autoria: fábio lazzarotti, michael samir dalfovo, … · 2 introduÇÃo desde os escritos mais...

17
1 O Quê, Como e Onde da Inovação: Análise da Produção Científica em Administração sob a Perspectiva da Abordagem de Schumpeter Autoria: Fábio Lazzarotti, Michael Samir Dalfovo, Valmir Emil Hoffmann RESUMO O objetivo deste trabalho foi analisar o tema inovação a partir da publicação científica recente, tendo como base a Teoria do desenvolvimento econômico. O tema da inovação tem crescido no Brasil, com novos grupos de pesquisa surgindo e até mesmo com programas de pós-graduação elegendo-o como área de interesse específica. No campo da inovação têm-se como referência os estudos de Schumpeter, os quais têm contribuído para a evolução do conhecimento nessa área. Embora também haja críticas às ideias de Schumpeter, não restam muitas dúvidas quanto às origens da discussão acadêmica sobre a inovação. Para muitos autores, Schumpeter é considerado referência, profeta e pai dos estudos da inovação em razão do impacto dos seus trabalhos na academia. A escolha dos periódicos como fonte de coleta dos dados seguiu três critérios: (1) periódicos com classificação Qualis no sistema de avaliação da CAPES na área de administração; (2) que os periódicos apresentassem o eixo central de suas linhas de pesquisa na inovação e/ou gestão da inovação; (3) e, que os periódicos tivessem abrangência nacional e/ou internacional. Dessa forma, foram detectados dois periódicos nacionais e dois internacionais. O tratamento dos dados foi feito com estatística descritiva, e para determinar os temas presentes nos artigos foram utilizadas as sete categorias derivadas do texto seminal de Schumpeter. Foram encontrados 616 trabalhos e, desses, 489 se enquadraram no escopo do presente artigo. Os resultados demonstraram uma ampliação de mais onze categorias no âmbito da inovação, e as de maior predominância nos artigos analisados são as que versam sobre ‘recursos, capacidades e competências organizacionais; conhecimento e aprendizagem’ e ‘gestão da inovação; empresas inovadoras, inovação organizacional e tecnológica’. O tema ‘novo produto ou serviço’, decorrente do texto original de Schumpeter, foi o terceiro mais investigado. Identificou-se, que cerca de 90% dos autores publicaram ou participaram da publicação de apenas um trabalho. Entre as instituições que apresentaram mais produção científica com enfoque na inovação, tem-se a Universidade de São Paulo. Com relação à metodologia empregada pelos autores, 67% dos trabalhos é de natureza teórico-empírica. Constatou-se ainda que ‘empresas e/ou organizações’ foi o principal objeto de estudo dos pesquisadores com 41,7% do total analisado. Das obras mais citadas, destaque para o livro de Tidd; Bessant, e Pavitt. Em atenção às obras de Schumpeter, a de maior evidência é Teoria do desenvolvimento econômico com 37 ocorrências. Conclui-se que a discussão do tema inovação está muito além dos casos de inovação apresentados por seu autor seminal no início do século XX, porém, os escritos do autor influenciaram o desenvolvimento de muitos trabalhos e, ao que tudo indica, tende ainda a inspirar muitas pesquisas que seguirão nos próximos anos. As limitações do estudo estão relacionadas aos resultados encontrados nos periódicos selecionados a partir do sistema Qualis da CAPES na área de administração, com o foco restrito em inovação.

Upload: nguyendiep

Post on 11-Sep-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

O Quê, Como e Onde da Inovação: Análise da Produção Científica em Administração sob a Perspectiva da Abordagem de Schumpeter

Autoria: Fábio Lazzarotti, Michael Samir Dalfovo, Valmir Emil Hoffmann

RESUMO O objetivo deste trabalho foi analisar o tema inovação a partir da publicação científica recente, tendo como base a Teoria do desenvolvimento econômico. O tema da inovação tem crescido no Brasil, com novos grupos de pesquisa surgindo e até mesmo com programas de pós-graduação elegendo-o como área de interesse específica. No campo da inovação têm-se como referência os estudos de Schumpeter, os quais têm contribuído para a evolução do conhecimento nessa área. Embora também haja críticas às ideias de Schumpeter, não restam muitas dúvidas quanto às origens da discussão acadêmica sobre a inovação. Para muitos autores, Schumpeter é considerado referência, profeta e pai dos estudos da inovação em razão do impacto dos seus trabalhos na academia. A escolha dos periódicos como fonte de coleta dos dados seguiu três critérios: (1) periódicos com classificação Qualis no sistema de avaliação da CAPES na área de administração; (2) que os periódicos apresentassem o eixo central de suas linhas de pesquisa na inovação e/ou gestão da inovação; (3) e, que os periódicos tivessem abrangência nacional e/ou internacional. Dessa forma, foram detectados dois periódicos nacionais e dois internacionais. O tratamento dos dados foi feito com estatística descritiva, e para determinar os temas presentes nos artigos foram utilizadas as sete categorias derivadas do texto seminal de Schumpeter. Foram encontrados 616 trabalhos e, desses, 489 se enquadraram no escopo do presente artigo. Os resultados demonstraram uma ampliação de mais onze categorias no âmbito da inovação, e as de maior predominância nos artigos analisados são as que versam sobre ‘recursos, capacidades e competências organizacionais; conhecimento e aprendizagem’ e ‘gestão da inovação; empresas inovadoras, inovação organizacional e tecnológica’. O tema ‘novo produto ou serviço’, decorrente do texto original de Schumpeter, foi o terceiro mais investigado. Identificou-se, que cerca de 90% dos autores publicaram ou participaram da publicação de apenas um trabalho. Entre as instituições que apresentaram mais produção científica com enfoque na inovação, tem-se a Universidade de São Paulo. Com relação à metodologia empregada pelos autores, 67% dos trabalhos é de natureza teórico-empírica. Constatou-se ainda que ‘empresas e/ou organizações’ foi o principal objeto de estudo dos pesquisadores com 41,7% do total analisado. Das obras mais citadas, destaque para o livro de Tidd; Bessant, e Pavitt. Em atenção às obras de Schumpeter, a de maior evidência é Teoria do desenvolvimento econômico com 37 ocorrências. Conclui-se que a discussão do tema inovação está muito além dos casos de inovação apresentados por seu autor seminal no início do século XX, porém, os escritos do autor influenciaram o desenvolvimento de muitos trabalhos e, ao que tudo indica, tende ainda a inspirar muitas pesquisas que seguirão nos próximos anos. As limitações do estudo estão relacionadas aos resultados encontrados nos periódicos selecionados a partir do sistema Qualis da CAPES na área de administração, com o foco restrito em inovação.

