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0 BOLETIM CONTEÚDO JURÍDICO N. 811 (Ano IX) (22/07/2017) ISSN ‐ ‐ BRASÍLIA ‐ 2017 Boletim Conteúdo Jurídico ISSN –

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    BOLETIM CONTEDO JURDICO N. 811

    (Ano IX)

    (22/07/2017)

    ISSN

    BRASLIA2017

    BoletimContedoJurdicoISSN

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    ConselhoEditorial

    VALDINEI CORDEIRO COIMBRA (DF) - Coordenador-Geral. Fundador do Contedo Jurdico. Mestre em Direito Penal Internacional Universidade de Granda/Espanha.

    MARCELO FERNANDO BORSIO (MG): Ps-doutor em Direito da Seguridade Social pela Universidade Complutense de Madrid. Ps-Doutorando em Direito Previdencirio pela Univ. de Milo. Doutor e Mestre em Direito Previdencirio pela Pontifcia Universidade Catlica/SP.

    FRANCISCO DE SALLES ALMEIDA MAFRA FILHO (MT): Doutor em Direito Administrativo pela UFMG.

    RODRIGO LARIZZATTI (DF/Argentina): Doutor em Cincias Jurdicas e Sociais pela Universidad del Museo Social Argentino - UMSA.

    MARCELO FERREIRA DE SOUZA (RJ): Mestre em Direito Pblico e Evoluo Social u, Especialista em Direito Penal e Processo Penal.

    KIYOSHI HARADA (SP): Advogado em So Paulo (SP). Especialista em Direito Tributrio e em Direito Financeiro pela FADUSP.

    SERGIMAR MARTINS DE ARAJO (Montreal/Canad): Advogado com mais de 10 anos de experincia. Especialista em Direito Processual Civil Internacional. Professor universitrio.

    Pas: Brasil. Cidade: Braslia DF. Endereo: SHN. Q. 02. Bl. F, Ed. Executive Office Tower. Sala 1308. Tel. 61-991773598 ou 61-3326-1789 Contato: [email protected]

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    WWW.CONTEUDOJURIDICO.COM.BR SUMRIO

    COLUNISTADASEMANA

    19/07/2017EduardoLuizSantosCabetteTentativairrealousupersticiosa

    ARTIGOS

    21/07/2017GiseleLeitePrecedentesjudiciaisnoBrasil

    21/07/2017ArthurRgisFrotaCarneiroArajo

    Direitocivilconstitucional:anlisecrticasobreaaplicaodateoriadoestatutojurdicodopatrimniomnimonoCdigoCivilde2002

    21/07/2017GilbertoAlvesdeAzerdoJnior

    Ahermenuticacomoresoluodeconflitoaparentequandoanormanoexplicitaseuobjetivorealeprimeiro

    21/07/2017ThaisCristinaMunizBlanco

    OSaneamentoBsicocomoresponsabilidadedaUnio,doEstadoedosMunicpios

    21/07/2017JordaAnnaMariaLopesGusmo

    Justiagratuita

    21/07/2017TauLimaVerdanRangel

    DeclaraodeSEULsobreoturismonascidadesereashistricasdasia

    20/07/2017KarineAzevedoEgyptoRosa

    A(in)constitucionalidadedeprolaodesentenacondenatriadiantedepedidodeabsolviodoMinistrioPblico

    20/07/2017SilviaMariadePaulaNascimento

    RevisocontratualnoCODECON

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    20/07/2017ThaisCristinaMunizBlanco

    DaAtipicidadedoCrimedeDesacato

    20/07/2017GilbertoAlvesdeAzerdoJnior

    ticaaplicadaaoexercciodaadvocacia

    20/07/2017JoseFranciscoBrittoFraga

    PrincpiosaplicadosAdministraoPblica.

    20/07/2017CarlosEduardoRiosdoAmaral

    Art.966,4,doNCPC:daanulabilidadedosacordosdecolaborao

    19/07/2017KarineAzevedoEgyptoRosa

    A(in)constitucionalidadedadisposiocnicadassalasdeaudinciasbrasileiras:amalfadadaprerrogativadeassentoDOMP.

    19/07/2017JooGabrielCardoso

    A(in)elasticidadedoconceitodeImprobidadeAdministrativanavisodoSuperiorTribunaldeJustia

    19/07/2017SilviaMariadePaulaNascimento

    Evoluohistricadaclusularebussicstantibus.

    19/07/2017TauLimaVerdanRangel

    DeclaraodeHoiansobreaconservaodedistritoshistricosdasia

    19/07/2017HugoMenezesPeixoto

    ResponsabilidadedaAdministraoPblicaNaterceirizaodeservios

    19/07/2017GilbertoAlvesdeAzerdoJnior

    Princpiodadignidadedapessoahumanaeaficolegaldaigualdade:afinal,oqueistodireitoshumanos?

    19/07/2017JordaAnnaMariaLopesGusmo

    Osurgimentodaadvocacia

    18/07/2017LucasMartinsSansonOprincpioconstitucionaldonoconfiscoesuaaplicabilidadenoDireitoTributrio

    18/07/2017CarlosEduardoDantasdeOliveiraLima

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    Incidentededemandarepetitivanoimpedeaconcessodetuteladeurgncianasdemandasdemedicamentos

    18/07/2017SilviaMariadePaulaNascimento

    PersonalidadeCiberntica

    18/07/2017BelchiorFranklinAmaralLeite

    Daausnciadesanopordoaoefetuadaporpessoajurdicaparacampanhaeleitoral,comoadventodaLein13.165/15.

    18/07/2017JordaAnnaMariaLopesGusmo

    Honorriosadvocatcios

    18/07/2017TauLimaVerdanRangel

    ComentriossServidesMinerais

    17/07/2017GustavoNobuhicoKasaoka

    Ensaiosobreaestruturanormativadas"tutelasdeurgncia"abordagemapartirdaperspectivasemntica,sintticaepragmtica

    17/07/2017RicardoBenevenutiSantolini

    Ainflunciadoselementosfilosficosdaoratriaesabedoriaparaosjulgamentosdoscrimesdolososcontraavida

    17/07/2017AnaLuizaRangelNogueira

    Armasdepressoealegislaobrasileiraatual

    17/07/2017AnbaldeCastroPassosRamos

    Umaanlisedainconstitucionalidadedoartigo3,VII,daLein8.009/90.

    17/07/2017LuizaHelenadaSilvaGuedes

    Teoriadaperdadeumachance

    17/07/2017TauLimaVerdanRangel

    ServidoCulturalemPauta:UmaanlisedaintervenodoEstadonaPropriedadeEnvoltriadoPatrimnioCulturalTombado

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    TENTATIVA IRREAL OU SUPERSTICIOSA

    EDUARDO LUIZ SANTOS CABETTE: Delegado de Polcia, Mestre em Direito Social, Ps - graduado com especializao em Direito Penal e Criminologia, Professor de Direito Penal, Processo Penal, Criminologia e Legislao Penal e Processual Penal Especial na graduao e na ps - graduao da Unisal e Membro do Grupo de Pesquisa de tica e Direitos Fundamentais do Programa de Mestrado da Unisal

    Dentreasvriasabordagenstericassobreapuniodatentativa,destacamse as duas mais citadas, quais sejam, a objetiva e a subjetiva. Para a teoriaobjetiva,nobastaria,parafundamentarapuniododelitotentado,oelementosubjetivocongruentedoagentecomadescriotpica,masserianecessrioaferira colocao objetiva do bem jurdico em perigo. Por isso, inclusive, a pena datentativa teria de ser menor do que a do crime consumado. Para a teoriasubjetiva,oelementosubjetivocongruentejseriaosuficienteparaapunio,demodoque,inclusive,hentendimentodequeatentativadeveriaserpunidanosmesmosmoldesdocrimeconsumado.

    NoBrasilenamaioriadosordenamentosjurdicos,adotaseateoriaobjetiva(intelignciadoartigo14,Pargrafonico,CP)(BITTENCOURT,2014,p.537).

    Nesse contexto, adotada a teoria objetiva, surge o problema do chamadocrimeimpossvel,oqualnopodeserpunidoeconsideradofatoatpiconosestritos termos do artigo 17, CP. O crime se torna impossvel quando suaconsumao no se dar jamais por ineficcia absoluta do meio ou porimpropriedadeabsolutadoobjeto (JESUS,2012,p.l 393395). Soexemplosclssicos, a tentativa de envenenamento com uso de substncia, em verdade,incua (ineficciaabsolutadomeio)eodesferirde tirosemumcadvercomointuitodemataromorto(impropriedadeabsolutadoobjeto).

    SeoBrasil adotassea teoria subjetiva,pouco importaria seo crimeno sepoderia consumar.O que seria levado em conta seria to somente o elementovolitivodoagenteparaaprticadocrime,oqual,inclusive,seriatratadocomooconsumado. Adotando a teoria objetiva, em sua modalidade temperada,

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    moderada ou matizada, se o meio absolutamenteinidneo ou o objetoabsolutamenteimprprio, configurase o crime impossvel e no hpossibilidadedepunio,nemmesmoporcrimetentadocompenadiminuda.Hquelembrarqueexisteachamadateoriaobjetivapura,aqualnofazdistinoentre meio ou objetoabsolutamente ou relativamenteinidneo. Havendoinidoneidade,absolutaourelativa,atentativasetornariaimpunvel.Noentanto,tal teoria tem sido rechaada pela maioria da dogmtica e tambm no foiacolhidaemterrasbrasileiras(GRECO,2014,p.63).

    Acontece que a doutrina menciona a chamada tentativa irreal ousupersticiosa,aqualumaespciedognerocrime impossveloutentativainidnea.

    Atentativairrealousupersticiosa

    aquela em que o agente tenta alcanar a sua finalidadedelituosaatravsdemeiossobrenaturais(rezas,feitiarias,invocao dos deuses ou dos mortos, frmulas mgicasetc.(DIAS,2007,p.717)(grifosnooriginal).

    Nestescasosainviabilidadedaconsumaoelevadaaumgrauparoxstico,de modo que a inaptido do meio absolutamente manifesta, no sendopossvel pensar em sua tentativa, nem mesmo num contexto dogmticoinformadoporteoriasubjetiva(DIAS,2007,p.717)(grifosnooriginal).

    Assimsendo,achamadatentativairrealousupersticiosaseriaumexemplode crime impossvel em seu grau mximo, de forma a inviabilizar a puniosequerdatentativa,sejadiantedaadoodeumateoriaobjetiva(comofaznossoordenamento),sejadiantedaopoporumateoriasubjetivadocrimetentado.

