da respectiva decisão judicial. (Artigo incluído pela Lcp nº 104, de

10.1.2001)”

- A LC 104 vedou a compensação de crédito contestado; só é possível haver

compensação após o trânsito em jugado – não pode ser por liminar.

2. Art. 171, CTN: Transação

Art. 171, CTN: “A lei pode facultar, nas condições que estabeleça, aos sujeitos

ativo e passivo da obrigação tributária celebrar transação que, mediante

concessões mútuas, importe em determinação de litígio e conseqüente extinção

de crédito tributário. Parágrafo único. A lei indicará a autoridade competente

para autorizar a transação em cada caso.”

- A transação é, também, uma modalidade de extinção de credito tributário. A maioria

dos Estados brasileiros não tem lei disciplinam esse instituto.

- A transação pressupõe um acordo de vontades. É uma negociação para por fim ao

litígio e diz respeito a essa possibilidade de as partes cederem para compor a lide.

- A compensação ocorre na esfera administrativa; a transação pode ocorrer tanto na

esfera judicial, quanto em litígio administrativo.

- Na transação, o crédito pode ser totalmente extinto, mediante concessões de ambas

as partes. Na compensação, vai sobrar alguma coisa como crédito, que deve ser

novamente constituído.

§ único: a lei não precisa indicar porque é o advogado da Fazenda Pública que já

consta nos autos.

- A transação, embora prevista no código, ainda não é muito aplicada no Brasil; há

poucos estados e poucos municípios com legislações próprias disciplinando essa

modalidade de extinção do crédito tributário.

Na transação, a Fazenda Pública não pode abrir mão do principal, do crédito tributário

em si, porque este é indisponível. Pode abrir mão dos juros, da multa, por exemplo. O

código, no art. 171, usa a expressão “concessões mútuas”.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 80

3. Art. 172, CTN: Remissão

- O débito é perdoado pela Fazenda Pública, por algum dos casos previstos no art. 172,

do Código Tributário Nacional.

- Não se pode confundir remissão com remição.

REMISSÃO é o perdão, a indulgência, o indulto do crédito (vem do verbo

remitir);

REMIÇÃO, do verbo remir é no sentido de resgate da dívida (art. 131, I, CTN)

- A remissão não se confunde com a isenção nem com a anistia. REMISSÃO é perdão

do crédito; a ISENÇÃO é uma exclusão do crédito, nos casos que a lei estabeleceu

(exclui-se, e não perdoa-se); e a ANISTIA diz respeito ao perdão de penalidade por

infração. Então são três situações que, apesar de parecidas, não se confundem.

- A remissão não pode ser concedida administrativamente sem previsão legal. Deve

haver lei específica prevendo remissão para que a autoridade administrativa possa

concedê-la. Além disso, a remissão pode ser total ou parcial (atingindo somente

parcela do crédito).

- O art. 172 do Código traz as hipóteses em que cabe a remissão:

Art. 172, CTN: “A lei pode autorizar a autoridade administrativa a conceder, por

despacho fundamentado, remissão total ou parcial do crédito tributário,

atendendo: I - à situação econômica do sujeito passivo; II - ao erro ou

ignorância excusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de fato; III - à

diminuta importância do crédito tributário; IV - a considerações de eqüidade,

em relação com as características pessoais ou materiais do caso; V - a

condições peculiares a determinada região do território da entidade tributante.

Parágrafo único. O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido,

aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155.”

Inciso I: No âmbito municipal, acontece muito em relação ao IPTU, para as pessoas

hipossuficientes economicamente.

Inciso II: o código fala em matéria de fato, mas é difícil separar a previsão legal porque

a lei disciplina o fato. Então fica a dúvida de como seria possível conceder a remissão

com base neste inciso.

Inciso III: o custo do processo de execução é maior do que o valor cobrado pelo crédito

tributário. Então é mais fácil remitir.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 81

Inciso IV: é um critério de avaliação muito subjetivo. O uso da equidade no direito

tributário não pode resultar na dispensa de tributo devido. A lei tem que disciplinar

claramente como a equidade pode ser considerada para fins de remissão – e isso é

muito complicado.

Inciso V: por exemplo, uma lei que preveja a situação em casos de catástrofes naturais.

4. Art. 173, CTN: Decadência

- É colocada como extinção do crédito tributário, mas, na verdade, significa o direito de

a Fazenda Pública constituir o crédito tributário. Logo, não há crédito tributário a ser

extinto!

- É o prazo que a Fazenda possui para constituir o crédito tributário e torná-lo exigível;

é o contrário da prescrição.

Art. 173, CTN: “O direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário

extingue-se após 5 (cinco) anos, contados: I - do primeiro dia do exercício

seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado; II - da data em

que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o

lançamento anteriormente efetuado. Parágrafo único. O direito a que se refere

este artigo extingue-se definitivamente com o decurso do prazo nele previsto,

contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário

pela notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória

indispensável ao lançamento.”

Inciso I: considerando que no art. 150, IV, é estabelecido um prazo de 5 anos para a

fazenda homologar o recolhimento feito pelo sujeito passivo de forma antecipada, a

doutrina costuma separar esses dois casos em que ocorre a decadência:

a) da ocorrência do fato gerador (art.150, § 4º) para o caso do lançamento por

homologação. Encerrados os 5 anos sem que a fazenda se manifeste, está

considerado pago o tributo.

b) do 1º dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido

efetuado (lançamento direto e por declaração).

Exemplo: IPTU e ICMS. No caso do ICMS, aplica-se o art. 150, § 4º, CTN, porque se trata

de lançamento por homologação; aí o prazo começa a ser contado a partir da

ocorrência do fato gerador (o mesmo em se tratando de IPI, por exemplo). Então,

impostos lançados por homologação, o prazo é o do art. 150, § 4º, que começa a ser

contado da ocorrência do fato gerador.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 82

- Supondo que o fato gerador do ICMS ocorreu em 30/04/2013 (o fato gerador ocorre

no último dia do mês, em se tratando de ICMS, e tem 10 dias para pagar). O imposto

não foi recolhido, ou foi recolhido a menor. A fazenda tem cinco anos para conferir o

imposto mal pago pelo contribuinte – portanto, até 30/04/2018.

- No caso do IPTU, o fato gerador ocorre no dia 1º de janeiro de 2013. Mas o

lançamento não coincide com o fato gerador. A lei municipal determina a data para a

realização do lançamento. Digamos que o lançamento tenha que ser feito até o dia

30/03. Como é lançamento direto, conta-se cinco anos a partir de 1º de janeiro de

2014 – porque a Fazenda deveria ter feito o lançamento no exercício anterior, na data

determinada em lei (dia 30/03, no caso deste exemplo) – e expira em 1º de janeiro de

2019.

Inciso II: “quando se tornar definitiva a decisão” = quando transitar em julgado.

- Alguns autores dizem que se houve um lançamento anterior que foi anulado, houve

um lançamento, então não seria decadência (porque já houve a constituição deste

crédito), mas prescrição. Outra parcela da doutrina diz que se o lançamento anterior

foi anulado, ele é inexistente – é como se não tivesse havido lançamento; então é

decadência sim, e a Fazenda tem cinco anos para constituir o crédito tributário.

§ único: traz uma regra que muitos consideram como uma quarta forma de contagem

de prazo. O direito da Fazenda Pública extingue-se definitivamente com o decurso do

prazo de cinco anos.

- “contado da data em que tenha sido iniciada a constituição do crédito tributário pela

notificação, ao sujeito passivo, de qualquer medida preparatória indispensável ao

lançamento.”

Exemplo: IPTU. Digamos que o município tenha prazo até 30/03/2013 para fazer o

lançamento (expedir o carnê do IPTU, que é o que exterioriza o lançamento do crédito

tributário). O prazo decadencial começa a contar no primeiro dia do exercício seguinte

ao exercício em que o lançamento foi efetuado. Portanto, iniciou-se em 01/01/2014,

expirando em 01/01/2019.

- Vamos supor que em agosto de 2018 a Fazenda não lança, mas notifica o

contribuinte para prestar informações a fim de saber se ele era realmente o

proprietário desse imóvel em 2013 (tomou uma medida preparatória, que considera

indispensável ao lançamento). Se fez isso em 2018, o prazo começa em 01/01/2014 ou

a partir da medida preparatória, em agosto de 2018? Há quem diga que é a partir da

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 83

medida preparatória (mesmo que ela tenha procedido à medida em 29/12/18, quando

iniciaria o prazo de cinco anos para fazer o lançamento).

- A melhor doutrina diz que não; o que se conta da medida preparatória é o que falta.

Há quem diga inclusive que essa questão da medida preparatória tem que ser tomada

antes do primeiro dia do exercício seguinte – que, aliás, é o mais coerente. Assim, se

tomou a medida preparatória em 31/10/2013, o prazo expira em 30/10/2018.

