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TÉCNICA DA DENÚNCIA / 2ª parte CASUÍSTICA Conteúdos I - Contribuição Previdenciária (168-A) II - Falsos em geral III - Estelionatos em geral e moeda falsa IV - Descaminho/Contrabando V - Quadrilha/Organização criminosa/Associação para o tráfico VI - Outros crimes permanentes ou de perigo em geral VII - Crimes contra a ordem tributária/SFN VIII - Denúncia/Transação penal: desacato/desobediência IX- Técnica do arquivamento em geral I. Contribuição Previdenciária (168-A) Antes de examinar alguns modelos, é importante anotar sobre esse delito que: Apesar de ser “rotina” a denúncia também é peça inicial de processo criminal, e exige cuidados, pelo menos, para não denunciar quem não devia. Distinguir o que é 168-A (é omissão de pagamento lançado na contabilidade, logo, a contabilidade em tese é idônea) de outras formas de sonegação comissiva da mesma contribuição, como por exemplo, salário pago por fora, o salário dito pago em bruto, salário em espécie não contabilizado, contabilidade imprestável, etc. formas do 337-A atual, que antes dele poderiam vir classificadas no art. 1º da Lei 8137/90. Com ou sem inquérito, é relevante SEMPRE, observar se os documentos contratuais cobrem TODO o período de omissão de recolhimento. Cuidado duplo para atentar se o p.a, pic ou ipl contêm todas as alterações necessárias, em ordem cronológica e seqüencial. Caso clássico de delito societário, deve-se iniciar a denúncia pela qualificação (função) dos réus na empresa. Todo fato alegado na denúncia que se reporta a documento (p. ex. alteração de contrato social, cargo de 1

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TÉCNICA DA DENÚNCIA / 2ª parteCASUÍSTICA

Conteúdos I - Contribuição Previdenciária (168-A)II - Falsos em geralIII - Estelionatos em geral e moeda falsaIV - Descaminho/ContrabandoV - Quadrilha/Organização criminosa/Associação para o tráficoVI - Outros crimes permanentes ou de perigo em geralVII - Crimes contra a ordem tributária/SFNVIII - Denúncia/Transação penal: desacato/desobediênciaIX- Técnica do arquivamento em geral

I. Contribuição Previdenciária (168-A)

Antes de examinar alguns modelos, é importante anotar sobre esse delito que:✔ Apesar de ser “rotina” a denúncia também é peça inicial de processo

criminal, e exige cuidados, pelo menos, para não denunciar quem não devia. ✔ Distinguir o que é 168-A (é omissão de pagamento lançado na contabilidade,

logo, a contabilidade em tese é idônea) de outras formas de sonegação comissiva da mesma contribuição, como por exemplo, salário pago por fora, o salário dito pago em bruto, salário em espécie não contabilizado, contabilidade imprestável, etc. formas do 337-A atual, que antes dele poderiam vir classificadas no art. 1º da Lei 8137/90.

✔ Com ou sem inquérito, é relevante SEMPRE, observar se os documentos contratuais cobrem TODO o período de omissão de recolhimento. Cuidado duplo para atentar se o p.a, pic ou ipl contêm todas as alterações necessárias, em ordem cronológica e seqüencial.

✔ Caso clássico de delito societário, deve-se iniciar a denúncia pela qualificação (função) dos réus na empresa. Todo fato alegado na denúncia que se reporta a documento (p. ex. alteração de contrato social, cargo de

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gerência) convém que dê a fl. onde aparece o fato no documento, senão por outros motivos porque facilita a instrução, se o réu nega a gerência, vai-se rapidamente aos autos e localiza para indagar a respeito do contrato, se o que diz ali é falso, etc.

✔ Distinguir quem detém poderes de administração financeira daquele que pode ter título de gerente, mas por exemplo, de produção, não envolvido necessariamente na administração. Via de regra, o que consta no contrato social é indício seguro e hábil ao oferecimento da denúncia. Há casos que mesmo a palavra de co-responsável (quando assume sozinho) deve ser desprezada ou apresentada em juízo. Sociedades não comerciais (clubes, etc.) e sociedades anônimas exigem a verificação (e que conste dos autos) de atas. A representação fiscal nesse delito via de regra pode dispensar o inquérito policial, o que fica a critério do usuário do manual, porque é critério de “economia” na persecução. Eventualmente, há casos que não recomendam a denúncia com dispensa de inquérito. Por exemplo, quando o exame do contrato social já indica como sócios pessoas muito jovens (21 anos, estudantes) ou irmãos, pode estar ocorrendo que tenham emprestado o nome para o papai. Nesses casos, convém que o inquérito apure essa suspeita. (fica em aberto se a denúncia conterá também imputação pela falsidade no contrato social).

✔ Dado que alguns Juízos fazem seletividade sobre o valor da causa nesse tipo de crime, convém sempre minutar a denúncia, corrigi-la, e só oferecer a denúncia quando vier a informação ATUALIZADA sobre o débito.

✔ Convém que os casos legais de suspensão de prescrição nesse delito constem da denúncia, para facilitar adiante controles de prescrição em concreto. Nesse caso, verificar se nos autos (pa, pic ou ipl) consta informada a DATA de ingresso e a data de SAÍDA do REFIS ou congênere.

✔ Quanto à lei penal no tempo, embora seja fato que a mais nova quando benéfica retroage em proveito do réu, o correto é definir o fato, classificá-lo na lei penal do tempo e depois referir que a lei mais nova (no caso, o art. 168-A) retroage em favor do réu na aplicação da sanção.

✔ é útil referir a quantidade de meses na conduta praticada na classificação, (por exemplo, incorreu por 6x, ou 140x) porque isso tem relação direta com a dosimetria da pena e com a tábua de proporção de aplicação do acréscimo da continuidade.

MODELO 1 (Contribuições Previdenciárias)

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Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Processo Administrativo criminal nº 1.33.000.000931/2005-24DENÚNCIA

Contribuições Previdenciárias, Art. 168-A, § 1º, I, do Código Penal

Período: 07/2002 a 02/2005NFLD n.º 35.399.041-8Valor: R$ 16.183,68

O Ministério Público Federal, por seu Agente, denuncia:

Antonio Carlos Lichtenfels, RG 8/R 1.281.242/SSI/SC, CPF 437.388.859-00, brasileiro, casado, comerciante, nascidos aos 2 de maio de 1962, residente na Rua Kiliano Hammes, s/nº, Picadas do Norte, São José, e estabelecido na empresa Realgás Distribuidora e Transportes Ltda. na Rua Maria Soares, 199, Centro, Palhoça, SC.

Pelos fatos noticiados na representação criminal autuada sob o número indicado ao alto, a seguir descritos:

O denunciado, na condição de sócio-gerente da empresa Realgás Distribuidora e Transportes Ltda., CNPJ 04.293.876/0001-24, estabelecida na Rua Maria Soares, 199, Centro, Palhoça, SC, para exploração de comércio e distribuição de água, gás e transportes rodoviários de cargas, deixou de recolher nos prazos próprios contribuições previdenciárias arrecadadas de seus empregados e lançadas na folha de pagamento mensal, nas competências relativas a 07/2002, 08/2002, 10/2002, 11/2002, 01/2003, 04/2003, 07/2003, 08/2003, 09/2003, 10/2003, 11/2003, 12/2003, 13º salário/2003, 01/2004 a 09/2004, 01/2005 e 02/2005, no valor de R$ 11.244,23, apurado na

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Notificação Fiscal de Lançamento de Débito (NFLD) nº 35.399.041-8, valor consolidado com acréscimos legais e atualizado até 12/04/2005, em R$ 16.183,68.

Assim agindo, incorreu nas sanções do delito classificado no art. 168-A, c/c § 1º, I, do Código Penal, por 24 vezes em continuidade delitiva, na forma do art. 71, do Código Penal. Por tais razões requer seja recebida a denúncia, citado e processado até final sentença, Na instrução, requer inquirição da testemunha adiante qualificada.

Florianópolis, 29 de abril de 2005

ass..............Procurador da República

TestemunhaJuvenal Bernardo da Silva, Auditor Fiscal da Previdência Social

Modelo 2. Omissão de contribuição previdenciária e concurso de agentes. Não é correto imputar todo o fato a todos os gerentes, em sucessão na mesma empresa. Assim, cada um deve responder pelo fato pelo qual é responsável, como por ex (PRR Valderez Barlette)

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERALVARA FEDERAL CRIMINAL DE PORTO ALEGRE

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O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu agente firmatário, com base nos inclusos Processos Administrativos nºs 35239.036477/93-13 e 35239.006833/94-10, oriundos do INSS, vem perante Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA contra

NEWTON DOMINGUES KALIL,brasileiro, separado judicialmente, advogado, natural de Porto Alegre, nascido em 30.10.48, filho de Antonio Miguel Kalil e de Ceres Domingues Kalil, CPF nº076.017.270-68, residente na Rua 24 de Outubro nº 1.221, aptº 403, ou na rua Dário Pederneiras nº 234, com escritório na Rua Padre Chagas nº 185, sala 1.002, todos endereços em Porto Alegre-RS,

GILBERTO DIOGO SANT'ANNA DA CUNHA,brasileiro, casado, CPF nº 054.870.800-20, residente na Rua Cons. Xavier da Costa nº 3.481, bairro Ipanema, em Porto Alegre-RS e

FERNANDO JOSÉ DA ROCHA,brasileiro, casado, CPF nº 002.995.100-34, residente na Victor Silva nº 95, bairro Camaquã, em Porto Alegre-RS,

pela prática dos seguintes FATOS DELITUOSOS:

1. Os denunciados, na época dos fatos, em períodos distintos e seqüenciais, foram os responsáveis pela administração da sociedade civil JOCKEY CLUB DO RIO GRANDE DO SUL, com sede em Porto Alegre, Av. Diário de Notícias s/nº, bairro Cristal, CGCMF nº 92.816.909/0001-30, na condição de presidentes da sociedade, conforme cópias de atas da Assembléia Geral (Rep. Nº 35239.006833/94-10, fls. 05/15 e Rep. Nº 35239.036477/93-13, fls. 37/41) e do Estatuto do Jockey Club do Rio Grande do Sul (Rep. Nº 35239.036477/93-13, fls. 42/68).

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2. A referida sociedade civil, na qualidade de sujeiro passivo, agindo por meio dos denunciados, deixou de recolher aos cofres do INSS, no prazo legal, ou seja, recolhimento até o oitavo dia do mês seguinte ao de cada competência (até 31.08.94) e bi dua dius di nês seguinte ao da competência ou no primeiro dia útil subseqüente (a partir de 01.09.94), conforme artigo 30, I, “a” e “b”, da Lei nº8.212, de 24.07.91, com alterações posteriores, importâncias relativas a contribuição previdenciária arrecadada dos salários de seus empregados.

3. Os fatos ocorreram nos meses de competência de agosto de 1991 a outubro de 1993, e de dezembro de 1993 a julho de 1994 (35 meses), num total consolidado de contribuição previdenciária equivalente a 239.675,96 UFIRs, sendo 166.647,08 UFIRs a parte sem os acréscimos legais.

4. Os fatos, ocorridos mês a mês, são comprovados pelas inclusas Notificações Fiscais de Lançamento de Débito (NFLD) nº 31.865.187-4 e 31.987.481-8, acompanhadas de duscriminativos e relatórios das autoridades fiscais autuantes, bem como outros documentos, consignando o efetivo desconto da contribuição previdenciária dos empregados, de modo especial, por amostragem, cópias de recibos e folhas de pagamento de salários.

5. Os valores lançados pelas autoridades fiscais previdenciárias foram os seguintes:

5.1– NFLD nº 31.865.187-4: total consolidade de débito de contribuição previdenciária igual a CR$ 27.582.226,95, consolidade em 01.12.93, equivalente a 200.787,85 UFIRs, sendo 136.040,50 UFIRs a parte sem os acréscimos legais, referente aos meses de agosto de 1991 a outubro de 1993 (27 meses).

5.2– NFLD nº 31.987.481-8: total consolidade de contribuição previdenciária de R$ 24.530,61, consolidade em 01.10.94, equivalente a 38.888,11 UFIRs, sendo 30.606,58 UFIRs a parte sem os acréscimos de lei, referente aos meses de dezembro de 1993 a julho de 1994 (8 meses).

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6. Como o denunciado NEWTON DOMINGUES KALIL foi presidente da sociedade civil de 01.07.90 a 30.06.92, responde somente pelos fatos dos meses de competência de agosto de 1991 a maio de 1992 (10 meses), vencíveis no mês seguinte, num débito equivalente a 95.729,85 UFIRs, sendo 55.855,75 UFIRs a parte sem os acréscimos de lei.

7. O denunciado GILBERTO DIOGO SANT'ANNA DA CUNHA, por sua vez, exerceu a presidência de 01.07.92 a 30.06.94, respondendo somente pelos fatos dos meses de competência de junho de 1992 a outubro de 1993, e de dezembro de 1993 a maio de 1994 (23 meses), num total de contribuições previdenciárias equivalente a 137.496,67 UFIRs, sendo 105.586,59 UFIRs a parte sem os acréscimos legais.

8. Por fim, o denunciado FERNANDO JOSÉ DA ROCHA, foi presidente de 01.07.94 a 30.06.96, respondendo somente pelos fatos dos meses de competência de junho de 1994 e julho de 1994 (2 meses), num débito equivalente a 6.449,44 UFIRs, sendo 5.204,74 UFIRs a parte sem os acréscimos de lei.

TIPO PENAL

9. Assim agindo, por meio da empresa, os denunciados cometeram o crime tipificado no artigo 95, “d”, sujeitando-se às penas do seu § 1º, na condição de responsáveis pela empresa citada, conforme definido no § 3º do mesmo artigo 95, todos da Lei nº 8.212, de 24.07.91, com aumento de pena pela continuidade delitiva.

PEDIDO

10. Ante o exposto, o ministério Público Federal requer, após o recebimento e autuação da presente denúncia, a citação dos réus para o interrogatório e demais atos processuais, sob pena de revelia, até final sentença condenatória, com oitiva das testemunhas a seguir arroladas.

11. Requer, ainda, sejam certificados os antecedentes criminais dos réus.

Porto Alegre, 29 de agosto de 1997.

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Valderez José BarlettePROCURADOR DA REPÚBLICA

TESTEMUNHAS

1. Geraldo Almir Arruda (Representação nº 35239.036477/93-13, NFLD nº 31.865.187-4)

2. Nádia Regina M. Martins (Representação nº 35239.006833/94-10, NFLD nº 31.987.481-8)

ambos Fiscais da Previdência Social, por requisição ao INSS, Rua Jerônimo Coelho nº 127, Porto Alegre.

MODELO 3. . Distinção entre crime omissivo (168-A) e sonegação comissiva de contribuições previdenciárias. No 168-A a contabilidade em tese é idônea. Não sendo, é caso de sonegação de contribuições pela Lei 8.137/90 ou depois pelo art. 337-A do CP.

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial nº 0391/2001Autos: 2001.72.00.007364-6DENÚNCIAClasse: Sonegação de contribuições previdenciárias Art. 1º, II, da Lei 8.130/1990Período: 12/1995 a 12/1999NFLD n.º 35.078.919-3

O Ministério Público Federal, por seu Agente, denuncia:

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José Carlos Daux, RG 1/R 34.492/SSI/SC, CPF 002.631.179-87, brasileiro, casado, empresário, natural de Florianópolis, aos 3 de dezembro de 1929, filho de Miguel Daux e Lídia Boabaid Daux, residente na Av. Irineu Bornhausen, 4.100, apto. 701, Florianópolis, SC,

Pelos fatos noticiados na representação criminal autuada sob o número indicado ao alto, a seguir descritos:

O denunciado, na condição de sócio-gerente da empresa Ocident – Administração e Participação de Imóveis Ltda., CNPJ 80.690.399/0001-19, estabelecida na Rua José Daux, 1, Canasvieiras, Florianópolis, no ramo de turismo e administração de imóveis, praticou delitos de sonegação de contribuições previdenciárias, na forma e tempo a seguir descritos.

Ação fiscal realizada na empresa e relatada em abril de 2000 apurou que sua contabilidade era imprestável, em razão de inúmeras irregularidades, entre as quais a falta de registro do movimento real da remuneração dos segurados, registros a menor, ou omitidos, e contabilidade em geral viciada por não atender aos princípios da continuidade, oportunidade, competência, registro pelo valor original e prudência. A contabilidade não refletia, no período apurado, a realidade da folha de pagamento da empresa, razão pela qual foi realizada uma folha de pagamento pela Fiscalização do INSS, a partir de todos os elementos de prova arrecadados na empresa, tais como recibos de pagamento extracontábil (por fora), rescisões de contrato de trabalho, fichas de registro de empregados, livros diários.

Foram apreendidos como prova de pagamentos por fora da contabilidade os documentos que integram os volumes 2 e 3 em apenso.

Apurada pela fiscalização a folha de pagamento real da empresa, e deduzidos os pagamentos efetuados, foi considerada omitida a contribuição previdenciária lançada nas seguintes competências:

12/1995. Nesta competência a empresa apresentou duas folhas de pagamento, além de uma terceira contendo recibos individuais não contabilizados. Foi apurada a contribuição sonegada em folha de pagamento realizada pela fiscalização.

01/1996 a 04/1996. Nesse período os valores contabilizados são muito inferiores aos constantes das folhas de pagamento, houve falta de

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apresentação da totalidade dos recibos, e os adiantamentos salariais a empregados não foram contabilizados. Também foi apurada a folha de pagamento real pela fiscalização.

05/1995 a 12/1999. Para esse período, diante da imprestável contabilidade da empresa, foi apurada a base de cálculo da contribuição previdenciária em documento denominado FP5 – FOLHA DE PAGAMENTO CALCULADA PELA FISCALIZAÇÃO, documento anexo à Notificação Fiscal de Lançamento de Débito nº 35.078.919-3, conforme os três critérios referidos no relatório de fiscalização, fls. 166 e 167. Primeiro, para os empregados Anderson Luiz Soares, Carmen L. Custódio, Dionísio Montipó, Elza J. B. Oliveira, João A Zamboni, Jorge L. Cerqueira, José Ademir Tramontini, José Alexandro, Lambroso Hommes, Maria H. Felix, Rosemar S. Borba, Revelino de Paula Lima e Rut F. O Rosalino, admitidos até abril de 1996, considerou-se como base o valor da folha de pagamento desse mês convertida em salários mínimos, aplicando-se tal valor a todo o período de vínculo empregatício.

Segundo: Para os empregados admitidos a partir de maio/1996, diante da falta de documentos que comprovassem a real remuneração dos empregados, foi calculada uma média tomando como base a remuneração integral mensal, constante das folhas de pagamento dos empregados no período de um ano (mai/1995 a abr/1996) convertida em salários mínimos e dividida pelo número de empregados mensalmente, conforme documento denominado DEMONSTRATIVO DE APURAÇÃO DA MÉDIA SALARIAL. Como a empresa administra hotéis, esse critério teve como objetivo considerar a remuneração efetivamente recebida ao longo de um ano, para evitar possíveis distorções. A média apurada foi de 3 (três) salários mínimos de remuneração mensal por empregado.

Terceiro, para os empregados Tasso Beltrão Rego (admitido em 05/07/96 e rescisão em 30/04/97) e Rogério Lahude Aquino (admitido em 01/03/97 e rescisão em 29/4/97) foi considerada como remuneração mensal a constante das rescisões de contrato de trabalho apresentadas.

A remuneração individual, apurada de acordo com os três procedimentos descritos, e a contribuição a cargo dos segurados empregados, foram detalhadas no documento FOLHA DE PAGAMENTO CALCULADA PELA FISCALIZAÇÃO, e os valores ali apurados serviram de base para cálculo do salário de contribuição sobre o qual deviam incidir as parcelas de contribuição previdenciária sonegadas.

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Praticou, desta forma, o denunciado, na condição de administrador da empresa, delitos do art. 1º, I, da Lei 8.137/1990 (desde 2000 tipificado no Código Penal no art. 337-A, I), por ter, nas competências de 12/1995 até 12/1999, incluindo o 13º salário de 1999, omitido da folha de pagamento da empresa o valor real dos salários pagos a seus empregados, suprimindo com essa omissão o pagamento da contribuição previdenciária incidente sobre a folha de pagamento.

Ainda que o objeto da denúncia não seja a totalidade do crédito previdenciário lançado, em razão da prescrição e de outras parcelas apuradas, apenas para que se estime o valor do dano causado à Previdência, informa que o débito lançado, com acréscimos legais, foi consolidado em 18/4/2000 em R$ 816.281,01 (oitocentos e dezesseis mil, duzentos e oitenta e um reais).

Assim agindo, incorreu o acusado nas sanções do delito classificado no art.

1º, II, da Lei 8.137/1990, por 53 vezes em continuidade delitiva, na forma do art. 71, do Código Penal.

Por tais razões requer seja recebida a denúncia, citado e processado até final sentença, julgando-se a ação penal com base na prova documental já constante da notícia de crime, e inquirição da testemunha adiante qualificada.

Observando que a pretensão punitiva e a prescrição estiveram suspensas desde a adesão ao Programa REFIS, em 19/09/2000, até a exclusão do mesmo programa, em 09/02/2004, com fundamento no art. 15 e seu § 1º da Lei nº 9.964/2000, requer ainda seja declarada a extinção de punibilidade pela prescrição, relativamente aos fatos ocorridos até 11/1995, uma vez que até 19/09/2000 decorreram 4 anos e 10 meses, e desde 9/2/2004 até a presente data mais 1 ano e 2 meses, no total de 6 anos do prazo prescricional aplicável à espécie, com a redução de metade, aplicável ao denunciado por ter mais de 70 anos de idade, conforme art. 115 do Código Penal, e 109, III, do Código Penal.

Florianópolis, 12 de abril de 2005

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II - FALSOS EM GERAL

✔ Problema mais comum dos falsos é a tentação de narrar o fato dizendo apenas que “o réu usou o documento falso de fls.”

✔ A descrição do fato exige mais que isso porque existe num mesmo tipo penal distinção de máximo de sanção, quer seja o documento falso (ideologicamente falso) particular ou público. Se particular, prescrição se dá em 8 anos, se público, em 12. Para o requisito do TF (ou TEMPO DO FATO) que pode desembocar em promoção de extinção, deve-se em primeiro lugar verificar que tipo de documento é tido por falso.

✔ Segundo: raras vezes se sabe autoria, de modo que também é crime o uso do falso, cuja sanção, porém, se reporta ao tipo de documento falsificado. Assim, está incompleta a capitulação que diz que o réu incorreu nas sanções do art. 304 do CP (porque este nem possui sanções próprias). Além de descrever o falso, sem que isso seja necessariamente reportar-se à prova, convém, quando se sabe, dizer na denúncia como é o que documento foi falsificado.

✔ Ex mais comum: o réu, de posse de um documento público verdadeiro, emitido em data X, para a empresa Y, adulterou a data de emissão no original e a partir deste extraiu fotocópia que foi autenticada pelo tabelião z, no dia tal, como se fosse original para todos os efeitos de lei, fotocópia autêntica que apresentou no dia tal, como requisito para cadastramento como fornecedor etc. Como na rotina o falso é sempre ocorrência em concurso formal com outro delito, a história do falso deve ser descrita no caminho desse outro crime, mas sempre de modo autônomo (até porque pode cair um, ficar o outro).

Ex. 1. Falso em prorrogação contratual de originária de licitação (CND) (não se discute aqui o fato de jurisprudência considerar a hipótese de uso de CND em órgão público estadual delito de competência estadual, discutível, seja como for, a denúncia perante Juízo absolutamente incompetente não é inepta, ela é inexistente).

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Excelentíssimo Senhor Juiz Substituto da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial 097/99-SR/DPF/SCAutos: 99.000 1915-6Classe: Uso de Documentos Públicos Falsos Art. 304 c/c 297 do CP (23/10/1996) eFraude em Prorrogação de contrato decorrente de Licitação (Art. 92, Lei 8666/93) (03/09/1996)DENÚNCIA

O Ministério Público Federal, por seu Agente, vem à presença de Vossa Excelência oferecer denúncia contra:

BENITO CAMILO ZANELATTO (qualif. fl. 149), RG 278.324/SSP/PR, CPF 002.370.789/53, brasileiro, casado, engenheiro civil, de instrução superior, filho de Attilio Zanelatto e Escolástica Zini Zanelatto, natural de Guarapuavinha, PR, aos 17 de outubro de 1938, residente na Rua Cel. Dulcídio, 303, apto. 11, Batel, Curitiba, Paraná ECARLOS EDUARDO SENS, RG 1/R 120.728/SSP/SC, brasileiro, casado, empresário, de instrução secundária, filho de Eduardo Sens e de Alice F. Sens, natural de São José, SC, aos 08 de setembro de 1948, residente na Rua Duarte Schutel, 233, apto. 801, Torre 1, Edifício Caminos, Centro, telefone 224-50-53

Pelos fatos delituosos a seguir descritos:O primeiro denunciado exercia, no ano de 1994, a gerência da sociedade

denominada Construtora Aztto Ltda., em nome da qual participou de licitação promovida pelo Departamento de Estradas de Rodagem de Santa Catarina, DER-SC, tendo adjudicado o objeto licitado para a execução dos serviços de terraplenagem, pavimentação, drenagem, e obras de arte e serviços complementares na Rodovia SC 453, Trecho Lebon Regis – Fraiburgo, com 31,000 km de extensão, Lote 13, da Concorrência Internacional Edital 026/94- DER/SC, contrato PJ 233/94.

Aos 31 de julho de 1996, a empresa, através do segundo denunciado, Carlos Eduardo Sens, solicitou prorrogação de prazo, o que foi aprovado, dando origem ao Aditivo Contratual de Prorrogação de Prazo ao Contrato PJ-233/94, firmado pelo DER/SC, de um lado, e pelo segundo denunciado, representando Benito Camilo, de outro (fl. 254), aos 03 de setembro de 1996. A prorrogação foi deferida mediante a

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ilusão do Poder Público quando ao estado pré-falimentar da empresa, o que é meio fraudulento.

Para receber o pagamento de faturas decorrentes do referido Aditivo Contratual, e sendo necessário apresentar certidões negativas de tributos e contribuições, e como a empresa Aztto Construtora Ltda. já se encontrasse em situação de insolvência, os denunciados valeram-se de uma certidão negativa de débitos previdenciários (CND) forjada, montada a partir de um original em cuja fotocópia foi aposto um carimbo falso do 3º Tabelionato de Curitiba, PR, documento com o número 177.465, série G, que seria originário de um PCND de nº 009014/96, forjado no dia 23 de outubro de 1996, documento falso que foi apresentado ao DER/SC pelos denunciados.

Da mesma forma, forjaram e apresentaram ao DER/SC, no processo administrativo do Aditivo Contratual ao contrato denominado PJ/233, Certidão Falsa de Quitação de FGTS, cuja cópia, com o mesmo carimbo falso de autenticação do 3º Tabelionato de Notas de Curitiba, foi forjada no dia 23 de outubro de 1996 (fl. 255 do inquérito).

Tem-se que os delitos se consumaram, ante a ausência de elementos que provem a data de recebimento pelo DER/SC dos documentos, no dia em que teriam sido forjados os falsos (23/10/96) e no caso de fraude à licitação, na data de assinatura do Termo Aditivo ao Contrato PJ/233 (03/09/96). ASSIM AGINDO, usaram os denunciados, em contrato decorrente de licitação com o Poder Público, de meio fraudulento (dois documentos falsos), estando incursos nas sanções dos artigos 297 c/c 304 do Código Penal e do art. 92, parágrafo único da Lei 8666/93, em concurso material de delitos (art. 69 do Código Penal) razão por que requer o Ministério Público:

1. seja recebida a denúncia, citados e processados os réus até final sentença;2. seja ouvida a testemunha adiante qualificada.3. O ARQUIVAMENTO do inquérito com relação ao delito do art. 92, caput,

da Lei 8666/93, em razão de impossibilidade de apurar autoria da conduta ativa da fraude, imputável a funcionários do DER/SC, de que há indícios no inquérito na fl. 53, correspondência de Nei Wilson de Pascoal.

Florianópolis, 17 de abril de 2001

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

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CASO 2. Em abertura de licitação/CND falsa

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial 333/2000-SR/DPF/SCAutos: 2000.72.00.008319-2Classe: Uso de Documento Público Falso Art. 304 c/c art. 297 do Código Penal , c/c art. 69 CP (13/07/1998 e 02/03/1999) e Fraude em Licitação (Art. 93, Lei 8666/93, c/c art. 70 CP) (02/03/1999)

DENÚNCIA

O Ministério Público Federal, por seu Agente, vem à presença de Vossa Excelência oferecer denúncia contra:

Sérgio Luiz Perrone, (qualif. Indireta fl. 149), RG 1000 846095/SSP/RS, CPF 107.762.300-34, brasileiro, casado, empresário, filho de Antonieta Peraz Perrone, residente em local incerto e não sabido,

Pelos fatos delituosos a seguir descritos:O denunciado exercia, ao tempo dos fatos, a gerência da sociedade

denominada Humaitá Comércio Importação Exportação Ltda., com último endereço conhecido na Av. A J. Renner, número 1173, Loja B, Bairro Humaitá, Porto Alegre, RS, sendo detentor de 99% do capital social.

Nessas condições, foi o autor do domínio dos seguintes fatos criminosos: No dia 02 de março de 1999 foi examinada pela Comissão de Licitação do

Banco do Estado de Santa Catarina – BESC, a documentação recebida de diversos licitantes que acorreram à Carta Convite 017/99. Nessa ocasião foi diligenciada a autenticidade de CND apresentada pela empresa Humaitá, administrada pelo denunciado, vindo por fim a apurar-se que era falsa, sendo então inabilitada a empresa Humaitá Comércio Importação e Exportação Ltda. em razão de apresentação de CND (Certidão Negativa de Débitos) materialmente falsificada, em cópia autêntica.

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O documento falso foi produzido a partir de uma Certidão materialmente verdadeira, de número 196424, emitida para a mesma empresa, só que em 09 de julho de 1998, e posteriormente adulterada em sua data de emissão para lá constar a data de 09 de dezembro de 1998. Após, foi apresentada a adulteração como verdadeira, ao 2º Tabelionato da Comarca de Porto Alegre, em 06 de janeiro de 1999, o qual, induzido em erro, conferiu a cópia com o original, atestando e conferindo à cópia idêntico valor ao do documento original, na forma da lei. Tal documento foi então apresentado pela licitante à Comissão de Licitações do BESC (documento na fl. 3 dos autos 2000.72.00.001699-3).

Consta dos autos em apenso que o documento adulterado foi também apresentado à Delegacia de Administração do Ministério da Fazenda no Rio Grande do Sul no dia 13 de julho de 1998, ocasião em que, induzido em erro, o servidor João Gurski Rodrigues, Presidente da Comissão de Cadastro e Chefe da Equipe de Compras daquela Delegacia, conferiu uma cópia com o original, atestando tal fato na cópia (fl. 59 dos autos 2000.72.008319-2)

Perante a Comissão de Licitação do BESC, em documento de provável emissão pelo denunciado, a empresa licitante procurou imputar a fraude a outra pessoa que seria a “funcionária responsável pela documentação da empresa junto ao contador” (fl. 05), o que é de todo inverossímil.

Assim agindo, o acusado, por duas vezes, usou documento público materialmente falsificado, a primeira em 13 de julho de 1998 e a segunda em 2 de março de 1999, estando incurso nas sanções do artigo 297 do Código Penal, pela prática de crime classificado no artigo 304, em concurso material (artigo 69). Incorreu, ainda, em concurso formal (art. 70) com o segundo falso nas sanções do artigo 93 da Lei 8666/93, por “fraudar ato de procedimento licitatório”. Por tais razões, requer:

1. seja recebida a denúncia e citado desde logo por EDITAL, por estar em local incerto e não sabido, para ser interrogado e processado até sentença final;

2. a requisição de diligências de localização à Polícia Federal, uma vez que na sede de inquérito o indiciado não foi procurado no endereço comercial conhecido, na Av. A J Renner, em Porto Alegre, nem constou a procura por parentes do indiciado, nominados no contrato social. Para esse fim, requer que a requisição se faça acompanhar do contrato social de fls. e cópia da fl. 65.

3. A requisição de cópias do prontuário de registro civil do denunciado, que teria, segundo consta, número 1000.84.6095, à Secretaria de Segurança Público do Estado do Rio Grande do Sul.

4. Na instrução, a ouvida das testemunhas adiante arroladas.Florianópolis, 20 de novembro de 2002

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II - FALSIDADE IDEOLÓGICA

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial nº 0724/2004 /SR/DPF/SCAutos: 2004.72.00.015990-6Indiciados: Alexandre Lenfers e João Bosco CaminhaClasse: Falsidade ideológica em documento público, corrupção ativa e passiva Art. 299 do Código Penal, 317, § 1º e 333, e Par. Único. DENÚNCIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Agente, amparado nos elementos de convicção dos autos acima indicados, denuncia:

Alexandre Lenfers, RG 2.500.237/SSP/SC, CPF 864.683.919-20, brasileiro, casado, natural de Joinville/SC, aos 14 de novembro de 1972, filho de Pedro Francisco Lenfers e de Zoete Ramlow Lenfers, com instrução de segundo grau completo, industrial, residente na Rua das Laranjeiras, 1700, Roçado, São José/SC, telefone (48) 3343-7077, com endereço comercial na Rua Valdir José Mariano, 11, Forquilinhas, São José/SC, telefone (48) 3257-3412; EJoão Bosco Caminha, RG 125.107/SSP/SC, CPF 029.942.919-91, brasileiro, casado, natural de Florianópolis, aos 16 de setembro de 1944, filho de João Caminha e de Olindina da Luz Caminha, advogado aposentado, voluntário em serviços administrativos no Asilo Irmão Joaquim, instrução superior, residente na R. Padre Schröder, 149, Agronômica, Florianópolis/SC, telefone (48) 3228-1962, endereço comercial na Rua Hercílio Luz, 1302, Centro, Florianópolis, telefone (48) 3224-3099,

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Pela prática dos fatos delituosos a seguir descritos:1DAS FALSIDADES IDEOLÓGICAS

O acusado Alexandre Lenfers foi condenado por descaminho e falsidade ideológica nos autos do processo penal 96.6741-4/SC, a pena privativa de liberdade de 3 anos e 3 meses de reclusão e multa. A pena privativa de liberdade foi substituída por uma pena restritiva de direitos consistente em prestação de serviços à comunidade, na razão legal de uma hora de serviço por dia de condenação e prestação pecuniária. A audiência admonitória realizou-se na Vara Federal Criminal de Florianópolis, Juízo da Execução Penal, em 31 de julho de 2002. Nessa audiência foi consignado que a prestação de serviços comunitários se faria no Asilo Irmão Joaquim, Instituição beneficente situada na Av. Mauro Ramos, 901, em Florianópolis/SC e credenciada junto à Vara Federal Criminal de Florianópolis para tal finalidade. Por delegação do Juízo da Execução Penal, o acusado João Bosco Caminho foi indicado como fiscalizador da execução da pena restritiva de direitos de Alexandre Lenfers, e nessa condição equiparada a função pública recebeu, no dia 02 de agosto de 2002, “vinte formulários de relatórios de Prestação de Serviços”, que deveriam ser utilizados pela Instituição Asilo Irmão Joaquim na fiscalização da execução e assinados pelo apenado Alexandre.

Os acusados Alexandre Lenfers e João Bosco Caminha, em comunhão de vontades, decidiram falsificar ideologicamente todos os relatórios que foram apresentados ao Juízo entre agosto de 2002 e dezembro de 2003, o que efetivamente fizeram, sendo que as informações constantes dos relatórios, todos firmados pelo acusado Alexandre Lenfers (cf. Laudo pericial produzido na Execução Penal, nº 128/06-SR/SC) e também pelo acusado João Bosco Caminha ou por funcionária do Asilo por ordem desse acusado, alteraram a verdade sobre fatos juridicamente relevantes, porque ficou provado que o acusado Alexandre jamais prestou serviço comunitário no Asilo Irmão Joaquim. Produziram assim em concurso de agentes os seguintes documentos públicos ideologicamente falsos, denominados cada um como “Relatório Mensal da Prestação de serviços à comunidade – PSC”, nas seguintes datas:

1. Relatório do mês de Agosto/2002, com preenchimento ideologicamente falso de 96 horas de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 48 da Execução Penal (58 do Apenso I);

2. Relatório do mês de Setembro/2002, com preenchimento ideologicamente falso de 202h30min de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 57 da Execução Penal (67 do Apenso I);

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3. Relatório do mês de Outubro/2002, com preenchimento ideologicamente falso de 123h30min de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 74 da Execução Penal (84 do Apenso I);

4. Relatório do mês de Novembro/2002, com preenchimento ideologicamente falso de 75horas de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 77 da Execução Penal (87 do Apenso I);

5. Relatório do mês de Dezembro/2002, com preenchimento ideologicamente falso de 137h30min de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 84 da Execução Penal (94 do Apenso I);

6. Relatório do mês de Janeiro/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 78h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 89 da Execução Penal (99 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha)

7. Relatório do mês de Fevereiro/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 98h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 92 da Execução Penal (102 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha)

8. Relatório do mês de Março/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 62h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 95 da Execução Penal (105 do Apenso I)

9. Relatório do mês de Abril/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 102h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 98 da Execução Penal (108 do Apenso I)

10. Relatório do mês de Maio/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 103h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 101 da Execução Penal (111 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha)

11. Relatório do mês de Junho/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 101h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 109 da Execução Penal (119 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha)

12. Relatório do mês de Julho/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 99h30min de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 114 da Execução Penal (124 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha)

13. Relatório do mês de Agosto/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 31h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 123 da Execução Penal (132 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha)

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14. Relatório do mês de Setembro/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 30h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 127 da Execução Penal (136 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha)

15. Relatório do mês de Outubro/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 30h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 134 da Execução Penal (143 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha)

16. Relatório do mês de Novembro/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 30h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 136 da Execução Penal (145 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha)

17. Relatório do mês de Dezembro/2003, com preenchimento ideologicamente falso de 30h de prestação de serviço que não foram prestadas, à fl. 140 da Execução Penal (149 do Apenso I) (observação: falso firmado por terceiro, de ordem do acusado João Bosco Caminha).

2DA CORRUPÇÃO ATIVA E PASSIVA

Ficou apurado que a prática das falsidades foi favorecida por corrupção ativa e passiva dos acusados. Alexandre ofereceu um computador, com o objetivo de obter os documentos produzidos pelo acusado João Bosco Caminha com infração de dever funcional, vantagem indevida que este aceitou, na condição transitória de delegado do Juízo Federal das Execuções Penais de Florianópolis na fiscalização do cumprimento da pena de Alexandre, condição equiparada a funcionário público por força do art. 327 do Código Penal. Mediante oferta da vantagem indevida, Alexandre obteve de João Bosco Caminha os documentos falsos, praticados com infração de dever funcional.

Assim agindo, incorreram os acusados Alexandre Lenfers e João Bosco Caminha, em concurso de agentes na forma do art. 29 do Código Penal, nas sanções do art. 299 do Código Penal, relativamente a documento público, por 17 vezes, em continuidade delitiva, incidindo relativamente ao acusado João Bosco Caminha causa especial de aumento de pena do § 1º do art. 299. O acusado Alexandre Lenfers, em concurso material de delitos, incorreu ainda nas sanções do art. 333 e seu Parágrafo único (corrupção ativa), ao passo que o acusado João Bosco Caminha, também em concurso material de delitos, incorreu nas sanções do art. 317 e seu § 1º.

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Isso posto requer: 1. o recebimento da peça acusatória e 2. citação dos acusados para todos os atos do processo penal até final

sentença. 3. Que cópias autenticadas pela Secretaria da Vara Federal Criminal dos

documentos referidos na denúncia instruam estes autos, bem como prova emprestada àquela execução (Laudo Pericial).

4. Na instrução, a inquirição das testemunhas adiante qualificadas. Florianópolis, 20 de fevereiro de 2006

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

TESTEMUNHAS:1. Regina da Silva, Rua Francisco Jacinto de Melo, 1535, apto. 14, Bairro

Areias, São José/SC, telefone (48)3346-2914, endereço comercial no Asilo Irmão Joaquim, Centro, Florianópolis, 3224-75-44;

2. Sandra Regina Malagoli, Rua Prefeito Reinoldo Alves, 1250, Bairro Passa Vinte, Palhoça/SC, telefone (48) 3242-2806, endereço comercial no Asilo Irmão Joaquim, Av. Mauro Ramos, 901, Centro Florianópolis, telefone (48) 3224-3099.

II - FALSIDADE IDEOLÓGICAExcelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial n.º 0440/2002Autos: 2002.72.00.009392-3Classe: Art. 299, do Código Penal

Prova falsa em processo trabalhista

O Ministério Público Federal, por seu Agente, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos elementos de fato apurados no inquérito policial acima indicado, oferecer denúncia contra:

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Francisco Dandolini Neto, de alcunha Chico, RG 669.321-0/SSP/SC, CPF 399.181.909-06, brasileiro, separado, garçom, natural de Tubarão, SC, aos 13 de abril de 1958, com instrução de primeiro grau incompleto, filho de Silvestre Dandolini e Adília Dandolini, residente na Av, Prof. Milton Leite da Costa, 188, Canasvieiras, Florianópolis, telefone 48-266-5920.

Pelo fato delituoso a seguir descrito:O acusado Francisco Dandolini Neto produziu dois documentos particulares

nos quais inseriu declaração falsa com intuito inequívoco de alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante e oferecê-los como prova falsa de quitação de direitos trabalhistas em processo trabalhista de nº 7127/2000, contra si ajuizado por Deomildo Gilberto Sebastian. Francisco assinou falsamente como se fosse o autor da ação, Deomildo, dois recibos de pagamento de salários relativos aos meses de janeiro e fevereiro de 2000, nos valores respectivos de R$ 1.000,00 e R$ 950,00, e os entregou à advogada que fez a sua defesa, para instruir com tais documentos a contestação, o que ocorreu em audiência na 7ª Vara do Trabalho de Florianópolis no dia 31 de janeiro de 2001.

Assim agindo, incorreu nas sanções do art. 299 do Código Penal, relativamente à falsidade ideológica de documento particular, por fazer uso em sua contestação de dois recibos de pagamento ideologicamente falsos.

Em razão do exposto requer seja recebida a denúncia e processado o réu até final sentença. Oferece ao acusado o benefício do art. 89 da Lei 9.099/1995, de suspensão condicional do processo pelo prazo de 2 anos, mediante as condições da lei e as usuais do juízo. Caso tenha seguimento a ação penal, requer o julgamento da ação com base na prova documental e perícia já constantes do inquérito, suficiente para o total esclarecimento do fato delituoso.

Florianópolis, 19 de outubro de 2004

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

FALSO TESTEMUNHO

✔ A descrição do falso testemunho é assemelhada à descrição de um documento falso, uma vez que o testemunho é a “idéia” falsificada que poderia ter sido inserida em papel se não fosse o depoimento.

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✔ MAS, seu TF e LF são peculiares porque o falso testemunho se dá em Juízo, ou processo administrativo, etc. e em processo (esse é o lugar).

✔ Deve, portante, ser descrito o número dos autos, partes, objeto. ✔ O objeto resumido do pedido originário (do processo em que

produzido o falso testemunho) é circunstância relevante para apurar-se um dado que é importante aqui: a potencialidade lesiva da mentira.

✔ Assim, por exemplo, se a mentira recai sobre fato que não é pedido num processo civil, é possível que ela seja irrelevante para o caso.

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Processo de Investigação Criminal n.º 1.33.000.000648/2004-11Origem: Justiça do Trabalho1ª Vara do Trabalho de Florianópolis, Processo 07170-2003-001-12-00-7Autor: Roberto Francisco DexheimerRé: Caixa Econômica Federal

DENÚNCIA

Classe: Falso Testemunho em processo trabalhistaArt. 342, caput CPData do fato: 10/3/2004

O Ministério Público Federal, por seu Agente, denuncia:

Carlos José Gevaerd Fernandes, RG 1.574.352/SSP/SC, brasileiro, casado, bancário, com 37 anos ao tempo dos fatos, residente na Av. Madre Benvenuta, 417, Trindade, nesta Capital, com endereço profissional na CEF, Agência Miramar, Centro, Florianópolis.

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pelos fatos a seguir descritos:

O denunciado prestou depoimento perante a 1ª Vara do Trabalho de Florianópolis, no dia 10 de março de 2004, na qualidade de testemunha da ré, Caixa Econômica Federal, no processo trabalhista AT nº 7170/2003 movido contra essa empresa pública federal por Roberto Francisco Dexheimer.

No pedido, o reclamante pleiteou, entre outros direitos, a desconstituição da prova documental da jornada de trabalho, alegando que havia determinação da empresa ré para que fosse marcado sempre o mesmo horário à entrada e à saída do serviço, não havendo permissão de registro de horas extras. Alegou ainda que o autor laborava habitualmente horário extraordinário, requerendo seu pagamento.

Objetivando favorecer a ré, o denunciado faltou com a verdade ao declarar que Roberto Francisco Dexhemier, autor da ação:

“costumava sair dentro do seu horário” e que“em seu setor havia pouquíssima hora extra”.

Como o depoimento do acusado Carlos José discordava do que prestou o próprio preposto da ré, foi-lhe dada oportunidade de modificar o declarado e retratar-se, tendo mantido na íntegra o falso testemunho que praticou.

Examinando a prova, o juiz do processo trabalhista considerou falso o testemunho do acusado, e fixou o termo final da jornada do autor no horário de 17h.30min, 1h e 30min além do horário normal, de 16h, afirmado pelo depoente.

Assim agindo, incorreu o acusado nas sanções do art. 342 do Código Penal, razão por que requer:

1. Seja recebida a denúncia, e citado o réu para todos os atos do processo, inclusive audiência preliminar de suspensão do processo.

2. A suspensão do processo, pelo prazo de 2 (dois) anos, mediante as condições do art. 89 da Lei 9099/95 e as do juízo;

3. Em caso de seguir a ação penal, a ouvida da testemunhas adiante arroladas. Protesta pela complementação do rol com endereços das testemunhas, bem como pela juntada ao processo penal de prova documental originária dos autos trabalhistas, ora na instância superior, caso necessário.

Florianópolis, 23 de novembro de 2004

Marco Aurélio Dutra Aydos

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Procurador da República

TESTEMUNHAS

1. José Mauro Cheng, servidor da CEF2. Zulma Jorge de Queiroz, Rodovia Ademar Gonzaga, 1747, bloco B,

apto. 404, Itacorubi, Fpolis;3. Flávio Palhares, Rua Antônio Medeiros, 87, Barreiros, São José.4. Roberto Francisco Dexheimer.

(Jurisprudência interessante nesse processo. Provimento do TRF4 em hábeas corpus concedido no primeiro grau para trancamento da ação penal. Ver. RCCR 2004.72.00.017230-3, www.trf4.gov.br)

Falso testemunho. Exemplo 2.

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial n.º 0276/2004Autos: 2004.72.00.008442-6

CLASSE: Art. 342, caput, do CP (falso testemunho)Data do fato: 10/04/2003

O Ministério Público Federal, por seu Agente, denuncia:

Claudemir Couto Rosa, (RG 4.221.487-4/ SSP/SC, CPF 028.104.949-16), brasileiro, solteiro, carpinteiro, natural de Lages/SC, aos 20 de outubro de 1982, filho de Alair Ribeiro Rosa e de Maria Loiva Couto Rosa, com instrução de primeiro grau incompleto, residente na Rua Pedra de Listras, 66, Bairro Saco Grande (construção do Shopping Center da SC 401), Florianópolis/SC,

pelos fatos noticiados no inquérito policial acima indicado e a seguir descritos:

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O denunciado prestou depoimento perante a 5ª Vara do Trabalho de Florianópolis, no dia 10 de abril de 2003, às 10h26min, na condição de testemunha do autor, em processo trabalhista de n.º AT 01414-2003-035-12-00-5, de autoria de Jorge Faleiro de Azevedo contra Sávio Klock.

Pleiteava o autor o recebimento do valor de R$ 645,00, alegando que fora contratado para empreitada na residência do réu, no valor de R$ 1.000,00, para colocação de pisos e azulejos em área de 100 m², e que tendo realizado todo o serviço e ainda efetuado a colocação de 25 metros lineares de mármore, não foi honrado o pagamento total, porque recebeu apenas R$ 480,00.

