avaliação de fatores de risco cardiovascular em meio militar

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Rev Port Endocrinol Diabetes Metab. 2013;8(1):25–28 Revista Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo www.elsevier.pt/rpedm Artigo original Avaliac ¸ ão de fatores de risco cardiovascular em meio militar Paula Chambel a , João Ferreira a , Mafalda Marcelino a , Carolina Faria Blanc a , Maria Santana Lopes a , Luis Oliveira Lopes a , Dolores Passos a , Evangelista Rocha b , Andreia Domingues a e João Jácome de Castro a,a Servic ¸ o de Endocrinologia Diabetes, Hospital Militar Principal, Lisboa, Portugal b Servic ¸ o de Cardiologia, Hospital Militar Principal, Lisboa, Portugal informação sobre o artigo Historial do artigo: Recebido a 12 de março de 2012 Aceite a 5 de maio de 2012 On-line a 26 de julho de 2013 Palavras-chave: Excesso ponderal Perfil lipídico Glicemia Populac ¸ ão militar r e s u m o Introduc ¸ ão: Em Portugal, mais de metade da populac ¸ ão tem excesso ponderal e hipercolesterolémia. Quase metade tem hipertensão e quase um quarto da populac ¸ ão é pré-diabética. Objetivo: Calcular a prevalência de fatores de risco cardiovascular numa amostra de militares no ativo e caracterizar a sua distribuic ¸ ão por sexo, idade e classe profissional. Metodologia: Estudo observacional e transversal realizado numa unidade militar. Foram recolhidos dados sociodemográficos e antropométricos, glicemia, perfil lipídico e pressão arterial (PA). Resultados: Foram incluídos 83 militares, 86,7% do sexo masculino, com idade média de 33,8 anos. 61% eram oficiais ou sargentos (idade média 41 anos) e 39% prac ¸ as (idade média 22 anos). 67,5% registaram um índice de massa corporal (IMC) 25 kg/m 2 e 15,7% um IMC 30 kg/m 2 . Quanto ao perfil lipídico, 47% apre- sentaram colesterol total (CT) 200 mg/dl, 51,8% LDL 130 mg/dl e 19,3% triglicéridos (TG) 150 mg/dl. 13,3% apresentaram hipertensão e 19,3% apresentaram uma glicémia 100 mg/dl mas nenhum revelou valores > 110 mg/dl. Os militares com idade 40 anos mostraram valores medianos mais elevados de IMC (27,6 vs. 25,7 kg/m 2 ), CT (215 vs. 179 mg/dl), TG (115 vs. 88 mg/dl), LDL (144 vs. 115,7 mg/dl) e glicémia (96,1 vs. 90,0 mg/dl), comparativamente com os de idade < 40 anos. Os oficiais e sargentos apresentaram valores mais elevados em todos os parâmetros avaliados, comparativamente com os prac ¸ as. Conclusões: A maioria dos militares estudados apresentaram excesso ponderal (67,5%) e 47% apresenta- ram hipercolesterolémia. Os nossos resultados fazem-nos refletir sobre a necessidade de mais estudos que avaliem os hábitos alimentares e de atividade física desta populac ¸ ão. © 2012 Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados. Evaluation of cardiovascular risk factors in military environment Keywords: Excess weight Lipid profile Glucose Military population a b s t r a c t Introduction: In Portugal, more than half the population is over weight and has hypercholesterolemia. Almost half has high blood pressure and nearly one quarter of the population is pre-diabetic. Objective: To calculate the prevalence of cardiovascular risk factors in a sample of active military and characterize their distribution by sex, age and profession. Methodology: An observational, cross, held in a military unit. Data were collected socio-demographic and anthropometric, blood glucose, lipid profile and blood pressure (BP). Results: We included 83 military personnel, 86.7% male, mean age 33.8 years. 61% were officers or serge- ants (mean age 41 years) and 39% squares (mean age 22 years). 67.5% have a Body Mass Index (BMI) 15.7% 25 kg/m 2 and a BMI 30 kg/m 2 . The lipid, 47% had total cholesterol (TC) 200 mg/dl, LDL 130 mg/dl 51.8% and 19.3% triglyceride (TG) 150 mg/dl. 13.3% had hypertension and 19.3% had a blood glucose 100 mg/dl but none showed values> 110 mg/dl. The military aged 40 years showed higher median values of BMI (27.6 vs 25, 7 kg/m 2 ), TC (215 vs 179 mg/dl), TG (115 vs 88 mg/dl), LDL (144 vs 115, 7 mg/dl) and glucose (96.1 vs 90, 0 mg/dl) compared with those aged < 40 anos. The officers and sergeants had higher values in all parameters evaluated compared with the squares. Autor para correspondência. Correio eletrónico: [email protected] (J. Jácome de Castro). 1646-3439/$ see front matter © 2012 Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados. http://dx.doi.org/10.1016/j.rpedm.2012.05.002

