adoção internacional

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS CURSO DE DIREITO ADOÇÃO INTERNACIONAL NO SISTEMA BRASILEIRO VIVIANE SCRIVANI R.A.: 4739201 Turma: 3209B Tel: (11) 8396-1289 E-mail: [email protected] São Paulo 2006

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Page 1: Adoção internacional

CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES

METROPOLITANAS UNIDAS

CURSO DE DIREITO

ADOÇÃO INTERNACIONAL NO SISTEMA BRASILEIRO

VIVIANE SCRIVANI

R.A.: 4739201

Turma: 3209B

Tel: (11) 8396-1289

E-mail: [email protected]

São Paulo

2006

Page 2: Adoção internacional

CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES

METROPOLITANAS UNIDAS

CURSO DE DIREITO

ADOÇÃO INTERNACIONAL NO SISTEMA BRASILEIRO

VIVIANE SCRIVANI

R.A.: 4739201

Turma: 3209B

Tel: (11) 8396-1289

E-mail: [email protected]

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Centro

Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas, como exigência parcial

para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a orientação do

Professor Tadeu Aparecido Ragot.

Page 3: Adoção internacional

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________ ______________ ( )

Professor Orientador:

_______________________________________ ______________ ( )

Professor Argüidor:

_______________________________________ ______________ ( )

Professor Argüidor:

Page 4: Adoção internacional

Dedico este trabalho aos meus pais,

por acreditarem nos meus sonhos e

me auxiliarem que eles se

tornassem realidade; pelo constante

incentivo, apoio e principalmente

amizade.

À minha amiga Cristiana, por me

ingressar no mundo jurídico e me

amparar nos primeiros passos da

minha carreira.

Page 5: Adoção internacional

Agradeço ao meu estimado professor

orientador Tadeu Aparecido Ragot, que me

conduziu com sabedoria, paciência, e

amizade, para que eu realizasse este trabalho.

Page 6: Adoção internacional

SINOPSE

O trabalho em questão propõe analisar o tema da Adoção Internacional, na forma regulada no Direito Interno, bem como no plano internacional.

A obra inicia-se com um breve relato histórico, conceitos, finalidade, natureza jurídica e função social.

Posteriormente, analisaremos a legislação aplicada, em consonância com tratados e convenções internacionais.

Abordaremos os aspectos processuais e operacionais para a realização da adoção internacional, seus efeitos, e ainda, enfocaremos a questão da adoção por casais homossexuais.

O trabalho também aborda os crimes em matéria de adoção internacional, como o tráfico de crianças e a “adoção à brasileira”, finalizando com exposição de algumas formas de melhorar as condições para a realização da Adoção Internacional.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO..............................................................................................................

CAPÍTULO I...................................................................................................................

1.1 A adoção e sua evolução histórica..........................................................................

1.2 Conceito de adoção.................................................................................................

1.2.1O adotante................................................................................................

1.2.2O adotado.................................................................................................

1.3 Natureza Jurídica.....................................................................................................

1.4 A Função Social da Adoção....................................................................................

CAPÍTULO II..................................................................................................................

2.1 A Adoção na Constituição Federal..........................................................................

2.2 A Adoção no Código Civil........................................................................................

2.3 A Adoção no Estatuto da Criança e do Adolescente...............................................

2.3.1 Requisitos relativos ao adotamento...............................................................

2.3.1.1 Idade do Adotando.............................................................................

2.3.1.2 Consentimento do Adotando..............................................................

2.3.1.3 Consentimento dos Pais ou Representante Legal.............................

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Page 7: Adoção internacional

2.3.2 Requisitos relativos ao adotante...................................................................

2.3.2.1 Idade do Adotante..............................................................................

2.3.2.2 Diferença de idade entre Adotante e Adotado...................................

2.3.2.3 Estágio de Convivência......................................................................

2.4 Outras Regras para assegurar mais direitos às crianças e adolescentes..............

2.4.1 Tratados........................................................................................................

2.4.2 Convenções...................................................................................................

2.5 Convenção de Haia.................................................................................................

2.5.1 Objetivos e aplicações da Convenção..........................................................

2.5.2 Requisitos para as Adoções Internacionais..................................................

2.5.3 Autoridades Centrais e Organismos Credenciados......................................

2.5.4 Requisitos processuais para Adoção Internacional.......................................

2.5.5 Reconhecimento e efeitos da adoção...........................................................

2.5.6 Disposições Gerais........................................................................................

2.5.7 Cláusulas Finais ...........................................................................................

CAPÍTULO III.................................................................................................................

3.1 Aspectos Processuais para a Adoção Internacional...............................................

3.2 Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional..........................................

3.3 Efeitos da Adoção...................................................................................................

3.3.1.Efeitos relativos ao estado familiar do adotado.............................................

3.3.1.1 Família Biológica................................................................................

3.3.1.2 Família Adotiva..................................................................................

3.3.2 Efeitos relativos ao estado pessoal do adotado............................................

3.3.2.1 Nome..................................................................................................

3.3.2.2 Nacionalidade....................................................................................

3.3.3 Efeitos de ordem patrimonial.........................................................................

CAPÍTULO IV................................................................................................................

4.1 Excepcionalidade da colocação em família estrangeira..........................................

CAPÍTULO V.................................................................................................................

5.1 Demais questões relacionadas a adoção internacional..........................................

5.1.2 Crimes em matéria de Adoção Internacional................................................

5.1.2.1 Tráfico de crianças.............................................................................

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Page 8: Adoção internacional

5.1.2.2 Tráfico de órgãos...............................................................................

5.1.2.3 Adoção à Brasileira............................................................................

5.1.3 Adoção por casais homossexuais.................................................................

CONCLUSÃO................................................................................................................ BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................

Anexo A........................................................................................................................

Anexo B........................................................................................................................

Anexo C........................................................................................................................

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Page 9: Adoção internacional

INTRODUÇÃO

Adoção Internacional é um ato solene pelo qual, observados os requisitos

legais, se estabelece um vínculo jurídico de filiação entre pessoas de diferentes

nacionalidades.

Tal tema é repleto de mitos e folclores, o que o torna bastante discutido

gerando inúmeras opiniões e reações, tendo como objetivo a acolhida da criança ou

do adolescente que, por diversas razões, viu-se desamparado.

Contudo, não se pode confundir adoção com assistencialismo, uma vez

que são institutos divergentes. A adoção é a entrega de amor e dedicação à uma

criança, visando suprir suas necessidades emocionais, morais, sociais, permite que

seja refeito os vínculos da relação filial. Enquanto o assistencialismo busca proteger

a criança considerando todos os seus aspectos de vida e desenvolvimento físico e

psíquico.

Não se deve pensar em adotar uma criança em razão da perda de um

filho, com intuito salvar um casamento, para suprir uma solidão ou resolver

problemas de esterilidade, deve-se, ao contrário, buscar uma nova forma de vida, de

querer aprender e ensinar, doar-se por completo à criança não esperando receber

nada em troca, em suma é uma dedicação incondicional.

A escolha deste tema visa impedir que nossas crianças sejam

abandonadas, esquecidas em instituições, mostrando a possibilidade delas

possuírem um ambiente familiar adequado para seu desenvolvimento, ficando

assim, afastadas da marginalidade e de seus efeitos marcantes.

Almeja-se demonstrar a necessidade da Adoção internacional, ante o

mundo globalizado em que vivemos, bem como uma maneira de torná-la mais

prática e possível.

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Page 10: Adoção internacional

O trabalho em questão foi elaborado através de levantamentos

bibliográficos, de livros editados nos últimos anos, além de publicações de

periódicos e artigos divulgados na internet.

Após um estudo mais aprofundado sobre o tema, pode-se levantar vários

aspectos polêmicos, como a excepcionalidade da Adoção Internacional, a

possibilidade da adoção por casais homossexuais, e ainda, o confronto entre o

nosso ordenamento e as legislações alienígenas.

O estudo envolve questões sociais como a pobreza, a educação, o

preconceito sexual e até mesmo questões de cunho político internacional.

Pretende-se, por fim, apresentar as características da Adoção

Internacional, seus aspectos polêmicos e sua evolução no decorrer dos anos, em

virtude da mudança na maneira de pensar da sociedade atual.

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Page 11: Adoção internacional

CAPÍTULO I

1.1– ADOÇÃO. Considerações Iniciais

A adoção é vista, de modo geral, ao longo da história, como um instituto

cujo motivo de existência foi a família, e teve início como forma de salvaguardar da

extinção as famílias sem descendentes, o que para as civilizações antigas era uma

necessidade. Em razão disso, a adoção foi criada para que a continuidade da família

fosse garantida, pois o testamento ainda não existia ou era proibido (em Atenas até

a época de Sólom, e, em Esparta, até a guerra do Peloponeso).

As adoções, como se pôde verificar na Antiguidade, eram contempladas

tanto pelas Leis de Manu como pelo Código de Hamurabi (1792-1750 a.C.), e

destinavam-se a atender às necessidades e anseios dos adotantes, ficando em

segundo plano os interesses do adotado.

Na Bíblia encontramos referências à adoção, Jacó adotando Efraim e

Manasses (Gênesis). O Livro Sagrado também apresenta o registro do que seria,

para alguns, a primeira referência documentada de uma Adoção Internacional:

Termulos, filha do faraó egípcio, adotando Moisés, a quem havia encontrado às

margens do rio Nilo. (Êxodo)

O instituto da adoção, numa fase da história romana (Direito Romano-

Helênico), perdeu o cunho religioso e político passando a ter como finalidade

marcante a forma de contemplar casais estéreis.

Na Idade Média, este instituto caiu em desuso e somente com o Código

Napoleônico, grande marco da Idade Moderna, ressurgiu, ingressando nas

legislações modernas. O referido código admitia apenas a adoção de maiores (art.

346). Porém a Lei Francesa, de 19.07.1923, modificou o instituto passando a aceitar

a adoção de menores, passando a aceitar a adoção de menores, dessa forma, eram

colocados, em primeiro plano, os interesses do adotado, permitindo-a somente se

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Page 12: Adoção internacional

houvesse justo motivo para ele, ficando, em segundo plano, as necessidades e

interesses dos adotantes.

Assim pode-se verificar que houve uma mudança em favor do adotado,

que podemos chamar de “protetiva”, uma vez que as vantagens e os interesses do

adotando passaram a ser os primeiros aspectos a serem considerados no processo

de adoção.

A adoção internacional teve uma maior expressão após a Segunda

Guerra Mundial, época na qual as nações começaram a se desenvolver. Houve,

então, uma preocupação por parte da comunidade internacional com a exclusão e o

abandono sociais que, de certa forma surgiram paralelamente ao desenvolvimento

industrial.

Desta maneira, no início do século XX começaram a ser registrados casos

de Adoção Internacional em países vítimas de guerras e catástrofes naturais.

No Brasil, de acordo com o doutrinador João Delcimar Gatelli1, a primeira

proposta de plano de adoção internacional de crianças carentes foi realizada pela

Ministra da Saúde e da Família da França, em 1976, ao encontra-se com o então

Ministro brasileiro da Previdência Social, Nascimento e Silva. Tal proposta não foi

bem-vinda por algumas autoridades brasileiras, contudo, o episódio serviu para que

o governo despertasse para a existência do problema, resultando na promulgação

de um novo Código de Menores, facilitando, inclusive, a adoção de crianças por

estrangeiros.

Com o advento da Lei 6.697/79 (Código de Menores), houve a fixação de

critérios objetivos, embora com uma visão lamentável e punitiva para pais carentes,

pois eram deferidas em favor de crianças privadas de alimentação, vestuário,

educação, saúde e lazer, mantendo sua realização por escritura pública após o

1 GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil. 2.ed. Curitiba: Juruá Editora, 2003, p. 22.

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Page 13: Adoção internacional

trânsito em julgado da decisão. Muitas vezes, nesta época, o casal estrangeiro nem

se fazia presente, mas representado por procuração.

No processo de adoção, o juiz concedia uma guarda provisória, por um

ou dois anos, durante o qual era realizado o estágio de convivência até que para a

Lei do outro país fosse possível a consumação da adoção. Após o referido estágio,

eram remetidos, pelos adotantes, relatórios feitos por órgão governamental ou

credenciado, abrindo-se vista ao Ministério Público e, após posteriormente ao seu

parecer, o juiz prolatava uma sentença deferindo a adoção, a qual era materializada

por escritura pública; a partir disso seria possível o juiz estrangeiro decidir pela

adoção. Porém, foram constatados de inúmeros casos na Itália, Holanda, Bélgica e

em outros países em que a sentença estrangeira foi prolatada apenas com base na

guarda provisória, e os processos no Brasil jamais concluídos. O que poderiam, em

tese, gerar sérios problemas diplomáticos.

A criação do Estatuto da Criança de do Adolescente carreou diversas

mudanças, desaparecendo, assim, todas as diferenças entre filhos adotivos e

biológicos, priorizando as necessidades, os interesses e os direitos da criança e do

adolescente.

Encontramos uma complexidade quanto à questão da adoção por

estrangeiros não residentes, pois nos países em que ela é permitida, além das

exigências, que muitas vezes inviabilizam a adoção questiona-se a conveniência ou

não desse tipo de adoção.

Temos no Brasil duas correntes a esse respeito com o mesmo ponto em

comum: a proteção do adotando. Contudo, divergem quanto a conveniência.

A primeira reprova esse tipo de adoção defendendo, sinteticamente, que

as campanhas por adoção não deveriam ser estimuladas por agências

especializadas para incentivar estrangeiros não residentes a adotar, mas sim,

deveriam procurar investigar e afastar as causas determinantes da carência e do

abandono que resultam na “exportação” de crianças como simples objetos.

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Page 14: Adoção internacional

Já a segunda corrente, aprovadora, possui uma visão mais realista,

defendendo esse tipo de adoção, não como única forma de solução, mas como um

remédio para amenizar a situação de milhares de seres em completo abandono.

Os estrangeiros não residentes no país de origem do adotando encontram

diversas dificuldades no processo de adoção, que vão desde a língua até a

excepcionalidade da adoção. Mas, apesar de tantos obstáculos, há casos de adoção

internacional que se realizam, como também, oposição, ante as dificuldades

impostas.

A adoção internacional nem sempre segue os trâmites legais, certamente

não sendo favorável a nenhuma das partes, principalmente ao adotado, que

precariamente, é levado à outro país em companhia de pessoas que ao menos

passaram pelo crivo das autoridades competentes.

Reportagens abordando o tráfico de crianças e os maus tratos sofridos

quando crianças são adotadas ilegalmente por estrangeiros, são freqüentemente

vistas, nos diversos meios de comunicação, Tal realidade faz com que a adoção

internacional, da maneira como vêm ocorrendo, não seja bem vista pelos países

onde é permitida.

A adoção internacional é uma realidade, devendo ter uma melhor

avaliação pelos países de origem do adotando. É necessário que haja um processo

mais ágil e ao mesmo tempo seguro, possibilitando, aos que necessitam sujeitar-se

à esse instituto, a esperança de uma vida melhor, com dignidade, respeito e

principalmente amor.

Assim, considerando o novo século em que vivemos e a globalização

mundial, não deve haver espaço para preconceitos quanto à adoção internacional,

considerando-a como medida descabida ou como forma de países

subdesenvolvidos “se livrarem” de crianças carentes como simples “objetos.”

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Page 15: Adoção internacional

1.2. CONCEITO DE ADOÇÃO

Considera José Luiz Mônaco da Silva que “a adoção, seja nacional ou

internacional será sempre conceituada como instituto jurídico por meio do qual

alguém (adotante) estabelece com o outrem (adotado) laços recíprocos de

parentesco em linha reta, por força de uma ficção jurídica advinda da lei.”2

A adoção, tecnicamente, indica um ato jurídico por meio do qual, uma

pessoa toma ou aceita, legalmente, como filho uma outra. Já sua origem, segundo

Wilson Donizeti Liberati deriva do latim adoptio, que significa dar seu próprio nome

a, pôr um nome em; tendo, em linguagem mais popular, o sentido de acolher

alguém (..)” 3

Orlando Gomes, entende: “ato jurídico pelo qual o vínculo de filiação é

criado artificialmente”. 4

Brilhantemente, ensina Eunice Ferreira Rodrigues Granato:

“A adoção, como hoje é entendida, não consiste em “ter pena” de uma

criança, ou resolver situação de casais em conflito, ou remédio para a esterilidade,

ou, ainda, conforto para solidão.

O que se pretende com a adoção é atender às reais necessidades da

criança, dando-lhe uma família, onde ela se sinta acolhida, protegida, segura e

amada.”5

Por fim, para o saudoso Silvio Rodrigues: “ato do adotante pelo qual traz

ele para sua família e na condição de filho, pessoa que lhe é estranha.”6

2 GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 27. 3 LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.17. 4 GOMES, Orlando; Direito de Família, p.369. 5 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática., p.26. 6 RODRIGUES, Silvio; Direito Civil. Direito de Família, p.332.

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Page 16: Adoção internacional

Assim, podemos entender a adoção como uma forma de suprir as

necessidades de uma criança, dando-lhe uma vida mais digna, com amor e

educação, como também, possibilitando aos casais a experiência de se dedicar à

uma nova vida, auxiliando no seu desenvolvimento.

1.2.1 – O adotante

Indivíduo através do qual se inicia o procedimento da adoção, é o agente

provocador do ato.

Seu interesse é fundamental para que o instituto sobreviva e cumpra sua

principal função: busca de uma família para aqueles que se encontrem no

abandono, a segurança do lar, uma base para a formação do caráter de uma

pessoa, através do cumprimento de diversos requisitos legais.

O candidato ao processo de adoção deveria receber, diante de sua

importância para a realização do ato, todo incentivo, proteção e informações do

Estado para conseguir realizar o sonho da criança de integrar uma família, sentindo-

se como membro e não como um ser que apenas recebe um “auxílio”, ou melhor

“caridade” de uma pessoa bondosa.

