aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de...

13
Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar Hélio do Prado 1 SOLOS E AMBIENTES DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR NA REGIÃO CENTRO-SUL DO BRASIL Hélio do Prado Alceu Linares Pádua Jr Centro de Cana do IAC - 2010 1. INTRODUÇÃO O solo é a massa natural, de constituição de material orgânico e mineral, que ocorre na superfície da Terra, onde as plantas são cultivadas. Os componentes dos solos são representados pela água, ar, material orgânico, e material mineral. Enquanto que o material orgânico origina-se, principalmente da adição vegetal na superfície do solo (folhas, raízes), o material mineral tem origem das rochas como mineral primário; ou minerais secundários na formação da argila no processo de intemperismo do material de origem, e de outras frações granulométricas. A classificação de solos (ou pedológica) é imprescindível para que se organizar cientificamente os conhecimentos adquiridos pela pesquisa e pela prática agrícola. Uma de suas vantagens é que permite, dentro de certos limites, prever o comportamento de determinadas terras. Se, uma variedade de cana-de-açúcar se desenvolve vigorosamente em certo local, enquanto que outro produz menos (considerando-se o mesmo clima e condições de fitossanidade), é importante conhecer os solos de ambos locais. O desenvolvimento da cana-de-açúcar nos primeiros dois anos não é muito influenciado pelas condições do horizonte subsuperficial dos solos. Entretanto, a partir do terceiro ano as condições químicas, fisico-hídricas, e morfológicas dos solos influem significativamente no desenvolvimento radicular em profundidade. Como conseqüência, a produtividade varia, dependendo também das condições climáticas. 2. CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS Os diversos solos são reconhecidos pelos seus horizontes, diferenciados principalmente, pela cor, textura, estrutura e consistência. A seqüência de horizontes em direção da rocha define o perfil de solo. Em 2006, a EMBRAPA publicou a segunda edição da nova nomenclatura de classificação de solos, cuja hierarquia consta na figura 1. Figura 1. Hierarquia de classificação de solos na nova nomenclatura da EMBRAPA (2006).

Upload: leminh

Post on 09-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

1

SOLOS E AMBIENTES DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR NA REGIÃO CENTRO-SUL DO BRASIL

Hélio do Prado

Alceu Linares Pádua Jr

Centro de Cana do IAC - 2010

1. INTRODUÇÃO

O solo é a massa natural, de constituição de material orgânico e mineral, que ocorre na superfície da Terra, onde as plantas são

cultivadas.

Os componentes dos solos são representados pela água, ar, material orgânico, e material mineral. Enquanto que o material

orgânico origina-se, principalmente da adição vegetal na superfície do solo (folhas, raízes), o material mineral tem origem das

rochas como mineral primário; ou minerais secundários na formação da argila no processo de intemperismo do material de

origem, e de outras frações granulométricas.

A classificação de solos (ou pedológica) é imprescindível para que se organizar cientificamente os conhecimentos

adquiridos pela pesquisa e pela prática agrícola.

Uma de suas vantagens é que permite, dentro de certos limites, prever o comportamento de determinadas terras. Se, uma

variedade de cana-de-açúcar se desenvolve vigorosamente em certo local, enquanto que outro produz menos (considerando-se

o mesmo clima e condições de fitossanidade), é importante conhecer os solos de ambos locais.

O desenvolvimento da cana-de-açúcar nos primeiros dois anos não é muito influenciado pelas condições do horizonte

subsuperficial dos solos. Entretanto, a partir do terceiro ano as condições químicas, fisico-hídricas, e morfológicas dos solos

influem significativamente no desenvolvimento radicular em profundidade. Como conseqüência, a produtividade varia,

dependendo também das condições climáticas.

2. CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS

Os diversos solos são reconhecidos pelos seus horizontes, diferenciados principalmente, pela cor, textura, estrutura e

consistência.

A seqüência de horizontes em direção da rocha define o perfil de solo.

Em 2006, a EMBRAPA publicou a segunda edição da nova nomenclatura de classificação de solos, cuja hierarquia consta na

figura 1.

Figura 1. Hierarquia de classificação de solos na nova nomenclatura da EMBRAPA (2006).

