auditores revisores

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SNC em discussão pública OROC apoia auditores em Angola BCE emite parecer sobre CNSA COOPERAÇÃO COM AS UNIVERSIDADES Revista da Ordem dos Revisores Oficiais de Contas AUDITORES Nº 40 JANEIRO/MARÇO 2008 EDIÇÃO TRIMESTRAL DISTRIBUIÇÃO GRATUITA BOLONHA CRIA NOVAS OPORTUNIDADES REVISORES RA40_AF.qxp:Capa 08/05/10 22:27 Page 1

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Page 1: AUDITORES REVISORES

SNC em discussão pública

OROC apoia auditores em Angola

BCE emite parecer sobre CNSA

COOPERAÇÃOCOM AS UNIVERSIDADES

Revista da Ordem dos Revisores Oficiais de ContasAUDITORES

Nº 40 JANEIRO/MARÇO 2008EDIÇÃO TRIMESTRALDISTRIBUIÇÃO GRATUITA

BOLONHA CRIA NOVAS OPORTUNIDADES

REVISORES

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REVISORES AUDITORES JAN/MAR 20082

JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

Encerramento de Contase Orçamento de Estado

Relatório e Normas Técnicas

Amostragem em Auditoria Testes Substantivos

Fiscalidade por Rubricas do Balanço

Seguros - Novo Sistema Contabilístico

Impacto da Informática na Auditoria

Fiscalidade por Rubricas daDemonstração de Resultados

Consolidação de Contas

Avaliação de Empresas

Código das Sociedades Comerciais

Sistema de Normalização Contabilística(2 edições)

Contabilidade no Sector Público

Consolidação no Sector Público

Auditoria no Sector Público

Relações Interpessoais e Desenvolvimentodas Relações Comerciais

Planeamento, Avaliação doRisco e Materialidade

Sustentabilidade

Controlo Interno

Fraude: Responsabilidade do ROC,Trabalho a Efectuar e Consequências no

Âmbito da AuditoriaDocumentação e Suporte do

Trabalho Realizado

Amostragem em Auditoria

Novas Normas do IASB eAlterações às Anteriores

Instrumentos Financeiros

Plano de Formação Contínua para 2008

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Page 3: AUDITORES REVISORES

Editorial

MODERNIZAR A PROFISSÃO

À Ordem compete, com base no quadrolegal aplicável, criar as condições para quea profissão seja desempenhada de formaadequada, no cumprimento da lei e dosdemais normativos técnicos aplicáveis.

Importa, desde logo, que o quadro legalseja claro e objectivo e que esteja alinha-do com as práticas profissionais adopta-das em países de referência. Por outrolado, há que identificar melhor a profissãocom os interesses que pretende salvaguar-dar sendo, de todos eles, o mais relevante,obviamente, o interesse público.

Porém, o sucesso de uma profissão nãopode depender, apenas, do quadro norma-tivo que a institui e do seu papel de guar-dião, mais ou menos activo, das boaspráticas contabilísticas.

Os profissionais da revisão legal e da audi-toria às contas, terão de assumir um papelmais activo na avaliação e acompanha-mento dos sistemas de governação dasentidades que fiscalizam. Não é mais pos-sível continuar a adoptar as mesmas prá-ticas de outrora quando, hoje em dia, asempresas tendem a ser globais, as opera-ções se desmaterializam e os produtospassam a ter características híbridas cujacaracterização, transacção e tratamentocontabilístico estão cada vez mais, aoalcance de um menor número de agentesque controlam a sua execução.

Há que rever a fundo as práticas do gover-no societário e criar mecanismos de con-trolo interno mais efectivos.

Exige-se, por um lado, maior transparên-cia na gestão e mais verdade e objectivi-dade na informação divulgada e, poroutro lado, mais competência na fiscaliza-ção exercida. Em todo este processo demudança os Revisores, por força das suasatribuições, têm que ser parte activa.

Naquilo que à Ordem diz respeito, temosvindo a focalizar a nossa acção nas seguin-tes grandes linhas de actuação:

- Promover a actualização do EstatutoProfissional;

- Promover a melhoria das qualificaçõesprofissionais;

- Alargar as áreas de intervenção profis-sional;

- Incentivar o trabalho contínuo no domí-nio da formação individual;

- Salientar a importância da CorporateGovernance para a profissão, e

- Reforçar a cooperação com as Univer -sidades, na selecção e formação dos fu -tu ros candidatos a Revisores.

A nossa acção, ainda que não suficiente-mente divulgada, tem consistido no apoiosistemático das opções estratégicas favo-ráveis ao desenvolvimento e sustentabili-dade da profissão.

Mas há que reconhecer que o desenvolvi-mento e a sustentabilidade da nossa pro-fissão dependem, sobretudo, da formacomo os Revisores desempenham as suasfunções quando se relacionam com omundo empresarial, com as entidadespúblicas e com os demais destinatáriosdos seus serviços.

Temos boas razões para acreditar que arevisão estatutária que se avizinha irácriar novas oportunidades para os Revi -sores, irá reforçar a credibilidade da pro-fissão e irá ajudar a modernizar as suaspráticas e a sua imagem.

ANTÓNIO GONÇALVES MONTEIROBASTONÁRIO

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Page 4: AUDITORES REVISORES

DirectorAntónio Gonçalves MonteiroDirector AdjuntoAntónio Pires CaiadoConselho de RedacçãoAntónio Alexandre Pereira BorgesCarlos Marques BernardesDomingos José da Silva CravoLuísa Anacoreta CorreiaVictor Domingos Seabra FrancoCoordenaçãoNorberto TeixeiraDesignRita PiresApoio e SecretariadoAna Filipa GonçalvesE-mail: [email protected] dos Revisores Oficiais de ContasNIPC 500918937Rua do Salitre 51 1250-198 LISBOATel: 213 536 158 Fax: 213 536 149Membro da Associação Portuguesa de Imprensa não DiáriaInscrição na ERC n.º 111 313

DGCS SRIPDepósito Legal n.º 12197/87ISSN 0870-3566Execução GráficaBRITOGRÁFICA Tel: 219 487 025 / 917 221 636DistribuiçãoGratuitaTiragem2000 ExemplaresOs artigos são da responsabilidadedos seus autores e não vinculam aOROC

05 Em Foco• Entrevista ao Prof. Doutor Alberto de Castro• Assembleia Geral Anual aprova Relatório e Contas

09 Eventos• Encontros na Ordem

• Nova apólice de Seguro de ResponsabilidadeCivil Profissional

• Regulamento de Formação Profissional• Preços de Transferência

• XII Curso de Pós-Graduação em Direito dos Valores Mobiliários

12 Notícias• SNC – Discussão Pública• Visita a Portugal do Presidente da IFAC• Cooperação com Angola• Relatório do Combate à Fraude e Evasão Fiscais• Banco Central Europeu

emite parecer sobre o CNSA• Direcção dos Serviços de Finanças

de Macau visita a Ordem• Comissão Europeia apresenta propostas

de Simplificação• Encontro Luso-Galaico no Porto• Congresso da FEE sobre Pequenas e médias

empresas

20 Auditoria• Uma estrutura baseada em princípios

Fábio de Albuquerque e Miguel M. Tavares• A auditoria das pequenas e médias empresas

António Gonçalves

44 Gestão• Valor em risco (VAR – value at risk)

Eduardo Sá e Silva

53 Fiscalidade• A simplicidade e a instabilidade no sistema

fiscal Português – Prioridades da política fiscalJosé Manuel de Paiva Gomes

61 Mundo• Comissão Europeia nomeia “High Level Group

of Independent Stakeholders on AdministrativeBurdens”

• IFAC divulga Guia de Apoio Técnico a Auditores

• Itália tem novo organismo profissional

Sumário

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13 20

44 53

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Page 5: AUDITORES REVISORES

Em Foco

Assiste-se actualmente à reformulação do sistema de ensinouniversitário na Europa para dar cumprimento aos objectivosconstantes da Declaração de Bolonha, onde a harmonizaçãode metodologias, exigências e graus, a mobilidade dosestudantes e a competitividade das escolas assumem factoresde relevância. A Ordem dos ROC’s, enquanto parteespecialmente interessada na qualidade do ensinouniversitário, mostra-se atenta às evoluções sentidas porforma a melhor fazer corresponder os interesses da profissãoa potenciais revisores e auditores. Neste contexto, a Ordemdos ROC’s ouviu o Prof. Doutor Alberto de Castro, prestigiadoeconomista portuense, professor na Faculdade de Economia eGestão da Universidade Católica Portuguesa de que foidirector desde a sua fundação até ao início deste ano.OROC - Que alterações significativas foram introdu-zidas com a adaptação dos cursos da Faculdade deEconomia e Gestão da Universidade CatólicaPortuguesa à Convenção de Bolonha?

AC – Uma forma redutora, e demasiado simplista, dever a Convenção de Bolonha é dizer que a mesma setraduziu no corte de um ano de formação nas licencia-turas em Gestão e em Economia. Se assim fosse,Bolonha significaria um retrocesso e a deterioração daqualidade da formação com que os licenciados são colo-cados no mercado. Na verdade, por detrás de Bolonhaestão mudanças profundas no paradigma educativo ede aprendizagem. As licenciaturas deixam de ser vistascomo um trajecto escolar correspondente a um deter-minado número de anos, passando a ser um processo

de aquisição de conhecimentos traduzido na acumula-ção de um conjunto de créditos, denominados nestecontexto ECTS - European Credit Transfer System(Sistema europeu de transferência de créditos). Essadesignação tem subjacente a ideia e o propósito do seureconhecimento internacional, uma espécie de “euro”do conhecimento. Esses créditos estão intimamenteassociados ao volume de trabalho que o estudante temde desenvolver para obter a aprovação na disciplina emcausa. Nesse esforço são contabilizadas não apenas ashoras lectivas clássicas, como as que resultam do acom-panhamento mais personalizado do aluno e, sobretudo,as horas que se estima o aluno tenha de despender emtrabalho autónomo, individual ou de grupo. Assim, aslicenciaturas da faculdade de Economia e Gestão,reformuladas no âmbito do processo de Bolonha, exi-gem uma maior responsabilização aos estudantes, tra-duzida na realização frequente de trabalhosautónomos, na necessidade de integração de conheci-mentos teóricos e realidades práticas e na execução detrabalhos em grupo, nos quais é exigida capacidade detrabalho em equipa e se efectua um tirocínio prático daliderança.

OROC - Ainda assim, não haverá um empobrecimen-to da formação quando comparada com a anterior?

AC – É evidente que são realidades dificilmente com-paráveis, nomeadamente se continuarmos a ter emmente os velhos cursos com cinco anos de formação.

Entrevista ao

Prof. Doutor Alberto de CastroEconomista; Professor e Director do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Faculdadede Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa; Membro da Comissão Administrativa daUniversidade Católica – Centro Regional do Porto

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Mas, relativamenteaos cursos que já exis-tiam, com quatro anosde duração, se os pres-supostos de Bolonhaforem preenchidos,não creio que os alu-nos saiam com piorformação. Na verda-de, os novos curriculaestão formatados parasalvaguardarem umasólida formação teóri-ca e técnica de base,na área de conheci-mento da licenciatura.Mas, para além disso,há agora um investi-mento para que, emparalelo, os alunosadquiram um conjun-to de competênciascomportamentais quesão, igualmente, críti-cas para o bomdesempenho profissio-nal. Estas competên-cias, transversais atodas as áreas doconhecimento, as de -no minadas soft skills,passam pelo saberexpor conteúdos, sabercomunicar, ter capaci-dade analítica e deintegração, ter compe-tências de trabalhoem equipa, descobrir aresponsabilidade indi-vidual e de e para ogrupo, aprender alidar com a incerteza,etc. Estamos em crerque, com esta combi-nação, conseguiremosque os nossos alunos“cresçam mais depres-sa”, tenham umamaturidade que vaipara além da idadeapresentada no seuB.I.. Ao que não será,

igualmente, estranho o investimento que a Escola fazem disciplinas associadas à ética e à responsabilidadesocial e que apelam a que os nossos licenciados, maisdo que técnicos competentes, sejam cidadãos de corpointeiro.

OROC - Os cursos da Faculdade de Economia eGestão envolvem, então, um reforço da obtenção decompetências transversais, além da aquisição deconhecimentos técnicos?

AC - Sim, a Faculdade de Economia e Gestão inves-tiu, e investe, fortemente no desenvolvimento de softskills pessoais e interpessoais, sem abdicar da forma-ção técnica, agora mais assente no “aprender a apren-der” do que na transmissão unilateral de conceitos. Istonão significa uma ruptura total com o sistema ante-rior. Significa sim que o sistema de aprendizagem sebaseia ainda mais num trabalho contínuo, com umforte envolvimento e acompanhamento por parte dosdocentes e uma responsabilização acrescida por partedos alunos. Este sistema tem uma vantagem: quemcumprir o plano de trabalho estabelecido está menosdependente do eventual carácter aleatório do exame.Mas, simultaneamente, impõe disciplina: o estudo indi-vidual nas vésperas de testes e exames não é de todosuficiente para obter aproveitamento. Parece-nos queesta é, também, uma forma de aprendizado para avida profissional em que, mesmo quando há “provasfinais”, o trabalho é muito mais um processo continua-do e que exige disciplina.

OROC - Nos planos de curso que consultámos, cha-mou-nos a atenção a existência, todos os anos, de umadisciplina de “projecto”. Em concreto de que se trata?

AC - Essas disciplinas não são exactamente uma emcada ano na medida em que, num regime de créditos,não existem “anos” no sentido tradicional do termo.Em qualquer caso, antes de terminar o seu curso, oaluno tem de realizar, como disse, três disciplinas deprojecto integrado, isto é, disciplinas em que é reque-rido ao aluno a demonstração da capacidade de apli-car, de uma forma integrada, os conhecimentos queadquiriu até aí. Esse exercício é, no caso do projecto,sempre feito no contexto de um grupo de trabalho,normalmente de constituição aleatória (na vida realmuito poucas vezes escolhemos com quem vamos tra-balhar!). As disciplinas vão tendo um conteúdo queevolui do geral para o particular, de problemas da eco-nomia ou da sociedade para projectos específicos, pas-sando pela análise de organizações. É um excelente

Em Foco

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Em Foco

teste à aptidão para perceber o carácter multidiscipli-nar de muitas das questões com que se vão defrontar,directa ou indirectamente, na sua vida profissional. Osalunos têm respondido muito bem, havendo trabalhosque surpreenderam pela sua qualidade, não apenas osprofessores mas os júris de avaliação que, frequente-mente, integram profissionais exteriores à Escola.

OROC - Como reagiram os professores a tudo isto?

AC - No Centro Regional do Porto da Universidadehouve um processo relativamente longo de preparaçãopara Bolonha. Estudaram-se experiências de outrasEscolas, nacionais e estrangeiras. Discutiram-se asmudanças das metodologias de ensino que seriamnecessárias. Investiu-se na formação dos professores,sensibilizando-os para a mudança e motivando-os aserem ainda mais exigentes. Ao mesmo tempo, procu-rou-se criar as condições para uma generalização dautilização das novas tecnologias, enquanto instrumentode apoio nos e para os novos métodos de ensino. Comoé óbvio, houve resistências, cepticismo, ou não estivés-semos em Portugal. Dois anos passados sobre o iníciodo processo, o balanço é francamente positivo e, pare-ce-me, que mesmo os mais cépticos estão hoje conver-tidos. O que não quer dizer que estejamoscompletamente satisfeitos e que não haja mudançasque não tenham de vir a ser introduzidas.

OROC - A Convenção de Bolonha trouxe uma novaorganização para as licenciaturas e mestrados emEconomia e Gestão …

AC - A obtenção de graus académicos no ensino uni-versitário está organizada por ciclos. No primeiro ciclo,correspondente em Portugal ao grau de licenciatura, oobjectivo é que o estudante adquira uma sólida forma-ção de base e, num plano pessoal, evolua e amadureçade modo a potenciar a sua capacidade de “aprender aaprender” na área de conhecimentos que escolheu. Osegundo ciclo, que em Portugal corresponde ao grau demestrado, destina-se à especialização de conhecimentos

numa área mais restrita de formação. Note-se, contu-do, que ambos os ciclos são profissionalizantes, ou seja,a obtenção quer de licenciatura, quer de mestrado,indicam que o estudante finalizou um ciclo de estudosque lhe permite integrar o mercado de trabalho. A cha-mada “empregabilidade” é uma das preocupações cen-trais de Bolonha e está subjacente quer ao desenho dosplanos de estudo quer aos métodos de ensino. Noentanto, o grau de mestre indica que o estudante optoupor especializar os seus conhecimentos numa área deconhecimentos concreta, optando por aprofundar a for-mação de banda larga fornecida pela licenciatura.

OROC - Como relaciona as exigências da profissão deRevisor Oficial de Contas e a organização do ensinouniversitário por ciclos?

AC - A obtenção de uma licenciatura, correspondente aoprimeiro ciclo, assenta na aquisição de uma formação debase, complementada por uma postura ética e atituderesponsável perante um conjunto de conhecimentos téc-nicos. A realização da profissão de ROC exige conheci-mentos técnicos mais específicos pelo que a frequência dosegundo ciclo tem que ser estimulada. Não esqueçamosque os novos mestrados Bolonha, correspondentes aosegundo ciclo de formação universitária, contêm necessa-riamente uma orientação profissionalizante. Os mestra-dos de Bolonha, organizados na base de unidades decrédito, têm, também, uma maior flexibilidade no umreconhecimento de competências e saberes adquiridosfora dos circuitos normais da universidade. A título deexemplo, a tese de mestrado pode ser substituída poruma reflexão sobre o exercício de uma profissão ou porum estágio profissional, no qual se enquadra, natural-mente, o estágio para ROC. Em geral, considero queexistem as condições para um aprofundamento dacooperação entre as universidades e a Ordem dosROC’s no propósito de prestigiar o estatuto dos ROC’s.A maior qualificação dos profissionais eleva, obviamente,o estatuto da profissão e dos seus profissionais. E esta éindispensável para fazer face aos novos desafios coloca-dos pela “corporate governance”.

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Em Foco

Relatório e Contas de 2007 – Aprovação e reflexãoNo dia 19 de Março teve lugar a Assembleia Geralanual para, nos termos dos Estatutos, se analisar evotar o Relatório do Conselho Directivo e as Contasreferentes ao exercício de 2007.

Foi uma ocasião para se reflectir, com os Colegas pre-sentes, sobre os resultados de um ano de trabalho, decooperação e de intensa actividade.

A ACTIVIDADE DESENVOLVIDA NO ANO DE 2007Foram salientados os acontecimentos que mais marca-ram a profissão no ano de 2007 e que em seguida seenunciam:• A conclusão dos trabalhos de transposição da 8.ª

Directiva• As alterações efectuadas ao Estatuto Profissional• O estudo sobre a limitação da Responsabilidade

Civil Profissional• O alargamento do mercado profissional aos

Municípios e ao Ensino Superior• As matérias relacionadas com o SIMPLEX, em

Portugal e na UE• As questões levantadas pela nova lei das associações

públicas• O novo Decreto-Lei sobre o planeamento fiscal• A participação da Ordem no âmbito da actividade

desenvolvida pela FEE• A desejada aproximação ao organismo que represen-

ta a profissão a nível internacional (IFAC)• A própria gestão interna da Ordem

ACTIVIDADES DE NATUREZA TÉCNICAPassaram-se em retrospectiva as principais actividadestécnicas que têm sido desenvolvidas na área técnica daprofissão, nomeadamente:

• A emissão de Directrizes de Revisão/Auditoria(DRA)

• Os projectos de DRA em curso• A emissão de Circulares de natureza técnica• A produção da Newsletter• A edição do Manual do Revisor em CD-ROM• O desenvolvimento e melhoramento da informação

disponível do site da Ordem• A coordenação do Comité de Revisão das Normas

Internacionais de Relato Financeiro (IFRS) da ver-são inglesa para a versão portuguesa

• Respostas a diversos questionários

FORMAÇÃO PROFISSIONALFoi efectuada uma descrição sobre os trabalhos paradesenvolver o sistema de formação profissional contínuae sobre o curso de preparação para futuros revisores.Depois de efectuada a análise em termos estatísticos,apontou-se para o que se perspectiva para o futuro ime-diato, face aos deveres acrescidos para a classe decorren-tes do novo Regulamento de Formação em vigor.

