budismo par leigos resumo

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Introdução O Budismo é mais amplamente conhecido hoje em dia do que era 30 anos atrás, quando nos envolvemos, pela primeira vez, com as suas práticas. Dezenas de livros sobre o assunto estão dispostos nas pratelei- ras das livrarias locais e centenas de centros budistas se espalham pela América do Norte. Através deste material, você pode descobrir mais sobre o Budismo, diretamente com membros de suas várias tradições. O Budismo parece, até mesmo, estar se inltrando na cultura geral; é possível ouvir regularmente referências casuais a ele em lmes e na TV. Apesar deste crescente reconhecimento, ainda nos perguntamos quanto o público, em geral, realmente conhece e entende sobre o Budismo. Apesar do número de livros sobre o assunto, suspeitamos que, com exceção da- queles que seguiram seu interesse de maneira bastante séria, a maioria das pessoas ainda tem apenas uma vaga ideia do que é o Budismo.  Sobre Este Livro Então, o que deve ser feito se você quiser entender mais sobre o Budismo, quando os livros que você leu, até então, são muito especícos – abran- gendo, por exemplo, apenas uma escola, aspecto ou prática especícos – e você não está pronto para fazer uma aula no centro budista local (supondo que haja um)? Bem, o livro que você tem em mãos pode ser exatamente o que você procura. Neste livro, damos uma atenção especial aos principais temas e correntes do Budismo, sem intimidá-lo com o uso de um jargão muito técnico. (Nos mo- mentos em que utilizamos termos técnicos, os explicamos de maneira clara e sucinta, além de oferecermos um glossário que você pode usar para refrescar sua memória). Porque acreditamos que Buda queria que seus ensinamentos fossem considerados como um conselho a ser posto em prática – um conse- lho que é tão relevante à condição humana hoje em dia quanto era há 2.500 anos, quando ele o exprimiu pela primeira vez –, tentamos não adotar uma abordagem puramente teórica do Budismo em favor de uma que mostre a você como é possível aplicar seus ensinamentos em sua vida cotidiana.

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Introdução

OBudismo é mais amplamente conhecido hoje em dia do que era 30anos atrás, quando nos envolvemos, pela primeira vez, com as suas

práticas. Dezenas de livros sobre o assunto estão dispostos nas pratelei-ras das livrarias locais e centenas de centros budistas se espalham pelaAmérica do Norte. Através deste material, você pode descobrir mais sobreo Budismo, diretamente com membros de suas várias tradições. O Budismoparece, até mesmo, estar se inltrando na cultura geral; é possível ouvirregularmente reerências casuais a ele em lmes e na TV.

Apesar deste crescente reconhecimento, ainda nos perguntamos quanto o

público, em geral, realmente conhece e entende sobre o Budismo. Apesardo número de livros sobre o assunto, suspeitamos que, com exceção da-queles que seguiram seu interesse de maneira bastante séria, a maioria daspessoas ainda tem apenas uma vaga ideia do que é o Budismo.

 Sobe Ese livoEntão, o que deve ser eito se você quiser entender mais sobre o Budismo,quando os livros que você leu, até então, são muito especícos – abran-gendo, por exemplo, apenas uma escola, aspecto ou prática especícos– e você não está pronto para azer uma aula no centro budista local(supondo que haja um)? Bem, o livro que você tem em mãos pode serexatamente o que você procura.

Neste livro, damos uma atenção especial aos principais temas e correntes doBudismo, sem intimidá-lo com o uso de um jargão muito técnico. (Nos mo-mentos em que utilizamos termos técnicos, os explicamos de maneira clara esucinta, além de oerecermos um glossário que você pode usar para rerescarsua memória). Porque acreditamos que Buda queria que seus ensinamentosossem considerados como um conselho a ser posto em prática – um conse-

lho que é tão relevante à condição humana hoje em dia quanto era há 2.500anos, quando ele o exprimiu pela primeira vez –, tentamos não adotar umaabordagem puramente teórica do Budismo em avor de uma que mostre avocê como é possível aplicar seus ensinamentos em sua vida cotidiana.

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Budismo Para Leigos2

Coveções usadas nese livoAo designar datas, usamos os termos AEC (antes da Era Comum) e EC (EraComum) em vez de a.C. e d.C., que provavelmente são mais amiliares a

muitas pessoas. Essas designações, relativamente novas, estão sendo maisamplamente usadas e, sendo religiosamente neutras, parecem ser maisapropriadas para um livro desta natureza. E não se preocupe se as datasapresentadas aqui dierem um pouco das datas que você encontra emoutros livros sobre Budismo. Os historiadores divergem bastante sobre al-gumas dessas datas, então, simplesmente adotamos aquelas que pareciammais razoáveis ao nosso entendimento.

Além disso, em todo o livro, mencionamos (esperamos que não emdemasia) termos técnicos budistas e nomes pessoais dos antigos idiomas in-dianos pali e sânscrito (nos quais as escrituras budistas oram escritas pela

primeira vez) e de alguns outros idiomas asiáticos, como chinês, japonês eTibetano. Sempre que possível, simplicamos a escrita dessas palavras, pararefetir sua pronúncia aproximada e omitimos a maioria das marcas que osestudiosos desses idiomas geralmente empregam ao escrevê-los usando oalabeto latino. Se algum estudioso por acaso estiver lendo este livro, nãoterá problemas em identicar tais termos, mesmo sem as marcas de costu-me; para todas as outras pessoas, achamos que a apresentação simples eclara é mais ácil de ser compreendida.