2

INTRODUÇÃO Desde os escritos mais rudimentares sobre inovação até o desenvolvimento de uma abordagem mais densa e ampla para a atualidade, nota-se que ela recebeu uma vasta aplicação de conceitos nos mais diversos campos do conhecimento técnico-científico contemporâneo. A literatura demonstra esses novos e amplos caminhos que a inovação tem tomado, a ponto de ser utilizada em diversos contextos (FREEMAN, 1982a; MOINGEON e LEHMANN-ORTEGA, 2006).

Entretanto, é em Schumpeter (1997/1934), na sua abordagem para o desenvolvimento econômico, que a inovação é definida como a formação de novos produtos ou serviços, novos processos, matéria-prima, novos mercados e novas organizações. Em todos esses casos, para assegurar o conceito de novas combinações e se caracterizarem como inovadores é levado em conta que ninguém tenha lançado algo igual ou semelhante ou que tenha experimentado conhecido ou existido. Deve ser algo realmente novo, inédito para o mercado ou segmento de atuação da firma.

Sobre a conjectura atual das contribuições literárias referentes à inovação, e considerando que o próprio texto seminal de Schumpeter (1997/1934) abria várias possibilidades para a existência de inovação, parece relevante identificar as publicações para acompanhamento e evolução dos preceitos clássicos e as mudanças ocorridas no processo de expansão do conhecimento na área. Nesse sentido, uma possibilidade que parece pertinente é a dos estudos bibliométricos. Na área da inovação, verificam-se vários estudos bibliométricos que buscaram identificar e quantificar indicadores que auxiliem na mensuração de pesquisas em referência à inovação (CANTÍN; MONTENEGRO; MATURANA, 2006; MUÑOZ; MUÑOZ, 2006). Porém, não se encontrou estudos bibliométricos da inovação, à luz da Teoria do Desenvolvimento econômico de Schumpeter. Destarte, a relevância do presente estudo está calcada na identificação de possíveis lacunas de pesquisa, que leva em conta a origem da formação da abordagem teórica sobre inovação, como a que se verifica no trabalho de Schumpeter (1997/1934), para apontar novos caminhos às futuras pesquisas em inovação.

Na academia, as publicações encontram-se disponíveis nos periódicos científicos vinculados às diversas Instituições de Ensino Superior (IES). Nesse aspecto, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoa de Nível Superior (CAPES) possui um sistema que serve como indicador para pesquisadores brasileiros enquanto qualidade e visibilidade dos artigos publicados, o Qualis. Em pesquisa documental com acesso ao ambiente virtual Qualis identificou-se quatro revistas especializadas em Inovação na área de administração, a International Journal of Innovation Management (IJIM); a Journal of Technology and Management Innovation (JOTMI), a Revista de Administração e Inovação (RAI); e a Revista Brasileira de Inovação (RBI). Reconhece-se que outras publicações igualmente presentes no Qualis podem contemplar o tema. Entretanto, como o escopo deste trabalho se volta de maneira específica para o tema inovação, através de uma abordagem de bibliometria, compreende-se que isso pode ser mais bem atingido com esse recorte.

Assim, este artigo tem o objetivo de analisar o tema inovação a partir da publicação científica recente, tendo como base a Teoria do Desenvolvimento Econômico de Schumpeter (1997/1934) no campo da administração. De forma específica, busca-se identificar também autores e IES com maior quantidade de publicação, além do método empregado nas pesquisas e o objeto dos estudos em inovação.

O artigo está subdividido em quatro tópicos a partir da introdução. O primeiro tópico é abordado o referencial teórico que embasou a pesquisa para formação das categorias analisadas nos artigos orientados à inovação. O segundo tópico trata da metodologia, em que se descreve a operacionalização da coleta e análise dos dados. O terceiro tópico são apresentados e discutidos os dados sobre a produção científica em inovação. Por conseguinte,

3

o quarto tópico destina-se as considerações finais em função do objetivo de pesquisa e as possibilidades para futuros estudos.

REFERENCIAL TEÓRICO

Inovação parece que está na moda. É cada vez mais comum ouvir ou ver a palavra inovação não somente nas organizações, mas nos discursos políticos, nos textos jornalísticos e até nas rodas sociais. Desde os primeiros escritos que abordaram inovação aos dias atuais, percebe-se que o conceito, a aplicabilidade e a utilização do termo ampliaram-se e multiplicaram-se em diferentes áreas do conhecimento. Esse uso, praticamente indiscriminado do termo inovação, não raras vezes, tem levado a um entendimento equivocado do que seja inovação.

Embora haja relatos do uso da expressão inovação com o sentido de algo inusitado desde o final dos anos 1880, como em Walker (1888) e Andrews (1890), talvez nenhum desses precursores dos estudos da inovação foi tão influente quanto o economista Joseph Alois Schumpeter. De procedência das ciências econômicas, Schumpeter produziu artigos, ensaios e dezenas de livros na primeira metade do século XX, dos quais muitos são citados e utilizados até hoje em diferentes áreas do conhecimento, conforme relata Rubens Vaz da Costa no prefácio da edição brasileira de um dos principais livros escritos por Schumpeter: “Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico” (SCHUMPETER, 1997/1934). Inclusive, é nesse livro que Schumpeter apresenta uma das primeiras definições da inovação.

Essa obra caracteriza o fenômeno fundamental do desenvolvimento econômico, associado à inovação e ao empreendedorismo e tendo como base de seus estudos a empresa. Schumpeter (1997/1934) aborda o empreendedor enquanto indivíduo responsável por realizar combinações novas na economia, e demonstra a importância dos empreendedores para a explicação do crescimento econômico. O empreendedor, de acordo com o autor, é o sujeito que inova, que cria combinações novas na economia e altera o ambiente de negócios. Isto é, são os empreendedores, os realizadores, que têm iniciativa própria, criadores das empresas e os grandes responsáveis pela manutenção da economia capitalista.

Além da figura do empreendedor e da realização da inovação, Schumpeter (1997/1934) destaca também a importância do crédito. As empresas que desejarem inovar não devem financiar a inovação com o investimento financeiro da produção anterior. A realocação de meios produtivos do fluxo circular em novas combinações é considerada um problema, assevera Schumpeter (1997/1934). As empresas devem buscar o crédito, o qual é fornecido pelo que Schumpeter chama de “capitalistas” – conhecido atualmente de “investidores de risco” (HISRICH; PETERS, 2004).

Em relação à definição de inovação, ainda de acordo com Schumpeter (1997/1934), a mesma deve abranger cinco casos ou áreas na perspectiva de criação de novas combinações:

a) Introdução de um novo bem – refere-se a um novo produto ou serviço ou uma qualidade nova de ambos que ainda ninguém tenha lançado no mercado. A novidade se caracteriza de forma tal, que leva a firma a implementar atividades de reeducação dos consumidores para se familiarizarem com o novo bem;

b) Introdução de um novo método ou processo de produção – trata-se de uma nova forma de processar a produção ou de comercializar produtos ou serviços que ainda não tenha sido testada ou experimentada por nenhuma organização;

c) Abertura de um novo mercado – ocorre quando a firma cria ou desenvolve um novo mercado, onde ainda nenhuma outra empresa tenha entrado, tendo por base a área de um determinado país em questão, independente se esse mercado tenha existido ou não;

4

d) Conquista de uma nova fonte de insumos ou de bens semimanufaturados – é a criação ou a obtenção de uma nova origem de fornecimento de matéria-prima para a indústria e relaciona-se com o caso anterior, ou seja, independe se essa fonte tenha sido criada ou existida anteriormente;

e) Estabelecimento de uma nova organização de qualquer indústria – este caso, em geral, pressupõe a criação de um novo negócio ou de uma nova estrutura de mercado que é caracterizado por certa exclusividade da firma – monopólio – face à posição que poderá ocupar com a nova organização.

