caderno adoção 25/05/2016

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4 E disse: “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus”. MATEUS 18:3 Fortaleza, Ceará, Brasil Quarta-feira, 25 de maio de 2016 Guilherme, Leandro e Aline Fabiana e Jessica Sávio e família Iratuã e Carmelita Massimo e família Dora e Ana Isabel Felipe e família Dia Nacional da Adoção 25 DE MAIO “Ele é a razão da nossa vida, a gente não se imagina sem ele não, nos fortaleceu como casal, como família” “Foi amor à primeira vista. A vontade era de abraça-los e beija-los.” “O filho biológico tem o DNA do meu corpo, minha porção animal e mortal. O filho adotivo tem o DNA de minha alma, minha porção espiritual que me imortaliza e me aproxima de Deus” “A adoção para nós é uma forma de construir família. É uma constituição tão bonita quanto a que possuímos com o nosso filho biológico. É a mesma vontade de acolher, de cuidar, de amar.” “Para mim existem ligações muito mais importantes que a genética. A maior beneficiada na adoção fui eu.” “Foi um presente que Deus me deu. Sinto-me tão honrada por ter sido escolhida para ser mãe, quando eu nem imaginava que seria” “O amor de mãe não contempla o impossível”

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Jornal O Estado (Ceará)

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Page 1: Caderno  Adoção 25/05/2016

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E disse: “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus”.MATEUS 18:3

Fortaleza, Ceará, Brasil Quarta-feira, 25 de maio de 2016

Guilherme, Leandro e Aline

Fabiana e Jessica

Sávio e família

Iratuã e Carmelita

Massimo e família

Dora e Ana Isabel Felipe e família

Dia Nacional

da Adoção

25 DE MAIO

“Ele é a razão da nossa vida, a gente não se imagina semele não, nos fortaleceu como casal, como família”

“Foi amor à primeira vista. A vontadeera de abraça-los e beija-los.”

“O filho biológico tem o DNA do meu corpo, minha porção animal e mortal. O filho adotivo tem o DNA de minha alma, minha porção

espiritual que me imortaliza e me aproxima de Deus”

“A adoção para nós é uma forma de construirfamília. É uma constituição tão bonita quanto a que possuímos com o nosso filho biológico. É a mesma vontade de acolher, de cuidar, de amar.”

“Para mim existem ligações muito mais importantes que a genética. A maior

beneficiada na adoção fui eu.”

“Foi um presente que Deus me deu. Sinto-me tão honrada

por ter sido escolhida para ser mãe, quando eu nem

imaginava que seria”

“O amor de mãe não contempla o impossível”

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2 Fortaleza, Ceará, Brasil Quarta-feira, 25 de maio de 2016 O ESTADO

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3O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quarta-feira, 25 de maio de 2016

crianças e adolescentes, aguardam sua habilitação para serem adotadas. O tempo médio de destituição familiar é de quase quatro anos.

O retrato da adoção no Brasil, ainda não é o mais bonito e precisa de reparos

substanciais. A disparidade entre o número de crianças aptas para adoção (5.469), en-tre os pretendentes a adotar (35.609), revela e comprova a morosidade do Judiciário e falta de estrutura do Poder Pú-blico. Problemáticas que pre-cisam emergencialmente ser solucionadas, que vão desde o acolhimento das crianças e adolescentes nas casas de aco-lhimento, processos de guar-da, desconstituição do poder familiar, medidas protetivas de acolhimento e adoção. Em 2015, de milhares de crianças e adolescentes nos abrigos, apenas 615 crianças foram para o seio de uma família, conforme o Cadastro Nacio-nal de Adoção (CNA).

Uma recente pesquisa lan-çada em junho de 2015, “Tem-po dos processos relaciona-dos à adoção no Brasil – uma análise sobre os impactos da atuação do Poder Judiciário”, encomendada pelo Departa-

mento de Pesquisas Judiciárias (DPJ) do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) à Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ), dá conta de que uma crian-ça só é colocada para adoção, após quatro anos, em média, nas principais cidades de três regiões do país (Norte, Cen-tro-Oeste e Sul). No Sudeste, o processo de perda do poder familiar dura, em média, três anos e três meses.

Uma gestaçãoNa outra ponta da agulha,

Recife, a representante do Nordeste no estudo, é a úni-ca cidade onde esse processo leva menos de um ano. São, em média, nove meses – ain-da assim, muito superior ao que preconiza a nova Lei de Adoção, aprovada há mais de cinco anos, que estipula um teto de 120 dias para a con-clusão do procedimento.

“Uma coisa é um processo demorar e você não receber uma dívida. Outra coisa é o processo demorar e uma crian-ça perder a chance de ter uma família e crescer dentro de um

abrigo”, rechaça o presidente da ABJ e coordenador do es-tudo, Marcelo Guedes Nunes. “A criança entra no sistema em condições de ser adotada e de-vido à burocracia, atinge uma idade em que ninguém mais a quer”, chama atenção.

PrecariedadesO estudo apontou que, em

Brasília, por exemplo, o tem-po médio de destituição fami-liar é de quase quatro anos. De acordo com os pesquisadores, um motivo que explicaria a demora seria o envio frequen-te de cartas precatórias aos municípios satélites de Bra-sília, que demoravam muito para retornar. Em São Paulo, os processos de adoção e per-da de poder familiar são mais céleres na capital e nas cida-des de São José dos Campos e Campinas, e mais demorados em Bauru, Guarulhos, Soro-caba e Osasco. Na região Sul e em Belém/PA, os tempos me-dianos são superiores a três anos, enquanto no Nordeste, pelo menos 90% dos proces-sos observados apresentaram

tempo inferior a 400 dias. A vara de Recife foi a que apre-sentou menor tempo media-no do processo.

ReparosPara melhorar e viabilizar

o sistema de adoção, o docu-mento aponta a necessidade de agilizar a guarda da crian-ça e cumprir prazos; evoluir o diálogo entre juízes, setor técnico e promotoria; apri-morar os cursos com adotan-tes; reduzir a insistência em manter as famílias biológicas, permitindo assim a destitui-ção para que se possa fazer a adoção e criação de uma vara especializada somente em adoção e destituição.