Como Ese livo é OgaizadoO Budismo é um tema bastante abrangente. Além do ato de os própriosensinamentos de Buda serem longos (preenchendo mais de 100 volumes emtradução), uma sucessão de brilhantes comentadores da Índia e de outros paísessomou seus pensamentos e interpretações aos já existentes. Este processo produ-ziu uma grande quantidade de escritos e levou ao desenvolvimento de dierentesescolas e tradições budistas. Além disso, conorme o Budismo avançou de umpaís ao outro, ele adquiriu ormas dierentes. O Budismo do Japão, por exemplo,é dierente do Budismo da Tailândia, e é possível, até mesmo, encontrar umasérie de ormas de prática distintas, dentro do próprio Japão.

Em um trabalho como este, não há como azermos justiça a todos essesvários aspectos do pensamento e da prática budistas. Em vez disso, com-binamos um panorama geral das dierentes tradições e escolas com umadiscussão mais aproundada dos temas mais importantes – os temas que ca-racterizam o Budismo como um todo. Então, na lista de leituras recomenda-das do Apêndice B, oerecemos os nomes dos livros e de outras ontes quevocê pode consultar para realizar pesquisas sobre os aspectos do Budismoque quiser explorar com mais anco.

Para conerir à nossa apresentação o máximo de clareza e aplicabilidade,agrupamos os tópicos nas seguintes partes, cada uma tendo seu própriotema unicador.

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Introdução 3

Pae I: Iodção ao BdismoComeçamos com um panorama do Budismo como um todo, mostrandocomo ele pode ser considerado ao mesmo tempo uma religião, uma loso-a de vida e uma abordagem prática para lidar com os problemas da vida.

Então, devido ao ato de que a mente é um aspecto tão central ao Budismo,observamos como ela pode criar tanto a elicidade quanto o sorimento,e como as práticas budistas centralmente importantes da sabedoria e dacompaixão podem azer com que você entre em contato com as suas ontesespirituais interiores.

Pae II: Bdismo o Passado e o PeseeA história não tem que ser um assunto enadonho, principalmente quandotrata das vidas e eitos de pessoas extraordinárias. Nesta parte, observamosa história do Budismo, começando com a vida de seu undador, Shakyamu-ni Buda, incluindo um resumo de seus primeiros e mais básicos ensinamen-tos. Então, exploramos como o Budismo se desenvolveu na Índia e depoisevoluiu ainda mais e quando se diundiu de um país para o outro, em todaa Ásia. Finalmente, mostramos como o Budismo Theravada, Vajrayana eZen cresceram a ponto de se tornarem as três principais tradições budistaspraticadas no Ocidente.

Pae III: Bdismo a PáicaNesta parte, tratamos de uma série de questões práticas: Como alguém setorna um budista? O que envolve o ato de ser um budista? Como o budis-mo aeta a maneira como você vive? Resumidamente, o que, de ato, osbudistas azem? Para responder a essas perguntas, observamos as maneirascomo as pessoas podem se beneciar daquilo que o Budismo tem a oere-cer. Exploramos a meditação e mostramos a você algumas das maneirascomo praticá-la. Examinamos como os seguidores das várias tradiçõeslevam o Budismo para suas vidas cotidianas. Concluímos levando você emdireção a um passeio pelos principais locais de peregrinação budistas.

Pae IV: Pecoedo o Camiho BdisaOs ensinamentos de Buda são vastos e compostos por práticas dierentes.Nesta parte, mostramos como todos esses métodos, embora dierentes, serelacionam. Examinamos as dierentes interpretações sobre a iluminaçãoe mostramos a você como é possível aplicar os ensinamentos budistas emcada estágio do caminho espiritual. Por m, observamos como a ilumina-ção se expressa nas vidas de quatro mestres budistas contemporâneos.

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Budismo Para Leigos4

Pae V: A Pae dos DezSe você quer receber inormações em pedaços segmentados e de ácil com-preensão, então esta é a parte ideal. Nós discutimos (e tentamos aastar)dez conceitos errados sobre o Budismo e apresentamos dez maneiras como

as compreensões budistas podem ser aplicadas à sua vida. Tudo isso semnenhum custo extra.

Pae VI: ApêdicesPor m, nos apêndices, oerecemos algumas inormações que podemajudá-lo a aprimorar seu entendimento e apreciação sobre o Budismo.Aqui, você encontrará um glossário contendo os termos budistas mais co-mumente usados, bem como uma lista de ontes que você pode consultarse quiser saber mais sobre os dierentes aspectos do Budismo encontradosneste livro.

Ícoes usados nese livoPara chamar sua atenção para inormações que consideramos particular-mente importantes ou interessantes, utilizamos, ao longo dos textos, osícones que se seguem:

É válido repetir as inormações próximas a este ícone. Podemos usá-lo para

destacar um pensamento expresso em outro lugar no livro ou simplesmentepara indicar algo que achamos que seja importante, digno de ser lembrado.

Este ícone engloba sugestões interessantes sobre maneiras como vocêpode entender mais proundamente os aspectos do Budismo que estãosendo discutidos.

Não há necessidade de car alarmado com este ícone. Ele é utilizado paraalertá-lo quanto a áreas que podem causar mal-entendidos – a m de quevocê possa evitá-los.

