caderno de análise regional nº 5 - nov, 2006

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VOLUME 5 - Nº 1 – NOVEMBRO DE 2006 PUBLICAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS E DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANO

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Treze artigos compõem este Caderno de Análise Regional. Escritos por onze alunos do Mestrado em Análise Regional e dois do Doutorado em Desenvolvimento Urbano e Regional, cursos integrantes do Programa dePós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Unifacs, foram elaborados no âmbito das disciplinasEconomia Regional e Teoria e Prática da Análise Regional.Os trabalhos selecionados refletem a melhor produção acadêmica nesta área de conhecimento no ano letivode 2006 e abrangem temas correspondentes à economia monetária, economia agrícola, educação, cultura e turismo, refletindo as áreas de pesquisa e interesse dosseus autores.

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  • Os Cadernos foram classificadospelo QUALIS da CAPEScomo Local AC A P E Swww.capes.gov.br

    VOLUME 5 - N 1 NOVEMBRO DE 2006

    PUBLICAO DO DEPARTAMENTODE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS E DO PROGRAMADE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTOREGIONAL E URBANO

  • Cadernos de Anlise RegionalCadernos de Anlise Regional uma publicao do Programa de Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional e Urbano da UniversidadeSalvador UNIFACS Volume 5 N 1 Novembro de 2006 Salvador, BA

    Expediente:UNIVERSIDADE SALVADOR UNIFACS

    REITOR:Prof. Manoel Joaquim F. de Barros Sobrinho

    VICE-REITORES:Prof. Guilherme Marback Neto e Profa. Maria das Graas Fraga Maia

    PR-REITOR FINANCEIRO:Prof. Srgio Augusto Gomes V. VianaPR-REITOR ADMINISTRATIVO:

    Prof Vernica de Menezes FahelPR-REITOR DE GRADUAO:Prof Manoel Joaquim F. de Barros

    PR-REITOR DE PS-GRADUAOProf. Lus M. Pontes

    DEP. DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS:Prof. Jos Mascarenhas Bisneto

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E URBANOPPDRU:Prof. Alcides dos Santos Caldas

    CONSELHO EDITORIALProf. Dr. Alcides Caldas, Prof. Dr. Fernando C. Pedro, Prof. Dr. Noelio Dantasl Spinola e Prof Dra. Regina Celeste de Almeida Souza

    EDITORProf. Dr. Noelio Dantasl. Spinola

    SECRETRIOEco. Moiss Conde Silva de Oliveira

    CAPA E EDITORAO GRFICAJoseh Caldas

    FOTOLITOS E IMPRESSOS VICTOR GRFICA LTDATIRAGEM: 500 exemplares

    Os artigos assinados so de responsabilidade exclusiva dos autores. Os direitos, inclusive de traduo, so reservados. permitido citar parte dosartigos sem autorizao prvia desde que seja identificada a fonte. vedada a reproduo integral de artigos sem a formal autorizao da redao.

    ENDEREO PARA CORRESPONDNCIA:Alameda das Espatdias, 915 - Caminho das rvores, Salvador, Bahia, CEP 41820-460 - Tel.: 71-3273-8557

    E-MAIL: [email protected] [email protected]

    Ficha Catalogrfica

    Departamento de Cincias Sociais AplicadasPrograma de Ps-Graduao emDesenvolvimento Regional e Urbano PPDRU

  • 3CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    Sumrio

    Apresentao ................................................................................................................................................. 4

    Introduo ...................................................................................................................................................... 5

    Consideraes sobre a Teoria Clssica da localizao na Economia Regional ................................ 7Karen Sasaki

    Aplicao de Medidas de Localizao e Especializao na Regio Metropolitana de Salvador RMS ...................................................................................................................................................... 16Joseval de Melo Santana

    A Era do Capital Financeiro ....................................................................................................................... 25Moiss Conde S. de Oliveira

    Educao Superior, Semi-rido Baiano e Desenvolvimento Regional: Uma Viso Possvel ......... 30Afonso Celso Magalhes Madeira

    Agronegcio: um portal para o desenvolvimento do Brasil ................................................................. 42Edivaldo Azevedo Da Silva

    Indicao de Procedncia: uma proposta de inovao competitiva no territrio do sisal .............. 49Lvia Liberato

    Desenvolvimento local: mito ou realidade? O caso do plo de confeces de Jequi/Ba. ............ 57Adenilson Rosa dos Santos

    Fosfato na Bahia: aspectos econmicos e ambientais ............................................................................. 63Hlio Gamalho Vasconcellos

    O Meio Ambiente e o caminho para as cidades sustentveis ............................................................... 71Paula Ernica Berton

    Turismo e polticas pblicas: o modelo de cluster como alternativa para o desenvolvimentoturstico ................................................................................................................................................... 78Ana Luiza Fernandes Mendes de Almeida

    A organizao social e produtiva como estratgia de fortalecimento do capital social emdestinos tursticos .................................................................................................................................. 85Maria Helena Martins Brasileiro

    Turismo Cultural em Salvador: uma perspectiva afrodescendente .................................................... 93Lcia Maria de Arajo Ges Santos

    Bahia terra da felicidade: uma imagem turstica de Salvador ............................................................. 99Marcus Vinicius Barbosa Peixinho

  • Apresentao

    Tenho a satisfao de apresentar o Volume 5, N 1, do Caderno de Anlise Regio-nal que rene a contribuio exclusiva de doutorandos e mestrandos do nosso Programade Ps-Graduao em Desenvolvimento Regional e Urbano (PPDRU).

    Os Cadernos constituem uma publicao seriada, mas no periodizada, que vei-cula temas pertinentes aos objetivos do nosso Mestrado em Anlise Regional e Doutora-do em Desenvolvimento Regional e Urbano e das linhas de pesquisa que os compem,refletindo o trabalho intenso que desenvolvido pelo seu corpo docente e pelo corpodiscente.

    Neste Caderno, que tambm apresentamos com novo formato, editamos 13 arti-gos elaborados sob a orientao do Prof. Dr. Noelio Dantasl Spinola, titular das cadei-ras de Economia Regional e Teoria e Prtica da Anlise Regional, versando sobre umadiversidade de assuntos que abordam desde aspectos da economia monetria e agrcolaaos relacionados com a educao e o turismo. Todos constituem temas para debate erefletem as atividades de pesquisa e produo de dissertaes e teses dos seus respecti-vos autores.

    Com mais esta produo acadmica estamos contribuindo para tornar cada vezmais efetiva a misso da nossa Universidade Salvador (Unifacs), que considera o estudoe a promoo do desenvolvimento regional como uma das finalidades principais da suaexistncia.

    Salvador, novembro de 2006

    Prof. Dr. Alcides dos Santos CaldasCoordenador do Programa de Ps-Graduao

    em Desenvolvimento Regional e Urbano da Unifacs

  • 5CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    Treze artigos compem este Caderno de AnliseRegional. Escritos por onze alunos do Mestrado em An-lise Regional e dois do Doutorado em DesenvolvimentoUrbano e Regional, cursos integrantes do Programa dePs-Graduao em Desenvolvimento Regional daUnifacs, foram elaborados no mbito das disciplinasEconomia Regional e Teoria e Prtica da Anlise Regio-nal. Os trabalhos selecionados refletem a melhor produ-o acadmica nesta rea de conhecimento no ano leti-vo de 2006 e abrangem temas correspondentes econo-mia monetria, economia agrcola, educao, cultura eturismo, refletindo as reas de pesquisa e interesse dosseus autores.

    O primeiro artigo, de Karen Sasaki, promove umasntese das teorias clssicas da anlise regional, con-templando os trabalhos de autores como Von Thnen,Weber, Perroux, Lesch, Christaller e Isard. Esses auto-res foram escolhidos por representarem a dimenso cls-sica dos estudos regionais, por terem contribudo comas anlises locacionais proporcionando tomadas dedecises estratgicas ao desenvolvimento regional, bemcomo porque contemplam todas as dimenses dos seto-res da economia: agricultura, indstria e comrcio.

    Joseval de Melo Santana responde pelo segundoartigo onde utiliza algumas medidas de localizao eespecializao que so tradicionalmente aplicados naanlise regional e urbana. Nele, o autor ressalta que ape-sar de tais medidas estarem bem consolidadas na litera-tura tcnica, ainda assim, torna-se de difcil manipula-o e entendimento para uma parte dos discentes decursos de graduao e ps-graduao na rea do De-senvolvimento Regional e Urbano. Ao exemplificar coma aplicao dessas medidas na Regio Metropolitanade Salvador RMS sem pretender aprofundar-se numaanlise minuciosa do desenvolvimento dessa regio,busca demonstrar a eficcia e as deficincias destametodologia de trabalho.

    Consideraes sobre o fenmeno que alguns eco-nomistas chamam de Mundializao do Capital o ob-jeto do terceiro artigo de Moiss Conde S. de Oliveira.Esse movimento se caracteriza pela desregulamentaodos mercados financeiros internacionais. A partir dadcada de 1960, ocorreu nos Estados Unidos uma sriede mudanas nas regras que regulamentam os merca-dos de capitais, causando o aumento substancial dasformas de aplicao financeira. Neste trabalho seroapontados as causas e os efeitos dessas medidas posi-tivos e negativos - tanto no setor financeiro, como nosetor produtivo.

    No quarto artigo, Afonso Celso Magalhes Madeiraaborda a questo da educao superior na regio dosemi-rido baiano, especialmente quanto a cursos degraduao presenciais, sua adequao s vocaes re-gionais e possveis influncias e desdobramentos relati-vamente ao desenvolvimento regional. Por se tratar de

    Introduoregio onde ocorrem freqentes e peridicas secas, im-porta ao semi-rido que se procure solues alternati-vas e maximizao do aproveitamento de seus recursos,dentre os quais o capital humano e o capital social sedestacam, inclusive face emergncia desses conceitose sua justa e recente valorizao na problemtica do de-senvolvimento.

    Edivaldo Azevedo da Silva no quinto artigo abordaa importncia do agronegcio para a economia brasilei-ra e a necessidade da utilizao das tecnologias de pon-ta (biotecnologias) para o aumento da produtividade,reduo dos custos de produo e para a competitividadeinternacional. Faz uma anlise interna e externa do se-tor e do Pas, apontando problemas e incertezas, masprincipalmente as grandes possibilidades de crescimen-to, em funo das transformaes econmicas e demo-grficas mundiais.

    A Indicao de Procedncia (IP) como instrumentopotencial de valorao de produtos do territrio, par-ticularmente fibras de sisal e seus sub-produtos benefi-ciados o tema do sexto artigo de autoria de LviaLiberato. Refere-se rea de atuao da Associao dosPequenos Agricultores do Estado da Bahia, no munic-pio de Valente, ou simplesmente territrio APAEB-Va-lente, considerada uma regio produtora com caracte-rsticas particulares, que faz parte da Regio Sisaleira.No estudo, prope-se uma linha de crdito especficapara financiar processos junto ao INPI, que costumamser longos e burocrticos.

