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Afinal o que são os SWAP economia págs. 4-5 atuaLis - ano I - número 4 - agosto 2013 - mensal - Diretor: José Pedro Marques - distribuição gratuita João Semedo Co-coordenador do BE “Não sou candidato em Lisboa para depois ser candidato às Europeias ou à Presidência da República...” págs. 8-9 entrevista Paulo Aido Jornalista, entretanto vereador na Câmara de Odivelas, autor de livros de sucesso, como os dedicados aos dois últimos Papas, ou A Primeira Derrota de Salazar, pelo qual tem um especial carinho... à conversa com A dança dos paradigmas Ruy de Carvalho pág. 15 Paulo Ferrero l Paula Carvalho opinião pág. 2 Belém, Belém desporto pág. 12 págs. 10-11

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Entrevista de João Semedo à revista atuaLis, no passado dia 4 de Agosto.

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Page 1: Atualis 04 agosto 2013

Afinal o que são os SWAPeconomia

págs. 4-5

atuaLis - ano I - número 4 - agosto 2013 - mensal - Diretor: José Pedro Marques - distribuição gratuita

João SemedoCo-coordenador do BE“Não sou candidato em Lisboa para depois ser candidato às Europeias ou à Presidência da República...” págs. 8-9

entrevista

Paulo AidoJornalista, entretantovereador na Câmara de Odivelas, autor de livros de sucesso, como os dedicados aos dois últimos Papas, ou A Primeira Derrota de Salazar, pelo qual tem um especial carinho...

à conversa com

A dança dos paradigmasRuy de Carvalho

pág. 15Paulo Ferrero l Paula Carvalhoopinião

pág. 2 Belém, Belémdesporto

pág. 12

págs. 10-11

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Para lá dos requisitos elementares – abrigo, privacidade, conforto – a habi-tação sempre serviu como uma mon-tra das diferenças sociais. As mais faustosas e ricas construções con-trastam com aqueles espaços a que só com muito cinismo se pode atribuir a classificação de casa ou moradia; mas que, no entanto, subsistem nas sociedades ditas desenvolvidas. Os típicos azulejos decorativos, afi-xados em muitas habitações, com a mensagem “Lar Doce Lar”, escondem quase sempre tempos de amargura e aperto para que esse mesmo lar fos-se possível. Falamos concretamente do custo, ou renda, desses espaços de básica necessidade para o comum dos mortais, mas que na verdade são tratados como verdadeiros “luxos”. Há mesmo quem despreze (por “de-

magógica”), ou se amofine, com a passagem da Constituição, que refere no seu artigo 65.º: “Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar”.Mas não é a discussão sobre as normas constitucionais, e a sua (in)observância estatal, que aqui nos ocupa. Vamos assim directos ao nos-so assunto: as rendas de casa, pro-blemática emergida em força com a entrada em vigor da Lei n.º 31/2012, de 14 de Agosto. Lei que divide se-nhorios e inquilinos na sequela de queixas, nomeadamente dos últimos, vítimas agora da longa ausência de regulação das rendas antigas. O lei-tor conhece o essencial do diferendo

neste capítulo: o efeito perverso do congelamento das rendas no longo prazo; ou seja, inquilinos que terão vivido “à custa” dos senhorios pela insignificância da renda que paga(va)m. Assim foi em muitos casos. Mas como é habitual acontecer, entre nós, e como o povo diz, cai-se sempre no parâmetro do “ou oito ou oitenta”.O problema mergulha no congela-mento das rendas, ditado por Salazar (1948), que, a par de outros condicio-namentos, o utilizou para impor uma sociedade com o mínimo de motivos para a reivindicação social. Os ma-gros salários seriam compensados, sobretudo nos centros urbanos, com as rendas baixas. A medida teve um efeito ao retardador, décadas depois, com a vertiginosa subida da inflacção, possibilitando que o grosso das famí-

editorialJosé Pedro Marques

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A economia é um assunto frequen-temente visto por muitos com confu-são e tédio, por via dos entrelaçados termos financeiros e dos cálculos intimidantes que nos fazem afastar da sua complexidade. No entanto se olharmos com mais cuidado, com olhos de ver, para esta “anteface” que afirma ser a Dinâmica da socie-dade, verificaremos que a economia é uma das estruturas mais estag-nantes da vida moderna.Vivemos num mundo em que 1% da população global possui mais de 40% da riqueza do planeta. Não é isso arrepiante? Num mundo onde mais de 35 mil crianças morrem diariamente de pobreza, ou vítimas de doenças, muitas delas evitáveis apenas por um pequeno esforço solidário de boa vontade. Será as-sim tão difícil? Somos todos irmãos, mas no entanto vivemos num plane-ta onde mais de metade da popula-ção mundial sobrevive com menos de um euro e meio por dia. Algo está errado... muito errado! E quer queiramos, quer não, tudo isto acontece apenas, e só, por causa do dinheiro.Basta dar uma volta pelos bairros sociais que existem na nossa capital para termos alguns exemplos deste

1% por cento da população, para encontrarmos algumas dessas 35 mil crianças, e para nos sentirmos incapazes de ajudar gente a sobre-viver com uns míseros euros. Quan-ta gente na nossa cidade já está sem água e luz há algum tempo? Quanta gente gostaria de viver, ape-nas e só, com algumas das regalias de alguns políticos e magistrados? A sociedade actual assenta os seus valores em muitas instituições. Des-de as jurídicas às políticas, passan-do pelas sociais, das familiares até às profissionais, todas elas respon-dendo por muitas das influências que sentimos, dia a dia, na formata-ção dos comportamentos e de mui-tas das nossas aspirações. No en-tanto, nenhuma dessas instituições, que tanto nos condicionam – e no seio das quais todos nós nascemos -, é tão forte, tão mal conhecida, e tão vil como o sistema monetário. De todos os sistemas, o monetário foi o único que sendo do mais puro e duro materialismo, ascendeu a proporções quase religiosas, pro-vocando uma das mais incontesta-das formas de fé que existe actual-mente. Vivemos no sonho de uma lotaria, de uma herança que nunca mais chega, de um aumento que

