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B B I I B B L L I I O O L L O O G G I I A A Apostila preparada por Kleber Cavalcante em janeiro de 2004.

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Se enriqueça no conhecimento da Palavra de Deus!

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  • BBIIBBLLIIOOLLOOGGIIAA Apostila preparada por Kleber Cavalcante em janeiro de 2004.

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    OS TIPOS DE REVELAO H trs formas pelas quais Deus se revelou ao homem. Ele se revelou: POR MEIO DA NATUREZA Ou seja, Deus se revelou por meio das coisas que Ele criou. A Bblia afirma que os cus proclamam a glria de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mos (Sl 19.1). Diz tambm que ... os atributos invisveis de Deus, assim o seu eterno poder, como tambm a sua prpria divindade, claramente se reconhecem, desde o princpio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas (Rm 1.20). A criao uma prova de que Deus existe. Afinal, a complexidade deste universo indica que h uma mente inteligente por trs dele. Veja este exemplo: digamos que voc chegasse em uma sala e encontrasse um dicionrio em cima da mesa. A algum aparece e lhe diz que esse dicionrio surgiu do nada, por acaso. Diz que esse dicionrio no foi produzido ou elaborado por ningum. Ele simplesmente apareceu. Pergunto: quem acreditaria numa estria dessas? Ningum! E por que ningum acreditaria nisso? Por causa da chamada Lei da Causa e Efeito, uma lei cientfica. Essa lei diz que um efeito no pode ser maior do que a sua causa. Se o efeito um dicionrio, bvio que a causa desse dicionrio (o homem que o elaborou) maior do que o prprio dicionrio. O dicionrio s pode vir na forma de um sistema inteligente de informaes porque aquele que o criou um ser inteligente. Estou querendo dizer o seguinte: se o dicionrio algo complexo, necessariamente aquele que o criou tem de ser mais complexo ainda. Agora note a incoerncia. A teoria da evoluo afirma que tanto este mundo complexo em que vivemos, como ns mesmos, seres humanos, somos fruto do acaso. Diz que no houve um ser inteligente por trs da criao. Ora, isso fere frontalmente a lei da causa e efeito. Portanto, a complexidade da criao revela a inteligncia divina; a beleza da criao revela a criatividade e o bom gosto de Deus; a harmonia da criao (nascer e pr do sol, movimentos de rotao e translao etc.) revelam a exatido e preciso divinas, e por a vai... Reconhecemos que essa revelao natural limitada, pois deixa de revelar muita coisa a respeito de Deus. Por exemplo, no revela aquilo que Deus considera certo e o que Ele considera errado, alm de no dizer nada a respeito de como podemos nos relacionar com Ele. Porm, importante notar que essa revelao torna o homem indesculpvel com respeito ao seu interesse para com Deus. exatamente isso que o apstolo Paulo nos diz em Rm 1.20, 21: Porque os atributos invisveis de Deus, assim o seu eterno poder, como tambm a sua prpria divindade, claramente se reconhecem, desde o princpio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens so, por isso, indesculpveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus (esse conhecimento que foi dado pela revelao natural), no o glorificaram como Deus, nem lhe deram graas.... Portanto, se o homem v a revelao natural e no se interessa em glorificar ao Deus que criou todas as coisas, no se interessa em dar-lhe graas por tudo que Ele fez, tal homem indesculpvel e merece ser condenado por isso. Logo, a revelao natural pode no ser suficiente para

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    revelar muitas coisas sobre Deus, mas suficiente para condenar o homem que a ignora naquilo que ela se prope a revelar a respeito dEle. POR MEIO DA CONSCINCIA HUMANA Deus se revela ao homem por meio da conscincia. Se existe algo dentro de ns, que julga nossos atos morais, isso significa que Aquele que nos criou tambm um ser moral (lembra da Lei da Causa e Efeito?). Todo ser humano tem uma conscincia que o julga, condenando ou absolvendo aquilo que ele faz. Veja o que a Bblia diz a respeito disso: Quando, pois, os gentios, que no tm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, no tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes mostram a norma da lei gravada no seu corao, testemunhando-lhes tambm a conscincia e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se (Rm 2.14, 15). O problema da conscincia que ela julga de acordo com aquilo que o homem aprendeu como certo e errado. Por exemplo, se voc aprende que errado usar brinco, a conscincia automaticamente entrar em ao, fazendo uma acusao toda vez que voc pensar em pr um par de brincos. Isso quer dizer que a conscincia pode acusar de algo que no errado, pelo menos no aos olhos de Deus. O que temos de fazer, nesse caso, educar a nossa conscincia pelo conhecimento da Palavra de Deus, a fim de que ela nos acuse naquilo que Deus realmente condena. POR MEIO DAS ESCRITURAS Para se revelar aos homens por meio das Escrituras, Deus se utilizou de sonhos, vises ou comunicaes diretas. Essas coisas eram dadas somente quele indivduo que chamamos de profeta (Nm 12.6-8). O profeta um porta-voz de Deus. Ele fala em nome do Senhor, como se fosse o seu representante (Is 1.1, 2). A revelao de Deus nas Escrituras pode ser considerada uma revelao perfeita, porque ela nos diz tudo que precisamos saber em matria de f e de prtica. Ou seja, a Bblia nos diz tudo que devemos crer e tudo que devemos fazer com respeito a Deus e sua vontade. Ela nos diz exatamente quem Deus e o que Deus pensa do homem; fala das obrigaes do homem em relao a Deus e tambm sobre a salvao nica e exclusivamente por intermdio de Cristo, coisas que jamais saberamos pela revelao natural ou revelao pela conscincia. Por isso que o salmista pde dizer: Lmpada para os meus ps a tua palavra, e luz para os meus caminhos (Sl 119.105). A Bblia uma luz que ilumina o caminho por onde devemos andar. A Bblia tem todas as instrues necessrias para nos tornar pessoas perfeitas (2 Tm 3.16, 17), ainda que tenhamos conscincia de que a perfeio algo inatingvel nesta vida.

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    O CNON DAS ESCRITURAS Cnon o nome dado ao conjunto de livros que compem a Bblia. Essa palavra vem do grego kanwn (kann), e significa, literalmente, cana. Antes de haver os modernos instrumentos de medio, os antigos usavam uma cana como vara de medir. Eles pegavam, por exemplo, uma cana de um metro e usavam como padro para essa medida. Para saber quantos metros havia num terreno, bastava saber quantas canas cabiam dentro dele. Por causa disso, a cana se tornou um sinnimo de vara de medir, padro ou regra de medio. Num sentido figurado, o termo cnon passou a se referir a um padro a ser seguido, uma norma ou regra que deve ser observada. Desde os tempos antigos a expresso tem sido utilizada dessa maneira. Veja s: Aristteles (384-322 aC), comentando sobre a capacidade do homem em discernir a verdade, disse que ele era a norma (kann) e a medida (mtron) da verdade (Aristteles, tica a Nicmaco, III.4 1113a 33).

    Se pesquisarmos a histria da Igreja, veremos que Orgines (c. 185-254 dC) parece ter sido o primeiro a empregar a palavra cnon como um termo tcnico aplicado ao conjunto de livros da Bblia. Nesse sentido, podemos entender que a expresso cnon bblico diz respeito ao conjunto de livros da Bblia que servem de norma, regra ou padro para a vida do homem. QUAIS LIVROS FAZEM PARTE DO CNON BBLICO? Sabemos que o cnon se divide em Velho e Novo Testamentos. H uma divergncia entre catlicos e protestantes com respeito aos livros que fazem parte do Velho Testamento. Os protestantes (ou crentes) defendem a tese de que o Velho Testamento deve conter apenas 39 livros, que so os seguintes: Gnesis, xodo, Levtico, Nmeros, Deuteronmio; Josu, Juzes, Rute, 1 Samuel, 2 Samuel, 1 Reis, 2 Reis, 1 Crnicas, 2 Crnicas, Esdras, Neemias e Ester; J, Salmos, Provrbios, Eclesiastes e Cantares; Isaas, Jeremias, Lamentaes de Jeremias, Ezequiel e Daniel; Osias, Joel, Ams, Obadias, Jonas, Miquias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. J os catlicos insistem em que o Velho Testamento deve conter tambm aqueles livros que os crentes chamam de livros apcrifos. O termo apcrifo quer dizer, literalmente, secreto, oculto, escondido; Popularmente, a expresso passou a significar hertico, falso. A Igreja Catlica os chama deutero-cannicos, palavra que significa, literalmente, segundos cannicos, visto que foram canonizados depois dos primeiros, que esto na nossa Bblia. Esses escritos foram adicionados ao Velho Testamento em 1546, no Conclio de Trento. No so somente livros. H alguns acrscimos aos livros cannicos de Ester e Daniel. Ei-los: 1. Tobias (traz uma fbula sobre um demnio que impedia uma moa de perder a virgindade). 2. Judite (Apresenta uma moa hebria que corta a cabea de um general inimigo de Israel). 3. acrscimo ao livro cannico de Ester

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    Inserido no Captulo 3, especificamente no verso 13, como sendo o contedo da carta referente ao extermnio dos judeus. 4. Sabedoria (parece uma mistura de salmos e provrbios). 5. Eclesistico (parece muito com Provrbios). 6. Baruque (contm a Carta de Jeremias, que ele teria dado aos que seriam levados para a Babilnia. Aparece como contedo do Captulo 6 de Baruque) semelhana de Ezequiel, Baruque foi um profeta que viveu no exlio babilnico (1.1, 2). 7. trs acrscimos ao livro cannico de Daniel: Cntico dos Trs Jovens (dentro da fornalha), inserido no Captulo 3; Susana e o Julgamento de Daniel, inserido como Captulo 13 (Daniel o advogado de Susana) e Bel e o Drago, inserido como Captulo 14 (Daniel elimina o drago com um bolo explosivo). 8. I Macabeus (conta a histria dos judeus no perodo interbblico). 9. II Macabeus (conta a histria dos judeus no perodo interbblico). Note que, de livro mesmo, foram acrescentados sete: Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesistico, Baruque e I e II Macabeus, o que faz com que a Bblia catlica tenha um total de 73 livros, e no 66. Alm disso, ela tambm possui, com vimos acima, um acrscimo ao livro de Ester e trs acrscimos ao livro de Daniel. Todos esses livros e acrscimos foram escritos no perodo entre o Velho e o Novo Testamento (cerca de 400 anos). Perodo equivalente ao tempo entre os profetas Malaquias e Joo Batista. Por que esses livros no so considerados cannicos pela Igreja Protestante? 1) Porque nenhum judeu admite, at hoje, que so inspirados por Deus. No esqueamos que o Velho Testamento se originou no meio do povo judeu. Eles eram os responsveis pelas Escrituras do Velho Testamento (Rm 3.1, 2). Obs.: a palavra orculo tem dois significados. Pode significar cada uma das divindades entre os gregos antigos que respondia a consultas sobre o futuro ou, como o caso aqui, a escritos ou mensagens de origem divina. Por isso que a BLH traduziu o texto da seguinte maneira: Deus entregou a sua mensagem aos cuidados dos judeus. Veja a traduo da NVI: aos judeus foram confiadas as palavras de Deus. Os judeus no reconhecem a inspirao desses livros porque, como eu disse acima, eles foram produzidos no perodo entre os profetas Malaquias e Joo Batista, e esse perodo conhecido como silncio proftico, visto que no se levantou nenhum profeta de Deus. Ora, se no havia profeta, no poderia haver profecia, no mesmo? 2) Porque eles no so citados nem no Velho e nem no Novo Testamento. Jesus citou praticamente todos os livros do Velho Testamento, mas no citou nenhum dos livros apcrifos. 3) Porque nenhum dos escritores desses livros apcrifos diz que seu livro inspirado ou que ele mesmo - o autor - foi inspirado por Deus. Em outras palavras, os prprios escritos no reivindicam inspirao divina. Inclusive, veja o que diz o autor de 2 Macabeus, no final de seu livro: 15.37 e 38: .

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    4) Porque eles contm erros histricos, geogrficos e cronolgicos. Um exemplo disso pode ser obtido no livro de Judite. Nesse escrito temos a afirmao de que Nabucodonosor reinou sobre os assrios em Nnive, capital do Imprio Assrio (1.1). Porm, a histria revela que Nabucodonosor nunca foi rei dos assrios, mas sim dos babilnios, e que ele assumiu o trono da Babilnia quando Nnive no mais existia (ela foi destruda em 612 aC, enquanto que Nabucodonosor se tornou rei em 609 aC).