    A importncia da indstria de confeces de Jequi,para o desenvolvimento econmico do municpio, e ascausas principais que contriburam para o seu declnioconstitui o objeto do stimo artigo de Adenilson Rosa dosSantos. O autor realiza sua anlise a partir dos concei-tos tericos de desenvolvimento local e arranjos produ-tivos locais, estabelecendo um confronto entre o mitogerado pela propaganda oficial e a realidade de umaatividade econmica que por algum tempo foi conside-rada a principal mola propulsora do desenvolvimentolocal no municpio de Jequi.

    Hlio Gamalho Vasconcellos, no oitavo artigo, trazpara a discusso acadmica uma reflexo acerca da mi-nerao como agente de desenvolvimento scio-econ-mico, em face das polticas pblicas de desenvolvimen-to sustentvel vigentes, bem como o tratamento dadopor parte dos gestores governamentais s mesmas. Talestudo pode contribuir para a desmistificao de con-ceitos pr-existentes acerca da minerao como instru-mento malfico de degradao ambiental, ao enfatizarseu potencial importncia para a elevao do IDH-M. Asua fundamentao terica parte da considerao de queo desenvolvimento sustentvel constitui um processoevolutivo pautado no crescimento da economia, na ma-nuteno e/ou melhoria da qualidade do ambiente e dasociedade para benefcio das geraes presente e futura,

  • 6 CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    ou seja, as bases para o desenvolvimento humano soaliceradas sobre o trip econmico, social e ambiental.Neste sentido o autor trabalha com a realidade dos im-pactos econmicos, sociais e ambientais da produode fosfato nos municpios de Irec e Lapo, regio doSemi-rido da Bahia, em anlise pelo PPDRU/Unifacsatravs do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Eco-nmico, Social e Tecnolgico da Regio.

    Paula Berton, no nono artigo, busca explicar a inter-relao dos diferentes conceitos de meio ambiente e comovem aumentando significativamente a importncia des-te tema em todo o mundo. As cidades sustentveis prin-cipal assunto do seu texto, constituem um desafio dian-te de inmeros problemas urbanos em que vive a metadeda populao mundial. O artigo apresenta as princi-pais diretrizes para que se possibilite a transformaodo modelo atual de cidade.

    Os trs artigos finais desta srie contemplam a reade concentrao em turismo. Assim que o dcimo arti-go, de Ana Luiza Fernandes Mendes de Almeida discuteo setor enquanto atividade social e principalmente eco-nmica observando o seu papel no desenvolvimento deregies, atravs dos efeitos multiplicadores gerados. Aautora destaca a importncia da busca pela criao devantagens competitivas para o destino turstico comouma ferramenta essencial para o processo de desenvol-vimento. Nesse contexto, o artigo traz uma discussoterica sobre o papel das polticas de turismo, enfocandoo cluster de turismo como um instrumento de polticapblica e de diferencial competitivo, questionando so-bre a efetividade desse modelo de governana.

    Dando continuidade a seqncia sobre o turismo,Maria Helena Martins Brasileiro, no dcimo primeiroartigo, considera a participao social como condiode legitimidade e adequao transformao da reali-dade de pobreza e excluso social, apresentando comoestratgia de mobilizao e organizao popular, a im-plantao de unidades produtivas enquanto unidadesoperacionais apropriadas para este fim, em destinos tu-

    rsticos. Segundo a autora, a perspectiva de que aoatuar enquanto espao de ao/reflexo em torno dasquestes relativas perpetuao do crculo vicioso dapobreza e da excluso social, estas unidades poderoatender s necessidades de sobrevivncia do seu pbli-co, mas ao mesmo tempo, fundamentar uma prtica maisampla, configurando-se em uma iniciativa de qualifica-o das estruturas internas, necessria ao fortalecimen-to do capital social e desenvolvimento dos espaos tu-rsticos em bases sustentveis.

    A importncia do turismo cultural como estratgiade fortalecimento do capital humano afrodescendenteem Salvador, o tema do dcimo segundo artigo de L-cia Maria de Arajo Ges Santos. A autora ressalta aimportncia da implantao de polticas pblicas e pri-vadas que, potencializando o legado cultural afro-baiano,promovam a transformao da realidade de pobreza eexcluso social da comunidade soteropolitana, assimcomo o desenvolvimento local, para atender aos novosrequisitos econmicos territoriais.

    Encerrando o Caderno Marcus Vinicius BarbosaPeixinho, no dcimo terceiro artigo, examina a contradi-o estrutural da imagem turstica de Salvador, promo-vida mediante a explorao da cultura popular. Estaimagem, que se apresenta como fator de desenvolvimen-to, encobre uma realidade social injusta, cruel e violentaque foi magicamente transformada em festiva e paradi-saca pelo rgos encarregados da promoo do turis-mo. O artigo examina a atuao do Estado enquantoagente responsvel por assegurar a satisfao das ne-cessidades bsicas da populao local bem como ques-tiona a possibilidade de utilizao da atividade tursti-ca para amenizar a pobreza urbana.

    Desejamos a todos uma proveitosa leitura.

    Salvador, novembro de 2006

    Prof. Dr. Noelio Dantasl SpinolaEditor

  • 7CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    ResumoEste artigo prope-se a apresentar uma sntese das teori-as clssicas de Von Thunen, Weber, Perroux, Lsch,Christaller e Isard. Esses autores foram escolhidos porrepresentarem a dimenso clssica dos estudos regio-nais, por terem contribudo com as anlises locacionaisproporcionando tomadas de decises estratgicas aodesenvolvimento regional, bem como porque contem-plam todas as dimenses dos setores da economia: agri-cultura, indstria e comrcio.

    Palavras-chave: Localizao industrial, anlise regio-nal, desenvolvimento regional

    AbstractThis article considers to present it a synthesis of theclassic theories of Von Thunen, Weber, Perroux, Lsch,Christaller e Isard. These authors had been chosen byrepresenting the classic dimension of the regionalstudies, for having contributed with the locationanalyses providing of strategical decisions to the regio-nal development, as well as because the dimensions ofthe sectors of the economy contemplate: agriculture,industry and commerce.

    Key words: Industrial location, regional analyses, regi-onal development.

    1 IntroduoEste artigo tece consideraes sobre a moldura te-

    rica que sustentou e fundamentou os estudos sobre eco-nomia regional at a primeira metade do sculo XX. Des-sa forma, o leitor convidado a refletir sobre a dimensoregional na teoria econmica a partir do entendimentodas duas abordagens2 que so correlatas: a) a economiaespacial, centrada na microeconomia da economia regio-nal; bem como b) a economia regional, que investiga o pa-pel das regies na estruturao da economia numa esfe-ra macroeconmica que engloba a relao regio x pas.

    Os estudos regionais so necessrios para a com-preenso da atividade humana e se justificam, principal-mente, porque: a) a dinmica da vida humana ocupa

    Consideraes sobre a Teoria Clssicada localizao na Economia Regional

    Karen Sasaki1

    espao; b) os recursos, a produo e o consumo no soequilibrados na configurao espacial, tampouco em re-lao dimenso temporal; bem como c) os recursos paraatender a diversidade de objetivos da dinmica humanaso escassos e susceptveis de usos alternativos.

    Segundo Pedro (1999, p. 6) h trs pressupostosque no podem ser ignorados pelos estudos regionais:

    a) que h uma genuna regionalidade no modo de funcio-namento da natureza e no da sociedade, que faz comque a produo e os usos do espao sejam inerentes aomodo de produo capitalista;

    b) que as condies regionais da natureza e da sociedademudam, de modo no necessariamente regular, comdiversos tipos de assimetria, segundo elas represen-tam os blocos de tecnologia e os ciclos de tecnologiacom que se opera;

    c) que as tendncias de estruturao regional da econo-mia tm uma relao necessria com as tendncias deentropia energtica e de concentrao de capital.

    No entanto, verificvel o descaso da economiatradicional com a dimenso espacial. Reconhece-se quehouve a crena de que era possvel ocorrer o equilbriode preos, advindo de concorrncia perfeita e da perfei-ta mobilidade de fatores, desconsiderando-se o papeldo custo de transporte entre produtores e consumidoresfinais. Nessa perspectiva de anlise, os economistas tra-dicionais consideravam que as desigualdades dos n-veis de produo per capita entre as regies seriam eli-minadas automaticamente (FERREIRA, 1989; RI-CHARDSON, 1975; ISARD, 1971).

    Por esse motivo, imprescindvel que se compre-enda que o espao necessita ser entendido, tambm, comoum tipo de mercadoria inserida na lgica de acumula-o e valorizao do capital. Porquanto, no mbito dascincias sociais o conceito de espao, inicialmente, foitratado como fixo, no-dialtico, esttico e, dessa forma,no passvel de discusses mais profundas, ao passoque o conceito de tempo cobria todas as lacunas estti-cas e imveis do espao. Afinal, todo conceito de espaodepende da capacidade de abstrao de seu teorizador.

    Todavia, o debate acadmico comea a perceber queas categorias espao e tempo no podem ser analisa-

    1 Doutoranda em Desenvolvimento Regional e Urbano, Mestre em Anlise Regional e Sociloga pela Unifacs. Bolsista da Capes. E-mail: [email protected].

    . 2 Vale esclarecer que ainda h uma abordagem que no ser foco de anlise neste artigo, mas que requer ateno: economia urbana. Essa abordagem se debrua sobrea economia das cidades e os seus respectivos problemas urbanos (pobreza, violncia, segregao etc), uma vez que as cidades abrigam a vida familiar, a produo, ocomrcio e devem ser consideradas como o epicentro para o crescimento urbano.

  • 8 CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    das como elementos antagnicos, mas amplamente com-plementares, como num processo de auto-incluso. Ouseja, no possvel discutir o espao isolado do tempo evice-versa, porquanto essas duas categorias so criaesda dinmica social que perpassa por todos os domniosda vida humana. Conforme Richardson (1975, p. 15) ohbito de no considerar o espao deve ser explicadopela crena de que o tempo era a dimenso crtica naanlise econmica.

    Assim, para contribuir com as anlises sobre osestudos regionais, realizada uma sntese das princi-pais contribuies tericas que embasam os estudos daeconomia regional, principalmente, no que tange s es-tratgias de localizao das atividades socioeconmicas,sejam na dimenso da agricultura, indstria ou comr-cio, e suas repercusses contemporneas.

    2 Interface entre as economias espacial e regionalRichardson (Id. Ibid.) considera que h trs manei-

    ras de analisar as implicaes econmicas da dimensoespacial. A primeira anlise supe que a localizao dapopulao, da indstria, dos recursos, das vias de trans-porte fixa. O espao, nessa perspectiva, se forma a par-tir da relao direta e linear entre o fluxo de bens de doispontos fixos.

    A segunda anlise requer um olhar mais generali-zado, que inclui a determinao da estrutura espacialtratando o espao como uma matriz de localizao dasatividades econmicas. Nesse sentido, a categoria dis-tncia deve ser considerada para se buscar explicaesdos motivos da localizao de indstrias, centrospopulacionais, setores de servios etc.. Essa abordagempretende entender a heterogeneidade do espao econ-mico (produo, consumo e populao).