Próximo a este ícone estão citações de mestres budistas amosos do passa-do – incluindo o próprio Buda – que ilustram o aspecto do Budismo queestá sendo discutido.

Este ícone serve para alertá-lo que estamos narrando novamente uma histó-ria budista tradicional ou, talvez, um incidente de natureza mais pessoal.

           L      E   M   B  R

 E-S E  

    D   I  CA

    C    U    I

  DADO !  

      P      A      L       A

        V        R      A    S    D  E  SAB E   D   

O     R      

I               A  

       A     N

    E   D  O TA

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Introdução 5 

Daqi pa ode?Você pode abordar este livro de diversas maneiras. O Sumário e o Índiceremissivo são bastante detalhados, para que você possa localizar tópicos es-

pecícos do seu interesse e consultá-los diretamente, se desejar. Ou, devidoao ato de cada capítulo deste livro ser bastante autossuciente, você podecomeçar a ler de qualquer ponto e pular partes. As reerências cruzadasque oerecemos indicam onde você pode encontrar inormações adicionaissobre tópicos selecionados.

Também é possível ler este livro da maneira comum e direta: em outraspalavras, começar pelo início e, quando chegar ao nal, parar. Por m,há, também a opção de você azer como muitos preerem: você podeabrir o livro no nal e, depois de muitas voltas, voltar para o começo.Esperamos que, independente da abordagem que você siga, a leitura seja

inormativa e agradável.

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Budismo Para Leigos6

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“Então, o alívio do sofrimento pode ser encon-trado quando seguimos o Caminho Óctuplo? Eu

escolhi um caminho diferente – que passa pordiversos shopping centers.”

Parte I

Introdução aoBudismo

 A 5a Onda Por Rich Tennant

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 nesa Pae…

Quer descobrir o que o Budismo realmente representa e seele é uma religião, uma losoa, uma psicologia ou algo

mais? Bem, você só precisa olhar as páginas desta parte paraencontrar as respostas a essas perguntas. Você será introduzi-do, através do Budismo, ao entendimento da mente e desco-brirá os tesouros que moram no seu interior. Isso representaum convite à leitura!

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Capítulo 1

O que é Budismo? nese capío

 ` Entendendo o motivo da crescente popularidade do Budismo

 `Decidindo se o Budismo é uma religião

 `Observando a losoa e a psicologia budistas

 `Descobrindo o signicado de alguns termos budistas importantes

H á não muito tempo, o Ocidente praticamente desconhecia o Budis-mo. Nos anos 1950 e 60, a situação era a mesma. É claro que você

pode ter escutado alar sobre conceitos budistas na escola, com base nosescritos dos trancendentalistas americanos Thoreau e Emerson (que leramtraduções para o inglês de textos budistas, em meados do século XIX). Maso ato é que, se você osse como a maioria dos indivíduos de classe média,

poderia crescer, envelhecer e morrer, sem nunca encontrar um praticantedo Budismo — exceto, talvez, em um restaurante asiático.

Se alguém quisesse saber sobre o Budismo, as opções de ontes seriampoucas e, quando encontradas, seriam muito dispersas. Com exceção deum raro curso de losoa oriental em uma grande universidade, você teriaque remexer nas prateleiras e pilhas de livros da sua biblioteca local paradescobrir algo além dos atos básicos sobre o Budismo. Os poucos livrosque conseguiria tenderiam a tratá-lo como uma relíquia exótica de uma ter-ra antiga e distante, como uma estátua de Buda, empoeirada em um cantoescuro da seção asiática de um museu. E era preciso ter sorte, se quisesse

encontrar um centro budista onde pudesse estudar e praticar.Hoje, a situação não poderia ser tão dierente. Os termos budistas parecemsurgir em todo lugar. Você pode encontrá-los em uma conversa casual (“Éapenas o seu karma”), na televisão ( Dharma e Greg) e até mesmo nos no-mes de grupos de rock ( Nirvana). Estrelas amosas de Hollywood, compo-sitores de vanguarda, cantores pop e até mesmo um treinador de basqueteprossional altamente bem-sucedido praticam uma ou outra orma deBudismo. (Estamos pensando em Richard Gere, Philip Glass, Tina Turner ePhil Jackson, mas você pode azer uma lista dierente de celebridades).

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10  Parte I: Introdução ao Budismo

As livrarias e bibliotecas, em todos os lugares, exibem uma ampla variedadede títulos budistas, alguns dos quais — ( A Arte da Felicidade, de Dalai Lama)— estão geralmente no topo das listas de best-sellers do New York Times. Eos centros onde as pessoas podem estudar e praticar o Budismo agora estãopresentes na maioria das áreas metropolitanas (e em muitas cidades meno-

res, também).O que levou a uma mudança tão drástica em apenas algumas décadas?Certamente, o Budismo se tornou mais acessível conorme os mestres budis-tas asiáticos e seus discípulos levaram a tradição para a América do Norte epara a Europa. (Para saber mais sobre o infuxo do Budismo no Ocidente,consulte o Capítulo 5). Mas esta é uma questão que envolve mais do queum aumento de disponibilidade. Neste capítulo, daremos ênase ao apeloque esta antiga tradição tem no mundo altamente secular de hoje, obser-vando alguns dos atores responsáveis por sua crescente popularidade.

