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Fósforo 1. Importância e primeiros estudos de adubação fosfatada A essencialidade e a importância do P para a produtividade da cana-de- açúcar é assunto conhecido desde as primeiras pesquisas com a cultura, como relatam Aguirre Jr. (1939), com suas pesquisas no IAC, SP, e Strauss (1943) com pesquisas em Pernambuco. No nordeste nessa época, o autor afirmava que a aplicação de 60kg/ha de P 2 O 5 era econômica em 61% dos casos. Pouco mais tarde, 1958, analisando 38 experimentos fatoriais, Gomes e Cardoso indicavam para o nordeste 100 kg de P 2 O 5 como a dose mais econômica para a cana. Em São Paulo, os primeiros estudos de adubação de cana que se tem relato, foram feitos pelo IAC e já demonstraram que o fósforo era responsável pelos maiores aumentos de produtividade. (Tabela 1 e Figura 1 ) Tabela 1. Resposta da cana-de-açúcar à adubação N, P e K. (Aguirre et al. 1939) cana t/ha N1-P0-K0 38 N0-P1-K0 76 N0-P0-K1 41 Figura 1. Resultados do experimento fatorial NPK realizado por pesquisadores do IAC (Aguirre, 1939). Nos anos 70 muitos experimentos foram realizados para entender a resposta da cana-de-açúcar ao fósforo. Sultanum (1976) liderou a instalação de 70

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Fósforo 1. Importância e primeiros estudos de adubação fosf atada

A essencialidade e a importância do P para a produtividade da cana-de-açúcar é assunto conhecido desde as primeiras pesquisas com a cultura, como relatam Aguirre Jr. (1939), com suas pesquisas no IAC, SP, e Strauss (1943) com pesquisas em Pernambuco. No nordeste nessa época, o autor afirmava que a aplicação de 60kg/ha de P2O5 era econômica em 61% dos casos. Pouco mais tarde, 1958, analisando 38 experimentos fatoriais, Gomes e Cardoso indicavam para o nordeste 100 kg de P2O5 como a dose mais econômica para a cana. Em São Paulo, os primeiros estudos de adubação de cana que se tem relato, foram feitos pelo IAC e já demonstraram que o fósforo era responsável pelos maiores aumentos de produtividade. (Tabela 1 e Figura 1 ) Tabela 1. Resposta da cana-de-açúcar à adubação N, P e K. (Aguirre et al. 1939) cana t/ha N1-P0-K0 38 N0-P1-K0 76 N0-P0-K1 41

Figura 1. Resultados do experimento fatorial NPK realizado por pesquisadores do IAC (Aguirre, 1939). Nos anos 70 muitos experimentos foram realizados para entender a resposta da cana-de-açúcar ao fósforo. Sultanum (1976) liderou a instalação de 70

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experimentos no Estado de Pernambuco e concluiu que não havia resposta ao P nos solos de várzea, porém nos solos de encosta deveriam ser utilizadas dosagens que variavam entre 80 a 120 kg/ha de P2O5. Em Alagoas, Soutinho e Farias (1970) recomendavam a utilização de 80 a 160 kg/ha de P2O5 para solos de tabuleiros e chãs e 100 kg/ha de P2O5 para solos de várzeas. Marinho (1979) observou que níveis econômicos para o Estado de Alagoas estavam entre 123 e 178 kg/ha de P2O5. 2. P na planta

A absorção do íon ortofosfato ocorre através do contato da raiz com o ânion que se movimenta por processos de difusão.

O fósforo é um componente vital no processo da fotossíntese, onde participa da conversão da energia solar em energia química e posteriormente na transferência dessa energia para os processos vitais. Na cana-de-açúcar desempenha função importante no metabolismo de açúcares, na divisão celular, no alargamento das células e na transferência da informação genética.

O fósforo promove a formação inicial e o desenvolvimento da raiz, o crescimento com conseqüente maior absorção e a utilização de todos os outros nutrientes. Comparado com a absorção de N e K, as quantidades de P absorvidas pela cana são bem menores (Tabela....), mas em condições de deficiência, a produtividade em termos de massa vegetal e de açúcar são sensivelmente afetadas.

No metabolismo de produção e acúmulo de açúcares da cana, a sacarose é formada quando o composto glucose -1-fosfato se junta à frutose. A energia desse processo também depende de uma molécula constituída por P, o ATP.

Nas características tecnológicas da cana, a presença do P no caldo exerce influencia no processo de clarificação. Caldos com baixo teor de P são de difícil floculação, prejudicando a decantação das impurezas. Estas por sua vez, irão produzir açúcar de pior qualidade e menor valor econômico. Durante o processo de clarificação do caldo, o P reage com hidróxido de cálcio para a formação de fosfato tricálcico, o qual ao flocular e sedimentar arrasta impurezas que ficam no fundo do decantador (Korndörfer, 2004). Quando o teor no caldo estiver abaixo de 200ppm de P2O5, dados de Copersucar 1999, citado por Korndörfer (2004), será necessária a adição de fosfato solúvel ao caldo. Neste caso faz-se aplicação de 50 a 100ppm de P2O5, o que posteriormente gerará um resíduo mais rico em P, no caso a torta de filtro.

A Figura , adaptada de Ferreira et al. (1989), apresenta a tendência de regressão linear para doses de P aplicadas como superfosfato triplo e multifosfato magnesiano e os teores de P no caldo da cana.

