bioquímica da digestão

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15 Bioquímica da Digestão Alexandre Bussinger Lopes Digestão é uma quebra química e mecânica dos alimentos em pequenas unidades que podem atravessar o epitélio intestinal. A manutenção do bom estado nutricional necessita, obrigatoriamente, da disponibilidade de todos os nutrientes, além de ser necessário que as suas quantidades sejam adequadas às necessidades do corpo naquele momento.

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Alexandre Bussinger LopesMedicina UNIRIO

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Page 1: Bioquímica da Digestão

Bioquímica da Digestão

Alexandre Bussinger Lopes

Digestão é uma quebra química e mecânica dos alimentos em pequenas unidades que podem atravessar o epitélio intestinal.

A manutenção do bom estado nutricional necessita, obrigatoriamente, da disponibilidade de todos os nutrientes, além de ser necessário que as suas quantidades sejam adequadas às necessidades do corpo naquele momento.

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01. Cavidade Oral Digestão química: salivaFunções: primeira barreira de proteção; lubrificação do bolo alimentar; digestão de carboidratos; auxílio na limpeza dos dentes; conserva a língua livre de partículas de alimento.Digestão mecânica: mastigação - lábios, língua e dentes contribuem, criando um bolo mole.

Saliva Secretada pelas glândulas salivares e composta por 95% água, proteínas (mucinas, imunoglobulinas, lisozimas...), enzimas (amilase salivar e lipase lingual), íons inorgânicos como: K+, Ca2+, HCO3

- etc. O pH é cerca de 6,8. A secreção é estimulada pela norepinefrina e acetilcolina.Amilase salivar- Inicia a digestão de carboidratos- É capaz de realizar hidrólise de ligação na molécula de amido e glicogênio (α-1,4).- Inativada em pH 4,0 ou menos.Lipase Lingual- Não apresenta significado em humanos

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02. Esôfago Digestão mecânica pela ação das contrações peristálticas.

03. Estômago Cerca de 3,5 litros de alimento, bebidas e saliva entram na região do fundo do estômago a cada dia. O estômago tem uma série de tipos celulares que formam a mucosa gástrica que protege a parede do estômago do ataque das enzimas. O órgão exerce três funções básicas: armazenamento (já que o alimento ultrapassa o esfíncter pilórico em pequenas quantidades para o duodeno); digestão (enzimas e ácido clorídrico); proteção (o meio muito ácido extermina possíveis invasores microbianos).

Suco gástrico Fluido amarelo pálido, claro, com 0,2 – 0,5 % de HCl, 97-99% de água, enzimas (pepsina, lipase e renina), proteínas (mucinas) e sais inorgânicos; pH em torno de 1 a 2.Enzimas:

a) Renina- Coagula o leite, é importante no processo digestivos dos bebês, pois previne a passagem rápida do leite pelo estômago; - Na presença de cálcio, altera irreversivelmente a caseína do leite em paracaseína, facilitando o reconhecimento da pepsina.

b) Lipase (pouco expressiva)c) Pepsina

- Responsável pelo início da digestão de proteínas. As células principais secretam pepsinogênio (zimogênio – enzima inativa) que é ativada pela ação do HCl secretado pelas células parietais.

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Células da Mucosa Gástrica e sua Regulação Hormonal

04. Intestino

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Intestino Delgado: maior parte do sistema digestivo, podendo chegar a medir até oito metros. Por esse motivo, se dobra formando uma série de pregas que aumentam a área de absorção dos nutrientes que chegam através do alimento ingerido.