    REFERNCIAS

    BITENCOURT, Cezar Roberto.Tratado de Direito Penal. Volume 1. 20. ed.SoPaulo:Saraiva,2014.

    DIAS, JorgedeFigueiredo.DireitoPenalParteGeral.Tomo I. SoPaulo:RT,2007.

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    GRECO,Rogrio.CdigoPenalComentado.8.ed.Niteri:Impetus,2014.

    JESUS, Damsio de.Direito Penal. Volume 1. 33. ed. So Paulo: Saraiva,2012.

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    PRECEDENTES JUDICIAIS NO BRASIL

    GISELE LEITE: Professora universitria, pedagoga, bacharel em Direito UFRJ, mestre em Direito UFRJ, mestre em Filosofia UFF, Doutora em Direito USP. Pesquisadora-Chefe do Instituto Nacional de Pesquisas Jurdicas. Articulista e colunista dos sites

    Reconhecemos que so duras e ferinas as crticas dirigidas ao judiciriobrasileiroe,estudosrecentesdemonstramqueosistemaderesoluodelitgiospadecedesriaspatologias,mas,noumcasotupiniquim,mesmonomundotodo.

    Existemtrsgrandesvariveisbsicas,asaber,otempo,ocustoeaisenodasdecises,poisaverdadequenomundotodo,rarohaverumjudicirioquedemonstre ter relao equilibrada entre tais variveis durante a soluo delitgios.

    Se, por sua vez, o Judicirio brasileiro duramente criticado por suamorosidadeeenormequantidadederecursos.Poroutrolado,oJudicirionorteamericano,coneusadocomorefernciaemarcodeeficincia,mastambmcriticadoporseusaltoscustosepeloexageroemestimularafrugalformalizaodeacordos.

    Desde1985asestatsticasapontamque somente1,8por centodasaespropostas, chegaram finalmente a serem julgadas pelas cortes judiciais norteamericanas.Salientamesmoqueexistaminevitveisdelaysequeasociedadenopode restar indiferente,quandoocustoeoatrasochegamaproporo talquecomprometeajustiacomoumtodo.

    Omesmo autor traa comparao entre os pases do civil law, tais comoItlia,AlemoeFranacomosdemaispasescomponentesdosistemacommonlaw, tais comoReinoUnidoeosEUAe, foradoa concluirqueexistemsriasimperfeiesemambosossistemas.

    Alis, tambm em Frana h uma exploso no volume de litigncia e umsubstancialatrasonassolues.

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    Enfim,acrisedojudiciriodefatomundialeaindafazressurgirademandapormtodosalternativosderesoluodedisputas.TendocomoumdosmestresinspiradoresMauro Cappelleti que trouxe um clssico estudo sobre o acesso justia, destacando a atuao dosmtodos alternativos de soluo de disputascomxitonapacificaodosconflitos.

    Os chamados autocompositivos mtodos na soluo das disputas soutilizados, sem a necessidade de judicializao. E nos remetem a antiqussimosinstitutos que j eram usados fartamente em Roma bem como nos grandescentrosdecomrciodesdeaIdadeMdia.

    CarreiraAlvim, citandoMoreiraAlves, nos relata a evoluometodolgicaparaaresoluodosconflitos,notadamentesemainterfernciadiretadoEstado.

    Lembremos que inicialmente inexistia o Estado institudo como poderpoltico, mas os conflitos de interesses j existiam e eram resolvidos pelosprprios litigantes, ou mesmo pelos grupos a que pertenciam, exatamentequando ocorrera a transposio da justia privada para justia pblica, deuseumalentaeseguraevoluoquesedividiuemquatroetapas.

    A primeira etapa, os conflitos entre os particulares, em geral, eramresolvidospelaforafsica,eoEstado,entobemincipiente,intervinhasomentenasquestesligadasreligio;eoscostumesvoestabelecendo,aospoucos,asregrascapazesdediferenciaraviolncialegtimadaviolnciailegtima;

    Asegundafaseregistraosurgimentodoarbitramentofacultativo,quandoavtimaaoinvsdeutilizarsedavinganaindividualoumesmocoletivacontraseuofensor, preferia, de acordo com este, receber uma indenizao que ambosentendessemserjustaecorreta,ouainda,concordavamemescolherumterceiroqueseriachamadoderbitroparafixladeformaadequada;

    Naterceiraetapa,nasciaoarbitramentoobrigatriooucompulsivo.Poisofacultativosomenteerausadoquandoos litigantesassimodesejasseme,comoesseacordo,nemsempresematerializava,resultandoaperpetuaodaviolnciaparaadefesadointeresseviolado;porissooEstado,nospassouaobrigaroslitigantesaescolheremorbitroparaquedeterminasseaindenizaodevidapelo

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    ofensor,masigualmenteparaassegurlaaexecuodesentena,nocasodorucondenadonoquisessevoluntariamentecumprila;

    Porderradeiro,naquarta fase,oEstadoafastadiretamenteoempregodajustia privativa e, pormeio de funcionrios e serventurios, vem a resolver osconflitosdeinteressesqueaparecem,executandoeatutilizandoaforasefizernecessrio,paraorespeitoefielcumprimentodadecisojudicial.

    Observasequemesmoassim,seaspartesconcordassem,eralcitodirimiroconflitomedianteadesignaodorbitro.

    Nodireito romano,encontramseosexemplos tpicosdecadaumadessasquatrofases,daprimeira,temosaleidetalio,bemtraduzidaporolhoporolhoedentepordente...FixadanaLeidasDozeTbuas;dasegundafase,quandojseadmitia que os conflitos individuais fossem resolvidos por rbitros escolhidospeloslitigantesesemainterfernciadoEstado;

    Daterceirafase,temososdoisprimeirossistemasdeprocessocivilromano,a saber:odas legisactioneseoper formulas;enaquartee final fase, surgiuacognitioextraordinaria.

    Situamse entre os mtodos alternativos de soluo de conflitos deinteresses,aarbitragemeamediao.Aarbitragemconsistenomtodopeloqualaspartesoutorgamaumapessoaouumgrupodepessoasa tarefadepacificarumlitgio.

    So pessoas escolhidas livremente pelas partes que proferem as decisescomomesmocontedoedamesmaforadassentenasjudiciais.

    Em outras palavras, as partes buscam pessoas de confiana delas e queentendem da matria correspondente ao objeto do conflito e que decidempermitirqueestapartevenhacomporolitgioexistenteentreelas.

    A doutrina especializada no se cansa em apontar enfaticamente osprincipais benefcios da arbitragem celeridade, a confidencialidade, oconhecimento tcnico da matria que corresponde ao objeto do litgio peloarbitro que decidir o litgio, a informalidade do procedimento e o custo, esteltimoquestionadopormuitos.

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    A mediao um mtodo pelo qual um terceiro imparcial ajuda aoslitigantesaencontraremasoluoaceitveleamigvelparaambas.Omediadorno julga, no compe o litgio. Somente estimula as partes a chegarem a umacordo.

    A mediao, alm de apresentar alguns benefcios comuns arbitragem,como a celeridade na pacificao do litgio e a confidencialidade, possui aindaoutrasvantagenscomoofatodeser,tambm,aaumentarapossibilidadedeaspartesmanterem uma relaomesmo aps o surgimento do conflito, ao passoquenosmtodosdeheterocomposio,normalmente, fomentama litigiosidadeentreoslitigantes.

    preciso frisarqueaarbitragemnoBrasilnonovidade,poisque jeraprevista na Constituio do Imprio em 1824, apesar de que as constituiesbrasileirasseguintesnoatenhamexpressamenteconsagrado.

    Aarbitragemfoimantidapela legislao infraconstitucional,comdestaqueparaoDecreto3,084de1898eosCPCsde1939ede1973.SendorevigoradanoCPCde2015;

    O instituto de arbitragem somente retorna a ser consagrado na ordemjurdica brasileira atravs da Constituio Federal de 1988 que o prevexpressamentenos primeiro e segundodo art. 114.Mas, somente em1996 foipromulgadaaLei9.307,de23desetembrode1996,quandoaarbitragempassouaserusadadeformaefetivadapormtodoalternativoderesoluodeconflitos.

    No h organizao aleatria que os conceitos de segurana jurdica,liberdadeeigualdadequesonormalmenteligadosemumaestreitatramafeitapeladoutrina.

    Alerta Humberto vila que a segurana jurdica, de outro lado, pode serconsideradacomo instrumentoassecuratriodeoutrosdireitosqueenvolvamaautonomia individual. Cogitase, por essa razo, em vida, liberdade e, empropriedadeenasegurana,pelopapelestabilizadoregarantidordascondiesnecessriosaoexercciodaliberdade.

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    Evidentemente o exerccio de autonomia individual pressupe oconhecimento de normas existentes e vlidas bem como a sua estabilidade notempo,poissemesseselementososhomensdeixamdesercapazesdeplanejarofuturo.

    Sem a conexo com os interesses do cidado, no haver igualdade,liberdade,deasseguramento,probatrio,estabilidadeedecontinuidade.

    OproblemacentralpresenteemtodaordemjurdicasabercomoocorreavinculaoaoDireito?E,mais,comoasdecisesjudiciassoformadasecomqualcontedosoprolatadas?

    Emverdade,essesdoisproblemasformamoprogramadateoriadodireitoeda filosofia jurdica principalmente nas sociedades preocupadas em proteger aliberdadeindividual.

    Herbert Hart adverte que essa preocupao em proteger a liberdadeindividualchegaaserumaobsessovindaaeclipsaroutrasquestes.

    Afinal,comosabido,numasociedadecomfortenfasenaliberdade,nadamaisimportantequesabercomoconcretamenteexercidoopodere,comopossvelpreverocontedodasdecises judiciaise,comopossvelpromoverapermanentevinculaoaodireito.

    Concluise que para o Direito seja realmente capaz de proporcionar umasociedadelivre,justaeigualitriaprecisosolucionaroproblemacentralsobreavinculaodoexercciodopoderordemjurdica.

    Talsoluosetornapossvelquandoasociedadepautadajustamentenasegurana jurdica. Sem o ambiente jurdico capaz de proporcionar seguranaentre as pessoas, impossvel conceber um espao para que se possam fazerescolhasjuridicamenteorientadas..

    Semumambiente juridicamente seguro impossvel reconhecer o direitovigenteequedeveseraplicadodeformauniforme.

    A segurana jurdica uma das condies pelas quais o Direito se tornapossvel,ouseja,paraconceberaprpriaexistnciadoDireito.