Foi relativamente a esta circunstância que o denunciado faltou com a verdade, sendo seu depoimento relevante. Disse o acusado falsamente que trabalhou juntamente com Jorge Faleiro de Azevedo na residência de Sávio por aproximadamente 45 dias, e que Jorge não recebeu o pagamento devido. O que se apurou no processo trabalhista é que ambos faltaram com a verdade, tendo sido Jorge por fim condenado como litigante de má-fé, porque jamais executou qualquer obra na residência de Sávio, tendo apenas indicado o serviço de um outro pedreiro de nome Jacaré, que foi quem efetivamente trabalhou em contrato acertado diretamente com o proprietário da residência, sem a participação de Jorge como empreiteiro. Ficou apurado ainda que o ora denunciado não trabalhou na residência de Sávio Klock pelo período de 45 dias, como afirmou em seu depoimento na Justiça trabalhista. Sem ter trabalhado para Sávio Klock pelo período que alega, o acusado depôs, sob compromisso, em Juízo que:

“que trabalhou por uns 45 dias na casa do réu, na mesma época em que trabalhava com o autor” “que na casa do réu trabalhou com o autor, que também trabalhou uns 45 dias”. “que foram trabalhar na casa do réu depois que ‘esse tal jacaré foi corrido, quando o Jorge foi chamado’; que o Jacaré tinha feito alguma coisa, mas arrancaram o piso que ele colocou”.

Jorge Faleiro disse em Juízo que “o entulho que aparece na fotografia juntada com a contestação refere-se ao piso que foi arrancado pelo depoente”. Se Jorge e o ora acusado Claudemir trabalharam juntos nos 45 dias na casa de Sávio Klock era natural que Claudemir também soubesse o que significava esse entulho. Porém, inquirido pelo Juízo Claudemir afirmou que: “não sabe do que se trata o entulho retratado na fotografia juntada pelo réu, e nunca viu esse entulho”.

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A conclusão evidente a que leva o conjunto probatório é de que o acusado Claudemir em realidade se “voluntariou” para faltar com a verdade em Juízo com o objetivo de auxiliar seu amigo Jorge, como aliás, o próprio acusado esclareceu diante da autoridade policial:

“QUE se voluntariou para ser testemunha para seu amigo JORGE, pois até onde tem conhecimento JORGE trabalhou para SAVIO mas não recebeu pelo serviço prestado” (fl. 38).

ASSIM AGINDO, incorreu nas sanções do art. 342, caput, do Código Penal Brasileiro, razão por que requer:

1. seja recebida a denúncia, citado e intimado para audiência preliminar de suspensão do processo, benefício que propõe, pelo prazo de 2 (dois) anos, mediante as condições da Lei 9099 e as do juízo;

2. sendo caso de seguir a ação penal, a ouvida das testemunhas adiante arroladas.

Florianópolis, 3 de janeiro de 2005

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

TESTEMUNHAS

1. Sávio Francisco Klock, residente na Rua Atahualpa Andrade, 390, Jardim Atlântico, Florianópolis, SC.

2. José Roberto Machado, residente na Rua Ilha Sul, 74, Campeche, Florianópolis/SC.

III - ESTELIONATOS E MOEDA FALSA

✔ Delitos de consumação ardilosa como os estelionatos (a moeda falsa entra aqui, embora seja contra a fé pública, pelo parentesco no modo de consumar-se, quando por introdução em circulação), exigem descrição de tudo que se souber a respeito do modo de operar (a fraude, ou ardil, etc).

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✔ Via de regra os estelionatos são praticados por outro delito de falso, mas não é obrigatório, daí que tecnicamente devem ser descritos ambos, ficando a critério do julgador, adiante, se é caso ou não de absorção, etc.

Estelionato simples (FGTS, o exemplo é de descrição do fato, não se atém à correção da classificação, que provavelmente nesse caso devia incluir falsidade material, uma vez que os documentos falsificados imitam timbre de papéis oficiais, etc).

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial n.º 272/2002Autos: 2002.72.00.003828-6Classe: Falso e Estelionato/ Saque fraudulento de FGTSArtigos: 299 c/c 171, caput e § 3º do Código Penal

DENÚNCIA

O Ministério Público Federal, por seu Agente, vem à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos elementos de convicção apurados no auto de prisão em flagrante e posterior inquérito policial ao alto indicado, vem à presença de Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA contra:

Edson Poluceno, RG 1/R – 1.809.605, ssp/SC, indicado em Carteira de Identidade Profissional expedida pelo Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina, de nº 4.258 (fl. 19), brasileiro, casado, auxiliar de Enfermagem, filho de Edemar José Poluceno e Daura Maria Poluceno, natural de Florianópolis, aos 15 de julho de 1961, com instrução de segundo grau completo, residente na Rua Baldicero Filomeno, 1532, Ribeirão da Ilha, telefone 337-65-54,

Pela prática dos seguintes fatos:

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O denunciado Edson Poluceno é servidor do Hospital Governador Celso Ramos mas está afastado por motivo de doença cardíaca, e recebe apenas os benefícios previdenciários. Para tentar obter o saque de sua conta vinculada ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS, sabendo que não poderia fazê-lo em razão da doença que possui, obteve de pessoa que não identifica dois documentos ideologicamente falsos, um deles um suposto resultado de exame com resultado positivo para carcinoma, falsamente passado em nome do Instituto de Anatomia Patológica (fl. 11) e o outro um atestado médico falso produzido em nome de um médico a partir de papel timbrado de receituário médico do Hospital Universitário (fl. 12), que integra a Administração Pública.

Com esses dois documentos falsos, o denunciado apresentou-se à Agência Miramar da Caixa Econômica Federal, localizada na Rua Trajano, nesta Capital, no dia 23 de abril de 2002, e pleiteou o resgate de seu FGTS argumentando que era portador de doença grave (câncer), sabendo que esta doença está listada entre as que permitem o referido saque nas disposições legais que regulam a matéria. Assinou para este fim a “solicitação de saque do FGTS”, formulário próprio da Caixa Econômica Federal, documento que foi conferido por escriturário da empresa, que recebeu os documentos apresentados pelo acusado, os quais formalmente atendiam às exigências do saque, ficando marcado o dia 26 de abril de 2002 para o pagamento.

Diligências efetivadas demonstraram a falsidade dos documentos apresentados, e em razão disso o acusado foi preso em flagrante no dia 26 de abril de 2002, por volta das 12h50min., por policiais federais acionados pela Gerência daquela Agência da Caixa Econômica Federal.

ASSIM AGINDO, incorreu o acusado nas sanções do artigo 299 (falsidade ideológica em documento particular) pela prática de crime classificado no art. 304 do Código Penal (uso de um documento público materialmente falso, documento com o nome do Hospital Universitário, e de outro particular) combinado com o art. 171, caput, e § 3º, e ainda, art. 14, II, em concurso formal de delitos (artigo 70), todos do Código Penal. Requer o recebimento da denúncia, a citação do acusado para todos os atos do processo penal e ouvida da testemunha adiante arrolada.

Florianópolis, 18 de junho de 2003

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

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Ex. 2. Estelionato tentado e consumado (vítimas Previdência Social e beneficiário, cliente do intermediário)

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito policial 0369/2001Autos: 2001.72.00.007007-4Indiciado: Pedro Darci dos Santos

DENÚNCIA

Classe: Uso de documento público ideologicamente falso, estelionatos consumado e tentado. Art. 304 c/c 299 e 171, caput, c/c § 3º e artigo 14, II, todos do Código Penal

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Agente, nos autos acima indicados, vem à presença de Vossa Excelência, oferecer DENÚNCIA contra:

Pedro Darci dos Santos, RG 1.665.012-3/SSP/SC, CPF 505.295.609/68 (fl. 240), brasileiro, casado, pedreiro, filho de Darci Pedro dos Santos e Domingas Maria dos Santos, natural de Florianópolis, aos 19 de outubro de 1964, com instrução secundária, residente na Rodovia Vereador Onildo Lemos, 600, Ingleses, Florianópolis, telefone 48-269-33-93.

Pelos fatos apurados no inquérito policial acima indicado e a seguir descritos:

O denunciado Pedro Darci dos Santos trabalhou como auxiliar de escritório no Departamento de Pessoal do Escritório de Contabilidade denominado Vale Comercial e Contábil (Vale Contabilidade), localizado na Rua Souza Dutra, 98, ao lado da Churrascaria Rio Sulense, de propriedade de Valfrisio Lehmkuhl. Nesse escritório, que nunca implementou processos de aposentadoria, o acusado, sem o

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conhecimento do proprietário, passou a atender pedidos de aposentadoria de diversos interessados, em especial motoristas. No final de outubro de 1996, por indicação de colegas de trabalho, Clesio Nienkötter procurou o serviço do denunciado no escritório antes referido para que este lhe fizesse a contagem de tempo de serviço. Neste primeiro contato Pedro Darci dos Santos assegurou a Clesio que lhe conseguiria a aposentadoria em no máximo três meses, e cobrou pelo serviço a importância de R$ 300,00 (trezentos reais), que lhe foram pagos por Clesio em duas parcelas, a primeira naquele encontro e a segunda quando da entrega a Clesio do protocolo de requerimento de benefício junto ao INSS.

Para o requerimento de benefício, Clesio Nienkötter outorgou procuração ao acusado Pedro Darcio dos Santos, no dia 31 de outubro de 1996 (fl. 10) e entregou a Pedro Darci dos Santos seus documentos pessoais, entre eles duas Carteira de Trabalho, três formulários SB-40 das empresas Penha, Itapemirim e Catarinense, cópia de documentos pessoais e declarações fornecidas por Sindicato Rural a respeito de trabalho rural.

Diante da falta de tempo de serviço para a aposentadoria, sem o conhecimento do beneficiário, Pedro Darci dos Santos instruiu o pedido com documentos falsos:

• Formulários de informações sobre atividades com exposição a Agentes Agresivos, denominados DSS 8030 e SB-40, referentes às empresas Engebrás Ind. Com. Constr. Civil Terraplanagem Ltda. e Construtora Busato Ltda., expedidos por pessoas estranhas ao quadro de pessoal das referidas empresas (fls. 11 e 12);

• Anotação falsa aposta à fl. 53 da Carteira de Trabalho de nº 41.854, série 0495, relativamente à rescisão de contrato de trabalho com Eunice Bacellar, que já era falecida ao tempo da baixa, sendo que a CTPS foi entregue ao acusado sem essa anotação.

• Certidões do INCRA ideologicamente falsas (fls. 27 e 28). Com os documentos falsos, o acusado requereu o benefício em nome de

Clesio Nienkötter, por procuração, no dia 26 de junho de 1997, após obter, pelo serviço efetuado mediante fraude, do beneficiário, a importância de R$ 300,00 (trezentos reais).

Assim agindo, incorreu nas sanções do art. 171, caput, relativamente ao delito praticado contra o beneficiário, em concurso material (artigo 69) com as sanções do art. 299, pelo uso consciente e doloso de documentos particulares e públicos ideologicamente falsos, classificado no art. 304 do Código Penal, em concurso formal com as sanções do art. 171, caput, e seu § 3º c/c art. 14, II, todos do Código Penal, por tentativa de estelionato contra a autarquia previdenciária.

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Isso posto, requer: 1. Seja recebida a denúncia, citado e processado o réu até final sentença; 2. Na instrução, a ouvida do beneficiário do requerimento fraudulento, como

informante do Juízo. Florianópolis, 8 de julho de 2003

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

TESTEMUNHA

Clesio Nienkötter, motorista, residente na Rua Jonh Lennon, 1958, Barreiros, São José, telefone 246-31-23, com endereço profissional na empresa de ônibus Catarinense, telefone 248-19-19.

3. Estelionato contra a Previdência Social, concurso com delito funcional (313-A)

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito policial 0622/2004/SR/DPF/SCAutos: 2004.72.00.014344-3Indiciados: Gerson Airton Souza da Silva e outros

DENÚNCIA

Classe: Estelionato contra a Previdência Social e outros crimes. Artigos 171 caput c/c § 3º, 297, 313-A, todos do Código Penal.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Agente, nos autos acima indicados, vem à presença de Vossa Excelência, oferecer DENÚNCIA contra:

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Gerson Airton Souza da Silva (fl 52), RG 1/R 129.033/SSP/SC, CPF 216.064.989/91, brasileiro, casado, aposentado, filho de Airton Gerson da Silva e Vanir Souza da Silva, natural de Florianópolis, aos 26 de agosto de 1950, com instrução secundária, residente na Rua Dom Pedro II, 60, Campinas, São José/SC, telefone 48-241-47-21.

José Valdir da Silva (fl. 47), conhecido como Pantera, RG 496.347-4/SSP/SC, CPF 342.792.459/91, brasileiro, casado, agricultor/vereador, natural de Palhoça, aos 7 de novembro de 1953, com instrução de primeiro grau completo, filho de Waldy Francisco da Silva e de Doraci Freitas da Silva, residente na Rua Tomé de Souza, s/nº, Barra do Aririú, telefone (48) 3033-2424 (de seu filho). eMaria das Graças de Oliveira Ressurreição (fl. 60) RG 3.248.588/SSP/SC, CPF 433.020.417/72, brasileira, casada, funcionária pública federal (Agente Administrativo/INSS), filha de Elpidio José de Oliveira e de Rita Miranda de Oliveira, natural do Rio de Janeiro/RJ, aos 11 de julho de 1954, com instrução secundária, residente na Rua Paula Ramos, 890, Coqueiros, Florianópolis, telefone 48-244-39-27.

Pelos fatos apurados no inquérito policial acima indicado e a seguir descritos:Os denunciados, que respondem a ação penal por delito de quadrilha e

estelionatos contra a Previdência Social, associaram-se de modo permanente para a prática organizada e profissional de crimes diversos em detrimento da Previdência Social. O líder da organização, Gerson Airton, estabeleceu em seu domicílio, na Rua Dom Pedro II, 60, Campinas, São José/SC um escritório em que eram preparadas as fraudes para benefícios previdenciários cujos pedidos davam entrada na Agência Centro do INSS, situada na Rua Esteves Junior, nesta Capital, sempre contando com a participação e facilidades proporcionadas pela acusada Maria das Graças, servidora do INSS, que recebia comissões pelos pedidos fraudulentamente deferidos. José Valdir (Pantera) valia-se da condição de vereador em sua cidade para angariar confiança dos idosos que o procuravam solicitando benefícios previdenciários, e encaminhá-los a Gerson para a consecução das fraudes, ciente dos procedimentos criminosos e facilidades de Gerson no INSS, propiciadas criminosamente pela servidora Maria das Graças.

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Entre inúmeros outros, atuaram os três acusados na obtenção fraudulenta do benefício previdenciário de nº 127.748.842-5, de tipo Amparo Assistencial ao Idoso (espécie 88) em favor de Rudinei Rodolfo Weingartner, que nada sabia dos crimes.

Para obter este “cliente”, José Valdir (PANTERA) procurou o beneficiário Rudinei, na localidade de Palhoça onde reside, acompanhado de Gerson, que se apresentou como advogado, oferecendo seus serviços, por que Gerson e José Valdir cobraram na ocasião importância aproximada de R$ 300,00 ou R$ 400,00, pagos por Rudinei em duas prestações. Rudinei, na ocasião, entregou a José Valdir e Gerson seus documentos pessoais (RG, CPF e Certidão de Casamento) que lhe foram devolvidos três dias depois e assinou em branco formulário do INSS, posteriormente preenchido por Gerson.

De posse dos documentos de Rudinei, Gerson adulterou a data de nascimento verdadeira, 2 de fevereiro de 1940, para que Rudinei tivesse nascido em 2 de fevereiro de 1932, em três documentos: Certidão de Casamento datada de 30 de agosto de 1972, cartão de CPF e Carteira de Identidade. Cópias desses originais adulterados foram, mediante prévio acerto com o denunciado Gerson, conferidas por Maria das Graças como se fossem cópias de documentos autênticos. Maria das Graças de Oliveira Ressurreição declarou falsamente que as cópias conferiam com os originais, no dia 14 de janeiro de 2003, data em que recebeu a documentação falsa, habilitou e concedeu o benefício a Rudinei (conforme extrato do Sistema de Auditoria do INSS, fl. 13), inserindo consciente e dolosamente dados falsos no sistema de cadastro informatizado do INSS, para habilitação, concessão e posterior obtenção da vantagem ilícita.

Tais falsidades eram relevantes, porque Gerson fez com que Rudinei ficasse 8 anos mais velho, já que em janeiro de 2003 tinha apenas 63 anos, não tendo direito ao amparo assistencial ao idoso.

O benefício fraudulento foi pago ao beneficiário em parcelas mensais iguais e sucessivas no valor de R$ 240,91, entre 14 de março de 2003 e 6 de novembro de 2003, consumando prejuízo de R$ 2.203,33 em valores históricos.

O acusado Gerson deixou vestígio de sua intermediação no requerimento de benefício assistencial, que foi preenchido pela máquina de escrever Olivetti Lexicun 80, a mesma apreendida em busca domiciliar no escritório/residência de Gerson, conforme prova o Laudo de Exame Documentoscópico nº 10/05-SR/SC (fls. 84/88).

Fraudes como esta foram praticadas pela organização criminosa em grande número, sendo exemplos os benefícios fraudulentos já em apuração policial nos inquéritos 368/2004, 369/2004, 370/2004, 371/2004, 586/2004, 587/2004, 588/2004, 589/2004, 591/2004, 592/2004, 607/2004, 608/2004, 609/2004, 617/2004, 618/2004, 619/2004, 620/2004, 621/2004, 623/2004, 624/2004, 625/2004, 626/2004, 627/2004, 628/2004, 659/2004, todos instaurados para apuração de concessão fraudulenta de

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benefícios previdenciários, possuindo em comum, além de procurações em favor de Gerson e de Romualdo, o fato de serem habilitados e concedidos pela acusada Maria das Graças de Oliveira Ressurreição, e intermediados pela organização criminosa liderada por Gerson Airton Souza da Silva.

CLASSIFICAÇÃOAssim agindo, tendo praticado delitos de estelionato, uso de documentos

materialmente falsos e inserção de dados falsos em sistema de informações, sendo a condição pessoal deste elementar do tipo e extensível aos demais acusados, incorreram os acusados nas seguintes sanções, que devem tecnicamente somar-se na forma do concurso material de delitos (art. 69) ou no modo menos grave, admitido pela jurisprudência, do concurso formal de delitos (art. 70): dos artigos 171 caput c/c § 3º, 304 c/c 297, este por três vezes, e 313-A, todos do Código Penal, encerrando conduta que se repetiu por 9 (nove) vezes, de modo continuado, na forma do art. 71 do Código Penal.

REQUERIMENTOSIsso posto, requer:

1. Seja recebida a denúncia, citados e processados os réus até final sentença. 2. Seja ordenado o cancelamento cautelar do benefício previdenciário

fraudulento nº 127.748.842-5, em nome de Rudinei Rodolfo Weingartner, caso ainda em atividade.

3. Na instrução processual, a ouvida das testemunhas adiante arroladas. 4. Como pena acessória, em relação à acusada Maria das Graças, seja decretada

a perda da função pública por ela exercida, na forma do art. 92, I, a, com a redação da Lei 9.268, de 1º/4/96, já que integra a conduta descrita a condição ali prevista de ser o crime praticado com “abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública”.

Florianópolis, 14 de março de 2005

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

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MOEDA FALSA -

✔ tecnicamente é conveniente que cada fato, quando mais de um, traga todos os seus componentes, até mesmo com o “número” de série da cédula utilizada e eventualmente (embora normalmente não seja útil confundir a denúncia com nomes de testemunhas) constar o nome da pessoa que recebeu a moeda, o que facilitará eventual inquirição de testemunha longe dos autos (Carta precatória).

✔ observar que moeda falsa é delito de ardil, logo, não é suficiente descrever o fato que antigamente se dizia “natural”, p. ex. pagou determinada mercadoria com moeda falsa. Há que se completar com as circunstâncias conhecidas que são o meio fraudulento.

✔ Quando mais de um fato, convém introduzi-los com generalidades e numerá-los, o que facilita até mesmo a classificação penal ao final.

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Origem: Inquérito Policial nº 042/2006 /7ª DP da Capital, Autos 023.06.016256-5, 1ª Vara Criminal da Comarca da Capital/SCAutuação da Justiça Federal: 2006.72.00.002696-4Indiciados: Isaías Monticelli Cardoso e Raqueline Santos SoaresClasse: Moeda Falsa Art. 289, § 1º, do Código Penal DENÚNCIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Agente, amparado nos elementos de convicção dos autos acima indicados, denuncia:

Isaías Monticelli Cardoso, RG 4080464466/SSP/RS, CPF 829.994.490-20, brasileiro, solteiro, natural de Porto Alegre, aos 21 de março de 1984, filho de José Eli Cardoso e de Ivone Maria Monticelli Cardoso, com instrução de segundo grau incompleto, auxiliar de mecânico, residente na Rua Correa de Melo, 430, Bairro Sarandi, Porto Alegre/RS, telefone (51) 3364-6475 e 51 9962-4787 (fl.148 do apenso 2006.72.00.002531-5)

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ERaqueline Santos Soares, RG 5095667639/SSP/RS, CPF 011.028.310-42 (fl. 68), brasileira, solteira, natural de Porto Alegre/RS, aos 16 de maio de 1987, com instrução de segundo grau incompleto, vendedora autônoma, filha de Cenilda dos Santos e de Vilmar de Oliveira Soares, residente na Rua Rocco Aluísio, 445, Bairro Sarandi, Porto Alegre/RS, telefone (51) 3364-8220,

Pela prática dos fatos delituosos a seguir descritos:FATOS

Os acusados foram presos em flagrante no dia 26 de fevereiro de 2006, em Florianópolis, por terem sido identificados por comerciantes como um casal que estava derramando moeda falsa no comércio na Praia dos Ingleses, nesta cidade. Os acusados conduziam veículo VW/Santana/1993, de cor preta e placa IAX-1467. Em vistoria no veículo conduzido pelos acusados foi encontrado, sob o tapete, dinheiro.

1. Primeiro fato. Guarda de moeda falsa: Em revista pessoal no acusado Isaías, por ocasião da prisão em flagrante pelos fatos adiante descritos, foi encontrada, na carteira desse acusado, uma cédula falsa de R$ 50,00, dobrada, com série B6270025784A (fl. 26).

2. Segundo Fato: Introdução de moeda falsa em circulação. Após a detenção e condução dos suspeitos, a autoridade policial apurou neste inquérito que de fato Isaías e Raqueline, em comunhão de esforços, introduziram por várias vezes cédulas de moeda falsa, nas seguintes circunstâncias: Na noite de 25 de fevereiro de 2005, por volta das 21h, os acusados dirigiram-se ao estabelecimento H A Modas, localizado na Rua Dom João Becker, 475, Ingleses. Simulando naturalidade de turistas, o acusado Isaías, à vontade, sentou-se diante da televisão para

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assistir Belíssima, enquanto Raqueline pediu um creme para pentear cabelos, dizendo que no apartamento onde estavam hospedados não havia televisão. Em realidade, a naturalidade de ambos foi mais um ardil para ganhar confiança, após o que Raqueline perguntou se o estabelecimento tinha troco para R$ 50,00, e ofereceu a Vanessa Melo Cotta, em pagamento do creme , no valor de R$ 4,50, uma cédula falsa de R$ 50,00, de série B9201087958A (fl.21) obtendo troco em moeda autêntica no valor de R$ 45,50 (fl.16).

3. Terceiro Fato: Introdução de moeda falsa em circulação. Ainda na noite de 25 de fevereiro de 2006, os acusados adquiriram um CD de nome “Acústico e Ao Vivo”, no valor de R$ 15,00 no estabelecimento CD Universidade do Som, localizado na Rua Tatuíra, 117, Ingleses/Florianópolis/SC, e ofereceram ao proprietário do estabelecimento, Ângelo Antonio Bio, em pagamento uma cédula falsa de R$ 50,00, de série B5098010090A (fl.24)auferindo troco em moeda autêntica no valor de R$ 35,00; (fl 12).

4. Quarto fato: Introdução de moeda falsa em circulação. Na mesma noite de 25 de fevereiro de 2006, por volta das 22h, os acusados foram ao estabelecimento comercial denominado Lanchonete Coco Verde, na Rua Dom João Becker, 613, Ingleses/Florianópolis/SC, e consumiram um suco de laranja, no valor de R$ 2,00, oferecendo em pagamento ao proprietário do estabelecimento José Erico da Silva uma cédula falsa de R$ 50,00 de série B9029067171A (fl.26) obtendo troco em moeda verdadeira no valor de R$ 48,00 (fl. 14).

5. Quinto fato: Introdução de moeda falsa em circulação. Na manhã de 26 de fevereiro de 2006, os acusados adquiriram uma camisetinha do tipo body, amarela, para bebê, no valor de R$ 13,40, no estabelecimento Mônica Baby, localizado na Rua Dom João Becker, 499, Ingleses/SC, e ofereceram em

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pagamento à proprietária do estabelecimento, Nelci Terezinha Pauli, uma cédula falsa de R$ 50,00 de série B5979015589A (fl.22) auferindo troco em moeda autêntica no valor de R$ 36,60. É relevante observar que a proprietária deste estabelecimento acompanhou a vistoria no veículo dos acusados e pôde perceber que o dinheiro verdadeiro dado em troco estava “separado num montinho” nesse veículo. (fl. 13).

6. Sexto fato: Introdução de moeda falsa em circulação. Ainda na manhã de 26 de fevereiro de 2006, por volta das 11h30min, os acusados foram ao estabelecimento comercial Estampa Nativa, localizado na Rua Dom João Becker, 354, Ingleses. A acusada Raqueline, de modo despojado e conversando bem tomou a iniciativa do pedido, que terminou ficando em 3 camisetas no valor de R$ 15,00, e ela mesma ofereceu à proprietária do estabelecimento, Neura Henrique de Andrade Ramos, em pagamento uma cédula falsa de R$ 50,00, série B9201080900A (fl. 25) obtendo troco em moeda autêntica no valor de R$ 35,00, que como as demais moedas verdadeiras também foi posto num montinho debaixo do tapete do veículo em que circulavam. (fl15)

Ficou assim bem evidenciado que ambos os acusados tinham ciência inequívoca da falsidade da moeda que introduziram em circulação com única intenção de haver troco em moeda autêntica. Conduzidos à presença da autoridade policial, ambos os acusados optaram pelo direito constitucional de permanecer em silêncio.

Outras três cédulas falsas, uma de R$ 50,00 (série B6779009091A) e duas de R$ 100,00 (séries A8729059199A e A6771092559A) foram apreendidas no presente inquérito, porém a autoria de sua introdução em circulação, pelo que se conseguiu apurar, não é imputável aos acusados.

MATERIALIDADE

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Laudo Pericial nº IC/0956/2006 atesta a falsidade das cédulas apreendidas nestes autos, de números de série referidos nos fatos acima denunciados. As cédulas são contrafações de boa qualidade, com aptidão para enganar.

Assim agindo, incorreram os acusados Isaías Monticelli Cardoso e Raqueline Santos Soares, em concurso de agentes na forma do art. 29, nas sanções do artigo 289, pela prática do delito de moeda falsa, classificado no seu parágrafo 1º, na forma consumada de introdução em circulação de moeda falsa, por 5 vezes, em continuidade delitiva, e por 1x na forma permanente de guarda de moeda falsa, a qual por não ser modalidade de consumação instantânea não admite o benefício da ficção do art. 71, devendo ser somada a sanção cabível nesta última modalidade na forma do art. 69 do Código Penal.

Isso posto requer: 1. o recebimento da peça acusatória e 2. citação dos acusados para todos os atos do processo penal até final

sentença condenatória. 3. na instrução, a inquirição das testemunhas adiante indicadas.4. o arquivamento do inquérito relativamente à introdução em circulação

das cédulas falsas de nº de série B6779009091A, no valor de R$ 50,00 e séries A8729059199A e A6771092559A, no valor de R$ 100,00 cada uma, por ausência de elementos de convicção acerca da autoria fatos criminosos envolvendo as respectivas cédulas falsas.

Florianópolis, 25 de abril de 2006

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

Rol de Testemunhas:

1. Luiz Carlos Nunes, Policial militar,

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2. Humberto Manoel Luiz da Lapa, policial militar, ambos com endereço funcional na Servidão Silveira, 66, Ingleses, Fpolis/SC.

3. Vanessa Melo Cota, professora, com endereço à Rua Dom João Becker, 475, Ingleses, Fpolis, 3269-1627.

4. Ângelo Antonio Bio, comerciante, estabelecido na Rua Tatuíra, 117, Ingleses, Fpolis, teleefone 3269-3409;

5. José Erico da Silva, comerciante estabelecido na Rua Dom João Becker, 613, Ingleses, Fpolis;

6. Nelci Terezinha Pauli, comerciante, estabelecida na Rua Dom João Becker, 499, Ingleses, Fpolis, telefone 3369-1602;

7. Neura Henrique de Andrade Ramos, comerciante, estabelecida na Rua Dom João Becker, 354, Ingleses, telefone 3369-4474.

(obs. quando a denúncia é CLARA, quanto a todos os fatos denunciados, convém que seja também organizada. Por exemplo, a enumeração de fatos criminosos como fato 1, fato 2, fato 3, fato 4, fato 5, e assim por diante, será de utilidade eventualmente para que se faça um controle, por exemplo, de alcance da denúncia, se não ficou esquecido um fato, o que precisa ser feito no prazo exíguo de 2 dias, para embargos declaratórios para suprir omissão. Também é útil para a parte mais dispositiva da denúncia, como é o que vem depois da fórmula ASSIM AGINDO, praticou por 6 vezes os delitos tais (fatos 1 a 6) e por três vezes os delitos y (fatos 7 a 9).

MOEDA FALSA 2

✔ A descrição de circunstâncias que cercam a prática do NF (NÚCLEO DO FATO) na moeda falsa é mais importante quando se trata de uma única cédula, que normalmente é o caso mais suscetível de dúvida quanto à intenção dolosa do agente. Ex.

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Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial nº 163/2004 1º D.P. da CapitalAutos: 2005.72.00.002730-7Indiciados: Thiago Huyer da RozaClasse: Moeda Falsa DENÚNCIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Agente, amparado nos elementos de convicção dos autos acima indicados, denuncia:

Thiago Huyer da Roza, RG 3.723.229-0, SSP/SC, CPF 309.550.599-0, brasileiro, solteiro, natural de Porto Alegre/RS, aos 4 de janeiro de 1982, filho de Marcos Bittencourt da Roza e Lunara Huyer da Roza, com instrução superior incompleta, estudante, residente na Av. Rio Branco, 271, casa, Centro, Fpolis/SC, telefone (48) 225-3423.

Pela prática do fato delituoso a seguir descrito:

No dia 31 de março de 2004, por volta das 3h. da madrugada, o acusado introduziu, consciente e dolosamente, em circulação moeda falsa nas seguintes circunstâncias. Conduzindo o veículo GOL, placa LZQ 5871/Joinville, esteve no posto de combustíveis Divelin, localizado na esquina das avenidas Rio Branco e Osmar Cunha, no Centro de Florianópolis, onde solicitou abastecimento no valor de R$ 10,00. Depois de realizado o abastecimento, o acusado ofereceu em pagamento uma cédula falsa de R$ 50,00, com nº de série B3724017675A. Ao recebê-la, em razão de não ter suficiente troco no caixa, o frentista Jorge do Nascimento Gomes dirigiu-se até a loja de

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conveniências situada no mesmo local, onde trocou a cédula recebida por cédulas de R$ 10,00, e saiu rapidamente para entregar o troco de R$ 40,00 ao acusado. Imediatamente o caixa da loja de conveniências, de nome Fernando da Silva, percebeu a falsidade em razão de que na loja há mais iluminação que nas bombas de combustível, e chamou o frentista para avisá-lo da falsidade da cédula de R$ 50,00 usada pelo acusado. Jorge ainda teve tempo de chamar pelo acusado, que estava saindo do posto, mas Thiago arrancou o carro com velocidade, evadindo-se do local. O frentista tomou então um táxi e empreendeu perseguição ao veículo do acusado. Após ter encontrado uma viatura policial, Jorge e os policiais militares abordaram o veículo conduzido pelo acusado nas proximidades do supermercado Hipo, no Centro de Florianópolis.

Após a ocorrência, o acusado Thiago, acompanhado de quatro rapazes, um deles de alcunha “Pantchio”, compareceu ao posto de combustíveis Divelin e ameaçou o frentista Jorge do Nascimento Gomes, dizendo que “quando saísse dali iriam pegá-lo”.

MATERIALIDADE

Laudo Pericial nº IC/4425/2004 atesta a falsidade da cédula apreendida nestes autos, de número de série acima referido. A cédula, encartada nos autos na fl. 69, é contrafação de boa qualidade, com aptidão para enganar.

Assim agindo, incorreu o acusado nas sanções do artigo 289, pela prática do delito de moeda falsa, classificado no seu parágrafo 1º, na forma consumada de introdução em circulação de moeda falsa.

Isso posto requer: 1. o recebimento da peça acusatória e 2. citação do acusado para todos os atos do processo penal até final

sentença. 3. na instrução, a inquirição das testemunhas adiante qualificadas.

Florianópolis, 13 de maio de 2004

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Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

TESTEMUNHAS:

1. Adailto Isidro Farias, Policial Militar, 2. Jorge do Nascimento Gomes, residente na Rua Espanha, 37, Jardim Janaína,

Biguaçu/SC, telefone (48) 258-8151,3. Fernando da Silva, residente na Rua Fermino Costa, 256, Coqueiros,

Florianópolis, telefone (48) 244-27-89 ou 9997-9383, endereço comercial no Posto Divelin, na esquina das Av. Rio Branco e Osmar Cunha, Centro, Florianópolis.

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CONTRABANDO/DESCAMINHO

✔ Lembrar que o tipo tem forma instantânea e outras equiparadas, permanentes, desde que presentes as condições ali descritas. Isto é, condição de comerciante ou industrial, para a guarda e receptação de mercadoria descaminhada (alíneas c e d)

✔ forma qualificada para o tráfego aéreo. ✔ na consumação instantânea tem-se por convenção o lugar de competência

como o da efetiva apreensão.

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis.

Inquérito 0279/2005Autos: 2005.72.00.003160-8Classe: DescaminhoArt. 334, caput, do Código Penal Indiciados: Jorge Luiz Corrêa Machado, Reginaldo Rosa eMarli Lídia Simas

DENÚNCIAO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da

República adiante assinado, no uso de suas atribuições legais e com base no inquérito policial ao alto indicado, vem perante Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA contra:

Marli Lídia Simas, de codinome Cristina, RG 1.057.304-6, CPF 398.973.389/34, brasileira, solteira, sem ocupação declarada, fiha de João Mendes de Simas e Lídia Pereira Simas, natural de Biguaçu, aos 13 de março de 1961, com instrução de primeiro grau incompleto, residente na Rua Francisco Rolinger, 283, Jardim Biguaçu, SC, telefone (48) 243-34-68.

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Jorge Luiz Corrêa Machado, RG nº 496.263/SSP/SC, CPF 223.661.569-87, brasileiro, separado judicialmente, declara-se eletricista, filho de Ademar Ribeiro Machado e Líbia Corrêa Machado, natural de Porto Alegre, aos 25 de dezembro de 1955, com instrução de primeiro grau completo, residente na Rua Basílio Boltorim, 56, Colombo/PR, telefone (48) 9131-7317.

Reginaldo Rosa, RG 3.573.008/SSP/SC, CPF 003.443.269-85, brasileiro, solteiro, declara-se pintor, filho de Rui Roger da Silva Rosa e Elvira Eracilda Rosa, natural de Urubici/SC, aos 22 de setembro de 1978, com instrução de primeiro grau incompleto, residente na Rua Jacob Wengart, Residencial Ilha da Madeira, Bl. A, ap. 102, Centro, Palhoça.Pelos fatos criminosos a seguir descritos:

No dia 6 de abril de 2005, por volta das 23h15min, policiais rodoviários federais de serviço no Posto Policial de Rancho Queimado, avistaram dois veículos com a suspensão baixa, indicativa de que transportavam cargas, e passaram a persegui-los, vindo a abordá-los numa estrada marginal à BR 282, na altura do km. 62 e conduzi-los até a sede da Polícia Federal em Florianópolis.

Na abordagem, os policiais verificaram que os dois veículos, um da marca GM OMEGA SUPREMA e outro da marca FORD VERSAILLES ROYALLE, dirigidos pelos acusados Jorge e Reginaldo, respectivamente, estavam carregados de pacotes de cigarros com indicação exterior de fabricação estrangeira. Na ocasião, Jorge e Reginaldo não reagiram e tranqüilamente assumiram que as cargas de ambos haviam sido adquiridas no dia anterior no Paraguai e que apenas “transportavam a mercadoria para terceiros”, cujos nomes não disseram.

No curso das investigações, a Polícia Federal veio a apurar que Reginaldo Rosa é “laranja” de Marli Lídia Simas, sendo que “laranja” segundo o jargão usado nesse tipo de delito significa aquele que transporta mercadoria descaminhada para outrem, mediante paga. Reginaldo Rosa – como a grande parte dos ‘laranjas’ que depois de apanhados em

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flagrante pretendem permanecer no ramo – não indicou que trabalhava para Marli, dizendo que era para Jorge que trazia a mercadoria e que deste receberia paga, o que não é verdade.

Em revista pessoal, foi apreendida em poder de Reginaldo Rosa uma espécie de “conta” discriminada com a encomenda em nome de “Cristina” (fl. 42). Além disso, Marli Lídia Simas – de codinome Cristina – organizou a atividade criminosa de Reginaldo, adquirindo já no dia 1º de abril de 2005 (Nota Fiscal da fl. 43, apreendida com Reginaldo), um telefone celular para uso de Reginaldo e monitoramento da viagem por parte de Marli Lídia, tanto que deste telefone celular, de nº 9144-3120, foram efetuadas ligações para o telefone celular de n° 91350036, de Marli, e dela recebida uma ligação (fl. 83). Registre-se também que foi à Cristina que Reginaldo comunicou sua prisão, alegando que seria sua “tia” (auto de prisão em flagrante). Quanto a Jorge Luís, não se apurou se trabalhava também para Marli Lídia, para outra pessoa ou por conta própria, uma vez que não confirmou a primeira declaração de que era mero transportador da mercadoria para terceiros.

Em poder de Jorge Luiz Corrêa Machado foram apreendidos 1.941 pacotes, contendo 10 maços cada um, de cigarros estrangeiros de marcas diversas, avaliados em R$ 10.093,20 (dez mil, noventa e três reais e vinte centavos). Com Reginaldo Rosa foram apreendidos 1.694 pacotes, com 10 maços de cigarros cada, avaliados em R$ 8.808, 80 (oito mil, oitocentos e oito reais e oitenta centavos).

No auto de prisão em flagrante, tanto Jorge Luís quanto Reginaldo admitiram que participaram no crime mediante paga, ao passo que Marli Lídia dirigiu a atividade criminosa no concurso de pessoas, sendo ambas circunstâncias agravantes, na forma do art. 62, I e IV, do Código Penal.

Assim agindo, incorreram os denunciados nas sanções do artigo 334, do Código Penal, pela prática de crime classificado no caput desse dispositivo legal, em concurso de pessoas, na forma do art. 29, com circunstâncias agravantes do art. 62, incisos I para Marli Lídia e IV para Jorge Luís e Reginaldo.

Requerimentos:

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Isso posto, requer: a) O recebimento da denúncia e citação dos acusados para todos os atos do

processo penal até final sentença. b) Incabível o benefício da suspensão condicional do processo para Reginaldo

Rosa, que tem antecedentes no mesmo delito, razão por que estava em liberdade provisória ao tempo do flagrante. Incabível, da mesma forma para Marli Lídia Simas, que já responde a ação penal perante esse Juízo e é denunciada nesta oportunidade em outro inquérito.

c) Com relação a Jorge Luís, ainda que não registre antecedentes conhecidos, entende que o benefício é incabível, uma vez que esse acusado, declaradamente profissional do descaminho, faz usualmente “duas viagens por semana” ao Paraguai e não apresentou elementos suficientes de convicção de que não retornará à atividade criminosa quando em liberdade, sendo por isso, sua situação incompatível com o benefício do art. 89 da Lei 9.099/1995.

d) A inquirição das testemunhas adiante arroladas. e) Como efeito da sentença condenatória, requer o perdimento dos produtos

descaminhados apreendidos, já remetidos à instância administrativo-fiscal, a teor do art. 91, II, “a”, do Código Penal, em razão da independência da instância criminal.

f) Requer ainda o perdimento em favor da União dos instrumentos do crime, entre eles os seguintes: (1) Veículo Ford/Royale 2.0 I GL, 1996, placa CFB 7691, conduzido por Reginaldo Rosa e de titularidade registrada para Rossana C B S e Silva; (2) Veículo Omega Suprema, ICP 9573, conduzido por Jorge Luiz Corrêa Machado, e de titularidade registrada para Vilmar Vieira Correia. Ainda que os veículos estejam registrados em nome de terceiros, é cabível o perdimento porque utilizados ilicitamente, sendo de outro lado comum o fato de que a propriedade de bens usados para o crime raramente é registrada em nome dos seus proprietários de fato. (3) Telefone celular marca LG, com o respectivo carregador, apreendido com Reginaldo Rosa, (4) Telefone celular marca Motorola, apreendido em poder de Jorge Luiz Corrêa Machado, com o respectivo carregador.

g) Requer seja examinado pedido cautelar, arrazoado em separado, quando do recebimento da denúncia.

Florianópolis, 22 de abril de 2005

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ass Procurador da República

Testemunhas

Ailton Dutra, Agente de Polícia Rodoviária Federal lotado na 1ª Delegacia de PRF, em São José/SC, Rodovia BR 101, km. 204, telefone (48) 246-81-77.Dalnei Assunção de Castro, Agente de Polícia Rodoviária Federal lotado na 1ª Delegacia de PRF, em São José/SC, Rodovia BR 101, km. 204, telefone (48) 246-81-77.

DESCAMINHO 2 (modo de consumação pela alínea “d” do § 1º do art. 334 que é a forma por especialização da receptação de mercadoria descaminhada/contrabandeada.Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Expediente MPF 5112/98-97Notícia de Crime de DescaminhoOrigem: Processo administrativo 10983.004455/97-74Ref. Starbyte Tecnologia Informática Ltda.

DENÚNCIA

Classe: Art. 334, § 1º, d E PROPOSTA DE SUSPENSÃO DO PROCESSO

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Agente, DENUNCIA:

SIMONE CRISTINA DE SOUZA, brasileira, solteira, comerciante, filha de Benta Pinheiro de Souza, identidade nº 3.329.344, SSP/SC, CPF

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952.219.309-78, residente na Rua Tupinambá, 433, Estreito, Florianópolis, SC

pelos fatos apurados no processo administrativo-fiscal acima indicado, a seguir descritos:

A denunciada, na qualidade de responsável pela firma STARBYTE TECNOLOGIA INFORMÁTICA LTDA., situada na Rua Tupinambá, 433, adquiriu no mercado interno mercadorias estrangeiras acompanhadas de notas fiscais falsas, e posteriormente as revendeu, conforme apurado pela Receita Federal em fiscalização na empresa realizada em 25 de junho de 1997.

Apurou-se que a denunciada deu entrada em seu estabelecimento comercial, entre novembro de 1996 e maio de 1997, mediante notas que sabia serem falsas, ou assumindo o risco de que fossem falsas, pois não foram adquiridas as mercadorias das empresas mencionadas nas notas, às seguintes mercadorias estrangeiras:

1. Gabinete c/ fonte de 300w, monitor 14’’ MTEK, Kit multimidia sound blaster creative ação 12x, mouse logitech, descritos na nota fiscal falsa de nº 002592, em nome da firma BCP do Brasil Ltda. (data de 05/05/97);

2. HD 2,5 Gb quantum, HD 1.28 Gb. quantum, HD 640Mb. quantum, impressora HP 692C Desk Jet, SVGA 1Mb. Exp. 2Mb. Trident, pente de 8Mb. Gold Star, Pente de 16Mb. Gold Star, Main Board 586 c/ processador 133 AMD, main board 586 Triton/Intel c/ processador pentium 100 Mhz., descritos na nota fiscal falsa de nº 002591, também em nome de BCP do Brasil (data de 05/05/97);

3. Toshiba CS 110, Pentium 100 Mhz. Tela Passiva, Nº/S 10634405, Nota Fiscal nº 002594 (data de 10/04/97)

4. Micro computador Pentium 100 c/ HD 1.28 Gb. SVGA 1Mb; 16 Mb. de memória RAM, Teclado for Win 95, mouse c/ 2 botões, gabinete c/ fonte de 300w; impressora HP Desk Jet 680 C, Impressora HP Desk Jet 692c, com nota falsa datada de 08 de março de 1997, em nome de SILVATEC ELETRÔNICOS LTDA. 5. HD 2.5 GB quantum big foot, impressora Epson Stilus Collor, memória RAM 16 MB., com nota falsa datada de 20 de novembro de 1996, em nome de Infox Computer Comercial Ltda.

6. Mother Board Triton Intel c/ CPU Pentium 100 Mhz., Mother board Triton Intel c/ CPU pentium 133 Mhz., SVGA 1 Mb. Trident, HD 1.2 GB quantum Big Foot, 8 MB de memoria RAM, monitor MTEK 14’’ SYNC Master, kit multimidia sound blaster creative ação 8x., impressora HP 680 C Desk Jet, Drive 3.1/4 1.44 Mb. Gabinete MTEK c/ Fonte 300w., Teclado MTEK 104 TCL, mediante nota fiscal falsa datada de 13/12/96, em nome de Infox, Computer Comercial Ltda.

Mediante tal conduta, ao adquirir no mercado interno mercadorias importadas clandestinamente, acompanhadas de notas falsas, e posteriormente revendendo-as,

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iludiu os tributos incidentes sobre a regular importação, sendo apurado o crédito tributário no valor de R$ 31.140,00, na data do lançamento.

ASSIM AGINDO, incorreu nas sanções do art. 334, § 1º, alínea d, do Código Penal.

REQUER: a) seja recebida a denúncia, e intimada a acusada para audiência preliminar de

SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO, que propõe, na forma da Lei 9099/95, pelo prazo de 2 (dois) anos, mediante as condições do art. 89 da referida Lei, inclusive a satisfação integral do crédito tributário no período de suspensão, na forma do inciso I. b) em caso de prosseguimento da ação penal, seja ouvida a testemunha a seguir qualificada.

Florianópolis, 17 de março de 1999

ass.Procurador da República

TESTEMUNHA

Mario Reifegerste, Auditor Fiscal do Tesouro Nacional.

DESCAMINHO 3 - por via aérea, concurso com outro crime e fundamentação rápida, na denúncia, de pretensão ao perdimento de veículo

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis.

Auto de Prisão em Flagrante nº 039/GOLF/06/Central de Polícia da Capital/Florianópolis/SCAutos: 2006.72.00.002936-9Classe: Descaminho/Crimes contra a Saúde PúblicaArt. 334, caput, e §3º, do CP. Art. 334, § 1º, “d”, e Art. 273, c/c § 1º e §1º-B,I e III, do Código Penal. Conduzidos: Waldenir Roberto Gomes e outrosDENÚNCIA

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O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República adiante assinado, no uso de suas atribuições legais e com base no auto de prisão em flagrante ao alto indicado, vem perante Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA contra:

Rodrigo Donato, alcunha PIT, RG 3383288/SSP/SC, CPF n.º 016.324.539-83, brasileiro, solteiro, representante comercial (fl. 66), natural de Rio Negro/PR, aos 24 de outubro de 1977, filho de Vitorino Donato e Catia Donato, residente na Rua Plácido Sérgio Alves, 48, Saco dos Limões, Florianópolis/SC, telefone (48) 3223-0612,

Waldenir Roberto Gomes, alcunha “CHAMBINHO”, RG 22032932/SP, CPF n.º 138.258.778-33, brasileiro, solteiro, desempregado (fl.62), natural de Assis/SP, aos 20 de abril de 1974, filho de Valdomiro dos Santos Gomes e de Izabel Ada Gomes, residente na Rua João Henrique Gonçalves, 237, Lagoa da Conceição/Fpolis/SC,eJamel Tarabain, RG 7002048/3/SSP/PR, CPF n.º 033.268.869-00, brasileiro, solteiro, estudante, natural de Foz do Iguaçu, aos 24 de fevereiro de 1982, filho de Ahmad Ramel Tarabain e de Yamile Chamas de Tarabain, com terceiro grau incompleto de instrução, residente na Rua Manoel Alves dos Santos, 199, Pólo/Centro/Foz do Iguaçu/PR, telefone 45-352-23249,

Pela prática dos seguintes fatos criminosos:

O acusado Rodrigo Donato, de nome conhecido na Polícia Civil por suspeita de atividade criminosa no ramo de contrabando e/ou tráfico e/ou compra-e-venda de veículos furtados e roubados, passou a ser acompanhado à distância por policiais civis no dia 29 de março de 2006, em razão de informação de que nesse dia ele faria aquisição de mercadoria originária do Paraguai. O acompanhamento terminou por

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revelar que a informação tinha procedência, relativamente a grande quantidade de aparelhos de telefonia celular e medicamentos de uso proibido no Brasil, conforme os fatos adiante descritos.