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150

162,5

175

187,5

200

212,5

0 50 100 150 200

P2O5 (kg/ha)

P2O

5 p

pm n

o ca

ldo

ST MFM Linear (MFM) Linear (ST)

Figura. . Correlações entre doses de P fornecidas como superfosfato triplo

(ST) ou multifosfato magnesiano (MFM) e teor de P2O5 no caldo (adaptado de Ferreira et al. 1989).

Korndörfer (1994), demonstrou que quanto maior o teor de P nativo no solo,

maior a concentração de P no caldo. Entretanto, não é econômico almejar o aumento do P no caldo aplicando fertilizante fosfatado no plantio da cana. Embora possa ocorrer, o P na adubação deve ser aplicado visando dosagem para aumento de produtividade.

2.1. Sintomas de deficiência de P O sintoma de deficiência mais importante é o baixo crescimento da planta. As folhas velhas se apresentam com tom arroxeado, mais estreitas e curtas. Ocorre também baixo perfilhamento, menor altura dos colmos, menor diâmetro e encurtamento dos entre-nós. (Figura ). FOTO FIG.... 3. P no solo

O fósforo absorvido pelas plantas vem da solução do solo, mas apenas pequenas quantidades de P estão presentes na solução. A principal forma química é o íon ortofosfato ( H2PO4). Existe um equilíbrio entre as formas de P em solução e fracamente ligadas aos minerais e matéria orgânica (P lábil). Assim que o P é retirado da solução do solo, vai sendo reabastecido de maneira a manter o equilíbrio. Com o passar do tempo formas mais estáveis de P são formadas aumentando o pool de P não lábil. O pH do solo influencia na forma química do P que estará na solução e também na eficiência de utilização do P pelas plantas.

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O P ligado a matéria orgânica deverá ser mineralizado pela ação de microrganismos para que seja absorvido pelas raízes. O movimento do P no solo ocorre por processos de difusão. Como o coeficiente de difusão de P no solo é muito baixo, o movimento do íon é lento e por esta razão, o P permanece próximo do local onde foi aplicado, percorrendo apenas alguns centímetros no solo. Isto implica a que as raízes deverão estar bem próximas e por este princípio, a adubação fosfatada é feita no sulco de plantio da cana, a única oportunidade de colocar o fertilizante em profundidade, bem próximo das raízes. A Tabela 2, ilustra esse fato utilizando os dados obtidos por Sultanun (1976), mostrando que os resultados de produtividade da cana quando o P foi aplicado no sulco, foram bem superiores aos apresentados quando a adubação fosfatada foi aplicada em cobertura (4 meses depois). Tabela 2. Influência do modo de aplicação de P na produtividade da cana. (Sultanum, 1976). cana

P2O5 (kg/ha) P - sulco P-cobertura

.......... t/ha........... 0 45 45

40 64 52 80 76 63

120 92 68 160 94 71 200 90 76

A eficiência de utilização do P do fertilizante é baixa. São comuns utilizações pela cana de 10 a 15% do fertilizante aplicado. As doses geralmente são bem maiores que as quantidades exportadas. Concorrem para esses fatores o fato dos solos tropicais com altos teores de óxidos de ferro e alumínio promoverem a fixação do P. Em solos com teores muito baixos de P é importante que as raízes possam ter contato com o P, neste caso são indicadas aplicações em área total. 4. Resposta da cana-de-açúcar à adubação fosfatada 4.1. Fontes e formas de aplicação de P para cana-d e-açúcar

Os fertilizantes fosfatados mais utilizados são as fontes solúveis em água, fosfato monoamônio (MAP), o fosfato diamônio (DAP), o superfosfato triplo (ST) e o superfosfato simples (SS), este com vantagens de apresentar 12% de enxofre.

Os fosfatos naturais, também conhecidos como fosfatos de rocha, englobam diversos minerais fosfatados que podem ter origem ígnea, sedimentar ou metamórfica. São obtidos diretamente das jazidas e podem ou não sofrer processamento industrial. O grupo das apatitas, são fosfatos de cálcio, representado pela fórmula geral (Ca10(PO4)6X2), onde o X pode ser flúor, cloro, hidroxila ou carbonato. Os fosfatos brasileiros são de origem ígnea como o de Catalão,

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Jacupiranga, Patos de Minas e Araxá, com estrutura cristalina muito estável, baixíssima solubilidade em água (praticamente zero) e solubilidade em ácido cítrico menor que 5%. A eficiência de fornecimento de P dessas fontes para as plantas é muito baixa e é favorecida por condições de acidez do solo. Por esta razão, os fosfatos naturais devem ser aplicados ao solo antes da calagem. Maior eficiência de fornecimento de P desses fosfatos ocorrerá em solo ácido, com baixo teor de Ca. A acidez favorece a dissolução da apatita e o baixo teor de Ca fará com que haja um dreno de Cálcio pela cultura, favorecendo também a solubilização da apatita.

Os fosfatos de rocha são a matéria prima para a produção dos fertilizantes solúveis em água e o processamento industrial prevê a quebra da estrutura cristalina mediante a ação de ácidos fortes, como o ácido sulfúrico na fabricação do superfosfato simples e triplo ou na elevação da temperatura na fabricação dos termofosfatos. A reação dos fosfatos naturais com amônia produz os fosfatos MAP e DAP, com alta concentração de nutrientes, vantajoso para transporte a longas distâncias.

Os fosfatos naturais podem ainda ser parcialmente acidulados com o uso de apenas parte do ácido sulfúrico necessária para promover a solubilização total do fosfato natural. São produtos que contém parte do P solúvel em água ou ácido cítrico e parte continua inalterado como fosfato natural.

