estudo da hipertensão arterial e de outros fatores de...

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Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risco cardiovascular nas comunidades indígenas do Espírito Santo - BR DIANA MEYERFREUND Tese de Doutorado em Ciências Fisiológicas (Fisiologia Cardiovascular) PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Vitória, Outubro de 2006

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Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risco

cardiovascular nas comunidades indígenas do Espírit o Santo - BR

DIANA MEYERFREUND

Tese de Doutorado em Ciências Fisiológicas

(Fisiologia Cardiovascular)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

Vitória, Outubro de 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS

Diana Meyerfreund

Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risco

cardiovascular nas comunidades indígenas do Espírit o Santo - BR

ORIENTADOR

Prof. Dr. José Geraldo Mill

Dissertação de Doutorado

apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Fisiológicas

do Centro de Ciências da Saúde da

Universidade Federal do Espírito

Santo para a obtenção do grau de

Doutor em Ciências Fisiológicas.

Vitória,2006

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Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risco

cardiovascular nas comunidades indígenas do Espírit o Santo - BR

DIANA MEYERFREUND

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas do Centro de

Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo como requisito parcial

para obtenção do título de Doutor em Ciências Fisiológicas - Fisiologia Cardiovascular.

Aprovada pela Comissão Examinadora formada pelos professores:

_________________________________________ Prof. Dr. José Geraldo Mill- Orientador,UFES

______________________________________ Prof. Dr. Fernando Luiz Herkenhof Vieira-UFES

_________________________________________ Prof. Dr. Roberto de Sá Cunha- UFES

_________________________________________ Prof. Dr. José Eduardo Krieger-USP

______________________________________ Prof. Dr. Renato Morelato-Emescam

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO Vitória, outubro de 2006

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Meyerfreund, Diana

Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risco

cardiovascular nas comunidades indígenas do Espírito

Santo- BR / Vitória, 2006. 125p.

Tese de Doutorado – Programa de Pós-Graduação em

Ciências da Saúde, Centro de Ciências da Saúde,

Universidade Federal do Espírito Santo.

Orientador: Prof. Dr. José Geraldo Mill

1. Hipertensão Arterial 2. Risco Cardiovascular 3. Grupos

étnicos 4.Índios Sul Americanos

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Dedico esta tese às crianças da minha vida,

aos meus filhos, Rafael,

e a pequena Ellen, seja bem vinda.

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AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos ao professor José Geraldo Mill, por sua natureza

empreendedora, pelo seu dinamismo e pela vida de dedicação ao ensino e a pesquisa.

Agradeço pela sua presença em todas etapas de execução deste trabalho e pela

oportunidade de partilhar idéias e avançar cada vez mais.

Agradeço as lideranças Indígenas, bem como a todos os participantes do estudo pela

receptividade com que nos receberam, pela participação efetiva e apoio sem o qual não

seria possível a realização deste trabalho.

Agradeço de modo especial ao Dr. Dioscórdes Marcelo Campos e a todos que atuam

nas Unidades de Saúde indígenas, principalmente aos agentes de saúde indígenas que

participaram de forma bastante efetiva na realização deste trabalho.

Agradeço a todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Ciências

fisiológicas por compartilharem seus conhecimentos fazendo com que o meu interesse

pela pesquisa científica crescesse cada vez mais.

Minha gratidão especial ao laboratório de Genética Molecular do Incor- FMUSP em

particular a Marcilene Peixoto Floriano pela disponibilidade que sempre me auxiliou.

Agradeço a Yara Nascimento de Oliveira pela dedicação e importante desempenho na

coleta de dados neste trabalho.

Minha gratidão a Eliana da Silva Regina pelo apoio constante que foi fundamental na

realização deste trabalho.

A doutoranda Cristina Gonçalves, por toda ajuda a mim dispensada e pela amizade que

só fez crescer durante o convívio no laboratório de fisiopatologia cardiovascular.

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Aos demais colegas pós-graduandos o meu agradecimento pela ajuda mútua prestada

e por poder compartilhar erros e acertos.

Agradeço ainda a contribuição de todos os funcionários do programa de pós-graduação

em particular ao que participou ativamente na elaboração do banco de dados deste

estudo.

Agradeço de modo especial a minha família pela compreensão do tempo perdido de

nosso convívio dedicado à conclusão desta tese de doutorado.

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LISTA DE ABREVIATURAS

HA – Hipertensão arterial

ANOVA – Análise da Variância

DP – Desvio Padrão da Média

IAM – infarto agudo do miocárdio

HVE – hipertrofia ventricular esquerda

ECA – enzima conversora de angiotensina

iECA – inibidor de enzima conversora de angiotensina

At – Angiotensinogênio

DMNID – Diabetes Mellitus não Insulino Dependente

CT – Colesterol Total

HDL-c – Lipoproteína de Alta Densidade

LDL-c – Lipoproteína de Baixa Densidade

PA – Pressão Arterial

PAM – Pressão Arterial Média

PAD – Pressão Arterial Diastólica

PAS – Pressão Arterial Sistólica

PP – Pressão de Pulso

IMC – Índice de Massa Corporal

HUCAM – Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes

NECP – National Educational Cholesterol Program

NHANES – National Health and Nutrition Examination Survey

JNC VI – Comitê Nacional Americano para detecção, avaliação e tratamento e

prevenção da hipertensão arterial.

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SUMÁRIO

PÁGINA

I. RESUMO ...................................................................................................................16

II. ABSTRACT................................................................................................................18

III. INTRODUCÃO...........................................................................................................20

1. FATORES AMBIENTAIS RELACIONADOS AO DESENVOLVIMENTO DE

HIPERTENSÃO.........................................................................................................22

1.1 - MODIFICAÇÃO DE ESTILO DE VIDA..............................................................22

1.2 - OBESIDADE E DIABETES................................................................................23

1.3 - FATORES SÓCIOS ECONÔMICOS..................................................................24

1.4 - SAL E HIPERTENSÃO ARTERIAL....................................................................25

2. BASES GENÉTICAS DA HIPERTENSÃO ARTERIAL..............................................28

2.1- GENE DO ANGIOTENSINOGÊNIO....................................................................33

2.2- GENA DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA.................................34

3. ESTUDO DE HIPERTENSÃO ARTERIAL EM ÍNDIOS.............................................35

VI. OBJETIVOS.............................................................................................................35

1- OBJETIVOS GERAIS................................................................................................36

2- OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................................36

MATERIAIS E MÉTODOS.............................................................................................37 1- PLANEJAMENTO DO ESTUDO................................................................................39

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1.5 CRITÉRIO DE INCLUSÃO...................................................................................39

2- PROTOCOLO............................................................................................................40

3- ANÁLISE DE DADOS................................................................................................47

3.1 – MEDIDA E CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL ..............................47

3.2 – DISLIPIDEMIAS...............................................................................................48

3.3 – DIABETES MELLITUS.....................................................................................49

3.4 – T ABAGISMO...................................................................................................49

3.5 – ANÁLISE DOS PARÂMETROS ANTOPOMÉTRICOS....................................49

3.6 – HIPERTROFIA VENTRICULAR ESQUERDA.................................................50

3.7 – ANÁLISE DOS PARÂMETROS URINÁRIOS..................................................51

4- RISCO CORONARIANO……....................................................................................52

5- ANÁLISE DOS POLIMORFISMOS…........................................................................53

6- ANÁLISE ESTATÍSTICA...........................................................................................54

RESULTADOS................................................................................................................56

1- CARACTERÍSTICA DA AMOSTRA..........................................................................57

2- FATORES DE RISCO CARDIOVASCULARES....................................................... 63

3- CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL...........................................................68

4- ANÁLISE DOS PARÂMETROS HEMODINÂMICOS.................................................72

5- CORRELAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL SISTÓLICA E DIASTÓLICA COM

PARÂMETROS ESTUDADOS...................................................................................78

6- ANÁLISE DOS POLIMORFIMOS DA ENZIMA CONVERSORA DE ANGIOTENSINA

E DO ANGIOTENSINOGÊNIO NOS TUPINIQUINS E GUARANIS..........................90

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DISCUSSÃO..................................................................................................................94

1- PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCO................................................................95

2- PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCO................................................................96

3- LIMITAÇÕES DO ESTUDO............................................ ........................................105

CONCLUSÃO................................................................................................................109

IX. REFERÊNCIAS ...................................................................................................112

ANEXO I

ANEXO II

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LISTA DE TABELAS

PÁGINA

TABELA 1. Representatividade da amostra. População elegível e estudada,

estratificada segundo sexo, faixa etária e aldeia d e

residência......................................... ..............................................................................58

TABELA 2. Distribuição da amostra , estratificada segundo a f aixa etária, etnia e

escolaridade....................................... ............................................................................58

TABELA 3. Características antropométricas, bioquímicas e c línicas da amostra,

estratificada segundo a etnia...................... ................................................................60

TABELA 4. Características antropométricas, bioquímicas e c línicas da amostra,

estratificada segundo sexo......................... .................................................................61

TABELA 5. Parâmetros urinários, estratificados segundo a

etnia.............................................. ..................................................................................62

TABELA 6. Prevalência de fatores de risco cardiovascular n a

amostra............................................ ..............................................................................64

TABELA 7. Presença de hipertrofia ventricular esquerda na amo stra, segundo

critério de Sokolow Lyon e Homilt-Estes............ .......................................................65

TABELA 8. Cálculo do Risco Coronariano nos indígenas do Espír ito Santo,

estratificado pela etnia........................... ......................................................................66

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TABELA 9. Risco de ocorrência de eventos coronarianos, nas re servas indígenas

do Espírito Santo, estratificado pela etnia........ ..........................................................66

TABELA 10. Classificação da pressão arterial, estratificado se gundo a

etnia.............................................. ..................................................................................69

TABELA 11. Prevalência de hipertensão arterial nas comunidades indígenas do

Espírito Santo..................................... ...........................................................................69

TABELA 12. Parâmetros hemodinâmicos, estratificado segundo a

etnia.............................................. ..................................................................................71

TABELA 13. Ajuste da pressão arterial média pela idade, nos di ferentes grupos

étnicos............................................ ................................................................................72

TABELA 14. Ajuste da pressão arterial sistólica pela idade nos diferentes grupos

étnicos............................................ ................................................................................73

TABELA 15. Ajuste da pressão arterial diastólica pela idade no s diferentes grupos

étnicos............................................ ................................................................................73

TABELA 16. Medidas hemodinâmicas, dados bioquímicos e antropom étricos ,

estratificado segundo etnia nos normotensos e hiper tensos .................................75

TABELA 17. Medidas hemodinâmicas, dados bioquímicos e antropom étricos ,

estratificado segundopredisposição familiar de Hipe rtensão

arterial..................................... ..... ..................................................................................77

TABELA 18. Correlação de Pearson dos parâmetros hemodinâmicos n os

indígenas Tupiniquins, aldeados no Espírito Santo.. ................................................78

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TABELA 19. Correlação de Pearson dos parâmetros hemodinâmicos n os

indígenas Guaranis aldeados no Espírito Santo...... .................................................78

TABELA 20.Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das

variáveis associadas à pressão arterial sistólica(P AS), na etnia Tupiniquim

.........................................................................................................................................87

TABELA 21. Resultados da análise de regressão linear mútipla p or etapas das

variáveis associadas à pressão arterial sistólica ( PAS), na etnia Guarani

.........................................................................................................................................88

TABELA 22. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das

variáveis associadas à pressão arterial diastólica (PAD), na etnia

Tupiniquim......................................... ...........................................................................89

TABELA 23. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das

variáveis associadas à pressão arterial diastólica (PAD), na etnia

Guarani............................................ ...............................................................................89

TABELA 24. Distribuição da freqüência dos polimorfismos estuda dos nas

diferentes etnias.................................. ..........................................................................91

TABELA 25. Análise univariada para os fenótipos de pressão art erial sistólica nas

diferentes etnias.................................. ..........................................................................92

TABELA 26. Análise univariada para os fenótipos de pressão art erial diastólica,

nas diferentes etnias.............................. .......................................................................92

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LISTA DE FIGURAS

PÁGINA

FIGURA 1. Probabilidade de ocorrência de eventos coronarianos em 10 anosnas

reservas indígenas do Espírito Santo, estratificada pela etnia

.........................................................................................................................................67

FIGURA 2. Níveis de pressão arterial sistólica e diastólica n as aldeias indígenas

do Espírito Santo.................................. ........................................................................74

FIGURA 3. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial sist ólica com variáveis

antropométricas e a idade nos Tupiniquins.......... .....................................................79

FIGURA 4. Gráficos de dispersão entre pressão arterial sistól ica em função das

variáveis de consumo e bioquímicas nos Tupiniquins .............................................80

FIGURA 5. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial dias tólica com variáveis

antropométricas e idade nos Tupiniquins .................................................................81

FIGURA 6. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial dias tólica em função das

variáveis de consumo e bioquímicas nos Tupiniquins .............................................82

FIGURA 7. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial sist ólica com variáveis

antropométricas e idade na etnia Guarani .................................................................83

FIGURA 8. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial sist ólica em função das

variáveis de consumo e bioquímicas na etnia Guarani .............................................84

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FIGURA 9. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial dias tólica com variáveis

antropométricas e idade na etnia Guarani .................................................................85

FIGURA 10. Gráficos de dispersão entre a pressão arterial sist ólica em função das

variáveis de consumo e bioquímicas na etnia Guarani .............................................86

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Resumo

Introdução: Fatores genéticos são importantes determinantes da pressão arterial (PA)

em populações ameríndias. O indígena brasileiro em seu modo primitivo de vida possui

baixos valores de PA, sendo incomum a ocorrência de hipertensão arterial (HA) e

outras doenças cardiovasculares (DCV). O aparecimento da HA nestas populações tem

sido associado à adoção de estilo moderno de vida. Entretanto as interações gene vs

ambiente levando à HA e DCV permanecem obscuras. Objetivos: Investigamos a

prevalência de fatores de risco cardiovascular e polimorfismos gênicos do sistema

renina-angiaotensina-aldosterona (SRAA) em duas tribos indígenas vivendo sob

influências ambientais semelhantes em Aracruz, ES (Guaranis, n=60, e Tupiniquins,

n=496) e um grupos de não índios (a maioria mestiços, n=114) que convivem na

reserva tupiniquim. Métodos: Estudo em corte transversal em todos os indivíduos com

idade ≥20 anos residentes das reserva indígena de Aracruz, ES. A taxa de

comparecimento ao estudo foi de 80% sendo incluídos 670 indivíduos (352 mulheres e

318 homens) no estudo. O exame clínico consistiu de entrevista, exame físico

(antropometria), ECG e aferição da PA em ambiente clínico. Amostras de sangue de

jejum foram obtidas para medidas de glicemia, lipídeos e creatinina. A urina foi coletada

durante 12 h (noite) para medida da excreção de Na e K. DNA foi extraído para

determinação dos polimorfismos gênicos do angiotensinogênio (235T) e enzima

conversora de angiotensia (D/I). Resultados: Os Tupiniquins e outros mestiços

apresentaram maior prevalência de HA (20 e 17,5%) do que os Guaranis (1,5%). A

prevalência de tabagismo foi maior no grupo Guarani (60%) do que nos Tupiniquins

(33%) e não índios (26,3%) (P<0,001). Não houve diferenças estatísticas nas

prevalências de obesidade (IMC≥30 kg/m2), diabete e colesterol elevado (>200 mg/dL)

entre os grupos, sendo, respectivamente, de 22,8, 1,5 e 50,9% nos Guaranis, 14,9, 4,2

e 40,7% nos Tupiniquins e 1,4, 6,1 e 44,7% nos não índios. A PA sistólica e diastólica

foi menor nos guaranis (107±14/70±10mmHg) do que nos Tupiniquins

(122±20/78±11mmHg), mesmo após ajuste para idade e IMC, (P<0,01). Observamos

aumento linear da PAS e PAD com a idade, os Guaranis apresentaram coeficientes

angulares mais baixos (PAS=93,7 + 0,405 x idade) r= 0,39 comparados aos Tupiniquins

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17

(PAS=93,6+0,77 x idade) r= 0,5 e não índios (PAS= 91,33 + 0,74 x idade) r= 0,47,

P=0,012. A Distribuição do polimorfismo M235T do AT foi de : 74,4%(TT), 21,6(MT) e

3,9(MM) para os Guaranis, 43,0%(TT) 47,9(MT) e 9,1(MM) nos Tupiniquins e 49,1(TT)

39,3(MT) 11,6(MM) nos outros mestiços. Conclusôes: Fatores genéticos são

importantes para explicar diferenças na pressão arterial de indígenas vivendo sob

influências ambientais semelhantes. O consumo de sódio estimado em 13g/ dia é

similar aos valores encontrados na população urbana de Vitória. Os baixos valores de

pressão arterial não se mantém com a idade. Os coeficientes angulares são mais

baixos nos Guaranis, mesmo com alto consumo de Na. Em Vitória o genótipo TT foi

associado com aumento de PA. Neste estudo os Guaranis que tem alta freqüência do

genótipo TT, possuem pressão mais baixa. O genótipo TT provavelmente não é

causalmente associado ao desenvolvimento de HAS.

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18

Abstract

Introduction :Genetic factors are importants in the blood pressure phenotype. The

increase of blood pressure among Amerindians communities has been associated with

adoption of a modern lifestyle. Objectives : We investigated the prevalence of

cardiovascular risk factors in two different Indians tribes living under the same

environmental influences, Aracruz, Brazil. Methods : We study 670 individuals (352

females 318 males) with different levels of admixture: Guaranis with no admixture and

Tupiniquins with higher levels of admixture. Participation rate was 80%. The clinical

examination consisted of a personal interwied and physical examination. Fasting blood

samples are obtained for measures for glicemia, lipids, lipoproteins, plasma creatinine.

Overnight Urine collections were obtained for measures of Na, K and urinary

creatinine.Genomic DNA was extracted. Genotypes were detected by polymerase chain

reaction (PCR).

Results: The urinary sodium excretion was 100±54mEq /12h. The Tupiniquins and non

indians participants having higher prevalence Hypertension (20%) e (17,5%) compared

with Guaranis(1,5%).The prevalence of and smokers are higherin guaranis (60%) than

Tupiniquins (33%) and non Indians (26,3) %)χ2= 0,001.The blood pressure level were

lower in Guaranis 107±14/70±10mmHg compared with Tupiniquins

122±20/78±11mmHg, even after age imperative adjustment. We observe a linear

increase of systolic and diastolic blood pressure with age, Guaranis having lower linear

and angular coefficients (SBP=93,7+0.405 x age)r=0,39 compared with

tupiniquins(SBP= 93,6+0,77x age) r=0,5 and non Indians subjects (SBP= 91,33+0,74x

age) r= 0,47, P=0,012. In a multiple logistic regression model adjusted for age, sex and

WCI the higher admixture group was significantly higher risk for hypertension.

Conclusions : Genetic factors are important to explain differences of blood pressure in

Amerindians living under similar environmental exposures. The sodium consumption

estimated in13g/day is similar to those values in urban population of Vitória. The

increase of systolic and diastolic blood pressure with age (mmHg/year) are similar in

higher admixtures groups, the lower BP values were not sustain with aging. The angular

coefficients are lower in the non-admixture group(Guaranis), even with higher intake of

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19

sodium. The study of Molecular markers in those population may contribute to

indetification of genetic determinants for hypertension in humans. TT polymorphism was

associated with higherblood pressure levels in the Vitória population. In this study,

Graranis with higher prevalences 74,4% TT polymorphism having lower levels of blood

pressure. The polymorphism TT is probably not causally associated with hypertension.

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20

INTRODUÇÃO

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21

1. INTRODUÇÃO

As populações indígenas da América, em seu estado primitivo, eram

praticamente desprovidas de doenças cardiovasculares, em geral, e de hipertensão

arterial, em particular (Bloch et al, 1993). Estudo feito por pesquisadores americanos

em índios Yanomanis no início dos anos 70, período em que estas tribos ainda

mantinham hábitos primitivos de vida, mostrou ausência de casos de hipertensão

arterial (Oliver et al, 1975).

Nos Estados Unidos dados do Strong Heart Study, demonstram que as taxas de

mortalidade por doença arterial coronariana nos ameríndios ultrapassam as taxas da

população norte-americana em geral (Howard et al, 1999). As explicações para este

fato seriam devido a: 1) Alteração de hábitos dietéticos (introdução do uso do sal no

preparo de alimentos, o aumento do consumo de açúcares de rápida absorção

(sacarose) 2) Adoção de estilo de vida mais sedentário, 3) Maior prevalência de

obesidade 4) Aumento nas taxas de diabetes 5) Tabagismo habitual, ao invés do uso

ritualístico 6) Baixo padrão socioeconômico 7)Aspectos culturais. Estes fatores

isoladamente ou em conjunto determinariam o aparecimento da progressiva elevação

da pressão arterial com o avançar da idade, fazendo com que, após algumas gerações,

as doenças cardiovasculares se constituam em importantes causas de morbidade e

mortalidade (Roadhes et al, 1987).