InvisíveisAlém das 5.469 crianças

disponíveis para serem ado-tadas, nas casas de acolhi-mento, existem ainda cerca de 40 mil crianças e adoles-centes, aguardando sua habi-litação para serem adotadas, mantendo o vínculo com a família biológica ou porque o processo de destituição do

poder familiar, indispensável para a consumação da ado-ção, ainda tramita na Justiça.

PerfilA permanência das crian-

ças nos abrigos é agravada ainda, segundo a psicóloga Suzana Schettini, presidente da Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção (Angaad), em função ao per-fil da criança idealizada pela maioria dos pretendentes.

Segundo Schettini, 70% das pessoas cadastradas são casais que não têm filhos e desejam filhos pequenos. “É complexo isso, porque não podemos forçar com que o pretendente mude seu perfil. Esse perfil é uma questão de desejo, tem motivações inter-nas, psicológicas”, salienta.

Porém, a presidente da An-gaad salienta que o trabalho das 150 instituições em todo o Brasil, que contribuem na sensibilização junto à socie-dade e órgãos públicos, para modificar a realidade da ado-ção no Brasil e torná-la mais célere, têm conseguido am-

pliar as possibilidades, prin-cipalmente, nos casos de ado-ção tardia. “A maioria das já entendem que amor não tem cor, não fazendo distinção da cor. Mas temos ainda a ques-tão da idade, em que a grande maioria prefere crianças até três anos. A questão do gêne-ro também modificou, antes a preferência era das meninas”, pontua, não deixando de tecer críticas a morosidade do siste-ma. “Enquanto as instituições demoram, as crianças são var-ridas para debaixo do tapete, são invisíveis à sociedade. Os abrigos são fechados à visi-tas. Se as pessoas não podem entrar e não podem ver as crianças, como elas podem se apaixonar? E essas crianças não são vistas, continuaram com futuro incerto, crescen-do nas instituições e distan-ciando da possibilidade do direito à convivência familiar e comunitária de toda crian-ça e adolescente instituciona-lizada (em abrigos).

ADOÇÃO 40 mil

ADOÇÃO NO BRASIL, UMCENÁRIO A SER MODIFICADO

A criança entra no sistema em condições de ser adotada e devido a burocracia, atinge uma idade em que ninguém mais a quer

Editora Soraya de Palhano Jornalistas Caroline Milanêz e Rochana Lyvian Diagramação e Design Kelton Vasconcelos Arte Andy MonroyEXPEDIENTE

Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus.MATEUS 18:4

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5O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quarta-feira, 25 de maio de 2016

“É dever da família, sociedade e Estado assegurar à criança e ao adolescente o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionaliza-ção à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar.”

Ainda hoje a grande maioria dos brasi-leiros silencia e ou-tros desconhecem

a situação de abandono fami-liar pelo qual passam as crian-ças encaminhadas a abrigos em todo o Brasil. O dia-a-dia vivenciado por essas crianças e adolescentes, os quais mui-tos entre eles crescem dentro dessas instituições, não é mui-to diferente em cada região deste país. Crianças em abri-gos compartilham os mesmos sonhos e carências: ter alguém que zele pessoalmente por suas vidas, demonstre amor de pai e mãe, e finalmente as leve para casa. Muitas chegam ainda bebês e viram adoles-centes sem que sua situação seja resolvida. Nem voltam para a família biológica nem são liberadas para adoção.

Os números do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), atualmente, conta uma lista de 5.502 crianças e adoles-centes que esperam por uma família, contra 33.375 mil famílias que aguardam pela adoção. Enquanto a legisla-ção vigente estabelece o abri-go como lugar excepcional e temporário, a realidade é que 40 mil crianças e adolescentes vivem em abrigos. São crian-ças e adolescentes invisíveis, crescendo sem o carinho de uma família, alheias a um afe-to, essencial para a construção

de sua identidade.Contudo, existem mulhe-

res e homens que transcen-dem a barreira do egoísmo, dos laços físicos, do medo, do preconceito, e são capazes de ir além das barreiras genéti-cas e consanguíneas. Sonham e desejam construir sua fa-mília adotando uma crian-ça. Para estes, como também para aqueles que fomentam em seu íntimo a vontade de adotar, mas estão cercados de dúvidas e incertezas, é cru-cial se informar e se preparar para a nova vida. Por isso, montamos um passo o passo para ajudá-los na construção desse sonho. A Constituição Federal, no seu art. 227, ga-rante o direito à convivência familiar e comunitária e atri-bui ao Estado, à sociedade e à família o dever de garantir esse e outros direitos funda-mentais. Lembramos que a adoção é irrevogável e se dá pelo Juizado da Infância e da Juventude, garantindo ao fi-lho adotivo, os mesmo direi-tos dos filhos biológicos.

Quem pode adotar?Pessoas solteiras, viúvas,

separados judicialmente, ou que vivem em união es-tável, maiores de 18 anos, que sejam 16 anos mais ve-lhos que os adotados. As-sim como um cônjuge ou companheiro pode adotar

o filho do outro.

E agora, onde devo ir?Os pretendentes devem

se dirigir a um juizado da Infância e da Juventude mais próximo de sua Casa. Em Fortaleza, há um jui-zado responsável pelo ca-dastro de adotantes e ado-tandos, que fica localizado na Avenida Floriano Bene-vides, 220,Ediison Queiroz – Telefone (85)3278.11.28 – Email:[email protected]

DocumentosCada cidade tem sua parti-

cularidade, mas no geral, para dar entrada para o processo de adoção necessita de certi-dão de nascimento ou casa-mento, identidade, CPF, com-provante de residência, cópia autenticada e de comprovante ou declaração de renda men-sal dos requerentes, Alva-rá de folha corrida judicial, atestado de sanidade física e mental, com reconhecimen-to de firma, dois atestados de idoneidade moral, cada um preenchido e assinado por pessoas diferentes, sem grau de parentesco com as partes, atestando boa conduta.