A GESTÃO INTERNAFoi feita uma reflexão conjunta sobre os aspectos maismarcantes da gestão dos recursos da Ordem, sobre ocontrolo dos custos, a optimização dos proveitos esobre os resultados crescentes, claramente patentes nodocumento em análise.

O Relatório e Contas de 2007 foi aprovado por unani-midade pela Assembleia Geral.

Assembleia Geral Anual

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Eventos

Tratando-se de uma matéria que assume o maior inte-resse na actividade dos Revisores Oficiais de Contas, eface às alterações previstas para o Estatuto Jurídicoda Ordem, aprovadas em Assembleia Geral de 26 deJulho de 2007, este assunto ganhou renovada impor-tância com a reformulação do art.º 73.º referente àsquestões do regime da Responsabilidade CivilProfissional e do seu Seguro obrigatório, e pela intro-dução do art.º 93.º-B sobre a Responsabilidade Civilperante terceiros.

Foi tendo em conta esta realidade factual que a Ordemconvidou os seus membros para um encontro sobre otema, dedicado em particular às recentes alterações

contratuais introduzidas na apólice do referido seguro,e suas consequências práticas. Isto, apesar de não tersido ainda possível fazer reflectir integralmente oimpacto das modificações efectuadas no Estatuto, oque apenas será possível após o seu enquadramentolegislativo.

A apresentação do tema esteve a cargo do Vogal doConselho Directivo da Ordem, Dr. Horácio LisboaAfonso, que decorreu nos dias 21 e 28 de Janeiro docorrente ano, no Porto e em Lisboa, respectivamente,tendo sido seguida por um interessante debate com osColegas sobre os aspectos práticos daquelas alterações.

Encontro na Ordem

Nova Apólice de Segurode Responsabilidade CivilProfissional

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Eventos

Encontro na Ordem

Regulamento de Formação ProfissionalA Formação Profissional Obrigatória e as suas consequências práticas

A Assembleia Geral Extraordinária de 26 de Julho doano transacto, aprovou o novo Regulamento deFormação Profissional dos Revisores Oficiais deContas, que entrou em vigor no início do presente ano.As novas regras foram, como se sabe, consequência dasmodificações operadas na Directiva n.º 2006/43/CE,do Parlamento e do Conselho, de 17 de Maio (conhe-cida como 8.ª Directiva), relativa à revisão legal dascontas anuais e consolidadas.

Estas alterações vieram impor aos Estados Membros aobrigação de assegurar que estes profissionais partici-pem em programas adequados de formação contínua, afim de se garantir que estes mantenham actualizadosos seus conhecimentos técnicos. Esta formação deverátambém proporcionar a aquisição de novas valênciasprofissionais nas áreas nucleares do seu campo deactuação profissional. Para além da elevada qualifica-

ção técnica e profissional que deverão manter, esta for-mação deverá, contudo, visar aspectos deontológicos eéticos, com o objectivo de alertar para os princípiosfundamentais que regem a profissão, nomeadamenteem termos de independência, responsabilidade, compe-tência, urbanidade, legalidade e sigilo profissional.

Tratando-se de matéria da maior relevância para aprofissão, a Ordem realizou nos dias 12 e 15 do mês deFevereiro, com o apoio do Coordenador da Comissãode Formação, o Colega César Abel RodriguesGonçalves, dois encontros de Colegas, um no Porto eoutro em Lisboa, dedicados à apresentação, esclareci-mentos e debate sobre questões de interpretação e apli-cação deste novo Regulamento em matéria deFormação da classe.

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Eventos

À semelhança do que tem acontecido em anos lectivosanteriores, a Ordem, participou através do Vogal doseu Conselho Directivo, Dr. António Marques Dias, emsubstituição do Bastonário, na Conferência apresenta-da aos alunos do XII Curso de Pós-Graduação emDireito dos Valores Mobiliários, realizado peloInstituto de Valores Mobiliários, da Faculdade deDireito da Universidade de Lisboa, no dia 19 deFevereiro do corrente ano.

A Conferência teve como tema “O sistema de supervi-são pública dos auditores”, assunto que está na ordemdo dia dos profissionais em Portugal e em toda a UniãoEuropeia, resultado da transposição para o ordena-

mento jurídico nacional da Directiva de Auditoria. Aapresentação abordou questões como a evolução histó-rica recente da profissão em Portugal, no espaço euro-peu e no mundo; as associações de profissionais e o seupoder de auto-regulação; a experiência americana como PCAOB; o sistema de supervisão estatuído na 8.ªDirectiva versus o sistema actual da supervisão nacio-nal da profissão; perspectivas para o futuro imediato.

Esta apresentação foi seguida por um debate centradoessencialmente na vertente legal do sistema de super-visão pública, reflectindo aliás a formação base dosalunos presentes.

Instituto de ValoresMobiliários da FDLA Ordem participa em Pós-Graduação

Encontro na Ordem

Preços de transferênciaAspectos práticos em debate

O tema mereceu uma análise adequada, seguida de umdebate sobre as questões que se levantam à volta desteconceito, nomeadamente, o seu regime legal (art.º 58.ºdo CIRC), tratamento fiscal, as obrigações declarati-vas (informação a incluir nos respectivos anexos daDeclaração Anual de Informação Contabilística eFiscal), tipos de transacções, volume e métodos, etc..

Visto ser este um tema relevante sobre o qual osRevisores deverão estar não só informados, mas teradequada formação teórica e conhecimento dos aspec-

tos práticos desta questão, a Ordem convidou a Dra.Clara Dithmer, especialista responsável pela equipa depreços de transferência da Pricewaterhousecoopers,que apresentou a comunicação sobre o tema, e liderouo debate que se seguiu, na Sede da Ordem, em Lisboa,e na Secção Regional do Norte, no Porto, nos dias 11e 12 de Março, respectivamente. Esta acção de forma-ção foi considerada como formação acreditada paraefeitos das regras estatuídas no novo regulamento deFormação Profissional da Ordem, recebendo os seusparticipantes um certificado de participação.

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Notícias

Durante um prazo de 60 dias, que terminará em mea-dos do próximo mês de Junho, estará em discussãopública o “Sistema Nacional de NormalizaçãoContabilística” (SNC) que em 2010 irá substituir oPOC e demais legislação com ele conexa.

Assim, vai haver tempo para, como resultado da dis-cussão pública, se poderem introduzir melhorias e aco-lher as sugestões que se revelem adequadas de modo aque o documento final possa receber o apoio alargadodas empresas que o irão adoptar e dos profissionais dacontabilidade que o irão utilizar como ferramenta rele-vante para se conseguir um melhor relato financeiro.

A solução adoptada que, como é sabido, foi inspiradano modelo IASB, irá permitir uma maior comparabili-dade das demonstrações financeiras face a empresascongéneres e outras jurisdições, designadamente dospaíses que integram a União Europeia.

O SNC tomou em consideração a natureza e caracte-rísticas do tecido empresarial português, designada-mente no que se refere à reduzida dimensão da maioriadas empresas, estabelecendo um modelo simplificadopor forma a não onerar os custos administrativos a quea adopção integral do SNC iria, por certo, obrigar.

Deverá ocorrer no próximo mês de Julho a primeiravisita a Portugal, de um Presidente da InternationalFederation of Accountants (IFAC), organização de quea OROC é membro há mais de 20 anos.

Numa perspectiva de estreitamento de relações institu-cionais com a organização mundial que agrega as asso-ciações profissionais de auditoria, o Conselho Directivoirá colocar em agenda, para discutir com o Presidenteda IFAC, assuntos do maior interesse para a profissãodesignadamente quanto às perspectivas da sua evolu-ção a nível mundial.

A OROC não deixará de dar à visita do Presidente daIFAC, a relevância de que a mesma se reveste.

Presidente da IFAC visita OROC

SNC

Discussão Pública

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Page 13: AUDITORES REVISORES

Notícias

Cooperaçãocom Angola

No mês de Fevereiro o Ministério das Finanças e daAdministração Pública deu a conhecer o relatório dasactividades desenvolvidas em 2007 no âmbito do com-bate à fraude e evasão fiscais.

Ao longo de 123 páginas o relatório apresenta “dadosestatísticos relativos ao contencioso tributário e aosprocessos instaurados em consequência da prática deinfracções tributárias. São igualmente inseridos dadosrelativos ao levantamento do sigilo bancário e a penho-ras automáticas. Inclui-se também neste relatório ovolume das prescrições de dívidas fiscais à data de 31

de Dezembro de 2007 bem como o saldo da dívida emexecução fiscal à mesma data”.

O relatório aborda, ainda, os esquemas fraudulentos eabusivos de maior complexidade aos quais dedica aten-ção especial, referindo as medidas adoptadas e osresultados alcançados.

As áreas prioritárias de intervenção durante o ano de2008 são igualmente objecto de referência, destacando-se as principais actividades de inspecção e controlo arealizar.

Conforme tem sido publicamente divulgado estão emfase adiantada de preparação os trabalhos relativos àcriação de um mercado de capitais regulamentado emAngola.

A OROC tem vindo a estabelecer contactos no senti-do de, com a sua experiência, contribuir para a criaçãoda profissão de auditor naquele país.

A partir do próximo mês de Maio está programada adeslocação a Luanda de um membro do ConselhoDirectivo da OROC para dar início a um projecto decooperação técnica e institucional a que a Ordem atri-bui a maior importância.

Relatório do Combate à Fraude e Evasão Fiscais

13JAN/MAR 2008 REVISORES AUDITORES

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Page 14: AUDITORES REVISORES

Notícias

Banco Central Europeu emiteparecer sobre o CNSAParecer do Banco Central Europeu

A propósito da transposição da directiva da auditoria(a chamada 8.ª Directiva, n.º 2006/43/EC doParlamento e do Conselho, de 17 de Maio de 2006),relativa à revisão legal das contas anuais e consolida-das, no dia 16 de Novembro de 2007, o Banco CentralEuropeu (BCE) em Frankfurt am Main, na Alemanha,recebeu do Ministério das Finanças e da Admi -nistração Pública da República Portuguesa, um pedi-do de parecer sobre os dois projectos de decreto -lei. Oprimeiro projecto vem atribuir a responsabilidade pelaorganização do CNSA (Conselho Nacional deSupervisão de Auditoria) de harmonia coma referida Directiva. O segundo vemintroduzir as consequentes altera-ções ao próprio Estatuto Jurídicoda Ordem dos RevisoresOficiais de Contas, decorren-tes do Direito Comunitárioreferido.

O pedido de parecer decorrena competência legal doBCE em se pronunciar sobreprojectos de disposições legaisquando estas estejam relacio-nadas com o Banco de Portugal(que é o caso), ao abrigo do dispos-to no n.º 4.º do art.º 105.º doTratado que institui a ComunidadeEuropeia e no terceiro travessão do n.º 1 do art.º2.º da Decisão 98/415/CE do Conselho, de 29 deJunho de 1998. O BCE aprovou o referido parecer nodia 26 de Fevereiro do corrente ano, com base no art.º17.º-5, primeiro período, do seu Regulamento Interno.

O Parecer do BCE, assinado pelo seu Presidente, Jean-ClaudeTrichet, incidiu fundamentalmente sobre o primeirodos referidos projectos, uma vez que, de acordo com oart.º 5.º daquele, o Banco de Portugal (BP) integra oCNSA como membro permanente (art.º 9(1)(a) doEstatuto do CNSA), através de um dos seus membrosdo conselho de administração. Na opinião expressa doBCE, e ao abrigo do último período do art.º 14.º-4 dos

Estatutos do Sistema Europeu de Bancos Centrais(SEBC), “a responsabilidade e o risco pelo exercíciodestas funções cabe ao Banco de Portugal”, e sendo oCNSA um órgão independente, ao abrigo do n.º 1 doart.º 2.º dos seus Estatutos, as atribuições agora con-feridas a este órgão não prejudicam as atribuições ecompetências legalmente outorgadas ao BP (n.º 2 doart.º 3.º do Estatuto do CNSA).

Importa sublinhar que o BCE se pronunciou tambémespecificamente no que concerne a responsabilidade

deste novo órgão, notando que este “não tempersonalidade jurídica mas goza de per-

sonalidade jurídica” (n.ºs 1 e 3 doreferido Estatuto). Tal afirmação

implica que a “falta de persona-lidade jurídica” no que dizrespeito ao regime da res -ponsabilidade extracontra-tual, implicará forçosamenteque essa respon sa bilidaderecaia sobre os próprios mem-bros do CNSA, inferindo o

parecer que se deve ponderaradequadamente esta questão.

Além disso, surge outra preocu-pação resultante da “ausência de

personalidade jurídica” deste órgão, erelacionada com o seu regime financeiro,

uma vez que tal ausência implicará uma “afecta-ção de meios humanos, técnicos e materiais” pelas pró-prias entidades que o integram (art.ºs 14.º, n.º 1, e27.º, n.º 1 do Estatuto do CNSA), obrigando, paraisso, a uma prévia orçamentação anual, permitindoque aquelas entidades integrantes possam mobilizar osadequados recursos.

Conclui o parecer pela preocupação do BCE em quetais funções adicionais, agora atribuídas ao BP, em vir-tude da transposição da Directiva, não venham pôr emcausa a sua capacidade operacional para executar assuas funções, recomendando que este processo sejaobjecto de um adequado e cuidado companhamento.

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Notícias

A Colega do Conselho Directivo da Ordem, ElisabeteSimões, recebeu, no Salão Nobre da Sede, a visita daDirectora dos Serviços de Finanças do Governo daRegião Administrativa Especial de Macau (RAEM),Dra. Orieta Lau Ioc Ip, cujas funções englobam, tam-bém, a supervisão da “Comissão de Registo dosAuditores e dos Contabilistas” (CRAC) que é o órgãopúblico ao qual compete superintender o exercício daauditoria e da contabilidade na RAEM. Nesta reunião,esteve também presente o seu Assessor Jurídico, o Dr.Carlos Amaral.

Esta visita enquadrou-se no âmbito de uma visita decortesia da Dra. Loreta, na sua passagem de 1 dia, porLisboa (vinda da Suíça a caminho de Macau), em queaproveitou para visitar algumas entidades Portuguesasrelevantes para a profissão, entre as quais, a nossaOrdem.

A reunião iniciou-se com uma breve apresentaçãosobre a actual fase de consolidação da profissão, emMacau, desde que o território se tornou numa RegiãoAdministrativa Especial da República Popular daChina.

Seguidamente, foram abordados diversos assuntos, atítulo informativo, relativos à situação da profissão em

Portugal e os impactos que esta já teve, e ainda seespera que venha a ter, decorrentes da publicação delegislação a nível Europeu, designadamente os decor-rentes: (i) do Regulamento relacionado com a obriga-toriedade de adopção, por certa categoria deEmpresas, das Normas Internacionais deContabilidade emitidas pelo “International AccountingStandards Board” – IASB -, e (ii) a Directiva deAuditoria (habitualmente, designada como 8.ªDirectiva), bem como a forma como Portugal se adap-tou / está a pensar adaptar-se às novas exigências.

Nestes campos, foram abordados, com particular por-menor, por interesse expresso dos convidados: (i) oprocesso de tradução das normas do IASB para efeitosde publicação no Jornal Oficial das ComunidadesEuropeias, (ii) o Novo Sistema de NormalizaçãoContabilística (SNC) – cuja sessão, de apresentaçãoem Audiência Pública, veio a ocorrer, em 16 de Abril,numa iniciativa promovida pelo Secretário de Estadodos Assuntos Fiscais de Portugal e (iii) o estado datradução e implementação das Normas Internacionaisde Auditoria da “International Federation ofAccountants” (IFAC) em Portugal, no momento pre-sente, e a sua previsível evolução decorrente da trans-posição, para Portugal, da referida Directiva, numfuturo próximo.

Relações InternacionaisA Ordem recebe Delegação Macaense

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A Comissão Europeia apresentou, no dia 10 de Marçode 2008, uma lista de dez acções para a redução dosencargos administrativos das empresas, com vista aaumentar a sua competitividade. Este é o segundopacote de medidas e integra o programa geral daComissão para reduzir os fardos administrativos dasempresas, em 25%, até 2012. Estima-se que o impactodestas propostas de simplificação se traduza numaredução de encargos de cerca de um bilião de euros.

Algumas das novas propostas para simplificar a legis-lação actual das sociedades são:

• Menos traduções aquando da abertura de sucursaisem outros Estados-Membros: A necessidade de tertraduções certificadas por vários Estados-Membrosdeixará de ser exigida quando a mesma língua é pra-

ticada. Esta proposta irá contribuir para baixar ocusto de estabelecer novas sucursais de empresas.

• O requisito para as empresas divulgarem na sua con-tabilidade as despesas de instalação e de segmentaros seus resultados, em categorias de actividade emercados geográficos são considerados excessivospara as PME e devem por isso ser abolidas.

• Facilitar a introdução no mercado do novo equipa-mento de rádio e telecomunicações: Os produtoresdevem notificar os seus novos produtos, em todos osEstados-Membros, apenas uma vez. Esta medida iráreduzir os custos causados pela existência de regrasdiferentes nos Estados-Membros.

Comissão Europeia elaboraPropostas para a Redução de Encargos Administrativosdas Empresas

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• Reduzir documentação para as empresas que forne-cem medicamentos no mercado comunitário. Lidarcom leis diferentes nos Estados-Membros mobilizamais de 60% do trabalho dos departamentos legaisdas empresas. Esta simplificação irá facilitar a alte-ração de leis de embalamento ou de processo de pro-dução sem ameaçar a segurança dos pacientes.

• Reduzir as obrigações de relato estatísticas das PME(Intestat): A Comissão tenciona reduzir o número deempresas que têm de relatar no mercado de comér-cio intracomunitário.

• As empresas deixarão de ser obrigadas a pagar emduplicado os custos relativos à publicações de deter-minados actos em jornais oficiais dos Estados-Membros e mediante registo electrónico.

As referidas dez acções de simplificação deverão pro-porcionar uma poupança de 1,3 biliões de euros, paraas empresas europeias. Cinco das dez referidas acçõesjá foram formalmente adoptadas. O ParlamentoEuropeu e o Conselho irão, provavelmente, adoptar asrestantes propostas, durante o ano de 2008.

Para mais informação poderá consultar o memorando da Comissãona página de Internet da OROC (www.oroc.pt).

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Encontro Luso-GalaicoVai realizar-se uma vez mais o Encontro Luso-Galaicodos Auditores e Revisores de Contas, de Espanha ePortugal, na sua IX edição, na cidade do Porto, nosdias 10 e 11 de Outubro de 2008, subordinado ao tema“Os Novos Desafios para a Contabilidade e Auditoria”.

A organização do evento estará a cargo da SecçãoRegional do Norte da OROC e da AgrupaciónTerritorial IV do Instituto de Censores Jurados deCuentas que estão a ultimar um programa de traba-lhos e social que motive uma forte adesão da parte deAuditores/Revisores Oficiais de Contas e deEstagiários.

O Encontro terá lugar no Auditório da BibliotecaMunicipal Almeida Garrett, instalada nos emblemáti-cos Jardins do Palácio de Cristal.

A sessão de abertura contará com a presença do Sr.Dr. Rui Rio, Presidente da Câmara Municipal doPorto.

Durante o encontro serão tratados temas genéricosrelacionados com a economia desta região da Europa(Norte de Portugal e Galiza), que conta com cerca de6,5 milhões de habitantes e temas específicos relacio-nados com a Contabilidade e Auditoria de grande rele-vância para a profissão.

O Encontro servirá também para proporcionar umsalutar convívio entre colegas de profissão dos dois paí-ses.

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19JAN/MAR 2008 REVISORES AUDITORESJAN/MAR 2008 REVISORES AUDITORES

FEEFOURTH SME/SMP CONGRESS

COPENHAGEN, 3-5 SEPTEMBER 2008

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The Nordic Federation of AccountantsThe European Federation of Accountants

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A estrutura conceptual internacional dos trabalhos de asseguração:Uma estrutura baseada em princípiosA Estrutura Conceptual Internacional dos Trabalhosde Asseguração (EC), desenvolvida pelo InternationalAuditing and Assurance Standards Board (IAASB),conselho emissor de normas ligado à InternationalFederation of Accountants (IFAC), firma-se como um

documento de significativa relevância na prossecuçãodo objectivo de aprofundamento do movimento deharmonização internacional desde sempre apregoadopor este organismo.