Tidd, Bessant e Pavitt (2008), todavia, em lugar de cinco casos de inovação, entendem que a inovação pode assumir quatro formas, que se aproximam daquelas anteriores descritas por Schumpeter (1997/1934): (a) Inovação de produto – mudanças nas coisas (produtos/serviços) que uma empresa oferece; (b) Inovação de processo – mudanças na forma em que os produtos/serviços são criados e entregues; (c) Inovação de posição – mudanças no contexto em que produto/serviços são introduzidos; (d) Inovação de paradigma – mudanças nos modelos mentais subjacentes que orientam o que a empresa faz.

A linha que divide um tipo de inovação de outro é muito tênue, observam Tidd, Bessant e Pavitt (2008). Às vezes, é difícil afirmar que determinada inovação tenha sucedido somente no produto, no processo ou em qualquer uma das outras formas. O que ocorre, é uma inovação híbrida. Os autores citam o exemplo de Henry Ford, o qual teria mudado o modelo de produção artesanal de carros – feitos sob encomenda – para uma produção de massa, a um preço mais acessível onde a maioria dos cidadãos americanos poderia pagar. Essa mudança obrigou a empresa de Ford a inovar no produto e, principalmente, no processo – com o desenvolvimento de novas máquinas, novos componentes, novo desenho industrial – para atender ao novo mercado de massa. Nesse caso, parece que houve uma inovação de paradigma, que orientou as inovações em produto, processo e posição.

Para além das definições, Tidd, Bessant e Pavitt (2008) destacam ainda, que a inovação pode ser dividida em dimensões, de acordo com o grau de novidade envolvido. Se a inovação acontece somente por meio de melhoria de componentes ou do desempenho de processos, sendo novidade somente para a empresa, tem-se a inovação incremental. Por outro lado, se ocorre uma mudança significativa ou avançada, como por exemplo, a criação de um novo componente e em que este seja novo também para o mercado, os autores denominam de inovação radical. Essa mesma classificação da inovação – incremental e radical – é trabalhada também por outros autores como Leifer, O’Connor e Rice (2002), e Cantú e Zapata (2006).

No entanto, o conceito original de inovação por Schumpeter (1997/1934) não trata dessa classificação – incremental e radical. Para o autor, inovação, conforme destacado anteriormente, é o que ainda ninguém fez e que, essencialmente, é o que há de novo para o mercado. Portanto, dentro do conceito de inovação apresentado por Schumpeter (1997/1934), inovação incremental parece não existir. Com base em seu conceito, privilegia-se a inovação radical.

Várias definições de inovação podem ser encontradas na literatura especializada. A maioria dos autores apresenta conceitos de inovação, destacando elementos que consideraram mais relevantes (CANTÚ e ZAPATA, 2006). Na busca de maior uniformidade conceitual, de compreensão dos processos inovadores e de padronização quanto ao uso de dados sobre atividades inovadoras da indústria, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE elaborou o Manual de Oslo que traz, além de conceitos e classificações, um conjunto de diretrizes e políticas para a mensuração da inovação em âmbito internacional.

De acordo com o Manual (OCDE, 2005, p.55), inovação é a “implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na

5

organização local de trabalho ou nas relações externas.” Em linhas gerais, o Manual de Oslo define quatro tipos de inovações: inovações de produto, inovações de processo, inovações organizacionais e inovações de marketing. Essa classificação parece contemplar parte das ideias de Schumpeter, faltando apenas a inovação de fornecimento de insumos.

As inovações de produto, conforme preconiza o Manual, são precedidas de mudanças substanciais nas características e/ou composição dos produtos ou serviços. Inovações de processo referem-se às mudanças significativas no método de produção ou de distribuição. As inovações organizacionais estão relacionadas à criação e desenvolvimento de novas formas organizacionais, bem como de mudanças na prática de negócios nos ambientes interno e externo da empresa. E quanto às inovações de marketing, são as mudanças no design do produto, mais especificamente na embalagem, no estabelecimento de novos métodos de precificação e na criação de novos mercados. (OCDE, 2005)

Algumas definições de inovação estão fortemente associadas à tecnologia e, inclusive, por vezes, os termos ‘inovação’ e ‘tecnologia’ são usados como sinônimos (ROGERS, 2003). Entretanto, pode-se distinguir inovação de ‘inovação tecnológica’, assim como é possível conceber diferentes aplicações da inovação – inovação organizacional, inovação social, inovação econômica, inovação tecnológica, inovação estratégica – levando-se em conta o processo de inovação e as diferentes áreas de atuação de uma organização (FREEMAN, 1982a; CANTÚ e ZAPATA, 2006).

Muitos autores entendem que a inovação tecnológica é a inovação baseada na aplicação industrial do conhecimento científico e tecnológico. De modo mais específico, Cantú e Zapata (2006) comentam que a inovação é utilizada para descrever a introdução e a disseminação de novos produtos, processos ou melhoria na empresa, enquanto que a inovação tecnológica deve estar associada aos avanços no conhecimento. O Manual de Oslo (OCDE, 2005), contudo, especificamente em sua terceira edição, esclarece que a inovação tecnológica relaciona-se com produto e processo, forma em que era abordada a temática nas edições anteriores do Manual. Nessa última edição, o Manual incluiu uma discussão “não-tecnológica”, em referência às inovações organizacionais e de marketing, o que remete aos tipos de inovação já mencionados por Schumpeter (1997/1934) no início do século XX.

Segundo Christensen (2007), a inovação é mais bem esclarecida por meio de três teorias. Conforme o autor, o processo inovativo é complexo e suas teorias ajudam a compreender melhor a aplicação da inovação. São as teorias da inovação disruptiva; dos recursos, processos e valores; e a da evolução da cadeia de valor.

A teoria da inovação disruptiva, Christensen (2007) trata como simples, barata, mas revolucionária. Refere-se às empresas que conseguiram criar inovações com estas características para competir e superar a concorrência. As inovações disruptivas propõem um novo valor ao criar novos mercados, bem como sugerem reformular os já existentes. A teoria dos recursos, processos e valores, por sua vez, esclarecem por que as empresas existentes e consolidadas no mercado têm dificuldades para enfrentar a inovação disruptiva das empresas entrantes.