Infelizmente, o número de adotantes realmente interessados na adoção é

insignificante diante da quantidade de crianças abandonadas. Contudo, essa

situação poderia ser amenizada se houvesse, por parte da sociedade e do Estado,

um tratamento mais digno àqueles que demonstram interesse em adotar.

Os interessados, na sua maioria, são estrangeiros provenientes de países

ricos que buscam o que a natureza lhes negou, ultrapassando as fronteiras de seu

Estado.

Existe, desta forma, uma notória diferença sócio-econômica entre o

adotante e o adotado, levando muitas vezes a uma inversão da finalidade da

adoção. O que inicialmente seria um ato de amor acaba se transformando em

19

Page 17: Adoção internacional

comércio diante das vantagens obtidas por aqueles que intermedeiam uma adoção

para estrangeiros, contribuindo, desta forma, para o surgimento do pseudo-adotante

que encontra mais facilidades em adotar ou traficar crianças para o exterior com

objetivos diversos do protegido pelo instituto da adoção.

Segundo João Delciomar Gatelli: “O pseudo-adotante vale-se do valor

econômico de sua moeda e da cobiça dos agentes para obter lucros com o ato de

adotar, desenvolvendo, paralelamente às adoções propriamente ditas e bem-

intencionadas, um cenário negro e assustador da adoção internacional (...)”7

Devemos esclarecer a diferença entre o adotante e o pseudo-adotante,

ela encontra-se na manifestação viciada do pseudo-adotante e na manifestação

íntegra refletida do adotante.

O adotante deve passar por diversos requisitos a fim de confirmar sua

aptidão. Embora hajam tais exigências, há possibilidades de falhas. Assim, é

necessária uma cooperação maior entre os países envolvidos no processo de

adoção internacional, almejando assim, identificar e diferenciar o adotante dos

pseudo-adotantes, os quais deverão ser severamente punidos por macular um

instituto de tamanha importância.

1.2.2 – O adotado

Após a efetivação do ato, o adotando recebe a denominação de adotado,

indivíduo o qual diante de uma situação fática (idade, situação de abandono) teve a

capacidade de preencher os critérios da adoção.

Passemos agora a uma breve descrição acerca dos critérios do adotando:

7 GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p.28.

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Page 18: Adoção internacional

Idade: critério considerado para a realização das adoções plenas que se

realizam no Brasil e na Argentina, previsto no art. 40 do ECA (Lei 8.069/90), sendo a

idade de 18 anos incompletos um fator determinante.

Abandono: também é considerado, embora sua comprovação seja difícil

ante o grau de subjetividade. Pode ser revestido de diversas formas (material,

intelectual e jurídico), mas a afetiva é aquela que mais a determina; sua falta

acarreta uma falha irreparável, fazendo com que o ser em desenvolvimento

desenvolva uma personalidade marcada pela ausência de esperança e sentimentos

fraternos.

O sujeito da adoção é, portanto, aquele que, na condição de adotando,

encontra-se em desenvolvimento, abandonado e preenche o requisito da idade

previsto em lei.

1.3– NATUREZA JURÍDICA

No decorrer dos anos e com a alteração das legislações, verificou-se uma

mudança brusca na identificação da natureza jurídica do instituto da adoção.

Existem duas correntes que discutem a natureza jurídica deste instituto:

contratualista e publicista.

Segundo a corrente contratualista considera-se adoção um negócio

jurídico de natureza contratual, sendo bilateral, iniciando-se no consenso mútuo das

partes, produzindo, a partir daí, os efeitos pretendidos e estabelecidos entre as

partes.

Neste sentido Clóvis Beviláqua e Pontes de Miranda ensinam que a

adoção deve ser entendida como um ato solene; Tito Fulgêncio prefere considerar o

instituto como uma filiação legítima criada pela lei.

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Page 19: Adoção internacional

Já para a corrente publicista, a adoção passa à categoria de instituição,

tendo como natureza jurídica a constituição de um vínculo irrevogável de

paternidade e filiação, através de sentença judicial. Esta corrente prevaleceu à

anteriormente citada com o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente ( Lei

8069/90).

Expõe Wilson Donizeti Liberati:

“É através da decisão judicial que o vínculo parental com a família de

origem desaparece, surgindo nova filiação (ou novo vínculo), agora de caráter

adotivo, acompanhada de todos os direitos pertinentes à filiação de sangue” 8

Acresce notar, o disposto no art. 227, §6º da Lei Maior, a qual garante aos

adotados os mesmos direitos e qualificações dos filhos havidos da relação de

casamento e ainda proíbe quaisquer designações discriminatórias relativas à

filiação.

Tecendo considerações sobre o instituto, explica o tratadista português

Pereira Coelho que “a adoção será composta por um ato de direito privado (a

declaração da vontade do adotante integrada, eventualmente, pelo consentimento

de outras pessoas, nos termos do art. 1981) e por um ato de direito público (a

sentença judicial), atos constitutivos os dois, mesmo o último – o que, no fundo,

exprime a idéia de que a adoção há de justificar-se, não só à luz dos interesses

particulares do adotante e do adotado mas ainda à luz do interesse geral. Se aquele

ato de direito privado não é verdadeiro negócio jurídico, mas apenas elemento de

um ato complexo, isso não impede porém que lhe sejam aplicadas, segundo a

diretiva do art. 295, as regras dos negócios jurídicos em geral, salvo onde a lei tenha

disposto de modo diverso.” 9

Neste contexto, tem-se que seja a adoção feita por nacionais ou por

estrangeiros, necessita da presença do Estado como chancelador do ato. Desta

8 LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.11 9 COELHO Pereira, Curso de Direito de Família, p.41.

22

Page 20: Adoção internacional

forma, não se pode discordar que devemos analisar a adoção como um instituto de

ordem pública, onde prevalecem a autoridade e importância do interesse

juridicamente tutelado sobre a vontade e manifestação dos interessados, uma vez

que o novo ordenamento legal impõe uma condição de validade para o ato: a

sentença judicial, na qual o Magistrado não apenas homologará o acordo havido

entre as partes, como também, atuará como Poder de Estado.

1.4– A FUNÇÃO SOCIAL DA ADOÇÃO

Não podemos associar os termos a adoção e assistência !

Brilhantemente esclarece Wilson Liberati:

“Quem pensa em adotar para fazer ato benemérito ou filantrópico, ou

que procura na adoção um meio de ‘preencher o vazio e a solidão do casal’, ou

porque um ou ambos os interessados são ‘estéreis’, ou ‘para fazer companhia a

outro filho’, ou porque ‘ficou com pena ou compaixão da criança abandonada’, ou

para dar ‘continuidade à descendência ou aos negócios da família’ ou por outros

motivos desse naipe, está completamente alienado e alijado do verdadeiro sentido da adoção. (grifo e destaque nosso)” 10

As motivações supra citadas devem ser imediatamente detectadas de

modo a evitar adoções baseadas em ‘neuroses’.

No mesmo sentido, complementam os Procuradores da República de

Portugal, Rui Epifânio e Antônio Farinha que “a criança adotada não pode ser

encarada como a criança remédio destinada fundamentalmente a suprir uma falta, a

colmatar a específica incapacidade de procriação, e a combater a angústia daí

adveniente para o casal. Como se disse já, a adoção é a forma privilegiada de dar

uma família à criança desprovida de meio familiar normal e, por isso, o seu

decretamento está prioritariamente dependente da realização do interesse do

10 LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.24.

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Page 21: Adoção internacional

menor. A averiguação correta das motivações da adoção pelo competente técnico é

de extraordinária importância na medida em que se permite não só excluir os

candidatos a adotante cuja pretensão não se enquadra em objetivos a prosseguir,

como também faculta a análise e a superação consciente de medos, fantasmas e

angústias indesejáveis ao processo de adoção do menor que eventualmente

perpassem nas legítimas motivações dos adotantes. Nessa linha, tem se referido a

necessidade de o casal adotante saber ultrapassar as dificuldades resultantes de

sua situação de esterilidade e de saber mover-se, livremente, face aos fantasmas

relativos à hereditariedade, “revelação” e “romance familiar”, necessariamente

imbricados em qualquer processo adotivo. Por outro lado, tem-se referido que em

vez da criança-remédio o adotado deverá representar para os adotantes a

sublimação das necessidades parentais na qual se fecha o círculo de identificação

do adulto com os seus próprios pais, e se concretiza o seu desejo de ultrapassagem

dos estreitos limites da existência, o mesmo é dizer, da própria angústia da morte.

Tal entendimento suporta assim, necessariamente, a consideração da criança como

centro de relações não interessadas, embora gratificantes, e o respeito pela sua

individualidade, origem e personalidade por parte da família adotante.” 11

A adoção não se faz por caridade, compaixão e nem medo da solidão.

Não deve ser utilizada como ‘tábua de salvação’ para um casamento arruinado, ou

ainda como um ‘objeto’ que deva ser substituído quando outro é quebrado. Ela

requer dos interessados, sejam eles nacionais ou estrangeiros, a disponibilidade de

se entregar ao amor pela criança. Amor esse incondicional, sem preconceitos de

raça, cor, sexo ou de uma deficiência (física ou mental).

É importante lembrarmos que a criança que está à espera de uma família

para ser adotada não quer receber compaixão, isto ela já teve demais na instituição

onde esteve. Agora ela necessita da entrega total em doação no amor daqueles que

se propõem a essa vocação.

11 EPIFÂNIO, Rui M. L. e FARINHA, Antônio H. L. Organização Tutelar de Menores – Contributo para uma Visão Interdisciplinar do Direito de Menores e de Família, p.258.

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Page 22: Adoção internacional

O adotado não pode e nem deve crescer sentindo-se ‘ajudada’, ou ainda

como um membro que está na casa ‘de favor’. Deve sim, crescer cercada de amor,

proteção, onde tenham pais dispostos a fazer todo o possível para seu bem. Não

apenas dando casa, comida, atendimento à saúde, escola, etc., pois desta forma,

sem dúvida, o adotante estaria fazendo uma boa ação, mas não como uma decisão

oriunda de amor maternal.

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Page 23: Adoção internacional

CAPÍTULO II

2.1 – A ADOÇÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O Brasil incorporou, em sua legislação interna, os mecanismos

necessários à adoção internacional, de acordo com as exigências da Convenção

Relativa à Proteção e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, concluída

em Haia, em 29 de maio de 1993.

A Lei Maior proporcionou avanços notáveis em matéria da adoção como:

a constitucionalização formal do Instituto da Adoção; a obrigatoriedade da

intervenção do Poder Público quando o adotando for criança ou adolescente; a

igualdade absoluta entre filhos adotivos e filhos biológicos; e a proibição de qualquer

designação discriminatória relativa à filiação.

Podemos ver que, o instituto da adoção foi referendado pelo legislador

constituinte brasileiro em diversas passagens do texto constitucional. Além de

normas constitucionais pertinentes ao tema, por se referirem aos direitos e garantias

fundamentais, aos direitos sociais, aos direitos políticos e à proteção à infância,

trouxe em seu bojo, um capítulo que trata especificamente, da criança e do

adolescente.

O capítulo VII da Constituição Federal – Da família, da criança, do

adolescente e do idoso – possibilitou uma maior igualdade entre os sujeitos que

compõem uma família, ampliando o próprio conceito de família. Importante lembrar

que é a família o primeiro laço afetivo que estabelece o indivíduo ao nascer,

portanto, deve ser ele mantido e protegido pelo Estado, uma vez que é no seio de

uma família que o cidadão começa a traçar seu comportamento futuro.

A adoção de crianças e adolescentes, no Brasil, pode ser concedida a

nacionais e a estrangeiros, sejam estes últimos residentes ou não, porém, devem

ser assistidos pelo Poder Público conformidade preceitua o art. 277, §5º da

Constituição Federal:

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§5º A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que

estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.

Ensina João Delciomar Gatelli que “a adoção por estrangeiros, antes da

Constituição Federal de 1988, que prevê a possibilidade dessa adoção em seu art.

277, §5º era usualmente praticada no Brasil através de duas formas: a) a primeira,

por escritura pública sem qualquer intervenção da autoridade judiciária, quando se

tratava de adotando que estivesse sob o pátrio poder; b) a segunda, de menor em

situação irregular, sob a intervenção e dependente do beneplácito judiciário, uma

vez que se realizava de acordo com o já revogado Código de Menores da época, o

qual permitia, em seu art. 20, a adoção de menores em situação irregular, por

estrangeiros.”12

Hoje a adoção por escritura pública é proibida no Brasil, contudo, foi

largamente utilizada, principalmente pela possibilidade de ser realizada sem a

participação direta dos adotantes que se faziam representar por procuradores com

poderes especiais.

Os efeitos da adoção realizada no Brasil com o advento da Constituição

Federal de 1988 são amplos, assim, um filho, independentemente da origem do

vínculo de parentesco, não pode ser discriminado. Essas discriminações que

anteriormente eram permitidas, foram definitivamente afastadas do nosso

ordenamento jurídico.

2.2. A ADOÇÃO NO NOVO CÓDIGO CIVIL

O atual Código Civil disciplinou o instituto da adoção nos artigos 1.618 a

1.629, trazendo algumas modificações a respeito da adoção de crianças e

adolescentes: a) a alteração da idade mínima para adotar, que passou dos 21 anos

(ECA, art. 42) para 18 anos (CC, art. 1.618); b) a revogabilidade do consentimento

dos pais ou representante legal até a publicação da sentença constitutiva de adoção

12 GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 71.

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Page 25: Adoção internacional

(CC, art. 1.621, §2º); c) ressurgimento da famigerada condição de infante exposto,

situação jurídica inexplicada pelo novo código (CC, art. 1.624); d) a obrigatoriedade

de processo judicial para a adoção de maiores de 18 anos (CC, art. 1.623, parágrafo

único).

De acordo com o doutrinador Wilson Donizeti Liberati, o atual Código Civil

reprisou vários artigos do Estatuto, provando que a lei estatutária já estava

adequada aos comandos internacionais sobre a adoção e que o Código Civil já

nascera obsoleto. E vai além, dizendo também que o legislador deixou de disciplinar

a adoção de maiores de 18 anos e não contemplou a adoção de nascituros e a

adoção por homossexuais. Ressalta-se porém, que o legislador determinou que a

adoção de maiores de 18 anos tenha natureza judicial, premiada com todos os

requisitos de garantia da adoção de crianças e adolescentes, descartando, de vez, a

proscrita adoção feita por escritura pública.

2.3 – A ADOÇÃO NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE A adoção estatutária realizada por nacionais e estrangeiros (residentes ou

não residentes), é prevista como medida de proteção à criança e ao adolescente, e

se dá de acordo com os dispositivos constantes no capítulo III da Lei 8.069/1990.

Tais medidas de proteção à criança e ao adolescente surgem exatamente

quando forem ameaçados ou violados os direitos assegurados na Constituição e

reconhecidos no Estatuto.

Nos artigos do Estatuto que disciplinam a adoção, vamos encontrar os

requisitos que são impostos ao adotante e ao adotando, que passaremos a analisar.

2.3.1 – Requisitos relativos ao adotamento 2.3.1.1 – Idade do Adotando

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Page 26: Adoção internacional

Ao se requerer a adoção, o adotando deve estar com no máximo dezoito

anos de idade, conforme estabelece o art. 40 do Estatuto.

Dessa forma, caso o pedido seja feito no dia imediato após o adotando

completar dezoito anos, deverão ser seguidas as regras do Código Civil e não do

ECA.

Encontramos uma exceção na segunda parte do mencionado artigo,

quando possibilita a adoção de maiores de dezoito anos se já estiverem sob a

guarda ou tutela dos adotantes.

Embora não esteja estabelecido no dispositivo supra citado o limite de

idade para o pedido de adoção, uma vez já estando o adotado sob a guarda ou

tutela do adotante, é indiscutível que esse pedido deverá ser feito antes do adotante

completar vinte e um anos de idade, uma vez que após essa idade ninguém mais

poderia estar sob a guarda ou tutela de outrem.

Acresce notar que, com o advento do novo Código Civil a menoridade

cessa aos 18 anos, conforme a previsão do art. 5º, dessa forma, ficou derrogado o

artigo 40 do ECA e, por conseguinte, os comentários acima têm valor histórico.

Assim, aquele que possui dezoito anos completos ou mais, só poderá ser

adotado com base no Código Civil.

Importante lembrarmos que não há previsão expressa no Estatuto em

relação aos nascituros, bem como posição pacífica na doutrina, uma vez que, antes

do nascimento não há personalidade. Há, na verdade, uma ausência de capacidade

de direito, portanto, o mesmo não é titular de direitos subjetivos.

Ademais, o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 39,

faz referência, apenas à adoção de criança e de adolescente e, por sua vez, o art.

4º, letra c, item 4) da Convenção Relativa Proteção das Crianças e à Cooperação

29

Page 27: Adoção internacional

em Matéria de Adoção Internacional, menciona que: “o consentimento da mãe,

quando exigido, tenha sido manifestado após o nascimento da criança.” 13

Por fim, esclarece Sílvio de Salvo Venosa que “o fato de o nascituro ter

proteção legal não deve levar a imaginar que tenha ele personalidade. Esta só

advém do nascimento com vida. Trata-se de uma expectativa de direito ”.14

2.3.1.2 – Consentimento do Adotando Para que a adoção se concretize, de acordo com o art. 45, §2º do ECA,

se faz necessário o consentimento ao adotando caso ele seja maior de 12 anos.

Quando inferior a esta, deverá ser ouvido e ter sua opinião devidamente

considerada para o deferimento da adoção (arts. 16, II e 28, §1º).

O consentimento do adolescente é importante para integrá-lo a nova

família já que seria mais dificultosa a convivência se ele não estivesse satisfeito com

sua nova vida.

No entanto, este requisito não é absolutamente necessário, devendo ser

confrontado com as vantagens ou desvantagens para o menor na adoção. Assim

pode o menor concordar e a adoção ser indeferida e vice-versa.

