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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO MARCELO DOS SANTOS GUZELLA AVALIAÇÃO DO PODER PREDITIVO DO DESEMPENHO OPERACIONAL A PARTIR DA SITUAÇÃO ECONÔMICO- FINANCEIRA DAS DISTRIBUIDORAS BRASILEIRAS DE ENERGIA ELÉTRICA Rio de Janeiro 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO

MARCELO DOS SANTOS GUZELLA

AVALIAÇÃO DO PODER PREDITIVO DO DESEMPENHO OPERACIONAL A PARTIR DA SITUAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DAS DISTRIBUIDORAS BRASILEIRAS DE

ENERGIA ELÉTRICA

Rio de Janeiro

2015

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MARCELO DOS SANTOS GUZELLA

AVALIAÇÃO DO PODER PREDITIVO DO DESEMPENHO OPERACIONAL A PARTIR DA SITUAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DAS DISTRIBUIDORAS BRASILEIRAS DE

ENERGIA ELÉTRICA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto

COPPEAD de Administração, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de

Mestre em Administração.

ORIENTADOR: Prof. Adriano Rodrigues, D.Sc.

Rio de Janeiro

2015

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Guzella, Marcelo

G993a Avaliação do Poder Preditivo do Desempenho Operacional a partir da

Situação Econômico Financeira das Distribuidoras Brasileiras de Energia

Elétrica / Marcelo Guzella. -- Rio de Janeiro, 2015.

81 f.

Orientador: Adriano Rodrigues.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro,

Instituto COPPEAD de Administração, Programa de Pós-Graduação em

Administração, 2015.

1. Finanças. 2. Indicadores financeiros. 3. Análise financeira. 4.

Administração - Teses. I. Rodrigues, Adriano, orient. II. Título.

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MARCELO DOS SANTOS GUZELLA

AVALIAÇÃO DO PODER PREDITIVO DO DESEMPENHO OPERACIONAL A PARTIR DA SITUAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DAS DISTRIBUIDORAS BRASILEIRAS

DE ENERGIA ELÉTRICA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto

COPPEAD de Administração, da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de

Mestre em Administração.

Aprovada por:

____________________________________________________

Prof. Adriano Rodrigues, D.Sc., Coppead/UFRJ

____________________________________________________

Prof. Vicente Ferreira, D.Sc., Coppead/UFRJ

____________________________________________________

Prof. Marcelo Alvaro da Silva Macedo, D.Sc., PPGCC/UFRJ

Rio de Janeiro

2015

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DEDICATÓRIA

Dedico esta dissertação a minha família, em especial ao meu pai, Fernando, que em vida não

deixou de me incentivar e me apoiar por um minuto sequer nesta realização.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, em primeiro lugar, por ter me mantido motivado e em

condições para enfrentar este desafio e lidar com os sacrifícios necessários. A minha família e

meus amigos, pelo suporte e pela convivência. A meus irmãos Matheus e Thiago, cujas

conquistas acadêmicas foram fonte de inspiração. A meu irmão Rodrigo, pelo constante

apoio. Aos meus pais, Fernando e Neusa, pelo suporte incondicional.

Não me atreverei a citar o nome de cada um dos amigos, para não correr o risco

de esquecer algum, mas deixo a todos minha gratidão pela convivência e paciência neste

período, e por desviarem a atenção da dissertação para os momentos de lazer, sem os quais

seria impossível recuperar as forças para continuar.

Agradeço ao meu orientador, professor Adriano Rodrigues, por ter me oferecido a

oportunidade de trabalhar nesta pesquisa, pelos ensinamentos, pela disponibilidade e

paciência.

Aos professores Vicente Ferreira e Marcelo Alvaro Macedo, por aceitarem o

convite para a banca e pelas suas importantes contribuições.

Agradeço a todos os professores e funcionários do Coppead pelo alto nível das

aulas e do curso, pelo engajamento, cordialidade e profissionalismo. Aos colegas pela

convivência estimulante.

Por fim, agradeço ao programa de bolsas da CAPES, pelo auxílio financeiro, a ao

GESEL pelas valiosas contribuições.

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RESUMO

GUZELLA, Marcelo. Avaliação do poder preditivo do desempenho operacional a partir da situação econômico-financeira das distribuidoras brasileiras de energia elétrica. 2015. 81f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Instituto

COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 2015.

O presente estudo teve como propósito investigar a relação entre indicadores econômico-financeiros e o desempenho operacional (ou a qualidade do serviço prestado), em períodos subseqüentes, de concessionárias brasileiras de distribuição de energia elétrica. A partir de dados de 2011 a 2013, 15 indicadores foram construídos e submetidos a testes estatísticos, em conjunto com variáveis de controle que indicam o porte da empresa e se ela opera ou não no sistema interligado. Para avaliar o desempenho operacional, foram utilizados o Desempenho Global de Continuidade (DGC) e o Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (IASC). Boa parte das relações esperadas foi confirmada nos testes, indicando que níveis de investimento, endividamento, eficiência em custos e rentabilidade contribuem para explicar o desempenho operacional futuro. Os indicadores que medem a proporção entre EBITDA e despesa financeira líquida, entre investimentos e ativo total, entre EBITDA e custos gerenciáveis (pessoal, manutenção, serviços, materiais e outros), e a margem EBITDA apresentaram poder de explicação significativo do DGC; já as razões entre passivo e ativo totais, entre custos gerenciáveis e receita líquida, entre receita líquida e ativo total, entre compensações regulatórias e receita líquida, e a margem de lucro apresentaram poder de explicação significativo tanto do DGC quanto do IASC. Os resultados encontrados persistiram em diferentes defasagens temporais e quando a amostra foi submetida a um teste de robustez. Pode-se concluir, portanto, que o monitoramento de indicadores que traduzem a gestão financeira dessas empresas é benéfico para a antecipação de deficiências operacionais e, consequentemente, para promover melhor equilíbrio para o setor. Palavras-chave: Indicadores econômico-financeiros, distribuição de energia, desempenho operacional, DGC, IASC

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ABSTRACT

GUZELLA, Marcelo. Avaliação do poder preditivo do desempenho operacional a partir da situação econômico-financeira das distribuidoras brasileiras de energia elétrica. 2015. 81f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Instituto

COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de

Janeiro, 2015.

This work aimed to investigate the relationship between financial ratios and future operational performance in Brazilian electric utilities. Data from 2011 to 2013 of 15 ratios were subjected to statistical tests, with 3 control variables that indicated size of the company and whether it was operating in the interconnected system. The quality of the operation was measured by the Continuity Overall Performance (DGC) and the Customer Satisfaction Index (IASC), both determined by Aneel. Most of the expected relationships were confirmed in the analysis, indicating that levels of investments, leverage, cost efficiency and profitability contribute to explain future operational performance. Measures of EBITDA margin, interest coverage, CapEx over total assets and EBITDA over manageable costs significantly explained the DGC, while leverage, regulatory compensations, asset turnover, net margin and manageable costs over net revenue presented significant explanation power for both variables. The results were robust to different lags and additional tests. Hence, we can conclude that monitoring indicators that reflect the financial management is a worthwhile measure to anticipate operational deficit and, consequently, to promote better balance for the Brazilian power distribution sector. Keywords: financial ratios, electric distribution, operational performance, energy interruption, customer satisfaction

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Distribuição das concessionárias de distribuição de energia ao longo do território brasileiro ................................................................................................................................. 37 Figura 2 – Gráfico com o Desempenho Global de Continuidade (DGC), de 2012 a 2014, em função da razão entre proventos pagos e patrimônio líquido, de 2011 a 2013 das distribuidoras de energia elétrica do Brasil .................................................................................................... 57 Figura 3 – Gráfico com o Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (IASC), de 2012 a 2014, em função do fluxo de caixa de investimentos sobre o total de ativos, de 2011 a 2013 das distribuidoras de energia elétrica do Brasil ............................................................................. 58

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Estatística descritiva dos indicadores financeiros e operacionais que fazem parte da amostra ...................................................................................................................... 45

Tabela 2 – Matriz com as correlações entre as variáveis utilizadas no estudo ........... 47 Tabela 3 – Resultado da aplicação do Teste Reset, proposto por Ramsey (1969), para

verificar possível falha na especificação dos modelos, através da inclusão de componentes quadráticas e cúbicas ............................................................................................................... 48

Tabela 4 – Resultados das regressões lineares adotando o Desempenho Global de

Continuidade (DGC) como variável dependente, ajustado para a relação “quanto maior, melhor” ................................................................................................................................... 50

Tabela 5 – Resultados das regressões utilizando o Índice Aneel de Satisfação do

Consumidor (IASC) como variável dependente ..................................................................... 51 Tabela 6 – Patrimônio líquido, em milhões de reais, da Eletropaulo, registrado em

2012 ......................................................................................................................................... 57 Tabela 7 – Alguns casos que indicam a relação inversa observada entre proventos

sobre patrimônio líquido e desempenho de continuidade ....................................................... 59 Tabela 8 – Observações que exemplificam a relação inversa verificada entre fluxo de

caixa de investimentos sobre ativo total e índice de satisfação do consumidor ..................... 60 Tabela 9 – Resultados das regressões do DGC eliminando outliers e ignorando

regressões com número de observações menor que 10 vezes o número de variáveis ............ 61 Tabela 10 – Resultados das regressões do IASC eliminando outliers da amostra e

casos com quantidade de observações inferiores a 10 vezes o número de variáveis, além dos casos com correlação entre variáveis maior que 40% ............................................................. 62

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LISTA DE ABREVIATURAS

AES: Applied Energy Services (Serviços de Energia Aplicados)

AmE: Eletrobras Amazonas Energia

Aneel: Agência Nacional de Energia Elétrica

Bovesa: Boa Vista Energia

CapEx: Capital Expenditure (Despesas de Capital)

CEA: Companhia de Eletricidade do Amapá

Ceal: Eletrobras Distribuição Alagoas

CEB: Companhia Energética de Brasília

CEEEE: Companhia Estadual de Energia Elétrica

Celesc: Centrais Elétricas de Santa Catarina

CELG: Companhia Energética de Goiás

Celpa: Centrais Elétricas do Pará

Celpe: Companhia Energética de Pernambuco

Cemar: Companhia Energética do Maranhão

Cemig: Companhia Energética de Minas Gerais

Cepisa: Eletrobras Distribuição Piauí

Ceri: Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura

Ceron: Eletrobras Distribuição Rondônia

CERR: Companhia Energética de Roraima

CFLO: Companhia Força e Luz do Oeste

CG: Capital de Giro

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CHESP: Companhia Hidroelétrica São Patricio

CNEE: Companhia Nacional de Energia Elétrica

Cocel: Companhia Campo Larguense de Energia Elétrica

Coelba: Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia

Coelce: Companhia Energética do Ceará

Copel: Companhia Paranaense de Energia

Cosern: Companhia Energética do Rio Grande do Norte

CPC: Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CPFL: Companhia Paulista de Força e Luz

DEC: Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora

DEMEI: Departamento Municipal de Energia Elétrica de Ijuí

DGC: Desempenho Global de Continuidade

DIC: Frequência de Interrupção Individual por Unidade Consumidora

DMED: DME Distribuição

DRE: Demonstração de Resultados do Exercício

EBIT: Earnings Before Interest and Taxes (Lucros antes de juros e impostos)

EBITDA: Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization (Lucros

antes de juros, impostos, depreciação e amortização)

EBO: Energisa Borborema Distribuidora de Energia

EDEVP: Empresa de Distribuição de Energia Vale Paranapanema

EDP: Energias de Portugal

EEB: Empresa Elétrica Bragantina

Eletroacre: Eletrobras Distribuição Acre

Eletrocar: Centrais Elétricas de Carazinho

EMG: Energisa Minas Gerais Distribuidora de Energia

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EMS: Energisa Mato Grosso do Sul Distribuidora de Energia

EMT: Energisa Mato Grosso Distribuidora de Energia

ENF: Energisa Nova Friburgo Distribuidora de Energia

EPB: Energisa Paraíba Distribuidora de Energia

Escelsa: Espírito Santo Centrais Elétricas S.A.

ESE: Energisa Sergipe Distribuidora de Energia

ETO: Energisa Tocantins Distribuidora de Energia

FC: Fluxo de Caixa

FEC: Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora

FIC: Frequência de Interrupção Individual por Unidade Consumidora

Forcel: Força e Luz Coronel Vivida

HC: Heteroscedasticity-consistent (Robusto a Heteroscedasticidade)

Hidropan: Hidroelétrica Panambi

IASC: Índice Aneel de Satisfação do Cliente

IFRS: International Financial Reporting Standards (Normas Internacionais de

Informação Financeira)

JCP: Juros sobre Capital Próprio

Mux: Muxfeldt Marin & Cia

PMSO: Pessoal, Materiais, Serviços e Outros

PRODIST: Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elétrico

Nacional da Aneel

QRR: Quota de Reintegração Regulatória

RGE: Rio Grande Energia

SAIDI: System Average Interruption Duration Index (Índice de Duração Média de

Interrupção do Sistema)

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SAIFI: System Average Interruption Frequency Index (Índice de Frequência Média de

Interrupção do Sistema)

SFF: Superintendência de Fiscalização Econômica e Financeira da Aneel

Sulgipe: Companhia Sul Sergipana de Eletricidade

TWh: Terawatt-hora

UHE: Usina Hidroelétrica Nova Palma

Unisinos: Universidade do Vale do Rio dos Sinos

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SUMÁRIO

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A importância do setor de distribuição de energia para o desenvolvimento do Brasil é

inquestionável. A vida dos brasileiros e a economia do país são bastante sensíveis à qualidade

da gestão e à continuidade da operação das empresas que fazem parte desse segmento, no qual

predomina monopólio natural e regulação por tarifa. Há atualmente muito a ser investigado

acerca dos determinantes da sustentabilidade econômico-financeira das concessionárias

brasileiras de energia elétrica. Diversos stakeholders, como credores, investidores, agências

de rating e de regulação, buscam métodos para diagnosticar e até prever, da melhor maneira

possível, dificuldades financeiras e operacionais.