Os fosfatos de origem sedimentar, conhecidos como fosfatos reativos ou hiperfosfatos, são apatitas com rede cristalina que permite substituições isomórficas de fosfato por carbonatos, o que torna o cristal mais suscetível à solubilização. São encontrados em regiões secas e desérticas como Tunísia (Gafsa), Israel (Arad), Djebel-Onk, EUA (Carolina do Norte) e Marrocos (Daoui). Esses fosfatos têm solubilidade baixíssima em água (próxima a zero) e a solubilidade em ácido cítrico ao redor de 10%, o que indica maior eficiência como fonte de P para as culturas. Por ter baixa solubilidade em água, da mesma forma que os fosfatos naturais, os fosfatos reativos também mostram-se mais eficientes quando aplicados em solos ácidos com baixo teor de cálcio ( Rheinheimer et al. 2001). Entretanto, vários autores recomendam o uso de fosfatos reativos após a calagem. A Tabela 3 apresenta as fontes de fósforo disponíveis no Brasil e sua composição química. Tabela 3. Fertilizantes fosfatados e sua composiçã o química. P2O5 Ca Mg S N Total HCi CNA+H2O H2O total % Hiperfosfato Arad 33 10,5 - - 37 - 1 - Hiperfosfato Gafsa 29 9 - - 34 - - - Hiperfosfato Daoui 32 10 - - 36 - - - Hiperfosfato Djebel-Onk 29 9 - - 35 - - - Fosfato natural Patos 23 4 1,5 - Fosfato natural Araxá 36 5 2 - Fosfato natural Catalão 37 2,5 0,5 Fosfato natural Jacupiranga 33 2 - - Superfosfato Simples 19-21 18 18 16 19 - 12 - Superfosfato Triplo 42-48 44 42 39 13 - - -

Termofosfato Mg( 25% SiO2) 18 16,5 - - 20 7 a 9 - -

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Multifosfato Magnesiano 18-24 - 18-24 - 13-14 3 a 4 8 a 10 -

MAP - 48 44 - - - - 9 DAP - 45 38 - - - - 17

O cálculo de dose deve levar em consideração o teor total de P recomendado pela análise do solo e a meta de produtividade, de acordo com a Tabela .. Essa dosagem é calculada para a cana planta e mais 4 cortes. Em geral, recomenda-se a adubação com fosfato solúvel na linha de plantio. Entretanto, para solos com teor muito baixo de P e preferencialmente com baixa capacidade de fixação de P, recomenda-se a aplicação de P em área total com incorporação, operação conhecida como fosfatagem. Devido à sua solubilidade e à presença de outros nutrientes, as fontes de P diferem quanto à sua eficiência e consequentemente promovem diferentes respostas na produtividade da cana. Alvarez et al. (1965), apresentaram as curvas de resposta às dosagens de 50, 100 e 150kg/ha de P2O5 (Figura 2) e verificaram que o termofosfato yoorin foi a fonte que promoveu ganhos de quase 50% em relação a testemunha não adubada. O fertilizante superfosfato simples apresentou boa resposta na produtividade da cana e as fontes de fosfato natural Alvorada, Araxá, Olinda e Bauxita apresentaram resultados bem inferiores, demonstrando sua menor eficiência.

Figura 2 . Respostas da cana-de-açúcar a fosfatos aplicados no sulco. (Médias de cinco ensaios. Alvarez et al. 1965).

Outra comparação de fontes de P e a produtividade da cana variedade NA56-79, aplicada em Latossolo Vermelho amarelo, textura arenosa, foi obtida por Coleti

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(1983). Na Tabela 4, verifica-se que todas as fontes elevaram a produtividade em relação à testemunha e tiveram eficiência semelhante na cana planta. Nas comparações de fontes é importante verificar a resposta das soqueiras, porque geralmente as diferenças na produtividade aparecem devido às diferenças na solubilidade e no efeito residual dos fertilizantes. Tabela 4. Produtividade da cana-de-açúcar variedade em função de fontes de fósforo aplicadas em Latossolo Vermelho-Amarelo textura arenosa.(Coleti, 1983).

cana t/ha

Testemunha (sem P) 104b Superfosfato simples 130ab Superfosfato triplo 124ab Fosfato Araxá parc.acidulado 122ab Hiperfosfato 127ab Termofosfato 137a Apatita 122ab Farinha de ossos 137a Torta de filtro 141a DAP 124ab MAP 114ab

A Figura , preparada como os dados de Penatti et al. (1997), apresenta os resultados de produtividade da cana planta com a aplicação de diferentes fontes de fósforo, na dose de 40 kg/ha de P2O5. As diferenças ocorreram entre a testemunha e a aplicação de P, porém não entre as diferentes fontes de P, mostrando que as fontes solúveis tem eficiência similar, principalmente quando se avalia apenas um corte.

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0

20

40

60

80

100

120

140

Test

Yoorin ST

Fosm

ag Map SS

cana

(t/h

a)

LV - Us.São Luiz AA LR - Us.São Luiz SA

LV - Us Zanin

Figura . Produtividade da cana planta com aplicação de diferentes fontes de fósforo. (Adaptado de Penatti et al. 1997) Muito embora a maioria dos trabalhos relatem a mesma eficiência da adubação fosfatada entre as diferentes fontes solúveis de P, Magro e Glória (1985) verificaram que o superfosfato triplo (ST) causou danos ao sistema radicular promovendo menor resistência a veranicos. Embora a produtividade encontrada com o uso do ST tenha sido ligeiramente inferior à obtida com o superfosfato simples (SS) e o fosfato de Araxá parcialmente acidulado (FAPS), as diferenças estatísticas ocorreram apenas entre a testemunha não adubada, conforme a Tabela . Tabela . Produtividade da cana-de-açúcar obtida nos diversos tratamentos (Magro e Glória, 1985).

