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OS JOGOS COOPERATIVOS COMO ESTRATÉGIA PARA AMENIZAR A

INDISCIPLINA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Autora: Rozani dos Santos1

Orientador: Prof. Me. José Porfírio de Souza2

Resumo

Introdução: A escola se apresenta na sociedade como um lugar heterogêneo, dotado de diversidade e convivendo diretamente com os conflitos de diferentes grupos sociais e a indisciplina, surge como um dos maiores obstáculos do trabalho docente. Os jogos cooperativos são considerados conteúdos que contribuem para resolução pacífica de conflitos, cujo propósito maior é unir pessoas ao redor de um objetivo comum. Assim, a Educação Física (EF) Escolar inserida neste ambiente, através deste conteúdo pode auxiliar neste processo. Objetivo: Avaliar uma proposta pedagógica que proporcionasse através dos jogos cooperativos, um ambiente de participação e socialização, visando amenizar os conflitos e a indisciplina nas aulas de Educação Física. Metodologia: Este estudo foi caracterizado como descritivo. Para atingir os objetivos foram ministradas aulas com ações práticas e teóricas de atividades cooperativas durante um semestre, abrangendo aproximadamente 100 alunos de uma 5ª série e três 6ª séries do Ensino Fundamental de uma escola em Santo Antonio do Sudoeste. Após a intervenção, os resultados foram obtidos através de um questionário semi-aberto, aplicado para 20 alunos. Resultados: No início, constatou-se certa resistência dos discentes em realizar atividades cooperativas, mas no decorrer do processo houve uma melhora considerável, pois foram percebendo que a EF também envolve conteúdos não competitivos. Segundo às respostas obtidas no questionário, as estratégias utilizadas e as regras pré-estabelecidas nas aulas, contribuíram para propiciar um ambiente de participação, socialização e diminuição de conflitos. Relataram ainda que conseguiram trabalhar juntos, respeitar seus companheiros e as brigas e indisciplina diminuíram consideravelmente, pois não havia a habitual discussão a respeito do “ganhar e perder”. Quanto aos conteúdos relacionados à cooperação, demonstraram interesse e um bom entendimento. Conclusão: De acordo com relato dos alunos concluiu-se que houve compreensão dos temas abordados, além de uma melhora significativa no aspecto disciplinar, pois vivenciaram e aprenderam o sentido de cooperação, cabendo a eles levar esse conhecimento para sua convivência enquanto cidadãos. No entanto, para que isso se materialize de forma mais significativa em todo o universo escolar, essas intervenções deveram ser

1 Professora de Educação Física na Rede Pública Estadual e cursista do Programa de

Desenvolvimento Educacional – PDE 2009/2011. 2 Professor, mestre em Educação Física da Unioeste, orientador do PDE.

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contínuas para refletir e trazer benefícios em relação ao convívio pessoal do educando.

Palavras-Chave: Educação Física Escolar; Jogos Competitivos; Jogos Cooperativos e Indisciplina.

ABSTRACT

Introduction: The school has a place in society as heterogeneous, endowed with diversity and living directly with the conflict of different social groups and indiscipline, emerges as a major obstacle of teaching. The cooperative games are considered content that contribute to peaceful conflict resolution, whose main purpose is to unite people around a common goal. Thus, the Physical Education (PE) School entered this environment, through this content can help this process. Objective: To evaluate an educational proposal that provided through cooperative games, an atmosphere of participation and socialization in order to minimize conflict and indiscipline in physical education classes. Methodology: This study was a descriptive. To achieve the objectives were taught lessons with practical action and theoretical cooperative activities for a semester, spanning approximately 100 students at a 5th grade and three sixth grade of elementary school at a school in San Antonio in the Southwest. After the intervention, results were obtained using a semi-open, applied to 20 students. Results: In the beginning, it was found some resistance from students to carry out cooperative activities, but in the process had improved considerably since they were realizing that the EF also involves content that is not competitive. According to the answers in the questionnaire, the strategies used and pre-established rules in class, helped to foster an atmosphere of participation, socialization and decrease conflict. They also reported that managed to work together, respect their peers and the fights and disruptive behaviors decreased substantially, because there was the usual discussion about "winning and losing." As for the contents related to the cooperation, interest and demonstrated a good understanding. Conclusion: According to students' reports concluded that there was understanding of topics in addition to a significant improvement in the aspect of discipline, as experienced and learned the meaning of cooperation, fitting they bring that knowledge to their life together as citizens. However, for this to materialize more significantly throughout the school environment, these interventions were to be continuous to reflect and bring benefits in relation to the personal interaction of the learner.

Keywords: Physical Education; Cooperative games; Competitive games and indiscipline

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1 Introdução

1.1 Problematização

A escola é considerada uma instituição presente e atuante em todos os níveis

sociais, pois desempenha a importante tarefa de melhorar o conhecimento e

contribuir para a formação de indivíduos que atuarão na sociedade.

De acordo com Sanfelice (1994, p. 90) “[...] a educação, mediadora de

relações sociais, não é tão somente o lugar onde domina a ideologia hegemônica

porque, ela mesma, não é mediadora de relações sociais homogêneas, mas

antagônicas”.

Sendo a escola um local de acesso á todos, ela se apresenta como um

ambiente heterogêneo que convive diretamente com a complexidade e os conflitos

de diferentes grupos sociais.