Em 16/12/2014, a Superintendência de Fiscalização Econômica e Financeira (SFF) da

Aneel divulgou a nota técnica 353, abrindo consulta pública para o desenvolvimento de

indicadores econômico-financeiros, objetivando melhorar a fiscalização do equilíbrio das

distribuidoras de energia. Segundo a agência de regulação, a leitura de indicadores

econômico-financeiros pode ajudar na antecipação de deficiências na qualidade do serviço

desempenhado pela distribuidora. A nota técnica relata uma preocupação da agência com o

possível descumprimento, por parte das distribuidoras, da obrigação de investir na

manutenção e melhora da qualidade dos serviços. Segundo a agência, os efeitos desse

descumprimento costumam ser indiretos, devido ao lapso temporal entre ele e suas

consequências.

A premissa é que, se os níveis de geração de caixa, endividamento, investimentos ou

dividendos em um exercício são incompatíveis, nos próximos exercícios deverá haver uma

deterioração gradual da qualidade do serviço. Haveria então uma relação de causa e efeito

entre dificuldades econômico-financeiras e problemas operacionais, o que justifica a

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fiscalização para verificar se as concessionárias apresentam condições favoráveis para a

manutenção da qualidade do serviço e para a adimplência com obrigações tributárias e

setoriais, segundo a Aneel.

Suspeita-se, portanto, que haja relação entre a situação financeira de uma empresa em

um determinado período e seu desempenho operacional em períodos subsequentes. Essa

relação dá suporte às vantagens de se desenvolver um pool de indicadores, comumente

chamados de financial ratios, a serem monitorados a fim de garantir o equilíbrio das

distribuidoras.

Dentro desse contexto, a proposta desse trabalho é avaliar o poder preditivo da

performance operacional a partir da situação econômico-financeira das distribuidoras. Essa

proposta requer a seleção dos financial ratios e de performance operacional mais adequados

para o objetivo proposto e a identificação das demais variáveis que também podem ajudar a

explicar a performance operacional. É importante mencionar que neste estudo são

considerados indicadores econômico-financeiros aqueles oriundos de variáveis medidas em

unidade de moeda. Os demais indicadores relativos à atividade-fim da empresa, que não

tenham qualquer vínculo com unidade de moeda, são aqui considerados como operacionais.

Eles traduzem a qualidade (ou a percepção de qualidade) do serviço de distribuição e dos

ativos operacionais da empresa.

A análise permite ver se indicadores econômico-financeiros contribuem para explicar

o desempenho operacional das distribuidoras brasileiras de energia elétrica. Havendo poder

preditivo, é possível avaliar quais indicadores econômico-financeiros apresentam maior

significância, e em qual defasagem temporal. Um importante benefício deste trabalho é

contribuir para maior eficácia e aderência nos métodos de avaliação da situação e perspectiva

dessas empresas pelos diversos stakeholders das concessionárias, propiciando melhor

equilíbrio para o setor.

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Pesquisas tipicamente verificam a relação entre financial ratios e a probabilidade de

entrada em falência das empresas, dentre as quais se destacam: Beaver (1966), Altman

(1968), Dambolena e Khoury (1980), Zmijewski (1984), Ohlson (1980), Shumway (2001),

Hillegeist, Keating, Cram e Lundstedt (2004), Bharath e Shumway (2008), Piotroski (2000),

Altman (2000). Apesar da eficácia em prever esse evento, os modelos em geral atribuem alta

probabilidade a muitas firmas que não entram em falência. Além disso, constata-se que o

comportamento das ações se revela bom preditor, assim como indicadores construídos a partir

de variáveis de mercado, ainda que seu poder de determinação não anula a importância em se

considerar variáveis contábeis (DECHOW, AK, SUN, WANG, 2013).

Algumas análises foram também desenvolvidas acerca da relação entre indicadores

financeiros e performance: Delen, Kuzey e Uyar (2013), Lewellen (2004) e Turk (2006).

Realizando abordagens com mais de mil executivos da área financeira de empresas nos

Estados Unidos, Europa e Ásia, Campello, Graham e Harvey (2010) verificaram que

empresas com restrições financeiras reduzem drasticamente investimentos em tecnologia e

marketing, além de postergar gastos de capital. Além disso, empresas que passam por essas

dificuldades são tipicamente menos lucrativas e eficientes, e acabam distribuindo menos

dividendos. Por outro lado, Savov e Weber (2006), ao verificar os determinantes de decisões a

respeito de dividendos em uma amostra de empresas alemãs, concluíram que empresas que

passam a distribuir mais proventos desempenham pior que a média do mercado.

Vários trabalhos indicaram que decisões sobre investimento estão diretamente

relacionadas com a situação financeira (CLEARY, 1999). Ainda que haja resultados

controversos, a relação entre alavancagem e performance foi indicada em alguns estudos

como negativa (JENSEN; MECKLING, 1976; MYERS, 1977). Ao analisar o ambiente

europeu, Weill (2003) constatou resultados diferentes dependendo do país analisado. Já a

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relação positiva entre eficiência e lucratividade foi confirmada em algumas pesquisas, como a

de Oral e Yolalan (1990) no setor bancário.

Adicionalmente, trabalhos científicos voltados para gestão de operações concluíram

que a posição financeira constitui um importante determinante da qualidade do serviço

prestado pelas empresas (CHIOU; DROGE, 2006). A relação direta entre lucratividade e

qualidade do serviço foi verificada no setor de saúde por Cleverley e Harvey (1992). Outros

estudos indicam que há correlação o nível dos investimentos das empresas e variáveis como a

performance operacional (HOU, 2007; HOU; LIN, 2004) e a qualidade dos serviços e

produtos (CLEVERLEY; HARVEY, 1992).

A relação entre satisfação do consumidor, como resultado da qualidade do serviço, e o

desempenho do negócio não é tão clara nem direta. Há dificuldade em se estabelecer uma

defasagem temporal adequada nessa relação e há diversas variáveis que também afetam essas

duas grandezas (ZEITHAML, 2000). Mesmo assim, a relação positiva entre lucratividade e

satisfação com a qualidade do serviço foi verificada por Wiele, Boselie e Hesselink (2001),

Koska (1990) e Nelson et al (1992). Aaker e Jacobson (1994) e Anderson, Fornell e Lehmann

(1994) também encontraram associação significativa entre satisfação do consumidor e o

retorno sobre o ativo e sobre o patrimônio líquido.

No Brasil, Ribeiro, Macedo e Marques (2012) desenvolveram uma pesquisa

exploratória para verificar os indicadores financeiros e não financeiros mais importantes para

a avaliação do desempenho organizacional em distribuidoras brasileiras de energia, usando

técnicas Delphi e de Análise Hierárquica. Foram analisadas as perspectivas financeira,

operacional e socioambiental.

O presente estudo inova ao verificar a relação entre performance financeira passada e

desempenho operacional presente. O evento de falência é extremo e muitas vezes

irrecuperável. Por isso, é importante que a agência de regulação e outros stakeholders tenham

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condições de identificar determinantes de deterioração da qualidade do serviço. Ainda que o

desempenho operacional esteja sujeito a diversas variáveis, convém analisar o poder de

explicação de situação financeira em períodos anteriores para identificar se o monitoramento

dessa situação contribui para a antecipação de problemas operacionais e o desenvolvimento

de iniciativas de contingência.

Sob a ótica da Teoria da Agência, essa relação dá suporte ao monitoramento do

agente, representado pelas distribuidoras, feito pelo principal, representado pela agência de

regulação, como uma das formas de mitigar incongruências entre o comportamento desejado

e o apresentado (JENSEN; MECKLING, 1976). Sob a ótica das teorias da regulação baseadas

no interesse público, a fiscalização da situação econômico-financeira das concessionárias

contribui para determinar uma melhor alocação de recursos escassos, do ponto de vista do

benefício dos consumidores (BATOR, 1958).

Em uma situação de equilíbrio, o resultado financeiro em um período de uma empresa

pode ser entendido como uma conseqüência da qualidade dos serviços prestados naquele

período e em exercícios anteriores. Nesse caso, a contabilidade é encarada como uma

formalização do resultado da atuação da empresa, e inverte-se a relação entre as dimensões

financeira e operacional proposta no presente estudo. No entanto, é importante ressaltar que

pretende-se aqui medir a relação entre indicadores que traduzem a gestão financeira – e não

propriamente o resultado financeiro – e a performance operacional, representada pela

qualidade dos serviços prestados. Além disso, a análise abrange um setor típico de monopólio

natural e distante do equilíbrio.

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1.2 OBJETIVOS

O principal objetivo desse trabalho é verificar o poder de determinação de indicadores

econômico-financeiros sobre a performance operacional no âmbito das concessionárias de

distribuição de energia elétrica do Brasil.

O estudo traz como objetivos secundários o suporte para um melhor monitoramento

das distribuidoras pela agência de regulação e outros stakeholders, a investigação dos

indicadores mais relevantes para o acompanhamento do equilíbrio econômico-financeiro

dessas empresas e a determinação das variáveis mais adequadas para a avaliação da

performance operacional de concessionárias de energia em determinado período.

1.3 QUESTÃO DE PESQUISA E HIPÓTESES

Este trabalho aborda a seguinte problemática de pesquisa: indicadores econômico-

financeiros são determinantes da performance operacional das distribuidoras brasileiras de

energia elétrica?

Em caso positivo, é importante determinar quais os indicadores com maior poder de

determinação e qual a defasagem mais adequada para esse tipo de análise. Essas questões

serão tratadas como hipóteses a serem testadas. Agrupando os indicadores financeiros em 5

categorias básicas (ANEEL, 2014b) – endividamento, eficiência, investimentos, rentabilidade,

retorno ao acionista –, essas hipóteses podem ser descritas de forma geral como:

H1: altos níveis de endividamento levam as concessionárias a arcarem com

despesas financeiras que causam uma deterioração gradual da qualidade do serviço

(JENSEN; MECKLING, 1976; MYERS, 1977).

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H2: o grau de investimento influencia positivamente a qualidade da operação

das distribuidoras de energia ao longo do tempo (HOU, 2007; HOU; LIN, 2004;

CLEVERLEY; HARVEY, 1992).

H3: existe relação positiva entre a rentabilidade das concessionárias em

determinado período e seu desempenho operacional em períodos posteriores

(CHIOU; DROGE, 2006; CLEVERLEY; HARVEY, 1992).

H4: há uma relação direta entre os níveis atuais de eficiência em custos e a

performance operacional futura das distribuidoras (CHIOU; DROGE, 2006;

CLEVERLEY; HARVEY, 1992).

H5: altos níveis de distribuição de proventos influenciam negativamente o

desempenho operacional das concessionárias em períodos posteriores (SAVOV;

WEBER, 2006).

Como requisito para essa análise, o trabalho verifica também quais as medidas de

performance operacional mais adequadas para as constatações. Há diversas formas de avaliar

o desempenho operacional, dependendo do objetivo e do foco do estudo.

1.4 ESTRUTURA DO DOCUMENTO

Este trabalho primeiramente aborda uma pesquisa bibliográfica com estudos nacionais

e internacionais acerca de modelos de indicadores econômico-financeiros e operacionais de

distribuidoras de energia e suas relações, além de técnicas de previsão de colapso financeiro.

Em seguida, é apresentada a amostra de dados utilizados e a metodologia definida para

verificar o poder explicativo dos indicadores econômico-financeiros utilizados, em diferentes

cenários e defasagens temporais.

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A partir daí, são expostos e discutidos os resultados da aplicação desses métodos. Por

fim, são feitas considerações finais, ressaltando as limitações do estudo e sugestões de

análises complementares.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Nessa parte do estudo, primeiramente são apresentados e discutidos alguns trabalhos

desenvolvidos a respeito da previsão de falência e seus resultados. Em seguida, são analisados

trabalhos que abordaram a relação entre financial ratios e performance, podendo esta ser

medida de diversas formas.

São abordados então os estudos para concepção e análise de indicadores econômico-

financeiros especificamente de empresas do setor elétrico. Por fim, faz-se uma análise das

medidas propostas para avaliar a performance operacional das companhias desse setor.

2.1 TÉCNICAS DE PREVISÃO DE DIFICULDADES FINANCEIRAS

A falência representa o fim da empresa em sua configuração atual. Pode significar a

eliminação de sua existência ou uma grande reestruturação e transformação. Nesta parte do

trabalho, serão expostos trabalhos que desenvolvem ou aplicam metodologias de previsão de

falência. De uma forma geral, essas metodologias utilizam-se de indicadores das empresas

para estimar a possibilidade de entrada em default. Contudo, diferentes abordagens podem

fazer com que determinada metodologia seja mais apropriada que outra em um contexto

específico.