    Alm disso, Holofernes apontado como general de Nabucodonosor em 2.4, sendo que, na verdade, esse homem foi oficial de um rei persa chamado Artaxerxes III, que viveu enre 358 e 338 aC. 5) Porque eles ensinam e apiam doutrinas herticas, como por exemplo: - Justificao pelas obras (Eclesistico 3.30 e Tobias 4.10 e 12.9);

    - Mediao por meio de anjos (Tobias 12.12 e 15); - Orao pelos mortos (II Macabeus 12.39-45); - Supersties (Tobias 6.7-9, 14-18), entre outras heresias;

    6) Porque eles contm mitos e lendas. H histrias nos livros apcrifos que so claramente fantasiosas, como o bolo explosivo que mata um drago. Essa histria est em um acrscimo feito ao livro de Daniel, chamado Bel e o Drago (Dn 14.23-27). QUAIS OS CRITRIOS ADOTADOS PARA DEFINIR OS LIVROS QUE FORAM REALMENTE INSPIRADOS POR DEUS? Havia cinco critrios bsicos adotados para se definir se um livro era ou no inspirado por Deus. So eles: 1) O livro tem autoridade divina? Ou seja, ele afirma ser palavra de Deus? Isso pode ser percebido claramente nos livros considerados cannicos. Com freqncia vemos as expresses Disse o Senhor, Assim diz o Senhor, Veio a mim a palavra do Senhor, o Senhor me disse etc. (Gn 7.1; Ex 7.1; Js 20.1; Jz 6.25; 1 Sm 2.27; 1 Rs 18.1; J 38.1). Outra indicao de que o livro tinha autoridade divina era se houvesse declaraes ou exemplos sobre o que os crentes devem fazer ou como deveriam agir (Sl 1.1-3; Pv 28.13; Ec 12.13; Ct 2.2 cf. 1 Pd 3.7; e Ct 7.7 cf. 1 Co 13.1 e 1 Pd 1.22).

    Por fim, se o livro trouxesse histrias sobre o que Deus tem feito na vida do Seu povo, isso tambm era considerado como indicao de que o livro poderia ser inspirado (Rt 2.19, 20; Et 4.10-5.3). Digo poderia porque essas caractersticas isoladas no provam definitivamente que um livro inspirado. Na verdade, o ideal que o livro preenchesse os cinco critrios da canonizao. 2) Foi escrito por um profeta ou algum reconhecido como porta-voz de Deus? Este era o critrio mais importante. Se o autor fosse um profeta reconhecido, automaticamente o livro era tido como inspirado, sem necessidade de averiguao dos outros critrios. Afinal, seria lgico que os outros critrios estariam automaticamente satisfeitos.

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    3) confivel? Ou seja, no contm erros factuais ou doutrinrios? Se um escrito contivesse erros histricos, por exemplo, era imediatamente descartado. Deus sabe todas as coisas e no pode mentir. Logo, como possvel que um escrito inspirado por Ele contenha erros de qualquer natureza? Com respeito aos erros doutrinrios, isso era verificado em relao aos escritos j inspirados. Se um livro que se dissesse inspirado contradissesse um escrito inspirado j existente, esse livro era descartado como inspirado. Foi por causa desse critrio que alguns se opuseram epstola de Tiago como sendo inspirada. Diziam que Tiago defendia a salvao pelas obras, enquanto que Paulo j havia escrito que a salvao pela graa, independentemente de obras (Tg 2.14-17 cf. Rm 3.20, 28 e Gl 2.16). Essa questo s foi resolvida quando concluram que a verdadeira f em Cristo resulta em boas obras. verdade que a salvao s pela f, mas no uma f qualquer, como aquela que at os demnios tm (Tg 2.19). A partir do momento em que cremos em Cristo, deveria ser natural que vivssemos uma vida comprometida com Ele, produzindo frutos ou as chamadas boas obras (Jo 15.5; 2 Co 5.17; Gl 5.23; Ef 2.8-10). 4) Tem poder para converter, transformar e edificar vidas quando lido ou pregado? O raciocnio era simples: se o escrito fosse realmente palavra de Deus, ele logicamente teria poder para converter e transformar e edificar vidas, pois essas so caractersticas que a Bblia nos fornece com respeito a si mesma (1 Pd 1.23-2.2; Jo 8.32; Hb 4.12; 2 Tm 3.16, 17). 5) aceito pela maioria da igreja, pela maioria do povo de Deus? A igreja sempre acreditou que Deus deu ao Seu povo a capacidade de discernimento com respeito identificao do que do que no inspirado. Essa convico est baseada no texto de Jo 14.24 e 16.14 e 15, onde Jesus afirma que faz parte do ministrio do Esprito Santo ensinar e anunciar a Palavra de Deus aos crentes. Cremos que o Esprito faz isso quando primeiramente nos convence de que a Bblia a Palavra de Deus e, depois, quando nos ensina continuamente essa Palavra. Os reformadores chamavam esse aspecto de testemunho interior do Esprito Santo. Um dos motivos porque a canonizao dos livros do Novo Testamento s ocorreu no final do Sculo 4 dC (em 393, no Conclio de Hipo, e em 397, no Conclio de Cartago), foi justamente por causa desse critrio. Era necessrio verificar se a maioria da igreja aceitava os 27 livros do Novo Testamento. Como naquela poca os meios de comunicao e transporte ainda no eram desenvolvidos como hoje, passaram-se muitos anos at que houvesse uma verificao adequada. Cabe salientar que alguns livros da Bblia sofreram por causa desse critrio, como 2 e 3 Joo. Isso porque esses dois livros foram endereados para pequenas igrejas da sia. Logo, dificilmente poderiam ser reconhecidos pela maioria dos crentes no mundo de ento. O fator decisivo na seleo dos dois foi o reconhecimento do apstolo Joo como sendo o autor. Como eu disse acima, no ponto 2, esse critrio era decisivo.

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    A INSPIRAO DAS ESCRITURAS Cremos que a Bblia foi inspirada por Deus. Com essa afirmao, estamos querendo dizer que a Bblia foi escrita por seres humanos inspirados ou guiados pelo prprio Deus. De fato, o apstolo Paulo afirma que toda a Escritura inspirada por Deus... (2 Tm 3.16). Veja tambm o que o apstolo Pedro tem a dizer sobre esse assunto: ... nenhuma profecia da Escritura provm de particular elucidao; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Esprito Santo (2 Pd 1.20, 21). O QUE SIGNIFICA DIZER QUE OS HOMENS DA BBLIA FORAM INSPIRADOS POR DEUS? Na linguagem popular, dizer que uma pessoa fez alguma coisa por inspirao significa que tal pessoa foi estimulada por algum fator para realizar algo. Um poeta, estimulado ou inspirado pelo amor que sente por sua musa, pode escrever uma bela poesia. De forma semelhante, os escritores bblicos foram estimulados pelo prprio Deus para escrever a Bblia. Mas como se deu esse estmulo? Como foi exatamente que Deus usou esses homens? Seguindo o roteiro do Prof. Hermisten Maia Pereira da Costa, em seu livro A inspirao e inerrncia das Escrituras (pgs. 93ss), diremos primeiro o que a inspirao NO FOI, para depois dizermos o que ela foi. O QUE A INSPIRAO NO FOI: A INSPIRAO NO FOI UMA COISA MECNICA OU DITADA. Os escritores bblicos no receberam o contedo da Bblia por meio de um ditado divino, como se simplesmente tivessem escrito, palavra por palavra, aquilo que Deus lhes dizia ao p do ouvido. Se fosse desse jeito, haveria uma uniformidade de estilo na Bblia, mas no isso que acontece. Cada escritor escreve do seu jeito, de acordo com sua prpria capacidade de expresso. Por exemplo, nem todo escritor bblico escreve de forma irnica como o apstolo Paulo (1 Co 4.7, 8), ou usando belas figuras de linguagem como o profeta Isaas (Is 32.14-17). O prprio apstolo Pedro admite que Paulo tinha uma maneira toda peculiar e difcil de entender: e tende por salvao a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o nosso amado irmo Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epstolas, nas quais h certas coisas difceis de entender... (2 Pd 3.15, 16). A INSPIRAO NO FOI PARCIAL OU FRACIONADA Deus no inspirou apenas algumas partes da Bblia e deixou de inspirar outras. Muita gente considera que a Bblia no a Palavra de Deus, mas que ela contm a Palavra de Deus. Ou seja, dentro da Bblia existe a Palavra de Deus, mas no , toda ela, a Palavra de Deus. Os telogos liberais, supostos crentes estudiosos das Escrituras, afirmam descaradamente que a Bblia s inspirada em assuntos morais e espirituais, contendo muitos erros em termos de histria, geografia, cronologia, arqueologia etc.

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    Para confrontar a heresia da inspirao parcial, apelamos novamente s palavras do apstolo Paulo em 2 Tm 3.16: TODA a Escritura inspirada por Deus.... Note bem: TODA a Escritura inspirada. Toda. No apenas parte dela, mas toda ela. Deus no inspirou apenas os assuntos morais e espirituais; inspirou tambm os dados histricos, geogrficos e arqueolgicos que temos nas Escrituras. Portanto, no existe um Cnon dentro do Cnon. A INSPIRAO NO FOI SIMPLESMENTE MENTAL, EM TERMOS DE IDIAS, MAS SIM EM TERMOS DE PALAVRAS TAMBM Se Deus tivesse simplesmente inspirado as idias, e no as palavras utilizadas, poderia haver erro na transmisso do que foi inspirado. Contudo, a prpria Bblia afirma que Deus deu aos escritores as palavras que foram registradas. Basta dar uma olhada nos seguintes textos: Ex 24.4; 34.27; Jr 1.9; 36.2 e Ap 21.5. Para Jesus, tudo que est nas Escrituras foi inspirado, ainda que seja um i ou um til (Mt 5.18). O Senhor Jesus tambm chegou a apelar, numa discusso, para apenas uma palavra da Bblia, a fim de derrubar o argumento de seus oponentes (Jo 10.30-36, especialmente os vs. 34 e 35). Isso confirma a inspirao de Deus como algo que envolve palavras isoladas, e no apenas idias. VEJAMOS AGORA O QUE A INSPIRAO REALMENTE FOI: A INSPIRAO FOI UM PROCESSO EM QUE DEUS, POR MEIO DO ESPRITO SANTO, CONDUZIU HOMENS SANTOS NA COMPOSIO DOS ESCRITOS BBLICOS (2 Pd 1.20, 21). Nessa conduo, Deus preservou a opinio, a personalidade e as emoes de cada um desses homens (1 Co 7.7; 9.14, 15; 2 Co 11.28; Gl 1.6; 4.14-20), mas de uma tal maneira que tudo o que eles disseram foi exatamente aquilo que Deus queria que eles dissessem (1 Co 2.4, 5, 9-13; 1 Ts 2.13). Essa conduo ou inspirao de Deus no isentava os escritores bblicos de fazerem consultas ou pesquisas para escrever. Muitos dos escritores da Bblia citam livros seculares que eles mesmos consultaram ou pesquisas que eles mesmos realizaram para compor o que temos em mos (Gn 5.1ss; 2 Rs 12.19; Lc 1.1-4; Tt 1.10-12; Jd 14, 15). O fato que Deus, evidentemente, conduziu esses homens em tudo que fizeram no que se refere composio do Escrito Sagrado. Isso significa que at mesmo as pesquisas ou consultas feitas foram orientadas e conduzidas pelo Esprito Santo. Vale ressaltar que o fato de Deus ter permitido a citao de um determinado texto no quer dizer, necessariamente, que Deus estava concordando com tudo o mais que foi dito ou escrito por tal autor. Temos de considerar apenas que aquele dado especfico, citado pelo escritor inspirado, foi includo pela vontade de Deus. E s. No a fonte que torna uma informao falsa ou verdadeira, maligna ou santa. A verdade uma s, e ser sempre verdade, no importa quem a diga. Se Adolf Hitler dissesse que devemos amar a Deus sobre todas as coisas, ele estaria absolutamente certo e teria todo o apoio divino, independente de tal verdade ter sado da boca de um dos piores genocidas do mundo. O que alguns autores bblicos fizeram foi

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    apenas extrair, de fontes seculares, aquelas verdades que Deus quis que fizessem parte do registro sagrado. QUEM SO OS HOMENS QUE FORAM INSPIRADOS POR DEUS PARA ESCREVER A BBLIA? Essa resposta pode ser obtida basicamente na prpria Bblia ou nas tradies judaica e crist. Quando digo tradio, estou me referindo s informaes que os prprios crentes passaram, de gerao para gerao, com respeito a esse assunto. Devo destacar que podemos confiar na tradio judaica com respeito ao Velho Testamento, pois o apstolo Paulo diz que os judeus foram responsveis por essa parte da Bblia (Rm 3.1, 2). Vejamos primeiro quais foram os autores do Velho Testamento: GNESIS, XODO, LEVTICO, NMEROS E DEUTERONMIO. Esses primeiros cinco livros da Bblia so chamados de Pentateuco. Essa uma palavra grega que significa cinco rolos. Naquela poca no se escrevia em papel, como fazemos hoje, mas em argila, folhas de planta ou couro. Os rolos eram feitos de couro, e eram chamados rolos simplesmente porque ficavam enrolados. A tradio judaica aponta Moiss como o autor do Pentateuco. A favor da autoria de Moiss para o Pentateuco, temos o seguinte:

    1) Moiss apontado na Bblia como o homem mais erudito da Antigidade (At 7.22). No podemos nos esquecer de que o Egito era uma das naes mais adiantadas da poca em termos de conhecimentos diversos,

    2) O autor tinha de ser algum que tivesse conhecimento de detalhes no apenas do Egito e da corte egpcia como tambm dos desertos por onde o povo de Israel passou (Ex 1.11; 7.11, 12; 13.20; 15.22, 23; 16.1 etc.). No seria natural que Moiss fosse o mais indicado para escrever essa obra? Alm do mais, parece bvio que o autor participou pessoalmente das coisas que relatou (Ex 15.27; Nm 11.7, 8).

