avaliaÇÃo na educaÇÃo infantil: o que dizem os...

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1928 AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE DIZEM OS PESQUISADORES? Gilsenir Maria Prevelato de Almeida Dátilo – Unesp/FFC Marília- [email protected] Uillians Eduardo Santos – Unesp/FCT Presidente Prudente – [email protected] INTRODUÇÃO A avaliação é um ato inerente ao ser humano, universal, independente de classe social, cor, etnia, sempre nos perguntamos, refletimos, se estamos agindo de forma correta ou não, em função do que esperamos conseguir em nossas vidas. Ela nos é tão útil ao ponto de que nossas ações futuras são planejadas de acordo com o resultado do que avaliamos no presente. Em nossas escolas não seria diferente, a partir da avaliação conseguimos acompanhar as dificuldades e facilidades de nossos alunos. Segundo Hoffmann (2012) avaliar é acompanhar a construção do conhecimento de nossos alunos, cuidando através da intervenção do professor para que o aluno consiga aprender e se desenvolver. Para Russell (2014), a avaliação em sala de aula, o processo de coleta, síntese e interpretação de informações, são os elementos que nos ajudam na tomada de decisões em sala de aula. Segundo o autor ao longo de um dia de aula, os professores coletam e utilizam informações de maneira contínua para tomar decisões sobre a administração e a instrução em sala de aula, a aprendizagem dos alunos e o planejamento. É notório que a avaliação na educação infantil não visa dar notas às crianças, mas segundo Silva (2012) tem como objetivo observar a criança, compreender sua dinâmica, poder interferir no momento certo em que aparecem suas dificuldades. Para a autora, a avaliação nesta fase deve ser contínua e dinâmica e o professor (a) deve intervir sempre, (re) planejando a ação educativa, tentando (re) significá-la de forma apropriada de acordo com as dificuldades de cada criança e do grupo como um todo. Neste sentido a autora afirma a necessidade da avaliação “na educação infantil ser mediadora do desenvolvimento da criança” (SILVA, p.4, 2012). Frente ao exposto, concordamos com Sousa (2014, p. 94) de que analisar as finalidades da avaliação escolar á uma tarefa que hoje se impõe aos profissionais da educação, até mesmo porque as escolas têm sido cada vez mais chamadas a interagir com diferentes focos da avaliação. Diante disso, mediante uma pesquisa bibliográfica e documental realizada, discutiremos inicialmente algumas questões acerca da educação infantil, compreendendo sua concepção e pressupostos nessa etapa de ensino da educação básica. Na

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1928

AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE DIZEM OS PESQUISADORES?

Gilsenir Maria Prevelato de Almeida Dátilo – Unesp/FFC Marília- [email protected]

Uillians Eduardo Santos – Unesp/FCT Presidente Prudente – [email protected]

INTRODUÇÃO

A avaliação é um ato inerente ao ser humano, universal, independente de classe

social, cor, etnia, sempre nos perguntamos, refletimos, se estamos agindo de forma

correta ou não, em função do que esperamos conseguir em nossas vidas. Ela nos é tão

útil ao ponto de que nossas ações futuras são planejadas de acordo com o resultado do

que avaliamos no presente.

Em nossas escolas não seria diferente, a partir da avaliação conseguimos

acompanhar as dificuldades e facilidades de nossos alunos. Segundo Hoffmann (2012)

avaliar é acompanhar a construção do conhecimento de nossos alunos, cuidando através

da intervenção do professor para que o aluno consiga aprender e se desenvolver.

Para Russell (2014), a avaliação em sala de aula, o processo de coleta, síntese e

interpretação de informações, são os elementos que nos ajudam na tomada de decisões

em sala de aula. Segundo o autor ao longo de um dia de aula, os professores coletam e

utilizam informações de maneira contínua para tomar decisões sobre a administração e a

instrução em sala de aula, a aprendizagem dos alunos e o planejamento.