tarda, sonhamos com as férias que nunca teremos, o carro que jamais compraremos e com o poder ridícu-lo que uns trocos a mais nos podem dar. Adoecemos pela falta de dinhei-ro e por ter dinheiro a mais, como se o ser-se rico fosse apenas uma questão de números. O sistema mo-netário blindou-se no hermetismo de uma linguagem técnica para não responder às perguntas simples. Para sobreviver à custa dos simples. Para simplesmente criar riqueza so-bre algo que não existe, utilizando a balança da inflação, o crédito e os juros para gerar lucro de uma forma redundante, fazendo com que as nossas vidinhas sejam como são. Poucos sabem contudo como o di-nheiro é criado, quais as políticas que o afectam, e de que forma é que ele verdadeiramente mexe com a sociedade como um todo, ao ser-vir uma máquina que pouco ou nada tem a ver com a grande maioria da população mundial. Quanto mais dívida houver, mais dinheiro existe. E quanto mais dinheiro existir, mais dívida se provoca. O paradoxo está no facto de, se não houver dívida, deixa de haver dinheiro, o que torna o processo de endividamento, sus-tentável, por força do mecanismo in-

opinião A crise económica mundialPaula Carvalho

Há muito que se adivinhava a in-tenção, mas desta à prática ainda demorou um punhado de anos e ou-tro tanto de esperança de que tudo fosse mentira. Anos que mediaram o tempo presente e o Ministério da Saúde do XVII Governo Constitucio-nal (2005/2008), que por protocolo (escrutinado?) noutro triunvirato que não o de agora acordou dar corpo à alteração profunda a médio prazo dos usos, volumetrias e utentes dos antigos Hospitais Civis de Lisboa, começando pela chamada ‘Colina da Saúde’ (São José, Desterro, São

Lázaro, Capuchos, Santa Marta e Mi-guel Bombarda). Na mira, evidente-mente, de uns quantos negócios de construção civil e no rescaldo do tal novel Hospital de Todos-os-Santos; remédio providencial para todos os males dos hospitais hoje decrépi-tos (dizem) ou sob gestão caótica (idem), como se não soubéssemos da imensa falácia que tal argumento encerra do ponto de vista da quali-dade do serviço prestado e a prestar (especialidades, número de camas, etc.), em termos de acessibilidades e, obviamente, para a Cidade. Foi

um ápice.Rapidamente, Estado (Governo), ESTAMO (empresa pública) e CML, i.e., Estado, formalizaram o ‘objecti-vo estratégico’ de desmantelamen-to dos hospitais da colina histórica, primeiro, Curry Cabral, Alfredo da Costa e Estefânia, depois. O Estado cedeu (por venda) à ESTAMO qua-se todos e quase todos passaram a pagar renda (‘compensação’) à ES-TAMO, chama-se a isto: engenharia financeira. A partir daí o mote é deitar abaixo o mais que se possa para se construir o mais possível e vender

opinião Os Loteamentos dos ex-Hospitais Civis de LisboaPaulo Ferrero

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lias, que haviam arrendado as suas casas com muita dificuldade, viesse a experimentar algum desafogo eco-nómico sem o peso de rendas actua-lizadas face aos, frequentes, modes-tos salários ou pensões. Em 1981, instituiu-se a liberalização das novas rendas, permanecendo condiciona-dos (não já congelados) os arrenda-mentos anteriores. Hoje o panorama é múltiplo e exemplificável num qual-quer prédio antigo, por onde tenham já passado vários inquilinos, onde as rendas, não raro recebidas por um mesmo senhorio, para andares de espaço e qualidade similares, variam entre o “oito e o oitenta”.A presente lei, liberalizadora, vem ao encontro das reclamações de muitos senhorios prejudicados pelo cenário jurídico anterior e que querem agora

reaver em pouco tempo o pecúlio que lhes foi negado por via legal. Só que nem tudo encaixa neste desígnio. Aos inquilinos mais carenciados (também muitas lojas, colectividades, etc.) e antigos “privilegiados”, falta-lhes o sa-lário, a pensão, ou outro rendimento que suporte o espírito justiceiro da nova lei. Para o problema destes será que só se prevê uma única lei: aque-la, imperativa, a que todos iremos, um dia e sem excepções, obedecer? E face aos preços dos novos arren-damentos, sob o presente cenário tendencial de baixos rendimentos do “inquilinato”, será que a única respos-ta é a prescrita nos tempos do dito senhor: famílias partilhando partes da mesma casa, ou aqueles espaços que só eufemisticamente têm o nome de habitação?

Publicação mensal n.º 4 - agosto de 2013

Proprietário:José Pedro Marques

Editor: Visão Rápida, Lda. Rua Jorge de Sena, n.º 124-B, sala 6 1750-129 LisboaN.º Contribuinte 509033830

Diretor: José Pedro Marques

Sede da redação: Rua Jorge de Sena, n.º 124-B, sala 6 1750-129 LisboaTel. 21 757 37 51(geral)e-mail: [email protected]

Concepção gráfica:espiralabstrata, Unip. Lda.Rua da Estação de Mafra, 282640-747 Alcainça Tel. 219 862 438 / 967 157 011

Publicidade: Helena RibeiroFernanda de SousaTel.: 217 573 751Telem.: 961 122 247 / 913 649 287

Impressão: Grafedisport - Impressão e Artes Gráficas, SA Estr. Consiglieri Pedroso, Casal de Santa Leopoldina, 90 (Em frente à Volvo) 2730-053 Queluz de BaixoTel. 214 360 542

Distribuição Gratuita N.º Depósito Legal: 358971/13N.º Registo da ERC: 126348Tiragem: 25.000 exemplares.