Quanto à teoria da evolução da cadeia de valor, ela significa o desenvolvimento de um novo produto que exige o desempenho de um conjunto de atividades de forma integrada. A integração concebe à empresa um maior controle e, principalmente, uma visão maior do todo, o que lhe permite interagir com cada parte da arquitetura do produto, ao contrário das empresas especializadas que, conforme Christensen (2007) focam apenas um ponto da cadeia de valor de um produto ou serviço.

Contudo, nas teorias apresentadas e discutidas por Christensen (2007), nota-se uma relação semelhante ao que Schumpeter (1997/1934) e Penrose (1959) desenvolveram. Especialmente sobre a teoria disruptiva, verifica-se em Schumpeter (1997/1934) a teoria da

6

“destruição criadora”, a qual prevê a substituição de antigos produtos e hábitos de consumir por novos, ou que, geralmente resulta na disrupção ou na descontinuidade que concebem um novo mercado. Penrose (1959) aborda que a combinação dos recursos disponíveis da firma é fundamental para o empreendedor conseguir desenvolver novos negócios, o que também passa a existir como teoria dos recursos de Christensen (2007).

Entende-se que muitos conceitos de inovação, embora ampliados e expandidos a outras áreas do conhecimento, às vezes são neologismos e conceitos derivados do estudo de outros autores, em destaque dos primeiros escritos de Schumpeter. Sobressaem-se, contudo, trabalhos que construíram modelos evolucionistas para explicar o desenvolvimento econômico e a dinâmica da indústria, com base em novas tecnologias (NELSON e WINTER, 1982; FREEMAN, 1982b; DOSI, 1984). Esses estudos e respectivos autores procuraram desenvolver uma teoria geral da mudança em economia e representam a chamada corrente ‘neo-schumpeterina’. Entretanto, por questões de espaço e delimitação do artigo em torno do trabalho seminal de Schumpeter (1997/1934), a corrente teórica dos “neo-schumpeterianos” não será aprofundada. METODOLOGIA

Este trabalho pode ser classificado como descritivo, quantitativo e documental com a técnica da bibliometria. A bibliometria tem sido aplicada principalmente para a métrica das citações e dos grupos de pesquisadores, em distintas áreas do conhecimento. Alguns trabalhos que empregaram essa técnica foram os de Chung e Cox (1990) que determinaram que 62,2% dos autores que apareceram haviam publicado apenas uma vez, resultado semelhante ao de O´Leary (2007). McMillan e Casey (2007) ao investigar o arcabouço teórico utilizado em trabalhos de um periódico, descobriram que elas se modificaram ao longo do tempo. No Brasil, os trabalhos utilizaram a bibliometria de maneira por vezes similar e em outras ocasiões de forma distinta. Mendonça et al. (2006) pesquisaram a distribuição, as características metodológicas, a evolução, a temática, e a produtividade da publicação em contabilidade, apresentando os resultados através de freqüência e figuras. O uso de estatística descritiva também foi a estratégia de análise empregada por Moretti e Figueiredo (2007), ao pesquisarem a base teórica empregada no campo da responsabilidade social empresarial.

A fonte dos dados foi definida com base em três critérios: (1) periódicos com classificação Qualis no sistema de avaliação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) na área de administração; (2) que os periódicos apresentassem o eixo central de suas linhas de pesquisa e de maneira formal na inovação e/ou gestão da inovação; (3) e, de acordo com o objetivo do presente estudo, que os periódicos tivessem abrangência nacional e/ou internacional. Com base nesses critérios, selecionaram-se os seguintes periódicos como fonte dos dados: International Journal of Innovation Management (IJIM); Journal of Technology Management & Innovation (JOTMI); Revista de Administração e Inovação (RAI); e Revista Brasileira de Inovação (RBI). Segue a Figura 1 com uma breve descrição das principais características de cada periódico.

Continua…

7

Conclusão.

Figura 1. Principais características dos períodos em análise Fonte: IJIM, 2009; JOTMI, 2009; RAI, 2009 e RBI, 2009.

A técnica utilizada para o tratamento dos dados foi a estatística descritiva que Malhotra (2005) sugere como principal objetivo a descrição de algo, geralmente características ou descrição de cenários e análise de conteúdo. O procedimento de análise adotado segue o descrito por Vergara (2005), o qual prevê um conjunto de etapas pertinentes à técnica de análise de conteúdo, com destaque para: (a) meios de coleta dos dados; (b) grade e categorias de análise; (c) unidades de análise.

a) Meios de coleta dos dados: os dados da pesquisa foram coletados nos artigos publicados nos quatro periódicos classificados como Qualis pela Capes, via sistema EBSCO e sítios eletrônicos dos periódicos, conforme critérios apresentados anteriormente. A periodicidade dos artigos analisados contemplou os volumes dos

8

periódicos, desde a primeira edição até a atual, com exceção do IJIM, em que os artigos completos de 1997 e 1998 e do último semestre de 2009 não estavam disponibilizados na base de dados da EBSCO. Dessa forma, pesquisou-se: IJIM, de 1999 a junho de 2009, que abrange o v.3, n.1 ao v. 13, n. 2; JOTMI, de 2006 a dezembro de 2009, ou seja, do v.1, n.1 ao v.4, n.4; RAI, de 2004 a dezembro de 2009, correspondente ao v.1, n.1 até o v.6, n.3; e RBI, de 2002 a 2009, que considera o v.1, n.1 ao v. 8, n. 1

b) Grade e categorias de análise: A grade de análise é mista. De acordo com Vergara (2005) tem-se a definição de três tipos de grades para análise: aberta, fechada ou mista. A grade aberta é considerada quando não se tem categorias pré-definidas. Já a grade fechada parte de categorias definidas e não permite a inclusão de novas categorias. A grade mista, portanto, parte de categorias previamente escolhidas, mas prevê a inserção de categorias, na medida em que surgem outros temas pesquisados no decorrer do estudo. Esse último modelo de análise, de acordo com a autora, é considerado adequado para estudos em que se admite a ocorrência de novas categorias, além das pré-estabelecidas, o que veio a auxiliar na verificação do perfil dos temas investigados pelos pesquisadores de inovação. Quanto às categorias iniciais de análise, foram definidas com base na teoria de Schumpeter (1997/1934), conforme apresentado na Figura 2.

Figura 2. Temas principais na área de estudos da inovação

c) Unidades de análise: foram os títulos, os resumos, as palavras-chave, os objetivos e

a metodologia dos artigos. Em cada uma dessas unidades procurou-se verificar, primeiramente, a ocorrência do termo ‘inovação ou innovation’. Caso o termo em questão não fosse mencionado em nenhuma das unidades de análise, o artigo era descartado da amostra da pesquisa. Observa-se que em alguns trabalhos a palavra inovação foi mencionada, eventualmente, na introdução, revisão de literatura ou em outras partes do trabalho. No entanto, não havia o desenvolvimento ou a discussão sobre a inovação, senão apenas, a utilização do termo em algum momento do texto. Portanto, selecionaram-se somente os artigos que trataram a inovação como eixo principal dos estudos ou como um dos objetivos e que eram artigos científicos.