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    Lembremosqueaseguranajurdicaummeiodepromoodaliberdadeedaigualdade,tambminstrumentoqueservedignidadedapessoahumanaeobtenodejustia.

    A segurana jurdica envolve o problema de racionalidade do Direitoprincipalmenteemrazodasuanaturezareferencialnahistriadopensamentojurdico.

    Podesedecompora segurana jurdicaem: cognoscibilidade,estabilidade,confiabilidadeeefetividadedaordemjurdica.

    indispensvelqueosistemajurdicoviabilizecertezaarespeitodecomoaspessoasdevemsecomportar,semoquenosepodesaberexatamenteoqueseguroouno.

    Semacognoscibilidadenohcomoexistirseguranadeorientao,isto,seguranaarespeitodaquiloquenosexigidopelaordemjurdicadiantededadasituaoconcreta.

    A segurana jurdica depende igualmente da ideia de estabilidade(continuidade,permannciaedurabilidade)porqueumaordemjurdicasujeitaasvariaesabruptasnoprovcondiesmnimasparaqueaspessoaspossamseorganizareplanejarsuasvidas.

    Uma ordem jurdica segura constitui ainda uma ordem confivel, ou seja,que capaz de reagir contra surpresas injustas e proteger a firme expectativanaquiloqueconhecido,enaquilocomqueseconcretamenteplanejou.

    A segurana jurdica depende, por fim, da capacidade de efetivamentenormativa.Aseguranajurdicadepende,porfim,dacapacidadedeefetivamentenormativa.

    Cabemencionardeseguranaderealizao.Issoporquesseguroaquiloquetemacapacidadedeseimporacaso,ameaadoouefetivamenteviolado.

    Isso explica a razo pela qual a noo de segurana jurdica tambm normalmenteassociadanoodeinviabilidadenormativa.

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    Lembremosqueotratamentoisonmicodependeantesdetudodoprvioreconhecimento de qual o Direito aplicvel. Afinal, no aplicveluniformementeodireitoquenoseconhece.

    Portanto, a autodeterminao est ligada prvia cognoscibilidadenormativa, porque sem conhecer o Direito no possvel fazer escolhasjuridicamenteorientadas.

    Sem conhecer, afinal, no possvel conhecer os atos que se pretendepraticar,nemosefeitosjurdicosdecorrentes.

    Masoquedeve serefetivamente ser considerado seguro,oqueoDireitodeve ser seguro no aponta com preciso o que deve ser cognoscvel, estvel,confiveleefetivo.

    Aseguranajurdicapossuinaturezaessencialmentereferencial,namedidaemquedependedecertoelemento,oupartirdoqualpodeserconstruda.

    Essas foram as solues seguidas pela tradio ocidental, a primeira foi apromoodaseguranajurdicapelojuize,aoutra,atentativadepromoopelolegislador.

    Porm,ambastentativasfalharampostoquesealimentarampordoismitos,asaber:omitodos juzescomo livingoracles (orculosvivos)edos juzescomoseresinanimados(tresinamims).

    A tradio inglesa se edificou sobre a ideia de que os juzes constituramorculos do Direito e suas decises significavam provas vivas da existncia docommonlaw.

    J a experincia francesaoriginria daRevoluo Francesa concebia juzescomoseresinanimadosqueexerciamumpoderinexistente.

    Ambososcasospartiramdepressupostosdequeainterpretaojudicialerameramente declaratria de norma preexistente consubstanciada no commonLaw,ouento,aloicrite(nocasofrancs)dequesuaaplicaoseresolviaporumjuzomeramentelgicodedutivo.

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    Ressalvese que a interpretao cognitivista e aplicao logicistarepresentam duas verdadeiras marcas do pensamento jurdico oitocentista e,representamtambmrelevante interseode influnciasadvindasdas tradiesdecivillawedecommonlaw.

    Em suma, so duas tendncias culturais j esboadas justamente parapromoverseguranajurdica.Alis,curiosamente,atesedeclaratriadajurisdioserviusimultaneamenteparaoutorgareparanegaraforavinculantesdecisesdosjuzesinseridosnessasduasdiferentestradies.

    Tais duas pressuposies tornavam possvel o nobre sonho tanto dasegurana pelo juiz como pelo legislador, cuja prtica do direito se tornou umautnticopesadelo.

    Quaisasfigurasmitolgicasatribudasaosjuzesoperouodeslocamentodotemadoplanodeconhecimentoparaoplanodacrena.

    sintomticoofatodeadoutrinaenfatizaranecessidadedeseentenderatradio do common law e, mais especificamente, o direito ingls a partir daperspectivahistrica.

    A prova gritante da alterao semntica do conceito de precedente. pacfico entendimento de que o precedente judicial alterouse profundamenteprincipalmente ao longo de seu desenvolvimento desde suas origensmedievaisatosdiasatuais.

    Sua evoluo pode ser ilustrada por trs expresses, a saber: ilustrao,persuasoevinculao.

    Inicialmente, no direito ingls, o precedente comeava formarse case tocase, oquenotabilizoua tradiodo common law. J sehavia juzesmedievaisbritnicosquedecidiamcombaseemprecedentes.

    Bracton disse (traduo minha) se alguma nova e no desejadascircunstnciasdevenascer,entosealgumacoisaanlogaquetenhaacontecidoantes,deixequeocasosejajulgadoabjulgadonumaformametdica.

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    A invocao do precedente pelos juzes, porm, davase a ttulo deilustraoouexplicaodosignificadodoDireitoaplicadoaocasoconcreto.

    Muito diferente do ocorre contemporaneamente, nenhuma corte que ofizesseimaginavaencontrarsejuridicamentevinculadaaoprecedente.

    Figuravaoprecedentecomfunoilustrativasituadonaorigemdocaseoflaw.Destaforma,odireito inglsseformouapartirdocasoedosprecedentes,servindoparaexplicaroDireitonasdecisesjudiciais,assumindologoemseguida,opapeldefonteauxiliar,pormrelevanteparaoensinojurdico.

    Aformaodomtodoindutivoedeseudesenvolvimentomaistarde,oquetemsidoapontadocomograndemritodocommonlaw,emboraseusresultadosatualmentesejamquestionadospeladoutrinacontempornea.

    O precedente ilustrativo serviria como recurso demonstrativo do Direitocitado pelos juzes em suas decises, mas no funcionavam como critriosdecisrios,comonormas,mascomoelementosvindosdaexperinciajudicial.

    Naquele momento da histria, justificavase o motivo pelo qual toda equalquerdecisojudicialemcertocasoconcretotomadaprecedente,bastavaainserodospleasrolls(tiporegistrodecausas).

    Noseencontramesmooprecedenteapenasnocase law,mastambmasuposiodequeocommonlawdeveserdescobertoedeclaradopelosjuzes,nocasoconcreto,apartirdoscostumesimemoriaisdohomemingls.

    Desdesuasorigenshinterconexodosprecedenteseateoriadeclaratriadajurisdiocomocaselaw,oquefazsuporqueodireitoinglssejaformadoporcostumes imemorais e, que o precedente apenas declara o common lawpreexistente.

    Adoutrinaseconscientizadessainterconexo,massomentenossculosXVIeXVIIosprecedentes incorporamumpapel concernenteaoprocedimentoparaformaodadecisojudicial.

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    A passagem do precedente ilustrativo para o precedente persuasivo poltica e constituiu uma forma de afirmao do Direito diante da pretensoabsolutistadopoderreal.

    A primeira utilizao documentada do termo precedente registrase nosculo XVI, em 1557, conforme Carleton KempAllen, Law in theMaking (1927)3.ed.,OxfordUniversityPress,p.192.

    sprecedentesadquiremumafunopersuasiva,servindoparaadecisodocaso concreto, desde que no sejam contrrios ao Direito e passem a serrecolhidos nos named reports (informativos nominados ou relatriosjurisprudenciais).

    EssadoutrinaenfimmarcouoinciodoprecedenteequefoienriquecidaporEdwardCook,MatthewHaleeWilliamBlackstone.

    O precedente sob essa perspectiva considerado com a mais autorizadaevidence(vistocomoprovanocommon law)enoparaoDireitopropriamentedito.

    Na doutrina clssica do precedente um equvoco entender que nessapocahaviapropriamenteacriaododireitopelosjuzesingleses.

    segundo a doutrina setecentista inglesa, os juzes apenas provavam aexistncia,deumdireitopreexistente(juzesorculosdelei).

    A percepo que os juzes criavam o direito (judge madelaw) apenasapareceuposteriormentecomJeremyBentham.

    EmsendoopostoafirmandoqueocommonlawinglsviveunosculoXVIIIaeradeouradodireitodosjuzes,quandosecomungavaaideiadequeacriaododireitodeveriaseratividadedoJudicirio.

    Adoutrinaquemelhor retrataoperodoclssicocomoprecedenteadeBlackstone que se situa no meio da disputa terica mais abrangente sobre asrelaesentreoprecedenteearazo.

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    Blackstone aduzia que os precedentes e as regras devem ser seguidas, amenosquesejamevidentementeabsurdosouinjustos.

    Osjuzestinhamqueseconvencerdequeoprecedentenoeraabsurdoouinjustoparaapliclo.Assimsefosseabsurdoouinjustopoderiaoprecedenteserdescontadocomonormaparasoluodocaso.

    Pelassuasrazes,oprecedentedeveriaconvencerarespeitodabondadedasuasoluoparaocaso.

    AmissopblicadosjuristasnaInglaterraexigiahabilidadecontextualparaacompreensoemanejo.

    Osjuzesquenoperceberamqueoprecedentenoeraaleiincorriamemmistake the law.A soluonessecasonoeraDireito,encarnandoapenasumasoluoequivocada.

    Relevanteperceberalmdaconexoentreocaselawdadecisojudicial,ouso da teoria congnitivista da interpretao e da teoria logicista da aplicaocomomeiosquetornarampossvelaconcepodosjuzescomoorculosdalei,queapenasdeclaravamassoluesjonipresentesnocudacommonlaw.

    Os juzes s podem ser vistos como que evidenciavam a existncia docommon law em suas decises porque se partia do pressuposto de que ainterpretaojudicialconstituaapenasumaatividadecognitiva,quenoenvolviaqualquer valorao e deciso entre possveis significados concorrentes, e deaplicaodenormasseconsubstanciavasimplesmente,emumaatividadelgicodedutiva,emque,umavezassentadasaspremissasdoDireitoedefato,edefato,aconclusonecessariamenteanicarespostacorretaparaocaso.

    claroqueparasecompreenderainterpretaoeaplicaodoDireitonooferecia um grau adequado de segurana para o apropriado funcionamento dosistema jurdico, oumelhor, oferecia apenas uma segurana ilusria, um nobresonho, restrito apenas ao law in books a inequivocamente distante do law inaction.