1. FATORES AMBIENTAIS

1.1. Modificação de estilo de vida

A prevalência de Hipertensão arterial varia bastante com o grau de

ocidentalização do estilo de vida. Em populações autóctones e não autóctones tem

sido demonstrado que a PA apresenta comportamento variado em função do grau de

ocidentalização do estilo de vida (Flemming Mooran et al, 1991, Santos & Coimbra,

1994; Cardoso et al, 2001).

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22

Quando populações primitivas com ausência de hipertensão adotam um estilo de

vida moderna, incluindo aumento da ingesta de sal, elas aumentaram seus níveis

pressóricos e se tornaram hipertensas. Quando agricultores khenianos mudaram-se

para Naerobi, aumentaram a excreção de sódio de 60 para 110 mmol/dia e a PA

aumentou significativamente num período de poucos meses (Poulter et al, 1990).

Entretanto mesmo aqueles que estão convencidos da importância do sal

salientam que fatores adicionais também desempenham papel importante nestes

estudos. A dieta vegetariana, por exemplo, tem apresentado consistentes

associações com baixos níveis pressóricos (Sacks et al, 1988) e nas comunidades

indígenas nas quais a HÁ é rara, a dieta se assemelha a uma dieta vegetariana

(Hollenberg et al, 1997). As dietas vegetarianas são geralmente ricas em potássio e

magnésio e existem várias evidências epidemiológicas de uma relação inversa entre a

ingesta destes íons e PA (Whelton et al, 1998). Entretanto a contribuição destes ainda

permanece controversa na literatura. Por outro lado, as dietas mesmo que

vegetarianas com deficiência de micro-nutrientes já foram associadas à hipertensão

(Chinplonkar et al, 2004). A vitamina C, Ácido fólico e Zinco são apontados como

biomarcadores de HA, devido ao potencial antioxidante destes micro-nutrientes.

Outros candidatos na contribuição ambiental da HA são o elevado consumo de álcool,

obesidade, inatividade física, sedentarismo, estresse psico-social.

1.2. Obesidade e Diabetes

Desde a metade da década de 60 vários estudos tem demonstrado aumento da

incidência do Diabetes mellitus não Insulino Dependente entre nativos americanos

(Sievers & Fisher et al, 1985), Polinésios (Zimmet et al, 1990), aborígines australianos

(O´Dea, 1991) e habitantes da Papua Nova Guiné (Martin et al, 1980).Em várias

localidades as prevalências de taxas são maiores nos habitantes indígenas do que em

outros indivíduos. O Diabetes se agrega em famílias de indígenas norte americanos, e

o risco de ocorrência nas gerações futuras é maior quando a doença se manifesta

numa fase precoce do que quando ocorre nas fases mais tardias da vida (Knowler et al

1990). Nos Índios Pima, (um grande grupo de Nativos Americanos que habitam

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sudoeste do Arizona e noroeste do México a mais de 2000 anos) a taxa de incidência

de diabetes está entre as mais altas do mundo (Knowler et al, 1990). Considerações

sobre uma susceptibilidade inata ou resistência ao diabetes entre alguns grupos de

ameríndios tem sido postuladas por uma série de teorias etiológicas e evolucionárias

(Hales & Backer, 1992, Weiss et al, 1984, Zimmet et al, 1990). Há 30 anos o geneticista

James V. Nell formulou um modelo evolucionário para explicar as bases biológicas do

diabetes nas populações humanas: A hipótese do ‘Thrifty gene’. Ele postulou que genes

que promovem uma rápida liberação de insulina em resposta ao aumento de glicemia

previnem perda de energia pela conversão do excesso de glicose para armazenamento

de gordura. Para os ancestrais caçadores o excesso de glicose era uma situação que

ocorria periodicamente, entretanto nos tempos atuais com a disponibilidade continua de

alimentos, a rápida resposta à insulina tornou-se mal adaptativa, levando a

hiperinsulinemia e a obesidade, este excesso de glicose promove antagonismo a

insulina e acaba por levar a exaustão das células β pancreáticas (Nell,1982).

Avanços da biologia molecular tem permitido examinar genes possivelmente

envolvidos no DMNID. A seqüência de DNA no final do gene da insulina “5’ flanking

region” é implicada na susceptibilidade em Brancos, negros e índios Pima,

influenciando a expressão do gene. Posteriormente este polimorfismo não foi envolvido

no aparecimento da doença nos Pima, mas esteve relacionado à gravidade do diabetes

(Rotwein et al, 1981). Diabetes entre os Pima está associado com o Phenotype HLA-A2

(Willians et al, 1981), e marcadores genéticos no cromossoma 4q e 7q tem sido

relacionados à resistência a insulina nesta população (Prochazka et al, 1995). Fatores

de risco modificáveis em potencial como obesidade, composição da dieta e inatividade

física parecem contribuir para susceptibilidade genética ao Diabetes mellitus não

Insulino Dependente.

O aumento de prevalência de DCV em índios norte-americanos, muito mais à

elevada prevalência de diabetes do que a prevalência e severidade da hipertensão

nesta população (Sievers et al, 2002). Populações indígenas com elevada prevalência

de diabetes e obesidade apresentam níveis pressóricos menores quando comparados a

indivíduos brancos expostos a estes fatores. Este fato sugere que nesta etnia a

hiperinsulinemia não está associada ao aumento da atividade simpática e dos níveis da

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pressão arterial o que poderia explicar uma prevalência mais baixa de hipertensão

nestas populações (Weyer et al, 2000).

1.3. Fatores sócios econômicos

A distribuição desigual de doenças crônico-degenerativas tem sido atribuídas aos

diferentes graus de transformação social em diversas populações (Cardoso et al, 2001).

O perfil saúde doença dos povos indígenas no Brasil é pouco conhecido, o que decorre

da exigüidade de investigações e da precariedade dos sistemas de registro e

informações de morbimortalidade (Coimbra Jr & Santos, 2001). Dados relativos à

situação nutricional são particularmente escassos, este é influenciado em larga medida,

por dinâmicas de transformação econômicas, sociais e culturais, assim como alterações

em estratégias de subsistência, consumo de alimentos e padrão de atividade física

pelas quais estas populações vem sendo submetidas.

Apesar da melhoria do diagnóstico, tratamento e controle da hipertensão em

indígenas norte-americano sua prevalência continua aumentando, bem a de outros

fatores de risco cardiovascular, particularmente diabetes mellitus e obesidade. Com

estas altas taxas de fatores de risco, subseqüente aumento de acidente vascular

cerebral e doença coronariana vem sendo relatados. As taxa de algumas tribos chegam

a exceder a média da população norte-americana em geral (Hayslett et al, 2001). Este

aumento aponta para um sério problema de saúde pública, superando em certos

contextos as doenças infecciosas e parasitárias em termos de morbimortalidade. Ainda

que esta não seja a situação dos povos indígenas do Brasil, maior atenção deve ser

dada as doenças crônico degenerativas uma vez que podem vir a se tornar-se

importante problema de saúde pública a médio e longo prazo (Coimbra Jr & Santos,

1994).

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1.4. Consumo de Sal

No INTERSALT Study foi comprovada uma forte correlação entre a ingesta de

sal e a pressão arterial nos índios Yanomami, que excretavam 1mmolNa/d, tendo

valores médios de PA= 96/61mmHg e seus níveis pressóricos não se elevavam com a

idade( Mancilha Carvalho& Souza e Silva, 2003). Neste estudo participaram 10,079

homens e mulheres de 20a 59 anos de idade representando 52 diferentes povos em 32

cidades da África, Américas do Sul e do Norte, Ásia e Europa.

O papel do excesso de sal na gênese da hipertensão arterial ainda não está bem

estabelecido. A dieta em sociedades não primitivas contém muitas vezes a

quantidade diária necessária para adultos. Existiria um nível limiar necessário de

ingesta para se induzir a hipertensão?(Kaplan, 2000). Além disso, apenas uma parte

da população seria susceptível a esta alta ingesta salina, provavelmente devido ao

fato que estes indivíduos tenham uma inabilidade do rim em excretar o excesso de

sódio. O organismo teria um prejuízo da capacidade fisiológica de se livrar da

sobrecarga de sal, isto a longo praza envolveria a participação de vários sistemas

reguladores de PA resultando na manutenção de um nível tensional mais elevado.

Esta inabilidade do rim em excretar o excesso de sal pode ser genética ou

adquirida. A fronteira entre o que corresponde a contribuição genética da HA ainda é

encoberta pelo retardo do crescimento intra-uterino. Baixo peso ao nascer como

conseqüência de desnutrição fetal leva ao aumento da incidência de hipertensão. A

explicação de Brenner para este fato seria uma diminuição do número de néfrons, o

que diminuiria a superfície de absorção levando à retenção de sódio (Brenner&

Chertow, 1994).

Apesar de fortes evidências do fato que consumo de níveis excessivos de sal

esteja envolvido no aumento progressivo da pressão arterial ainda não se pode

recomendar uma redução na ingesta deste eletrólito para a população geral (Graudal

et al, 1998) não esta comprovada até que ponto sua redução também poderia

ocasionar malefícios. Existem meta-análises com dados conflitantes na literatura.

Alderman et al em 1998 demonstrou um aumento de 4 vezes de infarto agudo do

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miocárdio no período de 3.8 anos de segmento em pacientes hipertensos cuja a

excreção de sódio urinário num período de 24 hs estava no quartil mais baixo,

aproximadamente 65 mmol/dia. Uma crítica a este trabalho é que uma única dosagem

de sódio na urina de 24hs, pode não refletir o verdadeiro consumo de sal. Além disso,

o número de eventos estudados foi pequeno, apenas 46 infartos ocorreram nesses

1900 homens, 22 ocorreram nos 483 que estavam no mais baixo quartil de excreção

de sódio urinário. Entretanto, dados mais recentes baseados no NHANES-I, o qual

envolveu uma amostra representativa de 20.725 adultos norte-americanos durante

1971-1975 documentou uma relação independente e positiva de ingestão salina e

risco cardiovascular em obesos (Jiang He et al, 1999).

Já está bastante estabelecido na literatura que os pacientes hipertensos se

beneficiam com a redução do sal e a restrição salina deve ser recomendada nestes

casos tanto como tratamento adjuntivo, (Weinberger et al 1988) como no tratamento

não farmacológico juntamente com redução de peso (Whelton et al, 1998). Apesar

das evidências da eficácia da restrição salina, tanto na redução da pressão arterial

sistólica quanto diastólica existem muito mais estudos de grandes restrições em curto

prazo do que modestas restrições em longo prazo, onde os efeitos ficam difíceis de se

estabelecer. O problema dos ‘trials’ está na dificuldade em se restringir a ingesta

salina menos que 100 mmol/dia em indivíduos estudados vivendo em seu próprio

ambiente. Nestas situações a adesão que se consegue é quando a restrição salina é

de apenas 30-40mmol/dia, existe uma dificuldade em se remover o sal escondido nos

alimentos processados (Migdgley et al 1996). Entretanto os Ynomamis constituem

uma evidencia de que é possível uma vida ativa e o baixo consumo de sal. Oliver et al

relatou baixos níveis de excreção de Sódio com níveis plasmáticos elevados de

renina e aldosterona em Ynomamis da Venezuela. Estas adaptações hormonais a

ingesta muito baixa têm importante papel em manter e reabsorver o Sódio filtrado

pelos rins (Oliver et al, 1975).

Quase todos que vivem nas sociedades modernas ingerem altas quantidades de

sal. Apesar da maioria ter valores normais de PA, aproximadamente a metade irá

desenvolver um quadro hipertensivo, o que sugere um grau variável de sensibilidade

da PA ao sódio. Vários mecanismos têm sido propostos para explicarem o aumento

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da sensibilidade ao sal, talvez o mais óbvio seja uma baixa resposta ao maior

mecanismo responsável pela retenção de sal e vasoconstrição, do Sistema Renina

Angiotensina Aldosterona.

2. GENES CANDIDATOS À HIPERTENSÃO ARTERIAL

O uso de novas ferramentas da biologia molecular possibilita desvendar

mecanismos causadores e vias fisiológicas desta doença. Vários tipos de estudo,

identificaram mais de 50 genes envolvidos na gênese da hipertensão. As dificuldades

de se estabelecerem às causas genéticas da HA são atribuídas a diversos fatores:

critério arbitrário de definição baseado em níveis tencionais, manifestação relativamente

tarde na vida, mecanismo de herança poli gênica, parâmetros como a etnia e obesidade

aumentam a heterogeneidade genética dificultando a concordância dos estudos

(Corvol et al,1999). Dados gerados de modelos animais de hipertensão, estudo com

famílias de hipertensos e irmãos gêmeos, fornecem uma estimativa de que fatores

genéticos contribuam com 30-60% da variação da PA. (Harrap, 1993).

Das várias estratégias que vem sendo utilizadas para descobrir os determinantes

genéticos da HA, as mais bem sucedidas foram os estudos que identificam raras

síndromes mendelianas, nas quais uma única mutação causa aumento da PA. O

esforço em se identificar múltiplos genes cada um com pequena parcela de contribuição

tem sido menos bem sucedido. Vários laboratórios focaram suas pesquisas em

modelos de ratos geneticamente hipertensos, considerados um paradigma simplificado

da doença humana (Dominiczak et al, 2000). Em paralelo na área experimental, outros

laboratórios, têm desenvolvido estratégias de terapia gênica com vetores virais, usados,

por exemplo, para expressar ou superexpressar genes de ação protetora vascular como

a óxido nítrico sintetase ou atenuar a expressão de genes deletérios (Kimura et al,

2002). Novas descobertas na clonagem posicional contribuíram com a aplicação destas

descobertas na hipertensão essencial humana produzindo novos alvos para terapia

gênica nas doenças cardiovasculares.

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Alelos em vários diferentes ‘loci’, parecem contribuir para doença e combinações

específicas entre alelos causadores podem ser diferentes em indivíduos diferentes,

mostrando que o fenótipo final de PA não se deve a uma única variante gênica (Nebert,

1997). Os estudos populacionais as estratégias de análise, tais como análise de pares

em irmãos ou parentes e painel de polimorfismos, melhora a identificação destas

variantes e do seu possível papel na gênese da HA. Várias associações têm sido

relatadas e Marteau recentemente incluiu como possíveis genes candidatos : Genes

dentro do sistema renina angiotensina aldosterona (SRAA), genes reguladores de

sódio(α-adducina, subunidades α e β do canal epitelial de sódio, peptídeo natriurético

atrial) genes que atuam nos sinais de transdução ( subunidades α e β3 da proteína G,

no sistema noradrenérgico receptores α2 e β1, β2 eβ3), e no Sistema endotelial(

Endotelina 1 e 2, receptor de endotelina A, óxido nítrico sintase endotelial) (Marteau et

al 2005).

Os genes mais amplamente estudados estão sem, dúvida estão dentro do

sistema Renina Angiotensina Aldosterona (SRAA). Nos últimos anos, vários estudos

chamaram atenção para associações dos polimorfimos do Angiotênsinogênio, enzima

conversora de angiotensina, receptor tipo 1 da angiotensina II, aldosterona sintase e

vários aspectos da hipertensão. Recentes investigações têm demonstrado que a

resposta do organismo ao sal é geneticamente determinada, a genética da hipertensão

sal sensível tem se tornado foco de vários laboratórios. A α Adducina é uma proteína

heterodímera do citoesqueleto com 3 subunidades sendo cada uma decodificada por

genes ADD1, ADD2, ADD3 situados em 3 diferentes cromossomas. Uma formação

alterada da Adducina pode provocar hipertensão através do aumento da reabsorção

tubular de sódio (Bianchi et al, 2005).

Os receptores acoplados a proteina G constituem uma família de proteínas trans-

membrana que recebem sinais envolvidos em vários processos fisiológicos incluindo a

homeostasia da glicose e regulação da pressão arterial. O polimorfismo na posição 825

(C/T) da subunidade β3(GNB3) da proteína G foi associada a alto risco de hipertensão

em brancos (Siffert et al,1998).

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Receptores β adrenérgicos são receptores acoplados a proteínas G, espalhados

através do organismo e envolvidos em diversas funções fisiológicas incluindo pressão

arterial. O receptor β1 (ADBR1) tem papel na regulação da freqüência e contractilidade

cardíaca.Dois polimorfismos Ser49Gly e Gly389Arg estão em desequilíbrio de ligação e

recente estudo mostrou uma significante associação destes com a freqüência cardíaca

de pacientes com hipertensão essencial. Além disso, foi relatada uma interação do

polimorfismo Arg389Gly e a deleção 322-325 do receptor α 2 adrenérgico na

insuficiência cardíaca (Small et al 2002). O receptor β2 adrenérgico também tem sido

implicado na patogênese da hipertensão, vasodilatação e resposta cardíaca aos β

agonistas.A mutação Gln27Glu foi significativamente associada a pressão arterial

sistólica e HA(Bray et al,2000).O receptor β3 (ADBR3) é espresso predominantemente

no tecido adiposoe tem importante papel na regulação da lipólise e termogênese.

Alguns estudos têm descrito uma associação da variante Trp 64 Arg e hipertensão

(Tonolo et al,1999).

O sistema das endotelinas constitui uma série de peptídeos vasoconstritores e

seus receptores potencialmente importantes no controle pressórico. Estas contituem

uma família de peptídeos de 21-aminoácidos, endotelina 1 (EDN1), endotelina 2(EDN2)

e endotelina 3. EDN-1 é produzida pelas células vasculares e é um potente

vasoconstritor, com propriedades mitogênica e hipertróficas. O polimorfismo G5665T

também chamado Lys198Asn do gene da pré-pro-endotelina mostrou-se associado a

pressão alta em Caucasianos sobrepeso (Tiret et al,1999) e em Japoneses(Asai et

al,2001). A EDN-2 é expressa principalmente em tecido atrial direito. Uma única

alteração A985G na 3’ UTR do gene mostrou associação com hipertensão essencial

humana. A enzima óxido nítrico sintase sintetiza óxodo nítrico a partie da L-Arginina. O

ON é um importante fator de relaxamento produzido pelo endotélio, também é capaz de

impedir a adesão, ativação e agregação de plaquetas. Além disso, participa da

patogênese de várias doenças inflamatórias, hipertensão e aterosclerose. A alteração

Glu298Asp no exon 7 do gene do ON foi identificada. Em Caucasianos o alelo Glu

esteve associado à hipertensão (Lacolley et al, 1998), enquanto que em Japoneses foi

o alelo Asp (Miyamoto et al, 1998)

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Os genes do SRAA são bons candidatos, uma vez que o sistema é sabidamente

envolvido no controle da PA, controle da contração vascular, balanço de água e de

sódio, desenvolvimento do cardiomiócito e na patogênese de várias formas de

hipertensão experimental e humana. Dentro deste sistema duas variantes alélicas têm

sido correlacionadas, de forma inquestionável com fenótipos que podem explicar a

relação do sistema na homeostasia cardiovascular.

2.1 - Gene do Angiotensinogênio

O Angiotênsinogenio (AGT) circulante, sintetizado pelo fígado, é o único

substrato da renina. O papel do AGT na HA essencial pode ser avaliado pelas fortes

correlações encontradas entre suas concentrações plasmáticas e PA (Walker et al,

1979). Duas variantes do AGT, 2 polimorfismos ( o polimorfismo T174M, substituição

do aminoácido metionina→Treonina, e o polimorfismo M235T do aminoácido

Treonina→ metionina na posição 235 foram associadas com hipertensão em diversos

estudos. Um significativo aumento das concentrações plasmáticas de AGT foi

observado em pacientes com o alelo M235T em heterozigotos e homozigotos TT,

quando comparados com pacientes homozigotos MM (Jeunemaitre et al, 1992). Em

vários estudos o AGT está envolvido em determinar hipertensão familiar, algumas

formas de pré-eclâmpsia (Ward et al, 1993) e em outras doenças degenerativas. O

alelo T235 do ATG foi significativamente associado a HÁ em caucasianos, e

populações Japonesas(Hata et al, 1994), mas não foi encontrado correlações em

negros caribenhos(Caufield et al, 1995). Outros estudos clínicos devem ser feitos em

outras populações, de etnias diferentes para melhor definir seu papel na hipertensão.

Nenhuma associação foi encontrada entre a variante T174M e PA nos estudos caso

controle. O polimorfismo na região promotora com substituição de adenina por

guanina no nucleotídeo –6, G(-6), tem mostrado influenciar a taxa de basal de

transcrição do gene do ATG in vitro e aumentar a sua expressão (Inoue et al, 1997).

Além disso, o alelo –6A, foi associado a maiores níveis de PAS em Caucasianos e

negros americanos.

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2.2 - Gene da enzima Conversora de Angiotensina (EC A)

A ECA é uma metaloproteinase cuja principal função é a conversão de

Angiotensina I em Angiotensina II e inativação da bradicinina. O papel do gene da ECA

no controle dos níveis de ECA plasmáticos é avaliado utilizando o polimorfismo da ECA.