Dado o objetivo de verificar quem e como foram estudados os temas apresentados na Figura 2, com a respectiva quantificação, definiram-se outros cinco indicadores bibliométricos de análise, sendo: (1) distribuição quantitativa de autores por número de artigos publicados; (2) ranking das instituições; (3) metodologia empregada nos trabalhos; (4) objeto de estudo; (5) e principais obras referenciadas.

Dos autores com o maior número de trabalhos publicados, não se levou em conta se o mesmo aparece como primeiro ou segundo autor de cada trabalho. Esse indicador tem

9

somente o intuito de verificar o número de participações do autor nas publicações. O ranking das instituições foi efetuado de forma idêntica ao anterior. Para o caso de um único trabalho conter vários autores de uma mesma instituição, considerou-se, para efeitos de cômputo desse indicador, apenas um elemento. Na análise da metodologia de pesquisa empregada nos artigos, usaram-se os critérios de classificação adotados por Bertero, Vasconcelos e Binder (2003) que prevêem os seguintes tipos de abordagens metodológicas: qualitativo, quantitativo, qualitativo e quantitativo (quali-quanti) e ensaio-teórico. O objeto de estudo foi verificado tendo como base o trabalho de Silva (2008) que considera objetos ou níveis de análise da inovação: empresas ou organizações; setor ou indústria; países ou regiões; e indivíduo. Os artigos em que não havia a identificação de quaisquer objetos de estudo, geralmente em ensaios teóricos, adotaram-se a designação nihil. Por fim, verificaram-se as principais obras utilizadas pelos autores dos artigos analisados em seus estudos. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Inicialmente, apresenta-se um panorama dos artigos publicados conforme Tabela 1. Observa-se que os periódicos pesquisados são recentes, se considerar que o termo inovação vem sendo discutido desde o início do século XX, principalmente, a partir de Schumpeter com suas primeiras publicações na década de 1910 (SCHUMPETER, 1997/1934). A revista mais antiga é a IJIM, da qual foram encontrados, ao todo, 243 artigos e desses analisados 225. A IJIM também foi a revista que apresentou a maior proporção de artigos analisados em relação às demais. Somente um artigo, de 2002, que não se enquadrava no padrão de análise adotado neste estudo. Outros 19 artigos da IJIM, de 2009, não foram analisados por que o seu conteúdo estava indisponível na íntegra pelas fontes consultadas.

Uma segunda revista analisada foi a JOTMI, que iniciou suas publicações a partir do ano de 2006. Embora seja o periódico mais recente dentre os quatro analisados, percebe-se um crescimento gradual dos artigos com ênfase na área de inovação, tendo em vista o período de 2006 a 2008. Nesse intervalo, houve um aumento do número de artigos analisados que pesquisaram inovação como um dos objetivos principais dos estudos. Em 2009, no entanto, houve uma ligeira queda dos estudos com este foco.

A RAI, por sua vez, foi o periódico que obteve a maior diferença de artigos publicados sobre os analisados. Houve um total de 53 trabalhos que não desenvolveram ou discutiram a inovação como um dos eixos centrais de seus estudos. Essa diferença pode ser justificada pelo fato de que a RAI possui foco em administração e inovação. Nesse sentido, muitos artigos tratam da área da administração, mas não necessariamente do ponto de vista da inovação. De outro lado, nota-se que o número de trabalhos que delineiam a inovação cresceu desde o início das publicações da revista, em 2004, conforme mostra a coluna dos artigos analisados na Tabela 1.

Por conseguinte, a RBI, a exemplo da IJIM, também obteve uma diferença diminuta entre artigos publicados e analisados, que perfaz um total de apenas quatro estudos que não desenvolveram o tema da inovação. Em 2009, há uma redução do número de artigos publicados e analisados, uma vez que o sítio eletrônico da revista tinha disponível somente o volume do primeiro semestre de 2009.

Em uma visão geral dos 616 artigos publicados, foram possíveis e cabíveis de análise 489 trabalhos com uma diferença de 127 artigos que tiveram outros enfoques em seus estudos, que não o da inovação ou que os artigos completos estavam indisponíveis, como foi o caso da IJIM para parte do ano de 2009 na ocasião da análise. Porém, a maioria dos artigos publicados, ou seja, mais de 80%, apresentou em suas pesquisas, a adoção da inovação como um dos temas principais de investigação, que é a característica predominante dos quatro periódicos analisados. A seguir a Tabela 1, que resume o comentado.

10

Tabela 1: Artigos publicados e analisados por periódico e ano

Nota. NP = número publicado NA= número analisado

A distribuição quantitativa dos autores que publicaram nos periódicos IJIM, JOTMI, RAI e RBI é apresentada na Tabela 2. De acordo com o resultado das análises mostrado nessa tabela, identifica-se 942 autores nos 489 artigos analisados, porém, a maioria, ou seja, aproximadamente 90% publicaram ou participaram da publicação de apenas um trabalho, o que se distancia dos achados por outros autores, ainda que em outros temas como Chung e Cox (1990) e mais recente O´Leary (2007), os quais determinaram que essa participação ficou em 2/3 em seus trabalhos. Talvez isso signifique uma idiossincrasia entre os pesquisadores do tema.

A identificação de dois trabalhos por autor aparece em seguida com 8,1% ou 76 ocorrências. Esse número é ainda mais reduzido quando se examina a partir de três trabalhos publicados por autor. Menos de 2% possuem três artigos publicados com enfoque na inovação e somente três autores apresentaram mais de quatro trabalhos durante todo o período analisado. Destaque para os autores brasileiros João Amato Neto da USP, José Vitor Martins Bomtempo da UFRJ e Paulo César Negreiros de Figueiredo da FGV, que apresentaram quatro, cinco e seis trabalhos respectivamente. Este último foi o único a publicar em três periódicos, sendo três publicações no JOTMI, duas no RBI e uma no RAI.

De forma geral, o universo baixo de autores com mais de duas publicações dentre os artigos analisados parece indicar que há um número diverso de pesquisadores estudando inovação, sem que o assunto se concentre em poucos especialistas. Visto sob outro enfoque, o mesmo número pode demonstrar que não há uma preocupação da maioria dos pesquisadores em inovação em manter uma regularidade de publicações, ou que a adesão ao tema é maior que a constância nele.

Tabela 2: Distribuição quantitativa de autores por número de artigos publicados em cada periódico e total

Continua...

11

Conclusão.