2.3.1.3 – Consentimento dos Pais ou do Representante Legal De acordo com o art. 45 do ECA, em virtude da adoção cortar quaisquer

laços do adotando com a família consangüínea, salvo os impedimentos

matrimoniais, os pais ou o representante legal do adotando deverão manifestar seu

consentimento.

Dessa forma é entendimento dos Tribunais:

13 GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 78. 14 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral: introdução ao direito romano, p.121.

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Page 28: Adoção internacional

Adoção – Menor – Ausência de consentimento da mãe biológica – Falta de preenchimento dos requisitos legais – Pedido indeferido. Ausente o consentimento da mãe do menor para a adoção, o pedido não

preenche os requisitos que a Lei prevê para espécie, não podendo assim

ser deferido, tendo em vista, ainda não haver prejuízo ao interesse do

menor. Sentença confirmada.

TJES, Ap. 052.930.002.077 – Vitória, rel. Des. José Eduardo Granai

Ribeiro (Revista Igualdade n.15, MP-PR).

Porém, essa anuência poderá ser dispensada em relação a pais

desconhecidos ou que tenham sido destituídos do pátrio poder.

O art. 21 do ECA estabelece que “o pátrio poder será exercido, em

igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na forma que dispuser a lei civil,

assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de discordância, recorrer à

autoridade judiciária competente para a solução da divergência.”

Com a entrada em vigor do novo Código Civil houve a substituição da

expressão “pátrio poder” por “poder familiar”, conforme disposto no art. 1.631:

“Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais. Na falta

ou impedimento de um deles, o outro exercerá com exclusividade”.

Determina o art. 1.634 do Código Civil as atribuições dos pais:

Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:

I – dirigir-lhes a criação e educação;

II – tê-los em suas companhia e guarda;

III – conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;

IV – nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro

dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar;

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Page 29: Adoção internacional

V – representá-los, até aos dezesseis anos da vida civil, e assisti-los,

após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;

VI – reclamá-los de quem ilegalmente os detenha;

VII – exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios

de sua idade e condição.

Esclarecidas as atribuições dos pais, passamos para as hipóteses de

perda do poder familiar.

No art. 24 do ECA temos: “A perda e a suspensão do pátrio poder serão

decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na

legislação civil, bem como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres

e obrigações a que alude o art.22.”

A imposição legal de que somente se suspenderá ou perderá o pátrio

poder em procedimento contraditório, é de suma importância para que se dê

oportunidade de defesa, respeitando assim, o princípio constitucional.

Esclarece Eunice Ferreira Rodrigues Granato que: “Os motivos que

ensejam a medida punitiva pelo Estado, que se relacionam ao descumprimento dos

deveres e obrigações apontados no art. 22 do ECA, são: a) o dever de sustento; b) o

dever de guarda; c) o dever de dar educação; d) o dever de cumprir e fazer cumprir

as determinações judiciais referentes ao exercício do pátrio poder ”.

Assim temos que o consentimento que se exige dos pais ou

representante legal é necessário, porém, não é essencial, uma vez que sendo

descumpridos os deveres para com os menores, poderão ter o poder familiar

cassado, em procedimento contraditório, sendo então dispensado o seu

consentimento (art. 45, §1º do Estatuto).

Reafirmando pais que não cumprem o seu dever, perdem o seu direito.

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Page 30: Adoção internacional

Nesse sentido:

Adoção cumulada com destituição do pátrio poder

I – Se a mãe, por falta de condições sócio-econômicas e pessoais entrega

os filhos menores a terceiros, a caracterizar a situação de abandono, e o

pai pratica atos atentórios à moral e aos bons costumes, denotando a

falta de condições para prover-lhes o sustento, guarda e educação,

justifica-se a destituição do pátrio poder (art. 395, II e III, do Código Civil, e

art . 24, do Estatuto da Criança e do Adolescente)

II – Fundada em motivos legítimos, é de ser concedida a adoção que

apresenta reais vantagens para os adotandos, cujos superiores interesses

devem se sobrepor a qualquer outro. Recurso desprovido.

TJPR, 2ª Câm. Crim. Ap. 88.776-5-Ibaiti, rel. Des. Telmo Cherem, ac. N.

12.396, j. 29.6.2000.

Havendo consentimento de um dos pais e negativa do outro, não estando

presentes as condições para a destituição do poder familiar, a divergência há de ser

previamente decidida judicialmente.

2.3.2 – Requisitos relativos ao Adotante 2.3.2.1 – Idade do Adotante O art. 42, caput, do ECA prevê que poderão adotar os maiores de vinte e

um anos de idade, independentemente do estado civil., contudo, com a vigência do

novo Código Civil, tal artigo foi derrogado, passando-se para dezoito anos a idade

mínima para se adotar.

Importante destacarmos que, embora o novo Código Civil tenha diminuído

a idade mínima para se adotar, impôs aos candidatos que tenham estabilidade

familiar (art. 1618, parágrafo único). Assim embora seja possível contrair matrimônio,

33

Page 31: Adoção internacional

viver em união estável e ter filhos naturais é impossível ter estabilidade familiar

nessa idade.

O limite etário mínimo de vinte e um anos era o marco diviso da

adolescência e da vida adulta com suas responsabilidades e independência.

Assim, mesmo preenchendo os requisitos pessoais exigidos em lei, não

poderá – em hipótese alguma – ser deferida a adoção àquelas pessoas que

revelarem incompatibilidade com a natureza do instituto ou não ofereçam ambiente

familiar adequado.

2.3.2.2 – Diferença da idade entre Adotante e Adotado O art. 42, §3º do Estatuto dispõe que o adotante há de ser, pelo menos

dezesseis anos mais velho que o adotando.

O fundamento desta determinação pode ser encontrado no propósito de

tornar a adoção em tudo semelhante à paternidade natural.

Assim, se a nossa legislação autoriza que a mulher se case aos

dezesseis anos de idade e, conseqüentemente ser mãe, a mesma diferença pode

ser considerada adequada na adoção.

Necessário suscitarmos que a legislação brasileira, diferentemente da

italiana, não estabelece uma idade máxima para o adotante e nem uma diferença

máxima de idade entre o adotante e o adotado, na legislação italiana (Lei 184/83) a

diferença máxima entre as partes é de quarenta anos.15

A omissão da legislação neste aspecto prejudica o propósito da adoção,

anteriormente mencionado, de torná-la semelhante à paternidade natural, uma vez

15 LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência. 2.ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003; p.357.

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Page 32: Adoção internacional

que naturalmente é impossível que um casal octogenário tenha um filho, contudo tal

impedimento não é encontrado na adoção.

Dessa forma, um casal de idade já avançada poderá, do ponto de vista

legal, ter um filho quando na verdade possuem idade para serem avós da criança.

Notamos assim, que a referida omissão também prejudica o cumprimento do

exercício do poder familiar previsto no art. 1634 do Código Civil, tendo em vista que

um casal octogenário, por exemplo, não conseguiria em via de regra, criar, educar,

ter em guarda, representar, dentre outras obrigações, uma criança até a idade em

que esta tenha atingido a maioridade.

2.3.2.3 – Estágio de Convivência O Estatuto determina em seu art.46 e parágrafos a realização do estágio

de convivência do adotante com o adotando, deixando ao critério do Magistrado a

sua fixação ao observar as peculiaridades de cada caso.

Esse requisito é de grande importância, pois é o período experimental em

que o adotando convive com os adotantes, com intuito de avaliar a adaptação

daquele à família substituta, ou seja, das partes vislumbrarem à nova forma de vida.

A necessidade da prática do estágio recebe no §1º, duas exceções,

destinadas aos adotantes nacionais: (i) se a criança não tiver mais de um ano de

idade; (ii) se criança já estiver na companhia do adotante por tempo suficiente que

possa avaliar o liame afetivo constituído pela convivência.

Como se verifica a referência expressa ao adotante estrangeiro no §2º,

supomos que aquelas exceções sugeridas aproveitam-se apenas aos adotantes

nacionais. Assim os adotantes estrangeiros que desejam adotar crianças ou

adolescentes nacionais, deverão cumprir o estágio previsto no Estatuto, ou seja, de

no mínimo quinze dias para crianças de até dois anos; e de no mínimo trinta dias

para crianças acima de dois anos.

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Page 33: Adoção internacional

2.4 – OUTRAS REGRAS PARA ASSEGURAR MAIS DIREITOS ÀS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A disposição constitucional abriu um leque infindável de direitos e

garantias, bastando, para a sua efetivação, a participação do Brasil em acordos

internacionais.

A preocupação da comunidade internacional com o crescente número de

adoções por estrangeiros, fez que, nessa esfera, fosse viabilizada, através de

Declarações, Tratados e Convenções, uma forma de controla-las proporcionando às

partes envolvidas, em especial ao adotado, uma maior proteção.16

2.4.1 – Tratados

Tratado é um acordo formal concluído entre os sujeitos de Direito

Internacional Público destinado a produzir efeitos jurídicos na órbita internacional.17

Tratado é o nome que se consagra na literatura jurídica. Contudo,

também outras denominações, sem qualquer rigor científico: capitulação, carta,

pacto, modus vivendi, ato, estatuto, protocolo, acordo, ajuste, compromisso,

convênio, memorando, regulamento, concordata, etc.

Para Clóvis Beviláqua os tratados são definidos como “os acordos de

maior importância por seu objeto, que firmam definitivamente uma situação jurídica,

ou se destinam a durar longamente, como os tratados de paz, de limites, de

comércio e navegação.”

Acresce diferenciarmos tratados de convenção e de declaração, onde a

convenção é o acordo sem objetivo político e a declaração é o acordo que vem

afirmar um princípio.

16 GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 33. 17 HUSEK, Carlos Roberto, Curso de Direito Internacional Público, pg. 57.

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Page 34: Adoção internacional

Desse modo, quando o tratado exprime o ato jurídico de natureza

internacional, em que dois, ou mais Estados, concordam sobre a criação,

modificação ou extinção de algum direito, é tido em espécie de acordo, convenção

ou declaração.18

2.4.2 – Convenção

Tratado e convenção internacional correspondem ao mesmo diploma

jurídico, é admitido também afirmar que tratado é gênero do qual a convenção é uma

espécie.

O vocábulo “convenção” deve ser utilizado para designar os tratados do

tipo normativo, que estabeleçam normas gerais em determinado campo.

Devemos ressaltar que, a guerra (entre outros episódios que contribuem

para a regressão social e econômica de um povo) foi um dos fatores que levaram a

comunidade internacional a estabelecer acordos com fins humanitários, como

exemplo podemos citar: a proteção especial à infância foi abordada em 1924, em

Genebra, na Liga das Nações, depois da 1º Grande Guerra; o surgimento da

Declaração dos Direitos do Homem, após a 2ª Guerra Mundial, em 1948 e em

seguida a Declaração dos Direitos da Criança de 1959.

2.5 – CONVENÇÃO DE HAIA É a convenção relativa à Proteção das Crianças e a Cooperação em

Matéria de Adoção Internacional, concluída em Haia, em 29 de maio de 1993 e

promulgada pelo Presidente da República por meio do Decreto nº 3087, de 21 de

julho de 1999.

Para João Delciomar Gatelli: “Os Estados Signatários dessa Convenção,

cientes da necessidade de uma criança conviver no meio familiar e da importância

18 DE PLÁCITO E SILVA, Vocabulário Jurídico. 15ª ed., p.831-832

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Page 35: Adoção internacional

da adoção internacional para aquelas que não encontram a família adequada em

seu país de origem, procuram com o objetivo de prevenir o seqüestro, a venda e

tráfico de crianças, estabelecer medidas comuns que resguardem o interesse

superior da criança e tomem em consideração os princípios já reconhecidos por

instrumentos internacionais.”19

A referida convenção estabelece medidas e regras que devem ser

adotadas pelos Estados-Partes, sendo distribuídas em sete capítulos.

2.5.1 – Objetivos e aplicação da Convenção No primeiro capítulo, os artigos 1º, 2º e 3º referem-se à aplicação da

Convenção.

O artigo 1º da Convenção define seus objetivos esclarecendo que o

propósito é o estabelecimento de um sistema de cooperação entre os países,

facilitando dessa forma, a aplicação efetiva de dispositivos referentes aos direitos da

criança, já recomendados pela ONU. Assim tem por objeto:

(i) o respeito aos direitos fundamentais reconhecidos no Direito

Internacional, estabelecendo garantias para que as adoções internacionais sejam

feitas levando em consideração o interesse superior da criança;

(ii) a cooperação entre os Estados contratantes a fim de assegurar o

respeitos às garantias já mencionadas, bem como prevenir o seqüestro, a venda e o

tráfico de crianças;

(iii) assegurar o reconhecimento, nos Estados contratantes, das

adoções realizadas segundo a convenção

Estabelece o art. 2º que a convenção se aplica quando:

19 GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil, p. 54.

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Page 36: Adoção internacional

(i) uma criança deva ser deslocada de um país de origem, para outro

(país de acolhida) com a finalidade da adoção;

(ii) abrangendo apenas as adoções que estabeleçam vínculo de

filiação;

(iii) concedidas antes que a criança atinja a idade de 18 anos

2.5.2 – Requisitos para as Adoções Internacionais Os artigos 4º e 5º estabelecem os requisitos a serem observados pelo

Estado de origem do adotando no âmbito interno. Conforme a regra estatutária:

(i) o menor só poderá ser adotado se a autoridade competente do

Estado de origem (Juiz da Infância e Juventude) determinar e reconhecer que a

criança é adotável;

(ii) as autoridades deverão tomar as medidas necessárias para que a

adoção internacional seja efetivada somente quando há interesse, segurança e

proteção à criança;

(iii) o Estado de origem deve estar seguro de que as pessoas,

instituições e autoridades cujo consentimento se requeira para a adoção, tenham

sido devidamente instruídas das conseqüências do consentimento, bem como

orientados quanto à ruptura e manutenção dos vínculos jurídicos entre a criança e

sua família biológica, em virtude da adoção;20

(iv) se faz necessária a verificação da existência de consentimento

materno, como também, a manifestação da vontade dos envolvidos em adotar

20 No Brasil a ruptura do vínculo jurídico com a família natural ocorre antes da criança chegar ao Estado de acolhida.

39

Page 37: Adoção internacional

perante a autoridade competente e, havendo a criança condição de se manifestar, é

preciso que seja expressada sua vontade sem nenhuma coação;21

(v) e por fim, que os futuros pais adotivos estejam habilitados e aptos

a adotar.

2.5.3 – Autoridades Centrais e Organismos Credenciados

Para que haja a adoção internacional é necessária a existência de uma

Autoridade Central e Organismos Credenciados cooperando entre si, para

assegurarem e protegerem os interesses das crianças, possibilitando também a

troca de informações de caráter geral para que a convenção possa ser aplicada

corretamente.

Especificam os artigos 10 a 12 determinadas regras para que organismos

(sem fins lucrativos e credenciados pelos Estados Partes) possam atuar em matéria

de adoção internacional. Como exemplo, podemos citar o art. 12 que determina “um

organismo credenciado em um Estado Contratante poderá atuar em outro Estado

Contratante se tiver sido autorizado pelas autoridades competentes de ambos os

Estados.

Prevê-se, por fim, uma maneira de se saber quais os organismos

acreditados, determinando que, após a designação das Autoridades Centrais e

Organismos Credenciados deverão ser comunicados pelo Estado Contratante ao

Bureau Permanente da Conferência de Haia de Direito Internacional Privado.

21 Adoção – Menor – Ausência de consentimento da mãe biológica – Falta de preenchimento dos requisitos legais – Pedido indeferido. Ausente o consentimento da mãe do menor para a adoção, o pedido não preenche os requisitos que a Lei prevê para espécie, não podendo assim ser deferido, tendo em vista, ainda não haver prejuízo ao interesse do menor. Sentença confirmada.

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Page 38: Adoção internacional

2.5.4 – Requisitos processuais para a Adoção Internacional Os requisitos de procedimento para a adoção internacional estão

estabelecidos nos artigos 14 a 22, onde sinteticamente são mencionados:

(i) os solicitantes deverão se dirigir à autoridade central do Estado da

residência habitual do adotando.

(ii) preparação de um relatório com informações detalhadas sobre os

adotantes, pela Autoridade Central do Estado destes, à Autoridade Central do

Estado de origem da criança, caso os pretendentes estejam aptos e habilitados para

adotar;

(iii) após a análise dos documentos recebidos, caso a Autoridade

Central do Estado de origem, considere alguma criança adotável, transmitirá um

relatório da criança;

(iv) a decisão de confiar uma criança à adoção internacional somente

poder ser tomada no Estado de origem se os futuros pais manifestaram seu acordo,

se a Autoridade Central do Estado dos adotantes tenham aprovado a decisão, se as

Autoridades Centrais de ambos os Estados estão de acordo que se prossiga a

adoção, se os futuros pais são habilitados e aptos a adotar, e se a criança tenha

sido ou será autorizada a entrar e residir permanentemente no Estado de acolhida;

(v) por fim, as autorizações de saída e de entrada e permanência

serão providenciadas pelas Autoridades dos Estados envolvidos, como também as

trocas de informações necessárias.

É importante deixar registrado que, as decisões mencionadas são

meramente administrativas sendo indispensável à decisão judicial, a qual apreciará

TJES, Ap. 052.930.002.077 – Vitória,r el. Des. José Eduardo Granai Ribeiro (Revista Igualdade n. 15, MP-PR).

41

Page 39: Adoção internacional

os elementos objetivos e subjetivos que são aferidos do conteúdo processual, do

estágio de convivência e dos pareceres da equipe interprofissional.

No Brasil, a Adoção Internacional está vinculada a um procedimento

bipartido, que tem início com a chamada fase administrativa, onde a Autoridade

Central do país de acolhida verificará as condições do casal ou da pessoa habilitada

para a adoção, expedindo-se o documento de habilitação. Finalizada esta fase,

inicia-se a judicial perante a Vara da Infância e da Juventude, desenvolvendo-se o

processo conforme as regras estatutárias, em consonância com o Código Civil e o

Código de Processo Civil, chegando finalmente a sentença.

