boletim clg 9

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Boletim CLG ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE 16 a 22 de julho de 2012 9 Governo ameaça cortar ponto de grevistas e provoca indignação das categorias compromisso com o apoio à greve dos docentes e seu empenho em dialogar com parlamentares e com o Ministério da Educação, no sentido da agilizar o processo de negociação. Na UFS, o reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho confirmou que não é prática frequente das universidades aderirem a medidas de corte de ponto. Greve Além dos docentes, diversos órgão defla- graram greve, entre eles Funasa, Ministério da Saúde, Ministério do Planejamento, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Integração Nacional, Ministério do Desenvolvimento Agrá- rio, Ministério da Justiça, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ministério da Agricultura. Os professores federais estão parados a dois meses. Eles reivindicam reformulação do Plano de Carreira e melhores condições de trabalho. Já são 60 institutos federais em greve, o que corresponde a um percentual de mais de 95%. Após pressões por parte da categoria, o MPOG convocou o ANDES, Sinasefe e Proifes para uma reunião na sexta- feira, 13, ocasião em que apresentou uma proposta de negociação. O CNG reprovou a proposta e a O governo federal anunciou no dia 6 de julho a autorização de corte de ponto dos servidores grevistas de variados setores, incluindo os professores. A Secretaria de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (SRT/MPOG) direcionou o comunicado número 552047 para todos os dirigentes de Recursos Humanos dos órgãos e entidades da administração pública federal. O documento orienta os dirigentes para a adoção das providências na folha de pagamento do servidor para efetuar o corte de ponto referente aos dias parados e ainda solicita deles enca- minhamento de informações sobre a extensão das parali- sações. A medida provocou uma onda de reações nas categorias em greve. O Comando Nacional de Greve (CNG) do ANDES- SN emitiu nota de repúdio contra a tentativa do governo de criminalizar o movimento. Segundo a nota, o comunicado é uma ameaça inaceitável ao direito constitucional de greve e uma tentativa de espalhar medo entre a categoria. O Comando informou que não recuará diante das pressões do governo. Em reunião ocorrida no dia 10 de julho entre a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e o CNG, o presidente da Andifes, João Martins, reafirmou seu posição do governo. O comando também avalia que o movimento de greve entra em momento de enfrentamento, ou seja, de intensificar a mobilização, radicalizar as ações de greve e manter a negociação dos professores. (Com informações do ANDES- SN e G1 Globo) Professores entregam pauta para reitor P.3 Avaliação política do ANDES-SN P.4 Notícia Artigo

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O Boletim CLG é um periódico do Comando Local de Greve da ADUFS com informações sobre o movimento grevista dos professores federais da UFS

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Page 1: Boletim CLG 9

Boletim CLG

ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

16 a 22 de julho de 20129

Governo ameaça cortar ponto de grevistas e provoca indignação das categorias

compromisso com o apoio à greve dos docentes e seu empenho em dialogar com par lamentares e com o Ministério da Educação, no sentido da agilizar o processo de negociação. Na UFS, o reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho confirmou que não é prática frequente das universidades aderirem a medidas de corte de ponto.

Greve

Além dos docentes, diversos órgão defla-graram greve, entre eles Funasa, Ministério da Saúde, Ministério do Planejamento, Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Integração Nacional, Ministério do Desenvolvimento Agrá-rio, Ministério da Justiça, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ministério da Agricultura.

Os professores federais estão parados a dois meses. Eles reivindicam reformulação do Plano de Carreira e melhores condições de trabalho. Já são 60 institutos federais e m g r e v e , o q u e c o r r e s p o n d e a u m percentual de mais de 95%.

Após pressões por parte da categoria, o MPOG convocou o ANDES, Sinasefe e Proifes para uma reunião na sexta-feira, 13, ocasião em que apresentou uma proposta de negociação. O CNG reprovou a proposta e a

O governo federal anunciou no dia 6 de julho a autorização de corte de ponto dos servidores grevistas de variados setores, incluindo os professores. A Secretaria de Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento, O r ç a m e n t o e G e s t ã o (SRT/MPOG) direcionou o comunicado número 552047 para todos os dirigentes de Recursos Humanos dos órgãos e entidades da administração pública federal.

O documento orienta os dirigentes para a adoção das providências na folha de pagamento do servidor para efetuar o corte de ponto referente aos dias parados e ainda solicita deles enca-minhamento de informações sobre a extensão das parali-sações.