Extensivas pesquisas foram desenvolvidas com esse fim. Beaver (1966) encontrou

diferenças significativas em indicadores como fluxo de caixa sobre dívida ou lucro líquido

sobre ativo total até 5 anos antes do evento de falência. Uma amostra contendo 79 empresas

em falência foi utilizada para a modelagem. O clássico modelo Z Score de Altman (1968) foi

resultado de uma análise mais rigorosa, que culminou na combinação de indicadores chave.

Uma amostra de 66 empresas é utilizada para definir o modelo mais adequado para

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diferenciá-las em grupos de falência e não-falência. As empresas em falência tinham um total

médio de ativos de 6,4 milhões de dólares. A função definida continha indicadores de (1)

capital de giro sobre total de ativos, (2) lucros acumulados sobre total de ativos, (3) EBITDA

sobre total de ativos, (4) valor de mercado do capital próprio sobre valor da dívida e (5)

receita sobre total de ativos. Utilizando a técnica de múltiplo discriminante, 31 de 33 casos de

falência da amostra inicial foram corretamente identificados. A acurácia do modelo é menor

para períodos mais distantes do evento, mas os resultados ainda assim são satisfatórios. Para 2

anos antes do evento de falência, 23 foram corretamente identificados. Quando utilizado para

classificar empresas diferentes da amostra utilizada para parametrização, o modelo registrou

acurácia entre 91% e 93%. Para uma amostra com firmas que apresentaram recentes

resultados desfavoráveis, mas que não entraram em falência, o percentual de acerto foi de

79%.

Circunstâncias justificaram o aperfeiçoamento desse modelo, introduzido por Altman,

Haldeman e Narayanan (1977) com o nome de Zeta, resultado da análise de uma amostra de

casos de falência de 1969 a 1975. Esse aprimoramento foi motivado pela mudança no perfil

das empresas falidas, que se tornaram tipicamente muito maiores. Houve necessidade também

de considerar novas regras contábeis, em especial a capitalização das operações de leasing, e

de incluir varejistas na amostra, além das indústrias. Foram analisados 53 casos de fracasso,

com uma média de tamanho de 96 milhões de dólares, e 58 firmas que não entraram em

falência, com tamanho médio de 167 milhões de dólares. Um total de 27 financial ratios

foram testados, representando rentabilidade, alavancagem, liquidez, capital próprio, ganhos e

outros. Alguns foram apresentados em sua forma logarítmica, para reduzir a ocorrência de

outliers e atender a requisitos estatísticos. Um processo iterativo indicou maior eficácia em

um modelo com 7 dessas variáveis: (1) retorno dos ativos, (2) estabilidade dos ganhos, (3)

cobertura dos juros, (4) lucros acumulados, (5) liquidez corrente, (6) representatividade do

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capital próprio e (7) total de ativos. Esse modelo registrou uma eficácia de 90% para 1 ano

antes do evento de falência e 70% para 5 anos, melhor do que a obtida com o Z Score.

Outros autores desenvolveram modelos a partir de diferentes técnicas estatísticas.

Ohlson (1980) construiu um modelo Logit que utiliza índices que sinalizam prejuízos líquidos

ou entrada em default, denominado O Score. A falência é identificada com eficácia até 2 anos

antes do evento. Utilizando um corte de 50%, o índice de sucesso registrado foi de 96%.

Falkenstein, Boral e Carty (2000) descrevem a metodologia da agência de rating

Moody's para previsão de default para empresas privadas, utilizando 10 indicadores

financeiros de 17 dados básicos de demonstrativos. Segundo o autor, a grande vantagem do

modelo é a base de dados da agência de rating. Os resultados variam bastante para empresas

públicas e privadas, são relativamente fáceis de entender e de converter em categorias padrão

de rating.

Algumas décadas depois, foram desenvolvidos modelos Hazard para previsão de

falência. Dentre eles, se destaca o de Shumway (2001), que define a probabilidade de falência

no tempo t condicionada à sobrevivência até o tempo t. Basicamente o modelo Hazard é uma

espécie de Logit simulado por ano. Foram utilizadas variáveis contábeis e de mercado, como

tamanho, retorno histórico e volatilidade do retorno não-sistemático. A aplicação resultou em

69% dos casos de falência fora da amostra identificados quando utilizadas apenas variáveis de

mercado. Englobando também variáveis contábeis, a eficácia sobe para 75%.

Alguns autores, como Black, Scholes (1973) e Merton (1974), desenvolveram

modelos que presumem que a eficiência semi-forte dos mercados faz com que não haja

benefício na inclusão de variáveis contábeis. Esses modelos, aqui chamados de BSM,

oriundos da precificação de opções, consideram o capital próprio como uma opção de compra

dos ativos da empresa. Quando o valor dos ativos é menor do que o valor de face dos passivos

(considerado o strike price), a opção não é exercida e a firma passa a pertencer a seus

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credores. A diferença entre o valor de mercado dos ativos e esse strike price, que é resultante

da volatilidade do valor dos ativos, é o que determina a probabilidade desse evento.

Investigações de Core e Schrand (1999) e Duffie e Lando (2001) sugerem que

informações contábeis tem valor nesses modelos mesmo quando os mercados são eficientes,

já que o valor real dos ativos nem sempre é corretamente inferido ou apresentado nos

demonstrativos e credores podem tomar a empresa tipicamente na ocorrência de violação de

covenants. Hillegeist, Keating, Cram e Lundstedt (2004) verificaram que os modelos

derivados da precificação de opções possuem relativamente melhor poder de informação, mas

que metodologias como a Z- e O-Scores apresentam, de fato, informação incremental. As

variações do modelo BSM que consideram prêmio de risco e rendimento de dividendos nulo

apresentaram melhor acurácia nas estimativas. Os modelos Z- e O-Scores foram

parametrizados novamente, considerando uma base de empresas mais recente e ampla e um

modelo Hazard discreto, levando a um desempenho melhor do que o apresentado por suas

versões originais. Entre eles a nova versão do O-Score mostra melhor capacidade de previsão.

A comparação entre os desempenhos do modelo BSM e a nova parametrização do O-Score

foi feita pela estatística log-likelihood e o teste de Wald. A primeira é 9,2% menor para o

modelo BSM e a segunda é mais que 14 vezes maior que o O-Score atualizado, indicando sua

superioridade. No entanto, em regressões utilizando os três modelos, o Z-Score original e o

O-Score modificado mostraram-se estatisticamente significativos.

O evento de falência é extremo, muitas vezes irrecuperável e comumente ocorre sem

relação com o comportamento operacional da empresa. Faz-se necessário para os principais

stakeholders do setor elétrico investigar os principais determinantes da deterioração do

desempenho dos players que fazem parte desse importante segmento da economia, em

especial aqueles medidos por financial ratios. Na próxima seção, são abordados os estudos

que verificaram as relações entre os diversos financial ratios e a performance das empresas.

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2.2 DETERMINAÇÃO DA PERFORMANCE A PARTIR DE INDICADORES FINANCEIROS

A literatura propõe diversos financial ratios para avaliar a situação econômico-

financeira de empresas. Comumente uma amostra desses indicadores é utilizada em pesquisas

específicas para testes empíricos com o objetivo de avaliar poder de determinação ou

previsão. Weston e Brigham (1993) agrupam esses indicadores basicamente em cinco tipos:

endividamento, gestão dos ativos, liquidez, rentabilidade e valor de mercado.

Os indicadores de endividamento indicam de alguma forma a representatividade do

capital de terceiros, que rende juros, na estrutura da empresa. Os mais comuns são o indicador

de alavancagem, que tipicamente é medido pelo passivo exigível dividido pelo ativo total, o

de cobertura da dívida, que é a razão entre a dívida líquida e alguma medida de rentabilidade,

e o de cobertura dos juros, que é alguma medida de rentabilidade dividida pela despesa

financeira, bruta ou líquida. A rentabilidade nesse caso é tipicamente medida pelo EBITDA,

como proxy da capacidade de geração de caixa operacional da empresa. Indicadores de gestão

dos ativos medem a compatibilidade dos valores dos diferentes tipos de ativos registrados no

balanço em relação às operações da empresa, sendo comumente utilizados o giro do ativo

total, dos ativos fixos e dos estoques.

Medidas de liquidez verificam a capacidade de pagamento frente às obrigações que a

empresa tem com fornecedores, funcionários e demais stakeholders. Há diferentes versões,

sendo mais comum a liquidez corrente, que compara o ativo circulante com o passivo

circulante.

Indicadores de rentabilidade medem a eficiência da empresa em gerar riqueza ou

valor, e resulta da combinação dos efeitos de liquidez, gestão dos ativos e da dívida. Podem

ser medidos em relação à receita líquida, ao ativo total e ao patrimônio líquido. Geralmente

para esse fim, são utilizadas medidas como lucro bruto, EBIT, EBITDA, lucro líquido, fluxo

de caixa operacional, fluxo de caixa livre, dividendos, entre outros.

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Por fim, medidas de valor de mercado, que utilizam o preço da ação como referência,

indicam o que investidores esperam da performance futura da empresa. Tipicamente são

apurados o preço da ação dividido pelo lucro da empresa por ação e o valor de mercado

dividido pelo patrimônio líquido. Há ainda outras categorias mais específicas de financial

ratios, que abordam a representatividade dos custos e despesas, dos investimentos, do

imobilizado, entre outros aspectos.

Diversas análises foram desenvolvidas para investigar se existe capacidade de

determinação da performance das empresas por indicadores econômico-financeiros. Na

maioria dos casos, a performance era medida pela evolução do preço das ações. A hipótese

básica a ser verificada é se os preços das ações já refletem as informações contidas nesses

indicadores ou se eles possuem poder informacional. Resultados controversos mostram que

esse problema de pesquisa ainda representa um importante desafio para pesquisadores. Além

disso, a performance a ser explicada é comumente representada por uma variável de natureza

financeira.

Turk (2006), por exemplo, investigou através de regressões o poder preditivo de

preços de ações de curto prazo por indicadores financeiros – caixa, giro de estoque, payout e a

razão entre preço e lucro –, controlando por indústria e verificando também diferenças

logarítmicas. Foi utilizada uma amostra de 50 empresas estáveis. Os resultados não

confirmaram o poder preditivo: o R2 das regressões foi baixo e muitas relações apresentaram

o oposto ao resultado esperado, corroborando com hipótese de eficiência de mercado.

De forma semelhante, Lewellen (2004) analisou se há relação preditiva entre

indicadores financeiros e o retorno de ações. Resultados indicaram que a razão entre

dividendos e preço, entre valor contábil e de mercado e entre lucro e preço da ação oferecem

poder preditivo, mesmo com o viés de amostras pequenas.

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Outros estudos utilizaram como variável a ser explicada o retorno sobre o ativo ou

sobre o patrimônio líquido. Delen, Kuzey e Uyar (2013) utilizaram análise fatorial e quatro

algoritmos de árvores de decisão (CHAID, C5.0, QUEST and C&RT) para verificar o

impacto de indicadores econômico-financeiros nessas variáveis. A amostra continha dados de

empresas turcas de 2005 a 2011, totalizando 2.345 observações. Os resultados mostraram que

as técnicas CHAID e C5.0 apresentaram melhor acurácia na previsão; entre os indicadores,

análises de sensibilidade indicaram que a razão entre lucro antes de impostos e valor de

mercado e margem líquida são os mais importantes.

É importante verificar o poder de determinação de financial ratios sobre o

desempenho financeiro, mas a investigação empírica do seu poder sobre o desempenho

estritamente operacional ainda é bastante incipiente na literatura e, por isso, tem destaque no

presente trabalho.

2.3 INDICADORES ECONÔMICO-FINANCEIROS NO SETOR ELÉTRICO

Nesta seção, serão apresentados modelos de análise de indicadores para leitura da

performance ou situação financeira de empresas que fazem parte do setor elétrico. Esses

indicadores contemplam aspectos como investimentos, alavancagem, distribuição de

dividendos, margens, entre outros. A intenção é que essa análise proporcione o suporte

necessário para escolha daqueles índices que farão parte do escopo de análise do presente

trabalho. Eles serão utilizados para a avaliação do poder preditivo da performance

operacional.

Ozorio (2013) propõe um conjunto de indicadores para análise do setor elétrico

brasileiro por stakeholders diversos. A metodologia foi aplicada em grandes empresas do

segmento com dados de 2001 a 2011. A análise da situação econômica passa por indicadores

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como receita líquida, EBIT, giro do capital investido, retorno sobre capital investido, custo

médio ponderado de capital, lucro econômico, necessidade de capital de giro, ciclo financeiro,

índice de cobertura de juros e razão entre dívida líquida e EBITDA.

Outras técnicas foram utilizadas para determinar o grau de importância dos índices em

cada perspectiva. Ribeiro, Macedo e Marques (2012) utilizaram as metodologias Delphi e

Análise Hierárquica para essa avaliação no setor brasileiro de distribuição de energia elétrica.

Na perspectiva financeira, foram identificados como mais importantes os indicadores de

cobertura de juros, retorno sobre o patrimônio líquido e perfil de endividamento. No campo

operacional, margem EBITDA, FEC e DEC foram considerados os mais relevantes. Na

dimensão socioambiental, foram selecionadas a taxa de comprometimento ambiental e a

rentabilidade agregada dos investimentos.

Alguns trabalhos mais direcionados foram desenvolvidos com propósito similar.

Carregaro (2003) apresenta indicadores para análise das empresas que fazem parte da

Eletrobrás, objetivando melhor planejamento e controle. O autor propõe indicadores de

desempenho corrente, de qualidade de energia, de adimplência, de perdas, de desempenho

global e de universalização do atendimento. São feitas análises horizontais e verticais, através

das quais se percebe a importância da segregação entre indicadores de satisfação, desempenho

e qualidade.

