boletim clg 4

6
A cada dia que passa, a greve nas Institui- ções Federais de Ensi- no cresce. Não só pro- fessores, mas tam- bém estudantes estão aderindo ao movimen- to de greve que já é considerado histórico devido ao grande nú- mero de adesões des- de o dia de sua defla- gração, em 17 de mai- o. Mais de 80% da base do sindicato está participando da luta. De acordo com infor- mações do ANDES- SN, as últimas institui- ções a paralisarem suas atividades foram a Universidade Fede- ral do ABC, a Universi- dade de Integração Latino Americana e o Centro Federal de E- ducação Tecnológica do Rio de Janeiro. No total, já são 51 institu- ições federais em gre- ve, o que mostra a força da reivindicação Greve 2012 tem adesão histórica de IFES Notícia ESTUDANTES APOIAM A GREVE DOS PROFESSORES P.3 Artigo A GREVE DOS PROFESSO- RES DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS P.4 E 5 11 a 17 de junho de 2012 N ° 4 ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE Boletim CLG No dia 5 de junho, o- correu em Brasília um dia de mobilização na- cional. O Fórum Nacio- nal das Entidades dos Servidores Públicos Federais (composto por 31 entidades) organi- zou a Marcha na Espla- nada dos Ministérios, que contou com uma participação de cerca de 15 mil pessoas. Caravanas com profes- sores de instituições Federais de Ensino em greve participaram do ato, que reuniu estu- dantes e trabalhadores federais de todo o Bra- sil. Ela teve início na Catedral e seguiu para o Palácio do Planalto, onde ocupou a praça dos três Poderes e con- centrou-se em frente ao Ministério do Plane- jamento. Na mesma data ocor- reu uma reunião do CNG/ANDES-SN com o Ministro da Educação, devido à pressão pro- vocada pela mobiliza- ção nacional. Porém, não houve avanço nas negociações. O Minis- tro Aloizio Mercadante, informou que o gover- no analisará a luta da Marcha em Brasília e reunião com governo marcam dia 05/06 categoria a partir da conjuntura da crise in- ternacional, o que, pa- ra o CNG/ANDES-SN, é um argumento infun- dado. dos professores. Esti- ma-se que a Universi- dade Federal de San- ta Catarina também entre em greve. Todos os dias, o Co- mando Nacional de Greve (CNG) recebe moções de apoio ao movimento, seja de outras universidades que estão se mobili- zando para participar da greve, seja de cate- gorias de trabalhado- res que reconhecem a necessidade de mu- danças para uma me- lhor qualidade da edu- cação superior públi- ca. Fonte: ADUFCG

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O Boletim CLG é um periódico do Comando Local de Greve da ADUFS com informações sobre o movimento grevista dos professores federais da UFS.

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Page 1: Boletim CLG 4

A cada dia que passa,

a greve nas Institui-

ções Federais de Ensi-

no cresce. Não só pro-

fessores, mas tam-

bém estudantes estão

aderindo ao movimen-

to de greve que já é

considerado histórico

devido ao grande nú-

mero de adesões des-

de o dia de sua defla-

gração, em 17 de mai-

o. Mais de 80% da

base do sindicato está

participando da luta.

De acordo com infor-

mações do ANDES-

SN, as últimas institui-

ções a paralisarem

suas atividades foram

a Universidade Fede-

ral do ABC, a Universi-

dade de Integração

Latino Americana e o

Centro Federal de E-

ducação Tecnológica

do Rio de Janeiro. No

total, já são 51 institu-

ições federais em gre-

ve, o que mostra a

força da reivindicação

Greve 2012 tem adesão histórica de IFES Notícia

ESTUDANTES APOIAM A

GREVE DOS PROFESSORES

P.3

Artigo

A GREVE DOS PROFESSO-

RES DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS P.4 E 5

11 a 17 de junho de 2012 N° 4

A S S O C I A Ç Ã O D O S D O C E N T E S D A U N I V E R S I D A D E F E D E R A L D E S E R G I P E

Boletim CLG

No dia 5 de junho, o-

correu em Brasília um

dia de mobilização na-

cional. O Fórum Nacio-

nal das Entidades dos

Servidores Públicos

Federais (composto por

31 entidades) organi-

zou a Marcha na Espla-

nada dos Ministérios,

que contou com uma

participação de cerca

de 15 mil pessoas.