Este consiste na deleção (D) ou insersão (I) de fragmento de DNA. A expressão dos

níveis de ECA está sob controle genético em células que sintetizam esta enzima como

células vasculares e perivasculares presentes no rim, cérebro e coração.

O polimorfismo da ECA não foi correlacionado com hipertensão arterial em

populações caucasianas (Jeunemaitre et al, 1993). Entretanto, está relacionado a risco

aumentado para DAC, especialmente em pacientes tidos como de baixo risco pelos

critérios comuns. O genótipo DD aumenta 2,7 vezes o risco relativo de IAM

(Lindpaintner al, 1997). Em estudo posterior o mesmo autor relaciona um excesso de

risco com genótipo DD e ID em pacientes com história familiar de IAM. O polimorfismo

DD da ECA tem sido relacionado a maior risco de desenvolver HVE (Schukert et al,

1994), cardiomiopatia dilatada isquêmica (Raynolds et al, 1993) e familiar (Marian,

1993) sugerindo a hipótese que esta variante possa contribuir na patogênese destas

doenças. Recentemente foi correlacionando com o ganho de peso (Kramer et al, 2005)

Estes trabalhos sugerem que a variante molecular 235T do AGT ou da ECA

(genótipo DD) então associadas com aumento dos níveis plasmáticos (talvez tecidual)

de AGT e ECA respectivamente. Isto poderia resultar em um pequeno aumento da taxa

de formação de Angiotensina II. Este estímulo adicional crônico do sistema poderia

favorecer a reabsorção renal de sódio, hipertrofia vascular e tônus simpático

aumentado, predispondo estes indivíduos ao desenvolvimento de doenças

cardiovasculares. Este efeito pode ser maior na presença de outros genes deletérios ou

de fatores ambientais.

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3. HIPERTENSÃO ARTERIAL EM ÍNDIOS

Na grande maioria dos estudos de prevalência de hipertensão arterial no

Brasil predominam indivíduos de etnia branca, negra e mestiça (Fuchs et al 1987,

Barreto et al 2001, Molina et al 2002). Os índios contribuem com pool genético na

formação do povo brasileiro. Uma análise feita para avaliar as origens no pool genético

dos brasileiros feita com amostras de diferentes regiões concluiu que os Ameríndios e

Africanos contribuem com mais de 60% da linhagem matrilinear (análise de sítios

específicos de DNA mitocondrial) (Alves-Silva et al,2000). Contrastando com apenas

2,5% de contribuição atribuída a africanos do Sub-Sahara e nenhuma de ameríndios,

quando avaliado a linhagem patrilinear (cromossoma Y) em amostras de DNA de

homens brancos também de diferentes regiões (Pena et al, 2001).

Os brasileiros formam uma das populações mais heterogêneas do mundo, que

resulta de 500 anos de cruzamentos genéticos entre pessoas provenientes de três

continentes: colonizadores europeus (representados principalmente por portugueses),

africanos e ameríndios autóctones. Estima-se que os portugueses aqui chegaram, há

500 anos atrás, havia 2,5 milhões de indígenas vivendo no que hoje é o Brasil (Salzano

e Freire-Maia, 1970, Bethell, 1997). Hoje existem aproximadamente 326.000

ameríndios, vivendo em terras demarcadas pelo governo federal (IBGE, 2000). Estas

populações são pouco estudadas quanto à presença de DCV e outras doenças em

geral.

Até este momento, ainda não foi conduzido um estudo sistematizado que

demonstrasse e quantificasse o impacto do aparecimento das doenças

cardiovasculares, notadamente da hipertensão arterial, em populações indígenas

brasileiras. Além disso, a homogeneidade de grupos indígenas confere uma ótima

oportunidade para avaliação de variantes gênicas relacionadas na gênese de DCV.

A prevalência de hipertensão arterial e doença Cardiovascular tem aumentado

em todas as populações pelo mundo afora. Fatores de risco cardiovasculares tem sido

amplamente pesquisados nas mais diversas populações. Foram criados cálculos

estimativo de quantificação de risco para desenvolvimento de Doença Arterial

Coronariana e para doença cérebro vascular. Sabe-se que fatores ambientais

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interagem de forma importante com os fatores genéticos levando ao aparecimento da

doença. Entretanto a base genética para desenvolvimento de hipertensão e doença

cardiovascular e a forma como ambiente pode participar aumentando ou diminuindo a

expressão de certos genes ainda é obscura.

Em nossa opinião, avaliar hipertensão arterial e outros fatores de risco para DCV

em índios, poderá contribuir para esclarecer nos mecanismos fisiopatológicos

envolvidos no desenvolvimento desta patologia na etnia indígena, e, por conseguinte,

na nossa população. Numa proporção ainda pouco conhecida, principalmente em

relação às populações indígenas brasileiras, começam a aparecer nestas populações a

hipertensão arterial além de outras condições associadas, como a elevação dos níveis

de colesterol, obesidade e diabetes (Cardoso et al. 2001). Casos de acidente vascular

cerebral (AVC), que eram praticamente desconhecidos dos indígenas há cerca de 40

anos, começaram a aparecer mesmo em indivíduos com menos de 55 anos de idade,

segundo informação colhida diretamente com as pessoas mais idosas da comunidade

indígena de Caieiras Velhas, Aracruz, Espírito Santo.

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OBJETIVOS

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1. OBJETIVO GERAL

Estimar a prevalência de hipertensão arterial e de outros fatores de risco

cardiovasculares em tribos indígenas com diferentes níveis de miscigenação, Guaranis

(sem miscigenação) e Tupiniquins (miscigenação racial presente) vivendo sob

influências ambientais semelhante nas áreas de reserva indígena de Aracruz - Espírito

Santo.

2 . OBJETIVOS ESPECÍFICOS

2.1- Determinar a prevalência de hipertensão arterial nas comunidades indígenas do

ES e classificar os indivíduos de acordo com o estágio pressórico.

2.2- Determinar de forma qualitativa e quantitativa os principais fatores de risco

cardiovasculares (idade, tabagismo, obesidade, pressão arterial, diabetes,

colesterol total e frações e hipertrofia ventricular esquerda)

2.3- Analisar o consumo de sódio, potássio entre as diferentes etnias utilizando como

indicador a excreção urinária desses eletrólitos no período de 12h.

2.4- Identificar associações entre as variáveis estudadas e parâmetros

hemodinâmicos.

2.5- Caracterizar genotipicamente estes indivíduos, quanto ao polimorfismo da

enzima conversora de angiotensina e do angiotensinogênio

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METODOLOGIA

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V. METODOLOGIA

Cerca de 1818 Índios Tupiniquim e Guarani habitam três reservas

indígenas na região Norte do Espírito Santo, mais especificamente no município de

Aracruz: Caieras Velhas (2.804ha), Páu Brasil (1.498há) e Comboios (2.759ha)

(FUNASA, 2000). A reserva indígena de Caieras Velhas, a mais populosa, é formada

por um conglomerado de 4(quatro) vilas: Irajá, Boa Esperança, Três Palmeiras e

Caieras Velha. Cerca de 300 índios Guaranis estão concentrados principalmente nas

vilas de Boa Esperança e três Palmeiras, Estes últimos emigraram para o Espírito

Santo, vindos do oeste do Paraná, no princípio da década de 70. Uma visita às aldeias

demonstra facilmente que os Guaranis ainda mantêm usos e costumes ancestrais, bem

como grau elevado de pureza étnica tendo em vista ser menos freqüente o casamento

com pessoas de fora da comunidade.

Hoje, os tupiniquins estão bastante aculturados e adotaram muitos dos hábitos

de vida das populações de baixo poder aquisitivo do meio rural brasileiro. Vivem da

agricultura familiar e, mais raramente, atuam como trabalhadores esporádicos em

pequenas empresas da região. Alguns dos indivíduos têm melhor nível de escolaridade

e são servidores públicos do Município de Aracruz. Em 1998, após acordos selados

com a Aracruz Celulose S.A. e mediados pela FUNAI, os índios passaram a se

organizar em Associações Indígenas que têm como objetivos básicos a gestão de

recursos técnicos e financeiros acordados e o desenvolvimento de projetos de auto

suficiência nas áreas de educação, saúde e agricultura(ARACRUZ,1998).

A estrutura etária destas duas comunidades indígenas, segundo dados da

Fundação Nacional de Saúde (dados de 2001), mostra que existem cerca de 834

indivíduos com idade superior a 20 anos, dos quais 760 compreendidos na faixa etária

de 20 a 64 anos. Esta faixa etária é prioritária para a implantação de medidas

preventivas e curativas de agravos ao sistema cardiovascular visto ser período de

atividade produtiva. Desta forma, os agravos fatais e não fatais que ocorrem nesta faixa

etária (infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, etc) determinam importantes

impactos econômicos e sociais.

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1. Planejamento do Estudo

Esta primeira fase do estudo decorreu nos meses de março de 2002 a janeiro de

2003 e foi realizada através de contatos com técnicos da Funasa e Funai. Os contatos

foram feitos com os funcionários da Funai nas aldeias de Caieiras Velhas e Comboios.

Os contatos na Funasa foram feitas com médico e odontólogo que supervisionam os

serviços de atendimento médico às populações indígenas do Espírito Santo.Foram

feitas também visitas a todas a aldeias e contatos com todos os caciques. Juntamente

com outras lideranças indígenas de cada aldeia foram informados sobre a importância

deste estudo, a forma de condução do mesmo, bem como suas possíveis

repercussões nas Comunidades Indígenas. Terminada esta etapa, foi feita avaliação

das instalações das Unidades de Saúde das aldeias (onde seriam feitos os exames -

vide adiante) além de uma palestra aberta onde as explicações sobre o projeto foram

estendidas para segmentos mais amplos de cada aldeia. De acordo com as sugestões

dos caciques essas palestras ocorreram nas manhas de sábado.Em cada palestra

compareceram cerca de 45 a 50 pessoas. Na comunidade Guarani a palestra não

ocorreu, pois não foi marcada pelos caciques.

1.1 – Critérios de Inclusão

Foram incluídos no estudo os indivíduos que habitam as áreas da reserva

indígena Tupiniquim das aldeias de Caieiras Velhas, Irajá e Pau-Brasil, bem como as

aldeias Guaranis de Boa Esperança e Três Palmeiras. O critério de inclusão neste

estudo era ter idade ≥ 20 anos no momento da administração do questionário.

Os indivíduos foram considerados Tupiniquins ou Guaranis atendendo aos

critérios de auto-identificação, ser reconhecido como indígena nativo da região, pela

comunidade, os que possuíam herança indígena materna ou paterna. Aliado a esses

critérios a característica fenotípica indígena foi avaliada sempre pelos mesmos

pesquisadores que conduziram o preenchimento do questionário, levando-se em conta

características como textura do cabelo, tonalidade da pele.O aspecto dos olhos tido

como elemento fundamental na distinção do fenótipo índigena, foi utilizado como um

dos dados de confirmação na ascendência caso tivesse forma oblíqua, amendoado ou

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rasgado (Salzano & Frei Maia, 1997). Desta forma dos 670 indivíduos, 496 foram

considerados Tupiniquins, 60 guaranis e 114 não indígenas.

2. Protocolo

Este foi um estudo populacional de corte transversal, realizado no período de

fevereiro de 2003 á fevereiro de 2004. Foi elaborado um questionário para

levantamento de dados relativos à identificação, a escolaridade e aos hábitos higieno-

dietéticos, semelhante o protocolo do Projeto MONICA-OMS/Vitória. Ainda foram

investigados quanto a presença de doenças, uso regular de medicações, história

familiar de hipertensão arterial, neste caso foram classificados como predispostos

aqueles indivíduos com relato de 2 familiares com história de hipertensão e não

predispostos os que não tinham história familiar de hipertensão. O termo de

consentimento livre esclarecido foi obtido de cada participante. O protocolo foi aprovado

pelo comitê de ética em pesquisa do Centro Biomédico da UFES e pelo CONEP.

2.1. Visitas Domiciliares

Os agentes de Saúde indígena junto à coordenação do projeto programavam as

visitas domiciliares e agendavam os participantes para receberem a visita no período da

tarde. As visitas domiciliares eram feitas uma semana antes dos exames. Os

participantes recebiam as instruções sobre o jejum e sobre a coleta de urina no período

das 12 horas noturna (19:00 as 7:00), além disso, foi deixado o material para coleta,

cabe ressaltar que as informações sobre a coleta que foram passadas aos agentes de

saúde indígenas foram repassadas em cada domicílio. Ainda procederam-se duas

medidas de PA em aparelho automático. Os participantes foram devidamente

informados sobre todos os procedimentos a serem realizados na Unidade de Saúde,

bem como da desobrigatoriedade de fazê-lo caso não houvesse interesse.

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2.2. Consultas nas Unidades de Saúde Locais

Os exames foram sempre realizados no período da manhã na Unidade de saúde

(US) da localidade de 08:00 ás 12:00 horas. Os pacientes eram atendidos nas quartas

e sextas-feiras (dia escolhido, por sugestão da Comunidade), mantendo-se um

atendimento máximo de 15 pacientes por cada manhã de trabalho, de forma a não

prejudicar a execução dos exames. Nos Tupiniquins os exames foram realizados nas

US de Caieiras Velha e de Páu Brasil e nos Guaranis na US situada na aldeia de Boa

Esperança.

Esquema de atendimento na Unidade de Saúde

Uma equipe de trabalho composta por 2 médicos, 1 auxiliar de enfermagem e 1

técnico de laboratório, deslocou-se para a aldeia onde havia ocorrido o agendamento,

os trabalhos na unidade eram iniciados por volta das 07:30 horas. O atendimento

seguia a seguinte ordem:

1. No primeiro momento, após a apresentação do indivíduo na Unidade de saúde, foi

feita coleta de sangue, por punção venosa periférica. Coletou-se material em 3 tubos a

vácuo com EDTA (2 tubos) ou fluoreto (1 tubo). No próprio local foi feita a centrifugação

do material para separação de plasma, para o seguinte conjunto de exames:

Hemograma completo, Perfil bioquímico,Perfil lipídico, extração de DNA para

mapeamento de poliformismos dos genes da enzima conversora de angiotensina (ECA)

e angiotensinogênio (AGT).Imediatamente após a coleta era feita a tipagem sanguínea

dos sistemas ABO e Rh usando-se antígenos específicos (Merck).

2. Entrega da urina e medida do volume urinário de 12 h (coleta noturna). Alíquotas de

urina foram encaminhadas para exames de rotina (Elementos Anormais e Sedimento) e

dosagens de Na, Cl e K.

3.Medidas antropométricas: Peso, Estatura, circunferência da cintura e do quadril

(medidos com fita métrica inextensível).

4. Medidas da pressão arterial

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De cada indivíduo foram feitas 2 medidas de pressão em aparelho automático e

uma em coluna de mercúrio por 2 observadores diferentes. Essas medidas eram feitas

pelo técnico em enfermagem treinado antes da antropometria e depois pelo médico

durante a consulta. Os procedimentos de medida são os adotados pela British Heart

Association.

5. Registro do Eletrocardiograma

Foi obtido o ECG convencional de repouso com registro das 12 derivações

clássicas em eletrocardiógrafo convencional portátil. O índice de hipertrofia do

ventrículo esquerdo, a ser utilizado no cálculo do risco cardiovascular, será feito

aplicando-se os critérios do Rohmilte-Estes e Sokolow-Lyon.

5. Registro da velocidade da onda de pulso (VOP)

Através de sensores colocados na carótida e na artéria femoral será obtida a

medida VOP (Complior)R (Artech,França) com o paciente deitado e em repouso,

visando obter um indicador de rigidez dos vasos arteriais(Asmar et al, 1995).

6. Preenchimento do questionário

9. Consulta médica

As amostras de sangue, soro, plasma e urina foram mantidas sob refrigeração

(40 C - 80 C) previamente processadas e encaminhadas no mesmo dia para o

Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Universitário (HUCAM) para realização das

medidas hematológicas e bioquímicas.Uma amostra de plasma foi encaminhada para o

Laboratório Central do SESI para realização das dosagens lipídicas. Uma amostra de

sangue foi enviada para o Instituto do Coração da USP, São Paulo (Laboratório de

Cardiologia Molecular) para extração de DNA e posterior mapeamento de polimorfismos

gênicos.

Análise da Urina – O técnico indagava sobre início e término da coleta. Foram

aceitas coletas com tempo variado entre 10-14h. As coletas foram medidas e

fracionadas em alíquota e acondicionadas em recipientes térmico contendo gelo e

sendo analisado sempre no mesmo dia por fotometria de chama.

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Dados Antropométricos

Peso - Todos os pacientes foram pesados em balança mecânica (Filizola

Modelo) com capacidade para 150 Kg e precisão de 0,1 Kg. Antes do estudo a

calibração da balança foi aferida pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e

Qualidade Industrial (Inmetro). A estatura de cada indivíduo foi feita com o indivíduo

descalço em estadiômetro com precisão de 0,5 cm afixado em parede lisa e sem

rodapé. A obesidade foi definida pelo índice de massa corporal (IMC) ou índice de

Quetelet obtido através da fórmula

IMC= peso/estatura2 [Kg/m2].

O diagnóstico de obesidade foi feito nos pacientes com IMC≥30 Kg/m2. Para as

determinações de peso e estatura os pacientes usavam roupas leves e permaneciam

descalços.

Circunferências - Foi utilizada uma fita métrica inextensível de 1cm de largura,

em dupla medição para todas as circunferências. Para a tomada das circuferências, o

examinando permanecia de pé, ereto, sem camisa e calça, com os braços estendidos

ao longo do corpo e os pés juntos. A Circunferência do Braço (CB) foi medida no ponto

médio do braço que compreende a metade da distância entre a borda súpero-lateral do

acrômio até o olécrano. Para a medida da Circunferência da Cintura (CC), a fita era

posicionada na cintura natural ou na menor curvatura localizada entre o último arco

costal e a crista ilíaca. A Circunferência do Quadril (CQ) foi medida na área de maior

protuberância posterior dos glúteos.

Registro do eletrocardiograma

Todos os pacientes foram submetidos ao registro do eletrocardiograma

convencional em repouso. Os eletrocardiogramas foram analisados segundo roteiro

padronizado (análise de ritmo, freqüência, eixos de P e de QRS, duração de P e de

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QRS, alterações de onda T e segmento ST, amplitude de onda R e S em derivações

pré cordiais e morfologia de bloqueio AV ou de ramo).

Entrega dos Exames

Os participantes recebiam resultados de todos os exames clínicos e laboratoriais

cerca de 30 dias após a realização dos mesmos. Caso fosse detectada presença de

alterações nos exames, estas eram comunicadas no momento da entrega dos

resultados.Com relação à presença de hipertensão arterial, as reconsultas eram

agendadas para retomada de medidas pressóricas e o tratamento instituído. As

decisões terapêuticas foram baseadas nas orientações do III Consenso Brasileiro de

Hipertensão Arterial.Uma cópia com os resultados de todos os exames era anexada

aos prontuários dos indivíduos existentes na US. Os medicamentos utilizados eram

aqueles disponíveis na US. Os medicamentos eram fornecidos aos pacientes pela

farmácia da unidade que dispunha com drogas representativas de 5 classes de

antihipertensivos: diuréticos, simpatolítico de ação central (α-metildopa), β-bloqueador,

antagonistas de canais de cálcio e inibidor da enzima conversora de angiotensina.

3. Análise dos Dados

3.1. Medida e Classificação da Pressão Arterial

A determinações de PAS e PAD foram feitas no braço esquerdo com aparelho de

esfingomanômetro de coluna de mercúrio, tendo como base as fases I e V dos sons de

Korotkoff. Para isso contou-se com 2 observadores diferentes treinados em descer a

coluna de mercúrio a uma velocidade de 2 mmHg por segundo. Um manguito próprio

para obesos foi usado quando necessário. A PA foi aferida três vezes em cada

indivíduo com intervalo mínimo de 10 minutos entre as medidas, estando o indivíduo

sentado por 5 a 10 minutos.

Para análise dos dados, considerou-se a média das três medidas. A

estratificação dos pacientes de acordo com os níveis pressóricos foi feita baseada nas

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recomendações do Comitê Nacional Americano para a Detecção, Tratamento e

Prevenção da Hipertensão (JNC VI, 1997) e do sub-comitê da Organização Mundial de

Saúde e da Sociedade Internacional da Hipertensão (WHO-ISH,1999). (Tabela1)

Tabela I – Classificação da pressão arterial sistêmica de a cordo com o Comitê

Nacional Americano para a detecção, Tratamento e Pr evenção da Hipertensão

(JNC VI, 1997).

Classificação

PAS/PAD

Normal < 130/85

Normal-alta 130-139/85-90

Hipertensão leve 140-159/90-99

Hipertensão moderada 160-179/100-110

Hipertensão grave ≥≥≥≥ 180/110 ≥ 180/110

3.2. Dislipidemias

O diagnóstico de dislipidemia foi baseado nas informações do lipidograma.

