boletim nacional 32

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O terremoto no Haiti comoveu todo o mundo. O governo haitiano já fala em mais de 200 mil mortes. A Conlu- tas, o Jubileu Sul e outras entidades estão fazendo uma campanha para arrecadar fundos e entregá-los direta- mente aos trabalhadores haitianos. A cobertura das TVs mostra o ter- remoto, mas esconde questões fun- damentais, para justificar a crescente ocupação do Haiti por tropas estran- geiras. É preciso que os trabalhadores brasileiros saibam algumas verdades que as TVs não dizem. A primeira é que o número absurdo de mortes poderia ter sido evitado se a situação social do país fosse outra. Caso o terremoto tivesse ocorrido a al- gumas centenas de quilômetros dali, nos EUA, não haveria tantos milhares de mortos. A brutal miséria haitiana se somou ao caos dos serviços do Esta- do (médicos, bombeiros), que já eram quase inexistentes. A outra verdade é que a responsabi- lidade dessa situação não é dos haitia- nos, mas dos Estados Unidos, que con- trolam a economia do país há quase dois séculos. As multinacionais usam o Haiti para produzir roupas ao merca- do norte-americano, pagando R$ 115 por mês aos trabalhadores. Eles têm de aceitar esse salário miserável, pois até 80% da população está sem emprego. Ou seja, a miséria haitiana dá grandes lucros às multinacionais, como a Levis. A ocupação das tropas brasileiras, que já dura quase seis anos, nada fez para melhorar a situação social do país. Não foram construídos hospitais, nem foi ampliada a rede de esgotos ou o abastecimento de água. A terceira questão escondida pelas TVs é o fracasso, ao menos até agora, da “ajuda huma- nitária” dos governos. Dezenas de milhares de pessoas não foram res- gatadas dos escombros a tempo e morreram. Foram os haitianos, com as próprias mãos, que tentaram socorrer as vítimas. Outras dezenas de mi- lhares de feridos esperaram em vão pelo socorro médico, e mor- reram nas ruas. As TVs mostram os pouquíssimos resgates, sem explicar porque as estimativas de mortos sobe a cada dia. Sobreviventes se amontoam nas ruas. A fome e a sede crescem, porque a “ajuda” não chega. Os caminhões da ONU param por alguns minutos, for- mam filas, despejam algumas cestas e fogem rapidamente, para evitar saques. Helicópteros norte-americanos lançam algumas cestas do ar. Mas a comida e os remédios não chegam até um milhão de pessoas, que esperam e esperam. Isso acontece porque o tamanho da ajuda é completamente insuficiente. Os mesmos governos que foram ca- pazes de dar 25 trilhões de dólares a bancos e empresas no auge da crise econômica, agora reservam alguns poucos milhões ao povo do Haiti. A ONU disponibilizou 100 milhões de dólares, quando gastou 3,5 bilhões com a ocupação militar nestes quase seis anos. O governo Lula gastou 600 milhões de dólares com as tropas e oferece agora de 10 a 15 milhões. Um desastre inter- nacional, que a TV não mostra. SOLIDARIEDADE, SIM TRAGÉDIA NO HAITI OCUPAÇÃO MILITAR, NÃO Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado Boletim nacional www.pstu.org.br Edição 32 jan.2010 O número absurdo de mortes poderia ter sido evitado se a situação social do país fosse outra

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Boletim Nacional 32

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O terremoto no Haiti comoveu todo o mundo. O governo haitiano já fala em mais de 200 mil mortes. A Conlu-tas, o Jubileu Sul e outras entidades estão fazendo uma campanha para arrecadar fundos e entregá-los direta-mente aos trabalhadores haitianos.

A cobertura das TVs mostra o ter-remoto, mas esconde questões fun-damentais, para justificar a crescente ocupação do Haiti por tropas estran-geiras. É preciso que os trabalhadores brasileiros saibam algumas verdades que as TVs não dizem.

A primeira é que o número absurdo de mortes poderia ter sido evitado se a situação social do país fosse outra. Caso o terremoto tivesse ocorrido a al-gumas centenas de quilômetros dali, nos EUA, não haveria tantos milhares de mortos. A brutal miséria haitiana se somou ao caos dos serviços do Esta-do (médicos, bombeiros), que já eram quase inexistentes.

A outra verdade é que a responsabi-lidade dessa situação não é dos haitia-nos, mas dos Estados Unidos, que con-trolam a economia do país há quase dois séculos. As multinacionais usam o Haiti para produzir roupas ao merca-do norte-americano, pagando R$ 115 por mês aos trabalhadores. Eles têm de aceitar esse salário miserável, pois até 80% da população está sem emprego. Ou seja, a miséria haitiana dá grandes lucros às multinacionais, como a Levis.