    3) Vrios textos comprovam que Moiss escrevia, e sob a direo de Deus (Ex 17.14; 24.4; 34.27; Nm 33.2; Dt 31.9, 24). O fato de haver relatos na 3 pessoa no quer dizer nada. O profeta Isaas introduz seu livro na 3 pessoa e apresenta trechos na 1 pessoa (Is 1.1; 6.1). Assim tambm, Moiss escreve trechos na 3 pessoa e trechos na 1 pessoa (Ex 15.22; Dt 18.15). Isso era comum entre os escritores bblicos (Os 1.1 cf. 3.1a; Jl 1.1 cf. 1.19; Am 1.1 cf. 7.5 etc.).

    4) Os escritores bblicos do Velho Testamento confirmaram a autoria de Moiss para o Pentateuco (2 Rs 14.6 cf. Dt 24.16; Ne 13.1, 2 cf. Dt 23.3-5).

    5) Os escritores bblicos do Novo Testamento confirmaram a autoria de Moiss para os cinco primeiros livros da Bblia. Observe: Joo, o autor do quarto Evangelho, diz que a lei foi dada por intermdio de Moiss (Jo 1.17), e lei era uma expresso genrica para se referir ao Pentateuco (Jo 7.22, 23), tambm conhecido entre os judeus como Livro da Lei, Livro da Lei de Moiss ou simplesmente Lei de Moiss (Js 1.7, 8a; 2 Rs 14.6; Lc 24.44); o apstolo Pedro, em um de seus sermes, cita um trecho do Pentateuco como tendo sido escrito por Moiss (At 3.22 cf. Dt 18.15), e o apstolo Paulo tambm confirma a autoria de Moiss para o Pentateuco (Rm 10.5 cf. Lv 18.5; Rm 10.19 cf. Dt 32.21);

    6) Jesus mesmo confirma Moiss como escritor sagrado. Ele reconhece que Moiss tinha escritos no Cnon (Jo 5.46, 47), que foi Moiss quem deu a lei aos judeus (Jo 7.19) e cita vrios textos do Pentateuco como tendo sido

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    escritos por Moiss (Mt 8.3, 4 cf. Dt 24.8; Mt 19.7, 8 cf. Dt 24.1-4; Mc 7.9, 10 cf. Ex 20.12 e 21.17; Lc 20.37-39 cf. Ex 3.1-6; Jo 7.22 cf. Gn 17.9, 10). Uma questo normalmente levantada contra a autoria de Moiss que ele no poderia ter escrito o primeiro livro do Pentateuco, o livro de Gnesis, visto que ele nasceu no perodo referente ao incio do livro do xodo (Ex 2.1-10). Contudo, acabamos de ler que at Jesus aceitava a autoria de Moiss para o livro de Gnesis (Jo 7.22 cf. Gn 17.9, 10).

    Devemos lembrar que toda a Escritura inspirada por Deus (2 Tm 3.16a), inclusive o livro de Gnesis. Isso quer dizer que Deus pode ter dado revelaes diretas a Moiss com respeito ao contedo do primeiro livro da Bblia ou at, quem sabe, ter conduzido Moiss na organizao de informaes passadas de pai para filho at os tempos de xodo. Isso no invalidaria a inspirao divina, pois at essa organizao de informaes teria sido conduzida pelo Esprito Santo (cf. Lc 1.1-4, esp. v. 3). Sabemos tambm que fcil traar uma tradio oral de informaes desde Ado at Moiss. Observe: Ado gerou Sete aos 130 anos (Gn 5.3). E Ado viveu 930 anos ao todo (Gn 5.5). Sete gerou Enos aos 105 anos (Gn 5.6). Ado estava com 235 anos. Enos gerou Cain aos 90 anos (Gn 5.9). Ado estava com 325 anos. Cain gerou Maalalel aos 70 anos (Gn 5.12). Ado estava com 395 anos. Maalalel gerou Jarede aos 65 anos (Gn 5.15). Ado estava com 460 anos. Jarede gerou Enoque aos 162 anos (Gn 5.18). Ado estava com 622 anos. Enoque gerou Metusalm aos 65 anos (Gn 5.21). Ado estava com 687 anos. Metusalm gerou Lameque aos 187 anos (Gn 5.25). Ado estava com 874 anos. Como se v, Ado foi contemporneo de Lameque, pai de No (Gn 5.28, 29a). Quando Lameque nasceu, Ado estava com 874 anos e ainda viveu at os 930 anos (Gn 5.5), o que significa que o pai de No conviveu 56 anos com Ado, ouvindo a histria da Criao (Gn 1, 2), da Queda (Gn 3) e de Caim e Abel (Gn 4). Certamente Lameque contou essa histria no somente ao seu filho No, mas tambm ao seu neto Sem (Gn 5.32). Se Lameque viveu 777 anos (Gn 5.31), isso quer dizer que ele conviveu 595 anos com seu filho No (Gn 5.30) e 95 anos com seu neto Sem (Gn 5.32). Creio que isso tempo mais do que suficiente para se ter um bom conhecimento a respeito de qualquer assunto, especialmente um assunto to importante como a origem de tudo. Sem, neto de Lameque e filho de No, passou pela experincia do dilvio (Gn 6, 7 e 8. Veja especialmente Gn 7.7 e 9.18). Passou tambm pela experincia com a famosa Torre de Babel (Gn 11.1-10). Pois bem. Sem gerou Arfaxade aos 100 anos (Gn 11.10). Depois disso, viveu mais 500 anos. Ou seja, viveu 600 anos ao todo (Gn 11.11). Arfaxade gerou Sal aos 35 anos (Gn 11.12). Sem estava com 135 anos. Sal gerou Hber aos 30 anos (Gn 11.14). Sem estava com 165 anos. Hber gerou Pelegue aos 34 anos (Gn 11.16). Sem estava com 199 anos. Pelegue gerou Re aos 30 anos (Gn 11.18). Sem estava com 229 anos. Re gerou Serugue aos 32 anos (Gn 11.20). Sem estava com 261 anos.

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    Serugue gerou Naor aos 30 anos (Gn 11.22). Sem estava com 291 anos. Naor gerou Tera aos 29 anos (Gn 11.24). Sem estava com 320 anos. Tera gerou Abro aos 70 anos (Gn 11.26). Sem estava com 390 anos. Como se v, Abro foi contemporneo de Sem. A Bblia diz que Abro saiu de Ur dos caldeus aos 75 anos e foi para Cana (Gn 12.4, 5). Nessa poca, Sem estava com 465 anos e ainda viveria mais 135 anos, visto que morreu somente aos 600 anos de idade (Gn 11.10, 11). Curiosamente, h uma tradio judaica que diz que o sacerdote Melquisedeque, para quem Abro deu o dzimo em Gn 14.18-20, era o prprio Sem. Sabemos que Abro - agora Abrao - morreu com 175 anos (Gn 25.7, 8). Veja s: quando Abrao morreu, Sem ainda estava vivo, com 565 anos. E ainda ia viver mais 35 anos! Na poca da morte de Abrao, aos 175 anos, Isaque, filho de Abrao, estava com 75 anos (Gn 21.5). E Jac, filho de Isaque e neto de Abrao, estava com 15 anos (Gn 25.21-26). Sabe o que isso quer dizer? Que Sem esteve vivo at Jac completar 50 anos de idade! J pensou? Sem, o filho de No, provavelmente conheceu todos os trs patriarcas (Abrao, Isaque e Jac). Ora, se ele conviveu com seu neto Jac por cinqenta anos, seria foroso imaginar que ele teria transmitido a Jac a velha histria da origem de tudo, contendo a narrativa da criao do mundo (Gn 1, 2), da queda do homem (Gn 3), do dilvio e da torre de Babel (Gn 6-11)? Portanto, temos por pressuposto que Sem transmitiu a Jac a narrativa de Gn 1 a 11. Jac foi pai daqueles que seriam os cabeas das 12 tribos de Israel. Jac gerou Levi (Gn 35.23). Levi, por sua vez, gerou Grson, Coate e Merari (Ex 6.16). Coate, um dos filhos de Levi, gerou Anro (Ex 6.18). Anro, por sua vez, gerou Moiss (Ex 6.20), o autor do livro de Gnesis. Sabemos que Moiss conviveu com seus pais e irmos at a sua maioridade (Ex 2.1-10, especialmente os vs. 7-10). Depois voltou a conviver com seus irmos Miri e Aro at a morte dos dois (Nm 20.1, 28). bvio que tanto Miri quanto Aro tambm conheciam as histrias de seus antepassados, e poderiam ter trocado muitas idias com Moiss a respeito desse assunto. Isso tudo prova que h uma explicao tanto natural quanto sobrenatural para a escrita de Gnesis. Moiss, guiado pelo Esprito Santo e semelhana de Lucas, no Novo Testamento, deve ter feito uma acurada pesquisa da histria passada (Lc 1.1-4), trazendo luz as maravilhosas informaes que temos no primeiro livro da Bblia. A ordem de transmisso verbal fica mais ou menos assim: Ado foi contemporneo de Lameque e lhe contou a histria da origem de tudo; Lameque contou essa mesma histria ao seu neto Sem; Sem contou essa histria - mais as informaes do dilvio e da torre de Babel - ao seu descendente Jac; Jac contou a histria ao seu filho Levi; Levi contou a histria ao seu filho Coate; Coate contou a histria ao seu filho Anro; por fim, Anro contou a histria de Ado, de Sem e dos patriarcas aos seus filhos Moiss, Aro e Miri; Outra questo levantada contra a autoria de Moiss que ele no poderia ter escrito o ltimo captulo do livro de Deuteronmio, visto que esse captulo narra a sua morte (Dt 34.1-5). A tradio judaica tem entendido que foi Josu quem escreveu Deuteronmio 34, e isso bastante provvel, se lembrarmos que Josu foi o sucessor de Moiss na liderana do povo de Israel,