Interpretação contrária culminaria em uma ampliação do prazo para a fazenda

constituir o crédito tributário.

5. Art. 174, CTN: Prescrição

- É realmente uma modalidade de extinção do crédito tributário.

- Envolve o direito de ação: a Fazenda Pública tem cinco anos para cobrar (ajuizar a

competente Ação de Execução), contados da constituição definitiva do crédito.

Art. 174, CTN: “A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco

anos, contados da data da sua constituição definitiva. Parágrafo único. A

prescrição se interrompe: I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em

execução fiscal; (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005) II - pelo protesto

judicial; III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; IV - por

qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em

reconhecimento do débito pelo devedor.”

- Há divergências doutrinárias e jurisprudenciais: a partir de que momento o Crédito

Tributário está definitivamente constituído, para fins de contagem do prazo de

prescrição?

- Geraldo Ataliba defende que o crédito está definitivamente constituído a partir do

lançamento – não existe constituição provisória do crédito tributário.

- O problema é que o STF entendeu por muito tempo que o crédito estaria constituído

a partir da inscrição do crédito em dívida ativa: “a Fazenda Pública precisa de título

executivo extrajudicial para promover a Execução, sendo o mesmo a Certidão de

Inscrição em Dívida Ativa”. Ou seja, a Fazenda só pode exercer o direito de ação se

houver um título executivo para cobrar (a CDA). A inscrição em Dívida Ativa dá-se

quando o crédito não pago é registrado na repartição competente do devedor. Feita a

inscrição, é expedida a respectiva Certidão de inscrição do crédito em dívida ativa (que

é o título extrajudicial que possibilita a execução fiscal).

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 84

- Ultimamente, há decisões que retornam ao lançamento, adotando a tese de Geraldo

Ataliba. Luciano Amaro diz que a inscrição em dívida ativa é um passo necessário para

a ação de execução, mas o prazo começa a ser contado do lançamento realizado.

- A tese do Supremo vigorou durante muito tempo porque as procuradorias das

fazendas ganhavam prazo com isso. Até porque não há, na legislação brasileira, um

prazo para a Fazenda inscrever o crédito em dívida ativa. O CTN diz que, por analogia

ao prazo que tem para cobrar a partir do lançamento, tem 5 anos para inscrever em

dívida ativa.

- Para Denari, “a partir do término do prazo de trinta dias concedido ao sujeito passivo

para liquidar o crédito, ou explicar porque não o quer fazer”

§ único: traz as hipóteses de interrupção da prescrição: I - despacho que ordenar a

citação; II - protesto judicial; III - qualquer ato judicial que constitua o devedor em

mora; IV - qualquer ato inequívoco pelo qual o devedor reconhece a dívida.

- Prescrição intercorrente – prazo dentro processo.

6. Outras Considerações Importantes

- Há um precedente, do TJRS, que orientou-se no sentido de que o contribuinte é

obrigado a pagar o IPTU mesmo sem o carnê, independente de formalização pela

Fazenda Pública; por isso, IPTU é caso lançamento por homologação, nos termos do

art. 150 § 4º, CTN. Entretanto, esta é uma decisão isolada; o IPTU segue os termos do

artigo 173, paragrafo único.

- No caso de anulação do lançamento anterior, o novo lançamento implica prescrição

ou decadência? A doutrina se divide: se houve anulação, houve lançamento, porque

foi realizado lançamento anterior, e a Fazenda Pública tem 5 anos para o novo

“A Ação do Fisco tem o dies a quo do prazo prescricional na constituição definitiva do

c.t., sendo desvaliosa, para tal fim, a data do lançamento fiscal...” (STJ, AgA 7019/RS,

Rel. Demócrito Reinaldo, 1ª T., dec.: 02/09/91)

O prazo de 5 anos para prescrição de ação de cobrança do c.t. começa a contar da

data da sua constituição definitiva, que ocorre com a notificação do lançamento ao

devedor (art.142 e seguintes do CTN), não se tendo na inscrição do c.t. na dívida ativa

causa de interrupção ou suspensão da prescrição...” (TRF 5ª R., AC 89.05.00059/RN,

rel.Petrucio Ferreira, 2ª T., dec.: 13/03/90)

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 85

lançamento, a partir da data do trânsito em julgado da decisão que considerou nulo o

lançamento.

Art. 153, § único, CTN: “A moratória não aproveita aos casos de dolo, fraude ou

simulação do sujeito passivo ou do terceiro em benefício daquele.”

- Na realidade, não é ampliação do prazo para constituir o crédito, é restrição: se a

Fazenda Pública notifica o contribuinte antes do lançamento, o prazo inicia antes. O

credito não é imprescritível; seja em favor do contribuinte seja em favor da Fazenda

Pública, os prazos são peremptórios – 5 anos para ambos.

- No caso do PIS/COFINS, o STF reconhece a inconstitucionalidade; essas são

contribuições sociais, portanto tem regime tributário e devem ter prazo de 5 anos. A

Fazenda Pública tem um prazo prescricional de 5 anos para cobrar (propor ação de

execução), contados da constituição definitiva do credito – art. 174, CTN.

7. Momento de Constituição do Crédito Tributário

- A partir de que momento o crédito tributário esta constituído? Geraldo Ataliba diz

que a constituição do crédito tributário dá-se com o lançamento, que é a notificação

que a Fazenda Pública faz ao contribuinte para pagar. O STF, por sua vez, defende que

o crédito está constituído a partir da inscrição em dívida ativa, porque só assim tem

como cobrar.

- Em decisões recentes, inclusive do STF, verifica-se a orientação de que o crédito está

definitivamente constituído com o lançamento, mas a Fazenda Pública só pode

executar quando estiver inscrito na dívida ativa.

- Há, ainda, uma outra corrente: a constituição não se dá nem com o lançamento, nem

com a inscrição em dívida ativa, mas a partir do término do prazo de 30 dias concedido

ao sujeito passivo para liquidar o crédito ou explicar porque não o quer fazer.

- O lançamento não dá as condições objetivas para o exercício de ação; com o

lançamento é aberto o prazo para que o contribuinte pague. Por outro lado, a inscrição

em dívida ativa é procedimento posterior, que não tem nada a ver com contagem do

prazo. Se o contribuinte não paga o crédito, este não pode ser inscrito em dívida ativa

imediatamente; deve-se abrir prazo para defesa, para que o contribuinte possa

explicar por que não paga. Só então, iniciar-se-á o prazo de prescrição.

- Então, há três interpretações sobre a contagem do prazo, e nenhuma delas está no

CTN:

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 86

através do lançamento – posição majoritária;

a partir da inscrição da dívida ativa;

através do término do prazo de 30 dias para o contribuinte pagar ou explicar

por que não pagou.

- A interpretação adotada é importante, porque interfere no prazo que a Fazenda

Pública tem para executar; se for a partir da inscrição em dívida ativa, o prazo para a

Fazenda executar é maior.

Capítulo V – Exclusão de Crédito Tributário

Seção I – Disposições Gerais

1. Introdução

- A imunidade é norma constitucional, então é uma norma de estrutura – está ligada à

questão da competência tributária. Paulo Bastos de Carvalho fala em norma de

estrutura; ele refuta a ideia da imunidade como uma proibição constitucional de

tributar.

- Paulo Bastos denomina a isenção como “norma de conduta”.

- O resultado concreto é o mesmo: não pagamento de tributo. Mas os fundamentos

são totalmente distintos.

- A imunidade traduz uma norma constitucional na mesma esfera da delimitação de

competências. Por isso Paulo Bastos diz que pe uma regra negativa de competência;

faz parte da estrutura da constituição no que diz respeito à delimitação de

competências.

- Já a isenção é prevista em lei; então é regra de conduta, diz respeito à atuação

específica do contribuinte, que deixa de recolher o tributo por simples previsão legal.

- Existe diferença principalmente quanto à possibilidade de revogação. A imunidade,

apenas por meio de emenda constitucional; enquanto a isenção, basta a revogação da

lei que a instituiu.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 87

2. Art. 175, CTN: Modalidades de Exclusão do Crédito Tributário

Art. 175, CTN: “Excluem o crédito tributário: I - a isenção; II - a anistia.

Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento

das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja

excluído, ou dela conseqüente.”

3. Tese de Paulo Bastos de Carvalho

a) Na isenção, não há crédito, logo não há o que excluir!

- Na isenção, Paulo Bastos defende que o crédito não chega a se constituir; se não há

crédito constituído, não há crédito a ser excluído.

- Essa exclusão do crédito tributário vem de Rubens Gomes e Souza, baseado na

doutrina italiana, quando não havia muita reflexão sobre o assunto. O autor dizia que a

isenção é a dispensa legal do pagamento do tributo devido. Mas se o imposto é

devido, é porque há o crédito tributário.