No referido dia 29 de março de 2006 Rodrigo Donato saiu de sua residência, na Rua Plácido Sérgio Alves, por volta das 10h, dirigiu-se em ônibus urbano ao centro da cidade, e desembarcou no Terminal Integrado do Centro de Florianópolis, e desse terminal foi até uma banca localizada no Camelódromo Municipal, local onde permaneceu por cerca de quarenta minutos. Foi perdido de vista para ser novamente localizado no centro da cidade, por volta das 13h, ocasião em que Rodrigo dirigiu-se ao estacionamento particular de uma loja de aparelhos de telefone celular, localizada nas proximidades da Loja Milium, na Rua Álvaro de Carvalho, onde encontrou-se com os acusados Waldenir Roberto Gomes e Jamel Tarabain, junto ao veículo PEUGEOT 206, de cor prata, de placa DNA-0359, de propriedade do acusado Waldenir Roberto Gomes, veículo próximo ao qual foram vistos movimentando sacolas. Por fim, aproximadamente às 13h50min, quando esses três acusados, de posse de cinco caixas fechadas que continham aparelhos de telefonia celular novos/importados, dirigiam-se ao estabelecimento conhecido como Camelódromo, receberam voz de prisão ao passarem com a mercadoria em frente à sede da Chefia de Polícia Civil, na Rua Álvaro de Carvalho, no centro de Florianópolis.

Na seqüência de diligências, Rodrigo Donato acompanhou policiais civis até o veículo Peugeot 206 que permaneceu estacionado no local acima indicado, e em vistoria no porta-malas, foram encontrados:

39 Aparelhos de telefone celular, marca Motorola, Modelo V3 GSM, com bateria e acessórios, à venda no mercado legal a R$ 1.234,20 a unidade (documento anexo), no total de R$ 48.133,80.

3 Aparelhos de telefone celular, marca Motorola, Modelo U6 GSM 850, com bateria e acessórios, à venda no mercado legal a R$ 1.081,00 a unidade, somando R$ 3.243,00.

2 Aparelhos de telefone celular, marca Sansung, Modelo SGH-E730, com bateria e acessórios, à venda no mercado legal a R$ 1.133,00 a unidade, somando R$ 2.266,00. (termo de apreensão de fls. 11/13)

19 cartelas do medicamento PRAMIL, SILDENAFRIL 50mg, contendo vinte comprimidos cada uma, elaborado pelo fabricante

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Novophar – División de La Química Farmacêutica S/A. (termo de exibição e apreensão de fl. 14)

A mesma diligência de revista no veículo de Waldenir permitiu concluir que o acusado Jamel Tarabain foi quem introduziu clandestinamente no país a mercadoria apreendida, desde o Paraguai até Florianópolis, parte via terrestre (passagem da fronteira para Foz do Iguaçu) e parte por via aérea, desde Foz do Iguaçu, por São Paulo e destino em Florianópolis. Com efeito, foi apreendido bilhete de passagem em nome de TARABAIN, JMR para o vôo da empresa VARIG RG 2171, com partida na origem (Foz do Iguaçu) às 05h25min (hora de embarque) e da escala em São Paulo às 9h do dia 29 de março de 2006.

Há indícios de que Waldenir e Rodrigo Donato receberam na condição de comerciantes, já que a lei equipara a comerciante “qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras” (art. 334, § 2º) a mercadoria descaminhada por Jamel, ou podem até mesmo ser co-responsáveis, por associação, pela introdução clandestina praticada por Jamel. Sendo o tipo penal de conduta múltipla, porém, igualmente certo é que Rodrigo Donato e Waldenir tiveram sob guarda conjunta, no porta-malas do veículo de Waldenir (veículo que é, nesse caso, instrumento do delito) com finalidade comercial, toda a mercadoria apreendida, sendo esta última (a guarda) a definição criminal de mais firme convicção nos autos.

Observe-se que o medicamento PRAMIL, conhecido popularmente como o “Viagra paraguaio” é produto de comercialização proibida no Brasil por Resolução nº 766, de 6 de maio de 2002, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) do Ministério da Saúde. O motivo da proibição é que o medicamento em questão, fabricado pelo laboratório Novophar estabelecido no Paraguai não foi testado no Brasil e oferece elevado risco à saúde do consumidor. Segundo notícias (documento anexo) o preço de mercado clandestino do medicamento, por unidade de comprimido, varia entre R$ 15,00 e R$ 20,00.

MATERIALIDADENo total de aparelhos, avaliados provisoriamente conforme indicação do

mercado legal, a mercadoria monta a R$ 53.642,80. Já o preço de avaliação do medicamento no mercado clandestino, tomando-se por base o preço mínimo informado, chega a R$ 5.700,00 (cinco mil e setecentos reais).

INSTRUMENTO DO CRIME

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O veículo apreendido, no caso dos autos, era o verdadeiro instrumento do crime, uma vez que era nele onde ficavam provisoriamente estocados os bens descaminhados assim que desembarcados nesta cidade e dele mesmo partiam os carregamentos para eventuais comerciantes interessados no que “os fornecedores” haviam recebido. Além disso, o veículo de propriedade de Waldenir é de provável aquisição com produto de atividade criminosa, uma vez que não está completamente provada a atividade laboral do seu proprietário depois que liberado do estabelecimento onde cumpriu pena. A condição de “sócio” com 1 cota de estabelecimento comercial parece atender antes à condição de quem “empresta nome” ou serve como laranja ou testa de ferro de outrem. Ademais, o “capital de giro” que demonstram na atividade criminosa aqui denunciada parece elevado. Também é indiciário de que o veículo seja produto de crime o fato de o acusado Waldenir, que recentemente deixou a Penitenciária de Florianópolis onde cumpriu pena, tenha tido poder aquisitivo de origem não comprovada para aquisição de três veículos de valores razoáveis, o que mostram os prontuários do DETRAN (doc. anexo).

CLASSIFICAÇÃO

ASSIM AGINDO, incorreram nas sanções penais dos seguintes crimes: Jamel Tarabain, nas sanções do art. 334, caput, c/c com art. 334, § 3º do

Código Penal, e art. 273, c/c § 1º e §1º-B,I e III, na forma do concurso material de delitos do art. 69 do mesmo Código Penal.

Waldenir Roberto Gomes eRodrigo Donato, na forma do art. 29 do Código Penal, nas sanções do art.

334, § 1º, alínea “c”, c/c art. 273, c/c § 1º e §1º-B,I e III, na forma do concurso material de delitos do art. 69 do mesmo Código Penal.

REQUERIMENTOS:

Diante do que foi exposto, requer:a) Recebimento da denúncia, citação dos acusados para todos os atos

do processo penal até final sentença.

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b) Considerando que: mesmo desprezando-se o patamar de 10 anos do tipo do art. 273, em homenagem a precedente do egrégio Tribunal Regional Federal da 4ª Região (ACR 2001.72.00.003683-2, caso do CYTOTEC) que tem aplicado em substituição a pena do tráfico, no patamar de 3 anos, o somatório de sanções na forma do concurso material de delitos, conforme a classificação oferecida na presente denúncia, eleva a pena mínima para 4 anos, para os acusados Waldenir e Rodrigo, e para 5 anos para o acusado Jamel. Considerando que o arbitramento de fiança aos três conduzidos não levou em conta a inovação na classificação do delito, oferecida na presente denúncia, é caso de cassação de fiança por inteligência do art. 339 do Código de Processo Penal, segundo o qual “Será também cassada a fiança quando reconhecida a existência de delito inafiançável, no caso de inovação na classificação do delito”. Razão por que requer, com o recebimento da denúncia, a cassação das fianças arbitradas em favor dos acusados, e expedição dos respectivos Mandados de Prisão.

c) Na instrução a ouvida das testemunhas adiante arroladas. d) Em diligências: que se solicite à Polícia Civil a remessa dos bens

apreendidos, inclusive do veículo. e) Remessa, em seguida, dos telefones celulares constantes do auto de

apreensão de fls. 11/13 e do veículo à Receita Federal, com cópia de todo o inquérito e da denúncia, a fim de que proceda a regular apreensão fiscal tendente ao início do processo administrativo-fiscal para aplicação de pena administrativa de perdimento, sem prejuízo do perdimento acessório à condenação criminal.

f) A requisição à Receita Federal de elaboração, em prazo hábil, de Termo de guarda e avaliação fiscal dos bens apreendidos referidos, bem como informação do valor estimado dos tributos iludidos.

g) Remessa à SPF/DPF/SC dos aparelhos apreendidos com os acusados como de uso próprio deles, auto de fls. 50 , a fim de que o SETEC proceda, em prazo hábil, à perícia para identificação das chamadas efetuadas e recebidas em cada um desses aparelhos, bem como a verificação dos dados constantes de agenda eletrônica de cada aparelho.

h) Ao final, a condenação dos réus nas sanções dos delitos a eles imputados.

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i) A aplicação de pena acessória de perdimento dos bens apreendidos e do veículo da marca PEUGEOT 206, de cor prata, de placa DNA-0359, de propriedade do acusado Waldenir, e usado como instrumento de crime de “guarda” de mercadoria descaminhada, conforme fundamentado acima, e amparo no art. 91, II, “a” e “b”.

j) Como efeito acessório da sentença condenatória, também o perdimento desses aparelhos celulares apreendidos com os denunciados, uma vez que usados para comunicação entre eles com o objetivo inequívoco de ajustar detalhes da operação criminosa.

k) Arquivamento do inquérito em relação a Luciano Bolda, cuja participação nos fatos não ficou apurada como participação ativa nos delitos imputados aos acusados, e por não haver meios probatórios de contrariar sua versão de interesse na compra de um telefone apenas, na condição de particular (situação em que não incide a alínea “d” do § 1º do art. 334).

l) Arquivamento do inquérito em relação a outros produtos apreendidos na residência do acusado Waldenir, já que embora proibidos, são em geral componentes nutricionais do tipo anabolizantes cuja quantidade pode indicar que se destinem a consumo pessoal do acusado, o que deixa de configurar o delito.

Florianópolis, 6 de abril de 2006.

DESCAMINHO 4Agência de DESCAMINHO: pode-se dar esse nome para o descaminho de

autoria mediata por proprietário de Agência de Viagens que só faz esse tipo de atividade (bate-volta ao Paraguai para compras).(caso Lucletur)

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Processo Administrativo Criminal 1.33.000.001826/2003-41

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Representação Fiscal nº 12719.000360/2002-74Denunciados: Luciano Simas, Maria Lídia Simas e Alexandre Rech Oliveira Classe: Art. 334 caput do Código Penal Data dos Fatos: 07/07/2002

DENÚNCIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Agente, com base nos elementos de convicção do incluso processo administrativo, vem perante Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA contra:

Luciano Simas, brasileiro, casado, comerciante, RG 3.650.848/SSP/SC, CPF 952.488.119-53, residente na Rua Francisco Wolinger, 283, Rio Caveiras, Biguaçu,SC, com endereço comercial na Lucletur Transporte e Turismo Ltda., Rua Davi Francisco Prazeres, 300, Rio Caveiras, Biguaçu, SC,

Marli Lídia Simas, brasileira, RG 1.057.304-6, CPF 398.973.389-34, residente na Rua Francisco Wolinger, 283, Rio Caveiras, Biguaçu,SC, e

Alexandre Rech Oliveira, brasileiro, motorista, RG 284.3645/SSP/SC, CNH nº 00808422569, CPF 851.273.889-87, residente na Rua Sebastião S. de Borba, 190, casa, Espinheiros, Joinville, SC.

IFATOS

O acusado Luciano Simas é sócio-gerente, desde a sua constituição em 1998, da empresa de transporte de nome Lucletur Transporte e Turismo Ltda., anteriormente denominada Lucletur Viagens e Turismo Ltda, CNPJ 02.847.031/001-08, estabelecida na Rua Davi Francisco Prazeres, nº 300, Rio Caveiras, Biguaçu/SC.

Apesar de dedicar-se oficialmente ao “ramo de agência de Viagens e Turismo com Frota própria”, a empresa tornou-se uma agência dedicada ostensivamente à prática de contrabando e descaminho, prática exemplificada nos fatos criminosos a seguir descritos.

No dia 7 de julho de 2002, às 02h30min, policiais rodoviários federais e Auditores Fiscais da Alfândega do Aeroporto Hercílio Luz abordaram, no posto

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policial rodoviário de Itapema/SC, ônibus da empresa Lucletur, de placa LZI 5613/Biguaçu/SC, conduzido pelo acusado Alexandre Rech Oliveira, e onde viajava como guia a acusada Marli Lídia Simas. A empresa descumpriu os regulamentos que regulam o transporte turístico, uma vez que deixou de identificar a bagagem dos passageiros e portava relação de passageiros irregular. Para um total de 16 (dezesseis) passageiros relacionados, apenas 8 (oito) estavam a bordo, sendo certo que nesse tipo de transporte não é permitido captar ou desembarcar passageiros no itinerário (art. 22) nem modificar a relação de passageiros, salvo para inclusão ou substituição, devidamente autorizadas, de até 4 (quatro) passageiros (art. 11, § 3º, da Resolução ANTT nº 17/2002).

Dois oito passageiros embarcados, no momento da diligência 3 (três) assumiram sua própria bagagem, sendo que o restante, que pela quantidade não podia ter sido transportado sem o conhecimento/consentimento de motorista e da guia, acusados Alexandre e Marli, foi apreendido e avaliado em R$ 54.930,37 (cinqüenta e quatro mil, novecentos e trinta reais e trinta e sete centavos).

Nestas condições, Luciano Simas, por ter o domínio do fato criminoso, como gerente de empresa com fim ostensivo de prática de contrabando/descaminho, forneceu os meios para a internação, praticada pelos acusados Alexandre e Marli, de mercadorias descaminhadas relacionadas no Termo de Apreensão e Guarda Fiscal nº 0927600-00060/02, a seguir descritas genericamente como:

26 gabinetes de computador, 6 impressoras Epson, 2 impressoras HP 930C, 2 impressoras HP 840C, 12 fontes para computador, 4 placas de fax moden, 54 mouses, 16 ventiladores para CPU, 14 drives de disquete, 2 HUB 8 e 5 portas, 1 scaner genius, 22 caixas multimídia, 5 radios am/fm, 1 carrinho de controle, 9 controles de vídeo game, 3 lancheiras térmicas, 7 mochilas, 6 peças de roupas, 6 video games Sony, 1 drive CD rom DVD, 2 drives de disquete, 2 placas mãe, 9 acessórios para computador, 24 uísques Red Label, 2 fitas de vídeo gravadas, 4 sombrinhas, 500 capas de acrílico para CD, 4 acessórios para computador, 1 drive CD rom gravador LG 8240, filme fotográfico, alto falante Pioneer TSA 1661, um video game Sony, 400 CD virgens, 2.800 CD gravados, 28 teclados para computador, bem como:

15.530 (quinze mil quinhentos e trinta) maços de cigarros diversos, sendo que todas as mercadorias são estrangeiras, originárias do Paraguai e internadas no país sem o recolhimento dos tributos devidos.

II

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Assim agindo, incorreram Luciano Simas, Alexandre Rech Oliveira e Marli Lídia Simas nas sanções do art. 334 do Código Penal, por terem, em comunhão de vontades e autoria mediata do primeiro, trazido do Paraguai mercadorias diversas, com ilusão dos tributos devidos, e que não correspondiam a nenhum proprietário identificado, em todos os espaços disponíveis do ônibus LZI 5613, de propriedade da empresa Lucletur Transporte e Turismo Ltda.

Ante o exposto, o Ministério Público Federal requer: 1. o recebimento e autuação da presente denúncia, 2. a citação dos réus para interrogatório e demais atos processuais,

sob pena de revelia, até final sentença, 3. a suspensão condicional do processo, que oferece aos três

acusados, caso não respondam a outro(s) processo(s), pelo prazo de 4 (quatro) anos, mediante a condição de não viajar ao Paraguai, no prazo de suspensão, bem como, a título de reparação do dano e garantia da ordem pública, o perdimento das mercadorias e do veículo utilizado, ilícita e exclusivamente para a prática do descaminho, devendo ainda comprovarem o exercício de atividade legal no período, bem como as demais condições de lei e do Juízo. Justifica o prazo máximo de 4 (quatro) anos em razão de haver notícia de infringência contumaz ao controle aduaneiro, de modo a serem observados em período de prova maior, hábil à conclusão de outros eventuais inquéritos policiais.

4. caso tenha seguimento a ação penal, a ouvida das testemunhas adiante arroladas.

5. Seja decretado, como pena acessória, o perdimento de todo o produto do crime, ainda que já efetivado na instância fiscal, bem como decretado o perdimento do veículo cuja apreensão é requerida em separado, por ser instrumento do crime e comprovadamente ter sido utilizado de modo ilícito, em desacordo com os regulamentos que disciplinam a concessão de serviços de transporte turístico, com fundamento no art. 91, II, “a”m do Código Penal.

Florianópolis, 18 de setembro de 2003

ass.Procurador da República

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Rol de Testemunhas

1. Mário Cláudio da Fontoura Tallarico, Auditor Fiscal da Receita Federal, lotado na Alfândega do Aeroporto Hercílio Luz,

2. Everton Arthur Borsoi Britto, lotado na 8ª SPRF/SC.

V - PROBLEMA DA QUADRILHA/ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA/ASSOCIAÇÃO EM GERAL

✔ Como se sabe, não é todo e qualquer concurso de agentes que também configura o tipo isolado (de perigo) da quadrilha, ou mesmo associação e/ou organização criminosa.

✔ A descrição desse crime é difícil porque sempre parece apontar para inépcia. Na realidade o núcleo do tipo é muito simples, e repete os dizeres do delito do art. 288 dop CP. Tecnicamente, quem disser que os réus acima qualificados (se mais de três) associaram-se de modo permanente para o fim de cometer crimes, já teria passado o teste do art. 41. Porque NORMALMENTE pouco se sabe a respeito da REAL organização da organização. O que faz aqui com que se ocupe o lugar da descrição do fato com a prova do fato (no mais das vezes a interceptação telefônica).

✔ Na realidade, quanto mais se sabe, porque já haveria um acompanhamento de longa data, também por interceptação telefônica, mais se dispensa a referência à prova na descrição da quadrilha. MAS, a regra não pode ser tão dura, porque em alguns casos parece que não há como descrever de fato uma associação senão reportando-se ao que foi apurado e que é indiciário da organização.

✔ Nesses casos a referência à prova deve ser PONTUAR a descrição do fato, jamais dando a impressão de que o que define a quadrilha seja de fato SÓ aquilo que está referido, dando-se preferências a provas IMUTÁVEIS (ex. coisas apreendidas) e deixando-se de lado as testemunhais e outras mutáveis.

✔ Pode-se usar até mesmo o recurso do “exemplificativamente, são indícios da organização tais e tais fatos provados, etc”.

✔ O caso DIMI, com 33 páginas para 40 fatos, adiante é exemplo de denúncia relativamente sucinta que contém todos os elementos colhidos no inquérito,

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inclusive interceptação telefônica, na forma clássica da denúncia que diz o fato. Inclusive organizado em sua descrição pela técnica do TF, LF e NF (tempo do fato, lugar do fato e núcleo do fato, e depois circunstâncias e acessórios, enfeites e detalhes úteis).

✔ A palavra que se usa é DESCREVER, porque fatos permanentes como associação, organização e quadrilha são descritos e não propriamente narrados. Daí alguns detalhes que refinam o fato, como por exemplo, luxo de instalações criminosas (caso DIMI) e referência, ainda que parcial, às anotações contábeis (raramente serão LIVROS contábeis) ou de administração da organização.

QUADRILHA - CASO 1. Quando a organização está (também) fundada em hierarquia familiar sabida e outros modos de operar conhecidos (como divisão de tarefas). Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis.

Inquéritos 0892/2003 e 0943/2003Autos: 2003.72.00.015406-0 e 2003.72.00.016488-0

Classe: Contrabando/Descaminho e QuadrilhaArts. 334, § 1º, ‘c’ e 288 do Código Penal e Lei 9.034/1995

Organização Criminosa para o contrabando/descaminhoIndiciados: Ricardo Luiz Dutra, Eva Goulart Bittencourt e Outros

DENÚNCIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República adiante assinado, no uso de suas atribuições legais e com base nos inquéritos policiais ao alto indicados, vem perante Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA contra:

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1. Ricardo Luiz Dutra, alcunha Fininho, RG nº 3.307.675/SSP/SC (fl. 50), CPF 004.480.079-75, brasileiro, casado, vendedor ambulante, filho de Edmundo Dutra e Maria das Graças Dutra, nascido aos 26 de setembro de 1977, em Florianópolis, SC, com instrução de segundo grau incompleto, residente na Rua Joaquina Bernardina Leite, s/nº, próximo à Igreja, Bairro Picadas do Sul, São José, SC, telefone (48)257-13-99, celular (48)9971-77-05, com endereço comercial na Rua Luiz Fagundes, nº 2915, Comercial La Familia, Picadas do Sul, São José, telefone (48)257-08-19;

2. Eduardo Valentim Garcia, alcunha EDU, RG nº 1/R 2.569.324/SSP/SC (fl.52), CPF nº 768.729.719-91, brasileiro, casado, vendedor ambulante, com instrução de primeiro grau incompleto, filho de Nivaldo Garcia e Irinésia Maria Garcia, natural de Palhoça, SC, nascido aos 27 de fevereiro de 1973, residente na Rua Luiz Fagundes, nº 2915, em cima do Comercial La Família, Bairro Picadas do Sul, São José, telefone (48)257-1881, celular (48)99977134;

3. Odair de Sousa, RG 3.148.456/SSP/SC (fl.44), CPF 890.797.959-68, brasileiro, solteiro, servente de pedreiro, com instrução de primeiro grau incompleto, filho de Augustinho de Sousa e Aneci de Sousa, nascido aos 26 de setembro de 1978, em Rio do Sul, SC, informa residência na Rua Eurico Hauer, s/nº, perto da Academia de Musculação, Bairro Colônia Santana, São José, SC, casa de sua sogra Neide, embora residisse no endereço comercial de La Família (informação da fl. 134);

4. Anísio João da Silva, RG 346.080-0/SSP/SC (fl.54), CPF 223.683.299-00, brasileiro, casado, comerciante, com instrução de primeiro grau incompleto, nascido aos 9 de outubro de 1954, em Santo Amaro da Imperatriz, SC, filho de João Vicente da silva e Dalci Felicidade da Silva, residente na rua Laura Westphal de Souza, 280,

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Centro, São José, SC, telefone (48)247-39-20, (48) 257-08-19, celular nº (48)9968-5954;

5. Adriano Anísio da Silva, RG 2.642.916/SSP/SC (fl.41), CPF 987.702.769-00, brasileiro, solteiro, vendedor, com instrução de segundo grau completo, nascido aos 9 de outubro de 1974, em Florianópolis, filho de Anísio João da Silva e Eraci Maria da Silva, residente na Rua Luiz Fagundes, 2915, Picadas do Sul, São José, SC, telefone (48)257-29-32, celular (48)91157404;

6. Liomar Lazaro Zacarias, RG 898439/SSP/MS (fl.46), CPF 776.893.721-04, brasileiro, solteiro, motorista, com instrução de primeiro grau incompleto, filho de Lindomar Zacarias e Neide Lazaro Zacarias, natural de Naviraí/MS, aos 6 de janeiro de 1976, residente na Rua Quintiniano Diniz de Souza, 573, Centro, Maringá, PR, telefone (44)625-73-74;

7. Eva Goulart Bittencourt, não apresentou identidade, CPF 499.663.679-34, Título de Eleitor nº 000.428.208.0965, brasileira, casada, comerciante, com instrução de primeiro grau completo, filha de Bento José Goulart e Atenisia Formentin Goulart, nascida aos 22 de março de 1952, residente na Rua Getúlio Vargas, 210, Centro, Içara, telefone (48) 433-89-79, e

8. Pedro Bittencourt, RG 1.085.726-5/SSP/SC, CPF 398.960.569-00, brasileiro, casado, comerciante, com instrução de primeiro grau incompleto, nascido aos 5 de julho de 1950, em Criciúma/SC, filho de Boaventura José Bittencourt e Inácia de Souza Bittencourt, residente na Rua da Clínica, 236, Bairro Praia do Rincão, Içara/SC, telefone (48)433-1290, celular (48) 9954-9015;

9. Ademir Goulart, RG 968.978/SSP/SC (fl.48), CPF 438.216.009-00, brasileiro, casado, motorista, com instrução de primeiro grau incompleto, nascido aos 25 de setembro de 1956, em Jaguaruna, SC, filho de Tomaz da Conceição Goulart e Olinda Rocha Goulart, residente

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na Rua Moisés Serafim, s/nº, próximo à mercearia do Cedenir, Bairro Imperatriz, Criciúma, SC, telefone (48)9978529.

Da Organização Criminosa Anísio João da Silva e seu filho Adriano Anísio da Silva,

juntamente com Ricardo Luiz Dutra, Eduardo Valentim Garcia, Odair Sousa, Liomar Lazaro Zacarias, Eva Goulart Bittencourt e Pedro Bittencourt associaram-se de modo permanente para a prática criminosa, organizando-se de modo estável e sofisticado, com elevado giro de recursos financeiros provenientes principalmente do contrabando de cigarros do Paraguai, centralizados na “Distribuidora Piu Piu”, empresa individual de titularidade de Anísio desde 1993, e situada de modo disfarçado nos fundos do endereço comercial da firma Comercial La Família, situada na Rua Luiz Fagundes, nº 2915, Picadas do Sul, São José (cf. fotografias das fl.140) onde residem Ricardo, Adriano Anísio, Eduardo e Odair. A empresa criminosa funciona como central de receptação de mercadoria contrabandeada, para a qual colaboram de forma estável os indiciados Eva e Pedro, e posterior distribuição dos cigarros contrabandeados/descaminhados no comércio formal e informal (ambulantes).

A empresa criminosa está em atividade há mais de 10 anos, sendo certo que Ricardo, Anísio João e seu filho Adriano Anísio fazem entregas de cigarros em diversos estabelecimentos comerciais. Eva e Pedro, por sua vez, fornecem cigarros à distribuidora organizada por Anísio João e Ricardo, Adriano, Eduardo e Odair, de forma habitual. Eva declarou no flagrante de 31 de outubro que viaja para o Paraguai há seis anos e ainda funciona como receptadora de cigarros trazidos por outros, que depois são distribuídos pela organização. Pedro já foi preso em flagrante por contrabando de cigarros por três vezes, sendo que numa delas verificou-se que a mercadoria era transportada em caminhão com baú especialmente preparado para ocultação de cigarros.

Como as proporções da empresa criminosa se avolumaram, a organização, por seus agentes Ricardo e Eduardo, alugou, no final do mês de outubro de 2003, um galpão situado no Bairro Eucaliptos, Palhoça, proximidades da BR 101 (fotografias na fls. 139 ao alto) para estoque da mercadoria contrabandeada, ao preço de R$ 1.000,00 (um mil reais) mensais, adiantando um mês de aluguel.

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Parte considerável dessa mercadoria chegou ocultada na carroceria de caminhão que normalmente se destina ao transporte de líquidos, mas foi desviado para ocultação de contrabando (fotografias nas fls. 135 e 136, ao pé). O motorista do caminhão Scania, de cor laranja, placas LYY – 5464, que é natural da Naviraí, no Mato Grosso do Sul, é o elo de ligação da organização com outras organizações de contrabandistas que fornecem cigarros para distribuição pela Piu-Piu, assim como Eva e Pedro são fornecedores organizados, que contam com vários “importadores” que vão ao Paraguai para fazer o serviço de descaminho/contrabando na modalidade “sacoleiro”.

A documentação apreendida atesta que a organização possui uma contabilidade rudimentar de controle de clientes (bloco que leva o nome “TAF Distribuidora” e bloco de vales, copiados parcialmente para instruir a denúncia). A prova colhida no inquérito indica que o serviço de distribuição de mercadoria contrabandeada operado pela Piu-Piu vem funcionando desde 1999, pelo menos. As entregas costumavam ser feitas por automóveis da organização, entre os quais o VW-Saveiro prata, o GM/Chevette azul, e também um FIAT/Siena, de cor azul. Para o transporte da mercadoria até os galpões, residência de integrantes da organização ou à própria sede do Comercial La Família, valiam-se de carros alugados do tipo Van ou micro-ônibus, o que ocorreu no caso do aluguel do Renault/Kangoo, pago por Ricardo com cartão de crédito do Banco HSBC, do tipo Goldcard (fl. 83) à empresa proprietária do veículo. É relevante registrar a existência de laços de parentesco e confiança entre os integrantes da organização, que são parentes entre si (Anísio, Adriano Anísio, Odair, Ricardo e Eduardo) e a permanência do relacionamento da organização com os fornecedores Eva e Pedro, tanto que estes últimos cumpriram, por ocasião da segunda entrega que resultou em flagrante, na realidade, um “compromisso” com a Piu-Piu, em razão de débito que tinham pela apreensão da carga na operação do flagrante do dia 31 de outubro de 2003.

Estão caracterizadas, relativamente aos acusados Ricardo, Eduardo, Odair, Anísio, Adriano Anísio, Eva, Pedro e Liomar, a conduta típica do delito de quadrilha, do art. 288 do Código Penal, e a figura da organização criminosa de que trata a Lei 9.034/1995. As cargas de cigarros contrabandeados/descaminhados apreendidas nos dois inquéritos eram destinadas à Distribuidora La Família (Piu-Piu), e atingem cifras elevadas. Apenas no último carregamento, disfarçado em caminhão de transporte de líquidos, trazido por Liomar, o valor transportado era de R$ 71.155,00 (setenta e um mil cento e cinqüenta e cinco reais).

A seguir descrevem-se os outros fatos delituosos em circunstâncias mais detalhadas.

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Primeiro Fato: Apreensão de 31/10/2003(autos de nº 2003.72.00.015406-0)

No dia 31 de outubro de 2003, por volta das 20h30min, policiais federais depararam-se com caminhonete GM, de cor vermelha, placas BKO 8617/Içara/SC, que anteriormente já havia sido apreendida por policiais rodoviários federais por transporte de cigarros descaminhados/contrabandeados, na altura da Estrada Geral de São Bonifácio. Em vistoria no veículo verificaram que o bagageiro estava totalmente carregado (cf. fotografia da fl. 12 dos autos 2003.72.00.015406-0) de cigarros, totalizando 2.440 pacotes, avaliados em aproximadamente R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais). Eva afirmou que os cigarros eram comprados de outra pessoa, e, embora negasse saber para quem seriam entregues, posteriormente se apurou que se destinavam à organização criminosa La Família, em Palhoça. Pedro afirmou que apenas dirigia o veículo, porém as circunstâncias indicam participação mais efetiva na organização. Já foi autuado em flagrante por três vezes por contrabando de cigarros, sendo que numa delas foram transportados cigarros em caminhão baú especialmente preparado para a ocultação de mercadoria, ocasião em que Pedro esperava a carga, em um veículo S10, cabine dupla, cor prata, placas MBM 0224 (fl. 18).

Apesar de estar registrada em nome de terceiro, pessoa da família, como é a regra em organizações criminosas que buscam evitar o perdimento de veículos, a caminhonete GM, Bonanza, 1992, placas BKO 8617, é na realidade de uso privativo da atividade criminosa. Já foi apreendida em 8 de maio de 2003 (fl. 30), quando transportava 2.630 pacotes de cigarros de origem estrangeira ou para exportação, de marcas diversas.

Segundo Fato: Apreensões de 15/11/2003(autos de nº 2003.72.00.016488-0)

A partir da prisão em flagrante de Eva e Pedro, no dia 31 de outubro de 2003, policiais federais passaram a investigar a empresa destinatária da mercadoria contrabandeada/descaminhada, vindo a localizar o endereço de Ricardo e do Comercial LA FAMILIA. Na noite de 14 de novembro de 2003, percebendo movimentação suspeita de veículos em frente à empresa La Família, policiais puderam acompanhar o descarregamento de uma carga de cigarros, desde o endereço do La Família para a residência de Anísio (fotografia da fl. 139, pé). Pouco mais tarde, seguindo no acompanhamento do veículo Kangoo usado para transporte

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de cigarros, por volta das 23h, localizaram o galpão utilizado pela organização, nas proximidades da Ponte do Imaruí, Palhoça, onde também encontraram grande quantidade de caixas de cigarros em estoque (fotografias de fls. 135/136). Nessa abordagem, foram presos Ricardo, Eduardo e Odair, que se encontravam no galpão, ao mesmo tempo em que policiais se deslocaram até a residência de Anísio, onde encontraram também grande quantidade de cigarros em estoque (foto 137), inclusive no porta-malas do veículo de placas AIE – 9159, Palhoça (foto da fl. 137 ao alto). No galpão, estava também estacionado um semi-reboque de três eixos com placas do Paraná, cujo cavalo motor foi informado que seria um Scania, de cor vermelha, o qual foi, pouco tempo após, localizado no Posto Catarinão. Apesar de silenciar em seu interrogatório, o motorista informou que sabia estar transportando cigarros no reboque, o que também é evidenciado pelo desvio de finalidade deste, que seria para transporte de líquidos, e foi utilizado como disfarce. Na ocasião, foi preso o motorista Liomar, que foi quem efetuou a entrega, à organização, do pedido que constava de um “fax” apreendido em poder de Ricardo, e que descreve a mercadoria avaliada em R$ 71.155,00. Foi encontrado também em poder de Ricardo um bilhete do fornecedor, de nome “Toninho”, para EDU (o acusado Eduardo Valentim), com instruções para o pagamento, no seguinte teor: “EDU FAVOR MANDAR EM DINHEIRO O MÁXIMO QUE PUDER E CHEQUES ABAIXO DE R$ 3.000,00 PELO MOTORISTA A COISA AQUI TÁ FEIA. TONINHO”. Liomar, o motorista, com certeza é pessoa de confiança das organizações, tanto assim que transportaria em dinheiro e cheques o valor considerável do total da entrega.

Nessa etapa da operação foram apreendidas:82 caixas contendo cada uma 50 pacotes de cigarros, de

marcas diversas, e 140 pacotes de cigarros, na residência de Anísio e interior do veículo SIENA, cf. auto de apreensão da fl. 12.

177 caixas contendo cada uma 50 pacotes de cigarros, no galpão, e 28 caixas no interior do Renault Kangoo, que se encontrava no galpão, cf. auto de apreensão de fl. 16.

Prosseguindo no monitoramento das residências, galpão e do Comercial La Família, os policiais avistaram, por volta das 3h. de 15 de novembro de 2003, a aproximação à residência de Ricardo de um veículo do tipo micro-ônibus, IVECO, de cor branca, placa de Criciúma, com duas pessoas nos bancos dianteiros. Na abordagem, perceberam que o veículo referido descarregaria na residência de Ricardo grande quantidade de cigarros. De imediato, Eva declarou que se tratava de uma encomenda que devia a Ricardo, em virtude de ter sido presa e ter a carga apreendida no dia 31 de outubro de 2003. Foram presos na abordagem do veículo IVECO Eva e o motorista Ademir.

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No interior do veículo micro-ônibus IVECO foram encontradas 66 caixas de cigarros contendo 50 pacotes cada uma, e 1410 pacotes de cigarros de marcas diversas, conforme auto de apreensão da fl. 18.

Ademir Goulart, que foi o único que prestou declarações no auto de prisão em flagrante, afirmou que somente havia feito o transporte, uma vez que trabalha há pouco tempo para o proprietário do micro-ônibus, que normalmente somente transporta estudantes, e deveria fazer um serviço de transporte para Eva, que pagou R$ 200,00 e pediu para pegar “algumas pessoas” em Içara. Porém, quando chegou ao endereço indicado por Eva, na realidade Eva e outras pessoas do sexo masculino começaram a carregar o micro-ônibus com cigarros, e o denunciado preferiu fazer o serviço a retornar ao endereço da empresa proprietária do veículo. Assim agindo, Ademir Goulart assumiu o risco de prestar serviço à guarda e transporte de mercadoria contrabandeada/descaminhada por comerciante, ficando incurso pela regra do concurso de pessoas, nas sanções do art. 334 do Código Penal.

Materialidade

A materialidade ficou comprovada mediante Laudo Pericial de nº 1002/03-SR/SC, que examinou a mercadoria apreendida, por amostragem, concluindo ser de origem indeterminada ou estrangeira, avaliando em R$ 1,00 (um real) a unidade, o que totaliza R$ 192.000,00 (cento e noventa e dois mil reais) nos autos de nº 2003.72.00.016488-0. Nos autos de nº 2003.72.00.015406-0, a estimativa de avaliação é de R$ 25.000,00, conforme apuração no flagrante, protestando o MPF pela oferta oportuna de Laudo Pericial nos moldes em que realizado o destes autos.

Classificação Penal

Assim agindo, incorreram os denunciados Ricardo Luiz Dutra, Eduardo Valentim Garcia, Odair de Sousa, Anísio João da Silva, Adriano Anísio da Silva, Liomar Lazaro Zacarias, Eva Goulart Bittencourt e Pedro Bittencourt, nas sanções dos artigos 288 e 334, ambos do Código Penal, em concurso material de delitos, na forma do art. 69 do mesmo Código, pela prática de delitos de quadrilha e contrabando/descaminho, este sob a forma do art. 334, § 1º, “c”, (vender ou manter

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em depósito, no exercício de atividade comercial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem). A acusada Eva incorreu nas sanções do art. 334 por duas vezes, por fornecer à organização mercadoria descaminhada, da qual mantinha a guarda, em concurso material, em razão de tratar-se de habitualidade criminosa, que não recomenda a ficção da continuidade.

Aplicam-se aos acusados Ricardo Luiz Dutra, Eduardo Valentim Garcia, Odair de Sousa, Anísio João da Silva, Adriano Anísio da Silva, Liomar Lazaro Zacarias, Eva Goulart Bittencourt e Pedro Bittencourt, as disposições dos artigos 7º, 9º e 10 da Lei 9.034, de 3-5-1995, no que respeita à proibição de liberdade provisória, obrigação de recolher-se para apelar e início de execução penal em regime fechado, independentemente da quantidade de pena a cumprir.

Ademir Goulart, com participação meramente ocasional nos delitos, incorreu nas sanções do art. 334, do Código Penal, pela prática, em concurso de agentes, de guarda de mercadoria descaminhada/contrabandeada, assumindo o risco de que o serviço de transporte realizado fosse criminoso. Cabível para ele o benefício do art. 89 da Lei 9.099/1995.

Requerimentos:Isso posto, requer: a) O recebimento da denúncia e citação dos acusados para todos os atos do

processo penal até final sentença condenatória; b) para o acusado Ademir, citação e intimação para audiência preliminar de

Suspensão Condicional do Processo, benefício que oferece pelo prazo de 2 (dois) anos, mediante as condições do art. 89 da Lei 9.099/1995 e condições usuais desse Juízo;

c) na instrução, a ouvida das testemunhas adiante arroladas; d) o Arquivamento do inquérito relativamente aos clientes da organização

criminosa, Ruben Tarcisio Barbieri, Edson Pereira Demétrio, Albertino Souza Morais, João Carlos Quadros, João Leardino Barbosa Filho, Marilene de França, Antonio Borges e Sebastião de Medeiros, que trouxeram informações sobre a prática da organização, mas também de delitos próprios,

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tipificados no art. 334, § 1º, alínea ‘d’ do Código Penal (receptação de mercadoria contrabandeada/descaminhada, no exercício de atividade comercial) por ausência de elementos seguros quanto à materialidade, o que torna frágil a base de convicção para oferecimento da denúncia.

e) Seja decretado em sentença condenatória o perdimento dos produtos contrabandeados/descaminhados apreendidos, já remetidos à instância administrativo-fiscal e aqueles ainda acautelados na Polícia Federal, bem como dos veículos e telefones celulares que serviram de instrumentos para a prática de crimes pela organização criminosa, tanto apreendidos nos autos quanto outros, cujo seqüestro cautelar requer, a seguir discriminados. Efetuado o seqüestro, requer o perdimento dos veículos de propriedade e/ou utilizados pela organização criminosa, a teor do art. 91, II, “a”, do Código Penal, por serem instrumentos do crime e de uso ilícito nas condições em que reiteradamente utilizados pela organização, bem como por serem produto da permanente atividade criminosa, alcançando também o perdimento aos valores apreendidos em poder de Liomar Lazaro Zacarias (fl. 14).

Florianópolis, 2 de dezembro de 2003

ass. Procurador da República

Rol de Testemunhas

Agentes de Polícia Federal 1. Francisco de ASSIS Oliveira2. AVELINO da Silva 3. Rogério FERRARI

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Rol de Veículos e outros bens da Organização Criminosa passíveis de perdimento

A - Veículos apreendidos:

1. Caminhonete GM, Modelo Bonanza Custom de Lux, ano 1992, placas BKO 8617, Içara, de cor vermelha, registrada em nome de Ediani Bento Goulart, conforme Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo 5046016679, apreendida em poder de Pedro Bittencourt, fls. 11 dos autos de nº 2003.72.00.015406-0 (fotografia na fl. 12);

2. Caminhão Trator Scania, ano fabricação 1984, modelo 1985, placa LYY 5464, de cor laranja, chassi 9BSTH4X2Z03218073, com certificado em nome de Irineu Borges de Lima (apreendido na fl. 14 destes autos);

3. Reboque CAR/REBOQUE/TANQUE, marca modelo REB/MASSARI, ano fabr. E modelo 1984, cor branca, placa BWB-4433, chassi SRTPC00384, com certificado de registro em nome de Marcos Barros de Matos (apreensão fl. 16);

4. Automóvel IMP/FIAT SIENA EL, ano fabr. 1998, modelo 1999, placa AIE 9159, de cor azul, chassi 8AP178534W4091715, com certificado em nome de Eduardo Valentim Garcia (apreendido na fl. 12);

B - Telefones celulares

1. Aparelho de telefone celular marca NOKIA, modelo 5125, ESN 0908425200, apreendido em poder de Liomar Lazaro Zacarias (fls. 14)

2. Aparelho de telefone celular marca MOTOROLA, V 60 i, HEX 42915376, DEC 06609524086, apreendido em poder de Ricardo Luiz Dutra (fl. 16)

3. Aparelho de telefone celular marca NOKIA, Modelo 8265, ESN 07310035692, apreendido em poder de Eduardo Valentim Garcia (fl. 16);

4. Aparelho de telefone celular marca MOTOROLA, StarTAC 77901, em poder de Odair de Sousa (fl. 16);

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5. Aparelho de telefone celular marca NOKIA, modelo 5125, ESN 07307205579, apreendido em poder de Eva Goulart Bittencourt (fl. 18)

Requer o seqüestro dos seguintes bens da organização criminosa:

1. Automóvel FIAT Prêmio, placa CCE 0778 São José, de propriedade de Ricardo Luiz Dutra (informação da fl. 141);

2. Automóvel VW Saveiro C, placa CQG 5176, São José, de propriedade de Ricardo Luiz Dutra (informação da fl. 141);

3. Automóvel FIAT Palio EDX, placa LYC 7861 São José, propriedade de Ricardo Luiz Dutra (informação da fl. 142);

4. Reboque Pirâmide PRB 500, placa MBD 9190, São José, propriedade de Ricardo Luiz Dutra, informação da fl. 142

1. Automóvel GM Chevette, placa MBS 1560, São José, propriedade de Edmundo Dutra, pai de Ricardo, e utilizado por este (informação da fl. 143)

V - QUADRILHA caso 2 (escritório de montagem de equipamentos a partir de descaminho e fornecedores habituais)

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis.

Origem: Auto de Prisão em Flagrante Autos: 2004.72.00.012754-1Classe: Falsidade ideológica/Quadrilha/DescaminhoArt. 299, 288 e 334, caput, e §1º, “c”, e art. 69, todos do Código PenalIndiciados: Fernando Andrade dos Santos e outrosDENÚNCIAO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Procurador da República adiante assinado, no uso de suas atribuições legais e com base no auto de prisão em flagrante ao alto indicado, vem perante Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA contra:

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Fernando Andrade dos Santos, RG 2.092.789/SSP/SC, CPF n.º 952.189.719-87, Título de Eleitor 034924800990 Zona 100 Seção 144, brasileiro, solteiro, responsável técnico (fl. 55), natural de Florianópolis/SC, aos 30 de novembro de 1977, filho de José Fernandes dos Santos e de Sirlei Baill de Andrade, com segundo grau completo de instrução, residente na Rua Velho Leão do Mar, 60, Praia de Fora, Palhoça/SC, telefone (48) 88041016 (fl.248);

Andréia Luciana Balestreri, RG 3.729.950-6, CPF n.º 006.059.929-40, brasileira, solteira, vendedora, natural da Palmitos/SC, aos 27 de maio de 1979, filha de Jandir Antonio Balestreri e de Inês Regina Silveira,residente na Rua Clemente Rovere, 215, fundos, Centro, Florianópolis/SC, fl. 247;

Antônio Marcos de Oliveira, alcunha “Marcão”, RG 7.885.944-0, CPF não informado, brasileiro, casado, auxiliar de serviços gerais/autônomo, natural de Matelândia/PR, aos 26 de maio de 1979, filho de João Inácio de Oliveira e de Maria Santos Oliveira, com primeiro grau incompleto de instrução e residente na Rua Mercedes, 741, Bairro Três Lagoas/Jardim Colombelli, Foz do Iguaçu/PR, telefones (45) 577-11-75, e (45) 91176119;

Maria de Fátima Gonçalves de Lima, RG 3.697.981-0, CPF não informado, brasileira, separada, vendedora, natural de Capitão Leônidas Marques/PR, aos 17 de outubro de 1964, filha de Matias Gonçalves de Lima e de Leotilde Silva de Lima, com primeiro grau incompleto de instrução, residente na Av. Andradina, 1890, Jardim Lancaster, Foz do Iguaçu/PR, telefones (45) 5243407, e (45)91182914, eValdir José Martins Batista, RG 3.785.350-3, CPF 008.305.879-69, brasileiro, solteiro, taxista, natural de Tubarão/SC, aos 27 de julho de 1983, filho de José Valdir Batista e de Albertina Gecioni Martins Batista, com segundo grau completo de instrução, residente na Av. Joaquim Maximiniano Sarmento, 200, Praia Comprida, São José/SC, telefones (48) 3247-4468 e (48) 99673882,

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Pela prática dos seguintes fatos criminosos:DO FALSO

Os acusados Fernando Andrade dos Santos e Andreia Luciana Balestreri constituíram em 11 de abril de 2000 sociedade comercial com nome JFS INFORMATICA LTDA, com sede na Rua Dulfe Rodolfo, 128, Carvoeira, Florianópolis/SC, e filial na Av. Madre Benvenuta, 234, Trindade, Florianópolis/SC, tendo por objeto social a “prestação de serviços na área de informática e comércio de equipamentos e suprimentos na área de informática” com gerência pelo primeiro acusado Fernando, e registro na JUCESC no dia 25/4/2000. No dia 14 de janeiro de 2002, os acusados Fernando e Andreia declararam falsamente em documento particular (2ª alteração de contrato da empresa JFS Informática Ltda) vários fatos juridicamente relevantes, entre os quais que retiraram-se da sociedade, que cederam e transferiram cotas do capital social a Giovani de Andrade Ramos e Jamile Signori, pessoas de identidade não apurada. Fernando declarou também falsamente que deixou de exercer a gerência da sociedade, que lhe competia no contrato original, em sua cláusula IX. Sabe-se de diligências decorrentes de sua prisão em flagrante no dia 18 de agosto de 2004, porém, que Fernando e Andreia jamais deixaram de ser proprietários de fato dessa empresa e que Giovani, um provável empregado da firma, apenas emprestou o nome. No dia 16 de abril de 2004, por incitação de Fernando, e em benefício da sociedade de fato entre ele e Andreia, Rogério Carpes Júnior e sua então companheira Eliane Mendes da Silva, ele na época motoboy que prestava serviços para a JFS, declararam falsamente que adquiriram de Giovani Andrade Ramos e de Jamile Signori cotas de capital social dessa mesma empresa, e Rogério Carpes Júnior declarou também falsamente que assumiu a gerência da sociedade (cláusula 7ª).

