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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLARO unesp CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENTOMOLOGIA URBANA: TEORIA E PRÁTICA AVALIAÇÃO DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE Periplaneta americana (DICTYOPTERA: BLATTIDAE) EM CEMITÉRIO SILVIA FREIRE GALLAFASSI Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Entomologia Urbana . 12/2010

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS – RIO CLAROunesp

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENTOMOLOGIA URBANA: TEORIA E PRÁTICA

AVALIAÇÃO DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE Periplaneta americana(DICTYOPTERA: BLATTIDAE) EM CEMITÉRIO

SILVIA FREIRE GALLAFASSI

Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Entomologia Urbana .

12/2010

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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENTOMOLOGIA URBANA: TEORIA E PRÁTICA

AVALIAÇÃO DE INSETICIDAS NO CONTROLE DE Periplaneta americana(DICTYOPTERA: BLATTIDAE) EM CEMITÉRIO

SILVIA FREIRE GALLAFASSI

ORIENTADOR: Dr. Marcos Roberto Potenza

Monografia apresentada ao Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista, como parte dos requisitos para obtenção do título de Especialista em Entomologia Urbana .

12/2010

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GALLAFASSI, S. F.; Avaliação de inseticidas no controle de Periplaneta americana (DICTYOPTERA: BLATTIDAE) em cemitério [Monografia].Rio Claro: Instituto de Biociências de Rio Claro, UNESP – Universidade Estadual Paulista, 2010.

RESUMO

As baratas estão entre os insetos mais comuns encontrados no convívio humano. Existem nos cinco continentes, possivelmente em todas as ilhas do mundo, em todos os países, em todas as cidades e na maior parte das moradias. Este trabalho teve por objetivo identificar e quantificar a infestação de baratas no Cemitério da Freguesia do Ó no período de agosto a novembro de 2010, bem como avaliar um protocolo de controle de baratas utilizando inseticidas. Foram coletados insetos para identificação e avaliação do grau de infestação do cemitério, pré e pós tratamento químico com aplicação de thiametoxan, lambdacialotrina e cipermetrina. As baratas foram identificadas como Periplaneta americana e pudemos avaliar os diferentes efeitos dos inseticidas quanto ao desalojamento e mortalidade das baratas.

Palavras-chave: Periplaneta americana, thiametoxan, lambdacialotrina, cipermetrina.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 2

2. OBJETIVO............................................................................................. 4

3. REVISÃO DE LITERATURA................................................................. 5

3.1 Importância das Baratas .................................................................. 5

3.2 Aspectos Morfológicos e Biológicos ............................................... 7

3.3 Descrição da Periplaneta Americana ............................................... 9

3.3.1 Biologia e comportamento ................................................................ 9

3.3.2 Importância Sanitária ...................................................................... 10

3.3.3 Método de controle ......................................................................... 12

4. MATERIAIS E MÉTODOS................................................................... 15

4.1 Captura e identificação ................................................................... 17

4.2 Aplicação de Inseticida ................................................................... 19

4.2.1 Área experimental 1 (thiametoxan) ................................................. 19

4.2.2 Áreas experimentais 2 (cipermetrina) e 3 (lambdacialotrina) .......... 19

5. RESULTADOS .................................................................................... 22

5.1 Grau de infestação........................................................................... 22

5.2 Thiametoxan.................................................................................... 23

5.3 Cipermetrina e lambdacialotrina ................................................... 24

6. DISCUSSÃO........................................................................................ 29

7. CONCLUSÃO...................................................................................... 30

8. REFERÊNCIAS ................................................................................... 31

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1. INTRODUÇÃO

As baratas estão entre os insetos mais comuns

encontrados no convívio humano. Existem nos cinco continentes,

possivelmente em todas as ilhas do mundo, em todos os países, em

todas as cidades, na maior parte das moradias.

Segundo BUZZI (1985) atualmente são conhecidas

aproximadamente 4.000 espécies de baratas das quais 1.200 da região

neotropical, distribuídas em cerca de 460 gêneros. A grande maioria é

silvestre, sendo que apenas 1% possuem hábito domiciliar

(CORNWELL,1968).

Em áreas urbanas uma das espécies mais comum é a

“Barata de Esgoto” (Periplaneta americana). São ativas principalmente à

noite quando deixam seus abrigos à procura de alimentos. Possuem

hábitos alimentares bastante variados, preferindo àqueles ricos em amido,

açúcar ou gordura. Podem alimentar-se também de celulose como

papéis, ou ainda excrementos, sangue, insetos mortos, resíduos de lixo

ou esgoto.