VideovigilânciaEmbora maioritariamente aceite, o sistema de videovigilância com 27 câmaras no Bairro Alto, tem motivado alguma desconfiança quanto às garantias de privacidade dos moradores. A Câmara Municipal de Lisboa, responsável pela instalação, admite que sejam captadas imagens do interior depropriedades privadas, embora sejam obrigatoriamente barradas. Por sua vez, as imagens devem ser conservadas pelo prazo de 30 dias e destruídas, caso não sirvam de prova em tribunal.

breves...

Transportes Em declarações à agência Lusa, o presidente da Autoridade Metropolitana de Transportes de Lisboa (AMTL), Germano Martins, afirmou que esta entidade pretende “estender a toda a área metropolitana o Zapping como o principal título de transporte ocasional, em substituição dos títulos próprios de cada operador com a mesma função”. O mesmo responsável prevê que esta possibilidade, dependente do acordo entre todas os operadores da ATML, se materialize no decorrer de 2013.

flacionário e dos juros que lhe estão subsequentes. É uma bola de neve cuidadosamente estudada e criterio-samente posta em prática para que cada euro, cada dólar ou Yen que exista, seja devido por alguém a ou-tra pessoa, ou de preferência, a um banco. O dinheiro existe por causa dos empréstimos, pelo que se to-dos nós conseguíssemos pagar na totalidade as nossas dívidas, nós e os governos, o dinheiro deixava de existir. Foi dado o alarme!Mas para tal perigo já existe uma solução! Um dia, em breve, deixará de haver dinheiro. Tudo será subs-tituído por números, e os bancos, juntamente com os governos de-terminarão os valores da inflação e dos juros. Há quem diga que esta é

a explicação, embora primária, para a actual crise económica mundial. Curiosamente são os mesmos que dizem que as dívidas não são para serem pagas, são para se irem pa-gando.

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ainda mais. O PDM ajuda à festa e os loteamentos viram ‘apólice’. Que se danem as volumetrias baixas e razoáveis, os solos permeáveis, o património edificado e protegido por ‘letra morta’. Que se danem as cen-tenas de anos de História Hospitalar e de Cuidados de Saúde que a trans-formação radical daqueles hospitais irá implicar, mais apelo menos apelo; calado este, silenciado aqueloutro. Que se dane se ali pulsava Cidade.Há casos escandalosos neste faz--de-conta geral, uns mais (Alfredo da Costa, Curry Cabral) do que outros

(Estefânia, Santa Marta), mas o que querem fazer do antigo Hospital Mi-guel Bombarda, ignorando a memó-ria e o local, raia a loucura: construí-rem-se 6 torres de 8-10 pisos acima do solo e mais 3 abaixo, dando como argumento que assim o morro de Rilhafoles será a San Gimignano al-facinha, um ‘miradouro habitado’ (ar-quitecto dixit) é de bradar aos céus e invocar a fúria divina e o interna-mento compulsivo e irrevogável no Panóptico. Não há ninguém que pare esta pou-ca vergonha?

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Afinal o que são os SWAP?Um dos quatro espécimes dos contratos onde se negoceia a troca do índice de rentabilidade entre dois activosUma das perguntas que a maio-ria dos portugueses mais faz nestas últimas semanas é: O que são os contratos Swap ou os Swaps? Convém referir que estamos perante uma espécie de produto financeiro tecno-lógico. Ou seja, enquanto a in-dústria tem uma faceta eminen-temente criativa na procura de novos bens de consumo, mais ou menos inertes no âmbito dos produtos ou serviços que ser-vem uma comunidade alargada, no sector financeiro procuram--se novas formas de ganhar dinheiro, aumentar lucros das instituições, satisfazer os inves-tidores mais ou menos ganan-ciosos, protegendo simultane-amente uma determinada franja de clientes. Ora com esse propósito, a JP Mor-gan Chase & Co., uma sociedade gestora de participações sociais, e líder mundial em serviços finan-ceiros, foi a maior impulsionadora dos Swaps ou, melhor dizendo dos contratos derivativos. É que os Swaps são um dos quatro prin-cipais espécimes dos contratos derivativos. Portanto, para percebermos o que são os “Swaps” temos de conhecer, em primeiro lugar, o Derivativo que é um contrato onde se estabelecem pagamentos futuros, cujo montante é calculado com base:No valor assumido por uma variá-vel, tal como o preço de um outro activo (uma ação ou commodity); na inflacção acumulada no período; na taxa de câmbio; na taxa básica de juros ou qualquer outra variável dotada de significado económico.Os contratos Derivativos recebem esta denominação porque o seu preço de compra e venda, deriva do preço de outro activo, denomi-nado activo-objecto.No início do desenvolvimento dos mercados financeiros, os deriva-tivos foram criados por uma boa causa: Como forma de proteger os agentes económicos (produto-res, comerciantes e prestadores de serviços) contra os riscos de-correntes de flutuações de preços, durante períodos de escassez ou

superprodução dos produtos ne-gociados.Presentemente, a ideia básica dos agentes económicos, ao operar com derivativos, é obter um ga-nho financeiro nas operações de forma a compensar perdas em outras actividades económicas. Desvalorização cambial e varia-ções bruscas nas taxas de juros são exemplos de situações que já ocorreram na economia, onde os prejuízos foram reduzidos ou até se transformaram em ganhos, so-bretudo para os operadores finan-ceiros que protegeram os seus investimentos, realizando opera-ções com derivativos.Entre os derivativos mais popu-lares encontram-se os optativos ou opções e, sob estes, existem diversas versões teóricas de valo-rização. Entre elas, uma das mais difundidos é o modelo de Black & Scholes, publicado por Robert C. Merton, em honra a Fischer Bla-ck e Myron Scholes, que valeu o Nobel de Economia aos seus au-tores, Merton e Scholes (Black já tinha falecido quando o prémio foi dado).Os mercados “futuros e de op-ções” são extremamente impor-tantes no mercado financeiro. São utilizados por hedgers - especula-dores - e a sua formação de pre-ços deriva de mercadorias e de activos financeiros.Os principais tipos de contrato de-rivativo são: Swaps (a Troca) são contratos que determinam um fluxo de pa-gamentos entre as partes contra-tantes, em diversas datas futuras previamente definidas. Negoceia--se a troca (em inglês, swap) do índice de rentabilidade entre dois activos. Por exemplo: a empre-sa exportadora A tem uma dívida cujo valor é corrigido pela inflação e prevê que terá moeda em caixa, como dólares ou euros. Portanto, ela pode preferir que a sua dívida seja actualizada pela cotação do dólar ou do euro.Já a empresa B, que só vende no mercado interno, tem um contrato reajustado em euros, e pode pre-ferir usar outro indexador, tal como