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Page 1: Avaliação de fatores de risco cardiovascular em meio militar

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Rev Port Endocrinol Diabetes Metab. 2013;8(1):25–28

Revista Portuguesade Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo

www.elsev ier .p t / rpedm

rtigo original

valiac ão de fatores de risco cardiovascular em meio militar

aula Chambela, João Ferreiraa, Mafalda Marcelinoa, Carolina Faria Blanca, Maria Santana Lopesa,uis Oliveira Lopesa, Dolores Passosa, Evangelista Rochab, Andreia Dominguesa

João Jácome de Castroa,∗

Servic o de Endocrinologia Diabetes, Hospital Militar Principal, Lisboa, PortugalServic o de Cardiologia, Hospital Militar Principal, Lisboa, Portugal

nformação sobre o artigo

istorial do artigo:ecebido a 12 de março de 2012ceite a 5 de maio de 2012n-line a 26 de julho de 2013

alavras-chave:xcesso ponderalerfil lipídicolicemiaopulac ão militar

r e s u m o

Introduc ão: Em Portugal, mais de metade da populac ão tem excesso ponderal e hipercolesterolémia.Quase metade tem hipertensão e quase um quarto da populac ão é pré-diabética.Objetivo: Calcular a prevalência de fatores de risco cardiovascular numa amostra de militares no ativo ecaracterizar a sua distribuic ão por sexo, idade e classe profissional.Metodologia: Estudo observacional e transversal realizado numa unidade militar. Foram recolhidos dadossociodemográficos e antropométricos, glicemia, perfil lipídico e pressão arterial (PA).Resultados: Foram incluídos 83 militares, 86,7% do sexo masculino, com idade média de 33,8 anos. 61%eram oficiais ou sargentos (idade média 41 anos) e 39% prac as (idade média 22 anos). 67,5% registaram umíndice de massa corporal (IMC) ≥ 25 kg/m2 e 15,7% um IMC ≥ 30 kg/m2. Quanto ao perfil lipídico, 47% apre-sentaram colesterol total (CT) ≥ 200 mg/dl, 51,8% LDL ≥ 130 mg/dl e 19,3% triglicéridos (TG) ≥ 150 mg/dl.13,3% apresentaram hipertensão e 19,3% apresentaram uma glicémia ≥ 100 mg/dl mas nenhum revelouvalores > 110 mg/dl. Os militares com idade ≥ 40 anos mostraram valores medianos mais elevados de IMC(27,6 vs. 25,7 kg/m2), CT (215 vs. 179 mg/dl), TG (115 vs. 88 mg/dl), LDL (144 vs. 115,7 mg/dl) e glicémia(96,1 vs. 90,0 mg/dl), comparativamente com os de idade < 40 anos. Os oficiais e sargentos apresentaramvalores mais elevados em todos os parâmetros avaliados, comparativamente com os prac as.Conclusões: A maioria dos militares estudados apresentaram excesso ponderal (67,5%) e 47% apresenta-ram hipercolesterolémia. Os nossos resultados fazem-nos refletir sobre a necessidade de mais estudosque avaliem os hábitos alimentares e de atividade física desta populac ão.

© 2012 Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo. Publicado por ElsevierEspaña, S.L. Todos os direitos reservados.

Evaluation of cardiovascular risk factors in military environment

eywords:xcess weightipid profilelucoseilitary population

a b s t r a c t

Introduction: In Portugal, more than half the population is over weight and has hypercholesterolemia.Almost half has high blood pressure and nearly one quarter of the population is pre-diabetic.Objective: To calculate the prevalence of cardiovascular risk factors in a sample of active military andcharacterize their distribution by sex, age and profession.Methodology: An observational, cross, held in a military unit. Data were collected socio-demographic andanthropometric, blood glucose, lipid profile and blood pressure (BP).Results: We included 83 military personnel, 86.7% male, mean age 33.8 years. 61% were officers or serge-

ants (mean age 41 years) and 39% squares (mean age 22 years). 67.5% have a Body Mass Index (BMI)≥ 15.7% 25 kg/m2 and a BMI ≥ 30 kg/m2. The lipid, 47% had total cholesterol (TC) ≥ 200 mg/dl, LDL≥ 130 mg/dl 51.8% and 19.3% triglyceride (TG) ≥ 150 mg/dl. 13.3% had hypertension and 19.3% had ablood glucose ≥ 100 mg/dl but none showed values> 110 mg/dl. The military aged ≥ 40 years showedhigher median values of BMI (27.6 vs 25, 7 kg/m2), TC (215 vs 179 mg/dl), TG (115 vs 88 mg/dl), LDL (144vs 115, 7 mg/dl) and glucose (96.1 vs 90, 0 mg/dl) compared with those aged < 40 anos. The officers andsergeants had higher values in all parameters evaluated compared with the squares.