As baratas apresentam metamorfose gradual em três

estágios: ovo, ninfa e adulto. A fêmea produz um estojo protetor dos ovos,

em forma de bolsa fechada, chamada de ooteca, que carrega presa ao

abdômen até poucas horas antes da eclosão dos ovos

(GUIMARÃES,1984). A espécie Periplaneta americana deposita a ooteca

em local apropriado, normalmente frestas, fendas, gavetas ou atrás de

móveis.

Potenza (2009) relatou que as baratas são capazes de

transportar um grande número de bactérias, fungos, helmintos,

protozoários e vírus. As baratas pela sua presença causam aflição,

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angústia, estresse e principalmente são vetoras mecânicas de várias

doenças (CORNWELL,1968). O controle de baratas no ambiente urbano

requer a adoção de várias medidas preconizadas pelo controle integrado

de pragas (POTENZA, 2009).

O controle tem sido realizado através de diversos

métodos, destacando-se as pulverizações com inseticidas

(CORNWELL,1976).

Nos cemitérios de São Paulo, existem muitas

reclamações de infestação de baratas e o incômodo que isso causa aos

visitantes. No Cemitério Municipal de Freguesia do Ó, localizado em São

Paulo na Zona Norte as reclamações são constantes. O cemitério possui

uma área de 15.000 m² com 1.500 túmulos e 2.750 ossários, fundado em

1.908 numa região afastada das habitações, hoje encontra-se totalmente

inserido em área urbana.

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2. OBJETIVO

Este trabalho teve por objetivo identificar e quantificar a

infestação de baratas no Cemitério da Freguesia do Ó.

Avaliar diferentes ingrediente ativos e formulações no

controle de baratas em cemitérios.

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3. REVISÃO DE LITERATURA

3.1 Importância das Baratas

São insetos que existem há cerca de 300 milhões de

anos, segundo o fóssil mais antigo encontrado nos Estados Unidos

(Ohio), não tendo apresentado muitas mudanças desde então, mantendo-

se como insetos não especializados (BUZZI, 2010). As baratas

permaneceram basicamente inalteradas em relação aos hábitos e forma

corpórea (GALLO et al. 2002).

CORNWELL (1968) e ROBINSON (1996) indicam que os

blatódeos foram os insetos predominantes do período Carbonífero.

Devido à abundância destes insetos este período geológico é também

chamado de “Age of Cockroaches” ou “A era das baratas”.

Os blatódeos comumente conhecidos como baratas,

constituem aproximadamente 4.000 espécies conhecidas. Cerca de um

terço habita a região neotropical e são poucas as espécies considerados

pragas, destacando-se Periplaneta americana Linneu, 1758 (VIANNA et

al. 2001).

O desprezo das pessoas por esses insetos é quase

universal. Isso se deve aos seguintes fatos: atuam como vetores

biológicos de bactérias, fungos, vermes; provocam reações alérgicas;

contaminam os alimentos; sujam roupas e livros e até afetam o

psicológico das pessoas por causarem sensação de asco e medo (BUZZI,

2010).

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CHAPMAN (1998) diz que estudos epidemiológicos

estabeleceram que alergênicos da barata são importantes agentes

responsáveis pela exarcebação da asma. Em centros urbanos dos

Estados Unidos, mais de 60% dos pacientes de asma tem sensibilidade a

estes alergênicos oriundos das baratas.

Segundo PRADO et al (2002), estudos desenvolvidos nas

décadas de 1970 e 1980 identificaram microorganismos responsáveis por

infecção hospitalar em baratas capturadas em setores como serviço de

nutrição, expurgo do centro cirúrgico e isolamentos. Constatou-se que tais

insetos carregavam microorganismos aderidos ao corpo durante vários

dias, sem que os mesmos percam sua viabilidade.

Apesar da grande importância sanitária das baratas como

pragas urbanas, da repugnância por elas causada e do custo envolvido

em seu controle, aspectos benéficos também podem ser citados. Algumas

espécies são usadas com propósitos médicos no tratamento de doenças

e também na culinária asiática, ou ainda servem de inspiração na

literatura e no cinema (APPEL, 1995; ROBINSON, 1996).

O emprego de insetos na cura de doenças é também

amplamente difundido entre grupos indígenas. Tribos indígenas da

Amazônia utilizam-se das baratas para tratamento de alcoolismo, colite,

constipação e dor de dente, entre outras (POSEY, 1986).

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3.2 Aspectos Morfológicos e Biológicos

Durante os primeiros estágios de sua evolução as baratas

se adaptaram ao escuro e às condições de alta umidade do rico solo

orgânico das florestas tropicais (CORNWELL,1968).

O hábito onívoro e noturno proporciona às baratas um

abundante suprimento alimentar e maior proteção contra predadores.

Dessa forma o ambiente urbano, especialmente os grandes centros,

propicia ao desenvolvimento de grandes populações de baratas,

agravando os problemas relacionados à elas (POSEY,1986).