Devido a toda essa diversidade, a escola e o trabalho docente enfrentam

inúmeros obstáculos. Um dos considerados mais desafiadores é a indisciplina, que

pode ser proveniente de problemas sociais, distúrbios de aprendizado, natureza

comportamental, enfim, é um assunto complexo onde não se apresenta respostas

plausíveis para o tema.

Segundo Aquino (1996, p. 85):

No meio educacional a indisciplina tem uma visão bastante difundida, manifestada por um indivíduo ou um grupo, como um comportamento inadequado, um sinal de rebeldia, intransigência, desacato, traduzida na ‘falta de educação ou desrespeito pelas autoridades’, na bagunça ou agitação motora.

Em meio a esse universo escolar está inserida a Educação Física, como uma

área do conhecimento que faz parte do componente curricular e, conseqüentemente

também é responsável pelo processo de formação dos educandos.

Segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008, p.10):

A Educação Física é parte do projeto de escolarização e, como tal, deve estar articulada ao projeto político-pedagógico da escola. Se a atuação do professor efetiva-se na quadra ou em outros lugares do ambiente escolar,

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seu compromisso, tal como os de todos os professores, são com o projeto de escolarização ali instituído, sempre em favor da formação humana.

Portanto, se atuamos com seres humanos, devemos ser responsáveis pela

busca de algumas mudanças comportamentais, sendo possível que, através da

Educação Física possamos desenvolver estratégias para as situações indisciplinares

tão prejudiciais ao processo educacional.

No entanto, não podemos deixar de ressaltar que, quando a Educação Física

baseia-se somente na prática exacerbada de jogos competitivos, sem objetivos e

valores educacionais pré-estabelecidos, é provável que se esteja deixando de lado a

importância da participação, interação, solidariedade e socialização, podendo de

maneira inconsciente estar contribuindo para a disseminação da indisciplina nas

aulas.

De acordo com Brown (1994, p. 42): “O ensino da Educação Física exige

reforçar a competição. A Educação Física deve procurar desenvolver as destrezas

de todos, e não somente dos melhores”.

Baseado nisso, é necessário trabalharmos de maneira que venha abranger e

favorecer a todos de forma significativa, procurando propostas voltadas para a

coletividade e a cooperação.

Desta forma, pode-se considerar como afirma Brotto (2001, p. 27):

“Cooperação é um processo onde os objetivos são comuns, as ações são

compartilhadas e os resultados são benéficos para todos”.

Soller (2003, p. 17) nos coloca ainda: “Acredito que o jogos cooperativos nos

ajuda a ensinar-e-aprender a viver uns com os outros ao invés de uns contra os

outros”.

Assim fica evidente que o professor de Educação Física é muito importante

como mediador de atividades que desenvolvam novas normas e valores, promovam

a coletividade, conscientizem atitudes, e diminuam os problemas de relacionamento,

que é um dos fatores que podem estar desencadeando a indisciplina durante as

aulas.

De acordo com Soller (2006, p.23):

O objetivo é mostrar quais são os caminhos para uma Educação Física Escolar para todos e também ajudar a formar o professor, que é peça de fundamental importância para existir uma Educação Física Escolar diferente da que todos conhecem hoje.

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Partindo desses conceitos é provável que, se aprendemos a compartilhar

decisões e respeitar diferenças, é também possível que possamos melhorar a

disciplina em nossas relações interpessoais, independente da condição física, etnia,

religião ou gênero, convivendo assim de maneira mais pacífica e harmoniosa.

Dessa forma, com base no exposto acima, o objetivo principal desse projeto

de pesquisa e implementação foi trabalhar os jogos cooperativos como uma

estratégia para amenizar a indisciplina entre os alunos nas aulas de Educação

Física da Escola Estadual Antonio Schiebel – Ensino Fundamental de Santo Antonio

do Sudoeste – PR.

2 Revisão de Literatura

2.1 Breve processo histórico da educação física escolar

A Educação Física escolar vem passando por processos de constantes

transformações nas escolas brasileiras, desde a sua institucionalização, e o

momento atual continua permeado de discussões visando aprimorar a disciplina.

No quadro abaixo poderemos verificar um breve resumo desse Processo

histórico do início do século XX até a década de 1980.

Início do Século XX

Décadas de 1930 a 1940

Pós-guerra Déc.de1950

Décadas de 1960 a 1970

Década de 1980

Influência militar Professor sargento- Aluno soldado

Influência médica e militar; Nacionalismo, Mão-de-obra saudável

Incorporação dos desportos; Alta performance; Professor treinador-aluno atleta

Esporte de massa; Prática; Repetição de movimento, técnica; Rendimento, competição

Psicomotricidade (final dos anos 70) A Educação Física busca nova identidade; Concepções humanistas

Quadro 1 – Processo histórico Fonte: Baseado em PERES (2001).

Partindo da análise histórica, é possível perceber que a Educação Física vem

evoluindo com o passar dos tempos.

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Segundo Soller (2003, p.25) “[...] podemos dizer que a Educação Física é filha

legítima do militarismo, e adotiva das medicinas higiênicas e eugênicas”.