Descobido se o Bdismoé ma reigião

Perguntar-se se o Budismo realmente é uma religião pode parecer estranho.Anal, se você consultar qualquer lista com as principais tradições religio-sas do mundo, inevitavelmente encontrará o Budismo sendo proeminente-mente mencionado ao lado do Cristianismo, do Islamismo, do Hinduísmo,do Judaísmo, e do restante. Ninguém nunca questiona se essas outrastradições são religiões. Mas esta pergunta surge constantemente, quando oassunto é Budismo. Por quê?

Pergunte à maioria das pessoas o que lhes vem à mente quando pensamem “religião”. Provavelmente, elas mencionarão algo sobre a crença emDeus. Nossos dicionários mostram o mesmo. O dicionário Webster’s NewWorld College Dictionary dene religião como uma "crença em uma orçaou orças divinas ou sobre-humanas a serem obedecidas e adoradas comoas criadoras e regentes do universo.”

Se esta osse a única denição de religião, você denitivamente teria queexcluir o Budismo! Por quê? Bem, nós lhe oerecemos dois motivos:

 5 Não há um Deus: a adoração a uma orça sobrenatural não é apreocupação central do Budismo. Deus (da orma como este termogeralmente é empregado) está completamente ausente dos ensina-mentos budistas – algumas pessoas denominam o Budismo como areligião ideal para ateus!

 5 Não há um sistema de crença: o Budismo não corresponde, primor-dialmente, a um sistema de crenças. Embora contemple certos princí-pios undamentais (como discutimos ao longo da Parte III), a maioriados mestres budistas encoraja ativamente seus alunos a adotarem umaatitude que seja oposta à crença ou a uma é cega.

           L      E   M   B  R

 E-S E  

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11Capítulo 1: O que é Budismo?

Os mestres budistas lhe aconselham a ser cético em relação aos ensina-mentos que recebe, mesmo se eles vierem diretamente do próprio Buda.(Para saber mais sobre o undador do Budismo, consulte o Capítulo 3).Não aceite passivamente o que você ouve ou lê, também não rejeite auto-maticamente. Em vez disso, use sua inteligência. Decida por si próprio se

os ensinamentos azem sentido em termos da sua própria experiência eda experiência dos outros. Então, como o Dalai Lama do Tibete (consulteo Capítulo 15, para mais inormações) geralmente aconselha: “Se vocêachar que os ensinamentos se aplicam a você, empregue-os à sua vida, omáximo que puder. Se não orem aplicáveis, deixe-os.”

Esta abordagem não dogmática (que não tem um sistema rígido de doutrinasou crenças) está de acordo com o espírito e a letra dos próprios ensinamen-tos de Buda. Em um de seus mais amosos pronunciamentos, Buda declarou,“Não aceite nada do que eu ale como verdade, simplesmente porque eu odisse. Em vez disso, analise para ter certeza se o que prego é genuíno ou não.

Se, após examinar meus ensinamentos, descobrir que eles são verdadeiros,coloque-os em prática. Mas não aça isso simplesmente por respeito a mim.”

O Budismo, portanto, encoraja você a usar toda a gama de suas habilidadesmentais, emocionais e espirituais e sua inteligência – em vez de meramentedepositar uma é cega naquilo que as autoridades do passado disseram.Essa atitude torna o Budismo especialmente atraente a muitos ocidentais.Embora o Budismo tenha 2.500 anos de existência, ele apela ao espíritopós-moderno do ceticismo e da investigação cientíca.

Se o Budismo não é primordialmente um sistema de crenças e não é centrado

na adoração a uma deidade suprema, então, por que ele é classicado comouma religião? Porque como todas as religiões, o Budismo oerece às pessoasque o praticam uma maneira de encontrar respostas às grandes questões davida, como “Quem sou eu?”, “Por que estou aqui?”, “Qual é o signicado davida”, “Por que soremos?” e “Como posso alcançar a elicidade duradoura?”

Além dos ensinamentos undamentais sobre a natureza da realidade, oBudismo oerece uma metodologia – um conjunto de técnicas e práticas –que permite aos seus seguidores experimentar um nível mais proundo darealidade, diretamente por si próprios. Em termos budistas, essa experiên-cia envolve o despertar para a verdade de seu ser autêntico, sua natureza

íntima. A experiência do despertar é o objetivo máximo de todos os ensina-mentos budistas. (Para saber mais sobre o despertar, ou sobre iluminação,como geralmente se denomina, consulte o Capítulo 10). Algumas escolasenatizam o despertar mais que outras (e algumas ainda relegam o desper-tar ao plano de undo, em seu esquema de prioridades), mas, em todas astradições, esse é o objetivo nal da existência humana – quer seja alcança-do nesta vida ou em vidas uturas.

Você não tem que se afliar a uma organização budista para se beneciardos ensinamentos e das práticas do Budismo. Para mais inormações sobreos dierentes estágios de envolvimento no Budismo, consulte o Capítulo 6.

      P      A      L       A

        V        R      A    S    D  E  SAB E   D   

O     R      

I               A  

           L      E

   M   B  R

 E-S E  

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12 Parte I: Introdução ao Budismo

recohecedo o Pape de Bda:o Despeo

A religião budista é undada nos ensinamentos transmitidos há 2.500 anospor uma das maiores guras espirituais da história humana, ShakyamuniBuda. Como explicamos mais detalhadamente no Capítulo 3, ele nasceuna amília reinante do clã Shakya, no norte da Índia. Esperava-se que elealgum dia sucedesse seu pai como rei. Em vez disso, o Príncipe Sidarta(como era conhecido na época) renunciou à vida real aos 29 anos, apósver a realidade do grande sorimento e desilusão do mundo. Ele entãopartiu para encontrar um meio de superar esse sorimento.

