boletim de conjuntura maio 2016

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  • 7/26/2019 Boletim de Conjuntura Maio 2016

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    A Longa Travessia do Ajuste

    H pouco mais de um ms de Michel Temer assumir, de forma interina, a presidncia da Repblica,e passada a euforia inicial com a mudana, fica cada vez mais claro o tamanho do desafio que sua equipe

    enfrenta para reequilibrar a economia brasileira, aps sofrer os efeitos dos erros de poltica econmica quevm sendo cometidos desde 2009.

    Essa nova equipe, um verdadeiro dream teamde profissionais altamente gabaritados, capitaneadapor Henrique Meirelles, comeou acertando, ao concentrar seus esforos na tarefa de equilibrar as contaspblicas, para reverter a trajetria insustentvel do endividamento governamental, que mina a confiana dosinvestidores, impedindo a superao da crise atual.

    O ajuste fiscal que est sendo proposto est baseado em limitar o crescimento das despesas pblicas,causa fundamental do desequilbrio fiscal. Nesse sentido, o governo acaba de enviar um Projeto de EmendaConstitucional (PEC), que coloca um teto para a expanso dos gastos pblicos durante os prximos 20 anos,que se realizar tendo por base a inflao registrada durante o ano anterior, incluindo as despesas relativas sade e educao.

    Contudo, embora na direo certa, esse ajuste ainda ser insuficiente para conter a sangria fiscal,pois abrange somente 37% dos gastos governamentais, deixando sem teto a maior proporo destes,

    incluindo a Previdncia, que responde pela metade das despesas obrigatrias, e que possui tendncia decrescimento explosivo durante os prximos anos, frente ao envelhecimento da populao, que atualmente

    o maior do mundo.Alm disso, a aprovao da PEC do tetodepende, em primeiro lugar, de votao no Congresso,

    que, no atual contexto de infindvel crise poltica, pode ser demorada, contando ainda com resistncia porparte do Presidente do Senado, Renan Calheiros. provvel que, se aprovada, essa PEC sofra algumasmodificaes que, na prtica, reduzam seu impacto sobre o crescimento dos gastos.

    De qualquer forma, trata-se de um ajuste fiscal indito na histria do Brasil contemporneo, poisno recorre costumeira soluo de elevar impostos, ainda que no se possa dizer que essa medida tenhasido totalmente descartada, centrando sua ao sobre o lado das despesas.

    Sua implementao, mesmo que algumas concesses tenham que ser feitas, em prol de suaviabilidade poltica, poderia sinalizar a disposio do atual Governo em equilibrar as contas pblicas,pincipalmente se o horizonte do ajuste realmente se estender por mais de uma dcada. Isto possibilitar quehaja recuperao da confiana de consumidores e empresrios, contribuindo para uma recuperao mais

    rpida da atividade, o que aumentaria o flego poltico para uma reforma fiscal mais profunda, pedraangular para reestabelecer os fundamentos da economia brasileira.

    Sntese Econmica

    Crdito pessoa fsica continuou desacelerando em abril.

    Inflao seguiu acelerando em maio.

    Produo industrial e servios apresentaram contrao menos intensa em abril. Varejo intensificou sua queda em abril.

    Inadimplncia bancria seguiu estvel em abril.

    As contas pblicas continuaram se deteriorando no ms de abril.

    As contas externas continuaram mostrando melhora, devido principalmente recesso.

    Taxa de cmbio apresentou leve aumento em maio.

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    Anlise da Conjuntura

    1.

    Moeda, Crdito e Inflao

    Dados do Banco Central (BC) de abril seguem mostrando desacelerao do crdito

    pessoa fsica, que, em 12 meses, apresentou aumento de 1,4%, bastante abaixo dainflao medida para o mesmo perodo (9,6% - IPCA).

    Em maio, a inflao (IPCA) acelerou para 0,78%, ante 0,61% no ms anterior. Assim,no acumulado em 12 meses passou de 9,28%, registrado em abril, para 9,32%. Foi grande ainfluncia do fim do Programa de Incentivo Reduo do Consumo de gua, que acarretouuma alta de 41,9% na tarifa em So Paulo.

    Na reunio de 8 de junho, o COPOM (Comit de Poltica Monetria do BancoCentral), por unanimidade, decidiu manter a taxa de juros bsica (SELIC) em 14,25%. Amudana no comando do Banco Central alterou os procedimentos operacionais daautoridade monetria, cujo objetivo, segundo seu novo Presidente, cumprir plenamente

    a meta de inflao, estabelecida pelo Conselho Monetrio Nacional, mirando o seu pontocentral(4,5%).