∗ Autor para correspondência.Correio eletrónico: [email protected] (J. Jácome de Castro).

646-3439/$ – see front matter © 2012 Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo. Publicado por Elsevier España, S.L. Todos os direitos reservados.ttp://dx.doi.org/10.1016/j.rpedm.2012.05.002

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Conclusions: Most of the military studied showed excess weight (67.5%) and 47% had hypercholesterola-emia. Our results make us reflect on the need for more studies that assess the eating habits and physicalactivity in this population.

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© 2012 Sociedade Portug

ntroduc ão

Atualmente, mais de um bilião de adultos no mundo tem excessoe peso e pelo menos 300 milhões são clinicamente obesos. Estima-e que 17,6 milhões de crianc as com menos de 5 anos, em todo oundo, apresentam excesso de peso1.Num estudo realizado em jovens portugueses do sexo mas-

ulino, observados nas inspec ões militares, 15% tinha excessoe peso (IMC ≥ 25 kg/m2) em 1994, percentagem que aumentoum 1999 para 22%. A percentagem de indivíduos obesos (IMC

30 kg/m2) era, respetivamente, de 1,4 e 2,3%2. Relativamente um estudo efetuado em militares no Brasil, com idades entres 19-35 anos, a prevalência de excesso de peso e obesidade ée 75 e 18%, respetivamente. Nos indivíduos que praticam ativi-ade física regular, a prevalência de excesso de peso e obesidadeeduz para metade3. Vários estudos mostram que grande parte daopulac ão militar apresenta excesso de peso3–5, o que pode ter

mpacto no recrutamento e posterior desempenho na atividadeísica5.

Segundo a Sociedade Portuguesa para o Estudo da ObesidadeSPEO), dados recolhidos entre 2003-2005, 53,6% da populac ãoortuguesa, entre os 18 e 64 anos, tem excesso de peso ou obe-idade (39,4% e 14,2%, respetivamente) e 49,8% apresenta um riscoardiovascular aumentado devido a um perímetro da cintura ele-ado. Este estudo mostra que na meia-idade é o período da vidande se verifica a maior prevalência de pré-obesidade/obesidade

que esta prevalência é maior nos homens do que nas mulhe-es.

Resultados semelhantes foram apresentados pelo Institutoacional de Estatística (INE) (2005/2006).

As doenc as cardiovasculares continuam a ser principal causa deorte em Portugal e na Europa. 34,1% da populac ão portuguesaorre por doenc a cardiovascular, sendo a doenc a cerebrovascular

a doenc a coronária as mais prevalentes6.Dados fornecidos pela Fundac ão Portuguesa de Cardiolo-

ia sobre o perfil lipídico da populac ão portuguesa apontamara uma parte considerável da populac ão (68,5%) que apre-enta um risco moderado para doenc a cardiovascular (colesterolotal ≥ 190 mg/dl) e cerca de 23,4% apresenta um risco elevadocolesterol total ≥ 240 mg/dl)7.

Relativamente à prevalência da hipertensão arterial (HTA) emortugal, segundo o Estudo de Valsim, 42,62% dos portuguesesofre de HTA8. Resultados semelhantes foram encontrados pelorof. Doutor Mário Espiga Macedo, que mostrava que 46,5% dosortugueses com mais de 18 anos eram hipertensos9. Na Europa,

prevalência de indivíduos com HTA é de 44%. Já nos EUA Canadá esta prevalência ronda os 28 e 27%, respetivamente,os quais 23% estão controlados em oposic ão aos 8% nos paísesuropeus8. Nos militares brasileiros a prevalência de HTA é de2%3.

Em Portugal, a prevalência de diabetes tipo 2 (DM2) ajustadao sexo e à idade é de 11,7%. Verificou-se um predomínio no sexoasculino (14,2%) em relac ão ao sexo feminino (9,5%). Do total

e pessoas avaliadas, 6,6% tinham diagnóstico prévio e 5,1% não

abiam que eram diabéticos. Entre os 20-39 anos, a prevalência foie 2,4%, a qual vai aumentando com a idade para 12,6% (entre os0-59 anos) e 26,3% (entre os 60-79 anos). 23,2% da populac ão tinhapré-diabetes»10.

de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo. Published by Elsevier España,S.L. All rights reserved.