2.5.5 – Reconhecimento e efeitos da adoção

Uma vez concedida a adoção pelas regras da Convenção, e certificada,

será reconhecida por todos os Estados contratantes.

A comprovação da adoção implica no reconhecimento do vínculo de

filiação entre a criança e seus pais adotivos, na responsabilidade paterna dos pais

adotivos a respeito da criança e na ruptura da filiação preexistente entre a criança e

seus pais biológicos. Não havendo a mencionada ruptura, pode haver a conversão

no Estado de acolhida, para a produção de efeitos, desde que a legislação do

Estado permita e que haja as necessárias autorizações.

2.5.6 – Disposições Gerais

O capítulo VI da Convenção estabelece as disposições gerais referentes

à:

(i) não afetação de nenhuma lei do Estado de origem que exija que o

processo de adoção ocorra em seu território e nem que proíba a saída da criança

antes da adoção;

42

Page 40: Adoção internacional

(ii) que não deve haver nenhum tipo de contato entre os pais adotivos

e os biológicos até que seja estabelecido que a criança é adotável, ressalvando-se

os casos de adoção efetuada por membro de uma mesma família;

(iii) sigilo da origem da criança e de informações que possam

identificar os pais e sua história médica

(iv) a proibição de benefícios indevidos quando da intervenção.

Caso alguma das disposições da Convenção não seja respeitada a

Autoridade Competente deverá informar a Autoridade Central para que sejam

tomadas as medidas cabíveis.

Acrescer mencionar que, admite-se o pagamento de custas, despesas e

honorários profissionais das pessoas que tenham intervindo na adoção (como por

exemplo, o tradutor juramentado). No Brasil contudo é isenta do pagamento e custas

processuais.

É possível ainda, que os Estados envolvidos no processo de adoção

realizem acordos a fim de facilitar a aplicação das regras da Adoção Internacional.

2.5.7 – Cláusulas finais

Essas cláusulas, dispostas no Capítulo VII, estabelecem que qualquer

Estado pode aderir à convenção, bastando para tanto, depositar o instrumento de

adesão junto ao depositário.

Os efeitos da adesão dependerão de inexistência de objeções por parte

dos Contratantes, as quais poderão ser apresentadas nos seis meses seguintes da

notificação da adesão.

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Page 41: Adoção internacional

CAPÍTULO III 3.1 – ASPECTOS PROCESSUAIS PARA A ADOÇÃO INTERNACIONAL

Para que seja realizado o processo de adoção se faz necessário o

preenchimento de uma série de requisitos e procedimentos, que visam preservar o

interesse superior da criança em ter uma convivência familiar e comunitária.

Para o adotante estrangeiro, não domiciliado no Brasil, além das

exigências impostas a todo pretendente à adoção, já mencionados no capítulo

anterior, a lei prescreve outras medidas.

A capacidade para adotar, segundo a Convenção de Haia, será dada

sempre pela Lei do Estado em que os pleiteantes habitualmente residam, dessa

forma, para efeito de processamento do pedido de adoção de um brasileiro por um

estrangeiro, as duas leis – a do adotante e do adotando – deverão ser analisadas e

cumpridos os requisitos exigidos em ambas.

Segundo o tratadista Gustavo Ferraz de Campos Mônaco22, o legislador

brasileiro de Direito Internacional Privado, naquilo que concerne às adoções

internacionais, entendeu que a capacidade de direito e a capacidade de fato devem

ser reguladas pela lei sob cujo império residam os adotantes.

Quanto à condição civil do adotante, as legislações sobre a adoção não

são unânimes, algumas só admitem a adoção por pessoas casadas; outras

permitem também para solteiros e viúvos. O ideal é buscar sempre a proteção dos

superiores interesses da criança.

Em relação ao estágio de convivência observamos uma das barreiras

“impostas” ao estrangeiro não residente no país que pretende adotar uma criança, a

qual tece comentários Eunice Ferreira Rodrigues Granato:

22 MONACO, Gustavo Ferraz de Campos, Direitos da Criança e Adoção Internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p.84.

44

Page 42: Adoção internacional

“Não existe possibilidade de o estrangeiro, interessado em adotar, cumprir

o estágio de convivência, se não tiver uma autorização escrita pelo juiz, documento

esse que legitimará a presença da criança ou adolescente em sua companhia. Essa

autorização, na verdade, é uma “guarda provisória”.

Não teria sentido ficar o adotante no hotel e a criança na instituição, para

cumprir o estágio, porque não haveria convivência.23”

No mesmo sentido comenta Wilson Donizete Liberati: “ Como se vê, o

legislador preferiu conferir aos estrangeiros condições diferenciadas das dos

nacionais quando o assunto é adoção. Nesse particular, a lei tratou desigualmente

pessoas com as mesmas intenções, ou seja, considerou o adotante nacional pessoa

mais confiável, vez que desincumbiu-o da tarefa de cumprir o estágio de

convivência, nas hipóteses acima referidas.”24

O direito à adoção, no Brasil, é igual para todos não importando a

nacionalidade, diferindo entre nacionais e estrangeiros a quantidade de documentos

que o estrangeiro tem que apresentar ao juiz.

Levanta-se a seguinte questão em relação ao estágio: qual a importância

de se realizar um estágio com crianças menores de dois anos?

Tal estágio será frutífero apenas para o casal, que se adaptará com a

rotina de ter consigo um bebê. Já para a criança nada irá acrescer, uma vez que não

consegue diferenciar as pessoas da família, se comunicar. Enfim, não sendo

possível uma avaliação para descobrir se a criança está aceitando ou não aquele

casal, frise-se, seja ele nacional ou estrangeiro.

Então diante da questão acima levantada qual o motivo da diferença de

tratamento dado ao adotante nacional e ao estrangeiro?

23 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática, p.118. 24 LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.169.

45

Page 43: Adoção internacional

Em relação ao §1º do art. 51 do ECA, é sábia medida a comprovação,

pelo candidato, de sua habilitação à adoção em seu domicílio, por meio de

documento expedido pela autoridade competente, bem como a apresentação de

estudo psicossocial, elaborado por agência credenciada do país de origem.

Indispensável se faz, também, que seja conhecido o texto pertinente à

legislação estrangeira em vigência, devidamente traduzido por tradutor juramentado,

evitando-se, assim, conflitos entre a legislação brasileira e a legislação do país de

acolhida.

A proibição imposta no parágrafo 4º do artigo em questão, constitui

medida protetiva, não permitindo que o adotando deixe o país de origem antes que

seja consumada a adoção.

No mesmo aspecto, o art. 85 exige prévia autorização judicial para que a

criança ou adolescente nacional possa sair do país, em companhia de estrangeiro

residente ou domiciliado no exterior.

Enfim, todas essas medidas visam proteger o menor, impedindo que haja

desvios na finalidade da adoção, bem como que seja coibido o tráfico de crianças e

adolescentes.

3.2 – COMISSÃO ESTADUAL JUDICIÁRIA DE ADOÇÃO INTERNACIONAL

Com o intuito de impedir que haja desvios na finalidade da adoção,

preocupou-se o legislador com a criação de um órgão auxiliar da justiça para o

estudo de pedidos formulados por estrangeiros não residentes no Brasil, que são as

comissões estaduais de adoção internacional, as quais funcionam em todos os

Estados brasileiros.

Assim prevê o artigo 52 do Estatuto:

46

Page 44: Adoção internacional

“A adoção internacional poderá ser condicionada a estudo prévio e

análise de uma Comissão estadual judiciária de adoção, que fornecerá o

respectivo laudo de habilitação para instruir o processo competente.

Parágrafo único: Competirá à comissão manter registro centralizado de

interessados estrangeiros em adoção.”

A CEJAI (Comissão Estadual Judicial de Adoção Internacional) é um

órgão composto por desembargadores e juízes de Direito, procuradores e

promotores de justiça, psicólogos, sociólogos, pedagogos, assistentes sociais,

advogados, médicos e outros.

“Originariamente, a Comissão tinha como missão e finalidade colocar a

salvo as crianças disponíveis para a adoção internacional, como forma de evitar-lhes

a negligência, a discriminação, a exploração, a violência, a crueldade e opressão.

Além de perseguir os superiores interesses da criança, a Comissão

procura manter intercâmbio com outros órgãos e instituições internacionais de apoio

à adoção, estabelecendo com elas um sistema de controle e acompanhamento dos

casos apresentados e divulgando suas atividades. (...)”25

No Estado de São Paulo, por exemplo, a comissão é constituída por sete

magistrados: três desembargadores, sendo um deles o Corregedor Geral da Justiça,

que irá presidir a Comissão, mais quatro juízes de Varas da Infância e Juventude,

desenvolvendo as seguintes atribuições:

I – organizar, no âmbito do Estado, cadastros centralizados de:

a) pretendentes estrangeiros, domiciliados no Brasil ou no exterior, à

adoção de crianças brasileiras;

b) crianças declaradas em situação de risco pessoal ou social, passíveis

de adoção, que não encontrem colocação em lar substituto em nosso País;

25 LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.122.

47

Page 45: Adoção internacional

II – manter intercâmbio com órgãos e instituições especializadas

internacionais, públicas ou privadas, de reconhecida idoneidade, a fim de ajustar

sistemas de controle e acompanhamento de estágio e convivência no exterior;

III – trabalhar em conjunto com entidades nacionais, de reconhecida

idoneidade e recomendadas pelo Juiz da Infância e Juventude da Comarca;

IV – divulgar trabalhos e projetos de adoção, onde sejam esclarecidas

suas finalidades, velando para que o instituto seja usado somente em função dos

interesses dos adotandos;

V – realizar trabalhos junto aos casais cadastrados, visando favorecer a

superação de preconceitos existentes em relação às crianças adotáveis;

VI – propor às autoridades competentes medidas adequadas, destinadas

a assegurar o perfeito desenvolvimento e devido processamento das adoções

internacionais no Estado, para que todos possam agir em colaboração, visando

prevenir abusos e distorções quanto ao uso da adoção internacional;

VII – expedir o Laudo ou Certificado de Habilitação, com validade em todo

o território estadual, aos pretendentes estrangeiros e nacionais à adoção, que

tenham sido acolhidos pela Comissão.

Passemos agora a declinar sobre a forma e as documentações exigidas

ao candidato à adoção internacional.

Para se inscrever na CEJAI deverá o candidato formular uma petição

contendo os seguintes dados: (i) endereçamento: o pedido deverá ser dirigido ao

presidente da Comissão; (ii) qualificação do requerente: nome, estado civil,

profissão, endereço; (iii) fundamentação legal artigo e lei correspondente da adoção;

(iv) pedido: o requerimento de inscrição e habilitação para adoção de crianças

nacionais; (v) data e assinatura.

48

Page 46: Adoção internacional

Quanto à documentação, além da procuração para o advogado ou pessoa

que represente o adotante, deverão ser juntados os seguintes documentos: (i) certidão de nascimento ou casamento; (ii) passaporte; (iii) atestado de sanidade

física e mental expedido pelo órgão de vigilância de saúde do país de origem; (iv) comprovação de esterilidade ou infertilidade de um dos cônjuges, se for o caso; (v) atestado de antecedentes criminais; (vi) estudo psicossocial elaborado por agência

especializada e credenciada no país de origem; (vii) comprovante de habilitação

para a adoção de criança estrangeira, expedida pela autoridade competente do seu

domicílio; (viii) fotografia do requerente e do lugar onde habita; (ix) declaração de

rendimentos; (x) declaração de que concorda com os termos da adoção e de que o

seu processamento é gratuito; (xi) legislação sobre a adoção do país de origem

acompanhada de declaração consular de sua vigência; (xii) declaração quanto à

expectativa do interessado em relação às características e faixa etária da criança.

Em seguida, a CEJAI determinará a realização de estudo social através

de um de seus técnicos, que apresentará parecer sobre a adoção pleiteada.

Após o referido estudo, a CEJAI expedirá um Laudo de Habilitação, se o

interessado estiver apto para adotar criança ou adolescente brasileiro. Caso seja

negada a solicitação ou houver inconformismo com a decisão, poderá ser interposto

recurso para a Câmara Especial do Tribunal de Justiça.

Possuindo o Laudo de Habilitação, o interessado estará qualificado para

requerer a adoção em qualquer cidade do Estado.

Devemos salientar que as Autoridades Centrais devem manter registro

das Organizações que se destinam a intermediar os processos de adoção,

credenciando-os como única forma para sua atuação no país ou unidade federativa.

É importante notar, finalmente, alguns dados significativos que são

relacionados às qualificações dos adotandos, comentados pela doutrinadora Eunice

Ferreira Rodrigues Granato:

49

Page 47: Adoção internacional

“ Enquanto entre os brasileiros dispostos a adotar, poucos se encontram

que desejam fazê-lo em relação a pretos, pardos, deficientes físicos ou mentais e a

crianças de mais idade ou adolescentes, os estrangeiros adotaram duzentos e

quarenta e nove pretos e novecentos e setenta e dois pardos e também portadores

de deficiências físicas ou mentais. Em relação à idade, setecentas e setenta e sete

crianças tinham entre quatro e seis anos; quinhentas e trinta e oito, de sete a dez

anos e cento e quarenta e três de onze a dezesseis anos.” 26

Dessa forma, podemos observar que embora sejam impostas inúmeras

barreiras para que os estrangeiros adotem crianças e adolescentes brasileiros, que

vão desde o estágio de convivência até as incontáveis documentações e

procedimentos exigidos, são esses – tratados de maneira diferenciada pela

legislação, muitas vezes sendo prejudicados em relação aos adotantes nacionais –

os indivíduos que menos preconceito possuem ao adotar. Pois eles estão

interessados no real objetivo da adoção, que é atender as necessidades do

adotando, não estão procurando bebês loiros e de olhos azuis, buscam, na verdade,

uma criança ou adolescente que necessite de sua proteção, seu carinho e seu amor,

independentemente de cor, raça ou condição física.

3.3 – EFEITOS DA ADOÇÃO

3.3.1 – Efeitos relativos ao estado familiar do adotado 3.3.1.1 – Família biológica

De acordo com o disposto no art. 1626 do Código Civil “a adoção atribui a

situação de filho ao adotado, desligando-se de qualquer vínculo com os pais e

parentes consangüíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento”.

Devemos entender por impedimento matrimonial que a adoção não

impede o casamento entre o adotante e descendentes do adotado, nem entre o

26 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática. 1ª ed, 4ª tir. Curitiba:2006; p.124.

50

Page 48: Adoção internacional

adotado e os ascendentes do adotante, o impedimento ocorre unicamente entre as

partes intervenientes na escritura da adoção.

3.3.1.2 – Família Adotiva A legislação brasileira estabelece que o filho adquire o domicílio dos pais

ou responsáveis. Dessa forma, os efeitos que nascem dessa nova relação, serão

regulados pela lei do Estado de acolhida, pois lá será o local em que as partes

habitualmente residirão.

3.3.2 – Efeitos relativos ao estado pessoal do adotado 3.3.2.1 – Nome A legislação possibilita a mudança do prenome do adotado, porém, antes

de fazê-lo seria prudente analisar, rigorosamente, cada caso concreto.

A mudança de prenome para uma criança de poucos meses não possui

qualquer restrição, uma vez que nessa idade elas ainda não atendem pelo nome

que são chamadas. Dessa forma, nada prejudicaria-a, bem como facilitaria sua

criação, pois aproxima da filiação biológica, quando os pais escolhem o nome.

Em relação as crianças que já atendem pelo nome com que são

chamados, para não ficar no dilema entre a impossibilidade absoluta da Lei dos

Registros Públicos e(6.015/73) e a troca autorizada pelo Estatuto, a qual pode ser

psicologicamente danosa ao adotando, a melhor sugestão parece ser o uso de

nomes compostos, assim, por exemplo, uma criança registrada como Maria e os

adotantes desejando chamá-la de Carolina, com a adoção passa a chamar-se Maria

Carolina, e posteriormente, no decorrer da relação intrafamiliar se dará ênfase a

utilização do nome desejado pelos adotantes.

Para Maria Josefina Becker, “não é recomendável tal alteração, a partir do

momento em que a criança se identifica com seu próprio nome, o que, em geral,

51

Page 49: Adoção internacional

ocorre já nos primeiros meses de vida”. E acrescenta que de um modo geral, nesses

casos, manter o nome original é uma forma de respeitar a identidade da criança e de

manifestar a aceitação, sem reservas, de sua pessoa.” 27

Os conceitos acima mencionados também serão aplicáveis às Adoções

Internacionais, sendo recomendável que a grafia do prenome seja ajustada à língua

dos adotantes, com intuito de facilitar a sua adaptação no país de acolhida.

Processualmente, o novo registro de nascimento será determinado por

mandado judicial do qual não será fornecido certidão, garantindo, dessa foram, o

sigilo referente à origem da criança. O mandado será arquivado e cancelará o

registro original do adotado, produzindo-se um novo, do qual constarão os nomes

dos novos pais e de seus antecedentes, extraindo-se certidão de nascimento da

qual não constará nenhuma ressalva referente à origem do parentesco, em atenção

à norma constitucional, no sentido da igualização da condição de filho, seja qual for

a origem.

3.3.2.2 – Nacionalidade

Ensina Jacob Dolinger que “a nacionalidade é o vínculo jurídico que une,

liga, vincula, o indivíduo ao Estado (...)” e ainda que “a nacionalidade acentua o

aspecto internacional, ao distinguir entre nacionais e estrangeiros “28

Ao ser concedida a adoção, o adotado não passa a ser, automaticamente,

da mesma nacionalidade do adotante; tampouco adquire a cidadania estrangeira.

Essa “aquisição”, como veremos, acontece, plenamente ou não, a partir do momento

em que o adotante retorna para sua terra natal e providencia o requerimento

especial, para dar eficácia à sentença brasileira.29

27 BECKER, Maria Josefina. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado, p.154. 28 DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado – Parte Geral, p.157. 29 LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência, p.209.