    A terceira abordagem pressupe uma anlise nasinter-relaes entre as regies e a economia nacional, deforma que busca esclarecimentos para a interdepen-dncia entre regies, as quais passam a ser tratadas comopartes multi-setoriais da economia.

    Ferreira (1989), por sua vez, entende que a econo-mia espacial e a economia regional fornecem elementospara o entendimento do processo de consolidao deatividades econmicas nas regies, tendo a concentra-o de capital industrial e a aglomerao dessas ativi-dades, como as questes bsicas de discusso.

    No mbito da economia espacial procura-se ques-tionar os problemas relativos proximidade, concentra-o e disperso das atividades e s semelhanas ou di-ferenas dos padres de distribuio geogrfica dessasatividades (Id. Ibid., p. 47).

    Para tanto, sugerem-se duas leituras sobre a di-menso espacial. A primeira se traduz na anlise loca-cional, ou seja, deciso de onde localizar-se, dos agen-tes econmicos de uma determinada unidade econmi-ca de um espao geogrfico contnuo.

    A segunda leitura a anlise regional, pois conside-ra que as regies (ou subespaos nacionais) so espaoscontnuos que se relacionam e influenciam diretamente.Este tipo de anlise trata de relaes estruturais com-

    plexas dentro das regies e entre as regies, tendo comounidade bsica um conjunto contnuo e contguo depontos do espao geogrfico que se denomina regio(Id. Ibid., p. 48).

    Sendo assim, cabe ao analista regional refletir e cri-ar estratgias que afetam a disponibilidade dos recursose buscar otimizar o nvel de bem-estar econmico e socialda populao de uma determinada regio. Afinal, o pro-cesso de desenvolvimento regional est diretamente as-sociado dinmica de funcionamento do sistema econ-mico, social, bem como espacial, os quais podem ser ex-plicados a partir da localizao e inter/intra-relao dasatividades econmicas de um espao geogrfico.

    Na esfera da economia regional o primeiro ques-tionamento evidencia a dificuldade de se encontrar umadefinio precisa para o seu objeto central: a regio. Se-gundo Dubey (1977, p. 26):

    A Economia Regional , portanto, o estudo, do ponto devista econmico, da diferenciao e inter-relao de reasnum universo de recursos desigualmente distribudos eimperfeitamente mveis, com nfase especial na aplica-o de planejamento dos investimentos de capital socialpara mitigar os problemas sociais criados por estas cir-cunstncias.

    Como o debate da economia regional focado paraa discusso, bvia, do conceito de regio, convm desta-car que esse conceito no definido de forma universal,o que nos faz compreender a existncia de vrias defini-es e que essas dependem do enfoque proposto sobre oobjeto. Alm disso, nenhum conceito agrada a todas asreas do conhecimento.

    Na tentativa de se chegar a um conceito de regioque esteja relacionado teoria econmica Lsch (ApudISARD, 1971, p. 21) afirma que as regies so demarca-es espaciais que envolvem a dimenso econmica:

    espacios de mercado rodeados por fronteras econmicas;no el resultado de desigualdades naturales o polticascualesquiera. La regin aparece como una demarcacinespacial que se origina como consecuencia del juego com-binado y opuesto de fuerzas econmicas. Para suestabelecimiento debe partise del anlises de factoreseconmicos tales como las fuerzas de la aglomeracin(economas de escala), la distribucin de las materias pri-mas, el crecimiento de la poblacin, etc. Todo ello darlugar, de acuerdo con la conocida formulacin de la de-manda de mercado, a la demarcacin de una regins que,en relacin con otras, originara um conjunto interrelaciona-do formando una red.

    Para Markusen (1987) a anlise sobre o conceito deregio deve ser dinmica, visto que, as estruturas inter-nas das regies, que condicionam as extenses de suasreas, sofrem modificaes ao longo dos anos. Isso nosignifica que o conceito de regio deve ser entendidocomo uma categoria abstrata que se desenvolve, mas que,sobretudo, as relaes sociais dentro e entre as regies que se desenvolvem.

    Isard (1971, p. 21) sustenta que

    regin es un bien nacido, tiene padre y madre conocidosque le imprimen carcter. La genealogia familiar de la

  • 9CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    regin, em el contexto actual de la macroeconomia espa-cial, no es outra, pues, que la Economia y la Geografia.

    Pedro (1999) considera que a compreenso da di-ferena da concepo de regio como uma parte de umconjunto nacional ou como uma entidade que vai almdesse conjunto, tem um desempenho prprio nos movi-mentos gerais de acumulao de capital.

    Dessa forma, possvel perceber dificuldades parase chegar a um consenso ao tentar conceituar regio.Ferreira (Id. Ibid., p. 49) afirma que

    [...] poucos esforos em toda a histria dos empreendimen-tos cientficos mostraram ser to estreis como a tentativade encontrar uma definio universal aceitvel de regio. Ofracasso reflete o simples fato de que nenhum conceito deregio pode satisfazer, ao mesmo tempo, a gegrafos, cien-tistas polticos, economistas e antroplogos.

    Por causa da ausncia de definio precisa do con-ceito de regio, a partir da dcada de 1950, a produoterica em economia regional passa a assumir um car-ter interdisciplinar, inspirando polticas pblicas dedesenvolvimento regional e estudos analticos. Afinal,h consenso entre pesquisadores de que a categoria es-pao no foi uma dimenso contemplada na anlise eco-nmica tradicional (DUBEY, 1977; RICHARDSON, 1975;FERREIRA, 1989; FUJITA, 2002; CAVALCANTE, 2006),mas que paulatinamente passa a configurar sua reatemtica.

    As teorias da localizao de atividades socioeco-nmicas podem ser divididas em dois tipos: 1) as queconsideram que os consumidores se concentram em pon-tos discretos (puntiformes) do espao geogrfico; e 2) asque consideram os consumidores dispersos em reas demercado de diversos tamanhos. No primeiro grupo possvel classificar os clssicos Von Thunen e Weber.No segundo, Lsch, Christaller e Isard. Para estruturara anlise dessas teorias e atingir o objetivo proposto paraesse artigo, estabeleceu-se como recorte terico, a apre-sentao dos modelos tericos de Von Thunen, Weber,Perroux, Lsch, Christaller e Isard.

    As teorias locacionais forneceram significativascontribuies s interpretaes das decises empresari-ais na escolha de localizao de suas instalaes, poisinvestigam os padres locacionais e a estrutura de orga-nizao espacial. Afinal, os tericos classificados noprimeiro grupo concentraram-se suas anlises para abusca de minimizao dos custos de transporte, sempreocuparem-se com a demanda para o produto final,pois consideravam que toda produo seria comerciali-zada.

    Segundo Ferreira (1989) Von Thunen e Weber noaprofundaram as reflexes quanto dependncia dasdecises locacionais de empresas, tampouco com as con-seqncias da escala de produo planejada sobre amelhor escolha do melhor local para implantaes deempreendimento, porquanto no admitiam a substitui-o de insumos, ou seja, o raciocnio era baseado empropores fixas.

    Os tericos do segundo grupo, por sua vez, tam-bm consideram propores fixas de fatores de produ-o, bem como oferta elstica de insumos esquecendo-sedas conseqncias das condies de produo nas de-cises locacionais; mas, enfatizaram as condies dedemanda e a interdependncia locacional.

    O Modelo de Von Thunen sobre a localizao in-dustrial, foi o ponto de partida para vrios autores dalocalizao industrial, seguido por Weber, Lsch,Christaller e Perroux. A localizao das indstrias analisada a partir das proposies de Weber, onde sedestacar o custo de transporte. A relevncia das econo-mias externas de aglomerao que surgem em torno daindstria-motriz, vai ser demonstrada por Perroux.Christaller e Lsch vo definir o papel das cidades comosendo o da distribuio de bens e servios e os princpi-os que explicam o nmero, o tamanho e a distribuiodos centros urbanos. Lsch pressupem rendimentosdecrescentes e Isard, considerado o pai da moderna eco-nomia regional, enfatizou a problemtica da produodando especial ateno ao fator transporte.

    vlido mencionar que a economia clssica focali-zou suas preocupaes no processo de evoluo das ati-vidades econmicas e da distribuio do produto gera-do. Alguns autores clssicos tendiam a considerar osfatores no-econmicos como predominantes para umamaior compreenso do padro espacial das atividadeseconmicas. O descaso com a distribuio das ativida-des econmicas no espao geogrfico se origina na su-posio de que deve ocorrer uma equalizao perfeitados preos dos fatores. Desta forma, as desigualdadesseriam eliminadas automaticamente.

    3 Microeconomia espacial teorias locacionais

    3.1 Modelo de Von Thunen - Teoria da LocalizaoAgrcola

    O que melhor produzir em uma determinada regio?Essa questo foi feita por Johann Heinrich von Thunen(1783-1850), precursor das teorias da localizao, noincio do sculo XX, que culminou com a publicao deO Estado Isolado. Essa obra foi considerada a primeiracontribuio sistematizada questo espacial na eco-nomia. Por esse motivo avaliado como o patrono dosgegrafos econmicos e dos economistas espaciais e re-gionais.

    O modelo de Von Thunen procurou explicar o pa-dro de distribuio das atividades agrcolas, levandoem considerao o ponto de maximizao da renda daterra em diferentes localizaes, sem perder de vista oscustos de transporte. Seu interesse por essa temtica deanlise deu-se pelo fato de residir em uma rea rural daAlemanha, na qual ele pde sistematizar e interpretarinformaes e dados contbeis que embasaram empiri-camente suas anlises locacionais.

    O Estado Isolado apresentou um modelo hipotticode uma regio isolada que tinham as seguintes caracte-rsticas:

    1. uniformidade das condies naturais que redundarianos mesmos custos de produo;

  • 10 CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    2. a existncia de uma nica cidade mercado na partecentral do Estado com a qual os agricultores comerciali-zavam seus produtos agrcolas e compravam produ-tos industrializados.

    3. uniformidade de condies socioculturais da popula-o que implicava em uma mesma tecnologia e utili-zao dos recursos, repercutindo de maneira igual eequilibrada nos custos de produo.

    4. existncia de um s tipo de transporte da produoagrcola para o mercado central, o que implicaria emcustos padronizados diretamente proporcionais dis-tncia (MELLO E SILVA, 1976).Esse modelo foi criado para identificar possveis

    padres espaciais da produo agrcola. Sendo assim,Von Thunen construiu uma Teoria da Localizao Agr-cola que procurava responder questo relativa ao quemelhor produzir em uma determinada regio. ParaThunen ficou claro que os lucros dos produtores seriamuma funo dos custos de transporte, ou seja, quantomais prximo do mercado central mais vantagem o pro-dutor tem. Afinal,

    no mercado central se paga o mesmo preo para umadeterminada quantidade de um produto, quer venha deperto ou de longe, e considerando ainda que os custos deproduo seriam os mesmos em qualquer parte do espa-o (Id. Ibid. , p. 2).