DA QUADRILHAEssa empresa comercial JFS Informática Ltda, de propriedade de fato de Fernando e Andreia, constituiu, desde a sua criação até o dia do flagrante, fachada legal para um escritório de montagem de equipamentos de informática com peças descaminhadas. Em certo tempo, não apurado, os acusados Antônio Marcos de Oliveira e Maria de Fátima Gonçalves

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Lima, associaram-se aos dois acusados sócios da JFS, de modo permanente, na condição de fornecedores de mercadorias descaminhadas que ambos traziam do Paraguai. Foram apurados vários sinais de permanência da referida associação criminosa. Quadro analítico elaborado a partir de anotações de contabilidade interna da empresa e acervo documental apreendido, em fls. 169/173, aponta grande número de empresas adquirentes de equipamentos montados pela JFS, elevado giro de capital, relações de fornecedores no Paraguai e ainda pagamentos elevados e sucessivos, quase como se constassem da folha de pagamento rotineira da empresa, a Marcão (o ora acusado Antônio Marcos) e Maria de Fátima. Exemplificativamente, a partir de registros de controle informal de entradas e saídas, referentes aos meses de abril, maio e junho de 2004, verificam-se os seguintes valores (as entradas são constituídas aparentemente por vendas a clientes):

Abril/2004: R$ 27.939,18Maio/2004: 71.215,88Junho/2004: 169.264,58

Nos registros de saída desse controle informal percebe-se que os valores mais elevados são destinados ao pagamento de pessoas físicas, e de forma recorrente aparecem FÁTIMA e MARCÃO, nomes que coincidem com os usados pelos acusados Maria de Fátima e Antônio Marcos, presos em flagrante juntamente com os dois responsáveis de fato pela empresa, Fernando e Andreia, quando traziam do Paraguai mercadorias para estes. Fernando e Andreia, por seu turno, tinham atuação ativa na empresa. Andréia possuía inclusive carimbo com seu nome como responsável pelo “Depto. de Vendas” (auto de apreensão de fl. 20). Diante de todos os indícios apurados, fica evidenciado que Fernando, Andreia, Antônio Marcos e Maria de Fátima mantiveram associação permanente, com termo inicial incerto, mas, ao que tudo indica, de mais de ano, sendo certo que durou pelo menos quatro meses (04/2004 a 08/2004), para a prática não eventual de crimes, associação que só cessou com a prisão em flagrante dos quatro acusados, no dia 18 de agosto de

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2004, termo inicial da prescrição do delito de quadrilha, na forma do art. 111,III, do Código Penal.

DO DESCAMINHO 1º fato

Após a prisão em flagrante de Antônio Marcos, em junho de 2004, por descaminho de mercadorias do Paraguai, a Polícia Federal obteve informação de que ele, ora acusado, era fornecedor habitual, à razão de três entregas de mercadorias semanais, sempre às segundas, quartas e sextas-feiras, da empresa JFS, estabelecida na Av. Madre Benvenuta, nº 186, sala 1, bairro Trindade, Florianópolis, bem como que essa empresa era distribuidora de materiais de informática, de propriedade de um tal Fernando e uma tal Andreia. Diante de confirmação dos dados inicialmente informados, tais como a efetiva existência de uma empresa com nome JFS no endereço referido, de responsabilidade dos ora acusados Fernando e Andreia, policiais federais passaram a acompanhar à distância (campana) as atividades da empresa, podendo perceber que no dia 13 de agosto de 2004, sexta-feira, por volta das 10h30min, um táxi aproximou-se da empresa e uma mulher fez a retirada de diversas mercadorias do interior de um veículo e as entregou à ora denunciada Andreia. Prosseguindo na campana, verificaram que no dia 16 de agosto de 2004, uma segunda-feira, repetiu-se o procedimento suspeito, pois o mesmo motorista de táxi e a mesma mulher (que depois se soube tratar-se da acusada Maria de Fátima) desembarcaram mais mercadorias em frente à loja JFS. No dia 17 de agosto, verificou-se, também, a presença na empresa dos ora acusados Fernando e Andréia. Diante disso intensificou-se a vigilância no dia 18 de agosto de 2004. Uma equipe policial acompanhou Fernando e Andreia à distância, no prédio em que residem, enquanto outra equipe “campanou” a empresa. Apurou-se, nesse dia 18 de agosto de 2004, a prática do seguinte fato criminoso.Por volta da 1 hora da madrugada do dia 18 de agosto de 2004, Fernando saiu de um apartamento em Florianópolis conduzindo um veículo VECTRA GLS, prata, placa MAN 4392, e dirigiu-se pela Rodovia BR 282 em direção ao município de Lages/SC. Por volta das 7h30min, o acusado Fernando passou pela mesma rodovia, em sentido contrário, com direção a Florianópolis, conduzindo o mesmo veículo VECTRA, desta vez acompanhado pelo acusado Antônio Marcos, quando, ao passarem pela altura do município de Águas Mornas, foram abordados pela Polícia Federal. Em vistoria no veículo, verificou-se que os acusados Fernando e

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Antônio Marcos traziam vários equipamentos de informática de origem estrangeira sem qualquer documento fiscal de regular introdução no país, a saber: 2 acessórios de computador, 5 caixas acústicas multimídia, 10 coolers (ventilador de CPU), 4 discos rígidos, 7 gravadores de CD para computadores, 12 pentes de memória para computador, 3 memórias flash para máquina fotográfica, 4 mouses, 4 placas de vídeo, 1 placa de vídeo captura/tv, 10 placas-mãe, 2 processadores de cpu, e 7 teclados para computador. As mercadorias descaminhadas foram discriminadas no Auto de Infração com Apreensão de Mercadorias nº FG00050, de 18 de agosto de 2004, fls. 26/7, e avaliadas em R$ 4.744,60. Na mesma diligência foi formalizada a apreensão do veículo GM/VECTRA GLS 1999, placa MAN 5392 (Termo de apreensão 00051, fl. 28).

2º fato.Simultaneamente à abordagem de Fernando e Antônio Marcos, policiais acompanhavam a movimentação da empresa JFS, no endereço da Av. Madre Benvenuta, 186, sala 1, Trindade, Florianópolis. Nesse mesmo dia 18 de agosto de 2004, por volta das 10h40min, aproximou-se do estabelecimento um veículo Santana Quantum, bege, placa BRP 7765, conduzido pelo mesmo taxista visto anteriormente desembarcar mercadorias em frente à loja JFS, acompanhado da mesma mulher, a ora denunciada Maria de Fátima. Imediatamente, o condutor desse veículo, ora denunciado Valdir José Martins Batista, descarregou duas caixas e as levou até o interior da empresa JFS, ao tempo em que dessa loja saiu a acusada Andreia, que aproximou-se de Maria de Fátima, encostada ao veículo. Nesse momento, foi realizada abordagem policial em que se verificou que o porta-malas e o banco do traseiro desse veículo estavam cheios de caixas contendo material de informática, dando-se voz de prisão em flagrante às acusadas Andreia, Maria de Fátima e Valdir, pela prática de entrega e recebimento de mercadoria descaminhada, transportada por Valdir, este eventualmente participante de atividade criminosa da qual tinha ciência inequívoca, até mesmo porque já fizera carregamentos anteriores para a mesma Maria de Fátima. Valdir esclareceu que a mercadoria fora transportada por Maria de Fátima desde o município de Governador Celso Ramos, e que o frete, para o qual foi solicitado veículo de porte maior que o táxi normalmente utilizado por ele, foi combinado com Valdir pela acusada Andreia. Nesse veículo foram apreendidas as seguintes mercadorias estrangeiras importadas clandestinamente: 2 acessórios para computador, 3 bolsas, 3 cabos de

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computador,1 caixa acústica multimídia, 1 disco rígido, 5 drives 3 ½ (1.44MB), 10 fontes de energia, 1 gabinete, 5 gravador cd de computador, 3 HUB, 1 impressora de impacto Epson, 3 mouses, 1 notebook, 49 placas de rede, 2 placas de vídeo, 10 placas fax-modem, 9 placas-mãe, 3 placas diversas para computador, 5 teclados para computador, 10 ventiladores de CPU, 1 webcam, discriminadas no Auto de Infração com Apreensão de Mercadorias nº FG00052, de 18 de agosto de 2004, fls. 29/30, e avaliadas em R$ 6.645,76.

3º fato.Imediatamente passaram os policiais à revista no estabelecimento JFS Informática Ltda., localizado na Av. Madre Benvenuta, 186, bairro Trindade, Florianópolis/SC, em presença de sua proprietária e ora denunciada Andréia Luciana Balestreri. Nesse estabelecimento foram apreendidos outros equipamentos e suprimentos para computadores, importados, sem registros ou documentos de regular importação. Dentre as mercadorias estrangeiras apreendidas havia uma carcaça de CPU, marca Dr. Hank, made in China, sem número de série (item 3 do auto de apreensão da fl. 19), teclados de computador da mesma marca Dr. Hank, 4 placas-mãe para computador (item 44), 8 HD's (disco rígido para computador, item 45), 3 pentes de memória, máquina digital marca AIPTEC, 4 placas de vídeo para computador, pala de rede, (itens 48/51), 5 placas de fax-modem para computador (item 53), 2 gravadores de CD com leitores de DVD (54), entre outros suprimentos estrangeiros para montagem de CPU. As mercadorias apreendidas em poder da acusada Andreia no estabelecimento da JFS foram discriminadas em Auto de Infração com Apreensão de Mercadorias nº FF00022, de 31 de agosto de 2004, fls. 97/98, e avaliadas em R$ 4.271,53.

MATERIALIDADEAs mercadorias descaminhadas foram avaliadas no total em R$ 4.744,60 (1º fato), R$ 6.645,76 (2º fato) e R$ 4.271,53 (3º fato), que somam o total de R$ 15.661,89.De acordo com a permissão legal do art. 65 da Lei 10.883/2003, que dispensa a verificação por itens do imposto incidente para fins de persecução penal, estima-se o tributo iludido para efeitos criminais em 50% do valor de avaliação, ou aproximadamente R$ 7.830,00 para o Imposto de Importação e outros R$ 7.830,00 para o IPI.

INSTRUMENTO DO CRIME

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O veículo apreendido, no caso dos autos, era verdadeiro instrumento do crime, uma vez que era através desse veículo que se dava o contato de Fernando com o fornecedor a ele associado, Antônio Marcos, o que ficou comprovado pelo modo de operar da quadrilha no dia do flagrante em 18 de agosto de 2004. Além disso, o veículo de propriedade do acusado Fernando é de provável aquisição com produto de atividade criminosa, uma vez que a “empresa” de fachada montadora de equipamentos de informática a partir de suprimentos descaminhados está em atividade desde sua constituição em 2000, com capital de giro bastante elevado, como demonstram os quadros das fls. 169/173. Além disso, o uso de veículo, nas circunstâncias em que realizado, para depósito de mercadoria descaminhada, é ilícito.

CLASSIFICAÇÃOASSIM AGINDO, incorreram nas sanções penais dos seguintes crimes:

Fernando Andrade dos Santos, nas sanções do art. 299, caput, por 2x, por alterar a verdade de documento particular, diretamente e por concurso de agentes, do art. 288, do art. 334, caput, por 1x, 334, § 1º, alínea “c” (1x) e do art. 334, § 1º, alínea “d” (1x), todos do Código Penal, todos em concurso material de delitos, na forma do art. 69 do Código Penal. Andréia Luciana Balestreri, nas sanções do art. 299, caput, por 1x, por alterar a verdade de documento particular, do art. 288, do art. 334 § 1º, alínea “c” (1x) e do art. 334, § 1º, alínea “d” (1x), todos do Código Penal, todos em concurso material de delitos, na forma do art. 69 do Código Penal.Antônio Marcos de Oliveira, nas sanções do art. 288 e do art. 334, caput, por 1x, ambas em concurso material de delitos, na forma do art. 69 do Código Penal. Maria de Fátima Gonçalves de Lima, nas sanções do art. 288 e do art. 334 § 1º, alínea “d”, ambas em concurso material de delitos, na forma do art. 69 do Código Penal. e por fim, Valdir José Martins Batista, nas sanções do art. 334, § 1º, “d”, por 1x, na forma do concurso de agentes do art. 29 do Código Penal. REQUERIMENTOS:Diante do que foi exposto, requer:

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a) Recebimento da denúncia, citação dos acusados para todos os atos do processo penal até final sentença.

b) Intimação do réu Valdir José Martins Batista para audiência preliminar de suspensão condicional do processo, que propõe pelo prazo mínimo de 2 anos, mediante as condições de lei e as de praxe desse Juízo.

c) Expedição de ofício à Junta Comercial do Estado de Santa Catarina para averbação àqueles registros de falsidade ideológica das 2ª e 3ª Alterações contratuais ao contrato original de constituição da empresa JFS Informática Ltda.

d) Na instrução a ouvida das testemunhas adiante arroladas. e) Ao final, a condenação dos réus nas sanções dos delitos a

eles imputados. f) A aplicação de pena acessória de perdimento dos bens

apreendidos e do veículo da marca VECTRA GLS, prata, placa MAN 4392, de propriedade do acusado Fernando Andrade dos Santos, como instrumento de crime de introdução clandestina no país de mercadoria descaminhada de modo reiterado, e também por ser provável produto da atividade criminosa da empresa JFS Informática Ltda., conforme fundamentado acima, e amparo no art. 91, II, “a” e “b” do Código Penal.

g) Como efeito acessório da sentença condenatória, também o perdimento desses aparelhos celulares apreendidos com os denunciados, uma vez que usados para comunicação entre eles com o objetivo inequívoco de ajustar detalhes da operação criminosa e da empresa criminosa imputada à quadrilha.

h) Arquivamento do inquérito em relação a Giovani de Andrade Ramos e Jamile Signori, que agiram provavelmente na mesma situação dos sucessores falsos. Arquivamento do inquérito relativamente a Rogério Carpes Júnior (fl. 306) e Eliane Mendes da Silva do delito de falsidade ideológica por ter ficado apurado que agiram com mera culpa e sem dolo de alterar a verdade

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de fatos juridicamente relevantes. Rogério, aliás, sequer percebeu que a empresa não estava em nome de seu patrão na JFS, Fernando.

Florianópolis, 17 de abril de 2006.

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

Rol de testemunhas:

1. Francisco de Assis de Oliveira, Agente de Polícia Federal, 2. Avelino da Silva, Agente de Polícia Federal, 3. Alberto Pereira Orihuela, Agente de Polícia Federal, 4. Waldenir Carrion Acosta, (fls.107/8) taxista, estabelecido em

Ponto de táxi nº 4, na Rua Altamiro Di Bernardi, Campinas, São José, telefone (48) 241-1000, e residente na Rua Dária Merize Koerich, nº 156, Centro, São José/SC, telefones (48)259-5083 e (48)9101-5721.

5. Rogério Carpes Júnior (fl. 306) residente na Servidão Moreira, 102, Barra do Aririú, Palhoça/SC, telefone (48) 9619-5469,

6. Eliane Mendes da Silva (fl. 313) residente na Servidão João Gonçalves, nº 93, Bairro Carianos, Florianópolis, telefone (48) 9619-5469.

V - ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO (forma diversa de crime permanente que não exige “mais de três” da quadrilha): Art. 14 da Lei 6368, caso em que a fragilidade dos elementos conhecidos torna necessário reportar-se a peças dos autos que são indiciárias do fato “associação”.

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

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Inquérito 0205/2006Autos: 2006.72.00.002180-2Origem: auto de prisão em flagrante Indiciados: Gabriel Ernesto Ottonello Nogueira e Outros

Classe:Associação para o tráfico/tráfico internacional de substância entorpecente/Uso de documento falso de identidade

O Ministério Público Federal, pelo Agente signatário, com base nos elementos de convicção do inquérito referido acima, denuncia:

Gabriel Ernesto Ottonello Nogueira, que também se apresenta como Marcelo, alcunha “Marcelo Máquina”, identificação criminal na fl. 47, certidão de nascimento na fl. 101, uruguaio, profissão indicada como ferreiro, divorciado, natural de Montevideo/ROU, aos 4 de dezembro de 1972, filho de Henry Heber Ottonello Nogueira e de Maria de las Mercedes Nogueira, com segundo grau incompleto de instrução, com residência permanente informada como Rua Colônia, 1583, Montevideo/ROU, (interrogado e qualificado no auto de prisão em flagrante sob o nome de seu irmão Marcelo Flávio);

Michelle Marques Vasques, RG 5.146.175-7/SSP/SC (fl. 102), CPF 945.312.001/44, brasileira, solteira, vendedora autônoma, com terceiro grau completo de instrução, natural de Ponta Porá/MS, aos 24 de novembro de 1981, filha de Dionizio Vasques e de Nely Marques Vasques, residente na Servidão Sagaz, 49, Ingleses, Florianópolis, telefone (48) 84181334,

Oscar Amadeo Ferreira Benitez, cédula de identidade civil paraguaia de nº 659.125 (fl. 50), identificação criminal à fl. 51, paraguaio, casado, engenheiro agrônomo, natural de Asunción,

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Paraguai, aos 31 de março de 1959, filho de Lucas Ferreira e de Cesarina Benitez, com terceiro grau completo de instrução, residência permanente informada como Masakaraguay, s/nº, Vila Jardim, Pedro Juan Caballero/Paraguai, telefone 1467 92222061, e Fátima González Ramirez, cédula de identidade civil paraguaia nº 3.925.766, expedida em 5/8/1996, identificação criminal à fl. 55, paraguaia, solteira, do lar, com segundo grau completo de instrução, filha de Marcelino Gonzalez e de Dionísia Ramirez de González, natural de Pedro Juan Caballero, Paraguai, aos 9 de maio de 1983, com residência permanente informada como Calle Internacional, s/nº, Bairro Vernardino, Pedro Juan Caballero/Paraguai.

Todos com exceção de Michelle recolhidos em razão de prisão em flagrante no dia 9/3/2006,

Pela prática dos seguintes fatos criminosos:

1. Associação para o tráficoOs acusados Gabriel Ernesto e Michelle mantêm união estável e têm quatro filhos em comum, e estão estabelecidos em Florianópolis desde pelo menos o dia 25 de maio de 2005, de modo permanente em associação para a prática de crimes de tráfico de substância entorpecente. Provam esta associação para o tráfico, entre outros, diversos indícios apurados nestes autos, tais como:

• Gabriel permanece no Brasil sob falsa identidade, apresentando-se seguidamente como seu irmão Marcelo Flavio, o que fez inclusive no ato de sua prisão, portando documento de outrem. Mesmo para os vizinhos da “base” de Açores apresentava-se como “Marcelo Máquina”;

• Nem Gabriel nem Michelle possuem atividade laborativa ou rentável que lhes assegure subsistência. Ele apresenta-se como “ferramenteiro” (ferreiro em português) com salário aproximado de R$ 1.200,00 (no Uruguai, até mesmo porque nega residência permanente no Brasil) (fl. 48).

• Apesar de não possuírem rendas comprováveis, adquiriram em 8 de julho de 2005 um veículo GM ASTRA, placas MBA 5171, pago por Michelle, em parte na forma de R$ 8.200,00 em espécie (fl. 77) e outra parte, para totalizar R$ 22.000,00 na revenda de uma camionete Pajero ano 93.

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Michelle alega que os 22 mil reais seriam originários de uma “herança de sua mãe, decorrente de uma venda de uma casa na praia de Piçarras/SC”;

• O casal ostenta padrão de vida incompatível com as modestas rendas declaradas. Festas sofisticadas de aniversário e matrícula dos filhos em pré-escola particular (Tempo de Despertar), comprovadas nas fotografias apreendidas, o atestam.

• Apesar de Michelle alegar que está separada de Gabriel Ernesto há alguns meses (4 ou 5) antes da prisão, o que já seria contraditório com o vínculo conjugal estável que aparentam nas fotografias apreendidas, o veículo ASTRA foi utilizado por Gabriel em transporte de entorpecente na operação de tráfico adiante descrita. Gabriel foi preso com as chaves desse veículo consigo. Além disso fotos do casal estavam expostas em porta-retratos no endereço de Açores (fl. 71) no dia 10/3/2006.

• Gabriel Ernesto possuía consigo várias faturas (endereçadas a sua identidade falsa como Marcelo) e notas de aquisição de material de construção (cimento, fl. 75, pedra São Tomé, fl. 74) para entrega no domicílio do casal, na Praia dos Ingleses, Servidão Sagaz, 49;

• Michelle possuía em seu nome cartão da firma Casarotto – casa e construção, com endereço do domicílio do casal na Servidão Sagaz, 69 (com divergência no número real).

• O proprietário de uma casa locada por Michelle para “base” do tráfico afirma que ela dizia não ter profissão, mas seu companheiro teria negócios no Paraguai, e que o casal “viaja muito, passando até meses fora da cidade” (fl. 91).

• Um documento de ‘entrada/saída’ no Brasil, em nome de Marcelo Flávio Ottonello Nogueira (identidade falsa de Gabriel Ernesto no Brasil) estranhamento foi apreendido em poder da acusada Fátima González Ramirez, que veio do Paraguai para o Brasil provavelmente em 28/10/2005 (fl. 25).

• Há no acervo probatório arrecadado vínculos com país de fala hispânica (Uruguai ou Paraguai) como documento de fl. 76 – denominado “Mas – Solicitud ampliada de Tarjeta Titular” no qual Michelle assina com sobrenome “Márquez” (com z) e suposto domicílio em: Acapulco M 13 S 20, Ciudad Canciones, onde viveria com 5 pessoas. Além disso, todas as fotografias de família parecem ter sido reveladas em representante da Kodak fora do Brasil, em razão dos dizeres em espanhol “Estas fotos tienen garantía de por vida”, o que indica pelo menos capacidade financeira para viagens de família ao exterior (como por ocasião de festa de cumpleaños de Luis).

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Diante de tais indícios, evidenciado que Gabriel Ernesto e Michelle associaram-se permanentemente para a prática de tráfico de substância entorpecente. Por possuírem ambos domicílio na Rua Sagaz, 49, Praia dos Ingleses (Norte da Ilha), juntamente com D. Nely, mãe de Michelle (residência na qual vêm sendo injetados, para reforma, valores consideráveis), foi que Michelle locou, para operacionalização das atividades do casal, uma residência na Praia dos Açores, em Florianópolis, em 25 de maio de 2005, sendo que – alegando fazer muitas viagens – ofereceu pagamento quadrimestral, e sempre realizou pagamentos em dinheiro. A locação, inclusive, estava quitada até dia 25 de maio de 2006. A residência nos Açores, na Rua Tânia Regina dos Santos, 65, era utilizada pelo casal para estoque de entorpecente, o que, aliás, no curso das investigações, foi apurado, tendo sido apreendida na residência grande quantidade de maconha. Repare-se que no dia da diligência policial, 13 de março de 2006, o capim do jardim estava alto, dando a impressão de não receber cuidados, e havia sinais indicativos de que a casa fora abandonada às pressas, tais como carne estragada fora da geladeira, uma mamadeira com leite apodrecido no quarto das crianças, onde estava a maconha e a própria carteira de identidade de Michelle (fl. 90). Tais são indícios de associação e plena atividade de Michelle no tráfico de que extrai seu sustento, juntamente com seu companheiro Gabriel. Suficientemente evidenciado que essa residência dos Açores servia de “base” para guarda de entorpecente, do mesmo modo como a outra residência na Rua Lúcia Helena Sharom, 98, Praia da Armação do Pântano/Florianópolis, servira de “base” para a consumação de compra e venda de entorpecente trazido pelos co-denunciados Oscar Amadeo e Fátima do Paraguai. Assim, os co-denunciados Gabriel e Michelle praticaram delito autônomo de associação para o tráfico, hipótese diversa do simples concurso de agentes, como meio de consumação dos demais delitos a eles imputados na presente denúncia.

2. Tráfico de substância entorpecente: 1º fatoOscar Amadeo e Fátima, por seu turno, embora neguem, possuem relacionamento mais estável que a mera amizade. O telefone que seria da esposa de Oscar, Lucia Alvarenga Mesa, 67 9222 2061, consta da agenda telefônica do seu celular como sendo de “Leticia”. O telefone que seria do “ex-marido” de Fátima, Vitor, por sua vez, de prefixo 67 9635-5261, foi o prefixo de onde partiram, no dia 8 de março de 2006, às 06h47min e 14h55min duas chamadas telefônicas para o celular de Oscar Amadeo, o que é muito estranhável, e indiciário de que o telefone informado por Fátima não é de seu ex-marido, mas de um contato de Oscar. Em Florianópolis, pernoitaram juntos no Hotel Íbis. É certo que Fátima trazia consigo um documento em nome de Marcelo Flavio Ottonello Nogueira, que seria um

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irmão do co-denunciado Gabriel Ernesto cuja identidade é utilizada falsamente por este. Oscar Amadeo e Fátima, em comunhão de vontades, saíram do Paraguai com carga de maconha para entrega em Florianópolis, a destinatário previamente combinado. Oscar Amadeo esteve pelo menos no dia 16 de fevereiro de 2006 na cidade de Pedro Juan Caballero para algum reparo de veículo (fl. 21, fatura comercial de Armando Auto Piezas, nessa cidade) e conduziu desde o fornecedor no Paraguai o veículo MITSUBISCHI, modelo MONTERO GL 4x4, chassis DONVD20NJ01339, placa ACP 008, cor verde, ano 1992, já com carga de maconha ocultada em espaços especialmente preparados para ocultação de entorpecente, inclusive no interior do pneu de estepe desse veículo, com destino a Florianópolis para entrega e posterior revenda da droga no Brasil pelos acusados Gabriel Ernesto e Michelle. Ao chegarem a Florianópolis, no dia 8 de março de 2006, Oscar Amadeo e Fátima hospedaram-se no Hotel Íbis, no centro de Florianópolis, onde ficaram aguardando contato por parte de Gabriel. No mesmo dia 8 de março, Oscar Amadeo seguiu com o veículo na direção do Sul da Ilha, onde – conforme mais tarde se apurou – deixou a camioneta Mitsubischi carregada de maconha no endereço da Rua Lúcia Helena Sharom, 98, Praia da Armação do Pântano/Florianópolis, para posteriormente, na presença de Gabriel, conferir e pesar a mercadoria, sendo certo que foi apreendida no interior dessa residência (fl. 14) balança de precisão marca CAMRY, modelo EK 3130, com capacidade máxima para 5k, na qual havia vestígios de maconha, conforme Laudo pericial 193/06-SR/SC. Oscar Amadeo retornou então ao Hotel Íbis, onde pernoitou com sua companheira Fátima, e no dia seguinte, por volta do meio-dia, seguiu, agora em companhia de Fátima, de táxi para o mesmo endereço da Praia da Armação, acima referido. Para lá também se deslocou o acusado Gabriel Ernesto, a bordo do veículo GM/ASTRA, de placas MBA 5171, de cor cinza, ano 2000, chassi 9BGTT69COYB148588, sendo certo que Gabriel e Michelle sabiam do uso pelos fornecedores de ocultação de droga dentro dos estepes dos pneus, tanto que possuíam, no endereço dos Açores, um “martelo de borracha usado para colocar pneus em carros”. No endereço da Rua Lúcia Helena Sharom 98, antes da abordagem policial, os acusados Oscar Amadeo e Gabriel Ernesto foram vistos examinando o veículo internamente, e depois retirando do MITSUBISCHI verde objetos similares a tijolos, que foram sendo colocados em um saco branco de ráfia, o qual em seguida foi levado para o interior da residência. Obtida a ordem judicial, foi

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realizada abordagem nessa residência, tendo os policiais se deparado com Oscar, deitado numa cama sozinho e Gabriel juntamente com Fátima em outro quarto, ao passo que o saco branco com tijolos de maconha estava no chão de outro quarto, ao lado de uma cômoda sobre a qual havia uma balança de precisão. Os acusados dispunham de diversas ferramentas, de uma mala preta, marca Route 66, com segredo e rodas (possivelmente para transporte de valores), sendo que as ferramentas seriam utilizadas no desmonte dos locais de ocultação da droga no veículo, até porque na abordagem foram vistas, sobre o sofá na residência, duas chapas de lata e pedaços de forração do veículo. Na abordagem no endereço da Rua Lúcia Helena Sharom, 98, no dia 9 de março de 2006, foram apreendidos 25.600g de maconha que se encontravam no interior da residência, distribuídas em 59 tabletes do tipo tijolos, prensados, cobertos com plástico e fita adesiva transparente e parda. No pneu estepe do veículo conduzido por Oscar Amadeo, foram apreendidos outros 17.100g distribuídos em 43 tabletes do tipo tijolos, também de maconha (auto de apreensão de fls. 13/14).

3. Tráfico de substância entorpecente: 2º fatoAlém do negócio aperfeiçoado na residência de Armação do Pântano do Sul, os acusados Gabriel e Michelle também mantinham em estoque, na residência do balneário dos Açores, locada por Michelle, grande quantidade de maconha. Descobriu-se o fato em diligências que investigavam o uso por Gabriel do veículo GM/ASTRA MBA 5171 na operação já referida. Ocorre que Gabriel foi preso com uma chave de um veículo GM, possivelmente um ASTRA. Observe-se também que Gabriel, que se apresentou como Marcelo, foi preso sem camisa porque afirmava que sua camisa havia sido roubada. Um dia após a prisão de Gabriel, a Superintendência de Polícia Federal em Florianópolis recebeu um telefonema de alguém que se apresentou como Fernando (ligação efetuada a partir do prefixo 9981-0109, que posteriormente se apurou pertencer ao defensor de Michelle, Luiz Fernando Sewald) perguntando onde estava o veículo ASTRA placa MBA 5171, que essa pessoa supostamente teria emprestado para um amigo e não recebera de volta. De imediato, policiais militares efetuaram ronda e localizaram o veículo estacionado em frente à casa onde no dia anterior Gabriel havia sido preso em flagrante. Policiais federais então dirigiram-se ao local e testaram a chave GM que havia sido apreendida com Gabriel e verificaram que esta chave servia no veículo ali estacionado. Dentro do veículo, no qual havia forte cheiro de maconha, procedeu-se à apreensão de alguns objetos de prova tais como uma camiseta de tamanho GG, alguns vestígios de consumo de maconha, e um molho de chaves de residência que estava sob a camiseta. Como o veículo estivesse registrado em nome de Michelle, com endereço na Rua Tânia Regina dos Santos, 65, Açores, para lá se dirigiram os

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policiais. Verificaram que o local tinha capim alto, descuidado, e que não havia ninguém dentro de casa. Aparentava ser base de tráfico, razão por que os policiais testaram a chave que apreenderam no veículo, e abriram a porta da residência, que alguns vizinhos disseram tratar-se de residência de Michelle e de Marcelo Máquina. Logo à abertura da porta sentiu-se forte cheiro de maconha, razão por que os policiais adentraram na residência para busca. A casa possui três cômodos, sendo um de casal e outros dois de crianças. Na ocasião, num dos quartos de crianças policiais descobriram grande quantidade de maconha. Havia sinais de que a residência havia sido abandonada às pressas, tais como carne fora da geladeira, e restos de leite apodrecido numa mamadeira. No quarto das crianças, junto com a maconha, fora deixada a própria carteira de identidade de Michelle. Também havia nessa residência um martelo de borracha do tipo usado para pneus de carros, e fitas adesivas próprias para embalagem de drogas. Nessa residência dos Açores também foi apreendido um pedaço de papel típico de contabilidade de fornecimento de entorpecente, com a conta em nome de Michel, no valor total de “37 800 – 5 600 = 32 200” (doc fl. 82). Na residência, estavam estocados 137 tabletes de tamanhos variados contendo maconha, com peso total de 113.700g, (auto de apreensão de fls. 70). NO veículo foi apreendida uma trouxinha de maconha com 14,40g.

4. Uso de documento de identidade alheioO acusado Gabriel, que, aliás, vive clandestinamente no país com nome falso e apelido de Marcelo Máquina, apresentou-se à autoridade policial portando cédula de identidade de terceiros, em nome de Marcelo Flavio Ottonello Nogueira, que ao que consta seria seu irmão. Assim não só apresentou-se com falsa identidade como também apresentou, para reforçá-la, documento de identidade estrangeiro (Cédula de identidad nº 3.216.469-8, expedida em 14/10/2004, em Montevideo, Republica Oriental do Uruguai, em nome de Marcelo Flavio Ottonello Nogueira, fl. 46) de outrem. Se é discutível que a falsa identidade do agente esteja abrigada por direito de não produzir prova contra si, esse direito não se estende, na jurisprudência, ao uso de documento de identidade alheio, delito diverso da falsa identidade e tipificado no art. 308 do Código Penal.

IIMaterialidade

Em Laudos Preliminares de Constatação de nºs 167/168 e 171/06-SR/SC, fls. 436/37/84, toda a maconha apreendida foi testada por testes químicos que restaram positivos para Cannabis sativa Linneu (maconha) constante na condição de entorpecente de Rol Oficial de Substancias que causam dependência química, na Portaria 344 da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, de 12 de

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maio de 1998, republicada no DOU de 01/2/1999, e na Resolução RDC 26, de 15/02/2005, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Laudos definitivos, de nºs 184, 188 e 190/06-SR/SC confirmam os exames preliminares.

IIIClassificação

Assim agindo, incorreram os acusados nas seguintes sanções penais: 1. GABRIEL ERNESTO OTTONELLO NOGUEIRA, nas sanções

do art. 14, 12 c/c 18, I, (por 2 x), da Lei 6.368/1976, e do art. 308 do Código Penal, em concurso material de crimes (art. 69 do Código Penal), com circunstância agravante do art. 62, I, por dirigir a atividade do co-autor associado.

2. MICHELLE MARQUES VASQUES, nas sanções do art. 14, 12 c/c 18, I, (por 2 x), da Lei 6.368/1976.

3. OSCAR AMADEO FERREIRA BENITEZ, por 1x nas sanções do art. 12, c/c art. 18, I e III, da Lei 6.368/1976, na forma do concurso de pessoas do art. 29 do Código Penal.

4. FATIMA GONZALEZ RAMIREZ, por 1x nas sanções do art. 12, c/c art. 18, I e III, da Lei 6.368/1976, na forma do concurso de pessoas do art. 29 do Código Penal.

IVRequerimentos

Isso posto, requer:

a) a citação dos denunciados para resposta escrita e demais procedimentos do rito processual, em especial dos artigos 38 e seguintes da Lei 10.409, de 11/1/2002;

b) a ouvida das testemunhas, ao final arroladas, em audiência de instrução e julgamento;

c) Imediata autorização à autoridade policial para fazer uso, desde logo, do veículo GM/ASTRA de placas MBA 5171, de cor cinza, ano 2000, chassi 9BGTT69COYB148588, apreendido, utilizado inequivocamente para a prática das atividades criminosas denunciadas, com suporte no art. 46, da Lei 10.409/2002 e em atenção à manifestação de interesse da Polícia Federal, nestes autos (fl. 119).

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d) Como efeito da sentença condenatório, oportunamente, o perdimento definitivo do referido veículo.

e) Perdimento em favor da União, em razão de inconveniência de uso desse veículo pela Polícia Federal, do veículo utilizado pelos acusados Oscar Amadeo e Fátima, da marca MITSUBISCHI, modelo MONTERO GL 4x4, chassis DONVD20NJ01339, placa ACP 008, cor verde, ano 1992.

f) Perdimento em favor da União de todos os valores em moeda apreendidos nos autos, uma vez que inequivocamente originários de atividade criminosa.

g) A juntada oportuna dos laudos definitivos, em elaboração na Polícia técnica.

h) Por fim, a condenação dos réus nas sanções dos delitos a eles imputados na denúncia, com a fixação de pena proporcional às respectivas culpabilidades, e em regime fechado, como único regime compatível com a segurança social na hipótese de recalcitrância na atividade de tráfico.

i) Tendo-se optado na denúncia pelo concurso simples de agentes (art. 29 do CP), relativamente aos acusados Oscar Amadeo e Fátima, implicitamente se reconhece que os elementos de prova disponíveis nestes autos são ainda precários para denúncia por associação para o tráfico. É, pois, por ora, o delito de associação para o tráfico objeto de arquivamento, apenas quanto a esses acusados, com a ressalva de que provas novas venham a alterar a opinião sobre tal delito.

Florianópolis, 27 de março de 2006

ass.Procurador da República

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VI - OUTROS CRIMES PERMANENTES E DE PERIGO EM GERAL

✔ Porte de arma, crime de perigo: na descrição desse fato convém aproveitar todas as circunstâncias que indicam periculosidade do agente, porque serão avaliadas na dosimetria da pena do fato que é crime de perigo, mesmo que pareça demasia.

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial nº 0858/2005/SR/DPF/SCOrigem: auto de prisão em flagrante 2005.72.00.013448-3Conduzido: Felippe Vieira GevaerdClasse: Porte de arma de uso restrito, falsa identidade e dano qualificado DENÚNCIA

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, por seu Agente, amparado nos elementos de convicção dos autos acima indicados, denuncia:

Felippe Vieira Gevaerd, RG 3.768.987-8, SSP/SC, CPF não informado, brasileiro, solteiro, desempregado, natural de Florianópolis/SC, aos 6 de março de 1969, filho de Teodoro Luiz Gevaerd e Izaura Vieira Gevaerd, com instrução de segundo grau incompleto, residente na Rua Ogê Fortecamp, identificado criminalmente na fl. 17,

Pela prática dos seguintes fatos criminosos:

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Na manhã do dia 28 de novembro de 2005, policiais federais desenvolviam diligências de repressão ao tráfico ilícito de entorpecentes quando receberam via rádio da central de operações da DRE/SR/DPF/SC notícia de possível assalto que seria realizado por indivíduos que se encontravam em frente à Locadora de veículos YES, nas proximidades do Aeroporto Internacional Hercílio Luz, nesta Capital. Os policiais realizaram então observação à distância, percebendo que do local referido se aproximou um rapaz, posteriormente identificado pelo nome de Fábio João Martins, tripulando uma motocicleta Honda Twister azul, de placas MDY 5331. Logo em seguida chegou um Escort marrom, de placas GTD 0206, de Florianópolis, com três tripulantes. Posteriormente, verificou-se que o acusado Felippe era quem conduzia esse veículo, que depois apresentou-se com nome falso de Alexandre Gevaerd, que na realidade é seu irmão. Felippe não portava documentos, e a seu lado, no banco dianteiro estava Fernando Manoel Nunes Filho, que também não portava documentação. No banco traseiro do veículo estava Diogo Martins Felisberto, que também não possuía documentos.

Os policiais observaram, à distância, que o acusado Felippe e Fernando desceram do veículo e mantiveram uma breve conversação com Fábio, após o quê retornaram para o veículo e estacionaram na rua perpendicular, tendo Fábio permanecido no local. Quando este fazia menção de deixar o local, o APF PILGER abordou o motoqueiro, enquanto o APF BONA e demais colegas abordaram o veículo Escort. Ao sentir a presença dos policiais, o condutor do veículo empreendeu manobra perigosa, assumindo o risco de danificar o veículo policial utilizado naquela abordagem, um Renault Mégane prata, placa MEW 7620. Ao tentar sair em marcha à ré, o acusado Felippe, conduzindo o Escort, de fato danificou a parte traseira direita, o pára-lama traseiro direito, o pára-choque traseiro, no lado direito e a roda traseira direita do veículo da Polícia Federal, em valor que será aditado à denúncia tão logo informado pela Polícia Federal.

Depois de dominarem a situação, os policiais federais efetuaram revista pessoal nos indivíduos envolvidos na abordagem antes descrita, e apreenderam com Felippe, que se dizia chamar Alexandre, entre outros itens suspeitos de serem produtos de atividades ilícitas, como R$ 13.732,50 em passes de ônibus da empresa JOTUR, uma pistola semi-

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automáica, calibre 45, de uso restrito das Forças Armadas e policiais. Felippe trazia a referida pistola, devidamente municiada, em sua cintura.

Apurou-se no curso do inquérito que Felippe usou falsa identidade para obter vantagem, uma vez que pretendia ocultar o fato de que existia mandado de prisão pendente contra ele, por condenação nas sanções do art. 12 da Lei 6.368/76, passada pela 2ª Vara da Comarca de Biguaçu/SC (fl. 72).

MATERIALIDADE

Laudo de Exame em Veículo nº 1007/05-SR-SC comprova que o veículo Escort e o veículo Renault Megane, envolvidos na abordagem policial, sofreram danos, “compatíveis com colisão entre ambos os veículos”. Laudo de Exame em Armas e Munições atesta que a arma apreendida no inquérito é uma “pistola de origem indeterminada, sem marca aparente, modelo 1927, com calibre nominal 11.25mm ou .45ACP, número de série 26.185, apresentando dentre outras as inscrições “D.G.F.M.- (F.M.A.P.), “P.N.M” e “SIST.COLT.CAL 11.25MM. MOD.1927”, com sistema de funcionamento em ação simples, percussão indireta, armação em aço, cano medindo 128mm de comprimento e possuindo cinco raias de sentido dextrógiro, comprimento total de 220 mm; sistema de mira com alça fixa e massa em rampa: massa de 1086g, quando desmuniciada, acabamento de tipo oxidado, coronha guarnecida por placas de empunhadura de material sintético, carregador com capacidade para sete cartuchos, em bom estado de conservação, comprovada eficiência para realizar disparos e valor avaliado em R$ 2.000,00 (dois mil reais). A munição apreendida correspondia a 7 cartuchos calibre .45, avaliados em R$ 21,00 no total, em bom estado de conservação. CLASSIFICAÇÃO DOS FATOS

Assim agindo, por usar falsa identidade em abordagem policial, empreender manobra perigosa assumindo o risco de danificar, como danificou, veículo de propriedade da Polícia Federal e por fim, pelo porte de arma e munição, de uso restrito das forças armadas e policiais, conforme art. 16, incisos II e III do Regulamento 105, aprovado pelo Decreto 3.665, de 20/11/2000, o acusado Felippe incorreu, em concurso material de delitos, nas sanções dos artigos 163, Parágrafo único, III (dano qualificado), 307 (falsa

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identidade), ambos do Código Penal, bem como do art. 16 da Lei 10.826/2003 (porte ilegal de arma de uso restrito).

REQUERIMENTOS

Isso posto requer o recebimento da denúncia, citação do acusado para todos os atos do processo penal até final sentença e inquirição das testemunhas adiante qualificadas. Florianópolis, 13 de dezembro de 2005

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

VIII Crimes contra a ordem tributária

✔ A dificuldade desses fatos é que normalmente eles são também necessariamente descritos juntamente com elementos técnicos de tributação.

✔ Mesmo assim, não é correto limitar-se a dizer que os acusados suprimiram XXXX reais conforme apurado no processo administrativo fiscal YYYY, arrolar como testemunha o Auditor fiscal e ponto, porque o NF (núcleo do fato) - ainda que pareça ser apenas monetário, é formado por conduta que é normalmente comissiva, fraudulenta, etc.

✔ Logo, no gênero de descrição do fato na denúncia esse delito é como se fosse um estelionato. Todo o modo de operar deve ser descrito, retirado dos elementos em que originariamente o auditor fiscal colheu convicção para cálculo do tributo suprimido.

Exmo. Sr. Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial nº 95.0002170-6Indiciados: José Carlos Almeida de Aguiar e Outros

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Origem: Receita Federal, representação 10983.007318/94-67Processo administrativo-fiscal 10983.006687/94-88Ref. AUTO LOCADORA COELHO LTDA.

Classe: Art. 1º, I e II, da Lei 8.137/90Data do Fato: Janeiro a Dezembro de 1993

O Ministério Público Federal, por seu Agente, denuncia:

AMAURI DA SILVA, brasileiro, casado, empresário, nascido aos 9 de novembro de 1941, filho de Pedro Paulo da Silva e de Bernardina Costa da Silva, identidade 1/R 104.506/SSP/SC, residente na Rua Hercílio de Aquino, 12, Jardim Itaguaçu, Florianópolis,

HÉLIO DA COSTA BEZ, brasileiro, casado, empresário, nascido aos 9 de novembro de 1940, filho de Hercílio Bez e de Vergínia Neves da Costa, identidade 1/R 99.724, residente na Rua Esteves Júnior, 527, apto. 101, Centro, Florianópolis,

RODAMERES (ou Rodameris) BUBNIAK, brasileiro, casado, empresário, nascido aos 12 de outubro de 1941, em Campo Largo, Paraná, filho de Guilherme Bubniak e de Judith Padilha Bubniak, identidade nº 2.220.727/SSP/SC, residente na Rua Artur Beck, 45, Itaguaçu, Florianópolis,

ANDRÉ LUIZ VAZ BEZ, brasileiro, solteiro, empresário, filho de Hélio Bez e Telma Lu Vaz Bez, nascido aos 15 de março de 1965, em Florianópolis, identidade 1.162.825/SSP/SC, residente na Rua Duarte Schutel, 232, apto. 701, Centro, Florianópolis,

E

JOSÉ CARLOS ALMEIDA DE AGUIAR, brasileiro, casado, contador, nascido aos 7 de julho de 1947, em Tubarão, filho de Antônio Athanazio de Aguiar e Maria Almeida de Aguiar, identidade nº 110.258-3/SSP/SC, residente na Rua Tenor Valentim da Silva, 602, apto. 202, Barreiros, São José,

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pelos fatos apurados no inquérito policial acima indicado e processo administrativo fiscal nº 10983.006687/94-88, a seguir descritos:

Em 21 de janeiro de 1981, conforme primeira alteração contratual da empresa, assumiram a gerência de Auto Locadora Coelho Ltda. os denunciados Amauri da Silva e Hélio da Costa Bez, com 40% do capital social cada um, e Rodameres Bubniak, com 20% do capital social, tendo poderes para assinar e endossar notas promissórias, letras de câmbio, duplicatas, borderôs de cobrança e descontos, e assinar cheques, em conjunto ou isoladamente (arts. 17 e 18, fls. 284, apenso I), poderes e condição que mantiveram nas sucessivas alterações contratuais, e mantinham no exercício de 1993, data dos fatos, conforme se vê da 7º alteração contratual, de 20 de agosto de 1992, em que o capital social aparece totalmente integralizado e elevado ao valor, em moeda da época, de 4.517.000.000 (quatro bilhões, quinhentos e dezessete milhões) de cotas, à razão de CR$ 1,00 cada uma, na mesma proporção acima.

No exercício de 1993, além dos sócios quotistas administradores, que exerceram a gerência efetiva da sociedade, inclusive movimentando conta-corrente bancária, conforme fazem prova os documentos do inquérito, exerceu a administração da empresa, por procuração outorgada pelo sócio-gerente Hélio da Costa Bez, o seu filho e denunciado André Luiz Vaz Bez, exercendo ainda na empresa a função de Contador o denunciado José Carlos de Almeida Aguiar.

Ficou apurado que no ano calendário de 1993, a empresa Auto Locadora Coelho Ltda. adquiriu 189 (cento e oitenta e nove) veículos, dos quais lançou na contabilidade apenas 70 (setenta), restando 119 (cento e dezenove) veículos à margem da escrituração fiscal.

Esse procedimento, denominado “Bens do Ativo Permanente não Contabilizados” gerou omissão de receita nos meses de janeiro a dezembro do ano calendário de 1993, com a supressão de vários tributos e contribuições, entre os quais o IRPJ, PIS, CONFINS, IRRF, CONTRIBUIÇÃO SOCIAL, em valores que, apurados no processo administrativo fiscal, consolidaram crédito tributário no valor de 920.157,11 UFIR, referente ao principal, 133.135,23 UFIR de juros de mora e 2.760.471,33 UFIR de multa.

Exemplificando a conduta sistemática adotada pela empresa, por determinação dos denunciados, através do Diretor André Luiz Vaz Bez com a participação do contador José Carlos de Almeida Aguiar (que assinou livros fiscais nessa qualidade, como se vê da fl. 146 do apenso), foram fraudados os livros fiscais, por ação e omissão, nas seguintes ocasiões:

1. Em 25/01/93, foram adquiridos 3 veículos, Notas fiscais 453847, 848 e 849, dos quais somente foi contabilizado o primeiro;

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2. Em 05/02/93, foram adquiridos 7 veículos, Notas Fiscais 462.848, 849, 850, 851, 852, 853 e 854, dos quais somente foram contabilizados os descritos na primeira e na última notas fiscais;

E assim sucessivamente, nos meses de abril, julho, agosto, novembro, até dezembro, quando, na data de 23/12/93, após a aquisição de 3 veículos (Notas Fiscais 753448, 449 e 450, somente foram contabilizados os descritos na primeira e última notas).A prova da fraude é documental, mediante comparação dos lançamentos efetuados nas fichas de razão (fls. 194 a 198) e, conseqüentemente, no Diário (fls. 146 a 193) com as notas fiscais, que compõem o acervo documental do apenso I ao inquérito policial.

Autoria está indicada em confissão perante a autoridade policial por André

Luiz Vaz Bez, pela participação do contador José Carlos Almeida de Aguiar na contabilidade da empresa, apontada na prova documental do apenso, e, por fim quanto aos sócios quotistas, nos contratos sociais do apenso I, já que, ainda não estando diariamente na empresa, na época dos fatos, é certo que assumiram o risco consciente pelos resultados ilícitos da gerência de André Luiz, resultados que os beneficiaram e possibilitaram, sucessivamente, a elevação e integralização do capital social, razão por que não se pode admitir que desconhecessem a rotina de administração da empresa.

Assim agindo, incorreram os denunciados nas sanções do art. 1º da Lei 8.137/90, em continuidade delitiva, de janeiro a dezembro de 1993, pela prática de crime classificado em seus incisos I e II.

Requer:1. R. a denúncia, sejam citados para todos os atos do processo penal, 2. A ouvida das testemunhas adiante arroladas. 3. O arquivamento do inquérito com relação ao indiciado Carlos Alberto

Walker, por ausência de elementos que digam de sua responsabilidade penal pelos fatos descritos.

Florianópolis, 19 de maio de 1999

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

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CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (conduta de núcleo omissivo) Ex. 2.