Foram considerados dislipidêmicos os pacientes que apresentassem no exame pelo

menos um dos valores alterados, isto é, colesterol total ≥ 200 mg/dL, lipoproteína de

alta densidade, HDL-c < 40 mg/dL (Segundo Consenso Brasileiro sobre Dislipidemias,

1996). O colesterol total e o triglicerídeo foram determinados por métodos enzimáticos.

Para valores de triglicerídeos inferiores a 400 mg/dL, foi possível estabelecer o

conteúdo de colesterol em VLDL-c através da fórmula:

VLDL-c = Triglicerídeos/5

Dispondo-se dos valores de colesterol total (CT), triglicerídios (TG) e HDL-c, a fração

LDL-c foi calculada pela fórmula de Friedwald, onde:

LDL-c = CT- ( HDL-c + VLDL-c)

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3.3. Diabetes mellitus

Foi considerado portador de diabetes mellitus o paciente com glicemia de jejum

superior a 125 mg/dL, ou paciente com diagnóstico prévio de diabetes (informação da

US indígena) ou relato de uso regular de insulina ou antidiabéticos orais. Os níveis

plasmáticos de glicose foram definidos por colorimetria após precipitação em tubos de

ensaio contendo NAF como anticoagulante. O diagnóstico de intolerância à glicose foi

firmado se o paciente apresentasse valores de glicemia de jejum entre 115 mg/dL e 125

mg/dL.

3.4. Tabagismo

As informações sobre tabagismo foram coletadas através de questionário

respondido pelo paciente no primeiro contato com a equipe do projeto na US. Foram

feitas perguntas sobre o uso atual de cigarro ou não e, de acordo com esta resposta, os

indivíduos foram classificados em fumantes ou não fumantes. Os que declararam ter

abandonado o hábito de fumar foram classificados como não-fumantes,

independentemente do tempo de abstinência.

3.5. Análise de dados antropométricos

A partir dos dados antropométricos, foram construídos os seguintes indicadores

para avaliação do estado nutricional:

3.5.1. Índice de Massa Corporal

Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1985), para avaliar

estado nutricional de adultos, por apresentar alta correlação com percentual de gordura

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corporal (Anjos, 1992).Foram utilizados os seguintes pontos de corte para a

classificação dos indivíduos quanto ao IMC (WHO, 1995):

Baixo peso IMC < 18,5

Normal 18,5 ≥≥≥≥ IMC < 25

Sobrepeso 1 25 ≥≥≥≥ IMC < 30

Sobrepeso 2 30 ≥≥≥≥ IMC <40

Sobrepeso 3 IMC ≥40

3.5.2. Razão cintura/quadril (RCQ)

Para avaliar distribuição de gordura corporal foi considerada a seguinte

classificação proposta por Pereira e Colaboradores (1999):

RCQ Desejável: homens < 0,95

mulheres< 0,80

3.6. Critérios considerados para Hipertrofia Ventri cular esquerda

A quantificação de hipertrofia ventricular esquerda (HVE) foi feita conforme o

critério de pontuação de Romhilte-Estes (Romhilte e Estes 1968) e Sokolow Lyon. Seis

índices eletrocardiográficos são avaliados, sendo atribuída cotação de 3 pontos a 3

deles: amplitude do QRS, alterações de ST-T (“padrão de strain”) e crescimento do átrio

esquerdo estabelecido pelo critério de Morris (Morris et al.,1965). De acordo com o

sistema de pontos, HVE foi considerada presente quando o escore atingido fosse de,

pelo menos, cinco pontos. Se o total atingido fosse de 4 pontos, a HVE era considerada

provável.

Os critérios de amplitude definitivamente aceitos foram: maior onda R ou S de

derivações periféricas de amplitude igual ou superior a 20 mm; somatório de onda S em

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V1 ou V2 e; onda R em V5 ou V6 maior ou igual a 30 mm. Qualquer um destes critérios

obteve valor de 3 pontos.

Tabela de Romhilte-Estes

Critérios de amplitude do QRS 3 pontos

Alterações de ST-T 3 pontos

Crescimento de do átrio esquerdo 3 pontos

O desvio do eixo elétrico para esquerda (além de –30o) 2 pontos

Aumento do tempo de ativação ventricular(≥0,05s) 1 ponto

Aumento da duração do complexo QRS(≥0,09s) 1 ponto

As alterações de ST-T, quando do tipo de infra-desnível com T negativa (padrão

de Strain), se presentes, obtiveram 3 pontos. Se existisse uso concomitante de digital,

dava-se apenas 1 ponto.

3.7. Análise dos Parâmetros Urinários

3.7.1 – Excreção urinária de sódio de 12 horas (Na ++++ 12H) e estimativa do consumo

de NaCl

A excreção urinária de sódio de 12 horas foi utilizada neste estudo como

indicador de consumo de sódio, levando-se em consideração que a excreção urinária

de sódio de 12 horas apresenta uma correlação forte com a excreção urinária de 24

horas em amostra de indivíduos normotensos (Molina et al, 2000).

3.8. Análise excreção urinária de potássio (K)

Foram utilizadas as quantidades mensuradas a partir da excreção urinária de

potássio de 12 horas. Foi calculado a partir da fórmula: K 12h= V(L). KU.39/1000 .

Sendo assim a relação de sódio e potássio foi obtida através de: Na 12h/K 12h.

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5. Avaliação do Risco Coronariano

Para o cálculo do risco de desenvolvimento de doença arterial coronária foi

utilizada a tabela de Framinghan (Wilson et al,1997). O cálculo de risco leva em

consideração os seguintes fatores: sexo, idade, pressão arterial sistólica, níveis de

colesterol total, HDL colesterol, presença de tabagismo, diabetes e HVE. Os pontos

atribuídos às variáveis contínuas podem ser negativos ou positivos. Às variáveis

dicotômicas, quando presentes, confere-se pontuação positiva. A pontuação total é

obtida pelo somatório de pontos atribuído a cada fator, com base na seguinte fórmula:

PT = Idade+ HDL-c + colesterol total+ PAS+ Tabagism o+ Diabetes + HVE

Os pontos atribuídos a cada variável que não são mostrados na tabela foram

calculados por extrapolação da função de regressão (Oliveira, 2002).

Com base na pontuação total é que se obtém a probabilidade de ocorrência de

eventos coronarianos. A tabela fornece a estimativa do risco absoluto, calculado com

base a população de Framingham, e que corresponde à probabilidade de ocorrência de

evento coronariano ao longo de um intervalo de tempo específico (5 e 10 anos). De

acordo com o com o risco absoluto para o desenvolvimento de DAC em 10 anos foram

considerados pacientes de alto risco aqueles com probabilidade ≥ 20 % em 10 anos, de

médio risco os com probabilidade entre 10 e 20 % em 10 anos e de baixo risco os

pacientes com a probabilidade inferior a 10% em 10 anos.

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6. Análise dos Polimorfismos

O DNA genômico foi isolado do tubo contendo EDTA pelo método conhecido por

‘salting out’ de acordo com Miller et al. O polimorfismo I/D do gene da Enzima

conversora de angiotensina foi detectado por PCR. Os primers foram selecionados de

acordo com Rigat et al. As reações de amplificação foram realizadas para um volume

final de 50µL contendo 67mmol/L TRIS – Hcl (pH 8,8), 16 µmol/L(NH4SO4), 1,5 mmol/L

MgCl2, 0,01% Tween 20, 50 pmol/L de ambos os primers, 200mmol/L de dNTP 325

mg de DNA genômico e 0,5u Taq DNA polimerase (HY test). O DNA foi amplificado no

ciclador térmico com de desnaturação a 94oC, 1min de anelamento a 65 oC e 2 minutos

de extensão a 720C por 30 ciclos. No último ciclo, a extensão foi feita por 10 minutos.

Os produtos de PCR foram, separados em gel de agarose à 2% contendo brometo de

etídeo e visualizados em luz ultra violeta. Os fragmentos separados foram de 478 e

191PB correspondendo aos alelos I e D da ECA, respectivamente. De acordo com

estudos anteriores que tem sugerido que o alelo D é preferencialmente amplificado,as

reações de PCR foram reavaliadas com uso de primers internos confirmando as

reações originais de PCR.

A detecção da variante M235T do gene do Angiotensinogênio foi feita pelo

método de PCR. Os primers foram selecionados de acordo com Russ et al. As reações

de amplificação foram feitas para um volume final de25 µL, como descrito acima exceto

pela desnaturação que foi por 3min à 90 oC, 10 ciclos de 94 oC por 1 min, 68 oC por

1min e 72 oCpor 30 segundos e uma ectensão final de 10 minutos a 72 oC. 3 µLde

produtos não purificados de PCR foram diluídos para10µL no tampãp recomendado

contendo 5 U da enzima Tth111 I (Pharmacia) e digerida a 65 oC de 12-16 h em forno

de hibridização, dentro de câmara úmida. Os produtos de PCR digeridos foram

separados em gel de agarose a 3% contendo brometo de etídio e visualizados com luz

ultravioleta. Os fragmentos separados foram de 165pb correspondendo ao alelo M235

(M) e 141pb correspondendo ao alelo T 235(T).

O controle de qualidade destas amostras foi realizado através da regenotipagem

de 40 amostras randomicamente selecionadas(ANEXO II).

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7. Análise estatística

Para testar as diferenças nas características antropométricas, clínicas e

biológicas foram comparadas entre os grupos, de acordo com sua estratificação étnico

racial e os níveis de pressão arterial foram utilizadas ANOVA de uma via para variáveis

continuas e o teste qui-quadrado para variáveis categóricas. Em todos os casos a

ANOVA foi seguida do teste de TUKEY. Na comparação do grupo de hipertensos e

normotensos foi utilizado o teste T de Student. A comparação da freqüência de fatores

de risco principais de doença cardiovascular foram feitos através do teste do qui-

quadrado(χ2). Na comparação do cálculo do risco coronariano foi feita através de

ANOVA uma via.

Associação entre as medidas hemodinâmicas e a idade, peso, altura, IMC, C

cintura, C Quadril, RCQ, Na + 12h, K + 12h, Na/K sal diário, colesterol total, LDL-C,

Glicemia e triglicerideos, foi determinada pelo coeficente de Pearson.

Foi realizada análise de regressão linear múltipla (Stepwise) para quantificar a

proporção da pressão arterial sistólica e diastólica explicada pelo modelo proposto.

Foram incluídos no modelo de regressão a idade e todos os parâmetros

significativamente associados à pressão arterial, com exceção dos parâmetros que

apresentam colinearidade com as medidas consideradas maiores preditoras do

aumento da pressão arterial no modelo proposto. Os valores da PAS e PAD ajustados

através do modelo em ambas etnias e os resíduos não são correlacionados. O teste de

Kolgmorov-Smirnof foi usado para avaliar a hipótese de normalidade dos resíduos que

apresentaram distribuição normal. As freqüências genotípicas entre os participantes do

estudo foram avaliadas através do teste do qui-quadrado, as diferenças de PAS e PAD

entre os alelos foram analisadas pelo teste t não pareado.

O equilíbrio de Hardy-Weinberg para distribuição dos genótipos foi avaliado pelo

teste do qui-quadrado. O odds ratio (OR) para os diferentes modelos de associação

foram calculados com intervalo de confiança de 95%. Os modelos genéticos das

variantes estudadas foram feitos por combinação genotípica (dominante = heterozigoto

+ homozigoto) para polimorfismos associados ao aumento dos níveis do produto

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gênico; recessivo = homozigoto para o polimorfismo associado com o aumentodos

níveis do produto gênico.

Os valores foram expressos como médias±desvio-padrão (DP) ou percentuais,

conforme indicação nas respectivas tabelas ou gráficos. O nível de significância para

todos os testes foi estabelecido em ∝=0,05. As análises estatísticas foram realizadas

através da utilização do programa SPSS for Windows, versão 11.5 (2000).

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RESULTADOS

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1. CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA

Foram estudados 670 indivíduos, sendo 318 homens e 352 mulheres, com idade

compreendida entre 19 e 90 anos (37 anos ± 12,1), residentes nas áreas de reserva

indígena do município de Aracruz-ES. Dados fornecidos pelas equipes de saúde

mostram que havia 834 indivíduos elegíveis para o estudo (maiores que 20 anos).

Desta forma, percentual total de comparecimento foi de 80% (80,9% de mulheres e

78,9% de homens). A distribuição da população elegível e estudada, estratificada

segundo sexo, faixa etária e aldeia de residência são apresentadas na Tabela 1.

Houve um maior predomínio de indivíduos nas faixas etárias mais jovens,

pirâmide etária típica de populações com altas taxas de natalidade. Na faixa etária

acima de 70 anos, observamos o menor percentual de comparecimento 51,1%. Nas

aldeias Tupiniquins observamos um percentual de comparecimento maior (Caieras

Velhas 81,4%, Irajá 77,1% e Páu Brasil 83,9%) do que nas aldeias Guaranis onde ao

todo compareceram 69,7% nas aldeias de Boa Esperança e Três Palmeiras. Esta

última, recentemente desmembrada deu origem à vila de Piraqueaçu. As aldeias

Guaranis serão tratadas como conjunto único, devido ao seu menor número de

habitantes. Um total de 114 indivíduos não reconhecidos como indígenas Tupiniquins

residem nas áreas da reserva, cabe ressaltar que muitos destes caboclos e mestiços

descendem de indígenas que habitavam o leste mineiro, sul da Bahia e norte do ES.

Nos tupiniquins o grau de comparecimento foi semelhante em ambos os sexos.

Tabela 2. Nos Guaranis observou-se predomínio de mulheres 58,7% em relação aos

homens 41,2%. A Tabela 2 apresenta o grau de escolaridade da amostra nas diferentes

etnias. A escolaridade média é baixa, com 12,3% dos indivíduos declarados analfabeto

e 56,4% apresentam escolaridade até 4a Serie. Nas comunidades Guaranis 88% dos

indivíduos têm escolaridade até 4a série. Neste mesmo nível tivemos 67% dos

indivíduos de Caieras Velha, 74% em Irajá e 61% em Páu Brasil. Os dados mostram

ainda uma menor escolarização nas mulheres.

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Tabela 1 . Representatividade da amostra, estratificado segundo etnia. Variável População Estudado Comparecimento Sexo

Feminino 435 352 80,9 Masculino 399 315 78,9

Faixa Etária 20 a 29 339 273 80,5 30 a 39 181 146 80,7 40 a 49 143 126 88,1 50 a 59 70 55 78,6 60 a 69 54 43 79,6 70 e mais 47 24 51,1

Aldeia Caieiras Velha 415 338 81,4 Irajá 153 118 77,1 Pau Brasil 180 151 83,9 Guaranis 86 63 69,8

Total 834 670 80,0 Comparecimento= estudada/ agendada x 100 Tabela 2 . Características da amostra, estratificado segundo etnia.

Tupiniquim Guarani Não índio Variável Nº % Nº % Nº %

Sexo Feminino 250 50,4 36 58,7 67 58,8 Masculino 246 49,6 24 41,2 47 42,2

Faixa Etária 20 a 29 210 42,5 28 47,6 32 28,1 30 a 39 99 20,0 16 26,9 30 26,3 40 a 49 90 18,0 5 8,0 32 28,1 50 a 59 41 8,1 5 8,0 13 11,4 60 e mais 56 11,3 6 9,5 7 6,1

Escolaridade Analfabeto 60 12,1 17 26,9 14 12,3 Primário incompleto 93 18,8 15 23,8 21 18,4

Primário completo 178 36,0 22 36,5 42 36,8 1º grau completo 76 15,4 3 7,9 17 14,9 2º grau 80 16,2 2 3,1 17 14,9 Superior 7 1,4 0 0,0 3 2,6

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Na Tabela 3, são apresentadas as médias e desvios-padrão das variáveis

clínicas, antropométricas e bioquímicas da amostra de acordo com a etnia. A idade

média da amostra foi de 37,5(14,9) anos de idade. Os indivíduos da etnia Guarani

apresentaram menores valores para idade, glicemia, colesterol total e LDL-colesterol

(P<0,05), altura, triglicerídeos e HDL-colesterol (P<0,01) quando comparados aos

Tupiniquins e não índios.

Não foram encontradas diferenças no peso (P=0,15), IMC (P=0,13),

circunferência da cintura (P=0,51), c. quadril (P=0,86), relação cintura quadril (P=

0,06),), VLDL-colesterol (P=0,29), uréia (P= 0,11), creatinina (P= 0,16 ), ácido úrico

(P=0,28 ) nas diferentes etnias.

Os parâmetros do hemograma também não apresentaram diferenças estatísticas

entre grupos, sendo a média para o total de participantes (hemáceas:4,6±0,5 ,

hemoglobina:13,8±1,6 e hematócrito: 41,8±4,4).

Na Tabela 4, são apresentadas as médias e os desvios-padrão das variáveis

clínicas e antropométricas de acordo com o sexo. A idade média da mostra foi de

37,5(14,9) anos de idade e não foi estatisticamente diferente entre homens e mulheres

(38,2 e 37,2; P= 0,43).

Os indivíduos do sexo masculino apresentaram maiores valores para peso,

estatura, razão cintura-quadril(RCQ), uréia, creatinina e ácido úrico (P<0,01), quando

comparados com os indivíduos do sexo feminino. Por sua vez as mulheres

apresentaram maiores valores para o colesterol total (P<0,05), índice de massa

corporal, circunferência do quadril (C. quadril), triglicerídeos e frequência

cardíaca(P<0,01) que os homens.

Não foram encontradas diferenças na glicemia de jejum (P=0,06), HDL-colesterol

(P=0,11), LDL-colesterol (P= 0,15), VLDL-colesterol (P= 0,69) e LDL/HDL (P= 0,75)

entre os sexos.

Apesar das médias de glicemia de jejum serem semelhantes entre homens e

mulheres, 3,2% (n=10) dos indivíduos do sexo masculino apresentaram níveis de

glicemia de jejum compatíveis com Diabetes mellitus e 4,9%(n=15) com estado de

intolerância a glicose . No caso das mulheres os percentuais foram de 5,4 (n=19) e

3,2% (n=11) respectivamente para diabetes e intolerância a glicose.

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Tabela 3 . Características da amostra, estratificado segundo etnia.

Variável Tupiniquim Guarani Não índio Todos

Idade, anos 37,6±15,4 36,4±14,6* 39,0±13,1 37,5±14, 9

Peso, Kg 65,9±11,7 63,1±14,1 64,2±13,6 65,4±12,3

Altura, m 1,60±0,17 1,52±0,22** 1,61±0,09 1,59±0,17

IMC. Kg/m2 25,4±4,2 26,3±5,0 24,9±5,0 25,4±4,4

C. Cintura, cm 84,2±10,3 84,4±11,3 83,0±11,7 84,0±1 0,6

C. Quadril, cm 88,9±10,0 91,0±11,3 87,7±11,4 88,9±1 0,4

R. Cintura-Quadril 0,89±0,07 0,87±0,06 0,86±0,07‡ 0,88±0,07

Glicemia, mg/dL 92,2±16,4 78,7±12,0* 91,3±21,6 90,9±17,0

Colesterol, mg/dL 166,2±43,4† 147,3±43,4* 180,3±51,1‡ 167,1±45,5

Triglicerídeos, mg/dL 107,5±79,7 119,3±79,2** 91,3±52,2 105,7±75,0

HDL-C, mg/dL 49,6±15,2 41,3±10,4** 50,3±12,7 49,0±1 4,6

LDL-C, mg/dL 95,4±36,7†† 82,6±34,9 111,8±45,7‡‡ 97,2±38,9

VLDL-C, mg/dL 22,8±33,6 23,9±15,8 18,3±10,4 22,1±29 ,7

LDL/HDL 2,05±0,92 2,11±1,02 2,40±1,38 2,11±1,03

Uréia, mg/dL 24,5±8,7 22,1±6,9 25,2±7,8 24,4±8,4

Creatinina, mg/dL 0,81±0,26 0,77±0,21 0,78±0,21 0,80±0,25

Clearence creatininaml/min 115,3±65,6 94,0±54,8 113,8±58,2 113,8±63,8

Ácido Úrico, mg/dL 4,4±1,6 4,0±1,0 4,2±1,2 4,3±1,5

Hemácias 4,63±0,53 4,47±0,48 4,59±0,44 4,61±0,51

Hemoglobina 13,9±1,6 13,4±1,7 13,5±1,5 13,8±1,6

Hematócrito 42,1±4,5 41,1±1,7 41,2±4,1 41,8±4,4

PAS, mmHg 122,9±20,1 108,6±14,4** 120,4±21,1 121,2±20,3

PAD, mmHg 76,9±10,6 69,6±9,9** 78,1±12,7 76,4±11,2

FC, bpm 68,7±11,0 70,7±9,3 71,3±11,4 69,3±11,0

† p < 0,05 †† p < 0,01 comparação Tupiniquim vs Guarani/não índio * p < 0,05 ** p < 0,01 comparação Guarani vs Tupiniquim/não índio ‡ p < 0,05 ‡‡ p < 0,01 comparação Guarani vs Tupiniquim/não índio

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Tabela 4 . Características da amostra, estratificado segundo sexo.