    2.

    Produo, Vendas e Inadimplncia

    O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) divulgou o resultado doProduto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, que apresentou queda de 5,4% frente aigual perodo do ano anterior, explicada principalmente pela queda no investimento(-17,3%) e no consumo das famlias (-6,3%).

    Em abril, de acordo com o IBGE, a queda da atividade industrial perdeu fora, aoregistrar recuo de 7,2% em relao ao mesmo ms de 2015, e de 9,6% nos ltimos 12 meses,

    frente a 9,7%, observado em maro. H sinais de que a reduo dos estoques, a exportaode manufaturados e a substituio de importaes poderiam estar contribuindo paraatenuar essa queda. Vale notar, ainda, que a categoria dos semidurveis e no durveiscresceu 1,9% no contraste com abril de 2015.

    No mesmo ms, o varejo acentuou a queda para 6,7%, frente a abril de 2015, piorresultado desde maro de 2003. No varejo ampliado, que inclui veculos e material deconstruo, a contrao foi de 9,1% na mesma base de comparao. No perodo janeiro-abril, as contraes de ambos tipos de comrcio alcanaram a 6,9% e 9,3%,respectivamente, os piores desde o incio das sries.

    O setor servios, o principal segmento produtivo da economia, apresentou queda

    anual de 4,5% em abril, destacando-se o declnio de 8,8% no transporte terrestre de carga,repercutindo a queda da atividade industrial, enquanto no acumulado do ano a retraoalcanou a 4,9%.

    Dados da ACSP/BVS, com base nas consultas efetuadas de janeiro a mais, mostraramdiminuies das vendas parceladas (-9%) e vista (-17,3%)na base anual.

    A confiana do consumidor, medida pelo ndice Nacional de Confiana (INC),calculado pelo IPSOS para a ACSP, apresentou leve alta em maio (3,1%). A insegurana noemprego (59% dos entrevistados) e a piora da condio financeira (51% dos entrevistados)

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    explicam porque 68% das famlias entrevistadas no se sentem vontade para adquirireletrodomsticos e 73% em relao compra de veculo ou casa.

    Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD) Contnua do IBGE,a taxa de desemprego alcanou em abril a 11,2% da fora de trabalho, ante 8% registradano mesmo ms de 2015. Os dados dessa pesquisa, de abrangncia nacional, registramqueda anual de 4,3% na massa de rendimentos (-1,7% na ocupao e -3,3% nos salrios).

    A taxa de inadimplncia da pessoa fsica, medida pelo Banco Central, que sinaliza onvel de atraso no crdito bancrio (incluindo o crdito consignado), continuou estvel em4,3% da carteira em abril, frente a 3,7%, observado no mesmo ms de 2015, sinalizandoleve propenso alta.

    Finalmente, a prvia do PIB do Banco Central (IBC-BR), livre de influncias sazonais,ficou praticamente estvel de maro para abril, ao apresentar aumento de 0,03%, aps 15meses de queda consecutiva. Na comparao com igual ms do ano passado, houve recuode 5%, aps queda de 6,3% no primeiro trimestre. Esses dados sugerem que o declnio daatividade econmica pode estar se aproximando do fundo do poo.

    Em sntese, os dados mais recentes apontam para queda da atividade econmicaat os primeiros quatro meses do ano, perdendo intensidade, a partir de ento, enquantoa inflao continuaria desacelerando, ainda que de forma mais lenta do que se esperava.

    A mudana da equipe econmica do Governo e a restaurao do chamado tripmacroeconmico, que era um modelo de poltica econmica mais consistente, baseado noequilbrio das contas pblicas, sistema de metas de inflao e cmbio flutuante, abrem aperspectiva para o incio da recuperao da economia e para uma reduo mais efetiva dainflao.

    3.

    Finanas Pblicas

    Apesar do Governo Consolidado (Unio, Estados, Municpios e Estatais) haver

    registrado, de acordo com o Banco Central, tanto em abril como nos primeiros quatromeses, excesso de receitas em relao s despesas no financeiras (supervit primrio) deR$ 10,18 bilhes e R$ 4,41 bilhes, respectivamente, estes foram os piores resultados emdoze anos, no primeiro caso, e desde 2002, que marca o incio da srie histrica, nosegundo.