É notório que a avaliação na educação infantil não visa dar notas às crianças, mas

segundo Silva (2012) tem como objetivo observar a criança, compreender sua dinâmica,

poder interferir no momento certo em que aparecem suas dificuldades. Para a autora, a

avaliação nesta fase deve ser contínua e dinâmica e o professor (a) deve intervir sempre,

(re) planejando a ação educativa, tentando (re) significá-la de forma apropriada de acordo

com as dificuldades de cada criança e do grupo como um todo. Neste sentido a autora

afirma a necessidade da avaliação “na educação infantil ser mediadora do

desenvolvimento da criança” (SILVA, p.4, 2012).

Frente ao exposto, concordamos com Sousa (2014, p. 94) de que

analisar as finalidades da avaliação escolar á uma tarefa que hoje seimpõe aos profissionais da educação, até mesmo porque as escolas têmsido cada vez mais chamadas a interagir com diferentes focos daavaliação.

Diante disso, mediante uma pesquisa bibliográfica e documental realizada,

discutiremos inicialmente algumas questões acerca da educação infantil, compreendendo

sua concepção e pressupostos nessa etapa de ensino da educação básica. Na

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sequência, discutimos e analisamos a avaliação da aprendizagem na educação infantil,

compreendendo sua função para o processo de ensino e de aprendizagem das crianças.

Apresentamos ainda alguns instrumentos de coleta que são úteis aos professores para o

desenvolvimento da avaliação na educação infantil e por fim, fazemos uma discussão

acerca de avaliação externa para a educação infantil, recém-implementada.

1 DISCUSSÕES INICIAIS EM EDUCAÇÃO INFANTIL

O atendimento de crianças pequenas surgiu no Brasil com o objetivo principal de

amparar as mães que precisavam trabalhar e não tinham onde deixar seus filhos

pequenos e também com o intuito de acolher em abrigos e instituições os órfãos

abandonados, em que na maioria das vezes, tinham mães solteiras. Nesse sentido, o

primeiro enfoque surge com um caráter assistencialista, de resguardo e cuidados com

higiene e alimentação, e não voltado para o processo educativo em sua totalidade. Esse

caráter assistencialista perdurou por muitos anos e ainda apresenta fortes resquícios

atualmente em algumas instituições.

Didonet (2001) discorre que as famílias mais abastadas pagavam uma babá, já

as pobres se viam na contingência de deixar os filhos sozinhos ou colocá-los numa

instituição que deles cuidasse. Aos filhos das mulheres trabalhadoras, a creche tinha que

ser de tempo integral, gratuita ou cobrar muito pouco para cuidar da criança enquanto a

mãe estava trabalhando fora de casa. Era necessário zelar pela saúde, ensinar hábitos

de higiene e alimentar a criança. O autor ainda complementa que dessa origem

determinou a associação creche, criança pobre e o caráter assistencial da creche.

Com o advento da industrialização, surge no Brasil no século XX, o aumento da

contratação dessas mulheres operárias e assim foi também aumentando o número de

creches, entretanto, mesmo com um aumento gradativo de instituições, até meados de

1970 não houve grandes investimentos acerca da educação Infantil.

Em 1971 com a Lei 5692, foi estabelecido que “Os sistemas velarão para que

crianças de idade inferior a 7 anos recebam educação em escolas maternais, jardins de

infância ou instituições equivalentes”. Nessa perspectiva, iniciou-se ainda que

lentamente, um novo olhar à criança pequena. Em 1988, com a Constituição Federal foi

assegurado o direito da família e um dever do Estado, havendo a inclusão da creche e da

pré-escola no sistema educativo. Através do artigo 208, inciso IV denominou-se: “[...] O

dever do Estado para com a educação será efetivado mediante a garantia de oferta de

creches e pré-escolas às crianças de zero a cinco anos de idade”. Após a lei, as creches

que anteriormente eram vinculadas à área da Assistência Social, se tornaram

responsabilidade da área da Educação. Ou seja, continua a se ter o cuidado e zelo pela

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higiene e proteção, porém agora, atrelado com um cunho pedagógico voltado à

aprendizagem.