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A intensa competitividade, a globaliza-ção, o advento das novas tecnologias, asmudanças de atitudes e expectativas depúblicos diversos, entre outros factores,pressionam as organizações a conduzir ea gerir os seus compromissos de assegu-ração (CA) em conformidade com osrequisitos regulamentares a seremobservados, de forma a cumprir com aspretensões e objectivos dos accionistas eoutros destinatários. Nesse contexto aIFAC, correspondendo à crescente exi-gência internacional de harmonização,terá delineado como linha de orientaçãoum novo posicionamento da EC, tendopara tanto procedido, em 2003, à reor-ganização do corpo normativo entãovigente. Deste modo, apoia-se aquela,em primeiro plano, na observância doCódigo de Ética (IFAC Code of Ethicsfor Professional Accountants) e dasNormas Internacionais de Controlo daQualidade (International Standards onQuality Control, ou ISQC), aplicáveisaos relatórios emitidos após 1 deJaneiro de 2005, e advinda em substi-tuição a anterior ISA 120 (EstruturaConceptual das Normas Internacionaisde Auditoria).

O crescente esforço da IFAC não terásido em vão, de tal modo que a relevân-cia dada pela União Europeia (UE) aostrabalhos desse organismo fora recente-mente concretizada na revisão da 8ªDirectiva, passados 22 anos sobre aanterior, e que tenciona para um futuromuito próximo a adopção – ainda quede modo parcial, como tem procedidorelativamente às normas do IASB – dasISA e outros diplomas de fundamentalinteresse à segurança e protecção, emprimeiro plano, dos investidores, e, con-sequentemente, à dignificação dos pro-fissionais de auditoria e à credibilidadedos seus trabalhos.

O aspecto crítico que a nova estruturanormativa da IFAC tenta solucionarsitua-se particularmente na dificuldadede regulação de um conjunto amplo deserviços personalizados que se relacio-nam com os CA, assumidos pelos profis-sionais executores, e planeados emfunção da realidade específica das diver-sas actividades das entidades abrangi-das (taylor-made), mediante a utilizaçãode abordagens de auditoria que tentamresponder aos requisitos nacionais einternacionais, por vezes conflituantes.

A necessidade de uma clara distinçãoentre os trabalhos de asseguração e não-asseguração, e ainda, inseridosnaqueles, os trabalhos de auditoria erevisão legal das contas, conduz-nos àproposta de apresentar neste a definiçãoe objectivos dos diferentes trabalhosexecutados pelos profissionais de audi-toria, alguns dos quais abordados comalguma minúcia pela EC.

1. Enquadramento da EC no movimento deharmonização internacional: O contextoeuropeu

No contexto regional, cabe desde logoreferir que a UE terá assumido comoprioridade a harmonização na esferacontabilística, stricto sensu. Tal posicio-namento concretizou-se com a adopçãono território da comunidade, a partir deJaneiro de 2005, das IAS e IFRS, bemcomo as respectivas interpretações téc-nicas, SIC/IFRIC, emitidas pelo IASB,em observância ao prescrito noRegulamentos nº 1606/2002/CE, doParlamento Europeu e do Conselho, de19 de Julho.

Frits Bolkestein (2006), comissário euro-peu responsável pelo pelouro doMercado Interno, a este propósito teráafirmado que:

Fábio H. F. de Albuquerque António M. M. Tavares

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A União Europeia esforça-se constantemente por pre-servar a confiança nos mercados de capitais europeus,procurando melhorar a qualidade, a comparabilidade ea transparência das informações financeiras fornecidaspelas empresas. Procura, assim, adaptar as normas emmatéria de informação financeira actualmente aplica-das na UE às necessidades dos mercados de capitaisinternacionais.

No âmbito exclusivo da auditoria, as ISA da IFAC,terão sido objecto de maior atenção apenas algunsanos mais tarde, com a aprovação da Directiva2006/43/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho,de 17 de Maio, relativa à revisão legal das contasanuais e consolidadas1; revogando ainda a anteriorDirectiva 84/253/CEE, do Conselho, de 10 de Abril,que esteve em vigor por mais de 22 anos. Acreditamosque uma das suas motivações prende-se com a necessi-dade de, como valida Costa (2007): “reconquistar aconfiança do público nos mercados financeiros forte-mente abalados com a profusão de escândalos que ao

longo dos últimos anos têm vindo a afectar grandesgrupos empresariais, alguns deles de âmbito multina-cional”. Vejamos, poucos anos antes, também a corro-borar essa afirmação, a Recomendação nº 2002/590/CE,da Comissão, de 16 de Maio, a classificar a indepen-dência como critério fundamental e prioritário degarantia da credibilidade e fiabilidade dos trabalhosdos revisores oficiais de contas, e ainda, nos EstadosUnidos da América, em resposta mais célere aos refe-ridos acontecimentos, o surgimento da “SarbanesOxley Act”, como outro exemplo da necessidade denovo impulso ao trabalho dos revisores, pela via daregulamentação, entre outras matérias, das evidentessituações de incompatibilidade.

Seguindo com o estudo da 8.ª Directiva (revista), esta,já no seu preâmbulo, indica como novidades um objec-tivo de “(5) harmonização de elevado nível – mas nãototal – dos requisitos da revisão legal das contas”, pas-sando ainda a aplicar-se exclusivamente à auditoriaexterna (revisão legal das contas, no normativo nacio-

1 Uma crítica levantada Costa ((2007), e que faz todo o sentido aqui recordar, respeita ao próprio título da Directiva, que menciona “con-tas anuais e consolidadas” em substituição à “contas individuais e consolidadas”. A falha observada conduz-nos a um simples raciocínio:ora, se é verdade que nem todas as contas consolidadas são de periodicidade anual, também algumas destas podem sê-lo.

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nal). A auditoria externa, que não o simples examesimplificado (review, desta feita na terminologia anglo-saxónica), surge por necessidade e a pedido daempresa, exercendo-se por auditor externo com totalindependência relativamente a esta. Parece-nos deve-ras incompatível com a política de livre circulação debens, pessoas e capitais, propagada pela União, a exis-tência de diferentes organismos emissores de normastécnicas e de conduta profissional. Esta situação con-duz resolutamente à necessidade de subscrição, a todosos Estados membros, do Código de Ética da IFAC,num primeiro momento; e numa fase seguinte à aceita-ção das ISA – com data de início de aplicação previs-ta para meados do próximo ano. A 8.ª Directiva(revista) clarifica ainda as obrigações dos auditores eas regras sobre a sua independência, suportadas numanova estrutura conceptual de regulação da profissão ena melhoria da cooperação entre as autoridades daUE. Assume, por fim, a necessidade de uma coopera-ção internacional mais activa com as autoridades deregulação de países terceiros, em harmonia com mer-cados de capitais cada vez mais interligados a nívelmundial.

2. Os princípios como base de sustentação da ECO processo de harmonização em curso promovido pororganismos reguladores em matéria contabilísticadeveria, para muitos, traduzir a necessidade do estabe-lecimento de firmes princípios subjacentes aos norma-tivos, papel este prescrito inicialmente pela ciência, enuma fase mais avançada pela filosofia das ciências.Como refere Sá (2002), a conquista de uma maturida-de científica torna natural uma interpretação científicados factos com maior agudeza, geradora de uma lógi-ca do conhecimento baseada na filosofia das ciências,ou do “conhecimento do conhecimento”. Mautz eSharaf (1961) desde muito manifestam a necessidadede uma filosofia subjacente à elaboração de uma estru-tura conceptual, nos seguintes termos:

Uma filosofia leva-nos de volta aos princípios base daracionalidade subjacente às acções e pensamentos queassumimos como válidos. A filosofia preocupa-se coma organização sistémica do conhecimento de tal formaque esta se torna mais útil e com menor probabilidadede entrar em contradições (…) Acredita-se que umaabordagem filosófica (conceptual) à auditoria podeaumentar a confiança do público nas funções da audi-toria e no seu grau de eficácia e eficiência, ao provi-denciar como fundação de suporte, uma organizaçãoestruturada de conhecimentos de auditoria, minimi-zando as inconsistências internas existentes.

Não se trata, porém, de um tema consensual querentre académicos quer entre os corpos responsáveispela emissão de normas internacionais emContabilidade e em matérias relacionadas2, como é ocaso do IASB. Este organismo tem vindo, mais recen-temente, a priorizar a adopção de normas baseadas emregras de modo semelhante ao que predomina desde hámuito no americano FASB – em detrimento de normasbaseadas em princípios (principles based standards). AIFAC por seu turno, através do IAASB3, e em confor-midade com as suas funções de organismo normativo,entendeu como necessário e útil a elaboração de umaEC consubstanciada numa abordagem baseada emprincípios, de forma a proporcionar um quadro firmede referência internacional para todos os profissionaise demais partes envolvidas nos trabalhos de assegura-ção.

Convém por isso destacar uma diferença de cariz mar-cadamente doutrinária entre a EC do IAASB e a estru-tura conceptual do IASB, denominada Framework forthe Preparation and Presentation of FinancialStatements, e traduzida como Estrutura Conceptualpara a Apresentação e Preparação das DemonstraçõesFinanceiras. Assim, embora semelhantes em objecti-vos, isto é, constituírem-se como um quadro firme dereferência para a elaboração das suas normas, utilizaeste último organismo uma cláusula de salvaguarda

2 Entre estes últimos, em particular, a dicotomia revela-se fundamentalmente no conflito entre a possibilidade da adopção de normas basea-das em regras – denominadas rules based standards, e mais ligadas ao pragmatismo – ou aquelas baseadas em princípios – as principlesbased standards, mais próximas de uma visão científica. Convém destacar, no entanto, que a observação de princípios científicos subjacen-tes à elaboração das normas é uma linha metodológica de actuação, e respeita por isso a um tratamento muito mais amplo do que a meraadopção do conceito das principles based standards.

3 O International Federation of Accountants (IFAC) estabeleceu o International Auditing and Assurance Standards Board (IAASB) comoo organismo normalizador, em prol do interesse público, responsável pelo desenvolvimento de normas internacionais de prestação de ser-viços de auditoria, asseguração, controlo de qualidade e serviços relacionados. Criado em Abril de 2002, em substiuição ao então extintoInternational Auditing Practices Committee (IAPC), o IAASB tem como objectivo-chave promover a convergência das normas nacionaise internacionais de auditoria e asseguração, conduzindo a uma melhor qualidade e uniformização das práticas desenvolvidas em todo omundo.

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que subtrai a relevância da sua Framework, explicitan-do que, havendo conflito entre uma qualquer norma eesta, prevalecerá em todo caso o disposto naquela.Parece-nos deveras contraproducente que o dispostonas IAS/IFRS tenha maior força face aos conceitosemanados daquele documento, criado justamente parafundamentar o conteúdo prescrito nas normas. Embusca de um qualquer paralelismo, e sendo certo quenem o senso comum parece contestar a preferência dosprincípios emanados de uma constituição pátria sobreas orientações das leis e decretos-leis dessa mesmanação, quem havia de duvidar que uma estrutura con-ceptual assim concebida, de um qualquer ramo doconhecimento humano, não seguisse a mesma orienta-ção daquela há muito firmada pelas ciências jurídicas4

Curioso será ainda notar que a referida Framework nãofora adoptada pela UE no Regulamento nº 1725/2003,responsável pela subscrição das normas do IASB noseio do seu território.

É certo que a EC per si não estabelece normas nemdetermina requisitos procedimentais para a execuçãodos trabalhos de asseguração, estando estes prescritos

nas diversas normas (ISA, ISRE e ISAE). Todavia,nestes últimos espera-se sempre encontrar princípiosespecíficos, procedimentos essenciais e linhas de orien-tação consistentes com os emanados da já referidaestrutura conceptual.

3. Trabalhos de asseguração e trabalhos de não-asseguraçãoComeçamos este ponto por tecer uma breve considera-ção acerca da passagem promovida para a nossa línguada expressão inglesa “assurance engagement”, constan-te na EC da IFAC, como “trabalho de garantia de fia-bilidade”, em detrimento de uma forma possivelmentemais directa: “trabalhos de asseguração”. Como obser-va Costa (2007), o citado organismo tem utilizado, eem variadas ocasiões, o termo assurance como equiva-lente no nosso léxico à palavra “segurança”, associan-do-se a esta a ideia de “tornar seguro, assegurar”.Concordamos indubitavelmente com este ponto devista, pelo que decidimos referenciá-la como tal, i.e.,“trabalhos de asseguração”. Do mesmo modo, asexpressões “reasonable assurance engagement”, ouaudit, e “limited assurance engagement”, ou review,passaram para a nossa língua, neste caso por motivos

4 Sobre este debate, aconselhamos ainda a leitura do ponto 4 deste trabalho, relativo ao princípio hierárquico do rigor da fonte.

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de raiz histórica, a “trabalhos de garantia de fiabilida-de razoável5”, ou “revisão legal das contas”, no primei-ro caso, e a “trabalhos de garantia de fiabilidadelimitada”, ou “exame simplificado” – ou ainda “revisãolimitada” (de acordo com a CMVM) – , no segundo.Tal se deve ao facto de a palavra estrangeira review,mais próxima de “revisão”, numa tradução literal,entrar em conflito com a já anteriormente adoptadaexpressão “revisão legal das contas”, adoptada pelaOROC, no sentido de “reasonable assurance”, ou audit,o que obrigaria a profundas modificações rejeitadasdesde logo pela ordem portuguesa. Em termos concep-tuais, como é sabido, as primeiras (audits) implicamum trabalho sistemático mais profundo e a expressãode uma opinião pela forma positiva, enquanto assegundas (reviews) têm no seu escopo procedimentosmais limitados do que aqueles previstos para os audits,além de uma opinião expressa pela forma negativa.

Os trabalhos de asseguração podem ser definidos,adaptando-se o prescrito por Arens et al (2006) comoserviços prestados por um profissional independente(este último termo aqui entendido em sentido lato) deacordo com determinados critérios, que expressa aofim a sua conclusão, tendo em vista o aumento da con-fiança da qualidade da informação objecto de análisepara a tomada de decisões pelos utentes destinatários6.

Estes serviços incluem, segundo os mesmos autores, osaudits e os reviews já referidos – não sendo únicos,como veremos adiante, consideram-se como os princi-pais integrantes do grupo dos trabalhos de asseguração– e que incidem sobre as demonstrações financeirashistóricas. Abrangem ainda trabalhos de asseguraçãosobre outros tipos de informações financeiras, e embo-ra semelhantes àqueles em termos procedimentais, pas-sam por distintos uns dos outros quer incidam sobreum ou outro tipo de informação financeira. Cabe res-saltar no entanto que, apesar das eventuais diferençasque os separam, consideram-se sempre especialmentevaliosos por serem aceites e percepcionados por umvasto público como independentes e imparciais, isto é,livres de preconceitos, com respeito à informação audi-tada. Os investidores, por exemplo, valem-se frequen-temente dos trabalhos de asseguração a fim deobterem uma garantia aceitável da relevância e fiabili-dade contida na informação como base para as suasdecisões.

No que toca à natureza dos trabalhos de asseguraçãoe de não-asseguração, apresentamos o quadro abaixoadaptado de Arens et al (2006) que estabelece, deforma sintética e com recurso a exemplos, uma neces-sária distinção: figura 1

Figura 1: Trabalhos de Asseguração e de Não-Asseguração. Fonte: Adaptado de Arens et al (2006)

TRABALHOS DE ASSEGURAÇÃO TRABALHOS DE NÃO-ASSEGURAÇÃO

Audits (revisão legal das contas ou ainda trabalhos de garantia de fiabilidade razoável, na terminologia portuguesa)

Serviços de consultoria de gestão diversos, planeamento e consultoria fiscal

Reviews (revisão limitada, exame simplificado ou ainda trabalhos de garantia de fiabilidade limitada,na terminologia portuguesa)

Contabilidade e escrituração, preparação de declarações fiscais

Others attestation services (outros trabalhos de asseguração)

Related services (trabalhos cobertos por ISRS)

5 Em tradução da norma promovida pela OROC encontramos as palavras razoável e limitada como traduções literais das palavras inglesasreasonable e limited, respectivamente. Convém notar que, anos antes, os mesmos conceitos eram entendidos de modo diferente, nacionale internacionalmente. Assim, encontramos em termos nacionais, nas normas de trabalhos de campo publicadas pela OROC (1997), refe-rências a um nível de segurança “aceitável” e a um nível de segurança “moderado”, pretendendo com essas duas palavras atribuir os mes-mos significados daqueles que actualmente são expressos respectivamente pelas palavras razoável e limitada já referidas.

6 Distinguem-se portanto do conceito emanado da IFAC apenas por este organismo excluir abertamente a parte responsável como integran-te dos utentes destinatários, exceptuando casos especialmente previstos pela EC, que no entanto obrigam a uma expressa declaração destaparticularidade no relatório.

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Como se depreende, a “linha de separação” mais evi-dente entre um e outro tipo de trabalhos – de assegu-ração e de não-asseguração – reside, na opinião deCosserat (2004), no facto de estes não resultarem naemissão de uma opinião de forma atestatória e conclu-dente, ainda que expressa pela forma negativa.

De acordo com a classificação dos trabalhos de assegu-ração que transcrevemos na figura 1, subdividem-se osmesmos em três categorias principais, que na termino-logia inglesa são:

1. Audit of historical financial statements2. Review of historical financial statements3. Other attestation services that may be applied

to a broad range of subject matter.

No primeiro grupo encontramos os trabalhos de asse-guração nos quais o auditor emite um relatório,expressando a sua opinião pela positiva e em formatobreve – short form report, em termos internacionais.No nosso país, como é de conveniente lembrança, emdecorrência do preceituado no Decreto-Lei nº 487/99,de 16 de Novembro, em virtude do exercício da revisãolegal das contas será emitida uma CLC, de competên-cia exclusiva dos ROC, onde exprime este a sua opi-nião “de que as demonstrações financeiras apresentam

ou não, de forma verdadeira e apropriada, a posiçãofinanceira da empresa ou de outra entidade, bem comoos resultados das suas operações, relativamente à datae ao período a que as mesmas se referem”.

Alguns autores costumam apresentar, na previsão dospossíveis trabalhos de asseguração, uma outra classe,relativa à asseguração da eficácia do sistema de contro-lo interno, destacada pelo advento da SOX, e em cum-primento à sua secção 404, que passou a exigir notocante às empresas com valores cotados em mercadoaberto um relatório da apreciação da gestão acerca daeficácia do controlo interno sobre as demonstraçõesfinanceiras. Adicionalmente, a referida lei exige queessa atestação seja garantida por profissionais certifi-cados. Na nossa opinião, este trabalho está contido demodo certo no primeiro grupo, sendo certo que umauditor não se pode escusar desta preliminar avaliação,tendo em vista a redução significativa dos erros conti-dos na conclusão dos auditores – motivos pelos quaisnão a categorizamos de modo isolado.

No segundo grupo encontramos o review, muito seme-lhante ao primeiro, mas que prevê no entanto um tra-balho de asseguração limitada sobre os relatóriosfinanceiros, e exigidas menores evidências para supor-te ao nível de asseguração exigido. Uma review, ou

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Auditoria

como já se disse, exame simplificado, no entendimentoda OROC, é frequentemente adequada para necessida-des específicas de determinados grupos de usuários.Algumas empresas, não abrangidas por dispositivoslegais que obriguem à emissão de uma CLC, podemdesignadamente obter algumas vantagens em termosde transparência das contas ao optar por trabalhos deasseguração limitados sobre seus relatórios financeiros,sem incorrer em custos certamente superiores de umaaudit. Nos termos do normativo da OROC, podemosconcluir que a função auditoria é muito mais abran-gente do que a função de revisão (legal das contas),uma vez que abarca todas as empresas que, embora aesta não sujeitas, daquela não prescindem.