    Issosejustificaporqueaprecedentepersuasivonochegavaaseconstituirefetivamente uma norma propriamente dita, na medida em que estavam nas

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    mosdejuzesposterioresmesmoreconhecendoqueoprecedenteseamoldavaaocasoconcreto,negarasuaaplicaoparaasoluodocaso.

    evidente que o precedente norma jurdica e, portanto, tem foravinculante e vale independentemente de suas boas razes, ou um simplesexemplo,queobrigaapenasnoslimitesemqueaexperinciaanteriorpersuadeoseudestinatrio.

    Adoutrinaconcluiqueoprecedentepersuasivoseresumeaumaofertadeumaescolhatotalmentelivreaojuiz.Portanto,oprecedentepersuasivoresolvesenaaberturadeamplojuzodeconveninciadojuiz.

    Umadascausasdecisivasdemaisumamudanadopapeldoprecedentenodireito ingls por fora das crticas deAustin, o precedente passa da persuasoparaavinculaoaologodosculoIX.

    E ento, convertese em efetiva norma jurdica. Ao lado da doutrina deBentham e de Austin, a reforma do advento Judicature Act de 18731875 soigualmente vistos como elementos centrais para o efetivo reconhecimento doprecedentevinculante.

    JeremyBenthamalertaparao fatodequeodireito inglsnoconstituiriaum direito preexistente s decises judiciais, formado a partir dos costumesimemoriais do home ingls e pacientemente revelado atravs dos sculos pelaexperinciadosjuzes.

    Nofundo,ocommonlawnoserianadaalmdeatosjudiciaisautocrticosparticulares que as pessoas em geral estariam dispostas a atribuir algosemelhanteaoefeitolegal.

    Para JeremyBentham,odireito ingls seriaumdireito judicirio (Judiciarylaw) integralmente criado pelos juzes, sendo por essa razo um direitoirremediavelmenteretroativo.

    RatiodecidendieObterdicta

    Emprimeirolugar,cumpreesclarecerquearatiodecidendinofenmenoestranhoaodireitoptrio,sendomesmoconsideradapelosTribunaissuperiores

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    como expressiva frequncia e aparece ora sob a denominao de motivosdeterminantes,orachamadaapenasderazesdedecidir.

    A ratio decidendi chamada de holding no direito norteamericano quecorrespondeaoncleodoprecedente judicialseus fundamentosdeterminantes,sendoexatamenteoquevincula.

    Distinguese da fundamentao obter dicta que so prescindveis aoresultadodo julgamento,ou seja, so fundamentosquemesmoque fossememsentidoinvertido,poisnoalterariamoresultadodojulgamento.

    So consideraes de passagem, de forma paralela e necessrias para ojulgamento como ocorre com manifestaes alheias ao objeto do julgamento,apenas hipoteticamente. Justamente por no serem essenciais ao resultado doprecedenteobterdictanovinculam.

    HouvenoProjetodoNCPCaprovadonaCmaradosDeputadoscontribua,aindaquedeformasimplistaeincompleta,paraadefiniodaratiodecidendi:

    Iprescindveisparaoalcancedoresultadofixadoemseudispositivo,aindaquepresentesnoacrdo;

    II no adotados ou referendados pela maioria dos membros do rgojulgador,aindaquerelevantesecontidosnoacrdo.

    O texto infelizmente no foi mantido na verso final e que foi publicadacomooCdigodeProcessoCivilde2015.

    Afirmasequearatiodecidendidoprecedentevinculaoquenoocorrecomafundamentaoobterdicta, indiscutvele,apartefcildesecompreenderaeficciavinculantedosprecedentes.

    Omaisproblemticoadistinoentreestas,no caso concreto, jqueoconceito de ratio decidendi no tranquilo,mesmo em pases demuitomaiortradio em seu exame do que o Brasil, havendo estudo que aponta setenta equatroformasderatiodecidendi.

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    De acordo com a corrente doutrinria, o ideal a adoo do mtodoecltico sugeridoporRupertCross.A tcnicada inversodefendidaporEugeneWambaughquedefende a identificaode ratio decidendi coma razo jurdicaque se invertida, resultaria em julgamento diferente e a tcnica defendida porArthurGoodhart[1], pela qual a identificaoda ratio decidendi parte dos fatosmateriais(categoriasdefatosrelevantesparaoDireito)edadecisojurdicanelesembasadaojulgamentofinal.

    Ummesmoprecedentepode termais deuma ratio decidendi, sendoquenessecaso,todaselastmeficciavinculante.

    No se admite, portanto, uma eficcia vinculante fatiada, j que o quevincula no precedente a ratio decidendi, pois havendo mais de uma ratiodecidendi,todastenhamamesmaeficciavinculante.

    No existe um dever de os tribunais identificarem a ratio decidendi,cabendo ao intrprete o julgamento de tal tarefa. E mesmo no havendo areferidaidentificaonosecriaumimpedimentoparaqueointrpretecomotalprecedente, permitindo sua aplicao como razo do decidir de futurosjulgamentos.

    No basta ser um fundamento determinante para o resultado dojulgamento para que se projete a eficcia vinculante. S h ratio decidendivincula,masnemsemprehavertaleficciavinculante.

    Somenteofundamentodeterminanteacolhidopelamaioriadosjulgadorestem eficcia vinculante, lembrandose que o julgamento nem sempre determinado pela opinio majoritria dos julgadores sobre os mesmosfundamentos,maspelacombinaodeentendimentosminoritriosque levemaumdeterminadoresultado.

    Basta imaginar a existncia de diferentes causas de pedir fundamentandoum mesmo pedido, ser possvel que ele seja acolhido pela maioria que,entretanto,sevaledeformaminoritria,decadacausadepedirparachegaraoresultadodejulgamento.

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    Aponta amelhor doutrina, amudanana formado julgamento colegiado,queatualmentesedporadesoconclusoequedevepassaraser realizadoporadesofundamentao.

    Osjulgadoresnopoderoselimitaraovotodorelator,cabendoexpressarsuaconcordnciadeformaexpressasuaconcordnciadeformaexpressaaosseusfundamentos, cabendo tambm, e em especial, ao magistrado por expor suadiscordnciacomtaisfundamentos,aindaqueconcordecomaconclusodovotocondutor.

    Por sua vez, se for difcil a identificaoda ratio decidendi doprecedentesejaporsersua fundamentao insuficienteoupornoestaraquesto jurdicadecididabemdelineada,afastasesuaeficciavinculante.

    O significado do precedente no alcanado somente atravs de suadiferenciaodosconceitosdedecisoesmula.Mas,apartirdeseucontedoe,especialmente,daspartesseucontedoque,emseu interior,oque identificaoqueotribunalrealmentepensasobrecertaquestojurdica.

    curialsaberusaroprecedentejudicialpostoquedevaorientaraspessoase,maisparticularmente,os juzese, tambmnno imobilizaas relaessociaisenem impede a jurisdio de produzir um direito consentneo com o casoconcreto,arealidadeeosnovostempos.

    Embora todo o contedo, seu poder pode estar limitado ou entendidoconforme as necessidades de casos concretos, permitindo que o direito seaperfeioe medida que novas situaes litigiosas surjam e cheguem aoJudicirio.

    Htambmdeselembrarquenenhumprecedentetemapretensodeservlidoeternamentepostoqueexistamcritriosquepermitemasuarevogao.

    O precedente obrigatrio visa realizar o direito e tutelar a seguranajurdica. indispensvel antecipao da revogao do precedente judicial e demodulao de efeitos da deciso revogatria, demodo ao se evitar a aplicaoinjusta de precedente judicial desgastado e, ainda na segunda hiptese, visaprotegeraquelequeacreditounadecisojudicial.

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    Nemtodadecisojudicialumprecedente,poisestesignificaumadecisodotadadecertascaractersticas,basicamenteapotencialidadedeseafirmarcomoparadigmaparaaorientaodosjurisdicionadosedosmagistrados.

    possvelafirmarquesetodoprecedenteresidenumadecisojudicial,masnemtodadecisoconstituiumprecedente.

    Percebesequeoprecedenteconstituidecisosobrematriadedireito,ouconforme os termos do common law, de umpoint of law e no dematria defato, enquanto que a maioria das decises judiciais se referem s questes defato.

    Quando so abordados os pontos de direito, as decises judiciais muitasvezes, se restringem a indicar o que est previsto em lei, no revelandopropriamenteumasoluojudicialacercadaquestodedireito,nosentidodedarsoluo que, ao menos, d uma interpretao da norma jurdica positivada.Demodo,adecisojudicialinterpretaaleipormseguejulgadoqueaconsolidou,apenasporisso,noconstituiprecedentejudicial.

    No basta para ser precedente que a deciso judicial seja a primeira ainterpretar a norma sendo necessrio que enfrente todos os princpios eargumentosrelacionadoscomaquestodedireitoquepassapordiversoscasosconcretos.

    Desta maneira, possvel que a deciso no cotnenha as caractersticasessenciaisconfiguraodeprecedente,pornotratardequestodedireito,ouselimitaraafirmareconfirmaraletradalei.

    Um precedente judicial requer, a anlise de principais argumentospertinentesquestodedireito,almdepodernecessitardeinmerasdecisesparaserfinalmentetraado.

    Precedente no somente uma deciso que disciplinou certa questojurdica com determinada aptido, mas tambm uma deciso com qualidadesexternasqueescapamaoseucontedo.

    Oprecedentejudicialaprimeiradecisoqueelaboraatesejurdicaouadecisoquedefinitivamentedelineia,deixandoclaraecristalina.

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    As smulas[2]no direito brasieiro inicialmente serviram para identificar edelimitaroentendimentodedadotribunalacercadaquestojurdica.Assmulasjamistiverameficciaprticapostoquenoeramobrigatrias,nemmesmoaosjuzes do mesmo tribunal, que as produzir e nunca contaram com a devidadogmtica,daadificuldadedeseuusoerevogao.

    Assmulassemantinhamemvigormesmoquandonovisadasounegadasnaprticadotribunal.Oquenotabilizaasmulaacircunstnciasobreassuasdecises, e no uma deciso que se qualifica como precedente.Asmulametalinguagemvoltadaaenunciaralgoquejintegraalinguagemdadeciso judicial. O enunciado sobre as decises judiciais no tem as mesmasgarantiasdeumprecedemte;

    Para existir o precednete no basta apenas ter um enunciado acerca daquesto jurdica,mas o imprescindvel em respeito adequada participao deumcontraditriodoslitigantese,assim,tenhaobtidooresultadolegitimadopelodebateentreaspartes.