Através da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em

1990, se concretizaram várias conquistas da criança em relação aos direitos trazidos na

Constituição, se tornando um marco referente à proteção integral de crianças e

adolescentes e a prioridade na formulação de políticas públicas, na destinação de

recursos da União e no atendimento de serviços públicos.

Pela Lei nº 9.394/96, sabe-se que a Educação Infantil, tem por finalidade o

desenvolvimento integral da criança até cinco anos de idade, em seus aspectos físico,

psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.

Na atualidade a Educação Infantil tem por finalidade cumprir o seguinte tripé:

cuidar, brincar e educar (Proinfância), realizando no seu interior um trabalho que possua

caráter educativo, visando garantir assistência, alimentação, saúde e segurança com

condições materiais e humanas que tragam benefícios sociais e culturais para as

crianças atendidas.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil se articulam com as

Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos

e procedimentos definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de

Educação, para orientar as políticas públicas na área e a elaboração, planejamento,

execução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares, conforme o Art. 2º desta

resolução.Frente ao exposto, em seu art. 6º as propostas pedagógicas de Educação Infantil

devem respeitar os princípios: éticos, políticos e estéticos, cumprindo assim plenamente

sua função sociopolítica e pedagógica descrita no art. 7º:

I - oferecendo condições e recursos para que as crianças usufruam seusdireitos civis, humanos e sociais;II - assumindo a responsabilidade de compartilhar e complementar aeducação e cuidado das crianças com as famílias;III - possibilitando tanto a convivência entre crianças e entre adultos ecrianças quanto a ampliação de saberes e conhecimentos de diferentesnaturezas;IV - promovendo a igualdade de oportunidades educacionais entre ascrianças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bensculturais e às possibilidades de vivência da infância;V - construindo novas formas de sociabilidade e de subjetividadecomprometidas com a ludicidade, a democracia, a sustentabilidade doplaneta e com o rompimento de relações de dominação etária,socioeconômica, étnico-racial, de gênero, regional, linguística e religiosa.(BRASIL, 2009).

Um ponto relevante dessa Resolução é a diversidade ao acesso da Educação

Infantil, uma vez que a mesma proporciona a garantia da autonomia dos povos

indígenas, das crianças filhas de agricultores familiares, extrativistas, pescadores

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artesanais, ribeirinhos, assentados e acampados da reforma agrária, quilombolas,

caiçaras, povos das florestas, na forma de provimento a tal etapa de ensino,

reconhecendo assim as particularidades e individualidades de cada cultura, região,

comunidade, sem prejuízo do processo de ensino e de aprendizagem.

Fica evidente nessa resolução a preocupação nacional para com a Educação

Infantil, determinando assim seus princípios norteadores, suas práticas pedagógicas a

serem adotadas em todas as instituições de ensino infantil no país, mas conservando e

evidenciando as particularidades e individualidades de cada uma delas.

Entretanto, para que tal resolução seja efetivamente cumprida é necessário um

professor “super-herói”, pois para que ele cumpra tais princípios e práticas pedagógicas

propostas, o mesmo deverá ter tido uma boa formação, possuir uma visão ampla de

mundo, que a nosso ver só poderá ser conquistada mediante uma formação condizente e

coerente com essa realidade, algo não evidenciado em nossa atualidade. O que

observamos é a formação de professores cada vez mais precarizada, exemplificado, pela

grande expansão dos cursos de pedagogia à distância.

Não podemos deixar de mencionar que houve alguns avanços para com a

Educação Infantil, entretanto essa etapa de ensino encontra alguns problemas que

devemos resolver o quanto antes, uma vez que, sendo essa a primeira etapa da

educação básica, se torna imprescindível. Os principais problemas que podemos elencar

são: a falta de unidades e oferta de vagas para atender a demanda necessária,

professores bem formados, espaços físicos adequados para o desenvolvimento da

criança.