Finalmente, aos 35 anos, o Príncipe Sidarta alcançou seu objetivo. Sentado

sob aquela que cou conhecida como a árvore Bodhi – a árvore da ilumi-nação – ele alcançou o completo despertar do estado de Buda. A partirde então, cou conhecido como Shakyamuni Buda, o sábio plenamentedesperto (muni ) do clã Shakya (consulte a Figura 1-1).

Buda: humano ou divino?Os recém-chegados ao Budismo geralmen-

  te azem a pergunta: “Que tipo de ser eraShakyamuni Buda – um homem, um deusou outra coisa?” Buda disse por si próprio,e todas as tradições budistas concordam,que assim como todos os outros seres ilu-minados que já apareceram no passado (ouque aparecerão no uturo), ele uma vez oium ser humano comum, não iluminado, comas mesmas diculdades e problemas que

 todo mundo. Ninguém nunca nasce em es- tado de Buda; ninguém nunca oi iluminadodesde o início. E Shakyamuni não oi umaexceção.

Apenas por meio de um grande esorço exer-cido durante um longo período de tempo – du-rante muitas vidas, na verdade – ele obtevesucesso em remover todas as dierentes ca-madas que encobriam a natureza pura de suaconsciência, “despertando” assim para o es-

 tado de Buda – ou para a iluminação plena.

O que leva às discordâncias entre as tra-dições budistas é: “Quando Shakyamunirealmente atingiu a iluminação?” Algumas

 tradições budistas dizem que ele alcançouesse eito exatamente conorme discutimos

neste capítulo – aos 35 anos, enquanto es-  tava sentado debaixo da árvore Bodhi, há2.500 anos. Outros, armam que ele alcan-çou o estado de Buda muito tempo antesdisso, no passado distante. De acordo comessa segunda interpretação, o Buda quecou conhecido como Shakyamuni haviaatingido a iluminação muito antes de ternascido como príncipe Sidarta. Toda a suaexistência nesta terra, de seu nascimento àsua morte, oi uma demonstração conscien-

 te aos demais sobre como o caminho espi-ritual deve ser seguido. Em outras palavras,oi tudo um ato encenado para inspirar os

demais a se desenvolverem espiritualmen- te, assim como ele o ez.

Mais importante do que a questão de quan-do Shakyamuni alcançou a iluminação é oato de que os praticantes budistas genuínospodem igualar o exemplo de Shakyamuni aonível máximo de suas habilidades. Se vocêosse um praticante aspirante, por exemplo,poderia se perguntar: “Se Shakyamuni ori-ginalmente não era dierente de mim, comoposso seguir seus passos e encontrar a sa-

 tisação e realização que ele encontrou?”

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13Capítulo 1: O que é Budismo?

Ele passou os 45 anos restantes de sua vida peregrinando pela parte norteda Índia, oerecendo seus ensinamentos àqueles que estavam interessa-dos no caminho que leva à libertação do sorimento através da ilumina-ção plena de um Buda. (A Parte III oerece um panorama de todo essecaminho). Após uma vida de trabalho compassivo para com os outros, elemorreu, aos 80 anos.

Figura 1-1:Shakyamuni

Buddha.

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14 Parte I: Introdução ao Budismo

A comunidade espiritual budista ( sangha) padeceu bastante para transmi-tir os ensinamentos de Shakyamuni da maneira mais pura possível – paraque eles pudessem ser transmitidos de uma geração à outra. Esses extensosensinamentos acabaram por ser escritos, produzindo uma ampla coleção(ou cânone) de mais de cem volumes dos próprios discursos de Buda ( su- 

tras) e duas vezes esse número de comentários ( shastras) eitos por mestresindianos posteriores. (Consulte os Capítulos 4 e 5, para saber mais sobre adiusão e evolução desses ensinamentos.)

Ao longo dos séculos, a sangha também ergueu monumentos (estupas)para homenagear os principais eventos da vida de seu mestre, o que permi-tiu que os praticantes posteriores peregrinassem, honrados, a esses locais(consulte a Figura 1-2) e recebessem a inspiração do Buda da Compaixão.(Os Capítulos 8 e 9 oerecem mais inormações sobre as práticas e rituais dedevoção budistas).

Graças aos esorços de cada geração de mestres e seus discípulos, a linha-gem dos ensinamentos de Buda (conhecida como dharma) permaneceuundamentalmente intacta, até o presente dia. É por isso que, mesmo após2.500 anos, o Budismo continua a ser uma tradição viva, capaz de oerecerpaz, elicidade e realização a qualquer um que o pratica genuinamente.

Figura 1-2:Peregrinosvisitando a

árvore Bodhi.

Foto © Ian Cumming/Tibete Images.

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15 Capítulo 1: O que é Budismo?

Devido ao ato de Buda ser um mero mortal – e não um deus vivo oualgum super-herói mítico (consulte a barra complementar “Buda: humanoou divino?”, neste capítulo), ele sempre oi mais do que uma gura distante,para os budistas; ele é um exemplo vital daquilo que cada um de nós podealcançar, se nos devotarmos de coração ao estudo e à prática do dharma

que ele ensinava. Na verdade, uma das verdades undamentais para aqual ele despertou debaixo da árvore Bodhi era que todos os serem têm opotencial de se tornarem Budas. Ou, assim como algumas tradições colo-cam, todos os seres já nascem, essencialmente, Budas – eles simplesmenteprecisam despertar para esse ato.