- Paulo Bastos de Carvalho diz que esse conceito é equívoco porque não há crédito a

ser dispensado na medida em que a norma de isenção afasta a incidência da norma de

tributação. Então uma norma que estabeleça uma isenção, impede a atuação in

concreto da norma tributária, da norma instituidora do tributo.

Exemplo: a norma isentiva quando diz que o pescador artesanal está isento de IPTU;

isso significa que não incide a norma tributária, mas a norma de isenção. Então não há

fato gerador para essa situação, porque existe uma norma específica que concede a

isenção. Não é dispensa do tributo devido, porque tributo devido, nesse caso, não há.

- Há duas interpretações, portanto, radicalmente distintas uma da outra. Existe uma

corrente intermediária que diz que o paragrafo único do art. 175 exige que sejam

cumpridas as obrigações acessórias para que a obrigação principal seja excluída. Como

o acessório segue o principal, ocorre o fato gerador e nasce a obrigação tributária

principal (só não há a constituição do crédito tributário por força da norma de

isenção).

A ideia é refutada por Paulo Bastos de Carvalho, que defende que a obrigação

acessória não tem cunho patrimonial, não estão ligadas à questão financeira –

são encargos administrativos, equivocadamente denominados pela doutrina

como ‘obrigações acessórias’. Na verdade, são deveres instrumentais.

- Os tribunais no Brasil têm adotado uma posição mais conservadora, na linha de

Rubens Gomes de Souza, firmando essa ideia de dispensa legal do pagamento do

tributo devido.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 88

b) Anistia é perdão de penalidades por infrações à legislação tributária!

- Logo, não há crédito tributário a ser excluído.

- Quando à anistia, a doutrina brasileira hoje concorda com Paulo Bastos de Carvalho,

que anistia diz respeito ao perdão por infração à legislação tributária – não haveria

crédito, e sim penalidade tributária.

Seção II – Isenção

1. Art. 176, CTN: Lei como Requisito

Art. 176, CTN: “A isenção, ainda quando prevista em contrato, é sempre

decorrente de lei que especifique as condições e requisitos exigidos para a sua

concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de sua duração.

Parágrafo único. A isenção pode ser restrita a determinada região do território

da entidade tributante, em função de condições a ela peculiares.”

- A primeira noção importante é que a isenção tem que estar prevista em lei. Ainda

quando prevista em contrato – o estado pode, eventualmente, conceder uma isenção

contratual a determinada atividade, por ser um interesse público – tem que ter lei

estabelecendo as condições, os requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a

que se aplica e o prazo de sua duração.

Art. 172, V, CTN: “A lei pode autorizar a autoridade administrativa a conceder,

por despacho fundamentado, remissão total ou parcial do crédito tributário,

atendendo: [...] II - ao erro ou ignorância excusáveis do sujeito passivo, quanto

a matéria de fato;”

- Tanto a isenção quanto a remissão podem ser concedidas em função de problemas

regionais – atividades econômicas que necessitem de maior atenção do poder público

em função de problemas conjunturais, por exemplo.

2. Art. 177, CTN: Extensão da Isenção

Art. 177, CTN: “Salvo disposição de lei em contrário, a isenção não é extensiva: I

- às taxas e às contribuições de melhoria; II - aos tributos instituídos

posteriormente à sua concessão.”

- Alguns autores dizem que essa não extensão da isenção à taxa de contribuição de

melhoria, se estenderia também aos empréstimos compulsórios e às contribuições

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 89

especiais (e ambos não constam no código porque à época ainda se discutia seu

caráter tributário).

- Não há isenção futura.

3. Art. 178, CTN: Revogação/ Modificação da Isenção

Art. 178, CTN: “A isenção, salvo se concedida por prazo certo e em função de

determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer

tempo, observado o disposto no inciso III do art. 104. (Redação dada pela Lei

Complementar nº 24, de 7.1.1975)”

- Existe um aposto no dispositivo: “salvo se concedida por prazo certo e em função de

determinadas condições”. Até o advento da Lei Complementar nº 24, a redação deste

aposto não era com “e”, mas com “ou”.

- Se a isenção for concedida por prazo certo e em função de determinadas condições,

mesmo que a lei venha a ser revogada, o contribuinte vai usufruir do benefício até o

final do prazo, desde que cumpridos os requisitos exigidos para a sua concessão.

- Então há aqui uma situação interessante: uma lei revogada, não mais vigente, mas

eficaz. Uma lei concessiva de isenção, estabelecendo condições para a isenção e

estabelecendo um prazo, desde que cumpridos os requisitos, pode ser revogada a

qualquer tempo; mas a isenção concedida com base nessa lei revogada, vai usufruir do

benefício até findar o prazo, mesmo com a lei revogada.

Exemplo: a lei municipal que elenca requisitos para que uma indústria receba isenção

de tributos municipais por 10 anos, como forma de incentivo à economia da região (o

que faz com que outros tributos sejam recolhidos através do comércio, da prestação

de serviços, etc.). Sobrevém uma nova lei revogando todos os benefícios concedidos. O

empresário possui direito adquirido: vai desfrutar no benefício pelos próximos 10

anos, com uma lei revogada, que continua sendo eficaz.

- O artigo 104 diz respeito à revogação da lei de isenção.

Art. 104, III, CTN: “Entram em vigor no primeiro dia do exercício seguinte àquele

em que ocorra a sua publicação os dispositivos de lei, referentes a impostos

sobre o patrimônio ou a renda: [...] III - que extinguem ou reduzem isenções,

salvo se a lei dispuser de maneira mais favorável ao contribuinte, e observado o

disposto no artigo 178.”

- Lembrando que a jurisprudência do STF é contrária à aplicação desse inciso III do

artigo 104, CTN – o tributo pode ser exercido imediatamente, não precisa aguardar o

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exercício seguinte. O fundamento da jurisprudência é o princípio da isonomia. A

isenção é regra excepcional à regra geral, que é de tributação, e, ante a eventual

revogação, não há necessidade de aguardar o exercício seguinte.

- A doutrina entende que a revogação de uma isenção implica em surpreender o

contribuinte com um tributo novo, que influencia no planejamento do contribuinte em

determinado exercício.

- Há um conflito de princípios, entre a isonomia e a anterioridade. O supremo

privilegiou, na interpretação concedida, o princípio da isonomia.

Súmula 544, do STF: “Isenções tributárias concedidas sob condição onerosa,

não podem ser livremente suprimidas”.

4. Art. 179, CTN

Art. 179, CTN: “A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada,

em cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento

com o qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do

cumprimento dos requisitos previstos em lei ou contrato para sua concessão. §

1º Tratando-se de tributo lançado por período certo de tempo, o despacho

referido neste artigo será renovado antes da expiração de cada período,

cessando automaticamente os seus efeitos a partir do primeiro dia do período

para o qual o interessado deixar de promover a continuidade do

reconhecimento da isenção. § 2º O despacho referido neste artigo não gera

direito adquirido, aplicando-se, quando cabível, o disposto no artigo 155.”

- O § 2º diz que não gera direito adquirido, portanto o despacho vai determinar o

prazo. Se o contribuinte continuar preenchendo os requisitos, antes do final do prazo,

tem que entrar com novo pedido – então não há renovação automática. Se não

renovar, perdeu o benefício.

TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ISENÇÃO. LEI N. 5.523/68. MODIFICAÇÃO.

POSSIBILIDADE. LEI N. 9.069/95. ART. 178 DO CTN. 1. O legislador tem liberdade para

modificar isenções tributárias desde que o benefício não tenha sido concedido

onerosamente, sob condição ou com prazo determinado. 2. A isenção outorgada pela

Lei n. 5.523/68 para importação de equipamentos utilizados no fornecimento de

energia elétrica não foi por prazo certo e em função de certas condições, razão pela

qual poderia ser modificada pela Lei n. 9.069/95, a teor do que dispõe o art. 178 do

Código Tributário Nacional. (REsp 478982 / RO, Rel. Min. João Otávio de Noronha)

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 91

- Se a lei não foi revogada, pode requerer a continuidade do benefício através de um

novo processo administrativo em que comprova que continua preenchendo as

condições.

Art. 155, CTN: “A concessão da moratória em caráter individual não gera direito

adquirido e será revogado de ofício, sempre que se apure que o beneficiado não

satisfazia ou deixou de satisfazer as condições ou não cumprira ou deixou de

cumprir os requisitos para a concessão do favor, cobrando-se o crédito

acrescido de juros de mora: I - com imposição da penalidade cabível, nos casos

de dolo ou simulação do beneficiado, ou de terceiro em benefício daquele; II -

sem imposição de penalidade, nos demais casos. Parágrafo único. No caso do

inciso I deste artigo, o tempo decorrido entre a concessão da moratória e sua

revogação não se computa para efeito da prescrição do direito à cobrança do

crédito; no caso do inciso II deste artigo, a revogação só pode ocorrer antes de

prescrito o referido direito.”