Por fim, no último grupo, encontramos outros tipos deserviços de asseguração, mais numerosos e diversosentre si, alguns dos quais correspondentes a umaextensão natural das auditorias às demonstraçõesfinanceiras, como usuários que procuram trabalhos deasseguração independentes sobre outros tipos de infor-mações específicas. Um caso costumeiro relaciona-secom a solicitação a terceiros, por instituições de crédi-tos, aquando da concessão de financiamentos, de umrelatório que ateste as capacidades futuras da entida-de em saldar a dívida a ser contraída.

O ponto de convergência entre os diversos tipos de tra-balhos de asseguração é certamente o foco na atesta-ção da qualidade da informação utilizada para osagentes que dela necessitam para a tomada de deci-sões. Com os novos tipos de riscos que enfrentam as

empresas e o incremento na quantidade e qualidadedas informações requeridas, torna-se cada vez maispremente a asseguração também sobre outros tipos deinformes, motivos pelos quais se espera um substancialacréscimo de tais trabalhos para os anos vindouros.

É de todo conveniente lembrar que a simultaneidade darevisão legal das contas com a de aconselhamento àsempresas (este último integrante dos trabalhos de não-asseguração), forma mais comum de incompatibilida-de verificável, enquadra-se no âmbito da segregação defunções, como os recentes acontecimentos envolvendorenomadas empresas transnacionais, a Enron, Worldcom,Parmalat, etc. são disso exemplos inolvidáveis. A esse pro-pósito assevera ainda Almeida (2005) que:

A função social do auditor, as responsabilidades quelhe são confiadas pela sociedade e o reconhecimentopúblico crescente, obrigaram à aceitação de maioresobrigações profissionais, traduzidas na extensão pro-gressiva das normas de auditoria. (…) Como conse-quência, os auditores não podem aceitarresponsabilidades noutras áreas da empresa que oimpeçam de actuar livremente no exercício da sua fun-ção exclusivamente de auditor.

A figura abaixo, desta feita retirada integralmente deArens et al (2006), permite-nos, por extrapolação,compreender os limites a partir dos quais comprome-te-se a independência do auditor na passagem de um aoutro grupo, i.e., de assurance para nonassurance ser-vices. figura 2

Assurance Services Nonassurance Services

ATTESTATION SERVICES

Internal Control over Financial Reporting

Other Attestation Services(e.g., WebTrust, SysTrust)

Other Assurance Services

Audits Reviews

Other ManegementConsulting

Tax Services

Accounting and Bookkeeping

Certain ManegementConsulting

Figura 2: Assurance and Nonassurance Services. Fonte: Arens et al (2006, p. 14).

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Auditoria

As incompatibilidades estão, a nosso ver, directamen-te relacionadas com as diferenças entre a expectativada confiança comunicada e da confiança percepciona-da (expectation gap), que devem ser, tanto quantopossível, reduzidas. Daí que lembremos, neste contex-to, as palavras utilizadas por Limperg (1985) quandorefere que:

A função da auditoria encontra-se norteada pela con-fiança que a sociedade coloca na auditoria e na opiniãodo auditor. Essa confiança é, portanto, uma condiçãopara a existência dessa função. Se a confiança é traí-da, a sua função também é destruída, visto que setorna inútil. (...) o auditor deve efectuar o trabalhonecessário que justifique a confiança na sua auditoriae na sua opinião.

4. Ameaças aos princípios fundamentaisDe acordo com a EC, é requerido a todos os contabilis-tas profissionais que identifiquem as ameaças aos princí-pios fundamentais ali previstas, e aquando daidentificação dessas, que se tomem de imediato medidasde salvaguarda de forma a assegurar que os mesmos nãosejam comprometidos. Um membro ou firma reconheci-dos directa ou indirectamente pela IFAC, na conduçãode um trabalho de auditoria, e regendo-se pelas ISA, nãopodem, designadamente, aplicar normas menos criterio-sas do que aquelas previstas no Código de Ética, hierar-quicamente superior – em conformidade com o princípiohierárquico do rigor da fonte.

As circunstâncias em que os contabilistas profissionaisoperam podem levantar ameaças específicas à sua con-formidade com os princípios fundamentais. É impossí-vel definir todas as situações que originam essasameaças, e especificar acções de mitigação apropriadaspara cada caso. Adicionalmente, a natureza dos traba-lhos de auditoria a desenvolver são em geral distintas,e consequentemente diferentes ameaças podem existir,requerendo a aplicação de medidas de salvaguardavariadas. Uma estrutura conceptual requer que o con-tabilista profissional identifique, avalie e registe asameaças em conformidade com os princípios funda-mentais, negando-se por isso a detalhar um conjuntoespecífico de regras a serem observadas que podem ori-ginar arbitrariedades na sua aplicação (principle basedversus rule based).

Em jeito de conclusão, transcrevemos o entendimentoexposto na Recomendação nº 2002/590/CE, de 16 deMaio, relativa à independência dos revisores oficiais decontas, segundo o qual: “Uma abordagem baseada emprincípios permite responder às variações quase infini-tas de circunstâncias que surgem na prática e nos dife-rentes sistemas jurídicos em toda a U.E.”

CONSIDERAÇÕES FINAISNos anos mais recentes tem-se verificado no seio da UEum processo relativamente célere de harmonização emmatérias contabilísticas, impulsionado sobretudo porfactores tais como a pressão exercida pelos grandes

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Auditoria

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAntão, A. (2004). Implicações do Regulamento nº 1606/2002 nos normativos contabilísticos dos países daComunidade Europeia. Revista TOC, 50, ano V, Maio. Lisboa. pp.34-43.Arens, A.; Elder, R.; Beasley, M. (2006). Auditing and assurance services: An integrated approach. (11nd ed). PrenticeHall. Choi, F.; Meek, G. (2005). International Accounting. 5nd ed. New Jersey, Pearson Prentice Hall.Cosserat, G. (2004). Modern Auditing (2nd ed.). West Sussex: John Wiley & Sons, Ltd. Costa, C. (2007). Auditoria Financeira: Teoria e Prática (8ª edição). Lisboa: Rei dos Livros.Costa, C. (2007). Apontamentos das Aulas: Os Normativos de Auditoria. Lisboa: ISCAL.Decreto-Lei nº 487/99, de 16 de Novembro. Estatuto dos Revisores Oficiais de Contas.Directiva 2006/43/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Maio de 2006. Relativa à auditoria das contasanuais e consolidadas.Guimarães, J. (2001) Temas de Contabilidade, Fiscalidade e Auditoria. Lisboa: Vislis.Hayes, R.; Dassen, R.; Schilder, A.; Wallace, P. (2005); Principles of Auditing: An Introduction to international stan-dards on auditing (2nd ed.). Prentice Hall.IASB (1989): Framework for the preparation and presentation of financial statements. IFAC (2007). Handbook of international auditing, assurance and ethic pronouncements.Lee, T. (1996), Corporate Audit Theory. Capman & Hallo.Limpberg, T. (1985) The social responsibility of the Auditor. Amsterdam: Limperg Institute.Sá, A. (2002). Teoria da Contabilidade (4ª edição). São Paulo. Atlas.Mautz, R.; Sharaf, H. (1961) The philosophy of Auditing. Monograph No. 6, USA. American Accounting Association.Almeida, B. (2005). Auditoria e sociedade: Diferenças de expectativas. Lisboa: Publisher Team.OROC (1997). Normas de trabalho de campo. Acções preparatórias. Publicadas no Diário da República Nº. 295/97 - III -Série de 23 de Setembro de 1997 Radebaugh, H.; Gray, S.; Black, E. (2006). International Accounting and multinational enterprises. (6nd ed). NewJersey: John Wiley & Sons, Inc., 2006.Recomendação nº 2002/590/CE, da Comissão, de 16 de Maio. A Independência dos Revisores Oficiais de Contas naUE: Um conjunto de princípios fundamentais.Regulamento nº 1725/2003/CE, que adopta certas normas internacionais de contabilidade. 21 Set. 2003. [Em linha].Bruxelas.Jornal Oficial da União Europeia L 261, 13 Out, 2003. CCE [Comissão das Comunidades Europeias] (2003a). Disponível emhttp://europa.eu.int/eur-lex/pt/.Regulamento nº 1606/2002/CE, relativo à aplicação das normas internacionais de contabilidade. 19 Jul. 2002. [Emlinha]. Bruxelas.Jornal Oficial da União Europeia L 243, 11 Nov, 2002. CCE [Comissão das Comunidades Europeias] (2002).Disponível em http://europa.eu.int/eur-lex/pt/.Ricchivte, D. (2006). Auditing. (8th ed.). South-Western: Thomson.Rittenberg, L.; Schwieger, B. (2005); Auditing: Concepts for a changing environment, (5nd ed). South-Western:Thomson.Sarbanes-Oxley Act, de 30 de Julho de 2002. An act to protect investors. USA.

grupos económicos e, no caso específico da auditoria,pelo advento de recentes escândalos ainda vivos namemória colectiva, obrigando a uma protecção maisefectiva dos destinatários da informação. Longe de nãocrermos nos benefícios advindos de tal processo, aopermitir a comparabilidade entre as contas divulgadaspelos intervenientes de vários países, defendemos noentanto que a harmonização pela via normativa, sendoa única possível, para trazer os benefícios pretendidos,da comparabilidade associada à fiabilidade, deve sur-gir de uma evolução da qualidade informativa portodos requerida e percepcionada, e nunca imposta “decima para baixo”, sem que se reflictam sobre os seusreais efeitos e as devidas razões que a justificam.

Nesse contexto, a EC e demais trabalhos desenvolvidospela IAASB, como conselho emissor de normas da

IFAC, parecem de algum modo seguir numa correntefavorável a este juízo, de tal modo que em orientaçõesmais recentes terão conduzido a uma reformulação doseu corpo normativo tendo em vista o alcance de umaestrutura mais coerente e concordante com o queacima apregoamos.

Mantendo-se neste caminho, cremos seguramentenuma maior relevância dada por entidades externasaos trabalhos da IFAC, e da consolidação desta comoentidade de referência em normas internacionais deauditoria. A tais factores podemos ainda associar umaumento da credibilidade e importância pública atri-buída ao profissional de auditoria a nível mundial.Objctivos, esses, desde sempre proclamados como seuspela IFAC.

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Auditoria António Gonçalves

A Auditoria das Pequenas e Médias Empresas

1. Evoluções Recentes nas Matérias da Contabilidade e Auditoria no Âmbito das Pequenas e Médias EmpresasNos últimos tempos, os temas associados à contabili-dade e auditoria ao nível das Pequenas e MédiasEmpresas (PME’s) têm vindo a merecer uma maior

atenção e análise por parte das entidades envolvidasna elaboração, apresentação e credibilização dasdemonstrações financeiras quer a nível internacional,quer a nível interno.

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Auditoria

Certamente que a estes desenvolvimentos não seráalheia a relevância das PME’s ao nível do empregogerado, particularmente no espaço europeu, conjunta-mente com a aproximação da União Europeia àsNormas Internacionais de Contabilidade, e o conse-quente reforço da competência profissional dos diferen-tes intervenientes na elaboração, preparação ecertificação das demonstrações financeiras das PME’s.

O presente artigo visa divulgar o documento publica-do em Dezembro de 2007, pelo IFAC1 denominado“Guide to Using International Standards on Auditingin the Audits of Small-and Medium sized Entities”(adiante designado por Guia), o qual é objecto de aná-lise no ponto 2., abaixo.

1.1 Evoluções no Plano Externo

1.1.1 No Plano ContabilísticoPartindo do princípio de que os utilizadores dasdemonstrações financeiras das PME’s possuem neces-sidades distintas dos utilizadores das demonstraçõesfinanceiras das entidades que possuem public acconta-bility2 (responsabilidade pública), no decurso do segun-do trimestre de 2003, o IASB3 iniciou um projecto comvista à preparação e aprovação de normas de relatofinanceiro aplicáveis às PME’s tendo, no início do mêsde Junho de 2004, publicado um documento prelimi-nar4, para discussão pública, relativo aos aspectos con-ceptuais que se colocam quanto à elaboração denormas de relato financeiro aplicáveis, especificamen-te, às entidades em questão.

Com base nas respostas obtidas, foi realizado um pro-cesso de análise que deu origem, em Abril de 2005, aum questionário relativo aos aspectos do reconheci-mento e mensuração, tendo sido identificada a necessi-dade de proceder a simplificações nesta matéria.Posteriormente, verificaram-se um conjunto de reu-niões / discussões de modo a aprofundar os conceitosrelevantes presentes naquele contexto.

Por último, em 15 de Fevereiro de 2007, foi publicadoo Exposure Draft, tendo por data limite para a apre-sentação de comentários o dia 30 de Novembro de2007.

Embora partindo do princípio de que os utilizadoresdas demonstrações financeiras das PME’s têm necessi-dades de informação distintas das dos utentes das enti-dades que possuem public accontability (res pon sa -bilidade pública), verificamos que a estrutura concep-tual proposta é semelhante e que os princípios relati-vos ao reconhecimento e mensuração não são significa-tivamente distintos dos aplicáveis às normas denomi-nadas “full”, ou seja, ao conjunto completo das NormasInternacionais emanadas do IASB e aplicáveis no seioda União Europeia, de acordo com os Regulamentos edisposições comunitárias em vigor, ocorrendo algumassimplificações, essencialmente, ao nível das divulga-ções.

Na opinião de muitos profissionais, partilhando o autoresta posição, o projecto em questão foi incapaz dereconhecer que as necessidades de informação dosutentes são distintas, não só ao nível das divulgações,mas também ao nível das regras de reconhecimento emensuração, colocando-se, por exemplo, a questão se ojusto valor será aplicável às PME’s nas situações emque não exista um mercado activo.

Contudo, como o tema do presente artigo não incidesobre a problemática da contabilidade, mas sim sobreos aspectos da profissão, ou seja, da auditoria, não nosalongamos na análise detalhada desta temática.

1.1.2 No Âmbito da AuditoriaEm Dezembro de 2007, na sequência de um projectointerno, o IFAC publicou e divulgou no seu site –www.ifac.org – um documento particularmente rele-vante: “Guide to Using International Standards onAuditing in the Audits of Small-and Medium sizedEntities” (adiante designado por Guia).

Na opinião do autor, trata-se de um documento hámuito esperado e que visa abordar o tema específico daaplicação das Normas Internacionais de Auditoria àsPME’s, sendo o objectivo do ponto 2., abaixo, a aná-lise mais detalhada deste documento.

1.2 Evoluções no Plano InternoO Conselho Geral da Comissão de NormalizaçãoContabilística (CNC), na sua reunião de 3 de Julho de2007, procedeu à aprovação da proposta do Sistema de

1 IFAC - International Federation of Accountants2 O IASB define com possuindo public accontability as entidades que possuam qualquer tipo de títulos cotados, ou tenham um impacto rele-

vante num determinado espaço económico.3 IASB – International Accounting Standards Board.4 Discussion paper – Preliminary Views on Accounting Standards for Small and Medium-sized Entities, IASB, Junho de 2004.

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Normalização Contabilística (SNC), a submeter aapreciação Governamental. No Relatório do Orça -mento de Estado para 2008, o Governo reconhece quea transição para o Sistema de Normalização constitui-rá um processo complexo e exigente, que implicará umesforço de adaptação por parte das empresas e profis-sionais, pelas alterações profundas que impõe na orga-nização interna e nos procedimentos, devendo por issoser preparada com a necessária antecedência.

Assim, de modo a proporcionar a oportunidade deuma ampla divulgação e de participação de todos osinteressados, o Governo irá colocar o projecto doSistema de Normalização Contabilística em consultapública, de forma a recolher sugestões e outros contri-butos para o respectivo aperfeiçoamento.

2. O Guia Publicado pela IFACDe modo a colmatar uma insuficiência reconhecidadesde à longa data, quanto à inexistência de um docu-mento que abordasse especificamente a problemáticada auditoria das PME’s, sendo relevante para este efei-to o conceito preconizado pelo IASB de PME, assenteem aspectos qualitativos e não quantitativos, a IFACdesenvolveu um projecto com vista à elaboração dodocumento em questão.

2.1 O Objectivo do GuiaO Guia, de acordo com o seu prefácio, visa apoiar osprofissionais no decurso do processo de auditoria dasPME’s e promover a aplicação de forma consistentedas Normas Internacionais de Auditoria. O documen-to não visa substituir as Normas Internacionais deAuditoria, mas sim consistir num documento de con-sulta complementar, de forma a auxiliar os profissio-nais a compreender e implementar de modoconsistente as normas na auditoria das PME’s, forne-cendo uma análise detalhada das NormasInternacionais de Auditoria e os seus requisitos no con-texto específico daquelas entidades.

Na opinião dos seus autores, o Guia deverá auxiliar osprofissionais na realização de auditorias de PME’s deelevada qualidade, promovendo a gestão dos recursosde uma forma eficiente, de modo a melhor poderemservir o interesse público. Adicionalmente, os autoresconsideram que o Guia poderá ser utilizado pelas enti-dades responsáveis a nível nacional, ou seja, pelosmembros do IFAC, bem como pelas firmas de audito-ria como documento de base na formação e treino dosseus profissionais.

A primeira actualização do documento em análiseencontra-se prevista para finais de 2009, solicitando oIFAC, desde já, comentários sobre o mesmo, por formaa garantir o processo de melhoria contínua previsto,sendo intenção daquela entidade assegurar a actualiza-ção regular do Guia.

2.2 Estrutura do GuiaO Guia encontra-se dividido em quatro secções:

• Conceitos Básicos de Auditoria;• Avaliação do Risco;• Respostas ao Risco; e• Relato.

A primeira secção aborda os conceitos essenciais,designadamente no que consiste uma auditoria basea-da no risco, assim como os temas do controlo internoe das asserções das demonstrações financeiras.

Na segunda secção são abordados, de forma detalhada,todos os aspectos envolvidos na avaliação do risco emauditoria, centrando-se a terceira secção na análisepormenorizada, dos aspectos particulares da(s) respos-ta(s) do auditor aos riscos identificados.

A quarta, e última secção, versa sobre os aspectos daformação da opinião e relato.

A primeira secção apresenta uma abordagem essencial-mente conceptual, enquanto que as restantes secções,sistematizando conceitos, procuram ser mais práticas eorientadas para os aspectos específicos do processo deauditoria nas PME’s.

O Guia integra, ainda, um conjunto de anexos, visan-do promover a sua aplicação.

2.3 Conceitos EssenciaisO Guia assenta em três conceitos essenciais:

i) Em que consiste uma auditoria baseada no risco –Risk based Audit;

ii) O controlo interno; eiii) As asserções das demonstrações financeiras.

Face ao objectivo do presente documento, que consis-te em promover a divulgação do Guia, iremos centrara análise no ponto i), acima, sendo apresentados osaspectos mais relevantes.

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Auditoria

2.3.1 Auditoria Baseada no Risco

2.3.1.1 Em que Consiste uma Auditoria Baseada no Risco

2.3.1.2 Aspectos GeraisO objectivo do auditor aquando da realização de umaauditoria baseada no risco, consiste em obter umasegurança razoável de que as demonstrações financei-ras não se encontram afectadas por distorções mate-rialmente relevantes, motivadas por erros ou fraudes.Tal envolve três etapas:

• Avaliação do risco de distorções materialmente rele-vantes ao nível das demonstrações financeiras;

• Concepção e realização de procedimentos de audito-ria que respondam aos riscos identificados, de modoa reduzir os riscos de distorção materialmente rele-

vantes nas demonstrações financeiras, a níveis aceitá-veis; e

• Emissão de um relatório de auditoria, cuja redacçãotraduza os resultados do trabalho realizado.

O processo de auditoria visa obter uma segurançarazoável, devendo a mesma ser elevada, mas não abso-luta. O auditor não pode prestar uma segurança abso-luta em virtude das limitações inerentes ao seutrabalho, dos julgamentos profissionais que realiza e danatureza da prova obtida.

O seguinte quadro procura evidenciar algumas daslimitações do processo de auditoria que impossibilitamo auditor de prestar uma segurança absoluta: Quadro

Limitações Razões

Uso de testes Qualquer amostra que não represente 100% da população introduzalgum risco da ocorrência de erros que não sejam identificados.