Além de onívoras as baratas tem hábitos de necrofagia,

coprofagia, elevado potencial reprodutivo, adaptação a ambientes

diversos, facilidade de se esconder em pequenas frestas

(FIGUEIREDO,1998).

São insetos geralmente achatados, com antenas filiformes

e multisegmentadas e o aparelho bucal tipo mastigador (MARICONI et

al.,1980).

A cabeça é curta e subtriangular, com grandes olhos

compostos e geralmente dois ocelos. As antenas são setáceas ou

filiformes, inseridas entre os olhos compostos (GALLO et al.,2002).

As pernas são cursoriais, em geral com muitos espinhos;

coxas grandes, longas e muito próximas, sobre as quais se apóiam;

tarsos pentâmeros (BUZZI,2010).

O tórax apresenta o seu primeiro segmento bem

desenvolvido, com o pronoto largo e achatado, cobrindo a cabeça. O

abdome é séssil, alargado e deprimido, apresentando em geral dois

segmentos. Apresenta um par de cercos no último urômero, acrescido de

um par de estilos no macho. A postura dos ovos é feita dentro de uma

cripta genital em uma cápsula denominada ooteca (POTENZA,2005).

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O formato e o tamanho variam dependendo da espécie,

sendo que, genericamente pode-se dizer que os machos são menores

que as fêmeas; quando diferem pelas asas, os machos têm asas mais

desenvolvidas que as fêmeas e em algumas espécies os machos são

alados e as fêmeas ápteras. As antenas desempenham um papel

fundamental n sobrevivência da barata servindo não apenas como

elemento de direção, mas também podendo captar vibrações no ar ou

ainda identificar alimentos ou feromônios (POTENZA,2005)

As baratas em suas características comportamentais

vivem agrupadas em frestas, fendas e locais propícios ao seu abrigo e

esse hábito é orientado por um feromônio de agregação que é depositado

nos locais de abrigo e que facilita sempre o seu retorno para estes

esconderijos, assim dificilmente elas ultrapassam 10 metros de raio de

ação para o forrageamento (ALBUQUERQUE, 2001).

Algumas espécies têm um adjetivo que as identifica:

barata cascuda ou barata-grande-dos-armazéns (Leucophaea maderae);

barata - americana ou barata – vermelha (Periplaneta americana); barata

– australiana (Periplaneta australasiae); barata – doméstica, baratinha ou

barata alemã (Blattella germanica), barata – listrada (Supella longipalpa).

As baratas que vivem em ambiente domiciliar ou peridomiciliar são

conhecidas como baratas - urbanas e as demais, baratas – silvestres

( BUZZI, 2010).

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3.3 Descrição da Periplaneta Americana

3.3.1 Biologia e comportamento

Segundo POTENZA (2006) a Periplaneta americana

(Classe: Insecta; Ordem: Dictyoptera; Família: Blattidae), é conhecida

popularmente como barata de esgoto ou cascuda.

Possui corpo achatado, com antenas filiformes e

multisegmentadas, aparelho bucal do tipo mastigador. Adultos de

coloração castanha escura avermelhada medem de 30 a 45 mm. As

fêmeas depositam a ooteca no ambiente pouco depois de sua formação.

A longevidade média dos adultos é de 1 ano e cada

fêmea produz de 10 a 15 ootecas. Cada ooteca possui de 14 a 28 ovos. O

período de desenvolvimento é de 9 a 13 meses. O ciclo biológico de

Periplaneta americana, de ovo à morte do adulto, pode ultrapassar 3 anos

(VIANNA et al. 2001).

Além de causarem asco as pessoas, são vetores

mecânicos de patógenos, abrigam-se em caixas de esgoto e gordura,

caixas d´água, quadros de energia elétrica e telefonia, galerias

subterrâneas, cisternas, áreas de serviço, sanitários e vestiários, porões,

sótãos, forros, jardins, áreas externas (onde ocorra acúmulo de matérias).

A temperatura é um dos principais fatores ecológicos que

influi direta e indiretamente nos insetos. Diretamente afetando o

desenvolvimento e comportamento, e indiretamente na alimentação

(SILVEIRA NETO et al. 1976).

O período embrionário de Periplaneta americana é

influenciado pela temperatura, sendo reduzido cerca de 2,8 dias, para

cada aumento médio de 0,56°C (GOULD & DEAY,1940). O número de

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mudas de Periplaneta americana requerido para alcançar a maturidade é

muito variável (NIGAM, 1933).

A cópula em Periplaneta americana, pode ocorrer uma

única vez (GOULD & DEAY, 1938) e a frequência de oviposição, pode

apresentar uma variação individual significativa (GUTHRIE & TINDALL,

1968).