Objetivo

O objetivo do estudo foi avaliar a prevalência de fatores de riscocardiovascular (índice da massa corporal, glicemia, colesterol, tri-glicéridos e pressão arterial) numa amostra de militares no ativo,bem como caracterizar a sua distribuic ão por sexo, idade e classeprofissional.

Metodologia

Estudo observacional e transversal, realizado numa unidademilitar. Foram recolhidos dados sociodemográficos (sexo, idadee grupo militar) e antropométricos (peso e altura), glicémia, per-fil lipídico (colesterol total [CT], lipoproteínas de baixa densidade[LDL], triglicéridos [TG] e lipoproteínas de alta densidade [HDL])e pressão arterial (PA). A dislipidémia foi definida de acordo comos critérios de: CT> 200 mg/dl, LDL> 130 mg/dl, TG> 150 mg/dl eHDL< 40 mg/dl para os homens e < 45 mg/dl para as mulheres11.Foi considerada HTA quando os valores da pressão arterial sistólica(PAS) foram superiores a 140 mm/Hg e/ou da pressão arterial dias-tólica (PAD) de 90 mm/Hg12. O excesso de peso e obesidade foramcaracterizados de acordo com os critérios da OMS, IMC ≥ 25 kg/m2

e IMC ≥ 30 kg/m2, respetivamente.As variáveis quantitativas (idade, CT, TG, HDL, LDL, glicemia,

altura, peso, IMC, PAS e PAD) foram descritas através da média,desvio padrão, mediana, mínimo e máximo. As variáveis qualitati-vas (grupo militar, sexo, CT por grupo, TG por grupo, HDL por grupo,LDL por grupo, glicemia por grupo, IMC por grupo, PA por grupo)foram sumariadas através de frequências absolutas (n) e relativas(%).

A associac ão de variáveis categóricas independentes foi tes-tada através do teste do Qui-quadrado ou do teste exato deFisher. As comparac ões entre 2 grupos relativamente a variáveisquantitativas foram conduzidas através do teste T para amostrasindependentes ou do correspondente não paramétrico (Mann-Whitney), quando o pressuposto da normalidade não foi verificado.Os testes estatísticos foram efetuados para 2 caudas (bilaterais)considerando-se um nível de significância de 5%.

A análise estatística foi efetuada utilizando o software estatísticoSPSS®, versão 16.0.

Resultados

Foram incluídos 83 militares, 86,7% do sexo masculino, comidade média de 33,8 anos (entre os 18-51 anos). Aproximada-mente 61% eram oficiais ou sargentos e 39% prac as. Verificou-seque o grupo de indivíduos do sexo masculino era essencialmenteconstituído por oficiais ou sargentos (66,7%) enquanto o grupode indivíduos do sexo feminino apresentavam uma maior percen-tagem de prac as (72,7%). A média de idades dos oficiais e sargentosfoi de 41 anos e a dos prac as de 22 anos.

Do total da amostra, verificou-se que 67,5% tinha excessoponderal e 15,7% tinha obesidade, (IMC médio de 26,5 kg/m2).A percentagem de indivíduos com excesso ponderal foi superiornos oficiais e sargentos comparativamente aos prac as (80,4 vs.

46,9%, p = 0,002), sendo que 37,5% dos prac as e 60,8% dos oficiaise sargentos tinha excesso de peso e 9,4% dos prac as e 19,6% dosoficiais e sargentos tinha obesidade, figura 1. O IMC mediano regis-tado pelo sexo feminino foi estatisticamente inferior ao registado
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70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

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Praças

Oficiaise sargentos

Excesso peso 25-29,9 Obesidade ≥ 30

IMC (Kg/m2)

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2

20%

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Pressão arterial (mm/Hg)

% In

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≥ 140/90

Praças

Oficiais e sargentos

Total

Total

Figura 1. Índice de massa corporal por classe militar.

elos indivíduos do sexo masculino (24,0 vs. 26,6 kg/m2, p = 0,037). proporc ão de indivíduos com excesso de peso (IMC > 25 kg/m2)

oi superior no sexo masculino comparativamente com o sexo femi-ino (72,2 vs. 36,4%), p = 0,034).