Entretanto, após esse período foi possível constatar a presença de diversas

abordagens e metodologias voltadas para o ensino Educação Física, sendo então

discutida, estudada e influenciada por diversos autores e seus conceitos.

Segundo Brandl (2010, p. 103):

Atualmente podemos afirmar que a Educação Física dispõe de uma diversidade de abordagens pedagógicas, centrada em valores humanos, que devem ser obrigatoriamente visitadas pelo professor que atua na escola... e faça com que eles se materializem em seu ambiente de trabalho.

2.1.1 Educação física escolar

A Educação Física é uma disciplina integrante do currículo escolar, e desde

1996 consta nas Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), como

componente da Educação Básica, devendo ser ministrada por professor licenciado e

com objetivo de oferecer a todos os alunos que freqüentam as instituições escolares,

sem distinção, práticas adequadas ao seu processo de formação integral como

cidadãos (BRASIL, 1998).

De acordo com Paraná (2008), desde sua institucionalização nas escolas

brasileiras, a partir do século XIX, diferentes conhecimentos sistematizados sobre

práticas corporais foram chamados de Educação Física.

Segundo Soares et al. (1993, p. 53):

A Educação Física era uma atividade exclusivamente prática, não houve uma ação teórico-prática de crítica ao quadro apontado, no sentido de desenvolver um corpo de conhecimento científico que pudesse imprimir uma identidade pedagógica à Educação Física no currículo escolar.

Atualmente tem se mostrado como uma disciplina atuante no processo

educacional, embora envolta à conflitos devido a diversidade de metodologias e

pedagogias que surgiram no decorrer do tempo é com a intenção de auxiliar o

professor em seu processo de ensino aprendizagem.

Nista-Piccolo (apud BRANDL, 2010, p.87):

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Nos coloca que o papel do professor, através de suas propostas, é o de criar condições aos alunos para tornarem-se independentes, participativos e com autonomia de pensamento e ação e assim, poderá pensar numa educação física comprometida com a formação integral do indivíduo.

Segundo Brasil (1998, p. 27) Parâmetros Curriculares Nacionais: "A Educação

Física Escolar deve dar oportunidade a todos os alunos para que desenvolvam suas

potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento

como seres humanos".

De acordo com Oliveira (apud BRANDL, 2010, p. 94): “Infelizmente, a

Educação Física é entendida como uma atividade dentro do processo educacional é

resolvida como uma prática sem interesse para a formação integral dos educandos e

assim por diante”.

Ainda que, estamos buscando muitas tentativas, metodologias e reflexões a

respeito de transformar e dar autonomia à Educação Física, é provável que esse

caminho seja conflitante e repleto de obstáculos que deverão ser superados a cada

momento.

Segundo Brandl (2010, p. 90):

No que diz respeito ao entendimento da Educação Física como um componente curricular, tem se mostrado como um objeto de preocupação e inquietação, pois mesmo regulamentada por lei, não significa que a atuação do professor de Educação Física na escola, é desenvolvida a contento, e o papel desse professor ainda é passível de críticas.

É possível que, tendo um melhor discernimento dos conteúdos a serem

desenvolvidos é que teremos condições de equilibrar as práticas educacionais,

ressignificando valores e promovendo a socialização, fator esse que é essencial em

todos os segmentos da vida.

Segundo Verenguer (1995 apud. BRANDL, 2010, p. 87):

A instituição escola é um lugar privilegiado para a aquisição, reflexão e transmissão do conhecimento produzido pela sociedade, e a Educação Física escolar não pode estar alheia, pelo contrário, precisa assumir seu papel no processo formal de ensino.

Baseado em mudanças e transformações ocorridas no sistema educacional,

os jogos cooperativos tem sido amplamente difundidos e desenvolvidos, dessa

forma, é possível que venham a se apresentar como importantes aliados da

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Educação Física Escolar, pois procuram assumir o papel do respeito, igualdade de

oportunidades, ajuda mútua e cooperação no âmbito da escola.

2.2 Jogos cooperativos

Os jogos cooperativos surgiram da necessidade de desenvolver práticas

educativas que auxiliassem a Educação Física no processo de ensino do conteúdo

esportes, minimizando os confrontos da competição e promovendo a coletividade, a

participação e a interação.

De acordo com Sobel (apud BROTTO, 2001, p. 55-56):

O jogo cooperativo consiste em jogos e atividades onde os participantes jogam juntos, ao invés de contra os outros, apenas pela diversão. Através desse tipo de jogo nós aprendemos a trabalhar em grupo, confiança e coesão grupal. A ênfase está na participação total, espontaneidade, partilha, prazer em jogar, aceitação de todos os jogadores, dar o melhor, mudar regras e limites, que restringem os jogadores, e no reconhecimento que todo o jogador é importante.

Os jogos cooperativos surgiram no Brasil a partir da década de 80, desde

então vem sendo pesquisado e difundido entre a comunidade e a escola, se

tornando práticas constantes nas aulas de Educação Física.

Apesar de estar sendo mais evidenciado recentemente, o cooperativismo

começou a milhares de anos quando as tribos indígenas se uniam para celebrar a

vida (ORLICK apud SOLLER, 2003, p.18).