Calçada da Glória: arte e desmazelo

Os ascensores da cidade de Lisboa são uma atracção que todos os turistas procuram conhecer, em especial o da Glória, pois é aquele que faz a ligação entre a Praça dos Restauradores e a zona designada como 7.ª colina, incluindo o Bairro Alto.Por isso mesmo, a Calçada da Glória deveria merecer por parte da Câmara Municipal de Lisboa (CML) uma atenção maior do que aquela que lhe vem dispensando, embora, recentemente, tenha substituído alguns troços de puídas pedras calcárias da calçada por outras anti-derrapantes, já que as mesmas coloca-vam em perigo a integridade física de quem ali passava, em es-pecial no sentido descendente.Mas o aspecto geral é degradante: passeios escalavrados, pa-redes pinchadas com sinais de selvajaria, muros degradados ocupados com graffitis de qualidade que se esgota, salvo raras exceções, num simples olhar, Largo da Oliveirinha repugnante e abandonado, mas que merece visitas zelosas de pessoal da EMEL para arrecadar receitas, multando os que aproveitam o es-paço para estacionar a sua viatura num local onde apenas circula, com periodicidade, o carro dos serviços de limpeza da CML que,

ignorando o sinal de sentido proibido colocado à esquina, desce a íngreme encosta até à Rua da Glória, sem que as entidades policiais reprimam esse procedimento. Quem sabe se, um dia, por falta de travões, não serão os bombeiros a tomar conta da ocor-rência, mas aí já com vítimas graves a lamentar? Bem sabem os mais esclarecidos que esta foi a zona escolhida pelo actual presidente do município para instalar uma Galeria de Arte Urbana, tendo para o efeito sido montados meia dúzia de grandes painéis onde, periodicamente, são expostos trabalhos de alguns writers que exprimem o seu talento desta forma, numa ten-tativa de os dissuadir a apropriarem-se de outros locais da cidade.Este espaço de liberdade criativa dedicada ao graffiti e à street art foi uma atitude louvável, mas o tempo tirou-lhe vitalidade e dinâmica, não se compreendendo porque ainda não foram reti-rados os trabalhos ali expostos dedicados a Almada Negreiros, já que alguns deles estão barbaramente vandalizados, empres-tando a todo o espaço uma ainda maior sensação de abandono e desleixo. Será que, estando assim, este espaço é digno e alguém acredita que o mesmo está incluído numa zona urbana classificada como Monumento Nacional do Ascensor da Glória?

Vítor Rodrigues (Lisboa)

Envie-nos a sua opinião para [email protected]

opinião do Leitor

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a taxa de juros.Então, as empresas A e B, que estão interessadas em trocar os seus respectivos riscos, poderiam fixar um contrato de swap (directa-mente ou pela mediação de uma instituição financeira).No entanto, o swap impli-ca risco. Variações ines-peradas nos indexantes das dívidas podem even-tualmente prejudicar um dos subscritores, lesando outros nas mesmas cir-cunstâncias. A operação de swap - tal como nas ope-rações a termo, um outro espécime dos derivativos – tem de ser liquidada inte-gralmente no vencimento.A Termo é quando o comprador e vendedor se comprometem a com-prar ou vender, em data próxima, certa quantidade de um bem (mer-cadoria ou activo financeiro), a um preço fixado antecipadamente, na própria data da celebração do con-trato. Os contratos a termo somen-te são liquidados integralmente na data do vencimento. Um risco efec-tivo. Estes contratos podem ser ne-gociados em bolsa e no designado mercado de balcão.Os Contratos Futuros são aqueles em que se estabelece a compra e

venda de um activo a preço certo, num prazo estabelecido. O compra-dor e vendedor comprometem-se a comprar ou vender uma quantidade determinada de um activo por um preço previamente ajustado, a ocor-rer num prazo futuro.Estes compromissos são assen-tes diariamente de acordo com as expectativas do mercado e ao preço futuro do bem, por meio do ajuste diário (mecanismo que apu-ra perdas e ganhos).Os contratos futuros são nego-ciados somente nos mercados bolsistas.

De opção são acordos que dão a compradores ou vendedores o di-reito - mas não a obrigação - de comprar ou vender o activo rela-cionado, num data futura (data do vencimento da opção), por um preço previamente estabelecido (o preço de exercício da opção).Tal como num contrato de seguro, o comprador deve pagar um pré-mio ao vendedor. O detentor de uma opção de compra (call option) ou de venda (put option) não é obrigado a exercer o seu direito de compra ou venda. Opções do tipo americano podem ser exercidas

a qualquer momento, até a data de vencimento, enquan-to as opções do tipo europeu só podem ser exercidas na data de vencimento do con-trato. Caso não exerça seu direito, o comprador perde também o valor do prémio pago ao vendedor.

Quem é quem neste ne-gócioO JP Morgan é uma das empresas responsáveis pela criação dos derivativos de crédito. É a maior especialis-ta a negociar estes produtos.O banco de investimento associado a esta empresa é um dos maiores negocia-dores destes produtos nos

mercados nova-iorquinos.A JP Morgan Chase & Co., de Nova Iorque, é uma sociedade gestora de participações (associada sob a Lei de Delaware de 1968) líder mundial em serviços financeiros e uma das maiores instituições bancárias.A JP Morgan possui activos supe-riores a 1,2 triliões de dólares nor-te-americanos, consequência de margens de lucro obtidas a partir dos investimentos dos accionistas e em contratos especulativos.