Relativamente ao perfil lipídico 47% tinha CT ≥ 200 mg/dl,9,3% apresentava TG ≥ 150 mg/dl e 51,8% tinha LDL ≥130 mg/dlvalores médios de CT- 203,3 mg/dl; LDL- 133,1 mg/dl e TG-10,4 mg/dl). 15,6% dos prac as e 66,7% dos oficiais e sargentos tinhaT ≥ 200 mg/dl. Quanto aos valores de LDL, 15,6% dos prac as e4,7% dos oficiais e sargentos tinha LDL ≥ 130 mg/dl. Apenas 29,4%os oficiais e sargentos apresentava valores de TG ≥ 150 mg/dl emposic ão aos prac as que apenas 3,1% tinha os valores de TG eleva-os, figura 2. Da análise ao perfil lipídico, relativamente ao sexo,penas os valores medianos de HDL foram estatisticamente dife-entes entre os grupos (62 mg/dl no sexo feminino vs. 46 mg/dl noexo masculino, p = 0,001).

Quanto à glicemia de jejum, nenhum apresentava glicemia supe-ior a 110 mg/dl, 27,5% dos oficiais e sargentos e 6,2% dos prac aspresentaram valores de glicemia ≥ 100 mg/dl. Os valores media-os da glicemia foram ligeiramente inferiores para o sexo feminino89 vs. 93 mg/dl, p = 0,039).

Relativamente à HTA, aproximadamente 13,3% dos indivíduospresentaram PAS ≥ 140 mmHg e/ou PAD ≥ 90 mmHg, sendo a per-entagem de oficiais e sargentos superior à dos prac as (19,6 vs.,1% p = 0,044, considerando o critério PAS ≥ 140 mmHg ou PAD

90 mmHg), figura 3. Em termos de valores medianos de PA, o

exo feminino apresentou valores mais baixos (118-74 vs. 122-2 mmHg).

Foram registados valores médios mais elevados de IMC (27,5 vs.4,8 kg/m2), CT (221,8 vs. 173,8 mg/dl), TG (128 vs. 82,3 mg/dl), LDL

60%

6%

CT ≥ 200 LDL ≥ 130 TG ≥ 150HDL ≤ 40

39,70%

47%

6%

39,70%

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8,40%

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18,10%19,30%

1,20%

50%

40%

30%

20%

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0%

Praças

Oficiais e sargentos

Total

Figura 2. Perfil lipídico por classe militar.

Figura 3. Pressão arterial por classe militar.

(147,5 vs. 110 mg/dl) e glicemia (95,7 vs. 87,3 mg/dl) nos oficiais esargentos em relac ão aos prac as.

Discussão

Dos 83 militares estudados 67,5% apresentaram excesso de pesoe 47% hipercolesterolémia.

Comparativamente, existem estudos em militares brasileiros3 eamericanos4,5 que demonstraram que grande parte apresenta tam-bém excesso de peso tal como se verificou na nossa populac ão. Estaelevada prevalência de excesso de peso nas populac ões militarespode não refletir o excesso de massa gorda, mas sim a elevadapresenc a de massa magra, que por sua vez é mais pesada, influ-enciando deste modo o IMC dos militares.

Relativamente ao perfil lipídico existem estudos que mos-tram que os níveis de colesterol sérico aumentam com a idade eestão mais elevados nos homens, tal como se verificou na nossapopulac ão, em que 39,7% dos oficiais e sargentos apresentavamcolesterol elevado comparando com apenas 6% dos prac as7.

Em relac ão à HTA, os resultados da nossa populac ão são maisbaixos do que os descritos para a populac ão portuguesa. Apenas13,3% dos militares apresentavam HTA comparativamente com os42,6% da populac ão portuguesa8.

Os oficiais e os sargentos têm resultados mais elevados de IMC,colesterol, HTA e glicemia do que os prac as, o que provavelmenteestá relacionado com a idade superior das 2 primeiras classes. Estesresultados poderão também relacionado com a prática regular deatividade física, a qual é mais intensa nos prac as.

Conclusão

Os nossos resultados fazem-nos refletir sobre a necessidadede mais estudos que avaliem a composic ão corporal, os hábitosalimentares e de atividade física desta populac ão. De futuro, éimportante não só fazer uma avaliac ão corporal baseada no IMC,mas também realizar a todos os indivíduos uma bioimpedância,através da qual se pode obter a composic ão corporal exata domesmo, em massa gorda e massa magra.

É importante salientar que o excesso ponderal e as doenc asassociadas podem ter impacto no recrutamento e posterior desem-penho na atividade física em missões militares. É essencial aimplementac ão de estratégias de prevenc ão e educac ão paraa saúde em grupos populacionais específicos onde a prevalência deobesidade, diabetes, dislipidémia, HTA e doenc as cardiovascularesestão presentes2,13.

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1

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8 P. Chambel et al. / Rev Port Endoc

onflito de interesses

Os autores declaram não haver conflito de interesses.

ibliografia

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