    Mas, a smuladiferente,oquea faz carecerde legitimidadequando secogita na sua observncia obrigatria ou a incidncia na esfera jurdica dosjurisdicionados.

    Naproduodasmulanoestopresentesaspartesquederamorigemformaodatesejurdica.Nosepodeconfundiralegitimidadedacoisajulgadacomalegitimidadedostaredecisisoudoprecedenteobrigatrio.

    Oprecedente judicialobrigatrioapesardeserelacionarcompessoasqueno participaram do processo tem sua legitimidade condicionada por ter sidoproferidoemprocessocomadequadaparticipaodaspartesemconraditrio,osquezelamparaqueatesejurdicanosejadesfigurada.

    Portanto,apreocupaocomosefeitosdadeciso,emaisespecificamente,comacoisajulgada,conferelegitimidadeeficciadoprecedenteobrigatrioemrelaoaosterceiros.

    Para se compreender os precedentes judiciais, quando a tese jurdicaproclamada na deciso judicial necessaraimente relacionada s circunstncias

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    do caso concreto, as quais, quando no presentes no caso concreto emjulgaemnto podem levar a um distinguished, ou seja, uma diferenciao, o queacarretalogicamenteanoaplicaodoprecedentejudicial.

    No obstante, as smulas simplesmente neutralizam as circunstncias docaso concreto ou dos casos concretos que levaram sua edio. As smulasapenassepreocupamcomaadequadadelimitaodeumenunciadojurdico.

    incontestvelquenoBrasilnohculturaenemmtodoparaaformaode smulas. As smulas no constituem meros enunciados ou simplesconsolidaodeinterpretaodalei,masrefletealgodiferente,umatesejurdicaqueinseparveldascircunstnciasconcretasqueamotivaram.

    A smula vinculante[3] igualmente um enunciado externo decisojudicial. A deciso judicial, no civil law, consideramse os fatos e fundametnosjurdicos (causa de pedir) expostos pelo autor, analisase os fatos que foramdesmonstradose,enfim,verificaseseosfatosafirmadoseprovadosseamoldamnormajurdicaalegada.

    Desenvolveraciocniodirigidoparaaformaodaconvicoaliadoaoutrodestinadoaoenquadramentodosfatosmoldurapositivadadanormajurdica.

    O juiz em sua deciso obrigado a narrar os fatos e os fundamentosjurdicos,narraocontedodadefesaesobreasprovasrequeridaseproduzidas.Ainda deve expor as razes pelas quais entende as alegaes de fato foramounodemonstradas,bemcomoconlui0seosfatosdemonstradosgeram,ouno,osefeitosjurdicospretendidospelodemandante.

    Derradeiramente, na fundamentao da deciso judicial define aprocedncia ou improcedncia do pedido. E, considerando a tutela de direito aespciedesentenapleiteada.

    Reporteseaindaaosrequisitosessenciaisdasentenaqueso:orelatrio,osfundamentosondeanalisarosfatoseodireitoe,porfim,odispositivo,ondeojulgadorresolveasquestesqueasparteslhesubmeteram.

    Na fundamentao da sentena so avaliadas as questes de fato e ededireito, onde o juiz ir demonstrar seu raciocnio probatrio e a convico que

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    firmou sobre os fatos, bem como as razes pelas quais acolheu ou no a tesejurdicasustentadapeloautor,ouseja,osmotivospelosquaisentendeuquedosfatosevidenciadosdecorrem,ouno,osefeitosjurdicospretendidos.

    Sustentase, com razo, que deve existir a pertinncia lgica entre afundamentaoeodispositivo.

    Acoisa julgadamaterialnodireitoptrio incideapenassobreodispositivodasentena,noabarcandoosfundamentos.

    Assimmesmoqueosfundamentos,sejamrelevantesparaboacompreensododispositivo,nosocobertopelomantodacoisajulgadamaterial.Atravsdafundamentao,surgeapossibilidadedenegaoearediscussodosmotivosdasentenaemoutraao(apontaMarionini,videRTJ,143/600eRTJ150/269).

    Referncias:

    RODRIGUES,BrunoSousa.BreveEstudo sobreosMtodosde Identificaoda Ratio Decidendi dos precedentes judicais. Disponvelem:http://s3.amazonaws.com/academia.edu.documents/30830291/BREVE_ESTUDO_SOBAcessoem01.07.2017.

    MARINONI, LuizGuilher;ARENHART, SrgioCruz;MITIDIERO,DanoeNovoCdigodeProcessoCivilComentado.3edio.SoPaulo:RevistadosTribunais,2017.

    NEVES, Daniel Amorim Assumpo. Novo CPC Cdigo de Processo Civil.Inovaes. Alteraes.Supresses Comentadas. Rio de Janeiro: Forense; SoPaulo:Mtodo,2015.

    MITIDIERO, Daniel Precedentes Da Persuaso Vinculao. 2 edio. SoPaulo:RT.2017.

    NOTAS:

    [1] A principal diferena entre a doutrina de Goodhart, Wambaugh e Cross sendo supostamente normativa se refere ruptura com a ideia de ratio como algo intrinsecamente essencial deciso. A ratio seria aquilo visto com ratio pelo magistrado, no um passo intrinsecamente necessrio a se chagar a uma dada concluso jurdica.

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    [2] O direito sumular corresponde ao resumo da jurisprudncia sedimentada em incontveis e uniformes decises das Cortes Superiores do pas, que visam a rapidificao de causas no Judicirio. A se dar seguimento ao inconformismo das partes, manifestado em pea recursal, em total colidncia com texto de smula do Tribunal, estar-se-ia a instaurar um regime anrquico, que afronta o princpio de uniformizao das decises.

    Prevalncia do entendimento contido no direito sumulado, que traduz a manifestao de um colegiado, para negar provimento ao agravo regimental. (STJ, AgRg-REsp 3.317/BA, 1 T., Rel. Min. Pedro Acili, unnime, Pub. 26.11.1990; ADV Jurisprudncia 52.533).

    De conformidade com o art. 103-A da Constituio da Repblica de 1988, o qual traz em seu bojo a regulamentao constitucional acerca do instituto, so requisitos para a elaborao da smula vinculante: 1) a matria objeto de smula vinculante dever ser de patamar constitucional; 2) deve haver reiteradas decises sobre a matria; 3) existncia de controvrsia atual entre rgos do Judicirio (portanto no s internamente, entre as Turmas ou Pleno do STF), ou entre esses e a Administrao Pblica; 4) tal controvrsia deve acarretar grave insegurana jurdica e, concomitantemente, relevante multiplicao de processos sobre questo idntica, quanto matria, ocasionando o fatdico inchao no Judicirio; 5) deciso de dois teros dos membros do STF pela aprovao da smula vinculante; 6) publicao na Imprensa Oficial.

    [3] A Lei n 11.417, de 19 de dezembro de 2006, adiciona legitimados em seu art. 3, nos termos do permissivo constitucional transcrito anteriormente, sendo que tal legislao apenas poderia adicionar ou manter os legitimados, porm nunca reduzi-los. So os seguintes legitimados adicionados por tal instrumento normativo para propor a edio, a reviso ou o cancelamento da smula vinculante: 10) o Defensor Pblico-Geral da Unio; 11) os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justia dos Estados ou do Distrito Federal e Territrios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares.

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    DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL: ANLISE CRTICA SOBRE A APLICAO DA TEORIA DO ESTATUTO JURDICO DO PATRIMNIO MNIMO NO CDIGO CIVIL DE 2002

    ARTHUR RGIS FROTA CARNEIRO ARAJO: Advogado. Procurador do Estado do Maranho; Graduado em Direito pelo Centro Universitrio Christus (2014);

    RESUMO: A Teoria do Estatuto Jurdico do Patrimnio Mnimo, formulada pelo professor Luiz Edson Fachin, explicita a legitimidade do mnimo patrimonial como assegurador da dignidade inerente condio humana do indivduo. Realizando anlise sobre o texto do Cdigo Civil e a influncia da Constituio Federal de 1988 sobre seus institutos, percebe-se a hodierna tendncia de humanizao nas relaes privadas, onde subsiste, harmoniosamente com a proteo ao patrimnio, a tutela aos valores pessoais inalienveis do particular. O Direito Civil Constitucional faz surgir, portanto, uma maior influncia da Carta Poltica sobre as relaes privadas, devendo dar-se uma interpretao e aplicao da legislao privada conforme os ditames da Lei Maior. Pela teoria, surge a necessidade de tutela do Estado, por todas suas trs esferas de atuao, sobre o patrimnio mnimo assecuratrio de direitos e valores imprescindveis vida digna. A Metodologia de abordagem utilizada foi a dedutiva, combinada com o procedimento comparativo e com as tcnicas bibliogrfica e documental.

    Palavras-chave: Patrimnio Mnimo. Dignidade da Pessoa Humana. Princpios Constitucionais. Direito Civil Constitucionalizado.

    Sumrio: 1 Introduo 2 Referencial terico 2.1 Estatuto Jurdico do Patrimnio Mnimo. 2.2 Princpios constitucionais no Cdigo Civil de 2002. 2.2.1 Dignidade da Pessoa Humana (Art. 1, III, CF/88). 2.2.2 Direito Propriedade (art. 5, Caput, CF/88). 2.2.3 Boa-f objetiva (art. 422, CC/02). 2.3 A tendncia de humanizao das relaes privadas do Direito Civil brasileiro. 3 Metodologia. 3.1 Mtodo de abordagem. 3.2 Mtodo de procedimento. 3.3 Tcnicas de pesquisa. 4 Anlise de Resultados. 4.1 Direito Civil Contemporneo e Patrimnio mnimo: a garantia da dignidade patrimonial 5 Concluso. 6 Referncias.

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    1 Introduo

    O princpio da Dignidade da Pessoa Humana perfaz chave hermenutica na leitura e na interpretao de toda a legislao ptria. Os direitos fundamentais previstos pela Carta Poltica estabelecem limites para a legislao infraconstitucional, devendo esta guardar consonncia com a ordem constitucional e os direitos individuais por ela consagrados. Sobre esse prisma, a teoria do Estatuto Jurdico do Patrimnio Mnimo busca garantir ao particular o mnimo existencial de modo a resguardar sua dignidade enquanto pessoa humana, tratando das tendncias de personalizao das relaes jurdicas do Cdigo Civil de 2002, examinando, ainda, a influncia dos princpios constitucionais sobre a referida lei.