EntrevistaNesta etapa, uma equipe

técnica da Vara da Infância e da Juventude compostas por profissionais das áreas da psi-

cologia e do serviço social, escutarão dos interessados as motivações e expectativas dos requerentes à adoção. Essa é uma das fases mais impor-tantes. A partir disto, as entre-vistas objetivam avaliar, por meio de uma cuidadosa análi-se, se os pretendentes podem vir a receber uma criança na condição de filho. Nesta fase, os candidatos referem o perfil da criança que desejam ado-tar, por exemplo, a idade.

Habilitação/CursoApós a entrevista, o pro-

cesso é encaminhado ao juiz, onde decidirá se o candidato está apto ou não. Se o candi-dato for aprovado, ele pas-sará a integrar o Cadastro Nacional de Adoção. Os in-teressados a adotar têm que participar de um encontro preparatório psicossocial e jurídico. O curso é obrigató-rio para que possa ser habili-tado para entrar no Cadastro Nacional de Adoção (CNA).

Quem pode ser adotado?Crianças e adolescentes

que, por alguma razão, teve o vínculo familiar rompido e encontra-se disponível em para adoção.

Posso adotar uma criança sendo solteiro?

A legislação não faz distin-ção solteira e casada. Tanto

um como o outro deverá ser avaliado pela equipe técnica da vara da infância e juventu-de para que seja verificada a capacidade de escolher, amar, e educar uma criança. Esse estudo psicossocial será sub-metido ao magistrado, que decidirá sobre a conveniência da habilitação solicitada.

Tem limite máximo para adotar?

Não. Qualquer pessoa em pleno gozo de suas faculdades mentais e com capacidade civil pode adotar, no momento do preenchimento do cadastro.

Qual a renda necessária para adotar uma criança?

Não existe uma definição legal de renda mínima para a adoção, qualquer pessoa pode se inscrever na fila de adoção independente de sua renda. A equipe técnica da Vara da Infância poderá ve-rificar se o candidato tem condições de cuidar de uma criança, oferecendo-lhe es-trutura e conforto, isso inclui renda e espaço físico.

O adotante pode escolher a criança que pretende adotar?

Ao adotante tem o direito de indicar o perfil da criança a ser adotada, no momento do preenchimento do cadastro.

A adoção é para sempre?

Sim. De acordo com ECA, a adoção é irrevogável, mas como qualquer pai, os adoti-vos estão sujeitos à perda do poder familiar.

O que é poder familiar?São os direitos e deveres

dos pais, relativo aos filhos menores de 18 anos. Visa garantir o direito e dever da criação, educação, assistência da criança e adolescente.

Eu posso dar meu filho para a adoção?

Sim, você pode. Você de-ve-se dirigir para a Vara da Infância de sua cidade e diga suas intenções, é lá que você irá resolver isso. Você pode ir mesmo antes do parto.

Quem encontrar um bebê abandonado pode adotar?

Uma criança em situação de abandono, não está au-tomaticamente disponível para adoção. Nesse caso, o procedimento adequado é procurar órgãos competen-tes como delegacia, Vara da Infância e da Juventude e ou Conselho Tutelar.

Fonte: Juizado da Infância e da Juventude

do Ceará e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

ADOÇÃO Direito

PASSO A PASSOPARA ADOÇÃO

Saiba como funciona o processo de adoção, legal, seguro e para sempre

Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo.MATEUS 18:5

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6 Fortaleza, Ceará, Brasil Quarta-feira, 25 de maio de 2016 O ESTADO

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7O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quarta-feira, 25 de maio de 2016

“É indispensável para a formação humana do individuo, o cuidado e o acolhimento familiar por laços de sangue ou da alma desde os primeiros anos de vida”

Os lápis de cor e as folhas em branco estão sempre ins-trumentalizando a

pequena Yasmim para o lindo colorido dos seus sonhos! Ela chegou ao Abrigo Casa de Je-remias em 2012 com apenas três meses de vida e durante os três anos de acolhimento institucional, a pequenina ex-pressava com frequência o so-nho de ter uma família através dos desenhos. O nome Yas-mim possui origem oriental e significa flor de jasmim. A harmonia entre o nome dela e o talento para pintura é ní-tida e contagiante! A menina esporadicamente recebia a vi-sita da mãe biológica no abri-go. Aos dois anos de idade, Yasmim já não a reconhecia e ao fim das poucas e últimas visitas realizadas pela genitora em 2014, a menina havia re-jeitado a mãe completamen-te. Ela nunca aparecia nos desenhos de Yasmim. Desde muito cedo, a pequenina ex-pressava o desejo de ter uma família: pai, mãe e irmãos. Eles já existiam na imagina-ção dela e naquele colorido sobre o branco.

A família dos sonhosApós cinco anos de casa-

dos, em 2009, nasceu o primo-gênito Miguel do casal Tales e Diana. Eles são primos de ter-ceiro grau. Após a gestação de Diana, ela desenvolveu alguns problemas de saúde que fo-ram impedimento para nova gravidez. Em 2012, o mesmo ano do nascimento de Yas-mim, Tales e Diana estavam iniciando o processo de habi-litação no Cadastro Nacional

de Adoção em Fortaleza, isto é, enquanto a pequenina era acolhida ainda recém-nascida no abrigo, o casal ingressava no Fórum Clóvis Beviláqua para adoção da sua filha do coração! Diana e Tales com-partilham do convencimento natural sobre a adoção na vida das famílias que possuem essa vocação. “A adoção é natural quando eu entendo que é vi-tal para uma criança convi-ver em família biológica ou do coração. É indispensável para a formação humana do individuo, o cuidado e o aco-lhimento familiar por laços de sangue ou da alma desde os primeiros anos de vida”.

Tales e Diana entendem que a participação deles no grupo de orações da Igreja católica foi importante para o casal conhecer biblica-mente o sublime projeto de adoção na vida do ser hu-mano. Foi durante um des-ses encontros que eles obti-veram a certeza da vocação para adoção na vida deles.

Em poucos meses, o ca-sal adquiriu a habilitação no Cadastro Nacional. Eles estavam aptos para a chega-da da filha tão sonhada. O desejo de ter uma menina e o preenchimento da opção

no questionário do perfil da criança durante o pro-cesso de habilitação surgiu especialmente pelo fato da predominância de filhos ho-mens na família de Tales.