3.3.2 Importância Sanitária

ROTH (1957), a associação das baratas e moscas com

humanos fazem com que sejam consideradas vetores de patógenos.

Os blatódeos sinantrópicos atuam como vetores

mecânicos de agentes patogênicos, como hospedeiros intermediários de

vários helmintos, além de veicularem diversos vírus, fungos e protozoários

(GUTRHIE & TINDALL, 1968 e HARWOOD & JAMES, 1979).

BEHBEHANI (1997) também associa as baratas às

doenças como: diarréia, disenteria, cólera, lepra, febre tifóide e

poliomielite. Além disso, podem levar os ovos de lombrigas parasitárias

que também podem causar reações alérgicas, como: dermatite, inchaço

das pálpebras e sérios problemas respiratórios.

A alternância de habitat destes insetos durante o dia e a

noite, lhes confere condições verdadeiramente excelentes como

contaminadores. Durante o dia repousam em ambientes escuros, úmidos

e quentes como tubulações de esgotos, fossas sépticas e latrinas. À noite

invadem habitações, como armazéns, restaurantes, cozinhas e hospitais,

podendo, nestes últimos, serem responsáveis pela disseminação de

patógenos entre os pacientes (VIANNA et al. 2001).

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A Periplaneta americana, também conhecida como barata

vermelha é encontrada no Brasil principalmente nos estados de São

Paulo, Amapá, Amazonas, Rio grande do Norte, Bahia e Rio de Janeiro.

Atraído pelo cheiro, este inseto pode chegar ao rosto das pessoas

adormecidas para comer detritos alimentares que ficam impregnados na

mucosa bucal. É comum a barata roer os lábios e a região angular da

boca de pessoas acamadas inconscientes ou adormecidas,

principalmente crianças, quando do regurgitamento do leite, ocasionando

no local uma lesão conhecida como herpes blattae (PRADO et al, 2002).

Segundo PRADO et al. (2002), a prevalência de bactérias

enteropatôgenicas e de estafilococos coagulase negativos isolados em

baratas Periplaneta americana no hospital estudado demonstra a

fragilidade das condutas adotadas tanto para controle de vetores quanto

para uso dos antimicrobianos.

A presença de baratas e de microorganismos como os

encontrados na pesquisa não aflige somente os hospitais brasileiros. No

tocante às medidas de controle com vistas a diminuir o número de

baratas, já que as mesmas não podem ser eliminadas, é importante

destacar que condições climáticas como umidade e temperatura elevada

favorecem a proliferação das baratas.

Os patógenos mais comuns associados às baratas

incluem bactérias dos gêneros Salmonella, Staphylococcus,

Streptococcus, Coliform, Bacillus, Clostridium e a Escherichia coli, além

de protozoários causadores de toxoplasmose e antígenos da hepatite B

(POTENZA, 2005).

Segundo BOUAMAMA (2007), as baratas Periplaneta

americana e as moscas Musca domestica são frequentemente

encontradas próximas aos humanos, vivendo em casas, locais de

trabalho e postos de saúde.

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3.3.3 Método de controle

As diferentes formas em que as baratas atuam em nosso

ambiente sejam pela transmissão de doenças, alergias ou pela presença

indesejável, tornam o seu controle uma necessidade, cujo custo é

considerado elevado (PARREIRA, 2007).

As infestações de baratas podem ser reduzidas através

de medidas de controle com aplicação de produtos domissanitários,

seguido por manejo do ambiente para privar os insetos de comida e

abrigo. Infestações iniciais podem ser controladas efetivamente por iscas

ou armadilhas (BEHBEHANI, 1997).

Segundo PARREIRA (2007) o controle tem sido realizado

por meio de diversos métodos, destacando-se as pulverizações com

inseticidas. Os inseticidas ocupam um lugar de destaque na agricultura,

pecuária e saúde pública, sendo necessário um bom conhecimento, na

maneira de aplicá-los, da sua toxicidade e formulações disponíveis.

Segundo CHRISTOFOLETTI (1999), a pulverização é um

processo mecânico de geração de um grande número de pequenas gotas

de calda (mistura, suspensão ou diluição) de uma formulação comercial

de produto químico em um líquido, geralmente água.

A problemática das baratas pode ser minimizada, desde

que haja um processo de conscientização entre os profissionais de saúde

e os administradores das instituições hospitalares no que tange à

implantação de um programa efetivo de saneamento ambiental que seja

adotado por todos de forma sintetizada (PRADO et al., 2002).

SRINIVASAN (2004), diz que o gel de fipronil quando

aplicado nas dosagens apropriadas em superfícies de madeira, cimento,

argila e sapê, pode causar menos de 80% de mortalidade de espécies de

Periplaneta americana e Blattella germanica em casas com este tipo de

superfície.