A análise de indicadores torna-se ainda mais importante para avaliar o efeito de

eventos regulatórios. Castro et al. (2012) analisa o desempenho de nove grandes

concessionárias de energia de seis estados no momento de implementação do terceiro ciclo de

revisão tarifária periódica feito pela Aneel. Verificou-se uma redução natural nas margens das

empresas, mas não nos investimentos, que podem ser financiados com capital de terceiros e

lucros retidos. Como o capital de terceiros é mais barato e acessível para as grandes

concessionárias, os autores apontam para uma tendência de consolidação do setor.

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A nota técnica 353/2014 da Aneel, um dos motivadores deste trabalho, propõe 31

indicadores econômico-financeiros – 5 principais e 26 suplementares – para monitoramento

periódico das concessionárias. Eles englobam as 5 dimensões: endividamento, eficiência,

investimentos, rentabilidade e retorno ao acionista. Os indicadores requerem tanto

informações regulatórias, construídas para parametrização de referências e subsidiar

processos de revisão tarifária, quanto realizadas, dos últimos 12 meses ou médias dos últimos

4 anos, coletadas nas versões regulatórias dos demonstrativos financeiros das empresas. O

documento também propõe 4 indicadores operacionais: DGC, DEC, FEC e perdas, sendo

esses três últimos relativos aos valores regulatórios. Ainda que bastante abrangente, a nota

não propõe, por exemplo, indicadores para medir liquidez ou carga tributária.

A consulta pública 015/2014, realizada a partir dessa nota técnica, gerou contribuições

de algumas empresas do setor. A AES Brasil (2015), por exemplo, comenta que o ideal é que

os indicadores sejam apurados conforme a contabilidade societária. A empresa também

solicita a divulgação de limites para os indicadores e não acha viável a utilização do CapEx

regulatório para comparação com o CapEx real.

Já a Copel (2015) sugere a utilização das mesmas premissas adotadas nas revisões

tarifárias como parâmetros e limites e se opõe à incorporação do déficit atuarial no cálculo da

dívida bruta, propondo, por outro lado, que nesse cálculo sejam incluídos os saldos em aberto

das subvenções da conta de desenvolvimento energético junto à Eletrobrás. A empresa

também se opõe ao uso de dados regulatórios utilizados nas revisões tarifárias devido à

periodicidade específica desse processo.

A Celesc Distribuição (2015) ressalta a importância de considerar aspectos de

confidencialidade e validação no processo. A Cemig (2015) sugere a inclusão de um

indicador de retorno sobre o capital investido e se opõe à mensuração da dívida líquida sem a

inclusão dos ativos e passivos regulatórios.

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O Ceri e a Unisinos (2015) propõem que as médias carreguem pesos maiores para

valores mais recentes e sugere a utilização de métricas como o fluxo de caixa livre para a

firma, fluxo de caixa livre para o acionista, dívida bruta, custo de capital, além de indicadores

de governança corporativa e de retorno ajustado ao risco. Também ressaltam a necessidade de

verificar se os ganhos advindos desse processo superarão os custos de atender essa demanda

por informações.

A EDP (2015) aponta que o Capex Regulatório, medido pela QRR, em muitos casos é

bastante distante do real por não considerar expansões da rede para novos clientes ou a

ampliação da capacidade da rede existente, e também propõe a discussão e adoção de limites

para os indicadores.

Segundo a Elektro (2015), a Aneel deve distinguir má gestão de insuficiência tarifária.

Além disso, ressalta que as recentes variações causaram descasamentos significativos no

fluxo de caixa das distribuidoras, e questiona a divulgação pública dos financial ratios e o

monitoramento das empresas que bons níveis de continuidade do fornecimento.

A Equatorial Energia (2015) sugere a utilização somente do EBITDA e CapEx reais,

excluindo, do primeiro, baixas de ativos permanentes e, do segundo, investimentos que geram

obrigações especiais. Mesmo assim, a empresa menciona que o CapEx real pode ser

naturalmente alto para empresas em crescimento. Ressalta também que os indicadores de

eficiência e endividamento já cumprem o papel proposto pelos de retorno ao acionista e das

penalizações resultantes dos índices de continuidade do fornecimento. Além disso, sugere a

inclusão de um indicador de eficiência do uso do capital de giro.

Para a CPFL Energia (2015), o mercado de capitais já avalia constantemente a

situação financeira das distribuidoras e o processo proposto pode trazer barreiras ou

engessamento da gestão. Também é criticado o uso do CapEx regulatório, em detrimento do

real, da receita líquida, ao invés do valor da parcela gerenciável dos custos, e a falta de

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coerência entre revisão tarifária e índices utilizados. Pede-se definir se seriam utilizados os

proventos declarados ou efetivamente pagos e sugere-se a inclusão de indicadores que

verificam a liquidez da distribuidora a partir da leitura dos ativos e passivos regulatórios.

O Grupo Energisa (2015) destaca a importância da análise de indicadores financeiros,

mas indica que eles podem estar contaminados por eventos não-recorrentes, não traduzem por

completo a situação, e, por isso, devem ser apreciados em conjunto com notas explicativas,

outras informações e projeções. A empresa não acha adequado efetuar comparações diretas

entre a visão real e regulatória e menciona a importância de se considerar benefícios fiscais,

provisões ou reversões, e valores de referência. Sugere também que indicadores que utilizam

dívida líquida bancária e EBITDA sejam substituídos por outros, como os utilizados por

agências de rating, mais tradicionais. Alerta ainda que o indicador de multas é bastante

sensível ao ritmo fiscalizatório e que os indicadores de dividendos não refletem a situação

financeira da empresa, visto que o resultado a partir deles é controverso e há diferenças nas

políticas de distribuição dependendo do tipo da empresa (de capital aberto, de capital fechado,

estatal pública ou de economia mista).

A Light (2015) argumenta que não é adequado subtrair do EBITDA o CapEx, pois ele

depende do estágio em que se encontra a empresa, ou combinar parâmetros de efeito caixa

com outros de efeito competência. Por fim, a Kev Line (2015) menciona que a contabilidade

tradicional, que trata energia como produto, não deve ser utilizada para o setor elétrico,

invalidando a proposta de monitoramento de indicadores apresentada pela agência reguladora.

A nota técnica da agência reguladora, as contribuições das empresas e pesquisas

correlatas serviram de base para a concepção dos indicadores utilizados no estudo. Em

contrapartida, espera-se que os resultados da análise orientem o processo de monitoramento

proposto.

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35

2.4 INDICADORES DE DESEMPENHO OPERACIONAL DE CONCESSIONÁRIAS DE DISTRIBUIÇÃO

DE ENERGIA

Consideram-se indicadores de desempenho operacional neste trabalho as medidas que

não possuem qualquer tipo de relação com os resultados ou balanço financeiro da empresa.

São índices que não são medidos por unidade de moeda, nem constituídos de variáveis

medidas por unidade de moeda. Podem ser, portanto, voltados para a qualidade da operação,

satisfação de clientes, participação de mercado, ocorrências de problemas ou de produtos fora

de especificação ou até o desempenho do atendimento a essas ocorrências.

Como o setor objeto de análise é o de distribuição de energia elétrica, indicadores de

participação de mercado seriam inviáveis, pois há pouca gestão sobre esta variável, que acaba

sendo um resultado da concessão.

Indicadores de qualidade podem ser uma importante representação do desempenho da

operação. Segundo o modulo 8 do PRODIST (Procedimentos de Distribuição de Energia

Elétrica no Sistema Elétrico Nacional) da Aneel – denominado Qualidade da Energia Elétrica

e com sexta revisão vigente em janeiro de 2015 –, a qualidade da operação da distribuidoras

pode ser desmembrada em (1) qualidade do produto e (2) qualidade do serviço.

Em relação à qualidade do produto, através desse manual de procedimentos, a Aneel

solicita às concessionárias que disponham de medidores de tensão em regime permanente, de

fator de potência, de harmônicos, de desequilíbrio e flutuação de tensão, de variações de

tensão de curta duração e de variação de frequência. O documento especifica cada um dos

indicadores e define compensações aos consumidores em caso de valores apurados aquém dos

limites estabelecidos.

O documento determina que a qualidade do serviço, por outro lado, seja medida por

indicadores de atendimento às reclamações dos consumidores, de tempo de atendimento às

ocorrências emergenciais e de frequência e duração das interrupções de fornecimento de

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energia. Esses dois últimos, denominados DIC (Frequência de Interrupção Individual por

Unidade Consumidora) e FIC (Frequência de Interrupção Individual por Unidade

Consumidora), são mensurados para cada unidade consumidora e também levam as

distribuidoras a compensarem os consumidores em caso de desvios.

Adicionalmente, foram criados os indicadores DEC (Duração Equivalente de

Interrupção por Unidade Consumidora) e FEC (Frequência Equivalente de Interrupção por

Unidade Consumidora), que representam a média das durações (ou frequências) de

interrupção de cada conjunto de consumidores atendidos por cada concessionária. Essas

medidas são baseadas em indicadores internacionais retirados da norma do IEEE,

denominados SAIDI (System Average Interruption Duration Index) e SAIFI (System Average

Interruption Frequency Index). Basicamente, o indicador de duração equivalente corresponde

à soma das durações de todas as interrupções ao longo de um período dividido pela

quantidade de unidades consumidoras atendidas. O indicador de frequência equivalente

representa a soma de todas as interrupções ocorridas divididas pela quantidade de unidades

consumidoras.

Ademais, foi criado um indicador com o propósito de consolidar em um único número

o desempenho da distribuidora no que diz respeito a duração e frequência de interrupções,

normalizado pelos valores atribuídos como limites, ou referências, para os mesmos. Os

limites de duração e frequência são determinados pela agência reguladora através de

resoluções autorizativas. Esses limites são apurados levando em conta a área dos conjuntos

consumidores, a extensão das redes urbana e rural, o número de unidades e a

representatividade das classes residencial, industrial e comercial. Constitui-se então o DGC,

ou Desempenho Global de Continuidade, cuja fórmula é descrita a seguir:

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Outro importante indicador que pode representar o desempenho operacional da

concessionária é o Índice Aneel de Satisfação do Cliente (IASC). Ele é apurado anualmente

através de consultas feitas a uma amostra de consumidores nas principais localidades da área

de concessão de cada concessionária (ANEEL, 2014a). A pesquisa aborda cinco aspectos da

percepção de qualidade do consumidor: qualidade percebida, valor percebido, confiança,

fidelidade e satisfação. São concedidos prêmios para as concessionárias com os melhores

índices em cada categoria de avaliação.

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3 METODOLOGIA DA PESQUISA

Esse trabalho se propõe a aplicar técnicas que objetivam determinar com maior

eficácia a possibilidade de deterioração da performance operacional distribuidoras de energia

elétrica do Brasil.

Para isso, é testado estatisticamente um modelo de determinação do desempenho

operacional a partir de indicadores financeiros defasados, que traduzem a situação

econômico-financeiro dessas empresas. Essa análise aborda a hipótese de que a gestão

econômico-financeira contribui para a tendência de performance operacional nos anos

subsequentes e, por isso, pode servir para prever ou evitar dificuldades operacionais em um

setor chave para a economia e com alta dependência da sustentabilidade econômico-

financeira das empresas em atividade.

Inicialmente é descrito o universo considerado para análise e os ajustes efetuados para

adequação da amostra ao propósito do trabalho. Em seguida, são detalhadas as metodologias a

serem aplicadas, suas premissas e as variáveis envolvidas.

3.1 COMPOSIÇÃO DA AMOSTRA

Fazem parte do universo de análise todas as 63 concessionárias brasileiras de

distribuição de energia elétrica. Dessas concessionárias, 6 pertencem ao grupo Eletrobrás

(AmE, Ceron, Eletroacre, Bovesa, Cepisa e Ceal), 13 ao grupo Energisa (EEB, EBO, EPB,

EMG, ENF, ESE, ETO, EMS, EMT, Caiuá, CNEE, CFLO e EDEVP, sendo estas 7 últimas

recentemente adquiridas do Grupo Rede, que entrou em recuperação judicial), 8 da CPFL

(Piratininga, Paulista, Leste Paulista, Sul Paulista, Jaguari, Mococa, Santa Cruz e RGE), 3 da

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Neoenergia (Coelba, Celpe, Cosern), 2 da AES (AES-Sul e Eletropaulo), 2 da EDP

(Bandeirante e Escelsa), 2 da Equatorial (Celpa e Cemar) e 2 da Endesa (Ampla e Coelce).

Além disso, a amostra contempla 4 importantes concessionárias que não pertencem a

esses grandes grupos: Cemig, Copel, Elektro e Light. Das empresas da amostra, 2 são estatais

municipais: DMED e DEMEI. Há ainda 9 outras empresas mistas (CEA, CEEEE, Celesc,

CELG, CEB, Eletrocar, Cocel, CERR e Forcel) e 10 outras pequenas privadas de capital

fechado (CHESP, Sulgipe, Santa Maria, UHE, Mux, Hidropan, Iguaçu, Urussanga, João Cesa

e Aliança).