Limitações do Controlo Interno Até o melhor sistema, com o melhor desenho e adequadamenteimplementado pode ser ultrapassado por actos conduzidos pela ges-tão ou conluio entre colaboradores.

Fraude não identificada Em virtude da fraude ser concebida de modo a não ser identifica-da, existe sempre a possibilidade de a mesma não ser detectada.

Natureza da prova obtida A maioria da prova obtida em auditoria tende a ser indiciária e nãoconclusiva.

Disponibilidade da prova Poderão existir situações em que existe um insuficiente acesso aoselementos de suporte, não permitindo conclusões definitivas sobredeterminadas asserções, designadamente ao nível de estimativasrelativas ao justo valor.

Confiança nos julgamentos realizados pelo auditor O julgamento profissional é requerido para:. Identificar de forma adequada os factores de risco e proceder à suaavaliação;. Decidir quanto à profundidade dos testes e prova obtida;. Avaliar as estimativas realizadas pela gestão; e. Concluir em função dos resultados obtidos e declarações presta-das pelos responsáveis da gestão.

Dificuldade em assegurar integridade da informação Existe o risco de que informações importantes e relevantes nãotenham chegado ao conhecimento do auditor, não tenham sidoobtidas ou tenham, inclusive, sido ocultadas.

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2.3.1.1.2 Componentes do Risco de AuditoriaO risco de auditoria compreende dois elementos essen-ciais:

• O risco das demonstrações financeiras conterem dis-torções materialmente relevantes (risco inerente erisco de controlo);

• O risco do auditor não identificar tais distorções(risco de detecção ou “engagement risk”).

De modo a reduzir o risco de auditoria a um nívelbaixo aceitável, o auditor deve:

• Avaliar os riscos de distorção materialmente relevan-tes; e

• Limitar o risco de detecção. Tal pode ser alcançadorealizando procedimentos específicos que respondamaos riscos identificados com potencial impacto nasdemonstrações financeiras, classes de transacções,saldos de balanço ou principais asserções.

O mapa anexo evidencia as principais componentes dorisco de auditoria: quadro

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Natureza Descrição Comentário

Risco Inerente Susceptibilidade de uma asserção que possaser material, quer individualmente ou quan-do agregada a outras distorções, presumin-do que não haja outros controlosrelacionados.O risco inerente é avaliado ao nível dasdemonstrações financeiras na sua globalida-de e ao nível das asserções.

Estes riscos decorrem do negócio da entidade, dos seus objectivos,da natureza das operações e ambiente regulador específico daindústria, assim como da sua dimensão e complexidade. O risco dedistorções materiais varia em função da natureza dos saldos ouclasses de transacções. Os riscos relativamente aos quais o auditordeve ter uma particular preocupação, incluem:• Cálculos complexos que poderão apresentar erros;• Existências com valorizações de montante elevado;• Estimativas contabilísticas que se encontram sujeitas a um eleva-

do grau de incerteza;• Insuficiência ao nível do fundo de maneio que possam pôr em

causa a continuidade das operações da entidade;• Problemas ao nível do sector de actividade no qual a entidade se

insere;• Desenvolvimentos tecnológicos que possam tornar obsoletos pro-

dutos ou processo de fabrico.

Risco de Fraude(Parte do risco inerente)

Risco de ocorrer actos intencionais produzidos poruma ou mais pessoas responsáveis pela gestão,pela governação, por colaboradores ou terceiros,envolvendo a utilização de desvios de modo aobter uma vantagem ilegal ou indevida.

Existem dois tipos de erros intencionais que são relevantes para oauditor:• Erros resultantes de demonstrações financeiras fraudulentas; e• Erros decorrentes da apropriação indevida de activos.

Risco de Controlo (Ocontrolo inter-noimplemen-tado reduz orisco inerente?)

Risco de que possa ocorrer uma distorçãonuma asserção e que possa ser material,quer individualmente ou quando agregadacom outras distorções, que não seja evitadaou detectada e corrigida, numa base tem-pestiva, pelo controlo interno da entidade.

A entidade deve identificar e avaliar os riscos de negócio e outros(como os de fraude) e responder aos mesmos, concebendo e imple-mentando um sistema de controlo interno. Existirá sempre algum risco de controlo, por força das limitaçõesinerentes do controlo interno. O auditor deve adquirir conhecimen-to do sistema de controlo interno da entidade e realizar procedi-mentos para avaliar o risco de ocorrerem distorções materiais aonível das asserções.

Risco Combinado Trata-se de um conceito utilizado para refe-rir o risco de distorção material ( risco ine-rente e risco de controlo), quer ao nível dasdemonstrações financeiras, quer ao nível dasasserções.

O auditor pode efectuar uma avaliação separada ou conjunta dorisco inerente e do risco de controlo, dependendo das técnicas emetodologias adoptadas e de considerações práticas.

Risco de Detecção Risco do auditor não detectar uma distor-ção que exista numa asserção que possa sermaterial, quer individualmente quer enquan-to agregada com outras distorções.Para um dado nível de risco de auditoria, onível aceitável de risco de detecção estánuma relação inversa para a avaliação dorisco de distorção material ao nível deasserção.

O auditor identifica as asserções relativamente às quais existemrisco de distorção material e concentra os procedimentos de audi-toria nessas áreas. Ao desenhar e avaliar os resultados dos procedi-mentos adoptados, o auditor deve considerar a possibilidade de:• Seleccionar um procedimento de auditoria inapropriado;• Aplicação incorrecta de um dado procedimento de auditoria;• Interpretação inadequada dos resultados do trabalho realizado.

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Page 36: AUDITORES REVISORES

Baixo Risco Alto RiscoRisco Moderado

Auditoria

2.3.1.1.3. Inter-Relações entre as Diferentes Componente do RiscoO quadro anexo evidencia o relacionamento entre asdiferentes componentes do risco: quadro

2.3.1.1.4. A Metodologia da Auditoria Baseada no Risco Ao longo do Guia, o processo de auditoria é apresen-tado como integrando três fases distintas:

• A avaliação do risco;• A resposta do auditor aos riscos identificados; e• O relato.

A figura seguinte sistematiza as diferentes tarefas asso-ciadas à fase do planeamento. Saliente-se que o Guiaaborda, para cada etapa do processo de auditoria:

• As actividades a serem desenvolvidas;• Os objectivos; e• A documentação a ser produzida pelo auditor. qua-dro

INTER -RELAÇÃO DOS COMPONENTES DE RISCO NA AUDITORIA – A01.04

Fonte: “Guide to Using International Standards on Auditing in the Audits of Small-and Medium sized Entities”

Risco Inerente Riscos de negócio , de fraude e de outros factores que se transformam num risco para o reporting financeiro

Nível empresarial Controlos gerais nas T .I.

EstratégiaGovernaçãoCultura / ValoresCompetênciaAtitude face ao controlo

Rendimentos

Compras

Vencimentos

Risco de Controlo(Respostas a riscos inerentes)

Risco Combinado

Detecção do Risco Nível aceitável para o risco de auditoria

Procedimentos de Auditoria (Testes de Controlo e Testes Substantivos )

Risco de produção de informação incorrecta

Tolerância ao risco da entidade

Processos de negócio

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Auditoria

A realização de uma auditoria baseada no risco requerque o auditor possua um conhecimento sobre a entida-de e o seu meio envolvente, incluindo o sistema de con-trolo interno. Ao deter esse conhecimento, o auditorencontra-se em condições de identificar e avaliar os ris-cos de distorção materialmente relevantes ao nível dasdemonstrações financeiras. Em virtude do processo deavaliação do risco requerer um julgamento profissionalconsiderável, esta fase do trabalho deverá requerermaior dispêndio de tempo por parte do sócio respon-sável e dos membros da equipa com maior experiência,quer na identificação e avaliação dos vários tipos deriscos, quer consequentemente, na concepção e elabo-ração da adequada resposta ao nível do trabalho deauditoria.

A fase de avaliação do risco, no processo de auditoria,compreende os seguintes passos:

• Procedimentos de aceitação/retenção do cliente;• Planeamento da auditoria;• Realização de procedimentos de avaliação do risco, demodo a adquirir o conhecimento do negócio e a iden-tificar os riscos inerente e de controlo;

• Identificação dos procedimentos de controlo internorelevantes e avaliação do seu desenho e implementa-ção (quais os controlos que previnem a ocorrência deerros ou asseguram a detecção e correcção dos errosapós os mesmos terem ocorrido);

• Avaliação dos riscos de distorção material ao níveldas demonstrações financeiras;

• Identificação dos riscos significativos que requeiramuma atenção e consideração especial por parte doauditor e identificação dos riscos, relativamente aosquais, a execução de procedimentos substantivos, deforma isolada, não é suficiente;

• Comunicação aos responsáveis da gestão e da gover-nação de toda e qualquer situação de debilidadematerial na concepção e implementação do sistemade controlo interno; e

• Proceder à avaliação dos riscos de distorção materialao nível das demonstrações financeiras e ao nível dasasserções, e comunicar com a equipa de auditoriasobre esta matéria.

Saliente-se, dois aspectos relevantes que decorrem daaplicação das Normas Internacionais de Auditoria 3005

e 3156:

AVALIAÇÃO DO RISCO – A01.01

Actividades DocumentaçãoObjectivos

Processo A 01. 03• Identificação dos riscos• Carta de confirmação do trabalho

• Estratégia de Auditoria• Materialidade• Discussão no seio daequipa de auditoria

• Riscos de negócio e de fraude

• Concepção /Desenvolvimento de testes aos controlosrelevantes

• Avaliação dos riscos de distorção material

• Ao nível da D /F• Ao nível das asserções

Procedimentos de aceitação/Retenção

do cliente

Planeamento da Auditoria

Realização de procedimentos

de avaliação do risco

Aceitação /Retenção do cliente

Elaboração do plano global de auditoria

• Compreender a entidade• Identificar e avaliar riscos dedistorção materialmenterelevantes

5 Norma Internacional de Auditoria 300 – Planear uma auditoria de demonstrações financeiras.6 Norma Internacional de Auditoria 315 – Compreensão da entidade e do seu ambiente e avaliar os riscos de distorção material.

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Auditoria

• A necessidade do auditor analisar não só o grau deimplementação do sistema de controlo interno, mastambém o seu desenho e concepção, o que significaque não é suficiente o auditor possuir um conheci-mento genérico do sistema de controlo interno; devetambém obter conhecimento detalhado do mesmo, demodo a poder avaliar da adequacidade do seu dese-nho e concepção;

• O facto do auditor dever comunicar com a equipa detrabalho os riscos de distorção materialmente rele-vantes identificados e as respostas previstas ao níveldo trabalho a desenvolver, devendo esta etapa encon-trar-se devidamente documentada nos papéis de tra-balho.

Estes dois aspectos consistem em alterações significa-tivas do enfoque do auditor, sendo reforçado pelo Guiaa sua aplicação ao universo das PME’s.

Um planeamento eficaz requer que todos os membrosda equipa de auditoria se encontrem envolvidos nestafase e comuniquem de forma efectiva. A equipa de tra-balho deve reunir, ou falar com regularidade, de modoa partilhar o conhecimento detido por cada um dosseus membros. Tal poderá ser garantido através de:

• Realização de uma reunião de planeamento entretodos os membros da equipa de auditoria, de modo aser discutida a estratégia global de auditoria e oplano de auditoria detalhado, assim como proceder àavaliação de como poderão ocorrer fraudes e conce-ber procedimentos de auditoria que possam permitir

a detecção das situações em que as fraudes efectiva-mente ocorram;

• Realização de uma reunião final (próximo, ou mesmo,no final do trabalho de campo) para discutir as impli-cações dos resultados do trabalho realizado, procu-rando identificar qualquer indício da prática defraudes e determinar a necessidade (se alguma) derealização de trabalho(s) adicional(ais).

Ou seja, mesmo no universo das PME’s, o Guia reco-nhece a necessidade da aplicação das NormasInternacionais de Auditoria relevantes ao nível dosprocedimentos de avaliação de risco que o auditordeverá aplicar, de forma a avaliar do risco de fraude.Assim, já não estamos na anterior visão de que a audi-toria não tinha como objectivo identificar fraudes,tendo apenas o auditor a responsabilidade de comuni-car a sua existência caso identificasse tais situações nodecurso do seu trabalho, competindo agora, ao audi-tor, avaliar do risco de fraude. Esta é certamente umamatéria que irá motivar discussões quanto ao seuimpacto na realização de auditorias às PME’s e meto-dologias a adoptar.

Em virtude da lógica subjacente ao processo de avalia-ção do risco, esta fase poderá ser realizada, na maiorparte dos casos, bastante antes do encerramento dascontas.

Refira-se que a implementação do preconizado nasNormas Internacionais de Auditoria e no Guia poderámotivar uma alteração da distribuição do tempo aolongo do processo de auditoria, conduzindo, na maior

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Avaliação do Risco Resposta ao Risco Reporting

Auditoria

parte dos casos, a um acréscimo do tempo incorrido nafase do planeamento, em particular do tempo dosmembros da equipa mais seniores, podendo, e deven-do, esse acréscimo de tempo dispendido na fase do pla-neamento, ser recuperado, reduzindo ou mesmoeliminando, o trabalho nas áreas de baixo risco.

Adicionalmente, o conhecimento adquirido pelo audi-tor do detalhe dos procedimentos de controlo nas áreascríticas poderá ser utilizado para fornecer aos respon-sáveis da gestão comentários práticos e recomendaçõesde como minimizar ou reduzir riscos.

O mapa anterior evidencia o processo de avaliação dorisco, como um processo contínuo ao longo da audito-ria. Da fase inicial das tarefas de planeamento deverãoresultar a definição da estratégia global de auditoria eo plano detalhado de auditoria.

Conforme evidenciado na figura A01.01, acima, aolongo da etapa de avaliação do risco deverão ser desen-volvidas um conjunto de actividades, que visam obterum conjunto de objectivos, as quais deverão ser docu-mentadas de forma adequada, de modo a ser obtidaevidência quanto aos seguintes aspectos:

• Identificação dos riscos na fase de aceitação do clien-te;

• Formalização da aceitação do trabalho, através dasua contratualização;

• Estratégia de auditoria;• Materialidade;• Resultados das discussões realizadas no seio da equi-pa;

• Riscos de negócio e de fraude;• Concepção e desenvolvimento de testes aos controlosrelevantes;

• Avaliação dos riscos de distorção material: (i) ao níveldas demonstrações financeiras; e (ii) ao nível dasasserções.

Assim, torna-se evidente a necessidade de garantir aadequada documentação do trabalho realizado nestafase e dos resultados obtidos, sendo uma característicacomum às restantes etapas do processo de auditoria.

NÍVEIS DE PLANEAMENTO NA AUDITORIA – A01.05

Fonte: “Guide to Using International Standards on Auditing in the Audits of Small-and Medium sized Entities”

Planeamento da Auditoria

Actualizações contínuas e alterações de plano sempre que necessário

Estratégia Global de Auditoria

Comunicação com a Gestão de Topo e todos os que estão ligados à Governação

Plano detalhado de auditoria

Resposta aos riscos avaliadosNatureza , duração e extensão de todos os procedimentos de risco

Campo de acçãoObjectivos / CalendarizaçãoMaterialidadeAlterações significativasAspectos chave a focalizarNecessidades de staff / Selecção de pessoalSupervisão da equipa de auditoriaRelação com o auditado

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Auditoria

2.3.1.1.5. Os Procedimentos do Auditor em Resposta a RiscosAvaliadosA segunda fase do trabalho de auditoria consiste emdesenhar, conceber e realizar outros procedimentos deauditoria que respondam aos riscos de distorção mate-

rial e permitam obter prova/evidência necessária aosuporte da opinião expressa.

O seguinte quadro evidencia as tarefas a desenvolvernesta etapa: quadro

Alguns dos aspectos que o auditor deve tomar em con-sideração quando planeia os testes / procedimentos deauditoria consistem nos seguintes:

• Asserções que não podem ser aferidas apenas atravésda realização de procedimentos substantivos. Istopode acontecer quando existam processamentos detransacções bastante automatizados com reduzida,ou mesmo, nenhuma intervenção manual;

• Existência de controlos internos que se testados evalidados possam reduzir a necessidade, ou o âmbitoe profundidade, de outros testes substantivos;

• A possibilidade de serem realizados procedimentosanalíticos que possam reduzir a necessidade, ou oâmbito e profundidade, de outros testes substantivos;

• A necessidade de realizar testes de auditoria, demodo a avaliar da possibilidade de os responsáveis dagestão derrogarem os controlos existentes ou pratica-rem outro tipo de fraudes;

• A necessidade de realizar testes específicos, de formaa promover trabalho específico face aos riscos signifi-cativos identificados.

Os procedimentos de auditoria desenhados para res-ponder aos riscos identificados podem consistir numacombinação de:

• Testes de controlo, com o objectivo de validar a efi-cácia do sistema de controlo interno; e

• Testes substantivos, tais como procedimentos analíti-cos e testes de detalhe.

Mais uma vez, salientamos as exigências evidenciadasno Guia quanto à documentação a ser produzida nestaetapa do processo:

• Actualização da estratégia de auditoria, caso tal serevele necessário em função dos resultados do traba-lho realizado;

• Elaboração dos programas detalhados, evidenciandoa ligação entre os procedimentos de auditoria a exe-cutar e os riscos identificados;

• Trabalho realizado ao nível dos outros procedimentossubstantivos de auditoria;

• Resultados do trabalho;• Supervisão e revisão dos papéis de trabalho.

2.3.1.1.6. RelatoA fase final da auditoria consiste em avaliar a prova deauditoria obtida e determinar se a mesma é suficientee apropriada, de modo a reduzir os riscos de distorçãomaterialmente relevantes nas demonstrações financei-ras a um nível suficientemente baixo, de forma a que omesmo seja aceitável.

Seguidamente apresenta-se um mapa com as tarefas adesenvolver nesta fase. quadro

RESPOSTA AOS RISCOS IDENTIFICADOS – A01.02

Actividades DocumentaçãoObjectivos

• Actualizar a estratégia de auditoria• Programas de trabalho detalhadosligando os procedimentos e riscosidentificados

• Trabalho realizado• Resultados do trabalho• Supervisão da equipa• Revisão dos papéis de trabalho

Desenhar outros procedimentos de auditoria

Executar outros procedimentos de auditoria

Desenvolver uma resposta adequadaaos riscos identificados

Reduzir o risco de auditoria a um nível aceitável

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Sim

Não

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É importante que nesta fase seja dispendido o temponecessário de forma a determinar:

• Se ocorreram situações que implicam uma alteraçãodo nível de risco determinado aquando do planea-mento do trabalho;

• Se as conclusões decorrentes do trabalho realizadosão adequadas; e

• Se foram detectados indícios da prática de irregulari-dades ou fraudes.

Todo e qualquer risco adicional que tenha sido identi-ficado deve ser analisado, assim como deverão ser exe-cutados os procedimentos de auditoria adequados faceaos novos riscos identificados.

Saliente-se que o Guia presta uma particular relevân-cia ao facto do processo de planeamento não se con-cluir com a respectiva fase do trabalho. O processo deplaneamento é contínuo e deverá estar sempre presen-te ao longo do trabalho, de modo a manter uma atitu-de de cepticismo permanente, e a contínua necessidadede reavaliar o planeamento inicial face aos resultadosdo trabalho desenvolvido.

Quando todos os procedimentos se encontrarem con-cluídos e as conclusões formuladas:

• Os resultados do trabalho devem ser comunicados aosresponsáveis da gestão e/ou da governação; e

• Deve ser formada a opinião do auditor e elaborado orelatório de auditoria com a redacção adequada.

2.3.1.1.7 SumárioEm suma, os aspectos mais relevantes apresentados noGuia sobre a temática da auditoria baseada na avalia-ção do risco podem ser sistematizados do seguintemodo.