Nota. NO = número de ocorrências % = percentual sobre o total

Semelhante à análise dos autores, foi realizado um ranking entre as instituições com

maior volume de trabalhos. Do total de 167 artigos computados na Tabela 3, 144 pertencem a instituições brasileiras, enquanto 23 pertencem a instituições internacionais. Cabe salientar que apenas dois artigos do Reino Unido, na classificação do ranking, foram publicados na RBI (revista nacional). Entre as instituições que mais publicaram, destacam-se a USP e a UFRJ do Brasil com 31 (6,3%) e 28 (5,7%) ocorrências, respectivamente, sendo as duas instituições com os maiores índices. Ao se considerar unicamente o IJIM, tem-se o Imperial College London do Reino Unido com o maior número de publicações.

Ressalta-se a presença reduzida das IES brasileiras em revistas internacionais, especialmente na IJIM. Somente a UFRJ apresentou um único artigo nesse periódico. No caso do JOTMI, que também é um periódico internacional, mas como aceita trabalhos na língua portuguesa, favoreceu a submissão de vários estudos de autores do Brasil. Percebe-se que autores brasileiros não possuem o hábito de publicar em periódicos internacionais. O dado que demonstra essa percepção pode ser verificado na Tabela 3, haja vista que os pesquisadores brasileiros não possuem publicação na revista IJIM, com exceção de Denise Fleck, da UFRJ, que apresentou um trabalho.

Infere-se ainda que há uma inclinação dos pesquisadores publicarem em revistas que estão vinculadas a IES em que exercem a função de docente/pesquisador, caso este da RAI em relação às instituições UNINOVE e USP, as quais detêm aproximadamente 50% do total de publicações examinadas daquele periódico. Esta tendência, no entanto, pode-se caracterizar como endogenia, pois, o conhecimento tende a difundir-se de maneira mais intensa somente entre os próprios pesquisadores da “casa”. Segue a Tabela 3 que demonstra a análise discutida. Tabela 3: Ranking das Instituições com mais produção científica nos periódicos

Nota. NO = número de ocorrências % = percentual sobre o total de artigos analisados

12

O próximo conjunto de dados se propõe a atender o principal objetivo deste estudo, que é o de identificar o que está sendo pesquisado pelos autores dos artigos analisados na área de inovação. Partiu-se inicialmente de sete temas, com base na teoria do desenvolvimento econômico de Schumpeter (1997/1934) e depois foram acrescentados novos temas, conforme prevê a grade mista de categorias de análise descrito na metodologia da pesquisa. Alguns temas foram agrupados em uma única categoria por sua inter-relação ou de acordo com o referencial teórico. Observa-se ainda, que alguns artigos apresentavam mais que uma categoria de análise em seus estudos vinculados à inovação. Quando ocorrida a integração de duas ou mais categorias, foram identificadas as três mais evidentes no artigo. Ao final, a investigação resultou em um total de 18 temas de pesquisa, sendo 11 a mais em relação às categorias iniciais do estudo.

A respeito dos primeiros sete temas, percebe-se presença expressiva dos estudos sobre “novos produtos ou serviços” – tema 01 –, sendo o terceiro mais encontrado nos artigos com 83 (17%) indicações. A investigação sobre o lançamento de novos produtos tende a ser um assunto amplamente discutido, haja vista que a criação de bens é um dos principais tipos de inovação contemplados na definição de Schumpeter (1997/1934). Por outro lado, notam-se poucos estudos que abordaram a inovação do ponto de vista da “nova oferta de insumos” – tema 04. Somente dois trabalhos, ou seja, 0,4% estudaram esse tipo de inovação, o que pode representar uma lacuna para realização e aprofundamento de futuras pesquisas.

Ao somar os percentuais dos temas de 01 a 07, percebe-se que a IJIM é a revista que mais possui artigos que tratam das proposições da inovação abordadas por Schumpeter (1997/1934), perfazendo um total de 47,4%, seguido da RAI com 39,3%. O resultado desta última tem coerência, uma vez que o enfoque da revista tem por base a teoria daquele autor. O periódico que apresentou a menor incidência dos temas da teoria de Schumpeter (1997/1934) foi a RBI, com 18,2%.

Em todos os periódicos analisados, especialmente o IJIM e o RBI, constata-se que a maior concentração de artigos, 90 (40,4%) e 21 (29,6%), respectivamente foi no tema 08, que trata dos ‘recursos, capacidades e competências organizacionais; conhecimento e aprendizagem’. A tendência de estudos em torno dessa temática parece relacionar-se com as bases das abordagens teóricas da inovação, conforme se verifica em Schumpeter (1997/1934), Penrose (1959), Prahalad e Hammel (1990), Rogers (2003) e Christensen (2007), entre outros. Inclusive, tais obras também se encontram entre as mais citadas dos artigos analisados. Ressalta-se que esse resultado parece ir ao encontro do que se tem estudado também em estratégia. No trabalho de Furrer, Thomas e Goussevskaia (2008), entre os dez artigos mais usados como referência nas publicações dos quatro principais periódicos internacionais de estratégia, cinco tratam do mesmo tema 08 deste estudo.

O tema de número 14 – “gestão da inovação; empresas inovadoras, inovação organizacional e tecnológica”, foi o segundo com mais propostas de estudos, que compõe um total de 30,3% das ocorrências. Os periódicos JOTMI e RAI com 41(31,8%) e 22(33,3%) casos, respectivamente, lideram as pesquisas sobre essa temática. Pela amplitude do conceito de inovação e de sua relação com as organizações, gestão e, principalmente, com a tecnologia, conforme apregoada pela literatura especializada (FREEMAN, 1982b, ROGERS, 2003 e TIDD, BESSANT e PAVITT, 2008), infere-se que os pesquisadores também apresentem uma inclinação maior em trabalhar a inovação considerando tais elementos. Da mesma forma que o tema 8, o referencial da literatura do tema 14 está entre as mais citadas.

Demais temas destacados nos estudos em torno da inovação versam sobre ‘sistemas de inovação e políticas e diretrizes; incubadoras e parques tecnológicos’ e ‘redes e atores, arranjos e sistemas produtivos e inovativos locais e clusters, acordos de cooperação e alianças’ – temas 12 e 16 com 71(14,5%) e 72(14,7%) de casos, respectivamente. Tais

13

resultados denotam um interesse dos pesquisadores em estudar a inovação sob a perspectiva de sistemas e políticas nacionais e/ou regionais e o seu desenvolvimento a partir do conceito de redes. No mesmo estudo de Furrer, Thomas e Goussevskaia (2008), o tema alianças, que pode ser interpretado também como sendo a formação de redes, apareceu em sétimo lugar, entre as palavras chave mais citadas. Tabela 4: Temas presentes nos artigos propostos pelos autores à inovação

Nota. NO = número de ocorrências % = percentual sobre o total

Outro dado analisado foi a metodologia empregada pelos autores nos artigos. Nota-se

que a maior parte dos trabalhos é de natureza teórica empírica com mais de 67% de ocorrências, sendo 26% qualitativas, 25,6% quantitativas e 15,7% que combinam ambos os métodos. Os ensaios-teóricos, por sua vez, obtiveram um índice de 32,7% de ocorrências em relação ao total de trabalhos analisados. Convém salientar que o periódico RAI apresentou maior número de ocorrências em estudos qualitativos com 47% dos 66 artigos analisados, ao passo que o RBI se destacou nos ensaios teóricos com uma representatividade de 40,8% em relação aos 71 trabalhos considerados. Segue a Tabela 5 que evidencia o observado.