    O presente estudo busca analisar os institutos do novel Cdigo que guardem relao com a teoria ora delineada, analisando sua compatibilidade com determinados princpios constitucionais e com a recente tendncia de humanizao por que passa o Direito brasileiro.

    Percebe-se, da, que o patrimnio no pode mais ser observado por sua mera natureza existencial, estando ele vinculado a uma finalidade social maior, devendo considerar-se a relao que o bem guarda com seu proprietrio e com toda a coletividade.

    Pretende-se aqui analisar a conduta do Estado frente ao particular insolvente, partindo da ideia que o Poder Pblico deveria, em tese, garantir o mnimo patrimonial capaz de lhe proporcionar o exerccio de seus direitos fundamentais. Cedio, portanto, que o ordenamento jurdico deve regular as relaes jurdicas de modo a assegurar o mnimo digno ao particular.

    Por fim, far-se- uma anlise sobre a possibilidade da aplicao da teoria do mnimo patrimonial para pessoas jurdicas, sobre o espectro da funo social, partindo da inegvel interdependncia existente entre a atividade de certas empresas e a existncia digna de setor da sociedade, dando enfoque ao procedimento de execuo patrimonial e sua correlao com a ordem constitucional brasileira.

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    Para alcanar tal desiderato, a metodologia utilizada nesse trabalho compreendeu a abordagem dedutiva, por meio da qual partimos do raciocnio geral desde a prpria definio da teoria que fundamenta o presente estudo at a influncia do texto constitucional sobre as relaes privadas, buscando analisar ainda as possibilidades de aplicao da tese aqui estudada em todas as searas do Poder Pblico. O procedimento utilizado foi o comparativo, pelo qual confrontamos o pensamento de diferentes doutrinadores, analisando-os criticamente. As tcnicas de pesquisa foram a documental e a bibliogrfica.

    2 Referencial Terico

    2.1 Estatuto Jurdico do Patrimnio Mnimo

    A teoria desenvolvida pelo professor Luiz Edson Fachin trata da obrigao relativa ao Estado de garantir ao particular, por meio de todas as suas esferas de atuao, o mnimo patrimonial, de modo a assegurar-lhe a dignidade inerente sua condio imperecvel de pessoa humana. Trata-se, tal direito dignidade, de Princpio constitucional estruturante da Repblica brasileira, consoante disposto pelo artigo 1, inciso III, da Constituio Federal de 1988.

    O princpio em comento constitui a base da repblica brasileira, prestando de ponto de partida para a concepo de tantos outros princpios e direitos fundamentais. Consoante Lus Roberto Barroso: ... merece destaque em todas as relaes pblicas e privadas o princpio da dignidade da pessoa humana [art. 1, III], que se tornou o centro axiolgico da concepo de Estado democrtico de direito e de uma ordem mundial idealmente pautada pelos direitos fundamentais.[i]

    Entendemos, portanto, que o princpio ora delineado perfaz guarida para a teoria ora analisada.

    De princpio, incumbe estabelecer algumas consideraes acerca da proposta trazida pelo professor Fachin. Primeiro, h de se ter clara a ideia que a presente tese no busca impor obstculo aos direitos do credor, nem tampouco favorecer o inadimplemento do devedor; o desiderato a que

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    almeja a teoria proporcionar uma situao de equilbrio nas relaes privadas, imprimindo um juzo de proporcionalidade ao caso concreto, desde sempre sob o amplo prisma da dignidade da pessoa humana. Consoante elucida o autor da tese em anlise em trecho de sua obra, verbis:

    Destaque-se, nesse passo, no se tratar de interesses opostos ou excludentes. No h, pois, defesa da ilegitimidade do crdito em si mesmo. Cogita-se, to-somente, do estabelecimento de limites pretenso creditcia e no sua impugnao ontolgica. E diante de um dano injusto, cuja reparao busca o credor em face do autor do ato, a tutela patrimonial buscar equilbrio no juzo de proporcionalidade entre os interesses envolvidos.[ii]

    H, portanto, que se visualizar a relao obrigacional levando em conta os direitos pessoais inerentes s condies das partes. No razovel, consoante o presente momento da ordem jurdica brasileira, tratar da mesma forma, na condio de devedores, um trabalhador que percebe um salrio mnimo para sustentar toda sua famlia e uma grande empresa de telefonia, por exemplo. Nesse sentido, frise-se:

    essa maneira, para Pontes de Miranda, a obrigao permanece com seu carter pessoal, jurdico e oneroso, no entanto sendo influenciada pelas garantias que cada polo da obrigao detm enquanto pessoa. Assim, necessria foi a diferenciao entre dbito, situao em que o devedor pode sofrer a cobrana forada (execuo judicial) por parte do credor, e obrigao, a relao obrigacional per se. Para ele, a relao obrigacional tem por base uma pretenso do credor em relao ao devedor, e no um implacvel crdito daquele perante este.[iii]

    O segundo ponto crucial que deve atentar-se que o estudo em testilha parte do prisma da recente tendncia de repersonalizao das

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    relaes privadas, tendncia essa representada pela aplicao de princpios constitucionais sobre a seara do Direito Civil, de forma a resguardar os direitos fundamentais do indivduo em certas relaes creditcias. Tem-se, portanto, uma evoluo na hermenutica do direito civil brasileiro, caracterizada pela necessidade da interpretao conforme a Constituio.

    Ao passo que a teoria se desenvolve, o autor assinala institutos que possuem a interferncia clara da superioridade da condio humana digna frente a certos institutos previstos pelo Cdigo Civil de 2002, como claramente verificado nas hipteses limitao execuo do bem de famlia, a clusula de inalienabilidade testamentria, a incapacidade relativa dos prdigos, dentre outros.

    Anote-se, nesse passo, o disposto pelo professor sobre a tendncia em comento, a seguir:

    certo que essa repersonalizao do Direito Civil somente encontrou explcita guarida na Constituio Federal de 1988, no s porque explicitou o princpio da dignidade da pessoa humana como um dos pilares da Repblica, mas tambm porque a matria cvel foi diretamente constitucionalizada.[iv]

    Por fim, faz-se necessrio esclarecer no haver um conceito objetivo do que seria o mnimo a se garantir, premissa de que parte o criador da teoria ao buscar explicar a impossibilidade de determinao acerca do instituto. A simples ideia de mensurar o mnimo patrimonial encontra limite claro nas diferenas sociais existentes no Brasil. No h, portanto, critrio objetivo para determinar o que seria o mnimo a ser tutelado pela ordem jurdica, causa pela qual sublinha-se a importncia dos conceitos jurdicos indeterminados na legislao ptria, conferindo, no mais das vezes, um vis genrico norma, buscando garantir a aplicao mais prxima da justa, observando-se as peculiaridades e divergncias dos casos concretos.

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    Sobre a dificuldade da mensurao do mnimo examinado pela tese, sublinha-se trecho da obra de Fachin, que se l:

    No pretende a tese em apresentao eliminar todos os paradoxos que cercam temas jurdicos polmicos, como este, aqui deduzido. Trabalha sobre eles e procura, a partir deles, construir, na utilidade possvel, atravs de tamanha complexidade que marca o cenrio jurdico e social do pas, espao e tempo que circunscrevem tais reflexes. O mnimo , com efeito, conceito complexo.[v]

    Inequvoco, portanto, que a tese aqui delineada realiza ampla anlise sobre os limites e possibilidades da tutela estatal acerca do mnimo patrimonial, buscando, assim, estabelecer propostas para o alcance o objetivo maior, definido pela tutela do Estado patrimnio mnimo, a fim de promover a dignidade do particular.

    2.2 O Cdigo Civil de 2002 luz dos Princpios Constitucionais

    A Constituio Federal de 1988, comumente apontada como Constituio Cidad, atribuiu novo espectro ordem jurdica de nosso pas. A ideia de Princpios Positivos afasta a ultrapassada ideia de que o texto da Carta Poltica serviria unicamente como norte a ser seguido pela legislao ordinria.

    A ideia hora traada encontra fundamento na prpria Lei de Introduo s Normas de Direito Brasileiro [Dec. Lei n. 4.657 de 4 de setembro de 1942], que no caput de seu artigo 4[vi] confere aos princpios gerais do Direito status de fonte do direito. Temos hoje, portanto, um ordenamento jurdico diretamente vinculado ao texto constitucional, fato confirmado diariamente quando percebemos o crescimento do poder vinculante do Tribunal Constitucional.

    Sobre o tema, Paulo Bonavides assevera: Estabelecendo originalssima distino entre

    normas primrias, que so os princpios, e normas secundria, que so aquelas baseadas nos

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    princpios, nos costumes e nas convenes, Quadri, citado por Pergolesi, denomina princpios as normas que so expresso imediata da vontade do corpo social. Para Quadri, o princpio, sendo uma norma primria, se acha em direta relao com a autoridade que est na base do sistema.[vii]

    Como comentado anteriormente, o Direito Civil Constitucional prope que a interpretao de normas infraconstitucionais deve dar-se em plena consonncia com o texto constitucional. Aponta-se, nesse sentido, passagem de artigo cientfico dos autores Priscilla Raphaella Oliveira Lopes de Arajo e Saullo Pereira de Oliveira, que destacam:

    Analisando esse novo contexto jurdico, constata-se que o Direito Civil, dito constitucionalizado, tem o desejo de superar lgica patrimonial pelos valores existenciais da pessoa humana, uma vez privilegiados pela Constituio. O intrprete, ao realizar seu trabalho, tem de reler a legislao civil sob a tica constitucional, de modo a priorizar os valores no-patrimoniais, o desenvolvimento da personalidade da pessoa humana, de sua dignidade, os direitos sociais e a justia distributiva. Hodiernamente, no h como o Direito Civil ficar imune aos valores e aos princpios constitucionais.[viii]

    Dada a amplitude do texto da Carta Magna, o desiderato a que aqui se almeja suplica por uma anlise do texto do Cdigo Civil de 2002, de forma a examinar a influncia certos princpios constitucionais no texto da Lei Substantiva Civil, buscando examinar sua atuao no Direito Privado e sua relevncia para o tema em anlise. 2.2.1 Dignidade da Pessoa Humana [Art. 1, III, CF/88]

    Como j comentado, trata-se de Princpio basilar do sistema Republicano brasileiro, por fora do prprio artigo 1 [ix] da Carta Poltica, caracterizando-se como o mais importante mandado de otimizao do texto constitucional. Lanando-se um olhar sobre a Cdigo Civil de 2002,

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    nota-se claramente influncia do Princpio sobre o seu texto, conferindo maior carter humanista s relaes privadas no Direito brasileiro.