Caravanas com profes-

sores de instituições

Federais de Ensino em

greve participaram do

ato, que reuniu estu-

dantes e trabalhadores

federais de todo o Bra-

sil. Ela teve início na

Catedral e seguiu para

o Palácio do Planalto,

onde ocupou a praça

dos três Poderes e con-

centrou-se em frente

ao Ministério do Plane-

jamento.

Na mesma data ocor-

reu uma reunião do

CNG/ANDES-SN com o

Ministro da Educação,

devido à pressão pro-

vocada pela mobiliza-

ção nacional. Porém,

não houve avanço nas

negociações. O Minis-

tro Aloizio Mercadante,

informou que o gover-

no analisará a luta da

Marcha em Brasília e reunião com governo marcam dia 05/06

categoria a partir da

conjuntura da crise in-

ternacional, o que, pa-

ra o CNG/ANDES-SN, é

um argumento infun-

dado.

dos professores. Esti-

ma-se que a Universi-

dade Federal de San-

ta Catarina também

entre em greve.

Todos os dias, o Co-

mando Nacional de

Greve (CNG) recebe

moções de apoio ao

movimento, seja de

outras universidades

que estão se mobili-

zando para participar

da greve, seja de cate-

gorias de trabalhado-

res que reconhecem a

necessidade de mu-

danças para uma me-

lhor qualidade da edu-

cação superior públi-

ca.

Fon

te:

AD

UFC

G

Page 2: Boletim CLG 4

Com mais de 15 mil ser-

vidores, de todos os can-

tos do país, a Marcha em

Brasília demonstrou a

unidade dos diferentes

setores do funcionalismo

público federal, prenunci-

ando uma das maiores

greves a ser realizada no

serviço público. Em ple-

nária ampliada na Espla-

nada dos Ministérios na

tarde do último dia 5 de

junho, mais de 800 re-

presentantes das 31 en-

tidades que compõem o

Fórum Nacional das Enti-

dades dos Servidores

Públicos Federais vota-

ram pela greve geral no

funcionalismo a partir de

11 de junho.

Desse modo, a greve dos

docentes das Instituições

Federais de Ensino Supe-

rior ganha uma nova di-

nâmica com a deflagra-

ção da greve dos servido-

res públicos federais. A

passagem de uma greve

específica para uma gre-

ve geral do serviço públi-

co federal implica em

novas atribuições ao Co-

mando Local de Greve,

especialmente impondo

uma articulação mais

decisiva dos Docentes

com outros setores do

funcionalismo público em

Sergipe. Para tanto, foi

deliberada a rearticula-

ção do Fórum em Defesa

do Serviço Público na

última Assembleia do dia

5 de junho, mas, como a

conjuntura favorece a

organização de um Co-

mando Estadual de Gre-

ve do Serviço Público,

pensamos que essa pro-

posta deva ser discutida

e construída com a incor-

poração dos novos seg-

mentos de funcionários

públicos federais em gre-

ve.

Mesmo que as entidades

tenham apontado dias

diferenciados para o mo-

mento da deflagração,

nessa semana temos

uma greve geral do setor

da educação (FASUBRA e

SINASEFE), o que nos

impõe também a necessi-

dade de criação de um

Comando Unificado de

Greve na Universidade

Federal de Sergipe. O

Diretório Central dos Es-

tudantes não tem cum-

prido a histórica bandeira

de defesa da Universida-

de Pública, Gratuita e de

Editorial

2

Boletim CLG

Qualidade, ao não convo-

car uma Assembleia Ge-

ral para que os estudan-

tes possam se incorporar

a cerca de 30 universida-

des que decretaram a

greve estudantil. Vive-

mos um momento histó-

rico e isto exige uma

grandeza de superar di-

vergências e construir

uma unidade da luta em

defesa da Universidade

contra o modelo hoje

existente de prestadora

de serviços.

É importante destacar

que a deflagração da

greve geral dos servido-

res soma forças à parali-

sação dos docentes e,

portanto, a greve dos

professores não se dilui

na do funcionalismo fe-

deral. É um momento de

fortalecimento da nossa

greve, mas também da

necessidade de ampliar-

mos o fortalecimento do

movimento paredista.

Por isso, conclamamos

todos os docentes para

se integrar às diversas

atividades que iremos

desenvolver ao longo da

semana, mas principal-

mente na construção de

um grande ato público no

próximo dia 19 de junho

no centro de Aracaju,

quando a Universidade

volta à rua.