Variável Masculino Feminino Todos

Idade, anos 37,8±15,2 37,1±14,6 37,5±14,9

Peso, Kg 68,6±11,6** 62,5±12,2 65,4±12,3

Altura, m 1,65±0,18** 1,54±0,13 1,59±0,17

IMC. Kg/m2 24,6±3,6 26,1±4,9** 25,4±4,4

C. Cintura, cm 83,6±9,5 84,3±11,5 84,0±10,6

C. Quadril, cm 85,6±9,2 91,8±10,5** 88,9±10,4

R. Cintura-Quadril 0,89±0,06** 0,87±0,08 0,88±0,07

Glicemia, mg/dL 92,3±16,9 89,7±17,9 90,9±17,5

Colesterol, mg/dL 163,2±46,7 170,5±44,1* 167,1±45,5

Tri glicerídeos, mg/dL 102,5±78,3,4 108,5±73,6** 105,7±75,9

HDL-C, mg/dL 48,1±15,8 49,9±13,5 49,0±14,6

LDL-C, mg/dL 94,9±39,4 99,3±38,4 97,2±38,9

VLDL-C, mg/dL 22,6±40,5 21,7±14,7 22,1±29,7

LDL/HDL 2,1±1,1 2,1±0,9 2,1±1,0

Uréia, mg/dL 26,8±8,6** 22,3±7,7 24,4±8,4

Creatinina, mg/dL 0,93±0,24** 0,70±0,20 0,80±0,25

Ácido Úrico, mg/dL 5,0±1,6** 3,7±1,0 4,3±1,5

Hemácias 4,9±0,5** 4,4±0,4 4,6±0,5

Hemoglobina 14,8±1,2** 12,9±1,3 13,8±1,6

Hematócritos 44,7±3,5** 39,3±3,5 41,8±4,4

PAS, mmHg 124,9±17,9** 117,9±21,6 121,2±20,3

PAD, mmHg 77,9±10,8** 75,2±11,3 76,4±11,2

FC, bpm 65,8±10,3 72,4±10,7** 69,3±11,0

* p < 0,05 ** p < 0,01 comparação masculino vs feminino

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A Tabela 5 mostra os parâmetros urinários, de acordo com a etnia. A média

estimada do consumo de sal de todos indivíduos estudados, utilizando-se o método de

estimativa a partir da excreção urinária de sódio de 12hs foi de 13,7(7,1)g/ dia .

A excreção de potássio de 12hs foi significativamente menor no grupo dos

Guaranis 13,4(7,9) mEq/L quando comparada aos Tupiniquins 17,6(8,9) mEq/L e outros

17,1(8,0)(P<0,05).

Não foram encontradas diferenças no volume urinário (P=0,08), densidade

urinária (P=0,264), sódio de 12hs(P=0,173), consumo de NaCl(P=0,17) e creatinina

urinária (P=0,07 )entre os grupos. Uréia (P=0,142), clearence de creatinina (P=0,14) e

cálcio plasmático (P=0,052) entre os grupos.

Tabela 5 . Características da amostra, estratificado segundo etnia.

Variável Tupiniquim Guarani Não índio Todos

Urina

Volume, ml 0,72±0,34 0,62±0,36 0,77±0,39 0,73±0,35

Fluxo, ml/min 1,03±0,49 0,88±0,52 1,09±0,55 1,03±0,50

Densidade 1019±5 1020±5 1019±5 1019±5

Sódio/12hs, mEq/L 105,4±55,7 90,2±40,6 109,7±55,2 105,3±55,0

Potássio/12hs, mEq/L 17,6±8,9 13,4±7,9* 17,1±8,0 17,2±8,7

Consumo NaCl /24h 13,7±7,2 11,7±5,3 14,2±7,2 13,7±7 ,1

Creatinina, mEq/L 103,3±66,6 82,2±37,7 93,8±59,4 100,4±64,2

Plasma

Uréia, mg/dL 24,5±8,7 22,3±7,0 25,2±7,8 24,4±8,5

Creatinina, mg/dL 0,81±0,26 0,76±0,21 0,78±0,21 0,80±0,25

Sódio, mg/dL 142,7±5,1 143,6±4,8 142,5±5,2 142,7±5,1

Potássio, mg/dL 4,6±0,4 4,3±0,4** 4,6±0,5 4,5±0,4

Cálcio, mg/dL 8,0±2,1 8,8±0,7 8,0±2,0 8,1±2,0

* p < 0,05 ** p < 0,01 comparação Guarani vs Tupiniquim/não índio

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2. FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR

Com base nas medidas antropométricas, clínicas e bioquímicas foram analisadas

as prevalências de fatores de risco principais de doença cardiovascular dos

participantes, estratificado pela etnia, conforme é observado na Tabela 6.

A proporção de indivíduos com hipertensão arterial foi significativamente menor

no grupo Guarani em comparação com o Tupiniquim e não índio( Guaranis:1,5%;

Tupiniquins:20,8% e não índios:17,5%). A prevalência de história familiar de

hipertensão arterial foi significativamente mais baixa na etnia Guarani(9,2%), quando

comparada aos Tupiniquins(55%) e não índios(66%)(χ2<0,001).

A proporção de indivíduos com Diabettes mellitus, dislipidemia foi semelhante

entre os diferentes grupos étnicos raciais (χ2 =0,20 e 0,12, NS). Os participantes com

diabetes (n=29) constituíram 4,3% do total de indivíduos estudados. Sendo as

prevalências de 4,2% nos Tupiniquins, 1,5% nos Guaranis e 6,1% nos não índios. Os

indivíduos dislipidêmicos (n=382) constituíram 42,3% do total, sendo as prevalências de

40, 7, 44,6 e de 44,7% para os Tupiniquins, Guaranis e não índios, respectivamente. Os

participantes com sobrepeso IMC≥30 Kg/m2(n=390), constituíram cerca de 46,4% do

total de participantes, não havendo diferenças entre grupos(χ2 =0,49), entretanto a

proporção de indivíduos com sobrepeso 3 foi maior nos Guaranis 7% quando

comparada a Tupiniquins 0% e não 0,9 índios.

A proporção de indivíduos tabagistas foi significativamente maior nos

Guaranis(n=39, 60%) em comparação com o grupo Tupiniquim(n=106, 21,4%) e não

índios(n=30, 26,3%)(χ2 < 0,001).

A prevalência de hipertrofia ventricular esquerda (HVE) nos participantes é

analisada na Tabela 7. Nesta, é evidenciada a presença de HVE segundo os critérios

de Sokolov-Lyon e o critério de Homhilt-Estes, onde a HVE se faz presente

respectivamente em 21,3% (n= 193) e 3,3% (n= 21) do total de participantes, segundo

cada um dos critérios. Para o cálculo do risco de desenvolvimento de Doença

Coronariana foi escolhido o critério de Homhilte-Estes para pontuação de HVE.

Segundo este critério, a prevalência de HVE entre os Tupiniquins foi de n=14(2,9%) e

não índios n=7(6,1%) entre os Guaranis não foi observado nenhum caso de HVE.

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60

Tabela 6 . Prevalência de fatores de risco Cardiovascular .

Tupiniquim

(n=496)

Guarani

(n=57)

Não índio

(n=114)

Todos

(n=667) Variável

Nº Prev. Nº Prev. Nº Prev. Nº Prev.

Hipertensão 103 20,8 1 1,5** 20 17,5 124 18,6

Estágio 1 70 14,1 0 0,0 14 12,3 84 12,6

Estágio 2 e 3 33 6,7 0 0,0 6 5,3 39 5,8

Diabetes mellitus 21 4,2 1 1,5 7 6,1 29 4,3

Intolerância à

glicose 23 4,6 0 0,0 3 2,6 26 3,9

História familiar de

HA 273 55,0 6 10,5** 70 61,4 349 52,3

Forte 100 20,2 0 0,0 15 13,2 115 17,2

Fraca 173 34,9 6 10,5 55 48,2 234 35,1

Dislipidemia 202 40,7 29 50,9 51 44,7 282 42,3

Obesidade 74 14,9 13 22,8 13 11,4 97 14,5

Sobrepeso 1 158 31,9 19 33,3 33 28,9 210 31,5

Sobrepeso 2 74 14,9 9 15,8 12 10,5 95 14,2

Sobrepeso 3 0 0,0 4 7,0 1 0,9 5 0,7

Tabagismo 106 21,4 35 61,4** 30 26,3 171 25,6

Ex-tabagista 108 21,8 11 19,3 30 26,3 149 22,3

* p < 0,05 ** p < 0,01 comparação Guarani vs Tupiniquim/não índio

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61

Tabela 7 . Prevalência de hipertrofia ventricular esquerda pelo critério de Sokolow-Lyon

e Homhilt-Estes.

Tupiniquim Guarani Não índio Todos Hipertrofia Ventricular

Esquerda n % n % n % n %

Sokolow Lyon 155 31,6 7 13,0 31 27,2 193 21,3

Homhilt-Estes 14 2,9 0 0,0 7 6,1 21 3,2

Na Tabela 8 os indivíduos foram classificados quanto ao risco de

desenvolvimento de eventos coronarianos, estratificados por etnia. A Pontuação Global,

a probabilidade de eventos em 5 e 10 anos é menor nas etmia Guarani (Pt: 5,7±4,5;

Prob 5: 1,6±1,1 e Prob 10: 3,8±2,3) em comparação com os Tupiniquins ((Pt: 12,1±9,1;

Prob 5: 5,3±6,4 e Prob 10: 10,6±11) e não índios (Pt: 12±8,9; Prob 5: 5,2±6,2 e Prob 10:

10±2,3 )P<0,001.

Da totalidade dos indivíduos 65,3% (n= 428) foram classificados como de baixo

risco para desenvolvimento de DAC em 10 anos, sendo que a proporção de indivíduos

considerados de baixo risco foi significativamente maior na etnia Guarani 96,1% (n=49)

em comparação com Tupiniquins 64,8% (n=318)e não índios54% (n=61) χ2<0,001.

Figura 1.

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62

Tabela 8. Cálculo do risco Coronariano, nas Reservas indígenas do Espírito Santo,

estratificado pela etnia.

Raça Pontuação global Probabilidade 5

anos Probabilidade 10 anos

Tupiniquim 12,1±9,1 5,3±6,4 10,6±11,0

Guarani 5,7±4,5 1,6±1,1 3,8±2,3

Não índios 14,1±8,3 6,1±6,2 12,1±10,6

Total 12,0±8,9 5,2±6,2 10,3±10,7

Risco de eventos coronarianos,segundo escore de Framingham.

Tabela 9. Risco de ocorrência de eventos Coronarianos, na área de reservas indígenas

do Espírito Santo, estratificado pela etnia.

Risco

Coronariano Tupiniquim Guarani Não índios Total

Alto (> 20%) 80 (16,3%) 0 (0,0%) 24 (21,2%) 104 (15,9%)

Médio (10 – 20%) 93 (18,9%) 2 (3,9%) 28 (24,8%) 123 (18,8%)

Baixo (< 10%) 318 (64,8%) 49 (96,1%) 61 (54,0%) 428 (65,3%)

Total 491 (100,0%) 51 (100,0%) 113 (100,0%) 655 (100,0%)

Qui-quadrado = 27,99 p < 0,001

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63

11351491N =

Raça

Não índiosGuaraniTupiniquim

Pro

bab

ilida

de 1

0 an

os16

14

12

10

8

6

4

2

Figura 2. Probabilidade de ocorrência de eventos coronarianos em 10 anos, nas

reservas indígenas do Espírito Santo, de acordo com a etnia.

**

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64

3. CLASSIFICAÇÃO DA PRESSÃO ARTERIAL

Todos os dados apresentados neste estudo referem-se a média clínica da

presão arterial. A Tabela 9 apresenta a classificação da pressão arterial de acordo com

o comitê americano para detecção, avaliação e tratamento da hipertensão arterial (JNT

VI, 1997). Observa-se que 70% (n=464) dos participantes são classificados como

normotensos e 11,2%(n= 74) apresentam níveis de pressão arterial normal-alta. A

prevalência de hipertensão entre os 670 participantes foi de 18,6%(n=124). Do total dos

indivíduos hipertensos a grande maioria 68,5%(n=85) foram classificados como

hipertensos leves(estágio 1). Menos de 6% da amostra (n=39) foram classificados nos

estágios moderado (11) e grave (14) desta doença.

Do total dos participantes 84% já haviam aferido a PA alguma vez. Sendo que

dos 124 classificados como hipertensos tinham conhecimento deste diagnóstico.

68(46,5%) referiam estar fazendo uso de medicação anti-hipertensiva nas 2 semanas

anteriores a visita domiciliar e deste total apenas 28% atingiam as metas de controle

pressórico (140/90mmHg).

Entre os Tupiniquins foram 103 hipertensos em 493(20%), destes 84(81,4%)

classificados no estágio 1 e 33(18,5%) nos estágios 2e3 de hipertensão arterial. No

grupo étnico não índio a prevalência foi de 17,5%(n=20) dos quais 14(70%)

classificados no estágio 1 e apenas 6 indivíduos(30%) classificados nos estágios 2 e 3 .

Nos Guaranis observamos a menor prevalência de HA, apenas 1 indivíduo em 60(1,5%)

e este não manteve níveis tencionais acima de 140/90 mmHg quando reavaliado

posteriormente(1-3 meses). A Tabela 12 evidencia uma prevalência mais baixa de

hipertensão na etnia Guarani mesmo após ajuste para idade.

Não houve diferenças significativas quanto ao percentual de prevalência de

hipertensão entre os sexos. Sendo a prevalência total de 17,6% (n=56) no sexo

masculino e 19,3%(n=68 ) no sexo feminino.

A figura evidencia a prevalência de HA, segundo aldeia de residência. Nas

aldeias Guaranis, analisadas em conjunto a prevalência foi de apenas 1 caso(1,5%),

enquanto que nas aldeias Tupiniquins foram de 17,4%(n=59) em Caieras Velha, 19,4%

(n=23 )em Irajá e 27,1 % (n=41 ) em Pau Brasil.

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65

Tabela 10. Classificação da pressão arterial segundo etnia.

Tupiniquim Guarani Não índio Todos Estágios

pressóricos Nº Prev. Nº Prev. Nº Prev. Nº Prev.

Normal 333 67,4 49 89,1 82 72,6 464 70,1

Normal-alta 58 11,7 5 9,1 11 9,7 74 11,2

Estágio I 70 14,2 1 1,8 14 12,4 85 12,8

Estágio II 18 3,6 0 0,0 2 1,8 20 3,0

Estágio III 15 3,0 0 0,0 4 3,5 19 2,9

A classificação da pressão arterial de acordo com o comitê americano para detecção,

avaliação e tratamento da hipertensão arterial (JNT VI, 1997)

Tabela 11. Prevalência de hipertensão arterial em 670 indivíduos residentes nas

comunidades indígenas no Espírito Santo.

Etnia Normotensos Hipertensos Prevalência Total

Tupiniquim 393 103 20,85 496

Guarani 60 1 1,58 60

Não índios 94 20 17,69 114

Total 546 124 18,50 670

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66

Na Tabela 12 são evidenciados os parâmetros hemodinâmicos nos diferentes

grupos étnicos raciais. Os valores médios de PAS, PAD, PAM, PP (P< 0,01)e VOP

(P<0,05) foram significativamente menores na etnia Guarani comparados os grupo

Tupiniquin e não índio.

Mesmo após o ajuste para a idade e IMC, observa-se uma diferença significativa

da PAM na etnia Guarani (95,3±1,8; IC 95% 1,7-98,9) comparada aos Tupiniquins(107

±0,6 ; IC 95% 106,3-108,7)e não índios(105,7± 1,2; IC 95%103,2-108,1)P<0,01.Tabela

14

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67

Tabela 12. Características da amostra, estratificado segundo sexo.

Variável Tupiniquim Guarani Não índio Todos

PAS

Média ± DP 123 ± 20 107 ± 14** 120 ± 21 121 ± 20

Mín-Máx 89 – 202 83 – 140 87 – 191 83 – 202

IC 95% 121 – 125 105 – 112 116 – 124 120 – 123

PAD

Média ± DP 77 ± 11 70 ± 10** 78 ± 13 76 ± 9

Mín-Máx 53 – 119 48 – 88 58 – 127 48 – 127

IC 95% 76 – 78 66 – 71 76 – 80 76 – 77

PAM

Média ± DP 92 ± 13 81 ± 10** 92 ± 15 91 ± 13

Mín-Máx 67 – 142 61 – 105 70 – 147 61 – 147

IC 95% 91 – 93 78 – 84 89 – 95 90 – 92

PP

Média ± DP 46 ± 14 38 ± 8** 42 ± 12 45 ± 13

Mín-Máx 22 – 115 24 – 59 20 – 80 20 – 115

IC 95% 45 – 47 36 – 40 40 – 45 44 – 46

FC

Média ± DP 69 ± 11 70 ± 9 71 ± 11 69 ± 11

Mín-Máx 40 – 135 55 – 98 48 – 113 40 – 135

IC 95% 68 – 70 68 – 73 69 – 73 68 – 70

VOP

Média ± DP 8,8 ± 2,2 7,5 ± 1,4** 8,4 ± 2,0 8,6 ± 2, 2

Mín-Máx 4,8 – 18,2 5,3 – 12,0 5,1 – 13,2 4,8 – 18,2

IC 95% 8,6 – 9,0 7,2 – 7,9 8,0 – 8,8 8,5 – 8,8

* p < 0,05 ** p < 0,01 comparação Guarani vs tupiniquin e não índio

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68

Tabela 13. Pressão arterial média ajustada pela idade , segundo estratificação étnico-

racial nas aldeias Indígenas do Espírito Santo.

Raça PAM

Média

Desvio

Padrão

Intervalo de Confiança 95%

inferior superior

Tupiniquim 92,251(a) ,517 91,235 93,266

Guarani 82,821(a) 1,555 79,768 85,873

Não índios 91,560(a) 1,082 89,435 93,685

ª As covariáveis que aparecem no modelo são avaliadas nos seguintes

valores: Idade = 37,42;.

A variação da PAS e PAD com a idade nas diferentes etnias é demonstrada nas

Tabelas 15 e 16. Houve um aumento significativo da PAS com a idade nos grupos

Tupiniquins e não índios (P<0,01). Na etnia Guarani a PAS se eleva até a quinta

década de vida(P<0,01), entretanto esta diferença não se mantém nos indivíduos acima

de 60 anos de idade. A PAD se eleva até a quinta década de vida e se mantém após os

60 anos nos Tupiniquins e não índios. Na etnia Guarani não houve diferenças

significativas dos níveis de PAD nas diferentes faixas etárias.

Em relação a PA com a idade pode-se verificar a ocorrência de níveis

pressóricos mais baixos em todas as faixas etárias na etnia Guarani em comparação

com Tupiniquins e não índios. Cabe ressaltar que os Tupiniquins e não índios

apresentaram níveis médios de PAS cerca de 4-30 mmHg maiores e de PAD cerca de

6-9 mmHg maiores que o grupo étnico Guarani em todas faixas etárias.

A análise da PA, segundo as aldeias é demonstrada na figura 2. Nas aldeias

Guaranis observam-se níveis tensionais mais baixos( 109/70 mmHg) em comparação

com as aldeias Tupiniquins de Caieras Velhas( 121/77 mmHg) e de Irajá( 122/77

mmHg) e de Páu-Brasil onde os níveis tensionais sistólico e diastólico foram

significativamente maiores ( 127/79 mmHg)(P< 0,001).

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69

Tabela 14. Pressão arterial sistólica em 670 indivíduos residentes nas Comunidades

indígenas no Espírito Santo, estratificada por faixas etárias.

Faixa etária Tupiniquim Guarani Não índio

20 | 30 112±13 103±11 111±13

30 | 40 112±14 108±15 118±15

40 | 50 129±19 116±16 127±20

50 | 60 139±21 123±13 136±23

≥ 60 147±22 117±13 143±23

Total 123±20 109±14 121±20

Tabela 15. Pressão arterial diastólica em 670 indivíduos residentes nas Comunidades

indígenas no Espírito Santo, estratificada por faixas etárias.

Faixa etária Tupiniquim Guarani Não índio

20 | 30 72±8 66±9 70±7

30 | 40 78±10 70±10 77±8

40 | 50 83±11 77±8 82±15

50 | 60 84±10 75±8 89±14

≥ 60 80±9 73±12 84±9

Total 77±11 70±10 78±13

A Tabela 16 apresenta as médias e o desvio-padrão das medidas

hemodinâmicas, antropométricas e bioquímicas, segundo classificação dos indivíduos

normotensos e hipertensos. Apenas o peso, parâmetros do hemograma: hemáceas,

hemoglobina, hematócrito e a FC não apresentaram diferenças significativas entre os

grupos. Todas as outras medidas são diferentes entre o grupo de normotensos e

hipertensos, inclusive a idade (hipertensos:51,9±16,1; normotensos:33,3±12,8,

P<0,001).

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70

Figura 3. Valores médios de pressão arterial nas Aldeias indígenas do Espírito Santo.