    Por isso, era vantajosa a produo agrcola de acor-do com a concentrao de mercado, levando em consi-derao alguns fatores como: (1) custos de produouniformes decorrentes da hiptese da homogeneidadedas condies naturais e tecnolgicas; (2) fatores de pro-duo mveis e divisveis; (3) comercializao dos pro-dutos agrcolas limitados a um mercado consumidorpuntiforme; (4) uniformidade da rede de transporte emtodo o espao geogrfico; e (5) custos de transporte pro-porcionais distncia do mercado central e constantesno tempo.

    Seu esforo terico buscou explicaes para o fatocomprovado de que numa economia de mercado a in-tensidade e os tipos de cultivo variam de um lugar parao outro por razes independentes das condiesedafoclimticas e das heranas histricas. Vale ressal-var que Thunen fala em renda da terra e no em rendalocacional, mas os dois conceitos podem ser tomadoscomo a renda excedente obtida de uma unidade de terra,em comparao com outra unidade (Id. Ibid., p. 2).

    A figura 1 apresenta a ilustrao do modelo dosanis de Thunen. Esses anis so criaes hipotticasbaseadas em seu modelo de Estado isolado que pos-suem uma regio homognea com as mesmas proprie-dades edafoclimticas proporcionando uma distribui-o do uso do solo agrcola rotacionado em torno de umeixo vertical.

    Partindo do princpio do que defendia Von Thunen,percebe-se que so deduzidos do preo final obtido nomercado o custo de produo e o custo de transporte doproduto, ou seja, o rendimento lquido do produtor agr-cola resultado somente em funo da distncia. Essemodelo permitiu a Thunen a proposio de seis zonasconcntricas a partir do mercado central, sendo deno-minadas anis de Thunen.

    Para ter uma facilitar a compreenso sobre essesanis vlido esclarecer que o maior lucro bruto de pro-duo por unidade de terra ocupada obtido pelas cul-turas que ocupam os anis mais prximos, ou seja, soas culturas mais nobres; as culturas que se localizamnos anis mais afastados apresentam menor rendimen-to bruto por unidade de terra. Para essas culturas a pos-sibilidade de se atingir o mercado se d por competiremcom base no seu baixo custo de transporte.

    A Teoria do Estado Isolado tratava os obstculosnaturais e diferenas de fertilidade do solo e de condi-es de acesso alteravam o padro terico dos anis. Foiuma teoria testada em inmeras lugares demandando,ainda, maior ateno dos gegrafos brasileiros.

    3.2 Modelo de Weber - Teoria da Localizao IndustrialMais de 80 anos aps a publicao de O Estado

    Isolado, Alfred Weber questionou-se em que medida afacilidade de transporte e mo-de-obra influenciava nadeciso das localizaes das atividades industriais.

    A partir dessa reflexo formulou a Teoria da Loca-lizao Industrial, a qual admitia que a deciso quanto localizao de atividades industriais decorreria daponderao de trs fatores, que ficaram assim definidos:1) custo de transporte, j que as indstrias tendem ainstalar-se onde esses custos so mnimos; 2) custo demo-de-obra; e 3) fator local decorrente das foras deaglomerao e desaglomerao capazes de explicar aconcentrao ou disperso da indstria em certa regio.

    O modelo de Weber embasava-se na existncia decustos uniformes de produo sobre um determinadoespao, sendo que os custos de transporte seriam resul-tados de uma funo de dois fatores: o peso dos materi-ais localizados e dos produtos envolvidos.

    Para se analisar o custo de transporte, Weber esta-belece dois conceitos que so relacionados entre si, soeles: ndice Material (IM) e Peso Locacional (PL). O PLrepresenta a importncia relativa do custo de transportena escolha locacional e corresponde razo entre o pesototal a ser transportado em uma figura locacional e opeso do produto. J o IM, a razo entre o peso dasmatrias-primas localizadas e o peso do produto.

    Observe-se que PL elevado indica perdas noprocessamento e atrao para as fontes de matrias-pri-Figura 1 - Modelo dos Anis de Von Thunen.

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    mas, para o PL baixo, a atrao para o mercado. Dessaforma, esse modelo procurava estabelecer o melhor localde produo diminuindo o total do peso (t/km) a sertransportado (input e output) de uma indstria.

    Weber estabelece o conceito de fator locacionalcomo uma economia de custo que a indstria pode obterao escolher a localizao. O foco principal da teorialocacional de Weber a compreenso da melhor formade localizar, ou seja, porque instalar determinada in-dstria num ponto X e no num ponto Y e quais seriamas melhores alternativas para tal fato. Nessa perspecti-va de anlise se fazia necessrio a distino dos fatoreslocacionais, ou seja, economias de custo, que se referema uma ou poucas indstrias daqueles que so capazesde influenciar os custos de qualquer atividade industrial.

    Segundo Ferreira (Id. Ibid. p. 147) a teoria de Weber uma tentativa pioneira de analisar um conjunto inte-grado de decises locacionais visando explicar a distri-buio das indstrias ou a relativa disperso das ativi-dades. Ele supe uma anlise de auto-incluso em n-veis e estgios distintos, sendo que em cada estgio no-vas atividades econmicas poderiam ser organizadasgradativamente, na distribuio econmica do espaogeogrfico, numa perspectiva evolucionria.

    O modelo de Weber enfatiza que a deciso quanto localizao das empresas sofre influncia das variaesregionais no seu custo, ou seja, se os menores custos demo-de-obra compensarem os maiores custos de transpor-tes, as indstrias tendero a se instalar onde esses custosforem menores. Essa proposio deixa claro que nessemodelo os custos de transporte e de mo-de-obra influen-ciam na deciso quanto localizao das empresas.

    Levando em considerao esse princpio, uma de-ciso locacional se pondera em funo dos custos deuma determinada localizao e dos benefcios que essalocalizao venha a trazer. Assim, esses dois fatores re-gionais, transporte e mo-de-obra, considerados porWeber, so analisados no sentido de se obter a localiza-o de mnimo custo.

    Essa anlise leva em considerao que a decisorelacionada s vantagens locacionais para viabilizaode um projeto, faz-se necessria uma abordagem quan-titativa, baseada numa srie de fatores que envolveminsumos, preos e produtos.

    No intuito de maximizar o lucro, as empresas utili-zam a dimenso espacial no processo produtivo. Nestecaso, associa-se maximizao de lucros a minimizaodo custo de transferncia por unidade de produto. Paratanto, a empresa precisa definir o mercado como sualocalizao tima, ou seja, o ponto onde o custo total detransporte mnimo.

    Partindo do pressuposto da localizao timaweberiana, pensa-se na construo de isodopanas, queso contornos que incluem as vrias localidades queexibiriam o mesmo custo adicional associado ao trans-porte de insumos e do produto, por unidade produzida,em relao localizao tima. Para facilitar o entendi-mento, isodopanas como curvas que ligam pontos demesmo nvel de custo.

    Segundo Clemente & Higachi (2000), as isodopa-nas, nos fazem visualizar o padro de variao espacialdo custo de transporte tal como as cusrvas de nvel deuma carta topogrfica permitem visualizar a altitude esuas variaes.

    A anlise weberiana traz informaes relevantespara a deciso locacional, visto que atravs dela, tem-seconhecimento do montante de reduo de custo essenci-al para a viabilizao de uma localizao alternativaem relao localizao tima.

    Assim, quando se identifica num mapa de isodopa-nas os lugares de maior vantagem em relao ao custode mo-de-obra, possvel comparar as vantagens decusto de transporte e de mo-de-obra.

    O fator locacional, como foi definido por Weber,representa economia de custo associada localizao.Quando se pensar em reduo de custo que uma inds-tria aufere ao se localizar junto a outras da mesma in-dstria, o fator aglomerativo que est sendo tratado.Ao contrrio, quando pensar em economia de custo ob-tida pelo distanciamento em relao s empresas jestabelecidas, a referncia ao fator desaglomerativo.

    Dando seqncia anlise da teoria de localiza-o industrial, cabe indagar: como os preos dos fatoresteriam que variar no espao para que o lucro da indstria fosseo mesmo em todas as localidades?

    A resposta desse questionamento depende da an-lise das localidades mais atrativas para investimentos.Para isso, devem ser considerados os diferenciais decusto dos fatores.

    Em sntese, a Teoria da Localizao Industrial ofe-rece condies para anlise dos custos de transporte naorientao da localizao de indstrias, mas ainda nofoi testada empiricamente por gegrafos brasileiros, oque no significa dificuldade de aceitao.

    3.3 Modelo de Lsch Teoria da Organizao das RegiesA principal preocupao de August Lsch foi de-

    senvolver um modelo de equilbrio geral do espao, quedesse suporte ao planejamento eficiente das atividadeseconmicas, levando em considerao no s o setorprivado, mas, tambm, o pblico. Lsch consideravainexplicvel a localizao de uma empresa, de uma ci-dade, de uma indstria. Sua contribuio muito dis-tinta dos demais por sua postura intelectual. Para ele, aescolha locacional deve buscar o maior lucro possvel eno o menor custo possvel discordando do modelo deWeber, por acreditar que o sistema de isodopanas pode-ria ser enganoso.

    Lsch contribuiu para a compreenso dos proble-mas locacionais urbanos alm dos de localizao das de-mais atividades econmicas, comeando pelas reas me-nores para as reas de mercado maiores. A lgica do seumodelo proporciona uma relao entre o tamanho e a fun-o dos lugares centrais que contnua e no escalonada e,portanto, mas de acordo com a realidade observada.

    A principal questo da Teoria da Organizao dasRegies centrava-se na busca de resposta para identifi-car-se em que condies o produto poderia ser vendido

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    e qual seria sua rea de mercado. Lsch considerava, emsua teoria, aspectos eminentementes econmicos, pres-supondo uma plancie em que os recursos naturais esti-vessem uniforme e equilibradamente distribudos (verfigura 2).

    Segundo Clemente & Higachi (2000, p. 54),

    zao das Regies se preocupava em reunir os aspectosrelacionados com a regio, localizao e os comrciosinter-regional e internacional.

    A maior contribuio de sua teoria reside no seuModelo de Equilbrio Espacial, que pode ser considera-do como uma anlise de equilbrio geral da distribuioespacial das atividades econmicas.

    3.4 Modelo de Christaller - Teoria dos Lugares CentraisComo os padres de localizao de diferentes setores se

    conjugam para formar um sistema regional de cidades? WalterChristaller partiu desse questionamento. Esse terico pro-curou compreender as leis que determinavam o nmero,tamanho e distribuio das cidades, emergindo, assim,as suas concepes de lugar central e rea de mercado,bem como sustentando a delimitao de regies.