A realização de uma auditoria baseada no risco requerque o auditor inicie o processo de auditoria adquirin-do conhecimento sobre a entidade, de forma a que pos-teriormente possa identificar e avaliar os riscos dedistorção materialmente relevantes (combinação dorisco inerente e risco de controlo) ao nível das demons-trações financeiras. Tal permitirá ao auditor identificare responder aos riscos significativos, tais como:

• Possibilidade de saldos, classes de transacções oudivulgações poderem encontrar-se incompletas, inde-vidamente relevadas ou omitidas nas demonstraçõesfinanceiras;

• Áreas vulneráveis nas quais os responsáveis da gestãopossam derrogar os controlos internos e ocorreremmanipulações nas demonstrações financeiras;

• Outras fraquezas do sistema de controlo interno, quecaso não sejam corrigidas possam motivar erros nasdemonstrações financeiras.

RELATO – A01.03

Actividades DocumentaçãoObjectivos

• Riscos adicionais• Revisão dos procedimentos de auditoria

• Alterações na materialidade• Conclusões

• Processo A01 .01

Avaliar os resultados obtidos

É necessário trabalho adicional?

Determinar qual o trabalho de auditoria adicional (se algum)

necessário

• Memorandum final• Relatório de auditoriaElaboração do relatório de auditoria • Formação da opinião baseada

nos resultados do trabalho

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Auditoria

O Guia, evidencia como potenciais vantagens da suaadopção:

• A flexibilização da gestão do tempo no trabalho deauditoria – A fase inicial de avaliação do risco podeser realizada numa data bastante anterior ao encer-ramento das contas. Em virtude de a fase de planea-mento não envolver testes de detalhe ao nível dastransacções e saldos, a mesma pode ser realizada bas-tante antes do final do exercício, desde que não seencontrem previstas alterações significativas no planooperacional. Tal poderá permitir uma melhor distri-buição das cargas de trabalho ao longo do ano, assimcomo, permitir que o cliente tenha tempo para alte-rar ou corrigir pontos fracos detectados ao nível dosistema de controlo interno, assim como obter apoioa tarefas específicas antes do início do trabalho decampo na fase final;

• Focalizar os esforços desenvolvidos pela equipa deauditoria nas áreas chaves – Ao compreender quais asáreas nas quais existem riscos de distorção material-

mente relevantes, o auditor pode direccionar os esfor-ços desenvolvidos pela equipa para as áreas de maiorrisco, afastando-a das áreas de baixo risco. Tal aju-dará a garantir que os recursos humanos são utiliza-dos de forma eficiente;

• A orientação dos procedimentos de auditoria para osriscos específicos – De modo a poder minimizar osriscos específicos identificados, o auditor deve conce-ber outros procedimentos de auditoria. Consequen te -mente, os testes de detalhe orientados parami ni mizar os riscos gerais podem ser significativa-mente reduzidos, ou mesmo eliminados. O requisitodo auditor adquirir conhecimento de compreender osistema de controlo interno permite que possa tomardecisões fundamentadas quanto à realização de tes-tes, de modo a concluir quanto à eficácia operacionaldo sistema de controlo interno. A realização de testesde controlo (alguns deles podendo ser realizados comuma periodicidade máxima de três anos) resultam,normalmente, na realização de menos trabalho do

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Auditoria

que o requerido pela realização de testes de detalheexaustivos.

• A comunicação de matérias relevantes para os res-ponsáveis da gestão – O aprofundar da compreensãodo sistema de controlo interno por parte do auditor,permitirá que o mesmo identifique, em detalhe, asdebilidades daquele sistema e que anteriormente nãohaviam sido identificadas. Comunicar, atempada-mente, estes pontos fracos aos responsáveis da gestão,permitirá que os mesmos implementem as acçõesadequadas. Tal, poderá conduzir a uma redução dotempo de execução de futuros trabalhos.

• Melhorar a documentação dos papéis de trabalho –As Normas Internacionais de Auditoria colocam umênfase significativo na necessidade de documentarcada um dos passos do processo de auditoria.Embora tal possa motivar um acréscimo do custo dotrabalho, a documentação cuidada assegurará que odossier de auditoria evidencia todo o processo de

auditoria, sem a necessidade de qualquer esclareci-mento oral sobre o trabalho realizado, o porquê dasua realização, ou sobre como foram formuladas asconclusões do trabalho.

É provável que no primeiro ano da implementação des-tas metodologias possa ocorrer um acréscimo do traba-lho, nomeadamente ao nível do envolvimento dosresponsáveis do trabalho - sócio responsável e chefe daequipa afecta ao cliente -, nomeadamente na fase deplaneamento e relato. Contudo, é expectável que oaprofundar do conhecimento do cliente possa orientarde forma mais eficaz a equipa de auditoria para tare-fas nas áreas de risco elevado e, desta forma, compen-sar o acréscimo de esforços nas fases anteriormentereferidas.

Um aspecto que assume particular relevância ao longodo Guia consiste no enfoque prestado à documentação

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do trabalho realizado e as suas conclusões. Caso nãoseja adequadamente documentado o trabalho realizadonas fases do planeamento e relato, será difícil avaliar(quer internamente, através do controlo de qualidadeinterno, quer externamente, através do controlo dequalidade da Ordem, ou outras entidades) os julga-mentos realizados pelo auditor e a fundamentação dasopções tomadas.

2.3.2 Controlo Interno e Asserções das DemonstraçõesFinanceirasO segundo e terceiro conceitos relevantes do Guiaassentam no controlo interno e nas asserções dasdemonstrações financeiras.

3. ConclusõesNa opinião do autor, face ao anteriormente exposto, oGuia assume particular relevância em virtude de:

• Evidenciar de forma clara a aderência das NormasInternacionais de Auditoria ao universo das Pequenase Médias Empresas. O Guia focaliza-se, especifica-mente, nas Normas Internacionais de Auditoria no

contexto das PME’s, sendo evidente a sua aplicabili-dade, ainda que com as necessárias adaptações;

• Basear o processo de auditoria na avaliação do risco,ou seja, reforçando o papel do planeamento e a neces-sidade da sua adequada documentação. O trabalhorealizado deve decorrer dos riscos identificados, sendoessencial garantir a articulação entre os riscos identi-ficados e os testes realizados;

• Permitir uma clara identificação da ligação entre osriscos avaliados e os procedimentos de auditoriaadoptados, nomeadamente a articulação entre tes-tes de controlo e testes substantivos. Não faz senti-do numa entidade cujo sistema de controlo internonão mereça confiança realizar testes de cumprimen-to, assim como, naquelas cujo sistema de controlomereça confiança por parte do auditor, (i) apenasbasear o trabalho em testes de cumprimento semque sejam executados testes substantivos, (ii)suportar a opinião exclusivamente com testes subs-tantivos, excepto nas situações em que tal seja maiseficiente;

• Evidenciar a relevância dos testes “walk-throught” etestes analíticos. O trabalho do auditor deverá centrar-se em testes ao sistema de controlo interno e testes

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7 Norma Internacional de Auditoria 230 – Documentação da Auditoria.

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globais, em detrimento de trabalho substantivoexaustivo de análise documental, que apenas permitevalidar o que já se encontra reconhecido nas demons-trações financeiras;

• Evidenciar a necessidade de garantir ao longo detodo o trabalho de auditoria a sua adequada docu-mentação. A evidência, prova, do trabalho realiza-do consiste num aspecto crucial da auditoria. Porexemplo, caso o trabalho realizado no planeamentonão seja adequadamente documentado não é possí-vel avaliar da adequacidade dos procedimentosadoptados aquando da realização de um eventualcontrolo de qualidade, não sendo possível analisar eavaliar da adequacidade do trabalho realizado nafase de planeamento. A este respeito saliente-se odisposto na Norma Internacional de Auditoria 2307,no seu parágrafo 11., “as explicações verbais doauditor, só por si, não representam suporte adequa-do para o trabalho que o auditor executou ou paraas conclusões a que chegou, mas podem ser usadaspara explicar ou clarificar a informação contida nadocumentação de auditoria”. Ainda sobre estamatéria refira-se consistir num dos objectivos doGuia promover a melhoria da documentação dospapéis de trabalho;

• Por último, sistematizar toda a problemática daanálise dos resultados do trabalho e respectivo rela-to.

Assim, na opinião do autor, é expectável que seja pro-movido:

1) a tradução do documento em questão pela Ordeme, se necessária, a sua adaptação;

2) a realização de acções de formação junto dosRevisores e seus colaboradores com vista a divul-gar o Guia;

3) a sensibilização dos Revisores para a necessidadede adopção do Guia como um documento de refe-rência na execução dos trabalhos que envolvamPME’s, na formação dos seus colaboradores e nocontrolo de qualidade interno, das próprias firmas,e externo, por parte da OROC.

É convicção do autor que estamos perante um docu-mento capaz de ajudar a profissão a atingir um novopatamar na qualidade do serviço prestado aos utentesdas demonstrações financeiras e, consequentemente, aointeresse público, e ao reforço da credibilização da pro-fissão.

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Valor em risco (VAR – value at risk)Metodologias não Paramétricas

O VAR (Value at Risk) ,valor em risco, é a perdamáxima provável de uma carteira para um nível deconfiança determinado, num horizonte temporal espe-cificado.

As metodologias podem ser várias para estimar oVAR, mas dividem-se em dois grandes grupos: os nãoparamétricos (simulações Históricas e simulaçõesMonte Carlo) e os paramétricos, baseadas na variân-cia e covariância

Gestão

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Neste artigo, só nos iremos debruçar sobreas metodologias não paramétricas:

• Simulações Históricas que se baseiam nopressuposto de que a variação futurados preços dos activos relevantes na car-teira, se distribuirão da mesma formaque no passado;

• Simulações Monte Carlo cuja única dife-rença para as simulações Históricas resi-de na forma de se obterem os cenáriossimulados, que constituem uma amostragerada de forma (pseudo) aleatória,tendo em conta uma determinada distri-buição

IntroduçãoO VAR ou VaR (Value at risk ou valor emrisco) é a perda máxima provável de umacarteira para um nível de confiança deter-minado, num horizonte temporal especifi-cado. Deste modo, o VAR mede as perdaspotenciais estimadas mais pessimistas quesão apuradas tendo em conta um determi-nado nível de confiança, para um determi-nado intervalo de tempo e em condiçõesnormais de mercado.

As metodologias VAR consideram que orisco é o grau de incerteza relativamenteaos rendimentos líquidos futuros. Noentanto, baseiam a projecção das varia-ções futuras das taxas de juro e dos pre-ços na distribuição dos valores históricosde mercadas destas taxas e destes preços.

Um VAR de 100 Euros significa que, emmédia, tendo em consideração um nível derisco de 5%, somente em 1 dia em 20,pode-se esperar que haverá uma perdasuperior a 100 devido a movimentos domercado

Assim, as metodologias VAR baseiam-seem movimentos normais do mercado, ouseja, pressupõe a ausência de grandes cri-ses financeiras. Mercados onde se verificauma volatilidade significativa põem emcausa o efeito de correlação entre preços eo risco de liquidez pode desvirtuar o valorobtido pelo VAR. Trata-se de uma medi-da que permite quantificar a perda poten-cial de uma carteira associada a um nívelde confiança estatisticamente definido. Asua validade encontra-se balizada notempo.

As metodologias para estimar o VARpodem ser várias, nomeadamente:

• Técnicas baseadas na variância e cova-riância, em que se salientam os seguin-tes modelos específicos:• Modelos específicos (que igualmente:• Risk Metrics – J. P. Morgan• Raroc 2020 – Bankers Trust• Prime Risc – Credit Suisse First

Boston• Risk Dollars – Chase M. Bank• “Grupo dos trinta de 1993 –

“Derivatives: Practices andPrinciples”

• Simulações Históricas e Simulações(Cenários) Monte Carlo (conhecidas pormetodologias não paramétricas e sobreas quais nos debruçaremos de seguida)

Podemos resumir as principais diferençasentre as metodologias:

O VAR ou VaR (Value atrisk ou valor em risco)é a perda máximaprovável de umacarteira para um nívelde confiançadeterminado, numhorizonte temporalespecificado. Destemodo, o VAR mede asperdas potenciaisestimadas maispessimistas que sãoapuradas tendo emconta um determinadonível de confiança, paraum determinadointervalo de tempo eem condições normaisde mercado.

Eduardo Sá e Silva Gestão

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Gestão

1 - VAR (simulação Histórica – metodologia não paramétrica)

1.1 PrincípiosEsta metodologia baseia-se na hipótese da estaciona-riedade dos dados, o que pressupõe que a história é amelhor estimação possível do futuro.

Portanto, o princípio é estimar-se a distribuição dasvariações dos preços futuros a partir dos preços histó-ricos e aplicar estas variações à carteira actual paradeterminar o VAR. Este método é dito não paramétri-co porque, contrariamente a outras abordagens, p.e,RiskMetrics, o cálculo do VAR não implica ter umaestimativa dos parâmetros duma distribuição teórica,como por exemplo a normal.

Convém salientar que é a totalidade da carteira que étomada em consideração e não cada activo individual-mente. O VAR duma carteira não é a soma dos VARindividuais de cada instrumento mas o VAR da totali-dade da carteira, o que permite ter em conta o efeitodas correlações.

Uma das instituições que utiliza este método é o ChaseManhattan que utiliza uma série histórica de 100 diaspara um horizonte temporal de 1 dia. (nesta situaçãoo VAR é designado por DEAR, na medida em que seaplica a resultados diários)

1.2 Exemplo No exemplo apresentado só iremos ter 20 observaçõesdiárias e dois títulos, a fim de não sobrecarregar os cál-culos. As etapas para calcular o VAR segundo a simu-lação Historica são as seguintes (ver quadro 1 abaixo):• As observações dizem respeito aos preços de dois

títulos: 5 unidades do título 1 e 10 unidades do títu-lo 2;

• As variações de cada período relativamente ao diaanterior são calculados em valor relativo (taxa devariação) pela fórmula: (pt – pt-1) / pt-1, em quept é o preço do dia e pt-1 o preço do dia anterior.Assim para o primeiro dos dias anteriores ao actual:(205-200)/200 = 2,5% para título 1 e (210-220)/ 210= .4,5% para o título 2;

• Cada título é valorizado por aplicação da variaçãodo dia a partir do seu valor no período actual (t0).O cálculo consiste em submeter a carteira actual àsvariações do passado. A fórmula: p0 (1 + variação t), em que p0 é o valor actual e variação t a variaçãodo dia. Para o dia -19, temos 215 x (1 + 2,5%) =220 e 160 x (1 –4,5%) = 153 para o título 2. Para odia -18, temos 215 x (1+2,4%) = 220 para o título 1e 160 x (1+9,5%) = 175 para o título 2;

• O valor total da carteira é calculado em função donúmero de títulos detidos. Assim para o primeirodia, temos: 220x 5 + 153 x 10 = 2 629

• A perdas diárias são calculadas relativamente aovalor actual da carteira (5 x 215 + 10 x 160 = 2675).As perdas são registadas com valor positivo e os

Não paramétricas Paramétricas

Funções Simulação histórica Montecarlo Variância -Covariância

Definição dadistribuição

A distribuiçãodos dadoshistóricas écalculada

Os valores sãogerados

O desvio padrão e acorrelação sãoestimados

Cálculo dadistribuiçãoda carteira

Os valores dacarteira sãosimulados

O desvio padrão dacarteira é calculado,assumindo umadistribuição normal

Obtenção doVAR

Os valores das perdas sãoordenados e todos os queultrapassam (1-p) probabilidadesão seleccionados

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Gestão

ganhos com valor negativo (por uma questão deordenação dos valores).

• As perdas são classificadas por ordem crescente e aleitura é efectuada sobre a coluna do montante doVAR em função do nível de confiança desejado.

• A coluna de Probalidade é calculada considerandoque cada observação representa 5% (são vinte obser-vações) de forma acumulativa.

Avaliação da valorhistórico variações carteira carteira PerdasProbabilida

Dia título 1 título 2 título 1 título 2 titulo 1 título 2 total actual Perdas ordenadas5 10

-20 200 220-19 205 210 2,50% -4,55% 220 153 2629 2675 46 -245 0,05-18 210 230 2,44% 9,52% 220 175 2854 2675 -179 -179 0,1-17 195 250 -7,14% 8,70% 200 174 2737 2675 -62 -142 0,15-16 205 230 5,13% -8,00% 226 147 2602 2675 73 -134 0,2-15 190 210 -7,32% -8,70% 199 146 2457 2675 218 -125 0,25-14 190 180 0,00% -14,29% 215 137 2446 2675 229 -104 0,3-13 220 150 15,79% -16,67% 249 133 2578 2675 97 -87 0,35-12 180 180 -18,18% 20,00% 176 192 2800 2675 -125 -62 0,4-11 215 160 19,44% -11,11% 257 142 2706 2675 -31 -31 0,45-10 200 170 -6,98% 6,25% 200 170 2700 2675 -25 -25 0,5-9 190 190 -5,00% 11,76% 204 179 2809 2675 -134 9 0,55-8 230 180 21,05% -5,26% 260 152 2817 2675 -142 23 0,6-7 190 200 -17,39% 11,11% 178 178 2666 2675 9 46 0,65-6 205 220 7,89% 10,00% 232 176 2920 2675 -245 73 0,7-5 190 205 -7,32% -6,82% 199 149 2487 2675 188 97 0,75-4 195 180 2,63% -12,20% 221 140 2508 2675 167 167 0,8-3 230 170 17,95% -5,56% 254 151 2779 2675 -104 188 0,85-2 205 180 -10,87% 5,88% 192 169 2652 2675 23 207 0,9-1 230 175 12,20% -2,78% 241 156 2762 2675 -87 218 0,95

actual 0 215 160 -6,52% -8,57% 201 146 2468 2675 207 229 1

Quadro 1: cálculo do VAR simulação Histórica

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Gestão

Assim, o VAR, a probabilidade de que a perda nãoultrapasse em mais do que montante indicado para onível de confiança desejado, é a seguinte:

• Em 70% dos casos : 73 (conforme referido os valorespositivos representam perdas)

• Em 90% dos casos: 207• Em 95% dos casos: 218

1.3 – Vantagens e inconvenientes desta metodologiaEsta metodologia é simples de aplicar e necessita depoucos recursos informáticos.

Apresenta a vantagem de não serem necessários cálcu-los complexos.

O VAR é determinado sobre toda a carteira e não é asoma dos VAR individuais (ou seja, no nosso exemploo VAR calculado recai sobre 5 unidades do títulos 1 e10 unidades do título 2) . Por conseguinte, toma emconsideração o efeito das correlações.

No entanto, se um activo não tem histórico, a metodo-logia VAR –simulação Histórica não se pode aplicar.Neste caso, é necessário recorrer a simulações e a cál-culos complexos. Por outro lado, se porventura umpequeno número de observações apresenta valoresmuito díspares (valores muito afastados da média,quer positivos, quer negativos, designados por outsi-ders) vicia fortemente o cálculo, pelo que o controlo

estrito dos dados torna-se indispensável. Outra das crí-ticas apontadas a esta metodologia é que ponderatodas as observações (dados históricos) da mesmaforma, incluindo os preços mais antigos.

2. VAR (simulação Monte Carlo – metodologia não paramétrica)

2.1 PrincípiosA maior parte dos modelos anteriormente apresenta-dos é eficaz para se apurar o valor em risco (VAR) dasaplicações em instrumentos que tenham um comporta-mento linear ou não linear devido à convexidade, taiscomo as obrigações e assimilados. Mas logo que o com-portamento dum instrumento sofre rupturas bruscas eimprevisíveis, estes modelos podem não ser os maisadequados. Por exemplo, o preço de uma opção podevariar de forma imprevisível devido a uma pequenaalteração do preço do activo subjacente.

A principal diferença para a simulação Histórica resi-de na forma de se obterem os cenários simulados.

Dada uma distribuição de probabilidades, as simula-ções (cenários) Monte Carlo constituem uma amostragerada de forma (pseudo) aleatória tendo em conta areferida distribuição.

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Gestão

A distribuição vem definida por um conjunto de parâ-metros: matriz de variâncias e covariâncias, velocida-des e taxas de reversão em relação à média, etc..

A flexibilidade da simulação Monte Carlo permite ageração de cenários para um amplo conjunto de pon-tos no tempo, permitindo simular trajectórias de evo-lução.

Torna-se necessário definir um vector de nódulos tem-porais, bem como dispor de um gerador de númerosaleatórios.