    Alm disso, quando o resultado nominal analisado nos 12 meses, eliminando-se,portanto, fatores sazonais e pontuais que explicam grande parte dos nmeros anteriores,tais como a arrecadao do imposto de renda em abril, a mudana no cronograma depagamento de subsdios e subvenes e o adiamento do repasse do FUNDEB (Fundo deManuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e de Valorizao dos Profissionais da

    Educao) para maio, constata-se a existncia de dficit primrio (gastos no financeirosmaiores do que as receitas) de R$ 139,28 bilhes (2,33% do PIB), ante R$ 136 bilhes (2,28%do PIB), registrado em maro.

    O principal responsvel pela deteriorao fiscal continua sendo o Governo Central,(Tesouro Nacional, Banco Central e INSS), porm os entes regionais continuam a darcontribuio negativa, diferena do que ocorreu no ano passado, na esteira da grave crisefiscal que esto atravessando.

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    O Governo Federal tem feito esforos para cortar despesas sobre as quais temcontrole, chamadas discricionrias, reduzindo, durante o perodo janeiro-abril,investimentos e desembolsos destinados ao Programa de Acelerao do Crescimento (PAC)e ao Minha Casa Minha Vida. Esses cortes, porm, se mostraram insuficientes para fazerfrente ao notvel crescimento dos desembolsos obrigatrios, principalmente no caso daPrevidncia Social, que apresentou elevao de quase 61% acima da inflao, na

    comparao com abril do ano passado.Tudo isso resultou, na mesma base de comparao, no impressionante crescimento

    do gasto pblico total da Unio de 12,3%, frente elevao das receitas totais de apenas3,9%, prejudicadas pela recesso e pelo desemprego, ambos sem corrigir pela inflao(IPCA), de acordo com dados do Tesouro Nacional.

    Por sua vez, o Banco Central continuou registrando lucro com as operaes de swapcambial, que nos primeiros quatro meses do ano alcanou a R$ 49,98 bilhes, atenuandoas despesas financeiras do Governo consolidado, que alcanaram nos ltimos 12 meses aR$ 7,76% do PIB, resultado, em todo caso, superior ao observado em maro (7,39% do PIB).

    Ao somar-se esse ltimo resultado ao primrio, obtm-se o resultado nominal, queem 12 meses correspondeu a um dficit de R$ 603,7 bilhes (10,08% do PIB), bastantesuperior ao observado em maro (9,71% do PIB), o que redunda em progressivoendividamento governamental, que em abril alcanou a 67,5% do PIB, pondo em perigo asolvncia de mdio e longo prazo das contas pblicas.

    Frente a essa contnua deteriorao das contas pblicas, a nova equipe econmicaconseguiu aprovar no Congresso alterao da meta fiscal anual, que permitir um dficitprimrio de at R$ 170,5 bilhes, o que seria o pior resultado da histria, levando o dficitnominal a ultrapassar o nvel de 10%, um dos maiores do mundo.

    O Governo interino enfrenta dificuldades, principalmente no campo poltico, paraviabilizar um ajuste fiscal de maior alcance, porm, a aprovao do tetoproposto peloMinistro da Fazenda para a expanso do gasto pblico, que impediria que este cresa acima

    da inflao do ano anterior, apesar de seu reduzido alcance, poderia constituir um primeiropasso no caminho do reequilbrio das contas pblicas, cuja consolidao fatalmente exigiriareformas mais estruturais, como a previdenciria.

    4.

    Setor Externo

    A balana comercial brasileira continua apresentando resultados surpreendentesdesde o incio do ano passado, constituindo-se na principal fonte de entrada de dlares nopas e, portanto, maior responsvel pelo ajuste das contas externas que rapidamentecaminha para o seu equilbrio. Em maio, o supervit comercial de US$ 6,4 bilhes

    representou um recorde, melhor resultado j registrado para o ms, desde o incio dessasrie histrica, em 1989. As exportaes somaram US$ 17,5 bilhes e as importaesUS$ 11,1 bilhes, que, medidas pela mdia diria, apresentaram um retrocesso de 0,2% e24,3%, respectivamente, em relao a maio do ano passado.

    At agora, portanto, o saldo positivo da balana comercial deve-se basicamente aqueda acentuada das importaes, em decorrncia da recesso econmica, que reduz ademanda por bens e servios. As vendas externas, no entanto, comearam a mostrarrecuperao nos ltimos meses, registrando em maio um aumento de 8,8% relativamente

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    ao ms anterior, com destaque para as exportaes de manufaturados (8,9%) esemimanufaturados (9%). Destaca-se, tambm, o crescimento de 9,4% das quantidadesexportadas de produtos bsicos, embora o faturamento desse segmento continue sendoafetado pela queda dos preos internacionais, principalmente das commodities.