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

2

Nessa figura nota-se que o nível mais alto é muito generalizado (ordem) incluindo 13 classes de solos (Latossolos, Nitossolos,

Argissolos,etc ), diferenciadas principalmente pelas variações do teor de argila do horizonte superficial (A) e horizonte

subsuperficial B (ou horizonte C se não existir horizonte B), além da estrutura, consistência, e possível presença da cerosidade no

horizonte B, por outro lado, o nível de série exige muitos detalhes dos solos.

Há muito pouca importância prática, por exemplo, quando tem-se essa informação de classificação pedológica: Latossolo

Vermelho.

Isso porque foi atingido apenas o nível de sub ordem, impossibilitando saber seu real ambiente de produção.

Com relação a classificação dos solos apresentados, são considerados os mais cultivados com cana-de-açúcar no Brasil.

No segundo nível (sub ordem), consideram-se as cores (não neutras, ou seja sem sinais de hidromorfismo) do horizonte B para

as classes dos Latossolos, Nitossolos, e Argissolos.

Se no primeiro nível da referida figura, o solo classifica-se como Neossolo, as opções de sub ordem não baseadas na cor, mas as

seguintes:

1.Neossolo Quartzarênico, solo muito profundo com teor de argila menor que 15% em toda extensão do perfil, teoricamente

até 200cm de profundidade,

2.Neossolo Litólico, solo muito raso com horizonte A diretamente sobre a rocha ou o horizonte C.

3. Neossolo Flúvico, solo moderadamente profundo com valores de carbono e argila oscilando muito nas diversas

profundidades.

Finalmente, a classificação do solo no terceiro nível (grande grupo), diferencia as condições químicas pedológicas do horizonte

B (ou horizonte C, se o B não existir).

Com relação a fração argila, o horizonte B deve apresentar valor maior que 15%, caso contrário, enquadra como horizonte C

quando o solo é muito profundo e essencialmente arenoso, característico do Neossolo Quartzarênico.

Outra possibilidade de ser considerado horizonte C são nítidos os sinais de alteração de rocha no perfil.

Até o presente, o Sistema de Classificação da EMBRAPA , classifica o solo até o quarto nível (sub grupo, figura 1), mas para o

manejo de solos é fundamental conhecer o solo até o nível de série com informações pedológicas para se avaliar as

potencialidades e limitações dos solos para manejá-lo e enquadrá-lo no respectivo ambiente de produção.

Prevê-se que são necessários pelo menos mais 5 anos para EMBRAPA ter informações de solos no nível de série, enquanto isso,

o Centro de Cana de Ribeirão Preto do IAC (entre outros Centros de Pesquisa e Ensino) utiliza intensamente as informações de

manejo no nível de série, com isso elaborou a tabela de Ambientes de Produção da região Centro-Sul do Brasil.

O quadro 1 compara a classificação de solos na nova nomenclatura da EMBRAPA (2006) com a classificação anterior

(CAMARGO,1987).

Quadro 1. Classificação de solos da nova nomenclatura da EMBRAPA a classificação anterior.

EMBRAPA (2006) CAMARGO et al (1987)

Latossolos Latossolos

Argissolos Podzólicos Vermelhos –Amarelos Ta ou Tb distróficos álicos e alíticos

Luvissolos Podzólicos Vermelhos –Amarelos eutróficos Ta

Nitossolos Vermelhos férricos Terras Roxas Estruturadas

Neossolos Quartzarênicos Areias Quartzosas

Neossolos Litólicos Solos Litólicos

Cambissolos Cambissolos

3. FATORES DE FORMAÇÃO DOS SOLOS

São cinco os fatores de formação dos solos (material de origem freqüentemente representado pela rocha, relevo, organismos,

clima e tempo).

A mesma rocha no relevo diferente origina solos diferentes (basalto originando Latossolo Vermelho muito argiloso no relevo

plano e Nitossolo Vermelho muito argiloso no relevo ondulado), o mesmo relevo com rochas diversas originam solos

diferentes (relevo suavemente ondulado com ocorrência de arenito originando Neossolo Quartzarênico e com ocorrência de

basalto originando Latossolo Vermelho textura muito argilosa).