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Os inseticidas do grupo dos piretróides, que são mais

utilizados no controle de baratas, atuam na transmissão axônica, agindo

primeiramente nos canais de Na (sódio) das células nervosas do sistema

nervoso central e periférico dos insetos. Os canais de Na abrem-se no

momento da transmissão de impulso nervoso e fecham-se imediatamente

após a despolarização da célula nervosa. Esses inseticidas posicionam-

se em algumas unidades dos sítios de ligação dos canais de Na de tal

modo que permanecem abertos por um maior tempo, prolongando-se

assim o período de influxo de Na após um potencial de ação. Com isso,

potenciais de ação respectivos são desencadeados, e os insetos morrem

devido à hiperexcitação provocada por esses inseticidas (GALLO et al.

2002).

Thiametoxan pertence a classe de inseticidas

neonicotinóides, que atuam como agonistas dos receptores nicotínicos de

acetilcolina dos insetos SYNGENTA (2010).

Segundo Lovelady & Granovsky Bryan, TX, Microgen

USA, testes de campo com thiametoxan no controle de Periplaneta

americana, P. Fuliginosa e outras pragas do peri domicilio foram

conduzidas no Texas, Estados Unidos, cujos resultados foram similares

ao fosforado cloropirifós e efeito residual superior a 28 dias SYNGENTA

(2010).

Outros estudos realizados com Blattella germanica onde

foi determinado o efeito do produto nos intervalos de 30 minutos até 48

horas, demonstraram que o thiametoxan apresenta efeito de choque

similar a ciflutrina, após exposição em placas por 1 hora e controle de 100

% após 24 horas SYNGENTA (2010).

Thiametoxan teve um excelente controle, porém não tem

um efeito de choque (knockdown) pronunciado SYNGENTA (2010).

Conforme Jonhson Laboratory USA, testes realizados

com aplicação direta e tratamento em frestas, com thiametoxan, no

controle de Blattella germanica precisaram de 30 minutos para o efeito de

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choque e Periplaneta americana 120 minutos, porém após 24 horas

obteve-se 100 % de eficácia. O efeito de choque foi inferior aos

piretroides, porém o efeito residual foi de 56 dias, sendo superior a

cipermetrina SYNGENTA (2010).

Além do controle químico orientações aos proprietários de

estabelecimentos comerciais e também residenciais se fazem necessárias

segundo LUCKMANN (1982) os alimentos devem ser mantidos em

recipientes fechados; o ambiente deve ser mantido livre de fragmentos e

restos de alimentos ou matéria orgânica; as lixeiras devem ficar fechadas

e devem se esvaziadas com frequência; a estrutura física deve ser

continuamente monitorada, e as frestas em paredes, portas e rodapés,

assim como rachaduras nos sistemas de distribuição de água, esgoto e

eletricidade, devem ser vedados.

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4. MATERIAIS E MÉTODOS

Os experimentos foram realizados no Cemitério Municipal

Freguesia do Ó, São Paulo, SP, no período de agosto a dezembro de

2010. O cemitério possui uma área de 15.000 m² com 1.500 túmulos e

2.750 ossários, fundado em 1.908 numa área periférica da cidade de São

Paulo. Atualmente se encontra totalmente inserido em área urbana

(Figura 1), resultado do processo de crescimento urbano. Nos

experimentos empregou-se os inseticidas cipermetrina, lambdacialotrina e

thiametoxan isoladamente em 03 áreas experimentais distintas.

Figura1: Cemitério Municipal Freguesia do Ó

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Devido à grande extensão do cemitério foi escolhido um

quadrante para realização dos experimentos, composto por 03 quadras.

Cada quadra era composta por uma fileira dupla de cerca de 25 túmulos.

A disposição dos túmulos é realizada em quadras, com fileiras duplas.

Na primeira inspeção realizada com início as 18 horas e

30 minutos, constatou-se que às 19 horas, horário que coincide com fim

do dia e início da noite, o surgimento dos primeiros indivíduos de

Periplaneta americana saindo dos seus abrigos, sendo observadas com o

auxílio de uma lanterna. No período compreendido entre as 19 e 20

horas, verificou-se uma intensa atividade desses insetos, sendo

primeiramente constatado a presença dos adultos e minutos depois o

aparecimento das ninfas. Esta observação corrobora com observações

realizadas pela administração e funcionários do cemitério, sobre o

aparecimento de baratas no início da noite.

Esses insetos saiam da vegetação (raízes de árvores),

frestas no calçamento e ruas, frestas nos túmulos de alvenaria, túmulos

tipo canteiro (terra). A quantidade de baratas variava de poucas a

dezenas de indivíduos em cada túmulo. Observou-se uma grande

atividade e movimentação destes insetos, provavelmente em busca de

uma fonte de água e alimento. Constatou-se durante este processo

exploratório, as baratas migravam de um túmulo para outro, sugerindo

que pode haver uma constante alteração na população de insetos em um

determinado local.