No Brasil, o primeiro livro, "Jogos Cooperativos: Se o Importante é Competir,

o Fundamental é Cooperar", de autoria de Fábio Otuzi Brotto, foi lançado em 1995, e

de acordo com publicações recentes, já são desenvolvidos e trabalhados vários

projetos referentes ao assunto, divulgando e fortalecendo ainda mais essa

modalidade de jogos.

Atualmente os Jogos Cooperativos se apresentam nas Diretrizes Curriculares

do Estado do Paraná como conteúdo básico do conteúdo estruturante Jogos e

Brincadeiras (PARANÁ, 2008, p. 84).

Com a implantação dos Jogos cooperativos nas aulas de Educação Física

espera-se aproximar os educandos de práticas que desenvolvam as mudanças

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necessárias de atitudes e condutas indisciplinadas, propiciando um ambiente

agradável e socializador, pois ensinar a cooperar é tão importante quanto ensinar os

demais conteúdos.

Pode-se perceber que a estrutura competitiva que aliena e vicia as aulas de

Educação Física, precisa ser revista e reformulada, pois ensinar a exercitar a

cooperação pode ser tão importante quanto repassar os conteúdos.

De acordo com Soller (2003, p. 79), realizando uma análise comparativa entre

Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos, é possível perceber as diferenças

existentes entre ambos.

JOGOS COMPETITIVOS JOGOS COOPERATIVOS

Divertido para alguns Divertido para todos

Sentimento de derrota Sentimento de vitória

Alguns excluídos por falta de habilidade Todos se envolvem, independente da sua habilidade

Aprende-se a ser desconfiado Aprende-se a compartilhar e a confiar

Categoria, meninos X meninas, criando barreiras entre pessoas

Há mistura de grupos que brincam juntos, criando um alto nível de aceitação mútua

Perdedores ficam de fora do jogo e, tornam-se observadores

Todos envolvidos por período maior, mais tempo para desenvolver capacidades

Não se solidarizam e, felizes quando algo de “ruim” acontece aos outros

Aprende-se a solidarizar com sentimentos dos outros e, deseja-se o seu sucesso

Jogadores desunidos Aprendem a ter o sendo de unidade

Perdem a confiança em si mesmo quando são rejeitados ou perdem

Desenvolvem auto confiança porque são bem aceitos

Pouca tolerância a derrota, desenvolve sentimento de desistência

A habilidade de perseverar face as dificuldades é fortalecida

Poucos são bem sucedidos Todos encontram caminho para crescer

Quadro 2 - Análise comparativa entre Jogos Competitivos e Jogos Cooperativos Fonte: Baseado em Soller (2003, p.79).

O mesmo autor ainda nos faz a seguinte colocação:

Quando uso o termo JOGOS COOPERATIVOS, entendo-o como um processo educativo baseado na cooperação e na resolução pacífica de conflitos, cujo propósito maior é unir pessoas ao redor de um objetivo comum. (SOLLER, 2003, p. 79).

É fundamental ainda que os professores estejam cientes da importância dos

jogos cooperativos como instrumento educativo e metodológico para diminuir as

diferenças e promover a participação dos alunos em atividades de maneira mais

efetiva, lúdica e harmoniosa.

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2.3 Jogos competitivos

Os esportes fazem parte do conteúdo e são muito praticados nas aulas de

Educação Física , embora exista a competição é possível que se forem abordados

de forma educativa eles contribuam para o processo ensino aprendizagem.

Segundo Soller (2006, p. 19): “muitos imaginam que a graça do jogo está na

competição, ou que a competição seja o aditivo principal do jogo”.

Porém, a competição não pode ser negada, nem extinta do ambiente escolar,

é possível que se for trabalhada de forma consciente e elaborada educativamente,

poderá trazer resultados positivos para seus praticantes, do ponto de vista

educacional.

De acordo com as DCEs (PARANÁ, 2008, p. 63):

O esporte é entendido como uma atividade teórico-prática e um fenômeno social que, em suas várias manifestações e abordagens, pode ser uma ferramenta de aprendizado para o lazer, para o aprimoramento da saúde e para integrar os sujeitos em suas relações sociais.

No entanto, nem sempre há uma conscientização por parte de determinados

professores que desenvolvem essas atividades esportivas sem objetivos pré-

estabelecidos, desencadeando a competição, favorecendo a exclusão e

aumentando ainda mais as diferenças existentes no contexto escolar.

Para Orlick (apud SOLLER, 2003, p. 46), “na competição existe a valorização

do vencedor, deixando de lado os outros que competiam”.

É provável que estejamos fazendo um parâmetro entre os vencedores e os

perdedores, entre os dominantes e os dominados, enfim, desenvolvendo uma

desigualdade cada vez mais aparente e mais presente na sociedade atual.

Mesmo de maneira inconsciente, a Escola é uma das maiores responsáveis

pela competição, pois promove práticas que privilegiam as melhores notas, os

alunos destaques e os melhores resultados em competições esportivas e culturais.

Nas aulas de Educação Física convivemos diariamente com esse espírito

competitivo, pois o jogo deveria ser uma atividade educacional e recreativa,

objetivando a participação e a coletividade, no entanto os alunos a utilizam como

forma de promover a individualidade.

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Contudo, é necessário que o professor saiba discernir que o esporte

competitivo em nosso país, é o responsável de certa forma, por reproduzir a

ideologia capitalista, pregando valores e performances muito além da realidade de

uma escola.