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

3

Como uma regra geral pode afirmar para a região Centro-Sul do Brasil que:

“No relevo mais inclinado de solos desenvolvidos de arenito, ocorrem Argissolos, Neossolos Litólicos e Cambissolos, nas

posições mais elevadas Latossolos textura média ou Neossolos Quartzarênicos são observados; no relevo mais inclinado de

solos desenvolvidos de basalto ocorrem Nitossolos, Neossolos Litólicos e Cambissolos; nas posições mais elevadas são

identificados Latossolos textura argilosa e muito argilosa.

As figuras 2 e 3 ilustram duas diferentes rochas, muito comuns nas regiões canavieiras.

Figura 2. Rocha sedimentar representada pelo arenito.

Figura 3. Rocha vulcânica representada pelo basalto.

A figura 4 apresenta a imagem de satélite onde ocorrem solos de diferentes texturas na divisa dos Estados de São Paulo e do

Paraná.

No município de Assis-SP ocorrem solos com baixos e médios teores de argila nas áreas de arenito (tonalidade clara da

imagem), e no município de Cândido Mota-SP são identificados solos com elevado teor de argila nas áreas de basalto

(tonalidade vermelha da imagem).

Figura 4. Imagem de satélite de solos desenvolvidos de basalto e arenito.

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

4

As figuras 5 a 8 destacam os relevos típicos de vários solos cultivados com cana-de-açúcar no Brasil.

Figura 5. Relevo plano típico do Latossolo ou Neossolo Quartzarênico.

Figura 6. Relevo ondulado típico do Argissolo.

Figura 7. Relevo ondulado típico do Nitossolo.

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

5

Figura 8. Relevo montanhoso típico do Neossolo Litólico.

A figura 9 destaca as variações de solos na paisagem, típica da região sudeste do Brasil.

Figura 9. Distribuição de solos nas paisagens da região sudeste do Brasil.

Além do relevo, outros fatores de formação dos solos são considerados: clima influindo no grau de intemperismo e na sua

profundidade, organismos, representado principalmente pela vegetação original incorporando diferentes níveis de matéria

orgânica na superfície.

Ao longo do tempo, o solo é cronologicamente formado a medida que o grau de intemperismo evolui: desde os solos mais

rasos e jovens (Neossolos Litólicos), até os mais profundos e velhos (Latossolos).

4.TEXTURA E IMPLICAÇÕES NA CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS

Quando o teor de argila situa-se na faixa de 0-15% a textura é arenosa; 16 a 35%, textura média; 36 a 60% textura argilosa e

maior que 60% de textura muito argilosa.

Na sensação ao tato do solo molhado, a argila é estimada pela sensação de pegajosidade, quanto maior a pegajosidade do

solo geralmente mais elevado é teor de argila, o silte é estimado pela sensação de sedosidade semelhante a do talco, a areia

apresenta a sensação de aspereza (mais nítida quando é alto o teor de areia grossa).

Na prática, as vantagens de estimar o teor de argila no campo são as seguintes: rapidez de conhecer as variações dessa fração

granulométrica no perfil, permitindo classificar o solo no campo, e economia nos custos de laboratório.

A figura 10 apresenta os limites dos teores de argila e a respectiva classificação textural da EMBRAPA.

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

6

Figura 10. Limites do teor de argila na escala textural.

Classificação do solo no nível de ordem

Para classificar o solo no nível de ordem, em primeiro lugar, deve-se verificar a variação do teor de argila nos horizontes A e B: se

o aumento de argila é discreto (menor ou igual aos limites, quadro 2); ou acentuado (maior que os limites, quadro 3).

Segundo a EMBRAPA, se a média da porcentagem de argila do horizonte B dividido pela média da porcentagem de argila do

horizonte A for menor ou igual aos fatores, é discreta a variação de argila no perfil. Nessas condições, o solo possui um desses

tipos de horizonte B: latossólico (Latossolo), ou B nítico (Nitossolo), ou B incipiente (Cambissolo).Para diferenciá-los deve

examinar a morfologia.

Se a média da porcentagem de argila do solo ultrapassar o fator de incremento de argila, é acentuada a variação de argila

no perfil, enquadrando-se no horizonte B textural. Nesse caso existem essas possibilidades: Luvissolo ou Argissolo.

Para ser Luvissolo há a necessidade do valor T (CTC da argila) ser alto (Ta), ou seja T > 27cmol/kg de argila, atender a exigência

para eutrófico no horizonte B, e ainda, a cor do horizonte A deve ser relativamente clara.