Enfim, é imprescindível e urgente a adoção de políticas públicas educacionais

voltadas para a formação do professor, em especial, para o que atuará com a Educação

Infantil. Assim, observamos que para atuar com a essa etapa de ensino é preciso que o

profissional esteja apto a lidar com várias temáticas. Logo, a avaliação passa por essa

necessidade. E é esse tema que discutiremos nas próximas linhas: a avaliação da

aprendizagem na educação infantil.

2 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DISCUSSÕES E

ANÁLISES

Como temos observado, a avaliação perpassa todas as etapas da educação, desde

a educação infantil até o mais alto grau de ensino. Diante disso, discutimos a avaliação

na educação infantil, a etapa base da nossa educação.

Para Hoffmann (2012) a avaliação na Educação Infantil é, pois, “um conjunto de

procedimentos didáticos que se estendem por um longo tempo e em vários espaços

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escolares, de caráter processual e visando, sempre, a melhoria do objeto avaliado”

(HOFFMANN, 2012, p. 13).

De acordo com Silva e Urt (2014, p. 60), “avaliar não se reduz a emitir juízo de

valor, mas sim realizar um acompanhamento de todo o processo de desenvolvimento e

aprendizagem da vida institucional da criança, com o propósito de aprimorar a prática

docente”.

Assim, deve ser a avaliação, não só na educação infantil, mas consideramos que

em todas as etapas da educação básica e ensino superior. Uma avaliação que sirva ao

processo e não meramente a um resultado final e que essa avaliação sirva também para

o professor avaliar o seu trabalho e tomar decisões a partir dela, para o aprimoramento

de sua prática pedagógica desenvolvida em sala de aula.

Consideramos ainda que para o professor desenvolver uma avaliação coerente e

condizente na educação infantil, ele deverá pensar em vários aspectos: desenvolvimento,

concepção de infância, de criança. Terá que utilizar materiais diversificados, assim como

propor atividades diferenciadas e ricas para explorar cada aspecto das crianças. Afinal

avaliar o desenvolvimento de uma criança é uma ação complexa e exigeda escola um olhar de extrema atenção, um conhecimento sobre oaprender e o desenvolver do aluno, para que assim, através demetodologias de avaliação ou de instrumentos variados seja possívelaferir de maneira mais sistematizada, contemplando o indivíduo e seusavanços (SILVA; URT, 2014, p. 63).

Dialogando com Hoffmann (2012), observamos que é preciso que o professor

aprenda a olhar, a observar, de forma que possa desenvolver técnicas de observação,

apreendendo não só o que está visível, mas o ‘ver além’, um olhar sensível voltado a

todos os momentos do cotidiano escolar.

Outros autores concordam com Hoffman, no sentido de que

observação e o registro da dinâmica da aprendizagem na EducaçãoInfantil facilitam a compreensão do desenvolvimento cognitivo da criançae influenciam no planejamento e eficácia da ação do professor (SILVA,2012, p.1))

De acordo com Micarello (2010), as referências para realizar processos de

avaliação devem ser buscadas na própria criança e não em padrões pré-estabelecidos

aos quais ela deve corresponder. Temos que respeitar as individualidades,

particularidades e especificidades de cada criança, o ritmo de desenvolvimento de cada

uma, levando em consideração que “a avaliação na educação infantil é marcada por

diversos âmbitos que demandam um olhar multifacetado e diferentes linguagens” (FARIA;

BESSELER, 2014, p. 161).

Carneiro (2010) nos alerta que,

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a avaliação na educação infantil consiste no acompanhamento dodesenvolvimento infantil e por isso, precisa ser conduzida de modo afortalecer a prática docente no sentido de entender que avaliar aaprendizagem e o desenvolvimento infantil implica sintonia com oplanejamento e o processo de ensino. Por isso, a forma, os métodos deavaliar e os instrumentos assumem um papel de extrema importância,tendo em vista que contribuem para a reflexão necessária por parte dosprofissionais acerca do processo de ensino. (CARNEIRO, 2010, p. 6).