A análise utiliza indicadores financeiros anuais de 2011 a 2013 e operacionais de 2012

a 2014. Os indicadores financeiros são originários de dados dos balanços, demonstrativos de

fluxo de caixa e de resultado dos exercícios de 2010 a 2013 dessas empresas, além de dados

do registro de compensações regulatórias. Os demonstrativos de 2010 foram necessários para

a apuração dos investimentos, feita a partir de variações entre exercícios em linhas do

balanço. Os valores contábeis de 2010 e 2011 foram extraídos dos demonstrativos de 2011,

enquanto os valores de 2012 e 2013 foram obtidos dos demonstrativos de 2013. Os dados

operacionais são oriundos da pesquisa de qualidade e do ranking de continuidade promovidos

pela Aneel, e foram obtidos junto à Superintendência de Regulação da Distribuição da Aneel.

Nem todas as informações e demonstrativos estiveram disponíveis para todas as empresas em

todos os anos considerados para a análise.

Os dados financeiros, extraídos do banco de demonstrativos financeiros da Aneel,

foram utilizados segundo a contabilidade regulatória. Entende-se que ela traduz de forma

mais apropriada a situação econômico-financeira da empresa, como indicam estudos

anteriores. Ozorio (2013) verifica que a contabilidade societária para empresas desse setor,

que, no intuito de convergirem para aos padrões definidos pelo IFRS (International Financial

Reporting Standards), deixaram de considerar os ativos e passivos regulatórios, perdeu

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importante conteúdo informacional. Ohara (2014), ao comparar as demonstrações preparadas

preparados sob as duas óticas, percebeu diferenças relevantes que podem levar a conclusões

equivocadas caso a visão regulatória não seja levada em consideração.

A figura 1 apresenta a distribuição no território brasileiro das concessionárias que

fazem parte da amostra. A imagem mostra a significativa diferença na quantidade de

distribuidoras presentes no sul e sudeste do país, em comparação ao norte, nordeste e centro-

oeste, onde as empresas tipicamente atuam em extensas áreas de concessão.

Figura 1 – Distribuição das concessionárias de distribuição de energia ao longo do território brasileiro. Foi destacada a situação de cada distribuidora em relação ao lucro líquido e patrimônio líquido de 2013,

conforme contabilidade regulatória. Elaborada pelo autor.

Lucro líq. Pat. Líq.

Lucro líq.Pat. líq.

Valor positivoValor negativoValor indisponívelMercado acima de 1 TWhMercado abaixo de 1 TWh

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41

3.2 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS EXPLICATIVAS

A avaliação das informações brutas contidas nos demonstrativos e a análise de

pesquisas anteriores (MBANWIE; EDMOND, 2009; DECHOW; SUN; WANG, 2013;

BEAVER, 1966; ALTMAN, 1968; DELEN; KUZEY; UYAR, 2013) e da nota técnica

353/2014 da Aneel levaram à determinação dos seguintes financial ratios como variáveis

explicativas para o modelo:

1. Indicadores de endividamento

a. Dívida líquida / EBITDA (OZORIO, 2013)

Corresponde à soma dos empréstimos e financiamentos de curto e longo prazo,

incluindo debêntures e encargos, subtraídos do caixa e aplicações de curto

prazo da empresa, divididos pelo lucro antes de impostos, juros, depreciação e

amortização. Entende-se que a dívida líquida é mais adequada do que a bruta

para o próposito desse indicador, pois reflete o valor que a empresa

efetivamente precisa comprometer o resultado de suas operações. Não estão

incluídos na dívida líquida os resultados de operações de swap, leasing

financeiro ou empréstimo com coligadas. Como a amostra contém vários casos

em que o EBITDA é negativo, os testes estatísticos utilizaram o indicador em

sua forma inversa, sendo calculado sempre que a dívida bruta é maior que o

caixa e aplicações de curto prazo. Os resultados são mostrados de forma a

representar sua forma original, no entanto. Espera-se que empresas mais

endividadas ou com baixa geração de caixa tenham mais dificuldades em

manter um bom desempenho operacional de seus ativos; por isso, espera-se

uma relação inversa entre esse indicador (na sua forma original) e a

performance operacional da concessionária nos anos subsequentes.

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b. Dívida líquida regulatória / (EBITDA - CapEx) (ANEEL, 2014b)

Esse indicador é similar ao anterior, porém utiliza como denominador o

EBITDA após os gastos com investimentos e inclui no cálculo da dívida

líquida os ativos e passivos regulatórios que representam variações na Parcela

A. Na contabilidade regulatória, essas variações são registradas no balanço

objetivando reduzir a variabilidade dos resultados das empresas. Trata-se de

uma das maiores diferenças entre as visões societária e regulatória dos

balanços das distribuidoras de energia. Da mesma forma que no indicador

anterior, os testes foram feitos com esse indicador na forma inversa, mas os

resultados serão mostrados como se eles estivessem na sua ordem tradicional.

Espera-se para esse indicador, em sua forma original, também uma relação

inversa com a performance operacional.

c. Passivo exigível / Ativo total (CARREGARO, 2003)

Esse índice representa o nível de alavancagem da empresa, ou a

representatividade do capital de terceiros sobre o capital total. Não é feita

distinção entre capital financeiro e operacional nesse caso. Uma vez que níveis

altos de alavancagem tendem a ocasionar gastos significativos com juros,

espera-se uma relação inversa entre esse indicador e o desempenho operacional

da concessionária.

d. EBITDA / Despesa financeira líquida (OZORIO, 2013)

Representa o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização

dividido pelo resultado financeiro líquido, ou seja, as despesas com juros,

basicamente, líquidas das receitas com aplicações. Analogamente à motivação

para utilização da dívida líquida, entende-se que a medida da despesa líquida

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dos rendimentos atende de forma mais adequada ao propósito do indicador.

Trata-se de um indicador também influenciado pela rentabilidade da empresa,

representada pelo EBITDA. Ele só é calculado caso a despesa financeira seja

maior que a receita. Espera-se uma relação direta entre esse indicador e o

desempenho operacional nos anos subsequentes.

2. Indicadores de investimentos

a. CapEx / Ativo total (adaptado da nota técnica 353/2014 da Aneel, que propõe

como denominador variáveis apuradas em processos de revisão tarifária)

Representa o quociente da divisão dos gastos de capital no período com o ativo

total. Os gastos de capital foram apurados pela variação no imobilizado e

intangível brutos, ou seja, sem levar em conta depreciações e amortizações no

período. Suspeita-se que firmas que direcionam mais gastos para investimentos

obtenham melhor performance operacional nos anos subsequentes.

b. Fluxo de caixa de investimentos / Ativo total (adaptado da nota técnica

353/2014 da Aneel, que propõe medidas de investimento apenas do regime de

competência)

Corresponde às saídas de caixa relativas a atividades de investimento, como

adições ao imobilizado, sobre o ativo total. Estas saídas representam uma

proxy para o CapEx realizado pela empresa.

c. Investimento em capital de giro / Receita líquida (RIBEIRO; MACEDO;

MARQUES, 2012)

Esse indicador representa a variação do capital operacional de giro da firma em

relação a sua receita líquida. A necessidade de capital de giro é medida pelo

ativo circulante, líquido do caixa e aplicações, subtraído do passivo circulante,

líquido de empréstimos e financiamentos. Espera-se que a necessidade de

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investimento em capital de giro comprometa a capacidade da empresa de

investir na qualidade de seus ativos, levando a uma relação inversa entre esse

indicador e o desempenho operacional nos períodos subsequentes.

3. Indicadores de rentabilidade

a. Fluxo de caixa operacional / Receita líquida (PIOTROSKI, 2000)

Corresponde ao fluxo de caixa das operações da empresa dividido pela sua

receita líquida. Como espera-se que empresas com maior geração de caixa

operacional tenham mais disponibilidades para manterem a qualidade de seus

ativos, sua relação com o desempenho operacional em anos subsequentes deve

ser direta.

b. Lucro líquido / Receita líquida (ANEEL, 2014b)

Corresponde à margem líquida da empresa. Espera-se que empresas com

melhores margens obtenham melhor desempenho operacional no futuro.

c. EBITDA / Receita líquida (CARREGARO, 2003)

Representa a margem EBITDA da empresa, ou o quociente do lucro antes dos

juros, impostos de renda, depreciação e amortização pela receita líquida. Da

mesma forma, espera-se que empresas com melhor margem EBITDA tenham

melhor performance operacional.

4. Indicadores de eficiência operacional

a. Compensações / Receita líquida (ANEEL, 2014b)

As compensações são os créditos que as concessionárias dão aos consumidores

prejudicados com interrupções de fornecimento ou oscilações de tensão. O

valor financeiro das compensações é apurado de acordo com os encargos do

uso do sistema de distribuição, limitados a um percentual do faturamento

bruto. Esse indicador representa o quociente do valor monetário das

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compensações pela receita líquida. É esperada uma relação inversa entre ele e

o desempenho operacional.

b. EBITDA / Valor da parcela B (ANEEL, 2014b)

Esse indicador representa a razão entre o EBITDA e a parcela dos custos

gerenciáveis da concessionária. Espera-se que haja uma relação direta entre

esse indicador, que mede eficiência em custos, e a performance operacional

nos anos subsequentes.

c. PMSO / Receita líquida (CARREGARO, 2003)

Trata-se da representatividade na receita líquida dos principais custos

gerenciáveis da concessionária, categorizados como pessoal, materiais,

serviços de terceiros e outros. O PMSO não inclui alguns custos gerenciáveis,

como doações, seguros, aluguéis, tributos, provisões, depreciação e

amortização. Espera-se que empresas com maior eficiência tenham melhor

performance operacional; por isso, suspeita-se que haja uma relação inversa

entre esse indicador e o desempenho operacional nos anos posteriores.

d. Receita líquida / Ativo total (OZORIO, 2013)

Essa medida representa o giro dos ativos da empresa. Espera-se uma relação

direta entre ela e o desempenho operacional em períodos subsequentes.

5. Indicador de proventos

a. Dividendos e JCP / Patrimônio líquido  (LEWELLEN, 2004)

Corresponde à saída de caixa referente a distribuição de dividendos ou de juros

sobre capital próprio dividida pelo patrimônio líquido da concessionária. Esse

indicador só é calculado em caso de patrimônio líquido positivo. Espera-se

uma relação inversa entre o montante pago em proventos e o desempenho

operacional nos anos posteriores.

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As informações oriundas de balanço foram aquelas relativas ao fim do período

analisado. Como boa parte das concessionárias tem capital fechado, não é possível a

utilização também de informações de mercado, como preços de ações.

Ainda que seja uma dimensão importante de avaliação, não foi implementado

indicador referente a impostos pagos devido à falta de uma base adequada: o lucro líquido,

por exemplo, não serviria como denominador visto que boa parte das empresas apresentaram

prejuízo no período analisado. Suspeita-se, porém, que um maior direcionamento do lucro

para impostos reduza a capacidade de investimento, levando a uma relação inversa entre esse

indicador e a performance operacional.

3.3 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DE CONTROLE

A partir da análise do contexto e das especificidades do setor, foram definidas como

mais relevantes as seguintes variáveis de controle:

a. Tamanho do mercado (ANEEL, 2015b)

Para essa variável, é atribuído o valor 1 caso a concessionária atenda uma área

de concessão abaixo de 1 TWh, e 0 caso contrário. A amostra contempla 36

concessionárias consideradas “grandes” e 27 consideradas “pequenas”.

b. Tipo do sistema (ANEEL, 2015b)

Diferencia se a concessionária atua em uma rede isolada ou interligada.

Basicamente, operam em rede isolada a maioria das concessionárias da região

norte (Ceron, AmE, Celpa, Cea, Bovesa, Cerr e Eletroacre) e a Cemat. Para

essas, foi atribuído o valor 0; para as demais, foi atribuído o valor 1.

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c. Ativo total  (ALTMAN; HALDEMAN; NARAYANAN, 1977)

Trata-se do logaritmo em base decimal do total de ativos da empresa. Utilizou-

se o logaritmo para evitar heterocedasticidade dos resíduos da amostra. Assim

como o tamanho do mercado, o objetivo do uso dessa variável é controlar pelo

tamanho da empresa, utilizando, porém, um aspecto econômico-financeiro,

representado por uma variável que pode assumir diversos valores.

O efeito tamanho é avaliado a partir da inclusão do ativo total, em sua forma

convencional ou logarítmica, em diversas pesquisas, como em Altman, Haldeman e

Narayanan (1977), devido a sua relevância. Adicionalmente, o ranking de continuidade do

fornecimento, divulgado anualmente pela Aneel, segrega as empresas pelo tamanho do

mercado em que atuam e ressalta aquelas que atuam fora do sistema interligado, indicando a

importância dessa consideração no presente estudo (ANEEL, 2015b).

3.4 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS DEPENDENTES

O estudo contempla duas variáveis para representar o desempenho operacional da

empresa: o indicador de Desempenho Global de Continuidade, ou DGC, e o Índice Aneel de

Satisfação do Consumidor, ou IASC. Eles são não-monetários e estão diretamente

relacionados à qualidade do serviço desempenhado pela concessionária.

a. Desempenho Global de Continuidade (ANEEL, 2015b)

Como já mencionado, o DGC é a média dos valores relativos de duração e

frequência equivalente de interrupções, que representam um aspecto chave da

qualidade do serviço das distribuidoras, que é a continuidade do fornecimento.

Duração e frequências equivalentes são a média de durações e frequências por unidade

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consumidora. Valores relativos significam o quociente dos apurados sobre os limites.