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4.1 Captura e identificação

Para a coleta empregou-se caixas de ovos de papelão de

12 unidades, contendo em duas células centrais algodão embebido em

cerveja e em outras quatro células centrais, somente cerveja.

Popularmente a cerveja é tida como de alta atratividade para Periplaneta

americana, comumente encontradas no interior de garrafas vazias.

Figura 2: Armadilha para coleta de baratas

O horário escolhido para colocação das armadilhas foi ao

entardecer com a retirada nas primeiras horas da manhã do dia seguinte,

afim de se evitar a fuga de insetos e perturbação pelos visitantes do

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cemitério. As caixas foram dispostas na linha central entre cada fileira

dupla de túmulos. As baratas capturadas foram contadas e levadas para

identificação no Laboratório de Pragas em Horticultura/CPDSV do

Instituto Biológico de São Paulo. O primeiro grupo coletado, em número

de 23 indivíduos (adultos e ninfas) foi identificado como da espécie

Periplaneta americana.

Figura 3: Armadilha para coleta de baratas

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4.2 Aplicação de Inseticida

4.2.1 Área experimental 1 (thiametoxan)

No dia 08/10/2010 aplicou-se em uma quadra (62

túmulos) o inseticida thiametoxan (dosagem de 80g/5L de água - Optgard

LT) com um pulverizador costal motorizado empregando-se 08 litros de

calda, a aplicação na área interna e externa dos túmulos, durou cerca de

58 minutos.

4.2.2 Áreas experimentais 2 (cipermetrina) e 3 (lambdacialotrina)

No dia 22/10/2010 em duas quadras (áreas) distintas

aplicou-se os inseticidas cipermetrina (dosagem de 100mL/10L de água -

Cipermetrina Fersol 200 CE) e lambdacialotrina (dosagem de 100mL/10L

de água – Demand 2,5 CS) com um pulverizador costal motorizado

empregando-se cerca de 16 litros de calda. A aplicação durou cerca de 1h

e 35 minutos.

O maquinário utilizado, nas três aplicações, foi

atomizador/nebulizador costal UBV 3,7 HP, da empresa Guarany, usado

no controle de vetores de endemias e para sanitização urbana pelos

profissionais da Saúde Pública. Conforme fabricante é indicado para

nebulização a frio, pois possui gotas uniformes. Tem excelente alcance

tanto na vertical como na horizontal e bocal de atomização para

aplicações normais e UBV (Ultra Baixo Volume), com produtos de base

oleosa ou aquosa. Também possui sistema de agitação por injeção de ar

para evitar sedimentação. O tanque de combustível tem capacidade para

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2 litros e o reservatório de 06 litros para a calda inseticida. O bico utilizado

atingiu a vazão de 250 ml/min.

Figura 4: Aplicador de inseticida utilizando equipamentos de proteção individual corretos

Após duas semanas da aplicação foi realizado novo

monitoramento, sendo colocadas as armadilhas de caixa de ovo com

cerveja para verificação do grau de infestação pós tratamento químico.

Essas armadilhas foram posicionadas nos mesmo local da aplicação dos

inseticidas.

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Ocorreram três coletas consecutivas, sempre com

intervalos de 15 dias. Para essas avaliações foi elaborada uma tabela

com indicações, para cada inseticida, de ponto de coleta, número de

baratas visualizadas e também presença de fezes como indicador da

presença de baratas que visitaram a armadilha.

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5. RESULTADOS

5.1 Grau de infestação

Em 27.08.2010 foram instaladas as armadilhas em

corredores previamente estabelecidos para captura desses insetos e

avaliação do grau de infestação. Esses corredores ocupam a parte bem

central do quadrante podendo assim capturar as baratas de uma maneira

homogênea.

As baratas foram capturadas em 28.08.2010 no início da

manhã, por volta das 7:00 horas, (Quadro 1).

Quadro 1. Levantamento prévio de Periplaneta americana e vestígios

(fezes) em caixas de monitoramento.

Data da coleta: 28/08/2010

Armadilha

A

nº insetos

capturadosLocalização

Armadilha

B

nº insetos

capturados Localização

A1 0 Q.02 A B1 0 Q.03 M

A2 2 Q.11 A B2 0 Q.03 M

A3 0 Q.11 A B3 11 Q.02 Aj

A4 2 Q.11A B4 0 Q.02 Aj

A5 0 Q.11 M B5 1 Q.05 Aj

A6 0 Q.11 M B6 1 Q.05 Aj

A7 1 Q.06 A B7 2 Q.06 A

A8 0 Q.06 A B8 1 Q.06 A

A9 0 Q.08 A B9 1 Q.07 A

A10 0 Q.08 A B10 1 Q.07 A

Obs: Todas as armadilhas continham vestígios(fezes)

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Os insetos foram contados no próprio local e alguns foram

capturados e levados para o laboratório do Centro de Pesquisa e

Desenvolvimento de Sanidade Vegetal do Instituto Biológico de São Paulo

para identificação. Todos os indivíduos capturados foram identificados

como da espécie Periplaneta americana.