CHARGE DA

SEMANA

EXPEDIENTE DIRETORIA 2010-2012—GESTÃO “A LUTA CONTINUA”

Presidente: Antônio Carlos Campos; Vice-Presidente: Marcos Antônio da Silva Pedroso; Secretária: Manuela Ramos da Silva; Diretor Administrativo e Financeiro: Júlio Cesar Gandarela Resende; Diretor Acadê-

mico e Cultural: Fernando de Araújo Sá. Suplentes: Sonia Cristina Pimentel de Santana e Carlos Dias da Silva Júnior

Boletim produzido pela ADUFS - Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe do Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior

Endereço: Av. Marechal Rondon, s/n, bairro Rosa Elze, São Cristóvão-SE

Jornalismo: Raquel Brabec (DRT- 1517)

O conteúdo dos artigos assinados é de responsabilidade dos autores e não corresponde necessariamente à opinião da diretoria da ADUFS

Contato ADUFS: Tel.: (79) 3259-2021 E-mail: [email protected] Site: http://www.adufs.org.br

Page 3: Boletim CLG 4

3

N° 4

Greve dos professores recebe moções de apoio

"O Coletivo Nacional Barri-

cadas abrem Caminhos

vem por meio desta nota

se posicionar a favor da

greve dos professores fe-

derais, em especial os

professores da UFS, por

compreendermos que a

luta da reestruturação da

carreira e por melhorias

das condições de trabalho

é uma luta justa.

Entendemos que a educa-

ção brasileira passa por

um momento de reestrutu-

ração que só vem a con-

templar a lógica produtivis-

ta do capital, no qual os

grandes investidores da

educação privada são os

beneficiados. Basta lem-

brar que a educação supe-

rior privada ocupa a se-

gunda posição em investi-

mentos na bolsa de valo-

res. Esse fortalecimento

das IES privadas se deu

principalmente no governo

Lula (PT) com a criação do

PROUNI, onde são injeta-

dos grandes quantias de

dinheiro que deveriam ser

destinados às IES públi-

cas.

Nas universidades públi-

cas, o governo Lula im-

plantou o Programa de

Reestruturação e Expan-

são das Universidades

(Reuni) e que foi imposto

pelo MEC com uma apa-

rência democrática, ocor-

rendo um aumento signifi-

cativo do número de estu-

dantes, porém o aumento

do número de salas, labo-

ratórios e professores não

aconteceu na mesma pro-

porção.

A UFS, por exemplo, sofre

com vários problemas es-

truturais que afetam a

formação dos estudantes

e o trabalho dos professo-

res e técnicos. As salas de

aulas lotadas e a insufici-

ência dos projetos de pes-

quisa e extensão são refle-

xos dessa precarização.

Com isso, a Universidade

deixa de exercer sua fun-

ção social baseada no

tripé ensino, pesquisa e

extensão, e os professores

passaram a ser pequenos

“gestores” de projetos e

captadores de recurso

para viabilizar o trabalho

acadêmico.

Por fim, entendemos que

ser a favor da greve é se

posicionar contra a atual

Reforma Universitária, que

sucateia nossas universi-

dades, precariza e privati-

za o ensino superior. Posi-

cionamo-nos contra o PLP

549/09 (que congela por

10 anos o salário dos ser-

vidores federais), o PL

1749/2011 (que privatiza

os Hospitais Universitários

Federais) e o atual modelo

de expansão que não pre-

vê a contratação propor-

cional de professores e

não destina verba suficien-

te às universidades, além

de não garantir infraestru-

tura para as demandas

impostas pelo governo

federal. Lutamos e nos

colocamos lado a lado

com a greve, defendendo

uma Educação pública,

gratuita, socialmente refe-

renciada e de qualidade

para todas e todos!"

"O Levante Popular da Ju-

ventude, movimento que

organiza jovens do campo

e da cidade e com inte-

grantes em várias Universi-

dades Federais no Brasil,

vem a público declarar

apoio à ADUFS e aos do-

centes da UFS em razão da

greve deflagrada.

Desde seu início de atua-

ção na UFS, o Levante colo-

cou-se ao lado das lutas

travadas em defesa da

educação pública, reafir-

mando o nosso compromis-

so com a luta por um proje-

to popular para a educação

brasileira. Algumas das

nossas principais constru-

ções foram: semana "Cotas

Sim!", marcha pela UFS no

Sertão, participação na

chapa "O Novo Sempre

Vem" para eleições do DCE,

além da atuação no CON-

SU e CONEPE. Rompendo

os muros da universidade,

também organizamos os

"escrachos" dos torturado-

res e apoiadores da ditadu-

ra civil-militar no Brasil e o

ato contra o racismo no

Shopping Jardins.