Baseado nessa lógica, é necessário esclarecer as diferenças existentes entre

o esporte na escola e a competição no âmbito profissional.

Segundo Maturana (l998, p.76):

A competição é constitutivamente anti-social, porque como fenômeno consiste na negação do outro. Não existe a ‘sã competição’, porque a negação do outro implica a negação de si mesmo ao pretender que se valide o que se nega. A competição é contrária a seriedade na ação, já que quem compete não vive no que faz, se aliena na negação do outro.

Entretanto, não precisamos ser tão radicais em relação à competição, nem

mesmo pensar em extingui-la do ambiente escolar, pois Brown (1994, p. 40), nos diz

o seguinte: “não vamos eliminá-la, mas esse fato não tira a possibilidade de analisá-

la e propor alternativas”.

Conforme o que foi aqui explicitado, foi possível perceber que, cabe ao

professor de Educação Física ser comprometido com o verdadeiro objetivo da sua

profissão, que é o de contribuir para a formação do cidadão crítico e socializado,

devendo buscar aperfeiçoamento, metodologias, estratégias e recursos que definam

e aprimorem suas práticas pedagógicas, atuando no processo educativo de forma

integral e consciente.

2.4 Indisciplina na escola

A indisciplina muito crescente no ambiente escolar é visto como um dos

maiores entraves da educação, pois o assunto atinge e conflita as ciências da

psicologia, não cabendo à escola por si só resolver essa questão.

Conforme Aquino (1996, p. 87):

No plano educativo, um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona, pergunta, se inquieta e se movimenta na sala, mas sim

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como aquele que não tem limites, que não respeita a opinião e sentimentos alheios.

Baseado em experiências pessoais e em algumas relatadas em diferentes

escolas, a indisciplina tem se manifestado de várias formas e com grande

intensidade, promovendo a desordem e dificultando o processo de ensino

aprendizagem, pois os professores nem sempre estão preparados para lidar com

situações conflitantes e inoportunas presentes na sua rotina.

Segundo o educador Antunes (2002, p. 16):

a indisciplina dentro de um âmbito escolar, tem três focos principais: nenhum deles é menos ou mais importante. Podemos apresenta-los em qualquer ordem. - Um foco é a própria escola. Quando a escola não tem regras claras, bem definidas; quando a escola não transforma em conhecimento de todos o que pode e o que não pode; quando a escola não viabiliza canais para que o aluno possa levar a sua crítica; quando a escola não oferece ao aluno a perspectiva de construir junto com ela as regras de um convívio, de interação, ela está agindo como um foco de indisciplina. - O segundo foco seria o professor. Quando o professor não constrói uma aula significativa; quando ele não percebe as razões que levam o ser humano a aprender; quando ele não critica este aluno a partir de conceitos que foram estabelecidos sobre os limites que o aluno tem, então ele está, indiretamente, gerando uma situação de indisciplina. -E o terceiro foco seria o próprio aluno, quando procura capturar a atenção do professor de uma maneira excessiva, ou quando, às vezes, traz do lar, traz da rua, certas posturas e atitudes que não se enquadram aos valores que a escola possui, desde que estes valores sejam discutidos.

Desta forma, é possível esperar que a educação física escolar, agindo de

forma imparcial e com alternativas conscientes, possa vir a contribuir para uma

melhora nas atitudes indisciplinares dos alunos presentes nas instituições

educacionais.

3 Metodologia (Exposição da Proposta)

O presente trabalho foi construído e desenvolvido, obedecendo várias etapas

distintas e previamente estabelecidas. Inicialmente, foram realizados estudos

bibliográficos, visando um aprofundamento teórico sobre os assuntos que seriam

abordados: Educação Física Escolar, Jogos Competitivos, Jogos Cooperativos e

Indisciplina.

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Baseado nesse referencial teórico, elaboramos um projeto, onde foi possível

justificar a necessidade de sua implantação, bem como, expor idéias e apontar

possíveis soluções.

Em seguida, construímos uma Unidade Didática Pedagógica embasada e

contendo diversas atividades práticas, teóricas, de reflexão e conscientização, todas

relacionadas à cooperação.

Na fase seguinte, este projeto foi apresentado a toda comunidade escolar

(Direção, supervisão, professores, funcionários e alunos), através de slides contendo

conceitos e esclarecimentos referentes ao tema.

Após a apresentação, iniciou-se a implementação pedagógica com as

atividades preparadas para três turmas de 6ª séries e uma 5ª série (atualmente,

sextos e sétimo ano), totalizando aproximadamente 100 alunos.

O plano de trabalho foi composto predominantemente por ações práticas e

teóricas de atividades cooperativas, sendo distribuídas em 08 unidades e aplicadas

durante 32 aulas em cada turma participante. Os conteúdos foram ministrados de

acordo com o previsto , porém, em algumas séries o processo desenvolveu-se

lentamente, devido às dificuldades e à indisciplina inerentes a cada grupo.

Concluída a implementação, na fase seguinte foi o momento de realizar uma

entrevista com os 20 alunos selecionados entre todos os participantes , salientando

que, as questões elaboradas abordavam os temas trabalhados no decorrer do

processo de intervenção.