Na literatura não encontramos referências sobre

amostragem e níveis populacionais de baratas em cemitérios. A

amostragem nos permitiu visualizar a presença de Periplaneta americana

na área estudada, através da contagem de indivíduos ou presença de

fezes, antes e depois da aplicação dos inseticidas.

5.2 Thiametoxan

Em 08.10.2010 ocorreu a aplicação de inseticida

thiametoxan, no final da tarde. Por volta das 22:00 horas houve uma

chuva intensa que durou 40 minutos. No dia seguinte pela manhã, em

nova vistoria ao cemitério foram observadas algumas baratas vivas, mas

com comportamento alterado, pois estavam foram dos seus abrigos

durante o dia e com movimentos lentos e desorientados, característico do

contato com inseticidas. Não foi constatado visualmente a presença de

baratas mortas. Este produto possui dentre as suas características uma

ação mais lenta, o que indica que as baratas que entraram em contato

com o produto devem ter morrido nos abrigos, não sendo possível a

visualização. Estima-se que o efeito residual nas áreas externas dos

túmulos tenha sido prejudicado pela chuva ocorrida poucas horas após a

aplicação. Pelo comportamento observado, estima-se que as baratas

puderam entrar em contato com o produto, uma vez que sua atividade se

inicia por volta das 19:00 horas.

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5.3 Cipermetrina e lambdacialotrina

Em 22.10.10 ocorreu a aplicação do inseticida cipermetrina e

lambdacialotrina, respectivamente, no final da tarde.

O efeito desalojante da cipermetrina foi visível durante a aplicação,

provocando revoadas de baratas, característico deste ingrediente ativo.

Este efeito não foi observado com a mesma intensidade durante a

aplicação da lambdacialotrina, cuja caraterística importante do ingrediente

ativo e formulação utilizada é o longo efeito residual no tratamento de

perímetro (áreas externas).

Após 01 hora da aplicação foram identificadas 245 baratas mortas

nas áreas tratadas com lambdacialotrina e cipermetrina; além de uma

grande atividade (movimentação) de baratas. A aplicação destes produtos

promoveu efeito desalojante associado a mortalidade. Muitos indivíduos

com coordenação motora prejudicada acabaram morrendo a metros de

distância da área aplicada.

No dia seguinte pela manhã, o local foi vistoriado sendo

encontradas 753 baratas mortas. Além disso, observou-se baratas mortas

no interior dos túmulos, as quais não foram contabilizadas por dificuldade

de acesso.

Após duas semanas da aplicação foram colocadas as armadilhas

de monitoramento nos corredores entre os túmulos para levantamento do

grau de infestação seguindo o mesmo critério anterior. A colocação foi no

final da tarde, sendo a retirada e contagem dos insetos na manhã

seguinte.

Os dados foram coletados nos dias 06.11.2010, 20.11.2010 e

11.12.2010 conforme quadros a seguir. No dia 06.11.2010 ocorreram

chuvas intensas.

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A associação de diferentes ingredientes ativos e formulações de

inseticidas (ação desalojante e residual) deve ser considerado no controle

de Periplaneta americana em cemitérios.

As caraterísticas construtivas dos túmulos, como a rusticidade,

profundidade da construção, abrigos, frestas e rachaduras indicam a

necessidade de um cronograma de aplicações, afim de se reduzir

significativamente a população de Periplaneta americana.

Quadro 2. Levantamento de Periplaneta americana e vestígios (fezes) em

caixas de monitoramento, após a aplicação de inseticidas.

São Paulo-SP, em 06.11.2010.

Rua 1

Thiametoxan

Rua 2

Lambdacialotrina

Rua 3

Cipermetrina

PontoNº

baratasFezes

baratasFezes

baratasFezes

1 0 0 1 0 0 X

2 0 0 2 0 0 0

3 0 X 0 0 0 0

4 0 X 0 0 1 0

5 0 X 0 0 0 0

6 0 X 0 0 0 0

7 0 X 0 0 0 0

8 0 X 0 0 0 0

9 0 X 0 X 0 0

10 0 X 0 X 0 0

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Quadro 3. Levantamento de Periplaneta americana e vestígios (fezes) em

caixas de monitoramento, após a aplicação de inseticidas.