Entendemos serem justas

as reivindicações da cate-

goria, que tratam da rees-

truturação da carreira do-

cente com valorização do

piso salarial e incorporação

das gratificações, além das

lutas pela melhoria das

condições de trabalho nas

universidades. Compreen-

demos que estas reivindi-

cações são uma luta de

todo o povo brasileiro e

precisam ser atendidas

imediatamente pelo gover-

no federal.

Por isso, parabenizamos a

disposição e coragem dos

professores(as), que em

luta ousam defender uma

educação melhor para a

sociedade brasileira. Tam-

bém reafirmamos o nosso

total apoio à greve dos

docentes, nos colocando

sempre ao lado dos que

lutam e jamais perdem a

esperança de alcançar as

transformações necessá-

rias para a educação brasi-

leira. "A greve deve ser do

tamanho de nossa indigna-

ção!"

Page 4: Boletim CLG 4

O Ministro da Educação, o

senhor Aloísio Mercadan-

te, se diz surpreso com a

deflagração da greve na-

cional dos professores

universitários federais. É

compreensível, primeiro

porque o MEC esteve au-

sente e omisso durante

todo o processo de negoci-

ação ocorrido durante o

ano passado e parece des-

considerar a real situação

dos professores e as dis-

torções da atual forma na

qual se estrutura a carrei-

ra docente. Vejamos por-

que para nós a greve não

só não surpreende como

se apresenta necessária.

Razões da greve

Há dois anos que os pro-

fessores negociam com o

governo seu projeto de

carreira docente e para

tanto o ANDES construiu a

partir de um amplo debate

com a categoria um ante-

projeto de lei no qual é

apresentada nossa pro-

posta de uma carreira do-

cente única com 13 níveis

remuneratórios baseado

no tempo de carreira, na

titulação e na avaliação

realizada com autonomia

e por critérios objetivos

definidos com fundamen-

tos acadêmicos.

A posição do ANDES, que

consideramos correta, é

que nossa discussão sala-

rial deveria ser feita com

base em um projeto de

carreira, ou seja, não nos

interessa a mera discus-

são de um índice de au-

mento salarial ou de recu-

peração de perdas se não

atacamos as raízes das

distorções que dividem

nossa carreira e geram

desigualdades injustificá-

veis entre professores. Por

exemplo, na concepção do

governo a carreira dos

docentes do ensino públi-

Boletim CLG

A GREVE DOS PROFESSORES DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS

4

co federal se divide em

ensino universitário e do

ensino básico, técnico e

tecnológico (que inclui os

professores dos Colégios

de Aplicação, ensino técni-

co de segundo grau, etc.)

Sabemos das especificida-

des destes setores, mas

segundo nossa visão são

diferenças de função e

não de profissão, somos

professores do ensino pú-

blico federal com diferen-

tes atribuições dentro de

uma mesma carreira.

Outra divisão, esta dentro

do mesmo campo do ensi-

no universitário, é aquela

que compõe nossa atual

carreira e que nos divide

em professores auxiliares,

adjuntos, assistentes e

titulares, esse último cons-

tituindo uma carreira à

parte que inclusive exige

novo concurso. Ora, essa

distinção se fundamenta

em um pressuposto quase

feudal, próprio de um mo-

delo universitário anacrô-

nico e autoritário em fron-

tal contradição com o mo-

delo de universidade e

sociedade que defende-

mos. Sua base é a concep-

ção de que existe um gru-

po de professores “donos”

de certa área ou disciplina

e que dão algumas aulas

durante o ano comunican-

do seus estudos e pesqui-

sas assim como seu acú-

mulo teórico sobre um

tema e são auxiliados por

professores que o circun-

dam como assistentes ou

adjuntos e estes por auxili-

ares numa hierarquia que

implica mais que uma divi-

são de trabalho: uma lógi-

ca de poder.

Isso não faz sentido na

realidade da universidade

brasileira que desde a

constituição de 1988 em

seu artigo 207 estipula a

articulação entre ensino,

pesquisa e extensão. Na

prática tal conformação

divide a categoria em fai-

xas remuneratórias que

funcionam como um funil

em que poucos podem

chegar ao final da carreira

e a salários maiores e a

maioria fica presa nas fai-

xas intermediárias. Segun-

do estudo promovido pela

ADUFRJ, por exemplo, na

UFRJ, mais de 80% se apo-

sentam como professor

adjunto 4.