Caso contrário, refere-se ao Argissolo.

Em relação aos critérios de gradiente textural entre os horizontes A e B elaborado pela EMBRAPA, o projeto Ambicana do Centro

de Cana do IAC elaborou um critério adicional de incremento de argila divulgado no projeto.

Quadro 2. Valores de argila do horizonte A, incrementos discretos de argila em profundidade, e respectivos solos mais

cultivados com cana-de-açúcar no Brasil.

ARGILA DO HORIZONTE A

Aumento de argila do

horizonte “B” em relação ao

“A”

PROVÁVEIS SOLOS

<15% < =1,8 Latossolo

15-40% < =1,7 Latossolo, Cambissolo

>40% < =1,5 Latossolo,Nitossolo, Cambissolo

Quadro 3. Valores de argila do horizonte A, incrementos acentuados de argila em profundidade, e respectivos solos mais

cultivados com cana-de-açúcar no Brasil.

ARGILA DO HORIZONTE A Aumento de argila do

horizonte “B” em relação ao

“A”

PROVÁVEIS SOLOS

<15% > 1,8 Argissolo, Luvissolo

15-40% > 1,7 Argissolo, Luvissolo

Classificação do solo no nível de sub ordem

Se a ordem for representada pelo Latossolo discriminar a cor do horizonte B na sub ordem de acordo com a figura 1.

A cor na tabela de cores 2,5YR adjetiva o Latossolo de Vermelho; 5YR de Latossolo Vermelho-Amarelo; e 7,5 ou 10YR de

Amarelo.

Adjetiva-se de Latossolo Vermelho férrico se o teor de óxido de ferro total for maior ou igual a 18%.

Se for ordem do Nitossolo, considerar na sub ordem como Nitossolo Vermelho se a cor for representada pelo matiz 2,5YR,

Nitossolo Háplico para cor 5YR, ou 7,5YR ou 10YR (todas cores não neutras, ou seja, sem sinais de hidromorfismo).

Adjetiva-se de Nitossolo Vermelho férrico se o teor de óxido de ferro total for maior ou igual a 15%.

Para a ordem do Cambissolo, considerar a sub ordem “Háplico”, se o horizonte A não for espesso, escuro e rico em matéria

orgânica.

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

7

Classificação do solo no nível de grande grupo

A soma dessas cargas elétricas negativas é representada pela capacidade de troca de cátions (CTC), e nela estão ligados

eletricamente os elementos de cargas positivas, que compõem os principais nutrientes do solo, tais como o cálcio, magnésio,

potássio, sódio, representados pela soma de bases (SB), mas existem ainda outras cargas elétricas negativas ligadas ao alumínio

(Al) e hidrogênio (H).

O conjunto SB + Al + H reflete a CTC do solo a pH 7.

Existe ainda a CTC efetiva, que é representada por SB + Al.

A saturação por bases (V) mede a porcentagem da CTC ocupada pela soma de bases; e a saturação por alumínio (m) a

porcentagem da CTC efetiva ocupada pelo alumínio.

Outro cálculo químico refere-se a retenção de cátions (RC) que mede a CTC efetiva da fração argila.

Geralmente basear-se nos dados químicos do horizonte sub superficial, que geralmente ocorre na profundidade de 80-100cm

(quadro 4). As vezes o solo pode apresentar o horizonte B menos profundo e isso vai ser observado na excursão de campo.

Quadro 4. Critérios químicos de subsuperfície (EMBRAPA, 2006; PRADO, 2004).

V (1) SB (2) m(1) Al 3+ (2) RC (3) T(3)

Eutrófico > 50 > 1,5

Mesotrófico 30-50 > 1,2

Mesotrófico > 50 < 1,5

Distrófico <30 >50 > 1,5

Distrófico 30-50 <1,2 >50 > 1,5

Ácrico < 1,5 *

Mesoálico 15-50 > 0,4

Álico >50 0,4-4,0

Alítico >50 > 4,0 > 20

Alumínico > 50 > 4,0 < 20 (1): porcentagem (2): cmol/kg de solo (3): cmol/kg de argila

* para ser ácrico é necessário também que o pH KCL seja maior ou igual a 5,0, ou delta pH positivo.