Os valores limites são referências determinadas pela Aneel para cada conjunto de

unidades consumidoras (que representa, basicamente, cada subestação de distribuição)

de cada concessionária através de análise estatística e resoluções autorizativas. A

consolidação do DEC e FEC de cada concessionária é feita ponderando-se pelo

número de consumidores. É importante ressaltar que tanto DGC quanto DEC e FEC

são indicadores do tipo “quanto menor, melhor”. As medidas DEC e FEC foram

comumente utilizadas em estudos anteriores, como em Carregaro (2003).

b. Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (ANEEL, 2014a)

O IASC é resultado de pesquisa anual feita por instituição independente junto a

uma amostra de consumidores das principais localidades atendidas pela concessionária.

Para cada concessionária é atribuído um índice de 0 a 100, dependendo das notas dadas

pelos consumidores consultados. Esse indicador foi utilizado em pesquisas como em

Vianna (2014).

Ao todo, foram coletadas e utilizadas nas análises 2.943 observações. A tabela 1

apresenta a estatística descritiva de cada variável utilizada.

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Tabela 1 – Estatística descritiva dos indicadores financeiros e operacionais que fazem parte da amostra. As medidas consideram todas as observações coletadas em todo o período. Os dois quocientes que

consideram a informação da dívida líquida estão apresentados na forma invertida. Elaborada pelo autor.

3.5 INSTRUMENTOS DE ANÁLISE

Para a análise estatística, é aplicado o modelo conceitual representado a seguir, que

consiste na relação entre uma das medidas de performance operacional e variáveis

explicativas, dentre elas, indicadores financeiros defasados.

Média& Mediana& Mínimo& Máximo&Dív.%Líq.%/%EBITDA% %0,63%%%% %0,46%%%% 329,07%%%% %14,61%%%%

D.%L.%Reg.%/%(EBITDA%–%CapEx)% 30,27%%%% %0,12%%%% 344,03%%%% %14,57%%%%FC%Inv.%/%AEvo%Total% %0,06%%%% %0,06%%%% 30,16%%%% %0,31%%%%

FC%Operac.%/%Receita%Líq.% %0,10%%%% %0,12%%%% 31,91%%%% %0,69%%%%Lucro%Líq.%/%Receita%Líq.%% 30,03%%%% %0,05%%%% 31,99%%%% %0,19%%%%EBITDA%/%Receita%Líq.% %0,10%%%% %0,14%%%% 31,07%%%% %0,35%%%%CapEx%/%AEvo%Total% %0,05%%%% %0,07%%%% 33,09%%%% %0,46%%%%

EBITDA%/%Desp.%Fin.%Líq.% %5,28%%%% %3,14%%%% 36,95%%%% %100,37%%%%Compens.%/%Receita%Líq.% %0,01%%%% %0,00%%%% %3%%%%%% %0,06%%%%Passivo%/%AEvo%Total% %0,74%%%% %0,68%%%% %0,16%%%% %4,25%%%%Log%(AEvo%Total)% %5,79%%%% %6,08%%%% %3,49%%%% %7,13%%%%Var.%CG%/%Rec.%Líq.% %0,00%%%% 30,01%%%% 31,84%%%% %1,93%%%%

EBITDA%/%Valor%Parc.%B% %0,51%%%% %0,53%%%% 30,87%%%% %1,66%%%%PMSO%/%Receita%Líq.% %0,23%%%% %0,19%%%% %0,08%%%% %0,77%%%%

Receita%Líq.%/%AEvo%Total% %0,66%%%% %0,62%%%% %0,19%%%% %1,38%%%%Proventos%/%Patr.%Líq.% %0,10%%%% %0,04%%%% %3%%%%%% %1,62%%%%

%DGC%% %0,90%%%% %0,82%%%% %0,12%%%% %2,82%%%%%IASC%% %0,64%%%% %0,64%%%% %0,30%%%% %0,85%%%%

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Inicialmente, a hipótese de relação não-linear entre as variáveis dependentes e

independentes é verificada pelo teste de Ramsey.

O modelo indica 15 indicadores econômico-financeiros e 3 variáveis de controle, mas

diversos cenários de variáveis independentes são simulados, objetivando identificar o poder

explicativo e a relação predominante de cada uma delas. Os cenários são construídos de forma

a evitar multicolinearidade. Por isso, são testadas apenas combinações de variáveis

explicativas com menos de 40% de correlação em valor absoluto; esse limite, relativamente

rigoroso, foi também adotado por Suzuki, Olson e Reilly (2007). A motivação para a

realização de diversas regressões com diferentes combinações de variáveis explicativas

consiste em maior consistência na verificação das relações. O teste de diversos cenários

possibilita a obtenção dos sinais predominantes, com e sem significância estatística,

apresentados pelos coeficientes de cada variável, provendo maior robustez para as conclusões.

Esse método vai ao encontro do objetivo do trabalho, de avaliar se é direta ou inversa a

relação entre quocientes financeiros e performance operacional futura. O método da regressão

linear múltipla foi adotado por ser relativamente simples e permitir a avaliação da relação

entre diversas variáveis contínuas.

Em cada uma das regressões, foi obtido o coeficiente e a significância estatística de

cada variável independente. Essa análise foi feita para as duas variáveis dependentes

utilizadas (DGC e IASC) e para defasagens temporais de 1, 2 e 3 anos. O modelo com

defasagem de 3 anos, por exemplo, verifica se há poder explicativo dos financial ratios de

2011 nos indicadores operacionais de 2014. A tabela 2 mostra a matriz de correlação com

base na defasagem de 1 ano, com destaque para os valores acima de 40%.

Não verificou-se benefício na aplicação de regressões com dados em painel, nesse

caso, principalmente devido ao desbalanceamento causado por indisponibilidade de dados de

algumas empresas em alguns períodos.

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Tabela 2 – Matriz com as correlações entre as variáveis utilizadas no estudo. Os indicadores que tratam da dívida líquida estão apresentados em sua forma invertida, por serem submetidos dessa forma às simulações.

As correlações foram apuradas com 1 ano de defasagem entre variáveis independentes e dependentes. Elaborada pelo autor.

A premissa de normalidade dos resíduos para a análise dos p-valores não é

preocupante devido ao tamanho da amostra, como sugerem Brooks (2002) e Gujarati (2000).

Mesmo assim, para verificar a robustez dos resultados, uma rodada adicional foi efetuada,

eliminando da amostra os outliers e evitando regressões com relação entre observações e

variáveis menor que 10 vezes.

Nos casos em que o teste de Breusch-Pagan indicou heteroscedasticidade ao nível de

10%, os erros-padrão, que determinam os p-valores, foram apurados utilizando estimadores

HC1, através de técnica desenvolvida ou baseada em trabalhos de Hinkley (1977), Eicker

(1963, 1967), Huber (1967) e White (1980), e detalhada por Hayes e Cai (2007).

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4 RESULTADOS

Nesta seção, são apresentados os resultados da aplicação da metodologia para avaliar

se há grau de explicação da performance operacional das distribuidoras a partir de sua

situação financeira em períodos anteriores.

A hipótese de relação linear entre as variáveis dependentes (DGC e IASC) e os

indicadores financeiros não foi rejeitada na aplicação do teste proposto por Ramsey (1969),

com componentes quadráticas e cúbicas. Em 5 dos 6 cenários, essa hipótese não foi rejeitada

ao nível de 10%. No teste utilizando o IASC como variável dependente e defasagem de 3

anos, a hipótese nula não foi rejeitada ao nível de 5%. Os p-valores encontrados são

mostrados na tabela 3.

Variável dependente

Defasagem F p-valor

DGC 1 ano 1,667 0,194 2 anos 1,045 0,358 3 anos 1,213 0,318

IASC 1 ano 1,260 0,288 2 anos 0,175 0,840 3 anos 2,907 0,078

Tabela 3 – Resultado da aplicação do Teste Reset, proposto por Ramsey (1969), para verificar possível falha na especificação dos modelos, através da inclusão de componentes quadráticas e cúbicas. A hipótese nula, de que a especificação com relação linear é adequada, não foi rejeitada nas regressões do DGC e do IASC, ao

nível de 5% de significância. Ao nível de 10%, somente no teste do IASC com defasagem de 3 anos essa hipótese pode ser rejeitada. Foram utilizadas todas as variáveis explicativas propostas. Elaborada pelo autor.

As tabelas 4 e 5 sumarizam os resultados para o DGC e o IASC, respectivamente.

Foram feitas 26.775 regressões para cada variável dependente, dentre as 786.429

combinações possíveis (218 - 1, multiplicado pelo total de defasagens). As demais

combinações não foram testadas por conter variáveis independentes que apresentaram

correlação com valor em módulo maior que 40%. Para cada variável dependente, foram

realizadas 15.839 regressões com defasagem de 1 ano, 8.447 regressões com financial ratios

defasados em 2 anos e 2.489 com ratios defasados em 3 anos.

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As tabelas indicam a relação esperada para cada financial ratio, conforme explicitado

na seção de metodologia. Além disso, para cada defasagem, são apresentados,

respectivamente da esquerda para a direita: (1) o sinal predominante do coeficiente da

variável explicativa, (2) o percentual de regressões em que esse sinal ocorreu e, das regressões

em que o sinal ocorreu, (3) o percentual de regressões com coeficientes estatisticamente

significativos, utilizando um nível de significância de 10%. As variáveis foram destacadas em

negrito quando o sinal predominante é igual ao esperado em todas as três defasagens e, com

asterisco, se, além disso, há mais de 70% predominância e mais de 30% de predominância

com significância estatística ao nível de 10%.

Para facilitar a comparação dos resultados do DGC, que é do tipo “quanto menor,

melhor”, com os do IASC, que é do tipo “quanto maior, melhor”, os sinais registrados pelos

coeficientes foram invertidos na tabela 4. Assim, o DGC fica alterado para a relação “quanto

maior, melhor”.

De uma forma geral, a quantidade de hipóteses confirmadas pelos sinais

predominantes foi bastante relevante. Como mostram as tabelas, dos 15 indicadores

econômico-financeiros avaliados, os sinais predominantes ocorreram da maneira esperada

(em todas as defasagens) em 11 nas regressões do DGC e em 9 nas regressões do IASC.

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Tabela 4 – Resultados das regressões lineares adotando o Desempenho Global de Continuidade (DGC) como variável dependente, ajustado para a relação “quanto maior, melhor”. As variáveis explicativas correspondem a 3

variáveis de controle e 15 financial ratios, compreendendo as categorias de endividamento, investimentos, rentabilidade, eficiência e dividendos. Foram feitos testes com defasagens de 1, 2 e 3 anos, combinando

variáveis independentes que não possuem, entre elas, valor absoluto de correlação maior que 40%. Para cada uma das 3 defasagens, a tabela mostra, respectivamente da esquerda para a direita, o sinal predominante do

coeficiente da variável independente, o percentual de vezes em que esse sinal ocorreu, e, dessa quantidade, o percentual de vezes em que esse sinal ocorreu com significância de pelo menos 10%. Nos casos em que o teste

de Breusch-Pagan indicou heteroscedasticidade ao nível de 10%, a significância foi apurada utilizando estimadores robustos (HC1). Foram destacados em negrito os financial ratios com confirmação da relação

esperada nas 3 defasagens, e, com asterisco, predominância acima de 70% e com significância acima de 30% em todas as defasagens. Elaborada pelo autor.

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Tabela 5 – Resultados das regressões utilizando o Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (IASC) como variável dependente. Foram utilizados como variáveis independentes 3 variáveis de controle e 15 financial

ratios, relativos a endividamento, investimentos, rentabilidade, eficiência e dividendos. Foram feitos testes com defasagens de 1, 2 e 3 anos, com combinações de variáveis independentes que não possuem valor absoluto de

correlação maior que 40%. Para cada defasagem, a tabela apresenta, respectivamente da esquerda para a direita, o sinal predominante do coeficiente da variável independente, o percentual de vezes em que esse sinal ocorreu, e,

dessa quantidade, o percentual de vezes em que esse sinal ocorreu com significância estatística (a 10% de intervalo de significância). A significância foi verificada utilizando estimadores robustos (HC1) nos casos em

que o teste de Breusch-Pagan indicou heteroscedasticidade ao nível de 10%. Em negrito, apresentam-se os financial ratios com confirmação da relação esperada nas 3 defasagens, e, com asterisco, predominância acima

de 70% e com significância acima de 30% em todas as defasagens. Elaborada pelo autor.

Os resultados foram exatamente o oposto do esperado para um indicador nas

regressões do DGC (Proventos / Patrimônio Líquido) e outro indicador na regressão do IASC

(Fluxo de Caixa de Investimentos / Ativo Total).

Nos demais indicadores, os resultados variaram dependendo da defasagem: Dív. Líq. /

EBITDA e FC Operacional / Receita Líq., nas regressões do DGC e do IASC; Dív. Líq. Reg. /

(EBITDA - CapEx), somente nas regressões do DGC; e EBITDA / Desp. Fin. Líq., Var. CG /

Rec. Líq. e Proventos / Patr. Líq., somente nas regressões do IASC.