A medida provocou uma onda de reações nas categorias em greve. O Comando Nacional de Greve (CNG) do ANDES-SN emitiu nota de repúdio contra a tentativa do governo de criminalizar o movimento. S e g u n d o a n o t a , o comunicado é uma ameaça i n a c e i t á v e l a o d i r e i t o constitucional de greve e uma tentativa de espalhar medo entre a categoria. O Comando informou que não recuará diante das pressões do governo.

Em reunião ocorrida no dia 10 de julho entre a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e o CNG, o presidente da Andifes, João Martins, reafirmou seu

pos ição do governo. O comando também avalia que o movimento de greve entra em momento de enfrentamento, ou s e j a , d e i n t e n s i f i c a r a mobilização, radicalizar as ações de greve e manter a negociação dos professores.

(Com informações do ANDES-SN e G1 Globo)

Professores entregam pauta

para reitor P.3

Avaliação políticado ANDES-SN

P.4

Notícia

Artigo

Page 2: Boletim CLG 9

Editorial

Durante este período de greve, muitos dos profissionais diretamente envolvidos no movimento têm escutado, nos diálogos que se produzem por força de sua mobilização, expressões como “é natural que se tome tal medida”, “isso já é esperado”, “tem sido sempre assim”, e, deste modo, natural izam-se posturas que absolutamente não são de geração espontânea. Correspondem, na verdade, a escolhas, alinhamento político, tomadas de decisão.

É, sim, com escolhas que temos tratado. O silêncio de quase dois meses diante do cenário de um milhão de alunos sem aulas é uma escolha. O anúncio de corte de ponto do trabalhador em greve, conforme observado no último dia 06 de julho, não é natural, é cultural e histórico, é a escolha por um (já desgastado) modo de intimidação. Acionar a força policial, como mediadora de um diálogo com/entre categorias trabalhistas em greve – o que se viu em nosso ato unificado, em frente ao IFS, nesta sexta-feira treze – é uma escolha, uma péssima escolha, diga-se de passagem, considerando todo o tempo

2

Reuniao?

Que?

Cuma?

Quando vamosmarcar uma reuniao para

negociar a greve?

DOCE

NTES

EM G

REVE

Charge da semana

FILME: "ADEUS, PRIMEIRO AMOR’’

Direção:Mia Hansen-Love

Sinopse:Camille e Sullivan vivem pela primeira vez

a sensação do amor. O casal tem um relacionamento inocente, despretensioso

e maduro para a idade deles. Quando Sullivan decide deixar o país,os sonhos de ambos caem por terra,

fazendo-os sentir um tipo de dor até entãodesconhecido.

CONVITECINE GREVE UNIFICADO

DATA: 18/7 (QUARTA) HORA: 15hLOCAL: AUDITÓRIO DA ADUFS

decorrido desde o período de ditadura militar e as inúmeras conquistas já alcançadas pelo movimento trabalhista de nosso país.

Já as nossas escolhas têm mantido uma coerência com a carreira que escolhemos para nossas vidas. Somos pela educação nos diversos níveis. Durante esta semana, estivemos presente em reuniões d o s c o n s e l h o s s u p e r i o r e s . Entregamos ao reitor da UFS a pauta local, produto de nossas d i s c u s s õ e s a n t e r i o r e s e concomitantes ao movimento grev is ta . Real izamos nossa a s s e m b l e i a g e r a l , mantendo nossa base informada e em s in ton ia com as ações e escolhas praticadas. Mantivemos a agenda do Cine-Greve. Realizamos ato unificado em frente ao IFS, de Aracaju, no qual a força de nosso movimento e a integração com outras c a t e g o r i a s f i c a r a m evidentes.

Esperamos, portanto, que se amplie a discussão por uma educação superior pública, gratuita e de qualidade social. Que a gestação desta proposta por um plano de carreira docente, tão difícil e ameaçada pelas águas turvas da falta de negociação, chegue a um término satisfatório. A fim de que não tenhamos nossa carreira ameaçada de extinção, embora estejamos no topo de importância para a t ransformação da sociedade brasileira.

A greve continua forte. Contribua na construção de uma

universidade de qualidade!