Todas as etapas do trabalho, bem como os resultados obtidos, foram

amplamente expostas e relatadas na elaboração deste artigo final, sendo

apresentados a seguir.

3.1 Relato da Experiência (Apuração dos Resultados)

O objetivo a ser atingido neste trabalho foi avaliar uma proposta pedagógica

que proporcionasse através dos jogos cooperativos, um ambiente de participação e

socialização, visando amenizar os conflitos e a indisciplina nas aulas de Educação

Física.

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Conforme citado anteriormente, o trabalho seguiu todas as etapas previstas,

desde os estudos bibliográficos, que culminaram no projeto, passando pela

elaboração da Unidade Didática, bem como a descrição do presente artigo final,

onde serão relatadas todas as fases desenvolvidas e aqui expostas.

Logo após a apresentação, em agosto de 2011, teve início a intervenção

pedagógica com os alunos, utilizando como recurso as atividades específicas,

relacionadas aos temas propostos.

No início houve uma certa resistência, por parte dos educandos, em realizar

atividades cooperativas, pois nos encontrávamos no segundo semestre e eles

vinham de um sistema competitivo, eram indisciplinados e não tinham muita noção

de regras, sendo necessário mais empenho para promover essa conscientização,

mostrando a eles a importância e o sentido da cooperação, além de incutir

mudanças drásticas de atitudes em relação às aulas de Educação Física e à

competição no âmbito da escola.

De forma gradativa e nem sempre bem aceitas, as atividades foram

repassadas seguindo as ações previstas. Em algumas turmas o aproveitamento foi

satisfatório, enquanto que nas demais, foi necessário muita insistência e várias

retomadas.

Através do andamento, foi possível perceber a diferença em determinadas

tarefas práticas e teóricas, das quais citaremos algumas: quando utilizamos

cadeiras, ou, em momentos nos quais a organização da atividade partia de círculos,

o desenvolvimento se agilizava rapidamente; nas atividades com balões, o barulho

aumentava e o material utilizado era bastante desperdiçado; quando trabalhamos

brincadeiras que envolveram músicas e dança, no início era comum uma certa

rejeição por parte de alguns, que se recusavam a participar, talvez por timidez ou

preconceito; na realização da gincana final, a princípio houve um clima competitivo,

mas em seguida, o ambiente tornou-se dinâmico e descontraído.

Em relação às atividades teóricas, os objetivos foram mais visíveis e

atingidos em sua maioria, pois abordamos a cooperação e a disciplina em diferentes

situações cotidianas, sendo possível perceber entendimento em relação aos

assuntos. No entanto, caberá aos alunos a tarefa de sintetizar e levar esse

conhecimento adquirido a seu meio de convivência, tanto na escola, quanto na sua

vida, enquanto cidadãos.

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Após o encerramento da intervenção pedagógica nas determinadas turmas,

realizamos uma entrevista semiestruturada, no sistema de questionário, onde os

alunos, aleatoriamente escolhidos, foram consultados frente a frente pelo professor,

tendo a oportunidade de expor suas considerações a respeito do que vivenciaram e

aprenderam durante as aulas.

Para melhor definirmos a entrevista, Gil (1999, p. 90), afirma: “[...] Entrevista,

por sua vez, pode ser entendida como a técnica que envolve duas pessoas numa

situação ‘face a face’ e em que uma delas formula a questão e a outra responde”.

A seguir, faremos a exposição das perguntas contempladas no trabalho, bem

como a transposição e discussão de algumas respostas consideradas significativas.

Quando a pergunta foi: “Você conseguiu entender o que é cooperação?”,

constatei muita clareza nas respostas e um bom entendimento a respeito do

assunto. S1 disse: “É quando as pessoas cooperam, trabalham juntas e não

brigam”. Seguindo esse raciocínio, S17 complementou com: “Fazer as coisas juntos,

não brigar e respeitar os outros”.

Sendo a cooperação um dos focos principais do trabalho e analisando as

várias respostas explanadas pelos alunos, foi possível constatar que houve um

entendimento em relação ao assunto, pois, a maioria enfatizou atitudes como: fazer

juntos e não brigar.

Conforme Brotto (2001, p. 3): “[...] é preciso resgatar nosso potencial para

viver juntos e realizar objetivos comuns. Necessitamos aperfeiçoar nossas

habilidades de relacionamento e aprender a viver uns com os outros, ao invés de

uns contra os outros”.

Percebemos, novamente, que as instituições educacionais tem assumido o

papel fundamental de trabalhar alguns valores essenciais à convivência. Isso nos

leva a refletir sobre a importância dos professores e da escola no processo de

melhora das relações interpessoais, bem como a adaptação de diferentes alunos ao

sistema.

No momento em que foram questionados sobre o que entenderam por

competição, as respostas mostraram os conflitos provocados por ela: S7 disse: “É

competir uns contra os outros”; complementando, S6 respondeu: “É ganhar, praticar

um esporte que sabe que é para ganhar”. Teve ainda a opinião do S11: “É quando

dois ou mais grupos, brigam para ganhar”. Analisando estas respostas, podemos

afirmar que a competição, para a maioria, é algo onde só existe o vencedor, pois o

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vencido se torna insignificante com derrota. Apesar de todas as colocações, tivemos

uma atitude pacífica e consciente em relação ao jogo quando S4 fez sua colocação:

“É jogar juntos, e se perder, não brigar”.