Suco Intetinal (Entérico) Enzimas:

a) Aminopeptidases – uma exopeptidase que quebra ligações peptídicas próximas a aminoácidos do terminal amino de peptídeos;

b) Dipeptidases (várias especificidades) - completam a digestão de dipeptídeos em aminoácidos livres;

c) Dissacaridades (específicas): *- α-glicosidase (maltase) – remove resíduos únicos de glicose em oligossacarídeos e dissacarídeos com ligações α-1,4;- Complexo sacarase-isomaltase – hidrolisa sacarose e ligações α-1,6 em α-dextrinas limites;- β-glicosidase (lactase) – para remover galactose e glicose, mas também ataca celobiose (produto da celulose);

d) trealase - hidrólise de trealose;e) fosfatase – remove fosfato de nucleotídeos, hexoses fosfato, glicerofosfato etc;f) Polinucleotidases – que clivam ácidos nucléicos em nucleotídeos;g) Nucleosidases – que catalisam a fosforólise de nucleosídeos para que estes forneçam bases nitrogenadas

livres e uma pentose fosfato;h) fosfolipase – que cliva fosfolipídeos;

*Dextrinas – digestão de oligossacarídeos que não foram inteiramente hidrolisados pela ptialina por serem ramificadas, já que a amilase salivar apenas reconhece ligações glicosídicas α-1,4 e não α-1,6.

Intestino Grosso: Absorção de água (formação de fezes) e presença de microbiota intestinal que realiza a fermentação do que o intestino delgado não conseguiu aproveitar e que produz Vitamina K2, por exemplo.

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Regulação Hormonal

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05. Glândulas Acessórias

- Fígado: produz a bile, substância que apesar de não possuir enzimas, contém sais que ajudam na emulsificação de lipídeos para que a digestão destes seja mais eficiente. A substância é armazenada na vesícula biliar até a hora de sua secreção no duodeno.

- Pâncreas: glândula anfícrina (que possui caráter endócrino e exócrino) e produz o Suco Pancreático, que é levado pelo ducto pancreático até o ducto biliar comum e secretado em conjunto à bile diretamente no duodeno.

Suco Pancreático Consiste de um fluido aquoso não viscoso que contém proteínas e outros compostos como: Na+, K+, HCO3

-, Cl-, Ca2+, Zn2+. Seu pH é alcalino e pode variar de 7,5 a 8,0.Enzimas:

a) Tripsinogênio (tripsina) – é específica para ligações peptídicas entre aminoácidos básicos;

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b) Quimotripsinogênio (quimotripsina) – específica para ligações peptídicas contendo aminoácidos neutros, tais como aminoácidos aromáticos;

c) Pró-elastase (elastase) – cliva ligações próximas a aminoácidos pequenos, tais como glicina, alanina e serina;d) Pró- carboxipeptidase (carboxipeptidase) – uma exopeptidase que atua sobre as ligações peptídicas no

terminal carboxila;e) Amilase pancreática – que cliva amido e glicogênio;f) Lipase pancreática – cliva ligação éster de triacilgliceróis;g) Fosfolipase A2 – hidrolisa ligação éster na posição 2 dos glicerofosfolipídeos tanto de origem biliar como

alimentar;h) Colipase – liga-se com uma razão molar de 1:1 a lipase, bem como à interface triacilglicerol recoberto com

sais biliares ( sais biliares são inibidores da ação da lipase no triacilglicerol);i) Colesterol esterase – catalisa a hidrólise de ésteres de colesterol;j) Ribonuclease e desoxirribonuclease – são responsáveis pela digestão de ácidos nucléicos alimentares.

Regulação Hormonal:

Digestão e absorção de carboidratos

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Digestão e absorção de Proteínas

Absorção de Vitaminas

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06. Hormônios relacionados ao controle da fome Colecistocinina (CCK)

- Estimula a contração da vesícula biliar e a secreção enzimática do pâncreas- Estimulada pela acidez do bolo alimentar e, especialmente, pelas proteínas digeridas no estômago.Obs1.: colescistoquinina também é está no cérebro e lá exerce uma função importantíssima nos processos de saciedade, funcionando como um regulador e apetite.Obs2.: Já foi observado que animais com deficiência de CCK no cérebro têm tendência a comer em excesso.

Leptina - Está envolvida com a formação da termogenina;

Correlação Clínica: A Fibrose Cística, também conhecida como mucoviscosidade é uma doença genética autossômica recessiva que causa um distúrbio nas secreções de algumas glândulas exócrinas. A alteração protéica

causa uma deformação dos canais de cloro, que passam a fazer um transporte anormal destes íons pelos ductos de glândulas mucosas, o que torna o muco muita mais viscoso, o que impede a eficiência do transporte mucociliar,

causando complicações respiratórios e no trato gastrointestinal.