Mas vejamos um exemplo para melhor compreensão dasimulação Monte Carlo.

2.2 ExemploA metodologia a utilizar é a técnica de simulação alea-tória dita de Monte Carlo (nome do famoso casino).Consiste na determinação, por exemplo, do VAR deuma opção, através da geração de uma série de preçosdo instrumento subjacente, da ordem dos 5000 a10000, e no estudo do comportamento da opção.

Realce-se que a opção é um instrumento pelo qual aentidade que o adquire passa a ter o direito (mas nãoa obrigação) de comprar ou vender um determinadoactivo, num certo período de tempo, a um preço acor-dado (denominado preço de exercício)

Para simular o cálculo do valor da opção, a metodolo-gia (utilizando o modelo de Black-Scholdes) adopta asseguintes hipóteses:

a) A metodologia baseia-se na distribuição da lei nor-mal que nos diz que a probabilidade de um valorestar próximo da sua média é elevado, ao invés daprobabilidade de um valor estar longe da suamédia . Um instrumento dum valor de 100 temfracas probabilidades de atingir 10 ou 1000 numfuturo próximo, por exemplo num ano. As tiragensaleatórias têm em consideração esta lei para gerarnúmeros realistas.

b) O que se procura não é a variação do instrumentoem valor absoluto mas em valor relativo, portantoo seu rendimento. Uma variação de 1 não tem omesmo significado se o instrumento vale 100 ou 2.No primeiro caso, o ganho é de 1% e no segundo éde 50%. É portanto o rendimento, e não o preçoda acção que segue uma distribuição normal (dis-tribuição lognormal)

Um exemplo sucinto (só com 10 simulações) apresen-ta-se de seguida:

Os dados do exemplo são os seguintes (ver quadro 2adiante):

• Preço da acção original (ou seja activo subjacenteà opção) : 100

• Desvio padrão do preço da acção: 20%

• Taxa de rendimento médio (= igual à taxa deactualização) para esta categoria de acção= 10%

• Período de tempo de: 1 ano

• Preço de exercício da opção (tipo europeu): 95

1.Os números aleatórios estão compreendidos entre 0 e11: primeira coluna do quadro nível de confian-ça/probabilidade

2.A primeira simulação dá um valor de 0,75. O núme-ro de desvios padrão acima da média para que 75%das variáveis estejam situadas à esquerda da curvada lei normal é de 0,6745 desvios padrão (ver colunade número de desvios padrão)2. A segunda simulaçãodá 0,5 que corresponde à média3

3.A variação relativa ao preço da acção é calculado doseguinte modo: rendimento médio (10%) adicionadodo número de desvios padrão multiplicados pelo des-vio padrão (20%). Assim, para a primeira simulaçãotemos a variação: 0,1 + 0,2 * 0,6745 = 0,2349. Estevalor pode ser obtido directamente através da funçãoNORMINV4

1 A folha de cálculo EXCEL permite gerar tais números, ver a função rand()2 A distribuição normal padronizada (ou reduzida) é uma distribuição normal com média igual a zero e desvio padrão igual a 1 (isto é, μ=

0 e σ = 1). Qualquer distribuição normal pode ser convertida numa distribuição normal padronizada, fazendo μ = 0 e expressando des-vios em relação a m em unidades de desvio padrão (escala z). Sob tais condições, 68,26% da área (probabilidade) sob a curva normalpadronizada é incluída dentro de um desvio padrão médio ,isto é, dentro de μ +/- 1 σ, 95,54% dentro de μ +/- 2 σ, e 99,74% dentro deμ +/- 3 σ.

3 No EXCEL a função que nos dá esta informação é a função NORMSIN, que consiste no inverso da função de distribuição normal4 Inverso da distribuição normal acumulativa para uma média e um desvio padrão específico

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O VAR seria calculado ordenando os valores actuais daopção, como segue:

Quadro 3 – valores ordenados (os valores positivospara efeitos de cálculo de VAR são transformados emvalores negativos, o que interessa são as perdas) qua-dro

Gestão

4.Esta variação pode ser transformada em variaçãoexponencial (a exponencial de (0,2349) correspondea 1,26478).

5.preço da acção com variação resultará do produto davariação exponencial pelo preço original: 1,26478 *100 = 126,478. Os outros preços são calculados deigual modo.

6.valor intrínseco da opção é calculado pela diferençaentre o preço da acção com variação e o preço doexercício: 126,478 – 95 = 31,478. Quando esta dife-rença é negativa o valor é zero

7.valor da opção é actualizada, porque ela só será exer-cida no prazo de 1 ano (opção europeia). A actuali-zação é efectuada a uma taxa de juro continua ouexponencial que assume que a taxa é composta con-tinuamente. Assim, para uma taxa de referência de10%, o factor de actualização será de 1/exp(0,1) =0,9048

c)A seguir calcula-se uma média do valor actual daopção, ou seja, 21,06 para um preço médio de acçãode 116,62. É igualmente possível estimar o númerode vezes em que o valor intrínseco da opção serápositivo e, portanto exercido, no nosso exemplo, seráde 60% (6 vezes em 10) quadro

confiança número utilização factorprobabilidade desvios taxa de desvio variação da função variação preço preço de preço valor actualização valor

padrão de rend padrao norminv exponencial da acção acçãoc/ exercíco intrinseco contiuo actual(a) (b) © exp(var) variação opção 1/ex(0,1) opção

1 2 3 4 5=3+4*2 6 7=exp(6) 8 9=7*8 10 11=9-10 12 13=11*120,75 0,67449 0,1 0,2 0,234898 0,234898 1,26478 100 126,478 95 31,47798 0,904837 28,482460,5 0 0,1 0,2 0,1 0,1 1,105171 100 110,5171 95 15,51709 0,904837 14,040450,2 -0,841621 0,1 0,2 -0,068324 -0,068324 0,933958 100 93,39576 95 0 0,904837 00,1 -1,281551 0,1 0,2 -0,15631 -0,15631 0,855294 100 85,52939 95 0 0,904837 0

0,85 1,036433 0,1 0,2 0,307287 0,307287 1,359731 100 135,9731 95 40,97306 0,904837 37,073960,79 0,806422 0,1 0,2 0,261284 0,261284 1,298597 100 129,8597 95 34,85968 0,904837 31,542350,22 -0,772193 0,1 0,2 -0,054439 -0,054439 0,947017 100 94,70167 95 0 0,904837 00,95 1,644853 0,1 0,2 0,428971 0,428971 1,535676 100 153,5676 95 58,56759 0,904837 52,994150,92 1,405074 0,1 0,2 0,381015 0,381015 1,463769 100 146,3769 95 51,37692 0,904837 46,487760,15 -1,036433 0,1 0,2 -0,107287 -0,107287 0,898268 100 89,82682 94 0 0,904837 0

preço médio da acção 116,6226 preço preço médio opção 21,06211(a) utilização d função rand(). Geração de números aleatórios compreendidos entre 0 e 1 em 60%(b) inverso da função da distribuição normal: função normsinv número de desvios de padrão. das vezesAssim para um intervalo de confiança de 95%, teremosa volatilidade equivalente a 1,645 desvios-padrão da média a opção© inverso da distribuição normal acumulativa para uma média é positiva

Quadro 2: cálculo da simulação Monte Carlo: 1ª geração de números aleatórios

PerdasOrdenadas

Probabilidade ordenados VAR0,1 52,99415 -52,994150,2 46,48776 -46,487760,3 37,07396 -37,073960,4 31,54235 -31,542350,5 28,48246 -28,482460,6 14,04045 -14,040450,7 0 00,8 0 00,9 0 0

1 0 0

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Gestão

confiança número variação utilizaçãoprobabilidade desvio- taxa de desvio- variação da função variação preço preço de preço valor factor valor

padrão de rend padrao norminv exponencial da acção acçãoc/ exercíco intrinseco actualização actual(a) (b) © exp(var) variação opção contiuo opção

1 2 3 4 5=3+4*2 6 7=exp(6) 8 9=7*8 10 11=9-10 12 13=11*120,26733781-0,620885 0,1 0,2 -0,024177 -0,024177 0,976113 100 97,6113 95 2,611297 0,904837 2,3627990,61208833 0,284766 0,1 0,2 0,156953 0,156953 1,169941 100 116,9941 95 21,99409 0,904837 19,901080,24631463-0,686132 0,1 0,2 -0,037226 -0,037226 0,963458 100 96,3458 95 1,3458 0,904837 1,2177310,40672037 -0,23599 0,1 0,2 0,052802 0,052802 1,054221 100 105,4221 95 10,42209 0,904837 9,4302960,63620766 0,348341 0,1 0,2 0,169668 0,169668 1,184912 100 118,4912 95 23,49116 0,904837 21,255680,08628703-1,363978 0,1 0,2 -0,172796 -0,172796 0,84131 100 84,13095 95 0 0,904837 00,41206343 -0,22224 0,1 0,2 0,055552 0,055552 1,057124 100 105,7124 95 10,71241 0,904837 9,6929870,99095823 2,363904 0,1 0,2 0,572781 0,572781 1,773191 100 177,3191 95 82,31911 0,904837 74,485410,26227264-0,636355 0,1 0,2 -0,027271 -0,027271 0,973097 100 97,30974 95 2,309745 0,904837 2,0899430,73597912 0,630998 0,1 0,2 0,2262 0,2262 1,253826 100 125,3826 94 31,3826 0,904837 28,39615

preço médio da acção 112,4719 preço preço médio opção 16,88321em 90%o valor

é positivo

No entanto, se utilizássemos uma outra geração denúmeros aleatórios o resultado seria diferente. quadro

Quadro 4: cálculo da simulação Monte Carlo: 2ª geração de números aleatórios

Assim, a geração de preços não é simples. Este exem-plo encontra-se simplificado.

Na prática, as simulações de Monte Carlo implicam:

Inúmeros parâmetros devem ser estipulados, comoseja: a taxa de juro, volatilidades, preços do activossubjacentes, etc., o que conduz a que o número desimulações seja elevado, a fim de serem consideradasas variações nestes parâmetros. O número de simula-ções pode-se elevar a largos milhares

As variações alteram-se de forma contínua;

As correlações entre os diversos instrumentos devemser igualmente consideradas

Uma vez estes cálculos efectuados, tendo em conside-ração estes ajustamentos, basta ordenar os resultadosdas simulações e considerar os valores mais baixos querepresentem 5% do conjunto, a fim de se obter o VARcom um grau de confiança de 95%

2.3 Vantagens e inconvenientes das metodologias Monte CarloAinda que este método seja mais preciso que a ante-rior simulação histórica para situações em que os pre-ços dos instrumentos sofram alterações bruscas eimprevisíveis (casos em que a história não apresentaum comportamento consistente) , ao considerar inúme-ras situações, implica necessariamente recursos infor-máticos substanciais. No entanto, os recursosinformáticos têm vindo a ser cada vez mais acessíveis,

dado o progresso tecnológico. Por outro lado, podem-seconsiderar algumas simplificações a fim de diminuir onúmero de simulações. Este método é particularmenteapropriado para carteiras que contenham instrumentoscomplexos, nomeadamente, opções exóticas.

Conclusões sobre o VARO VAR tem de ser considerado um conceito e não umsistema de cálculo. As razões da sua popularidade tema ver com o seguinte:

• Concentra-se num dos principais tipos de preocupa-ções dos decisores e gestores de topo – o potencial deperdas significativas

• Pela relevância do seu significado, ganhou o suportede importantes instituições e organismos, nomeada-mente, da União Europeia e do BIS (Acordo deBasileia II)

O VAR é uma metodologia estatística que ajuda osgestores a agregar números dos riscos através dos negó-cios e das linhas de produtos de uma forma inteligível.Isto ajuda as instituições financeiras a impor limitesnas exposições de risco de mercado e a optimizar a alo-cação do capital aos vários negócios ou carteiras.

Deste modo, o VAR é um importante instrumento queauxilia os gestores a terem uma visão agregada sobreo perfil do risco da instituição e a controlar o riscoatravés da imposição de limites. O VAR providenciaum valor simples agregado que pode, inclusive a aju-

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Gestão

dar os supervisores a imporem limites prudenciais acada instituição.

Assim, o VAR tem como principais utilizadores asInstituições Financeira e empresas Multinacionais, quedetenham carteiras de investimentos.

No entanto, o VAR encerra um nível de subjectivida-de significativo, nomeadamente, na definição do nívelou grau de confiança, do horizonte temporal e, essen-cialmente, do método de cálculo. Por outro lado, nãodeve ser aplicado a instrumentos ilíquidos e o valor dascarteiras tem que poder ser ajustado em relação aohorizonte temporal.

Conforme referido, em mercados normais, providenciaum instrumento poderoso, bem como para períodos deprevisão curto, mas apresenta dificuldades quando osmercados se apresentam turbulentos ou quando o hori-zonte previsional é longo.

Por seu turno, as etapas para medição do VAR passampor:

1. Caracterização das exposições ao risco das posiçõesassumidas. Como exemplos de tipo de exposições(vectores chave), temos: acções, obrigações, maté-rias primas, mercadorias, divisas estrangeiras, taxasde juro, volatilidades implícitas, margens ou outras;

2. Caracterização da incerteza, tendo em conta a ava-liação que se faz da situação e evolução dos merca-dos. A caracterização da incerteza consiste emdeterminar a distribuição de probabilidade conjuntado vector chave, designada por processo de inferên-cia. Para esse efeito, podem utilizar-se dados histó-ricos ou utilizar-se técnicas de análise de sucessõescronológicas para caracterizar a distribuição condi-cionada à informação existente no tempo inicial;

3. Combinação das características dos dois passosanteriores para valorizar o risco de mercado da car-teira através de uma VAR metric (metodologia demedição)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBeis, Joel (2202) Risk management in Banking – second editiom WilleyDaripa, Arupratan; Varotto, Simone (1998) “Value ar risk and precommitment: Approaches to market risk regulation” in EconomicPolicy Review – Federal Reserve Bank of New York, Oct 1998 4.3, pp 137Dermine, Jean;Bissada, Youssef (2005) Gerenciamento de Activos e Passivos Editora ATLAS – São PauloJacob, Henri; Sardi, Antoine (2000) mangement des Risques Bancaires Éditions AFGESJorion, Philippe (2003) Financial Risk Manager Handbook GARP – Risk Management LibraryJorion, Philippe (1997) Value at Risk McGraw-HillLopez, Jose (1998) “Methods for evaluating value-at-risk estimates” in Economic Policy Review-Federal Reserve Bank of New York;Oct 1998; 4,3, pp 119Silva, Eduardo (2006) Modelos para a Determinação do Risco da Taxa de Juro Vida EconómicaTardivo, Giuseppe (2002) “Value at risk (VAR): The new benchmark for managaging market risk” in Jornal of Management &Analysys; Jan-Jun 2002; 15,1, pp. 16

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A simplicidade e a instabilidade no sistema fiscal português – Prioridades da política fiscal

José Manuel de Paiva Gomes Fiscalidade

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Fiscalidade

1. IntroduçãoA simplicidade opõe-se à complexidade. A estabilida-de está no pólo oposto da instabilidade. Parece, então,que simplicidade e estabilidade têm algo de comum:assumem-se, para muitos, como características positi-vas e desejáveis de muitos sistemas sociais e económi-cos. Não obstante, a necessidade de mudança fazparte da vida e é positiva e alguma complexi-dade pode traduzir mais qualidade, pelo que é nabusca do equilíbrio que certamente estará a virtude.

É comum, socialmente, afirmar-se: “a beleza está nasimplicidade” ou “a busca da simplicidade deve seruma meta”. Os informáticos afirmam: “os sistemasdevem ser simples”. E até Einstein se pronunciou: “Seno início a ideia não parecer absurda, não há esperan-ças para ela”. Concordemos que poderia ter sido menoscomplexo.

Sobre a estabilidade é comum, socialmente, as organi-zações de trabalhadores afirmarem: “o trabalhador temo direito de permanecer no emprego…”. Algumas cor-rentes políticas defendem a estabilidade no empregocomo sustentação de desenvolvimento social.

A simplicidade é desejada por todos, pelo que a sim-plificação das relações entre o cidadão e a administra-ção pública é um objectivo transversal a todas ascorrentes políticas. A estabilidade é, em muitos secto-res da vida social, desejada e em muitos exige-se o seuincremento. A simplicidade na interpretação e aplica-ção dos tributos e a estabilidade da lei fiscal como umagarantia do sistema fiscal em sentido lato são, hoje,aliciantes temas de discussão.

É sobre esta temática que versará este trabalho.

2. Contexto – Estabilidade e Complexidade num sistema fiscal O direito fiscal assenta no respeito pelo passado – tra-dição – e no respeito pela modernidade – renovação.

Renovar implica alterar ou transformar, pelo que aconsecução do imperativo modernidade implica alte-rações da lei fiscal. Não alterar a lei fiscal significaassumir a mesma como uma força de constrangimentoao desenvolvimento económico.

As alterações poderão ser de natureza conjuntural ouestrutural. As leis fiscais são um dos sectores doordenamento jurídico onde as alterações podemcriar mais profundos problemas de adaptaçãona actividade dos agentes económicos. É por estarazão que é importante saber, de modo sistemático, oque pensam os contribuintes sobre a forma como vêemas alterações legislativas produzidas num espaço tem-poral.

Um sistema fiscal óptimo deve ser simples. Simples decompreender, simples de aplicar. Mas se a simplicida-de tem vantagens muito evidentes:

(i) transparência das regras e procedimentos(ii) menor dificuldade de interpretação(iii) maior facilidade de cumprimento das obrigações

acessórias(iv) maior colaboração do contribuinte(v) menor custo de cobrança1

Não deixa de ser verdade que é difícil elaborar siste-mas equitativos e personalizados sem algum input decomplexidade no sistema. A consideração das diferen-tes especificidades e capacidades contributivas de cadaindivíduo pode perder-se num sistema simples semdiferenciação2.

3. Consequências da instabilidade da norma fiscal sobre osagentes económicos A mudança da lei fiscal afecta as expectativas dos con-tribuintes. Diminui a certeza e a segurança pelo que aracionalidade da decisão e do planeamento empresarialsão afectadas negativamente.

Num sistema democrático com rotação do poder, comciclos de tempo correspondentes ao exercício do podere com grupos de pressão, a construção de um sistemaestabilizado com soluções duradouras e com regras dojogo que não se alterem sempre que o mesmo acabafica comprometida.

4. Consequências da complexidade do sistema fiscal sobre osagentes económicos A execução das regulamentações legais acarreta custospara os operadores económicos. Por vezes, estes custossão difíceis de quantificar. De acordo com o documen-to “Comunicação da Comissão sobre o observatório

1 os recursos perdidos na cobrança de imposto em Portugal são elevados face a outros países2 Não obstante, o imposto sobre o rendimento das empresas, em Portugal, é complexo e possui reduzida personalização. Actualmente exis-

te uma fiscalidade diferenciada para microempresas situadas em zonas de interioridade.

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Fiscalidade

europeu para as PME”, o custo anual de todas as obri-gações administrativas – incluindo as fiscais – quepesam sobre as empresas foi estimado entre 3 e 4% doPIB, anualmente. Certo, também, é que, em termosrelativos, o custo é superior para as PMEs.

Sistemas fiscais complexos geram custos desnecessáriospara as empresas e afogam a capacidade empreendedo-ra e de criação de emprego das PMEs. A complexida-de desproporcionada de um sistema fiscal aumenta aresistência do contribuinte face ao imposto e em nossoentendimento contribui para a evasão fiscal.

5. O caso portuguêsNo trabalho intitulado “Observatório da competiçãofiscal” produzido por uma consultora internacional pre-sente em Portugal dá-se conta que quase 60% dos con-sultados (contribuintes empresariais) consideram quedeverá ser garantida “maior estabilidade da lei fiscal”.Simultaneamente 70% dos mesmos inquiridos conside-ram relevante que o sistema fiscal português sejamenos complexo.

Parece, portanto, existir maioritariamente, emPortugal, a consideração de que:

(i) são excessivas e ou desproporcionadas as alteraçõesdas normas fiscais;

(ii) o sistema fiscal é complexo e deve caminhar paraa simplificação.