    Segundo Christaller h uma espcie de hierarquiaentre cidades, onde a produo de bens e servios resul-taria de uma escala de produo, sendo que a centrali-zao seria um processo natural. A proposta dele foirealizar uma abordagem analtica de carter terico-emprica acerca dos lugares centrais compreendidoscomo as localidades que exercem funes urbanas deabastecimento de produtos e de prestao de servioscentrais para suas reas de influncia, dotadas de vari-veis extenses e importncias (EUFRSIO, 2001, p.287), segundo a composio e estruturao hierarqui-zada dessas funes nas localidades que as sediam.

    Essa teoria se baseou no fato de que toda organiza-o social se encontra subordinada terra de onde re-sulta uma hierarquia social associada posse ou no,em maior ou menor escala, de terra. Essa mesma organi-zao social tambm est associada organizao doespao.

    A base da teoria de Christaller utilizada para pre-ver o nmero, tamanho e mbito das cidades numa re-gio. O seu foco numa simples extenso da anlise dereas de mercado. Sabe-se que as reas de mercado vari-am de setor para setor. Sendo assim, essa teoria vai mos-trar como os padres de localizao de diferentes seto-res se conjugam para formar um sistema regional de ci-dades, ou seja, assim como havia leis que determinavamas atividades econmicas haveria leis espaciais da geo-grafia que determinariam a organizao das cidades.

    Sua teoria estabelece uma espcie de hierarquiaentre cidades, visto que, quanto maiores o limiar e o al-cance de um bem ou servio, menor ser o nmero decidades aptas a oferec-lo. Segundo Clemente & Higachi(2000, p. 89):

    A centralidade de um produto e, portanto, sua rea demercado dependem tanto dos consumidores; quanto dosofertantes. Se dois produtos apresentassem o mesmopadro de economias de escala, o de maior preo apre-sentaria rea de mercado maior, e se seus preos fossemiguais, o que apresentasse economias de escala mais acen-tuadas apresentaria rea de mercado maior. No primeirocaso, a rea de mercado maior resultado da menor im-portncia relativa da distncia econmica (custo de aces-so); no segundo, a rea de mercado maior resulta da

    Figura 2 Modelos de plancies com recursos naturaisuniformes

    para a determinao espacial da demanda, admite queas firmas adotam a poltica de estabelecer o preo doproduto, adicionando a este o custo de transporte paraformar o preo final.

    A natureza das regies econmicas da teoria deLsch identificada atravs do equilbrio de longo pra-zo das firmas, em concorrncia monopolstica, com osurgimento de novas firmas. Para esse autor o objetivoda empresa deveria criar uma progresso de aumentoespacial para comercializao de seus produtos, partin-do da menor rea para a maior, obtendo-se uma rede emformato hexagonal.

    A lgica do modelo Lschiano proporciona uma

    Figura 3 Modelo hexagonal da Teoria da Organizao dasRegies.

    relao entre o tamanho e a funo dos lugares centraisque contnua e no escalonada e, portanto, de acordocom a realidade observada.

    De acordo com Benko (1999), a Teoria da Organi-

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    influncia das economias de escala, que favorecem a con-centrao da oferta.

    Aplicando seu mtodo, Christaller chegou con-cluso que haveria uma tendncia formao de arran-jos hexagonais para a distribuio das cidades numadeterminada regio. Ao contrrio de Lsch, sua idiaparte da cidade de nvel hierrquico mximo para pas-sar aos bens com reas de mercados menores.

    Para Christaller a centralizao funciona comoprincpio de ordem, isto , como uma forma de organiza-o observada no mundo orgnico e inorgnico. Nessaperspectiva de anlise a organizao encontrada naesfera humana, predominante em certas estruturas ex-pressas em uma invisvel forma objetiva, o que seriaparticularmente observado na distribuio do povoa-mento, onde as cidades se destacariam como centro deuma regio. Sendo assim, preciso observar que nemtodos os centros populacionais so cidades. Foi exata-mente esse fato que o incentivou a pesquisar buscandoleis que determinassem o nmero, tamanho e distribui-o das cidades.

    O conceito de lugar central, em sua teoria, exer-cido pela cidade como centro de abastecimento de bense servios a sua populao e quela da rea rural circun-vizinha, ou seja, o elemento organizador da curva deoferta e demanda de produtos e servios no espao.

    Segundo Mello & Silva (1976), bens e servios cen-trais so aqueles produzidos e oferecidos em um nme-ro de pontos necessariamente centrais de forma a serconsumidos em muitos pontos dispersos, diferencian-do assim, dos bens e servios dispersos, que so aquelesoferecidos e produzidos em toda parte. Vale ressaltarque, alguns lugares centrais so mais importantes doque os outros, pois dependem da concentrao popula-cional (ver figura 4).

    significativo, ressaltar os trs fatores fundamen-tais para a constituio do sistema de localidades cen-trais:

    Mercado que se refere distribuio espacial de benscentrais por um nmero mnimo de localidades cen-trais;

    Trfego que se refere satisfao do mximo de de-manda para transporte com o mnimo custo;

    Administrao que objetiva a criao de uma estruturaadministrativa hierarquizada em grande parte aten-dido de acordo com o princpio do mercado.Um fato decisivo no desenvolvimento dos lugares

    centrais no o consumo dos bens centrais, mas a recei-ta da venda dos bens centrais. Isso se d devido hip-tese de Christaller de que um lugar central no distribuis bens e servios relativos sua importncia, mas tam-bm centros colocados em uma posio inferior. Essefato determina a hierarquia das localidades centrais.

    Enfim, a Teoria dos Lugares Centrais tem se apre-sentado como a mais resistente s variaes conceituaisdo ramo e s avaliaes crticas de pesquisadores. umateoria constantemente citada pelos gegrafos brasilei-ros. Cabe dizer, ainda, que a obra de Christaller sofreuum certo grau de deformao, por conta das adapta-es tendenciosas de diferentes tradues que foram sedisseminando pelo mundo acadmico e que precisoconsiderar os fatores temporais que limitam a prpriaanlise de uma seminal teoria locacional.

    4 Macroeconomia regional

    4.1 Modelo de Isard Teoria da Localizao Industrial(Insumos de transporte)

    Como escolher a combinao tima de insumos de trans-porte a serem despendidos com a matria-prima e com o pro-duto? A partir dessa questo o modelo terico de WalterIsard demonstrou uma lapidao da concepo tericacriada por Weber3 adicionando aos elementos j levan-tados, as idias de economia de escala, urbanizao elocalizao.

    A inovao de Isard se deu ao fato dele ter introdu-zido discusso econmica os problemas espaciais, comnfase especial ao fator transporte, o que refletiu impac-tos na teoria econmica at os dias atuais. O objetivoprincipal de suas colocaes era

    mejorar las bases espaciales y regionales de las discipli-nas que comprenden las ciencias sociales, particularmen-te de la economa, a travs del desarrollo de uma msadecuada teora general de la localizacin y del espacioeconmico (ISARD, 1971, p. 15).

    Segundo Isard (Id. Ibid.)

    Se h algum sentido no estudo da economia da localiza-o, isso se deve ao fato de existirem certas regularidadesnas variaes de custos e preos no espao. Estas regula-ridades emergem fundamentalmente porque o custo detransporte uma funo da distncia. Se no fosse as-sim, o padro de distribuio espacial da indstria, doscentros de consumo e da produo de matrias-primasseria completamente arbitrrio do ponto de vista econ-mico.

    Isard considerou que o preo de um insumo detransporte a tarifa de transporte, e por esse motivo, asvariaes de tarifa no podem ser confundidas com va-riaes no insumo de transporte. Sua teoria esclarece

    Figura 4 Demonstrao grfica da hierarquia dos lugarescentrais.

    3 Ambos os autores adotaram o custo de transporte como a principal explicaopara a escolha locacional e para o padro de distribuio espacial das atividadeseconmicas.

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    que o insumo de transporte o dispndio de recursosnecessrios para que mercadorias se desloquem no es-pao e superem distncias, numa relao de unidade depeso/volume por unidade de distncia. Clemente (2000,p. 115) esclarece que

    quando uma empresa escolhe a localizao entre uma fon-te de matria-prima e o mercado, est decidindo sobreuma combinao particular de quantidades de insumo detransporte a serem despendidas com a matria-prima ecom o produto. Se, por exemplo, decidir localizar-se junto fonte de matria-prima, estar tornando nulo o insumode transporte despendido com a matria-prima e mximoo insumo de transporte despendido com o produto.

    Dessa forma, Isard considera que localizao ti-ma depende da diminuio dos custos de transporte,levando em conta que a indstria produz um nico pro-duto. Esse modelo o fez ganhar o status de pai da mo-derna economia regional.

    4.2 Modelo de Perroux Teoria do Crescimento EconmicoFranois Perroux desenvolveu um conceito de es-

    pao econmico, visando estudar as relaes e interde-pendncias em um sentido genrico e abstrato, desta-cando a diferena entre os espaos econmicos e os es-paos geogrficos.

    De acordo com sua Teoria, os espaos econmicos,so abstratos e constitudos por um conjunto de rela-es que se referem a fenmenos econmicos, sociais,institucionais e polticos, sem envolver a localizao comeixos cartesianos, ou seja, so espaos que tem vriasdimenses.

    Perroux foi considerado o formulador original danoo de plo e ao tratar a questo das externalidadescomo essenciais para o desenvolvimento regional(MALIZIA & FESER, 1999). o representante da Teoriados Plos de Desenvolvimento e destaca a contribuioda indstria motriz ao crescimento global do produto,demonstrando que os plos industriais so capazes dese modificar devido ao surgimento e encadeamento denovas necessidades coletivas.

    Utilizou-se de conceitos da fsica e da matemticapara argumentar que a economia espacial consiste emtrs principais caractersticas:

    a) a set of relations between a firm or industry and itsbuyers and suppliers; b) a field of forces in which theserelations occur; and c) a homogeneous environment, oraggregate, in which the forces interact (Id. Ibid., p. 104).

    A teoria desenvolvimento surge como uma neces-sidade de entender e modificar o estancamento secular,que implica num sintoma permanente de uma mquinadeficiente e suas seqelas, diferenciando assim, da teo-ria do crescimento econmico que nasce da necessidadede entender e controlar os ciclos econmicos, que podeser representado como uma perturbao temporal deuma mquina que eficiente. Fica claro, ento, que aproblemtica dos plos de crescimento diferente dados plos de desenvolvimento.

    Perroux enfatiza sua teoria de crescimento baseado

    na idia de interdependncia industrial e no efeito de de-nominao exercido pela empresa capaz de inovao.

    Seguindo esse entendimento, um plo de desen-volvimento seria constitudo por um grupo importantede indstrias fortemente relacionadas atravs de suasligaes de input-output a partir de uma indstria prin-cipal e geograficamente agrupadas. Compreende-se,ento, que a presena de uma indstria principal di-nmica e a existncia de fortes linkages no asseguram,por si s, os efeitos na irradiao do comprimento deonda indispensvel caracterizao de um plo.