A ocupação das tropas brasileiras, que já dura quase seis anos, nada fez para melhorar a situação social do país. Não foram construídos hospitais, nem foi ampliada a rede de esgotos ou o abastecimento de água.

A terceira questão escondida pelas TVs é o fracasso, ao menos até agora, da “ajuda huma-nitária” dos governos. Dezenas de milhares de pessoas não foram res-gatadas dos escombros a tempo e morreram. Foram os haitianos, com as próprias mãos, que tentaram socorrer as vítimas. Outras dezenas de mi-lhares de feridos esperaram em vão pelo socorro médico, e mor-reram nas ruas. As TVs mostram os pouquíssimos resgates, sem explicar porque as estimativas de mortos sobe a cada dia.

Sobreviventes se amontoam nas ruas. A fome e a sede crescem, porque a “ajuda” não chega. Os caminhões da ONU param por alguns minutos, for-mam filas, despejam algumas cestas e fogem rapidamente, para evitar saques. Helicópteros norte-americanos lançam algumas cestas do ar. Mas a comida e os remédios não chegam até um milhão de pessoas, que esperam e esperam.

Isso acontece porque o tamanho da ajuda é completamente insuficiente. Os mesmos governos que foram ca-

pazes de dar 25 trilhões de dólares a bancos e empresas no auge da crise econômica, agora reservam alguns poucos milhões ao povo do Haiti.

A ONU disponibilizou 100 milhões de dólares, quando gastou 3,5 bilhões com a ocupação militar nestes quase

seis anos. O governo Lula gastou 600 milhões de dólares com as tropas e oferece agora de 10 a 15 milhões. Um desastre inter-nacional, que a TV não mostra.

SOLIDARIEDADE, SIMTRAGÉDIA NO HAITI

OCUPAÇÃO MILITAR, NÃOSOLIDARIEDADE, SIM

Partido Socialista dos Trabalhadores Unifi cado

Boletim nacional www.pstu.org.br

Edição 32 jan.2010

O número absurdo de mortes poderia ter sido evitado se a situação social do país fosse outra

www.pstu.org.br

TOME PARTIDO. Venha para o PSTU!

São os haitianos que devem controlar a reconstrução do país

Os EUA ocuparam de novo o país, enviando 15 mil soldados para o Haiti. Os marines tomaram o aeroporto hai-tiano, sem pedir licença a ninguém, decidindo os aviões que podem e os que não podem pousar no país.

As tropas brasileiras foram afasta-das da condução do processo, como quem já cumpriu seu papel sujo. Não é verdade que elas estavam em uma “missão humanitária”. Seu papel era “manter a ordem”, a serviço das multinacionais. Isso independe da boa vontade de vários soldados, que viajaram para lá com boas intenções. Mas o papel das tropas é definido pelo comando e pelo governo brasileiro.

Foram as tropas brasileiras que reprimiram as mobilizações recentes dos haitianos. A greve dos operários têxteis, em agosto passado, em defesa

de um salário mínimo de R$ 190, durou duas semanas e só foi derrotada pela repressão pelas tropas, terminando com duas mortes. As lutas estudan-tis de novembro contra a ocupação foram duramente reprimidas pelas tropas brasileiras, que prenderam 20 estudantes. E agora, que a situação

ficou mais difícil, os EUA assumiram de novo a ocupação militar.

Os saques são usados para justifi-car a presença das tropas. Os haitia-nos estão sendo mortos pela polícia e pelos soldados. As tropas são inca-pazes de garantir comida e remédios. Mas são “necessárias” para reprimir o povo faminto que, sem alternativa, saqueia os supermercados. Tropas para garantir a propriedade privada e não a solidariedade necessária.

Nem soldados norte-americanos, nem brasileiros! Quem deve contro-lar a reconstrução são os próprios haitianos!

O governo brasileiro deve retirar imediatamente as tropas e mandar o dinheiro que gastaria em termos militares sob a forma de comida, re-médios, pessoal de saúde e resgate.

A Conlutas, Jubileu Sul e outras enti-dades lançaram a campanha de solida-riedade ao povo haitiano, apontando a necessidade de entregar essas contri-buições diretamente aos trabalhadores desse país, ao mesmo tempo em que denunciam a ocupação militar.

A Conlutas chama os sindicatos e

entidades a conseguirem contribuições dos trabalhadores e estudantes nas es-colas e locais de trabalho, em uma gran-de campanha de solidariedade. Para isso, já foi aberta uma conta bancária específica (Banco do Brasil: Coordena-ção Haiti, ag.4223-4, conta 8844-7).

A proposta é entregar todo o valor

arrecadado para a organização Batay Ouvriye (Batalha Operária), maior or-ganização do movimento operário e popular do Haiti.

Os EUA assumiram a ocupação

TRANSFORMAR A SOLIDARIEDADE EM AÇÃO CONCRETA