Seção III – Anistia

1. Arts. 180, CTN: Abrangência da Anistia

- A anistia abrange exclusivamente as infrações cometidas anteriormente à vigência da

lei que a concede (art. 180, CTN).

Art. 180, CTN: “A anistia abrange exclusivamente as infrações cometidas

anteriormente à vigência da lei que a concede, não se aplicando: I - aos atos

qualificados em lei como crimes ou contravenções e aos que, mesmo sem essa

qualificação, sejam praticados com dolo, fraude ou simulação pelo sujeito

passivo ou por terceiro em benefício daquele; II - salvo disposição em contrário,

às infrações resultantes de conluio entre duas ou mais pessoas naturais ou

jurídicas.”

- A anistia é perdão da infração ou perdão da penalidade? A redação do artigo 180

induz a um equívoco, porque alguns entendem que a anistia é o perdão da infração.

Mas a anistia perdoa a penalidade pela infração cometida.

- Se o sujeito recebeu uma anistia e depois se verifica que ele cometeu alguma

infração para justificar a concessão da anistia, será penalizado sobre aquela mesma

infração cometida que não foi limpa de jeito nenhum. Então a anistia abrange as

infrações, mas alcança a penalidade.

Inciso II: isso significa que no direito tributário pode haver uma lei permitindo o

conluio para fraudar o fisco. Notória a falta de atenção do legislador neste aspecto.

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2. Arts. 181 e 182, CTN: Regra Geral

Art. 181, CTN: “A anistia pode ser concedida: I - em caráter geral; II -

limitadamente: a) às infrações da legislação relativa a determinado tributo; b)

às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado montante,

conjugadas ou não com penalidades de outra natureza; c) a determinada

região do território da entidade tributante, em função de condições a ela

peculiares; d) sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei

que a conceder, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à autoridade

administrativa.”

Inciso II, b: a despesa com a execução supera o que será obtido.

Art. 182, CTN: “A anistia, quando não concedida em caráter geral, é efetivada,

em cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento

com a qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do

cumprimento dos requisitos previstos em lei para sua concessão. Parágrafo

único. O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido, aplicando-

se, quando cabível, o disposto no artigo 155.”

“[...] sendo o débito conseqüente de procedimento que a lei equiparou à apropriação

indébita, não se aplica a anistia [...] face o disposto no art.180, I, CTN” (TFR, 4ª T., AC

48655/PR, Rel.: Armando Rolemberg, dec. 20/08/80)

“O perdão à penalidade fiscal (art.180, CTN), dá-se mediante anistia, hipótese de exclusão

tributária somente viável através de lei e não por meio de simples portaria. Recurso provido”.

(STJ - REsp 70927 / DF Recurso Especial 1995/0037270-3 Relator Ministro Demócrito

Reinaldo)

“Revogação de anistia fiscal por ocorrência de fraude. Necessidade de processo

administrativo para apurar se houve qualquer das ressalvas do art. 180 do CTN. [...]

[...] I. A jurisprudência da Primeira Seção sedimentou entendimento de que somente deve ser

repudiada por ilegalidade a revogação da anistia se não engendrado o procedimento

administrativo com obediência ao contraditório e ao devido processo legal. Lícita é a

revogação da anistia. ....” (STJ. AGA 431059/PR. Rel.: Min. Luiz Fux. 1ª Turma. Decisão:

13/08/02. DJ de 23/09/02, p. 277.)

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 93

Capítulo IV – Das Garantias e Privilégios do Crédito Tributário

Seção I – Disposições Gerais

1. Introdução

- Antes de adentrar aos dispositivos referentes a este capítulo, é importante não

confundir ‘garantias’, ‘privilégios’ e ‘preferências.

GARANTIA: é o meio ou modo de assegurar o direito, de dar eficácia

ao cumprimento de uma obrigação (medida assecuratória);

PRIVILÉGIO: é uma regalia que a lei concede a um dado crédito de

ser pago com preferência a outros;

PREFERÊNCIA: é o pagamento prioritário de um crédito em desfavor

daqueles que com ele concorrem.

2. Garantias do Crédito Tributário

- O Código Tributário Nacional confere ao Crédito Tributário uma série de garantias.

Genericamente, os créditos tributários são garantidos pelo patrimônio do devedor.

- As garantias, sejam elas reais (hipoteca ou penhor) ou pessoais (aval ou fiança),

melhoram a qualidade do crédito – dão à Fazenda maiores condições de satisfazer seu

direito.

“[...] a alegação de não caber ao Poder Judiciário a análise dos requisitos estabelecidos pelo

art. 182 do CTN, que trata da anistia fiscal em caráter individual, mas somente à

Administração Pública, não tem razão de ser, haja vista que, uma vez preenchidas as

condições impostas pela sobredita norma de regência - direito líquido e certo do impetrante

- e caso não seja deferida a benesse fiscal ao contribuinte por despacho da autoridade

administrativa, pode o órgão jurisdicional competente conferir ao destinatário do comando

legal o proveito do perseguido privilégio tributário”.

AgRg no Ag 1340457 / BA - 2010/0151521-4 Rel.Min.Castro Meira

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3. Art. 183, CTN: Regra Geral

Art. 183, CTN: “A enumeração das garantias atribuídas neste Capítulo ao

crédito tributário não exclui outras que sejam expressamente previstas em lei,

em função da natureza ou das características do tributo a que se refiram.

Parágrafo único. A natureza das garantias atribuídas ao crédito tributário não

altera a natureza deste nem a da obrigação tributária a que corresponda.”

- Conforme o art. 183, o crédito tributário pode abarcar outras garantias, dependendo

da natureza do tributo. É comum, por exemplo, a exigência de garantias nos acordos

de parcelamento entre a Fazenda Pública e o SP.

§ único: por exemplo, não deixa de ser tributário o crédito, para ser hipotecário.

4. Art. 184, CTN

Art. 184, CTN: “Sem prejuízo dos privilégios especiais sobre determinados bens,

que sejam previstos em lei, responde pelo pagamento do crédito tributário a

totalidade dos bens e das rendas, de qualquer origem ou natureza, do sujeito

passivo, seu espólio ou sua massa falida, inclusive os gravados por ônus real ou

cláusula de inalienabilidade ou impenhorabilidade, seja qual for a data da

constituição do ônus ou da cláusula, excetuados unicamente os bens e rendas

que a lei declare absolutamente impenhoráveis.”

- A imunidade com relação ao ITR está prevista tanto na Constituição quanto no CPC.

- A Constituição de 1969, dizia que eram imunes as pequenas glebas de até 25

hectares, que só podia ser explorada pelos membros da família. Para se adequar às

diferentes realidades fundiárias do Brasil, o Constituinte de 1988 disse que pequena

gleba rural era a definida em lei, para abranger as diferentes regiões do Brasil: 50

hectares no Norte, 80 na Amazônia Ocidental e Centro-Oeste.

- Igualmente, é impenhorável a poupança de até 40 salários-mínimos.

OBS! Se a instituição é devedora, mas tem recursos públicos investidos na instituição,

não pode ser penhorada para pagar crédito tributário.

Art. 649, CPC: “São absolutamente impenhoráveis: I - os bens inalienáveis e os

declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II – os móveis,

pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado,

salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns

correspondentes a um médio padrão de vida; III – os vestuários, bem como os

pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; IV - os

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 95

vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de

aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por

liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os

ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal,

observado o disposto no §3º deste artigo; V - os livros, as máquinas, as

ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários

ou úteis ao exercício de qualquer profissão; VI – o seguro de vida; VII - os

materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem

penhoradas; VIII – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde

que trabalhada pela família; IX – os recursos públicos recebidos por instituições

privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;

X – até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em

caderneta de poupança (hoje, R$ 24.880,00 , com o SM de R$ 622 ,00).”

5. Art. 185, CTN: Fraude à Execução

Art. 185, CTN: “Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou

rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda

Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa.

(Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005) Parágrafo único. O disposto neste

artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens

ou rendas suficientes ao total pagamento da dívida inscrita. (Redação dada

pela Lcp nº 118, de 2005)”

- Note-se, inicialmente, que a redação do artigo foi dada pela LC 118, que adaptou o

CTN a lei de falência.

- “Crédito tributário regularmente inscrito como divida ativa”: Mesmo que não tivesse

iniciado a execução, mas desde que o crédito já estivesse inscrito na dívida pública, se

o contribuinte alienasse algum bem, entendia-se que era fraude. Outros diziam que

não bastava a inscrição em dívida ativa; deveria haver o ingresso em juízo para iniciar a

execução, por parte da Fazenda Pública, e se, a partir de então, mesmo sem haver sido

citado, o contribuinte vendesse bens, poderia ser arguida fraude à execução. Ainda,

outra corrente entendia que só haveria a presunção de fraude depois da fase de

execução.