Na maioria das respostas atribuídas à competição, foi fácil perceber o quanto

ela está atrelada a fatores como jogar para ganhar sempre, mesmo provocando

brigas, conflitos e desrespeitando os colegas, que nesse momento se tornam

adversários.

Segundo Correia (2006, p. 11-12):

Apesar de a competição ter se tornado o paradigma dominante na nossa sociedade e ser enaltecida nos esportes e em grande parte da educação física, é possível considerar a possibilidade de estabelecer uma visão cooperativa do mundo e das relações do homem com seus pares, com sua política e com a natureza.

Contudo, se na Educação Física não prepararmos nosso aluno para as

diferentes situações competitivas, o mesmo estará sujeito ao modelo tradicional e

ultrapassado de outrora, onde as aulas visavam a formação de atletas, excluindo os

menos habilidosos e tirando deles o direito que seria de todos, a participação de

forma integral e igualitária.

Outro questionamento foi sobre o que entenderam por indisciplina? Aqui, a

falta de respeito foi apontada como um agravante em praticamente todas as

respostas, conforme nos dizem S5: “É quando as pessoas são mal educadas, não

têm respeito por si próprio e pelos outros”, e S16: “É não escutar, não querer

aprender, é tirar a atenção, atrapalhar os outros”. Isso nos leva a crer que a

indisciplina corrobora com todo esse ambiente hostil e sem condições de uma

aprendizagem de qualidade e onde os alunos possam estar aproveitando todos os

conhecimentos repassados pelos professores.

Na verdade, estamos convivendo com crianças e adolescente sem limites e

intolerantes a qualquer tipo de regra exigida pela escola, ainda que esse recurso

seja o mais eficiente quando definido anteriormente e, se houver uma insistência

muito grande por parte de todos os elementos que compõem o processo educativo.

De acordo com o educador Celso Antunes (2012)

Quando os professores de uma unidade escolar sentam-se com seus alunos e desconstroem e sabem reconstruir a plenitude da significação e dos tipos de disciplina, não apenas a aula corre mais facilmente e a

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aprendizagem se concretiza de maneira mais saborosa como estudantes e mestres descobrem que, reconhecendo a disciplina como ferramenta essencial às relações interpessoais, aprendem autonomia, exercitam a firmeza e conseguem, com mais dignidade, construir o caráter.

Como percebemos, a caminhada em busca da tão sonhada disciplina em sala

de aula, ainda é algo a ser conquistado com muita sabedoria pelo professor que,

além de repassar conhecimentos, precisa encontrar uma nova estratégia a cada dia,

a cada turma e, principalmente, em cada aluno, pois, trabalhamos com seres

humanos inconstantes e imprevisíveis, passíveis portanto, de atitudes inesperadas.

Em seguida, os alunos foram questionados da seguinte forma: Os

conhecimentos e experiências repassados durante as aulas foram importantes

para seu crescimento pessoal? Nesse momento, cabe-nos ressaltar que, em

relação aos conhecimentos repassados, muitos alunos ainda se preocupam em

aprender e vivenciar novas experiências na Educação Física, pois, S11 respondeu

que: “Foi importante porque a professora ensinou a ter conhecimento na sala e na

quadra”, sendo assim, é necessário tirarmos proveito dos conteúdos que podem ser

trabalhados, pois proporcionam muitas alternativas de diversificar as aulas.

Conforme S20: “Foi importante, porque aprendemos coisas diferentes e a ter

regras”. Nesse questionamento, podemos constatar que os alunos precisam de

aulas planejadas e regras definidas, caso contrário, cada um se sentirá no direito de

fazer o que bem entender. Nesse contexto, aumenta a responsabilidade do

Professor de Educação Física, que precisa trabalhar cada dia para contribuir, de

fato, com a formação integral do educando.

Segundo Brandl (2010, p.27) em relação às possibilidades e os conteúdos da

Educação Física:

Possibilidades que atendessem não somente ao interesse daqueles alunos e alunas que têm afinidade com as atividades esportivas, mas também ao dos outros que tem necessidade, como qualquer ser humano, de aprimoramento de suas habilidades motoras, bem como o direito de usufruir e de refletir sobre as vantagens que esta prática supõe para as tarefas do dia a dia, seja no campo do lazer, da saúde ou do trabalho.

Partindo dessa expectativa, devemos estar conscientes da importância da

Educação Física como uma área de conhecimento e, enquanto educadores,

devemos apresentar um trabalho responsável, estruturado e abrangente a todos os

educandos, ainda que seja uma tarefa desafiadora e repleta de obstáculos.

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O questionamento seguinte foi: Você gostou das atividades cooperativas

propostas nas aulas? Pode me explicar? Novamente percebemos que, apesar de

serem resistentes a atividades diferenciadas, os alunos acabam participando,

gostando e percebendo a importância disso na Educação Física, pois segundo S6:

“Todo mundo tem que cooperar e a Educação Física precisa de coisas diferentes”.