A esperaA mãe de Diana, dona

Margarida, além de apoiar a decisão do casal pela adoção do segundo filho, uniu-se a eles na expectativa amorosa e festiva pela chegada da neta do coração durante toda es-pera! Foram três anos até re-ceberem a ligação do setor de cadastro. “Após dois anos, eu e Tales pensávamos que não ligariam mais para nós. Che-guei a telefonar perguntando se os nossos nomes estavam mesmo aptos no Cadastro Nacional de Adoção.”, declara Diana. Enquanto isso, Dona Margarida planejava os de-talhes para a cerimônia de batizado da neta para logo que ela chegasse em casa. Ela compartilha que esse plano alimentava a confiança que havia no coração dela e forta-lecia a filha e o genro.

Após a entrega de toda a documentação necessária na Seção de Cadastro para Ado-ção no Fórum Clóvis Bevilá-qua, eles participam de cursos

de formação e atendimento psicológico gratuitos com as-sistentes sociais, psicólogos e pedagogos da Justiça. A ha-bilitação dos nomes deles no Cadastro Nacional de Adoção configurou a promoção de candidatos a adotantes legal-mente aptos. Tales e Diana obtiveram a aprovação em 2012 e somente em 2015 rece-beram a ligação do grupo de assistentes sociais da Justiça para conhecerem Yasmim.

AguardandoA pergunta: “vocês podem

ir ver a Yasmim amanhã?” ao casal pela assistente social do Fórum, fez desaparecer ime-diatamente nos corações de Diana e Tales os sentimentos de ansiedade que os acompa-nhou durante os três anos de espera. “Tanto tempo aguar-dando e agora desapareceu essa dor!”, comemorou Dia-na. Sim, rapidamente, o casal respondeu a assistente social para ir conhecer Yasmim.

Dona Margarida conta que ao iniciar o processo de ado-ção da neta do coração, o pri-mogênito do casal, Miguel, já compreendia bem que ga-nharia uma irmã. Ele estava com sete anos e foi prepara-do pelos pais e pela avó para

a chegada de uma irmãzinha. Miguel foi com os pais

conhecer Yasmim e surpre-endeu a todos no primeiro encontro. O menino natural-mente disse para ela: “Sabia Yasmim que sou seu irmão-zinho e a gente vai brincar muito!”. A menina estava com três anos de idade e aco-lheu carinhosamente Miguel, Tales e Diana a partir daquele primeiro encontro! Os perso-nagens que surgiam nos de-senhos de Yasmim agora es-tavam bem reais diante dela.

O casal recebeu a guarda provisória de Yasmim em se-tembro de 2015 após os dois meses da rápida adaptação da menina na família. Em abril de 2016, eles comemoraram a guarda definitiva.

O dia e o mês nos quais a pequena Yasmim foi destituída do poder familiar (desligamen-to legal da criança da família biológica pelo juiz) é a mesma data de aniversário de Tales, esposo de Diana: 15 de maio. Esse é um entre os detalhes que alegram os corações de toda fa-mília pela confirmação da vo-cação de Diana, Tales, Miguel e Yasmim para adoção!

ADOÇÃO Coração

A FAMÍLIA ALÉM DOSDESENHOS DE YASMIN

A pequenina expressava com frequência o sonho de ter uma família através dos desenhos

A adoçãoé natural

quando eu entendo queé vital para

uma criança conviver

em família biológica oudo coração

Diana e Tales com os filhos Yasmin e Miguel. O desejo de ter uma menina surgiu especialmente pelo fato da predominancia de filhos homens na família de Tales

Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar.MATEUS 18:6

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8 Fortaleza, Ceará, Brasil Quarta-feira, 25 de maio de 2016 O ESTADO

“No Ceará existem 74 crianças e adolescentes, disponíveis para adoção, e 179 pessoas habilitadas para adotar”

Apesar de a adoção a nível nacional andar a passos lentos, no Ceará, a

realidade tem sido diferente. Até o dia 12 de maio deste ano, no Ceará, 28 crianças foram adotas, conforme in-formou a chefe do setor de Cadastro de Adotantes e Adotados do Fórum Clóvis Beviláqua, Gabriella Costa. Segundo Gabriella, no Esta-do, ainda existem 74 crianças e adolescentes, disponíveis para adoção. Por outro lado, revela que existem 179 re-querentes habilitados para adotar.

Entre os motivos que tem feito a filar andar de manei-ra célere, a chefe do Cadastro de Adoção no Ceará lembra a especialização da 3ª Vara da Infância e da Juventude, que ocorreu, em junho de 2014, e que tem à frente a juíza Maria Alda Holanda.

“A especialização da 3ª Vara provocou um salto mui-to grande, não só com relação à quantidade de adoções nos últimos dois anos, mas no to-cante à destituição das crian-ças como menos de dois anos, o que leva a acelerar todo o processo de adoção”, ressalta.

Gabriella recorda que, em

2015, ocorreram 37 adoções, quantitativo 100% a mais que em 2014, que ocorreram ape-nas 17. “A especialização da Vara possibilitou agilidades aos processos, unificando responsabilidades como o julgamento dos processos cíveis, os pedidos de guarda e tutela, ações de destituição do poder familiar, como por requerimentos de adoção.

Acima de três anosContudo, um dos entraves

que tem impedido de a fila andar mais rápido, fazendo com que dezenas de crianças permaneçam nas instituições de acolhimento, é a escolha do perfil dos pretendentes. “Nosso papel é orientar e mostrar a realidade para os pretendentes. É bem verdade, que a fila andará dependendo do perfil do requerente. Se querem um criança menor de dois anos, é possível uma espera de em média, cinco anos, quem quer uma criança com até três anos, pode espe-rar até um ano e meio. Já as que querem adotar acima de três anos, pode ter a adoção homologada em menos de um ano”, informa.

A chefe municipal do CNA frisa ainda que é vedado aos

pretendentes as visitas aos abrigos, para evitar que ao visitar uma a instituição, o pretendente se apaixone por uma criança que não está para adoção, que ainda esteja sen-do trabalhada a manutenção do vínculo com a sua família.