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- É formada na gordura branca, mas também é encontrada no cérebro, onde bloqueia a liberação de alguns hormônios que estimulam o apetite e aumentam a secreção de colecistoquinina, que regula a saciedade;- Uma vez na circulação sangüínea ela se liga a receptores específicos no cérebro, levando ao sistema nervoso central um sinal de saciedade que reflete a quantidade existente de energia em forma de gordura no organismo.

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Hormônios oroxigênicos Promovem anabolismo e aumento de ingesta alimentar por sensação de fome. São secretados pelo cérebro e pelo intestino e é mais produzida em pessoas que comem pouco e em obesos. a) Neuropeptídeo Y – atua na ingestão de carboidratos;b) Galanina – aumenta a absorção de gordura.c) Grelina – “Hormônio da fome”- Produzido no estômago, no duodeno, no íleo, no cólon e no hipotálamo;- Ativa a ação do hormônio de crescimento e daí o seu nome original: ghrelin – GH significa hormônio de crescimento (growth hormone) e relin, liberação;- Aumenta a ingestão de comida e favorece a obesidade;Perda de peso, aumento dos níveis de grelina; Aumento de peso, diminuição do nível de grelina.Obs.: a leptina inibe a secreção destes hormônios.

Hormônios anorexigênicos Promovem catabolismo e diminuição da ingesta alimentar por sensação de saciedade.a) Melanocortina ( -MSH)- São peptídeos obtidos do processamento das proopiomelanocortinas (POMC), cuja expressão gênicaocorre no hipotálamo;- A -melanocortina é regulada pela ingestão alimentar; - Ativação de neurônios que expressam o RNAm das proopiomelanocortinas (POMC) modulado pela leptina:

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b)Pró-ópio melanocortina (POMC)- Um dos principais papéis da leptina no SNC é ativar os neurônios do núcleo arqueado do hipotálamo que expressam a POMC. Este próhormônio, sob a ação das pró-hormônio convertases, dá origem a peptídeos bioativos, incluindo a corticotrofina (ACTH), as melanocortinas.- MSH (e ) e a -endorfina.

c) GLP-1 (Glucagon-like peptide-1)- Produzido pelas células neuroendócrinas da mucosa intestinal e sua secreção no período pós-prandial é estimulada por nutrientes; - Estimula a secreção de insulina e inibe a secreção de glucagon;- Importante no controle da glicemia tanto no período pós-prandial quanto em jejum;- Está diminuído nos portadores de Diabetes Melitus tipo 2

Ações do GLP-1 em humanosApós ingestão de alimentos, o GLP1 é produzido nas células do intestino e este então:•Estimula secreção de insulina glicose-dependente•Suprime a secreção de glucagon•Retarda o esvaziamento gástrico•Reduz ingestão alimentar

Correlação Clínica: Nos pacientes diabéticos tipo 2 , a atividade do GLP-1 é insatisfatória, o que reduz as taxas de insulina e aumenta as de açúcar no sangue – as duas principais características do diabetes.

Secreção de GLP-1 em diabéticos, intolerantes à glicose e normais:

Concentração plasmática de GLP-1: (●), diabéticos, (□) intolerantes à glicose e (○) normais.

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Obs.: A injeção de GLP-1 não é um tratamento viável já que este hormônio tem um tempo de vida de poucos minutos. São utilizados, portanto, homólogos com maior tempo de vida e substâncias que atuam inibindo outros fatores, como a liraglutida.

d) Victoza (liraglutida)- Usado para tratar diabetes mellitus tipo 2;- Controla nível de açúcar no sangue;- Ajuda a reduzir seu nível de açúcar no sangue quando estiver alto;- Reduz a velocidade de passagem da comida pelo estômago;- Tem duração de 24 horas e melhora o controle da glicemia, reduzindo a glicemia em jejum e pós-prandial.