Tratamentos Cana (t/ha)

Testemunha sem adubo 70,8b 400 kg/ha de 5-25-25 90,5ª 1.100 kg/ha de FAPS 99,5ª 500 kg/ha de SS 103,17ª 220 kg/ha de ST 89,67ª

ST = superfosfato triplo, FAPS= fosfato de Araxá parcialmente acidulado

Uma boa estratégia para a adubação fosfatada seria dividir a dosagem de P recomendada entre proporções de P solúvel e parcialmente solúvel com a finalidade de que a fonte solúvel promovesse o aporte de P para a cana planta e o efeito residual representado pelo fosfato parcialmente solúvel pudesse suprir P para as soqueiras. Nesse sentido, Cantarella et al. (2002) estudaram a adubação na dosagem de 120 kg/ha de P2O5 aplicado no plantio da variedade IAC89 3396 em Neossolo quartzarênico, em Assis, SP, nas seguintes proporções: 0, 25, 50, 75 e 100% de Superfosfato triplo (ST) ou fosfato reativo Daoui. O experimento foi mantido por 3 anos consecutivos, mas nas soqueiras apenas foi aplicado N e K. Para a cana

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planta, desfavorecida por fortes déficits hídricos, as diferenças na produtividade ocorreram apenas entre a testemunha sem P e os tratamentos adubados, sem que ocorressem diferenças entre as proporções de ST e Daoui. O mesmo foi observado na primeira soqueira. Na segunda soqueira houve um maior efeito residual do tratamento contendo 75% de Daoui e 25% de ST, de maneira que na somatória da produtividade dos três anos, esse tratamento acumulou 46 t a mais que a testemunha não adubada e 15 t a mais para o tratamento com ST (Figura ).

88 102 101

100 118 104

102 119 104

109 115 105

104 119 114

103 120 106

0 50 100 150 200 250 300 350

Cana (ton/ha)

Testemunha (-P)

100% ST

25% Daoui 75% ST

50% Daoui 50% ST

75% Daoui 25% ST

100%Daoui

Cana Planta

1ª soqueira

2ª soqueira

329

337

329

325

322

291

Figura . Efeito da mistura de fontes com diferentes solubilidades na produtividade de três ciclos da cana-de-açúcar. Cantarella et al. 2002. 4.2. Respostas da cana a doses de P

Em geral as quantidades de P aplicadas a qualquer cultura superam em muito a utilização do nutriente. A eficiência de utilização do P é baixa, devido principalmente à fixação de P pelas argilas e óxidos de Fe e Al. Por esta razão, as doses são sempre muito mais altas do que a cana exporta. Solos argilosos e muito argilosos demandam doses mais altas de P, porque a fixação pode ser muito intensa.

As doses de P que serão aplicadas seguem análise do solo e as tabelas de recomendação da adubação. Solos com teores menores entre 7 e 15 mg/dm3 (extrator resina), apresentam teores baixos de P e demandam doses entre 100 e maiores que 140kg/ha de P2O5 , dependendo da produtividade esperada. Solos com teores menores que 6 mg/dm3 demandam doses de 180 kg/ha de P2O5 . (Ver tabela .)

A calagem aumenta a disponibilidade de P do solo e também a eficiência do uso dos fosfatos solúveis, porque justamente diminui os sítios de adsorção de fosfatos.

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4.3. Fosfatagem

É conhecida como uma prática de correção do solo, onde o P é aplicado a lanço e incorporado na época de preparo do solo, antes da ultima gradagem (nivelamento), com o objetivo de elevar o teor de P do solo, ocupando os sítios de adsorção, e com isto, aumentando a eficiência da adubação posterior de P no sulco. É indicada para solos com teor baixo e muito baixo de P, em geral solos arenosos com teor de argila <30% . Vitti e Maza (2002) recomendam a utilização de 100 kg/ha P2O5 (para solos com menos que 20% de argila) e 150 kg/ha P2O5 (para solos com 20 a 30% de argila).

Quando se utiliza o fosfato natural, principalmente os fosfatos brasileiros como Araxá, Patos ou Catalão, a fosfatagem deve ser aplicada ao solo em área total e incorporada, para aumentar a superfície de contato com o solo e assim a aumentar a dissolução do fosfato; ao menos um mês antes da calagem, pois sua solubilização é favorecida por condições de acidez do solo.

Para a fosfatagem pode-se ser utilizar qualquer fonte de P. Os fosfatos naturais reativos têm aplicação crescente em culturas de ciclo longo, como a cana-de-açúcar por ter liberação lenta do P e menor custo que os fosfatos solúveis. Deve-se utilizar para os cálculos de dosagem o teor total de P (Vitti et al. 2006) Recomenda-se sua aplicação após a calagem, em área total, após o preparo do solo e antes da gradagem para permitir boa incorporação. 4.4. Adubação com P nas soqueiras Existem controvérsias sobre a eficiência da adubação fosfatada nas soqueiras. A recomendação do Boletim 100-IAC (Tabela...) recomenda 30 kg/ha P2O5 aplicados na soqueiras sempre que o teor de P no solo for menor que 15 mg/dm3 (extrator resina). Como nas soqueiras a incorporação do fertilizante é bastante dificultada e sabe-se que o P desloca-se apenas alguns centímetros no solo, existem dúvidas quanto à possibilidade de utilização desse fertilizante pelas soqueiras, uma vez que o sistema radicular já estaria mais profundo. Vários autores mostraram que a dose de P aplicada totalmente no plantio poderia suprir todo o P necessário pelas soqueiras, a exemplo de Bolsanello et al. (1993).