Os Latossolos, Argissolos, Cambissolos, Nitossolos e Neossolos Litólicos podem ser eutróficos, ou mesotróficos, ou distróficos, ou

mesoálicos, ou álicos, os Luvissolos, Vertissolos sempre são eutróficos, os Neossolos Quartzarênicos distróficos ou mesoálicos

ou álicos.

O quadro 5 mostra exemplo de interpretação dos dados químicos de alguns solos, com base nos valores V,SB, m, Al, RC, CTC e

T.

Quadro 5. Exemplos de interpretação das condições químicas no horizonte sub superficial.

1= cmol/kg de solo

2= porcentagem

3= cmol/kg de argila

Calcula-se a CTC da argila ou valor T relacionando a CTC do solo com a porcentagem de argila.

Exemplo:

CTC do solo:10cmol/kg, argila 20%.

10 cmol/kg......................................20 de argila

x ......................................100

X:50 cmol/kg de argila, solo Ta

PONTO QUÍMICA

PEDOLÓGICA

pH

KCl pH H20

Delta

pH H

(1) Al

(1) Ca

(1) Mg

(1) K

(1) Na

(1) SB

(1) CTC

(1)

V (2)

M

(2)

Argila (2)

RC

(3)

T(3)

1 Eutrófico

5,3 6,0 -0,7 2,7 0,0 3,1 0,7 0,07 0,03 3,9 6,6 59

0 50

6,6 13,2

2 Álico

3,9 4,4 -0,5 2,4 1,2 0,6 0,3 0,04 0,02 0,96 4,6 20,8

55,5 55

3,9 8,4

3 Alumínico

3,8 4,3 -0,5 3,0 5,0 0,2 0,1 0,01 0,01 0,32 8,3 3,6

93,0 60

8,9 13,8

4 Ácrico

5,7 5,3 +0,4 2,0 0,0 0,1 0,0 0,03 0,01 0,14 2,1 6,5

0,0 63

0,2 3,3

5 Mesotrófico

4,6 5,4 -0,8 1,7 0,1 1,2 0,3 0,07 0,02 1,59 3,3 46,9

6,3 22

7,3 15,4

6 Mesoálico

4,3 5,1 -0,8 2,4 0,4 0,4 0,2 0,08 0,02 0,70 3,5 20,0

36,3 35

3,1 10,0

7 Distrófico

4,4 5,1 -0,7 1,2 0,2 0,5 0,2 0,05 0,01 0,71 2,1 33,3

22,9 44

2,1 4,8

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

8

No grande grupo adjetiva-se de férrico o Latossolo Vermelho com teor de óxido de ferro total variando de 18 a 36% e o

Nitossolo Vermelho com teor maior que 15%.

Se o Latossolo Vermelho for eutrófico + férrico é classificado como Latossolo Vermelho eutroférrico; se for distrófico + férrico,

como Latossolo Vermelho distroférrico; se for ácrico + férrico, como Latossolo Vermelho acriférrico; etc.

São apresentados exemplos práticos de cálculos de incremento de argila, considerando quatro perfis de solos (A,B,C e D), no

quadro 6 são considerados os dados granulométricos do solo A.

Quadro 6. Dados granulométricos do solo A.

Profundidade (cm) Horizonte % Argila

0-20 A 50

20-40 AB 54

60-80 BA 60

80-100 B 62

Classificação do solo A no nível de ordem

Primeiramente examinar o incremento de argila no perfil:

-média de argila do horizonte A 50+54/2=52

-média de argila do horizonte B 60+62/2=61

Gradiente textural: 61/52=1,17

Foi considerado o valor 1,5 do quadro 2 porque o teor argila do solo é superior a 40%

Portanto, o solo A possui discreto incremento de argila uma vez que o valor 1,17 do solo é menor que o limite1,5 do cálculo.

Atende-se dessa forma a exigência de discreto aumento de argila em profundidade para um desses horizontes B: latossólico

(Latossolo) ou B nítico (Nitossolo) ou B incipiente (Cambissolo).

Sub ordem do solo A

Definido em função dos dados de estrutura, consistência, presença ou não de cerosidade, etc (quadro 7).

Quadro 7. Morfologia e dados mineralógicos dos diferentes solos.