José Maria Pignatelli

Anatomia de um swapAqui está um exemplo simpli�cado de como um swap pode ser utilizada por um fundo para ter exposição a um título de crédito que é difícil comprar directamente.

Para replicar um investimento de 1 milhão de dólares no título de crédito, o fundo entra num acordo swap por aquele montante especulativo com o banco.

O fundo deposita uma parte desse valor- por exemplo, 20% - como garantia de empréstimo bancário de uma terceira parte e segrega o restante como dinheiro no seu portefólio.

Se o valor do título de crédito cai, o banco é pago e o fundo investe mais colateral para reaver os 20%.

Se o título de crédito bancário aumenta de valor, o banco envia dinheiro ao manager do empréstimo e, em última instância, ao fundo.

Os investidores recebem de volta o investimento, quer seja bom ou mau, como se a reserva fosse proprietária directa daquele título de crédito.

MANAGERDO EMPRÉSTIMO

BANCO

FUNDO

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freguesias

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A Feira da Luz realiza-se uma vez por ano, decorrendo a edição de 2013 en-tre 31 de Agosto e 29 de Setembro, no Largo da Luz, em Carnide.É uma das mais antigas feiras portu-guesas, remontando ao século XVI. Tem associada uma forte componente religiosa, que culmina na procissão em honra da Nossa Senhora da Luz, no último domingo de Setembro, a qual tem associada a lenda de um soldado português que foi para a guerra em Ceuta e que, durante o conflito, terá sido salvo por uma luz com a imagem de Nossa Senhora. Como agradeci-mento, quando regressou a Portugal mandou construir uma ermida onde hoje se localiza o santuário. A feira é também conhecida pela ofer-ta comercial ambulante, embora o

correr dos tempos lhe tenha alterado os contornos de antanho, mas onde não se deixa de comprar roupa, olaria, cestaria, loiça, artesanato e mobiliário. Pode-se ainda encontrar restaurantes de petiscos, sobretudo grelhados, para além das guloseimas típicas, como far-turas, algodão doce e pipocas. A Junta de Freguesia de Carnide irá realizar em simultâneo, e no mesmo espaço, uma Feira de Artesanato, in-serida no plano de revitalização da Feira da Luz, em estreita ligação com a Câmara Municipal de Lisboa.Para além do artesanato, a Junta de Freguesia promoverá ainda diversos eventos, incluídos no programa Olhar Carnide, que têm por fim a animação do recinto e que culminará com um concerto de Simone de Oliveira.

Aí está a Feira da Luz!

carnide

A Junta de Freguesia de São Domin-gos de Benfica, tendo sempre em vis-ta uma constante preocupação com as especiais condições de vulnerabili-dade dos mais idosos e carenciados, procurou dar resposta a uma neces-sidade cada vez mais premente nos dias que correm: o acesso à consulta jurídica!Sabendo que o acesso ao direito e aos tribunais, na defesa dos direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos, não pode vir a ser negado ou dificultado por razões de insufici-ência de meios económicos e tendo principalmente em linha de conta as alterações legislativas que vieram mu-dar, de forma profunda e em alguns casos drástica, as regras do arrenda-mento urbano destinado a habitação, colocando em crise a manutenção de muitos arrendamentos e, em outros casos, permitindo aumentos de renda

Consulta jurídica gratuita em São Domingos de Benfica

são domingos de benfica

de forma excessiva, decidiu proceder ao estabelecimento de um protocolo com a Ordem dos Advogados Portu-gueses, com vista à criação e a ins-talação de um Gabinete de Consulta Jurídica, a funcionar nas instalações da Junta de Freguesia.Assim, e após ter reunido com o Con-selho Geral da Ordem dos Advoga-dos Portugueses, está previsto que ainda durante o mês de Setembro de 2013, comece a funcionar o referido gabinete, com vista a assegurar a in-formação e consulta jurídicas, de for-ma gratuita, aos cidadãos carencia-dos economicamente, recenseados na área geográfica da Junta de Fre-guesia de São Domingos de Benfica, ou que aí exerçam uma actividade profissional de forma regular e con-tínua, que por insuficiência de meios económicos não tenham a possibili-dade de custear os serviços presta-dos por advogado, considerando-se em situação de insuficiência econó-mica o cidadão que tenha um ren-dimento mensal igual ou inferior ao ordenado mínimo nacional, sendo a prova dessa situação de insuficiência económica efectuada pela apresen-tação do recibo de vencimento e/ou declaração de IRS dos beneficiários.

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É uma actividade que os sucessivos Executivos que têm dirigido os desti-nos da freguesia nunca deixaram de organizar.A entrega dos trabalhos tem como data limite o dia 4 de Setembro, sen-do o tema deste ano “Os Coretos”, estruturas cobertas construídas em ferro ou betão, localizadas em jardins ou praças com o objectivo de acolher pequenos espectáculos musicais, como coros ou pequenas bandas filarmónicas locais. Os primeiros terão surgido em Ingla-terra, em meados do século XVIII e em Portugal nos finais do mesmo, tendo-se espalhado por quase todo o mundo. Embora ainda hoje muitos se encontrem em estado de degra-dação, outros já foram recuperados e constituem o ex-libris de algumas localidades.É sobre isto que os concorrentes te-rão que trabalhar para que vejam o seu mérito reconhecido nas modali-dades de fotografia, prosa ou verso.