EXPEDIENTEDIRETORIA 2010-2012 - GESTÃO ‘‘A LUTA CONTINUA’’Presidente: Antônio Carlos Campos; Vice-presidente: Marcos Antônio da Silva Pedroso; Secretária: Manuela Ramos da Silva; Diretor Administrativo e Financeiro: Júlio Cesar Gandarela Resende;Diretor Acadêmico e Cultural: Fernando de Araújo Sá. Suplentes: Sonia Cristina Pimentel de Santana e Carlos Dias da Silva JuniorBoletim produzido pela ADUFS - Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe do Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino SuperiorEndereço: Av. Marechal Rondon, s/n, bairro Rosa Elze, São Cristóvão-SE Jornalismo: Raquel Brabec (DRT-1517) Estagiário em Design Gráfico: Fernando CaldasO conteúdo dos artigos assinados é responsabilidade dos autores e não corresponde necessariamente à opinião da diretoria da ADUFS Contato ADUFS: Tel.: (79) 3259-2021E-mail: adufs@infonet .com.br Site: http://www.adufs.org.brN° de Tiragem: 1000 exemplares

Page 3: Boletim CLG 9

Nº9

Professores entregam pauta de reivindicações locais para reitor da UFS

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Durante reunião ocorrida no dia 11 de julho, os docentes da UFS realizaram a e n t r e g a d a p a u t a l o c a l d e reivindicações para o reitor Josué Modesto dos Passos Subrinho. A pauta aprovada em assembleia se refere a diretrizes para o bom funcionamento da universidade, promovendo ações para construção de uma universidade autônoma, democrática e socialmente referen-ciada. Marcaram presença também membros do Comando de Greve do SINTUFS.

A pauta conta com cinco tópicos que trazem benefícios para servidores, contratados e alunos. Eles são relativos a: Estatuinte (Autonomia da universidade e Democracia); Infra-

estrutura e Condições de Trabalho; Ensino; Pesquisa; Extensão.

Na reunião, os professores que fazem parte do Comando Local de Greve (CLG) apresentaram as medidas emergenciais da pauta para obterem respostas concretas por parte do reitor. Entre elas está a reformulação do calendário de pesquisa e pós-graduação para não prejudicar os prazos de estudantes e professores no período de greve. Foi realizada uma reunião com a Pró-reitoria de Pós-g r a d u a ç ã o e P e s q u i s a p a r a reorganização das datas. No próximo dia 18 de julho, às 9 horas, acontecerá u m a n o v a r e u n i ã o c o m o s coordenadores dos cursos de pós-graduação.

Outro assunto de destaque da reunião foi a situação de trabalho dos professores substitutos, temporários e dos tutores do Centro de Educação Supe r i o r à Distância (Cesad). O CLG af i rma que impedi r o professor substituto de aderir à greve é ilegal e solicita revisão do contrato da categoria. Também luta pela extinção do contrato do professor temporário e defende maior discussão sobre o funcionamento do Cesad, hoje considerado uma universidade dentro da

própria universidade. O reitor adiantou informações do MEC de que haverá repasse de 265 novas vagas de professor para UFS e se comprometeu a se informar sobre a situação do Cesad.

Os docentes também questionaram o reitor sobre o posicionamento da UFS quanto ao possível corte de salário dos servidores grevistas anunciado pelo governo federal. Segundo Josué, o anúncio do corte é um movimento previsível do governo e já aconteceu em outras ocasiões, sendo que não é uma prática frequente as univer-sidades aderirem a essa decisão.

Outro assunto de destaque da reunião foi a situação de trabalho dos professores substitutos, temporários e dos tutores do Centro de Educação Supe r i o r à Distância (Cesad). O CLG af i rma que impedi r o professor substituto de aderir à greve é ilegal e solicita revisão do contrato da categoria. Também luta pela extinção do contrato do professor temporário e defende maior discussão sobre o funcionamento do Cesad, hoje considerado uma universidade dentro da

própria universidade. O reitor adiantou informações do MEC de que haverá repasse de 265 novas vagas de professor para UFS e se comprometeu a se informar sobre a situação do Cesad.

Os docentes também questionaram o reitor sobre o posicionamento da UFS quanto ao possível corte de salário dos servidores grevistas anunciado pelo governo federal. Segundo Josué, o anúncio do corte é um movimento previsível do governo e já aconteceu em outras ocasiões, sendo que não é uma prática frequente as univer-sidades aderirem a essa decisão.