“Não há garantias de ter um filho perfeito, mas não nos cabe interferir, apenas mostrar os dados e conver-sar sobre adoção de crian-ças acima de dois anos”, diz Gabriella sobre o trabalho e diálogo feito para conscien-tizar aos requerentes sobre a adoção tardia. “Quando os pretendentes vem ao nosso setor, nós reforçamos essa questão das adoções fora dos perfis exigido”, pontua.

Juizes desconhecem Comemorando a vida

nova dessas 28 crianças, que mais que ganharam uma nova família, ganharam se-gurança de vida e possibili-dade de sonhar, o promotor de Justiça, Dairton Oliveira, afirma que a expectativa é que, até o final do ano, ocor-ram mais de 70 adoções no Estado. “Tudo isso a passos largos”, lembra.

Conforme o promotor de Justiça, outro obstáculo no tocante a adoção a nível es-tadual, é com relação a falta de informação jurídica por parte das comarcas. “Elas precisam ser capacitadas, para que a fila de adoção no Estado possa andar”, afir-ma, salientando que, “tem Juízes que não conhecem o que diz o Estatuto da Crian-ça e do Adolescente (ECA) e, pior, desconhecem a Lei

de Adoção, embaralhando e atrasando todo o sistema”. O promotor de Justiça rela-ta: “Tivemos acesso a infor-mações de que os casais de Fortaleza, por exemplo, não estão sendo chamados para adotar no interior. E que tem gente de são Paulo, vindo pegar crianças no interior do Estado”.

O promotor de Justiça Dairton Oliveir alerta que no interior do Estado quan-do aparece uma criança para adoção, não tem se levado em consideração a primeira da fila do Conselho Ncio-nal de Adoção (CNA), mas a quem teve oportunidade de aproximação primeiro da criança e deseja adotá-la.

ADOÇÃO Criança

ADOÇÕES DE CRIANÇASTÊM CRESCIDO NO CEARÁ

Vinte e oito crianças ganharam uma nova família, ganharam segurança de vida e possibilidade de sonhar

A expectativa é que, até o final do ano, ocorram mais de 70 adoções no Estado do Ceará

Há quem cogite longinqua-mente a possibilidade de ado-tar uma criança, mas esbarra em contra-indicações social-mente difundidas, oriundas de um profundo preconceito que permeia o tema. As dúvi-das que surgem nem sempre são teoricamente complica-das, mas antes passam por pré-concepções tão batidas em nossa vivência cotidiana, por nossos familiares, amigos e pela própria mídia. É a cul-tura do “filho de criação”, alguém acolhido materialmente por uma família, mas que não ostenta todos os requisitos inerentes a um filho de verdade, não se mistura no ca-rinho integral que os membros da família se concedem mutuamente.

Deste vício inicial surgem muitas incom-preensões que vão sendo tomadas como verdades eternas, sabedoria ancestral, que

seguem a lógica falsa da pru-dência, apontando seu dedo torto para problemas inexis-tentes. São miragens míopes, que os moribundos do deserto da falta de afetividade pensam ser reais. Como os sedentos e esfomeados na areia escaldan-te, as pessoas que estão priva-das de conviver com o amor pleno têm também delírios: enxergam oásis inexistente de vidas absolutamente seguras, longe de qualquer risco ou

improviso. E com a visão entorpecida por esta ingênua pretensão, privam-se do me-lhor da vida e continuam sua viagem trôpe-ga pelo deserto do afeto.

O filho adotivo é tão amado como o bio-lógico? É essa a primeira dúvida que surge quando alguém pensa em adotar. Não se deve pensar que é crime ter tal insegurança, já que ela faz parte de nosso ideário social

há décadas. Crime é não superá-la, pelo es-pírito de amor revolucionário que existe em potencial em cada um de nós. Amor divino, que não se submete a lógicas egocêntricas e a determinismos cafonas, fora de época.

O filho adotivo é uma dádiva: um ser que o pai adotivo não poderia nunca ter gerado, por advir biologicamente de outros cro-mossomos, mas que permite que ele desti-ne a jazida de afeto que estava ociosa em seu peito. Na verdade só os filhos adotivos são amados. Mesmo os filhos biológicos são adotados por seus pais biológicos, quando há amor e cuidado. O Psicólogo Luiz Schet-tini Filho costuma dizer que todo filho é biológico e adotivo: biológico porque é o único meio de se vir ao mundo e adoti-vo porque precisa ser amado, amparado e criado. Assim, para crescer com seguran-ça emocional todo ser humano precisa ser adotado. Daí inexistir nenhuma distinção entre a filiação biológica e adotiva, em rela-ção ao amor que se sente. O amor é adotivo.

Se há amor, é caso de adoção, mesmo que o filho tenha sido gerado pelo pai.

Podemos, então, esquecer completamen-te o mito da filiação biológica como passa-porte garantido para uma relação amorosa entre pais e filhos. Os abrigos abarrotados de filhos biológicos que não foram adota-dos por seus genitores são um testemunho trágico de que ter sido gerado por alguém não importa necessariamente na existência de amor. Os adolescentes de classe média, andando de moto e usando drogas, larga-dos nas cidades por pais desleixados tam-bém demonstram o mesmo.

Pois então podemos ser livres para amar o diferente e celebrar os encontros de alma. Não precisamos imitar o que a natureza eventualmente negou. Pode o branco amar o negro e vice-versa, na qualidade ímpar de pai e filho, fazendo das famílias uma dádiva da brasilidade, famílias coloridas e amoro-sas, que escolheram o amor como elemento de liga. Quem ama adota.

Por que adotar?