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56

A seguir, são descritos os resultados por indicador:

1. Indicadores de endividamento

a. Dívida líquida / EBITDA

Os resultados para esse indicador foram inconclusivos. O sinal negativo

esperado foi registrado apenas na regressão do DGC com 3 anos de defasagem

e na regressão do IASC com 2 e 3 anos de defasagem, com significância em

uma pequena parte dos casos. Já na regressão do DGC com 1 e 2 anos de

defasagem, o resultado foi surpreendemente positivo (quanto maior a dívida

líquida sobre o EBITDA, maior o desempenho operacional medido) e com

significância em 76% e 37% dos casos, respectivamente.

b. Dívida líquida regulatória / (EBITDA - CapEx)

Na regressão do IASC, os sinais foram negativos em todas as defasagens,

confirmando o esperado, mas houve significância em, no máximo, 13% dos

casos. Na regressão do DGC, o sinal foi positivo com 1 e 2 anos de defasagem

(com 53% e 56% de casos com significância, respectivamente), mas negativo

com 3 anos, ainda que com poucos casos registrando significância.

c. Passivo exigível / Ativo total

A hipótese inicial, de que empresas indicadas por esse ratio como mais

endividadas teriam pior desempenho nos anos subsequentes, foi confirmada

pelos testes efetuados, de forma consistente. Em todos os casos, o sinal

negativo esperado foi encontrado. Houve significância estatística em grande

parte dos casos.

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d. EBITDA / Despesa financeira líquida

Os coeficientes desse ratio mostraram-se positivos, confirmando a hipótese

inicial, em todos os casos na regressão do DGC. Houve também uma parcela

significativa de casos com significância estatística. Já no caso do IASC, os

resultados foram positivos em 51% dos casos com 1 ano de defasagem e

negativos com 2 e 3 anos, com poucos casos indicando significância.

2. Indicadores de investimentos

a. CapEx / Ativo total

Os resultados confirmaram a hipótese inicial de que empresas com maiores

níveis de investimentos em ativos permanentes apresentam melhor

desempenho operacional em períodos subsequentes. O resultado mais

consistente foi a regressão do IASC com 1 ano de defasagem, em que o

coeficiente do ratio apresentou o sinal positivo significativo em 49% dos

casos.

b. Fluxo de caixa de investimentos / Ativo total

Curiosamente, os resultados desse financial ratio para o DGC foram

exatamente o oposto ao mostrado para o IASC. A grande maioria dos testes

regredindo o DGC resultaram em coeficiente positivo, confirmando a hipótese

inicial, ainda que tenha havido poucos casos com significância. Já no caso do

IASC, a grande parte dos testes resultou em sinal negativo, mas também com

poucos casos com significância.

c. Investimento em capital de giro / Receita líquida

Os resultados confirmaram o valor negativo esperado do sinal do coeficiente

nas regressões do DGC. Já no caso do IASC, somente na defasagem de 2 anos

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essa relação foi predominante e significativa. Nas demais defasagens, a relação

predominante foi positiva, mas sem significância em quase nenhum caso.

3. Indicadores de rentabilidade

a. Fluxo de caixa operacional / Receita líquida

Os resultados para esse indicador foram controversos, com sinais diferentes

dependendo da defasagem para ambas as variáveis dependentes. No DGC, a

relação positiva esperada confirmou-se para 1 e 2 defasagens. Já no IASC, essa

relação se revelou para 1 e 3 defasagens, ainda que, com 3 defasagens, não

houve significância em nenhum caso.

b. Lucro líquido / Receita líquida

Para esse ratio, a relação positiva esperada foi confirmada em todos os casos

de forma consistente, com destaque para o percentual de casos em que houve

significância nas regressões do IASC (91%, 99% e 73%, para 1, 2 e 3

defasagens, respectivamente).

c. EBITDA / Receita líquida

Também nesse caso, o sinal esperado foi confirmado em todos os testes, ainda

que, para algumas defasagens, os casos com significância não foram tão

comuns, exceto no IASC com 1 e 2 defasagens.

4. Indicadores de eficiência operacional

a. Compensações / Receita líquida

Os resultados confirmaram a relação negativa esperada em todos os casos de

forma veemente. O resultado foi tão conclusivo que apenas na regressão do

DGC com defasagem 3 anos não houve significância em 100% dos casos.

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59

b. EBITDA / Valor da parcela B

Os resultados foram bastante conclusivos e conforme esperados, especialmente

nas regressões do DGC, em que o sinal positivo foi observado em todas as

regressões, com significância em 95%, 84% e 93% dos casos em cada

defasagem. Nas regressões do IASC, o sinal positivo foi bem predominante,

mas a representatividade de casos com significância foi menor.

c. PMSO / Receita líquida

O sinal predominante em ambos os casos foi negativo, conforme esperado. Nas

regressões do IASC, os percentuais com sinal negativo e com significância

foram bem elevados.

d. Receita líquida / Ativo total

O sinal positivo do coeficiente foi predominante em todos os casos. Nas

regressões do DGC, no entanto, houve significância estatística na estimativa do

coeficiente em poucos testes. Já nas regressões do IASC, na grande maioria

das estimativas foram significativas, exceto na defasagem de 2 anos, que

apresentou significância em 4% dos casos.

5. Indicador de proventos

a. Dividendos e JCP / Patrimônio líquido

Surpreendentemente, foi encontrada relação positiva, significativa na grande

maioria dos casos, entre esse ratio e o desempenho de continuidade do serviço,

contrária à esperada. No IASC, essa relação também foi encontrada para 2 e 3

defasagens, ainda que com poucos casos indicando significância. Para 1

defasagem, ocorreu a relação negativa esperada em quase todos os casos, com

10% deles indicando significância ao nível de 10%.

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60

Os resultados apresentados pelas variáveis que indicam porte da distribuidora e se ela

está no sistema isolado ou interligado foram bastante conclusivos. A seguir são detalhados os

resultados por variável de controle:

1. Tamanho do mercado

Os sinais foram consistentemente negativos para o DGC e, em especial, o IASC,

que apresentou significância estatística em boa parte dos casos. Os resultados

indicam que distribuidoras que atuam em mercados abaixo de 1 TWh possuem

melhores índices de continuidade e de satisfação do cliente.

2. Tipo do sistema

O sinal positivo predominante indicou que distribuidoras do sistema interligado

obtêm melhores índices de desempenho de continuidade e de satisfação do cliente.

O percentual de regressões com defasagem de 1 ano que apresentaram

significância estatística ao nível de 10% mereceu destaque: 62% para o DGC e

100% para o IASC. No entanto, com 3 anos de defasagem, a relação foi negativa

mas não-significativa em nenhuma regressão do DGC.

3. Ativo total

Essa variável, que, assim como o tamanho do mercado, é uma indicação do porte

da distribuidora, apresentou resultados similares. O sinal negativo e significativo

foi registrado em boa parte dos casos nas regressões do DGC e em todos os casos

nas regressões do IASC, indicando que empresas menores apresentam melhor

desempenho operacional.

Houve, portanto, confirmações das hipóteses na maioria dos casos. Os dois

indicadores que apresentaram resultados opostos ao esperado em todas as defasagens, porém,

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61

merecem uma análise mais aprofundada. Para essa análise, o DGC será apresentado em sua

relação original, do tipo “quanto menor, melhor”.

A seguir, na figura 2, é exibido o gráfico de DGC (adiantado em 1 ano) em função do

percentual de proventos sobre o patrimônio líquido. Para facilitar a visualização, foram

excluídos do gráfico os valores da Iguaçu Energia em 2011 (18% de proventos em relação ao

patrimônio líquido e DGC no ano seguinte de 2,82, bem alto ao relação às demais

observações) e da Eletropaulo em 2012 (162% de proventos em relação ao patrimônio líquido

e DGC de 0,80 no ano seguinte).

Figura 2 – Gráfico com o Desempenho Global de Continuidade (DGC), de 2012 a 2014, em função da razão entre proventos pagos e patrimônio líquido, de 2011 a 2013 das distribuidoras de energia elétrica do Brasil.

Elaborada pelo autor.

Não é possível estabelecer uma relação entre as variáveis a partir da imagem, mesmo

desconsiderando esses casos em que os valores foram extremos. É importante destacar a

quantidade de casos em que não houve distribuição de dividendos no período.

Em relação ao valor elevado registrado pelo indicador de proventos da Eletropaulo em

2012, percebem-se pela tabela 6 significativas diferenças entre versões societária e regulatória

e, especialmente, entre números originais e reapresentados de patrimônio líquido.

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62

Tabela 6 – Patrimônio líquido, em milhões de reais, da Eletropaulo, registrado em 2012. Elaborada pelo autor.

Segundo as notas técnicas, as diferenças entre os ajustes de avaliação patrimonial das

versões societárias original e reapresentada advêm da adoção do CPC 33 (R1) – Benefícios a

Empregados. Houve registro de perda atuarial de 2,8 bilhões de reais, parcialmente

compensado por efeito de diferimento de imposto de 962 milhões de reais. Já o valor de 544

milhões em prejuízos acumulados na versão regulatória reapresentada reflete variações de

ativos e passivos regulatórios e ajustes devido ao ICPC 01 (efeito bifurcação e de atualização

do ativo financeiro da concessão) e ao CPC 30, além de diferimento de impostos. Ressalta-se

que o presente estudo utilizou para 2012 dados contábeis da versão regulatória reapresentados

em 2013. O valor atipicamente baixo do patrimônio líquido da Eletropaulo nessa versão do

demonstrativo elevou bastante o financial ratio de proventos.

O gráfico 3 a seguir apresenta os valores de IASC, adiantados em 1 ano, em função do

indicador econômico-financeiro de fluxo de caixa de investimentos sobre ativo total. A

imagem indica, de forma menos clara que na análise anterior, a relação inversa entre o

financial ratio e o indicador resultante da pesquisa de satisfação, contrária à esperada.

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63

Figura 3 – Gráfico com o Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (IASC), de 2012 a 2014, em função do fluxo de caixa de investimentos sobre o total de ativos, de 2011 a 2013 das distribuidoras de energia elétrica do

Brasil. Elaborada pelo autor.

Nas tabelas 7 e 8, são listados os casos com relação mais acentuada, e oposta ao

esperado, entre o financial ratio e a métrica de desempenho operacional no ano subseqüente.

Como sugeriram os gráficos, a relação inversa entre DGC e proventos sobre patrimônio

líquido é suportada por mais exemplos.

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64

Tabela 7 – Alguns casos que indicam a relação inversa observada entre proventos sobre patrimônio líquido e desempenho de continuidade. Elaborada pelo autor.

Tabela 8 – Observações que exemplificam a relação inversa verificada entre fluxo de caixa de investimentos sobre ativo total e índice de satisfação do consumidor. Elaborada pelo autor.

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65

Objetivando dar robustez aos resultados, a amostra foi submetida a uma nova rodada

de regressões. Dessa vez, além das regras utilizadas na rodada anterior, foram eliminadas da

amostra as observações consideradas outliers. Foram consideradas outliers as observações

muito superiores ao terceiro quartil ou muito inferiores ao primeiro quartil. O limite de

referência utilizado foi 3 vezes a diferença entre o terceiro e o primeiro quartis, como

mostram as equações a seguir.

xi > Q1 - 3(Q3 – Q1), (3)

ou xi < Q3 + 3(Q3 – Q1)

Esse filtro faz com que seja atendido de forma mais consistente o requisito para a

aplicação de regressões, mas diminui a quantidade de observações na amostra. Além disso,

não foram testadas as regressões com número de observações menor que dez vezes o número

de variáveis. Os resultados das regressões são apresentados nas tabelas 9 e 10.

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66

Tabela 9 – Resultados das regressões do DGC eliminando outliers e ignorando regressões com número de observações menor que 10 vezes o número de variáveis. 3 variáveis de controle e 15 quocientes financeiros

foram utilizados como variáveis independentes, com defasagens de 1, 2 e 3 anos em relação ao DGC. Regressões contendo variáveis com correlação maior que 40% não foram feitas. Da esquerda para a direita, são mostrados o

sinal predominante, o percentual em que ele ocorreu e o percentual em que ele ocorreu com significância ao nível de 10%, apurada com estimadores robustos a heteroscedasticidade quando esta é atestada pelo teste de Breusch-Pagan ao nível de 10%. Em negrito destacam-se os casos com confirmação das hipóteses, e, com

asterisco, os casos com predominância superior a 70% e com significância acima de 30%. Elaborada pelo autor.

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67

Tabela 10 – Resultados das regressões do IASC eliminando outliers da amostra e casos com quantidade de observações inferiores a 10 vezes o número de variáveis, além dos casos com correlação entre variáveis maior

que 40%. Foram contempladas como variáveis independentes 15 financial ratios e 3 variáveis de controle, defasadas de 1 a 3 anos em relação ao IASC. Para cada defasagem, são mostrados o sinal predominantes dos

coeficientes nas regressões, o percentual de vezes em que o sinal ocorreu, e o percentual de vezes em que ocorreu com significância ao nível de 10%. Os estimadores foram calculados robustos à heteroscedasticidade quando esta foi diagnosticada pelo teste de Breusch-Pagan ao nível de 10%. São destacadas em negrito e com asterisco, respectivamente, as variáveis para as quais houve confirmação das hipóteses, e para as quais houve confirmação em mais de 70% dos casos e com significância em mais de 30% dos casos. Elaborada pelo autor.  

O número de regressões realizadas reduziu para 6.512 por variável dependente, sendo

4.933 para 1 defasagem, 1.561 para 2 defasagens e apenas 18 para 3 defasagens. Os

resultados apresentaram algumas diferenças em relação à rodada original, especialmente em

relação ao IASC. Nas regressões dessa variável, 3 ratios, que utilizam a medida do EBITDA e

que na rodada original apresentaram resultados conforme esperados, nesse caso mostraram

sinais inconclusivos, que variaram de acordo com a defasagem: Dívida líquida regulatória /

(EBITDA - CapEx), EBITDA / Receita líquida e EBITDA / Valor da parcela B. Além disso, a

medida de CapEx / Ativo total, que havia apresentado resultados originalmente conclusivos,

curiosamente nessa rodada apresentou sinal contrário ao esperado em todas as defasagens.