52

Page 50: Adoção internacional

A nacionalidade somente será conquistada ou adquirida mediantes as

formas estabelecidas pela lei do país dos adotantes, em virtude de serem normas de

direito público, integrantes do poder discricionário dos países.

3.3.3 – Efeitos de ordem patrimonial Com a decretação da adoção, o adotado integra a família do adotante

como filho, com todos os direitos e deveres, inclusive os sucessórios.

Vale lembrar que, antes da vigência da Constituição Federal de 1988, a

situação era bem diferente. Estabelecia os arts. 377 e 1.605, §2º do Código Civil de

1917 que se o adotivo fosse adotado sem que houvesse prole legítima, legitimada

ou reconhecida, e esta fora superveniente à adoção, herdaria metade do que

coubesse a qualquer herdeiro daquelas classes, mas se a adoção fosse efetivada

após a existência da prole, nada herdaria.

Atualmente, não resta dúvidas em relação ao direito do adotado em

susceder o adotante: (i) “os filhos , havidos ou não da relação do casamento, da

união estável ou por adoção, terão os mesmos direitos” (CF, art. 227,§6º e art. 20 do

Estatuto); (ii) “a adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos

direitos e deveres, inclusive sucessórios (...)” (ECA, art. 41 e CC, arts. 1.621, §2º, e

1.623); (iii) “o vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial (...)” (ECA, art.

47); (iv) “a adoção é irrevogável” (ECA, art. 48); e (v) “a sucessão legítima defere-se

na ordem seguinte: I – aos descendentes (...) II – aos ascendentes (...)” (CC, art.

1.829, I e II).

53

Page 51: Adoção internacional

CAPÍTULO IV 4.1 – EXCEPCIONALIDADE DA COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA

ESTRANGEIRA Dispõe o art. 31 do Estatuto da Criança e do Adolescente “A colocação

em família substituta estrangeira constitui medida excepcional, somente admissível

na modalidade da adoção.”

Nesse sentido, o XIII Congresso da Associação Internacional de

Magistrados de Menores e de Família, realizado em Turim, Itália, em 1990,

recomendou:

“Que seja confirmado o caráter subsidiário da adoção internacional, à qual

se poderá recorrer somente depois de esgotadas todas as possibilidades de

manutenção da criança na própria família ou em outra família no seu país de origem.” (destaque nosso)

Todavia, ao analisarmos tal questão, não podemos nos prender a

nacionalidade, enquanto milhares de crianças e adolescentes não possuem

condições mínimas de dignidade, respeito e subsistência. Afinal de contas o que

deverá prevalecer: a nacionalidade dos adotantes ou o interesse dos adotados?

A Adoção Internacional foi inserida com o objetivo de atender os

interesses do adotando ante à globalização mundial e a aproximação dos povos,

sendo um instrumento eficaz de integração sócio-familiar para as crianças

abandonadas.

Como já vimos no capítulo anterior, são os estrangeiros que - apesar dos

inúmeros obstáculos para realizar uma adoção legal - menos preconceito possuem

em relação às crianças a serem adotadas, não se importando com a cor, raça ou

condição física.

54

Page 52: Adoção internacional

Devemos enfatizar que, é extremamente vergonhoso verificarmos que

com toda a “preferência” que possuímos somos capazes de discriminar “nossas”

crianças, enquanto aqueles que lutam arduamente por essa possibilidade, nada

mais querem do que um ser para proteger, amar e se dedicar incondicionalmente.

Cumpre esclarecer que, as investigações realizadas em diversos países

já oferecem condições de avaliar se as crianças adotadas, por estrangeiros, têm tido

problemas de ordem sócio-cultural. As pesquisas revelam que a maioria das

adoções internacionais, feitas com rigorosa observância dos critérios legais, tem

alcançado notável sucesso na sua finalidade superior de promover a integração

plena da criança em seu novo meio familiar e social. Como bem ponderou Denise

Siri – Duvoisin,30 a autora de uma importantíssima investigação com 300 adoções

internacionais, isto por si só bastaria para tranqüilizar os opositores da adoção

internacional, mesmo que uma baixa percentagem de casos haja conhecido

insucesso. O êxito dessas adoções comprova, mais uma vez, o que há muito a

sublime instituição vem demonstrando: que os vínculos familiares se nutrem muito

mais de afeto do que de sangue.

30 SPRING – DUVOISIN, Denise. L´Adoption Internacionale – Que sont – ils? Editions Advimark, Lausane, Suíça, 1986. Fonte: site do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Matéria: Adoção Internacional: aspectos juídicos, políticos e sócio culturais. Tarcísio José Martins Costa – Juiz da Infância e Juventude de Belo Horizonte. Presidente da Associação Brasileira dos Magistrados da Infância e Juventude – ABRAMINJ. Autor do livro Adoção Transnacional.

55

Page 53: Adoção internacional

CAPÍTULO V 5.1 – DEMAIS QUESTÕES RELACIONADAS À ADOÇÃO

INTERNACIONAL 5.1.2 – Crimes em matéria de Adoção Internacional O tema da adoção internacional, além de envolver questões de caráter

humanitário, igualmente se defronta com os crimes em matéria de adoção

internacional. Pois, nem todas as pessoas guardam o nobre desejo de ver sua

criança adotada sob a égide da lei; importam-se apenas com a obtenção da criança,

que, em seu poder, era levada para o país estrangeiro sem qualquer procedimento

legal.

No Brasil, houve uma melhora dessa situação após a ratificação da

Convenção de Haia. Também vemos que, a ação criminosa relacionada com a

adoção internacional, recebeu tratamento rigoroso no art. 239 do Estatuto da

Criança e do Adolescente, o qual dispõe: “Promover ou auxiliar a efetivação de ato

destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com a inobservância

das formalidades legais ou com o fito de obter lucro: Pena – reclusão de quatro a

seis anos e multa.” Tal tratamento visa evitar que as crianças sejam enviadas ao

exterior em desacordo com as normas brasileiras.

5.1.2.1 – Tráfico de crianças O tráfico de crianças, principalmente as de pouca idade, é uma

preocupação constante para as Nações. Contudo, não se identifica com a adoção,

posto que a última é atitude adequada aos princípios legais.

Atualmente, o tráfico de crianças está relacionado, principalmente com a

prostituição infanto-juvenil, onde organizações criminosas buscam nos países menos

desenvolvidos crianças e jovens para serem utilizados em trabalhos forçados, em

produções pornográficas e prostituição.

56

Page 54: Adoção internacional

5.1.2.2 – Tráfico de órgãos

Não poderíamos deixar de citar as denúncias infundadas sobre o tráfico

de órgãos infantis, que prejudicava a adoção internacional.

O Eminente Juiz Antônio Augusto Guimarães de Souza, apresentou o

“Relatório submetido pela Agência de Divulgação dos Estados Unidos da América ao

Relator Especial das Nações Unidas sobre o comércio de crianças, a prostituição e a

pornografia infantis”, no XVI Congresso da Associação Brasileira de Magistrados da

Infância e Juventude, realizado em Brasília, em outubro de 1995, o qual passamos a

transcrever alguns trechos:

Desde janeiro de 1987 têm-se avolumado na imprensa mundial os

rumores de seqüestros de crianças, a serem usadas como doadores involuntários

em transplantes de órgãos. No entanto, nenhum governo, organismo internacional,

organização não-governamental ou jornalista investigativo chegou a oferecer

qualquer prova aceitável para corroborar tal alegação. Pelo contrário, há muitas

razões para se acreditar que o rumor sobre o tráfico de órgãos infantis é uma “lenda

urbana” moderna, uma falsidade aceita normalmente como verdadeira porque

traduz, em forma de ficção, ansiedades generalizadas a respeito da vida moderna.

Os especialistas em transplantes de órgãos concordam que seria

impossível ocultar com êxito qualquer esquema clandestino orientado para o “tráfico-

de-orgãos-alimentado-pelo-homicídio”. Devido ao número elevado de pessoas que

precisam participar de um transplante de órgãos; a sofisticada tecnologia médica

necessária para conduzir tais cirurgias, ao tempo extremamente curto em que os

órgãos permanecem adequados ao transplante e a natureza abominável de tais

atividades, tais operações não poderiam ser organizadas clandestinamente nem

mantidas em segredo.

Ainda lemos, no mesmo documento:

A Agência de Divulgação dos Estados Unidos investigou denúncias de

tráfico de órgãos infantis desde que apareceram pela primeira vez na imprensa

57

Page 55: Adoção internacional

mundial, em janeiro de 1987. Além de suas próprias investigações, a Agência

procurou também conhecer os resultados de estudos feitos sobre o tema por

instituições governamentais como as Nações Unidas e o Parlamento Europeu, como

também por outros governos, organizações não-governamentais e jornalistas

investigativos. Apesar de quase oito anos de investigações exaustivas envolvendo

numerosas alegações, a Agência de Divulgação dos Estados Unidos não tem

conhecimento de qualquer prova aceitável resultante de qualquer investigação feita,

que indique que já tenha ocorrido o tráfico de órgãos infantis. Ao contrario, todos os

dados disponíveis levam à mesma conclusão: as alegações de tráfico de órgãos

infantis são um mito infundado.

5.1.2.3 – Adoção à Brasileira A chamada “adoção à brasileira” consiste no registro de filho alheio como

próprio.

Os motivos que levam alguém a registrar filho alheio como próprio, por

esse método, são os mais variados, mas fácil é intuir que, dentre eles, estão a

esquiva a um processo judicial de adoção demorado e dispendioso, mormente

quando se tem que contratar advogado; o medo de não lhe ser concedida a adoção

pelos meios regulares e, pior ainda, de lhe ser tomada a criança, sob o pretexto de

se atender a outros pretendentes há mais tempo “na fila” ou melhor qualificados; ou

ainda, pela intenção de se ocultar à criança a sua verdadeira origem.31

Essa conduta criminosa depõe contra o interessado estrangeiro em

adoção, pois revela que seu desejo de adotar ultrapassa os limites impostos pela

legalidade, transformando-o em delinqüente, colocando-o contra a lei.

Há ainda, aquelas pessoas que registram crianças como se fossem seus

filhos com o intuito de envia-las ilegalmente para outros países em troca de altos

valores.

31 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática, p.131.

58

Page 56: Adoção internacional

Nesse sentido, foi publicada no dia 09/02/2006, no Jornal Folha de São

Paulo, uma reportagem destacando a chamada “Operação Cegonha” da Polícia

Federal onde foram presas pessoas integrantes de uma quadrilha especializada em

enviar crianças ilegalmente para os Estados Unidos, cobrando em torno de US$ 13

mil por criança para providenciar os documentos e transportá-la. E ainda, em alguns

casos as crianças eram registradas como filhos dos integrantes do grupo, citando

como um dos suspeitos um sargento da PM que possui doze filhos registrados.

Não podemos esquecer que a adoção procedida sem obedecer os

critérios legais (por mais nobre que seja o motivo) pode, também, prejudicar a

maneira como os pais irão educar seus filhos, uma vez que eles sempre estarão

preocupados porque fizeram algo errado, dessa forma terão um relacionamento

familiar baseado em mentiras, prejudicando o seu alicerce: a confiança.

5.1.3 – Adoção por casais homossexuais Ainda não há em nosso ordenamento jurídico, um posicionamento a

respeito da possibilidade de um homossexual pleitear e ter o deferimento da adoção

de uma criança.

Atualmente, podemos observar uma constante mudança de

comportamento da sociedade, como exemplo, podemos citar a não admissibilidade

do reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento, no Código Civil de 1916, o

que já passou a ser observado pela legislação atual.

O mesmo ocorre em relação à união entre homossexuais, houve um

grande avanço na legislação sobre casais gays desde 1989, conforme quadro

publicado no dia 02/12/2005 pelo Jornal Folha de São Paulo:

2 de dezembro de 2005 - A Câmara dos Deputados belga aprova lei que

permite gays adotarem crianças.A lei ainda precisa passar pelo Senado.

59

Page 57: Adoção internacional

19 de julho de 2005 – O Senado do Canadá aprova o projeto de lei C-38,

que permite o casamento entre casais gays, legalizando a união entre homossexuais

em todo o país.

30 de junho de 2005 – A Câmara dos Deputados da Espanha aprova lei

que permite casamento gay e a adoção de crianças por esses casais.

28 de junho de 2005 – O Parlamento do Canadá aprova a legislação que

permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, apesar da ferrenha oposição

de políticos conservadores e grupos religiosos. Para que a lei tenha abrangência

federal, é preciso que seja aprovada pelo Senado, o que deve acontecer até o final

de julho.

2 de junho de 2005 – Após três votações, uma assembléia na Califórnia

(Estados Unidos) rejeita um projeto de lei que permitiria o casamento homossexual

no Estado americano mais populoso.

21 de abril de 2005 – O Parlamento da Espanha dá a aprovação inicial

que legaliza o casamento gay. O Senado votou contra a proposta em junto, e o

projeto de lei retorna à Câmara dos Deputados.

20 de abril de 2005 – Uma corte de Connecticut permite a legalização de

uniões civis para casais gays, sem a necessidade de aprovação da Justiça.

5 de abril de 2005 – Eleitores do Kansas (EUA) aprovam um emenda à

Constituição do Estado que barra o casamento entre gays.

1º de fevereiro de 2005 – Canadenses divulgam a primeira versão da

legislação que permite o casamento gay, depois as cortes de sete das dez

províncias do país já tinham decidido a favor da união gay.

12 de agosto de 2004 – A Suprema Corte da Califórnia anula mais de

4.000 casamentos gays realizados em San Francisco.

60

Page 58: Adoção internacional

27 de julho de 2004 – Uma corte francesa anula o primeiro casamento

gay do país, que aconteceu em 5 de junho de 2004.

10 de junho de 2004 – Uma corte do Estado de Nova York autoriza o

casamento entre homossexuais.

17 de maio de 2004 - os primeiros casais homossexuais se casam

legalmente em Massachusetts, que se torna, na época, o único Estado americano a

permitir o casamento gay.

Fevereiro de 2004 – O prefeito de San Francisco, Gavin Newson, desafia

a lei estadual e suspende uma lei que proibia casamentos gays. Em 2000, Vermont

foi o primeiro Estado americano a permitir uniões civis entre gays.

Julho de 2003 – Dois argentinos tornam-se o primeiro casal gay da

América Latina a usar uma nova lei que permite a união civil entre pessoas do

mesmo sexo.

Junho de 2003 – Uma corte de Ontário (Canadá) abre caminho para o

casamento gay na província ao declarar inconstitucional a definição de casamento

heterossexual.

O Reino Unido começa a estudar a possibilidade de permitir aos casais a

realização de uma união formal e legal, fazendo um registro de ‘união civil’.

Na Bélgica, a união civil entre homossexuais passa a ser permitida.

Julho de 2002 – A Alemanha permite que casais gays registrem suas

uniões junto a autoridades civis.

Dezembro de 2000 – A Holanda dá a aprovação final à lei que permite o

casamento e a adoção de crianças à casais do mesmo sexo. O governo holandês

reconhecia a união civil homossexual desde 1988.

61

Page 59: Adoção internacional

Outubro de 1999 – A França garante a todos os casais o direito à união

civil, que inclui reformas na cobertura do seguro social e nas leis de transmissão da

herança.

Março de 1995 – A Corte Constitucional da Hungria derruba uma lei que

proíbe casamento entre gays.

Junho de 1994 – O Parlamento da Suécia aprova uma lei que permite a

união entre gays, que dá aos casais homossexuais os mesmos direitos garantidos

aos heterossexuais.

Agosto de 1993 – A Noruega se torna o segundo país do mundo a

permitir que gays e lésbicas registrem civilmente a união, fornecendo direitos quase

iguais aos que são oferecidos aos casais homossexuais.

Junho de 1989 – A Dinamarca aprova uma lei que permite o registro da

união civil a casais homossexuais, e abrigando-os na mesma lei heterossexual que

define direitos a parceiros em uniões heterossexuais.

Dessa forma, não podemos simplesmente fechar os olhos diante da

realidade – os casais homossexuais estão cada vez mais garantindo seus direitos e

sendo aceitos pela atual sociedade.

Nota-se que a família recebeu nova identificação a partir da leitura do §4º

do art. 226 da CF: “§4º Entende-se, também como entidade familiar a comunidade

formada por qualquer dos pais e seus descendentes.”

Segundo Wilson Donizeti Liberati32 a dificuldade reside nos

posicionamentos morais e costumeiros de nossa sociedade, que recém saída de um

sistema patriarcal, vê-se cercada de constantes inovações nas relações afetivas,

como é o caso das relações homossexuais.

32 LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência. 2.ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003; p.36.

62

Page 60: Adoção internacional

A preocupação com a maneira de pensar da sociedade em relação aos

homossexuais foi demonstrada pelo magistrado pernambucano, Luiz Carlos de

Barros Figuerêdo com o caso transcrito na RT 463/329, em que o julgador lembra

que “não existe a menor dúvida de que o homossexual é um psicopata, ou seja,

indivíduo que, em virtude de mórbida condição mental, têm modificadas a

juridicidade de seus atos e de suas relações sociais.”

Para concordarmos com a possibilidade de adoção em conjunto por

homossexuais é necessário recorrermos ao princípio da igualdade previsto em

nossa Lei Maior.

O Estatuto da Criança e do Adolescente não contém nenhum dispositivo

tratando da adoção por homossexuais, nem ao menos violando tal procedimento.

Neste sentido, caso fosse proibida a adoção por casais homossexuais haveria uma

violação clara ao princípio da igualdade.

Devemos entender que é perfeitamente aceitável que o homossexual

adote uma criança, contudo, o deferimento do pedido dependerá do comportamento

dele frente à sua comunidade, isto é, ficando a cargo do Juiz apurar sua conduta

social, da mesma forma como ocorre com o requerente heterossexual, no qual a

autoridade judiciária não poderá deferir de plano a adoção, sem antes detectar a

existência dos requisitos objetivos e subjetivos previstos no Estatuto.