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    bem como algum que tinha um contato direto com aquilo que Moiss escreveu (Js 1.7, 8; 23.6 cf. 24.26). Note como Josu inicia o livro que leva o seu nome mencionando justamente a morte de Moiss, indicando que o seu livro seria uma continuao daquilo que o prprio Moiss escreveu (Js 1.1). Reconhecemos, porm, que certos trechos do Pentateuco devem ter sido revisados posteriormente por algum que tenha vivido aps o perodo da monarquia (por ex., Gn 36.31). Isso pode perfeitamente ter sido feito por Esdras, o escriba (Ne 8.1), o qual, segundo a tradio judaica, teria feito a organizao final dos livros do Velho Testamento. JOSU. A tradio judaica afirma que foi o prprio Josu quem escreveu o livro que leva o seu nome, e textos como Js 24.26 confirmam isso. certo, porm, que Josu no escreveu o trecho final do livro, o qual menciona a sua morte (24.29-33). O mais provvel que tenha acontecido o mesmo que ocorreu no caso da morte de Moiss: o autor do livro seguinte finalizou o livro anterior. Vimos que Josu finalizou o livro de Deuteronmio e escreveu o livro seguinte. No caso de livro de Josu, o autor do livro seguinte (o livro de Juzes), foi Samuel. Portanto, foi ele que escreveu o trecho de Js 24.29-33. JUZES, RUTE, 1 SAMUEL e 2 SAMUEL. A tradio judaica afirma que foi o profeta e sacerdote Samuel quem escreveu todos esses livros. Sabemos que Samuel tambm foi juiz de Israel (1 Sm 7.15). Logo, no seria difcil para ele escrever sobre a histria dos juzes em geral. A histria de Rute se deu na poca dos juzes (Rt 1.1). Portanto estaria dentro da pesquisa histrica de Samuel. J o livro de 1 Samuel tem tudo para ter sido escrito pelo prprio Samuel, no apenas porque ele pode ter recorrido prpria me para obter detalhes de seu nascimento (1 Sm 1, 2), como tambm pelo fato de ele conter o registro de coisas que Samuel viu e participou pessoalmente (1 Sm 3.4; 13.8-13; 16.1-13). Visto que a morte de Samuel mencionada em 1 Sm 25.1, quem teria escrito o restante do livro de 1 Sm e todo o livro intitulado 2 Samuel? Antes de respondermos a essa pergunta, devemos ficar cientes de que 1 e 2 Samuel eram considerados como um s livro na Bblia Hebraica, sendo chamado simplesmente de Samuel. Com base naquilo que temos escrito em 1 Cr 29.29: Os atos, pois, do rei Davi, tanto os primeiros como os ltimos, eis que esto escritos nas crnicas, registradas por Samuel, o vidente, nas crnicas do profeta Nat e nas crnicas de Gade, o vidente, cremos que foram Nat e Gade (contemporneos de Davi, como se v em 2 Sm 12.25; 24.11) que escreveram o contedo de 1 Sm 25 em diante, at o final de 2 Samuel. Parece que as crnicas mencionadas em 1 Cr 29.29 dizem respeito justamente ao livro completo de Samuel, pois se afirma que nelas esto escritos os atos do rei Davi, tanto os primeiros como os ltimos, e sabemos que toda a histria de Davi foi praticamente registrada em 1 e 2 Samuel. Concluindo: Juzes, Rute e 1 Sm 1.1 at 1 Sm 24.22 foram escritos por Samuel. J 1 Sm 25.1 at 2 Sm 24.25 foram escritos por Nat e Gade, embora no saibamos precisar o que exatamente foi escrito por Nat e o que foi escrito por Gade. 1 REIS e 2 REIS. A tradio judaica aponta o Profeta Jeremias como sendo o autor desses dois livros que, na Bblia Hebraica, tambm eram considerados como um s, sendo chamado simplesmente de Reis. Note que Jeremias fez uso de pelo menos trs fontes existentes na sua poca para escrever essa

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    obra. Tratam-se dos registros histricos de Salomo, dos reis de Israel e dos reis de Jud (1 Rs 11.41; 14.19, 29; 15.7, 23, 31; 16.5, 14, 27 etc.). 1 CRNICAS, 2 CRNICAS, ESDRAS, NEEMIAS e ESTER. H uma tradio judaica afirmando que foi Esdras, o escriba, quem escreveu todos esses livros. Mas devemos fazer os seguintes esclarecimentos: 1 e 2 Crnicas so considerados como um s livro na Bblia Hebraica, sendo simplesmente chamado Crnicas. A prova de que Esdras escreveu o livro de Crnicas (ou 1 e 2 Crnicas) pode ser percebida se compararmos o final do livro de 2 Crnicas com o incio do livro de Esdras. O trecho praticamente idntico nos dois livros (2 Cr 36.22, 23 cf. Ed 1.1-3). Logo, se foi Esdras quem escreveu o livro que leva o seu nome (e quanto a isso h um grande consenso), bvio que foi ele que tambm escreveu as Crnicas.

    Com respeito ao livro de Neemias, preciso notar que ele e o livro de Esdras formavam um s na Bblia Hebraica, sendo intitulado Esdras-Neemias. Da mesma maneira que deduzimos com respeito ao livro de Crnicas, devemos deduzir aqui: se foi Esdras quem escreveu o livro que leva o seu nome (e quanto a isso h um grande consenso), bvio que foi ele que tambm escreveu Neemias, pois tanto Esdras quanto Neemias surgiram juntos, como sendo duas partes de uma obra s, escrita pela mesma pessoa. S preciso acrescentar que a maior parte dos estudiosos acredita que Neemias foi co-autor (com Esdras) da parte que leva o seu nome. No que se refere ao livro de ster, a possibilidade de que ele tenha sido escrito por Esdras bastante grande. Veja pelo menos duas boas razes: em primeiro lugar, Esdras foi inspirado por Deus para escrever pelo menos quatro livros do Velho Testamento (1 e 2 Crnicas, o livro que leva o seu nome e o livro de Neemias). Se ele foi usado por Deus para escrever quatro, por que no poderia ter sido usado para escrever cinco? Em segundo lugar, os eventos narrados no livro de ster ocorrem na poca do Imprio Persa, mesmo imprio sob o qual viveram Esdras e Neemias (Ed 7.1). Na verdade, o rei Artaxerxes, que governava a Prsia na poca de Esdras, foi quem sucedeu o rei Assuero, marido de ster, no trono persa (Et 2.16, 17). Logo, no seria difcil para Esdras se informar a respeito da histria da famosa judia que salvou o seu povo. Alguns defendem que Mordecai e a prpria ster foram os autores do livro que leva o nome dela, pois h um trecho que parece sugerir isso: Et 9.29-32. Particularmente, prefiro considerar que foi mesmo Esdras quem escreveu esse livro. J. A antiga tradio judaica afirma que foi Moiss quem escreveu o livro de J. A Bblia reconhece J como um personagem histrico (Ez 14.13, 14, 19 e 20; Tg 5.10, 11), e a terra de Uz, onde ele vivia (J 1.1), provavelmente ficava na regio de Edom (Gn 36.9, 20, 28; Lm 4.21), um lugar ao norte da terra de Midi, onde Moiss viveu quarenta anos de sua vida depois que fugiu do Egito (Ex 2.15; 4.19 cf. At 7.29-34). possvel que Moiss, enquanto esteve em Midi, tenha ouvido falar da histria de J da boca dos prprios descendentes de J. Visto que se tratava de um servo de Deus sem igual (J 1.1, 8), Moiss teria resolvido, por essa razo, acrescentar sua histria no Cnon Sagrado. bvio que isso ocorreu pela conduo do Esprito Santo (2 Tm 3.16a). Se foi Moiss quem escreveu esse livro, e o contedo da obra diz respeito a eventos que ocorreram antes de Moiss, parece certo que J viveu na poca patriarcal, a poca de Abrao, pelas seguintes razes: 1) Na poca

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    patriarcal o pai era o sacerdote, o chefe espiritual da famlia (Gn 17.23). Era o pai que se responsabilizava em oferecer sacrifcios a Deus. Isso pode ser percebido tanto na vida de Abrao quanto na vida de J (Gn 15.7-10 cf. J 1.5); 2) Na poca dos patriarcas no era incomum algum viver mais de 150 anos (Gn 25.7, 8 cf. Jo 42.16); 3) Os patriarcas normalmente tinham muitos rebanhos, terras ou gado (Gn 13.1-12; 26.12-14; 30.42, 43 cf. J 1.1-3); 4) Por fim, tanto Abrao quanto J serviram ao nico Deus verdadeiro (Gn 12.1-4 cf. J 1.1, 8). A diferena bsica entre os patriarcas de Gnesis e J que aqueles eram nmades, vivendo normalmente em tendas (Gn 12.7, 8; 13.18; 25.27; 26.24, 25). J, porm, vivia em uma cidade (J 29.1, 7). interessante notar que J no era um israelita. A Bblia diz que ele era um homem da terra de Uz (1.1). Mas se Uz ficava na regio de Edom, conforme dissemos acima (cf. de novo Lm 4.21), e Edom, tambm chamado Esa, era filho de Isaque - o qual, por sua vez, era filho de Abrao -, ento J tambm era descendente de Abrao (Gn 25.19-21, 25, 29 e 30). E como diria o apstolo Paulo, um verdadeiro descendente de Abrao, pois tinha f em Deus assim como o patriarca Abrao (Gl 3.7-9). No sentido espiritual, que o que nos importa, J era um verdadeiro israelita (Rm 2.28, 29). Alm disso, lembremos que, se J era da poca patriarcal, nem mesmo havia a nao de Israel ainda. De qualquer forma, J tinha conhecimento da histria de Ado (J 31.33 cf. Gn 3.9-12) e mantinha firme a sua esperana no Messias (J 19.25 cf. Gn 3.14, 15). SALMOS. Os salmos so oraes ou hinos escritos por vrios autores diferentes, num perodo que cobre centenas de anos, desde a poca de Moiss (Sculo 15 aC. Veja o Salmo 90) at a poca de Davi (Sculo 10 aC. Veja, por exemplo, os Salmos 3, 4, 5...). Entre os autores de salmos, temos ainda Asafe (Salmo 50) e os filhos de Cor ou Cor, dependendo da traduo (Salmos 42, 44...). Muitos salmos, porm, so annimos. PROVRBIOS, ECLESIASTES e CANTARES. A tradio judaica afirma que foi o rei Salomo quem escreveu esses trs livros. De fato, h alguns indcios, nos prprios livros, que parecem confirmar a autoria de Salomo. Por exemplo, no h dvida de que foi Salomo que escreveu o livro de Provrbios (Pv 1.1), pelo menos dos Captulos 1 ao 29. O Captulo 30 foi escrito por um tal de Agur, provavelmente um sbio da poca de Salomo (Pv 30.1), e o Captulo 31, por um rei chamado Lemuel (Pv 31.1). Esse Lemuel era rei de Mass, que era ou uma tribo descendente de Ismael, filho de Abrao com Agar, a egpcia (Gn 25.12-14), ou uma regio no deserto do Sinai onde os filhos de Israel se revoltaram contra Deus por falta de gua (Ex 17.1-7; Sl 95.8). Observe que Agur, que escreveu o Salmo 30, era de Mass tambm (Pv 30.1), o que indica que ele poderia ser um servo de Lemuel. Quanto ao livro de Eclesiastes, apenas alguns versculos do primeiro captulo so suficientes para comprovar a autoria de Salomo (Ec 1.1, 12, 13 e 16). Note que em uma das referncias acima o autor diz que vem sendo rei de Israel, em Jerusalm (1.12), o que imediatamente aponta para Salomo, uma vez que, alm de Saul e Davi , ele foi o nico que governou Jud e Israel unidos. Por fim, temos o livro de Cantares, que anuncia a autoria de Salomo logo no seu primeiro versculo (Ct 1.1). ISAAS. A tradio judaica afirma que foi o prprio Isaas quem escreveu o livro que leva o seu nome. Note que isso revelado no incio da obra (Is 1.1; 2.1),

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    alm do fato de que o livro traz relatos na primeira pessoa (6.1) e de que os autores dos quatro evangelhos, bem como o prprio Senhor Jesus e o apstolo Paulo, confirmaram a autoria de Isaas (Mt 4.14-16; Mt 13.10-16 e Mc 7.5-8 - note que Jesus quem fala sobre Isaas em Mt 13 e em Mc 7; Mc 1.1, 2; Lc 3.3-6 e Jo 12.38-41; At 28.25-27 cf. Is 6.9, 10). JEREMIAS e LAMENTAES DE JEREMIAS. A tradio judaica afirma que foi o prprio Jeremias quem escreveu o livro que leva o seu nome e o livro chamado Lamentaes. Quanto autoria de Jeremias, essa informao nos dada logo no incio do livro (Jr 1.1-4), e confirmada por Mateus em seu evangelho (Mt 2.17, 18 cf. Jr 31.15). J a autoria de Jeremias para Lamentaes pode ser deduzida pelo seguinte: ambos os autores foram profetas que testemunharam e escreveram sobre a queda de Jerusalm e a emoo que vemos nas profecias dos dois autores extremamente semelhante (Jr 52.4-7 cf. Lm 1.3, 8; Jr 14.17 cf. Lm 3.48-51). EZEQUIEL. A tradio judaica afirma que foi o prprio Ezequiel quem escreveu o livro que leva o seu nome, o que pode ser percebido logo no incio do livro (Ez 1.1-4). DANIEL. A tradio judaica afirma que foi o prprio Daniel quem escreveu o livro que leva o seu nome. Note que o livro traz relatos na primeira pessoa (9.2; 10.2), e o prprio Senhor Jesus reconhece Daniel como sendo o autor (veja Mt 24.15, onde Ele parece estar fazendo uma aluso ao texto de Dn 9.26, 27). OSIAS. A tradio judaica afirma que foi o prprio Osias quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade logo no incio do livro, alm do fato de que esse escrito traz relatos na primeira pessoa (1.1; 3.1a). JOEL. A tradio judaica afirma que foi o prprio Joel quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade logo no incio do livro, alm do fato de que esse escrito traz relatos na primeira pessoa (1.1, 19). AMS. A tradio judaica afirma que foi o prprio Ams quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade logo no incio do livro, alm do fato de que esse escrito traz relatos na primeira pessoa (1.1; 7.5; 8.1). OBADIAS. A tradio judaica afirma que foi o prprio Obadias quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade logo no incio do livro (1.1a). JONAS. Pode ter sido o prprio Jonas quem escreveu este livro (1.1), s que narrando em 3 pessoa (1.3). O fato de ser narrado em 3 pessoa no invalida a autoria de Jonas, pois os profetas geralmente introduzem suas profecias em 3 pessoa e depois falam na 1 pessoa. Por ex.: Os 1.1 cf. 3.1a; Jl 1.1 cf. 1.19; Am 1.1 cf. 7.5 etc.