GuaranisCaieras

IrajáPáu Brasil

PAS

95100105110

115120

125

130

Pressão Arterial sistólica nas Comunidades Indígenas do Espírito

Santo

GuaranisCaieras

IrajáPáu Brasil

PAD

60

65

70

75

80

Pressão Arterial diastólica nas Comunidades Indígenas do Espírito Santo

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71

Tabela 16. Características dos indígenas, estratificado segundo pressão arterial.

Variável Normotenso Hipertenso Geral

Idade, anos 33,8±12,8 51,9±16,1** 37,2±15,2

Peso, Kg 65,4±11,5 66,7±14,1 65,6±12,0

Altura, m 161,2±8,8 156,9±9,9** 160,4±9,1

IMC. Kg/m2 25,2±4,2 27,0±4,5** 25,5±4,3

C. Cintura, cm 82,8±9,8 90,1±10,7** 84,2±10,4

C. Quadril, cm 88,1±9,9 93,7±10,1** 89,2±10,2

R. Cintura-Quadril 0,87±0,07 0,94±0,07** 0,88±0,07

Glicemia, mg/dL 88,5±13,2 100,7±23,8** 90,9±16,5

Colesterol, mg/dL 159,2±41,6 186,8±46,0** 164,5±43,8

Tri glicerídeos, mg/dL 102,6±74,7 134,2±95,2** 108,5±79,8

HDL-C, mg/dL 48,7±15,4 49,3±13,4 48,8±15,0

LDL-C, mg/dL 90,3±35,2 111,2±38,0** 94,3±36,7

VLDL-C, mg/dL 20,5±14,9 33,1±66,8 22,9±32,4

LDL/HDL 1,98±0,90 2,36±0,98** 2,05±0,93

Uréia, mg/dL 23,5±7,9 27,8±10,3** 24,3±8,6

Creatinina, mg/dL 0,8±0,2 0,9±0,3** 0,8±0,3

Depuração creatinina 106,6±11,6 92,7±14,4** 103,9±13,4

Ácido Úrico, mg/dL 4,2±1,3 4,7±1,5** 4,3±1,3

Hemácias 4,6±0,5 4,6±0,5 4,6±0,5

Hemoglobina 13,8±1,5 13,9±1,7 13,8±1,6

Hematócrito 41,8±4,5 42,3±4,6 41,9±4,5

PAS, mmHg 114±12 153±17** 121±20

PAD, mmHg 73±8 90±10** 76±11

PP, mmHg 41±8 63±17** 45±13

PAM, mmHg 86±9 111±10** 91±13

VOP, m/s 8,2±1,7 11,2±2,4** 8,7±2,2

FC, bpm 69±10 68±13 69±11

* p < 0,05 ** p < 0,01 comparação normotenso vs hipertenso

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72

A Tabela 17 apresenta as médias e o desvio padrão das variáveis

hemodinâmicas, antropométricas e bioquímicas, segundo a presença (predispostos) ou

ausência (não-predispostos) de história familiar de hipertensão arterial.

Os indivíduos com história familiar positiva apresentaram maiores níveis de PAD,

RCQ, volume urinário, sódio urinário de 12hs e consumo de NaCl em 24hs P<0,001 em

relação aos não predispostos.

Na Tabela 18 são apresentados os resultados da análise da correlação linear

simples entre os parâmetros hemodinâmicos e as possíveis variàveis explicativas

(associadas) a estes parâmetros na etnia Tupiniquim. Entre os Tupiniquins a variável

mais correlacionada com a PAS e foi a idade (r=0,59) em seguida vem as variáveis:

relação cintura-quadril(r=0,53), circunferência da cintura(r=0,34), glicemia(r=0,30),

colesterol total(r=0,26), LDL colesterol(r=0,24) e o IMC(r=0,20). As variàveis que não

apresentaram associação significativa com a PAS nesta etnia foram: HDL-colesterol

(r=-0,004), peso (r=0,087), Na–U/12h (r=0,048) e o consumo de NaCl/24h (r=0,043).

O NaU/12h e o consumo de NaCl apresentaram correlação significativa apenas

com a PAD(P<0,05). As retas de regressão das variáveis da Tabela 19 são

apresentadas nas figuras de 3 a 5.

A Tabela 19 apresenta os resultados da análise da correlação linear simples

entre parâmetros hemodinâmicos e as possíveis variáveis relacionadas na etnia

Guarani. Neste grupo a variável mais correlacionada a PAS, PP e PAM foi a relação

cintura quadril, seguida pela idade, IMC, circunferência da cintura e o peso.

A PAD apresentou maior correlação com o IMC (r=0,51), seguida pela

circunferência da cintura(r=0,48), peso (r=0,48) relação cintura quadril(r=0,47) e idade

(r=0,30).As retas de regressão das variáveis da Tabela 19 são apresentadas nas

figuras de 6 a 10.

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73

Tabela 17. Características dos indígenas, estratificado segundo pressão arterial.

Variável Predispostos Não predispostos Geral

Idade, anos 37,8±15,8 38,3±15,9 37,0±14,3

PAS, mmHg 124±20 122±22 122±20

PAD, mmHg 79±11 76±11** 77±11

PP, mmHg 45±12 46±15 45±13

PAM, mmHg 94±14 91±14 92±13

VOP, m/s 8,7±1,9 8,7±2,4 8,7±2,1

FC, bpm 69±11 68±11 69±11

Glicemia, mg/dL 96,8±25,4 90,8±16,1** 91,4±17,2

Colesterol Total, mg/dL 168,4±42,3 162,1±45,0 165,0±43,4

HDL-C, mg/dL 49,1±13,7 49,0±18,3 48,8±15,3

LDL-C, mg/dL 97,4±36,9 89,9±35,6 94,5±36,5

Uréia, mg/dL 24,7±9,1 23,7±8,3 24,1±8,5

Creat-Plasmática, mg/dL 0,8±0,3 0,8±0,2 0,8±0,3

Àcido Úrico,mg/dL 4,5±1,9 4,3±1,2 4,3±1,4

Peso, kg 67,3±12,6 64,8±11,8 65,9±12,0

IMC, kg/m2 26,1±4,3 25,6±4,5 25,7±4,3

C. Cintura, cm 85,9±10,6 84,6±10,9 84,6±10,4

R. Cintura-Quadril 0,9±0,1 0,9±0,1 0,9±0,1

Vol. Urinarário, L 0,8±0,4 0,7±0,3** 0,7±0,4

Na-U/12h, mg/dL 116,4±63,3 97,9±52,3** 106,5±56,4

K-U /12H, mg/dL 18,4±9,2 17,0±9,4 17,5±9,1

Consumo NaCl /24h 15,1±8,2 12,8±6,8** 13,8±7,3

Na-U/K-U 12h 6,7±2,7 6,4±3,0 6,6±2,9

Depuração creatinina 103,8±13,4 103,3±13,3 104,1±12,5

Predispostos- história familiar positiva de HÁ, não pré-dispostos- sem história familiar de HÁ * p < 0,05 ** p < 0,01 comparação

predispostos vs não pré-dispostos

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Tabela 18. Correlação de Pearson dos parâmetros hemodinâmicos nos Tupiniquins.

Variável PAS PAD PP PAM

Idade 0,597** 0,372** 0,584** 0,512**

Peso 0,087 0,249** -0,066 0,181**

IMC 0,209** 0,312** 0,063 0,279**

C. Cintura 0,348** 0,395** 0,203** 0,396**

Relação Cintura-Quadril 0,537** 0,460** 0,450** 0,528**

Glicemia 0,305** 0,258** 0,248** 0,298**

Colesterol Total 0,262** 0,287** 0,160** 0,293**

HDL-C -0,004 -0,057 0,037 -0,033

LDL-C 0,241** 0,278** 0,139** 0,277**

Na-U/12h 0,048 0,100* -0,007 0,079

Cons.NaCl /24h 0,043 0,097* -0,012 0,075

* p < 0,05 ** p < 0,01

Tabela 19. Correlação de Pearson dos parâmetros hemodinâmicos nos Guaranis

Variável PAS PAD PP PAM

Idade 0,423** 0,301* 0,302* 0,407**

Peso 0,340* 0,483** -0,004 0,445**

IMC 0,386** 0,514** 0,035 0,484**

C. Cintura 0,372** 0,485** 0,047 0,461**

Relação Cintura-Quadril 0,447** 0,473** 0,186 0,485**

Glicemia 0,055 0,169 -0,107 0,127

Colesterol Total 0,083 0,262 -0,169 0,196

HDL-C 0,015 0,038 -0,019 0,029

LDL-C 0,016 0,231 -0,249 0,147

Na-U/12h 0,035 0,192 -0,169 0,134

Cons.NaCl /24h 0,035 0,192 -0,169 0,134

* p < 0,05 ** p < 0,01

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75

y = 0,7785x + 93,654R2 = 0,3575

0

50

100

150

200

250

0 20 40 60 80 100

Idade, anos

PA

S, m

mH

g

y = 0,1467x + 113,31R2 = 0,0073

0

50

100

150

200

250

30 60 90 120

Peso, Kg

PA

S, m

mH

g

y = 0,9998x + 97,488R2 = 0,0435

0

50

100

150

200

250

10 15 20 25 30 35 40 45

IMC, Kg/m2

PA

S, m

mH

g

y = 0,6818x + 65,561R2 = 0,121

0

50

100

150

200

250

60 70 80 90 100 110 120

Circunferência Cintura

PA

S, m

mH

g

y = 0,482x + 80,076R2 = 0,0579

0

50

100

150

200

250

60 70 80 90 100 110 120 130

Relação Cintura-Quadril

PA

S, m

mH

g

Figura 4. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica com variáveis

antropométricas e idade nos Tupiniquins.

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76

y = 0,1321x + 110,19R2 = 0,0577

0

50

100

150

200

250

0 50 100 150 200 250 300

LDL-C

PA

S, m

mH

g

y = 0,0176x + 121,2R2 = 0,0023

0

50

100

150

200

250

0 100 200 300 400

Na-U

PA

S, m

mH

g

y = 0,1218x + 121,41R2 = 0,0019

0

50

100

150

200

250

0 10 20 30 40 50 60

NaCl

PA

S, m

mH

g

y = 0,3768x + 88,273R2 = 0,093

0

50

100

150

200

250

50 100 150 200 250 300

Glicemia

PA

S, m

mH

g

y = 0,1217x + 102,73R2 = 0,0687

0

50

100

150

200

250

0 100 200 300 400

Colesterol Total

PA

S, m

mH

g

y = -0,0065x + 123,25R2 = 0,00002

0

50

100

150

200

250

0 50 100 150 200 250

HDL-C

PA

S, m

mH

g

Figura 5. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica em função das variáveis

de consumo e bioquímicas nos Tupiniquins.

Page 78: Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risc…sis.funasa.gov.br/portal/publicacoes/pub1169.pdf · Objetivos: Investigamos a prevalência de fatores de risco cardiovascular

77

y = 0,2547x + 67,384R2 = 0,1366

0

20

40

60

80

100

120

140

0 20 40 60 80 100

Idade, anos

PA

D, m

mH

g

y = 0,2233x + 62,239R2 = 0,0604

0

20

40

60

80

100

120

140

20 40 60 80 100 120

Peso, Kg

PA

D, m

mH

g

y = 0,7871x + 56,918R2 = 0,0959

0

20

40

60

80

100

120

140

10 15 20 25 30 35 40 45

IMC, Kg/m2

PA

D, m

mH

g

y = 0,407x + 42,698R2 = 0,1536

0

20

40

60

80

100

120

140

60 70 80 90 100 110 120

Circunferência Cintura

PA

D, m

mH

g

y = 0,3391x + 46,792R2 = 0,102

0

20

40

60

80

100

120

140

60 70 80 90 100 110 120 130

Relação Cintura-Quadril

PA

D, m

mH

g

Figura 6. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial diastólica com variáveis

antropométricas e idade nos Tupiniquins.

Page 79: Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risc…sis.funasa.gov.br/portal/publicacoes/pub1169.pdf · Objetivos: Investigamos a prevalência de fatores de risco cardiovascular

78

y = 0,0794x + 69,233R2 = 0,0759

0

20

40

60

80

100

120

140

0 50 100 150 200 250 300

LDL-C

PA

D, m

mH

g

y = 0,0186x + 75,14R2 = 0,0094

0

20

40

60

80

100

120

140

0 100 200 300 400

Na-U

PA

D, m

mH

g

y = 0,1392x + 75,189R2 = 0,0088

0

20

40

60

80

100

120

140

0 10 20 30 40 50 60

NaCl

PA

D, m

mH

g

y = 0,1667x + 61,588R2 = 0,0651

0

20

40

60

80

100

120

140

50 100 150 200 250 300

Glicemia

PA

D, m

mH

g

y = 0,07x + 65,33R2 = 0,0811

0

20

40

60

80

100

120

140

0 100 200 300 400

Colesterol Total

PA

D, m

mH

g

y = -0,0403x + 78,929R2 = 0,0033

0

20

40

60

80

100

120

140

0 50 100 150 200 250

HDL-C

PA

D, m

mH

g

Figura 7. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial diaistólica em função das

variáveis de consumo e bioquímicas nos Tupiniquins.

Page 80: Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risc…sis.funasa.gov.br/portal/publicacoes/pub1169.pdf · Objetivos: Investigamos a prevalência de fatores de risco cardiovascular

79

y = 0,4056x + 93,793R2 = 0,1747

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 20 40 60 80 100

Idade, anos

PA

S, m

mH

g

y = 0,3118x + 86,705R2 = 0,1097

0

20

40

60

80

100

120

140

160

20 40 60 80 100 120

Peso, Kg

PA

S, m

mH

g

y = 1,0218x + 79,389R2 = 0,1514

0

20

40

60

80

100

120

140

160

10 15 20 25 30 35 40 45

IMC, Kg/m2

PA

S, m

mH

g

y = 0,4231x + 70,631R2 = 0,1338

0

20

40

60

80

100

120

140

160

50 60 70 80 90 100 110 120

Circunferência Cintura

PA

S, m

mH

g

y = 0,3597x + 73,412R2 = 0,0923

0

20

40

60

80

100

120

140

160

70 80 90 100 110 120 130

Relação Cintura-Quadril

PA

S, m

mH

g

Figura 8. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica com variáveis

antropométricas e idade na etnia Guarani.

Page 81: Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risc…sis.funasa.gov.br/portal/publicacoes/pub1169.pdf · Objetivos: Investigamos a prevalência de fatores de risco cardiovascular

80

y = 0,0058x + 105,73R2 = 0,0002

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 50 100 150 200

LDL-C

PA

S, m

mH

g

y = 0,0084x + 106,31R2 = 0,0006

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 50 100 150 200 250

Na-U

PA

S, m

mH

g

y = 0,0646x + 106,31R2 = 0,0006

0

20

40

60

80

100

120

140

160

0 5 10 15 20 25 30

NaCl

PA

S, m

mH

g

y = 0,054x + 101,94R2 = 0,0024

0

20

40

60

80

100

120

140

160

50 80 110 140 170

Glicemia

PA

S, m

mH

g

y = 0,0257x + 102,43R2 = 0,0071

0

20

40

60

80

100

120

140

160

50 100 150 200 250 300

Colesterol Total

PA

S, m

mH

g

y = 0,0164x + 105,52R2 = 0,0002

0

20

40

60

80

100

120

140

160

20 30 40 50 60 70 80

HDL-C

PA

S, m

mH

g

Figura 9. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica em função das variáveis

de consumo e bioquímicas na etnia Guarani.

Page 82: Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risc…sis.funasa.gov.br/portal/publicacoes/pub1169.pdf · Objetivos: Investigamos a prevalência de fatores de risco cardiovascular

81

y = 0,2002x + 62,27R2 = 0,0908

0

20

40

60

80

100

120

0 20 40 60 80 100

Idade, anos

PA

D, m

mH

g

y = 0,3156x + 48,405R2 = 0,2242

0

20

40

60

80

100

120

20 40 60 80 100 120

Peso, Kg

PA

D, m

mH

g

y = 0,9477x + 43,29R2 = 0,2597

0

20

40

60

80

100

120

10 15 20 25 30 35 40 45

IMC, Kg/m2

PA

D, m

mH

g

y = 0,3881x + 35,532R2 = 0,2246

0

20

40

60

80

100

120

60 70 80 90 100 110 120

Circunferência Cintura

PA

D, m

mH

g

y = 0,3162x + 39,764R2 = 0,1485

0

20

40

60

80

100

120

70 80 90 100 110 120 130

Relação Cintura-Quadril

PA

D, m

mH

g

Figura 10. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial diastólica com variáveis

antropométricas e idade na etnia Guarani.

Page 83: Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risc…sis.funasa.gov.br/portal/publicacoes/pub1169.pdf · Objetivos: Investigamos a prevalência de fatores de risco cardiovascular

82

y = 0,0618x + 63,435R2 = 0,0538

0

20

40

60

80

100

120

0 50 100 150 200

LDL-C

PA

D, m

mH

g

y = 0,048x + 64,823R2 = 0,0368

0

20

40

60

80

100

120

0 50 100 150 200 250

Na-U

PA

D, m

mH

g

y = 0,3687x + 64,841R2 = 0,0368

0

20

40

60

80

100

120

0 5 10 15 20 25 30

NaCl

PA

D, m

mH

g

y = 0,1295x + 58,383R2 = 0,0288

0

20

40

60

80

100

120

50 70 90 110 130 150

Glicemia

PA

D, m

mH

g

y = 0,0554x + 60,476R2 = 0,0689

0

20

40

60

80

100

120

50 100 150 200 250 300

Colesterol Total

PA

D, m

mH

g

y = 0,031x + 67,305R2 = 0,0012

0

20

40

60

80

100

120

20 30 40 50 60 70 80

HDL-C

PA

D, m

mH

g

Figura 11. Gráficos de dispersão entre Pressão arterial sistólica em função das

variáveis de consumo e bioquímicas na etnia Guarani.

Page 84: Estudo da Hipertensão Arterial e de outros fatores de risc…sis.funasa.gov.br/portal/publicacoes/pub1169.pdf · Objetivos: Investigamos a prevalência de fatores de risco cardiovascular

83

A Tabela 20 mostra os resultados da análise de regressão linear múltipla por

etapas das variáveis associadas à pressão arterial sistólica na etnia Tupiniquim. Foram

excluídas do modelo as variáveis colineares. (circunferência da cintura, peso, IMC,

glicemia e colesterol total). Permaneceu no modelo apenas a Idade e relação cintura

quadril, que juntos foram responsáveis por 44% da variabilidade observada na PAS dos

participantes. PAS=36,62 + 0,70. idade + 68,63,63. RCQ (r2 = 0,44, P<0,001). Este

modelo parece ser bem razoável para explicar a variabilidade de PAS entre os

Tupiniquins, uma vez que o teste de Kolgmorov-Smirnov mostra que os resíduos têm

distribuição normal (P<0,05).

Tabela 20. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis

associadas a Pressão arterial sistólica (PAS), na etnia Tupiniquim .

Modelo coeficiente Erro

Padrão valor de t valor de P

1 constante 89,778 2,521 35,611 <0,001

idade 0,901 0,62 14,454 <0,001

2 constante 36,26 12,193 3,004 <0,001

idade 0,700 0,75 9,281 <0,001

RCQ 68,633 15,423 4,450 <0,001

ª Variável dependente :PAS RCQ, Razão cintura quadril.

R2 = 0,44 P< 0,001

PAS (mmHg) = 36,62 + 0,700 .idade + 68,633 . RCQ

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84

A Tabela 21 mostra os resultados da análise de regressão linear múltipla

(Stepwise) das variáveis associadas à PAD na etnia Guarani. Permaneceu no modelo

apenas a Relação cintura quadril que explica20%da variabilidade de PAS nesta etnia.

PAS= 22,14 +95,87 .RCQ (r2= 0,20, P=0,001).

Tabela 21. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis

associadas a Pressão arterial sistólica (PAS), na etnia Guarani .

Modelo coeficiente Erro

Padrão valor de t valor de P

1 constante 22,140 23,613 9,38 0,353

RCQ 95,871 26,846 0,447 0,001

ª Variável dependente :PAS; RCQ, Razão cintura quadril.

R2= 0, 22, P = 0,001

PAS (mmHg) = 22,14 + 95,871. RCQ

Da mesma forma, os resultados da análise de regressão linear múltipla por

etapas das variáveis associadas a PAD, a proporção da variabilidade de PAD explicada

por este modelo foi de 28% e as variáveis preditoras foram RCQ, idade e peso(r2 =

0,282, P = 0,001). Sendo o RCQ o maior preditor (Tabela 22).

A Tabela 23 mostra os resultados da análise de regressão linear múltipla das

variáveis associadas a PAD na etnia Guarani. Apenas o Índice de massa Corporal

permaneceu neste modelo, sendo responsável por 27,2% da variabilidade de PAD

nesta etnia (r2 = 0,27, P<0,001).

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85

Tabela 22. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis

associadas a Pressão arterial diastólica (PAD), na etnia Tupiniquim .