    Considerando a noo de plos de crescimentoPerroux (1977, p. 76) afirma que:

    O crescimento no surge em todo lugar ao mesmo tempo;ele se manifesta em pontos ou plos de crescimento, comintensidades variveis; ele se transmite atravs de diver-sos canais e com efeitos finais variveis para o conjuntoda economia.

    A noo de plo formulada por Perroux estinserida em um contexto de um espao econmico abs-trato, concebido como sendo um campo de foras repre-sentadas por centros de inovao. A partir de certos pon-tos desse campo de foras, surgiro foras centrfugas.Perroux vai denominar de plo de crescimento, exata-mente, esses campos de foras, justamente porque soeles que vo gerar o crescimento capitalista que vai irra-diar para o resto da economia. Segundo Perroux (ApudId. Ibid., p. 104):

    The definition os growth pole: centres (or poles or foci)from which centrifugal forces emanet and to whichcentripetal forces are attracted... the firm attracts economicelements supplies and demands, into [its space], or itremoves them.

    Dessa forma, seu conceito de economia espacial setraduz num campo de foras que definem os plos decrescimento. O contexto do plo de desenvolvimento,porsua vez, requer uma maior clareza no sentido de identi-ficar a indstria chave e a indstria motriz. Para a pri-meira, dizemos que aquela que se caracteriza pela uti-lizao, para sua produo final, de uma alta taxa deinsumos intermedirios provenientes de outras inds-trias. A expanso dessas ltimas age como uma funodas atividades de insdstrias-chave. Quando se tratarde uma indstria caracterizada pela produo dos bensintermedirios indispensveis ao produto final de ou-tras indstrias, est sendo referida a indstria motriz.

    Na concepo de Perroux a contribuio da inds-tria motriz ao crescimento global do produto, demons-tra que os plos industriais so capazes de se modificardevido ao surgimento e encadeamento de novas neces-sidades coletivas.

    O fato que no h simultaneidade das funes deindstrias-chave e indstria-motriz. A estrutura podeconstituir um complexo industrial, mas no um plo.Essas indstrias motrizes exercem efeitos de arrastesobre outros conjuntos nos espaos econmicos e geo-grficos. Segundo Perroux, isso faz com que se atraianovas indstrias que vo fornecer e comprar insumos,

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    formando assim, um complexo industrial. O papel des-sas industrias motrizes foi questionado em algumas si-tuaes e sofreu, posteriormente, inmeras crticas.

    A noo de plo pode ser dada a partir de um ins-trumento conceitual e tem a finalidade de explicar a di-nmica de um crescimento econmico, buscando darconsistncia ao fato de que o moderno crescimento eco-nmico dado de forma desequilibrada. Assim, o cresci-mento econmico seria uma funo do crescimento dosetor industrial.

    Os espaos econmicos, na concepo de Perroux(1961; 1977), so classificados em trs categorias:

    Espao econmico, definido por um plano ou programade ao. Corresponde s reas onde suas vrias partesso dependentes de uma deciso central;

    Espao econmico como um campo de foras, constitudopor focos onde se concentram as atividades econmi-cas, sociais, polticas e administrativas inter-relacio-nadas com outros pontos do espao em uma relaode dominao; e

    Espao econmico como um agregado homogneo, que vaiser constitudo por elementos que apresentem carac-tersticas semelhantes.A Teoria dos Plos de Crescimento sofreu constan-

    tes crticas. Alguns autores contestaram afirmando quea definio da indstria motriz seria imprecisa; e a decomplexo industrial, incompleta. Dessa forma, a expli-cao de Perroux sobre as relaes entre o crescimentodo plo e o da nao, apresentou parciais inconsistn-cias conceituais.

    5 Consideraes Finais inegvel que as teorias de localizao trouxeram

    uma significativa contribuio compreenso do meca-nismo de tomada de decises locacionais. Apesar dadificuldade de trabalhar teoricamente as regies, jus-tamente porque elas so construes intelectuais utili-zadas para fins de anlise e planejamento, sendo, por-tanto, difceis de serem conceituadas para fins de teoriza-o, as Teorias da Localizao Agrcola de Von Thunen;da Localizao Industrial de Weber; da Organizao dasRegies de Lsch; dos lugares centrais de Christaller; doCrescimento Econmico de Perroux; e ao novo olha so-bre a Teoria da Localizao Industrial de Isard, oportuni-zaram uma viso mais abrangente acerca do como optarpor determinada regio.

    As proposies mais amplas sobre a localizao eo desenvolvimento regional so consideradas como ummarco importante para o entendimento de como se pro-cessa a dinmica da organizao do espao em termosanalticos e de planejamento para se atingir uma efetivaregionalizao do desenvolvimento.

    O que pode ser verificado que a anlise regional,combinada com elementos econmicos, inclinou-se paraa tendncia de considerar que os problemas regionais,so tambm, problemas de custos, de localizao, decapacidade de produo, que podem ser expressos emestruturas de custos de produo (PEDRO, 1999).

    Em alguns casos a cincia regional se tornou um

    conjunto de instrumentos para anlises prticas queauxiliam planejadores regionais, departamentos detransportes, para guiar decises relativas aos progra-mas de aes pblicas.

    Assim, apresenta-se como desafio ao analista regi-onal conceber o papel das teorias locacionais com o fimde superar a falta de interesse e ateno para a necessi-dade do desenvolvimento da cincia regional, porquan-to essas teorias podem ser teis para minimizao dedesigualdades sociais, econmicas e espaciais (inter eintra-regionais) conduzindo polticas socioeconmicascapazes de promover bem estar social.

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  • 16 CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    ResumoO objetivo desse artigo expor de forma clara e

    objetiva sobre a utilizao de algumas medidas de loca-lizao e especializao que so tradicionalmente utili-zados na anlise regional e urbana. Apesar de tais me-didas estarem bem consolidados na literatura tcnica,ainda assim, torna-se de difcil manipulao e entendi-mento para uma parte dos discentes dos cursos de gra-duao e ps-graduao na rea do DesenvolvimentoRegional e Urbano. A aplicao dessas medidas na Re-gio Metropolitana de Salvador RMS ter por finalida-de no uma anlise minuciosa do desenvolvimento des-sa regio, mas de servir apenas ao propsito do objetivo.

    Palavras-chave: Medidas de Localizao e Especializa-o, Medidas de Analise Setorial e Regional.

    AbstractThe purpose of this paper is to display in a clear

    and objective way on the use of some measures of locali-zation and specialization that traditionally are used inthe regional and urban analysis. Although such measu-res have been consolidated in literature technique well,still thus, become hard to manipulate and understandingfor a part of the graduating students in after-graduationcourses in the area of the Regional and Urban Develop-ment. The application of these measures in the Metropo-litan Region of Salvador - RMS will have for purpose nota minute analysis of the development of this region, butto serve only to the intention of the objective.

    Key Words: Measures of Localization and Specializa-tion, Measures of Analyze Sectorial and Regional.

    Introduo2As medidas de localizao e especializao possi-

    bilitam um diagnstico, introdutrio, sobre as polticasde concentrao dos setores produtivos bem como, acaracterizao de padres regionais da distribuio es-pacial desses setores. Segundo Haddad, elas servem paradescrever padres de comportamento dos setores pro-

    Aplicao de Medidas de Localizao eEspecializao na Regio

    Metropolitana de Salvador RMS

    Joseval de Melo Santana1

    dutivos no espao econmico, assim como padres dife-rentes de estruturas produtivas entre as vrias regies(1989:227).

    A concepo de medidas localizao e especiali-zao como um dos mtodos e tcnicas de anlise regio-nal e urbana deve-se as publicaes de Isard em Methodsof Regional Analysis (1960) e em Methods of Interregionaland Regional Analysis (1998).

    Este artigo visa demonstrar a utilizao dessasmedidas como ferramenta, til, na anlise das ativida-des produtivas na Regio Metropolitana de Salvador RMS. As perguntas norteadoras que sero estabelecidasserviro de alicerces para a compreenso do significadodas medidas de localizao e de especializao sem de-trimento de outros mtodos e tcnicas utilizados na an-lise regional. As questes norteadoras so formuladasna tabela 1.

    1 Doutorando em Desenvolvimento Regional e Urbano e Mestre em Redes de Computadores pela UNIFACS. 2 O autor agradece a valiosa contribuio do Professor Dr. Nolio Dantasl Spnola quando da produo deste artigo, contudo assume sozinho as limitaes e possveis

    incorrees encontradas.

    Tabela 1: Perguntas norteadoras para anlise dasMedidas de Localizao e Especializao

    Questes Anlise por:

    1 Qual o setor mais localizado dos QLmunicpios de Salvador e Vera Cruzno de 2002?

    2 Qual o setor de maior concentrao CLda RMS em 2002?

    3 Os setores foram distribudosgeograficamente de forma semelhantes CAem 2002?

    4 Houve algum padro de concentrao CRou disperso de algum setor entre osanos 2002 e 2003?

    5 Quais os dois municpios que tm o CEmais elevado grau de especializaoem um dos setores no ano de 2002?

    6 Houve alguma modificao na CTespecializao dos municpios daRMS no perodo 2002 e 2003?

    Fonte: O autor

  • 17CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    Medidas de localizao e especializaoAs medidas de localizao e especializao so de

    natureza setorial e regional. Segundo Haddad, as medi-das de natureza setorial se preocupam com a localiza-o das atividades entre as regies (1989:231-32). Den-tro desta categoria tem-se:

    a) Quociente Locacional - QL;b) Coeficiente de Localizao - CL;c) Coeficiente de Associao Geogrfica CA.d) Coeficiente de Redistribuio CR.As medidas de natureza regional so definidas por

    Rodrigo Simes como aquelas que se concentram naanlise da estrutura produtiva de cada regio objetivandoanalisar o grau de especializao regional, assim comosua diversificao interperodos (2004: 5).

    So pertencentes a essa categoria as seguintes me-didas:

    e) Coeficiente de Especializao - CE;f) Coeficiente de Reestruturao - CT.Essas categorias so caracterizadas como medidas

    tradicionais, de formalismo matemtico simples, e deabordagem setorial e regional.

    O passo inicial para obteno das medidas de lo-calizao e especializao a montagem da matriz deinformao descrita a seguir:

    Matriz de InformaoA matriz de informao consiste de uma dupla,

    cujas colunas pode ser representada pelos setores eco-nmicos e as linhas por regies, ambas, distribudas se-gundo uma varivel bsica (PIB, Emprego, etc).

    A escolha da varivel bsica depende do prismapelo qual pretende-se verificar o desenvolvimentosetorial e regional. Qualquer que seja a varivel bsicadeve-se ter em mente que a anlise do desenvolvimentosetorial e regional relativa e limitada ao planounidimensional da fora econmica que a varivelbsica expressa.

    As principais fontes de dados que possibilitam amontagem da matriz de informao so:

    a Relao Anual de Informao Social RAIS; a Pesquisa Industrial Anual do IBGE PIA; Dados das contas regionais da Superintendncia de

    Estudos Econmicos e Sociais da Bahia SEI.

    Para fins de exemplo deste estudo foi escolhida aRegio Metropolitana de Salvador RMS, por possuir omaior PIB entre as regies do Estado da Bahia.