    Alexandre de Moraes reflete, em sua obra, lcido pensamento acerca da importncia da mxima em anlise, verbis:

    A dignidade da pessoa humana: concede unidade aos direitos e garantias fundamentais, sendo inerente s personalidades humanas. Esse fundamento afasta a ideia de predomnio das concepes transpessoalistas de Estado e Nao, em detrimento da liberdade individual. A dignidade um valor espiritual e moral inerente pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminao consciente e responsvel da prpria vida e que traz consigo a pretenso ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mnimo invulnervel que todo estatuto jurdico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitaes ao exerccio dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessria estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. (grifos nossos)[x]

    A influncia desse princpio sobre o texto da Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002 faz-se perceptvel em variados institutos por ela regulados. Partindo da vertente do presente estudo, observa-se que h diversos exemplos em que o carter patrimonial das relaes obrigacionais ira restar mitigado frente superioridade de um bem maior, qual seja a garantia da plena dignidade do particular, sendo exemplos citveis: execuo sobre os bens de famlia, doao universal, a clusula de inalienabilidade testamentria, entre outras.

    Percebe-se ainda que de vital importncia para a tese do professor Fachin o princpio em anlise. Vislumbra-se do texto da Carta Magna que o presente princpio o ponto gnese de todos os direitos pessoais advindos

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    da Ordem Jurdica brasileira. Leia-se, nesse sentido, trecho da obra do professor supracitado:

    A tese encontra-se conexionada ao princpio da dignidade humana, de foro constitucional, diretriz fundamental para guiar a hermenutica e a aplicao do Direito, e para nortear o rumo do presente trabalho. A reflexo sobre o patrimnio pode (e deve) estender-se em dois horizontes complementares: o primeiro, aquele que supere o limite individual da guarida e abrace a coletividade; o segundo, aquele que voe do presente para alcanar o futuro, mesmo que em incerta e improvvel utopia.[xi]

    O presente princpio configura, portanto, base hermenutica para anlise dos demais valores subjetivos de que trata a Carta Poltica, como restar evidenciado da leitura dos prximos tpicos.

    2.2.2 Direito Propriedade [art. 5, Caput, CF/88]

    Hodiernamente, torna-se inegvel o fato de que vivemos em uma sociedade plenamente capitalista. Nesse sentido, a propriedade possui um papel garantidor de uma srie de direitos fundamentais do indivduo. Faz-se uma anlise, a ttulo de exemplificao do pensamento ora delineado, dos direitos que devem ser amparados pelo Salrio Mnimo; de acordo com o texto do inciso IV, artigo 7[xii], da CF/88, o salrio mnimo deve garantir ao receptor do piso salarial e para sua famlia o acesso a moradia, alimentao, educao, sade, lazer, vesturio, higiene, transporte e previdncia social.

    Gilmar Mendes ensina, de maneira clara, a atual abrangncia do direito constitucional propriedade, alertando para a nova perspectiva conceitual do instituto, que engloba no apenas a propriedade privada, mas tambm tutela uma srie de relaes de carter patrimonial, leia-se:

    J sob o imprio da Constituio de Weimer passou-se a admitir que a garantia do direito de propriedade deveria abranger no s a propriedade sobre bens mveis ou imveis, mas tambm os

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    demais valores patrimoniais, includas aqui as diversas situaes de ndole patrimonial, decorrentes de relaes de direito privado ou no.

    (...) Essa orientao permite que se confira proteo

    constitucional no s propriedade privada em sentido estrito, mas, fundamentalmente, s demais relaes de ndole patrimonial. V-se que esse conceito constitucional de propriedade contempla as hipotecas, penhores, depsitos bancrios, pretenses salariais, aes, participaes societrias, direitos de patente e de marcas etc. Teria esse entendimento validade no ordenamento constitucional brasileiro? A resposta h de ser afirmativa.[xiii]

    Percebe-se que, diante das novas influncias do texto constitucional sobre as normas de direito privado, as relaes privadas encontram novos limites baseados na proteo ao indivduo. Nota-se, portanto, que o novo Direito Civil fundamenta-se com cerne na pessoa humana, e no mais sobre o patrimnio. Nesse sentido, leia-se:

    Desde o direito romano difundiu-se a ideia de bipartio do direito em dois ramos: direito pblico e direito privado. Essa dicotomia sobreviveu s intempries do tempo e s crticas de substanciosa parte da doutrina jurdica. No entanto, esse paradigma clssico no mais reflete a hodierna lgica do sistema jurdico, nem o atual contexto econmico-social, os quais so frutos da ps-modernidade.

    Ora, com a Constituio Federal de 1988 -, que tem entre os seus fundamentos a dignidade da pessoa humana e os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa -, o antagonismo pblico-privado perdeu definitivamente o sentido. Os objetivos constitucionais de construo de uma sociedade livre, justa e solidria e de erradicao da pobreza colocaram a pessoa humana isto , os valores

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    existenciais no vrtice do ordenamento jurdico brasileiro, que de modo tal o valor que conforma todos os ramos do Direito.[xiv]

    Diante do novo ngulo que se observa o Direito Privado, percebe-se uma clara mudana de perspectiva, no sendo mais o patrimnio o principal objeto de tutela das codificaes privadas, e sim o particular e suas direitos irrenunciveis. Do prprio texto constitucional infere-se, portanto, a importncia da propriedade enquanto direito fundamental do cidado, em todas as suas perspectivas, e da necessidade de sua tutela por parte do Estado.

    2.2.3 Boa-f objetiva [art. 422, CC/02]

    O novel Cdigo Civil guarda consonncia com vrias previses da lei 8.078 de 11 de setembro de 1990, o Cdigo de Defesa do Consumidor. Nota-se, nesse ltimo diploma, a importncia e imprescindibilidade da boa-f nas relaes jurdicas do direito privado, em especial nos artigos 4, inciso III; 6, incisos I a V, e no artigo 51, inciso IV.

    Trata-se de conceito jurdico indeterminado, que impele os contratantes a agirem de forma honesta, clara, sem buscar obteno de vantagens ilcitas em detrimento alheio. A indeterminao do conceito permite doutrina que restrinja o espectro de atuao do instituto, delimitando, por meio de conceitos concretos, a real inteno do legislador. L-se na doutrina, nesse sentido, o seguinte:

    Sobre a amplitude do conceito da boa-f objetiva, ORLANDO GOMES a sintetizava em trs termos lealdade, confiana e colaborao. TARTUCE, auxiliado por TERESA NEGREIROS, formulou seis palavras-chave para a compreenso do instituto emergente, a partir daquelas apontadas por GOMES, a saber: lealdade, confiana, equidade, razoabilidade, cooperao e colaborao.[xv](grifos originais)

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    Inequvoco, portanto, que os contraentes devem conhecer da totalidade dos possveis resultados da relao jurdica que se instaura, resguardando, desde logo, seus direitos diante de possveis obstculos ao cumprimento do acordo referentes ao estatuto ora estudado. Inadmissvel seria, a ttulo exemplificativo, que uma instituio financeira fornecesse contrato de financiamento de imvel com parcelas a que o particular no comprovasse ser possvel cumprir, sob pena de deparar-se com os limites aqui esposados.

    O mais conhecido dos limites execuo do Estado para cumprir dvidas pecunirias, sejam elas provenientes de relaes jurdicas pblicas ou privadas, o bem de famlia. Nessa linha de raciocnio, assevera Gilmar Mendes:

    A lei n. 8.009 de 1990, estabeleceu a impenhorabilidade do bem de famlia assim entendido o imvel residencial prprio do casal, ou da entidade familiar, sobre o qual se assentam a construo, as plantaes, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou mveis que guarnecem a casa, desde que quitados, excludos os veculos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.[xvi]

    Conclui-se, desse modo, que a boa-f objetiva representa elemento de validade da relao jurdica no direito privado, devendo esta ainda guardar sintonia com os bons costumes relativos solidariedade social, observados, desde sempre, os limites estabelecidos pelo estatuto do patrimnio mnimo.

    2.3 A tendncia de humanizao das relaes privadas do Direito Civil brasileiro

    A tese desenvolvida por Luiz Edson Fachin prope uma nova concepo sobre o patrimnio, sugerindo que este no deva ser o cerne das relaes privadas, mas sim a pessoa humana e seus valores personalssimos. O autor mostra que, diante da nova ordem constitucional, no h espao para a prevalncia de interesses patrimoniais frente a

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    sucumbncia da prpria plenitude e dignidade inerente vida do particular, devendo o direito tutelar as relaes sociais de modo a impedir tais excessos. Em sua obra l-se:

    Em certa medida, a elevao protetiva conferida pela Constituio propriedade privada pode, tambm, comportar tutela do patrimnio mnimo, vale dizer, sendo regra de base desse sistema a garantia ao direito de propriedade no incoerente, pois, que nele se garanta um mnimo patrimonial. Sob o estatuto da propriedade agasalha-se tambm, a defesa dos bens indispensveis subsistncia.[xvii]

    No se prope aqui a necessidade de uma nova codificao, tendo em vista que a prpria Lei substantiva civil compe-se de conceitos gerais, podendo adaptar-se ordem constitucional vigente. O que se busca na realidade a humanizao das relaes sociais hodiernas em consonncia com os ditames constitucionais de dignidade, solidariedade e igualdade.

    A tendncia a que se aponta provm da recente evoluo de perspectiva sobre o Direito Privado, conceito imprescindvel para a teoria do Direito Civil Constitucional. Nesse sentido, leia-se:

    Assim, amparados na feio civilista, os defensores do chamado Direito Civil Constitucional sustentam que o direito privado deve ser lido em consonncia com os ditames constitucionais, haja vista que a concepo jurdica moderna, na qual o patrimnio era a razo de ser do ordenamento, cede lugar para o vis ps-moderno, que prega a socializao do direito, cujo cerne a pessoa humana.[xviii]

    Inegvel influncia dos ideais provenientes do Direito Civil Constitucional, de tal forma que, cada vez mais, observa-se doutrina e jurisprudncia caminhando no sentido de tutelar as relaes privadas em busca de proteo aos direitos personalssimos e do mnimo em discusso. Nesse sentido, anota Fachin:

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    Na inegvel transformao que abre portas, sob a crtica dos paradigmas tradicionais, ao Direito Civil contemporneo, abre-se espao para dar um passo adiante. A garantia pessoal de um patrimnio mnimo, do qual ningum pode se assenhorear foradamente, sob hiptese legtima alguma, pode ser esse novo horizonte.[xix]

    Dessa nova perspectiva que surge sobre o Direito Privado, no estudo em andamento viso discutir a importncia de tutela do patrimnio mnimo, dado seu papel essencial na concretizao da vida digna do indivduo e de sua famlia. Busco, no prximo tpico, estabelecer pontos fticos e jurdicos capazes de caracterizar o patrimnio mnimo como instituto bsico da dignidade almejada.