    Quanto a esse escrito em particular, cabe salientar que Jonas foi um personagem histrico. A Bblia diz que ele profetizou durante o reinado de Jeroboo II (2 Rs 14.23-25 cf. Jn 1.1), e o seu livro d nomes de lugares que historicamente existiram (Jn 1.2, 3). A tradio judaica, sem exceo, confirma a historicidade literal de Jonas e sua experincia, e o prprio Senhor Jesus menciona os milagres do livro de Jonas como sendo reais (Mt 12.40-42. Note que ele coloca os acontecimentos de Jonas em p de igualdade com a histria de Salomo; Mt 16.4; Lc 11.29-32). MIQUIAS. A tradio judaica afirma que foi o prprio Miquias quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade logo no incio do livro, alm do fato de que esse escrito traz palavras na primeira pessoa (1.1; 3.8; 7.18).

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    NAUM. A tradio judaica afirma que foi o prprio Naum quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade logo no incio do livro (1.1). HABACUQUE. A tradio judaica afirma que foi o prprio Habacuque quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade por algumas referncias no prprio livro, alm do fato de que esse escrito traz palavras na primeira pessoa (1.1, 2; 3.1). SOFONIAS. A tradio judaica afirma que foi o prprio Sofonias quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade logo no incio do livro (1.1). AGEU. A tradio judaica afirma que foi o prprio Ageu quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade por algumas referncias no prprio livro (1.1; 2.1, 10). ZACARIAS. A tradio judaica afirma que foi o prprio Zacarias quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade logo no incio do livro, alm do fato de que esse escrito traz relatos na primeira pessoa (1.1, 18-20). MALAQUIAS. A tradio judaica afirma que foi o prprio Malaquias quem escreveu o livro que leva o seu nome. Vemos que isso verdade logo no incio do livro (1.1). Vale repetir que a tradio judaica aponta o escriba Esdras (Ne 8.1), como tendo sido o responsvel pela organizao final dos livros do Velho Testamento (Ed 7.11, 12 e 21). Tem lgica. Afinal, pelo fato de ser escriba ele tinha um contato muito prximo com as Escrituras, visto que era o escriba quem copiavam a Lei em diversos manuscritos (Jr 8.8) e quem, dentre o povo, mais sabia de Escritura (Mt 2.3-5). Alm disso, Esdras viveu no perodo do Imprio Persa (Ed 7.1, 11), justamente o perodo em que se encerrou o Cnon do Velho Testamento. Portanto, quem teria sido mais indicado para esse servio? O Cnon do Velho Testamento foi encerrado quatrocentos anos antes de Cristo, mas s foi oficialmente fechado no Conclio de Jmnia, um conclio judeu realizado por volta de 100 dC. Vejamos agora quais foram os autores do Novo Testamento: MATEUS. Conforme a tradio crist, o apstolo Mateus (Mt 10.1-4, espec. v. 3), tambm conhecido como Levi, um cobrador de impostos (cf. Mt 9.9 com Mc 2.14), foi o autor do primeiro evangelho. Alguns manuscritos antigos incluem a inscrio Segundo Mateus. Ireneu, j no Sculo 2 dC, afirmou que Mateu publicou um evangelho, e o historiador Eusbio, no Sculo 4, cita Papias (um contemporneo do apstolo Joo) como tendo dito que Mateus realmente escreveu os orculos (ou palavras) do Senhor Jesus. A igreja crist era unnime nessa tradio at o Sculo 18, quando surgiram alguns telogos liberais para rejeitar essa posio. No h motivo, porm, para neg-la. MARCOS. A tradio crist identifica o autor do segundo evangelho como sendo Joo Marcos, membro de uma famlia crist de Jerusalm (At 12.11, 12), primo de Barnab (Cl 4.10) e companheiro dos apstolos Paulo (2 Tm 4.11) e Pedro (1 Pd 5.13). O ttulo Segundo Marcos aparece em todas as antigas listas cannicas e em muitos manuscritos antigos. Alm disso, todos os primeiros pais da igreja afirmaram que Marcos escreveu o segundo evangelho. Eusbio, no Sculo 4 dC, cita Papias (um contemporneo do apstolo Joo) como tendo dito que Marcos escreveu sobre Jesus baseado nos relatos do

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    apstolo Pedro. possvel, inclusive, que Marcos tenha se convertido pelo ministrio de Pedro (veja 1 Pd 5.13 e cf. com 1 Tm 1.1, 2). Eusbio menciona tambm Clemente de Alexandria (2 Sculo), o qual teria dito que os ouvintes de Pedro insistiram com Marcos para deixar um memorial do que Pedro lhe tinha transmitido. Por fim, Orgenes (3 Sculo) tambm disse que Marcos escreveu seu evangelho conforme Pedro ia lhe explicando. LUCAS. A tradio crist praticamente unnime em afirmar que Lucas, mdico e companheiro de Paulo (Cl 4.14), foi o autor do terceiro evangelho, e isso por vrias razes. Primeiro, considera-se que o autor do terceiro evangelho e do livro de Atos so a mesma pessoa, com base na comparao entre Lc 1.1-4 e At 1.1, 2. Ora, se se trata da mesma pessoa, o livro de Atos revela que era um companheiro de Paulo que o acompanhava na maioria de suas viagens (observe o pronome pessoal ns em At 16.10, 17; 20.6-8, 13-15; 21.1-17; 27.1-8, 27-29; 28.1, 11-15). Por eliminao, sabemos que o autor de Atos no pode ter sido nenhum dos que foram contados em At 20.4. Basta olhar o verso seguinte, o v. 5. Tambm sabemos que o autor de Atos esteve com o apstolo Paulo em Roma (At 28.11-15), e que, de Roma, Paulo escreveu as cartas aos efsios, aos filipenses, aos colossenses e a Filemom. Nessas cartas ele cita quem estava com ele em Roma. Vejamos: Em Ef 6.21 ele cita Tquico, mas esse no pode ser o autor de Atos, visto encontrar-se na lista de At 204. Na carta aos filipenses no cita nome nenhum. Em Colossenses menciona Aristarco, Marcos, Jesus (conhecido por Justo), Epafras, Lucas e Demas (4.10-14). Desses, podemos eliminar Aristarco, por constar da lista de At 20.4. Marcos no foi, porque em Atos ele mencionado na 3 pessoa (At 15.37). Dificilmente teria sido esse Jesus, conhecido por Justo, pois ele era judeu (da circunciso, conforme diz Paulo em Cl 4.11), e o escritor de Atos certamente no era judeu, mas gentio, no apenas porque ele tomou parte das viagens de Paulo a partir da ilha de Trade, na costa do Mar Egeu, conforme At 16.7-10, mas tambm porque o grego utilizado tanto no terceiro Evangelho quanto em Atos muito refinado para ter sado da pena de um escritor judeu. De fato, trata-se do melhor grego do Novo Testamento, e teria mais lgica que tivesse sado da pena de um gentio culto, com educao superior. Epafras no deve ter sido tambm, pois parece que ele foi fundador da igreja dos colossenses (Cl 1.1-7) e que ele desenvolvia um ministrio nessa igreja e nas de Laodicia e Hierpolis, todas as trs localizadas s margens do rio Lico, no sudeste da sia Menor (Cl 4.12, 13). Ao que tudo indica ele foi ao encontro de Paulo em Roma para lhe contar sobre o trabalho em Colossos (Cl 1.7-10), especialmente sobre os problemas que estava enfrentando, provavelmente na inteno de conseguir do apstolo uma carta de exortao aos colossenses (Cl 2.8, 16-18, 20-23; 3.1-3, 5 e 6). Ora, se o ministrio de Epafras se concentrava nas igrejas do vale do Lico, dificilmente ele teria participado das viagens do apstolo por outros lugares, como fez o autor do livro de Atos (At 16.9, 10; 20.5, 6, 13-16; 21.17). mais certo que Epafras s estava entre os companheiros de Paulo em Roma porque, como j dissemos, ele foi ao encontro do apstolo para pedir-lhe ajuda com respeito aos problemas enfrentados em sua igreja. Demas tambm no deve ter sido, pois esse homem terminou desviado da f (2 Tm 4.10). Resta-nos Lucas, a opo mais provvel dessa lista. Se formos olhar os nomes citados em Filemom, nos vs. 23 e 24, temos Epafras, Marcos, Aristarco e Demas (todos esses j descartados) e, por fim, Lucas de novo.

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    Alm desses dados obtidos da prpria Bblia, temos as informaes dos pais da igreja, aqueles escritores cristos que viveram nos primeiros quatro sculos da era crist. Do fim do 2 Sculo em diante, a maioria dos pais menciona o terceiro Evangelho como tendo sido escrito por Lucas. JOO. A tradio crist defende que foi o apstolo Joo quem escreveu o quarto Evangelho, conforme se v nos escritos de vrios pais da igreja, como Clemente de Alexandria (190 dC), Tertuliano (200), Orgines (220) e Hiplito (225). Sabemos com certeza que o autor desse Evangelho era o discpulo amado de Cristo (Jo 21.20-24). E se era o discpulo que Jesus mais amava, provavelmente estamos falando de um dos trs que mantinham mais contato com nosso Senhor: Pedro, Tiago ou Joo (Mc 5.35-37; 9.2). Desses trs, Pedro no pode ser, com base em Jo 13.21-25 e 21.20. Logo, resta-nos os irmos Tiago e Joo. Visto que Tiago foi morto muito cedo e ainda no havia nenhum Evangelho escrito quando ele morreu (At 12.1, 2), o discpulo amado e autor do quarto evangelho s pode ser o apstolo Joo, como diz a tradio. ATOS. O autor deste livro e do terceiro evangelho so a mesma pessoa. Basta comparar Lc 1.1-4 com At 1.1, 2. Logo, trata-se de Lucas, o mdico companheiro do apstolo Paulo (Cl 4.14). As razes para essa afirmao podem ser encontradas no comentrio que fiz a respeito do terceiro Evangelho. Posso apenas acrescentar que Irineu (2 Sculo), Clemente de Alexandria (2 Sculo) e Eusbio (4 Sculo) foram unnimes em afirmar que Lucas escreveu o livro de Atos dos Apstolos. ROMANOS, 1 CORNTIOS, 2 CORNTIOS, GLATAS, EFSIOS, FILIPENSES, COLOSSENSES, 1 TESSALONICENSES, 2 TESSALONICENSES, 1 TIMTEO, 2 TIMTEO, TITO e FILEMOM. O apstolo Paulo se apresenta como sendo o autor dessas 13 epstolas. Basta observar as seguintes referncias (Rm 1.1, 7; 1 Co 1.1, 2; 2 Co 1.1; Gl 1.1, 2; Ef 1.1; Fp 1.1; Cl 1.1, 2; 1 Ts 1.1; 2 Ts 1.1; 1 Tm 1.1, 2; 2 Tm 1.1, 2; Tt 1.1, 4 e Fm 1). HEBREUS. No se sabe com certeza quem foi o autor desta carta. A tradio crist nunca foi uniforme quanto a isso, sendo que as sugestes de autoria se dividem especialmente entre o apstolo Paulo, Barnab e Apolo, o mesmo de At 18.24-28 e 1 Co 3.1-7.

    Bom, a favor da autoria de Paulo temos que o autor conhecia Timteo (Hb 13.23) e que desenvolveu o tema de Habacuque 2.4: ... o justo viver por sua f em Hebreus 11. Visto que Paulo menciona Habacuque 2.4 em duas de suas cartas (Rm 1.17; Gl 3.11), ficou subentendido que isso comprova (?) a relao do apstolo com a escrita do Captulo 11 de Hebreus. Acredite, essas so as duas evidncias mais fortes em defesa da autoria de Paulo.