Eededo a iosofa do BdismoSócrates, um dos pais da losoa ocidental, armou que a vida não exami-

nada não vale a pena ser vivida, e a maioria dos budistas certamente teriaconcordado com ele. Devido à importância que depositam sobre o raciocí-nio lógico e a análise racional, muitas tradições e escolas budistas têm umaorte tendência losóca. Outras colocam mais ênase na investigação dire-ta, não conceitual e na análise que ocorre durante a prática da meditação.Em qualquer uma dessas abordagens, a experiência pessoal direta baseadana autoconsciência é considerada o ator principal. (Para saber mais sobrea prática budista da meditação, consulte o Capítulo 7).

Embora o Budismo enatize a investigação e a experiência diretas, ele disse-mina certos princípios losócos que esboçam um entendimento básico da

existência humana,que servem como orientações e inspirações para práticae estudo. Ao longo dos séculos, o Budismo, de ato, se dividiu em umavariedade de escolas e tradições, cada uma com seu próprio entendimentomais ou menos elaborado e distinto daquilo que Buda ensinou. (Para sabera história dessas tradições dierentes, consulte os Capítulos 4 e 5) Além dosdiscursos memorizados durante a vida do undador e registrados após suamorte, diversas outras escrituras – que oram atribuídas a ele – surgiram,muitos séculos depois.

Apesar de toda a sua sosticação losóca,o Budismo permanece, em seunúcleo, como uma religião extremamente prática. Buda, requentemente,

era chamado de “O Grande Médico”, por uma boa razão: ele sempre evita-va a especulação abstrata e tornou a identicação da causa do sorimentohumano e a oerta de maneiras para eliminá-lo sua maior preocupação.(Consulte a barra complementar, “A parábola da fecha envenenada”, paraobter detalhes). Do mesmo modo, o dharma que ele ensinava é conhecidocomo um remédio poderoso para curar a insatisação mais prounda queafige a todos nós. O primeiro e mais conhecido ensinamento de Buda, asquatro nobres verdades (consulte o Capítulo 3), delimita a causa do sori-mento e os meios para eliminá-lo. Todos os ensinamentos subsequentessimplesmente explicam e elaboram essas verdades undamentais.

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16 Parte I: Introdução ao Budismo

No centro de todos os ensinamentos do dharma genuínos está o entendi-mento de que o sorimento e a insatisação se originam no mesmo ritmoque sua mente responde e reage às circunstâncias da vida – não nos atosda vida, em si. Em particular, o Budismo ensina que sua mente causasorimento a você ao se ater à permanência e ao construir um eu separado,

quando, na verdade, nada disso existe. (Para saber mais sobre os ensina-mentos centrais sobre impermanência e não-eu, consulte o Capítulo 2.)

A realidade é alterada constantemente; assim como o lósoo gregoHeráclito disse, “não há como entrar no mesmo rio duas vezes”. O sucessoe o racasso, o ganho e a perda, o conorto e o desconorto – tudo vai evolta. E você tem apenas um controle limitado sobre as mudanças. Masé possível exercer um pouco de controle sobre (e, por m, claricar) suaala, seu pensamento mal-orientado, que distorce suas percepções, resistepoderosamente à maneira como as coisas são e causa a você um estresse esorimento extraordinários durante o processo.

A elicidade – Buda uma vez disse – na verdade, é bastante simples: o segre-do é querer o que você tem e não querer aquilo que não tem. Parece algosimples, mas, denitivamente, não é. Você já tentou dominar sua menteinquieta e indisciplinada, mesmo que osse apenas por pouco tempo? Vocêjá tentou domar sua raiva ou seu ciúme, controlar seu medo, ou permane-cer calmo e sereno diante dos altos e baixos inevitáveis da vida? Em casopositivo, você, sem dúvida, descobriu como é diícil exercer o mínimo deautocontrole – ou autoconsciência. Para se beneciar do remédio queBuda prescreveu, você tem que tomá-lo – o que signica que você tem quecolocá-lo em prática, por conta própria. (Consulte o Capítulo 17, onde você

poderá conhecer dez sugestões práticas para colocar os ensinamentos deBuda em uso na sua vida cotidiana e consulte o Capítulo 14, para outrosconselhos práticos).

 Apeciado a Páica do BdismoQualquer pessoa interessada em se beneciar do Budismo – em vez de,simplesmente, descobrir alguns atos interessantes sobre ele – deve per-guntar, “Como eu tomo esse remédio espiritual? Como posso aplicar os

ensinamentos de Shakyamuni à minha vida de orma que minha inquieta-ção e insatisação possam ser reduzidas, neutralizadas e, por m, extintas?”A resposta é a prática espiritual, que adquire três ormas, no Budismo:

 5 Comportamento ético

 5 Meditação (e a sabedoria que a segue)

5 Devoção

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17 Capítulo 1: O que é Budismo?