24.ª edição dos Jogos Florais

ameixoeira

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Há muito que era um espaço verde desumanizado, degradado e aban-donado pela Câmara Municipal de Lisboa, apesar das muitas promes-sas que ao longo dos anos foram sendo feitas à Junta de Freguesia da Ameixoeira que, insistentemente, solicitava que o mesmo fosse inter-vencionado com urgência.Em estilo barroco, o espaço público há muito havia deixado de cumprir a sua função, tal era o estado em que se encontravam os caminhos interio-res, os bancos e o lago, há alguns anos arranjado e com repuxos a fun-

cionar, mas que pouco tempo assim esteve devido aos actos de destrui-ção de que foi alvo.Finalmente, no dia 20 de Julho, o “novo” Jardim de Santa Clara foi inaugurado, numa cerimónia que contou com a presença do presi-dente da edilidade municipal, Antó-nio Costa, dos vereadores José Sá Fernandes e Manuel Salgado, bem assim como da presidente da Junta de Freguesia da Ameixoeira, Alberti-na Ferreira.Nas alocuções que os dois primeiros proferiram, frisou-se, em especial, a

importância da reabertura deste jar-dim que, em conjunto com o da Quin-ta Nossa Senhora da Paz, no Lumiar, são essenciais para a concretização do parque periférico, já que estão no centro de vários caminhos que agora deverão ser concretizados.Mas, mais importante do que as pa-lavras é o espaço que agora foi le-gado à freguesia: um jardim amplo, que respeita o estilo que possuía e incluiu uma alameda de tílias, uma zona central com lago, uma alameda de cedros, diversas zonas verdes de enquadramento e uma praça circular que poderá receber concertos e ou-tros espectáculos. Na saída para a Rua Jorge de Sena foi instalado um parque infantil e um quiosque com esplanada de ambiente calmo e des-contraído, que convida a desfrutar o cheiro da paz e da natureza, e onde pode, enquanto navega na internet sem fios, provar belas tostas em pão saloio ou saciar a sede com limona-das ou cocktails especiais.Espera-se agora que a vigilância seja constante e que a segurança não seja posta em causa, pois, como é fácil de perceber, trata-se de um espaço que veio contribuir de forma significativa para a melhoria da qua-lidade de vida de todos os que aqui vivem ou trabalham.

Jardim de Santa Clara renovado

ameixoeira

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mos que esta deve ser uma forma de financiar o investimento e não a exploração. Essa é, aliás, a ideia daqueles que a têm defendido.

O que deve, ou pode, fazer a Câ-mara Municipal no capítulo da emergência social?Bastante mais do que tem feito. Desde 2011 que o actual executi-vo prometeu e orçamentou verbas para a emergência social. Mas nesse mandato o montante efec-tivamente concretizado foi de… zero euros. E, mesmo em 2012, o montante executado ficou pouco acima de metade do prometido e do que seria necessário. Além dis-so, o meu receio é que, contados os votos, e se não houver muita força à esquerda no futuro execu-tivo, a política social da Câmara volte a desaparecer.As carências sociais em Lisboa são muitas e muito diversifica-das. Mas há algumas respostas que podem ser dadas com re-cursos relativamente modestos. Uma emergência particularmen-te grave é a que decorrerá da aplicação da lei das rendas. O Bloco tem-se batido pela revoga-ção desse autêntico atentado ao direito à habitação, mas também já apresentou uma proposta para lidar com esse drama no plano municipal. Queremos que a CML faculte apoio jurídico para ajudar a proteger as famílias afectadas e, em situações de despejo, que a CML encontre soluções de alo-jamento recorrendo a imóveis próprios ou de fundos imobiliá-rios que estejam desocupados.

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Identificou os grandes proble-mas de Lisboa e, como tal, as áreas de intervenção prioritá-ria: habitação, transportes pú-blicos, emergência social. No capítulo da habitação, o que se propõe fazer para desagravar este problema?Há duas mudanças fundamentais nas apostas que têm sido prepon-derantes na política de habitação: dinamizar o mercado de arrenda-mento em detrimento do mercado de venda e apostar na reablita-ção em detrimento da construção nova. Sobre estas matérias, o executivo de António Costa fez muitas declarações de intenções mas concretizou muito pouco. Em boa medida, porque esta mudan-ça de paradigma implica enfrentar os interesses de quem ganha com a especulação imobiliária.Para conseguir estas duas trans-formações, a CML deve manter, reabilitar e, na medida das suas possibilidades, ampliar o seu par-que habitacional, arrendando-o em vez de o vender. Por outro lado, deve ser introduzida uma taxa que corrija o escândalo fiscal da isenção de IMI para os fundos municipais. Essa taxa deve ser fortemente agravada nos casos das casas desocupadas, para pressionar para a sua colocação no mercado. Não é aceitável que os fundos, que são os maiores proprietários da cidade de Lisboa possam continuar a ter dezenas de milhares de casas vazias. Se as casas vazias em Lisboa forem colocadas no mercado de arren-damento, isso provocará uma redução significativa no valor das rendas em Lisboa.Com as receitas do arrendamen-to das suas casas e desta taxa, a CML deve criar um Fundo de Reabilitação Urbana que, em conjunção com uma empresa unificada de habitação, mobilize financiamento privado e progra-

mas europeus para financiar a re-abilitação das casas degradadas de Lisboa, apoiando os proprie-tários que não tenham recursos próprios e realizando obras coer-civas quando necessário.

Faço a mesma pergunta relati-vamente à forma de gestão dos transportes públicos. A ideia avançada por António Costa de utilizar, para a municipa-lização dos transportes, as recei-tas de estacionamento cobrado pela EMEL, as receitas da publici-dade exterior e uma parte do IMI, não é viável (ou suficiente)?Antes de mais, não percebo é porque é que esta proposta só surge agora, a poucos meses das eleições. António Costa é presi-dente da Câmara há seis anos, o Governo lançou um ataque ao serviço de transportes públicos que começou há dois anos atrás. Porquê só agora? É para valer ou é só para a campanha?É correcto assegurar receitas es-táveis para a rede de transportes públicos na cidade de Lisboa. No entanto, esta proposta é insufi-ciente porque, pelas nossas con-tas, os montantes em causa não chegam para conseguir a reposi-ção de tarifas e serviços que é ne-cessária para reconquistar os uti-lizadores que deixaram de utilizar transportes colectivos desde 2011.Uma percentagem das receitas de estacionamento é importante, mas não é suficiente para suprir as ne-cessidades de exploração dos transportes públicos. Na proposta do Bloco de Esquerda é também introduzida uma percentagem da colecta de ISP nos postos de com-bustíveis do Concelho de Lisboa. Com estas receitas, seria possível suprir o défice do operador num quadro de regresso aos preços e serviço de 2011. A proposta de utilização de uma percentagem do IMI é interessante, mas defende-

João Semedo

é o candidato do Bloco

de Esquerda à Presidência

da Câmara Municipal

de Lisboa, nas eleições

autárquicas

de 29 de Setembro.