SÁVIO BITTENCOURTProcurador do Estado (RJ)

Até maio de 2016ANO ADOÇÕES2010..............................82011..............................212012.............................122013............................142014............................172015............................37Maio de 2016...........28

ADOÇÕESNO ESTADO

FONTE CADASTRO DE ADOÇÃOFÓRUM CLÓVIS BEVILAQUA

“Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus”GÁLATAS 3:26

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9O ESTADO Fortaleza, Ceará, Brasil Quarta-feira, 25 de maio de 2016

“Nós fomos de coração aberto ao Fórum. As nossas mentes já estavam preparadas porque havíamos lido bastante sobre o assunto. O coração era o algo mais, especial e tão importante que estava nos movendo naquele dia”

O casal Luciano e Daniela, pais de Wellington, pos-suem modo de vi-

ver que ao primeiro contato com eles já impressiona pela marcante harmonia e por fazerem do tempo e do pla-nejamento os fortes aliados deles em família. Estes fluem naturalmente na vida dos dois! Em 2001, os dois se co-nheceram, mas somente após oito anos se reencontraram através do Orkut, voltaram a conversar e começaram a namorar. Mais três anos en-tre namoro e noivado, eles se organizaram material e afeti-vamente para o casamento, o qual ocorreu em 21 de julho de 2012. Os filhos já pode-riam ter vindo no primeiro momento, mesmo os dois en-tendendo que é comum aos casais desfrutarem da com-panhia especial um do outro durante os primeiros meses de convivência no lar. “Da-niela e eu não fizemos uso de nenhum método contracep-tivo desde o início do casa-mento, porque no momento em que acontecesse a gravi-dez dela, estaria tudo bem para nós! Mas, chegamos ao segundo ano de casados em 2014 e a gestação não aconte-cia.”, lembra Luciano.

Orientação médicaDaniela e Luciano pro-

curaram especialistas para a saúde de ambos e descobri-ram uma dificuldade de fer-tilidade em Luciano. Danie-la estava saudável. Luciano compartilha que se submeteu a uma cirurgia na tentativa de reverter o quadro de in-fertilidade, mas não obteve resultado satisfatório e ne-nhum benefício. Ele se arre-pendeu de ter se submetido à cirurgia. Depois, o casal pro-curou três especialistas em reprodução humana e por todos eles, foram orientados a agir rápido, imediatamente, para se submeterem às técni-cas assistidas de reprodução humana em razão da idade. Desta vez, as pressões psico-lógicas interiores e exteriores não subverteram a harmonia cultivada na administração do tempo e o planejamento em família do casal. Daniela lembra que seriam quatorze mil reais para iniciar o trata-mento. Eles estavam interes-sados no tratamento de fer-tilização “in vitro”, desde que não tivessem que se desfazer,

imediatamente, dos recém--conquistados bens da famí-lia ou endividar-se. Abriram uma poupança com o propó-sito de guardar recursos para alcançar o valor completo para o tratamento, e depois iniciá-lo. Mas, algo sonhado e conversado há algum tem-po entre o casal estava flores-cendo na quietude das almas de Luciano e Daniela.

Algo nos moveuAs economias estavam

crescendo e o casal já proje-tava a fertilização para junho de 2015, período no qual também ocorreriam as férias do trabalho de ambos. Lucia-no e Daniela concordaram que a tentativa para gestação do casal por meio da técnica de reprodução humana as-sistida seria única. Paralela à organização do casal, o de-sejo de adotar uma criança, inexplicavelmente, já existia

no coração do Luciano, an-tes mesmo dele descobrir a dificuldade que possuía para fertilidade natural. Danie-la compartilha que nunca imaginou que isso pudesse acontecer na vida dela: ado-tar uma criança; isto porque não ouvira bons relatos sobre o período que seria judicial-mente demorado para efeti-var a adoção de uma criança e os desafios de adaptação no relacionamento familiar.

De repente, Daniela sentiu uma especial vontade de re-pensar essa vertente da ado-ção. Ela e Luciano abriram o coração para essa possibilida-de! Paralelamente ao plano an-terior de fertilização assistida eles iniciaram o plano de ado-ção em suas vidas. “Nós fomos de coração aberto ao Fórum. As nossas mentes já estavam preparadas porque havíamos lido bastante sobre o assun-to. O coração era o algo mais,

especial e tão importante que estava nos movendo naquele dia”, considerou Daniela.

Anteriormente, o casal não sabia onde ou como pro-curar a Justiça para obter as informações sobre a adoção de crianças. Foi somente por meio de uma amiga, que fo-ram orientados sobre a neces-sidade de irem ao Fórum Clo-vis Beviláqua em Fortaleza para preencherem um ques-tionário e se tornarem partici-pantes do Cadastro Nacional de Adoção. Luciano e Daniela iniciaram e concluíram rapi-damente as etapas para ha-bilitação à adoção, ocorridas em apenas dois meses. Torna-ram-se aptos pela Justiça em setembro de 2014.

A surpresaO casal iniciou o ano de

2015 na expectativa da gesta-ção da Daniela por meio da técnica de reprodução huma-

na assistida, programada para junho do novo ano. A progra-mação já estava no orçamen-to financeiro da família. No entanto, uma surpresa fora do planejamento ocorreu no pri-meiro mês do ano: a ligação da assistente social do setor de cadastro do Fórum. “Daniela, há uma criança vinculada ao cadastro de vocês. Eu gosta-ria de saber se vocês possuem disponibilidade para vê-lo.”, disse a assistente social.

Daniela recebeu a ligação pela manhã no trabalho e ligou em seguida para o Lu-ciano. O casal declara que as horas seguintes foram de angústia porque eles não es-peravam que essa ligação ocorresse com apenas quatro meses de habilitação no Ca-dastro Nacional de Adoção. Eles imaginavam que a ges-tação da Daniela aconteceria primeiro e depois a adoção do filho do coração. “Nós não

estávamos preparados, de fato, para a chegada repenti-na de um filho”, declarou Lu-ciano. Contudo, o casal tinha a certeza que não desistiria da oportunidade de conhecer aquela criança.

O primeiro encontroDaniela e Luciano chega-

ram ao abrigo para um pri-meiro contato com Welling-ton, um garotinho com pouco mais de cinco anos de idade. Eles o identificaram imediatamente, antes mesmo das assistentes sociais o indi-carem. Entre as crianças pre-sentes no espaço para brin-cadeiras, eles reconheceram o Wellington por uma intui-ção da alma! Durante os três primeiros meses de visita ao abrigo para convivência entre eles, Luciano conta que o me-nino se mantinha em silêncio quase o tempo todo e somen-te se comunicava por meio de objetos ou movimentos.