Consideramos que pensar no processo de ensino, é pensar numa ação mediadora.

E assim, também deverá ser a avaliação da aprendizagem.

Segundo Hoffmann (2012), a avaliação mediadora tem como característica a

observação individualizada da criança, a ação reflexiva sobre os diversos

comportamentos do educando, o planejamento como forma intencional de propor

atividades significativas.

Diante disso, o professor deverá avaliar cada aluno na sua individualidade, avaliar o

progresso e desenvolvimento de cada aluno individualmente. Mesmo quando da

avaliação de uma atividade em grupo, a avaliação deverá ser realizada com olhar

individualizado para cada criança. O professor deverá atuar como um mediador.

Segundo Hoffmann (2012) a ideia de avaliação mediadora, coloca a participação do

professor como fundamental, pois é ele o observador, capaz de refletir e construir os

saberes necessários para melhor conduzir a ação pedagógica.

Diante disso, concordamos com Silva e Urt (2014) de que

o trabalho na Educação Infantil se faz a partir de vários olhares(professores e crianças), o conhecimento é construído de maneiramediada, fundamentado por meio do diálogo, da reflexão, doplanejamento e da avaliação, em que o professor, como responsáveldireto, visa desenvolver seu trabalho de forma correta (SILVA; URT,2014, p. 75).

As autoras salientam também que

a abordagem da avaliação na Educação Infantil envolve o pensar emações que valorizem todo o processo de aprendizagem edesenvolvimento da criança, do professor, da instituição. Não existe umaforma de avaliar, requer sim um olhar reflexivo e mediador à prática.(SILVA; URT, 2014, p. 76).

Diante disso, destacamos que a avaliação na educação infantil é de extrema

importância, tendo em vista ser essa etapa base para todo o processo de

desenvolvimento da criança para as próximas etapas da educação.

Ressaltamos que a avaliação deve servir tanto a escola, como a todos os atores

escolares, devendo ser utilizada como norte para analisar os processos e as práticas em

vigência, ou seja,

a avaliação deve ser um processo contínuo e de caráter formativo, quedeve partir do professor, orientado pela equipe gestora da instituição, econtemplar aspectos que lhe permitam conhecer profundamente seus

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alunos e a si mesmo, contribuindo para a revisão de suas práticaspedagógicas e, consequentemente, para a melhoria da qualidade deensino no âmbito da Educação Infantil (FARIA; BESSELER, 2014, p.164).

Consideramos também que a avaliação só terá sentido e significado se ela for

utilizada como instrumento de auxílio para o professor, para a escola, pensando sempre

no desenvolvimento de cada criança e jovem.

Enfim, a avaliação será útil e necessária para (re) pensarmos em verdadeiros e

efetivos processos de ensino e de aprendizagem, e revertermos a atual situação que

temos tido em nossas unidades escolares acerca de avaliação da aprendizagem.

3. OS INSTRUMENTOS DE COLETA PARA A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para realizarmos uma boa avaliação na Educação Infantil torna-se necessário

termos vários instrumentos para compô-la, os quais nos darão base para a elaboração

dos pareceres sobre o trabalho realizado, onde será necessário enfocar as dificuldades,

avanços, progressos apresentados por cada criança. Alguns autores como Hoffmann

(2012), Silva (2012) concordam que devemos saber sobre a realidade do aluno, assim,

onde e como ele vive, respeitar sua individualidade e neste sentido realizar as

intervenções no sentido ser um “transformador na aprendizagem dos alunos” (SILVA,

2012, p.5).

Alguns pesquisadores como Gandum Marchão, Presumido Fitas (2014), Silva

(2012), acreditam ser de extrema importância pensar nos instrumentos utilizados para

relatar a avaliação na educação infantil.

Silva (2012) cita os registros diários das observações realizadas, pensando em

informações básicas para a melhora do planejamento, cita os relatórios individuais que

segundo ela mostram os avanços, expectativas, mudanças e as descobertas, a partir de

onde o educador pode fazer uma reflexão e análise sobre em que situação a criança

pode melhorar sua aprendizagem.