Exmo. Sr. Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial nº 95.557-3Indiciada: MOEMA VERA DESJARDIM

DenúnciaClasse: Crime contra a Ordem TributáriaArt. 1º, I, da Lei 8.137/90 Data do Fato: 04/6/93

O Ministério Público Federal oferece denúncia contra:

MOEMA VERA DESJARDIM, brasileira, casada, médica, filha de Abelardo Batista da Silva e Iná de Souza Batista da Silva, carteira de identidade nº 547.187-II/RS, CPF nº 196.309.729/72, residente da Estrada Geral da Joaquina, 1025, ou 1301, Florianópolis, SC;

pelos fatos apurados no inquérito policial acima indicado e processo administrativo fiscal nº 10983.006352/93-89, a seguir descritos

A denunciada declarou em sua declaração de bens referente ao ano-exercício 1989 (ano base 1988), a propriedade de um terreno na Estrada da Joaquina, cartório da Lagoa, adquirido em 22/07/87 por Ncz$ 100,00 (fl. 08). Declarou em 1990 (ano base 1989) o mesmo terreno nas mesmas condições (fl. 14). Declarou em 1991 (ano base 1990) o mesmo terreno nas mesmas condições (fl. 20). Declarou em 1992 (ano base 1990) o mesmo terreno nas mesmas condições (fl. 24). Declarou em 1993 (ano base 1992), com referência ao terreno referido o seguinte: “Terreno na Estrada da Praia da Joaquina Adquirido em 1987 + gastos com construção. Situação em 31.12.1991 em UFIR: 50.000. Situação em 31.12.1992: 95.000”. Declarou, desta forma, variação patrimonial de 45.000 UFIR.

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Ocorre que a fiscalização verificou que no local onde deveria haver gastos de construção de 45.000 UFIR, na realidade já existia um edifício de 2.637,82 m2, com 21 apartamentos acabados e em utilização como Hotel, faltando apenas 6% para conclusão, e estando em andamento a execução de armários. As unidades acabadas estavam mobiliadas com fogão, geladeira, pia, tanque, sofá, camas, armários e aparelhos de ar condicionado, e vinham sendo alugadas para turistas, exceto uma destinada ao encarregado pela manutenção. O valor de mercado do imóvel foi avaliado por engenheiro da Caixa Econômica Federal em C$ 10 bilhões, em vistoria realizada no local em fins de dezembro de 1992 ou início de janeiro de 1993.

Em 8 de janeiro de 1993, Auditores Fiscais da Receita Federal, em diligência no local, verificaram que foram adquiridos pela denunciada, para equipar o Hotel, 28 Geladeiras Cônsul Essata, 28 Fogões Continental Plaza e 21 aparelhos de ar condicionado Cônsul, no valor estimado pela Receita Federal, em moeda da época, de CR$ 254.870.000,00.

Intimada a apresentar esclarecimentos quanto à construção, a denunciada, num primeiro momento afirmou que “A construção do edifício teve início em janeiro de 1992” (fl. 50), a fim de exonerar-se da falta de declaração quanto às benfeitorias, dizendo no mesmo documento que “os custos da obra (contratos, notas fiscais, recibos) efetuados no decurso de 1992 serão apresentados na Declaração de Rendimentos de 1993 ano-base 1992 (até 31 de dezembro)”.

Em sua impugnação ao auto de infração, afirma que “o prédio estava por acabar suas obras em meados do 2º semestre de 1988” (fl. 51).

Ficou apurado, portanto, que a denunciada deixou de declarar corretamente seu patrimônio à Receita Federal, deixando de contabilizar o seu aumento patrimonial, uma vez que tal aumento seria incompatível com as rendas declaradas, concluindo-se daí que auferiu rendimentos e omitiu-se quanto à declaração.

Julgado procedente o lançamento, foi constituído definitivamente o crédito tributário no valor principal de R$ 267.919,56 (duzentos e sessenta e sete mil, novecentos e dezenove reais, e cinqüenta e seis centavos), atualizada até a data de inscrição em dítiva ativa.

Na síntese dos fatos que consta do auto de infração, a denunciada “omitiu rendimentos, tendo em vista a variação patrimonial a descoberto verificada na declaração de rendimentos do exercício de 1993, ano calendário de 1992,

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caracterizando sinais exteriores de riqueza, que evidencia a renda auferida e não declarada, decorrente da declaração a menor da construção do edifício de 2.637,82 m2, situado na Estrada Geral da Joaquina, Praia da Joaquina, construção efetuada no ano de 1992 e bens móveis não declarados (fogões, geladeiras, ar condicionados”.

ASSIM AGINDO, incorreu nas sanções do art. 1º, I, da Lei 8.137/90. Requer: REQUERIMENTOS

1. Determine o juízo o desarquivamento do inquérito policial, com fundamento em fatos novos noticiados nos documentos que instruem a denúncia (julgamento do recurso administrativo) não sabidos ao tempo da ratificação de arquivamento com fundamento na necessidade de constituição definitiva do crédito tributário;

2. Não provada a promoção de pagamento do crédito tributário no prazo assinado, seja recebida a denúncia e citada a ré para todos os termos do processo penal.

3. Sejam ouvidas as testemunhas ao final arroladas. 4. A realização de prova pericial, se for necessária à instrução.Florianópolis, 21 de outubro de 1998

MARCO AURÉLIO DUTRA AYDOSPROCURADOR DA REPÚBLICA

ROL DE TESTEMUNHAS

1. ARLINDO TORRI2. ENIO JOEL PICININI, Ambos Auditores Fiscais da Receita Federal, a serem

requisitados à Autoridade.

Crime permanente: operar instituição financeira clandestina, exemplificado por alguns fatos que constituem, em si, crimes contra a ordem tributária (OBS. Os fatos são anteriores à lei de lavagem/1998).

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Exmo. Sr. Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial nº 96.744-6Inquérito Policial nº 97.0004751-2, apenso Inquérito Policial nº 96.0006997-2, apenso

Indiciados: Yamandu Eduardo Martorell Mallarino e Outros

Classe: Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, Artigos 11 e 16 da Lei 7.492/86Crime contra a Ordem Tributária, Art. 1º, II, da Lei 8.137/90, o primeiro denunciado

O Ministério Público Federal, por seu Agente, denuncia:

YAMANDU EDUARDO MARTORELL MALLARINO, RNE 032.9577/DELEMAF/SR/SC, uruguaio, casado, agente de viagens, filho de Yamandu Martorell e Elba Violeta Mallarino, nascido aos 22/06/60, residente na Rua Esteves Júnior, nº 545, apto. 1101, Bloco B, Centro, Florianópolis, SC,

HUGO GARCIA KRÖGER, brasileiro, divorciado, empresário, filho de Hugo Garcia e Elba Glória Kröger, nascido aos 12/09/56, no Uruguai, residente e domiciliado na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, nº 264, Centro, São Paulo, SP,

E

CARLOS ALBERTO QUAGLIA, RNE W-526.340D, argentino, casado, comerciante, nascido aos 06/10/1944, em Buenos Aires, Argentina, filho de Antonio Quaglia e Jane Hughes de Quaglia, residente na Rua Rosalina Amélia dos Santos, 154, Rio Vermelho, Florianópolis, SC,

Pelos fatos apurados nos inquéritos policiais indicados ao alto, e a seguir descritos:

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Apurou-se que os denunciados fizeram operar, sob a fachada de direito de empresa de turismo denominada BRUSA TURISMO LTDA., com sede em Florianópolis, instituição financeira clandestina, com a finalidade de movimentar valores captados de terceiros paralelamente à contabilidade exigida pela legislação, nos períodos e modo de operação a seguir descritos:

Inicialmente, o denunciado Hugo Garcia Kröger integrou sociedade denominada BRUSA TURISMO LTDA, CGC 83.287.409/0001-68, com sede na Av. Osmar Cunha, nº 15, Bloco A, Loja 11, Centro, Florianópolis, em abril de 1986, e nela permaneceu até alteração contratual de 30/10/1991, quando ingressaram na sociedade os denunciados Carlos Alberto Quaglia e Yamandu Eduardo Martorell Mallarino, cunhado de Hugo Kröger, o qual permaneceu, de fato, todavia, no comando de todas as operações da firma, através da filial em São Paulo.

Para os objetivos clandestinos da empresa, de movimentação de valores paralelamente à contabilidade exigida pela legislação fiscal, o denunciado Hugo Garcia Kröger passou a utilizar contas-correntes abertas por empregados da empresa, por determinação de Hugo ou do acusado Yamandu, passando tais titulares a funcionar como “laranjas” da instituição financeira clandestina BRUSA TURISMO LTDA.

Assim ocorreu com os empregados Mário Lúcio Carbone Oliveira, João Carlos Ventura e Aldir Alcebíades Candido, que abriram contas bancárias e fizeram entrega de diversos documentos, assinados, aos denunciados, sem prejuízo de que os denunciados tenham falsificado assinaturas em cheques, já que também solicitaram aos empregados que fizessem assinaturas “fáceis” nos cadastros bancários.

Através das contas correntes abertas pelos empregados “laranjas” eram movimentados os valores próprios ou de terceiros, da instituição comandada por Hugo Garcia Kröger.

Exemplificam a conduta, para o fim de delimitar-se a abrangência temporal dos delitos aqui denunciados, as seguintes movimentações financeiras clandestinas:

1. através da c/c 255.243-4, Agência Central do BRADESCO, São Paulo, de titularidade de João Carlos Ventura, são imputáveis aos denunciados todas as movimentações financeiras registradas nos extratos de fls. 35/111 do Inquérito Policial nº 183/96, apenso, que totalizaram, no mês de maio de 1989 a importância de NCz$ 170.018.877,00, conforme apurado pela Receita Federal (fl. 17);

2. e em especial a registrada no cheque de nº 000247 (fl. 33), no valor de 1.471.882,00 (um milhão, quatrocentos e setenta e um mil, oitocentos e oitenta e dois cruzados novos), emitido em 17/5/1989, a qual permite deduzir a finalidade criminosa da empresa. Apurou-se que tais valores,

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movimentados pela BRUSA TURISMO, foram depositados no Deutsche Bank, Agência de São Paulo, e acabaram servindo de fundamento para operação escusa descoberta pela Receita Federal envolvendo a empresa MASUL Ind. Com. Exp. Madeiras Ltda, com sede em Belém do Pará, que contabilizou ingresso de capital como pagamento de empréstimo inexistente, que teria sido feito por sua sócia majoritária KADELMA AG, com sede em Zurique, Suíça, e que teria sido movimentado via Uruguai, através da Casa de Câmbio Indumex;

3. através da conta corrente 37893 5/7, do Bamerindus do Brasil S/A, Agência 343, São Paulo, de titularidade de Mário Lúcio Carbone Oliveira, movimentaram os denunciados, em novembro de 1989, a importância de NCz$ 3.207.366,14 (conforme apurado no processo administrativo-fiscal constante do Inquérito Policial nº 006/96 (fl. 09) e em dezembro de 1989, a importância de NCz$ 199.507.598,20;

4. O cheque nº 960661, de 07 de novembro de 1989, dessa conta, comprova a mesma destinação ilícita da movimentação financeira imputável aos denunciados, já que foi utilizado o valor dele constante para acobertar operação escusa da empresa MADEPARÁ Ind. e Com. E Exp. De Madeiras Ltda. (como se vê da movimentação financeira comprovada nas fls. 23 e 37 do inquérito policial 006/96, sendo que o dinheiro tinha origem em depósito feito no Deutsche Bank por KADELMA AG, cliente com domicílio na Suíça;

5. Através da conta corrente 7702871, Agência 0372, Banco Real de São Paulo, de titularidade do laranja Aldir Alcebíades Candido, os denunciados movimentaram valores vultosos, no período de 26 de março de 1992 a 29 de dezembro de 1992, sendo o total apurado em Cr$ 23.801.205.670,00, conforme processo administrativo fiscal nº 10983.005050/95-46 (fl. 76 do Inquérito Policial nº 126/97).

6. Apurou-se ainda que os valores movimentados na última conta corrente foram depositados em favor do denunciado Yamandu Eduardo Martorell Mallarino, que deixou de declarar tais créditos à Receita Federal, nos prazos próprios, e não recolheu o IRPF respectivo, sonegando crédito tributário no valor de 3.583.182,59 UFIR.

ASSIM AGINDO, incorreram os denunciados: nas sanções dos artigos 11 e 16 da Lei 7492/86, por fazerem operar instituição financeira clandestina, captando recursos de terceiros e movimentando-os através de contas-correntes de pessoas físicas utilizadas como fachadas para a real movimentação financeira da empresa, ou laranjas, e desta forma não contabilizadas pela empresa BRUSA TURISMO

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LTDA., de responsabilidade de fato e de direito dos denunciados, na forma da legislação fiscal, no período de maio de 1989 a dezembro de 1992.

Incorreu ainda o denunciado Yamandu Eduardo Martorell Mallarino nas sanções do art. 1º, II, da Lei 8.137/90, por omitir da Receita Federal a disponibilidade financeira de créditos originários da movimentação financeira da empresa, no período de março de 1992 a dezembro de 1992, sonegando crédito tributário no valor de 3.583.182,59 UFIR.

Em razão do exposto, requer:REQUERIMENTOS

1. r. a denúncia, sejam citados os acusados para todos os atos do processo penal;

2. sejam ouvidas as testemunhas adiante arroladas.3. o ARQUIVAMENTO do Inquérito Policial com relação aos indiciados

Mário Lúcio Carbone Oliveira, João Carlos Ventura e Aldir Alcebíades Cândido, por ter ficado provado que agiram com simples culpa, não se admitindo participação culposa em crime doloso.

4. Sejam certificados os antecedentes criminais dos acusados junto à Seção Judiciária do Estado de São Paulo.

Florianópolis, 10 de agosto de 1999

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

TESTEMUNHAS

1. Aldir Alcebíades Candido, Rua José Raimundo de Oliveira, nº 177, Bairro Dom Bosco, Itajaí, SC, instruindo-se a precatória com seu interrogatório de fls. 244/247 do Inquérito Policial nº 126/97;

2. João Carlos Ventura, Rua Henrique José da Silva, 180, Aririú, Palhoça, SC;3. Mário Lúcio Carbone Oliveira, Rua João Meireles, 1322, Bloco 11, Apt.22,

Abrahão, Florianópolis, SC.

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SFN 2 - Caso de um intermediador fraudador e clientes particulares

Exmo. Sr. Juiz Substituto da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial 590/1999 Autos: 2000.72.00.000335-4Indiciados: Ilauridy Almeida Pinheiro Costa e Luiz Antônio CostaClasse: Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional/Falsidade IdeológicaDenúncia

O Ministério Público Federal, por seu Agente, nos autos acima indicados, vem à presença de Vossa Excelência oferecer DENÚNCIA contra:

1. LUIZ ANTÔNIO COSTA (qualif. fl. 47), RG 191.024-8-II/SSP/SC, CPF 063.731.789-00, brasileiro, casado, contador e administrador, de instrução superior, natural de Florianópolis, aos 02 de março de 1953, filho de Aventino Leandro da Costa e Olinda Cunha Costa, residente na Rua Ataulfo Alves, 135, Roçado, São José, SC, telefone 259-01-43,

2. ILAURIDY ALMEIDA PINHEIRO COSTA (qualif. fl. 27), RG 2.914.876-IFP/SSP/RJ, Título Eleitoral 89927709/06, 101 ZE, Seção 0137, Florianópolis/SC, CPF 057.785.579-49, brasileiro, casado, contador, de instrução superior, natural de Rio Negrinho/SC, aos 03 de fevereiro de 1950, filho de Conrado Pinheiro da Costa e de Áurea Almeida Pinheiro da Costa, residente na Rua Capitão Euclides de Castro, 144, apto. 401, Bloco F, Coqueiros, Telefone 244-17-21, e comercial na Rua 14 de Julho, 519, Estreito, Florianópolis, telefone 244-43-94,

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3. WINFRIED GERHARDS (qualif. fl. 199), RG 345.947-II/SSP/DF, brasileiro, filho de Antonio Gerhards e de Norma Gerhards, natural de Castro, PR, aos 12 de outubro de 1954, administrador de empresa denominada Star Factoring, situada na Rua Silva Jardim, 1050, Prainha, nesta Capital, telefone 225-77-74, residente na Av. Hercílio Luz, 801, apto. 304, Centro, nesta Capital, 4. ALDO MOTTA (qualif. fl. 201) RG 4.138.297-8/II/SSP/SC, brasileiro, filho de Leony Motta e de Maurina Ângelo Motta, natural de Urussanga/SC, aos 10 de julho de 1953, comerciante, administrador da Farmácia Coqueiros, situada na Av. Max de Souza, 1011, Coqueiros, nesta Capital, telefone 244-00-13, residente na Rua Júlio Dias, 605, apto. 206, Coqueiros, nesta Capital;

5. SÉRGIO AREIAS DE SOUZA (fl. 203) RG 1/R-1.812.540-II/SSP/SC, brasileiro, filho de Aloysio Joel Áreas de Souza e de Zenaide Thereza Areias de Souza, natural de Florianópolis, SC, aos 05 de julho de 1965, comerciante estabelecido na empresa Lamarque Indústria e Comércio de Confecções Ltda-ME, situada na Travessa Carreirão, 30, Loja 1, Centro, nesta Capital, telefone 324-09-58, residente na Rua Bocaiúva, 2010, apto. 501, Centro, nesta Capital

Pelos fatos apurados no inquérito policial acima indicado, a seguir descritos:

O primeiro denunciado, Luiz Antônio Costa, foi contador da empresa K & V Peres Refrigeração Ltda ME, microempresa que fabrica pequenos balcões frigoríficos para padarias, açougues, sorveterias e bares, e na condição de contador mantinha em seu escritório toda a documentação contábil da empresa (livros, talonários de notas fiscais, etc.). Ao mesmo tempo atuava como consultor do SEBRAE (docs. Fls. 82/87) junto a instituições financeiras oficiais, dentre elas a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, examinando propostas de financiamento formuladas por empresas e dando parecer, através de empresa denominada Luanco – Consultoria e Contabilidade S/C Ltda. estabelecida em seu domicílio.

Aproveitando-se de um talonário de notas fiscais da empresa K & V Peres Refrigeração e de sua condição de consultor do SEBRAE, intermediou o primeiro denunciado, instruindo-os com notas falsas de sua autoria, conforme conclusão do laudo pericial (item 1, fl. 233), os financiamentos que beneficiaram os co-denunciados Ilauridy Almeida Pinheiro Costa e o próprio Luiz Antônio Costa,

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Winfried Gerhards, Aldo Motta e Sérgio Areias de Souza, conforme circunstâncias a seguir descritas em maiores detalhes.

FATO 1 – Financiamento para Ives PescadosEm conluio com Ilauridy Almeida Pinheiro Costa, o acusado Luiz Antônio

Costa (amigos que são “há mais de dez anos”, fl. 25) pleiteou, para benefício da empresa IVES PESCADOS COMERCIO E IND. LTDA, em 23 de setembro de 1997, e obteve, da Caixa Econômica Federal, financiamento que supostamente seria destinado à aquisição de uma câmara frigorífica, no valor de R$ 49.920,00 (quarenta e nove mil, novecentos e vinte reais). Para a fraude, Luiz Antônio Costa deu parecer favorável à operação (fl. 17) que redundou em contrato de número 20.0409.731.0006-68. Na realidade, o dinheiro se destinava a ele mesmo, Luiz Antônio Costa, que recebeu, em nome de K & V Peres Refrigerações Ltda., cheque administrativo da CEF no valor de R$ 38.382,00 (doc. fl. 16) que endossou falsamente para depositar em sua própria conta, de n. 399.270-4, no Banco BCN, Agência Florianópolis. Para dar aparência de legalidade ao financiamento, forjou nota fiscal falsa de número 000017, da firma K & V Peres Refrigeração Ltda – ME, documento que instruiu o financiamento em instituição oficial, conforme carimbo sobre ele aposto com os dizeres “FINANCIADO P/ PROGER” (PROGER significa Programa de Geração de Renda e Emprego).

Ilauridy firmou, falsamente, na nota fiscal 000017 (fl. 41) ter recebido o equipamento nela descrito, em 10 de setembro de 1997 (laudo pericial, fl. 233, item 1). Usaram, no processo, ambos os acusados, documento particular comprovadamente falso (conclusão da perícia, item 3, fl. 233), denominado “Oferta de Equipamento de Refrigeração/Congelamento”, com assinatura falsa do sócio-gerente Vilmar Ivo Peres (doc. fl. 196).

Incorreram, por este primeiro fato, os acusados Ilauridy e Luiz Antônio, respectivamente, nas sanções dos artigos 299 do Código Penal, pela produção de nota fiscal falsa de n. 17, datada de 10/09/97, 304 c/c 299 do Código Penal por uso do documento falso da fl. 196 no processo de financiamento 20.0409.731.0006-68, perante a Caixa Econômica Federal, e ainda do art. 19 e seu parágrafo primeiro, da Lei 7.492/86, por obterem mediante fraude financiamento em instituição financeira oficial, consumado em 23/09/97. Luiz Antônio incorreu, ainda, nas sanções do art. 171, caput, do Código Penal, por endossar, falsamente, cheque administrativo da CEF, de número 004031, em 23/09/97, para depósito em sua própria conta.

FATO 2 – Financiamento para Winfried Gerhards MEO denunciado Winfried Gerhards foi proprietário de uma firma individual

denominada Winfried Gerhards ME, que atuava no ramo de lanchonete, situada no

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MAC Shopping, na Rua Coronel Pedro Demoro, 2025, Estreito. Para a instalação de sua lanchonete, o acusado contratou uma “oficina de fundo de quintal”, localizada no Bairro Ipiranga, que não tinha constituição legal, para a fabricação de móveis. Para a instalação da lanchonete, o acusado pleiteou à CEF financiamento com recursos do PROGER – Programa de Geração de Renda e Emprego, e obteve o valor de R$ 9.481,15 (contrato 20.0879.731.0000003-89) em 27 de agosto de 1997. Intermediou o pedido o consultor do SEBRAE, ora acusado, Luiz Antônio Costa, que deu parecer favorável ao financiamento (fl. 336) e forjou, para comprovação de uso do valor financiado, nota fiscal falsa da empresa K & V Peres Refrigeração Ltda, de número 000013, com data de 10 de julho de 1997, e valor de R$ 4.600,00, documento (fl. 215) utilizado no processo, como demonstra a anotação sobre ele aposta de “alienação à CAIXA ECONÔMICA FEDERAL/AG PRAIA DE FORA/SC, financiamento PROGER”.

Assim agindo, incorreu Luiz Antônio Costa nas sanções do art. 299, por falsidade ideológica em documento particular, e ambos nas sanções do art. 299, por uso de documento falso (art. 304 do CP) e ainda por obterem, em concurso de agentes, financiamento mediante fraude em instituição financeira oficial, nas sanções do art. 19, parágrafo primeiro, da Lei 7.492/86.

FATO 3 – Financiamento para Farmácia Coqueiros Ltda. O denunciado Aldo Motta, proprietário da Farmácia Coqueiros Ltda., que

conhece Luiz Antônio Costa “há muitos anos”, realizou, em 1997, uma reforma em sua farmácia, tendo contratado a confecção de prateleiras metálicas e balcões de alumínio e vidro. Para a reforma, solicitou e obteve, do Banco do Brasil, financiamento no valor de R$ 29.869,00, vinculado ao Projeto MIPEM – INVESTIMENTO, em 03 de julho de 1997, pedido firmado em 30 de junho de 1997, pelo acusado Aldo Motta, que informou ainda que sua empresa mantinha “contrato com Luanco Consultoria que lhe presta apoio gerencial neste projeto”. Luanco Consultoria é empresa do acusado Luiz Antônio Costa, que firmou, juntamente com Aldo Motta, o pedido de financiamento e lhe forneceu, para instruir o processo e comprovar a utilização da receita, nota falsa que forjou, da empresa K & V Peres Refrigeração Ltda., de n. 000018, com data de 10 de setembro de 1997 e valor de R$ 7.500,00 (fl. 217).

Assim agindo, incorreram os denunciados nas sanções do art. 299, por falsidade ideológica em documento particular (Luiz Antônio) e uso de documento falso c/c obtenção fraudulenta de financiamento em instituição financeira oficial, arts. 304 c/c 299 do CP e art. 19, parágrafo primeiro da Lei 7.492/86.

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FATO 4 – Financiamento para Lamarque Indústria e Comércio de Confecções Ltda. – ME.

O acusado Sérgio Areias de Souza é sócio-gerente da microempresa Lamarque Indústria e Comércio de Confecções Ltda- ME e, em junho de 1999, pretendendo melhorar as instalações da loja matriz e abrir uma filial, pleiteou à Caixa Econômica Federal, Agência Newton Macuco, um financiamento intermediado pelo SEBRAE, com recursos do PROGER. E, como o marceneiro que fabricou os móveis não possuía firma constituída, “foi orientado a procurar o Sr. COSTA, consultor do SEBRAE”, e em razão dessa consulta com o acusado Luiz Antônio Costa, foi instruído o processo 003-1530-8 (fls.364/419) junto à CEF com uma nota fiscal falsa, forjada por Luiz Antônio, da firma K & V Peres Refrigeração Ltda., de número 000022, datada de 1º de junho de 1999 (fl. 208), e foi usada, conforme carimbo sobre o documento com os dizeres “FINANCIADO P/ PROGER”, para a obtenção de R$ 9.928,29, em 08 de junho de 1999, conforme documento de fl. 369. O acusado Luiz Antônio Costa, além de fornecer o documento falso, interveio no processo como “consultor” do SEBRAE, como se vê das fls. 396, 398, 399.

Assim agindo, incorreram os denunciados nas sanções do art. 299 (Luiz Antônio) e ambos nas sanções do art. 299, pelo uso de documento particular ideologicamente falso, na forma do art. 304 do CP, e art. 19, parágrafo primeiro, da Lei 7.492/86, pela obtenção mediante fraude de financiamento em instituição financeira oficial.

FATO 5 – Falsidade ideológica na Nota Fiscal nº 000021 (fl. 185)Luiz Antônio Costa falsificou, ainda, a Nota Fiscal da empresa K & V

Refrigeração Ltda., de número 000021, que seria utilizada em processo de financiamento em benefício de Lúcia Santos Binhotti Manoel, documento que consta dos autos na fl. 185, forjado em 22 de agosto de 1998. Assim agindo, incorreu Luiz Antônio Costa nas sanções do art. 299, pela prática de falsidade ideológica em documento particular.

PELO EXPOSTO, requer:1. seja recebida a denúncia, citados e processados até final sentença; 2. quando do interrogatório dos acusados Winfried Gerhards, Aldo Motta e

Sérgio Areias de Souza, seja instruído o processo com fotocópias de suas carteiras de identidade, uma vez que não foram devidamente identificados no inquérito;

3. sejam inquiridas as testemunhas adiante arroladas;

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4. Seja determinada a QUEBRA DE SIGILO bancário do acusado Luiz Antônio Costa, para que venham para os autos os extratos da conta corrente n.º 399.270-4, do Banco de Crédito Nacional S/A, Agência Florianópolis, de titularidade de Luiz Antônio Costa, no período entre janeiro de 1997 e dezembro de 1999.

5. O ARQUIVAMENTO do inquérito policial com relação a Lúcia Santos Binhotti Manoel (qualificada na fl. 205) por inteligência do art. 15 do CP (desistência voluntária), não havendo crime de uso de falso, remanescente, já que o documento não foi efetivamente usado em processo de financiamento, conforme informação da CEF, na fl. 292, item 2, em razão da qual se conclui que os atos preparatórios não constituíram tentativa punível, e tendo sido denunciado a produção do falso, de autoria de Luiz Antônio Costa, no item de número 5 da denúncia.

6. O ARQUIVAMENTO do inquérito, com a ressalva de possível desarquivamento caso surjam fatos novos, com relação a possíveis participações de agentes ou prepostos das instituições financeiras Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil S/A.

Florianópolis, 04 de julho de 2001

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

ROL DE TESTEMUNHAS

1. Vilmar Ivo Peres (fls. 22 e 180), residente na Rua João Grumiché, 1953, Roçado, São José, telefone 259-83-71;

2. Paulo Ricardo Becker Jacinto (fl. 191), residente na Rua Elesbão Pinto da Luz, 403, Jardim Atlântico, Florianópolis, SC, encontrável também na Ag. Newton Macuco, da CEF, situada na Rua Tijucas, 20, Estreito, telefone 248-11-44.

3. Lúcia Santos Binhotti Manoel (fl. 205), Rua Júlio Deodoro Martins, 1800, Bairro Fundos, Biguaçu, SC, telefone 243-3994.

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Último caso ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA TRÁFICO INTERNACIONAL(caso DIMI)

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Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Origem: Inquérito policial nº 0234/2006 – SR/DPF/SCOPERAÇÃO MONTENEGROAutos principais: 2006.72.00.002394-0Apensos: 2006.72.00.003756-1 (IPL 0234/2006/SR/DRE/SC)2006.72.00.003863-2 (origem: IPL 5-255/2006/DPF/STS/SP)Indiciados: Tasevski Gordanco (DIMI) e Outros

Classe: Quadrilha/Organização criminosa/Associação para o tráfico/Tráfico internacional de entorpecentes/Lavagem de Dinheiro/Descaminho/Obtenção e Uso de documentos falsos

O Ministério Público Federal, por seu Agente signatário, com base nos elementos de convicção do inquérito referido acima, denuncia:

1. Tasevski Gordanco (fl. 268), alcunha DIMI, CPF 106.713.548-09, Identidade de estrangeiro nº 003007060422350200/DPFA/STS/SP, natural de Skopje, Sérvia-Montenegro, aos 13 de setembro de 1961, filho de Tasevski Cane e de Nestorovska Milena, de nacionalidade sérvia, separado, apresenta-se como vendedor, chefe de cozinha e guia de turismo, com terceiro grau incompleto de instrução, com residência no Brasil na Rua Major Livramento, s/nº, Sítio Piccollo Paradiso, Alto Biguaçu- Biguaçu/SC. 2. Roseli Aparecida Barrilari Alba (fl. 229), alcunha ROSE, RG 17974407-0/SSP/SP, CPF 277.730.918-38, brasileira, divorciada, comerciante, natural de São Paulo/SP, aos 29 de outubro de 1964, filha de Antônio Barrilari Filho e de Bernadete Lopes Barrilari, com segundo grau completo de instrução, residente na Rua Major Livramento, s/nº, Sítio Piccollo Paradiso, Alto Biguaçu- Biguaçu/SC, telefone 48 3243-8328, e endereço comercial na Rodovia SC 408, próximo ao nº 10500, Alto Biguaçu, telefone 48 96156247,

3. João Gomes Martins Neto (fl. 194) RG 5341994/SSP/SP, CPF 715.490.218-34, brasileiro, casado, profissão informada como conferente, mas desempregado (fl. 197), com terceiro grau completo de instrução, natural de São Paulo/SP, aos 6 de fevereiro de 1952, filho de Eduardo Gomes Freitas Martins e Annita Pozzi Martins, residente na Rua 15, nº 464, Estádio, Rio Claro/SP, telefone 19 35337066, com endereço comercial na Rua João Pessoa, 296, Sindicato dos Conferentes, Centro, Santos, SP.

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4. Rogério de Oliveira, (fl. 253), RG 22.311.250-1/SSP/SP, CPF 142.554.838-50, brasileiro, solteiro, motorista, com segundo grau completo, natural de São Paulo/SP, aos 9 de junho de 1972, filho de Jersival Belo de Oliveira e Elizangela de Oliveira,, residente na Av. Robert Kennedy, 5632, Socorro, São Paulo- SP.

5. Raphael Barrilari Alba (fl. 251), alcunha ALBA, (filho de Roseli) RG 34506875/SSP/SP, CPF 313.774.098-30, brasileiro, solteiro, estudante, terceiro grau incompleto de instrução, natural de São Paulo/SP, aos 28 de fevereiro de 1982, filho de Ricardo da Costa Alba e de Roseli Aparecida Barrilari Alba, residente na Rua das Laranjeiras, 336, apto 509, Laranjeiras, Rio de Janeiro/RJ.

6. Élcio Antunes Américo, alcunha PRIMO (fl. 204), RG 4.314.217-8/SSP/PR, CPF 768.764.119-15, brasileiro, solteiro, comerciante, natural de Foz do Iguaçu/PR, aos 6 de julho de 1970, com segundo grau completo de instrução, residente na Rua 4.500, nº 49, Apto. 302, Barra Sul, Balneário Camboriú/SC.

7. Jorge Clerson Guimarães Saravy, alcunha GORDINHO (fl.257), RG 877464/SSP/MS, CPF não informado, brasileiro, natural de Campo Grande/MS, aos 25 de outubro de 1975, filho de Jorge Clerson Saravy e de Creusa Guimarães Saravy, residente na Rua Três Lagoas, 1302, Santo Amaro, Campo Grande/MS.

8. Reynaldo Lopes Simoni, alcunha PERÊ (fl. 247) (irmão de Roseli) RG 25306368/SSP/SP, CPF 171.064.578-41, brasileiro, solteiro, músico, com primeiro grau incompleto de instrução, natural de São Paulo/SP, aos 12 de fevereiro de 1975, filho de Rubens Carlos Simoni e de Bernadete Lopes, residente na Servidão Dona Rita, Lote 16, s/n, próximo ao Travessão, casa no Rio Vermelho, Florianópolis, telefone 48 2697423.

9. Evandro Pereira de Lima, alcunha GAUDÉRIO (fl. 199), RG 5.469.593-7/SSP-SC, CPF 829.366.410-04, brasileiro, solteiro, comerciante, natural de Santa Maria, aos 16 de setembro de 1980, filho de Margarete Pereira de Lima, com segundo grau completo de instrução, residente na Rua Acácio Moreira, 239, apto. 402, Edifício Paloma, Capoeiras, Florianópolis/SC,

10. Guilherme Haugg (fl. 249) de alcunha GUI, RG 4.265.208-1/SSP/MS (fl.53), CPF não informado, brasileiro, solteiro, estudante, filho de Maria Luci Haugg, natural de Florianópolis/SC, aos 13 de outubro de 1983, com

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terceiro grau incompleto de instrução, residência permanente em Florianópolis, na Rua Desembargador Pedro Silva, 2202, Bloco 26, apto. 32, Florianópolis/SC, telefone informado (48) 33484390;

11. Alexsandar Nestorovski (fl. 209), não possui documentos, (apresenta-se com identidade falsa como Daniel da Silva de Lucca), sérvio, solteiro, garçom, com equivalente a segundo grau completo de instrução, natural de Skopje/Sérvia Montenegro, aos 9 de outubro de 1977, filho de Milorad Nestorovski e de Nevenka Nestorovski, residente no Brasil na Ria Luiz Gonzaga, 5, proximidades do Estádio do Morumbi, São Paulo-SP, 12. Dejan Nestorovski, sem documentos, identificado criminalmente na fl. 47 dos autos de nº 2006.72.00.003863-2 (que se apresenta com identidade falsa como Deyan Barilari Toporovski), de nacionalidade sérvia, filho de Milorad Nestorovski e de Nevenka Nestorovski, provavelmente nascido em Skopje/Sérvia Montenegro, com idade aproximada de 22 anos.

13. André Luiz Keller Silva (fl. 255), RG 4298339-8/SSP/SC, CPF 007.689.589-03, brasileiro, solteiro, auxiliar administrativo, com segundo grau completo de instrução, natural de Blumenau/SC, dia 1º de abril de 1983, filho de Sérgio Silva e de Marilin Keller da Silva, residente na Rua Santa Catarina, 39, casa, Itoupava Seca, Blumenau/SC, telefone 47 3323 3073, com endereço comercial na Rua Pernambuco, Transporte Kaller, Itoupava Seca, Blumenau/SC, telefone 47 33234700.

14. Milton de Oliveira Júnior (fl.215), alcunha JUNIOR, RG 3.217.201/SSP/SC, CPF 004.504.949-18, brasileiro, solteiro, auxiliar administrativo, com segundo grau completo de instrução, natural de Itajaí/SC, aos 10 de janeiro de 1980, filho de Milton de Oliveira e de Cleusa Maria de Oliveira, residente na Rua Comandante Germano Rauert, 465, casa, São Vicente, Itajaí, telefone 47 3248 1084, e endereço comercial na Rodovia BR 101, km 116, MTR Transportes, Cordeiros, Itajaí, SC, telefone 47 3246 0060.

15. Renato de Oliveira, identificado criminalmente na fl. 34 dos autos nº 2006.72.00.003863-2, RG 25.719.643-2, CPF 281.000.828-04, brasileiro, autônomo ou entregador de pizza, com segundo grau incompleto de instrução, natural de São Paulo/SP, aos 10 de janeiro de 1976, filho de Jersival Belo de Oliveira e Elizangela de Oliveira, residente na Rua Acre, 607, Mooca, São Paulo, telefone 11 6606-2789 e 11 6606-3061, afirma trabalhar na Av. Vereador Abel Ferreira, 215, Tatuapé, São Paulo ou na Pizzaria Zipasqualle, Mooca, São Paulo.

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Pela prática dos fatos criminosos a seguir descritos:

Fato 1 - DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA (acusados 1 a 13) O acusado Tasevski Gordanco, de alcunha DIMI, que também se apresenta no

Brasil sob identidade falsa como Alexandre Martinelli Adamich, Adriano del Ponte e Gilmar Antônio Figueira da Silva, liderou, com sua companheira Roseli Aparecida Barrilari Alba, (ROSE) associação permanente com conexões internacionais voltada para a prática de crimes diversos tendo por foco principal o tráfico internacional de entorpecentes, sob a forma de exportação de cocaína e importação e distribuição no Brasil de entorpecente sintético (ecstasy). A empresa funcionou como um grande atacado importador (ecstasy) e exportador (cocaína). Na atividade de importação/exportação DIMI operou em parceria com o acusado João Gomes Martins Neto (associado minoritário, subordinado a DIMI), em especial em negócios com as conexões internacionais, Kevin Mee e Andrés, para aquisição de cocaína originária da Colômbia. No plano interno, a organização, depois de importar grandes cargas de ecstasy, da Alemanha e Holanda, distribuía o entorpecente sintético por atacado a fornecedores de menor porte, nos estados de SC, PR, SP e RJ, através de membros operacionais, subordinados, mantidos e controlados rigorosamente por DIMI (ainda que alguns tivessem subordinação entre si, como foi o caso de Jorge Clerson Saravy a Élcio Antunes Américo). Foram membros operacionais, além do já referido João Gomes, os acusados Raphael Barrilari Alba, Rogério de Oliveira, Élcio Antunes Américo, Jorge Clerson Guimarães Saravy, Reynaldo Lopes Simoni, Evandro Pereira de Lima, Guilherme Haugg, Alexsandar Nestorovski, Dejan Nestorovski e André Luiz Keller da Silva.

a) A ORGANIZAÇÃO NO TEMPOAinda que DIMI tivesse atividade intensa no tráfico em data anterior, o início de atividade da organização criminosa remonta ao estabelecimento de DIMI e ROSE, lideranças da organização, em Santa Catarina, em fins de 2003. Suas atividades intensificaram-se em meados de 2005. O término da permanência na atividade se dá com o resultado frutífero de intensa vigilância e sofisticada investigação policial que lograram acompanhar os passos da organização criminosa até a prisão de seus membros, atuação policial que marca o termo final da atividade da organização, para os fins do art. 111, III, do Código Penal, no dia 30 de março de 2006, data em que foram presos, em Florianópolis, Guarujá/SP, no Rio de Janeiro, e São Paulo, DIMI, ROSE e associados subordinados à firma. b) SEDE DA ORGANIZAÇÃOA associação criminosa para o tráfico internacional de entorpecentes, comandada pelo sérvio-montenegrino de alcunha DIMI, assumiu forma de verdadeira empresa ou organização criminosa, tendo nos acusados DIMI e ROSE a base nuclear e dirigente. Sua sede estabeleceu-se no sítio Píccolo Paradiso, localizado no município de Antonio Carlos/SC adquirido com inequívoco produto da atividade criminosa de elevado giro de capital (detalhes de aquisição e registro, em nome de ROSE, descritos adiante, por constituírem circunstâncias de crime autônomo de lavagem). Esse «pequeno paraíso», centro de operações de DIMI e ROSE e também domicílio do casal, apresentava instalações de hotelaria de alto padrão, com amplas piscinas (uma

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para adultos e uma infantil), área para churrasco, quadra de futebol de campo, lago interno ajardinado, salão de jogos, salão de bilhar (como demonstram as fotografias 69 a 78 (fls. 309-313). DIMI e ROSE adquiriram, no dia 30 de março de 2006, terreno rural contíguo ao sítio, visto na fotografia 84, à fl. 315. Segundo informações (fl.006, APENSO II) este sítio está avaliado em R$ 2.500.000,00 (dois milhões e meio de reais). Seja para nova conversão de ativos do tráfico, seja para mudar de sede em razão de intensificação de vigilância policial, com a prisão de traficantes menores que eram adquirentes da firma (de que DIMI mantinha rigoroso acompanhamento no escritório da firma) o certo é que DIMI e ROSE planejavam vender o sítio, orçado por eles em cerca de 3 milhões de reais, tendo anunciado a intenção de venda n'O GLOBO, do Rio de Janeiro, e na Internet (doc. fls. 166 que anuncia sítio alto padrão, 50.000m2, aceita parte em permuta em São Paulo ou Litoral. www.piccoloparadiso.com.br).c). HIERARQUIA E MODO DE OPERARc.1) PRIMEIRA HIERARQUIA: DIMI e ROSE (acusados 1 e 2)Como cabeça da organização, Tasevski Gordanco (DIMI) foi responsável pela CONEXÃO INTERNACIONAL da firma, em especial com cidadão de passaporte britânico de nome KEVIN MEE, (data de nascimento: 26-6-1961) e outro conhecido apenas por ANDRÉS, provável integrante do chamado “Grupo de Punta Del Este” (fl. 153, APENSO II), que funcionaram como parceiros e/ou patrocinadores da compra de cocaína para exportação (Relatório de vigilância 004/2006 aponta que DIMI, João Gomes, Kevin Mee e Andrés tiveram encontro recente em Foz do Iguaçu, negociando quantidade e preço de uma carga de cocaína para exportação, através de São Paulo). DIMI organizou, dirigiu e em alguns casos acompanhou pessoalmente a internação de ecstasy e de capital no Brasil, através de malas contendo grandes valores em moeda européia, o EURO, transportadas por membros ou pessoas cooptadas apenas por tarefa, as denominadas «mulas». A alta administração da organização, tendo por centro ou escritório a sede, e braço direito fiel a companheira ROSE, providenciou papéis, quando necessário falsos, aquisição de passagens, acompanhamento por membros operacionais de mulas ao Rio de Janeiro e a São Paulo, despacho de mulas para o exterior e recepção quando de retorno ao Brasil com os euros e/ou ecstasy. Exemplificativamente, refere-se que uma das últimas internações de capital para investimento no tráfico pela organização foi acompanhada pela Polícia Federal e resultou na apreensão de uma mala do tipo usado pela organização, contendo 320 mil Euros, despachada de Madrid pela empresa aérea IBERIA, que deveria ser resgatada por DIMI, mas foi abandonada (ainda que ROSE sugerisse, via telefone, que ele devia estar ficando louco) uma vez que DIMI desconfiou de atuação policial no Aeroporto de Guarulhos/SP, até porque duas de suas mulas, a mãe e a tia de ROSE, já haviam sido presas na Espanha (Relatório de vigilância 010/2006, fls. 165/169). No plano interno, DIMI organizou a distribuição de ecstasy, através de associados subordinados, cooptados entre jovens com aptidão para apresentarem-se em sociedade como pessoas bem sucedidas ou de classes médias/altas, como se verifica pelo fato de freqüentarem ambientes sofisticados (não apenas para melhor aparência, mas possivelmente também para captação de clientela para a revenda do ecstasy e cocaína,

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entorpecentes associados a faixas mais abastadas de consumo). Ilustra esse modo de operar o fato de terem sido fotografados em festa na casa noturna CONFRARIA DAS ARTES, na Lagoa da Conceição/Florianópolis, no dia 27/5/2005, em «camarote» reservado para DIMI, ROSE e seus associados Reynaldo Lopes Simoni, Rogério de Oliveira e Guilherme Haugg (fotografias de fls. 279/280). Para os associados subordinados, a organização se encarregava de todas as despesas de manutenção, inclusive através da aquisição de casas e/ou apartamentos para residência, como se passou, por exemplo, com o acusado Raphael, filho de ROSE, que morou no Rio de Janeiro em apartamento de DIMI (adquirido sob nome falso de Alexandre Martinelli Adamich, v. fl. 144 do APENSO II) e de Reynaldo Lopes Simoni, irmão de ROSE, que morava no Rio Vermelho, em Florianópolis, em terreno e casa adquiridos, mobiliados e mantidos pela organização (fotos à fl. 145 APENSO II). Além disso, DIMI fornecia aos associados veículos de alto padrão para uma «boa apresentação» em sociedade, veículos adquiridos em troca de ecstasy e/ou como lavagem de dinheiro do produto do tráfico. DIMI prestava, ainda, integral assistência jurídica aos associados que caíssem presos, mantendo controle pessoal sobre suas situações e fornecendo, através de ROSE, assistência aos presos em caráter quase-familiar. ROSE, por sua vez, não é só companheira de DIMI, mas co-responsável pela liderança e organização da associação criminosa, tanto que cooptou como associados permanentes em primeiro lugar parentes próximos, como seu filho e seu irmão (Reynaldo Lopes Simoni, irmão pela parte da mãe, Bernadete Lopes, e o próprio ALBA, ou Raphael Barrilari Alba, filho de ROSE). ROSE estava em vias de introduzir no circuito internacional de tarefas da organização o filho Rodrigo, para quem solicitou passaporte (comunicação de extravio e requerimento em 10 de março de 2006, fls. 35/36 APENSO I). Para atividades eventuais, como mulas, ROSE cooptou sua mãe e sua tia, Bernadete e Diva, sendo certo que foi ela quem acompanhou na Polícia Federal a tia quando esta requereu passaporte. Ambas, mãe e tia, foram presas em Madri, na Espanha, na posse de malas de dinheiro contendo 479 mil e 500 euros. Fato que também indica o elevado giro de capital da organização criminosa. O acompanhamento de conversações telefônicas indica que ROSE foi verdadeiro braço direito de DIMI na administração da organização criminosa, funcionando ativamente também na lavagem de dinheiro do tráfico. c.2) SEGUNDA HIERARQUIA E RESPECTIVAS BASES TERRITORIAIS (acusados 3 a 13) Vasto acervo probatório arrecadado possibilitou a visualização do organograma da organização criminosa como efetuado na figura da foto 89 da fl. 317. João Gomes Martins Neto, como já referido, atuou com DIMI como parceiro, sem prejuízo de ser também subordinado, na atividade ligada a exportação/importação de entorpecente. Dentre os associados de segunda hierarquia era o único que participava de reuniões de cúpula com as conexões estrangeiras do esquema de tráfico internacional de cocaína. Como membros operacionais, rigorosamente controlados por DIMI, tendo alguns subordinação entre si, funcionaram como distribuidores de ecstasy e pessoal de apoio logístico nas atividades de guarda e transporte de cocaína e ecstasy no Brasil, os seguintes associados: Rogério de Oliveira auxiliava DIMI na aquisição e guarda de

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cocaína e funcionou, relativamente ao entorpecente sintético, como entreposto de ocultação, em SÃO PAULO, com capacidade para estocar até 400.000 comprimidos, de ecstasy. Arregimentava membros para atividades criminosas (como por exemplo, fez com seu irmão Renato, que guarneceu a residência de Guarujá na última operação da organização criminosa). Raphael Barrilari ALBA, filho de ROSE, homem de confiança (até mesmo pelo parentesco) da organização, circulava pelo exterior na atividade-fim da organização, atuava como distribuidor de ecstasy no RIO DE JANEIRO, vivendo em apartamento da organização. Foi preso com cerca de 489 comprimidos de ecstasy no Rio de Janeiro. Raphael recepcionava no Rio DIMI e mulas quando de viagens internacionais a serviço da organização para transporte de “malas”, o que fez por exemplo no embarque de Bernadete e Diva (mãe e tia de ROSE) para a Europa. Sua companheira Camila, nora de ROSE, já foi usada como «laranja» para lavagem de dinheiro na aquisição de um Jeep Cherokee, placa CKE 6793, usado por DIMI, ROSE e Evandro no ano de 2005. Élcio Antunes Américo, o PRIMO, provável fornecedor de documentos falsos para a organização, foi agenciador de mulas e de membros operacionais para atividades criminosas da organização, atuava na lavagem de dinheiro do tráfico através de receptação e/ou contrabando e descaminho do Paraguai, prestava apoio para guarda no Brasil de cocaína destinada a exportação e controlava a distribuição de ecstasy no PARANÁ e em parte de SANTA CATARINA, juntamente com Jorge Clerson Guimarães Saravy, GORDINHO, que trabalhava diretamente com Élcio Antunes Américo na distribuição de ecstasy no PARANÁ (eram fornecedores, por exemplo, de André, Frango e Magui, v. contabilidade na fl. 158 v. Apenso I). Como distribuidores em SANTA CATARINA atuaram os seguintes associados: Reynaldo Lopes Simoni, o PERÊ, irmão de ROSE, vivendo em casa da organização no Rio Vermelho/Florianópolis, atuava na distribuição de ecstasy na região da GRANDE FLORIANÓPOLIS. Foi preso na BR 101, na altura do município de Biguaçu, em local próximo ao sitio Pícollo Paradiso, quando retornava de São Paulo, em 4 de julho de 2005, com 9.110 comprimidos de ecstasy (IPL 476/2005 e processo penal na Comarca de Biguaçu), entorpecente sintético trazido de depósito controlado, para a organização, pelo associado Rogério de Oliveira em São Paulo. Em buscas na residência de DIMI encontrou-se foto de Reynaldo na Holanda, além de várias faturas em seu nome, o que indica que a organização pagava integralmente suas despesas. Evandro Pereira de Lima, o GAUDÉRIO, distribuía ecstasy em todo o LITORAL DE SANTA CATARINA. É descrito por testemunha protegida como homem de 1,85 de altura, que se «veste muito bem», anda de carros TEMPRA e VECTRA. Evandro também dedica-se, na organização, à aquisição de veículos em troca de ecstasy e/ou lavagem de capitais do tráfico na aquisição e revenda de veículos. Testemunha protegida (fl. 83) aponta Evandro, de alcunha GAUDÉRIO, como fornecedor de ecstasy da marca «Heineken» para festas rave realizadas no litoral de Santa Catarina. Já esteve envolvido com importação de ecstasy da Holanda, onde possui conexões para aquisição do entorpecente sintético. É membro de alta periculosidade, especialmente no trato com associados e pessoas cooptadas para tarefas eventuais, não tendo dificuldades em mandar matar o que for flagrado em ato de deslealdade com a firma (cf. depoimento protegido, fls. 262/264).