Mudança de planosAs semanas, os dias e as

horas se estenderam por qua-se cinco meses, até o recebi-mento da guarda provisória de Wellington e a partida do abri-go com os seus pais Luciano e Daniela. Foram necessárias algumas atitudes diferenciais na organização do casal para o novo momento em família, surpreendentemente ocorrido, devido a celeridade do proces-so, já para o fim do primeiro semestre daquele novo ano! Daniela conta que Welling-ton continuou estudando na mesma escola e que as profes-soras foram imprescindíveis na adaptação dele, nesse novo momento, com a presença dos pais na entrada e na saída das aulas. No início da convivên-cia com Luciano e Daniela, Wellington queria ficar todo o tempo com os pais e chorava muito ao chegar à escola.

O casal desistiu definiti-vamente da técnica de fer-tilização. Eles declaram que somente um milagre os fará ter um filho biológico! Lu-ciano e Daniela sonham em adotar uma menina daqui alguns anos. “Eu olho para o Wellington e não lembro que ele não foi gerado biologica-mente por nós. É incrível e maravilhoso! Olhamos para ele e o vemos, simplesmente, como nosso filho”, declaram Daniela e Luciano.

ADOÇÃO Vida

MUDANÇA DE PLANOSO desejo de adotar uma criança, inexplicavelmente, já existia no coração do Luciano

Aprendam a fazer o bem! Busquem a justiça, acabem com a opressão. Lutem pelos direitos do órfão, defendam a causa da viúva.ISAÍAS 1:17

Eu olho para o Wellington e não lembro que ele não foi gerado biologicamente

por nós. É incrível e maravilhoso! Olhamos para ele e o vemos, simplismente,

como nosso filho

Luciano e Daniela com o filho Wellington. Eles reconheceram Wellington por uma intuição da alma

Luciano eDaniela

iniciaram e concluíram

rapidamenteas etapas

para habilitação à adoção, ocorridas

em apenasdois meses

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ajudando as crianças, elas terão uma melhor condição de vida, mais estímulo, acesso a vínculo afetivo, mais saúde e educação.

Com o objetivo de atender crianças e adolescentes consi-deradas difíceis para

adoção, geralmente com ida-de elevada de 7 a 18 anos, nos abrigos do Estado, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), instituiu em março deste ano, o Programa de Apadrinha-mento de Crianças e Adoles-centes, que podem ocorrer em três modalidades: afetivo, financeiro ou ainda com pres-tação de serviços.

O programa foi elaborado sob a ideia de que com a pos-sibilidade do relacionamen-to das crianças com o seus padrinhos, possa contribuir para sua socialização, e visa fazer com que essas crianças, tenham a oportunidade de co-nhecer uma vivencia familiar e, ao passo, possam ampliar as possibilidades de adoção.

“Há mais de dois anos, a Defensoria Pública do Ceará vem pleiteando junto ao Po-der Judiciário esse programa de apadrinhamento, porque apostamos no potencial do programa de possibilitar a esses jovens a construção de vínculos fora da instituição em que vivem. Tanto os pa-drinhos, quanto as crianças serão preparadas e acompa-nhadas pelo programa”, in-forma o defensor público Ti-bério Augusto Lima de Melo.

Em Fortaleza, os progra-mas de apadrinhamento es-tão sendo conduzidos pelo Setor de Procedimentos Ad-ministrativos do Juizado da Infância e Juventude, cuja equipe técnica fica responsá-vel pela gestão dos procedi-mentos administrativos ne-cessários para a execução de tais programas.

AfetivoNo apadrinhamento afe-

tivo, permite-se a manu-tenção de vínculos afetivos, ampliando as oportunidades de convivência familiar e co-munitária com a criança ins-titucionalizada. Nesse caso, o apadrinhado pode visitá-lo na unidade, levá-lo para pas-sear, passar fins de semana, férias escolares, por período não superior a sete dias, entre outras ações lazer.

Financeiro

Já o apadrinhamento fi-nanceiro, consiste em contri-buir, economicamente, para atender as necessidades da criança institucionalizada, sem criar necessariamente vínculos afetivos.

Prestação de serviços

Por sua vez, o apadrinha-mento denominado presta-ção de serviço, é realizado por um profissional liberal, que poderá executar junto às instituições de acolhimento, cursos direcionados ao pú-blico infantojuvenil, custear atividades diversas que ga-rantam acesso à dignidade dos acolhidos, além de cola-borar com serviços inerentes às atividades do voluntário.

Realidade

Conforme a diretora de Divisão de Procedimentos Administrativos e Judiciais, do Juizado da Infância e Ju-ventude, Maria Dulcinéia Guerra Aires, o programa instalado há dois meses, está em pleno funcionamento e já tem registrado 33 padrinhos,

sendo seis requerimentos para apadrinhamento afeti-vo, quatro financeiros e 23 para prestações de serviço.

“Ainda não temos noção da repercussão desse progra-ma efetivamente, por estar em estágio inicial, mas tem sido feito um grande traba-lho, no sentido de agilizar o contato imediato com os re-querentes, para se conseguir de maneira célere, a autoriza-ção do Juiz, para dar início ao apadrinhamento”, explica.

Segundo a diretora da Di-visão de Procedimentos Ad-ministrativos e Judiciais, do Juizado da Infância e Juven-tude, dos 33 requerimentos,

já existem três deferimentos por parte da Justiça, em que já autoriza um dos padri-nhos a freqüentar a unidade. Entre as unidades beneficia-das estão: Casa de Jeremias e Casa Abrigo.

Para Dulcinéia Guerra Aires, o programa de apa-drinhamento tem como ob-jetivo, aproximar a socieda-de importância das crianças abrigadas, dar visibilidade as crianças com faixa etária difícil para adoção e, que, cada vez mais, vivem em si-tuação de vulnerabilidade. “Então, a sociedade ajudan-do essas crianças, elas vão ter uma melhor condição

de vida, mais um estímulo, acesso a um vínculo afetivo, mais saúde, educação. É uma contribuição de grande valia, de resultados duradouros, e espero que sejam exercidos com plenitude”, avalia.