Demattê (2005) fez um cálculo interessante: aplicando 150 kg/ha P2O5 no sulco em solo argiloso, com baixo teor de P. Supondo: fixação de P em 30% do P aplicado e a extração de 0,43 kg de P2O5 por tonelada de massa verde e produtividade de 400 t no ciclo de 5 anos da cultura. Nesse caso, a quantidade de P2O5 necessária, seria: 172 kg P2O5 (400 . 0,43). Descontando os 30% fixados, o solo pode fornecer 105 kg P2O5 . Há um déficit evidente de 67 kg P2O5. Mesmo considerando que o solo possa fornecer algum P além do aplicado pelo fertilizante, é muito possível que falte P para a 2ª. ou 3ª. soqueira. Demattê (2005) lembra ainda que, se a acidez do solo nas soqueiras estiver muito alta, será necessário aplicar também calcário para que haja um melhor aproveitamento do P aplicado.

Quanto ao local de aplicação do fertilizante na soqueira, de maneira geral recomenda-se a aplicação em 15 a 20cm profundidade, desde que não se rompam raízes. Quanto à distância da linha, se não houver compactação, o fertilizante poderia ser colocado no centro da entre-linha. Como em soqueiras de cana-de-

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açúcar é muito comum verificar-se compactação, e atualmente com a presença da palhada que dificulta a incorporação, a aplicação do fertilizante mais próxima da linha com um mínimo de incorporação seria mais recomendável.

Os experimentos realizados por Weber et al. (2002) em Latossolo Roxo no Paraná, com a variedade RB72454 mostraram que a recuperação da produtividade de soqueiras que não haviam sido adubadas nos cortes anteriores por questões de economia de insumos, mostraram sensível recuperação com a adubação N-P-K, entre 40 e 70% de aumento. Entretanto, esse trabalho mostrou que o P promoveu acréscimos de 5 a 13% em relação à adubação N e K nas soqueiras, conforme Figura....

0

1020

30

40

5060

70

8090

100

Exp.1 -3a.soca

Exp.1 -4a.soca

Exp.2 -3a.soca

t/ha

0-0-0

100-0-100

100-100-100

Figura . Produtividade da variedade RB72 454 em 3ª. e 4ª. soqueiras no experimento 1 , e em 3ª. soqueira no experimento 2. Usina Casquel, PR. (Dados de Weber et al. 2002). 4.5. Adubação foliar com P

Como os solos podem fixar muito do P aplicado nas adubações, existe interesse em avaliar a eficiência de aplicações foliares de P. Yadav & Yaduvanshi, (1989), verificaram que as folhas de cana absorvem P aplicado via foliar, quando estudaram as doses de 13,1 e 26,2 kg/ha de P2O5, em complementação à adubação feita no sulco de plantio, aplicadas com soluções de 2 e 4% de DAP, parceladas em duas vezes com intervalo de 10 dias. O trabalho apenas verificou a absorção e o maior acúmulo de P na folha, mas não acompanhou a cultura até a produção. No Brasil não existem dados recentes conhecidos sobre adubação foliar de P. 4.6.Adubação Fosfatada fluida

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A adubação fluida pode ter algumas vantagens como: maior flexibilidade para adubações diferenciadas, principalmente na agricultura de precisão; melhor uniformidade de aplicação, aplicações conjuntas de inseticidas e adubos e em muitos casos, menor custo. As desvantagens dizem respeito a implantação de infra-estrutura para a produção do fertilizante e dos implementos para aplicação. A principal fonte de fósforo solúvel é o ácido fosfórico, que apresenta 52% de P2O5, d=1,7 e 4% de gesso e pode ser aplicado puro ou em mistura com outros produtos (Bittencourt & Beauclair, 1992). Também podem ser utilizadas as fontes MAP ou DAP.

Korndörfer (1991) aponta as principais vantagens e desvantagens da adubação fluida e comenta que a eficiência dos adubos fosfatados fluidos não difere da forma sólida desde que neste, o P seja solúvel. Comenta que uma das vantagens é a flexibilidade de aplicação: o adubo fluido pode ser aplicado na linha, em faixas ou em área total e conforme a capacidade de fixação de P do solo, pode-se diminuir ou aumentar a faixa de aplicação. Quanto maior a capacidade de fixação de P deve-se diminuir o contato como o solo e portanto, diminuir a faixa de aplicação.