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Guilherme Haugg e Alexsandar Nestorovski distribuíam ecstasy no LITORAL DE SANTA CATARINA e em FLORIANÓPOLIS, tendo sido presos em flagrante no dia 23/2/2006, em transação de aproximadamente 1.600 comprimidos de ecstasy, transação que se aproxima dos 10 mil reais, tomando-se por base o preço estimado em R$ 9,00 a unidade (Em conversa telefônica, um adquirente de alcunha Magui negociou com Élcio e Jorge Clerson (Gordinho) para reduzir o preço, ao que informaram os últimos que a organização vinha exigindo esse patamar de valor (R$ 9,00) sob alegação de que precisava pagar advogados). Observe-se que esse é preço de fornecimento entre traficantes, já que para o consumidor final o comprimido gira entre R$ 30,00 e R$ 50,00 (cf. interrogatório na fl. 127). Dejan Nestorovski, irmão de Alexsandar, associou-se à organização provavelmente assim que chegou ao Brasil juntamente com seu irmão Alexsandar, «convidado» por ROSE para supostas férias, com garantia de «hospedagem, alimentação e traslado pelo tempo necessário» conforme se vê em documento datado de 13 de maio de 2005 à Embaixada do Brasil na Bulgária (fl. 26 APENSO I). Pelo fim de 2005 a organização providenciou diversos documentos falsos para Dejan, tais como RG, CTPS e título de eleitor. Foi visto em atividade típica da organização criminosa, juntamente com Guilherme Haugg, no dia 27 de janeiro de 2006 na BR 101, na altura do município de Itapema, em veículo da organização (caminhonete Mitsubischi placa MEV 4490) que provavelmente se dirigia para São Paulo, e, em data próxima ao termo final da associação, foi deslocado para guarnecer esconderijo de cocaína em Guarujá/SP. André Luiz Keller da Silva, em cujo nome foi adquirida, em troca de ecstasy, por Guilherme Haugg, motocicleta encontrada no sítio Pícollo Paradiso, associou-se à organização criminosa de modo permanente como membro operacional e distribuidor de ecstasy, com base territorial em BLUMENAU, onde freqüentava festas RAVE, sendo fornecedor, pela organização, de ecstasy, do que deixou vestígios em documentos bancários indicando pagamentos feitos pelo adquirente e traficante de menor porte, cliente da firma, Franciesco Cordeiro Lourenço, apreendidos no IPL 0164/2006 (observe-se ter sido provado que muitas entregas de ecstasy a traficantes menores associados à organização como clientes se davam «em consignação», acumulando os clientes dívidas que eram saldadas também mediante essas transferências bancárias). d) CONTROLE DE CLIENTES: fornecedores ao consumidor finalA organização, como fornecedor atacadista de ecstasy, mantinha algum controle sobre traficantes de menor porte, que repassavam o produto ao consumidor final. É o caso de Leonardo Cardoso Siqueira, alcunha BOLA, cujo auto de prisão em flagrante com 250 comprimidos de ecstasy, juntamente com Cléber André de Oliveira e a menor Renata Fagundes de Brito (IPL 234/2005) foi encontrado no escritório do sítio Piccolo Paradiso. Nessa condição de adquirentes habituais, associados à organização, atuaram Franciesco Cordeiro Lourenço e Volnei Rodrigues Filho, presos em flagrante juntamente com Guilherme Haugg e Alexsandar, em negócio de ecstasy da ordem de 10 mil reais. Outros adquirentes da organização vêm sendo presos em diversas ocasiões no ano de 2005. Apenas para ilustrar: Aline Dutra Koetze, prisão em flagrante com 219 comprimidos de ecstasy, apurada no IPL 014/05; Carlos Alberto Américo e Vanderlei Américo Rodrigues, que são parentes do comparsa e associado a DIMI Élcio Antes Américo,

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prisão com 3.750 comprimidos de Ecstasy, apurada no IPL 790/05; Tiago Luís da Costa, prisão com 89 comprimidos de ecstasy, 1 pacote de cocaína e 14 filetes de LSD, apurada no IPL 043/05; Felipe Linares de Oliveira del Aquilla e Marina Machado dos Santos, prisão com 23 comprimidos de ecstasy de uma carga maior que foi dispensada na abordagem pelos presos e diluiu-se na chuva, apurada no IPL 038/06; Denise da Silveira Vicente e Priscila Cambaúva Moledo, prisão com 182 comprimidos de ecstasy apurada no IPL s/nº/2006 (informações arroladas na fl. 007 do APENSO II). e) SÍNTESEEm resumo, Tasevski Gordanco e Roseli Aparecida Barrilari Alba lideraram quadrilha voltada para a prática de crimes diversos e sofisticada organização criminosa tendo por objeto preponderante o tráfico internacional de entorpecentes, associando-se de modo permanente a João Gomes Martins Neto, Rogério de Oliveira, Raphael Barrilari Alba, Reynaldo Lopes Simoni, Élcio Antunes Américo, Jorge Clerson Guimarães Saravy, Evandro Pereira de Lima, Guilherme Haugg, Alexsandar Nestorovski, Dejan Nestorovski e André Luiz Keller da Silva. As atividades da organização intensificaram-se no ano de 2005 e tiveram termo final com o desbaratamento da organização no dia 30 de março de 2006. Assim agindo, Tasevski Gordanco e Roseli Aparecida Barrilari Alba, João Gomes Martins Neto, Rogério de Oliveira, Raphael Barrilari Alba, Reynaldo Lopes Simoni, Élcio Antunes Américo, Jorge Clerson Guimarães Saravy, Evandro Pereira de Lima, Guilherme Haugg, Alexsandar Nestorovski, Dejan Nestorovski e André Luiz Keller da Silva, incorreram nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976, incidindo relativamente aos dois primeiros as circunstâncias agravantes do art. 62, do Código Penal, pela direção e organização da atividade criminosa dos demais associados.

IIFato 2 - DO TRÁFICO INTERNACIONAL DE COCAÍNA

Apreensão em Guarujá/SP(DIMI/João Gomes/Élcio/Rogério/Dejan e Renato de Oliveira)

João Gomes Martins Neto, de alcunha GORDO, funcionário concursado do Porto de Santos, no cargo de conferente de carga e descarga, afastado da função há cerca de um ano e meio, trabalhava subordinado a um armador e funcionava na organização como auxiliar de DIMI nas negociações com as conexões internacionais para aquisição de cocaína, e posteriormente no transporte, guarda no Brasil e exportação, facilitada evidentemente por conexões funcionais e/ou ilícitas na área portuária de Santos. Tal como DIMI, João Gomes usava falsa identidade como João Carlos de Araújo em nome do qual possuiu RG, CPF e título de eleitor, apresentando-se em cartão de visitas como executivo do “Departamento de Comércio Exterior” de uma empresa de nome S.N. Comercial I.M.E.X Ltda. com sede em Rio Claro/SP (fl. 180 APENSO I). Para fechar um dos últimos negócios de importação/exportação de cocaína, João Gomes partiu de São Paulo no vôo GOL 1956, por volta de 00h10min do dia 20 de janeiro de 2006. Chegando a Foz do Iguaçu hospedou-se no Grand Hotel Internacional (conhecido como Hotel Redondo). DIMI e Kevin Mee, por sua vez, viajaram juntos (reservas com mesmo número localizador) para o mesmo destino

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no vôo VARIG 2166 e ao chegarem a Foz do Iguaçu foram recepcionados por dois funcionários do hotel onde estava João Gomes, e levados ao encontro deste em uma van do hotel. Logo na entrada do hotel, os três conversaram por cerca de uma hora, e por volta das 14h, João Gomes saiu de táxi em direção a Argentina, para apanhar ANDRÉS. Por volta das 18h25min Dimi, Kevin, João Gomes e Andrés reuniram-se no saguão do hotel por cerca de 2 horas, ao cabo do que João Gomes e Andrés retornaram para a Argentina de táxi, e Dimi e Kevin retornaram para Florianópolis às 18h05min, em vôo VARIG 2167-2161. Acertada a aquisição de uma grande quantidade de cocaína para exportação foi preciso encontrar local seguro para guardá-la. Para isso, DIMI contou com a colaboração ativa dos associados João Gomes, Rogério de Oliveira e Dejan Nestorovski. Foi escolhido local próximo a Santos (Guarujá), ficando Rogério de Oliveira encarregado de gerenciar o esconderijo da cocaína, e João Gomes de transportá-la até esse local e descarregá-la em segurança. Élcio (PRIMO) também participou dessa operação. Para isso deslocou-se no dia 10 de março de 2006 em veículo Fiat Doblô, alugado em Curitiba no Aeroporto Afonso Pena e hospedou-se em Guarujá no Hotel Ilhas da Grécia. Em Guarujá, Élcio (PRIMO) manteve contatos com Kevin, da conexão internacional.

A locação da casa que serviria de esconderijo da cocaína foi feita pessoalmente por DIMI, acompanhado pelo associado sérvio Dejan Nestorovski e pelo irmão de Rogério, Renato de Oliveira, cooptado eventualmente para guarnecer, com Dejan, a residência que serviu para ocultação da cocaína. No dia 10 de março de 2006, DIMI foi à Imobiliária Sol de Verão Imóveis, localizada na Praia de Enseada, Guarujá. Apresentou-se com dois rapazes, mais tarde identificados como Renato de Oliveira e Dejan Nestorovski, que disse ser seus «sobrinhos» surfistas, e alugou residência na Rua José Inácio Corrêa, nº 405 (Dejan, sob identidade falsa de Deyan, firmou o contrato). A casa alugada por DIMI serviu para depósito da cocaína recentemente adquirida, e destinada a exportação em prazo curto (DIMI constantemente afirmava, ao telefone, que a coisa já estava por se resolver). A casa passou a ser guarnecida para a organização por Dejan Nestorovski e por Renato de Oliveira, irmão de Rogério cooptado para essa tarefa (possivelmente também em face da redução de mão de obra da organização, com a prisão recente de associados como Reynaldo, Guilherme e Alexsandar).

Por uma semana, entre 23 e 30 de março de 2006, policiais federais da DRE-SPF-DPF-SC vigiaram essa residência e puderam verificar que a casa permanecia totalmente fechada durante o dia e durante a noite a única movimentação se dava quando Dejan saía de casa, a pé, e se dirigia a uma lan house, onde permanecia durante horas. Renato foi visto duas vezes, no portão da residência, numa delas para receber um entregador de pizza. À noite, a residência também permanecia fechada e com luzes apagadas, exceto pela televisão ligada.

No dia 27 de março de 2006, por volta das 14h50min, DIMI e Rogério chegaram a esta residência conduzindo a caminhoneta MEV 4490, placa de Itajaí, sendo recebidos por Renato que abriu os portões que permaneciam sempre fechados a chave. Nesse dia DIMI e Rogério permaneceram na residência até 15h08min, e saíram, tomando rumo ignorado, na companhia de Dejan. Às 19h15min, Dejan retornou à residência, carregando algumas sacolas plásticas de compras. Expedido mandado de busca, foi cumprido às 06h15min do

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dia 30 de março de 2006. Na ocasião, os acusados Renato e Dejan estavam presentes na residência, tendo o último indicado aos policiais que havia entorpecente num dos quartos. Foram encontradas então sob os colchões de três camas 5 (cinco) malas, contendo 196 tijolos de cocaína.

Dimi, Rogério, Élcio e João Gomes (Gordo) atuaram em conjunto, como visto, nos preparativos para a guarda de cocaína em Guarujá, dada a dimensão desse negócio. Além disso, Dimi, Rogério e João Gomes mantiveram estreita vigilância e acompanhamento da atividade de guarda do entorpecente, transportado até Guarujá por João Gomes. Tanto que em certa ocasião em que Renato e Dejan relataram que Dejan vinha sendo seguido, Rogério informou que João Gomes, tratado pela alcunha de GORDO, deveria encontrá-los e providenciar a troca de esconderijo. Respondem, assim, em conjunto pela guarda de cocaína em Guarujá os associados DIMI, João Gomes, Élcio, Rogério e Dejan. Renato de Oliveira mediante participação eventual, em face da ausência de elementos que indiquem permanência na associação criminosa.

MaterialidadeLaudo preliminar de constatação nº 0015/06-NUTEC/DPF/STS/SP, examinou o

material apreendido na residência de Guarujá, na ocorrência acima descrita, discriminando-o como “196 pacotes em formato de tabletes, confeccionados com plástico incolor, envolto em borracha preta e fita adesiva incolor ou confeccionados com plástico e fita adesiva incolores, contendo substância em forma de pó de coloração esbranquiçada, com odor característico, perfazendo peso bruto total de 204k”, substância cujos testes químicos resultaram positivos para o alcalóide cocaína, substância entorpecente constante da Lista F/F1, da Portaria SVS/MS, de 12 de maio de 1998, republicada na RDC 12, da ANVISA, no DOU de 6/2/2006.

Assim agindo, Tasevski Gordanco, João Gomes Martins Neto, Rogério de Oliveira, Élcio Antunes Américo e Dejan Nestorovski, sob forma associada, incorreram nas sanções do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, incidindo relativamente a Tasevski, João Gomes, Rogério e Élcio Antunes Américo circunstância agravante do art. 62, I, do Código Penal. Renato de Oliveira incorreu nas sanções do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, pela regra do concurso de pessoas do art. 29 do Código Penal, com incidência de circunstância qualificadora da lei especial, no art. 18, III, da Lei 6.368/1976.

IIIDO TRÁFICO INTERNACIONAL DE ECSTASY

Todo o acervo documental apreendido aponta para a origem internacional de todo o ecstasy distribuído pela organização criminosa comandada por DIMI. Exemplificativamente, depoimento protegido dá conta da importação, diretamente por Evandro, de 5 mil comprimidos de ecstasy de fornecedor associado à organização com base em AMSTERDÃ/HOLANDA (fls. 262/264). Acervo documental dá conta de viagens freqüentes ao exterior realizadas por Tasevski Gordanco (DIMI) sob nome falso de Antonio Figueira, por exemplo, para Frankfurt/Main, Alemanha, em 19 de outubro de 2004, (doc. 18 APENSO I), e sob nome falso de Gilmar da Silva (fl. 21 fatura de hotel em Paris). Além disso, foram encontradas no Sítio Píccolo Paradiso fotografias de membros da

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organização em Amsterdã/Holanda (fotos, 40,41, APENSO I). Em tais condições, há indícios seguros de que o ecstasy guardado em São Paulo por Rogério, que servia como entreposto para distribuição aos associados, tinha origem em importação pela organização criminosa. Uma vez que a conexão de diversos traficantes de menor porte à presente associação criminosa só se fez evidente neste inquérito, impõe-se denunciar também os agentes que tiveram participação como fornecedores nos fatos recentemente apurados pela Polícia Federal e relatados neste inquérito, entre os quais, os fornecimentos de ecstasy para Leonardo (BOLA) e para o tio e primo de Élcio (PRIMO). Impõe-se denunciar também a liderança da organização e o responsável pelo depósito em São Paulo como fornecedores de Reynaldo Lopes Simoni e do ecstasy negociado por Guilherme Haugg e Alexsandar Nestorovski no dia 22 de fevereiro de 2006. Observe-se que a internacionalidade da origem acompanha o tráfico, como circunstância qualificadora, relativamente aos acusados associados diretamente ao importador, DIMI. Apenas depois de distribuído o ecstasy, em caráter atacadista, é que transações de compra e venda podem ser consideradas de comércio interno.

Fato 3 - (fls. 004/013)Apreensão de 10 mil comprimidos de ecstasy com Reynaldo Lopes Simoni

(DIMI/Rogério)Ainda que Reynaldo Lopes Simoni não tenha colaborado com a Justiça, já que criou

versão fantasiosa para a origem do ecstasy, restou inequívoca a origem na organização criminosa do entorpecente trazido de São Paulo por Reynaldo Lopes Simoni, preso em flagrante no dia 4 de julho de 2005, no Posto da PRF/SC em Biguaçu, quando retornava de São Paulo em ônibus da empresa Catarinense, nº 2569, na poltrona 29, na posse de aproximadamente 10 mil comprimidos de ecstasy, com logotipo RedBull e CocaCola (Laudo 1854/05-INC, fls. 10/13). A partir do que ficou apurado neste inquérito, sabe-se que Reynaldo foi a São Paulo em avião GOL, com passagens adquiridas pela organização criminosa para buscar ecstasy no depósito de Rogério de Oliveira, responsável pela guarda de ecstasy para a organização em São Paulo, para fornecimento a clientes estabelecidos em Santa Catarina, e retornou, de ônibus, com a carga de entorpecente sintético pela qual responde a processo na Comarca de Biguaçu, ora em execução provisória de sentença condenatória pelo art. 12, da Lei 6.368/1976, à pena de 3 anos e 10 meses de reclusão. Para seu deslocamento até o aeroporto, Reynaldo contou com veículo da organização, marca GM/CELTA, ano 2003/2004, placa DMR-0745, RENAVAM 818932643, chassis 9BGRDO8XO4G119260, em nome de Jorge Silvestrin Lopes Vieira Junior, seu primo, e contava com o apoio logístico de Tasevski Gordanco, que deveria apanhá-lo no retorno, ao desembarcar do ônibus, o que só não ocorreu porque foi preso em flagrante um pouco antes, em abordagem policial na PRF/Biguaçu. Em tais condições, os acusados Tasevski Gordanco (DIMI) e Rogério de Oliveira devem responder como fornecedores do entorpecente apreendido com Reynaldo Lopes Simoni no dia 4 de julho de 2005.

Assim agindo, incorreram os associados Tasevski Gordanco e Rogério de Oliveira nas sanções do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, com circunstância agravante do art. 62,

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I, do Código Penal pela direção da atividade criminosa de Reynaldo Lopes Simoni, já processado e condenado.

Fato 4 (fls. 014-023)Apreensão de 1600 comprimidos de ecstasy no IPL 0164/2006 (Guilherme Haugg e

outros) (DIMI/ROGÉRIO)

No dia 22 de fevereiro de 2006, na Grande Florianópolis (área de distribuição afeta aos associados Guilherme Haugg e Alexsandar Nestorovski) Guilherme, Alexsandar, Volnei Rodrigues Filho e Franciesco Cordeiro Lourenço foram autuados em flagrante quando realizavam transação envolvendo aproximadamente 10 mil reais em comprimidos de ecstasy, ocasião em que foram apreendidos 1600 comprimidos de uma carga maior, parcialmente extraviada na abordagem. Os elementos de convicção destes autos indicam que Guilherme Haugg e Alexsandar Nestorovski negociaram entorpecente sintético originário de importação maior realizada pela organização criminosa e guardada em São Paulo por Rogério de Oliveira. Em tais condições, os acusados Tasevski Gordanco (DIMI) e Rogério de Oliveira devem responder como fornecedores do entorpecente apreendido com os acusados Volnei Rodrigues Filho e Franciesco Cordeiro Lourenço, clientes da firma.

Assim agindo, incorreram os associados Tasevski Gordanco e Rogério de Oliveira nas sanções do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, com circunstância agravante do art. 62, I, do Código Penal pela direção da atividade criminosa de Guilherme Haugg e Alexsandar Nestorovski, processados em separado (IPL 0164/2006/ processo penal 2006.72.00.001682-0).

Fato 5 (fls. 071/074)Apreensão de 489 comprimidos de ecstasy com Raphael Barrilari Alba

(DIMI/ROGÉRIO)No dia 30 de março de 2006, em cumprimento a mandado de busca e apreensão

expedido por esse Juízo, na residência de Raphael Barrilari Alba, na Rua das Laranjeiras, 336/Bloco B, apto. 1305, Laranjeiras/Rio de Janeiro/RJ, foram encontrados e apreendidos no apartamento cerca de 489 comprimidos de ecstasy, razão por que foi autuado em flagrante o associado Raphael. Raphael residia, conforme apuração de fatos novos neste inquérito, nessa residência por conta de Tasevski Gordanco (DIMI) para os fins de distribuição de ecstasy no Rio de Janeiro, entorpecente sintético que ele - como os demais associados - obtinha em São Paulo no depósito de ecstasy sob responsabilidade de Rogério de Oliveira. Assim, devem responder por fornecimento desse entorpecente sintético encontrado com Raphael os associados Tasevski Gordanco (DIMI) e Rogério de Oliveira.

Assim agindo, incorreram os associados Tasevski Gordanco e Rogério de Oliveira nas sanções do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, com circunstância agravante do art. 62, I, do Código Penal pela direção da atividade criminosa de Reynaldo Lopes Simoni, já processado e condenado.

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Fato 6 (fls. 084/087)Apreensão de 250 comprimidos de ecstasy com Leonardo Cardoso Siqueira (BOLA) e

outros (IPL 234/05)(DIMI/Rogério/Evandro)

Em 31 de março de 2005, foram presos em flagrante Leonardo Cardoso Siqueira, alcunha BOLA, Cleber André de Oliveira e a namorada de Leonardo, menor, de nome Renata, na posse de 251 comprimidos de ecstasy de logotipo Heinecken, em abordagem ao veículo CORSA Wind, DDW 1257, na passagem pelo Posto da PRF/Tubarão/SC. Embora não tivessem declinado o nome de seus fornecedores, apurações neste inquérito indicam que o fornecedor de ecstasy para Luciano, alcunha BOLA, foi a organização criminosa liderada por DIMI, através de seu membro operacional Evandro Pereira de Lima. Evidências disso estão na apreensão do auto de prisão em flagrante de Leonardo (BOLA) no escritório da organização e residência de DIMI e ROSE (fl. 90, APENSO I), e pela falsa declaração do fornecedor, Evandro, no sentido de não conhecer BOLA, infirmada pelo Laudo pericial de exame num dos diversos telefones celulares usados por Evandro, que aponta o nome BOLA na agenda eletrônica e chamadas efetuadas para essa pessoa (fls. 359/361). Assim, ficou apurado que a organização criminosa aqui denunciada foi a fornecedora do ecstasy apreendido com Luciano (BOLA), devendo responder por esse fornecimento Tasevski Gordanco (DIMI), Rogério de Oliveira e Evandro Pereira de Lima.

Assim agindo, incorreram os associados Tasevski Gordanco, Rogério de Oliveira e Evandro Pereira de Lima nas sanções do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, com circunstância agravante do art. 62, I, do Código Penal pela direção da atividade criminosa, para Tasevski Gordanco.

Fato 7 (fls. 123/133)Apreensão de 3.750 comprimidos de ecstasy com

Carlos Alberto Américo Reis e outro (IPL 790/05/DPR/PR)(DIMI/Rogério/Élcio)

Carlos Alberto Américo Reis e Vanderlei Américo Rodrigues, respectivamente tio e primo de Élcio Antunes Américo, foram presos juntamente com Marcos Rodeiro de Assis, em Curitiba/PR, no dia 15 de julho de 2005, após investigação policial que acompanhou o retorno de Marcos de São Paulo, onde foi adquirir ecstasy, retornando com carga que foi apreendida de local especial para ocultação no veículo GM VECTRA, placa CID 5871. Foram apreendidos com os conduzidos 3.750 comprimidos de ecstasy, com logotipos Coca-Cola, RedBull e Heinecken. Embora os conduzidos tenham criado versão fantasiosa para a origem do ecstasy, diligências deste inquérito permitem imputar a origem desse entorpecente ao depósito mantido por Rogério de Oliveira em São Paulo para a organização criminosa ora denunciada, e os acusados Carlos Alberto Américo Reis e Vanderlei Américo Rodrigues, tio e primo do acusado Elcio Antunes Américo, como fornecedores de ecstasy para o consumidor final em festas RAVE, subordinados ao fornecedor da organização para o estado do Paraná, Élcio Antunes Américo. Assim, respondem pelo fornecimento dessa carga de ecstasy apreendida em Curitiba, em 15/72005, com logotipos Coca-Cola,

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RedBull e Heinecken os associados Tasevski Gordanco, Rogério de Oliveira e Élcio Antunes Américo.

Assim agindo, incorreram os associados Tasevski Gordanco, Rogério de Oliveira e Élcio Antunes Américo nas sanções do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, com circunstância agravante do art. 62, I, do Código Penal pela direção da atividade criminosa, para Tasevski Gordanco.

IVDOS CRIMES DE FALSO

(DIMI, João Gomes/Élcio/Dejan)Uma das formas de ocultação das atividades criminosas da organização se deu pela

obtenção, com participação dos acusados através de assinatura fictícia e impressão de digital em documentos material e/ou ideologicamente falsos, na produção de diversos documentos de identidade falsos. Tasevski Gordanco, João Gomes, Dejan, Élcio e Alexsandar praticaram tais condutas, ao que tudo indica dirigidas pelo acusado Élcio Antunes Américo (PRIMO), na posse de quem foram encontrados «espelhos» com início de falsificação material de identidade civil, em nome de Gilmar Francisco dos Santos (fl. 155, APENSO I).

Documentos falsos de Tasevski Gordanco (DIMI)como Gilmar Antônio Figueira da Silva, natural de Colorado/RS

De posse de certidão de casamento material e ideologicamente falsa, providenciada pelo associado Élcio Américo Antunes, de pessoa fictícia de nacionalidade brasileira, nome Gilmar Antônio Figueira da Silva, nascido em Colorado/RS, em 22 de março de 1960, filho de Francisco Figueira da Silva e Maria Izabela da Silva, e supostamente casado no Cartório Fonseca, Colorado/RS, conforme registro de casamento 235 LV B/8, fl. 146, o acusado Tasevski Gordanco, alcunha DIMI, requereu fraudulentamente, inserindo informações ideologicamente falsas, assinatura fictícia e impressão digital que deles não devia constar, e obteve de órgãos públicos documentos ideologicamente falsos, entre os quais:

• Fato 8 - CPF nº 903.593.480-68 (fl. 83, APENSO I), expedido pela Secretaria da Receita Federal,

• Fato 9 -Carteira de Identidade Civil de Gilmar Antônio Figueira da Silva, expedida pela Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina, com registro geral (RG) nº 5.176.798-8, em 6 de junho de 2002, com assinatura fictícia e impressão digital de Tasevski Gordanco, conforme Laudo de Perícia Papiloscópica nº 09/2006-NID/SETEC/SR/DPF/SC (fls. 272/273, Vol. I), obtida mediante uso, na data de expedição, de certidão de casamento materialmente falsa, acima referida.

• Fato 10 - Passaporte brasileiro, expedido em nome de Gilmar Antônio Figueira da Silva, em 17 de junho de 2002, pela DPF.B/IJI/SC-Seção de Polícia Marítima Aérea e de Fronteiras – Itajaí (fl. 81, APENSO I).

Documentos falsos de Tasevski Gordanco (DIMI)

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Como Alexandre Martinelli Adamich, natural de Maracas/BADe posse de certidão de nascimento material e ideologicamente falsa, providenciada

por Élcio Américo Antunes, de pessoa fictícia de nacionalidade brasileira, nome Alexandre Adamich, nascido em Maracas/BA (mesmo lugar de nascimento do fictício Daniel da Silva de Lucca, identidade falsa do comparsa Alexsandar Nestorovski), em 15 de setembro de 1962, filho de Andrea de Adamich e Francesca Martinelli Adamich, supostamente registrado na Comarca Maracas/BA, da Sede, registro de casamento 20117, Livro 17ª, fl. 175, o acusado Tasevski Gordanco, alcunha DIMI, requereu fraudulentamente, inserindo informações ideologicamente falsas, assinatura fictícia e impressão digital que deles não devia constar, e obteve de órgãos públicos documentos ideologicamente falsos, entre os quais:

• Fato 11 - Carteira de Identidade Civil de Alexandre Martinelli Adamich, expedida pela Secretaria de Segurança Pública do Paraná, em Curitiba, registro geral (RG) nº 10.252.618-0, em 27 de dezembro de 2004 (fl. 200, APENSO I), obtida mediante uso da certidão de nascimento materialmente falsa, acima referida.

• Fato 12 - Certificado de Dispensa de Incorporação, 2ª via, RA 0955373-G, expedido pelo Ministério da Defesa, em Curitiba, 15º CSM, 25 de janeiro de 2005.

• Fato 13 - Título Eleitoral como Alexandre Martinelli Adamich, inscrição nº 00916131806, Seção 256, Curitiba/PR, expedido em 21 de janeiro de 2005 (fl. 200, APENSO I).

• Fato 14 - Inscrição nº 064.963.619-83, na SRF como pessoa física (CPF), requerida com informações ideologicamente falsas pelo acusado Tasevski Gordanco, por via postal, no dia 21 de janeiro de 2005 (Recibo do cliente, Convênio ECT/SRF, na fl. 203), na Agência Terminal do Carmo, Curitiba/PR, em nome de Alexandre Martinelli Adamich, nascido aos 15/09/1962.Assim agindo, Tasevski Gordanco incorreu nas sanções do art. 297, por 2 vezes,

por prática de delito do art. 304 (uso de certidão de casamento e de nascimento para obtenção de 2 RG's), e do art. 299, por 7 vezes, com incidência de circunstância agravante do art. 61, II, “b”, todos do Código Penal.

Documentos falsos de João Gomes Martins NetoCom o objetivo de apresentar-se falsamente como João Carlos de Araújo, que seria

executivo do “Departamento de Comércio Exterior” de uma empresa de nome S.N. Comercial I.M.E.X Ltda. com sede em Rio Claro/SP (fl. 180 APENSO I), e de posse de um «espelho» de identidade civil da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, o acusado João Gomes Martins Neto:

Fato 15 - Criou documento de identidade materialmente falso, de número 02852914-7, em nome de João Carlos Araújo, pessoa fictícia que seria filho de Maria da Conceição Araújo, natural de «Minas Gerais» (equívoco que indica a natureza material do falso), nascido aos 6 de agosto de 1952, conforme Certidão de nascimento Liv 19 fls. 21, term 2335 C do Simão Pereira MG, na qual consta seu CPF de n 249.447.507/49, também falso, fictício ou apropriado de terceiros. O documento, ao qual apôs sua impressão digital,

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teria sido expedido em 25/03/1996 (ainda que não se possa precisar a data de confecção do falso, certo que foi após a data de suposta expedição).

Fato 16 - Em 8 de maio de 2003, produziu, levando essa identidade materialmente falsa ao Tabelião Pedro Bueno Martinez, de Rio Claro, cópia autêntica do RG, que consta apreendida à fl. 177 do APENSO I, que tem idêntico valor de documento original, constituindo assim novo documento.

Fato 17 - Produziu, também, a partir de informações ideologicamente falsas com que instruiu requerimento à Secretaria da Receita Federal, inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas, obtendo o cartão de CPF, material ou ideologicamente falso, de nº 249.447.507-48 (fl. 179, APENSO I), emitido em 8 de maio de 1999.

Fato 18 - Requereu, mediante a mesma fraude, inscrição eleitoral, junto à 280ª Zona, Capela do Socorro, SP, conforme certificado à fl. 182 do APENSO I.

Assim agindo, João Gomes Martins Neto incorreu nas sanções do art. 297, do Código Penal, por 2 vezes, e do art. 299 do Código Penal, por outras 2 vezes, todas mediante circunstância agravante do art. 61, I, “b”, do Código Penal.

Documentos falsos de Élcio Antunes AméricoO acusado Élcio Antunes Américo, de posse de um «espelho» de identidade civil da

Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná: Fato 19 - Criou documento de identidade materialmente falso, de número

7.223.805-7, em nome de José Michaelsen, pessoa fictícia que seria filho de Manoel Michaelsen e Cidi Maribel Michaelsen, nascido aos 6 de julho de 1970, conforme Certidão de nascimento da Comarca de Curitiba/PR (número ilegível na cópia da fl. 155), Livro=25, Folha=217, documento que contém sua fotografia e no qual apôs sua impressão digital, supostamente expedido em 20/06/2000 (ainda que não se possa precisar a data de confecção do falso, certo que foi após a data de suposta expedição). Observe-se que foi encontrado com o acusado documento materialmente falso em nome de Gilmar Francisco dos Santos em fase preparatória, com CPF 518.759.859-72.

Assim agindo, Élcio Antunes Américo incorreu nas sanções do art. 297, mediante circunstância agravante do art. 61, I, “b”, ambos do Código Penal.

Documentos falsos de Dejan NestorovskiA organização criminosa colaborou com Dejan fornecendo-lhe certidão de

nascimento materialmente falsa, como brasileiro supostamente nascido em Souza/PB, 06/06/1983, que seria Deyan Barilari Toporoski (nome fictício evidentemente criado a partir da forma fonética para seu nome verdadeiro, Dejan, e corruptela do sobrenome BARRILARI, de ROSE, companheira de DIMI), que seria registrada sob nº 4577, Livro 9, folhas 119 da Comarca de Souza/PB (falsa, conforme relatório de diligência da fl. 054, dos autos originários da DPF/SANTOS).

De posse dessa certidão de nascimento materialmente falsa, Dejan requereu fraudulentamente, inserindo informações ideologicamente falsas, assinatura fictícia e impressão digital que deles não devia constar, e obteve de órgãos públicos documentos materialmente autênticos, mas ideologicamente falsos, entre os quais:

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• Fato 20 - Carteira de Identidade Civil de Deyan Barilari Toporoski, expedida pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná no dia 22 de agosto de 2005, sob número de registro geral (RG) 10.450.661-5, obtida mediante uso do documento materialmente falso acima referido.

• Fato 21 - Carteira de Trabalho e Previdência Social nº 9045941, série 001-0/SC, sob o nome Deyan Barilari Toporoski, com inscrição no PIS nº 139.08992.72-8, emitida pela DRT/SC, no dia 6 de dezembro de 2005, tendo por base a apresentação do RG ideologicamente falso nº 10.450.661-5 (fls. 44-5, APENSO I de documentos apreendidos no Sítio Píccolo Paradiso)

• Fato 22 - Título Eleitoral com inscrição nº 048986300957, Zona 100, Seção 179, emitido em 30 de novembro de 2005 em Florianópolis/SC (fl. 44, APENSO I).

Fato 23 - Por ocasião da formalização do Auto de prisão em flagrante, no dia 30 de março de 2006, Dejan Nestorovski, fez uso de sua Carteira de Identidade falsa, chegando a ser qualificado como Deyan Barilari Toporoski. O uso de documento falso não está abrigado por eventual direito a falsa identidade como autodefesa do acusado, mas se diversamente se entender, deve responder ainda assim pela produção anterior de documentos falsos a partir de certidão de nascimento falsa providenciada por terceiros, provavelmente ligados à organização criminosa.

Assim agindo, Dejan Nestorovski incorreu nas sanções do art. 297, por uma vez, pela prática de delito do art. 304 (uso de certidão de nascimento para obtenção do RG), do art. 299, por 4 vezes, 3 pela obtenção de documentos e a última por seu uso (fato 23).

Documentos falsos de Alexsandar Nestorovski Estes fatos são denunciados em aditamento à denúncia no processo 2006.72.00.001682-0

VDOS CRIMES DE LAVAGEM DE DINHEIRO

Prática comum nas atividades criminosas da organização criminosa tem sido a conversão de produto do tráfico, normalmente dinheiro em espécie, em ativos lícitos, tais como imóveis e automóveis, e também na própria atividade criminosa, financiando, por exemplo, a receptação de bens descaminhados para posterior revenda ou apenas para conversão de ativos do tráfico em bens de valor. A seguir, descrevem-se os fatos desse gênero apurados neste inquérito.

DESCAMINHO E LAVAGEM (DIMI, ROSE/ Élcio)

Fato 24 - Élcio Antunes Américo foi o associado encarregado de converter produto do tráfico da organização criminosa em mercadorias, em geral eletrônicos, de grande valor, provenientes do descaminho originário do Paraguai. Com esse acusado foi apreendida uma lista de preços de equipamentos eletrônicos, em dólares, e além disso, por menos fé que se dê à versão do acusado Élcio, que procura apresentar-se «apenas» como fornecedor de mercadorias descaminhadas para DIMI (interrogatório de fls. 204/206), é certo que Élcio foi responsável, na organização criminosa, pela inversão de capital do tráfico em

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equipamentos eletrônicos para posterior revenda e/ou simples conversão, em bens de valor, do dinheiro do tráfico.

Nessas condições, Élcio Antunes Américo, Tasevski Gordanco e Roseli Aparecida Barrilari Alba adquiriram ou receberam e mantinham em depósito, na condição de comerciantes, ainda que para o comércio irregular ou clandestino, as seguintes mercadorias estrangeiras importadas clandestinamente: 1 TV 30’’, marca SHARP, modelo LC 30HV4U, com tela de cristal líquido, procedente do Japão, n de série 407338060, 1 receiver SHARP, que acompanha o modelo antes referido, 1 aparelho de DVD vídeo, com tela de cristal líquido inclusa, marca COBY, modelo TF-DVD 1020, da China, 1 Scanner HP, SCANJET 2400, da China, 1 DVD player, BRITANIA, modelo Matrix 9, da China, 1 monitor marca KDS (Korea Data System, modelo Rod-9p, e dois fones de ouvido, marca COBY, MODELO cv-220-S.I.O., avaliadas em Laudo merceológico de Avaliação direta nº 261/06-SR/SC, em R$ 10.895,00 (dez mil, oitocentos e noventa e cinco reais).

De acordo com a permissão legal do art. 65 da Lei 10.883/2003, que dispensa a verificação por itens do imposto incidente para fins de persecução penal, estima-se o tributo iludido para efeitos criminais em 50% do valor de avaliação para o IPI e outros 50% para o I/I, o que atinge montante equivalente ao valor de avaliação. Além de configurar descaminho, a aquisição desses bens com produto do tráfico também constitui lavagem de dinheiro.

Assim agindo, Élcio Antunes Américo, Tasevski Gordanco e Roseli Aparecida Barrilari Alba, incorreram nas sanções do art. 334, caput, pela prática de fato classificado no art. 334, § 1º, «c», do Código Penal em concurso formal com as sanções do art. 1º, I, da Lei 9.613/1998. 1º.

CONVERSÃO DO PRODUTO DO TRÁFICO EM IMÓVEIS

Fato 25Sítio Píccolo Paradiso

(DIMI e ROSE)Mesmo antes de estabelecer-se em Santa Catarina, DIMI já tinha atividade de

tráfico, delito pelo qual declarou, inclusive, ter cumprido pena na Itália. O estabelecimento da organização criminosa em Santa Catarina já se deu pela prática de fato típico de lavagem de dinheiro do tráfico. DIMI e ROSE adquiriram, em 6 de novembro de 2003, o sítio onde estabeleceram o «Pícollo Paradiso», por R$ 230.000,00, inequivocamente originários da narcotraficância, até mesmo pelo modo de pagamento, que foi feito mediante pagamento de entrada, equivalente a aproximadamente metade do valor, em «dinheiro vivo», no dia 6 de novembro de 2003 e parcelas iguais e sucessivas no valor equivalente a 10 mil dólares, para 30 de janeiro de 2004, 30 de abril de 2004, 30 de julho de 2004, e afinal uma parcela de US $ 11,379.00, para pagamento em 30 de setembro de 2004, conforme termos de contrato particular entre as partes vendedoras e a compradora, a acusada ROSE. A Escritura hábil à averbação do Registro de Imóveis foi lavrada pelo Tabelionato Faria, no dia 22 de novembro de 2004, entre partes Elenilce Mafra e Rosete Maria Muniz Mafra, vendedores, e

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Roseli Aparecida Barrilari Alba, compradora, tendo por objeto Imóvel rural com área de 28.117,27m2, situado na Estrada Geral de Antônio Carlos, distante da SC-408 em 1.250m, cadastrado no INCRA sob nº 815.349.066.621-4, na Receita Federal sob nº 4.192..679-0, e registrada no Registro de Imóveis da Comarca de Biguaçu, no Livro 2-CR, fls. 68, Matrícula na averbação nº 2 à Matrícula nº 17.173 (Escritura na fl. 032, RI, fl. 052, APENSO I).

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Roseli Aparecida Barrilari Alba, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 26Área rural contígua ao Sítio

(DIMI e ROSE)Em junho de 2005, também para conversão do produto do tráfico, ROSE adquiriu

terreno contíguo ao Sítio Piccolo Paradiso (Cadastro INCRA 815.349.066.621-4, Receita Federal NIRF 4.192.679-0), de um comprador de nome José Carlos de Mattos, residente em Curitiba. O negócio foi aperfeiçoado através de escritura pública de procuração passada em 30 de junho de 2005, no Tabelionato Faria, de Biguaçu, instrumento pelo qual o vendedor outorgou poderes ao proprietário da imobiliária Só Sítios Negócios Imobiliários, que trabalha com compra e venda de sítios na região, para venda em favor de Roseli Aparecida Barrilari Alba, de imóvel rural com 20.000,00m2, representando fração ideal do outorgante em imóvel maior, com área total de 108.252,50m2, terreno que a outorgada compradora possui em comum com Débora de Souza, registrado no Registro de Imóveis de Biguaçu, sob Matrícula 16.347.

A aquisição se deu também com ativos do tráfico e era evidente o propósito de DIMI de converter novamente os ativos, como originários de propriedade lícita, tanto que anunciou para venda o Piccolo Paradiso no jornal O GLOBO, do Rio de Janeiro e na Internet, em endereço eletrônico www.piccoloparadiso.com.br).

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Roseli Aparecida Barrilari Alba, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 27Apartamento em Laranjeiras/Rio

(DIMI e Raphael)Em fins de maio ou início de junho de 2005, de posse de dinheiro originário de

atividades criminosas da organização ligadas ao tráfico de ecstasy e cocaína, para o fim de conversão de ativos do tráfico e também para residência de uso da organização, para o associado Raphael, filho de ROSE, encarregado da distribuição de ecstasy no Rio de Janeiro e outras atividades de apoio nos contatos com o exterior de mulas e membros da organização, Tasevski Gordanco, agindo através de sua identidade falsa de Alexandre Martinelli Adamich, CPF 064.963.619-83, adquiriu apartamento de nº 509 do prédio de nº 336 da Ruas das Laranjeiras, Bairro Laranjeiras, Cidade do Rio de Janeiro, de propriedade

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de Marino Lucci de Araújo, com valor de R$ 51.163,36, informado para efeitos fiscais em guia do ITBI (DARM, Secretaria Municipal da Fazenda da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, contribuinte 0986731-8), doc. fl. 236 APENSO I.

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Raphael Barrilari Alba, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 28Imóvel na Lagoa da Conceição/Florianópolis

(DIMI e Guilherme)De posse de elevada importância em dinheiro vivo, originária das atividades de

tráfico da organização criminosa, Tasevski Gordanco, sob uma de suas falsas identidades, Alexandre Martinelli Adamich, adquiriu, por R$ 110.000,00 em dinheiro vivo, em notas de R$ 50,00 e R$ 100,00, em maio de 2005, um terreno com 304 m2 e edificação do tipo “edícula”, localizado na Rua José Henrique Veras, nº 227, Lagoa da Conceição, de propriedade de Suzete Opilhar. Em fase preliminar de negociação, de que participou Guilherme Haugg, Tasevski (DIMI) chegou a sugerir que parte do preço fosse paga mediante transferência de propriedade de veículo CLIO, de cor preta, mas ao final o pagamento foi efetivado todo em dinheiro, no BOX 32, no Mercado Público de Florianópolis. (fotografias em fl. 144 do APENSO I).

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Guilherme Haugg, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 29Imóvel no Rio Vermelho/Florianópolis

(DIMI, ROSE e Reynaldo)Em data ainda não apurada, a organização adquiriu terreno no Lote 16 da Servidão

Dona Rita, no Rio Vermelho, em Florianópolis (fotografia fl. 261, APENSO I), para conversão de ativos do tráfico e também como residência do associado Reynaldo Lopes Simoni. Documento apreendido indica que a residência foi guarnecida de refrigeradores em junho de 2005 (Nota Fiscal de 10/6/2005, apreendida na residência do Sítio, fl. 148 do APENSO I). A interceptação telefônica provou que a residência foi construída com o dinheiro auferido pela organização (Relatório de vigilância 073/2006, fl. 260, APENSO I).

Assim agindo, Tasevski Gordanco, Roseli Aparecida Barrilari Alba e Reynaldo Lopes Simoni incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

CONVERSÃO DE ATIVOS DO TRÁFICO EM VEÍCULOS

Fato 30L 200 MEV 4490

(DIMI, Guilherme, Evandro e Milton de Oliveira Junior)Em fins de 2005, Evandro Pereira de Lima, de posse de 45 mil reais em dinheiro

vivo originários da atividade criminosa da organização na distribuição de ecstasy, agindo

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como membro operacional diretamente subordinado a DIMI, adquiriu, após negociações iniciadas com o acusado Milton de Oliveira Junior por Guilherme Haugg, caminhonete MMC L200 4x4 GLS, cabine dupla, cor prata, placa MEV 4490, registrada em nome do acusado Milton de Oliveira Junior, chassi 93XHNK3401CY09655, RENAVAM 749917113, para conversão de ativos do tráfico e uso por parte da organização. O vendedor, embora não tenha ainda sido apurado vínculo de permanência com as atividades criminosas da organização, efetuou o negócio com o inequívoco objetivo de converter capital do tráfico em ativo lícito, sabendo da origem ilícita do dinheiro. Isso porque Guilherme Haugg anteriormente havia feito proposta de aquisição desse veículo em troca de ecstasy, e o negócio terminou sendo efetuado através de «laranja» ou traficante de menor porte, de nome Renato Antônio Machado, alcunha RENATO CABEÇA, que morreu em disputa de quadrilhas em Itajaí no dia 27 de março de 2006 (certidão de óbito na fl. 226).

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco (DIMI), Guilherme Haugg, Evandro Pereira de Lima, associados, e Milton de Oliveira Junior, em concurso de pessoas eventual, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 31VW/GOLF MCA 0123

(DIMI e Evandro Pereira de Lima)Em 1º de abril de 2005, Evandro Pereira de Lima, de posse de 35 mil reais em

dinheiro vivo originários da atividade criminosa da organização, agindo como membro operacional diretamente subordinado a DIMI, procurou a loja de revenda de veículos KAKÁ MULTIMARCAS, localizada na Rua Luiz Lopes Gonzaga, 1380, bairro São Vicente, Itajaí/SC, e neste estabelecimento adquiriu o veículo VW/GOLF, ano 2003, chassis 9BWAAO1JX34050514, de cor prata, RENAVAM 804921440, placa MCA 0123, pelo qual pagou preço de R$ 35.000,00 a Ricardo Muller Caldas, proprietário do estabelecimento. Evandro tinha inequívoco intuito de conversão de ativos do tráfico, até porque adquiriu o veículo mediante procuração passada pelo proprietário para revendê-lo a outro adquirente (documento de fl. 161).