Já o portfólio é citado por Gandum Marchão, Presumido Fitas (2014),

pesquisadoras de Portugal, e também Silva (2012), pesquisadora brasileira, como um

ótimo instrumento de avaliação. Gandum Marchão e Presumido Fitas (2014), definem o

portfólio como

uma pasta pessoal, que reúne um conjunto de elementosproduzidos e escolhidos pelas crianças de forma organizada eplanejada, capazes de demonstrar as etapas do seu percurso aolongo de um determinado período de tempo, com um propósitodeterminado. Deste modo, afigura-se como um instrumento detrabalho e de avaliação em desenvolvimento constante e sempre

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em construção, que merece uma atenção particular dos/daseducadores/as de infância e que encerra dois objetivos principais:incluir a criança no processo de aprendizagem e integrar aavaliação no processo de aprendizagem (GANDUM MARCHÃO,PRESUMIDO FITAS, 2014, p.31).

Frente ao exposto, observamos a importância de se fazer uma avaliação rica em

instrumentos avaliativos variados. Observamos que não é somente a observação um dos

instrumentos que o professor terá a seu favor e disposição para o desenvolvimento da

avaliação na educação infantil. Há várias possibilidades de instrumentos, dos quais

podemos elencar: os registros, os relatórios, por meio das figuras e desenhos elaborados

pelas crianças, por meio de fotografias produzidas pelos alunos, em exploração de

objetos, por meio de confecção e elaboração de portfólios, sejam individuais ou coletivos,

entre tantas outras possibilidades e instrumentos de coleta de dados que podem ser

avaliados para conhecermos cada criança e acompanhar seus avanços e retrocessos, ou

seja, seu desenvolvimento diário, assim como, e principalmente para que o professor

possa (re) pensar sua prática docente.

4. AVALIACÃO EXTERNA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UM NOVO DESAFIO

A experiência em avaliação externa no Brasil ainda é muito recente, menos de

três décadas de existência. E nos últimos anos tem ganhando destaque, tendo em vista

sua abrangência em nível nacional, estadual e mais recentemente em nível municipal.

Vale destacar também as etapas e modalidades de ensino que essas avaliações têm

abrangido: educação básica (ensino fundamental e médio), ensino superior e

recentemente discussões foram realizadas para se pensar em avaliação externa para a

educação infantil, sendo aprovado sua implementação ainda no primeiro semestre desse

ano de 2015.

É a avaliação externa para essa etapa que discutiremos nessa seção.

Inicialmente para essa discussão, recorremos ao artigo Apontamentos sobre o

documento “educação infantil: subsídios para a construção de uma sistemática de

avaliação” de Lígia Fraga Vieira (2014).

Nesse artigo a autora apresenta as principais ideias resultantes das discussões

do Grupo de Trabalho (GT) de Avaliação da Educação Infantil, o qual foi instituído por

meio da Portaria Ministerial nº 1.147/2011, com as atribuições de propor diretrizes e

metodologias de avaliação na e da Educação Infantil, de analisar diversas experiências,

estratégias e instrumentos de avaliação da Educação Infantil e de definir cursos de

formação sobre avaliação na educação infantil para compor a oferta da Rede Nacional de

Formação Continuada de Professores. O GT produziu o documento intitulado “Educação

Infantil: subsídios para a construção de uma sistemática de avaliação” (BRASIL, 2012),

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datado de outubro de 2012. É um documento público, facilmente acessível no Portal do

Ministério da Educação.

Segundo Vieira (2014, p. 21), “a criação do GT decorreu da necessidade de

subsidiar a inclusão da educação infantil na Política Nacional de Avaliação da Educação

Básica, devendo ser ressaltada as especificidades e as características da educação da

criança de 0 a 5 anos de idade”.