No caso do fósforo os resultados experimentais não apresentaram diferenças entre o P na forma fluida ou sólida, conforme mostra a Tabela.... Tratamentos Forma Cana física t/ha 50-130-160 (uréia,-, KCl) Sólido 133 50-130-160 (uréia,SFT,KCl)

Sólido 146

50-130-160 (aquamônia, ac.fosfórico,KCl

Fluido 144

50-130-160 (uréia, ac.fosfórico, KCl)

Fluido 142

Fonte: Korndörfer, (1991). 5. Interação do P com outros nutrientes 5.1.Interação P e calagem

É reconhecida a ação da calagem na melhoria da disponibilidade do P do solo e na maior eficiência de absorção de P pelas plantas. O aumento do pH do solo aumenta a disponibilidade de P para a cana, conforme mostram os dados de . Os efeitos de P e da calagem são aditivos. Demattê (2005), pesquisou o efeito da calagem e da adubação fosfatada aplicadas após a 1ª soqueira (2º. corte), em Latossolo Roxo com CTC próxima de 11,2 cmol dm-3, cujos teores de Ca + Mg estavam ao redor de 3,2 cmol dm-3 (indicativos de ausência de resposta à calagem segundo recomendações do CTC), na Usina Passatempo, MS. A saturação por bases, entretanto era de 29%, e os resultados indicaram boa resposta da produtividade à calagem, ao P e ao efeito aditivo da calagem e do P (Figura ). A aplicação de calcário elevou a saturação por

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bases próxima a 50%. Estes dados indicam ainda que apenas a aplicação de P não foi suficiente para elevar a produtividade. A calagem elevou em 21 t/ha ao longo de 3 anos, mas o efeito conjunto da calagem com o P, permitiu o ganho de produtividade foi de 37 t/ha em relação à testemunha, ao longo dos 3 anos avaliados.

52 76 54

56 85 62

60 93 66

56 77 65

0 50 100 150 200 250

Cana (ton/ha)

0 t/ha Cal + 0 kg/ha P2O5

2 t/ha Cal + 0 kg/ha P2O5

2 t/ha Cal + 40 kg/ha P2O5

0 t/ha Cal + 40 kg/ha P2O5

3ª soqueira

4ª soqueira

5ª soqueira

182 t

203 t

219 t

188 t

Figura . Efeito da calagem e da adubação fosfatada na recuperação da produtividade de soqueiras.(Demattê, 2005) 5.2. Interação P x N Observa-se em geral que a capacidade da planta em absorver P aumenta conforme se elevam os teores de N. O Nitrogênio possivelmente interfere na interação com o P de maneira sinérgica por aumentar a produtividade da parte aérea e também o sistema radicular e com isso aumentar a exploração das raízes e o contato destas com o P. A Figura ilustra esse fato com os dados de Sultanum et al. (1976). Verifica-se que houve aumento do teor foliar de P, com o aumento das doses de N aplicadas à cultura da cana.

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040

80100 P

(%)

N(%)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

1,6

1,8

doses de N

Figura . Efeito do aumento das doses de N no teor foliar de P e N na cana-de-açúcar. (adaptado de Sultanum, 1976) 5.3. Interação P x Mg Aumentando a dosagem de P, existe aumento na absorção da Mg desde que este elemento não esteja em teor baixo no solo. Com os dados obtidos por Sultanum, (1976), também podemos verificar essa interação.

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

0 40 80 160 200

doses de P 2O5

ug.g

-1 P (ug.g-1)

Mg (ug.g-1)

Figura . Efeito do aumento das doses de P2O5 nos teores foliares de P e Mg.(Adaptado de Sultanum et al. 1976)

5.4. Interação P x micronutrientes

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Elevadas doses de P podem ocasionar deficiências de Cobre, Ferro e Zn. Como a maioria dos solos onde a cana-de-açúcar é cultivada apresentam teor de P baixo ou muito baixo, é difícil verificar a deficiência desses micronutrientes em função de alta dosagem de P. 6. Resposta da cana ao uso da torta de filtro

A torta de filtro é um resíduo da produção do açúcar proveniente do processo de clarificação do caldo. O lodo dos decantadores e o bagacinho são filtrados a vácuo, em filtros rotativos, aproveitando ainda parcelas de caldo e restando a torta de filtro. Atualmente, algumas destilarias também introduziram o sistema de clarificação do caldo e assim também obtém a torta de filtro. Em geral são produzidas entre 22 e 40 kg de torta por tonelada de cana moída, com média de 30kg.

Nos anos 60, a torta de filtro era aplicada em área total nas áreas de renovação dos canaviais ou aplicadas na entre-linha das soqueiras com caminhões. No início dos anos 70 a Usina São José de Macatuba, SP, aplicava a torta nos sulcos através de carretas e descargas manuais, mostrando a eficiência dessa forma de uso em solos arenosos. A partir dessa idéia, foram desenvolvidas carretas com sistemas de esteiras para a distribuição uniforme do material.

Dos muitos experimentos que foram feitos com o uso de torta de filtro, tem-se o seu uso como prática rotineira nas usinas, principalmente substituindo total ou parcialmente o P. Como grande parte do P presente na torta é orgânico e deverá ser mineralizado antes de ser utilizado pela cana, recomenda-se que seja considerada apenas metade do teor de P2O5 da torta para compor a dosagem recomendada pela análise do solo, necessária para 5 anos da cultura e aplicada no sulco de plantio. (Raij et al. 1996 Boletim 100).

Em geral, considera-se que 50% do P da torta pode ser prontamente disponível para a cana. Utiliza - se a torta em condições diversas, como:

1. Área total nos talhões em reforma, com incorporação; 2. Em soqueiras nas entre-linhas, com leve incorporação ou sem

incorporação; 3. No sulco de plantio; 4. Compostagem. As opções 1 e 2 procuram elevar o patamar de fertilidade do solo,

acrescentando uma fonte orgânica. Não são formas muito eficientes de fornecer o P da torta para a cana. As opções 3 e 4 representam uso mais racional da torta de filtro, com maior aproveitamento dos nutrientes.