- Fernando Henrique Cardoso, à época senador, apresentou a proposta segundo a qual

era suficiente a inscrição em dívida ativa. Portanto, não há necessidade de proposição

da ação; eis a nova redação do art. 185, dada pela LC 118.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 96

- Se o contribuinte tem crédito tributário inscrito contra si e vende um imóvel, não

necessariamente é fraude a execução se ele possui outros bens capazes de satisfazer a

execução. Portanto não se aplica na hipótese de o devedor ter reservado bens.

- O STJ, em 2005, posicionou-se entendendo que só cabia fraude após a citação do

devedor. Os Procuradores Fiscais, por sua vez, sustentavam ser necessária apenas a

inscrição em dívida pública. Hoje, entende-se que basta a inscrição do débito em

dívida ativa.

OBS! Entretanto, há decisões que entendem que a inscrição na divida ativa não é

suficiente para presumir fraude.

6. Art. 185-A, CTN

Art.185-A, CTN: “Na hipótese de o devedor tributário, devidamente citado, não

pagar nem apresentar bens à penhora no prazo legal e não forem encontrados

bens penhoráveis, o juiz determinará a indisponibilidade de seus bens e direitos,

comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e

entidades que promovem registros de transferência de bens, especialmente ao

registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário

e do mercado de capitais, a fim de que, no âmbito de suas atribuições, façam

cumprir a ordem judicial. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005) § 1o A

indisponibilidade de que trata o caput deste artigo limitar-se-á ao valor total

exigível, devendo o juiz determinar o imediato levantamento da

indisponibilidade dos bens ou valores que excederem esse limite. (Incluído pela

Lcp nº 118, de 2005) § 2o Os órgãos e entidades aos quais se fizer a

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. ALIENAÇÃO DE VEÍCULO. FRAUDE À

EXECUÇÃO. ART. 185 DO CTN (REDAÇÃO ANTERIOR À VIGÊNCIA DA LC 118/2005). NÃO-

CARACTERIZAÇÃO.

1. "Não há como se presumir a alienação fraudulenta quando de tal operação não decorrer

(...) situação de insolvência do devedor", pois "a alienação de bens isoladamente

considerada não é capaz de atrair a presunção de que trata o art. 185 do CTN, vez que esta

somente pode ser entendida como fraudulenta quando ocasiona a diminuição patrimonial

do executado" (REsp 493.131/RS, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ de 10.10.2005).

2. Por outro lado, para que fosse caracterizada a fraude à execução prevista no art. 185 do

CTN (redação anterior à edição da LC 118/2005), era imprescindível que a alienação do bem

controvertido tivesse ocorrido após a citação do devedor.

(REsp 690260/CE, Rel. Min. Denise Arruda, DJ 31.05.07.)

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 97

comunicação de que trata o caput deste artigo enviarão imediatamente ao

juízo a relação discriminada dos bens e direitos cuja indisponibilidade houverem

promovido. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)”

§ 1º: tal previsão gerava problemas, porque o juiz comunicava a indisponibilidade de

renda e os bancos bloqueavam os depósitos do devedor, além do valor exigível.

§2º: “imediatamente”: nunca pode ser imediatamente; sempre leva um pouco mais

que 48h para se confirmar a penhora, o juiz ver que excedeu a o valor exequendo e,

então, avisar ao banco sobre o excesso. Esses foram os problemas da penhora on-line.

- O §2º deveria vir antes do § 1º.

- Introduzida pela Lei Federal nº 11.382, de 06 de dezembro de 2006, no artigo 655-A

do Código de Processo Civil, anteriormente prevista nas execuções fiscais, no artigo

185-A do Código Tributário Nacional, por força da Lei Complementar nº 118, de 2005,

a penhora pela via eletrônica, também conhecida como penhora on-line, é ato

executório que recai sobre dinheiro em depósito ou aplicação financeira.

- É o meio rápido, seguro e econômico de enviar ordens judiciais ao Sistema Financeiro

Nacional, facilitando a tramitação de bloqueio e desbloqueio, transferência de

quantias existentes em contas-correntes e outros ativos financeiros de clientes

cadastrados.

Art. 655-A CPC: “Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou

aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à

autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio

eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado,

podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado

na execução. (Incluído pela Lei nº 11.382, de 2006).”

- O Conselho Nacional de Justiça, por meio da Resolução nº 61, de 07 de outubro de

2008, disciplinou o procedimento de cadastramento em conta única para efeito de

constrição de valores em dinheiro por intermédio do convênio Bacen-Jud (Sistema

Nacional de Cadastramento de Contas Únicas do BACENJUD), possibilitando a qualquer

pessoa, física ou jurídica, a solicitação do cadastramento de conta única apta a acolher

bloqueios realizados por estes sistemas.

- O cadastro de conta única foi uma reação ao abuso por parte da Fazenda Pública ao

bloqueio de várias contas.

Penhora On-Line

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 98

- Aspectos sobre a penhora online:

Eficiência na cobrança x abuso do Fisco

Necessidade de decreto regulamentador

Esgotamento prévio dos demais meios p/ encontrar bens (nomeação de

administrador, limitação percentual)

Seção II – Preferências

1. Art. 186, CTN: Regra Geral

Art. 186, CTN: “O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua

natureza ou o tempo de sua constituição, ressalvados os créditos decorrentes

da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho. (Redação dada pela Lcp

nº 118, de 2005) Parágrafo único. Na falência: (Incluído pela Lcp nº 118, de

2005) I – o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às

importâncias passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos

créditos com garantia real, no limite do valor do bem gravado; (Incluído pela

Lcp nº 118, de 2005) II – a lei poderá estabelecer limites e condições para a

preferência dos créditos decorrentes da legislação do trabalho; e (Incluído pela

Lcp nº 118, de 2005) III – a multa tributária prefere apenas aos créditos

subordinados. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)”

- O crédito tributário prefere a qualquer outro. Em eventual concurso de créditos, a

Fazenda Pública tem preferência sobre todos os demais. O único que supera é o

trabalhista e acidente de trabalho.

§ único, Inciso I: por exemplo, custas judiciais devidas pela massa falida, remuneração

do administrador judicial (art.83 da lei de falências).

Art. 83, da Lei 11.101/05: “Serão considerados créditos extraconcursais e serão

pagos com precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a

seguir, os relativos a: I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus

auxiliares, e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de

acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da

falência; II – quantias fornecidas à massa pelos credores; III – despesas com

arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu produto,

bem como custas do processo de falência; IV – custas judiciais relativas às

ações e execuções em que a massa falida tenha sido vencida; V – obrigações

resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial,

nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 99

relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada

a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.”

- Portanto, a Lei de Falências traz exceções à ausência de concurso de credores para o

Crédito Tributário, em seu artigo 83. Dentre eles: a) crédito CLT ou acidente do

trabalho até 150 SM; b) garantia real até o limite do bem gravado; c) créditos

tributários; d) créditos com privilégio especial (art. 964, CC); e) créditos com privilégio

geral (art. 965, CC); f) créditos quirografários (ex. saldo trabalhista); g) multas penais,

administrativas, tributárias; h) créditos subordinados (de sócios e administradores sem

vínculo).

2. Art. 187, CTN: Desnecessidade de Habilitação

Art. 187, CTN: “A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso

de credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata,

inventário ou arrolamento. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005) Parágrafo

único. O concurso de preferência somente se verifica entre pessoas jurídicas de

direito público, na seguinte ordem: I - União; II - Estados, Distrito Federal e

Territórios, conjuntamente e pró rata; III - Municípios, conjuntamente e pró

rata.”

- Ou seja, se a Fazenda Pública tem um crédito tributário em processo de falência ou

de recuperação judicial, tem preferência sobre todos, exceto sobre os trabalhistas.

§ único: traz a ordem de preferência entre pessoas jurídicas de direito público. Alguns

autores questionam a constitucionalidade deste artigo porque fere a isonomia das

pessoas públicas.

- “Pro-rata”: significa na proporção dos seus créditos.

- A questão é se o dispositivo seria inconstitucional por estar atrelado aos privilégios da

União nas constituições passadas. Hoje fere o princípio da isonomia das pessoas

políticas, como defende Paulo Bastos de Carvalho.

Súmula 563, STF: “O concurso de preferências a que se refere o § único, o art.

187, CTN é compatível com o art. 9, I, da Constituição (de 1967)”.

Art. 19, III CF: “À União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Territórios e aos

Municípios é vedado criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si;

[...]”

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 100

- O entendimento predominante no STJ é de que pensão alimentícia tem preferência

sobre crédito tributário. É uma construção jurisprudencial contrária à lei. A doutrina se

divide.