Modelo coeficiente Erro

Padrão valor de t valor de P

1 constante 18,006 6,535 2,755 0,006

RCQ 66,831 7,362 9,077 <0,001

2 constante 30,404 7,049 4,313 <0,001

RCQ 45,175 8,908 5,071 <0,001

Idade ,180 ,044 4,101 <0,001

3 Constante 31,837 6,952 4,579 <0,001

RCQ 27,142 10,381 2,615 <0,001

idade ,262 ,050 5,236 <0,001

Peso ,175 ,054 3,244 0,001

ª Variável dependente :PAS RCQ, Razão cintura quadril.

r2 = 0,282, P = 0,001

PAD (mmHg) = 31,837 +. 27,142. RCQ + , 262 . idade + 0,175. peso

Tabela 23. Resultados da análise de regressão linear múltipla por etapas das variáveis

associadas a Pressão arterial diaistólica (PAD), na etnia Guarani .

Modelo coeficiente Erro

Padrão valor de t valor de P

1 constante 42,414 6,046 7,015 ,000

RCQ ,977 ,224 4,361 ,000

ª Variável dependente :PAS; RCQ, Razão cintura quadril.

r2= 0,22, P<0,001

PAS (mmHg) = 42,414 + 0,977. RCQ

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86

4. ANÁLISE DOS POLIMORFISMOS DA ENZIMA CONVERSORA D E

ANGIOTENSINA E DO ANGIOTENSINOGÊNIO NOS TUPINIQUINS E GUARANIS

As freqüências dos polimorfismo M235T do angiotensinogênio e I/D da ECA e

nas duas etnias indígenas e nos não indígenas da comunidade tupiniquim são

apresentados na tabela 24.Os alelos M235T do angiotensinogênio estavam em

equilíbrio de Hardy-Weinberg nos indígenas e não indígenas em um nível de

significância de 0,05.Os alelos D/I da ECA também apresentam equilíbrio de Hardy-

Weinberg em ambas as populações estudadas.Os dados mostram um nítido

gradienteda forma polifórmica DD do gene da ECA dos guaranis, onde a freqüência foi

a mais baixa (apenas 3,9%), em direção aos tupiniquins (freqüência de 10,5%) e nos

não indígenas (23,7%).Apesar deste gradiente a forma DD foi a menos freqüente nos

três grupos. Em relação ao polimorfismo M235T do angiotensinogênio, a forma MM foi a

menos freqüente nos três grupos, sendo que a freqüência nos graranis (3,9%) foi

significativamente menor (P<0.01) do que nos tupiniquins e não indígenas.

Os resultados das associações genotípicas e fenótipos pressóriocos estratificado

pela etnia são avaliados nas tabelas 25 e 26. Uma associação estatisticamente

significativa foi encontrada nas análises para o polimorfismo D/I da enzima conversora

de angiotensina e do polimorfismo M235T com fenótipo de pressão arterial diastólica

somente na etnia Tupiniquim.

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87

Tabela 24. Distribuição da frequência dos polimorfismos estudados nas diferentes

etnias.

Guarani Tupiniquim Outros Genótipos

Freqüência de alelos

Alelo D

Alelo I

27,34

72,66

33,45

66,55

48,24

51,76

Polimorfismo I/DECA

DD

DI

II

3,9

43,4

52,8

10,5

44

43,8

23,7

48,2

26,3

Frequência de alelos

Alelo M

Alelo T

13,69

86,31

34,43

65,57

29,93

70,07

Polimorfismo M235T

ANGO

MM 3,9 8,7 11,4

MT 21,5 47 37,7

TT 74,5 42,1 48,2

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88

Tabela 25 . Análise univariada para os fenótipos de pressão arterial. Tupiniquim Guarani Não índio

Genotype PAS P PAS P PAS P

Polimorfismo ECA D/I

II 121,84 1,0 106,45 1,0 122,97 1,0

DI 123,72 0,33 105,73 0,85 116,05 0,12

DD 123,44 0,62 110,33 0,71 126,51 0,58

DD+DI 123,85 0,27 110,11 0,32 119,51 0,44

DD vs DI+II 123,44 0,85 108,61 0,86 118,52 0,08

Polimorfismo ANG M/T

MM 118,89 1,0 123,33 1,0 114,26 1,0

MT 124,46 0,09 103,43 0,23 121,69 0,25

TT 121,88 0,37 106,59 0,23 120,96 0,28

TT + MT 123,37 0,15 108,42 0,30 121,23 0,26

TT vs MT +MM 123,75 0,30 111,81 0,16 119,95 0,80

Valores de P analisados por teste t não pareado . Tabela 26 . Análise univariada para os fenótipos de pressão arterial.

Tupiniquim Guarani Não índio Genótipos PAD P PAD P PAD P

Polimorfismo ECA D/I

II 75,55 1,0 69,87 1,0 78,40 1,0

DI 77,71 0,02 66,97 0,30 75,98 0,37

DD 79,26 0,03 72,67 0,71 81,59 0,41

DD+DI 78,07 0,009 69,49 0,88 77,97 0,87

DD vs DI+II 76,69 0,10 69,54 0,66 76,98 0,09

Polimorfismo ANG M/T

MM 73,19 1,0 75,33 1,0 74,21 1,0

MT 78,31 0,004 75,33 0,48 78,47 0,28

TT 76,06 0,088 69,06 0,51 78,53 0,25

TT +MT 77,33 0,014 69,55 0,56 78,59 0,09

TT vs MT + MM 77,62 0,10 70,52 0,57 77,67 0,72

Valores de P analisados por teste t não pareado .

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DISCUSSÃO

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1. PRINCIPAIS ACHADOS

O estudo da hipertensão arterial em habitantes das Comunidades

indígenas do Espírito Santo oferece a oportunidade de avaliar atributos essenciais ou

aspectos causais de conhecidos fatores de risco cardiovascular, em um grupo étnico

com baixa prevalência de Hipertensão.

Houve boa representatividade da amostra estudada com comparecimento de

80% da população adulta acima de 20 anos. Segundo o último levantamento nas

unidades de Saúde a população era de 834 indivíduos dos quais 670 compareceram a

Unidade de Saúde local para realização dos exames clínicos. Este trabalho retrata pela

primeira vez dados populacionais referentes à prevalência de HA em indígenas adultos

habitantes de Comunidades indígenas tradicionais Tupiniquins e Guaranis no município

de Aracruz – Espírito Santo.

Existem poucos relatos sobre a prevalência de HA e sua associação com fatores

de risco cardiovasculares em grupos étnicos minoritários de comunidades tradicionais

(Hollenberg et al, 1997, Young et al 1993, Annand et al, 2002). O estudo do padrão

epidemiológico de fatores de risco em habitantes de comunidades tradicionais difere

daqueles de habitantes de sociedades urbanas por se tratar de uma população atrativa

para se estudar a história natural da Hipertensão arterial. É um grupo bastante

homogêneo quanto a distribuição de fatores de risco sócio econômicos, padrão

alimentar, onde predominam as faixas etárias mais jovem e atividades laborais mais

tradicionais.Na sua grande maioria lavradores e pescadores. No aspecto étnico-racial,

observa-se que mesmo nas Comunidades Tupiniquins, onde há miscigenação

predominante com indivíduos de origem afro-brasileira, a ancestralidade indígena

predomina na maioria das famílias. Foi encontrada predomínio do grupo sangúineo O

em 70% dos indivíduos e 98% da totalidade dos indivíduos pertenciam ao fatro Rh

positivo, este grupo e fator é relacionado a homogeneidade destas populações

indígenas(Hollenbreg et al 1997). Estudos fenótipos do grupo sanguíneo ABO

demonstram que a maioria das populações ameríndias apresenta exclusivamente a

presença de grupo sanguíneo O (Franco et al,1994). Uma vez, que o grupo O é

resultante da ausência da atividade de glicosil-transferase suas bases genéticas devem

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ser heterogêneas. Franco analisou dois segmentos do gene da glicosiltransferase em

dois grupos indígenas do Amazonas (Yanomamis e Araras) e comparou seus achados

com outras populações de Caucasianos e negros. Em todos, a base genética do grupo

O foi a deleção de um único nucleotídeo na posição 258 da glicosiltransferase A. Ou

seja, apesar do componente de miscigenação étnico racial estar presente, no que diz

respeito a etnia Tupiniquim, os dados referentes ao grupo sanguíneo de fator Rh

reforçam a ancestralidade indígena nesta população.

2. CONSUMO DE SAL

Neste estudo a aferição do consumo de sal foi realizada através da coleta da

urina no período das 19:00 h as 7:00 h do dia seguinte. A coleta de urina no período

noturno fornece estimativa da ingesta de sódio e se demonstra bastante eficaz

documentar a aderência a dietas com redução de sal (Luft et al 1983).

Dados referentes aos parâmetros urinários estudados estão demonstrados na

tabela 5, observamos que nos Guaranis a excreção de Na urinário foi de 90,2±40,6

mEq no período de 12hs noturnas enquanto que no grupo Tupiniquim 105,4±55,7 e não

nativos 109,7±55,2 11,7±5,3 mEq/L , não apresentando diferenças estatisticamente

significativas entre os grupos. O consumo estimado de NaCl /24hs foi semelhante entre

os grupos étnicos estudados, sendo que entre Guaranis foi de 11,7±5,3 g, Tupiniquins

13,7±7,2g e não nativos 14,2±7,2 g. Estes valores demonstram que estes grupos

apresentam níveis de consumo de sal semelhante as taxas observadas na população

urbana de Vitória, onde a média de ingestão de sal, calculada a partir da excreção

urinária de Na+ de 12h foi de 12,6 g/dia(Molina et al, 2003). Estas taxas podem ser

comparadas às encontradas em diversos estudos, denotando uma alteração de estilo

de vida, com incorporação de alimentos industrializados na dieta e maior consumo de

sal. Observamos ainda, que na etnia Guarani o Potássio urinário/12hs ficou entre os

mais baixos 13,4±7,9 mEq/L, P< 0,05 , os Tupiniquins e não nativos apresentaram

respectivamente uma excreção de 17,6±8,9 e 17,1±8,0. Estes baixos valores deste íon

são compatíveis com uma dieta com baixo consumo de frutas e vegetais, bem como

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alimentos frescos. Cabe ressaltar que diferentemente do sódio, cuja oscilação da

excreção urinária é pequena no período diurno para noturno, a excreção urinária de

potássio é bem maior durante o dia e pequena no período diurno, dificultando

estabelecer uma estimativa de consumo para este eletrólito. O maior consumo de

potássio parece ser uma fator protetor no desenvolvimento de hipertensão arterial,

assim o suplemento de potássio poderia prevenir o desenvolvimento de hipertensão(

Morris et al, 1999).

Vários dados sustentam a idéia de que a Há é determinada em parte pela

interação de fatores genéticos e fatores ambientais no qual a ingestão de Na é o mais

importante (Mc Gregor , 1883; Carvalho et al, 1989)

Uma recente meta-análise verificou em 20 populações que reduziram a excreção

de sódio na ordem de 40-100mmol/dia a renina plasmática sofreu um aumento em 1.8 e

aldosterona de 2.3 vezes (P<0,001). Neste mesmo trabalho ainda foi observado um

aumento significativo de renina, noradrenalina, colesterol e de LDL-c nos grupos de

restrição de Na+(Graudal et al, 1998). Teria a restrição salina efeitos adversos no perfil

lipídico?. Foi cogitado que estes achados poderiam ser devido aos desvios do balanço

hídrico como a hemoconcentração, esta premissa é sustentada devido à redução de

peso que ocorre no grupo de restrição salina, refletindo diminuição da água corporal

total. A hemoconcentração “per se” torna-se um fator de risco não esclarecido. Oliver et

al 1975, também encontraram níveis de renina 3 vezes maiores e a excreção e

aldosterona 10 x maior que controles normais nos Yanomamis. A ativação

compensatória do SRAA é proporcional ao grau de restrição salina.

3. PREVALÊNCIA DE FATORES DE RISCO

3.1. Obesidade

No grupo étnico Guarani a altura foi significativamente mais baixa 1,52 m ±0,22

do que nos grupos Tupiniquin (1,60± 0,17) e não indígenas (1,61±0,09). Não houve

diferenças significativas do peso, índice de massa corporal e da circunferência da

cintura entre os grupos, sendo seus valores médios globais, respectivamente de

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(65,4±12,3 kg; 25,4±4,4kg/m e 84±10,6cm). Os valores de altura nos Guaranis são

compatíveis aos encontrados por Cardoso em um grupo de 193 Guaranis no Rio de

Janeiro. Bem como valores de peso e de IMC. (Cardoso et al, 2000).

A prevalência de obesidade vem aumentando nas populações indígenas,

principalmente devido à alteração da composição dietética. A dieta que antes era

baseada no consumo de frutas e vegetais e alimentos frescos, baixo consumo de sal e

gorduras e alto de teor de fibras muitas vezes até vegetariana vem sendo substituída

por alimentos ricos em gorduras saturada, açucares de rápida absorção, além do

elevado consumos do sal levando a maior retenção hídrica e expansão do volume

extracelular( Feng J He et al, 2001). Durante o trabalho de campo ainda que não tenha

sido possível realizar inquérito detalhado acerca do consumo alimentar, observou-se

que a dieta era predominantemente composta de produtos amiláceos, industrializados,

tais como arroz polido, macarrão e farinha de mandioca, pães e biscoitos.

Nos Estados Unidos com os programas de saúde pública implementados nas

comunidades indígenas na década de 70, visando a diminuição da mortalidade infantil,

obteve-se melhoria no controle da desnutrição, entretanto a partir de 1994 passou-se a

observar aumento da obesidade em tanto em adultos e posteriormente em

adolescentes e crianças(Story et al, 2003). No Brasil ainda enfrentamos problemas

relacionados à desnutrição e altos índices de mortalidade infantil nestas comunidades,

bem como são escassas as informações sobre prevalências de agravos nos serviço de

saúde indígenas.

No Strong Herat Study a obesidade teve uma correlação negativa com DCV

tanto no sexo masculino quanto no feminino. É muito difícil entender esta relação

negativa, mas é possível que este fato seja devido que nos indivíduos com diabetes de

longa duração, particularmente aqueles com doença renal já instalada e perda de

peso(portanto de alto risco de DCV), isto não tenha sido levado em conta na análise

multivariada (Howard et al 1999).

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Pacientes hipertensos tem mais obesidade e intolerância a glicose que

normotensos, vários relatos correlacionaram resistêrncia a insulina e hipertensão

arterial, entretanto as relações entre as concentrações de insulina pressão arteial

explicam muito pouco da diferenças étnica na prevalência de HA (Haffner ewt al 2002).

3.2. DIABETES MELLITUS

No nosso estudo observamos apenas 1 caso de diabetes nos 60 indivíduos

estudados. Não houve diferenças quanto à prevalência de diabetes entre os grupos.

Entre os 496 Tupiniquins 4,2% apresentavam diabetes, enquanto que outros 4,6% já

estavam com valores anormais de glicose. Considerando-se que estas Comunidades

apresentam hábitos de vida semelhantes as comunidades vizinhas locais no que diz

respeito a introdução de açúcar refinado e de carboidratos na dieta, estes valores

podem ser considerados baixos levando-se em conta a presença de um número

crescente de indivíduos considerados como obesos(IMC≥30). Quando analisamos os

valores médios de glicemia, os Guaranis (78,7±12,0 mg/dL) foi significativamente

menor do que a dos Tupiniquins (92,2±16,4mg/dL) e não índios 91,3±21,6mg/dL).

Assim, apesar da tendência a obesidade, os valores de glicemia ainda são

comparáveis ao de pequenos grupos indígenas isolados onde certamente não houve

a introdução de açúcar , álcool e com altos gastos energéticos diários.

O aparecimento de diabetes tem sido motivo de intensa preocupação na

condução de políticas de saúde relacionadas ás populações indígenas da América

do Norte. Isso se deve ao fato de um aparecimento exageradamente elevado desta

doença nestas populações após o advento de um estado de abundância alimentar,

hoje traço comum de comunidades ocidentais de alto poder aquisitivo. Assim a

prevalência de diabetes é de 22,3 por 1000 na faixa etária de 10-14 anos e de 50,9

por 1000 no grupo de 15 a 19 anos na população dos índios PIMA que habitam o sul

dos Estados Unidos. Essa é considerada a mais alta prevalência de diabetes mellito

não insulino dependente no mundo (American Diabetes Association).

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A incidência de DCV e eventos coronarianos em estão aumentando,

principalmente nas Comunidades indígenas do Arizona. O Diabetes é o determinante

mais forte nessas Comunidades. A hiperglicemia pode contribuir para aterosclerose

provocando disfunção endotelial e produtos finais de glicação que podem gerar

disfunção miocárdica. O diabetes independente de estar associado ao aumento de

índice de massa corporal e aumento dos níveis de pressão arterial, esta implicado no

aumento da massa ventricular esquerda e diminuição da função cardíaca. Trabalho

feito em indígenas norte americanos mostrou diferenças no espessamento de parede

de ventrículo esquerdo, na fração de ejeção (Chinali et al, 2004).

O agrupamento de diabetes, elevados níveis de triglicerídeos, baixo HDL-c

colesterol, obesidade abdominal é conhecido como síndrome metabólica e indivíduos

portadores desta síndrome tem maiores taxas de doença cardiovascular. Uma

explicação para este fato aceleração dos processos de aterosclerose e de propensão

a eventos trombóticos. Nestes indivíduos a aterosclerose é maior e a função

fibrinolítica é anormal, especificamente o ativador do plasminogênio tecidual e o fator

inibidor do plasminogênio estão aumentados em pacientes com diabete tipo 2

(Anand et al , 2003). Em Indígenas participantes do Strong Heart Study que

possuíam níveis mais elevados de fibrinogênio tinham menor contractilidade

miocárdica, avaliada através de ecocardiograma (Palmieri et al, 2001).

3.3. TABAGISMO E ALCOOLISMO

A prevalência de Tabagismo foi significativamente maior na etnia Guaranis(60%)

do que nos Tupiniquins(33%) e não índios(26,3%). Entre os Guaranis o hábito de

fumar, principalmente cachimbo é bastante comum inclusive entre as mulheres. Na

Etnia Tupiniquim e nos indivíduos não indígenas 41,5% faziam uso regular de bebidas

alcoólicas. Entre os Guaranis 45% consomem regularmente algum tipo de bebida

alcoólica. O tipo de bebida de maior consumo nestas reservas foi à cerveja nas duas

etnias. Os padrões no consumo de bebidas alcoólicas variam bastante baseado em

diferenças culturais do consumo de álcool entre as populações, considerações sobre

estas variações podem melhorar a eficiência dos programas de prevenção de

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alcoolismo em populações indígenas. Em indígenas Norte- americanos, por exemplo

são descritos altos índices de consumo de bebidas alcoólicas, morbidade e mortalidade

relacionados ao álcool( O’Connel et al, 2005).

3.4. Hipertrofia Ventricular Esquerda

Existe uma controvérsia a respeito dos padrões eletrocardiográficos em

diferentes etnias devido ao potencial de fatores de confusão como: socioeconômicos,

nutricionais ambientais e ocupacionais. Neste estudo observamos que principalmente

nos indivíduos Tupiniquins, significativamente mais altos do que os Guaranis houve

qrande proporção de diagnóstico de HVE, quando se adotava o critério de Sokolow-

Lyon. Cabe notar também esses indivíduos com diagnóstico falso positivo de HVE,

eram em sua maior parte motosserristas, que trabalhavam para Aracruz-Celulose. Um

trabalho recente realizado com 597 indivíduos de etnias distintas, concluiu que as

amplitudes de ECG diferem entre grupos étnicos mesmo quando outros fatores são

semelhante e que o critério de Sokolow-Lyon de 3,5mV pode superestimar a incidência

de HVE em alguns grupos étnicos. Ondas R altas em V1 são comuns em adultos

saudáveis em certos grupos étnicos (Mansi & Nash,2004).

3.5. Hipertensão

Na figura 3 observamos que os níveis de pressão arterial sistólica e diastólica

são menores nas aldeias Guaranis (Três Palmeiras, Boa Esperança) demonstradas em

conjunto e aumentam nas aldeias Tupiniquins da aldeia com menor grau de

miscigenação étnico racial (Caieras Velhas) encontrando-se os maiores níveis

tensionais, bem como uma maior prevalência de hipertensão arterial na aldeia de Páu

Brasil . Existe um componente importante de miscigenação tanto em populações que

imigram quanto populações que permaneciam isoladas há 20-50 anos atrás. Em nosso

estudo a comunidade tupiniquim apresenta nitidamente maior miscigenação e níveis

tensionais mais elevados em relação as comunidades guaranis onde por tradição não

se permite casamento dos aldeãos com ou indivíduos não pertencentes a mesma etnia.