    Particularmente no creio que Paulo seja o autor, pois ele jamais se colocaria como algum que recebeu o evangelho de segunda mo, ou seja, pela pregao de outros, como faz o escritor aos Hebreus (2.3, 4). Pelo contrrio. Paulo no apenas se considerava como algum que recebeu o evangelho do prprio Jesus, como tambm realizava os mesmos sinais, prodgios e milagres que os outros apstolos (Gl 1.11, 12; 1 Co 9.1; 15.3-10; 2 Co 11.12, 13; 12.11, 12).

    Com respeito a Barnab, foi somente Tertuliano (155-220 dC) quem o apontou como sendo o autor desta carta, mas no informou de onde extraiu essa informao. Tudo bem que Barnab era levita e tinha um ministrio tanto

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    entre judeus quanto entre gentios (At 4.36; 13.1-5, 46), podendo tranqilamente ter escrito sobre o sacerdcio levtico aos hebreus sob uma tica crist (conforme se v em Hb 7.5-28), mas sua autoria nos parece pura especulao por parte de Tertuliano.

    O mesmo ocorre no caso de Apolo. Foi Martinho Lutero quem sugeriu Apolo como sendo o autor da carta aos Hebreus, provavelmente influenciado pelas informaes bblicas de que Apolo era poderoso nas Escrituras do Velho Testamento e que tinha facilidade de convencer os judeus (ou hebreus) a respeito de Cristo (At 18.24, 28). Uma vez que o objetivo do autor desta carta convencer os judeus sobre Cristo citando constantemente o Velho Testamento, Lutero deve ter pensado que Apolo era uma boa opo, mas note que Lutero viveu no Sculo 16, quase 1.500 anos depois que a carta aos hebreus foi escrita, e no se baseou em nenhuma tradio ou documento histrico para dizer isso. Logo, prefiro considerar esta carta como annima. TIAGO. A tradio crist afirma que foi Tiago, o irmo carnal de Jesus, quem escreveu esta epstola que leva o seu nome. Sabemos que os irmos carnais de Cristo no creram nele durante o seu ministrio terreno (Mc 3.20, 21, 31-35; Jo 7.5), mas certo que aps a ressurreio de Cristo eles j eram crentes, pois faziam parte da chamada igreja primitiva (At 1.14). A Bblia mostra que o Tiago, irmo de Cristo, tambm foi chamado apstolo (Gl 1.19). Alguns estudiosos acreditam que o prprio Jesus comissionou seu irmo para o apostolado aps a ressurreio (1 Co 15.3, 4 e 7). De qualquer forma, bem possvel que Tiago tenha se convertido nessa ocasio, aps ter visto o seu irmo ressurreto. Tiago logo se destacou como um lder na igreja em Jerusalm, conforme se v em At 15.6-29. H outros textos que revelam a singularidade de Tiago, irmo de Jesus, como um lder em Jerusalm: At 12.13-17; 21.17, 18; Gl 2.9. Algum poderia perguntar se esse Tiago no seria aquele apstolo irmo de Joo. No, porque, infelizmente, esse Tiago foi morto a mando de Herodes em At 12.1, 2. Curiosamente, o autor no diz diretamente que era irmo de Jesus (Tg 1.1). Isso nos faz pensar em sua humildade. Ele prefere dizer que servo de Cristo, certamente porque compreendeu que Jesus era mais do que um irmo normal para ele. Jesus era o seu Senhor e Salvador agora. Humildade semelhante pode ser vista tambm em Judas, quando este escreveu a sua epstola (Jd 1). Veja o comentrio sobre Judas logo abaixo. 1 PEDRO, 2 PEDRO. O apstolo Pedro se apresenta como sendo o autor dessas duas epstolas que levam o seu nome. Basta observar as seguintes referncias (1 Pd 1.1; 2 Pd 1.1). 1 JOO, 2 JOO e 3 JOO. No tenho dvida de que o apstolo Joo o autor no somente dessas trs epstolas como tambm do Evangelho que leva seu nome e do livro de Apocalipse. Isso pode ser comprovado tanto pelo testemunho histrico de alguns dos Pais da Igreja como pela comparao do contedo de pelo menos trs desses escritos. Quanto s evidncias histricas temos o testemunho de Irineu de Lio (c. 130-200), que atribui a primeira e a segunda epstola ao Joo que era tanto o discpulo do Senhor como o autor do quarto evangelho. Se considerarmos que esse testemunho de Irineu ocorreu menos de 100 anos depois da morte do apstolo Joo, temos aqui uma forte comprovao. Temos ainda o Cnon de Muratori, provavelmente compilado em Roma entre 170 e 215, talvez por

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    Hiplito, o qual contm passagens em que o autor descreve como ele acreditava que Joo viera a escrever o seu evangelho. H tambm outras provas histricas de que Joo teria escrito as cartas. Clemente de Alexandria, que viveu alguns anos alm de Irineu, conhecia mais de uma epstola joanina, pois usa a expresso a epstola maior, que atribui ao apstolo Joo. Orgines de Alexandria (morto cerca de 255) atribuiu a primeira epstola a Joo. O Cnon de Muratori, que vimos acima como uma referncia que comprova autoria do Joo para o quarto evangelho, acrescenta uma referncia a suas epstolas. Depois, menciona duas epstolas de Joo, mas no diz quais so. Uma rpida comparao entre os contedos das trs epstolas so mais do que suficientes para comprovar a autoria de Joo. Compare 1 Jo 4.2 com 2 Jo 7; compare, agora, 1 Jo 3.6, 10 com 3 Jo 11; compare tambm 1 Jo 2.27 com 2 Jo 9, e 1 Jo 2.8-10 e 3.11, 23 com 2 Jo 5, 6. Por fim, compare 2 Jo 1 com 3 Jo 1, e 2 Jo 12 com 3 Jo 13 e 14. Creio que essas comparaes bastam para comprovar que foi a mesma pessoa quem escreveu as trs cartas. JUDAS. A tradio crist afirma que foi Judas, o irmo carnal de Jesus, quem escreveu esta epstola que leva o seu nome. O primeiro versculo da carta confirma isso. Veja como o autor de apresenta: Judas, servo de Jesus Cristo e irmo de Tiago. As nicas passagens em que vemos um Judas que tem um Tiago como irmo so Mt 13.55 e Mc 6.3. Note que, de acordo com esses textos, tratam-se justamente de dois dos irmos carnais de Jesus. Sabemos que os irmos carnais de Cristo no creram nele durante o seu ministrio terreno (Mc 3.20, 21, 31-35; Jo 7.5), mas certo que aps a ressurreio de Cristo eles j eram crentes, pois faziam parte da chamada igreja primitiva (At 1.14). A Bblia mostra que o Tiago, irmo de Cristo, tambm foi chamado apstolo (Gl 1.19). Alguns estudiosos acreditam que o prprio Jesus comissionou seu irmo para o apostolado aps a ressurreio (1 Co 15.3, 4 e 7). De qualquer forma, bem possvel que Tiago tenha se convertido nessa ocasio, aps ter visto o seu irmo ressurreto. Tiago logo se destacou como um lder na igreja em Jerusalm, conforme se v em At 15.6-29. H outros textos que revelam a singularidade de Tiago, irmo de Jesus, como um lder em Jerusalm: At 12.13-17; 21.17, 18; Gl 2.9. Algum poderia perguntar se esse Tiago no seria aquele apstolo irmo de Joo. No, porque, infelizmente, esse Tiago foi morto a mando de Herodes em At 12.1, 2. Portanto, as evidncias apontam para o fato de que esse Judas, o autor desta carta, era o irmo carnal de Jesus e de Tiago, um proeminente lder da igreja em Jerusalm. Isso explica porque ele menciona o nome de seu irmo, que certamente era bastante conhecido. Curiosamente, o autor no diz diretamente que era irmo de Jesus. Isso nos faz pensar em sua humildade. Ele prefere dizer que servo de Cristo, certamente porque compreendeu que Jesus era mais do que um irmo normal para ele. Jesus era o seu Senhor e Salvador agora. Humildade semelhante pode ser vista tambm em Tiago, quando este escreveu a sua epstola (Tg 1.1). APOCALIPSE. O apstolo Joo considerado o autor desse livro (Ap 1.1, 2 cf. 21.5). J no 2 Sculo Justino Mrtir, Irineu e outros identificaram o apstolo Joo como autor. William Hendriksen (1900-1982), famoso estudioso do Novo Testamento, argumenta que s o fato de o autor se apresentar simplesmente como Joo (Ap 1.1-4), um nome comum naquela poca e na nossa, j sugere

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    que no se tratava de qualquer Joo, mas o Joo, o prprio apstolo de Cristo, o mais famoso discpulo com esse nome (extrado de sua obra Mais que Vencedores, na 1 edio da Editora Cultura Crist, pg. 21).

    Esse talvez o livro mais difcil do Novo Testamento, visto estar repleto de linguagem figurada, qual s pode ser entendida mediante a consulta em vrias outras passagens bblicas, dentro e fora do livro de Apocalipse. Por exemplo: para entender Ap 1.12, 16a, preciso recorrer a Ap 1.20; para entender Ap 1.16b, preciso recorrer a Hb 4.12 (a espada de dois gumes a palavra de Deus, que sai de boca de Cristo); para entender Ap 17.1, preciso recorrer a Ap 17.15, 18; para entender Ap Ap 17.3, preciso recorrer a Ap 17.9-12; para entender melhor Ap 20.11-15, preciso recorrer a Mt 25.31-46; e por a vai... O Cnon do Novo Testamento foi encerrado com o Apocalipse de Joo, mas s foi considerado oficialmente fechado no fim do 4 Sculo (por volta do ano 396 dC).

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    A INERRNCIA OU INFALIBILIDADE DAS ESCRITURAS

    A doutrina da inerrncia ou infabilidade das Escrituras afirma que a Bblia no erra (da inerrncia) ou falha. Tudo que ela afirma verdade, pois o Deus que inspirou a Bblia no pode mentir (2 Tm 3.16a cf. Tt 1.2). Cabe ressaltar, porm, uma diferena entre registro inspirado e pessoas inspiradas. Quando estou falando sobre pessoas inspiradas, estou me referindo aos escritores da Bblia, aqueles que foram usados pelo Esprito Santo para escrever a Palavra de Deus (2 Pd 1.20, 21). Quando digo registro inspirado estou pensando naquilo que foi produzido, escrito, registrado por esses homens inspirados. Ou seja, refiro-me Bblia em si, enquanto livro escrito. Por que estou fazendo essa distino? Porque tudo que os autores bblicos escreveram, inspirados pelo Esprito, verdade, mas eles registraram palavras de homens ou espritos que nem sempre falavam a verdade. Por exemplo, temos na Bblia as palavras mentirosas de Satans e dos escribas de Jerusalm (Gn 3.4; Mc 3.22), mas isso no quer dizer que essas palavras eram inspiradas e, portanto, verdadeiras. O registro dessas palavras que foi inspirado, no as palavras em si, a no ser que o prprio escritor bblico endossasse tais palavras como verdadeiras, o que nenhum deles fez. H outro dado importante que deve ser considerado no que se refere inerrncia da Bblia. Refiro-me ao fato de que Deus acomodou sua revelao ao conhecimento de que dispunham os povos da Antigidade. Isso significa que mesmo que o animal descrito no livro de Jonas fosse uma baleia (Jn 1.17), o escritor do livro ainda assim diria que foi um peixe, pois tudo que nadasse, para os povos da Antigidade, era peixe. por isso que Moiss escreveu que o morcego uma ave, quando sabemos hoje que um mamfero (Lv 11.13, 19). Para Moiss e os seus contemporneos, tudo que voasse era uma ave e Deus no se preocupou em ficar explicando coisas assim, pois a Bblia no teve por objetivo uma linguagem acadmica ou cientfica, mas sim uma linguagem que fosse entendida pelos seus escritores e leitores originais. Da mesma forma, Josu disse que o sol parou, quando sabemos que o sol nem sequer se move, mas sim a terra (Js 10.12, 13) Ora, at hoje falamos em pr-do-sol e que o sol nasce no oriente e se pe no ocidente e ningum pra para dizer que isso errado, simplesmente porque tambm no usamos uma linguagem acadmica ou cientfica em nosso dia-a-dia. A doutrina da inerrncia ou infalibilidade bblica est baseada principalmente nos seguintes textos: Sl 119.96, 142, 151, 160; Mt 5.18 (note que tudo que a Bblia ainda profetiza para o futuro se cumprir sem erro, infalivelmente); Jo 10.35b e 17.17.