Dessa forma, merece ser transcrito um trecho do projeto lei aprovado pelo

Parlamento espanhol que permite o casamento e a adoção de crianças por pessoas

do mesmo sexo:

“(...) Pero tampoco em forma alguna cabe al legislador ignorar lo evidente:

que la sociedad evoluciona en el mode de conformar y reconocer los diversos

modelos de convivencia, y que, por ello, el legislador puede, incluso debe, actuar en

consecuencia, y evitar toda quiebra entre el Derecho y los valores de la sociedad

cuyas relaciones ha de regular. En el sentido, no cabe duda de que la realidad social

española de nuestro tiempo deviene mucho entre más rica, plural y dinámica que la

63

Page 61: Adoção internacional

sociedad en que surge el Código Civil de 1889. La convivencia como pareja entre

personas del mismo sexo baseada en la afectividad ha sido objeto de reconocimento

y aceptación social creciente, y ha superado arraigados prejuicios y

estigmatizaciones. Se admite hoy sin dificuldad que esta convivencia en pareja es un

medio a través del cual se desarrolla la personalidad de um amplio numero de

personas, convivencia mediante la cual se prestan entre sí apoyo emocional y

económico, sin más trascendencia que la que tiene lugar en una estricta relación

privada, dada su, hasta ahora, falta de reconocimiento formal por el Derecho.”

Ainda o mesmo projeto lei em relação à adoção estabelece que “En el

contexto señalado, la Ley permite que el matrimonio sea celebrado entre personas

del mismo o distinto sexo, con plenitud e igualdad de derechos y obligaciones

cualquiera que sea su composición. En consecuencia, los efeitos del matrimonio,

que se mantienen en su integridad respetando la configuración objetiva de la

institución, serán únicos en todos los ámbitos con independencia del sexo de los

contrayentes; entre otros, tanto los referidos a derecho y prestaciones sociales como

la possibilidad de ser parte en procedimiento de adopción.”

Em suma, o homossexual é tão capacitado quanto o heterossexual para

proceder à adoção, não devendo assim, sofrer discriminações por sua opção sexual.

Ocorrendo isto, seria o mesmo que não possibilitar sua admissão em uma empresa,

freqüentar um clube e até mesmo sua crença em virtude de ser gay.

Tal questão ainda está longe de ser solucionada, cabendo, contudo,

analisar até que ponto o preconceito deve ser mantido em detrimento do real

objetivo da adoção, que é a supremacia do interesse do adotando.

64

Page 62: Adoção internacional

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É na família que a criança encontra o ambiente adequado para se

desenvolver, estabelecer sua identidade e criar sua personalidade, possibilitando,

assim a formação de um adulto responsável, o qual assumirá seu papel na

sociedade e na família.

Não sendo possível encontrar com seus pais naturais para as condições

mínimas para a sua formação, será por meio da adoção que a criança conseguirá

uma família que a acolha, proteja, respeite e, sobretudo, ame.

Assim, a adoção internacional é um realidade que surge com o objetivo

de socorrer essas crianças, superando as barreiras da cultura e até mesmo idioma.

E para que esse objetivo seja atingido, é necessário que o Poder Público aplique os

dispositivos legais, aperfeiçoando o procedimento da adoção, sem descuidar das

providências da pesquisa das reais vantagens para o adotando.

Como forma aperfeiçoar o procedimento da adoção passamos a sugerir:

(i) não obrigatoriedade da realização do estágio de

convivência, pelos adotantes estrangeiros, com crianças

menores de dois anos;

(ii) possibilidade de se permitir à casais homossexuais adoção

de crianças ou adolescentes;

(iii) diminuição das barreira impostas aos estrangeiros não

residentes no país de origem do adotando e,

concomitantemente, uma maior fiscalização pelas CEJAI’s.

Diante de todo o exposto, devemos destacar que: na adoção, seja ela

nacional ou internacional, deve prevalecer o interesse da criança ou adolescente,

obedecendo os critérios legais prefixados para a realização do procedimento, para

que tal instituto não tenha sua finalidade desvirtuada.

65

Page 63: Adoção internacional

BIBLIOGRAFIA BECKER, Maria Josefina. Estatuto da Criança e do Adolescente Comentado. São

Paulo: Malheiros, 1992.

COELHO Pereira, Curso de Direito de Família. Lisboa, 1977.

DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado – Parte Geral. 7ª ed. Rio de

Janeiro: Renovar, 2003.

EPIFÂNIO, Rui M. L. e FARINHA, Antônio H. L. Organização Tutelar de Menores – Contributo para uma Visão Interdisciplinar do Direito de Menores e de Família. 2ª ed., Coimbra, Livraria Almedina, 1992.

GATELLI, João Delciomar, Adoção Internacional de acordo com o Novo Código Civil. 2.ed. Curitiba: Juruá Editora, 2003.

GOMES, Orlando; Direito de Família. 7.ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.

GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues, Adoção - Doutrina e Prática. 1ª ed, 4ª tir.

Curitiba:2006.

HUSEK, Carlos Roberto, Curso de Direito Internacional Público. 5ª ed. São Paulo:

Editora LTR, 2004.

LIBERATI, Wilson Donizeti; Adoção Internacional – doutrina e jurisprudência.

2.ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2003.

MONACO, Gustavo Ferraz de Campos, Direitos da Criança e Adoção Internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p.84.

RODRIGUES, Silvio; Direito Civil. Direito de Família. 23.ed. São Paulo: Saraiva,

1998, Vol.6.; p.332.

66

Page 64: Adoção internacional

SILVA, De Plácito e; Vocabulário Jurídico. Atualizações Slaibi Filho N., Alves G.M.

15ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

67

Page 65: Adoção internacional

ANEXO A:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

(Publicada no DOU em 05/10/1988)

TÍTULO VIII DA ORDEM SOCIAL

CAPÍTULO VII DA FAMÍLIA, DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE E DO IDOSO

Art.226 - A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º - O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

§ 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o

homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em

casamento.

§ 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por

qualquer dos pais e seus descendentes.

§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos

igualmente pelo homem e pela mulher.

§ 6º - O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação

judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação

de fato por mais de dois anos.

§ 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade

responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado

propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada

qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.

§ 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a

integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

Art.227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao

adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à

68

Page 66: Adoção internacional

educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à

liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda

forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 1º - O Estado promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e

do adolescente, admitida a participação de entidades não governamentais e

obedecendo os seguintes preceitos:

I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à saúde na assistência

materno-infantil;

II - criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os

portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social

do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a

convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a

eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos.

§ 2º - A lei disporá sobre normas de construção dos logradouros e dos edifícios de

uso público e de fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de garantir

acesso adequado às pessoas portadoras de deficiência.

§ 3º - O direito a proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:

I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto

no art. 7º, XXXIII;

II - garantia de direitos previdenciários e trabalhistas;

III - garantia de acesso do trabalhador adolescente à escola;

IV - garantia de pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional,

igualdade na relação processual e defesa técnica por profissional habilitado,

segundo dispuser a legislação tutelar específica;

V - obediência aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição

peculiar de pessoa em desenvolvimento, quando da aplicação de qualquer medida

privativa da liberdade;

VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e

subsídios, nos termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou

adolescente órfão ou abandonado;

VII - programas de prevenção e atendimento especializado à criança e ao

adolescente dependente de entorpecentes e drogas afins.

69

Page 67: Adoção internacional

§ 4º - A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança

e do adolescente.

§ 5º - A adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da lei, que estabelecerá

casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros.

§ 6º - Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os

mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias

relativas à filiação.

§ 7º - No atendimento dos direitos da criança e do adolescente levar-se-á em

consideração o disposto no art. 204.

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Page 68: Adoção internacional

ANEXO B:

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Dando ênfase aos artigos pertinente à matéria abordada

LEI 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. – Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá providências.

LIVRO I Parte Geral TÍTULO I Das Disposições Preliminares

Art. 1º Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze anos de

idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este

estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes

à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei,

assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e

facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e

social, em condições de liberdade e de dignidade.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder

Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à

vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,

à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

71

Page 69: Adoção internacional

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a

proteção à infância e à juventude.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na

forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos

fundamentais.

Art. 6º Na interpretação desta lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se

dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e

a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em

desenvolvimento.

TÍTULO II Dos Direitos Fundamentais

CAPÍTULO I Do Direito à Vida e à Saúde

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a

efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o

desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.

Art. 8º É assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento

pré e perinatal.

§ 1º A gestante será encaminhada aos diferentes níveis de atendimento, segundo

critérios médicos específicos, obedecendo-se aos princípios de regionalização e

hierarquização do Sistema.

§ 2º A parturiente será atendida preferencialmente pelo mesmo médico que a

acompanhou na fase pré- natal.

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Page 70: Adoção internacional

§ 3º Incumbe ao Poder Público propiciar apoio alimentar à gestante e à nutriz que

dele necessitem.

Art. 9º O Poder Público, as instituições e os empregadores propiciarão condições

adequadas ao aleitamento materno, inclusive aos filhos de mães submetidas a

medida privativa de liberdade.

Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes,

públicos e particulares, são obrigados a:

I - manter registro das atividades desenvolvidas, através de prontuários individuais,

pelo prazo de dezoito anos;

II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua impressão plantar e digital

e da impressão digital da mãe, sem prejuízo de outras formas normatizadas pela

autoridade administrativa competente;

III - proceder a exames visando ao diagnóstico e terapêutica de normalidades no

metabolismo do recém- nascido, bem como prestar orientação aos pais;

IV - fornecer declaração de nascimento onde constem necessariamente as

intercorrências do parto e do desenvolvimento de neonato;

V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à

mãe.

Art. 11. É assegurado atendimento integral à saúde da criança e do adolescente, por

intermédio do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e igualitário às

ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde.

§ 1º A criança e o adolescente portadores de deficiência receberão atendimento

especializado.

§ 2º Incumbe ao Poder Público fornecer gratuitamente àqueles que necessitarem os

medicamentos, próteses e outros recursos relativos ao tratamento, habilitação ou

reabilitação.

Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar

condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável,

nos casos de internação de criança ou adolescente.

73

Page 71: Adoção internacional

Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança ou

adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva

localidade, sem prejuízo de outras providências legais.

Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de assistência médica e

odontológica para a prevenção das enfermidades que ordinariamente afetam a

população infantil, e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e

alunos.

Parágrafo único. É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados

pelas autoridades sanitárias.

CAPÍTULO II Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade

como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de

direitos civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos:

I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários, ressalvadas as

restrições legais;

II - opinião e expressão;

III - crença e culto religioso;

IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;

V - participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação;

VI - participar da vida política, na forma da lei;

VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física,

psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da

imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos espaços e

objetos pessoais.

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Page 72: Adoção internacional

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-

os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou

constrangedor.

CAPÍTULO III Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária

SEÇÃO I Disposições Gerais

Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da

sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência

familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de

substâncias entorpecentes.

Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os

mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias

relativas à filiação.

Art. 21. O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela

mãe, na forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o

direito de, em caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para

a solução da divergência.

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos

menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes a obrigação de cumprir e fazer

cumprir as determinações judiciais.

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente

para a perda ou a suspensão do pátrio poder.

Parágrafo único. Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da

medida, a criança ou o adolescente será mantido em sua família de origem, a qual

deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais de auxílio.

75

Page 73: Adoção internacional

Art. 24. A perda e a suspensão do pátrio poder serão decretadas judicialmente, em

procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na

hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o

art. 22.

SEÇÃO III Da Família Substituta

SUBSEÇÃO I Disposições Gerais

Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou

adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos

termos desta lei.

§ 1º Sempre que possível, a criança ou adolescente deverá ser previamente ouvido

e a sua opinião devidamente considerada.

§ 2º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação

de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as conseqüências

decorrentes da medida.

Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a pessoa que revele, por

qualquer modo, incompatibilidade com a natureza da medida ou não ofereça

ambiente familiar adequado.

Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá transferência da criança ou

adolescente a terceiros ou a entidades governamentais ou não-governamentais,

sem autorização judicial.

Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira constitui medida excepcional,

somente admissível na modalidade de adoção.

Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável prestará compromisso de

76

Page 74: Adoção internacional

bem e fielmente desempenhar o encargo, mediante termo nos autos.

SUBSEÇÃO IV Da Adoção

Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta

lei.

Parágrafo único. É vedada a adoção por procuração.

Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito anos à data do pedido,

salvo se já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.

Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, com os mesmos direitos e

deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e

parentes, salvo os impedimentos matrimoniais.

§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, mantêm-se os

vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os

respectivos parentes.

§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus descendentes, o

adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 4º grau, observada a

ordem de vocação hereditária.

Art. 42. Podem adotar os maiores de vinte e um anos, independentemente de estado

civil.

§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do adotando.

§ 2º A adoção por ambos os cônjuges ou concubinos poderá ser formalizada, desde

que um deles tenha completado vinte e um anos de idade, comprovada a

estabilidade da família.

§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o

adotando.

§ 4º Os divorciados e os judicialmente separados poderão adotar conjuntamente,

contanto que acordem sobre a guarda e o regime de visitas, e desde que o estágio

de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade conjugal.

77

Page 75: Adoção internacional

§ 5º A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após inequívoca manifestação

de vontade, vier a falecer no curso do procedimento, antes de prolatada a sentença.

Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando

e fundar-se em motivos legítimos.

Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e saldar o seu alcance, não

pode o tutor ou o curador adotar o pupilo ou o curatelado.

Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou do representante legal do

adotando.

§ 1º O consentimento será dispensado em relação à criança ou adolescente cujos

pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do pátrio poder.

§ 2º Em se tratando de adotando maior de doze anos de idade, será também

necessário o seu consentimento.

Art. 46. A adoção será procedida de estágio de convivência com a criança ou

adolescente, pelo prazo que a autoridade judiciária fixar, observadas as

peculiaridades do caso.

§ 1º O estágio de convivência poderá ser dispensado se o adotando não tiver mais

de um ano de idade ou se, qualquer que seja a sua idade, já estiver na companhia

do adotante durante tempo suficiente para se poder avaliar a conveniência da

constituição do vínculo.

§ 2º Em caso de adoção por estrangeiro residente ou domiciliado fora do País, o

estágio de convivência, cumprido no território nacional, será de no mínimo quinze

dias para crianças de até dois anos de idade, e de no mínimo trinta dias quando se

tratar de adotando acima de dois anos de idade.

Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no

registro civil mediante mandado do qual não se fornecerá certidão.

§ 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como pais, bem como o nome de

seus ascendentes.

§ 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o registro original do

78

Page 76: Adoção internacional

adotado.

§ 3º Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas certidões do

registro.

§ 4º A critério da autoridade judiciária, poderá ser fornecida certidão para a

salvaguarda de direitos.

§ 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido deste, poderá

determinar a modificação do prenome.

§ 6º A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em julgado da sentença,

exceto na hipótese prevista no art. 42, § 5º, caso em que terá força retroativa à data

do óbito.

Art. 48. A adoção é irrevogável.

Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o pátrio poder dos pais naturais.

Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um

registro de crianças e adolescentes em condições de serem adotados e outro de

pessoas interessadas na adoção.

§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia consulta aos órgãos técnicos

do Juizado, ouvido o Ministério Público.

§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não satisfizer os requisitos

legais, ou verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 29.

Art. 51. Cuidando-se de pedido de adoção formulado por estrangeiro residente ou

domiciliado fora do País, observar-se-á o disposto no art. 31.

§ 1º O candidato deverá comprovar, mediante documento expedido pela autoridade

competente do respectivo domicílio, estar devidamente habilitado à adoção,

consoante as leis do seu país, bem como apresentar estudo psicossocial elaborado

por agência especializada e credenciada no país de origem.

§ 2º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,

poderá determinar a apresentação do texto pertinente à legislação estrangeira,

acompanhado de prova da respectiva vigência.

§ 3º Os documentos em língua estrangeira serão juntados aos autos, devidamente

79

Page 77: Adoção internacional

autenticados pela autoridade consular, observados os tratados e convenções

internacionais, e acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público

juramentado.

§ 4º Antes de consumada a adoção não será permitida a saída do adotando do

território nacional.

Art. 52. A adoção internacional poderá ser condicionada a estudo prévio e análise de

uma comissão estadual judiciária de adoção, que fornecerá o respectivo laudo de

habilitação para instruir o processo competente.

Parágrafo único. Competirá à comissão manter registro centralizado de interessados

estrangeiros em adoção.

CAPÍTULO IV Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - direito de ser respeitado por seus educadores;

III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares

superiores;

IV - direito de organização e participação em entidades estudantis;

V - acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo

pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.

Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente:

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram

acesso na idade própria;

II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

80

Page 78: Adoção internacional

preferencialmente na rede regular de ensino;

IV - atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade;

V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,

segundo a capacidade de cada um;

VI- oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do adolescente

trabalhador;

VII - atendimento no ensino fundamental, através de programas suplementares de

material didático- escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.

§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.

§ 2º O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público ou sua oferta

irregular importa responsabilidade da autoridade competente.

§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental,

fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à

escola.

Art. 55. Os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos

na rede regular de ensino.

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão ao

Conselho Tutelar os casos de:

I - maus-tratos envolvendo seus alunos;

II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos

escolares;

III - elevados níveis de repetência.

Art. 57. O Poder Público estimulará pesquisas, experiências e novas propostas

relativas a calendário, seriação, currículo, metodologia, didática e avaliação, com

vistas à inserção de crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental

obrigatório.

Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores culturais, artísticos e

históricos próprios do contexto social da criança e do adolescente, garantindo-se a

81

Page 79: Adoção internacional

estes a liberdade de criação e o acesso às fontes de cultura.

Art. 59. Os Municípios, com apoio dos Estados e da União, estimularão e facilitarão

a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de

lazer voltadas para a infância e a juventude.

CAPÍTULO V Do Direito à Profissionalização e à Proteção no Trabalho

Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos de idade, salvo na

condição de aprendiz.

Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada por legislação especial,

sem prejuízo do disposto nesta lei.

Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico-profissional ministrada

segundo as diretrizes e bases da legislação de educação em vigor.

Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos seguintes princípios:

I - garantia de acesso e freqüência obrigatória ao ensino regular;

II - atividade compatível com o desenvolvimento do adolescente;

III - horário especial para o exercício das atividades.

Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é assegurada bolsa de

aprendizagem.

Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, são assegurados os

direitos trabalhistas e previdenciários.

Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é assegurado trabalho protegido.

Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno

de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não-governamental, é

82

Page 80: Adoção internacional

vedado trabalho:

I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia e as cinco horas do dia

seguinte;

II - perigoso, insalubre ou penoso;

III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao seu desenvolvimento físico,

psíquico, moral e social;

IV - realizado em horários e locais que não permitam a freqüência à escola.

Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho educativo, sob

responsabilidade de entidade governamental ou não-governamental sem fins

lucrativos, deverá assegurar ao adolescente que dele participe condições de

capacitação para o exercício de atividade regular remunerada.

§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral em que as exigências

pedagógicas relativas ao desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem

sobre o aspecto produtivo.

§ 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo trabalho efetuado ou a

participação na venda dos produtos de seu trabalho não desfigura o caráter

educativo.

Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no trabalho,

observados os seguintes aspectos, entre outros:

I - respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;

II - capacitação profissional adequada ao mercado de trabalho.

SEÇÃO II Da Perda e da Suspensão do Pátrio Poder

Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão do pátrio poder terá início

por provocação do Ministério Público ou de quem tenha legítimo interesse.

Art. 156. A petição indicará:

I - a autoridade judiciária a que for dirigida;

II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do requerente e do requerido,

83

Page 81: Adoção internacional

dispensada a qualificação em se tratando de pedido formulado por representante do

Ministério Público;

III - a exposição sumária do fato e o pedido;

IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde logo, o rol de testemunhas

e documentos.

Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade judiciária, ouvido o Ministério

Público, decretar a suspensão do pátrio poder, liminar ou incidentalmente, até o

julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou adolescente confiado a pessoa

idônea, mediante termo de responsabilidade.

Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez dias, oferecer resposta

escrita, indicando as provas a serem produzidas e oferecendo, desde logo, o rol de

testemunhas e documentos.

Parágrafo único. Deverão ser esgotados todos os meios para a citação pessoal.

Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de constituir advogado, sem prejuízo

do próprio sustento e de sua família, poderá requerer, em cartório que lhe seja

nomeado dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, contando-se o

prazo a partir da intimação do despacho de nomeação.

Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária requisitará de qualquer repartição

ou órgão público a apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou

a requerimento das partes do Ministério Público.

Art. 161. Não sendo contestado o pedido, a autoridade judiciária dará vista dos autos

ao Ministério Público, por cinco dias, salvo quando este for o requerente, decidindo

em igual prazo.

§ 1° Havendo necessidade, a autoridade judiciária poderá determinar a realização

de estudo social ou perícia por equipe interprofissional, bem como a oitiva de

testemunhas.

§ 2° Se o pedido importar em modificação de guarda, será obrigatória, desde que

84

Page 82: Adoção internacional

possível e razoável, a oitiva da criança ou adolescente.

Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária dará vista dos autos ao

Ministério Público, por cinco dias, salvo quando este for o requerente, designando,

desde logo, audiência de instrução e julgamento.

§ 1° A requerimento de qualquer das partes, do Ministério Público, ou de ofício, a

autoridade judiciária poderá determinar a realização de estudo social ou, se

possível, de perícia por equipe interprofissional.

§ 2° Na audiência, presentes as partes e o Ministério Público, serão ouvidas as

testemunhas, colhendo-se oralmente, o parecer técnico, salvo quando apresentado

por escrito, manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e o

Ministério Público, pelo tempo de vinte minutos cada um, prorrogável por mais dez.

A decisão será proferida na audiência, podendo a autoridade judiciária,

excepcionalmente, designar data para sua leitura no prazo máximo de cinco dias.

Art. 163. A sentença que decretar a perda ou a suspensão do pátrio poder será

averbada à margem do registro de nascimento da criança ou adolescente.

SEÇÃO III Da Destituição da Tutela

Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o procedimento para a remoção de

tutor previsto na lei processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.

SEÇÃO IV Da Colocação em Família Substituta

Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de colocação em família

substituta:

I - qualificação completa do requerente e de seu eventual cônjuge, ou companheiro,

com expressa anuência deste;

II - indicação de eventual parentesco do requerente e de seu cônjuge, ou

companheiro, com a criança ou adolescente, especificando se tem ou não parente

85

Page 83: Adoção internacional

vivo;

III - qualificação completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos;

IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível, uma

cópia da respectiva certidão;

V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à

criança ou ao adolescente.

Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão também os requisitos

específicos.

Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido destituídos ou suspensos do pátrio

poder, ou houverem aderido expressamente ao pedido de colocação em família

substituta, este poderá ser formulado diretamente em cartório, em petição assinada

pelos próprios requerentes.

Parágrafo único. Na hipótese de concordância dos pais, eles serão ouvidos pela

autoridade judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por

termo as declarações.

Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes ou do

Ministério Público, determinará a realização de estudo social ou, se possível, perícia

por equipe interprofissional, decidindo sobre a concessão de guarda provisória, bem

como, no caso de adoção, sobre o estágio de convivência.

Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, e ouvida, sempre que

possível, a criança ou o adolescente, dar-se-á vista dos autos ao Ministério Público,

pelo prazo de cinco dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.

Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a perda ou a suspensão do

pátrio poder constituir pressuposto lógico da medida principal de colocação em

família substituta, será observado o procedimento contraditório previsto nas Seções

II e III deste Capítulo.

Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda poderá ser decretada nos

mesmos autos do procedimento, observado o disposto no art. 35.

86

Page 84: Adoção internacional

Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o disposto no art. 32, e,

quanto à adoção, o contido no art. 47.

TÍTULO VII Dos Crimes e das Infrações Administrativas

CAPÍTULO I Dos Crimes

SEÇÃO I Disposições Gerais

Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o

adolescente, por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.

Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta lei as normas da Parte Geral do

Código Penal e, quanto ao processo, as pertinentes ao Código de Processo Penal.

Art. 227. Os crimes definidos nesta lei são de ação pública incondicionada.

SEÇÃO II Dos Crimes em Espécie

Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de

atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na

forma e prazo referidos no art. 10 desta lei, bem como de fornecer à parturiente ou a

seu responsável, por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde

constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo:

Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à

87

Page 85: Adoção internacional

saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião

do parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta lei:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Se o crime é culposo:

Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.

Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua

apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da

autoridade judiciária competente:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem

observância das formalidades legais.

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou

adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à

família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância

a vexame ou a constrangimento:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância

a tortura:

Pena - reclusão de um a cinco anos.

§ 1º Se resultar lesão corporal grave:

Pena - reclusão de dois a oito anos.

§ 2º Se resultar lesão corporal gravíssima:

Pena - reclusão de quatro a doze anos.

§ 3º Se resultar morte:

Pena - reclusão de quinze a trinta anos.

Revogado pela Lei 9.455,DE 07 DE ABRIL DE 1997.

88

Page 86: Adoção internacional

Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata

liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da

apreensão:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta lei em benefício de

adolescente privado de liberdade:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do

Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de função

prevista nesta lei:

Pena - detenção de seis meses a dois anos.

Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o tem sob sua guarda

em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto:

Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa.

Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a terceiro, mediante paga

ou recompensa:

Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.

Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferecer ou efetiva a paga ou

recompensa.

Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao envio de criança ou

adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito

de obter lucro:

Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.

Art. 240. Produzir ou dirigir representação teatral, televisiva ou película

cinematográfica, utilizando-se de criança ou adolescente em cena de sexo explícito

ou pornográfica:

Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.

89

Page 87: Adoção internacional

Parágrafo único. Inocorre na mesma pena quem, nas condições referidas neste

artigo, contracena com criança ou adolescente.

Art. 241. Fotografar ou publicar cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo

criança ou adolescente:

Pena - reclusão de um a quatro anos.

Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a

criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:

Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de

qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos

componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por

utilização indevida:

Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa, se o fato não constitui crime

mais grave.

Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a

criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo

seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso

de utilização indevida:

Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.

90

Page 88: Adoção internacional

ANEXO C:

CONVENÇÃO DE HAIA RATIFICAÇÃO PELO GOVERNO BRASILEIRO

DECRETO Nº 3.087, DE 21 DE JUNHO DE 1999

Promulga a Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional, concluída na Haia, em 29 de maio de 1993

O PRESIDENTE DA REPUBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,

inciso VIII, da Constituição,

CONSIDERANDO que Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à

Cooperação em Matéria de Adoção Internacional foi concluída na Haia, em 29 de

maio de 1993;

CONSIDERANDO que o Congresso Nacional aprovou o Ato multilateral em epígrafe

por meio do Decreto Legislativo no 1, de 14 de janeiro de 1999;

CONSIDERANDO que a Convenção em tela entrou em vigor internacional de 1o de

maio de 1995;

CONSIDERANDO que o Governo brasileiro depositou o Instrumento de Ratificação

da referida Convenção em 10 de março de 1999, passará a mesma a vigorar para o

Brasil em 1o julho de 1999, nos termos do parágrafo 2 de seu Artigo 46;

DECRETA : Art. 1º A Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria

de Adoção Internacional, concluída na Haia, em 29 de maio de 1993, apensa por

cópia a este Decreto, deverá ser executada e cumprida tão inteiramente como nela

se contém.

Art. 2º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 21 de junho de 1999; 178o da Independência e 111o da República

91

Page 89: Adoção internacional

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

Luiz Felipe Lampreia

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 22.6.1999

Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção Internacional

Os Estados signatários da presente Convenção,

Reconhecendo que, para o desenvolvimento harmonioso de sua personalidade, a

criança deve crescer em meio familiar, em clima de felicidade, de amor e de

compreensão;

Recordando que cada país deveria tomar, com caráter prioritário, medidas

adequadas para permitir a manutenção da criança em sua família de origem;

Reconhecendo que a adoção internacional pode apresentar a vantagem de dar uma

família permanente à criança para quem não se possa encontrar uma família

adequada em seu país de origem;

Convencidos da necessidade de prever medidas para garantir que as adoções

internacionais sejam feitas no interesse superior da criança e com respeito a seus

direitos fundamentais, assim como para prevenir o seqüestro, a venda ou o tráfico de

crianças; e

Desejando estabelecer para esse fim disposições comuns que levem em

consideração os princípios reconhecidos por instrumentos internacionais, em

particular a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança, de 20 de

novembro de 1989, e pela Declaração das Nações Unidas sobre os Princípios

Sociais e Jurídicos Aplicáveis à Proteção e ao Bem-estar das Crianças, com

Especial Referência às Práticas em Matéria de Adoção e de Colocação Familiar nos

Planos Nacional e Internacional (Resolução da Assembléia Geral 41/85, de 3 de

dezembro de 1986),

Acordam nas seguintes disposições:

92

Page 90: Adoção internacional

Capítulo I Âmbito de Aplicação da Convenção

Artigo 1

A presente Convenção tem por objetivo:

a) estabelecer garantias para que as adoções internacionais sejam feitas segundo o

interesse superior da criança e com respeito aos direitos fundamentais que lhe

reconhece o direito internacional;

b) instaurar um sistema de cooperação entre os Estados Contratantes que assegure

o respeito às mencionadas garantias e, em conseqüência, previna o seqüestro, a

venda ou o tráfico de crianças;

c) assegurar o reconhecimento nos Estados Contratantes das adoções realizadas

segundo a Convenção.

Artigo 2

1. A Convenção será aplicada quando uma criança com residência habitual em um

Estado Contratante ("o Estado de origem") tiver sido, for, ou deva ser deslocada

para outro Estado Contratante ("o Estado de acolhida"), quer após sua adoção no

Estado de origem por cônjuges ou por uma pessoa residente habitualmente no

Estado de acolhida, quer para que essa adoção seja realizada, no Estado de

acolhida ou no Estado de origem.

2. A Convenção somente abrange as Adoções que estabeleçam um vínculo de

filiação.

Artigo 3

A Convenção deixará de ser aplicável se as aprovações previstas no artigo 17,

alínea "c", não forem concedidas antes que a criança atinja a idade de 18 (dezoito)

anos.

Capítulo II

Requisitos Para As Adoções Internacionais

93

Page 91: Adoção internacional

Artigo 4

As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão ocorrer quando as

autoridades competentes do Estado de origem:

a) tiverem determinado que a criança é adotável;

b) tiverem verificado, depois de haver examinado adequadamente as possibilidades

de colocação da criança em seu Estado de origem, que uma adoção internacional

atende ao interesse superior da criança;

c) tiverem-se assegurado de:

1) que as pessoas, instituições e autoridades cujo consentimento se requeira para a

adoção hajam sido convenientemente orientadas e devidamente informadas das

conseqüências de seu consentimento, em particular em relação à manutenção ou à

ruptura, em virtude da adoção, dos vínculos jurídicos entre a criança e sua família de

origem;

2) que estas pessoas, instituições e autoridades tenham manifestado seu

consentimento livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento se

tenha manifestado ou constatado por escrito;

3) que os consentimentos não tenham sido obtidos mediante pagamento ou

compensação de qualquer espécie nem tenham sido revogados, e

4) que o consentimento da mãe, quando exigido, tenha sido manifestado após o

nascimento da criança; e

d) tiverem-se assegurado, observada a idade e o grau de maturidade da criança, de:

1) que tenha sido a mesma convenientemente orientada e devidamente informada

sobre as conseqüências de seu consentimento à adoção, quando este for exigido;

2) que tenham sido levadas em consideração a vontade e as opiniões da criança;

3) que o consentimento da criança à adoção, quando exigido, tenha sido dado

livremente, na forma legal prevista, e que este consentimento tenha sido

manifestado ou constatado por escrito;

4) que o consentimento não tenha sido induzido mediante pagamento ou

compensação de qualquer espécie.

Artigo 5

As adoções abrangidas por esta Convenção só poderão ocorrer quando as

autoridades competentes do Estado de acolhida:

94

Page 92: Adoção internacional

a) tiverem verificado que os futuros pais adotivos encontram-se habilitados e aptos

para adotar;

b) tiverem-se assegurado de que os futuros pais adotivos foram convenientemente

orientados;

c) tiverem verificado que a criança foi ou será autorizada a entrar e a residir

permanentemente no Estado de acolhida.

Capítulo III

Autoridades Centrais e Organismos Credenciados

Artigo 6

1. Cada Estado Contratante designará uma Autoridade Central encarregada de dar

cumprimento às obrigações impostas pela presente Convenção.

2. Um Estado federal, um Estado no qual vigoram diversos sistemas jurídicos ou um

Estado com unidades territoriais autônomas poderá designar mais de uma

Autoridade Central e especificar o âmbito territorial ou pessoal de suas funções. O

Estado que fizer uso dessa faculdade designará a Autoridade Central à qual poderá

ser dirigida toda a comunicação para sua transmissão à Autoridade Central

competente dentro desse Estado.

Artigo 7

1. As Autoridades Centrais deverão cooperar entre si e promover a colaboração

entre as autoridades competentes de seus respectivos Estados a fim de assegurar a

proteção das crianças e alcançar os demais objetivos da Convenção.

2. As Autoridades Centrais tomarão, diretamente, todas as medidas adequadas

para:

a) fornecer informações sobre a legislação de seus Estados em matéria de adoção e

outras informações gerais, tais como estatísticas e formulários padronizados;

b) informar-se mutuamente sobre o funcionamento da Convenção e, na medida do

possível, remover os obstáculos para sua aplicação.

Artigo 8

95

Page 93: Adoção internacional

As Autoridades Centrais tomarão, diretamente ou com a cooperação de autoridades

públicas, todas as medidas apropriadas para prevenir benefícios materiais induzidos

por ocasião de uma adoção e para impedir qualquer prática contrária aos objetivos

da Convenção.

Artigo 9

As Autoridades Centrais tomarão todas as medidas apropriadas, seja diretamente ou

com a cooperação de autoridades públicas ou outros organismos devidamente

credenciados em seu Estado, em especial para:

a) reunir, conservar e permutar informações relativas à situação da criança e dos

futuros pais adotivos, na medida necessária à realização da adoção;

b) facilitar, acompanhar e acelerar o procedimento de adoção;

c) promover o desenvolvimento de serviços de orientação em matéria de adoção e

de acompanhamento das adoções em seus respectivos Estados;

d) permutar relatórios gerais de avaliação sobre as experiências em matéria de

adoção internacional;

e) responder, nos limites da lei do seu Estado, às solicitações justificadas de

informações a respeito de uma situação particular de adoção formuladas por outras

Autoridades Centrais ou por autoridades públicas.

Artigo 10

Somente poderão obter e conservar o credenciamento os organismos que

demonstrarem sua aptidão para cumprir corretamente as tarefas que lhe possam ser

confiadas.

Artigo 11

Um organismo credenciado deverá:

a) perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições e dentro dos limites

fixados pelas autoridades competentes do Estado que o tiver credenciado;

b) ser dirigido e administrado por pessoas qualificadas por sua integridade moral e

por sua formação ou experiência para atuar na área de adoção internacional;

c) estar submetido à supervisão das autoridades competentes do referido Estado, no

que tange à sua composição, funcionamento e situação financeira.

96

Page 94: Adoção internacional

Artigo 12

Um organismo credenciado em um Estado Contratante somente poderá atuar em

outro Estado Contratante se tiver sido autorizado pelas autoridades competentes de

ambos os Estados.

Artigo 13

A designação das Autoridades Centrais e, quando for o caso, o âmbito de suas

funções, assim como os nomes e endereços dos organismos credenciados devem

ser comunicados por cada Estado Contratante ao Bureau Permanente da

Conferência da Haia de Direito Internacional Privado.

Capítulo IV

Requisitos Processuais para a Adoção Internacional

Artigo 14

As pessoas com residência habitual em um Estado Contratante, que desejem adotar

uma criança cuja residência habitual seja em outro Estado Contratante, deverão

dirigir-se à Autoridade Central do Estado de sua residência habitual.