    2.4 Direito Civil Contemporneo e Patrimnio mnimo: a garantia da dignidade patrimonial

    A evoluo da relao credor-devedor de fcil constatao quando da anlise da histria do Direito Privado. Partindo da interveno mnima do Estado, quando o credor poderia constranger o devedor em seus prprios direitos de personalidade, tornando-o, por vezes, seu escravo, como meio de satisfazer o dbito; passando pela proteo honra do devedor, onde restaram somente penas civis patrimoniais; at a hodierna tendncia de proteo ao patrimnio mnimo, como forma de garantia a dignidade inerente condio humana.

    O direito civil contemporneo denota uma srie de novas perspectivas relativas s relaes jurdicas privadas de nosso Pas. A humanizao dos institutos jurdicos refletem a atual influncia do texto da Constituio Cidad sobre o direito privado, restando claro, portanto, que os valores pessoais devem ser objeto de tutela nas relaes obrigacionais particulares.

    O que se v so mudanas na perspectiva de atuao dos modos de cobrana judicial de crditos obrigacionais. O estatuto em exame no busca desconstituir a legitimidade dos contratos, nem tampouco das formas judiciais de execuo; o que se almeja to somente clarear a

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    inegvel realidade que o patrimnio deve superar o limite individual da relao obrigacional e abraar sua funo para a coletividade.

    Da surge a ideia, guarida de tudo o que aqui fora delineado, de que o mnimo patrimonial um dos garantidores da dignidade humana a que tanto se ambiciona. Os limites impostos pelo Estado sob as relaes privadas devem convergir no sentido de garantir o fim que aqui se discute, buscando, por meio de seus trs poderem atuantes, limitar os abusos e as ilegalidades no campo do Direito Privado.

    Os limites da legitimidade da atuao do Poder Pblico nesse sentido devem ser objeto de estudo e de nova normatizao, devendo discutir-se qualquer possibilidade de defesa ao bem de famlia, inclusive a possvel aplicao da teoria em estudo sobre as Pessoas Jurdicas, nas hiptese facilmente encontradas em nosso pas de famlias que dependam de sua existncia para garantir o seu sustento mnimo.

    3 Concluso A presente anlise da teoria do Estatuto Jurdico do Patrimnio

    Mnimo e a influncia do texto constitucional sobre o novo Cdigo Civil e sobre as relaes de direito privado permitem concluir que a tendncia de humanizao do direito patrimonial uma realidade inegvel no Direito Brasileiro.

    A Carta Magna amplia seu espectro de atuao e eficcia no sentido que influi nas relaes obrigacionais para tutelar valores personalssimos frente aos dbitos patrimoniais, como a dignidade humana, o direito propriedade e a proteo ao bem de famlia.

    O texto do novo Cdigo Civil apresenta influncia incontestvel das mximas da Carta Poltica, motivo pelo qual encontra-se em certos institutos, como requisito de validade, valores constitucionais, como a boa-f e o respeito ao direito de propriedade. Nesse sentido, destaca-se ainda a inexistncia de critrio objetivo para fixar o mnimo patrimonial, da a importncia da atividade discricionria do aplicador da norma, que, fazendo uso de conceitos abertos que a legislao lhe oferece, deve resguardar, desde logo, o direito ao mnimo aqui delineado, atentando para as peculiaridades que o caso concreto lhe apresenta.

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    Trata-se, portanto, de evoluo na perspectiva e nos ideais do direito privado brasileiro, que caminha no sentido de uma aplicao mais justa e humana da legislao ptria, mediante a atuao dos trs poderes do Estado, que devem atuar em harmonia buscando garantir, desde sempre, a aplicao e efetivao do texto constitucional.

    4 Referncias

    ARAJO, Priscilla Raphaella Oliveira Lopes e OLIVEIRA, Saullo Pereira de. A constitucionalizao do direito obrigacional. In MARQUES JNIOR, William Paiva. (Coord.). Presente em Mutaes do direito civil das obrigaes na perspectiva da constitucionalizao das relaes privadas. Fortaleza: DINCE, 2012, v. 1.

    BARROSO, Luiz Roberto. Interpretao e aplicao da Constituio. 7 ed. So Paulo: Saraiva, 2010.

    BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24 ed. So Paulo: Malheiros Editora, 2009.

    FACHIN, Luiz Edson. Estatuto Jurdico do Patrimnio Mnimo. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.

    GUIMARES, Ana Renata de Freitas e CUNHA, Isaac Rodrigues. Do conceito de obrigao: para alm do direito civil. In MARQUES JNIOR, William Paiva. (Coord.). Presente em Mutaes do direito civil das obrigaes na perspectiva da constitucionalizao das relaes privadas. Fortaleza: DINCE, 2012, v. 1.

    MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 2 ed. So Paulo: Saraiva, 2008.

    MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27 ed. So Paulo: Editora Atlas, 2011.

    NASCIMENTO, Maria Jos Mais. O Direito Civil Constitucional e os Princpios Norteadores do Novo Cdigo Civil como Pilares Fundamentais do Moderno Direito Privado: a Boa-F Objetiva e a Funo Social. PGE.AC. Disponvel em: Acesso em: 24 abr. 2012.

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    NOTAS:

    [i] BARROSO, Luiz Roberto. Interpretao e aplicao da Constituio. 7 ed. So Paulo: Saraiva, 2010, p. 377.

    [ii] FACHIN, Luiz Edson. Estatuto Jurdico do Patrimnio Mnimo. 2 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, P. 68.

    [iii] GUIMARES, Ana Renata de Freitas e CUNHA, Isaac Rodrigues. Do conceito de obrigao: para alm do direito civil. In MARQUES JNIOR, William Paiva. (Coord.). Presente em Mutaes do direito civil das obrigaes na perspectiva da constitucionalizao das relaes privadas. Fortaleza: DINCE, 2012, v. 1. p. 61.

    [iv] Ibid., P. 92.

    [v] Ibid., P. 273-274

    [vi] Decreto Lei n. 4.657/42 (Lei de Introduo s Normas de Direito Brasileiro) - Art. 4 Quando a lei for omissa, o juiz decidir o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princpios gerais de direito.

    [vii] BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 24 ed. So Paulo: Malheiros Editora, 2009, p. 246.

    [viii] ARAJO, Priscilla Raphaella Oliveira Lopes e OLIVEIRA, Saullo Pereira de. A constitucionalizao do direito obrigacional. In MARQUES JNIOR, William Paiva. (Coord.). Presente em Mutaes do direito civil das obrigaes na perspectiva da constitucionalizao das relaes privadas. Fortaleza: DINCE, 2012, v. 1, p. 78.

    [ix] Constituio Federal - Art. 1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos:

    (...)

    III - a dignidade da pessoa humana;

    [x] MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 27 ed. So Paulo: Editora Atlas, 2011, p. 24

    [xi] FACHIN. op. cit., P. 287-288

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    [xii] Constituio Federal - Art. 7 So direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, alm de outros que visem melhoria de sua condio social:

    (...)

    IV - salrio mnimo , fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais bsicas e s de sua famlia com moradia, alimentao, educao, sade, lazer, vesturio, higiene, transporte e previdncia social, com reajustes peridicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculao para qualquer fim;

    [xiii] MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 2 ed. So Paulo: Saraiva, 2008, p. 424, 425.

    [xiv] NASCIMENTO, Maria Jos Mais. O Direito Civil Constitucional e os Princpios Norteadores do Novo Cdigo Civil como Pilares Fundamentais do Moderno Direito Privado: a Boa-F Objetiva e a Funo Social. PGE.AC. Disponvel em: Acesso em: 24 abr. 2012, p. 108

    [xv] Ibid., p. 113

    [xvi] MENDES, Gilmar. Curso de Direito Constitucional. 7 ed. So Paulo: Saraiva, 2012, p. 398.

    [xvii] FACHIN. op. cit., p. 68.

    [xviii] NASCIMENTO. op. cit., p. 107-108

    [xix] FACHIN. op. cit., p. 284

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    A HERMENUTICA COMO RESOLUO DE CONFLITO APARENTE QUANDO A NORMA NO EXPLICITA SEU OBJETIVO REAL E PRIMEIRO

    GILBERTO ALVES DE AZERDO JNIOR: Advogado. Bacharel em Direito pela Universidade Federal da Paraba - PB.

    RESUMO: O Direito no Brasil assim como na maior parte dos pases da Amrica do Sul visto e exercido de modo essencialmente positivista, dando-se uma maior nfase norma em si e muitas vezes ignorando as suas entrelinhas. Desse modo, embora a hermenutica seja um dos pilares do Direito enquanto campo do saber produtor de conhecimento pouco utilizada exatamente por ser multifacetada; aspecto que incomoda bastante os profissionais que encaram as Cincias Jurdicas como uma tcnica j pronta sem que haja espao para discusses epistemolgicas. Esse ponto de vista lamentavelmente majoritrio est sendo derrubado aos poucos devido nova perspectiva de construo social experimentada pelas Cincias Humanas nesse sculo XXI; e o Direito certamente no ficar fora desse cerco. Palavras-chave: Hermenutica Direito Interpretao Jurdica.

    SUMRIO:Introduo; 1. Hermenutica Jurdica: consideraesgerais;2.Distino entre Hermenutica e Interpretao;3. Problemahermenuticonocenrioatual;Concluso;Referncias.

    Introduo

    Todos aqueles que se dedicam ao estudo das Cincias Jurdicas iro sedepararemummomentoououtrocomahermenuticaeainterpretaodasnormas, especialmente nas obras que tratam dos princpios norteadores de talcampodosaber.Noentanto,grandepartedosestudiososnotratacomadevidaateno este tipo de recurso e acaba por dedicar seus maiores esforos paramemorizarasnormasemsi,esquecendosequeolegisladorassimcomotodosnsumserhumanocapazdeerrare,obviamente,incapazdeprevertodososacontecimentosquesedesenrolaronasociedadeaolongodotempo.porissoque a hermenutica e a interpretao