Vivedo ma vida éica

O comportamento ético é um componente essencial do caminho espiritualbudista, diundido desde que o Buda histórico alertou pela primeira vezseus monges e monjas para se absterem de certos comportamentos que osdistraíam da busca da verdade. Durante a vida de Buda, seus seguidoresreuniam e codicavam essas instruções, o que acabou por se tornar o códi-go moral (vinaya) que, mais ou menos da mesma orma, continua a moldara vida monástica por mais de 2.500 anos. (O termo monástico descreve osmonges e monjas). Desse código surgiram orientações mais breves, parapraticantes leigos (budistas não monásticos), que permaneceram marca-damente semelhantes de uma tradição à outra. (Para saber mais sobrecomportamento ético, consulte o Capítulo 12).

A parábola da fecha envenenadaComo a atividade intelectual teve um lugar

  tão signicativo na história budista, se-

ria de ato tentador classicar o Budismocomo uma losoa, em vez de uma religião.Mas o próprio Shakyamuni Buda alertouaos seus seguidores que não permitissemque qualquer especulação losóca des-viasse a atenção do objetivo máximo deseus ensinamentos. Essa atitude é clara-mente ilustrada pela história – já bastantediundida – de um monge chamado Ma-lunkyaputta (nós o chamaremos somentecomo “Venerável Mal”, para simplicar).

Um dia, ele chegou até Buda reclamandodo ato de que ele nunca havia tratado decertas questões losócas, tais como “Ouniverso tem um começo e um m?” e “OBuda existe após a morte?” “VenerávelMal” declarou que, se Buda não respon-desse a essas perguntas de uma vez por

  todas, ele abandonaria seu treinamentocomo um monge budista e voltaria parasua antiga vida, como leigo.

Em resposta, Shakyamuni descreveu a se-guinte situação hipotética. Suponhamos,ele disse, que um homem tenha sido eri-do por uma fecha envenenada. Seus pa-rentes, preocupados, encontram um hábil

cirurgião que poderia remover a fecha,mas o homem erido se recusa a deixar o

médico operá-lo até que tenha recebidorespostas satisatórias a uma longa listade perguntas. “A fecha não será tirada,”o homem erido declara, “até que eu saibaa que casta pertence o homem que me e-riu, seu nome, sua altura, a vila de onde elevem, a madeira a partir da qual a fecha oiproduzida, e assim por diante.” Claramen-

 te, tal tolo morreria muito antes que suasperguntas pudessem ser respondidas.

“Da mesma maneira”, Shakyamuni acon-selhou o “Venerável Mal”, “qualquer umque disser ‘eu não seguirei a vida espiritualaté que Buda tenha explicado a mim se ouniverso é eterno ou não ou se Buda existeapós a morte’, morrerá muito antes de po-der receber respostas satisatórias às suasperguntas.” A vida verdadeiramente espi-ritual ou religiosa não depende, em nada,do ato de essas perguntas serem respon-didas. Pois, como Shakyamuni atentou na

ocasião, “mesmo se o universo or ou nãoeterno, você ainda terá de encarar o nasci-mento, a velhice, a morte, a dor, o pesar eo desespero, para os quais eu agora pres-crevo o antídoto.”

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18  Parte I: Introdução ao Budismo

Longe de estabelecer um padrão absoluto de certo e errado, as instruçõeséticas do Budismo possuem um propósito plenamente prático – manter ospraticantes ocados no objetivo de sua prática, que é uma compreensãoliberadora sobre a natureza da realidade. Durante seus 45 anos de ensina-mento, Buda descobriu que certas atividades contribuíam para aumentar o

desejo, apego, inquietude e insatisação e levavam ao confito interpessoalna comunidade, em grande escala. Por outro lado, outros comportamentosajudavam a manter a mente em paz e ocada e contribuíam para uma at-mosera mais propensa à refexão e à realização espiritual. Dessas observa-ções, em vez de partir de qualquer ponto de vista moral abstrato, surgiramas orientações éticas.

Examiado sa vida po meio da mediaçãoNa imaginação popular, o Budismo, denitivamente, é a religião da medi-

tação. Anal, quem já não viu estátuas de Buda sentado com as pernas cru-zadas, os olhos semicerrados, proundamente imerso em refexão espiritual– ou quem já não apanhou um dos muitos livros disponíveis hoje em dia,voltados a ensinar o básico da meditação budista?

Apesar de todas as explicações, muitas pessoas entendem de maneiraerrada o papel que a meditação tem no Budismo. Elas presumem erronea-mente que você tem de se abster dos acontecimentos da vida normal parair a um reino pacíco, desapegado e não aetado – até que não sinta maisqualquer emoção ou preocupação quanto às coisas que já importaram paravocê. Isso, no entanto, não poderia estar mais longe da verdade. (Nós dis-

cutimos outros conceitos errados sobre o Budismo e sobre a prática budistano Capítulo 16).

O propósito real da meditação, no Budismo, não é acalmar a mente (emboraesse resultado possa acontecer e seja certamente útil ao processo meditati-vo), nem é azer com que seus praticantes tornem-se desapegados e alheios.Em vez disso, o propósito é experimentar a compreensão prounda e unda-mentalmente libertadora sobre a natureza da realidade e sobre si mesmo, so-bre a qual alamos na seção “Entendendo a losoa do Budismo”, abordada,previamente, neste capítulo – uma compreensão que mostra, eetivamente,quem você é e o que é a vida, e que o liberta do sorimento, de uma vez portodas. (Para saber mais sobre essa compreensão, conhecida como “realiza-ção espiritual ou iluminação”, consulte o Capítulo 10).