Latossolo Nitossolo Cambissolo

Ausência de cerosidade no horizonte B Cerosidade sempre

evidente no horizonte

B

Ausência de

cerosidade no

horizonte B

Consistência úmida friável ou muito

friável no horizonte B

Consistência úmida

firme ou muito firme

no horizonte B

Consistência

variável

Mica e moscovita, se ocorrer, em

reduzidas quantidades

Ausente Mica e moscovita

em grandes

quantidades

T < 13cmol/kg de argila no horizonte B T 18 a 27cmol/kg de

argila no horizonte B

T variável

Estrutura com grau fraco Estrutura com grau

forte

Estrutura variável

Quadro 8. Dados granulométricos do solo B.

Profundidade (cm) Horizonte Argila

0-20 A 20

20-40 AB 22

60-80 BA 50

80-100 B 52

Ordem do solo B

média de argila do horizonte A 20+22/2=21

média de argila do horizonte B 50+52/2=51

Cálculo do gradiente textural: 51/21=2,42

Verifica-se que o valor 2,42 do solo supera o valor 1,7 do quadro 3 (considerado o fator 1,7 porque o teor de argila do solo

varia de 15-40%% na primeira profundidade), atendendo a exigência de aumento de argila em profundidade para horizonte B

textural do Argissolo ou do Luvissolo.

Refere-se ao Luvissolo se atender ao mesmo tempo duas exigência: ser eutrófico e valor “T” acima de 27cmol/kg de argila no

horizonte B, caso contrário, Argissolo.

Sub ordem do solo B

Considerar as adjetivações de cores de acordo com a figura 1( Argissolo Vermelho se a cor no horizonte B for representada pelo

matiz 2,5YR, Argissolo Vermelho-Amarelo se for 5YR e Argissolo Amarelo para a cor 7,5YR ou 10 YR).

Se for Luvissolo, a maioria utilizada com cana-de-açúcar no Brasil, enquadra-se na sub ordem Crômico, portanto seria Luvissolo

Crômico na sub ordem.

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

9

Quadro 9. Dados granulométricos do solo C.

Profundidade (cm) Horizonte % Argila

0-20 A 8

20-40 C1 10

60-80 C2 11

80-100 C3 12

100-200 C4 12

Ordem do solo C

A textura é arenosa em todo perfil, não sendo aplicável o cálculo de gradiente textural, não existe horizonte B.

Ordem Neossolo porque não existe horizonte B diagnóstico (seqüência de horizontes A-C).

Sub ordem do solo C: Quartzarênico porque a textura é arenosa no perfil e não existe horizonte B textural.

Quadro 10. Dados granulométricos do solo D.

Profundidade (cm) Horizonte % Argila

0-20 A 44

20-40 Rocha 46

Não se calcula o gradiente textural porque inexiste horizonte B.

Ordem do solo C: Neossolo

Sub ordem do solo C: Litólico porque a rocha ocorre na camada muito superficial.

5. AMBIENTES DE PRODUÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR

Ambiente de produção é o conjunto das interações dos atributos dos solos com as condições climáticas locais. As condições

fisico-hidricas, morfológicas, químicas e mineralógicas dos solos associadas com o clima (precipitação pluviométrica,

temperatura, radiação solar, evaporação, ventos) sob manejo adequado da camada arável com relação ao preparo, calagem,

adubação, controle de ervas daninhas e pragas do solo, representam os diferentes ambientes de produção.

Os componentes dos ambientes de produção são representados pela profundidade, a qual tem direta relação com a

disponibilidade de água e com o volume de solo explorado pelas raízes, pela fertilidade, como fonte de nutrientes para as

plantas, pela textura, relacionada com os níveis de matéria orgânica, capacidade de troca de cátions e disponibilidade hídrica, e

pela água, vital para a sobrevivência das plantas e como parte da solução do solo.

A disponibilidade de água é muito reduzida nos solos arenosos ao longo do perfil (Neossolos Quartzarênicos), mas não significa

que os todos solos argilosos ou muito argilosos possuem sempre as maiores disponibilidades hídricas.

Os Nitossolos são argilosos ou muito argilosos destacam-se na disponibilidade hídrica porque possuem estrutura no horizonte B

que favorece a permanência da água no perfil por mais tempo do que os solos semelhantes sem essa estrutura, como ocorre nos

Latossolos argilosos e muito argilosos. Os Latossolos ácricos argilosos e muito argilosos são bem mais ressecados porque nele é

muito forte a micro agregação da fração argila, conseqüentemente, o movimento da água é muito rápido em todo perfil.