O documento é organizado em cinco itens que tratam das concepções de

infância, criança, educação infantil, avaliação e que ressaltam as referências e

parâmetros para a avaliação na e da educação infantil.

Para a elaboração final do documento, foi necessária a análise de outros

documentos produzidos pelo MEC: Projeto de Lei para o novo PNE, Constituição Federal

88, Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDBEN 9.394/96, Estatuto da Criança e

Adolescente, Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil, a lei do FUNDEB e o

Plano Nacional de Educação anterior.

Consideramos que a utilização de tais documentos serviu como um norte para a

elaboração desse documento, além do que a legislação educacional vigente pode ter

proporcionado reflexões e análises de como a educação infantil tem sido vista e

concebida ao longo dos anos pela sociedade e nossos governantes.

A primeira análise que o documento faz, é apontar as limitações do Sistema

Nacional de Avaliação da Educação Básica, o SAEB, em relação à educação infantil, uma

vez que essa etapa da educação básica, não é levada em conta em suas avaliações

bianuais. Entretanto, ao mencionar o SAEB no documento, o primeiro sinal de alerta é

dado.

O documento destaca que “os processos de avaliação devem servir para induzir

ações, redirecionar trajetórias, subsidiar decisões e formular políticas e planos” (BRASIL,

2012, p. 11).

Muitos desses objetivos são os mesmos explícitos nos objetivos e propostas

das avaliações externas. É preciso tomar cuidado.

O documento ainda nos alerta sobre alguns pontos que a avaliação da educação

infantil deverá levar em consideração, uma vez que

[...] a avaliação de políticas educacionais é um processo, que se realizaem um contexto complexo e plural, por meio de diversos programas eprojetos, atentando-se para que seu delineamento dê visibilidade àsdiferenças e desigualdades das redes municipais de ensino do país emesmo das escolas dentro de uma mesma rede (BRASIL, 2012, p. 13).

Essa tem sido uma das grandes problemáticas das avaliações externas: avaliar

e levar em consideração as desigualdades, as particularidades e especificidades de cada

escola, rede de ensino e alunos.

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Vale outro alerta apresentado no referido documento: “as avaliações de

desenvolvimento, da aprendizagem e das condições de saúde da criança não devem se

confundir com a avaliação da educação infantil” (BRASIL, 2012, p. 15).

Assim, fica explícito que não se deve confundir avaliação da aprendizagem, que

é de competência do professor, a qual se desenvolve nas salas de aula de nossas

escolas, com a avaliação institucional ou avaliação externa. Entretanto temos que

observar e analisar até quando isso se manterá na avaliação da educação infantil. Cabe

a nós aguardar as próximas ações do MEC, dos Estados e dos Municípios, quanto à

implementação e efetiva utilização dessa nova avaliação.

Partindo essencialmente de uma das metas do novo PNE (2014) que é a de

implementar uma avaliação com vistas a aferir “a infraestrutura física, o quadro de

pessoal, as condições de gestão, os recursos pedagógicos, a situação de acessibilidade,

entre outros indicadores relevantes”( BRASIL, 2014) surge a avaliação da educação

infantil.

E com essa avaliação, algumas diretrizes que irão compô-la:

- seja coerente com as finalidades e características da educação infantil;- inclua ações coordenadas pelos diferentes níveis de governo;- produza informações capazes de balizar iniciativas das diversasinstâncias governamentais;- articule-se às iniciativas de avaliação institucional já em realização porredes e escolas públicas;- seja abrangente, prevendo indicadores relativos a insumos, processose resultados;- considere os determinantes intra e extra institucionais que condicionama qualidade da educação;- paute-se por uma perspectiva democrática e inclusiva, não induzindo acompetição em detrimento de relações compartilhadas;- promova um processo participativo capaz de viabilizar a dimensãoformativa da avaliação, estimulando diferentes atores e setores acontribuir na definição e acolhimento de parâmetros de qualidade;- leve em conta contribuições de propostas e experiências divulgadas emâmbito nacional e internacional. (BRASIL, 2012, p. 18-19)

Mesmo com todas essas diretrizes explícitas no documento, o mesmo ainda

carece de certa discussão e análise mais aprofundada, em especial no que tange à

metodologia a ser utilizada na avaliação. Conforme Vieira (2014, p. 28), “uma

preocupação manifestada no documento é a de como garantir que os resultados das

avaliações produzidas nas diferentes instâncias se traduzam em aportes para a definição

de ações, de prioridades”.