Representantes do CLG reuniram-se com reitor

O Comando Local de Greve (CLG) lançou no dia 10 de julho a “Cartilha para os Estudantes: Direitos dos Alunos e Deveres dos Professores”. O material foi produzido para informar os estudantes sobre seus direitos durante a greve dos docentes da UFS e minimizar os efeitos da paralisação das atividades acadêmicas na rotina do universitário.

O CLG produziu a cartilha ao longo de 1 mês. Utilizou como material base informações presentes em resoluções das normas acadêmicas da UFS e Leis de Diretrizes de Bases (LDB), que determinam o que os professores podem ou não fazer, independente de haver greve. Também foram feitas consultas de informação à direção do Departamento de Administração

Acadêmica (DAA)

Segundo a professora Maria Aparecida Silva Ribeiro, do Departamento de Letras da UFS, a cartilha foi criada com o objetivo de orientar os alunos que estão se sentindo lesados com a continuação das aulas por parte dos professores que não aderiram à greve. “Muitos alunos não sabem quais procedi-mentos adotar nessa situação. A cartilha mostra quais recursos eles possuem para evitar uma situação de constrangimento, como participar de aulas em locais inapropriados, por exemplo”, ressalta.

Confira alguns pontos da cartilha. Material completo disponível na sede da ADUFS.

> As aulas não podem ocorrer em

horários ou salas de aula diferentes das especificadas pela Pró-reitoria de Graduação no início do período letivo.

> Os alunos têm direito a reposição das aulas não ministradas durante a greve. A reposição das aulas ocorrerá de acordo com o calendário a ser divulgado no final da greve.

> As atividades virtuais e cobrança por e-mail são permitidas apenas se já estiverem previstas no plano de ensino apresentado pelo professor no início do ano.

> O professor ou departamento não pode fazer mudanças no plano de ensino após a sua divulgação no começo do período letivo.

Comando Local de Greve lança cartilha dos estudantes

Page 4: Boletim CLG 9

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Avaliação política sobre reunião ocorrida com o governo no dia 13/07

ANDES-SN

O movimento de greve resultou da indignação e reação por parte da categoria frente às condições de trabalho, a desestruturação da carreira e ao aviltamento salarial impostos no interior da Instituição Federal de Ensino (IFE) ao longo das duas últ imas décadas, resultado das políticas econômica, educacionais e de ciência e t ecno log ia que i nc l uem a subordinação da produção do conhecimento e dos processos de formação aos interesses mercantis.

Na maior greve das Instituições Federais de Ensino - IFE na história de nosso país, os docentes lutam pela pauta de reivindicações definida na base do ANDES-SN. A greve é forte, inclusive em alguns locais onde as bases derrotaram direções que não queriam a greve n e m e n f r e n t a r a s a ç õ e s governamentais que retiram direitos dos docentes.

A força da greve adquir iu proporções que ultrapassaram os muros das IFE e fez a sociedade perceber a gravidade da situação em que se encontram as IFE e, por conseguinte, a legitimidade das nossas reivindicações. Isso resultou na ampliação do apoio social a esta luta que, para além da defesa de uma carreira docente e de melhores condições de trabalho, pauta para a sociedade a defesa da educação pública de qualidade no país. O movimento grevista tem pressionado cada vez mais o governo, forçando-o ao processo de negociação com a categoria, tendo apresentado uma proposta no último dia 13.

Além disso, a força da greve e a intensificação da mobilização na base, através de atos públicos, debates, marchas nacionais, atividades no parlamento, unidade de ação com o setor da educação e os demais servidores públicos, reuniões com alto escalão do governo e entrega de carta a presidenta da república, dentre outras, geraram desgastes e agravou a situação do governo, forçando-o a se movimentar no marco de uma greve forte. O momento exige avaliar não só a força de nossa greve, mas não

desconhecer a capacidade de ação do governo que se vale da troca favores com o grande capital, o parlamento, a mídia, e políticas populistas e age diante do conflito para, ao responder ao movimento, manter seu projeto estratégico para o serviço público e para as IFE. A proposta apresentada no último dia 1 3 , q u e n ã o a t e n d e a s reivindicações de nossa greve, atesta o projeto mais amplo do governo para a sociedade brasileira.

Diante do quadro econômico internacional, usado pelo governo como justificativa de suas políticas contencionistas, da crise política pela qual passa o país e da força da nossa greve, o governo encena uma iniciativa frente à sociedade ao apresentar à m í d i a u m a proposta, de modo falacioso e antes mesmo de apresentá-la oficialmente ao m o v i m e n t o , tentando jogar a o p i n i ã o pública contra o movimento.