    Com esses resultados, a balana comercial (diferena entre exportaes eimportaes de bens) acumulou nos cinco primeiros meses do ano um saldo recorde de US$

    19,7 bilhes (exportaes de US$ 73,5 bilhes e importaes de US$ 53,8 bilhes),revertendo o dficit de US$ 2,3 bilhes, acumulado no mesmo perodo do ano passado.

    A pauta de exportaes brasileira continua sendo muito dependente da venda deprodutos bsicos (47%) que, nos primeiros cinco meses do ano, apresentaram reduo de4,1%. Enquanto houve retrao das exportaes de petrleo em bruto (-38,7%), caf emgro (-27,4%) e minrio de ferro (-26,4%), cresceram as vendas de milho em gro (106,5%),soja em gro (23,7%), algodo em bruto (34,4%) e carne suna (17,5%).

    De outro lado, as vendas externas de manufaturados (38,2% da pauta deexportao) registraram um incremento de 0,6%, com destaque para os embarques de umaplataforma para extrao de petrleo, automveis de passageiros, veculos de carga, aviese suco de laranja no congelado. A China continua sendo a maior compradora de produtosbrasileiros, sendo responsvel pelo maior saldo comercial do pas, cujo montante ficou emUS$ 6,5 bilhes entre janeiro-maio deste ano. Destacam-se, tambm, os supervits obtidosno comrcio com os pases baixosHolanda (US$ 3,2 bilhes) e com a Argentina (US$ 1,9bilhes), no mesmo perodo.

    Independentemente da queda da demanda interna, que leva as empresas a buscarno mercado externo uma opo para suas vendas, a alta do dlar outro fator que temajudado a diminuir o dficit das contas externas.

    Em maio, o valor da moeda americana flutuou entre R$ 3,50-3,60, com o BancoCentral intervindo no mercado, quando o cmbio se afastava muito desses valores,parecendo indicar serem esses os limites de flutuao at ento desejados. No ms de maio

    o dlar teve uma apreciao de 4,3% e, nos ltimos 12 meses, de 20,4% em relao ao Real.O dlar mais caro e a recesso, como consequncia, esto ajudando a diminuir o

    dficit em transaes correntes do balano de pagamentos (exportaes menosimportaes de mercadorias e servios). O saldo negativo dessa conta recuou de US$ 31,9para US$ 7,2 bilhes, entre janeiro-abril de 2015 para o mesmo perodo deste ano. Na contareferente aos servios, destacaram-se os menores gastos com viagens de turistas brasileirosao exterior (de US$4,8 para US$1,7 bilhes), pagamento de juros (de US$ 8,5 para US$7,2bilhes), despesas com transportes (US$2,4 para US$1,0 bilho) e com aluguel deequipamentos (US$7,2 para US$6,6 bilhes).

    Em sntese, os supervits comerciais, que nos primeiros quatro meses do ano foram

    responsveis por 75% da reduo do dficit nas transaes correntes, continuam sendoobtidos, sobretudo, pela forte contrao das importaes, cujas quantidades internadasapresentaram queda de 5,6%, como reflexo da crise econmica que o pas atravessa.

    As exportaes, embora agregando pouco valor ao saldo comercial, mostraramcrescimento de 6,5% da quantidade embarcada, conforme dados levantados pelaAssociao de Comrcio Exterior do Brasil (AEB), para esse perodo. Desse modo, ocomrcio exterior proporcionou dupla contribuio positiva para o resultado do PIB, cujaqueda de 0,3% no primeiro trimestre do ano teria sido maior sem essa contribuio.

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    Indicadores de Conjuntura Selecionados:

    Variao Acumulada

    2016/2015 (%)

    Crdito Pessoa Fsica 1,4% (1)

    InflaoIPCA 9,3% (1)Produo Industrial -7,2% (2)

    Vendas do Varejo -6,7% (2)

    Receitas Governo Central 3,9% (3)

    Despesas Governo Central 12,3% (3)

    Exportaes -0,2%(4)

    Importaes -24,3% (4)

    Taxa de Cmbio 20,4% (1)

    Fonte: IBGE, Banco Central, STN, MDIC/SECEX, IEGV/ACSP.

    (1) Variao acumulada em 12 meses.(2) Variao abril 2016abril 2015.(3) Variao janeiro-abril 2016janeiro-abril 2015.