A entrevista ao deputado

e co-coordendor

do BE, foi feita

por correio electrónico

em tempo de férias.

João Semedo“Candidato-me porque considero

que o Bloco de Esquerda tem um contributo que nenhuma

outra força política pode dar”

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“ Uma Câmara de esquerdadistingue-se por assumir plenamente as suas responsabilidadesperante a catástrofe social ”

Penso também que a Câmara deve melhorar e diversificar o apoio domiciliário, nomeada-mente introduzindo equipas que realizem pequenas reparações ao domicílio que podem, de for-ma pouco dispendiosa, ter um enorme impacto na qualidade de vida e nos consumos das pesso-as. Deve também articular com a rede de centros de saúde um sistema integrado de apoio de saúde domiciliário. Finalmente, penso que é fundamental pensar as novas funções das freguesias em relação com a política social. O nosso programa defende uma abordagem de proximidade à po-lítica social e isso deve passar pelo aproveitamento das actuais sedes de freguesia para alargar a rede de equipamentos sociais e serviços de apoio à população.

É previsível que a situação económica e social do país se agrave e, como tal, em Lisboa. Isso implica, necessariamente, o incremento do discurso rei-vindicativo, por parte da autar-quia, junto do poder central? Há várias áreas em que precisa-

mos de uma CML mais forte pe-rante o poder central e as suas políticas. O exemplo dos trans-portes é um dos mais claros. Te-mos tido um executivo demasia-do dócil perante um processo de destruição desenfreada da rede de transportes de Lisboa por parte do Governo. O mesmo acontece com os ataques a serviços pú-blicos fundamentais na área da saúde e da educação, que, sendo da competência da Administração Central, têm consequências na qualidade de vida dos munícipes.A Câmara Municipal não pode ser procuradora de uma política desastrosa do ponto de vista eco-nómico e social. Perante um Go-verno que não tem hesitado em afrontar todas as outras esferas de poder democrático, a cidade precisa de um executivo forte, que se oponha sem tibiezas a todas as medidas que ponham em causa a qualidade de vida na cidade.

A aplicação da Reforma Admi-nistrativa em Lisboa, com maio-res freguesias, mais competên-cia e meios para as juntas, não deveria de ser acompanhada

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de uma transferência de com-petências e meios transferidos do Estado para os municípios?A grande prioridade é transferir recursos compatíveis com as res-ponsabilidades que os municípios já têm. Um dos problemas dos municípios (que é um problema do país) é a dificuldade em implemen-tar políticas de investimento local que possam fazer frente a proble-mas locais e, ao mesmo tempo, dinamizar a economia. Uma das estratégias mais cobardes da po-lítica da austeridade tem sido a de reduzir os recursos (aumentando as responsabilidades) aos muni-cípios, deixando às autarquias o odioso de implementar uma polí-tica que está a destruir o país. Por outro lado, a aplicação da reforma administrativa em Lisboa deve sig-nificar maior autonomia das novas freguesias na identificação dos problemas, na decisão das solu-ções e na sua execução, o que exige mais recursos financeiros técnicos e humanos.Há, no entanto, uma área em que pensamos que, quer os municí-pios, quer as freguesias, terão de se empenhar muito mais a fundo. Essa área é a área das políticas sociais. As autarquias beneficiam de uma maior proximidade com os grupos sociais que atravessam as maiores dificuldades e dos ac-tivistas que trabalham com esses cidadãos. Num contexto de crise, e com um Governo que pratica uma brutalidade permanente com os sectores mais carenciados da população, uma Câmara de es-querda distingue-se por assumir plenamente as suas responsabili-dades perante a catástrofe social.

O turismo é vital para Lisboa (e para o país) e um dos pou-cos sectores económicos que pode ser encarado com boas expectativas. Que políticas de-vem ser adoptadas para evitar a instalação duma “monocul-tura” que acabará por ter cus-tos gravosos tanto para a “Lis-boa dos turistas” como para “Lisboa dos lisboetas”?Esta pergunta é metade de uma boa resposta. O que torna Lisboa tão atraente para quem a visita é a diversidade do seu património e da sua memória. Uma cidade de serviços, com um comércio de multinacionais, é uma cidade incaracterística por definição. In-felizmente, esse risco existe e é agravado por políticas que desva-lorizam a necessidade de proteger e apoiar sectores de actividade económica que, além de criarem emprego e prestarem serviços di-ferenciados, enriquecem o nosso universo universo urbano.O caso das livrarias no centro, o desaparecimento de centenas de ofícios de artesãos, a desindustria-lização são consequências não da prevalência de um suposto critério de eficiência económica, mas sim de uma política económica pouco informada e integrada, que ignora

as sinergias entre diferentes acti-vidades, aspecto particularmente relevante no caso do turismo.A alternativa a essa política é um empenho pró-activo da CML na preservação de um comércio di-versificado e diferenciado, com mercados locais, venda directa e pequeno comércio especializado, uma aposta na atracção de indús-trias não-poluentes e na manuten-ção da actividade portuária, um compromisso com um modelo de actividade turística de excelência, com uma forte componente cultu-ral e ambiental. Esse modelo de turismo enriquece a actividade em vez de a empobrecer. Dá-lhe vida e presente, em vez de a transfor-mar num museu.