Paliativo

Para o promotor de Justiça Dairton Oliveira, o Progra-ma de Apadrinhamento de Crianças e Adolescentes no Estado, é uma forma do Poder Judiciário suprir uma lacuna, no tocante ao acolhimento fa-miliar. “Demora-se tanto para decidir sobre a destituição ou não do poder familiar de uma criança, que ela acaba cres-

cendo dentro de um abrigo”, critica. “A política de acolhi-mento familiar não existe no estado do Ceará”, rechaça.

Doutor Dairton lembra que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) disci-plina que as crianças só po-dem ficar institucionalizadas por dois anos. “Porém, milha-res de crianças estão chegan-do a adolescência nos abrigos. Agora, querem implantar algo para garantir a elas, de pelo menos nos finais de semana, de forma circunstancial, um contato com o ambiente ex-terno, em uma convivência comunitária”, afirma.

O promotor de Justiça frisa ainda que o apadrinhamen-to é o primeiro passo para o acolhimento familiar. “De acordo com o ECA, antes de institucionalizar a criança, teria que colocá-la em uma família madrinha. Então, é importante frisar que o Judi-ciário está suprindo de uma forma pequena, um gigan-tesco vazio, que é a lacuna da falta do acolhimento fami-liar”, pontua.

Dairton é enfático em di-zer ainda que o apadrinha-mento familiar veio para “controlar” uma prática que já vinha acontecendo. “Já ti-nha gente que visitava o abri-go, as instituições, gente que prestava serviço, gente que também levava para a casa, mas tudo isso, de maneira não regulamentada”, relata.

Conforme o promotor de Justiça, regulamentado o programa de apadrinhamen-to, agora, o Ministério Públi-co (MP-CE) e a Justiça vão poder fiscalizar. “Eles vãos ter controle estatístico, vão poder orientar, ver quem está indo visitar os abrigos, para onde e o que essas pessoas estão fazendo. Poderemos ainda, dar capacitação a essas pessoas e, principalmente, indicar crianças, serviços, vai ficar bem melhor”, avalia.

Para Dairton Oliveira, ape-sar de o Programa de Apadri-nhamento suprir uma lacuna, avalia que, em sua essência, ajudará sim as crianças insti-tucionalizadas a terem melhor perspectiva de futuro. “Tudo que vier para elas, é sempre melhor”, finaliza.

Impacto positivo

Apadrinhamento afetivo tem impactado positivamen-te na vida das crianças e ado-lescentes institucionalizadas

O apadrinhamento afeti-vo de crianças e adolescentes com poucas chances de ado-ção no Brasil, tem proporcio-nado a convivência em família e o incentivo nos estudos. No Distrito Federal, na institui-ção intitulada Aconchego, por exemplo, os primeiros encon-

tros entre padrinhos e apadri-nhados ocorrem no abrigo. Para que o contato ocorra fora da instituição, primeiro são realizadas visitas na casa da madrinha ou padrinho. O local é antes visitado por uma assistente social.

Foi o que ocorreu com a servidora pública Miracy Dantas, que há um ano apa-drinhou Lucas*, de 15 anos, que vive desde os seis anos no abrigo. “Vamos ao cinema, ao shopping, almoços na casa da minha mãe, e as minhas filhas o incluem nos programas de-las; a família o acolheu e já es-tamos com um relacionamen-to íntimo”, conta Miracy.

De acordo com ela, no iní-cio, o adolescente que tem outros irmãos que moram no abrigo, era bem tímido. “Ago-ra a nossa ligação é natural, já sinto vontade de buscá-lo no abrigo com frequência, não é uma obrigação”, diz. Além de proporcionar a convivên-cia familiar a Lucas, a ma-drinha também se preocupa com o incentivo à leitura, apresentando-lhe livros e al-manaques, e o auxilia a es-colher áreas de interesse que poderiam ser sua profissão no futuro. “Ele é um menino muito bom e obediente”, con-ta a madrinha.

Uma das intenções do apa-drinhamento afetivo é que a criança possa conhecer como funciona a vida em família, vivenciando situações coti-dianas. É o que acontece na família de Maria do Socorro Guimarães de Freitas, que re-cebe o adolescente Caio, de 13 anos, a cada quinze dias du-rante o fim de semana. “Não mudamos em nada a nossa rotina, cozinhamos juntos, e ele gosta muito de ter o seu canto, dormir em um quarto só para ele”, diz Socorro, que se tornou madrinha há dois anos por sugestão de sua fi-lha também adolescente. “No início, fiquei com receio de ter um menino em casa por conta das minhas filhas. Mas assim que o conhecemos, nos identificamos na hora, e hoje as minhas filhas o consideram como um irmão”, diz. A famí-lia também busca o adoles-cente no abrigo em ocasiões especiais, como aniversários. “Já falei para ele que o nosso vínculo é para a vida toda, mesmo depois que ele casar e tiver filhos”, conta Socorro.

A vontade de se doar e des-cobrir outra forma de se colo-car no mundo foi o que moti-vou Sueli Helena de Miranda, musicista, a se tornar madri-nha há um ano de Augusto, de 10 anos, que vive em abrigos desde os dois anos e agora tem chances remotas de ado-ção. Eles se veem cerca de três vezes por mês, fazem passeios ao parque e ao cinema, locais preferidos do garoto e, por vezes, passa o fim de semana na casa dela. Sueli conta que, apesar de estar muito aberta para o apadrinhamento e de a criança ter sido preparada, nem sempre a convivência é fácil. “Ele tem um tempera-mento muito forte, não é mui-to afetivo e às vezes é agressi-vo, mas nós temos superado isso e eu procuro entender a vida dele; a gente está amadu-recendo e fica cada vez mais à vontade”, conta.

ADOÇÃO SociedadeAPADRINHAMENTO CONTEMPLA CRIANÇAS E

ADOLESCENTES COM PERFIL DIFÍCIL DE ADOÇÃOO judiciário está suprindo, de uma forma pequena, um gigantesco vazio que é a falta do acolhimento familiar

“Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo; e quem me recebe, não está apenas me recebendo, mas também àquele que me enviou”.MARCOS 9:37

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