M e s m o o governo tendo sido forçado a responder ao movimento, a proposta por ele apresentada não atende às nossas reivindicações, pois está orientada pelos interesses do projeto macroeconômico de estado, que diminui gastos com políticas públicas, apresenta uma organização do trabalho docente coadunado com os pressupostos organizativos da reforma gerencial em curso no Estado brasileiro, em especial no que se refere às determinações produtivistas e às d e s i g n a ç õ e s e x t e r n a s à s instituições, subordinando-as ainda mais aos processos e interesses mercadológicos.

Além disso, a proposta do governo consolida alterações estruturais na organização do trabalho docente, adequando-o às exigências de um “novo” padrão de instituição de ensino superior, cujo papel social prioriza a formação imediata da força

de trabalho, reduz esta formação ao ensino e distancia a perspectiva de integração e indissociabilidade com a pesquisa e a extensão, ao mesmo tempo em que favorece os processos de privatização. Ações já em curso nas universidades e nos Institutos Federais confirmam essa orientação fragmentadora dos processos institucionais e de bloqueio ao efetivo d e s e n v o l v i m e n t o d a indissociabi l idade prevista e necessária à formação superior de qualidade.

A desestruturação iniciada com a implementação das gratificações em 1992, com a criação da GAE (Gratificação de Atividade Executiva) – Lei 13/1992, de 27 de agosto de 1992 - gratificação calculada a partir

de percentual fixo sobre o vencimento b á s i c o , p o s t e r i o r m e n t e qualificada a partir da introdução de critérios produtivistas pela c r i a ç ã o d a G E D ( G r a t i f i c a ç ã o d e Estimulo à Docência), para a carreira de magistério superior, através da Lei 9.678, de 3 de julho de 1998 e da criação da GID ( G r a t i f i c a ç ã o d e Incentivo à Docência) para a carreira de

magistério de 1o e 2o graus por meio da Lei no 10.187, de 12 de fevereiro de 2001 – se aprofundou na última década com a introdução de novos elementos que descaracterizaram a estrutura de carreira e de malha salarial.

A criação da Classe de Professor Associado (Lei 11.344, de 8 de setembro de 2006), a desvinculação do adicional de qual i f icação (aperfeiçoamento, especialização, m e s t r a d o e d o u t o r a d o ) d o Ve n c i m e n t o B á s i c o e s u a transformação em uma Retribuição por Titulação (Lei 11.784, de 22 de setembro de 2008), hipervalorizando o incentivo de doutorado para os docentes associados da carreira de Magistério Superior e para os docentes das classes DIV e DV da carreira de EBTT, promoveram a quebra da isonomia, a diferenciação

‘‘Mesmo o governo tendo sido forçado a

responder ao movimento, a proposta

por ele apresentada não atende às nossas reivindicações, pois está orientada pelos interesses do projeto macroeconômico de

estado’’

Page 5: Boletim CLG 9

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Nº9i n t e r n a e n t r e a t i v o s e aposentados, entre recém-ingressos na carreira docente e docentes mais antigos.

A mesma lei (11.784/2008), que reestruturou a carreira do Magistério Superior, criou a Carreira de EBTT, repercutindo nela os mesmo problemas da Carreira do Magistério Superior. Além disso, criou obstáculo na progressão por titulação, pela omissão em sua regulamentação, nos termos previstos na própria lei.

Tudo isto, somado a outros e l e m e n t o s i m p o s t o s a o s d o c e n t e s , i n t e n s i f i c o u a individualização do trabalho e dos processos instituciona-is.

Dentre os elementos da proposta apresentada pelo governo que consolidam o processo em curso destacamos: a desestruturação da carreira e da malha salarial; a desvalor ização salar ia l ; a ampliação da heteronomia e da intensi f icação do trabalho docente, determinados pelos cr i tér ios de progressão e promoção; a consolidação do produtivismo, do empreen-dedorismo, do individualismo e da competitividade; e a quebra de i s o n o m i a e n t r e a t i v o s e aposentados. Trata-se de uma d a s p e ç a s d e c i s i v a s e f u n d a m e n t a i s p a r a a consolidação da contrarreforma universitária.