- Contudo, a jurisprudência diz que honorários advocatícios não são equiparados a

créditos trabalhistas. Há também divergência sobre a natureza alimentar dos

honorários advocatícios contratuais. A partir de 2009, o STJ orientou-se no sentido de

que os honorários advocatícios contratuais têm natureza alimentar e têm aos

preferência sobre os créditos tributários, enquanto os honorários sucumbenciais não

têm natureza alimentar.

- O Estatuto da OAB é lei ordinária e não se sobrepõe à Lei Complementar, que é o CTN

– os advogados dizem que essa tese não vale porque depois de aprovada não há

hierarquia entre lei complementar e ordinária.

3. Arts. 188 a 193, CTN

Art. 188, CTN: “São extraconcursais os créditos tributários decorrentes de fatos

geradores ocorridos no curso do processo de falência. (Redação dada pela Lcp

nº 118, de 2005) § 1º Contestado o crédito tributário, o juiz remeterá as partes

ao processo competente, mandando reservar bens suficientes à extinção total

do crédito e seus acrescidos, se a massa não puder efetuar a garantia da

instância por outra forma, ouvido, quanto à natureza e valor dos bens

reservados, o representante da Fazenda Pública interessada. § 2º O disposto

neste artigo aplica-se aos processos de concordata.”

Art. 189, CTN: “São pagos preferencialmente a quaisquer créditos habilitados

em inventário ou arrolamento, ou a outros encargos do monte, os créditos

tributários vencidos ou vincendos, a cargo do de cujus ou de seu espólio,

exigíveis no decurso do processo de inventário ou arrolamento. Parágrafo

“[...] II. A teor do disposto nos artigos 184, 186 e 187, do CTN, 2º e 29, da Lei 6.830, o

legislador estabeleceu, de forma explícita, ordem de preferência de créditos entre a União e

os demais entes federativos, conferindo primazia aos daquela. Não obstante, o crédito

federal sub judice, além de ainda não estar vencido e, portanto, inscrito em dívida ativa, não

ostenta natureza tributária e tem origem em financiamento concedido pelo Banco do Brasil.

Nesse sentido, os créditos tributários preferem a qualquer outro, seja qual for sua natureza,

exceto os decorrentes da legislação trabalhista. ....”

(TRF-4ª Região. AG 2003.04.01.047646-6/SC. Rel.: Des. Federal Vivian Josete Pantaleão

Caminha. 1ª Turma. Decisão: 08/11/06. DE de 01/02/07.)

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 101

único. Contestado o crédito tributário, proceder-se-á na forma do disposto no §

1º do artigo anterior.”

Art. 190, CTN: “São pagos preferencialmente a quaisquer outros os créditos

tributários vencidos ou vincendos, a cargo de pessoas jurídicas de direito

privado em liquidação judicial ou voluntária, exigíveis no decurso da

liquidação.”

Art. 191, CTN: “A extinção das obrigações do falido requer prova de quitação de

todos os tributos. (Redação dada pela Lcp nº 118, de 2005)”

Art. 191-A, CTN: “A concessão de recuperação judicial depende da

apresentação da prova de quitação de todos os tributos, observado o disposto

nos arts. 151, 205 e 206 desta Lei. (Incluído pela Lcp nº 118, de 2005)”

Art. 192, CTN: “Nenhuma sentença de julgamento de partilha ou adjudicação

será proferida sem prova da quitação de todos os tributos relativos aos bens do

espólio, ou às suas rendas.”

Art. 193, CTN: “Salvo quando expressamente autorizado por lei, nenhum

departamento da administração pública da União, dos Estados, do Distrito

Federal, ou dos Municípios, ou sua autarquia, celebrará contrato ou aceitará

proposta em concorrência pública sem que o contratante ou proponente faça

prova da quitação de todos os tributos devidos à Fazenda Pública interessada,

relativos à atividade em cujo exercício contrata ou concorre.”

- Aqui surgem os problemas das empresas de concorrência pública. Certidão Negativa

de Débito é indispensável para que as empresas participem da licitação.

- Surge, também, o problema da Certidão Positiva com Efeito Negativo, adquirida pelas

empresas que devem ao Fisco, mas parcelaram o crédito tributário e ficam com

certidão positiva para participar da concorrência. O problema surge se essas empresas

não cumprirem o parcelamento.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 102

TÍTULO IV – ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA

Capítulo I – Fiscalização

- CAC (Central de Atendimento ao Contribuinte da SRF): presta uma série de serviços

aos contribuintes, desde cálculo de tributos, fornecimento de certidões, cadastro,

pedidos de parcelamento, restituições, orientações acerca de processos,

esclarecimentos sobre a legislação tributária. (Portaria MF nº 227, 03/09/98).

1. Art. 194, CTN: Poderes dos Fiscais

Art. 194, CTN: “A legislação tributária, observado o disposto nesta Lei, regulará,

em caráter geral, ou especificamente em função da natureza do tributo de que

se tratar, a competência e os poderes das autoridades administrativas em

matéria de fiscalização da sua aplicação. Parágrafo único. A legislação a que se

refere este artigo aplica-se às pessoas naturais ou jurídicas, contribuintes ou

não, inclusive às que gozem de imunidade tributária ou de isenção de caráter

pessoal.”

§ único: o dever de cumprir as regras tributárias não isenta nem os imunes nem os

isentos. O código não dispensa os imunes e os isentos ao cumprimento de normas

tributárias porque a Fazenda só vai poder fiscalizar esses imunes e isentos se eles

cumprirem os encargos tributários. Por exemplo, os sindicatos, possuem imunidade

condicionada ao CTN.

2. Art. 195, CTN

Art. 195, CTN: “Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação

quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar

mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou

fiscais, dos comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de

exibi-los. Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e

fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão conservados

até que ocorra a prescrição dos créditos tributários decorrentes das operações a

que se refiram.”

- O antigo Código Comercial, que foi substituído pelo Código Civil de 2002, estabelecia

alguns dispositivos que permitiam ao comerciante não apresentar livros comerciais

como forma resguardar suas atividades da concorrência.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 103

- O STF pacificou que estão sujeitos à fiscalização quaisquer livros comerciais, desde

que pertinentes ao objeto de investigação.

Súmula 439, STF: “estão sujeitos à fiscalização tributárias ou previdenciária

quaisquer livros comerciais, limitado o exame aos pontos objeto da

investigação”.

- Atividade de fiscalização x resultado da fiscalização: só o resultado se sujeita ao

amplo controle jurisdicional. A negativa de apresentação de livros ou documentos

pode ensejar o lançamento por arbitramento, que é uma técnica que a autoridade faz

o lançamento por si só com base nas informações que detém.

Art. 148, CTN: “Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em

consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a

autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou

preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os

esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou

pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação,

avaliação contraditória, administrativa ou judicial.”

- O contribuinte pode se opor a esse lançamento.

3. Arts. 196, CTN: Procedimento de Fiscalização

Art. 196, CTN: “A autoridade administrativa que proceder ou presidir a

quaisquer diligências de fiscalização lavrará os termos necessários para que se

documente o início do procedimento, na forma da legislação aplicável, que

fixará prazo máximo para a conclusão daquelas. Parágrafo único. Os termos a

que se refere este artigo serão lavrados, sempre que possível, em um dos livros

fiscais exibidos; quando lavrados em separado deles se entregará, à pessoa

sujeita à fiscalização, cópia autenticada pela autoridade a que se refere este

artigo.”

- O início do procedimento fiscalizatório só é formalizado com o termo de abertura de

fiscalização, que tem que ser em livro próprio (o princípio documental informa o

procedimento fiscal).

- Um processo de fiscalização pode ser aberto numa folha aberto. Por exemplo, o livro

fiscal encerrou e não tinha mais páginas; o fiscal pegou um bloco e escreveu no

cabeçalho “Termo de Abertura de Fiscalização”. Mas sempre que possível, os termos

de abertura de fiscalização tem que ser no livro fiscal. O fiscalizado tem que estar

ciente da fiscalização aberta contra ele.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 104

4. Art. 197, CTN: Obrigatoriedade de Prestar Informações

Art. 197, CTN: “Mediante intimação escrita, são obrigados a prestar à

autoridade administrativa todas as informações de que disponham com relação

aos bens, negócios ou atividades de terceiros: I - os tabeliães, escrivães e

demais serventuários de ofício; II - os bancos, casas bancárias, Caixas

Econômicas e demais instituições financeiras; III - as empresas de

administração de bens; IV - os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais; V -

os inventariantes; VI - os síndicos, comissários e liquidatários; VII - quaisquer

outras entidades ou pessoas que a lei designe, em razão de seu cargo, ofício,

função, ministério, atividade ou profissão. Parágrafo único. A obrigação

prevista neste artigo não abrange a prestação de informações quanto a fatos

sobre os quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em

razão de cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão.”