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Evandro Pereira de Lima, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 32HONDA CBX 250 MHQ 7380

(DIMI, Guilherme e Dejan)Em certo dia de fevereiro de 2006, Guilherme, agindo na condição de associado

subordinado diretamente a DIMI, compareceu ao estabelecimento de revenda de veículos denominado DIKAS CAR, localizado em Campinas, São José, de posse de 6 mil reais em espécie originários de atividades criminosas da organização ligadas ao tráfico de ecstasy, e interessou-se por uma motocicleta 0km, do tipo HONDA CBX 250 Twister, que a

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proprietária Neusa Dias havia deixado na loja para venda, em razão de tê-la recebido numa loteria estadual e não se interessar por motocicleta, trocando-a por um outro veículo da revenda. Nessa ocasião o negócio não foi fechado, porque o vendedor não conhecia Guilherme e não aceitou fechar a venda com pagamento parcial. Alguns dias depois, Guilherme retornou ao estabelecimento com o preço que era pedido pela motocicleta, R$ 9.000,00, em dinheiro vivo, que ofereceu em pagamento, e fechou negócio. Porém, Guilherme pediu que o documento de transferência de propriedade não fosse firmado em seu nome, indicando o nome do comparsa da organização criminosa DEJAN para ser procurador da proprietária, para posterior revenda da motocicleta. Tal procuração, acertada em seus termos entre Guilherme e o proprietário do estabelecimento, foi afinal passada pela proprietária no dia 20 de fevereiro de 2006, em favor de DEYAN BARILARI TOPOROSKI, RG 10.450.661-5, CPF 069.845.349-25, para «o fim especial de vender a quem bem entender e pelo preço que julgar conveniente». Nestas condições, Guilherme converteu em ativo lícito 9 mil reais oriundos do tráfico, adquirindo motocicleta HONDA CBX 250 Twister, placa MHQ 7380, vermelha, ano 2005, RENAVAM 872536653, de propriedade anterior de Neusa Dias, chassis 9C2MC35005R052660, com inequívoco intuito de revender esse bem, por intermédio do acusado associado Dejan Nestorovski, que figurou como favorecido em procuração sob identidade falsa de Deyan Barilari Toporoski. Guilherme só não retirou a motocicleta da loja, porque foi preso um dia depois de feita a procuração.

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco (DIMI), Guilherme Haugg e Dejan Nestorovski incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 33FIAT SIENA MAZ 9039

(DIMI E ROSE)DIMI e ROSE, clientes assíduos da revenda RB VEÍCULOS (razão social RUMO

BRASIL VEÍCULOS LTDA.) na aquisição e troca de veículos, compareceram à loja estabelecida no bairro Estreito, em Florianópolis, no dia 21 de dezembro de 2005, e adquiriram veículo FIAT SIENA 1.6 16v. ano 1999, placa MAZ9039, de cor cinza, pelo preço de R$ 18.500,00, que pagaram dando de entrada outro veículo da frota da organização, também adquirido para lavagem de dinheiro do tráfico, um SANTANA QUANTUM, 1994, no valor de 11.500,00 e saldo a pagar mediante resgate de nota promissória no valor de R$ 7.000,00, no dia 6 de janeiro de 2006. Firmou recibo como compradora a acusada Roseli Aparecida Barrilari Alba. O próprio DIMI resgatou essa promissória em dinheiro.

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Roseli Aparecida Barrilari Alba, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 34RENAULT SCENIC IKL 1987

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(DIMI E ROSE)No mesmo estabelecimento RB Veículos, acima referido, em meados de 2005,

DIMI e ROSE, com intuito de lavar dinheiro originário do tráfico convertendo-o em ativos lícitos, adquiriram um veículo RENAULT SCENIC, prata, placa IKL 1987, por aproximadamente 32 mil reais, pagos em dinheiro vivo a Douglas, proprietário da revenda RB, e repassados ao vendedor do veículo Henio Silveira.

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Roseli Aparecida Barrilari Alba, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 35YAMAHA XT 225 MCF 1431

(DIMI, Guilherme e André Luiz Keller Silva)No segundo semestre de 2005, Guilherme Haugg adquiriu, para lavagem de

dinheiro do tráfico de ecstasy efetuado pela organização liderada por DIMI, motocicleta YAMAHA XT 225, de cor azul, placa MCF 1431, do associado André Luiz Keller Silva. Guilherme providenciou, como de outras vezes, que o documento de transferência de propriedade fosse passado para um «laranja», Robson Fernando Pereira Ramos. O documento de circulação desta motocicleta, em nome de André Luiz Keller Silva, foi encontrado no Sítio de DIMI e ROSE (doc. fl. 15 APENSO I).

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco, Guilherme Haugg e André Luiz Keller Silva incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 36GM/OMEGA HRA 1062 (DIMI, ROSE e Raphael)

Em janeiro de 2004, DIMI procurou o estabelecimento SULKAR VEÍCULOS, localizado em Campinas, São José, com interesse em vender veículo GM/OMEGA, de cor azul, placa HRA 1062, de propriedade do comparsa da organização e filho de ROSE, Raphael Barrilari Alba. O preço do veículo foi pago em dinheiro, convertendo assim novamente em dinheiro, agora de origem lícita, o valor de veículo que já era produto de lavagem de dinheiro do tráfico, na órbita do associado Raphael no Rio de Janeiro. DIMI conduziu toda a negociação de venda, e Raphael compareceu apenas para assinar e reconhecer firma no documento de transferência. Mais ou menos na mesma época, DIMI vendeu no mesmo estabelecimento, um veículo FORD/PAMPA que estava em nome de Roseli Barrilari Alba.

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco, Roseli Aparecida Barrilari Alba e Raphael Barrilari Alba, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 37YAMAHA XT 600 E MBY 2602

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(DIMI e EVANDRO)Em 24 de junho de 2005, Evandro, agindo na condição de associado subordinado

diretamente a DIMI, compareceu ao estabelecimento BOX MOTOCICLETAS, localizado em Coqueiros, Florianópolis, onde, de posse de 12 mil reais em dinheiro originários de atividades criminosas da organização ligadas ao tráfico de ecstasy, adquiriu motocicleta YAMAHA XT 600, cor preta, placa MBY 2602, RENAVAM 756688744, chassis 9C64MW00010014868, de propriedade de Kristian Astoff Jayme. Kristian havia deixado sua moto à venda no estabelecimento SIMAS AUTOMÓVEIS, com procuração para venda ao lojista, que a repassou para Jean Carlos Silva da BOX MOTOCICLETAS. Evandro pagou o preço de R$ 12.500,00 à vista, em dinheiro e 500 reais em cheques de terceiros, e pediu que a moto fosse transferida para outra pessoa que mais tarde indicou como Fabiano de Alencar Mendes. Como Evandro insistisse, o vendedor Jean Carlos Silva entregou o documento preenchido para transferência a Fabiano, mas a propriedade nos registros de trânsito permaneceu em nome do antigo titular Kristian.

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Evandro Pereira de Lima incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 38PEUGEOT 206 AJZ 0868

(DIMI e EVANDRO)Em meados de abril de 2005, agindo na condição de associado subordinado

diretamente a DIMI, Evandro Pereira de Lima, de posse de 17 mil e 500 reais em dinheiro originários de atividades criminosas da organização ligadas ao tráfico de ecstasy, através de laranja, pessoa interposta conhecida por JUNIOR, adquiriu para a organização criminosa veículo PEUGEOT SELECTION 206, ano 2001, de cor preta, placa AJZ 0868, RENAVAM 762082836, chassis 8AD2C7LZ91W043807, de propriedade de Vanio Denis Mafra. Logo após aperfeiçoar a compra, em dinheiro, JUNIOR pediu ao vendedor que fizesse nova procuração diretamente a Evandro Pereira de Lima, documento este que foi encontrado na residência de DIMI-ROSE (fl. 132, APENSO I), o que é mais uma evidência que a lavagem de dinheiro realizada por Evandro, assim como por outros associados, era feita de modo subordinado à liderança, e sob vigilância de DIMI.

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Evandro Pereira de Lima incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 39MOTONETA SUNDOWN FIFTY DJJ 1303

DIMI e ROSENas mesmas condições em que regularmente vinha lavando capitais do tráfico para a organização, Roseli Aparecida Barrilari Alba adquiriu motoneta SUNDOWN/FIFTY 50, 2002/2002, RENAVAM 821911880, chassis 94J1XAAB22M000066, placa DJJ1303, de propriedade anterior de Sergio Luiz Gouveia, que transferiu o documento de propriedade

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para Roseli, por R$ 2.500,00, em São Paulo no dia 11 de janeiro de 2006.(doc. fl. 98 APENSO I).

Assim agindo, por converterem em ativo lícito produto de atividade de organização criminosa e do tráfico, os acusados associados Tasevski Gordanco e Roseli Aparecida Barrilari Alba, incorreram nas sanções do art. 1º, inciso I, da Lei 9.613/1998.

Fato 40(Evandro)

Evandro Pereira de Lima incorreu ainda nas sanções do art. 12, da Lei 10.826, de 22/12/2003, por possuir em sua residência, sem autorização regulamentar, 12 cartuchos de pistola intactos, calibre CBC 380, conforme Auto de Apresentação e apreensão do APENSO I, fl. 170.

CLASSIFICAÇÃO PENAL DOS FATOS (Individualização por acusado)

Assim agindo, incorreram os acusados incorreram nas seguintes sanções da lei penal: 1. Tasevski Gordanco, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, por 6 vezes (fatos 2, 3, 4, 5, 6 e 7) do art. 297 c/c 304, c/c 61, I, “b” do Código Penal, por 2x (fatos 9 e 11), do art. 299, c/c 61, I, “b”, do Código Penal, por 7x (fatos 8, 9, 10, 11, 12, 13 e 14),do art. 334 do Código Penal (fato 24) e do art. 1º da Lei 9.613/1998, por 16 vezes (fatos 24, 25, 26, 27, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 34, 35, 36, 37, 38 e 39). Todos os delitos praticados na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos), e em todos incidindo circunstância agravante do art. 62, I, do Código Penal; 2. Roseli Aparecida Barrilari Alba, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), do art. 1º da Lei 9.613/1998, por 8 vezes (fatos 24, 25, 26, 29, 33, 34 36 e 39) e do art. 334 do Código Penal (fato 24). Todos na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos);3. João Gomes Martins Neto, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 2), do art. 297 c/c 61, I, “b”, do Código Penal por 2x (fatos 15 e 16) e do art. 299, c/c 61, I, “b”, do Código Penal 2x (fatos 17 e 18). Todos na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos).

4. Rogério de Oliveira, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, por 6 vezes (fatos 2, 3, 4, 5, 6 e 7). Todos na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos);

5. Raphael Barrilari Alba, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), e do art. 1º da Lei 9.613/1998, por 2 vezes (fatos 27 e 36). Todos na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos);6. Élcio Antunes Américo, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, por 2 vezes (fatos 2 e 7), do art. 297, c/c 61, I, “b”, do Código Penal (fato 19), do art. 334 do Código Penal

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(fato 24) e do art. 1º da Lei 9.613/1998 (fato 24). Todos na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos). 7. Jorge Clerson Guimarães Saravy, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1);8. Reynaldo Lopes Simoni, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), e do art. 1º da Lei 9.613/1998 (fato 29), na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos);9. Evandro Pereira de Lima, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976, por 2 vezes (fatos 2 e 6), do art. 1º da Lei 9.613/1998, por 4 vezes (fatos 30, 31, 37 e 38), e ainda do art. 12, da Lei 10.826, de 22/12/2003 (fato 40). Todos na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos)10. Guilherme Haugg, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), e do art. 1º da Lei 9.613/1998, por 4 vezes (fatos 28, 30, 32 e 35). Todos na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos);11. Alexsandar Nestorovski, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1); 12. Dejan Nestorovski, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), do art. 12, c/c 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 2), do art. 297, c/c 61, I, “b”, do Código Penal (fato 20) e art. 299, c/c 61, I, “b”, do Código Penal por 4x (fatos 20, 21, 22 e 23). Todos na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos); 13. André Luiz Keller Silva, nas sanções do art. 288 do Código Penal e 14 c/c art. 18, I, da Lei 6.368/1976 (fato 1), e do art. 1º da Lei 9.613/1998 (fato 35), ambos na forma do art. 69 do Código Penal (concurso material de delitos);14. Milton de Oliveira Junior, nas sanções do art. 1º da Lei 9.613/1998 (fato 30). 15. Renato de Oliveira, nas sanções do art. 12, c/c 18, I e III, da Lei 6.368/1976 (fato 2). Considerações finais sobre periculosidade e cúmulo material das sançõesNa aplicação da pena, deverá ser especialmente considerada a periculosidade dos agentes e da própria organização, de caráter transnacional e cujo intento é acumular capital e fortuna ilícita e direcioná-lo para a intensificação da própria atividade do tráfico internacional. A periculosidade da organização mostra-se evidenciada neste inquérito em dois aspectos diversos e complementares. Primeiro, no alto poder de sedução que ela exerce, possibilitando a jovens o acesso a bens e vida de luxo em curto prazo. Segundo, na reduzida expectativa de vida dos agentes cooptados para a organização, objetos descartáveis no desempenho dos objetivos da firma. Assim, coincidentemente ou não, o inquérito começa com diligências que revelam, em maio de 2005, festa da organização criminosa, em camarote regado a champanhe em sofisticada casa noturna de Florianópolis, na Lagoa da Conceição. Encerra apurando a morte de um dos membros que serviram à firma: Renato Cabeça, morto em “briga de quadrilha” aos 29 anos de idade (fl. 226), em março de 2006. Além desses elementos de alta periculosidade, deve ser avaliado para retribuição proporcional à dimensão da conduta a proporção de

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magnitude do giro de capital da firma. Exemplos ilustrativos estão na apreensão de mais de 800 mil Euros em data recente, e o valor estimado da carga de cocaína do último grande negócio realizado (apreensão do Guarujá). A estimativa de preço do quilo de cocaína, para 1995, conforme relato do DEA (Drug Enforcement Administration), girou entre $10,500 e $36,000 (informação disponível na Internet, pesquisa por cocaine/DEA através do google). Assim, no patamar mínimo de valor, a carga apreendida estaria estimada em valor superior a 2 milhões de dólares. A permanência na atividade criminosa por longo período de tempo, sob forma de quadrilha e associação para o tráfico internacional, torna inaplicável, também, o benefício da ficção da continuidade delitiva. Paradigmático é o acórdão relatado pelo eminente doutrinador do Direito Penal Francisco de Assis Toledo, no REsp 507/SP (89.0009306-1), Em seu voto, reporta-se o Ministro Assis Toledo à exposição de motivos que introduziu mudanças na figura do crime continuado, com a Reforma Penal de 1984, reproduzindo o item 59 da Exposição de Motivos do Ministro Abi-Ackel:

“O critério da teoria puramente objetiva não revelou na prática maiores inconvenientes, a despeito de objeções formuladas pelos partidários da teoria objetivo-subjetiva. O projeto optou pelo critério que mais adequadamente se opõe ao crescimento da criminalidade profissional, organizada e violenta, cujas ações se repetem contra vítimas diferentes, em condições de tempo, lugar, modos de execução e circunstâncias outras, marcadas por evidente semelhança. Estender-lhe o conceito de crime continuado importa em beneficiá-la, pois o delinqüente profissional tornar-se-ia passível de tratamento penal menos grave que o dispensado a criminosos ocasionais. De resto, com a extinção, no Projeto, da medida de segurança para o imputável, urge reforçar o sistema destinando penas mais longas aos que estariam sujeitos à imposição de medida de segurança detentiva e que serão beneficiados pela abolição da medida. A Política Criminal atua, neste passo, em sentido inverso, a fim de evitar a libertação prematura de determinadas categorias de agentes, dotados de acentuada periculosidade”.

E prossegue, afirmando que na criminalidade profissional de organizações criminosas não há lugar para continuidade delitiva.

“As conveniências ou maiores comodidades de ordem processual não deveriam pesar para afastar as exigências substanciais de direito material, no tocante ao princípio fundamental da justa retribuição. E o eventual excesso de pena, causado pela aplicação do concurso material, encontra solução pela obrigatória aplicação da norma geral limitadora do art. 75 do CP” (Francisco de Assis Toledo, no REsp 507/SP (89.0009306-1).

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Por outro lado, a capacidade da organização criminosa de rapidamente reorganizar-se, quando em liberdade algum ou alguns de seus membros, exige que não haja solução de continuidade entre a prisão de seus agentes e o início da execução penal, que deve obediência ao regime dos crimes hediondos da Lei 8.072/1990, devendo correr em regime integralmente, ou pelo menos, inicialmente fechado. Incidem também os efeitos da Lei 9.034/1995 em seus artigos 7º, 9º e 10.

REQUERIMENTOSIsso posto, requer:

a) a citação dos denunciados para resposta escrita e demais procedimentos do rito processual, em especial dos artigos 38 e seguintes da Lei 10.409, de 11/1/2002;

b) o recebimento da denúncia e demais atos de instrução processual; c) A reunião dos inquéritos 0234/2006/SC, 5-255/2006/STS/SP e

0164/2006/SC, uma vez que a prova do primeiro é influente sobre os demais.

d) Não sendo viável tal reunião, que os documentos arrecadados no IPL 0164, copiados na fl. 22, relativos a André Luiz Kellee Silva, instruam estes autos.

e) Que se determine à autoridade policial que custodia os acusados que proceda à identificação criminal de todos os acusados envolvidos com o fato, independentemente de portarem identidade civil, na forma do art. 5º da Lei 9.034/1995.

f) Em audiência de instrução e julgamento, a ouvida das testemunhas ao final arroladas, limitado o rol ao número de 5, indicado no art. 37, III, da Lei 10.409/2003, para cada um dos fatos envolvendo delitos da Lei 6.368/1976, e indicada uma testemunha para cada um dos crimes de lavagem de dinheiro;

g) A conversão em moeda nacional de todo o numerário apreendido nos autos em moeda estrangeira; depósito em conta à disposição do Juízo de todos os valores apreendidos em moeda nacional;

h) Remessa à SR/DPF/SC das carteiras de identidade apreendidas para realização de perícia papiloscópica que compare as impressões constantes nos documentos apreendidos com as dos acusados, exceto com relação à de Gilmar Antônio Figueira da Silva, por já ter sido realizado o laudo (09/2006/NID/SETEC/SR/DPF/SC).

i) Em diligência para apuração mais completa dos falsos, que sejam expedidos ofícios às Secretarias de Segurança Pública e demais órgãos expedidores dos documentos pertinentes aos fatos denunciados como falsidade ideológica (fatos 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 20, 21, e 22),

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solicitando a remessa de cópia dos respectivos requerimentos e cópia dos documentos que os instruíram.

j) Remessa à Receita Federal, para os procedimentos fiscais tendentes à aplicação de pena de perdimento, de cópias autênticas dos termos de apreensão e do Laudo Merceológico de nº 261/06/SR/SC, para os procedimentos cabíveis na instância fiscal, sem prejuízo do perdimento e destinação dos bens a ser dado, provisória e definitivamente, na instância penal.

k) Sem prejuízo dos procedimentos a serem requeridos por petição em se-parado, na forma do art. 46, § 4º, da Lei 10.409/2002, que seja declara-da a indisponibilidade do imóvel matriculado sob nº 17.173, no Livro 2-CR, fls. 68, Registro de Imóveis da Comarca de Biguaçu;

l) Mesmo procedimento relativo a fração do imóvel matriculado sob nº 16.347, com área de 20.000,00m2, averbada para Roseli Aparecida Barrilari Alba (Cadastro INCRA 815.349.066.621-4, Receita Federal NIRF 4.192.679-0).

m) Seja comunicado ao Ofício do Registro de Imóveis competente, a indisponibilidade do apartamento de nº 509 do imóvel de nº 336 da Rua das Laranjeiras, Bairro Laranjeiras, Rio de Janeiro/RJ, de propriedade de Alexandre Martinelli Adamich.

n) Seja comunicado caso haja registro imobiliário ou de posse, ao Ofício do Registro Civil ou de Imóveis competente, a indisponibilidade do imóvel de nº 227 da Rua José Henrique Veras, Bairro Lagoa da Conceição, Florianópolis/SC, com 304 m2 e edificação em forma de edícula.

o) Seja comunicado caso haja registro imobiliário ou de posse, ao Ofício do Registro Civil ou de Imóveis competente, a indisponibilidade do imóvel correspondente ao Lote 16 da Servidão Dona Rita, na localidade de Rio Vermelho, Florianópolis/SC, com residência edificada em madeira.

p) AUTORIZAÇÕES DE USO: 1. Seja autorizado o uso, com fundamento no art. 46, § 1º, da Lei 10.409/2002, pela autoridade policial, em atividades de repressão ao tráfico de entorpecentes, dos equipamentos eletrônicos apreendidos em poder da organização criminosa, tais como scanner, televisão de plasma, notebook, aparelho de dvd player, monitor de computador, vídeo, filmadora, máquinas fotográficas digitais, receptor para televisão de plasma, cofre, cpu’s (incluindo teclado e estabilizador, caixa de som) – consoante fls. 08, 11, 43, 54/56 e 115/117 do Apenso I, mediante tombamento provisório e remessa a esse Juízo de termo de responsabilidade, individualizado, relativamente a cada um dos equipamentos eletrônicos de uso autorizado. 2. Seja autorizado o uso pela autoridade policial, em atividades de repressão ao tráfico de entorpecentes, de todos os equipamentos de telefonia móvel apreendidos nestes autos, mediante tombamento provisório e termo de responsabilidade individualizado, a ser encaminhado a esse Juízo. 3.

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Seja autorizado o uso, com fundamento no art. 46, § 1º, da Lei 10.409/2002, pela autoridade policial, em atividades de repressão ao tráfico de entorpecentes, dos veículos apreendidos e relacionados ao final, mediante condição de adequada guarda e uso, com despesas de rotina (combustível, óleo) por conta da Polícia Federal e despesas de manutenção permanentes (reposição de peças) mediante autorização do Juízo, à vista de orçamentos apresentados e por conta de valores apreendidos e depositados em conta judicial à disposição do Juízo, até disposição definitiva de perdimento, com o trânsito em julgado da sentença condenatória, uso que será precedido, quando não houver sido realizado, de perícia que descreva detalhadamente o estado geral de conservação do veículo, inclusive a quilometragem rodada, perícia a ser encaminhada a esse Juízo.

q) Enfim, a procedência da denúncia e a condenação dos réus às penas cabíveis, observados os regimes próprios (Lei 8.072/1990 e Lei 9.034/1995) de execução penal.

r) Como efeito de sentença condenatória, seja determinado o cancelamento, com a comunicações às autoridades competentes, dos documentos imputados de falsidade ideológica (fatos 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 20, 21, e 22).

s) Como efeito de sentença condenatória, seja decretado o perdimento em favor da União de todos os bens imóveis e móveis arrecadados no inquérito, valores em moeda apreendidos nos autos, e objetos de valor (jóias e outros bens móveis), telefones celulares, e veículos. Florianópolis, 4 de maio de 2006

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

ROL DE VEÍCULOS

1. GM/CELTA 2003/2004, placa DMR 0745, RENAVAM 818932643, chassis 9BGRDO8XO4G119260 (Auto de apreensão fl. 233).

2. caminhonete MMC L200 4x4 GLS, cabine dupla, cor prata, placa MEV 4490, registrada em nome do acusado Milton de Oliveira Junior, chassi 93XHNK3401CY09655, RENAVAM 749917113.

3. Veículo RENAULT SCENIC, prata, placa IKL 19874. motocicleta YAMAHA XT 225, de cor azul, placa MCF 1431, de titularidade de

André Luiz Keller Silva.5. HONDA CBX 250 Twister, placa MHQ 7380, vermelha, ano 2005,

RENAVAM 872536653, de propriedade anterior de Neusa Dias, chassis 9C2MC35005R052660.

6. CORSA/WIND de placas MBH-3205, registrado em nome de RAPHAEL BARRILARI ALBA

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7. PAJERO 4X4 2000 placa CVM 8998, cor preta, RENAVAM 74166707-0, chassi JMY0RK960YPY00106, (auto de apreensão, fl. 149, documento na fl. 154) em nome de Celso da Silva.

8. YAMAHA XT 600 E, 2001, placa MBY 2602, chassi 9C64MW00010014868, RENAVAM 602485285, em nome de Kristian Astoff Jayme (apreensão fl. 170)

ROL DE TESTEMUNHAS

Rol de testemunhas do fato 1 (Organização criminosa):1. Agente de Polícia Federal JAIR Ignácio Haas2. Agente de Polícia Federal OYAMA3. Jane Dayse Lopes Correia (fl. 147, documentos fls. 238268, APENSO I), Agente

de Viagem, residente na Servidão Siqueira, 225, Prainha, Fpolis, telefone 48 3225 8299, Celular 48 9102 0766, com endereço comercial na Ivoram Turismo Ltda., Rua Bocaiúva 2468, LOJA 123, telefone 48 3223 0469.

4. Alex Alves Benedet (fl. 169), residente na Rua Fermino Costa, 176, apto. 306, Capoeiras, Fpolis, telefone 48 9983 0754, endereço comercial na Rua Conde Afonso Celso, 139, firma ALEX BENEDET SERVIÇOS AUTOMOTIVOS, telefone 48 3348 7377.

5. Sidinei Rodrigo Amaral, (fl. 178) residente na Rua Valentim Camilo Garcia, 435, Ponte de Imaruí, Palhoça/SC, telefone 48 3341 1678, celular 48 9957 9562, endereço comercial na Av. Josué Di Bernardi, 620, SULKAR VEÍCULOS, Campinas, São José, telefone 48 3241 0288

Rol de Testemunhas do fato 2 – Apreensão de cocaína em GUARUJÁ/SP:1. Agente de Polícia Federal Otávio Picolin Junior, lotado no

NO/DRE/DRCOR/SR/DPF/SP,2. Agente de Polícia Federal Irineu Cintra Filho, SR/DPF/SC, 3. Agente de Polícia Federal José Luiz de Abreu TOPPOR, DPF/ITAJAÍ/SC,4. Noize dos Reis Santiago (fls. 66/67), residente na Rua José Inácio Correia, 405,

Bairro Jd. B Julião, Guarujá/SP, telefone 3392-4364, 8136-5850. 5. Gilene Rodrigues (fls. 071) residente na Av. Dom Pedro, 2223, apto. 21-A, Bairro

Enseada, Guarujá, telefone 3351-1628, com endereço comercial na Imobiliária Sol de Verão, na Av. Miguel Stéfano, 4695, Enseada, Guarujá/SP. Considerando a identificação por parte das testemunhas 4 e 5, realizada nos autos por fotografias, requer que a Carta Precatória para sua inquirição se faça acompanhar de cópias de fls. 066 a 076 dos autos de nº 2006.72.00.003863-2.

ROL DE TESTEMUNHAS DA LAVAGEM DE DINHEIRO

Do fato 25: Elenilce Mafra (fl.151), residente na Rua Vereador Pedro Medeiros, 1950, Biarro Dona Vanda, São José, telefone 48 3246 5332, celular 48 9127 9491

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Do fato 26: João Francisco Cavilha (fl. 162), corretor de imóveis estabelecido na Só Sítios Negócios Imobiliários, estabelecido em sua residência na Rua João Frederico Martendal, 583, Centro, Antônio Carlos/SC, telefone 48 3272 1341, celular 48 8402 9042, telefone comercial 48 3272 0494

Do fato 28: Andre Opilhar, residente na Rua Rita Loureiro da Silveira, 326, casa, bairro Lagoa da Conceição, Florianópolis/SC, telefone 48 3232 0225, celular 48 9983 4693, com endereço comercial (advogado)

Do fato 31: Ricardo Muller Caldas (fl. 159), residente na Rua Padre Paulo Condla, 464, casa, bairro São Vicente, Itajaí-SC, telefone 47 32480358 e 47 99141422, com endereço comercial na Rua Luiz Lopes Gonzaga, 1380 (KAKÁ MULTIMARCAS), bairro São Vicente, Itajaí-SC, telefone 47 3241 5191.

Do fato 32: Francisco Carlos da Silva (fl. 170), residente na Av. Beira Mar Sol, 10, Praia de Fora, Palhoça, SC, telefone 48 3286 6334, celular 48 99791729, com endereço comercial na Av. Altamiro Di Bernardi, 86, DIKAS CAR, Campinas São José, telefone 48 3241 8322.

Do fato 33: Douglas Souza Oliveira, (fl. 176) comerciante, residente na Rua Gaspar Dutra, 563, apto. 504, Estreito, Florianópolis, telefone 48 3248 3314, celular 48 9102 6644, com endereço comercial na Rua Santos Saraiva, 1204, (RB VEÍCULOS) Rumo Brasil Veículos, telefone 48 3244 6644.

Do fato 34: Henio Silveira, (fl.177) residente na Rua Humaitá, 146, apto. 302, bairro Estreito, Florianópolis, telefone 48 3244 7943, celular 48 99723928, com endereço comercial na Rua Dom Jaime Câmara, 179, sala 302, Centro, Florianópolis, telefone 48 3228600.Do fato 35: Robson Fernando Pereira Ramos, (fl. 183) residente na Rua Henrique Boiteux, 291, Cond. Barriga Verde, Bl. 99, Ap. 101, Estreito, Florianópolis, telefone 48 32442584, celular 48 84046936, com endereço comercial na Rua Francisco Tunes, Escadas Manske, Bairro Sul do Rio, Santo Amaro da Imperatriz, telefone 48 3245 5202.

Do fato 36: Leonardo Amaral, (fl. 185) residente na Rua Eugênio Portela, 939, Barreiros, São José, telefone 48 3240 7941, celular 48 99238887, com endereço comercial na Av. Josué Di Bernardi, 620, SULKAR VEÍCULOS, bairro Campinas, São José, telefone 48 3241 0288.

Do fato 37:Jean Carlos da Silva (fl. 188), residente na Rodovia Haroldo Soares Glavan, 825, Cacupé, Fpolis, telefone 48 33356016, celular 48 9961 7434, com endereço comercial na Rua Capitão Euclides de Castro, 94, Coqueiros, Fpolis, telefone 48 32440086.

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Do fato 38: Vânio Denis Mafra, (FL. 193) residente na Rua Esmeraldo Braga, 42, casa, Bairro Fazenda, Itajaí/SC, telefone 47 33481055, celular 47 84094811, com endereço comercial na TREDIEX DESPACHANTE ADUANEIRO, bairro Centro, Itajaí/SC, telefone 47 3249 0956.

DENÚNCIA NA TRANSAÇÃO PENAL

✔ Embora o procedimento varie segundo o autor da ação, havendo até mesmo casos em que o Ministério Público sabe do fato no dia da audiência de transação penal, o mais adequado (até mesmo pela divisão do trabalho, uma vez que nem sempre quem atua no processo é o mesmo que atuará na audiência) é conceber a PROPOSTA de transação penal com os mesmos requisitos da denúncia, de modo que se possa, caso não haja transação em audiência, imediatamente considerar a promoção como denúncia e oferecê-la, para todos os efeitos (caso contrário, a lei mandaria que fosse oferecida verbalmente).

✔ Casos mais rotineiros são de desacato. Mas também há aqui outros crimes como lesões corporais leves, moeda falsa na hipótese de o agente apenas desfazer-se de moeda recebida de boa fé, atestado médico ideologicamente falso e outros.

Ex. 1. Desacato (nomes omitidos em razão de haver transação penal com segredo relativamente aos dados do processo).

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Excelentíssimo Senhor Juiz Federal Presidente do Juizado Especial Criminal da Circunscrição Judiciária de Florianópolis

Procedimento Criminal Diverso 2003.72.00.013083-3Origem: Termo Circunstanciado nº 0021/2003-SR/DPF/SCAutor do Fato: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx

PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENALClasse: DesacatoArtigo 331 do Código Penal

Consta do Termo Cicunstanciado nº 0021/2003, acima indicado, que:

xxxxxxxoxxxxxxxxxxxxxxxxx, RG 44894961/II/SSP/SC, brasileiro, solteiro, filho de xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx e xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, natural de Itajaí/SC, aos 12 de dezembro de 1984, com instrução de segundo grau completo, comerciante, residente na Rua Major Livramento, 778, Centro, Biguaçu, telefone 243-25-74, e endereço comercial na Rua Sete de Setembro, 49, Centro, Biguaçu, SC,

Foi o autor do seguinte fato delituoso:

Na noite de 19 de setembro de 2003, o autor do fato antes referido foi abordado, no Posto de Polícia Rodoviária Federal situado na BR 101, km. 190, em Biguaçu, pelo Policial Gerson Luiz Auler, em fiscalização de rotina, uma vez que o autor do fato dirigia veículo da marca Fiat UNO, placas LZI 1358, com películas no pára-brisas proibidas pela legislação do trânsito. Após ser-lhe dito pelo policial que teria de retirar a película para seguir viagem, o autor do fato passou a desacatar o policial Gerson Luiz Auler, e mais tarde outros policiais de serviço no Posto Policial, com expressões de desprestígio à função pública por eles ocupada, do tipo: “vocês são um bando de folgados”, “porcos”, que estavam ali “porque não tinham estudado”, chegando a chamar o PRF Maurício de “lock”.

ASSIM AGINDO, incorreu o autor dos fatos nas sanções do artigo 331, do Código Penal, por desacatar funcionário público federal no exercício da função, delito punível com detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa.

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Em sendo o fato delito de menor potencial ofensivo, propõe desde logo TRANSAÇÃO PENAL, mediante a aplicação imediata de pena de multa no valor de 5 (cinco) salários mínimos, que poderão ser destinados, sob forma de cesta básica de produtos de alimentos ou higiene, a instituição assistencial credenciada nesse Juízo. Em razão do exposto, requer:

REQUERIMENTOS1. Para a oferta e aceitação da transação, requer a designação de audiência e

notificação do autor do fato, nos endereços indicados acima; 2. Sendo recusada a proposta de transação penal, requer seja recebida a presente

promoção como DENÚNCIA, e designada data para o seu recebimento, interrogatório do réu, instrução e julgamento, na forma da Lei 9.099/95.

3. Para a audiência de instrução e julgamento requer a intimação das testemunhas ao fim arroladas.

Florianópolis, 10 de dezembro de 2003

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

Testemunhas: 1. Mauricio Antonio da Costa, e2. Gerson Luiz Auler, ambos Policiais Rodoviários Federais, lotados e em

exercício no Posto da PRF de Biguaçu/SC, BR 101, km. 190.

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Caso 2. Atestado médico falso

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal Presidente do Juizado Especial Criminal da Circunscrição Judiciária de Florianópolis

Inquérito Policial 0566/2005Autos: 2005.72.00.009696-2Origem: Ofício 45/05/INQ/FPOLIS, de 7/4/2005Autores dos fatos: Cláudio Gastão da Rosa Filho, Bruce Riggenbach e Flávia Cardoso Meneghetti

PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENALClasse: Atestado médico ideologicamente falso e seu usoArt. 302 e 304, c/c 62, I e 61, II, ‘g’, todos do Código Penal

Consta do inquérito policial acima indicado que:

Bruce Riggenbach, RG 1/R-115.636/SSI/SC, brasileiro, casado, médico, nascido aos 27 de setembro de 1949, filho de Alberto Henrique Riggenbach e Maria da Glória Araújo, com instrução superior, residente na Rua Capitão Romualdo de Barros, 422, Carvoeira, telefone (48) 3333-5113, e (48) 9983-6678, com endereço comercial na Rua Pres. Coutinho, 579, sala 503, telefone (48) 3222-0781,

Cláudio Gastão da Rosa Filho, RG 2047448-2/SSP/SC, OAB/SC 9.284, CPF 741.993.589-00, brasileiro, advogado, filho de Cláudio Gastão da Rosa e de Zelita Chamone Gastão da Rosa, natural de Florianópolis, aos 28 de janeiro de 1970, com endereço comercial na Rua Vidal Ramos, 53, Sala 101, Centro, Florianópolis, telefone 3224-3161, EFlávia Cardoso Meneghetti, RG 3052928-0/SSP/SC, brasileira, advogada, filha de Orlando Meneghetti e Claudenir Cardoso Meneghetti, natural de Joinville/SC, aos 5 de outubro de 1979, com endereço na Av. Hercílio Luz, 1349, apto. 103, Florianópolis, e comercial na Rua Vidal Ramos, 53, Sala 101, Centro, Florianópolis, telefone 3224-3161,

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Foram autores dos seguintes fatos delituosos:

BRUCE RIGGENBACH emitiu, na condição de médico, no dia 14 de março de 2005, atestado médico falso, como favor a seu amigo íntimo CLAUDIO GASTÃO DA ROSA FILHO, que não estava doente e muito menos com amigdalite aguda que lhe impusesse afastamento do trabalho por três dias, porque tal quadro de doença é incompatível com o fato comprovado de que no dia seguinte, às 14h10min o mesmo advogado sustentasse, como sustentou, oralmente, defesa de cliente seu na Tribuna do Superior Tribunal de Justiça.

Assim, ficou evidenciado que CLAUDIO GASTÃO DA ROSA FILHO obteve documento falso, produzido por médico nessa condição para atestar fato médico, o que classifica o falso na forma privilegiada de falsidade ideológica do art. 302 do Código Penal, e o usou como prova falsa de fato juridicamente relevante (delito punível com a mesma pena do falso, por força do art. 304 do Código Penal), através da longa manus de sua sócia, associada ou empregada, a advogada FLAVIA CARDOSO MENEGHETTI, perante o Juízo Federal Criminal da Subseção Judiciária de Florianópolis, nos autos da Ação Penal 2004.72.00.017052-5, em curso perante o Juízo Federal Criminal de Florianópolis, no dia 14 de março de 2005.

A advogada FLAVIA, por seu turno, foi quem apresentou o documento em Juízo, em benefício e sob direção de seu agir pelo co-autor CLAUDIO GASTÃO FILHO, também beneficiário do falso, e com evidente consciência da falsidade, porque pela condição pessoal de sócia ou empregada deste não podia ignorar que ele não estava doente e nem com amigdalite aguda. Incide, em relação a CLAUDIO GASTÃO DA ROSA FILHO circunstância agravante do art. 62, I, por dirigir a atividade da co-autora FLAVIA. Incide, ainda, em relação a ambos, a agravante da violação a dever inerente à profissão, uma vez que é dever genérico dos advogados agir com lealdade processual. Não incide, relativamente ao co-autor médico a mesma agravante porque já é nuclear da conduta, que é crime de mão própria.

Assim agindo, incorreram nas sanções dos seguintes tipos penais. BRUCE RIGGENBACH, do art. 302 do Código Penal

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CLAUDIO GASTAO DA ROSA FILHO e FLAVIA CARDOSO MENEGHETTI, nas sanções do mesmo art. 302, do Código Penal, pela prática de delito do art. 304 do Código Penal, na forma do concurso de agentes do art. 29, com circunstância agravante do art. 62,I, para o primeiro e do art. 61, II, “g”, para ambos.

Em tais condições, por serem delitos, em tese, de menor potencial ofensivo, em razão de que a pena cominada é de 1 ano no máximo, o Ministério Público Federal oferece, desde logo, com fundamento no art. 76 da Lei 9.099/1995, proposta de transação penal, consistente na aplicação imediata de pena de multa, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), para o autor CLAUDIO GASTÃO FILHO, e R$ 1.500,00, individualmente, para dada um dos autores BRUCE RIGGENBACH e FLAVIA CARDOSO MENEGHETTI.

Em razão do exposto, requer:

REQUERIMENTOS1. Para a oferta e aceitação da transação, requer a designação de audiência e

notificação do autor do fato, nos endereços indicados acima. 2. Sendo recusada a proposta de transação penal, requer seja recebida a presente

promoção como DENÚNCIA, e designada data para o seu recebimento, interrogatório do réu, instrução e julgamento, na forma da Lei 9.099/95.

3. Para julgamento da eventual ação penal, requer a instrução do feito com o documento original apresentado como prova nesse Juízo, e procedência da denúncia com base no acervo probatório já colhido nos autos.

Florianópolis, 14 de março de 2006

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

(nomes dos autores do fato mantidos, porque rejeitada a transação penal e oferecida denúncia. Caso foi ao TRF4 em hábeas corpus em favor dos autores do fato, indeferido. HC nº 2005.04.01.048336-4/SC).

Caso 3. Lesões corporais levesExcelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal

Criminal de Florianópolis

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Inquérito Policial nº 0970/2004 Autos: 2004.72.00.000410-8Autor do fato: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Classe: Art. 129, caput, do Código PenalOfendido: xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxRepresentação do Ofendido na fl. 05 dos autos (constante de seu depoimento)

Proposta de Transação Penal

No inquérito policial ao alto indicado, instaurado por representação do ofendido à autoridade policial (fl. 05) apurou-se que o autor do fato,

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx, Agente de Polícia Federal, matrícula 2428804, lotado e em exercício na SR/DPF/SC, a seguir referido como APF Xxxxxxxx.

Praticou fato classificado como lesões corporais leves no art. 129, caput, do Código Penal, delito de menor potencial ofensivo, a seguir descrito:

No dia 18 de novembro de 2003, por volta das 08h15min, o autor do fato dirigiu-se à Academia de Polícia Civil localizada em Canasvieiras, nesta Capital, numa viatura da Polícia Federal onde também se encontravam outros policiais entre os quais a vítima, yyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyyy, adiante referido como APF Yyyyyy. No trajeto, em razão de comentários feitos pelo APF yyyyyy a respeito da conduta de colegas policiais, o autor do fato retrucou de modo ríspido às palavras daquele, mandando o APF Yyyyyy calar a boca e dizendo que “não sabia que você era dedo duro para ficar entregando colegas”. Esse comportamento verbal ríspido do APF Xxxxxxx, autor do fato, teve no final da tarde seqüência agressiva.

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Por volta das 18h15min, quando a vítima APF Yyyyyy já se encontrava de serviço no plantão policial da Superintendência de Polícia Federal nesta Capital, o autor do fato, APF Xxxxxxx, adentrou na sala do plantão e de modo abrupto e repentino desferiu golpe contundente (soco) no rosto da vítima.

A agressão provocou na vítima lesão traumática nasal com fratura e afundamento da parede lateral direita e fratura da lâmina perpendicular do etmóide e septo cartilaginoso (CID 502.2) conforme documento da fl. 13, para cujo tratamento teve de submeter-se a cirurgia plástica reparadora (rinoseptoplastia), que impediu resultado mais grave de debilidade permanente de órgão.

Assim agindo, incorreu o autor do fato nas sanções do art. 129, caput, do Código Penal, razão por que, em se tratando de delito com pena máxima igual a 1 (um) ano, propõe ao autor do fato transação penal, nas seguintes condições:

a) Reparação do dano material, orçado pela vítima, com documentos probatórios, em R$ 352,99 (trezentos e cinqüenta e dois reais e noventa e nove centavos), valor a ser depositado no prazo de 5 (cinco) dias após a audiência de transação, em conta corrente nº 129107-6, Agência 1808-2, do Banco do Brasil, em favor de Yyyyyyy Yyyyyy de Yyyy Yyyyyy, devendo o autor do fato comprovar o depósito nesse Juízo.

b) Reparação do dano moral decorrente do delito, avaliado em 50 salários mínimos, na data da audiência de transação penal, os quais são destinados pela vítima a uma das instituições assistenciais credenciadas perante esse Juízo.

c) Pagamento de Multa Penal no valor de R$ 2.000,00, em guia de recolhimento ao Fundo Penitenciário Nacional ou em favor de entidade assistencial credenciada nesse Juízo.

Diante do exposto requer: 1. Seja intimado o autor do fato para audiência preliminar de transação

penal. 2. Seja intimada a vítima para a mesma audiência, para eventual

composição diversa da que foi apresentada dos danos material e moral. 3. Caso o autor do fato não compareça ou recuse a proposta, que seja

recebida a presente promoção como DENÚNCIA, e designada data para o seu recebimento, interrogatório do réu, instrução e julgamento, na forma da Lei 9.099/95.

4. Para a audiência de instrução e julgamento requer a intimação das testemunhas ao fim arroladas.

Florianópolis, 19 de outubro de 2004

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Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

Rol de Testemunhas:

1. A, Delegado de Polícia Federal lotado na SR/DPF/SC2. Y, e3. Z, os dois últimos Agentes de Polícia Federal, lotados na SR/DPF/SC.

Técnica do arquivamento

A promoção de arquivamento é o contrário da denúncia, é manifestação de inviabilidade de exercício da pretensão punitiva do Estado. Ela normalmente se dá por dois motivos:

Art. 18 CPP. Falta de base para a denúnciaou Art. 43, I, II ou III do CPP (atipicidade do fato, extinção de punibilidade ou falta de condição de procedibilidade, quando a lei o exige).

As duas formas são opostas. A primeira é sempre uma proposta de arquivamento provisório, enquanto não ocorrer causa do 43, II. É de redação mais simples, no entanto, algumas observações técnicas são úteis.

✔ os juízos aqui nunca são positivos (está provado x e y). Logo a peça jamais é peremptória. Afirma-se apenas o seguinte: apurou-se autoria e materialidade de crime x e não se conseguiu reunir elementos hábeis ao oferecimento da denúncia.

✔ Um detalhe óbvio nesse caso é que esse Juízo negativo é próprio do titular da ação penal. Logo, em tese não é correto afirmar uma relação de causalidade do tipo: A ilustre autoridade apurou o delito x e não conseguiu encontrar elementos de autoria e materialidade, logo... Não. O titular da ação penal deve repassar o que foi apurado e dizer: todas as diligências possíveis foram realizadas, ou ainda, nem todas as diligências possíveis foram realizadas, mas

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as faltantes (por tais e quais motivos) não conduzirão a convicção hábil ao oferecimento da denúncia por tais e quais motivos.

✔ A peça de “mérito” que promove arquivamento por uma das causas do art. 43 (via de regra, a do inciso I) é peremptória, por isso ela deve ser fundamentada com segurança com base nos elementos de convicção disponíveis. Deve ser feito aqui um relatório do fato apurado (do delito em tese) e argumentação sobre a não ocorrência de delito. Nada do que se diz da denúncia, a respeito do “que abunda prejudica” aqui tem lugar, porque a peça de arquivamento é uma peça jurídica de argumentação. Logo, se couber reportar-se a jurisprudência, deve ser feito isso, inclusive para fundamentar que a opinião sobre o delito está sendo oferecida depois de verificar os contornos dados ao fato criminoso pela jurisprudência e doutrina. Casos ainda mais peremptórios são os que levam ao arquivamento por convicção de ocorrência de fato positivo que torna lícita a conduta (ex. legítima defesa).

✔ As formas mais comuns de disfunção da promoção de arquivamento são decorrentes de uma idéia segundo a qual o autor da ação penal promove o arquivamento daquilo que quiser, e a eficácia da peça está em ser “aprovada” (normalmente sem muita vontade de indeferimento) pelo Juiz. Não se deve pensar em que a promoção de arquivamento deva ser feita apenas para “passar” ou “pegar”, mas como se o autor da ação penal tenha diante de si a vítima do delito (e mais, além do Juiz, a sociedade).É para esses últimos que o arquivamento deve ser convincente.

✔ Eventualmente, pode ocorrer de se começar a redigir arquivamento que não sai, não engrena, e se transforma em denúncia, e vice-versa.

Arquivamentos simples (falta de base para o oferecimento da denúncia)

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial 0981/2004Autos: 2005.72.00.000711-4Classe: Furto, Art. 155Vítima: UFSC – Centro Sócio Econômico

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PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTOTrata-se de apurar a autoria de subtração de uma impressora marca HP na sala nº 112 do bloco “C” do Centro Sócio Econômico da Universidade Federal de Santa Catarina, ocorrida entre 23h do dia 09/12/2004 e 08h do dia 10/12/2004.Esgotadas as diligências, concluiu a autoridade policial que não há condições de apurar a autoria do delito, “não havendo testemunhas presenciais e não tendo sido encontrados vestígios papiloscópicos” (fl. 21). Reportando-me às razões constantes do relatório policial de fls. 20-21, requeiro o arquivamento do inquérito policial, com as cautelas de lei. Florianópolis, 16 de fevereiro de 2005

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

Casos de atipicidade, e outros, exigem fundamentação como as peça jurídicas em geral. Para indexação, consultas, eventual formação de bancos de dados tais peças podem ou devem conter ementas, palavras-chaves, etc. Ex de arquivamento do fato apurado, com prosseguimento do inquérito por outro.

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

Inquérito Policial nº 0571/2003Autos: 2003.72.00.014768-7Origem: Ofício MPT/CODIN Nº 649/2003REF. Procedimento investigatório 365/1998Investigados: JOAREZ DA SILVA e SONAE DISTRIBUIÇÃO BRASIL AS - BIGClasse: Desobediência, Constrangimento ilegal

Promoção de Arquivamento por Atipicidade da Conduta relativamente ao delito de desobediênciaProsseguimento, quanto ao Constrangimento ilegal

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1. Desobediência: Requisição de documentos. Omissão no atendimento à requisição. Cláusula do nemo tenetur se detegere. Atipicidade da conduta. Art. 330 CP. Art. 10 da Lei 7.437/1985.

2. Constrangimento Ilegal e Frustração de Direito Trabalhista. Revista pessoal e desnudamento do empregado. Dependência hierárquica e vínculo laboral que reduzem a capacidade de resistência das vítimas. Artigos 146 e 203 do Código Penal. Prosseguimento do inquérito relativamente a esses delitos.