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Vários estudos relatam aumento de pressão arterial nos indivíduos que se deslocam de

uma determinada região de origem, atribuem aos fatores ambientais a responsabilidade

por este aumento. Entretanto, estes estudos muitas vezes reportam dados após 50

anos de imigração e torna-se difícil mensurar o grau de miscigenação ocorrido nestas

populações tanto nos indivíduos que imigraram, quanto naqueles que permaneceram

nas Comunidades de origem, onde provavelmente com o tempo já ocorreu o contato

com a civilização.

Nos índios Yanomamis onde não foi observado aumento da pressão com a idade

no estudo INTERSALT, além do baixíssimo consumo de sal (0,9 mmol/24h), a media

dos níveis de colesterol total era de 122 mg/L no sexo masculino e de 142 mg/L no

feminino, não eram obesos e não havia nenhum consumo de álcool (Mancilha-Carvalho

& Souza e Silva, 2003).

4. SUSCEPTIBILIDADE GENÉTICA A HIPERTENSÃO ARTERIAL

Um achado muito interessante neste estudo foi que os indivíduos que

apresentavam história familiar de hipertensão (pré-dispostos), apresentaram níveis de

volume urinário, sódio urinário e de pressão arterial diastólica significativamente mais

elevados do que aqueles sem história de familiares com HA (P<0,01)(Tabela 16). O

sódio aumentado nos familiares de hipertensos pode denotar um maior apetite pelo sal

geneticamente influenciado. Ou ainda que um fator ambiental (maior consumo de sal)

leva expansão do volume extravascular e ao aumento de pressão arterial diastólica

nestes familiares de hipertensos. Esta interação de fator ambiental e genético pode ser

avaliada de várias formas.Também pode denotar a sensibilidade ao sal presente nos

predispostos uma vez que tiveram uma resposta de aumento pressão diastólica frente

ao maior consumo de sal. Moraes demonstrou que indivíduos normotensos jovens com

forte predisposição familiar tinham pressão arterial mais elevada do que não

predispostos somente quando ingeriam quantidades aumentadas de sódio. Os não pré-

dispostos não tinham pressão arterial mais elevada mesmo ante a alta ingestão de

cloreto de sódio (Moraes et al, 2000).

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Do ponto de vista da prevalência de fatores de risco cardiovascular as

populações que habitam as reservas indígenas do Espírito Santo possuem baixas

prevalências de dislipidemias, diabetes e de hipertensão arterial quando comparadas a

estudos de prevalência de populações urbanas e rurais brasileiras e de outras

populações indígenas brasileiras. (Pavan et al, 1999). A concentração de colesterol

encontrada é pouco superior à encontrada em estudo de 62 indígenas Yanomamis

adultos com média de idade de 36,8 no sexo masculino e de 35 anos no feminino,

sendo que as médias de peso e IMC no nosso estudo foram maiores das encontradas

nos Yanomamis, cuja altura era de 1,51± 3,3 nos homens e de 142,nas mulheres.

Mancilha Carvalho & Crews,1990). Neste estudo observamos altas prevalências de

sobrepeso, obesidade, tabagismo. Além de uma estimativa de alto de consumo de sal,

compatíveis as das populações urbanas, entretanto principalmente no que diz respeito

à etnia Guarani os níveis de pressão arterial e a prevalência de HÁ se mantém baixos,

falando a favor da contribuição genética, uma vez que nestas Comunidades mesmos os

Guaranis não mantém estilo de vida tradicional, pelo menos no que diz respeito a já

haver um contato próximo com a civilização, a dieta conter alimentos industrializados e

estilo de vida mais sedentário.

A principal variável que foi relacionada a PA na etnia guarani foi a relação cintura

quadril. Enquanto que nos tupiniquins a idade é o principal determinante de pressão

arterial no modelo pela análise de regressão múltipla, nos guaranis a idade foi excluída

do modelo. Uma diminuição progressiva dos fatores de relaxamento derivados do

endotélio com aumento da idade têm sido observada nos estudos de seguimento.

Existem evidências de que com o aumento da idade haveria uma prepoderância de

fatores constrictores sobre os vasos dilatadores. O endotélio tem seu papel regulatório

primário em inibir agregação e adesão de plaquetas e outras células do sangue,

mantendo fluxo sanguíneo nos vasos. Além disso, ele participa ativamente produzindo

substâncias que modulam o tônus do músculo liso vascular, ativam e inativam

hormônios locais, fatores envolvidos na coagulação sanguínea e transporte capilar.

Modula o tônus gerando substâncias vaso dilatadoras (òxido Nítrico, Fator

hiperpolariazante derivado do endotélio, prostaciclinas) e substâncias vasoconstrictoras

(Angiotensina II, endotelina, prostaglandina e troboxano A). Sob condições basais a

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produção de óxido nítrico (ON) está diminuída em pacientes com hipertensão (Forte,

1997) e o prejuízo na liberação de óxido nítrico está implicado no desenvolvimento de

HÁ que ocorre com a idade, hipercolesterolemia, diabetes, sedentarismo e tabagismo

(Anggard, 1994).

A PA é o fenótipo final resultante do impacto entre as influência ambientais e a

expressão de grande número de genes. A expressão do gene é continuamente

modificada por condições ambientais que influenciam as células, os tecidos, órgãos e

finalmente o corpo como um todo. Uma vez que a PA é uma herança poligênica, a

mesma população pode expressar diferentes heranças sob condições ambientais

diferentes. Também é esperado que membros de um mesmo grupo étnico

compartilhem mais genes que pessoas de diferentes origens. Entretanto, a PA de

negros norte-americanos é significativamente mais alta do que negros no sub Saara

africanos (Wilson, 1991). Estas diferenças entre negros norte-americanos e africanos

têm sido atribuídas, entre outros ao stress psico-social vivido por uma minoria oprimida,

concomitante com baixas condições socioeconômicas (James, 1996). Além disso,

grupos de qualquer raça vivendo em condições de vida mais primitiva tendem a ingerir

menos sal, permanecer menos obesos e a ser menos hipertensos. Quando eles migram

para áreas urbanas e se adaptam a estilos de vida mais modernos ingerem mais sal, se

tornam mais sedentários, ganham mais peso e desenvolvem mais HÁ (poulter, 1990).

Apesar da distribuição semelhante de fatores de risco cardiovascular a

prevalência de Hipertensão Arterial é significativamente menor na etnia guarani, mesmo

após o ajuste para idade. Grupos étnicos diferentes apresentam diferenças quanto à

prevalência e gravidade de HA. Isso não pode ser atribuído exclusivamente a

diferenças sócio-econômicas e culturais, mas também a fatores genéticos. Mesmo entre

indígenas norte americanos, apesar da grande prevalência de diabetes e obesidade as

taxas de hipertensão ainda são menores do que a população norte americana em geral.

Os negros não só tem maior prevalência de hipertensão arterial como quando

presente esta se manifesta de forma mais grave e apresentam maior dificuldade de

controle pressórico uma vez instituído tratamento (Ferdinand, 2006).

O sistema mais estudado relacionado a hipertensão e genes candidatos é sem

dúvida o sistema RAA. Nenhuma variante genética dentro do sistema parece se

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destacar nos estudos de associação (Yagil & Yagil, 2005). Cada vez mais aumentam-se

a complexidade das análises. Quando Bouzekri et al em 2004, analisaram seus dados

utilizando os marcadores genéticos isoladamente não se encontrou nenhuma

associação significativa com a PA, entretanto quando fizeram a análise de haplótipos as

associações se tornaram evidentes. Os pesquisadores também perceberam que os

mecanismos envolvendo os vários componentes de pressão arterial podem não ser os

mesmos. Conseqüentemente o fenótipo pressórico pode ser subdivido em componente

sistólico, diastólico e pressão de pulso, sendo a idade e gênero fatores de confusão.

Neste estudo somente na etnia tupiniquim e especificamente no componente

diastólico foi encontrada uma associação positiva com o polimorfismo I/D da ECA. Esta

se tornou ainda mais consistentes quando o genótipo DD foi aliado ao DI para as

análises. O polimorfismo I/D da ECA foi capaz de predizer aumento na pressão de

pulso, somente nos homens com mais de 50 anos no estudo de Safar (Safar et al,

2004). O polimorfismo I/D da ECA foi associado à redução de PAD com a idade,

somente em homens e com mais de 50 anos (Rudnichi et al, 2004).

Indivíduos pertencentes as mesma famílias compartilham um número maior de

genes, bem como de fatores comuns em seu meio ambiente tais como posição

socioeconômica, hábitos dietéticos, atitudes familiares, hábitos de saúde, etc. Estas

condições podem condicionar a níveis comuns de pressão sistólica, expressado um

agrupamento dos níveis de PAS dentro de grupos familiares. A forma com que o nível

de PAS se eleva com a idade também é condicionada por fatores genéticos (turner &

Boerwinkle, 2003). O polimorfismo I/D da ECA aparece como candidato deste possível

agrupamento dos níveis de PAS dentro de famílias (Merlo et al, 2006). Os níveis de

ECA são altamente herdados e mostram grandes variações interindivíduo (Allec gellas

et al, 1991). Foi mostrado que o polimorfismo I/D da ECA colabora com cerca de 47%

da variação das concentrações plasmáticas da ECA, entretanto é possível que o

polimorfismo ‘per se’ possa não ser o responsável pelos níveis de ECA, mas algum

outro polimorfismo desconhecido que esteja em desequilíbrio de ligação próximo ao

lócus do gene I/D da ECA (Rigat et al, 1990).

O polimorfismo M235T do At foi associado a maiores níveis pressóricos em uma

série de estudos. O estudo randomizado da população de urbana de Vitória que

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envolveu 1507 participantes encontrou uma forte associação do alelo 235T do At e

fenótipos de pressãp arterial, independente do gênero (Pereira et al, 2003). Neste

estudo, a associação da variante polimórfica 235T do At foi encontrada somente com o

componente diastólico da PA. Uma limitação do estudo é que devido ao número restrito

de participantes a análise estatística perde sua força, se tornando difícil evidenciar as

associações.

Neste estudo os Guaranis que tem alta freqüência do genótipo TT, possuem

pressão mais baixa. O genótipo TT provavelmente não é causalmente associado ao

desenvolvimento de HAS. Em recente estudo, o polimorfismo I/D da ECA não contribuiu

para presença ou gravidade da HÁ, enquanto que o poilimorfismo TT do

Angiotensinogênio conferiu diminuição do risco em se desenvolver hipertensão,

contrariando dados de outros onde o alelo TT é associado ao maior risco de HÁ

(Mondey et al, 2005). Em um estudo recente em afro brasileiros o polimorfismo DD da

ECA foi relacionado à hipertensão em indivíduos do sexo masculino maiores de 40

anos (P<0,05). (Sakuma et al, 2004).

Estes dados fornecem indícios que provavelmente este genótipo não seria

causamente associado ao desenvolvimento de HÁ. A substituição de adenina por

guanina no nucleotídeo-6, Polimorfismo G(-6)A, tem mostrado influenciar as taxas de

transcrição basal do gene do angiotensinogênio in vitro , podendo ser causador da

elevada expressão de AGT (Inoe et al, 1997). Além disso, o alelo – 6A foi associado a

maiores níveis de PAS em caucasianos e negros americanos (entretanto não existem

evidências de que o polimorfismo afete a função do angiotensinogênio), O que pode

significar que outros genes podem ser responsáveis pela doença primária que pode ser

agravada ou acelerada em diferentes órgãos. A hipertensão é uma doença complexa

com componente genético bem documentado. A interação de múltiplos genes de efeito

fracos a moderados poderia justificar a falta de consistência dos diferentes estudos de

associação.

A associação de estudos fora do sistema RAA fornece dados adicionais que

cobrem múltiplas vias fisiopatológicas que podem estar envolvidas na HÁ. Como estes

genes interagem resultando na HÁ ainda está longe de ser compreendido.

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4. LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Uma das limitações deste estudo é a desproporção do número de indivíduos da

etnia Guarani (n=60), comparados com a etnia Tupiniquim (n= 496). Um outro fator

interessante é a presença de indivíduos (n=114) de outras etnias que habitam a área de

reserva, em sua grande maioria outros mestiços não nativos nas áreas de reserva e,

portanto não reconhecidos como de ancestralidade Tupiniquim pelos próprios índios.

Mesmo assim, devido à escassez deste tipo de estudo com populações indígenas,

podemos observar que o número de participantes é superior a todos trabalhos deste

tipo conduzidos em indígenas na América do Sul (Santos & Coimbra, 1996;

Tavares,2002, Pavan,1999, Santos et al, 1997), as análises de prevalência de Fatores

de Risco foram destinadas a população adulta >20 anos, um outro fator limitante do

número de participantes.

Apesar destas limitações obtivemos um alto índice de participação,

principalmente nas Comunidades Tupiniquins e o relato dos principais fatores de risco

de doença Cardiovascular nestas Comunidades, poderá servir de base para

implementação de medidas de saúde pública nestas populações, uma vez que as taxas

de obesidade e sobrepeso tendem a se igualar as da população geral. Como as

análises foram restringidas a indivíduos com idade igual ou maior do que 20 anos, não

há como dizer como as mudanças de hábitos destas comunidades estarian afetando o

contigente infanto-juvenil.

Apesar do pequeno número de guaranis estudado os dados de prevalência de

HÁ não são diferentes do encontrado por Cardoso nos Guaranis Mybá do Rio de

Janeiro e da prevalência de hipertensão em Xavantes de Pimentel Barbosa (Cardoso et

al, 2002, Coimbra Jr. Et al, 2001). Neste estudo, a prevalência de hipertensão nos

tupiniquins pode ser considerada elevada, nossos dados foram compatíveis com os do

serviço de saúde indígena local e cerca de 80% dos hipertensos tinham conhecimento

deste diagnóstico. Apesar de 84% relatar ter aferido a PA alguma vez, esta prática é

pouco freqüente entre os indivíduos saudáveis, em outros até causa estranheza. Entre

os mais idosos não são muitos os que recorrem a US. Uma explicação possível para a

elevada prevalência de hipertensão observada nos tupiniquins seria o efeito ‘white coat’

que já evidenciou diferenças importantes nas medidas pressóricas, sobretudo em

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negros e brancos (Mayet et al, 1998). Apesar das visitas domiciliares agendadas com

consentimento dos chefes das famílias, em cerca da metade dos participantes apenas

foi aferida a pressão arterial na visita domiciliar. Os pacientes tendem a adaptar-se ao

procedimento de medida da pressão arterial apresentando valores progressivamente

menores em ocasiões subseqüentes decorrentes dentre outros fators do fenômeno de

regressão em torno da média. Este efeito foi observado por Fuchs num estudo

envolvendo 58 indivíduos submetidos a seis medidas consecutivas da pressão arterial

por seis dias consecutivos (Fuchs et al, 1997). Não se pode excluir a possibilidade da

existência de diferenças entre os grupos étnicos envolvidos.

Neste estudo, bem como nos estudos com indígenas norte-americanos fica

evidente a escassez de recursos econômicos destas populações. As diferenças sócio-

econômicas estão implicadas na alteração de parâmetros antropométricos de vários

grupos indígenas, no estudo realizado nos índios Suruí foi evidenciada alterações da

morfologia corporal em diferentes grupos socioeconômicos (Santos & Coimbra, 1996).

Este processo parece ser explicado por múltiplos fatores, sobressaindo obesidade,

acúmulo de gordura abdominal resultante das mudanças sócio-econômicas,

comportamento de padrão alimentar, imposta pela escassez de recursos naturais para

subsistência e por situações adversas, como conflitos e disputas territoriais vividas

pelos indígenas. Existe um consenso geral em como se avaliar a participação de

fatores sócios econômicos ao se comparar à prevalência e gravidade da HA entre

grupos raciais (Kaplan & Keil, 1993). Vários estudos têm indicado a existência de uma

relação inversa entre o nível sócio-econômico e a PA, inclusive estudos brasileiros

(Martin et al, 1997, Mill et al, 2004). A prevalência de hipertensão encontrada entre os

participantes do projeto MONICA/OMS/Vitória, sobretudo na raça negra pode ser um

reflexo do ineficiente controle epidemiológico que o Brasil tem sobre os fatores de risco

de doença Cardiovascular (Ferreira et al, 1999).

O fato desta população ser de etnia indígena se tornou um atrativo para o estudo

de possíveis marcadores genéticos de HÁ, entretanto a miscigenação presente nas

aldeias tupiniquins principalmente com negros, dificulta as análises. Ainda assim é

notável o predomínio da variante polimórfica 235T do angiotensinogênio 46%(n=288),

na grande maioria do total de participantes, contrastando com apenas 9,1%(n=59) de

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indivíduos MM. A criação do grupo de não índios, os quais foram estudados da mesma

forma que os indígenas, foi feita para criar dois grupos indígenas (guaranis e

tupiniquins) que fossem o mais puro possível do ponto de vista genético. Apesar da

precariedade da classificação fenotípica, os resultados encontrados entre os

marcadores de tipagem sanguínea e dos polimorfismos gênicos sugerem que os dois

grupos indígenas são bem diferentes dos demais (não índios).

Ainda que a população estudada já tenha sofrido um processo de miscigenação,

ao longo dos anos estudos como este são necessários para avaliar a possível ligação

entre HA e genes candidatos.

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CONCLUSÕES

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106

VIII. CONCLUSÕES

Os tupiniquins e outros mestiços apresentaram maiores prevalências de

hipertensão arterial (20 e 17,5%) comparados aos Guaranis (1,5%). A prevalência de

tabagismo foi maior no grupo Guarani (60%) do que nos Tupiniquins (33%) e não índios

(26,3%) x2=0,001. Não houve diferenças estatísticas nas prevalências de obesidade,

diabetes e hipercolesterolemia entre os grupos, sendo de respectivamente (22,8, 1,5 e

50,9%) Guaranis (14,9, 4,2 e 40,7%) nos Tupiniquins e (11,4, 6,1 e 44,7%) outros

mestiços. Os níveis de pressão arterial foram menores nos Guaranis 107± 14/67±10

mmHg do que nos Tupiniquins 122±20/82±11 mmHg P<0,001, mesmo após ajuste para

Idade, P<0,01. A prevalência de fatores de risco pesquisados foi menor do que as

populações urbanas com idade similar. Entretanto a prevalência de obesidade,

tabagismo e mesmo dislipidemia e diabetes mostram tendência a aumento nestas

populações.

Os elevados níveis de excreção urinária de sódio e baixos níveis de excreção de

potássio são compatíveis com as alterações de hábitos alimentares pelos quais esta

população vem sendo submetida. O consumo de sódio estimado em 13g/dia é similar

aos valores encontrados na população urbana de Vitória.

Nos Tupiniquins as taxas de HA já são comparáveis aos da população geral.Nos

Guaranis dos 60 indivíduos analisados foi encontrado um caso de hipertensão.

Observamos um aumento linear da PAS e PAD com a idade, os Guaranis apresentaram

coeficientes angulares mais baixos (PAS=93,7 + 0,405 x idade) r=0,39 comparado aos

Tupiniquins (PAS= 93,6 + 0,77 x idade) r= 0,5 e não índios (PAS= 91,33 + 0,74 x idade)

r= 0,47, P = 0,012. No modelo ajustando idade, sexo e IMC a análise de regressão

logística evidenciou um risco aumento de HA nos Tupiniquins e outros mestiços. Os

baixos valores de pressão arteriais, não se mantêm com a idade. Os coeficientes

angulares são mais baixos nos Guaranis, mesmo com alto consumo de Na+.

A idade e o RCQ foram usados isoladamennte na análise de regressão múltipla,

este modelo ajusta 42% da variabilidade dos dados (P=0,000) nos Tupiniquins. Os

resíduos apresentam distribuição normal (P=0,006). Nos Guaranis apenas o RCQ se

mantém no modelo.

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A distribuição do polimorfismo M235T do AT foi de: 74,4%(TT), 21,6%(MT) e

3,9%(MM) para os Guaranis, 43%(TT), 47,9%(MT) e 9,1%(MM) nos Tupiniquins e

49,1%(TT), 39,3%(MT) e 11,6%(MM) nos outros mestiços. Fatores genéticos são

importantes para explicar diferenças na pressão arterial de indígenas vivendo sob

influência ambientais semelhantes. Em Vitória o genótipo TT foi associado com

aumento de PA. Neste estudo os Guaranis que tem alta freqüência do genótipo TT,

possuem pressão mais baixa. O genótipo TT provavelmente não é causalmente

associado ao desenvolvimento de HAS.

Os resultados sugerem a necessidade de uma abordagem mais intensa

direcionada para o controle dos fatores de risco e na prevenção de doenças

cardiovasculares nestas comunidades. Recomendações para controle do peso corporal,

abandono do hábito de fumar, evitar consumo excessivo de sal e gorduras saturadas e

a prática de atividades físicas com regularidade, são medidas essenciais na abordagem

das doenças cardiovasculares. Dados de estudos em diferentes etnias tem reafirmado

estas necessidades, uma vez que não está claro como variantes genéticas podem

interagir com fatores ambientais e propiciar o desenvolvimento de doenças como

diabetes e hipertensão. O que se sabe sim, é que há uma tendência mundo afora do

aumento das taxas de prevalência destes agravos.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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