Em geral, observa-se que a torta de filtro (úmida) é aplicada em área total em doses entre 80-100 t/ha em pré-plantio; no sulco de plantio entre 15-30 t/ha ou nas entrelinhas, nas soqueiras entre 40 e 50 t/ha. Se necessário faz-se complementação com fertilizante fosfatado solúvel.

Abaixo listamos os principais benefícios do uso da torta de filtro: a) torta de filtro é matéria orgânica e contribui com todas as melhorias

advindas do uso de matéria orgânica no solo, como aumento da CTC, maior retenção de cátions que serão fornecidos pela adubação como o K o Ca e o Mg,

b) matéria orgânica auxilia na retenção de água;

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c) além de P, a torta é um material rico em matéria orgânica, em Ca, N e Fe. A torta apresenta baixa concentração de K e Mg, conforme Tabela. Os nutrientes da torta estão pouco sujeitos a lixiviação e estarão disponíveis com a mineralização da matéria orgânica. A torta também apresenta micronutrientes;

d) durante a mineralização da torta, assim como de outras fontes de matéria orgânica, os microrganismos produzem substâncias quelantes e complexantes que podem reduzir a fixação do P no solo e também podem produzir substâncias promotoras de crescimento radicular;

e) quando utilizada fresca, o teor de água da torta é importante para a brotação das mudas de cana. Também o calor desprendido durante a decomposição da torta no fundo do sulco pode favorecer a brotação, principalmente em plantios realizados no inverno.

Como é comum à maioria dos resíduos, a concentração em nutrientes na torta não é completa e balanceada, sendo que, geralmente é necessária a complementação. No exemplo contido na Tabela . verificamos os dados médios encontrados na literatura, comparados aos dados de uma amostra de uma partilha obtida na Us. Ferrari, SP, em 2006. A Usina Ferrari utiliza 10t/ha de torta com umidade de 40% ou seja, 6t/ha de material seco. Na Tabela , apontamos as quantidades de nutrientes que estão sendo fornecidas pela torta em comparação com adubação padrão, geralmente utilizada por muitas usinas, de 500kg/ha no plantio da fórmula 5-25-25 (Tabela ). Verifica-se que o uso da torta coloca mais N, Ca e Mg que o adicionado com a adubação padrão. Quanto ao N, salientamos que trata-se de nitrogênio orgânico que necessita ser mineralizado, o que significa que será liberado lentamente para a cultura. Teremos necessariamente que complementar a adubação de plantio com torta principalmente com K e com P.

Tabela . Composição química da torta de filtro da U sina Ferrari, comparada com dados da literatura.

Máximo* Mínimo* Média* Us. Ferrari Elemento --------------------% na matéria seca ------------- -------------

N 2,84 0,97 1,41 1,80 P2O5 2,89 0,95 1,94 2,70 K2O 0,60 0,24 0,39 0,85 Cão 4,68 0,97 2,10 4,70 MgO 2,35 0,33 0,89 0,53 C 50,36 20,47 39,60 24,3 C/N 17,70 21,10 28,10 13,5 Umidade 79,41 60,72 74,98 53,1 pH 6,9 * os resultados máximos, mínimos e médios constam de levantamento feito pela Copersucar e descritos em Cadernos Copersucar, série agronômica n.001

Tabela . Nutrientes fornecidos pela torta de filtro da Usina Ferrari e pela adubação padrão.

N P2O5 K2O CaO MgO ------------------------ kg/ha -------------------- ---

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Torta (6 t/ha mat seca/ha)

108 81 * 51 282 31,8

Adubação padrão com 500kg 5-25-25

25 125 125 - -

Diferença +83 -44 -74 +282 +31,8 * Foi considerado apenas 50% do P 2O5 da torta como disponível.

O experimento de Coleti et al. (1986) demonstrou que em solo de baixa fertilidade, ocorreu a necessidade de complementação da adubação de plantio usando torta de filtro, no sulco, com 60kg/ha de P2O5 e 120 kg/ha de K2O. Este experimento está descrito com mais detalhes no item sobre compostagem da torta. A melhoria da fertilidade do solo é esperada após a adição de torta de filtro. O trabalho de Rodella et al.(1990), demonstra que após 30 meses da aplicação de torta de filtro, análises de solo ainda apresentavam dados mais elevados de Ca , P e da CTC. Tabela . Propriedades químicas do solo após 8 e 30 meses da aplicação de torta de filtro. (Rodella et al. 1990) pH C P K Ca Mg Al CTC % ug/g .------------------ cmol c.dm3--------------------

Testemunha 5 1,07 32 0,12 1,07 0,54 1,11 2,75

Torta após 8 meses 5,2 1,24 188 0,12 3,63 0,61 0,25 4,62

Torta após 30 meses 5 1,21 109 0,1 3,15 0,57 0,45 4,29 Ao aplicar a torta de filtro no sulco existe um estímulo para que as raízes se aprofundem, o que é bastante desejado para a cana-de-açúcar. A Figura,... apresenta a distribuição percentual das raízes (média de duas variedades) quando a torta foi aplicada no sulco comparada com a aplicação em área total ou sem aplicação (Nardim, 2007).

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Figura . Distribuição percentual do sistema radicular da cana-de-açúcar com a aplicação de torta de filtro no sulco ou em área total. (Nardim, 2007).

Atualmente, com o plantio mecanizado da cana, a plantadora desenvolvida

pela Usina São Martinho, SP, juntamente com Centro de Tecnologia Copersucar, e produzida pela Santal, já aplica torta de filtro conjuntamente com as demais operações de plantio mecanizado.