14

Tabela 5: Metodologia empregada nos artigos analisados

Nota. NO = número de ocorrências % = percentual sobre o total

Na continuidade da análise, constatou-se que ‘empresas/organizações’ foi o principal objeto de estudo dos pesquisadores com 41,7% do total global analisado. Este resultado também tem suporte na teoria de Schumpeter (1997/1934), sobre inovação, a qual tem como unidade de estudo a empresa. Ao analisar isoladamente os periódicos, tem-se no RBI o ‘setor’ como o principal objeto de estudo com 35,2% da amostra examinada. Ainda em relação ao setor, considerando-se os periódicos no todo, revela-se que houve uma predominância da biotecnologia, fármacos, software, telecomunicações e energia como os setores mais pesquisados. Outro objeto de estudo trabalhado por parte de alguns artigos foi em âmbito país. Nesse caso, Brasil (principalmente), Espanha, Taiwan, China e Irlanda foram os mais estudados. O resultado mais expressivo do Brasil em relação aos outros países é justificado pela análise das revistas JOTMI, RAI e RBI.

Além disso, salienta-se o objeto de estudo ‘indivíduo’ obteve um índice de 1,4% de ocorrências. Com isto, é possível inferir que pesquisadores de inovação na área de administração demonstram preocupação em estudar mercados em seus contextos de forma generalizada e não o indivíduo, enquanto sujeito social promotor da inovação. Talvez isso se possa justificar pela existência de vários grupos de pesquisadores e mesmo de periódicos que tratam exclusivamente do empreendedorismo, o que pode levar o foco do indivíduo que inova para outras searas. Outro aspecto a ser comentado é o índice de 18,8% de artigos classificados como nihil, conforme mostra a Tabela 6. Em geral, tratam-se dos ensaios teóricos que discutem sobre características da inovação no campo da teoria e não exatamente com enfoque sobre alguma empresa e organização, país ou setor. Tabela 6: Objeto de estudo dos artigos

Nota. NO = número de ocorrências % = percentual sobre o total * Os setores mais estudados foram: Biotecnologia, Farmacêutico, Software, Telecomunicações e Energia. ** Os países mais estudados foram: Brasil, Espanha, Taiwan, China e Irlanda.

A tabela 7 apresenta as obras mais citadas nos artigos analisados segundo periódico considerado. O que apresenta maior número de referências citadas entre todos os artigos considerados é o livro Managing innovation: (...) de Tidd, J.; Bessant, J.; Pavitt, K com 57 ocorrências. A seguir, aparecem as obras Absorptive capacity: (...) de Cohen, W. M.;

15

Levinthal, D. A. e An evolutionary theory of economic change de Nelson, R. R.; Winter, S.G., como a segunda e a terceira mais citadas com 45 e 42 casos, respectivamente. Em atenção às obras de Schumpeter, são evidenciadas duas entre as mais citadas: The theory of economic development e Capitalism, socialism and democracy com 37 e 24 ocorrências na devida ordem. Destaque para a primeira obra do autor que foi escrita no início do século XX e até hoje é um dos livros de maior referência quando o tema é inovação. Ao se considerar unicamente os periódicos JOTMI, RAI e RBI para fins de análise, conforme a Tabela 7 salienta-se que este livro ficaria em primeiro lugar entre os mais citados. Tabela 7: Obras mais citadas nos artigos analisados dos periódicos

Nota. NO = número de ocorrências * Obras traduzidas para outras línguas foram acrescentadas às obras originais

Sítios eletrônicos, manuais e documentos similares não foram considerados para o cômputo das referências aqui apresentadas. Todavia, ressalta-se que o Manual de Oslo foi um dos mais referenciados. Esse Manual, escrito pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, tem servido de padrão para a maioria dos pesquisadores em inovação tanto no Brasil como na Europa e Estados Unidos.

16

CONSIDERAÇÕES FINAIS O estudo pretendeu analisar o tema inovação a partir da publicação científica recente,

tendo como base a Teoria do Desenvolvimento Econômico. O trabalho não se limitou a identificar os tipos de inovação, mas a investigar múltiplos aspectos do processo de inovação, e o que se notou é que as pesquisas na área de administração sobre inovação avançam mais em direção às atividades inovativas e, de certa forma, extrapolaram os cinco casos de inovação apresentados por Schumpeter (1997/1934) no início do século XX. Somente nos periódicos analisados, levantou-se, pelo menos, 17 temas que foram estudados em relação à inovação. No entanto, um dos principais temas que compõe a definição de inovação – novo produto ou serviço – continua a ser alvo das pesquisas. Infere-se que essa predominância pode estar ligada à dinâmica do mercado, ou seja, um novo produto ou serviço cristaliza-se nas organizações, sempre como uma perspectiva de estratégia de mercado, como um jogo de forças, em que aquele que inova mais pode também ganhar mais.

Das sete categorias iniciais para análise nos comunicados dos periódicos, a ‘nova oferta de matéria-prima’ foi a menos investigada. Similarmente, outras categorias como ‘acesso ao crédito para inovação’, ‘estabelecimento de uma nova organização’ e ‘novo método de produção’ também tiveram pouca ocorrência nos artigos analisados, tendo em vista que tais categorias decorrem da teoria de Schumpeter (1997/1934). Essa baixa incidência das referidas categorias, sugerem pesquisas futuras para maior discussão da inovação na academia ou mesmo que talvez elas estejam sendo tratadas com outros enfoques, como podem ser o da engenharia de materiais e/ou de produção e/ou finanças.

Por outro lado, o maior número de ocorrências dos temas ‘recursos, capacidades e competências organizacionais, conhecimento e aprendizagem’ e ‘gestão da inovação, empresas inovadoras, inovação organizacional e tecnológica’ demonstraram o maior interesse dos pesquisadores nessas áreas, bem como na expansão do conceito de inovação. Constatou-se que, em muitos trabalhos, a abordagem da inovação é discutida sob um prisma amplo, que envolve conhecimento, pesquisa e desenvolvimento, recursos organizacionais, capacidades entre outros. Como se salientou, esse tema tem sido recorrente na academia, e ainda que não se esteja diante de uma “teoria de recursos” [nosso grifo], a abordagem de recursos e outras de si derivadas, como das capacidades dinâmicas, das competências e mesmo do conhecimento organizacional tem atraído o interesse atual da academia, nos últimos anos.