- O artigo consagra a obrigatoriamente de prestar informações à autoridade

administrativa.

§ único: É o caso do advogado que representa determinada empresa e que recebe

informações sobre ela, em função do mandato. Possui informações em função do seu

ofício e, portanto, estaria protegido pelo seu sigilo. Mas a não abrangência da

prestação essas informações diz respeito estritamente aos negócios que envolvem a

prestação de serviço pelo advogado.

- Hoje se entende que os advogados e contadores só podem prestar informações à

Receita sobre matéria que não é objeto do contrato entre o advogado e o cliente. Se o

sujeito vai ao advogado para tratar de mudança de nome e o advogado é notificado

para prestar informações sobre o patrimônio da família, o advogado pode falar,

porque está fora do processo específico ao qual foi contratado.

Art. 5º, XII, CF: “[...] é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações

telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso,

por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de

investigação criminal ou instrução processual penal;”

- Discutiu-se se os bancos tinham que prestar informações sobre todos os bens dos

seus clientes, em virtude da expressão dos dados entre vírgulas. Bancos diziam que são

invioláveis os dados individuais em acordo com o preceito constitucional. Essa

discussão foi superada pela lei posterior, segundo a qual, desde que a Receita

comunique, com processo regular administrativo, sem autorização judicial, ao banco

para fornecer informações, os bancos o devem fazer.

OBS! Existe distinção entre sigilo bancário e fiscal: o banco não está coberto pelo sigilo

fiscal, só pelo bancário (hoje fisco recebe informações dos bancos).

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 105

5. Art. 198, CTN: Sigilo Funcional

Art. 198, CTN: “Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a

divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação

obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito

passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou

atividades. (Redação dada pela Lcp nº 104, de 10.1.2001)

§ 1º Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no

art. 199, os seguintes: (Redação dada pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) I –

requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça; (Incluído pela Lcp nº

104, de 10.1.2001) II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da

Administração Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de

processo administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de

investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por prática de

infração administrativa. (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001)

§ 2º O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração

Pública, será realizado mediante processo regularmente instaurado, e a entrega

será feita pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que

formalize a transferência e assegure a preservação do sigilo. (Incluído pela Lcp

nº 104, de 10.1.2001)

§ 3º Não é vedada a divulgação de informações relativas a: (Incluído

pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) I – representações fiscais para fins penais;

(Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) II – inscrições na Dívida Ativa da

Fazenda Pública; (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001) III – parcelamento ou

moratória. (Incluído pela Lcp nº 104, de 10.1.2001)”

- Os parágrafos 1º a 3º constituem exceções, incluídas pela LC 104/2001.

§ 1º, Inciso II: durante muito tempo alegou-se que a autoridade administrativa não

teria essa competência para pleitear, por si só, a concessão de informações pelo órgão

fazendário. Para fins de instauração do processo administrativo, a administração

pública pode pleitear tais informações.

§ 2º: aqui é uma regra simples dentro do processo administrativo nesses casos no

sentido de manter o sigilo fiscal.

- Se o contribuinte pede um parcelamento, a fazenda pode, no órgão respectivo,

solicitar informações no outro fazendário, para verificar se há condições de cumprir

aquele parcelamento. Então são exceções à regra geral do artigo 198.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 106

6. Art. 199, CTN: Atuação Integrada das Administrações Tributárias

Art. 199, CTN: “A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal

e dos Municípios prestar-se-ão mutuamente assistência para a fiscalização dos

tributos respectivos e permuta de informações, na forma estabelecida, em

caráter geral ou específico, por lei ou convênio. Parágrafo único. A Fazenda

Pública da União, na forma estabelecida em tratados, acordos ou convênios,

poderá permutar informações com Estados estrangeiros no interesse da

arrecadação e da fiscalização de tributos. (Incluído pela Lcp nº 104, de

10.1.2001)”

- A regra do caput é no plano interno; a do parágrafo único, no plano externo.

- O art. 37, inciso XXII, CF, traz a regra constitucional de atuação de forma integrada

das fazendas públicas, no que concerne aos cadastros e compartilhamento de

informações.

Art. 37, XXII, CF: “XXII - as administrações tributárias da União, dos Estados, do

Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do

Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos

prioritários para a realização de suas atividades e atuarão de forma integrada,

inclusive com o compartilhamento de cadastros e de informações fiscais, na

forma da lei ou convênio. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 42, de

19.12.2003)”

- Está consagrado na Constituição o que chamamos de prova emprestada, quando uma

fazenda pública presta informações à outra sobre determinado contribuinte. Primeiro

deve haver um convênio para compartilhar informações. Com base na prova

emprestada, a Fazenda Pública que solicitou as informações faz sua própria

investigação e então autua.

- A jurisprudência do CARF é pacífica no sentido de que não basta prova emprestada; a

Fazenda Pública que solicita a prova emprestada tem que fazer a sua própria

investigação. Prova emprestada sugere contraditório; quando a Receita Federal pede

prova emprestada da Receita Estadual, tem que abrir prazo para o réu se defender,

para mostrar que seu problema é com a Estadual, na qual ele pode vir a ser

inocentado.

Prova emprestada RIR. Tem valor probante se obedecido o contraditório.

(STJ, REsp nº 81.094, Castro Meira, ago/04)

Se não há convênio, inservível é a prova emprestada do Fisco Estadual para SRF.

(STJ, REsp nº 310.210/MG, Eliana Calmon, ago/02)

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 107

7. Art. 200, CTN

Art. 200, CTN: “As autoridades administrativas federais poderão requisitar o

auxílio da força pública federal, estadual ou municipal, e reciprocamente,

quando vítimas de embaraço ou desacato no exercício de suas funções, ou

quando necessário à efetivação dê medida prevista na legislação tributária,

ainda que não se configure fato definido em lei como crime ou contravenção.”

Exemplo: o fiscal que entra na empresa para fiscalizar e é impedido; se é fiscal de

tributo municipal, pode requisitar força pública federal.

IMPORTANTE! O STF tem entendido que, apesar da prerrogativa do Fisco de solicitar e

analisar documentos, os agentes fiscais só podem ingressar em escritório de empresa

quando autorizados pelo proprietário, gerente, preposto. Na recusa, não podem os

agentes simplesmente requererem a força policial, eis que, forte na garantia da

inviolabilidade do domicílio, oponível também ao fisco, a medida necessitará de

autorização judicial.

- Então não é medida discricionária do fiscal, como dispõe o CTN. O poder de

requisição deve ser interpretado de acordo com as garantias constitucionais, tais como

a inviolabilidade do domicílio.

DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL DE JULGAMENTO EM SÃO PAULO - 8 º TURMA ACÓRDÃO

Nº 17-31310 de 28 de Abril de 2009

PROVA EMPRESTADA. ADMISSIBILIDADE. É lícito ao Fisco federal valer-se de informações

colhidas por outras autoridades fiscais, administrativas ou judiciais para efeito de

lançamento, desde que estas guardem pertinência com os fatos cuja prova se pretenda

oferecer. Artigo 332 do CPC. DOCUMENTOS. LAUDO PERICIAL. SUPRIMENTO. TRADUÇÃO

JURAMENTADA. PRINCÍPIO DA INSTRUMENTALIDADE DAS FORMAS. O laudo pericial oficial,

produzido em procedimento judicial, que atesta o conteúdo de documentos estrangeiros,

equivale à tradução. Nenhum vício pode ser reconhecido, se da ausência da formalidade

invocada não resulta prejuízo para a defesa (pas de nulitté sans grief). Deve haver

racionalidade entre os meios utilizados para o alcance de fins, sendo vedada a imposição de

formalidade em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do

interesse público.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 108

Capítulo II – Dívida Ativa

1. Art. 201, CTN: Conceito

- Dívida ativa é divida não paga, inscrita na administração competente.

Art. 201, CTN: “Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito dessa

natureza, regularmente inscrita na repartição administrativa competente,

depois de esgotado o prazo fixado, para pagamento, pela lei ou por decisão

final proferida em processo regular. Parágrafo único. A fluência de juros de

mora não exclui, para os efeitos deste artigo, a liquidez do crédito.”

- Procuradores da Procuradoria da Fazenda Nacional efetuam o controle de legalidade

do lançamento que constituiu o crédito tributário e, não havendo irregularidade,

efetuam a inscrição em dívida ativa. Se vislumbrarem vícios formais ou qualquer

ilegalidade ou imprecisão que seja, devem devolver o processo administrativo para

revisão.

- Art. 20, lei 10.522/02 (redação da Lei 11.033/04): Procurador da PFN pode requerer

arquivamento de Execução Fiscal inferior à R$ 10.000,00

2. Art. 202, CTN: Requisitos dos Termos de Inscrição da Dívida Ativa

- São os requisitos formais que a respectiva Fazenda deve obedecer para inscrever o

crédito em dívida ativa.