6.1. Compostagem da torta de filtro Os estudos sobre compostagem da torta são antigos. O objetivo inicial é o de

diminuir umidade para reduzir custos de transporte e também tornar os nutrientes mais disponíveis, através da mineralização da matéria orgânica, trazendo maior racionalização e ganhos econômicos no uso e na aplicação. A torta fresca apresenta em média cerca de 75% de umidade. Em determinadas condições, como os plantios em épocas de inverno, quando temos pouca chuva, a umidade da torta pode ser essencial para a brotação da cana, garantindo melhor uniformidade de brotação. Para estes usos, a compostagem não é tão vantajosa.

A compostagem pode ser feita adicionando fuligem, calcário, gesso, vinhaça, ou outra fonte qualquer de nutrientes, devendo-se verificar o interesse e a economicidade da mistura desses materiais à torta. A torta recém saída da usina, vai para o pátio de compostagem onde é acondicionada formando leiras de 5 a 6 m de largura com 1,5 a 2m de altura, deixando um intervalo de 6 a 10m de espaço livre entre as leiras para o transito de máquinas que transportam e que revolvem a torta. Vários materiais podem ser adicionados às leiras, como fuligem, cinzas, bagaço, calacário, gesso, fosfatos reativos, e outros resíduos. Na época de plantio, a torta é transportada para os talhões e aplicada. Quando se procede à compostagem, verifica-se que após 2 meses, com 4 ou 6 revolvimentos, já existe a estabilização dos compostos. A Copersucar desenvolveu uma máquina autopropelida para o revolvimento da torta (Figura ). A Civemasa comercializa um implemento para ser acoplado no trator.

Na Usina São Martinho,SP, o manejo da torta é diferenciado. As leiras de torta são misturadas com esterco de galinha e calcário. A seguir são dispostas nos sulcos de plantio e posteriormente os sulcos são fechados. Na época de plantio, os sulcos são novamente abertos para a disposição das mudas de cana. A Usina São Martinho vem implantando um sistema de “canteirização” onde o trânsito de máquinas ocorre apenas na entrelinha. O preparo do solo concentra-se apenas na linha. Com toda a palhada acumulada ao longo de mais de 10 anos, e a grande adição de matéria orgânica representada pelos resíduos agrícolas, a cana vem sendo plantada praticamente em “canteiros”, como numa grande horta. Fotos...

Na Usina Ferrari experimentou-se fazer os seguintes tratamentos à torta: 1. Torta A - com um revolvimento da pilha de armazenamento; 2. Torta B - com cinco revolvimentos da pilha de armazenamento; 3. Torta C - mistura de 2t de torta + 2 t de cinza + 700kg de cal com 1

revolvimento. Os resultados encontram-se abaixo:

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Tabela . Valores encontrados em função do efeito co mpostagem.

Torta A* Torta B* Torta C* Elemento ----------------------------% na matéria seca ----- -----------------------

N 2,05 1,80 0,90

P2O5 2,20 2,70 1,05 K2O 1,08 0,85 1,80 Cão 6,70 7,70 37,8 MgO 0,46 0,53 0,51 C 38 24,3 11,5 C/N 18,53 13,5 12,77 Umidade 70 53 56,32 pH 6,9 6,9 7,90 (*) - torta A - com um revolvimento da pilha de arm azenamento; torta B - com cinco revolvimentos da pilha de armazenamento; Torta C - mistura de 2t de torta+ 2 t de cinza + 700kg de cal com 1 revolvimen to.

Verifica-se que o revolvimento reduziu o Carbono que se perde em CO2, a conseqüente queda da relação C/N, o maior teor dos elementos e a perda de umidade. A mistura nas proporções utilizadas resultou num produto com alto CaO, maior teor de K em detrimento da concentração de N e P. Mesmo elevando o pH, ocorreram possivelmente perdas por volatilização de N. No experimento de Coleti (1986), a torta foi aplicada “in natura” ou compostada, com complementação mineral, em Latossolo Vermelho amarelo, arenoso. A compostagem relativa aos dados selecionados para compor a tabela, foi feita através da mistura de 74% em peso de torta de filtro, mais 25% de inoculante, mais 1% de superfosfato simples. Verificou-se que a complementação mineral aumentou a produtividade principalmente nas dosagens de 60kg/ha de P2O5 e 120 kg/ha de K2O. A torta supriu todo o N necessário para a cana. (Coleti, 1986). Tabela . Produtividade da cana em função da aplicação de torta de filtro “in natura” ou compostada, com complementação mineral. (Coleti, 1986). Produtividade da cana

Torta de filtro Composto torta

filtro N-P2O5-K2O 1.Corte 2. Corte Média t/ha t/ha kg/ha .......................t/ha........................

0 0 0-0-0 69 71 70 15 0 0-0-0 92 95 93 0 15 0-0-0 92 92 92

15 0 0-60-60 99 96 97 0 15 0-60-60 105 94 100

15 0 0-60-120 114 98 106 0 15 0-60-120 112 100 105 0 0 20-120-120 97 94 95

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Figura 3. Revolvedor de torta de filtro para a compostagem, desenvolvido pela

Copersucar.

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Adubação e calagem em cana-de-açúcar Ronie Richard Jardim Mestrando em Tecnologia da Produção Agrícola do Curso de Pós-Graduação em Agricultura Tropical e Subtropical do Instituto Agronômico [email protected] Raffaella Rossetto