Demonstra-se, portanto, que a discussão do tema inovação rompeu fronteiras e que, na maioria dos casos, não há barreira entre um tipo de inovação e outro. O que em geral ocorre, é a relação de várias formas de inovação que são geridas dentro de um contexto organizacional e de mercado (FREEMAN, 1982a). A teoria de Schumpeter (1997/1934), sem dúvida, influenciou e continua a influenciar o desenvolvimento de pesquisas em torno da inovação, de acordo com o encontrado no presente estudo. Contudo, verificam-se que outros trabalhos e autores também podem ser considerados referências nos estudos de inovação. Isso significa que o tema está em contínua expansão, e que talvez Schumpeter (1997/1934), no início do século XX, pode não ter sido capaz de predizer como ocorreria a inovação no final do século XX e início do século XXI.

As limitações do presente estudo estão relacionadas aos resultados encontrados nos periódicos selecionados a partir do sistema Qualis da CAPES na área de administração. Portanto, na continuidade das pesquisas sobre o tema, recomenda-se a abertura da investigação em outros periódicos de maior abrangência nas áreas de gestão, produção, economia e tecnologia e a comparação dos resultados com esse artigo, que possam ajudar os pesquisadores a direcionar seus estudos. Finalmente, deve-se observar o baixo índice de participação dos pesquisadores brasileiros em periódicos internacionais, como foi o caso do IJIM, o qual teve somente um trabalho publicado por uma pesquisadora brasileira.

17

REFERÊNCIAS ANDREWS, E.B. Macvane’s political economy. Quarterly Journal of Economics, New York, 1890. BERTERO, C.O.; VASCONCELOS, F.C.; BINDER, M.P. Estratégia empresarial: a produção científica (...). Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 43, n. 4, p. 48-62, out./dez. 2003. CANTÍN, P.V., MONTENEGRO, I.O., MATURANA, V.R., Vigilancia tecnológica aplicada a nanociencia y nanotecnología en países de latinoamérica. Journal of Technology Management & Innovation, Chile, v. 1, n. 4, p. 83-94, 2006. CANTÚ, S.O., ZAPATA, A.R.P., ¿Qué es la gestión de la innovación y la tecnología (ginnt)? Journal of Technology Management & Innovation, Chile, v. 1, n. 2, p. 64-82, 2006. CHRISTENSEN, C.M., ANTHONY, S.D., ROTH, E.A. O futuro da inovação: usando as teorias da inovação para prever mudanças no mercado. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. CHUNG, K. H., COX, R. A. K. Patterns of Productivity in the Finance Literature: A Study of the Bibliometric Distributions. Journal of Finance, Vol. 45. Issue 1, p301-309, 1990. DOSI, G. Technical change and industrial transformation: (…). London: MacMillan, 1984. FREEMAN, C. Innovation and long cycles of economic development. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 1982a. FREEMAN, C. The economics of industrial transformation. London: Pinter, 1982b. FURRER, O., THOMAS, H., GOUSSEVSKAIA, A. The structure and evolution of the strategic management field: (…). International Journal of Management Reviews, Vol. 10. n.1, p.1-23, 2008. HISRICH, R. D., PETERS, M. P. Empreendedorismo. 5.ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. INTERNATIONAL JOURNAL OF INNOVATION MANAGEMENT. Brighton: World Scientific, 1997-2009. Trimestral. Disponível em: <http://www.worldscinet.com/ijim/ijim.shtml>. Acesso em: 10 jul. 2009. JOURNAL OF TECHNOLOGY MANAGEMENT & INNOVATION. Chile: JOTMI Research Group, 2005-2009. Trimestral. Disponível em: <http://www.jotmi.org/index.php/GT>. Acesso em: 27 jul. 2009 e 23 fev.2010. LEIFER, R., O’CONNOR, G. C., RICE, M. A implementação de inovação radical em empresas maduras. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v.42, n.2, p.17-30, Abr./Jun. 2002. MALHOTRA, Naresh K. Pesquisa de Marketing. São Paulo. Pearson, 2005. McMILLAN, G.St.; CASEY, D.L. Research note: Identifying the invisible colleges of the British Journal of Industrial Relations: (...). Forthcoming in the British Journal of Industrial Relations, 2007. MENDONÇA NETO, O. R.; RICCIO, E. L.; SAKATA, M. C. G. Paradigmas de pesquisa em contabilidade no Brasil. Anais do Encontro Anual da ANPAD, Salvador, 2006. MOINGEON, B.; LEHMANN-ORTEGA, L. Strategic innovation: how to grow in mature markets. European Business Forum, London, n.24, p.50-54, 2006. MORETTI, S. L. A.; FIGUEIREDO, J. C. B. Análise Bibliométrica da Produção sobre Responsabilidade Social das Empresas no ENANPAD: (...)o. Anais... XXXI Encontro da ANPAD, Rio de Janeiro, set 2007. MUÑOZ, A.V.; MUÑOZ, L.R. Innovación tecnológica forestal, desarrollos y desafios científico tecnológicos en Chile. Journal of Technology Management & Innovation, Chile, v. 1, n. 4, p. 71-82, 2006. NELSON, R. R.;WINTER, S. G. An evolutionary theory of economic change. Cambridge: Bellknap Press, 1982. O'LEARY, D. E.. The most cited papers. Human Systems Management, Vol. 26 Issue 3, p153-156, 4p; (AN 26501609), 2007. ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO – OCDE. Manual de Oslo: diretrizes para coleta e interpretação de dados sobre inovação. 3.ed. Brasil: Ministério da Ciência e Tecnologia. Financiadora de Estudos e Projetos – FINEP, 2005. Disponível em: <http://www.finep.gov.br>. Acesso em: 01 Ago. 2009. REVISTA BRASILEIRA DE INOVAÇÃO. São Paulo: UNICAMP, 2002-2008. Semestral. ISSN: 1677-2504. Disponível em: <http://www.ige.unicamp.br/ojs/index.php/rbi/index>. Acesso em: 09 jul. 2009 e 05 mar.2010. REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO E INOVAÇÃO. São Paulo: Uninove, 2004-2009. Quadrimestral. ISSN: 1809-2039. Disponível em: <http://www.revista-rai.inf.br/ojs-2.1.1/index.php/rai>. Acesso em: 23 fev.2010. ROGERS, E. M. Diffusion of innovations. 5.ed. New York: Free Press, 2003. SCHUMPETER, J.A.(1997). Teoria do desenvolvimento econômico: uma investigação sobre lucros, capital, crédito, juro e o ciclo econômico. (POSSAS, M. S., Trad.). São Paulo: Nova cultural. (Obra original publicada em 1934) SILVA, J.M.P. O estado-da-arte da literatura em economia e gestão da inovação e tecnologia: um estudo bibliométrico. 77 f. 2008 Tese de Mestrado em Inovação e Empreendedorismo Tecnológico. Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, 2008. TIDD, J., BESSANT, J., PAVITT, K. Gestão da inovação. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. VERGARA, S. C. Métodos de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2005. WALKER, J. Harvard Law Review, New York, p.180-186, 1888.