Após a chuva ou irrigação, o movimento de água é rápida no perfil dos Latossolos, porém lento no horizonte B dos Argissolos.

Por isso, tais solos possuem maior disponibilidade de água quando o horizonte B não é muito profundo, ou seja de 30 a 60cm

da superfície.

Nessas condições, as raízes suprem a demanda por água num tempo relativamente grande, mas se o horizonte B ocorrer numa

profundidade maior que 60cm o solo resseca-se rapidamente porque as raízes ficam muito distantes do referido horizonte.

Se o horizonte B ocorrer a uma profundidade menor que 30cm pode prejudicar a brotação da cana-de-açúcar pelo acúmulo

temporário de água na superfície causando má brotação.

A importância do horizonte B em armazenar água é nitidamente comprovada na figura 11 que mostra a cana-de-açúcar mais

vigorosa no Argissolo Vermelho-Amarelo ao lado do Neossolo Quartzarênico.

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

10

Figura 11. Desenvolvimento vegetativo da cana-de-açúcar no contato do Argissolo com o Neossolo Quartzarênico.

Os Neossolos Litólicos são também muito ressecados porque são muito rasos (horizonte A de alguns centímetros logo abaixo

da rocha).

A figura 12 apresenta os principais componentes de um ambiente de produção.

Figura 12. Componentes dos ambientes de produção de cana-de-açúcar.

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

11

No quadro 11 constam os ambientes de produção de cana-de-açúcar - (PRADO, 2007).

Quadro 11. Ambientes de produção de cana-de-açúcar da região Centro-Sul do Brasil.

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

12

6. GRUPOS DE MANEJO

Diversos solos devem ser agrupados de acordo com suas semelhanças com relação ao manejo. É apresentado na figura 13 um

exemplo de mapa de solos com grande variabilidade espacial exigindo na interpretação, grupos de manejo.

Figura 13. Mapa pedológico da fazenda Arena do Parque Antártica.

Legenda

LVAe - Latossolo Vermelho-Amarelo eutrófico textura muito argilosa

LVAef - Latossolo Vermelho eutroférrico textura muito argilosa

RQa - Neossolo Quartzarênico álico

LAa - Latossolo Amarelo distrófico típico álico textura média

PVAe – Argissolo Vermelho-Amarelo eutrófico textura arenosa/média

LVa - Latossolo Vermelho distrófico típico álico textura média

Área urbana

Com base nas características pedológicas e da cana-de-açúcar são elaborados grupos de manejo qualitativos com semelhante

resposta ao preparo de solo, gessagem, terraceamento, adubação e alocação de variedades de cana-de-açúcar.

1 -Preparo do Solo

Grupos de Manejo Característica do solo

1 Textura muito argilosa

2 Texturas média ou

arenosa

2 – Gessagem como fonte de cálcio

Grupos de Manejo Característica do solo Gessagem

1 Eutróficos , mesotróficos Desnecessária

2 Ácricos, mesoálicos,álicos Recomendada

Aula do curso a distância tópicos da cultura da cana-de-açúcar – Hélio do Prado

13

3 - Tipo de Terraço

Grupos

de

Manejo

Característica do solo Terraço Solos

1 Baixo gradiente textural Em nível Latossolos e Neossolos

Quartzarênicos

2 Alto gradiente textural Em desnível Argissolos típicos

4 - Adubação Fosfatada

Grupos de Manejo Característica do solo Dose mais altas de P

1 Alto fixação Necessária

2 Baixa fixação Desnecessária

5 - Parcelamento de Potássio

Grupos de Manejo Horizonte A Parcelamento de K

1 CTC Alta/Média Desnecessário

2 CTC baixa Recomendado

6 - Alocação de variedades de cana-de-açúcar

Grupos de Manejo Característica do solo Alocação de plantas

1 Eutróficos, mesotróficos Mais exigentes

2 Ácricos, álicos, mesoálicos,distróficos Menos exigentes

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos.Brasília. 2006.

PRADO, H. Condições químicas dos horizontes sub superficiais para manejo.Fertibio. Lages (SC) 2004.cd rom.

PRADO , H. site www.pedologiafacil.com. 2004.