Artigo 15

1. Se a Autoridade Central do Estado de acolhida considerar que os solicitantes

estão habilitados e aptos para adotar, a mesma preparará um relatório que contenha

informações sobre a identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes

para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio social, os motivos

que os animam, sua aptidão para assumir uma adoção internacional, assim como

sobre as crianças de que eles estariam em condições de tomar a seu cargo.

2. A Autoridade Central do Estado de acolhida transmitirá o relatório à Autoridade

Central do Estado de origem.

Artigo 16

1. Se a Autoridade Central do Estado de origem considerar que a criança é adotável,

deverá:

97

Page 95: Adoção internacional

a) preparar um relatório que contenha informações sobre a identidade da criança,

sua adotabilidade, seu meio social, sua evolução pessoal e familiar, seu histórico

médico pessoal e familiar, assim como quaisquer necessidades particulares da

criança;

b) levar em conta as condições de educação da criança, assim como sua origem

étnica, religiosa e cultural;

c) assegurar-se de que os consentimentos tenham sido obtidos de acordo com o

artigo 4; e

d) verificar, baseando-se especialmente nos relatórios relativos à criança e aos

futuros pais adotivos, se a colocação prevista atende ao interesse superior da

criança.

2. A Autoridade Central do Estado de origem transmitirá à Autoridade Central do

Estado de acolhida seu relatório sobre a criança, a prova dos consentimentos

requeridos e as razões que justificam a colocação, cuidando para não revelar a

identidade da mãe e do pai, caso a divulgação dessas informações não seja

permitida no Estado de origem.

Artigo 17

Toda decisão de confiar uma criança aos futuros pais adotivos somente poderá ser

tomada no Estado de origem se:

a) a Autoridade Central do Estado de origem tiver-se assegurado de que os futuros

pais adotivos manifestaram sua concordância;

b) a Autoridade Central do Estado de acolhida tiver aprovado tal decisão, quando

esta aprovação for requerida pela lei do Estado de acolhida ou pela Autoridade

Central do Estado de origem;

c) as Autoridades Centrais de ambos os Estados estiverem de acordo em que se

prossiga com a adoção; e

d) tiver sido verificado, de conformidade com o artigo 5, que os futuros pais adotivos

estão habilitados e aptos a adotar e que a criança está ou será autorizada a entrar e

residir permanentemente no Estado de acolhida.

98

Page 96: Adoção internacional

Artigo 18

As Autoridades Centrais de ambos os Estados tomarão todas as medidas

necessárias para que a criança receba a autorização de saída do Estado de origem,

assim como aquela de entrada e de residência permanente no Estado de acolhida.

Artigo 19

1. O deslocamento da criança para o Estado de acolhida só poderá ocorrer quando

tiverem sido satisfeitos os requisitos do artigo 17.

2. As Autoridades Centrais dos dois Estados deverão providenciar para que o

deslocamento se realize com toda a segurança, em condições adequadas e, quando

possível, em companhia dos pais adotivos ou futuros pais adotivos.

3. Se o deslocamento da criança não se efetivar, os relatórios a que se referem os

artigos 15 e 16 serão restituídos às autoridades que os tiverem expedido.

Artigo 20

As Autoridades Centrais manter-se-ão informadas sobre o procedimento de adoção,

sobre as medidas adotadas para levá-la a efeito, assim como sobre o

desenvolvimento do período probatório, se este for requerido.

Artigo 21

1. Quando a adoção deva ocorrer, após o deslocamento da criança, para o Estado

de acolhida e a Autoridade Central desse Estado considerar que a manutenção da

criança na família de acolhida já não responde ao seu interesse superior, essa

Autoridade Central tomará as medidas necessárias à proteção da criança,

especialmente de modo a:

a) retirá-la das pessoas que pretendem adotá-la e assegurar provisoriamente seu

cuidado;

b) em consulta com a Autoridade Central do Estado de origem, assegurar, sem

demora, uma nova colocação da criança com vistas à sua adoção ou, em sua falta,

uma colocação alternativa de caráter duradouro. Somente poderá ocorrer uma

adoção se a Autoridade Central do Estado de origem tiver sido devidamente

informada sobre os novos pais adotivos;

99

Page 97: Adoção internacional

c) como último recurso, assegurar o retorno da criança ao Estado de origem, se

assim o exigir o interesse da mesma.

2. Tendo em vista especialmente a idade e o grau de maturidade da criança, esta

deverá ser consultada e, neste caso, deve-se obter seu consentimento em relação

às medidas a serem tomadas, em conformidade com o presente Artigo.

Artigo 22

1. As funções conferidas à Autoridade Central pelo presente capítulo poderão ser

exercidas por autoridades públicas ou por organismos credenciados de

conformidade com o capítulo III, e sempre na forma prevista pela lei de seu Estado.

2. Um Estado Contratante poderá declarar ante o depositário da Convenção que as

Funções conferidas à Autoridade Central pelos artigos 15 a 21 poderão também ser

exercidas nesse Estado, dentro dos limites permitidos pela lei e sob o controle das

autoridades competentes desse Estado, por organismos e pessoas que:

a) satisfizerem as condições de integridade moral, de competência profissional,

experiência e responsabilidade exigidas pelo mencionado Estado;

b) forem qualificados por seus padrões éticos e sua formação e experiência para

atuar na área de adoção internacional.

3. O Estado Contratante que efetuar a declaração prevista no parágrafo 2 informará

com regularidade ao Bureau Permanente da Conferência da Haia de Direito

Internacional Privado os nomes e endereços desses organismos e pessoas.

4. Um Estado Contratante poderá declarar ante o depositário da Convenção que as

adoções de crianças cuja residência habitual estiver situada em seu território

somente poderão ocorrer se as funções conferidas às Autoridades Centrais forem

exercidas de acordo com o parágrafo 1.

5. Não obstante qualquer declaração efetuada de conformidade com o parágrafo 2,

os relatórios previstos nos artigos 15 e 16 serão, em todos os casos, elaborados sob

a responsabilidade da Autoridade Central ou de outras autoridades ou organismos,

de conformidade com o parágrafo 1.

Capítulo V

Reconhecimento e Efeitos da Adoção

100

Page 98: Adoção internacional

Artigo 23

1. Uma adoção certificada em conformidade com a Convenção, pela autoridade

competente do Estado onde ocorreu, será reconhecida de pleno direito pelos demais

Estados Contratantes. O certificado deverá especificar quando e quem outorgou os

assentimentos previstos no artigo 17, alínea "c".

2. Cada Estado Contratante, no momento da assinatura, ratificação, aceitação,

aprovação ou adesão, notificará ao depositário da Convenção a identidade e as

Funções da autoridade ou das autoridades que, nesse Estado, são competentes

para expedir esse certificado, bem como lhe notificará, igualmente, qualquer

modificação na designação dessas autoridades.

Artigo 24

O reconhecimento de uma adoção só poderá ser recusado em um Estado

Contratante se a adoção for manifestamente contrária à sua ordem pública, levando

em consideração o interesse superior da criança.

Artigo 25

Qualquer Estado Contratante poderá declarar ao depositário da Convenção que não

se considera obrigado, em virtude desta, a reconhecer as adoções feitas de

conformidade com um acordo concluído com base no artigo 39, parágrafo 2.

Artigo 26

1. O reconhecimento da adoção implicará o reconhecimento:

a) do vínculo de filiação entre a criança e seus pais adotivos;

b) da responsabilidade paterna dos pais adotivos a respeito da criança;

c) da ruptura do vínculo de filiação preexistente entre a criança e sua mãe e seu pai,

se a adoção produzir este efeito no Estado Contratante em que ocorreu.

2. Se a adoção tiver por efeito a ruptura do vínculo preexistente de filiação, a criança

gozará, no Estado de acolhida e em qualquer outro Estado Contratante no qual se

reconheça a adoção, de direitos equivalentes aos que resultem de uma adoção que

produza tal efeito em cada um desses Estados.

3. Os parágrafos precedentes não impedirão a aplicação de quaisquer disposições

mais favoráveis à criança, em vigor no Estado Contratante que reconheça a adoção.

101

Page 99: Adoção internacional

Artigo 27

1. Se uma adoção realizada no Estado de origem não tiver como efeito a ruptura do

vínculo preexistente de filiação, o Estado de acolhida que reconhecer a adoção de

conformidade com a Convenção poderá convertê-la em uma adoção que produza tal

efeito, se:

a) a lei do Estado de acolhida o permitir; e

b) os consentimentos previstos no Artigo 4, alíneas "c" e "d", tiverem sido ou forem

outorgados para tal adoção.

2. O artigo 23 aplica-se à decisão sobre a conversão.

Capítulo VI Disposições Gerais

Artigo 28

A Convenção não afetará nenhuma lei do Estado de origem que requeira que a

adoção de uma criança residente habitualmente nesse Estado ocorra nesse Estado,

ou que proíba a colocação da criança no Estado de acolhida ou seu deslocamento

ao Estado de acolhida antes da adoção.

Artigo 29

Não deverá haver nenhum contato entre os futuros pais adotivos e os pais da

criança ou qualquer outra pessoa que detenha a sua guarda até que se tenham

cumprido as disposições do artigo 4, alíneas "a" a "c" e do artigo 5, alínea "a", salvo

os casos em que a adoção for efetuada entre membros de uma mesma família ou

em que as condições fixadas pela autoridade competente do Estado de origem

forem cumpridas.

Artigo 30

1. As autoridades competentes de um Estado Contratante tomarão providências

para a conservação das informações de que dispuserem relativamente à origem da

criança e, em particular, a respeito da identidade de seus pais, assim como sobre o

histórico médico da criança e de sua família.

102

Page 100: Adoção internacional

2. Essas autoridades assegurarão o acesso, com a devida orientação da criança ou

de seu representante legal, a estas informações, na medida em que o permita a lei

do referido Estado.

Artigo 31

Sem prejuízo do estabelecido no artigo 30, os dados pessoais que forem obtidos ou

transmitidos de conformidade com a Convenção, em particular aqueles a que se

referem os artigos 15 e 16, não poderão ser utilizados para fins distintos daqueles

para os quais foram colhidos ou transmitidos.

Artigo 32

1. Ninguém poderá obter vantagens materiais indevidas em razão de intervenção em

uma adoção internacional.

2. Só poderão ser cobrados e pagos os custos e as despesas, inclusive os

honorários profissionais razoáveis de pessoas que tenham intervindo na adoção.

3. Os dirigentes, administradores e empregados dos organismos intervenientes em

uma adoção não poderão receber remuneração desproporcional em relação aos

serviços prestados.

Artigo 33

Qualquer autoridade competente, ao verificar que uma disposição da Convenção foi

desrespeitada ou que existe risco manifesto de que venha a sê-lo, informará

imediatamente a Autoridade Central de seu Estado, a qual terá a responsabilidade

de assegurar que sejam tomadas as medidas adequadas.

Artigo 34

Se a autoridade competente do Estado destinatário de um documento requerer que

se faça deste uma tradução certificada, esta deverá ser fornecida. Salvo dispensa,

os custos de tal tradução estarão a cargo dos futuros pais adotivos.

Artigo 35

As autoridades competentes dos Estados Contratantes atuarão com celeridade nos

procedimentos de adoção.

103

Page 101: Adoção internacional

Artigo 36

Em relação a um Estado que possua, em matéria de adoção, dois ou mais sistemas

jurídicos aplicáveis em diferentes unidades territoriais:

a) qualquer referência à residência habitual nesse Estado será entendida como

relativa à residência habitual em uma unidade territorial do dito Estado;

b) qualquer referência à lei desse Estado será entendida como relativa à lei vigente

na correspondente unidade territorial;

c) qualquer referência às autoridades competentes ou às autoridades públicas desse

Estado será entendida como relativa às autoridades autorizadas para atuar na

correspondente unidade territorial;

d) qualquer referência aos organismos credenciados do dito Estado será entendida

como relativa aos organismos credenciados na correspondente unidade territorial.

Artigo 37

No tocante a um Estado que possua, em matéria de adoção, dois ou mais sistemas

jurídicos aplicáveis a categorias diferentes de pessoas, qualquer referência à lei

desse Estado será entendida como ao sistema jurídico indicado pela lei do dito

Estado.

Artigo 38

Um Estado em que distintas unidades territoriais possuam suas próprias regras de

direito em matéria de adoção não estará obrigado a aplicar a Convenção nos casos

em que um Estado de sistema jurídico único não estiver obrigado a fazê-lo.

Artigo 39

1. A Convenção não afeta os instrumentos internacionais em que os Estados

Contratantes sejam Partes e que contenham disposições sobre as matérias

reguladas pela presente Convenção, salvo declaração em contrário dos Estados

vinculados pelos referidos instrumentos internacionais.

2. Qualquer Estado Contratante poderá concluir com um ou mais Estados

Contratantes acordos para favorecer a aplicação da Convenção em suas relações

recíprocas. Esses acordos somente poderão derrogar as disposições contidas nos

104

Page 102: Adoção internacional

artigos 14 a 16 e 18 a 21. Os Estados que concluírem tais acordos transmitirão uma

cópia dos mesmos ao depositário da presente Convenção.

Artigo 40

Nenhuma reserva à Convenção será admitida.

Artigo 41

A Convenção será aplicada às Solicitações formuladas em conformidade com o

artigo 14 e recebidas depois da entrada em vigor da Convenção no Estado de

acolhida e no Estado de origem.

Artigo 42

O Secretário-Geral da Conferência da Haia de Direito Internacional Privado

convocará periodicamente uma Comissão Especial para examinar o funcionamento

prático da Convenção.

Capítulo VII Cláusulas Finais

Artigo 43

1. A Convenção estará aberta à assinatura dos Estados que eram membros da

Conferência da Haia de Direito Internacional Privado quando da Décima-Sétima

Sessão, e aos demais Estados participantes da referida Sessão.

2. Ela será ratificada, aceita ou aprovada e os instrumentos de ratificação, aceitação

ou aprovação serão depositados no Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino

dos Países Baixos, depositário da Convenção.

Artigo 44

1. Qualquer outro Estado poderá aderir à Convenção depois de sua entrada em

vigor, conforme o disposto no artigo 46, parágrafo 1.

2. O instrumento de adesão deverá ser depositado junto ao depositário da

Convenção.

105

Page 103: Adoção internacional

3. A adesão somente surtirá efeitos nas relações entre o Estado aderente e os

Estados Contratantes que não tiverem formulado objeção à sua adesão nos seis

meses seguintes ao recebimento da notificação a que se refere o artigo 48, alínea

"b". Tal objeção poderá igualmente ser formulada por qualquer Estado no momento

da ratificação, aceitação ou aprovação da Convenção, posterior à adesão. As

referidas objeções deverão ser notificadas ao depositário.

Artigo 45

1. Quando um Estado compreender duas ou mais unidades territoriais nas quais se

apliquem sistemas jurídicos diferentes em relação às questões reguladas pela

presente Convenção, poderá declarar, no momento da assinatura, da ratificação, da

aceitação, da aprovação ou da adesão, que a presente Convenção será aplicada a

todas as suas unidades territoriais ou somente a uma ou várias delas. Essa

declaração poderá ser modificada por meio de nova declaração a qualquer tempo.

2. Tais declarações serão notificadas ao depositário, indicando-se expressamente as

unidades territoriais às quais a Convenção será aplicável.

3. Caso um Estado não formule nenhuma declaração na forma do presente artigo, a

Convenção será aplicada à totalidade do território do referido Estado.

Artigo 46

1. A Convenção entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte à expiração de um

período de três meses contados da data do depósito do terceiro instrumento de

ratificação, de aceitação ou de aprovação previsto no artigo 43.

2. Posteriormente, a Convenção entrará em vigor:

a) para cada Estado que a ratificar, aceitar ou aprovar posteriormente, ou apresentar

adesão à mesma, no primeiro dia do mês seguinte à expiração de um período de

três meses depois do depósito de seu instrumento de ratificação, aceitação,

aprovação ou adesão;

b) para as unidades territoriais às quais se tenha estendido a aplicação da

Convenção conforme o disposto no artigo 45, no primeiro dia do mês seguinte à

expiração de um período de três meses depois da notificação prevista no referido

artigo.

106

Page 104: Adoção internacional

Artigo 47

1. Qualquer Estado-Parte na presente Convenção poderá denunciá-la mediante

notificação por escrito, dirigida ao depositário.

2. A denúncia surtirá efeito no primeiro dia do mês subseqüente à expiração de um

período de doze meses da data de recebimento da notificação pelo depositário.

Caso a notificação fixe um período maior para que a denúncia surta efeito, esta

surtirá efeito ao término do referido período a contar da data do recebimento da

notificação.

Artigo 48

O depositário notificará aos Estados-Membros da Conferência da Haia de Direito

Internacional Privado, assim como aos demais Estados participantes da Décima-

Sétima Sessão e aos Estados que tiverem aderido à Convenção de conformidade

com o disposto no artigo 44:

a) as assinaturas, ratificações, aceitações e aprovações a que se refere o artigo 43;

b) as adesões e as objeções às adesões a que se refere o artigo 44;

c) a data em que a Convenção entrará em vigor de conformidade com as

disposições do artigo 46;

d) as declarações e designações a que se referem os artigos 22, 23, 25 e 45;

e) os Acordos a que se refere o artigo 39;

f) as denúncias a que se refere o artigo 47.

Em testemunho do que, os abaixo-assinados, devidamente autorizados, firmaram a

presente Convenção.

Feita na Haia, em 29 de maio de 1993, nos idiomas francês e inglês, sendo ambos

os textos igualmente autênticos, em um único exemplar, o qual será depositado nos

arquivos do Governo do Reino dos Países Baixos e do qual uma cópia certificada

será enviada, por via diplomática, a cada um dos Estados-Membros da Conferência

da Haia de Direito Internacional Privado por ocasião da Décima-Sétima Sessão,

assim como a cada um dos demais Estados que participaram desta Sessão.

107