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    A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS Essa doutrina diz que a Bblia tem autoridade sobre nossa vida, simplesmente porque ela a palavra de Deus, aquele que tem autoridade sobre a terra e sobre o tudo o que existe nela (Sl 24.1; 50.11, 12; 103.19; Dn 4.34, 35). Falando em outros termos, visto que Deus deve ser obedecido, evidente que a Bblia, por ser a Sua palavra, deve ser obedecida. Logo, os textos bblicos que comprovam a autoridade da Bblia so justamente aqueles que a confirmam como sendo a palavra de Deus. No Velho Testamento, temos: Ex 20.1; 35.1; Is 1.10 (note o Assim diz o SENHOR...); 56.1a; 66.1a; Jr 19.1a; Ez 25.8a; e Am 1.11a. Veja que os escritores do Velho Testamento so mencionados pelos escritores do Novo Testamento como tendo sido inspirados por Deus naquilo que escreveram: Mt 1.22, 23; 2.15; At 1.16; 4.24, 25; 28.25 etc. Quanto ao texto do Novo Testamento, como sendo tambm Palavra de Deus, temos as seguintes referncias: Gl 1.11, 12 (cf. Jo 7.16; 14.24); 1 Ts 2.13; 1 Tm 5.18 (cf. Lc 10.7); 2 Tm 3.16a; 2 Pd 1.20, 21 e 1 Jo 5.9. Isto deve ficar muito claro: por ser a palavra de Deus, a Bblia tem autoridade sobre a nossa vida (Rm 9.20, 21) e sobre tudo o que diz respeito a ela, especialmente nossa teologia pessoal, nossa maneira de pensar sobre Deus. importante dizer isso numa poca em que se tem mil opinies diferentes sobre Deus e sobre as questes espirituais. Toda afirmao sobre Deus ou Sua vontade que discorde daquilo que Ele mesmo diz em Sua Palavra no pode ser verdade e, portanto, deve ser rejeitado. Logo, se as religies orientais ensinam que o homem pode ter um progresso espiritual por si mesmo, atravs de meditaes ou privaes de coisas materiais, e no por meio nica e exclusivamente de Cristo, devemos rejeitar tais ensinos justamente porque a Bblia no concorda com essa filosofia (Rm 7.18; Is 64.6; Jo 8.24; 14.6). Se o Espiritismo diz que existe reencarnao, ou seja, que o homem pode morrer fisicamente mais de uma vez, devemos rejeitar isso em favor da Bblia, que diz: Ao homem est ordenado morrer uma vez... (Hb 9.27). Se o Catolicismo ensina ser possvel adorar a Deus juntamente com Maria e os santos, fiquemos com a Bblia, que nos probe de servir a dois senhores, quanto mais a um monte deles (Mt 6.24). Deus quer exclusividade (Ex 20.3; Mt 4.10). Se o Islamismo de Maom e dos muulmanos afirma que o Deus verdadeiro no tem filhos, fiquemos com a Bblia, que apresenta Jesus como sendo literalmente o Filho do Deus vivo (Mt 16.16, 17). Por fim, se as pessoas em geral crem que a salvao pode ser obtida por meio de boas obras, fiquemos com as afirmaes da Bblia com respeito ao assunto. Ela no somente diz que as obras humanas esto contaminadas, manchadas pelo pecado, causando uma separao entre ns e Deus (Rm 3.9-18, 23; Is 64.6; 59.2), como tambm declara explicitamente que a salvao uma questo de graa, ou seja, trata-se de um favor imerecido que Deus concede, em Cristo, a quem Ele quer (Ef 2.8, 9; 1.3-7). Portanto, isso no depende da vontade ou do esforo do homem, mas nica e exclusivamente da vontade de Deus (Gl 2.16; Rm 9.11-16).

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    Para concluir, repetimos: a Bblia, por ser a palavra do prprio Deus, tem autoridade sobre ns e sobre tudo o que diz respeito nossa vida, especialmente aquelas questes relativas a Deus mesmo e s coisas espirituais.

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    A SUFICINCIA DAS ESCRITURAS Essa doutrina tem sido um ponto de discrdia entre igrejas tradicionais (conservadoras) e pentecostais, porque ns, os chamados crentes conservadores, consideramos a Escritura Sagrada como uma regra COMPLETA de f e prtica; um manual COMPLETO de doutrina, prticas eclesisticas e vida crist. Entendemos que o homem encontra, na Bblia, TUDO o que deve saber e TUDO o que deve fazer a fim de que venha a ser salvo, viva de modo agradvel a Deus, O sirva e adore. Escrevendo a Timteo, Paulo afirma que nos ltimos dias sobreviriam tempos difceis, marcados por toda sorte de pecados, insensatez, erro, engano e apostasias (2 Tm 3.1-9). Qual o seu conselho? Apegar-se firmemente s Escrituras, porque ... TODA Escritura inspirada por Deus, til para o ENSINO, para a REPREENSO, para a CORREO, para a EDUCAO NA JUSTIA, A FIM DE QUE O HOMEM DE DEUS SEJA PERFEITO E PERFEITAMENTE HABILITADO PARA TODA BOA OBRA (2 Tm 3.16, 17).

    Cremos que a Bblia suficiente para aperfeioar completamente o homem. Logo, no h base para a existncia de quaisquer novas revelaes.

    preciso ratificar aqui que, quando da formao do Velho Testamento, Deus se revelou de inmeras maneiras diferentes, por meio de anjos, teofanias (tomando formas visveis), sonhos, vises, arrebatamentos etc. Foi por meio de todas essas coisas que a revelao especial de Deus aos homens (seu comeo, meio e fim) foi comunicada Igreja e registrada pela inspirao do Esprito Santo. Voc entende? Deus se manifestou de inmeras formas, disse tudo que deveramos saber e inspirou os autores do Velho Testamento para registrar todas essas coisas. Sabemos, porm, que o Novo Testamento continuaria a revelao divina. por isso que o profeta Joel profetiza uma outra poca de novas revelaes do Esprito, quando disse: E acontecer, depois, que derramarei do meu Esprito sobre toda a carne: vossos filhos e vossas filhas PROFETIZARO, vossos velhos SONHARO, e vossos jovens tero VISES... (Jl 2.28, 29). Essa palavra de Joel muito importante. De fato, quando acabaram as revelaes de Deus no VT, os judeus ficaram sem profecias, vises, sonhos e tudo o mais durante cerca de 400 anos. Esse perodo chamado de silncio proftico e foi o tempo passado entre Malaquias (ltimo livro do VT) e Mateus (primeiro livro do NT). Mas a profecia de Joel se cumpriu, exatamente no dia do Pentecostes, em Atos 2. Pedro confirma isso, quando explicou o que estava ocorrendo naquela ocasio: ... O QUE OCORRE O QUE FOI DITO POR INTERMDIO DO PROFETA JOEL: E acontecer nos ltimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Esprito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas PROFETIZARO, vossos jovens tero VISES, e SONHARO vossos velhos... Portanto, assim como ocorreu quando da formao do Velho Testamento, o mesmo se repetiu para a formao do cnon inspirado do Novo Testamento. Ocorreram novas profecias, vises, sonhos e arrebatamentos, e, disso tudo, O QUE ERA NECESSRIO foi registrado no Livro Sagrado, completando assim a revelao de Deus aos homens. O que devemos perceber aqui, porm, que o Novo Testamento NO PROMETE OUTRAS REVELAES DO ESPRITO ANTES DA SEGUNDA

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    VINDA DE JESUS. No toa que o ltimo livro do Novo Testamento, o Apocalipse, aquele que trata dos ltimos dias e FECHA a revelao de Deus at consumao dos sculos, declara: Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testifico: se algum lhes fizer QUALQUER ACRSCIMO, Deus lhe acrescentar os flagelos escritos neste livro (Ap 22.18). Querido(a) irmo(), a maior prova de que Deus revelou tudo que queria revelar est no fato de que AT A CONSUMAO DOS SCULOS EST REGISTRADA NAS ESCRITURAS. A revelao de Deus ao homem comeou com a histria da humanidade (Ado e Eva no jardim, conforme Gnesis) e termina com a revelao do novo cu e da nova terra, onde viveremos com o Senhor para sempre (conforme registrado em Apocalipse.)

    Pelo que o autor do Apocalipse escreveu no texto acima, Ap 22.18, parece que ele conhecia bem a tendncia humana de inserir novas revelaes do Esprito. De fato, esse perigo no era algo novo para os escritores inspirados. Jeremias profetizou: Assim diz o Senhor dos Exrcitos: NO DEIS OUVIDOS S PALAVRAS DOS PROFETAS QUE ENTRE VS PROFETIZAM, E VOS ENCHEM DE VS ESPERANAS; FALAM AS VISES DO SEU CORAO, NO O QUE VEM DA BOCA DO SENHOR... At quando suceder isso no corao dos PROFETAS QUE PROCLAMAM MENTIRAS, que PROCLAMAM S O ENGANO DO PRPRIO CORAO... O PROFETA QUE TEM SONHO CONTE-O COMO APENAS SONHO... (Jr 23.16, 26 e 28). Isso soa familiar? Qualquer semelhana com os dias atuais NO mera coincidncia. Paulo tambm enfrentou problema com pessoas que diziam ter novas revelaes, vises etc.. Veja o que ele diz aos colossenses: NINGUM SE FAA RBITRO CONTRA VS OUTROS, pretextando humildade, culto dos anjos, BASEANDO-SE EM VISES, ENFATUADO, sem motivo algum, NA SUA MENTE CARNAL (Cl 2.18). J cansei de ouvir profetadas do tipo: Confie em mim, meu servo. Entregue o teu caminho nas minhas mos que eu farei o resto etc.... Ouvimos coisas semelhantes constantemente, coisas que NO PASSAM DE MERAS REPETIES daquilo que est escrito na Bblia, s que em outras palavras, claro. Compare, por exemplo, a profetada acima com o Sl 37.3, 5. Ora, se o que profetizam est nas Escrituras, so discursos desnecessrios. Se o contedo do que profetizam algo que no est nas Escrituras, O MESMO DEVE SER REJEITADO, pois foi isso que Paulo mandou os glatas fazerem (Gl 1.8, 9). Muitos crentes pensam que, por via das dvidas, melhor no questionar, preferindo aceitar a profecia do irmo e por a vai... Eu, porm, digo que NO SE DEVE ACEITAR A PROFECIA DO SUPOSTO PROFETA, POIS VOC ESTAR, COMO VIMOS ESCRITO EM GLATAS, COM CERTEZA INCORRENDO EM DESOBEDINCIA PALAVRA DE DEUS. Ora, se o apstolo diz que mesmo ele deveria ser considerado antema, caso aparecesse dizendo algo que vai alm do que foi revelado por Deus, quanto mais os crentes com quem convivemos nos dias atuais... Quando dizemos que a Bblia suficiente para tudo, inclusive no que se refere vida pessoal do cristo, referimo-nos ao casamento, ao trabalho, alimentao, ao vesturio, educao dos filhos etc. H detalhes com relao a todas essas reas da vida individual que no so explicitamente encontrados nas Escrituras, mas os PRINCPIOS GERAIS, sim. Exemplo: um jovem crente no vai encontrar na Bblia resposta especfica sobre quem deve escolher para

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    esposa (nome, cor, altura, tipo fsico, nacionalidade, nvel social etc.), mas os princpios gerais esto l, e no devem ser contrariados. O mesmo se aplica s demais reas mencionadas (trabalho, alimentao, vesturio, criao de filhos etc.). NO SO NECESSRIAS NOVAS REVELAES DO ESPRITO PARA QUE SE DEFINAM ESSAS COISAS. A obedincia aos princpios gerais e exemplos bblicos, e as circunstncias, podem definir perfeitamente essas questes. Lembre-se que at os mpios conseguem tomar decises desse tipo sem qualquer tipo de nova revelao, simplesmente fazendo uso da inteligncia e do bom senso que Deus lhes deu. Deveramos fazer o mesmo. Portanto, fica esta recomendao bblica e fraterna a todos ns: Se as novas revelaes do Esprito ensinam o que j ensinado nas Escrituras, so desnecessrias; se vo alm, devem ser rejeitadas.