Nas regressões do DGC, o indicador de Dívida líquida / EBITDA passou a apresentar

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resultados conclusivos e conforme esperados em todas as defasagens. Por outro lado, o

indicador de Investimento em CG / Receita líquida passou a apresentar resultados

inconclusivos, pois o sinal do coeficiente foi positivo em 68% das regressões na defasagem de

1 ano. Para os demais financial ratios e para as variáveis de controle, os percentuais

alteraram-se, mas as relações encontradas persistiram, com exceção da dummy que identifica

o tipo do sistema nas defasagens 1 e 3 das regressões do DGC.

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69

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O trabalho atingiu o objetivo de avaliar o poder de determinação de financial ratios

sobre a performance operacional futura das distribuidoras brasileiras de energia. Foram

analisados indicadores econômico-financeiros, baseados na contabilidade regulatória, das 63

concessionárias brasileiras, compreendendo o período de 2011 a 2013, quando havia dado

disponível. Como métricas de desempenho operacional, foram utilizadas as variáveis

Desempenho Global de Continuidade (DGC), que mede a frequência e duração das

interrupções de energia, e Índice Aneel de Satisfação do Consumidor (IASC), que mede o

valor que o usuário final percebe do serviço prestado.

Os indicadores econômico-financeiros compreendiam as dimensões de endividamento,

investimentos, rentabilidade, eficiência e dividendos. A expectativa era de que empresas com

indicadores que representem níveis maiores de endividamento ou de distribuição de

dividendos apresentem pior desempenho operacional nos anos posteriores. Por outro lado,

esperava-se que firmas cujas medidas indiquem maiores níveis de investimentos,

rentabilidade e eficiência tenham nos períodos subsequentes melhor performance na

qualidade do serviço prestado.

Os dados foram submetidos a regressões lineares utilizando as medidas de

desempenho operacional como variáveis dependentes e, como explicativas, os financial

ratios, em conjunto com variáveis de controle que indicam o porte da empresa e o tipo do

sistema, totalizando 18 variáveis independentes. Foram testadas regressões com todas as

combinações possíveis de variáveis (de forma a evitar multicolinearidade, entretanto),

atrasando os financial ratios, em relação às variáveis dependentes, em 1, 2 e 3 anos. Uma

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segunda rodada de testes foi feita com ajustes que objetivaram reduzir a presença de outliers

na amostra.

Os resultados foram apresentados basicamente através de 3 indicações: o sinal do

coeficiente que predominou nos testes, o percentual de vezes em que os testes resultaram

nesse sinal, e, dessa quantidade, o percentual de vezes em que houve significância estatística,

ao nível de 10%, nessa estimativa.

Houve bastante aderência dos resultados obtidos às hipóteses iniciais. Trata-se de um

sinal bastante contundente de que o monitoramento de financial ratios, que traduzem a gestão

econômico-financeira das empresas, contribui para a antecipação de problemas operacionais

futuros, conforme explicitado por Aneel (2014b). Especialmente na análise do índice de

satisfação do consumidor, para o qual deve haver determinantes que vão muito além dessa

gestão (ZEITHAML, 2000), os resultados foram satisfatórios. O estudo também confirma

constatações a respeito da importância em se considerar variáveis contábeis nesse tipo de

análise (DECHOW, AK, SUN, WANG, 2013) e corrobora com a prática proposta pela

agência reguladora para monitoramento das concessionárias, alinhando a atuação destas ao

que é desejado e ao que é de interesse público (JENSEN; MECKLING, 1976; BATOR,

1958).

Nas regressões do DGC, 11 ratios obtiveram resultados que foram ao encontro das

hipóteses inicialmente definidas, enquanto, nas regressões do IASC, isso aconteceu para 9

ratios. Por outro lado, o indicador de proventos nas regressões do DGC e o de fluxo de caixa

de investimentos nas regressões do IASC os resultados apresentaram relação contrária à

esperada. Nos demais indicadores os sinais obtidos foram controversos dependendo da

defasagem temporal. Na segunda rodada, que utilizou ajustes para evitar a presença de

outliers na amostra, reduzindo a quantidade de observações e de regressões, o número de

ratios que confirmaram de forma contundente as hipóteses nas regressões do IASC reduziu

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71

para 5. Isso indica que a gestão financeira possui relação com satisfação futura do consumidor

menos forte do que com continuidade do fornecimento.

A análise permite algumas conclusões importantes. Dentre os indicadores de

endividamento, por exemplo, aquele que mede o passivo em relação ao capital total, sem

diferenciação entre capital financeiro e operacional, apresentou melhor poder de explicação

do desempenho operacional, confirmando as constatações de alguns estudos anteriores

(JENSEN; MECKLING, 1976; MYERS, 1977). Especificamente no caso do DGC, o

indicador de EBITDA sobre despesa financeira também se mostrou relevante. Os indicadores

de dívida líquida em relação ao EBITDA, subtraído ou não do CapEx, não apresentaram

poder de determinação tão relevante. Uma das explicações pode estar associada à inversão

desses indicadores para que os casos em que o EBITDA é negativo pudessem ser

considerados. Os casos em que não há dívida líquida (38, do total de 169 observações

disponíveis) tiveram de ser desconsiderados, no entanto, reduzindo o total da amostra e

possivelmente contribuindo para que os resultados encontrados fossem inconclusivos. A

correlação entre as séries de dívida líquida sobre EBITDA e as de dívida líquida regulatória

sobre EBITDA subtraído do CapEx foi de 78%; as demais correlações entre as séries de

ratios de endividamento apresentou valor absoluto abaixo de 40%.

Dentre os indicadores de investimentos, o de CapEx sobre total de ativos apresentou

melhor poder de determinação, mesmo que essa medida não leve em consideração o motivo

dos investimentos (ampliação ou manutenção das linhas, por exemplo), e a relação encontrada

esteve em linha com a apresentada por Campello, Graham e Harvey (2010). Os indicadores

que envolvem fluxo de caixa de investimentos e variação de capital de giro, nas regressões do

DGC, também apresentaram relação igual à esperada, indicando maior aderência de

indicadores de investimentos como determinantes dessa medida de desempenho operacional.

Essa situação faz sentido, uma vez que a quantidade de interrupções de fornecimento é

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conseqüência direta do investimento em ativos permanentes, enquanto a relação com a

qualidade percebida pelos clientes é mais distante. Investimento em capital de giro, em

especial, se utilizado para aumentar os prazos de recebimento, pode acarretar em maiores

níveis de satisfação do consumidor. O fluxo de caixa de investimentos não é uma proxy

perfeita do CapEx por incluir, por exemplo, adições relativas a ativos financeiros, o que pode

ter contribuído para os resultados inconclusivos ou inversos encontrados para esse indicador.

A correlação entre esses dois indicadores foi de apenas 14%, inclusive. Já a correlação de

19% entre os indicadores de CapEx e de capital de giro não mostra que, na amostra analisada,

o aumento em um tipo de investimento comprometeu o outro.

Os resultados para os indicadores de rentabilidade mostraram que, no regime de

competência, o poder de determinação é melhor. Os resultados foram bastante conclusivos

para a margem EBITDA e líquida – constatação semelhante à apontada por Cleverley e

Harvey (1992) no setor de saúde – mas não para o fluxo de caixa operacional sobre receita

líquida, que apresentou relação inversa em alguns casos. Ele teve correlação de 32% e 34%

com as margens líquida e EBITDA, respectivamente. As margens líquida e EBITDA

mostraram correlação de 92%.

Os 4 indicadores de eficiência, que traduzem a gestão dos custos e dos ativos,

apresentaram resultados bastante contundentes, em relação ao esperado, e conforme apontado

por estudos anteriores (CHIOU; DROGE, 2006; CLEVERLEY; HARVEY, 1992), mostrando

a importância de serem considerados no processo de monitoramento dessas empresas. No

caso do indicador de compensações regulatórias sobre receita líquida, como esperado, a

correlação com o DGC adiantado em 1 ano é relativamente alta, de 54%, e, com o IASC, de -

41%. Já para os ratios que envolvem PMSO e valor da parcela B, uma relação diferente da

esperada poderia apontar que maiores custos (ou margens menores) resultariam em melhor

desempenho operacional ou percepção de qualidade. O mesmo poderia valer para indicadores

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73

de rentabilidade e de giro. No entanto, os resultados indicaram relação entre eficiência na

gestão e qualidade do serviço, em linha com a hipótese de pesquisa. Nas regressões do DGC,

o indicador de EBITDA sobre valor da parcela B mostrou casos com significância ainda mais

representativos do que para os indicadores de margem líquida e margem EBITDA, indicando

benefício em não considerar valores referentes à parcela A em análises de rentabilidade e

eficiência. A correlação entre a margem EBITDA e o indicador de EBITDA sobre o valor da

parcela B foi de 84%.

O indicador de proventos mostrou resultados inconclusivos nas regressões do IASC e

contrários ao esperado nas regressões do DGC. O fato de terem sido desconsiderados os casos

em que o patrimônio líquido é negativo pode ter contribuído para o resultado. Utilizar o lucro

líquido no denominador, mesmo que aparentemente mais adequado, diminuiria ainda mais a

quantidade de observações. Maiores níveis de proventos sobre o patrimônio líquido poderiam

indicar maior rentabilidade (CAMPELLO; GRAHAM; HARVEY, 2010), ao invés de menos

disponibilidades para investimentos, afetando a tradução esperada do indicador. A correlação

entre o indicador de proventos e o de margem líquida, no entanto, é de apenas 21%.

Um aspecto interessante é que, dentro os 15 ratios utilizados, 7 utilizam

demonstrativos diferentes (DRE, balanço ou fluxo de caixa) no numerador e no denominador,

enquanto os demais utilizam a mesma fonte. Para esses 7 indicadores, houve confirmação das

hipóteses iniciais em 36% dos casos; para os que utilizam a mesma fonte, o percentual foi de

94%. Os resultados indicaram, portanto, maior poder de determinação nos ratios que utilizam

somente um tipo de demonstrativo.

Quanto às variáveis de controle, os resultados foram bastante conclusivos para os

indicadores de tamanho, que também mostram boa capacidade preditiva em modelos de

falência como o proposto por Shumway (2001). O fato de concessionárias menores

apresentarem melhor desempenho de continuidade e percepção de satisfação pelos usuários

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sugere que há menor complexidade na garantia de fornecimento e no atendimento ao cliente

em áreas de concessão menores. Pode haver maior identificação do cliente com empresas

locais, facilitando a satisfação com o serviço. A operação em sistema interligado, que

apresentou relação direta com o índice de satisfação, indica que nesse caso também há

melhores condições para o atendimento às expectativas do consumidor. A correlação entre

IASC e DGC, de -44%, sugere que os clientes, de fato, devem levar as interrupções de energia

em consideração na avaliação de satisfação, dentre outros aspectos.

5.2 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

As conclusões apresentadas restringem-se ao universo e período analisado. Ainda que

o tamanho da amostra seja considerado suficientemente grande por fontes como Brooks

(2002), o período de tempo disponível para análise foi um fator que limitou a confiabilidade

dos resultados e a abordagem metodológica.

É importante ressaltar que indicadores de interrupção de energia podem estar

associados a diversos fatores não considerados diretamente no estudo, como condições

metereológicas e climáticas que podem levar a risco de desabastecimento. No entanto,

acredita-se que essa questão tenha sido parcialmente sanada tendo em vista que foram

utilizados valores relativos a limites de referência, e não absolutos.

Indicadores resultantes de pesquisa de qualidade junto ao consumidor final também

são influenciados por diversos aspectos, como o preço da tarifa, carga tributária, qualidade do

sistema de atendimento ao consumidor, risco de apagão e, de uma forma geral, a situação

econômica, social e política do país. Mesmo assim, as relações encontradas nas regressões do

IASC confirmaram na maioria dos casos as hipóteses iniciais, levando à notável conclusão de

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que a gestão financeira contribui, de fato, para explicar a percepção de qualidade do

consumidor nos períodos subsequentes.

O trabalho também se limita pela indisponibilidade de dados econômico-financeiros

de determinadas empresas em alguns períodos de tempo. Essa questão restringiu a aplicação

de métodos quantitativos adicionais e a inclusão de outros indicadores. Acredita-se, porém,

que a metodologia e a quantidade de métricas utilizadas deram suporte a um número relevante

de constatações, com razoáveis níveis de confiabilidade.

5.3 SUGESTÕES DE TRABALHOS COMPLEMENTARES

O presente estudo pode ser considerado abrangente por ter utilizado sobre todo o

universo de concessionárias de distribuição do Brasil métodos estatísticos para avaliação do

poder de determinação de diversos financial ratios. No entanto, o tema é amplo, não muito

explorado, perfeitamente aplicável e conveniente para outras áreas do setor de energia, como

transmissão, geração e comercialização, assim como para outros setores da economia.

Da mesma forma, sugere-se estender esse trabalho dentro do universo de distribuição

de energia do Brasil, utilizando outros indicadores também relevantes, como aqueles que

incluem medidas econômico-financeiras adotadas para as revisões tarifárias, ou oriundas de

balanços na versão societária. Outros indicadores de performance operacional podem ser

também testados, como aqueles que medem qualidade do produto e resposta a ocorrências.

Acredita-se que esses trabalhos possam subsidiar ainda mais a atuação de stakeholders

e a decisão de investidores, além de prover melhor suporte para a regulação e maior equilíbrio

para o setor.

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REFERÊNCIAS

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