A malha salarial implícita nos valores apresentados nas tabelas desvenda uma desestruturação salarial e a desvalorização salarial diferenciada para as diferentes classes, que impõe aos docentes uma quebra de identidade enquanto trabalhador docente. Isso se expressa de forma mais clara nos diferentes percentuais de reposição que, para além da não recuperação das perdas inflacionárias prevista para o período de 2010 a 2015, incidem, de forma diferenciada, nas classes e nos níveis, s o b r e t u d o e m r e l a ç ã o à re t r i bu i ção po r t i t u lação : apresenta projeção de eventuais “ganhos” apenas aos docentes no topo da carreira (professor titular) em 2015, congela salário para algumas classes e determina perdas para outras, além de reforçar o represamento no

acesso ao topo da carreira.

A proposta para avaliação do trabalho não só intensifica a heteronomia como também incide negativamente sobre o trabalho coletivo nas IFE, pois se centra no “desempenho individual” e o submete a um agente externo, sem conexão ao projeto institucional que deveria ser construído pela comunidade acadêmica de forma democrática e vinculado a uma avaliação institucional que nortearia a a v a l i a ç ã o d o c e n t e p a r a progressão na carreira.

A subordinação da avaliação do trabalho docente, na proposta do governo, para efeitos de progressão e promoção, a critérios definidos pelo Ministério da Educação e Órgãos de Fomento de pesquisa e tecnologia, generaliza para o conjunto do trabalho docente o processo já experimentado nos programas de pós-graduação em sua relação com a CAPES, o qual tem resultado na intensificação do t r a b a l h o , n o p r o d u t i v i s m o acadêmico e na ampliação da heteronomia, o que afronta d i r e t a m e n t e a a u t o n o m i a universitária.

No mesmo sentido, subordinar as atividades de pesquisa, ensino e extensão a critérios externos – que também está presente no projeto do governo, através da Retribuição por Projeto (RP) – consolidará a “editalização” da vida acadêmica já em curso e viabilizada pelas Fundações Privadas ditas de Apoio.

O processo de “editalização” da vida acadêmica, ou seja, a organização do trabalho docente, nas dimensões de pesquisa, ensino e extensão, a partir de financiamento obtido fundamentalmente através de editais de financiamento dentro e fora da universidade, se consolidará por meio da inclusão da RP na carreira docente.

A intensificação do trabalho se evidencia na combinação de duas exigências concomitantes como critério para progressão na carreira. Desconsiderando o que está na LDB, mínimo de 8 horas aula, o governo quer arbitrar em 12 horas aula o mínimo para o Magistério Superior e remete ao MEC a definição do mínimo para a EBTT, sem levar em conta as múltiplas realidades em cada IFE, unidade curso ou departamento. Além disso,

impõe a implantação de um sistema de avaliação individual de cunho produtivista objetivada em um escore de pontos, no qual o índice de 70% foi arbitrado para aprovação.

Além disso, a proposta mais uma vez incide sobre os aposentados ao cristalizar, na transposição da carreira, as perdas que eles sofreram a o l o n g o d o s a n o s c o m a implementação de mudanças, como: a criação de gratificações das quais eles foram excluídos e a inclusão de nova classe de professor associado, cujo acesso lhes foi negado, quebrando a isonomia. O conjunto dessas ações complementa a contrarreforma de previdência por dentro da carreira docente para os que não foram atingidos pela contrarreforma “oficial”.

Por fim, a proposta do governo quebra a solidariedade de classe, na medida em que força a categoria a uma divisão interna, classificando-a em segmentos por tipos de trabalho e modalidades de desenvolvimento na carreira.

Nesse cenário, o governo buscará, a partir do apoio dos seus aliados no movimento sindical e no interior das instituições, dividir o movimento grevista e ganhar a opinião pública, apresentando dados distorcidos e falaciosos, gerando confusão e desfocando o cerne do debate em torno das nossas reivindicações.

O GNG/ANDES-SN avaliou o quadro e considera que a greve entra em um novo momento, e este decisivo, cujo cent ro é : dar sequênc ia ao enfrentamento, num patamar superior de compreensão e crítica à posposta do governo; cerrar fileiras no movimento paredista avançando na paralisação de maior número de a t i v i d a d e s n a s i n s t i t u i ç õ e s ; intensificar o diálogo com a categoria e a sociedade; desmistificar a proposta do governo, destacando seu significado de consolidação dos retrocessos já existentes em nossa carreira, na desestruturação e d e s q u a l i f i c a ç ã o d e n o s s a remuneração, na legalização da intensificação do trabalho que precariza as condições do seu exercício. Isto contribui para o fim do caráter público das instituições de ensino federal neste país. A tarefa é manter e radicalizar a greve. Nesta semana, isto significa: intensificar o movimento e desmascarar a proposta do governo.