    Para a anlise das atividades econmicas dos se-tores (agropecuria, indstria e servios) da RMS foramutilizados os dados da SEI, baseado na varivel bsicaPIB, para a montagem da matriz de informao.

    A metodologia utilizada pela SEI permitiu a elabo-rao da estimativa do PIB dos municpios da RMS deforma:

    Compatvel entre si e em consonncia com as recomenda-es internacionais expressas pelas Naes Unidas, Ban-co Mundial, Comisso das Comunidades Europias -Eurostat, Fundo Monetrio Internacional - FMI e Organi-zao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico- OECD, reunidas no manual System of national accounts1993(SEI,2006:1).

    A tabela 2 representa a matriz de informao doPIB nos municpios da RMS, com base nos dados da SEI,para os anos 2002 e 2003.

    De posse da matriz de informao deve-se gerar asmatrizes de distribuio percentual em funo dos seto-res (coluna i) e em funo dos municpios (linha j).

    A matriz de distribuio percentual em funo dossetores construda conforme a equao 1.

    Onde:

    Tabela 2: PIB Setorial (em Milhes de Reais) da RMS do Estado da Bahia no perodo 2002 e 2003.

    Fonte: O autor (com dados baseados pela SEI).

    Eq, 1

    Representa o elemento (valor do PIB) do setor ie municpio j da matriz de informao;

    Somatrio de todos os valores do PIB dos seto-res em um determinado municpio j;

    o elemento (percentual) de coluna i e linha jda matriz de distribuio percentual em fun-o dos setores cujo valor igual a razo entre

    o elemento e o da matriz de informao.

  • 18 CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    Dessa forma, tem-se para i=1 e j=1 da matriz dedistribuio percentual em funo dos setores o seguin-te clculo baseado em j=1 da matriz de informao;

    = 11,96

    = 8.362,60

    = 11,96 / 8.362,60 = 0,001430

    A matriz de distribuio percentual em funo dosmunicpios (linha j) construda conforme equao 2.

    Eq, 1

    Onde:

    Representa o elemento (valor do PIB) do setor i emunicpio j da matriz de informao;

    Somatrio de todos os valores do PIB dos muni-cpios em um determinado setor i;

    o elemento (percentual) de coluna i e linha j damatriz de distribuio percentual cujo valor

    igual a razo entre o elemento e o da

    matriz de informao.

    Semelhantemente matriz percentual em funodos setores, a matriz percentual em funo dos munic-pios para i=1 e j=1 tem o seguinte clculo baseado emi=1 da matriz de informao;

    = 11,96

    = 76,39

    = 11,96 / 76,39 = 0,1565

    As tabelas 3 e 4 contm os clculos para todo i e j damatriz percentual em funo dos setores (coluna i) e emfuno dos municpios (linha j).

    A partir das matrizes das tabela 3 e 4 possvelcalcular todas as medidas de localizao e especializa-o citadas nos itens da sesso introdutria.

    Quociente Locacional QLO Quociente Locacional QL uma medida de

    natureza setorial que possibilita comparar a participa-o percentual de um municpio em um setor particularcom a participao do mesmo no total da varivel basede todos os setores.

    O Quociente Locacional no setor i no municpio j definido por:

    Eij . E..QLij = Ei. . Ej.

    Onde:

    Eij O elemento (valor percentual) de coluna i e li-nha j da matriz da tabela 3 ou 4.;

    E.. Somatrio de todos os elementos (valorespercentuais) de coluna i e linha j da matriz databela 3 ou 4;

    Ei. Somatrio dos elementos (valores percentuais)de coluna i e linha j da coluna i da matriz databela 3 ou 4;

    Ej. Somatrio dos elementos (valores percentuais)de coluna i e linha j da linha j da matriz da tabe-la 3 ou 4;

    QLij Quociente Locacional de coluna i e linha j cujovalor a razo entre os valores do produto de Eijpor E.. pelo produto de Ei. por Ej.

    Escolhendo-se a matriz percentual em funo dossetores (tabela 3) para i=1 e j=1 tem-se:

    Eij = 0,001430; E.. = 1,0000;Ei. = 0,002428; Ej. = 1,0000

    Eij . E..QLij = Ei. . Ej.

    0,001430 x 1,0000QLij = 0,002428 x 1,0000

    QLij = 0,5890

    Calculando-se o QL para todo o i e j chega-se atabela 5.

    O QL compara a participao percentual de ummunicpio em um setor especfico com a participaopercentual do mesmo municpio no total dos setores daeconomia. Existem 03 condies possveis so elas:

    a) Quando QL = 1, a concentrao do municpio jem atividades do setor i idntica concentrao doconjunto da RMS nas atividades desse setor;

  • 19CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    Fonte: O autor.

    Tabela 3: Distribuio Percentual Setorial (Coluna i) da RMS do Estado da Bahia no perodo 2002 e 2003

    Fonte: O autor.

    Tabela 5: Quociente Locacional - QL dos municpios da RMS do Estado da Bahia no perodo 2002 e 2003

    Fonte: O autor.

    Tabela 4: Distribuio Percentual em funo dos municpios (linha j) RMS do Estado da Bahia no perodo 2002e 2003

  • 20 CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    b) Quando QL < 1, a concentrao do municpio jem atividades do setor i inferior concentrao doconjunto da RMS nas atividades desse setor;

    c) Quando QL > 1, a concentrao do municpio jem atividades do setor i superior concentrao doconjunto da RMS nas atividades desse setor.

    Em resposta a questo 1 , da tabela 1, fica evidente,pela anlise dos QLs da tabela 5, que no municpio deSalvador o setor mais importante o de servios (QL=1,9251), enquanto para o municpio de Vera Cruz o setoragropecurio o mais importante (QL=48,3822). O quetorna esses municpios especializados nos respectivossetores.

    Para os QLs da tabela 5, Haddad faz as seguintesrevelaes:

    (...) Quocientes locacionais elevados parecem com certe-za identificar atividades com alta porcentagem de ven-das para fora da cidade; mas quocientes locacionais entremdios e baixos que so a maioria no exibem corre-lao com a proporo de vendas externas; atividadescom quocientes locacionais inferiores unidade, por ou-tro lado, podem ser parte da base econmica urbana (...)(1974: 44-45).

    Coeficiente de Localizao CLO Coeficiente de Localizao CL uma medida

    de natureza setorial que permite identificar o grau dedisperso relativa das atividades dos setores econmi-cos. Quanto mais prximo de zero, o setor estar distri-budo regionalmente de forma semelhante ao conjuntode todas as atividades.

    O Coeficiente de Localizao do setor i definidopor:

    Calculando-se o CL para todo i chega-se a tabela 6.Analisando a questo 2,da tabela 1, pelos Coefici-

    entes de Localizao da tabela 6 afirma-se que:O setor de Servios (CL = 0,3384) o mais concen-

    trado da RMS; seguido pela Agropecuria (CL=0,3290)e pela Indstria (CL = 0,2250).

    O Coeficiente de Associao Geogrfica CAO Coeficiente de Associao Geogrfica CA uma

    medida de natureza setorial que permite identificar ograu de associao geogrfica entre dois setores da ati-vidade econmica. Quanto mais prximo de zero, o se-tor i estar distribudo regionalmente de forma seme-lhante ao setor k.

    O Coeficiente de Localizao do setor i e k defini-do por:

    Onde:

    O elemento (valor percentual) de coluna i e linha jda matriz percentual da tabela 4;

    Somatrio dos elementos (valores percentuais) domunicpio j (linha j) da matriz percentual da tabela 4;

    a mdia da soma dos valores absolutos da dife-rena entre todos os e .

    Pela matriz percentual em funo dos municpios(tabela 4) para i=1 no ano 2002 tem-se:

    ((ABS(C1-F1) + ABS(C2-F2) + ABS(C3-F3) + ABS(C4-F4)+ (ABS(C5-F5) + ABS(C6-F6) + ABS(C7-F7)+ ABS(C8-F8) + ABS(C9-F9) +ABS(C10-F10))/2

    ((ABS(0,1566-0,2658)+ ABS(0,1085-0,0370) +ABS(0,0436-0,0122) + ABS(0,0487-0,0016) +(ABS(0,0440-0,0212)+ ABS(0,0241-0,0078) +ABS(0,2131-0,3491) + ABS(0,1596-0,2433) +ABS(0,0598-0,0469) + ABS(0,1420-0,0029))/2

    0,3290

    =

    =

    =

    Calculando-se o CA para todo i e k chega-se a tabe-la 7.

    Analisando a questo 3, da tabela 1, pelos Coefici-entes de Associao geogrfica da tabela 7 conclui-seque os setores (Agropecuria, Indstria e Servios) noesto distribudos geograficamente da mesma forma.

    Coeficiente de Redistribuio CRO Coeficiente de Redistribuio CR uma medi-

    da de natureza setorial que permite examinar um pa-dro de concentrao ou disperso espacial ao longo dotempo. Quanto mais prximo de zero, o setor i no so-freu mudanas significativas no seu padro de localiza-o.

    Onde:

    O elemento (valor percentual) de coluna i e linhaj da matriz percentual da tabela 4;

    O elemento (valor percentual) de coluna i+1 oui-1 e linha j da matriz percentual da tabela 4;

    a mdia da soma dos valores absolutos da dife-rena entre todos os e .

    Pela matriz percentual em funo dos municpios(tabela 4) para i=1 e k= 2 no ano 2002 tem-se:

    ((ABS(C1-D1) + ABS(C2-D2) + ABS(C3-D3) +ABS(C4-D4) + (ABS(C5-D5) + ABS(C6-D6) + ABS(C7-D7) +ABS(C8-D8) +ABS(C9-D9) +ABS(C10-D10))/2

    ((ABS(0,1566-0,3743) + ABS(0,1085-0,0465) +ABS(0,0436-0,0322) + ABS(0,0487-0,0009) +(ABS(0,0440-0,0127)+ ABS(0,0241-0,0112) +ABS(0,2131-0,1352) + ABS(0,1596-0,3290) +ABS(0,0598-0,0569)+ABS(0,1420-0,0011))/2

    0,3872

    =

    =

    =

  • 21CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    Tabela 8: Coeficiente de Redistribuio CR das atividades da RMS do Estado da Bahia noperodo 2002 e 2003

    Fonte: O autor.

    Tabela 7: Coeficiente de Associao Geogrfica CA das atividades da RMS do Estado daBahia no perodo 2002 e 2003

    Fonte: O autor.

    Tabela 6: Coeficiente de Localizao CL das atividades da RMS do Estado da Bahia no perodo 2002 e 2003

    Fonte: O autor.

  • 22 CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    O Coeficiente de Redistribuio do setor i entre doisperodos definido por:

    Coeficiente de Especializao CEO Coeficiente de Especializao CE uma medi-

    da de natureza regional que compara a estrutura pro-dutiva do municpio j com a estrutura produtiva da RMS.Quando o valor de CE for prximo de zero (0), o munic-pio j tem uma composio setorial idntica ao da RMS.Se o valor do CE for prximo de um (1), o municpio j estcom elevado grau de especializao em atividades liga-das a um setor.