A meditação acilita essa compreensão ao oerecer uma atenção centrada econtínua ao uncionamento de sua mente e de seu coração. Nos primeirosestágios da meditação, você passa a maior parte do seu tempo conscien-te, o máximo que pode, de sua experiência – uma prática budista quaseuniversal, conhecida como plena atenção. Você também pode cultivarqualidades do coração positivas e benécas, como bondade amorosa ecompaixão; ou praticar visualizações de guras e energia benécas. Mas,

no m, o objetivo de toda meditação budista é descobrir quem você é paraque, assim, sejam ndadas suas buscas e insatisações. (Para saber maissobre meditação, consulte o Capítulo 7.)

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19Capítulo 1: O que é Budismo?

Expessado devoçãoEmbora Buda não a tenha ensinado explicitamente, a devoção, há muitotempo, é uma prática central budista. Não há dúvidas de que ela começoucom a devoção espontânea que os próprios seguidores de Buda sentiam por

seu gentil, sábio e compassivo mestre. Após sua morte, os seguidores – inspi-rados por uma tendência devocional – dirigiram sua reverência aos anciãosiluminados da comunidade monástica e aos restos de Buda, que oram pre-servados em monumentos conhecidos como estupas (consulte a Figura 1-2).

Conorme o Budismo se espalhou pela Índia e, posteriormente, para outrasterras, o principal objeto de devoção se tornou as Três Joias de Buda, dhar-ma e sangha – o grande mestre (e seus sucessores), os ensinamentos em sie a comunidade de praticantes que preservam e sustentam os ensinamen-tos. Até os dias de hoje, todos os budistas, sejam leigos ou monásticos, sereugiam nas Três Joias (também conhecidas como “Os Três Tesouros” ou“Gema Tripla”). (Para saber mais sobre reúgio, consulte o Capítulo 6.)

Por m, em certas tradições do Budismo, a tendência humana natural paraa reverência e idealização ez surgir uma série de guras transcendentaisque incorporavam qualidades espirituais especialmente desejáveis. Aoexpressar a devoção sincera a essas guras e ao se imaginar undindo-se aelas e, portanto, assumindo suas qualidades despertas, você pode, gradual-mente, alterar suas qualidades negativas para positivas e, por m, alcançara iluminação completa para o seu beneício e para o beneício dos seussemelhantes – ou, pelo menos, é isso que essas tradições ensinam.

O estudo e a refexão ajudam a esclarecer os ensinamentos budistas, masa devoção cria uma conexão sincera com a tradição, permitindo que vocêexpresse seu amor e apreciação pelos mestres (e ensinamentos) e expe-rimente seu amor e compaixão, em troca. Até mesmo tradições como aZen, que parecem enatizar menos a devoção em avor da compreensão,têm uma orte subcorrente devocional que é expressa em rituais e cerimô-nias, mas que não é sempre visível aos recém-chegados. Para praticantesbudistas leigos, que podem não ter tempo ou inclinação para a meditação,a devoção às Três Joias pode até mesmo se tornar sua principal prática. Naverdade, algumas tradições, como o “Budismo da Terra Pura”, são primor-

dialmente devocionais. (Para saber mais sobre as dierentes tradições doBudismo, incluindo Zen e Terra Pura, consulte o Capítulo 5).

Dedicado sa Vida ao Beeício detodos os Sees

Quando você chega à questão central, o Budismo ensina-lhe que as pessoasque estão ao seu redor estão undamentalmente interconectadas – inclusi-

ve, com você – e são interdependentes – que cada ser ou coisa aparente-mente separada, você inclusive, é meramente uma expressão única de uma

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20  Parte I: Introdução ao Budismo

única realidade vasta e indivisível. Com essa perspectiva em mente (e nocoração), o Budismo lhe encoraja a dedicar seus esorços espirituais nãoapenas a si mesmo e aos seus entes queridos, mas também em beneício– e pela iluminação – de todos os seres (que, na verdade, não podem serseparados de você).

Muitas tradições budistas ensinam aos seus seguidores que eles devemcultivar ativamente o amor e a compaixão pelos outros – não somente emrelação àqueles que gostamos, mas também em relação àqueles que nosperturbam ou àqueles com quem possamos sentir hostilidade (em outraspalavras, inimigos). Na verdade, algumas tradições acreditam que essadedicação ao bem-estar, de todas as ormas, é a base do caminho espiritualsobre a qual todas as outras práticas estão undamentadas. Outras tradiçõespermitem que o amor e a compaixão surjam naturalmente, conorme acompreensão se aprounda e a sabedoria se desenvolve, e instruem os prati-cantes a dedicar os méritos de suas meditações e rituais a todos os seres.

Seja qual or o método, os ensinamentos têm a mesma essência: todos osseres são inseparáveis, e algumas tradições até advertem que, no nal, vocênão conseguirá alcançar a elicidade e paz mental duradouras até quetodos os seres estejam elizes e em paz, também. A partir dessa percepção,surge o voto de bodhisattva (sânscrito, para "ser que desperta") que dedicasua vida à iluminação de todos (consulte o Capítulo 14). Até que todos osseres estejam libertos, o bodhisattva acredita que sua missão nessa Terraainda não oi cumprida. Embora nem todas as tradições budistas percebamo bodhisattva da mesma maneira, todos concordariam que esse espíritoestá no núcleo do Budismo.

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