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Professores fazem intervenção na r e u n i ã o d o s C o n s e l h o s Superiores

Na terça-feira, 10 de julho, professores e técnicos da UFS compareceram na reunião dos Conselhos Superiores para eleição do reitor. Objetivo foi solicitar apoio à greve dos servidores federais aos conselheiros. O presidente da ADUFS, prof. Antônio Carlos, recebeu espaço antes do início da reunião para enfatizar a força da greve, especialmente diante da ameaça de corte de ponto feita pelo governo, e a necessidade de discussão da carreira do professor.

A l u n o s d a U F S r e a l i z a m assembleia por melhorias

Alunos da Universidade Federal de Sergipe (UFS) realizaram uma assembleia nesta quarta-feira, dia 11. O objetivo foi reivindicar melhorias estruturais, bem como discutir sobre as reivindicações da categoria e dos professores da instituição. Novas manifestações podem ocorrer caso o governo insista em não negociar com os universitários e docentes. (Infonet)

Andifes solicitará audiência com ministros para debater a greve

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), decidiu em reunião do Conselho Pleno, 10, que vai solicitar uma audiência, para os próximos dias, com o ministro da educação, Aloizio Mercadante e com a ministra do planejamento Miriam Belchior. Os reitores querem buscar celeridade na negociação entre governo e os sindicatos dos trabalhadores em greve nas Universidades Federais e discutir a orientação do comunicado nº 552047/ 48, do Ministério do P lane jamento , env iado aos depar tamentos de recursos humanos das universidades no último dia 06. (Andifes)

Governo tem R$ 59 bilhões para investir, mas não consegue gastar

O governo federal já acumula em c a i x a R $ 5 9 b i l h õ e s p a r a investimentos públicos, que não conseguiu gastar. Esse valor é referente a obras previstas nos orçamentos anuais da União que não saíram do papel. Os recursos foram "empenhados", mas não "liquidados" e "pagos" porque o investimento ainda não foi realizado. No jargão técnico, são os chamados restos a pagar. (Estadão)

NotíciasRápidas

AGENDA DE GREVE DOS DOCENTES DA UFS

PRINCIPAIS CONQUISTAS DO MOVIMENTO DOCENTE DOS IFE’s

1980 - 26 dias Nova carreira do magistério superior das IFES ; reajuste de 82,25%

1981 - 20 dias Impedimento de transformar as Universidades Autárquicas em Fundações; reposição de 30%

1982 - 32 dias Impedimento de implantação de ensino pago nas IFES

1984 - 84 dias Consolidação do ANDES

1985 - 45 dias Liberação de 60 bilhões de cruzeiros para as IFES; reajuste de 75%

1987 - 44 dias Plano Único de Classificação e Redistribuição de Cargos e Empregos; nova tabela salarial

1989 - 66 dias Liberação de 60 milhões de cruzados novos; melhorias no plano de carreira dos docentes; contração de 760 docentes e 1340 TA´s; direito à aposentadoria integral.

1991 - 107 dias Aumento nas gratificações por titulação; reajuste de 20%

1993 - 31 dias Reajuste salarial escalonado de 85%

1994 - 50 dias Supremo Tribunal Federal decide que Servidores Públicos Federais têm direito à greve.

1998 - 104 dias Substituição do PID pela GED.

2000 - 87 dias Barrar o projeto de autonomia do MEC e o projeto de emprego público do Governo Federal.

2003 - 59 dias Avanços na unidade dos servidores públicos federais das três esferas do governo.

2005 - 106 dias Aumento de 300 para 600 milhões de reais nos recursos para melhorar os salários da categoria.

2012 - GreveDeflagrada em

17/05

(Reestruturação da carreira, condições dignas de trabalho e recomposição das perdas salariais)

DEPENDE DA SUA PARTICIPAÇÃO

2001 - 108 dias Abertura de 2 mil vagas; reajuste salarial entre 8% e 15%

Fonte: ANDES-SN

*Em virtude da greve e da ocorrência da reunião com os coordenadores de Pós-graduação, a agenda aprovada em assembleia precisou ser alterada.