Instaurado o inquérito policial acima indicado por notícia do Ministério Público do Trabalho, por Ofício de nº MPT/CODIN Nº 649/2003, de 31 de março de 2003, dando conta de o representante legal da empresa Sonae Distribuição Brasil AS – BIG, Joarez da Silva, desobedeceu à intimação do Ministério Público do Trabalho para apresentar documentos e informações, “as quais seriam utilizadas para apurar o ilícito noticiado”.

A intimação foi recebida no dia 7 de junho de 2002, pessoalmente pelo destinatário da ordem, Juarez da Silva (Aviso de recebimento postal, em cópia na fl. 14v).

À fl. 85 dos autos originais (fl. 15 deste) certificou-se a ausência de resposta do investigado à requisição. audiência.

Na intimação, consta remissão ao art. 10 da Lei 7.347/1985, relativamente ao crime de desobediência à requisição “de dados técnicos indispensáveis à proposição de ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público”.

Sendo inequívoco o conhecimento do teor da requisição pelo destinatário da ordem, cabe examinar a tipicidade da conduta relativamente ao delito de desobediência.

I- Desobediência

Não vejo como enquadrar a conduta no tipo especial de desobediência do art. 10 da Lei 7.347/1985. Isso porque é induvidoso que o destinatário da notificação é o próprio investigado. O que, aliás, está certificado nos autos. A situação em que notificado para produção de provas, por outro lado, é também na condição de investigado. O procedimento que visa a apurar ilícito trabalhista da empresa de nome fantasia BIG é procedimento “investigatório”.

A própria dicção do art. 10 da Lei 7.347/1985, parece que exclui da sanção penal o investigado.

“Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações do Tesouro Nacional – OTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de

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dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados pelo Ministério Público.”

No caso, foi requisitado ao investigado que apresentasse “uma relação de todos os funcionários demitidos no período de 28 de outubro de 1998 até 30 de abril de 2002, seus respectivos endereços e telefones”. As informações destinavam-se a apurar se a empresa persistia na conduta noticiada no Procedimento Investigatório 365/98, arquivado após Termo de Ajustamento de Conduta em que a empresa prometeu não mais efetuar revista pessoal em seus funcionários, assim compreendida toda revista que implique “contato físico entre vistoriante e empregado ou desnudamento deste”.

Parece então evidente que se requisita a colaboração do investigado para apuração de fato que lhe é imputado como ilícito trabalhista ou até mesmo penal (constrangimento ilegal). Assim, parece-me que não tem alcance o tipo penal do art. 10 da Lei 7.347/1985, que não pode obrigar o investigado a produzir prova contra si mesmo. Parece-me claro que o sujeito ativo desse delito precisa ser o destinatário da requisição de dados ou informações técnicas que possui e que tem o dever de fornecer, mas para que o Ministério Público proponha ação civil contra outrem. Essa restrição com certeza não está na lei, mas a lei penal aqui deve ser completada com o princípio da não obrigação de produção de provas contra si mesmo, como direito de todo investigado em processo de qualquer espécie. A cláusula não se restringe ao fato criminal e ao processo penal.

Ao comentar o princípio, afirma com propriedade Eduardo Muniz Machado que:

“Quanto ao alcance do sentido do nemo tenetur se detegere, é de se observar a lição de Maria Elizabeth Queijo. Segundo a mencionada autora, não há distinção essencial entre o momento de incidência atribuída ao preceito do nemo tenetur se detegere, podendo operar-se endoprocessual ou extraprocessual, ou seja, o direito de não se auto-incriminar pode ser exercido no curso de investigação criminal ou em qualquer outra instância não penal, devendo ser respeitado o direito de não produzir elementos probatórios contra si mesmo. Neste último caso, o que se pretende é que não seja sequer desencadeada a investigação criminal, pois tal direito não está adstrito ao processo penal já iniciado, mas sim a todas as situações que possam desenvolver uma acusação sobre o indivíduo, em vistas a evitar processo futuro e eventual, considerando a idéia de acusado atual ou potencial.

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“Entretanto o que deve ser ressaltado e que faz profunda diferença no âmbito de atuação do mencionado preceito é de que a incidência do direito de não produzir provas contra si mesmo deve ser mantida nas relações autoridade-indivíduo, sobretudo quando houver procedimento instaurado de natureza extrapenal, investigação criminal ou processo penal, para apurar determinado fato, havendo risco concreto de auto-incriminação. Nessa circunstância, incide o nemo tenetur se detegere sempre que se exigir colaboração do indivíduo. Frise-se, conforme destacado, que deve haver contra o indivíduo a instauração de procedimento, independentemente de ser este judicial ou não, mas deve existir a pretensão do Estado em apurar a existência de determinado fato. Neste caso, havendo a abertura de procedimento ou processo, deve-se resguardar o direito de não informar ou não declarar quando solicitado pela autoridade administrativa ou judicial.

(MACHADO, Eduardo Muniz. Delimitação do sentido e alcance do direito ao silêncio. Um estudo sobre a natureza jurídica e aplicabilidade do inciso LXIII do art. 5º da Constituição Federal, que garante o direito de permanecer calado. Jus Navigandi, Teresina, a. 9, n. 548, 6 jan. 2005. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6153).

Quanto à requisição de informações a Joarez da Silva, entendo que se aplica a cláusula da não obrigação de auto-incriminação, como direito que afasta a sanção penal prevista na Lei 7.347/1985. Pelo mesmo motivo, também não incide o tipo geral de desobediência do art. 330 do Código Penal.

II- Constrangimento Ilegal

A questão, porém, não se resume ao delito de desobediência porque a conduta apurada pelo Ministério Público do Trabalho, em minha convicção, também tipifica o delito do art. 146 do Código Penal assim redigido:

Capítulo VI-Dos crimes contra a Liberdade IndividualSeção I – Dos crimes contra a Liberdade Pessoal

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Constrangimento IlegalArt. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite ou a fazer o que ela não manda:Pena- detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

Permitir o empregado que seja alvo de revista pessoal pelo empregador, mediante contato físico e desnudamento, com certeza é consentir em fazer algo que a lei não manda e nem permite. Isso porque a liberdade pessoal é inalienável e indisponível, só podendo ser restringida por lei que permita agir. E com certeza a revista pessoal é procedimento tipicamente investigatório e de uso limitado às hipóteses que a lei prevê. A lei processual penal, por exemplo, prevê, a respeito da revista pessoal, tratada pelo Código de Processo Penal no capítulo da Busca e Apreensão:

Art. 240. A busca será domiciliar ou pessoal.§ 1º. Proceder-se-á à busca domiciliar, quando fundadas razões a autorizarem, para:(...)b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou contrafeitos;d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a fim delituoso;e) descobrir objetos necessários à prova da infração ou à defesa do réu;f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato.(...)h) colher qualquer elemento de convicção.§ 2º. Proceder-se-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do parágrafo anterior.

No sistema legal brasileiro a busca pessoal é concebida como diligência de investigação criminal e regulada pelo Código de Processo Penal. Segundo o Código de Processo Penal, o empregador, como “qualquer do povo” pode prender o empregado seu que “seja encontrado em flagrante delito” (art. 301 do Código de Processo Penal). Mas em matéria de restrição às liberdades não é

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correto dizer que “quem pode o mais, pode o menos”. Logo, o empregador não pode agir na forma do art. 240, § 2º, mesmo que tenha fundada suspeita de que o empregado possa estar ocultando produto de crime, porque essa diligência é privativa de autoridade e não foi deferida a “qualquer do povo”.

Em tese, então, toda busca pessoal realizada no ambiente de trabalho, pelo empregador, como forma de procurar produtos de furto ou outros crimes, é ilegal. Mas para ser também crime essa conduta precisa ajustar-se ao tipo penal do art. 146, que exige que ela seja acompanhada de três modos alternativos:

(a) mediante violência;(b) mediante grave ameaça; ou(c) depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade

de resistência.

De violência não se cogita, porque via de regra há consentimento da vítima para esse proceder. Mas, como é regra nos crimes contra a liberdade, o consentimento é relevante para esvaziar a figura da violência mas irrelevante do ponto de vista da consumação do constrangimento, porque a liberdade aqui é irrenunciável. De grave ameaça possivelmente também não. Se a demissão é um mal futuro, sério e verossímil, não pode ser considerada por si como mal injusto, porque a despedida imotivada é direito do empregador e há casos que regulam a despedida motivada. A terceira figura, porém, ajusta-se à conduta, uma vez que a simples situação de dependência hierárquica, decorrente do vínculo de subordinação do contrato de trabalho, já por si funciona como meio que reduz, de qualquer modo, a capacidade de resistência da vítima. Assim, perfeitamente consumado o delito de constrangimento ilegal do art. 146 do Código Penal. Por se tratar de atentado à liberdade pessoal, a competência seria estadual. Mas entram aqui dois fatores de modificação dessa competência. Um é a possível ofensa, também, ao art. 203 do Código Penal e outro é o interesse federal na fiscalização do meio ambiente do trabalho, relativamente à salubridade das condições de labor. A salubridade no meio ambiente laboral vem sendo reconhecida como algo mais amplo do que a mera proteção contra agentes físicos danosos. Segundo Celso Antônio Pacheco FIORILLO, meio ambiente do trabalho é “o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente da condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou

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menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos, etc.” (citado por Raimundo Simão de Melo, “Dignidade humana e meio ambiente do trabalho”, em Boletim Científico da Escola Superior do Ministério Público da União. Brasília: ESMPU, ano 4, n. 14, jan./mar., 2005. p.88).Do mesmo modo como tem interpretação ampla o termo “legislação tributária” no Código Tributário Nacional, para efeito de tutela da organização do trabalho é correto dizer que integram a expressão “legislação trabalhista” tanto os direitos assegurados por lei, em sentido estrito, como os que sejam veiculados em Convenções Internacionais ou na própria Constituição. E a Constituição assegurou aos trabalhadores o direito social de redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança. Há sem dúvida risco potencial de que a exposição permanente à conduta humilhante como revista pessoal mediante desnudamento acarrete prejuízos psíquicos ao empregado, e a redução desse risco seria direito trabalhista decorrente da auto-aplicação da primeira parte da cláusula constitucional do art. 7º, XXII, independentemente de norma legal específica que proíba esse procedimento. Assim, seja por ajustar-se também ao tipo do art. 203 do Código Penal, tendo por bem jurídico a organização do trabalho, seja por envolver interesse direto da União Federal, a quem compete fiscalizar o meio ambiente do trabalho, compete à Justiça Federal processar e julgar também tais atentados à liberdade pessoal dos empregados, vítimas da conduta.

Para melhor aproveitamento das diligências, é conveniente apontar que:

a) Pela pena cominada, ambos são considerados de pequeno potencial ofensivo, de competência do Juizado Especial.

b) Via de regra, se atuaria aqui pelo Termo Circunstanciado, mas, quando a situação de fato exige diligências de apuração, não está inviabilizado o uso (ou prosseguimento) do inquérito.

c) Deve-se atentar, porém, para a atualidade da conduta, relativamente à prescrição (tanto em abstrato como pela pena mínima, esta última em apenas dois anos, relativamente ao delito do art. 146).

Nas diligências já realizadas, apenas em relação a Michel David Hinkel, que trabalhou até 2002, ainda é viável a persecução penal, sendo as outras duas ocorrências mais antigas que os quatro anos do prazo de prescrição.

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Como os fatos são graves (e a condição de delitos de menor potencial ofensivo não retira a periculosidade social da conduta, como atentado à organização do trabalho), sugere-se que o inquérito policial tenha prosseguimento mediante:

a) investigação da situação atual, diretamente no local, para verificar se persiste a conduta criminosa,

b) a ouvida de outros empregados que seja vítimas da mesma conduta, preferencialmente cujos vínculos laborais sejam mais recentes.

c) De qualquer modo, a celeridade nas diligências e conclusão do inquérito, sob pena de não se poder agir, em razão de que a pena diminuta do delito impõe prazo de prescrição igualmente reduzido.

Diante do exposto, promovo o arquivamento do inquérito policial, apenas com relação ao fato noticiado como desobediência, com fundamento no art. 43, I, do Código de Processo Penal, em razão de que, ressalvadas posições em contrário, em minha opinião o fato apurado não constitui crime. Requeiro o prosseguimento, relativamente ao delito de constrangimento ilegal e frustração de direitos trabalhistas, na forma e pelos fundamentos acima deduzidos.

Florianópolis, 5 de dezembro de 2005

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

Caso de convicção por legítima defesa no inquérito. É dos mais peremptórios, porque qualquer dúvida deveria ensejar ação penal. O exame da prova começa pela hipótese de viabilidade da versão apresentada pela vítima, e só depois de que esta se comprova impossível, pela hipótese positiva de excludente de ilicitude. Deve-se conceber que o arquivamento positivo como esse é quase uma sentença, e por isso requer fundamentação quase similar à do juiz.

Excelentíssimo Senhor Juiz Federal da Vara Federal Criminal de Florianópolis

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Inquérito originário nº 129/2004/Autos 064.04.013842-2Autos: 2005.72.00.005696-4Investigado: Gean Gilberto FerreiraVítima: Ronaldo César dos Santos Estácio

IDO INQUÉRITO

Instaurado por iniciativa do investigado, que foi autor do Boletim de Ocorrência nº 1333/04, no dia 5 de março de 2004, às 11h47min. dando conta de ocorrência do dia 4 de março de 2004, às 20h35min, assim comunicada:

“Compareceu a esta Delegacia o comunicante relatando-nos que por ser policial rodoviário federal, estava fiscalizando veículos, quando recebeu a informação de que estava havendo troca de tiros nas proximidades da BR 101. Relata que segundo as informações os envolvidos estavam ocupando uma motocicleta e um Golf cor preta. Desta forma procederam abordagens para identificar os envolvidos. Ocorre que ao sinalizar para que um suspeito que trafegava na motocicleta Yamaha XP 600, e placas LZP 7504 parasse, pois este havia saído de uma passagem de pedestres proibida para quaisquer veículos, o condutor não obedeceu e conduziu a moto na sua direção, acelerando ainda mais. Que desta forma, não tendo outra alternativa e utilizando-se do único recurso disponível para conter a agressão, que lhe era destinada, já em vias de ser atropelado, sacou de sua pistola. Ainda tentando evitar o atropelamento, em movimento de retração, terminou por acionar o gatilho acidentalmente, sem a intenção de atingir o condutor da moto. O comunicante foi atingido na parte inferior da perna direita, fato que lhe causou lesão. Era o que havia a relatar”. (fl.3).

O inquérito foi autuado para apurar crimes contra a vida, e ainda a hipótese narrada pelo comunicante, enquadrada no art. 23 do Código Penal (autuação de nº 129/2004).

A vítima foi ouvida, no dia 9 de julho de 2004, em termo de declarações de fls. 5, em que contestou a versão apresentada pelo comunicante, PRF GEAN.

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Antes dessa inquirição, porém, a mãe da vítima, Dirsei da Cunha Estácio, comunicou ocorrência sob nº 1732/04, no dia 23 de março de 2004, onde relatou, como representante da vítima,

“que seu filho, RONALDO CÉSAR DOS SANTOS ESTÁCIO, 26 ANOS, na noite dos fatos trafegava na BR 101, em direção a sua residência, após sair do trabalho, empresa Nelson Piazza Móveis ME, e quando chegou no local onde deu-se os fatos, havia uma blitz na saída do túnel em frente a DVA veículos, realizada pela Polícia Rodoviária Federal, que naquele instante, multava uma motorista de nome TATIANE ALVES, testemunha dos fatos, tendo sido solicitado para vítima, que passava no local naquele instante, que parasse, tendo o mesmo parado há aproximadamente 04 metros de onde encontrava-se a viatura da Polícia Rodoviária Federal, tendo a vítima, após ter parado, sido ALVEJADA PELAS COSTAS, pelo acusado suso qualificado como indiciado, sendo que após a vítima ter sido alvejada, NÃO RECEBEU SOCORRO POR PARTE DO ACUSADO, tendo sido socorrido pelo Corpo de Bombeiros, que foi acionado por testemunhas do fato. Era o relato” (fls. 14).

No inquérito policial foram ouvidos o PRF GEAN, autor do disparo (fls. 22 e 93) e a vítima RONALDO (fls. 5 e 92) bem como todas as testemunhas presenciais da ocorrência.

Dentre os Policiais, RENATO FELICE FERRER (fls. 25 e 82) e JOHN KLEBER TEIXEIRA PIRES (fl. 36). Dentre particulares: EDSON GONÇALVES (fls. 10 e 87), CARLOS EDUARDO DO PRADO VIEIRA (fls. 12 e 89), LUCIANO GODINHO DA SILVA (fl. 130), TATIANE ALVES (fl. 132).

Foi ouvido ainda o PRF GILBERTO DURIGON FREITAS (fls. 8 e 81), que não viu o fato, mas a quem o PRF GEAN o reportou na ocasião em que pediu socorro.

Relevante registrar que as testemunhas populares, e presenciais, Luciano Godinho da Silva e Tatiane Alves foram ouvidas no inquérito mediante petição do advogado da vítima, Dr. Chrstian Guimarães Feltrin, que forneceu à autoridade endereços (fls. 05 e 129).

Foi realizado Laudo Pericial de Lesões Corporais na vítima, Inicial e Complementar, sendo que o último certificou que das lesões resultaram (Laudo 1502/05, fl. 143), inutilização dos membros inferiores, deformidade permanente e incapacidade para o trabalho.

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Foi realizado Laudo Pericial de Lesões Corporais no PRF GEAN, no qual foi observado:

“escoriação abrasiva extensa em face anterior da perna direita medindo até 7cm. De diâmetro com crosta sero-hemática associada a eritema e equimoses avermelhadas e edema local” (Laudo Pericial nº 1681/04, fl. 21).

O inquérito foi recebido na Justiça Federal em 1º de junho de 2005, e aberta vista ao Ministério Público Federal no dia 14 de junho de 2005.

Instruíram os autos cópias da Sindicância que concluiu por ABSOLVER o PRF JEAN, em razão de que, diante de tudo que foi examinado e ponderado,

“o servidor PRF Gean Gilberto Ferreira, acusado no presente processo, não teve responsabilidade no incidente que culminou com o disparo de arma de fogo que utilizava, uma pistola p.40, devendo-se a causa do ocorrido, conforme depura-se nos autos através dos vários depoimentos registrados, ao choque decorrente da motocicleta com os braços do servidor, o que culminou com o disparo acidental da referida arma.” (fl. 104). É o relatório.

II

DA PROVA

Ainda que a acusação pública se fundamente no princípio da dúvida em favor da sociedade, toda proposta acusatória formulada em denúncia precisa ancorar-se numa versão razoável do fato, amparada por alguma prova. Uma versão razoável a fundamentar a acusação seria a versão apresentada no Boletim de Ocorrência formulado pela mãe da vítima, em fl. 14.

O exame da prova deve começar pela razoabilidade dessa versão, e então verificar se há elementos de convicção hábeis a sustentar uma denúncia. Verifica-se desde logo que o inquérito já estava instaurado, por comunicação do indiciado (05/03/04) na manhã seguinte ao fato, que aconteceu à noite, quando a mãe da vítima registrou a ocorrência (em 23/3/04). Há nesse registro da mãe da vítima uma carga emocional muito forte, de quem não se conforma com o que se passou ao filho, que por fim teve incapacidade laborativa e está “em cadeira de rodas” (fl. 6). Mas o que primeiro realça desse registro de ocorrência é que ele contraria frontalmente a primeira inquirição da vítima. Na ocorrência se afirma que houve omissão de socorro.

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A vítima RONALDO, em 9 de julho de 2004, à polícia, disse que:

“os outros policiais que ali estavam falaram que iriam colocar o declarante na VTR da PRF, mas a moça que ali estava, a que estava sendo notificada pela PRF, falou que era para chamar o ASU; (...) Que logo em seguida chegou a ambulância e o declarante foi levado ao Hospital Regional” (fl. 06).

Toda a prova conforta a tese de que tanto o investigado quando os demais policiais rodoviários federais prestaram socorro, ou pelo menos permaneceram no local do fato prontos para socorrer a vítima, socorro que foi prestado pelo Corpo de Bombeiros ou porque o socorro oferecido foi recusado por populares, ou porque foi considerado ‘mais adequado’ conduzir a vítima em ambulância.

GILBERTO DURIGON, a esse respeito, diz:

“que estava de plantão no posto quando por volta das 20h35min, recebeu, via rádio, pedido do policial Ferrer para que providenciasse socorro dos bombeiros, ASU, posto que havia uma pessoa ferida, fornecendo a localização da ocorrência em frente a DVA Veículos, na marginal da BR, sendo N/S; QUE acionou a ASU e em seguida recebeu telefonema do policial Gean, ele informou que teria efetuado um disparo de arma de fogo e que o rapaz atingido estava no local. Que, como havia uma outra viatura na área, pediu, também via rádio o deslocamento para o local do acidente; (...) Que solicitou ao policial Gean que assim que fossem tomadas as providências de socorro a vítima e demais pertinentes voltasse ao posto” (fl. 08)

EDSON GONÇALVES, popular, diz à fl. 10 que depois do tiro:

“o PRF gritou ‘meu Deus, o que aconteceu’; Que o PRF ficou apavorado, no local e em seguida foi providenciado socorro, os PRF chamaram via rádio de celular deles próprios, o declarante os viu ligando” (fl. 10)

CARLOS EDUARDO DO PRADO VIEIRA, popular, à fl. 12, diz que:

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“o policial que tinha atirado disse iria colocar o ferido na VTR e então o outro PRF disse que iriam chamar a ASU; Que presenciou o outro PRF chamando o ASU; (...) Que o ASU demorou para chegar, cerca de vinte minutos, o rapaz foi levado ao hospital.” (fl. 13)

O PRF FERRER,

“que o socorro foi prestado pelo ASU pois é uma praxe nestas circunstâncias” (fl. 26)

O PRF JOHN KLEBER, à fl. 36, disse que:

“foi providenciado socorro à vítima, que a vítima foi encaminhada ao Hospital; Que o PRF Gean estava desesperado no local, com o acontecido, sendo que Gean era policial recente; Que tentaram acalmar o colega” (fl. 36).

TATIANE ALVES, popular, que presenciou o fato, disse à fl. 132 que:

“o PRF que atirou ainda falava, Tu não vai morrer, nós vamos te socorrer” (132).

Esse depoimento de Tatiane Alves é muito relevante. Isso porque revela essa testemunha a idoneidade do depoimento dos policiais entre eles o de FERRER e de outro popular, que presenciaram o fato de que populares que estavam sendo autuados pela PRF, com o ânimo exaltado, prometeram “culpar Gean”. Um dos autuados, por exemplo, fez proposta de diminuição da multa, não aceita pelo PRF GEAN, e então o autuado disse:

“ta vendo, não quis me ajudar, agora eu não vou ajudá-lo, e vou informar que o PRF que provocou o incidente” (fl. 85, depoimento do PRF FERRER).

EDSON GONÇALVES, fl. 88, recorda-se de

“uma mulher que estava sendo notificada pelos policiais ter dito que iria ‘ferrar’ com os policiais, ressaltando que estas afirmações foram feitas ao esposo da mesma que também encontrava-se no local”.

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Essa mulher é a declarante TATIANE, que admite ter dito tais palavras, de raiva, mas voltou atrás e declarou a verdade. Quando inquirida, à polícia, disse, sobre seu estado emocional na ocasião que:

“realmente falou que ‘iria ferrar o policial’, pois estava muito nervosa com as multas, assim como seu ex-namorado” (fl. 132).

A versão da vítima, com certeza, padece de distorção factual, em razão do choque emocional que tiveram seus pais ou de interesse pecuniário em ação indenizatória. Lamentavelmente, teve o pai da vítima de chegar ao extremo de procurar Tatiane para que ela fizesse um testemunho falso, mais favorável ao filho, segundo ela mesma relata:

“Que o pai do menino falou que era para ser testemunha de defesa do motoqueiro, pois depois do processo iriam ser agraciado com algum valor, pois o pai do rapaz disse que estavam processando a União e iriam receber uma boa indenização e depois de receber esse valor iriam procurar a declarante e Luciano, seu ex namorado e iriam ser ‘olhados’ com gratidão, que não foi falado em valor, que iriam receber, mas que deixou claro este fato, de receber dinheiro, em favor de um depoimento favorável ao motoqueiro, vítima neste caso, o que levou o tiro; que o advogado do rapaz motoqueiro/vítima telefonou para o namorado da declarante, não sabe o que eles conversaram; Que a declarante não aceitou, o possível recebimento de dinheiro, porque seus valores morais não concordam com isto, pensou, estou precisando muito de dinheiro, mas não posso fazer isto, Deus pode estar olhando.” (fls. 132/133).

Fica bem evidenciado que parte do relato constante do Boletim de Ocorrência formulado pela mãe da vítima, quanto à omissão de socorro, simplesmente não aconteceu. A vítima recebeu proposta de socorro diretamente pelo PRF GEAN. A vítima foi socorrida por ASU, porque foi considerado mais adequado, e até mesmo não seria cabível que o PRF Gean, em estado emocional prejudicado, pela ocorrência, conduzisse a VTR com a vítima ao Hospital.

Resta examinar se o disparo efetuado por GEAN foi acidental, como concluiu a Sindicância, se foi pelas costas com intenção de matar ou de ferir a vítima, como sustenta sua família no registro de ocorrência, ou ainda, se não sendo acidental, foi efetuado em resposta a injusta e atual agressão por parte da vítima, hipótese

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excludente da legítima defesa, em razão de atropelamento do policial Gean pela vítima, assim como, nesse caso, se houve moderação e outras circunstâncias necessárias a essa excludente, ou eventualmente qualquer excesso.

Em razão da flagrante falsidade de parte do relato de familiares da vítima, acerca da omissão de socorro, a hipótese mais razoável é iniciar o exame da prova pelo relato do PRF GEAN. Segundo este, em todas as oportunidades em que ouvido, o disparo foi acidental, após ter sacado da arma em reação a uma injusta agressão da vítima. Narra o policial, à autoridade que presidiu ao inquérito no dia 3 de agosto de 2004:

“por volta das 20 horas o declarante e seu companheiro de equipe o policial Ferrer, foram para a marginal da BR 101, no km. 204,6, marginal, do sentido N/S, próximo de um túnel, que é de passagem exclusiva de pedestres; Que, naquele local a comunidade reclamava muito de que motoqueiros utilizavam aquela passagem exclusiva de pedestres, para cortarem caminho;, passando de moto; Que por volta das 20h30min, o declarante e o policial Ferrer, já tinham abordado alguns motoqueiros que tinham passado na passada citada; Que em dado momento o declarante estava no local e passou um moto boy avisando que tinha havido troca de tiros, entre ocupantes de um golf preto e uma moto, no Bairro Floresta; Que a VTR estava estacionada, um pouco mais à frente da ‘boca’ do túnel, lado direito, de forma transversal, estacionada de frente para se fosse necessário estar pronta para sair de forma rápida; Que estava dentro da VTR, fazendo a autuação de uma moto, que estava sendo conduzida por uma mulher e que o marido dela apareceu em seguida e tentava convencer o declarante de não notificá-la; Que o declarante estava fazendo a notificação de tal mulher e o policial Ferrer de um outro motoqueiro; Que o declarante percebeu que estava saindo do túnel uma moto e então saiu rápido da VTR e como estava com a lanterna na mão esquerda e um apito, foi para o meio da via pública, a fim de abordar o motoqueiro, pois ele também estava incorrendo em irregularidade, estava cruzando o túnel, pilotando a moto, no local exclusivo de passagem de pedestres; Que apontou com a mão esquerda a lanterna na direção do motoqueiro e apitou, sinalizando para o condutor da moto parar; Que o condutor da moto estava há cerca de vinte metros do declarante. Que o declarante erguia o braço direito, sinalizando para ele parar e gritava, ‘polícia, pára’, mas ele não parou; Que como o

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condutor da moto vinha em direção ao declarante, quando a moto já estava bem próximo o declarante sacou da pistola 40, que estava usando, da corporação, arma de trabalho, apontou para o chão, enquanto o motoqueiro continuava a aproximação; Que o local era bem iluminado; Que como a moto se aproximava e, inclusive o condutor chegou a acelerar, quando já estava quase encostando no corpo do declarante, então o declarante ainda deu uns passos para trás; Que a moto veio a atingir a perna direita do declarante e então o declarante ‘jogou’ seu corpo para trás, mais para o lado e neste momento em que desviava da moto, acabou acontecendo o disparo (...) Que o declarante abaixou a arma, a guardou no coldre e foi em direção à vítima; Que observou que o condutor da moto estava com ferimento nas costas, então avisou o responsável pelo posto da PRF, pedindo socorro (...) Indagado se teria falado à vítima, caído que era para ela ficar quieta senão iria receber outro tiro, disse que é um absurdo esta afirmativa. Que ficou no local aguardando socorro” (fl. 23).

A vítima nega ter “atropelado o policial”, afirma que parou, e recebeu tiro pelas costas, e que Gean ainda teria dito: “fica quieto, senão vais receber outro tiro”. (fl. 05).

O Laudo Pericial de Lesões Corporais no policial, de nº 1681/04 (fl. 21), é, porém, compatível com a versão do PRF GEAN, de que foi efetivamente atropelado pela motocicleta dirigida pela vítima, o que lhe causou “escoriação abrasiva extensa em face anterior da perna direita medindo até 7cm. De diâmetro com crosta sero-hemática associada a eritema e equimoses avermelhadas e edema local”, verificado em exame realizado no dia seguinte ao fato.

A prova testemunhal é unânime em “não ter ouvido” a frase referida pela vítima, que o PRF GEAN considerou “absurda”. A prova, ao contrário, conforta a tese de que o policial, novo na corporação, estava literalmente desesperado diante do disparo, e dirigiu-se à vítima de modo absolutamente diverso ao pretendido por RONALDO. Como já referido pela testemunha TATIANE, esta ouviu o PRF GEAN, no momento em que se aproximou da vítima, dizer: “Tu não vai morrer, nós vamos te socorrer” (fl. 132).

Para a acidentalidade do evento, é preciso que haja unanimidade na prova no sentido de que o tiro foi simultâneo ao atropelamento. Para a legitimidade do ato do

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investigado de sacar a arma, é necessário que haja a concomitância desse ato com a atual e injusta agressão da vítima. Que ser atropelado é uma agressão capaz de comprometer a integridade física de qualquer pessoa não há a menor dúvida. Não se trata de uma motocicleta pequena, mas de 600 cilindradas, cuja investida sobre o pedestre é capaz de derrubá-lo numa violência que ponha em risco a própria vida. Uma motocicleta em marcha contra qualquer pedestre pode ser considerada “uma arma”.

Por outro lado, se houver essa prova de simultaneidade e de injusta agressão, então até mesmo a condição de ‘policial’ é irrelevante, pois qualquer pessoa nessa situação teria o instinto de auto-preservação de levar a mão à arma. O Direito Penal não tutela comportamentos extremos, nem de um lado o covarde ou pusilânime, nem de outro o herói, mas as pessoas normais. Por isso que pode ser compatível com a legítima defesa até mesmo o “atirar pelas costas” (RT 494/387), assim como é sabido que não há proporcionalidade matemática na aferição de moderação da repulsa. A esse respeito, comenta MIRABETE, reportando-se a jurisprudência:

“TJSP: ‘Não se pode pretender aja o agente da legítima defesa com matemática proporcionalidade. Defesa própria é um ato instintivo, reflexo. Ante a temibilidade do agressor e o inopinado da agressão, não pode o agredido ter reflexão precisa para dispor sua defesa em eqüipolência com o ataque’ (RT 698/333). TJSP: ‘O requisito da moderação na repulsa não exige critério milimétrico de aferição quanto à proporcionalidade da defesa ao ataque sofrido pelo réu. Isto é tranqüilo na jurisprudência, até porque, vendo-se na iminência de sucumbir e ser eliminado, lança mão o indivíduo de recurso que tem para sobreviver. Nessa fração de segundo já não dispõe de meios para procurar e eleger opções (RT 556/317). TJSP: ‘A legítima defesa é reação humana. Não se pode medi-la com transferidor, milimetricamente. Há situações de fato que forçam o agredido a se defender, resvalando, mesmo, por compreensível excesso’ (RT 549/312). TACRSP: É inexigível, em termos humanos, na legítima defesa, reação proporcionalmente milimétrica à agressão, pois quem se defende, não dispõe de controle emocional para agir friamente, em equivalência precisa com a violência sofrida (RJDTACRIM 9/111)” (Em MIRABETE, Julio Fabbrini. Código Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 1999. P. 210).

Veja-se a prova, então, à luz desses balizamentos doutrinários a respeito da legítima defesa, que se aplicam ao caso para a convicção de ser ou não legítima a conduta do policial agredido de sacar da arma, na situação.

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GILBERTO DURIGON diz que não presenciou o fato, mas que o PRF GEAN, ao reportar-se a ele imediatamente declarou que se tratava de tiro acidental logo após o atropelamento do policial pela vítima (fl. 09).

EDSON GONÇALVES, popular, que estava “no local providenciando o guinchamento de uma moto, que tinha sido recolhida pela PRF” (fl. 10) relatou sobre o fato que:

“Que olhou para a moto e em seguida um dos PRFs saiu de dentro da VTR, em direção de onde vinha a moto; Que o PRF estava com um apito, sendo que escutou o apito do PRF soar; Que na mão esquerda o PRF tinha uma lanterna; Que o PRF gritou para o motoqueiro parar, mas a moto seguia em frente; Que o condutor da moto seguia na mesma velocidade que saiu do túnel; Que o PRF estava cerca de vinte metros à frente da entrada do túnel, quando mandou o motoqueiro parar; Que o motoqueiro continuou vindo para cima do PRF; Que o PRF se colocou, se postou, na frente de onde vinha a moto; Que, quando a moto já estava quase encostada no PRF, a moto chegou a tocar no PRF, o policial já estava tirando a arma da cintura e em seguida aconteceu ‘um tiro’, Que o disparo aconteceu quando o PRF tentou jogar o corpo para trás, pois sentiu que a moto não iria parar (...) Que o PRF gritou ‘meu Deus, o que aconteceu’; Que o PRF ficou apavorado, no local e em seguida foi providenciado socorro” (fl. 10). (grifei)

Não há considerar “suspeito” o depoimento de Edson, porque poderia haver desse particular interesse em razão de seu ofício (trabalha com guinchos em ocorrências do tipo). Não é crível que tal interesse o levasse a falsificar a verdade dos fatos em benefício da PRF. Mas, o que salta aos olhos é que seu relato é compatível com o de outro particular, Carlos Eduardo do Prado Vieira, que estava sendo autuado pela PRF, e tinha motivos para estar ‘contrariado’ como sói acontecer com o infrator de trânsito. Disse CARLOS EDUARDO, à polícia, à fl. 12:

“estava aguardando a notificação, quando avistou uma moto XT 600, cor azul e branca, saiu da passagem de pedestres, tem certeza que o condutor desta moto estava pilotando a moto, estava montado na moto quando saiu do viaduto; Que o condutor da moto estava em baixa velocidade; Que o policial que estava ao lado do motorista, dentro da

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VTR, ao perceber a moto saindo do viaduto, saiu rápido da VTR e foi para o meio da rua, com uma lanterna na mão esquerda, lanterna acesa; Que o policial gritou para o condutor da moto, para ele parar; Que, quando o PRF foi para o meio da rua e gritou para o motoqueiro parar estava cerca de três metros do mesmo; Que o motoqueiro fez menção de parar, mas não parou, pois na realidade não deu tempo; Que o PRF se postou na frente da moto; o declarante acredita que o PRF queria impedir a passagem do motoqueiro usando o corpo como escudo, o PRF era grande e forte; Que, quando a moto estava encostando no PRF ele desviou o corpo para o lado e a moto passou, o motoqueiro tinha conseguido desviar um pouco do corpo do PRF; Que no momento em que a moto passava pelo PRF viu que o PRF sacou da arma que estava na cintura e o motoqueiro estava quase parando a moto, então viu a arma na mão do PRF, que estava na altura da cintura do PRF e aconteceu o disparo da arma; Que ao que viu a moto pegou de raspão na perna do PRF”. (grifei)

O depoimento de CARLOS EDUARDO, ligeiramente ressentido com a atuação policial, procura melhorar a versão do fato pró-motoqueiro, ao dizer que a moto estava há apenas três metros quando o policial, que seria um herói, se pôs diante dela como “um escudo humano”. Todavia, é compatível com o relato de EDSON no essencial, isto é, na simultaneidade em que houve o atropelamento do PRF GEAN e o “disparo”. Repare-se que o popular CARLOS EDUARDO sequer imputou ao policial rodoviário federal a iniciativa de atirar, mas narrou o tiro na forma “indeterminada” de vontade, isto é, disse que ao ser atropelado pela vítima, a arma disparou, ou melhor, que “aconteceu o disparo da arma” (fl. 12). Concorda também com o PRF GEAN em que este, ao perceber o evento, desesperou-se e chamou por “meu Deus”. Afirma CARLOS EDUARDO, no mesmo depoimento, que depois do tiro, GEAN “colocou as mãos na cabeça e disse: ‘Meu Deus, Nunca atirei numa mosca” (fl. 13). As palavras que a vítima relatou não apenas não foram ouvidas pelos presentes, como são incompatíveis com o teor emocional das palavras que efetivamente foram ditas pelo policial, confirmadas tanto por policiais quanto por populares.

RENATO FERRER, relatou sobre o evento:

“Que o policial Gean observou que outro condutor de moto tinha saído do túnel, então Gean falou que iria abordá-lo; Que Gean saiu da VTR e foi para o meio da rua, estava com uma lanterna na mão

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e lembra que Gean usou o apito, para alertar o condutor da moto; Que, em seguida ouviu o policial Gean gritar bem alto, Pára, Pára, diversas vezes; Que ao ouvir os gritos de Gean, de pára, pára, a atenção do declarante foi desviada para Gean e o tal motoqueiro; Que o motoqueiro seguia, na direção do policial Gean, não desviou do policial, não diminuiu a velocidade imprimida na moto, não sabe dizer a que velocidade a moto se aproximou de Gean; Que ao ver a situação de que o condutor da moto vinha ‘tocando a moto para cima de Gean’ o declarante abriu a porta da VTR e como estava um dos condutores que aguardava notificação, a saída da VTR ficou atrapalhada; Que estava tentando abrir a porta da VTR, quando ouviu um disparo de arma de fogo; Que viu que o condutor da moto seguia em frente e também olhou para Gean, sendo que Gean estava tentando se equilibrar; Que o motoqueiro seguiu mais cerca de 50 metros à frente e abriu os braços e caiu da moto; Que o condutor da moto em nenhum momento parou a moto” (fl. 26).

No mesmo sentido, depõe o PRF JOHN KLEBER TEIXEIRA PIRES (fl. 36). Relevante para a apuração da Verdade real, aqui, é o fato de que dois

autuados, um homem e uma mulher, disseram, na hora do fato, que:

“tá vendo, o policial não quis me ajudar, agora vou ferrar com ele”, referindo-se a Gean, ele ainda disse, “vou dizer que ele atirou de propósito” (depoimento do PRF FERRER).

Fica evidenciado aqui que – se o autuado, contrariado pelo auto de infração - iria prejudicar intencionalmente o policial GEAN dizendo que ele atirou de propósito, é porque todos viram naquele momento que o disparo da arma de fogo não foi intencional. Conforta essa tese o fato de que foi o advogado da vítima que trouxe à autoridade policial os nomes e endereços das duas testemunhas que no calor do fato prometiam prejudicá-lo (ver petição da fl. 129, e referência ao advogado da vítima no depoimento da fl. 05). Mesmo diante de oferta de dinheiro, ambos arrependeram-se tanto da promessa de prejudicar Gean por conta do auto de infração de trânsito quanto de eventual idéia de aceitação de promessa de “serem olhados com gratidão” pela família quando da ação indenizatória.

Depõe LUCIANO GOUDINHO DA SILVA, que:

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“o policial estava com uma lanterna de sinalização nas mãos e o PRF fazia sinal para a moto parar, porém o motoqueiro seguia na mesma velocidade e reduziu a marcha, pois o policial ficou de frente com ele; Que, quando o policial chegou perto da moto, a moto já estava bem em cima dele; Que o motoqueiro desviou para esquerda e em seguida aconteceu o tiro; Que viu quando o PRF sacou da arma, atirando, atingindo as costas do motoqueiro; Que a moto não chegou a bater no PRF, passou raspando; Que não sabe informar se o PRF fez algum movimento de desviar da moto, naquele momento, foi tudo numa de segundos; Que o motoqueiro caiu e foram até ele; Que o motoqueiro ainda falou, ‘o que fez comigo, não sou ladrão’; Que a vítima ainda disse vou morrer, o policial, muito nervoso, disse não vai morrer não; Que o PRF ainda disse que iria levar na própria VTR a vítima, então o declarante e sua namorada disseram que não que era para esperar a ambulância; que chegou em seguida e levou a vítima para o hospital (...) Que o tiro aconteceu quase simultâneo a passagem pelo PRF foi em seguida” (fl. 130).

O depoimento de Luciano, que prometera prejudicar Gean, mas arrependeu-

se, é totalmente compatível com a versão do investigado e toda a prova testemunhal produzida no inquérito, no sentido de que Gean foi atropelado pela vítima, e também de que foi ao mesmo tempo em que retirou o corpo de frente da moto que o policial sacou da arma, que o disparo foi “simultâneo”.

Acidentalidade não é um fato, mas conclusão lógica a extrair-se da prova, conclusão que é compatível com a prova uníssona sobre as circunstâncias do fato, que se deu “em questão de segundos”.

TATIANE ALVES, popular, elucida toda a ocorrência em seu depoimento, o

último colhido no inquérito e que veio pela mão do advogado da vítima:

“Que o policial, ao avistar a moto, correu para o meio da rua, estava com uma lanterna na mão; Que o motoqueiro na mesma velocidade que vinha, seguiu em frente, não parando; Que o policial gritava para o motoqueiro parar, mas acredita a declarante o motoqueiro não ouviu e seguiu em frente; Que o motoqueiro quando sentiu que iria bater no PRF ainda desviou dele, caindo em seguida; Que neste momento ouviu um tiro; Que o PRF atirou no momento em que a moto passava pelo PRF; Que o motoqueiro caiu numa vala, em seguida, após o tiro a moto ainda seguiu em frente, o motoqueiro caiu

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para trás, e o próprio PRF que atirou foi correndo que ainda gritava: ‘o que que eu fiz, meu Deus o que que eu fiz’. Que foi um tiro apenas; Que foi junto, o PRF que atirou ainda falava, Tu não vai morrer, nós vamos te socorrer.” (fl. 132).

Tatiane reproduz o essencial da cena do fato: a lanterna, que a moto seguiu para cima do PRF, que o tiro foi disparado no mesmo instante em que a moto passou pelo PRF. É relevante que reconhecidamente se arrependeu de seu propósito vingativo:

“Que realmente falou que ‘iria ferrar o policial’ pois estava muito nervosa com as multas, assim como seu ex namorado” (fl. 132).

O único elemento de convicção acerca de um agir doloso ou excessivo de GEAN estaria nas declarações de RONALDO. Todavia, suas declarações são contrariadas por toda a prova testemunhal, inclusive aquela que ele mesmo, através de advogado, trouxe para o inquérito. A respeito disso, é necessário apontar a gravidade da conduta relatada nos depoimentos de LUCIANO e TATIANE, que apontam que esta recebeu oferta de dinheiro para prestar falso testemunho em desfavor do policial.

Diz TATIANE:

“Que o pai do menino falou que era para ser testemunha de defesa do motoqueiro, pois depois do processo iriam ser agraciado com algum valor, pois o pai do rapaz disse que estavam processando a União e iriam receber uma boa indenização e depois de receber esse valor iriam procurar a declarante e Luciano, seu ex namorado e iriam ser ‘olhados’ com gratidão, que não foi falado em valor, que iriam receber, mas que deixou claro este fato, de receber dinheiro, em favor de um depoimento favorável ao motoqueiro, vítima neste caso, o que levou o tiro; que o advogado do rapaz motoqueiro/vítima telefonou para o namorado da declarante, não sabe o que eles conversaram; Que a declarante não aceitou, o possível recebimento de dinheiro, porque seus valores morais não concordam com isto, pensou, estou precisando muito de dinheiro, mas não posso fazer isto, Deus pode estar olhando.” (fls. 132/133).

Confirma a oferta o namorado, ou ex-namorado de TATIANE:

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“Que depois dos fatos, a namorada do declarante encontrou com o pai do motoqueiro, vítima, sendo que este pediu depoimento dela, favorável, no processo, ele mora perto dela; Que sua namorada ainda comentou que o pai desta vítima ainda ofereceu algo como em torno de dez por cento do valor da indenização que iria receber se ela prestasse depoimento mais favorável, para o motoqueiro, mas sua namorada disse que não poderia fazer isto” (fl. 131).

Não vejo delito na comunicação de ocorrência, com falsidades factuais, pela mãe da vítima (fl. 14) porque agiu esta como representante do filho a partir de elementos de convicção que lhe foram transmitidos por este, aliado ao fato de que a vítima não presta compromisso legal de dizer a verdade em nosso sistema processual. Mas a oferta de dinheiro para o falso testemunho é fato criminoso e grave. Ao pai de qualquer acusado é assegurado por lei o “favorecimento pessoal”, quando oculta fato criminoso de filho, mas não é lícito promover o falso testemunho em favor de versão do filho, vítima em processo penal, ainda menos quando movido por intuito meramente econômico, como a indenização civil. É sabido que a pretensão acusatória do Estado se baseia pelo princípio da

dúvida em favor da sociedade, e aqui aparece a gravidade dessa oferta de dinheiro para que testemunha popular faltasse com a verdade. É possível que um testemunho firme em consonância com a palavra da vítima fosse suficiente para configurar controvérsia, a exigir o oferecimento da denúncia, já que a promoção de arquivamento, em casos tais, não é admissível sobre o solo da controvérsia, mas apenas sobre convicção firme e fundamentada na prova no sentido de que não há uma versão da vítima hábil a dar ensejo à instauração da ação penal.

Esse fato, porém, demanda maiores apurações, razão por será extraída cópia integral do inquérito e desta promoção, com o objetivo de abrir-se investigação sobre ocorrência de delito do art. 343 do Código Penal, sob forma qualificada pelo seu parágrafo único, cuja consumação independe de a testemunha Tatiane recusar a proposta. O delito é formal, e o risco de aceitação da promessa de dinheiro, caso a testemunha não fosse idônea o suficiente, já configura o delito.

IIICONCLUSÃO

De toda a prova examinada, concluo que: a) O policial rodoviário federal deu efetivamente ordem verbal e sinalizada

suficientemente para que o particular parasse sua motocicleta;

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b) A motocicleta, por iniciativa do particular, não parou, e seguiu em direção ao policial;

c) Que esse ato do motorista da motocicleta, de porte razoável (600 cilindradas) configurou agressão injusta e iminente, passível de pôr em risco a integridade e vida do policial;

d) Que o policial somente sacou da arma como última ratio, em defesa própria e reação instintiva diante de injusta e iminente agressão;

e) Que ao sacar de sua arma, nessas circunstâncias, o policial agiu sob a excludente de ilicitude da legítima defesa própria;

f) Que mesmo assim, em situação de legítima defesa, e diante de agressão que já era atual, o policial não disparou intencionalmente para coibir a agressão, já que o disparo da arma de fogo foi simultâneo ao atropelamento e fortuito;

g) Que a reação emocional do policial diante da fatalidade, provada nos autos, aliada à prova testemunhal uníssona, bem como à prova pericial de que realmente foi atropelado, conforta o entendimento de que o Policial Rodoviário Gean foi autor de disparo fortuito de arma de fogo, logo após ter sacado da arma em estado legítimo de defesa.

h) Que a palavra da vítima não encontra amparo em nenhum elemento de prova, quer pericial quer testemunhal;

i) Que a testemunha Tatiane Alves recebeu, de parte do genitor da vítima, promessa de dinheiro em valor elevado (dez por cento do total da indenização que pleitearia à União) para produzir falso testemunho em inquérito e futuro processo penal, em desfavor do policial, oferta que foi recusada pela testemunha, e que será apurada em outro inquérito;

j) Que esse falso testemunho, se consumado, seria a única prova de sustentação da palavra da vítima e, conseqüentemente, de eventual persecução penal em desfavor do policial.

IVPEDIDO

Diante do exposto, e com fundamento nos artigos 23, II, c/c 25 do Código Penal, e 43, I, do Código de Processo Penal, que trata de rejeição da denúncia quando “o fato narrado evidentemente não constituir crime”, promovo o arquivamento do presente inquérito policial.

Florianópolis, 27 de junho de 2005

Marco Aurélio Dutra AydosProcurador da República

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Os exemplos usados aqui são reais, e podem conter defeitos, principalmente nos casos em que os indiciados são presos, e o prazo é de 5 ou 10 dias. Espaço do usuário do manualzinho, para observações, críticas ou modelos de tipos que não constaram aqui.

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