Essa é que deve ser a prioridade, pensar as avaliações para definição de ações

e prioridades, ou seja, pensar a avaliação como tomada de decisão, como norte para (re)

planejamento das escolas e dos docentes.

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Quanto aos resultados, “há que se registrar que o horizonte esperado é o pleno

alcance das dimensões de qualidade indicadas nos documentos do MEC” (BRASIL,

2012, p. 24).

Aí também pode residir outro perigo. A qualidade que o MEC propõe em seus

documentos, em sua maioria, pode não incluir as especificidades, diferenças regionais

espalhadas pelo país. Os documentos podem ser utilizados como um norte, como um

parâmetro, mas não podem servir exclusivamente como único instrumento auxiliar para a

avaliação da educação infantil.

O próprio documento analisado aponta esse questionamento que levantamos:

Respeitar a complexidade e diversidade da realidade e ter presente adimensão política da avaliação são condições imprescindíveis para aconstrução de uma sistemática de avaliação que se paute pelocompromisso com a democratização da educação infantil (BRASIL,2012, p. 25).

Isso é o que esperamos e queremos. Que haja sim a avaliação da educação

infantil, mas que essa avaliação não pare nos resultados quantitativos, como tem sido

realizado com as demais etapas/modalidades de ensino. Sabemos da importância

dessas avaliações, mas temos nossas desconfianças com os usos e abusos que podem

ser realizados com ela e seus resultados. Precisamos de coerência e discussões, para

que não tenhamos simplesmente mais uma avaliação externa, classificando escolas,

rotulando alunos, promovendo desigualdades e competitividade entre seus pares. Afinal,

a avaliação é um meio que serve à concretização de um dado projeto,portanto, é essencial que se vislumbre que uso será feito de seusresultados na direção de que sirvam ao alcance dos propósitosalmejados (SOUSA, 2014, p. 103).

CONSIDERAÇÕES

A partir dos estudos realizados, foi possível concluir a vital importância da avaliação

da aprendizagem na educação infantil, tanto para o aluno, como para o (a) professor (a),

para a família e para a escola. Evidenciou-se que a avaliação jamais deverá se resumir a

uma nota ou conceito, ou servir apenas para classificação, mas que deve sim ser

utilizada como diagnóstica do processo de ensino e de aprendizagem, e para a tomada

de decisão a partir da análise do contexto que o aluno se encontra.

Enfatizamos a unanimidade dos autores pesquisados, no sentido de que avaliação

deve ser contínua e de caráter formativo, que deve partir do professor, mas orientado por

sua equipe coordenadora da escola a que pertence e contemplar aspectos que lhe

permitam conhecer seus alunos e a si mesmo; desse modo auxiliando-o para a revisão

de suas práticas pedagógicas e, enfim para a melhoria da qualidade de ensino na

Educação Infantil. Conseguiremos esta melhor qualidade na avaliação, a partir de um

Page 12: AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: O QUE DIZEM OS ...200.145.6.217/proceedings_arquivos/ArtigosCongressoEducadores/5644.pdf · da intervenção do professor para que o aluno consiga

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bom planejamento, uma prática mediadora, uma relação dialógica e uma visão reflexiva

no dia a dia de nossas salas de aula.

Consideramos que não precisamos de mais rankings, mas, sim de mais ações e

efetivas políticas públicas educacionais. E se essa avaliação conseguir cumprir com os

objetivos que se propõe, será bem vinda, do contrário, continuaremos a cavar um

calabouço sem fim.

REFERÊNCIAS

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