Nesse relato, cabe-nos ressaltar que, as atividades cooperativas foram perceptíveis

e chamaram a atenção dos alunos. S13 relatou que: “A professora ensinou

conhecimentos da Educação Física, além de exercitar o corpo”; S4 disse: “Não tem

mais tantas brigas”. Partindo dessas explanações, atentamos novamente para o

compromisso do professor em repensar suas aulas e buscar alternativas que

possam chamar a atenção dos alunos, com os quais está trabalhando, pois elas

poderão se tornar gratificantes quando percebermos alguma mudança.

Soller (2003, p. 45), faz um parâmetro entre a Educação Física Escolar e os

Jogos Cooperativos, relatando o seguinte:

Que campo de ensino poderia ser melhor para ensinar e discutir sobre valores e comportamentos, a passarem a perceber os seus próprios sentimentos e os dos outros, a colaborarem uns com os outros, passando a enxergar o outro como um amigo em potencial, um solidário, e não mais como um temível adversário.

Partindo dessa colocação, podemos ressaltar, mais uma vez, a importância

de uma Educação Física comprometida com os valores dos educandos, enquanto

seres humanos em constante transformação.

A pergunta a seguir foi: Você sabe me dizer a diferença entre cooperação

e competição? Nesse momento, foi perceptível que os alunos têm a consciência e

sabem diferenciar essas atividades, pois S2 definiu da seguinte forma: “Cooperação,

ninguém briga, é jogo para cooperar; Competição é jogo para ganhar”. Enquanto

que S20 diz: “Cooperação, trabalha em grupo. Competição, briga por tudo”.

Observando as respostas citadas e as demais, a cooperação aparece como algo

harmônico, passivo e coletivo, enquanto que a competição remete sempre às brigas

e conflitos em busca da vitória.

Conforme Kemmer (apud CORREIA, 2006, p. 29) “A competição é realmente

inerente ao homem, isso posto, não queremos renegá-la e/ou retirá-la do convívio de

nossos alunos, temos sim que repensar os conteúdos e estratégias nas aulas de

Educação Física”.

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De acordo com Soller (2003, p. 46): “Hoje sabemos que o jogo cooperativo

tem o poder de transformar, e, se tornando um aliado da escola, pode contribuir para

uma mudança de cultura”.

Depois dessas colocações, concluímos que: a competição e a cooperação

sempre irão andar por vias opostas, no entanto, cada uma delas, em especial,

continua contribuindo, ao seu modo e de forma significativa, para o processo

educativo, desde que, bem orientadas e com objetivos definidos.

Como questionamento final, abordamos nosso principal problema, com a

seguinte pergunta: Para você, a indisciplina diminuiu durante as aulas? As

respostas foram bastante positivas. S17 comentou que: “Melhorou, porque antes

ninguém respeitava ninguém”. S10: “Mudou muito, os meninos mudaram e existe

mais respeito”.

Percebemos que, em alguns momentos a indisciplina era mais praticada

pelos alunos do sexo masculino, talvez pelo fato de possuírem um espírito mais

competitivo e serem, geralmente, mais agitados.

Analisando essas respostas, concluímos que os objetivos foram atingidos em

sua maioria, pois percebemos que houve uma mudança significativa nas atitudes

indisciplinares durante as aulas. Os alunos entenderam que a disciplina leva ao

respeito e à melhora na convivência. De acordo com a experiência obtida no

decorrer da intervenção, atribuímos essas mudanças ao fato de todas as atividades

terem sido definidas anteriormente e as regras, estabelecidas claramente, fazendo

com que os alunos se conscientizassem das consequências que a indisciplina traria

ao andamento das tarefas.

4 Considerações Finais

Baseado nos resultados relatados após a implementação pedagógica na

Escola Estadual Antonio Schiebel, apresentamos as seguintes conclusões:

Os prazos estabelecidos foram respeitados totalmente, observando que o

trabalho teria maior relevância se fosse aplicado desde o início do ano letivo e não,

no segundo semestre, considerando que não houve tempo hábil para a adaptação

necessária do professor à turma, antes da aplicação das atividades.

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Quanto aos objetivos propostos, concluímos que eles foram atingidos em

grande parte, visto que houve uma compreensão significativa em relação à

cooperação em diferentes ações, momentos e locais, pois todos os alunos foram

unânimes em suas respostas, destacando a importância de trabalhar em grupos,

serem cooperativos e agirem com respeito em relação aos colegas.

De acordo com Soller (2006, p.17):

Penso que o mais viável seria criar e sustentar dentro das escolas uma pedagogia cooperativa, cuja aula de EFE se transforme num espaço onde todas as diferenças possam conviver e aprender umas com as outras, em harmonia, sendo respeitadas e, mais que isto, valorizadas.

Sendo a cooperação uma estratégia para amenizar a indisciplina, considero

ser esse trabalho o início para o processo de conscientização em relação aos

objetivos da Educação Física, além de oportunizar atividades abrangentes à todos e

mediar os conflitos inerentes à competição.

Cabe ressaltar, que os docentes destacaram a importância de as aulas

possuírem regras pré-estabelecidas, para que todos tomem conhecimento e saibam

das consequências, em caso de atitudes mal sucedidas e prejudiciais ao ambiente

educativo.

Em resumo, para que este trabalho se materialize, de forma significativa, em

todo universo escolar, essas intervenções devem ser contínuas, para que promovam

uma reflexão e tragam benefícios à convivência pessoal do educando em diferentes

situações e locais.

Referências

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