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    A PRESERVAO DAS ESCRITURAS Essa doutrina ensina que Deus tem o compromisso de preservar aquilo que Ele revelou em Sua palavra escrita por tempo indeterminado. Esse compromisso no afirmado de forma explcita na Bblia, mas pode ser deduzido dos seguintes textos: Dt 29.29; Mt 5.18; 24.35; 1 Pd 1.23-25. bvio que Deus, sendo onipotente, pode fazer tudo que Ele quiser. Se Ele disse em Dt 29.29 que ... as (coisas) reveladas nos pertencem... para sempre..., cremos que no h nada que possa impedi-lo de cumprir essa promessa (conforme Lc 1.37). Algum crente poderia pensar que a maior prova de que Deus tem garantido a preservao da Bblia est no fato de termos essa mesma Bblia existindo at hoje, apesar de muitas tentativas, no decorrer da Histria, visando a sua destruio. Essas tentativas ocorreram, por exemplo, nos primeiros sculos da igreja crist, sob as perseguies do Imprio Romano, e ocorrem at hoje em pases de confisso muulmana que probem o uso das Escrituras. Creio que essa posio corretssima. Realmente, se a Bblia continua preservada at hoje, apesar de tantas tentativas de destru-la, isso uma prova mais do que convincente de que Deus tem um compromisso em preserv-la. O nico problema que no existe um acordo entre os estudiosos da Bblia sobre se realmente houve uma preservao das Escrituras no decorrer da Histria. Isso porque h basicamente dois tipos de textos do Novo Testamento circulando no mundo. Um tipo chamado Texto Majoritrio, e, o outro, Texto Alexandrino. Eis as principais diferenas entre eles:

    TEXTO MAJORITRIO TEXTO ALEXANDRINO o texto baseado em 90% dos manuscritos existentes (da o seu nome majoritrio). Entre esses, os mais antigos so do Sculo 5 dC.

    o texto baseado em alguns manuscritos encontrados no Sculo 4 dC, no Egito.

    Embora sejam milhares, h uma boa concordncia entre esses manuscritos que do base ao Texto Majoritrio.

    H uma discordncia impressionante entre esses manuscritos, embora sejam to poucos. Tal discordncia significa que a aceitao de um inevitavelmente leva negao de outro.

    O Texto Majoritrio foi o texto usado pela igreja em geral dos Sculos 5 ao 18.

    O Texto Alexandrino foi sendo utilizado de forma mais abrangente s a partir de meados do Sculo 19. Hoje ele predomina em 80% das Bblias existentes.

    O problema da predominncia do Texto Alexandrino sobre o Texto Majoritrio est basicamente no seguinte: aqueles trechos bblicos que estavam no Texto Majoritrio mas no constavam no Texto Alexandrino foram tratados como no sendo inspirados, como se no tivessem sido escritos pelos escritores inspirados.

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    O raciocnio dos defensores do Texto Alexandrino que, se o Texto Alexandrino est baseado nos manuscritos mais antigos j encontrados, e se nesses manuscritos no aparece, por exemplo, o trecho bblico de Jo 7.53-8.11 (a famosa passagem da mulher adltera), lgico eles dizem que tal trecho no deve ter feito parte do manuscrito original do Evangelho de Joo. Afinal, um manuscrito encontrado no Sculo 4 est mais prximo cronologicamente dos originais do Sculo 1 do que um manuscrito do Sculo 5 em diante (como o caso dos manuscritos que do base para o Texto Majoritrio). Firmadas nisso, as Sociedades Bblicas em geral (que so responsveis pela publicao de bblias no mundo), passaram a colocar os trechos que no constam no Texto Alexandrino entre colchetes ([ ]). Note que elas no tiveram ainda a coragem de jog-los fora, mas os colocaram entre colchetes, pondo em dvida a sua inspirao e, conseqentemente, sua autenticidade. Comprove o que estou dizendo nos seguintes textos de sua Bblia: Jo 3.13; 5.4; 7.53-8.11; 1 Jo 5.7, 8. Portanto, estamos diante de um grande impasse: se aceitarmos o Texto Alexandrino como sendo a cpia fiel do texto original do Novo Testamento, teremos forosamente de rejeitar como inspirados vrios trechos bblicos que constam do Texto Majoritrio. Se preferirmos o Texto Majoritrio, seremos tachados de incoerentes pelos defensores do Texto Alexandrino, com o argumento de que o Texto Alexandrino mais digno de confiana, visto que ele se baseia nos manuscritos mais antigos j encontrados e, portanto, mais prximos cronologicamente dos textos originais. Particularmente, prefiro ficar com um texto do Novo Testamento que se baseie no Texto Majoritrio, no no Texto Alexandrino, pelas seguintes razes: 1) Embora os manuscritos (MS.) do Texto Alexandrino sejam mais antigos, bem provvel que esses MS. sejam corrompidos ou adulterados. Sabe-se que nos primeiros sculos da igreja houve vrios hereges e seitas herticas que deturparam textos bblicos para concordar com seus ensinos. Se eles no aceitavam a divindade de Jesus, no pensavam duas vezes em apagar tais referncias dos textos que tivessem em suas mos, e depois usavam esses textos (adulterados) para convencer seus prprios discpulos ou membros da seita.

    Orgines, um dos pais da igreja que viveu no 3 Sculo, denunciou o seguinte: Nestes dias, como evidente, h uma grande diversidade entre os vrios manuscritos, quer pela negligncia de certos copistas, quer pela perversa audcia demonstrada por alguns em corrigir o texto, quer pela falta de outros, os quais, considerando-se corretores, aumentam ou reduzem o texto, conforme bem desejam (citado por Anglada na pg. 99. Ver bibliografia.). bom salientar que Orgines vivia em Alexandria, no Egito, e foi exatamente no Egito que encontraram os manuscritos que do base ao Texto Alexandrino. No toa que ele chamado de Texto Alexandrino (por causa de Alexandria, no Egito).

    A maior prova de que esses MS. do 4 Sculo no so confiveis est na grande divergncia que eles mantm entre si. Por exemplo, se compararmos os Cdices Sinatico e Vaticano (cdices so livros feitos de pergaminhos), ambos do 4 Sculo e ambos contendo praticamente todo o Novo Testamento, veremos que s nos Evangelhos eles apresentam cerca de trs mil diferenas entre si (isso mesmo! Trs mil!!). Sabe o que isso significa?

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    Que um ou outro com certeza foi adulterado, visto que os dois no podem estar simultaneamente corretos nas declaraes opostas, no mesmo? Pergunto: o que faria um pesquisador srio, se ele percebesse que h muita coisa errada no Cdice Sinatico em relao ao Cdice Vaticano e muita coisa errada no Cdice Vaticano em relao ao Cdice Sinatico? Naturalmente ele concluiria que nenhum dos dois digno de confiana. 2) Embora os MS. do Texto Majoritrio sejam do 5 Sculo em diante, em termos de confiabilidade histrica eles so to vlidos quanto os do 4 Sculo, pois qualquer MS. da Antigidade mantm uma distncia do seu texto original de pelo menos cinco sculos, e nem por isso so reputados como indignos de confiana. O que eu quero dizer que, em termos de datao para documentos histricos, um MS. que tenha uma distncia de cinco sculos da data em que foi escrito o seu texto original perfeitamente considerado como vlido pelos historiadores. Soma-se a isso o fato de que o Texto Majoritrio apia-se em 90% dos manuscritos existentes hoje ao redor do mundo, enquanto que o Texto Alexandrino se firma em apenas alguns MS. encontrados praticamente apenas no Egito. Diante disso, qual tradio de MS. seria mais digna de confiana? A do Texto Majoritrio ou a do Texto Alexandrino?

    claro que medida que os manuscritos bblicos foram se espalhando, os falsos manuscritos foram sendo identificados e abolidos pelos crentes verdadeiros. Isso explicaria perfeitamente a predominncia dos MS. relativos ao Texto Majoritrio e a insignificncia dos MS. relativos ao Texto Alexandrino. 3) As citaes dos pais da igreja provam que o Texto Alexandrino se baseia em MS. adulterados ou, na melhor das hipteses, mutilados. Por exemplo, no Texto Alexandrino (que, como dissemos, se baseia em MS. do 4 Sculo) no consta a passagem de Mc 16.9-20. Entretanto, um pai da igreja chamado Irineu, que viveu no 2 Sculo dC (portanto, cerca de duzentos anos antes do MS. que omitiu o trecho de Marcos), confirma a existncia desses versculos. Hiplito, que viveu no 3 Sculo (um sculo antes do MS. que omitiu o trecho de Marcos), tambm confirma a existncia dos versculos 9 a 20. Alm desses testemunhos, poderamos nos perguntar como que Marcos concluiria seu Evangelho sem registrar as aparies de Jesus aps a Sua ressurreio, algo que nenhum dos outros trs Evangelistas (Mateus, Lucas e Joo) deixaram de fazer. Fora isso, parece-me que os eventos ocorridos em At 2.4 e At 28.3-6 foram uma confirmao das palavras profticas de Jesus em Mc 16.17, 18. Se Atos foi escrito no 1 Sculo, no seria natural que o mesmo tivesse ocorrido com o trecho final de Marcos 16? Diante desses dados, parece-me bvio que o MS. do 4 Sculo, encontrado no Egito, estava mutilado ou teve esse trecho de Mc 16.9-20 intencionalmente eliminado por algum herege ou seita hertica da poca. Lembre-se tambm de que, se o verdadeiro texto do Novo Testamento o Texto Alexandrino, ento Deus falhou na Sua promessa de preservao das Escrituras feita em Dt 29.29, pois a Sua igreja ficou uns 1.500 anos sem os MS. realmente fiis aos textos originais. Porm, visto que no h impossveis para Deus em todas as suas promessas (Lc 1.37), somos forados a crer na autenticidade do Texto Majoritrio, o qual reflete um contedo que sempre esteve disposio da igreja crist desde que foi escrito pelos escritores

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    bblicos, incluindo os Sculos 2 e 3. Afinal, j verificamos acima que mesmo o trecho de Mc 16.9-20 esteve disposio de Irineu, no Sculo 2, e de Hiplito, no Sculo 3, muito embora os defensores do Texto Alexandrino afirmem que esse trecho s foi escrito a partir do Sculo 5.

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    A TRADUO DAS ESCRITURAS Neste captulo no abordo uma sub-doutrina dentro da doutrina da Bibliologia, como fiz nos captulos anteriores. De fato, o assunto da traduo das Escrituras no um assunto doutrinrio, pois no se trata de uma matria de f. Ou seja, nenhuma igreja exige que se creia nisso, simplesmente porque um fato. Todos sabem que o Velho Testamento foi originalmente escrito em hebraico (a lngua nativa do povo de Deus no Velho Testamento) e o Novo Testamento em grego (a lngua mais usada no mundo na poca do Novo Testamento)e que ambos os Testamentos tm trechos ou expresses em aramaico, uma lngua muito parecida com o hebraico. Todos sabem tambm que a Bblia passou por tradues, e a maior prova que ela existe hoje em praticamente todas as lnguas. O objetivo deste captulo justamente fazer algumas observaes com respeito aos fatos mencionados acima. Vamos l: 1) A igreja crist no reconhece inspirao divina para aqueles textos que no saram diretamente das mos dos escritores inspirados. S texto inspirado aquele que foi escrito pessoalmente por um escritor inspirado (2 Pd 1.20, 21; 3.15, 16). Falando de outro modo, s os textos originais gozam do privilgio da inspirao. Por isso, s os textos originais esto isentos de qualquer tipo de erro (sejam erros gramaticais, cronolgicos, geogrficos, histricos etc.), porque foram somente esses que Deus inspirou. Visto que os textos originais no existem mais, podemos afirmar tranqilamente que no existem hoje manuscritos inspirados, ou mesmo tradues inspiradas. 2) A posio acima no impede que consideremos a Bblia que temos em mos como sendo inspirada por Deus. Mas tal considerao s possvel porque cremos que a nossa Bblia uma cpia fiel dos manuscritos originais. Ora, se cremos que o texto que temos uma cpia fiel do texto inspirado, nada mais lgico do que reverenci-lo como se ele mesmo tivesse sido inspirado, pois foi exatamente isso que Jesus e seus apstolos fizeram. Tanto Cristo quanto os apstolos citaram diversas vezes o Velho Testamento, e os estudiosos descobriram que, na maioria das vezes, o que eles citavam eram trechos da Septuaginta, uma traduo grega do Velho Testamento hebraico. Note, porm, que eles citavam uma traduo como se estivessem citando o prprio texto original inspirado: Mt 1.22, 23; 2.15; Mc 7.6, 7; At 28.25-27; Rm 11.7-10. Jesus e seus apstolos de que as tradues no invalidariam a inspirao, pois Deus tem o compromisso de preservar Sua palavra no decorrer da Histria (como vimos no captulo sobre preservao das Escrituras). Um dos meios de Deus para essa preservao foi certamente o surgimento da disciplina conhecida como Crtica Textual ou Manuscritologia Bblica, que tem por objetivo identificar os manuscritos existentes que seriam mais fiis ao texto original. Essa disciplina tem tido tanto sucesso que, apesar das discusses relacionadas aos Textos Majoritri