    (...) o campo de variao de constitudo pelo intervalo 0,1 aberto direita, isto , o extremo 1 no sendo nuncaatingido; com = 0 pode dizer-se que h ausncia de espe-cializao na regio i face ao padro; e quanto mais pr-ximo de 1 for mais especializada a economia dessaregio relativamente, ainda, ao padro (LOPES, 1987:99-100).

    O Coeficiente de Especializao do municpio j definido por:

    Tabela 9: Coeficiente de Especializao CE dos municpios da RMS do Estado da Bahia no perodo 2002 e 2003

    Fonte: O autor

    Calculando-se o CR para todo i do ano 2002 e 2003chega-se a tabela 8.

    Analisando a questo 4, da tabela 1, pelos Coefici-entes de redistribuio da tabela 8 tem-se:

    Todos os setores tm CR prximo de zero, indican-do que nenhum desses setores sofreu mudanas signifi-cativas no seu padro de localizao.

    Onde:

    O elemento (valor percentual) de coluna i e li-nha j da matriz da tabela 4 no ano 2002;

    O elemento (valor percentual) de coluna i e li-nha j da matriz da tabela 4 no ano 2003;

    a mdia da soma dos valores absolutos da di-

    ferena entre todos os e .

    Pela matriz percentual em funo dos municpios(tabela 4) para i=1 no ano 2002 e 2003 tem-se:

    ((ABS(H1-C1)+ ABS(H2-C2)+ ABS(H3-C3)+ABS(H4-C4)+ (ABS(H5-C5)+ ABS(H6-C6)+ABS(H7-C7) + ABS(H8-C8) + ABS(H9-C9) +ABS(H10-C10))/2

    ((ABS(0,1888-0,1566)+ ABS(0,1318-0,1085) +ABS(0,0449-0,0436)+ ABS(0,0506-0,0487) +(ABS(0,0441-0,0440)+ ABS(0,0226-0,0241) +ABS(0,1914-0,2131) + ABS(0,1391-0,1596) +ABS(0,0613-0,0598) + ABS(0,1254-0,1420))/2

    0,0603

    =

    =

    =

    =

    =

    =

    Onde:

    O elemento (valor percentual) de coluna i e linha jda matriz da tabela 3;

    Somatrio dos elementos (valores percentuais) decoluna i e linha j da coluna i da matriz da tabela 3;

    a mdia da soma dos valores absolutos da dife-rena entre todos os e .

    Pela matriz percentual em funo dos setores (ta-bela 3) para j=1 tem-se:

    ((ABS(C1-C11)+ABS(D1-D11)+ ABS(E1-E11))/2

    ((ABS(0,0014-0,0024)+ ABS(0,8441-0,5995)+ABS(0,1545-0,3981))/2

    0,2445

    =

    =

    =

  • 23CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    Calculando-se o CE para todo j chega-se tabela 9.Analisando a questo 5, da tabela 1, pelos Coefici-

    entes de Especializao da tabela 9 tem-se:Os municpios de Vera Cruz (CE= 0,3808) e Salva-

    dor (CE= 0,3682) so municpios com maior grau de es-pecializao em um dos setores.Cabe aqui, mencionarque CE no especifica quais so esses setores. Estes po-dem ser determinados, e j o foram, pelo QL.

    Coeficiente de Reestruturao CTO Coeficiente de Reestruturao CT uma medi-

    da de natureza regional que avalia o grau de mudanana especializao do municpio j. Quanto mais prximode zero, o municpio j no sofreu mudanas significati-vas no seu padro de especializao.

    O Coeficiente de Reestruturao do municpio jentre dois perodos definido por:

    Calculando-se o CT para todo j no perodo de 2002e 2003 chega-se a tabela 10.

    Analisando a questo 6, da tabela 1, pelos Coefici-entes de Reestruturao da tabela 10 tem-se:

    Todos os CTs esto prximos de zero o que indicaque no houve nenhuma modificao na especializa-o dos municpios da RMS nos anos de 2002 e 2003.

    ConclusoEste estudo buscou, demonstrar os clculos, os con-

    ceitos e a interpretao das medidas de localizao eespecializao, que so tradicionalmente utilizadas narea de anlise do desenvolvimento regional e urbano,para a obteno de diagnstico preliminar, puramentequantitativo, sobre o desenvolvimento da Regio Metro-politana de Salvador -RMS.

    mister salientar que para uma anlise quantitati-va mais detalhada, outras variveis devem ser analisa-das tais como: O emprego e o PIB per capita. Este ltimosegundo Clemente, ... vem sendo utilizado h muitotempo como indicador bsico de desenvolvimento deuma regio ou pas (2000:27).

    Mesmo diante de uma anlise quantitativa deta-lhada as medidas de localizao e especializao tmsuas limitaes; uma vez que no explicam as causasque levaram determinado setor ou regio a apresenta-rem indicadores mais altos ou mais baixos, e pautam assuas mediadas em uma nica varivel bsica.

    Medir o desenvolvimento de uma determinada re-gio um processo complexo que dever levar em contaa estratificao dos setores em atividades e envolver asmedidas de localizao e especializao com mais deuma varivel bsica e com outros modelos e de mtodosqualitativos.

    Dentro dessa linha, Rodrigo Simes apresenta al-guns modelos e tcnicas de anlise regional mais recen-tes tais como: Mtodo Shift-Share ou Diferencial-Estruturado: Este

    mtodo faz a descrio do crescimento econmico deuma regio nos termos de sua estrutura produtiva.Compe-se de um conjunto de identidades que pro-

    Onde:

    O elemento (valor percentual) de coluna i e li-nha j da matriz da tabela 3 no ano 2002;

    O elemento (valor percentual) de coluna i e li-nha j da matriz da tabela 3 no ano 2003;

    a mdia da soma dos valores absolutos da di-ferena entre todos os e .

    Pela matriz percentual em funo dos setores (ta-bela 3) para j=1 no perodo de 2002 e 2003 tem-se:

    ((ABS(C1-C11)+ABS(D1-D11)+ABS(E1-E11))/2

    ((ABS(0,0014-0,0024) + ABS(0,8441-0,5995) +ABS(0,1545-0,3981))/2

    0,2445

    Tabela 10: Coeficiente de Reestruturao CT dos municpios da RMS do Estado da Bahia no perodo 2002 e2003

    Fonte: O autor.

    =

    =

    =

  • 24 CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    curam identificar e desagregar componentes respon-sveis pelo crescimento fazendo uma anlise descri-tiva da estrutura produtiva.

    Modelo de Insumo-Produto: modelo em que propor-cionam as bases conceituais para a anlise das cone-xes intersetoriais e desenvolvimento regional.

    Anlise Multivariada: uma anlise estatstica quetrabalha com medidas, atributos mltiplos de um oumais amostras de regies e suas respectivas vari-veis.

    Modelo de Equilbrio Geral Computvel EGC: ummodelo computacional que determinam endogena-mente preos relativos e quantidades produzidas uti-lizando-se das matrizes de Contas Nacionais e deInsumo-Produto.

    Modelos de Econometria e Associao Espacial: Estemodelo permite verificar se a presena de um fenme-no em uma rea (cidade ou regio) torna sua existn-cia em reas vizinhas mais ou menos provveis.

    Fuzzy Clusters: Utiliza-se da Teoria dos Conjuntos Ne-bulosos ou Difusos para definir um conjunto ou cate-gorias de indivduos onde os mesmos so expressospor uma fonte de impreciso por derivar da ausnciade fronteira entre a existncia e a no-existncia. Dessa

    forma tais conjuntos ou categorias so representadospor valores contnuos entre zero (0) e um (1).

    Enfim, uma anlise regional e urbana realizadapor medidas clssicas de localizao e especializaoe/ou por meios de modelos, mtodos, tcnicas, mais re-centes; somente revelam um diagnstico. Necessita, con-tudo, de aes e polticas de desenvolvimento regional ede iniciativa poltica para encarar definitivamente asdesigualdades regionais e urbanas brasileiras.

    RefernciasCLEMENTE, Ademir & Higachi, Hermes Y. Economia e Desen-

    volvimento Regional. So Paulo, Atlas, 2000.

    HADDAD, Paulo R. Planejamento Regional: mtodos e aplicao aocaso brasileiro. Rio de Janeiro, IPEA/INPES, 1974.

    SEI. Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia.Disponvel em: http://www.sei.ba.gov.br/pib/municipal/pdf/pib_mun_nota_explica.pdf. Acesso em: 03 jul. 2006.

    SIMES. Rodrigo. Relatrio: Mtodo de Anlise Regional. FACE/CEDEPLAR-UFMG.Belo Horizonte, 2004. Disponvel em:http://www.cedeplar.ufmg.br/pesquisas/td/TD%20259.pdf. Acesso em: 04 jul. 2006.

    LOPES, A Simes. Desenvolvimento Regional: problemtica, teoria,modelos. Lisboa (Portugal), Fundao Calouste Gulbenkian,1987.

  • 25CAR CADERNOS DE ANLISE REGIONAL Vol. 5 N 1 Outubro de 2006

    ResumoEsse artigo tece consideraes sobre o fenmeno que al-guns economistas chamam de Mundializao do Capi-tal. Esse movimento se caracteriza pela desregula-mentao dos mercados financeiros internacionais. Apartir da dcada de 1960, ocorreu nos Estados Unidosuma srie de mudanas nas regras que regulamentamos mercados de capitais, causando o aumento substan-cial das formas de aplicao financeira. Neste trabalhosero apontados as causas e os efeitos dessas medidas positivos e negativos tanto no setor financeiro, comono setor produtivo.

    Palavras-chave: mundializao, capital financeiro, des-regulamentao, mercado de capitais.

    AbstractThis article tries to explain the phenomenon that someeconomists call Mundialisation of the Capital. Thismovement characterizes for the deregulation ofinternational financial markets. From the decade of 60them a series of changes in the rules that regulate thestock markets occurs in the United States causing thesubstantial increase in the forms of financial application.In this work we will point the causes and effect, positivesand negatives, of these measures in such a way in thefinancial sector as in the productive sector.

    Key words: mundialisation, financial capital, deregula-tion, stock markets.

    1 IntroduoOs ltimos quarenta anos foram marcados por uma

    mudana estrutural no capitalismo contemporneo. Ocrescimento da importncia dos mercados financeiros,juntamente com uma maior interligao das economiasmundiais, provocou efeitos que extrapolam a esfera fi-nanceira e alcanam o setor produtivo. A preocupaodas empresas com sua gesto financeira por vezes ga-nha mais importncia at mesmo que a produo, fa-zendo dela, em vez de uma fonte de financiamento, oprincipal objetivo.

    A questo ser abordada atravs da viso de diver-sos autores que, mesmo utilizando denominaes dife-rentes para descrever tais mudanas, pretenderam lan-ar