São Paulo-SP, em 20.11.1010.

Rua 1

Thiametoxan

Rua 2

Lambdacialotrina

Rua 3

Cipermetrina

PontoNº

baratasFezes

baratasFezes

baratasFezes

1 1 X 0 X 0 X

2 0 X 0 X 0 X

3 2 X 0 X 0 X

4 2 X 0 X 0 0

5 1 X 0 0 16 X

6 0 X 0 X 0 X

7 2 X 0 X 0 X

8 6 X 0 X 0 X

9 0 X 0 X 0 X

10 4 X 0 X

ARMADILHA NÃO LOCALIZADA

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Quadro 4 Levantamento de Periplaneta americana e vestígios (fezes) em

caixas de monitoramento, após a aplicação de inseticidas.

São Paulo-SP, em 11.12.2010.

Rua 1

Thiametoxcan

Rua 2

Lambdacialotrina

Rua 3

Cipermetrina

PontoNº

baratasFezes

baratasFezes

baratasFezes

1 2 X 1 X 0 X

2 2 X 0 X 2 X

3 2 X 5 X 6 X

4 6 X 0 X 2 X

5 0 X 1 X 1 X

6 1 X 0 X 1 X

7 0 X 0 X 2 X

8 0 X 1 X 1 X

9 1 X 0 X

10 1 X

ARMADILHA NÃO LOCALIZADA

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Quadro 5. Levantamento de Periplaneta americana e vestígios (fezes) em

caixas de monitoramento, antes e após a aplicação dos

inseticidas thiametoxan, lambdacialotrina e cipermetrina.

Área Experimental 1 - Thiametoxan

Data de coleta Presença de Baratas Presença de Fezes Dias após aplicação

28/08/2010 70% 100% 0

06/11/2010 0% 80% 29

20/11/2010 70% 100% 43

11/12/2010 70% 100% 64

Área Experimental 2 – Lambdacialotrina

Data de coleta Presença de Baratas Presença de Fezes Dias após aplicação

28/08/2010 30% 100% 0

06/11/2010 20% 20% 15

20/11/2010 0% 88,89% 29

11/12/2010 50% 100% 50

Área Experimental 3 - Cipermetrina

Data de coleta Presença de Baratas Presença de Fezes Dias após aplicação

28/08/2010 30% 100% 0

06/11/2010 10% 10% 15

20/11/2010 10% 90% 29

11/12/2010 77,78% 100% 50

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6. DISCUSSÃO

Na área experimental 1 onde foi aplicado thiametoxam as

baratas foram contadas após12h e coletadas após 29 dias, 43 dias e 64

dias da aplicação. A primeira avaliação após 12h foi prejudicada pela

chuva e não visualizamos insetos mortos. A segunda avaliação com 29

dias também foi prejudicada pela chuva mas a quantidade de fezes era

grande mostrando que houve visitação das baratas nas armadilhas

durante a noite, (80% tinham fezes). Com 43 dias e 64 dias tínhamos 70%

das armadilhas com baratas e 100% com fezes. Esses dados nos

mostram que após 43 dias o grau de infestação estava exatamente igual

a avaliação pré tratamento químico.

Na área experimental 2 onde foi aplicado lambdacialotrina

as baratas foram contadas após 1h e 12h e coletadas após 15 dias, 29

dias e 50 dias da aplicação. A contagem das baratas após 1h e 12h da

aplicação pode ter sido prejudicada porque com a aplicação de

cipermetrina próximo houve um efeito desalojante visível e esses insetos

podem ter invadido o local onde foi aplicado lambdacialotrina. As 3

coletas seguintes mostraram que a aplicação do inseticida diminuiu a

infestação nos primeiros 15 dias, aumentando depois nas próximas

coletas.

Na área experimental 3 onde foi aplicado cipermetrina as

baratas foram contadas após 1h e12h e coletadas após 15 dias, 29 dias e

50 dias da aplicação. O efeito desalojante do inseticida foi notado ainda

durante a aplicação e grande número de baratas estavam mortas no dia

seguinte. Pudemos notar com as coletas que com 15 dias o grau de

infestação diminuiu, aumentando depois nas próximas coletas.

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7. CONCLUSÃO

A aplicação do inseticida thiametoxan reduziu a presença

de Periplaneta americana aos 29 dias após aplicação.

A aplicação dos inseticidas cipermetrina e

lambdacialotrina reduziram a presença de Periplaneta americana aos 15

dias após a aplicação.

O ingrediente ativo cipermetrina na formulação

concentrado emulsionável apresentou maior efeito desalojante em relação

aos demais.

O ingrediente ativo lambdacioalotrina na formulação

solução concentrada apresentou maior efeito residual aos 50 dias após a

aplicação.

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