Art. 202, CTN: “O termo de inscrição da dívida ativa, autenticado pela

autoridade competente, indicará obrigatoriamente: I - o nome do devedor e,

sendo caso, o dos co-responsáveis, bem como, sempre que possível, o domicílio

ou a residência de um e de outros; II - a quantia devida e a maneira de calcular

os juros de mora acrescidos; III - a origem e natureza do crédito, mencionada

especificamente a disposição da lei em que seja fundado; IV - a data em que foi

inscrita; V - sendo caso, o número do processo administrativo de que se originar

o crédito. Parágrafo único. A certidão conterá, além dos requisitos deste artigo,

a indicação do livro e da folha da inscrição.”

- Essas exigências devem ser seguidas rigidamente, porque a inscrição em dívida ativa

é essencial para que a Fazenda possa ajuizar a execução fiscal.

- A certidão de dívida ativa é um título extrajudicial formado pelo credor sem

participação do devedor, porque só o credor faz a inscrição na dívida ativa. O

contribuinte participa só de fases anteriores à inscrição. Por isso é um titulo executivo

extrajudicial que tem que obedecer a critérios formais da lei.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 109

3. Art. 203, CTN: Correção da CDA

Art. 203, CTN: “A omissão de quaisquer dos requisitos previstos no artigo

anterior, ou o erro a eles relativo, são causas de nulidade da inscrição e do

processo de cobrança dela decorrente, mas a nulidade poderá ser sanada até a

decisão de primeira instância, mediante substituição da certidão nula,

devolvido ao sujeito passivo, acusado ou interessado o prazo para defesa, que

somente poderá versar sobre a parte modificada.”

- O contribuinte vai se manifestar apenas sobre a parte que foi modificada. A

jurisprudência dominante orienta-se no sentido de que a omissão causa a anulação da

inscrição, caso em que o juiz deve remetê-la à Fazenda Pública, para corrigir os

requisitos faltantes com uma nova certidão que os observe.

- Se a Fazenda Pública cancelar a inscrição antes da decisão da 1ª instância, a execução

vai ser extinta sem ônus pra ninguém.

Art. 23, da Lei de Execuções Fiscais: “Se, antes da decisão de primeira instância,

a inscrição de Divida Ativa for, a qualquer título, cancelada, a execução fiscal

será extinta, sem qualquer ônus para as partes.”

4. Art. 204, CTN: Ônus da Prova

Art. 204, CTN: “A dívida regularmente inscrita goza da presunção de certeza e

liquidez e tem o efeito de prova pré-constituída. Parágrafo único. A presunção

a que se refere este artigo é relativa e pode ser ilidida por prova inequívoca, a

cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveite.”

- A certidão de inscrição é titulo executivo com todos os requisitos para a execução, só

que isso é relativo, porque o contribuinte pode derrubar a inscrição dizendo que já

pagou, que ele não é responsável, etc.

- Para derrubar a presunção de certeza e liquidez desse título executivo, o contribuinte

pode alegar matéria de fato e de direito, desde que haja prova inequívoca.

OBS! Não se admite o protesto de CDA, por se tratar de constrangimento

desnecessário e abusivo.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 110

Capítulo III – Certidões Negativas

1. Art. 205, CTN: Certidão Negativa de Débito

Art. 205, CTN: “A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado

tributo, quando exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de

requerimento do interessado, que contenha todas as informações necessárias à

identificação de sua pessoa, domicílio fiscal e ramo de negócio ou atividade e

indique o período a que se refere o pedido. Parágrafo único. A certidão

negativa será sempre expedida nos termos em que tenha sido requerida e será

fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento na

repartição.”

- O contribuinte que paga as suas dívidas com o Fisco tem direito a uma certidão de

quitação para participar de licitação, por exemplo, no caso de pessoa jurídica.

- A CDN, regra geral, tem que ser a vista do interessado; mas pode ser por a vista de

mandado de segurança.

§ único: o prazo de 10 dias é desnecessário com os meios eletrônicos atuais.

- Art. 19, lei 11.033/04: levantamento ou autorização p/ depósito de valores

decorrentes de precatório são condicionados à apresentação de CND dos 3 entes

federativos. Isonomia das partes. Inconstitucionalidade. (ADIN 3453-7 Acórdão DJ,

16.03.2007).

2. Art. 206, CTN: Certidão Positiva com Efeitos de Negativa

Art. 206, CTN: “Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão

de que conste a existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança

executiva em que tenha sido efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja

suspensa.”

- Há situações em que o contribuinte deve à Fazenda Pública, mas por razões legais,

fundamentadas, ele não precisa pagar no prazo. Não se obtém, nesses casos, Certidão

Negativa, mas uma Positiva com Efeito de Negativa, que lhe possibilita participar de

uma licitação. Se o credito não está vencido, a Fazenda Pública é obrigada a expedir a

Positiva com Efeitos de Negativa. Essa certidão é sempre baseada num evento futuro e

deve ser bem fundamentada.

- O parcelamento também permite a concessão de Certidão Positiva com Efeitos de

Negativa.

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 111

- Condicionamento ao pagamento de tributos (não se pode fundar a liberação do

pagamento de tributo com base nas seguintes situações):

Não concessão de bloco de notas;

Licenciamento de veículos com multas em discussão na JARI;

Recusa de CND à PF sócio de PJ por conta de débitos desta (não pode

responsabilizar a PF em função da PJ, a não ser em caso de desconsideração da

pessoa jurídica).

3. Art. 208, CTN: Responsabilidade Pessoal do Servidor

Art. 208, CTN: “A certidão negativa expedida com dolo ou fraude, que contenha

erro contra a Fazenda Pública, responsabiliza pessoalmente o funcionário que a

expedir, pelo crédito tributário e juros de mora acrescidos. Parágrafo único. O

disposto neste artigo não exclui a responsabilidade criminal e funcional que no

caso couber.”

- A CND é expedida pelo servidor da Fazenda, com fé pública, que vai atestar que o

sujeito passivo não tem débitos. Se for concedida certidão negativa com dolo ou

fraude (simples erro não responsabiliza) contra a Fazenda Pública, o servidor é

responsável pelo crédito tributário integralmente, além dos juros de mora.

- Então, nesse caso, o entendimento predominante é que será afastada a

responsabilidade do contribuinte.

- O STF eliminou a exigência de Certidão Negativa de Débito:

- Para o STF, a higidez da ordem jurídico-tributária não pode ocorrer às custas do livre

exercício profissional e da livre exploração da atividade econômica (direitos previstos,

respectivamente, no art. 5º, XIII, e no art. 170, parágrafo único, da CF).

Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) retirou, em 25 de setembro de

2008, definitivamente dispositivos de uma lei de 1988 sobre administração tributária,

que previa a apresentação de certidão negativa de débito fiscal (CND). Os ministros

entenderam que o documento, a ser apresentado por contribuintes que

manifestassem o desejo de se mudar para o exterior, registrar ou alterar contratos não

é mais necessário. No entendimento da Corte, nesse caso a exigência das certidões é

uma espécie de sanção política e que isso não cabe ao fisco. (Julgamento das Ações

Diretas de Inconstitucionalidade - ADIs 173 e 394)

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Caderno de Direito Tributário II (UFSC) – Luiza Silva Rodrigues Página 112

Disposições Finais e Transitórias

1. Art. 209, CTN: Uso do Termo “Fazenda Pública”

Art. 209, CTN: “A expressão "Fazenda Pública", quando empregada nesta Lei

sem qualificação, abrange a Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios.”

- Quando a legislação processual utiliza-se do termo Fazenda Pública está a referir-se à

União, aos Estados, aos Municípios, ao Distrito Federal e a suas respectivas autarquias

e fundações. (José Carneiro da Cunha)

2. Art. 210, CTN: Prazos

Art. 210, CTN: “Os prazos fixados nesta Lei ou legislação tributária serão

contínuos, excluindo-se na sua contagem o dia de início e incluindo-se o de

vencimento. Parágrafo único. Os prazos só se iniciam ou vencem em dia de

expediente normal na repartição em que corra o processo ou deva ser praticado

o ato.”

- Case se trate de prazo para pagamento de tributo, se não há expediente no órgão

fazendário, mas estando a rede bancária em funcionamento, deve o tributo ser pago!

Não se aplica a regra do art. 210 e seu parágrafo!

A expressão Fazenda Pública identifica-se tradicionalmente como a área da

Administração Pública que trata da gestão das finanças, bem como da

fixação e implementação de políticas econômicas. Em outras palavras,

Fazenda Pública é expressão que se relaciona com as finanças estatais,

estando imbricada com o termo Erário, representando o aspecto financeiro

do ente público. (José Carneiro da Cunha).

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