A proposta inicial do gover-

no criava mais um pata-

mar que denominou de

Professor Sênior, hoje reti-

rada da proposta, extin-

guindo a carreira de pro-

fessor titular, que impunha

aos professores mais qua-

tro degraus até o final da

carreira e impunha crité-

rios que fechava ainda

mais a saída do funil.

Durante todo o ano de

2011, o ANDES acompa-

nhou uma longa e tortuosa

enrolação do MPOG que

supostamente deveria

debater as propostas apre-

sentadas sobre a carreira

buscando aproximações e

diferenças visando chegar

a uma proposta negocia-

da. Sob uma série de pre-

textos, o governo protelou

as reuniões, quando não

as desmarcou unilateral-

mente numa total falta de

respeito ao que havia sido

combinado. O fato que

chegamos ao final do ano

sem que um milímetro da

negociação sobre a carrei-

ra docente houvesse sido

acordado.

No final do ano passado, o

governo apresenta uma

proposta emergencial,

diante do impasse na ne-

gociação, que consistia

basicamente em três pon-

tos: aumento emergencial

de 4% a ser pago seis me-

ses adiante (em março de

2012); incorporação de

uma das gratificações ao

v e n c i m e n t o b á s i c o

(GEMAS para ensino supe-

rior e GEDBT pra o ensino

básico, técnico e tecnológi-

co). Até maio deste ano o

governo não havia cumpri-

do sequer o acordo emer-

gencial.

O governo apresentou um

Projeto Lei que incluía os

termos acordados ao final

de 2011 e o transformou

em Medida provisória ago-

ra em maio (a MP 568).

Ocorre que junto com o

aumento de 4% e a incor-

poração das gratificações,

agrega inúmeras medidas

referente a várias categori-

as do funcionalismo que

não foram negociadas e

que pode gerar perdas

para os trabalhadores,

como é o caso da mudan-

ça do cálculo da insalubri-

dade que afeta diretamen-

te os médicos.

O acordo e seu injustificá-

vel atraso é insuficiente.

Neste sentido, a greve dos

professores não é apenas

pelo seu cumprimento,

mas pela imediata abertu-

ra de uma negociação sé-

ria sobre nossa carreira e

pelo enfrentamento das

causas que levam hoje à

precarização do trabalho

docente, das condições de

trabalho e das instalações

universitárias. Esse aspec-

“ATÉ MAIO DESTE

ANO, O

GOVERNO NÃO

CUMPRIU

SEQUER O

ACORDO

EMERGENCIAL”

Page 5: Boletim CLG 4

N° 4

5

to está ligado diretamente

à expansão realizada pelo

governo que não veio a-

companhada dos recursos

necessários para sua im-

plementação, gerando

salas de aulas superlota-

das, pressões para um

aumento da carga horária

dos docentes em sala de

aula, prejudicando a rela-

ção entre ensino, pesquisa

e extensão, falta de pro-

fessores, precariedade de

instalações.

Na verdade, o sucatea-

mento da universidade

pública e a maneira como

o governo entende o setor

revela uma concepção de

Estado que está na base

do projeto de governo que

se implantou em nosso

país. O ensino público é

concebido como um servi-

ço oferecido que deve dis-

putar o mercado e seus

“clientes/consumidores”

com as demais empresas

do setor e para tanto deve

assumir uma lógica geren-

cial fundada na “eficácia”,

entendida como produzir o

serviço com os recursos

existentes e ter iniciativa

de captar os recursos adi-

cionais necessários. Daí as

Universidades são incita-

das a buscar recursos na

iniciativa privada, seja a-

través de projetos de par-

ceria, financiamento de

pesquisa e de desenvolvi-

mento tecnológico, através

de fundações ou outras

formas.

Além desta prática que-

brar a autonomia universi-

tária e o necessário finan-

ciamento público, gera

distorções e diferenças

não apenas entre unida-

des da Universidade, com

centros e unidades com

grandes somas de recurso

e outras com recursos

abaixo do mínimo neces-

sário, o que se reflete não

apenas nas instalações,

mas na própria capacida-

de de produção de pesqui-

sas, intercâmbios e visibili-

dade de sua produção

acadêmica e científica;

como, também, entre os

professores e sua remune-

ração.