Do ponto de vista da estabilidade, se presumirmos queas apreciações são generalistas, então, critica-se omomento – alterações a todo o momento do calendá-rio – criticam-se as alterações permanentes como sede uma reforma fiscal permanente se tratasse – altera-ções orçamento do estado após orçamento do estado ecritica-se também a abundância de Reformas fis-cais (aquelas que mudam globalmente o imposto).

A instabilidade afecta o contribuinte português nosseguintes níveis:

• Maior insegurança na sua decisão e expectativaspotencialmente alteradas; Dificuldades acrescidassobre certas empresas, sectores de actividade ou pes-soas (Contabilistas, Auditores e Gerência); custoacrescido de cálculo do imposto sempre que há alte-rações fiscais; interpretações incorrectas da lei ounecessidade de aguardar por esclarecimentos ou inter-pretações vinculativas por parte da AdministraçãoFiscal.

Se analisarmos o passado recente concluímos que nosúltimos anos assistimos a mudanças estruturais noimposto sobre o património imobiliário – passagem da

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Fiscalidade Eduardo Sá e Silva

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SISA e da CA para o IMT e para o IMI – ao fim doImposto sobre Sucessões e Doações, a alterações subs-tanciais no Imposto de Selo.

Estas mudanças estruturais têm sido acompanhadascom alterações conjunturais permanentes, através doOrçamento de Estado, umas vezes movidas por altera-ções da complexidade económica que são vertidas naLei Fiscal, outras vezes por alterações de visão do deci-sor político (Bagão Félix afecto ao governo PSD/CDSretirou aos PPRs a sua qualidade de benefício fiscalpor os considerar instrumentos financeiros aliados aum benefício fiscal e serem utilizados por escalões demaior rendimento. Não obstante, o governo actualhaveria de os voltar a condecorar com benefício fiscalpor considerar importante a poupança de médio-longoprazo e o financiamento privado da reforma), outrasvezes por motivos duvidosos mas que geram algumacréscimo de receita pública via impostos (como adiminuição do montante considerado de 35% para30%, a título de custos com obtenção do rendimentopara os usufrutuários de rendimentos da categoria Bdo IRS.

Simultaneamente com o grandioso momento da apro-vação do orçamento para o ano seguinte – em que asalterações das normas fiscais são conhecidas – e aquiexiste uma vantagem clara que consiste em o contri-buinte conhecer as datas de apresentação e aprovação,o contribuinte convive com alterações constantes dasnormas. Por exemplo, em 2007 ocorreu alteraçãoimportante em sede de IVA com as alterações sobre osujeito que deve liquidar o Iva nas empreitadas deconstrução.

Recentemente assistimos a alterações estruturantes daLei das Finanças Locais com consequências sobre abase de cálculo da Derrama Municipal.

Do ponto de vista da complexidade, se presumirmosque a apreciações são generalistas, então, critica-se oexcesso de normativos, a dificuldade de inter-pretação e compreensão, a profusão de diplo-mas não adequadamente “arrumados”(o Regimede incentivos à interioridade apenas em 2007passou a fazer parte integrante do EABF), amorosidade na resposta a reclamações gracio-sas, etc.

6. As prioridades na política fiscal portuguesa Estabelecer prioridades na política fiscal nacional, emfunção dos grandes objectivos que devem presidir a

qualquer sistema fiscal, deverá tomar em linha deconta desígnios promotores do desenvolvimento econó-mico e social, onde se enquadram a desejada estabili-dade e simplicidade – nos moldes desenvolvidosanteriormente. Estes desígnios farão dele um sistemamais atractivo aos olhos dos seus “clientes forçados”:particulares e empresas, nacionais e não nacionais,com ímpeto ao investimento estrangeiro, neste último.

Mas definir prioridades para a política fiscal nacionalobriga-nos, desde logo, a reflectir sobre alguns cons-trangimentos existentes. Observemos os seguintes:

(i) O montante e a forma da despesa pública –um constrangimento

Pergunte-se: qual será o nível de fiscalidade óptimo?

As prioridades de qualquer política fiscal devem serestabelecidas em função desse indicador. Pode-se afir-mar que o nível de fiscalidade óptima depende do nívelde despesa pública óptimo. O nível de despesa públicapode crescer permanentemente desde que o crescimen-to económico o permita. Aumentar a despesa públicasem correspondência no crescimento do PIB terá comoconsequência o aumento do nível de fiscalidade e estenão pode crescer permanentemente. Há um limite parao nível de fiscalidade. À medida que o nível de fiscali-dade aumenta, aumenta também a riqueza gerada pelosector privado que é transferida para o sector Estado,diminuindo os meios financeiros do cidadão contribuin-te para satisfação das suas necessidades privadas.

O constrangimento fundamental na implemen-tação da política fiscal em Portugal será o defi-cit do orçamento do estado e a necessáriaconsolidação orçamental. Outros constrangimentoscolaterais serão de referir:

• Despesa pública predominantemente fixa, que nãopermite variabilidade acentuada na cobrança;

• Morosidade na reforma do Estado, que não permitegeração de ganhos de eficiência;

• Entrada de novos estados na comunidade europeia,espaço de liberdade e movimentação de factores deprodução, caracterizados por oferta de mão-de-obracom níveis de escolaridade elevados e taxas deimposto sobre os lucros societários mais competiti-vas.

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(ii) As pressões sociais – outro constrangimento

Como corolário da eficácia fiscal do sistema de arreca-dação, a partir de 2004, e do aumento do nível de fis-calidade (por exemplo a subida da taxa normal do Ivapara 21%) o deficit do orçamento do estado tem dimi-nuído. Representando esse acréscimo um aumento dosacrifício pedido aos contribuintes, sem contrapartidacom um crescimento económico alinhado, pelo menos,com a média comunitária, alguns grupos sociais pres-sionam, actualmente, a governação no sentido da fixa-ção de taxas mais baixas sobre o consumo – reduçãoda taxa do Iva – e sobre as empresas – redução do Ircou das contribuições para a segurança social.

Tomando em consideração que se aproxima o fim dociclo governativo e, portanto, sujeição à escolha popu-lar, é previsível que o Orçamento de 2008 contenhaalgumas medidas de desagravamento, pela via dosimpostos, da despesa fiscal ou das transferências doestado para as famílias.

Em nosso entendimento, a política fiscal nacional adefinir deverá assumir as seguintes prioridades:

DO PONTO DE VISTA INTERNO• Privilegiar a continuação do esforço de consolidação

orçamental, salvaguardando a receita fiscal.• Actuar sobre a despesa pública, reestruturando-a, de

modo a que continue a satisfazer as necessidadessociais mas que não se assuma como uma forma depressão sobre a matéria colectável e a taxa de impos-to.

• Prevenir e combater a fraude fiscal, a corrupção e ocrime organizado;

• Continuar a melhoria da administração tributária,incrementando a formação dos seus meios humanose a tecnologia;

• Promover uma nova relação de confiança entre aAdministração Fiscal e os contribuintes, colocando-seao seu serviço, através de novas regras e procedimen-tos ambos simples e cómodos, concedendo aos direi-tos e ás garantias dos cidadãos uma posição centralno sistema fiscal. É fundamental actuar sobre osseguintes pontos: (i) reclamações graciosas – a admi-nistração fiscal deve fazer um esforço radical paraevitar que a resposta a uma reclamação dure doisanos, (ii) esclarecimentos – deve ser aferido periodi-camente, por exemplo, através da técnica do clientemisterioso o grau de qualidade dos serviços relativa-mente às dúvidas dos contribuintes. Nos EstadosUnidos a revista Money diz que pouco passa dos 75%

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de respostas certas. E em Portugal qual será a taxa?(iii) melhorar o instituto do direito de audição docontribuinte.

• Promover o desenvolvimento económico e social har-monioso em Portugal através de reduções nos impos-tos sobre o rendimento – Irs e Irc – nos impostossobre o património – IMT – e sobre a Seg. socialpara as empresas que se localizem no interior e invis-tam em sectores estratégicos.

• Manter o nível de fiscalidade não agravando o esfor-ço fiscal.

• Melhorar a equidade e a eficiência do sistema fiscal,melhorando a repartição justa que segue natural-mente o combate contra as desigualdades existentesno sistema fiscal. A este respeito é imperioso que afiscalidade não desincentive o casamento e o nasci-mento. O que dizer, em termos de equidade e eficiên-cia das seguintes normas:

- Encargos com juros e amortizações de empréstimosà habitação: Um homem solteiro + uma mulher sol-teiros deduzem o dobro do mesmo homem e damesma mulher mas casados

- Ou o António disse à Octávia para se divorciaremporque desse modo conseguiria uma isenção 7.000 ou

8.000 euros em IRS. A Octávia acordou desde quecontinuassem a fazer vida de casados.

- O Silva tem fortes preocupações sociais. Sabendoque o índice de reposição humano em Portugal andapelas ruas da amargura (1,3 contra um índice dese-jável de 2,1 disse à Maria: “Ena, temos que fazermais um”. Nasceu o Joãozinho, que se juntou àMariana e ao Silvinha. O Silva quis ir mostrar a suacomunidade. E eis que não consegue. As cadeiraspara transporte de garotos (3) não cabem no carro,apesar dos empurrões que o Silva e a Maria lhesderam. “Ora bolas, vamos a isto, vendemos a carri-pana e compramos uma carrinha de sete lugares”.Assim pensaram, assim olharam para o impostoautomóvel e perceberam que este varia progressiva-mente em função da cilindrada e a carrinha tem mais“ccs” do que a carripana.

DO PONTO DE VISTA EXTERNO• Promover na CE a coordenação e a harmonização

dos sistemas tributários, diminuindo as tensões entreos estados devido a fenómenos de concorrência fiscal;

• Encarar a sério o sigilo bancário, para que este nãoimpeça a cooperação entre estados. Um pede e ooutro não lhe pode dar. Desenvolver a aplicação doCódigo de Conduta Fiscal Europeu.

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Por tu gal foi dos países que mais cresceram economi-camente na Europa em resultado da adesão à CE.Isso permitiu que o nível de fiscalidade tivesse subi-do 11,6 pontos percentuais entre 1980 e 2004. Osportugueses ao contrário dos suecos não terão poronde respirar.

7. ConclusõesParece-nos perfeitamente claro que a Lei fiscal temsofrido alterações bastantes no decorrer das últimasdécadas, obstruindo os desígnios da eficiência e baixocusto que o contribuinte, os investidores, os técnicos edemais agentes deveriam ter como aliados no seu cum-primento de obrigações fiscais, dificultando-se a actua-ção dos agentes económicos. Mas, por um lado, ocontribuinte, o cidadão e a empresa não podem pedirao Estado, em nome da estabilidade da Lei Fiscal, aimutabilidade da mesma porque:

(i) é necessário conseguir uma lei tão neutra quantopossível e geradora de eficiência económica;

(ii) é necessário verter para a Lei fiscal alterações daactividade económica e

(iii) é necessário aperfeiçoar a Lei.

E, concomitantemente, por outro lado o Estado,incluindo todos os agentes intervenientes na produçãoda Lei fiscal devem orientar-se por princípios de rigorconsagrados na Constituição Fiscal que observem anecessidade da modificação da Lei fiscal e os prejuízosque daí podem decorrer para o contribuinte, oferecen-do-lhe uma segurança jurídica que possamos reputarde satisfatória.

É necessário encontrar o equilíbrio e esse assenta norespeito mútuo pelos papéis que estado, cidadão, con-tribuinte e empresa desempenham em prol do desen-volvimento.

Estamos convictos de que a política fiscal dos paísesmembros da CE tenderá a possuir pontos de harmoni-zação – acordos de dupla tributação, medidas de com-bate à evasão fiscal comuns - em virtude da nãotransferência da soberania fiscal. Os estados europeustenderão a encontrar meios comuns de subordinaçãoda complexidade dos seus sistemas fiscais a uma estra-tégia de crescimento económico prolongada.

Estamos convictos de que a CE intervirá progressiva-mente na vida dos estados membros regulando sobre aedificação dum sistema mais simples e portanto menoscomplexo sobre as empresas, especialmente sobre as demenor dimensão. Disso é exemplo o documento citadoabaixo1.

Pelo que a “complexidade equilibrada controlada” e a“estabilidade num período” deverão assumir-se comoprioridades desejadas do sistema fiscal português.Acreditamos que tão importante quanto impostosrazoáveis e boa gestão dos dinheiros dos contribuintesa facilidade com que se lida com o sistema fiscal e anão alteração constante das expectativas derivadas dainstabilidade são pilares prioritários do mesmo.

Não se deve nunca gastar mais dinheiro a compreendere a cumprir com as obrigações do imposto do que apagá-lo.

1 COMISSÃO DAS COMUNIDADES EUROPEIASBruxelas, 10.7.2007COM(2007) 394 finalCOMUNICAÇÃO DA COMISSÃOsobre um ambiente simplificado para as empresas das áreas do direito das sociedades comerciais, da contabilidade e da auditoria

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Mundo

O Presidente da Comissão, Durão Barroso, o Vice-Presidente, Gunter Verheugen e o novo Presidentedo High Level Group of Independent Stakeholders onAdministrative Burdens, Edmund Stoiber, concordaram,no passado dia 19 de Novembro de 2007, na composiçãoe trabalho futuro do novo grupo de peritos formado paraaconselhar a Comissão no seu plano de acção sobre asmedidas de simplificação a adoptar tendo em vista aredução dos encargos administrativos desnecessários queas empresas têm sido obrigadas a suportar.

O trabalho do grupo de peritos surge no seguimento deum exercício de mensuração elaborado por um consór-cio, composto pela Cap Gemini, Deloitte e a RambollManagement, sobre as 13 áreas prioritárias definidasno programa de acção da Comissão. Este exercício demensuração irá identificar os encargos administrativosexistentes nestas áreas e pode ser descrito como traba-lho técnico preparatório. O grupo de peritos terá como

base para o seu próprio trabalho, o resultado deste tra-balho de mensuração preparatório.

Com base na experiência dos 15 membros que com-põem o grupo de peritos, estes irão debater os resulta-dos do trabalho preparatório e tirar as suas conclusõescom vista a emitir recomendações à Comissão sobrequal a legislação comunitária que deve ser alteradacom vista a reduzir em encargos administrativos des-necessários.

IFAC divulgou o Manual de Auditoria, Garantia de Fiabilidade eÉtica para 2008A última compilação das Normas Internacionais deAuditoria, Garantia de Fiabilidade e Ética já seencontra disponível em livro e em formato electró-nico. Este manual pode ser encomendado junto daInternational Federation of Accountants (IFAC) ou,em alternativa pode ser feito o seu o download, gra-

No mundoComissão Europeia nomeia “High Level Group of Independent Stakeholders on Administrative Burdens”

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Mundo

tuitamente, em formato PDF através do site daIFAC (http://www.ifac.org/store).

FEE Anuncia Quarto Congresso das PMEA Fédération des Experts Compatbles Européens (FEE)anunciou que o Quarto Congresso Anual das PME se irárealizar em Copenhaga, na Dinamarca, nos dias 3, 4 e 5de Setembro de 2008. Dado o sucesso que estesCongressos têm tido no passado espera-se uma grandeafluência de profissionais Este evento irá proporcionaraos presentes a troca de ideias e experiências relativa-mente aos novos desenvolvimentos das PME.

Poderá consultar mais informação sobre o Congressona página de Internet da FEE (www.fee.be).

Comissão Europeia Emite Decisão relativa a um período detransição para as actividades dos auditores e das sociedadesde auditoria de certos países terceirosTendo em conta a publicação da Directiva2006/43/CE do Parlamento Europeu e do Conselho,de 17 de Maio de 2006, relativa à revisão legal das con-tas anuais e consolidadas (8ª Directiva), nomeadamen-te os art.ºs 45.º e 46.º, sobre o registo, supervisão eequivalência dos auditores e das sociedades de audito-ria dos países terceiros que efectuem auditorias legaisde determinadas sociedades constituídas fora da

Comunidade cujos valores mobiliários estejam admiti-dos à negociação num mercado regulamentado naComunidade, a Comissão Europeia emitiu umaDecisão de isentar os Estados-Membros da aplicaçãodo artigo 45.º da Directiva 2006/43/CE aos relatóriosde auditoria das contas anuais ou consolidadas, confor-me previsto no n.º 1 do artigo 45.º da directiva, rela-tivamente aos exercícios com início no períodocompreendido entre 29 de Junho de 2008 e 1 deJaneiro de 2011, relatórios esses que são elaboradospor auditores ou entidades de auditoria dos países ter-ceiros, desde que o auditor ou a sociedade de audito-ria do país terceiro em causa faculte às autoridadescompetentes do Estado-Membro uma variedade de ele-mentos.

Esta decisão visa criar um período de transição demodo a possibilitar à Comissão efectuar novas avalia-ções da regulamentação em vigor em matéria de audi-toria, a fim de tomar decisões definitivas sobre aequivalência dos sistemas de supervisão pública, decontrolo de qualidade e de inspecção e de sanções dospaíses terceiros.

Para mais informação poderá consultar a Decisão daComissão na página de Internet da OROC(www.oroc.pt).

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Mundo

A IFAC divulgou recentemente um Guia de apoio téc-nico especialmente vocacionado para escritórios depequena e média dimensão que pretendam adoptar asnormas internacionais de auditoria.

O referido Guia, que foi desenvolvido pelo InstitutoCanadiano de Auditores, foi assumido pela IFAC aqual tem vindo a incentivar activamente a sua adop-ção pelos profissionais filiados nos diferentes institutosque integram a organização.

Na perspectiva da IFAC é essencial promover de formaeficaz a qualidade das auditorias, o que pressupõe a

adopção de uma estratégia de convergência ao níveldas práticas profissionais num contexto cada vez maisglobal.

Convicta de que este Guia poderá ajudar a melhorar aqualidade do trabalho, na medida em que põe à suadisposição as ferramentas necessárias para uma ade-quada implementação das normas internacionais deauditoria, a Ordem desafia os ROC a utilizá-lo comoreferência, no desenvolvimento dos procedimentos deauditoria a adoptar em cada um dos seus clientes.

IFAC divulga Guia de ApoioTécnico aos Auditores

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Mundo

A unificação do Consiglio Nazionale dei DottoriCommercialisti e do Consiglio Nazionale dei Ragionierie Periti Commerciali deram lugar a um novo organis-mo representativo da profissão na Itália, a partir de 1de Janeiro de 2008.

Decorrente da Lei n.º 34, de 24 de Fevereiro de 2005,(lei de autorização legislativa) na sequência das elei-ções realizadas no dia 30 de Novembro de 2007 e dapublicação dos resultados no Jornal Oficial daRepública Italiana, surge agora o “Consiglio Nazionaledei Dottori Commercialisti e degli Esperti Contabili”(CNDCEC), sob a tutela do Ministério da JustiçaItaliano, a representar 105.000 profissionais registadosna Itália.

A nova lista de profissionais registados a nível nacio-nal é composta de duas secções: Secção A – com o títu-lo “Commercialisti”, permite exercer a profissão com otítulo de “dottore commercialista”, reservado aos indi-víduos que possuem uma licenciatura em Economiacom uma duração de 5 anos (sem prejuízo dos já ins-critos na lista em 31 de Dezembro de 2007); Secção B

– o título “Esperti Contabili” é destinado aos profissio-nais que são detentores de uma licenciatura de 3 anosem Economia. Para inscrição em qualquer das mencio-nadas secções, serão requisitos obrigatórios efectuar 3anos de estágio e a realização de um exame estatal.

Os profissionais contabilistas, registados como“Ragionieri e Periti Commerciali” até 31 de Dezembrode 2007, são registados na Secção “A”, com a indicaçãono seu título profissional de “ragioniere commercialis-ta”.

O Decreto-lei n.º 139/05 estatui normas de protecçãocontra qualquer usurpação dos títulos profissionaisreferidos, assim como a abreviatura “commercialista”,que apenas pode ser usado pelos membros inscritos naSecção “A” para esta nova função, com a indicaçãointegral do seu título profissional.

Integram o Conselho Directivo deste novo órgãoCláudio Siciliotti, Presidente, Franscesco Distefano,Vice-Presidente, um Secretário, um Tesoureiro, e 17Vogais.

Itália tem novo organismo profissional

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