A situação atual é produto

desta opção. Por isso se

explica o abandono de

uma política, não de valori-

zação dos salários, mas

mesmo de sua recomposi-

ção. Se considerarmos os

salários nominais entre

1998 e 2011 de categori-

as do serviço público fede-

ral que exigem a mesma

formação e que se com-

põe de atividades simila-

res, como por exemplo os

profissionais de Ciência e

Tecnologia e os pesquisa-

dores do IPEA, temos que

em 1998 os professores

universitários recebiam R$

3.388,31, os pesquisado-

res do IPEA R$ 3.128,20

e do MCT recebiam R$

2.6632,36. Em 2011 a

situação se inverte de for-

ma que os pesquisadores

do IPEA ganham R$

12.960,77, em segundo

lugar os profissionais do

MCT com R$ 10.350,68, e

os professores passaram

para a última posição com

R$ 7.333,67, sendo a pior

remuneração entre os fun-

cionários públicos com

este nível de formação

exigido.

Isso considerando a cate-

goria como um todo, pois

as divisões as quais nos

referíamos no interior da

carreira existente e que

permanecem na proposta

do governo, fazem com

que os aumentos ofereci-

dos concentrem-se no alto

da pirâmide e se diluam

nas categorias intermediá-

rias e na base. O secretá-

rio de relações do trabalho

do MPOG, Sérgio Mendon-

ça, por exemplo, alega que

considerada no conjunto

os professores tiveram

reposta a inflação do perí-

odo relativo aos governos

de Lula e Dilma (57,1 %).

No entanto, considerando

as diferenças, os extratos

superiores da carreira,

como professores titulares

e assistentes 3 e 4, tive-

ram em media seus salá-

rios ajustados em torno de

15% acima da inflação,

enquanto os adjuntos,

faixa na qual se encontra

a maior parte dos profes-

sores inclusive os aposen-

tados, amargam uma defa-

sagem que chega à 40%

abaixo da inflação do perí-

odo.

Para o governo esse não é

um problema da educa-

ção, de uma política para

universidade brasileira,

mas um problema de ges-

tão, não é por acaso que o

principal negociador du-

rante todo esse tempo não

foi o MEC, um ilustre au-

sente e omisso nesse de-

bate, seja com Haddad,

seja agora com Mercadan-

te, um político que traz no

nome a marca de seu

compromisso, mas o Mi-

nistério de Planejamento.

Os professores universitá-

rios são vistos como uma

categoria privilegiada que

trabalha pouco e ganha

altos salários, e a universi-

dade um antro de maus

gestores e de desperdício

do dinheiro público, justifi-

cando o controle que rou-

ba a autonomia universitá-

ria, uma limitação de re-

cursos e o destino de com-

pletá-los no mercado e das

parcerias, condenando a

universidade a se transfor-

mar em uma central de

serviços. Nesse cenário,

os professores tornam-se

mascates de projetos e

que têm, se quiser cumprir

os requisitos para ascen-

der na carreira, que dar

aulas (muitas aulas), parti-

cipar de projetos de exten-

são, da pesquisa, da pós-

graduação, além de parti-

cipar dos espaços coleti-

vos de gestão da vida uni-

versitária que se tornam

cada vez mais homologa-

tórios e formais. O resulta-

do disso é o adoecimento

dos professores e a inse-

gurança na carreira, que é

cada vez mais preterida.

Por tudo isso, os professo-

res estão em greve, a mai-

or greve do último período.

Devemos isso ao país,

porque precisamos de

uma universidade pública

de qualidade, ainda que

lutemos por mais que isso,

para que esta universida-

de pública também reflita

os interesses dos trabalha-

dores e da maioria da po-

pulação lutando por aquilo

que chamamos da luta por

uma Universidade Popular.

Devemos isso, também, a

nós mesmos, os professo-

res, porque merecemos

respeito e precisamos res-

gatar nossa dignidade;

mas, principalmente, deve-

mos isso aos nossos queri-

dos alunos que merecem

uma educação de qualida-

de e uma verdadeira aula.

Nós não podemos impedir

que os exploradores se

comportem como tal. Mas,

podemos e devemos deci-

dir não ser seus cúmplices

e dizer em alto e bom tom:

se quiserem destruir a

Universidade Pública terão

que fazer sem nosso con-

sentimento, sem nossa

omissão, terão que fazê-lo

contra nós e isso não se

dará sem luta.

Mauro Iasi, professor ad-

junto da Escola de Serviço

Social da UFRJ e presiden-

te da ADUFRJ. Artigo publi-

cado em Brasil de Fato

04/06/12

Page 6: Boletim CLG 4

Boletim CLG

Confira agenda de atividades do Comando Local de Greve

Uma greve em defesa da universidade pública: pela carreira docente, por salários e

por melhores condições de trabalho.