Anunciou a intenção de man-ter as suas responsabilidades como coordenador e deputado do Bloco de Esquerda, caso seja eleito. Não teme que esta posição seja mal entendida pe-los lisboetas? Ou seja, que não estará, ou estaria, “a cem por cento” na Câmara?Não penso que essa posição seja mal entendida pelos Lisbo-etas. Tenho a certeza de que os Lisboetas, quaisquer que sejam as convicções políticas me re-conhecem um empenho total no exercício das minhas responsabi-lidades e, portanto, não têm dú-vidas de que serei um vereador a 100%. Não sou candidato em Lisboa para depois ser candidato às Europeias ou à Presidência da República. Não sei se outros can-didatos poderão dizer o mesmo…

João Semedo, quer deixar al-gumas palavras aos leitores do atuaLis?Ao longo dos últimos seis anos, muitas das escolhas que eram fun-damentais para a cidade, sobre-tudo as mais difíceis, ficaram por concretizar. Apesar das promes-sas e das intenções, a verdade é que se olharmos para a cidade há seis anos e hoje o que verificamos é que todos os problemas funda-mentais na habitação, mobilidade, apoio social, isolamento, perma-necem quase inalterados. Isso aconteceu porque nos momentos decisivos o actual executivo recuou perante interesses instalados que têm prejudicado a cidade.Numas eleições em que a Direita irá sofrer a maior derrota da sua história, particularmente aqui em Lisboa, importa saber que força terá a esquerda no próximo execu-tivo. Que força terá uma esquerda que não recue perante os interes-ses para defender a cidade. Uma esquerda que escolha as pessoas em vez dos negócios. Uma es-querda que faça do interesse pú-blico o único critério de actuação. Candidato-me porque considero que o Bloco de Esquerda tem um contributo a dar que nenhuma ou-tra força política pode dar. Quero contribuir com soluções, quero ser parte das soluções.

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entrevista

Paulo Aido“Um bom político deve ser aquele que imita o voluntário: oferece-se e não quer nada em retorno”

De todos os livros que escre-veu, qual destacaria na sua autoavaliação (se é que “pri-vilegia” algum). Porquê?Todos os livros são especiais, únicos. Todos eles têm a nossa impressão digital. Escolher um em detrimento de outro é difícil, mesmo impossível. De qualquer forma, tenho um carinho espe-cial pelo romance histórico A Primeira Derrota de Salazar. Foi um livro em que procurei home-nagear os portugueses que, em Goa, Damão e Diu, sozinhos e impotentes, enfrentaram uma batalha impossível, foram pre-sos, estiveram em campos de concentração e foram ignorados

praticamente pelo nosso país. Foram injustiçados. Espero que o livro tenha ajudado a que os portugueses conhecessem este episódio terrível da nossa histó-ria e assim, conhecendo-o, pos-sam ter orgulho neles. Se con-segui isso, valeu a pena.

Escreveu sobre dois dos úl-timos papas: João Paulo II e Francisco; considerando o anterior, Bento XVI, temos três personalidades bem di-ferentes… Francisco é o Papa certo para o mundo actual?Este Papa está a ser uma be-nesse para o mundo e a Igreja em particular. Ele interpela-nos

nas nossas certezas, incomo-da-nos com as suas palavras, obriga-nos a sair do conforto de ideias feitas e a sair para as ruas, para as “periferias”, como ele tem dito ao longo da vida. Não posso ser cristão, dizer-me cristão, saber que há pesso-as como eu que passam fome, que não têm emprego, que não conseguem uma vida digna, que são, por exemplo, sem-abrigo, e ficar descansado, fechado nas minhas orações, confortável com as minhas certezas. Tenho de ir – temos de ir – para as pe-riferias. E não precisamos de sair do prédio, da rua, do bairro onde moramos. Só temos mes-

mo é de estar atentos ao outro. Há tanto para fazer! Este papa, graças a Deus, tem-nos desins-talado. E essa é a maior vitami-na que podemos receber.

O mundo precisa de respos-tas e soluções para os gran-des problemas que atravessa. Que papel pensa que a Igreja pode, ou deve, ter nesse do-mínio?A Igreja é, pela sua presença junto daqueles que sofrem, pela sua palavra de atenção e crítica junto dos poderes, mas também pela sua generosidade na ex-pressão de amor gratuito, talvez o maior referencial na nossa

Paulo Aido, jornalista há mais de 20 anos,

entretanto Vereador independente na Câmara de Odivelas,

tem revelado grande interesse pela temática religiosa.

Na sua biografia de autor contam-se vários títulos

desde o primeiro livro, Em Nome do Pai, um conjunto de

trabalhos publicados no jornal Voz da Verdade,

do Patriarcado de Lisboa, passando por A Mensagem da

Irmã Lúcia (2007), As Mais Belas Orações (2009),

A Mentira de Saramago (2009), Tributo a João Paulo II –

O Peregrino de Fátima (2011), O segredo da Irmã Lúcia

(2012) e Francisco – O Papa dos Pobres (2013).

Para além dessa temática escreveu também A Confidente

de Sá Carneiro (2010) e A Primeira Derrota de Salazar

(2011), sobre o fim do domínio colonial português em Goa,

eleito pelo site Bibliohistória, como “o melhor romance

histórico publicado em Portugal em 2011”.

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Page 11: Atualis 04 agosto 2013

sociedade. O tempo da Igreja não é o tempo dos partidos. Por isso, as palavras da Igreja têm uma repercussão diferente. Fa-lam mais fundo. São escutadas. Se a Igreja deixasse de desem-penhar o seu trabalho no âmbito da solidariedade social, o nosso país colapsava. Por isso, nunca como agora a Igreja é essencial para que Portugal ultrapasse esta fase negra em que caiu. Afirmou há algum tempo: “Não sou político. Estou a exercer a política. Sou jorna-lista (…) Mas tenho a maior honra em estar na política porque sou representante da população”. Qual é para si o lado pior dos políticos? O que deve ser um “bom político”?O pior político é o demagogo. O que fala e articula bem o discur-so, mas mente. O pior político é o que não se importa de com-prometer a vida da comunidade no futuro apenas para ganhar uns votos, vencer umas elei-ções, aparecer nos jornais. O pior político é o que sendo lobo tem pele de cordeiro. O pior po-lítico é o que finge, que engana, que mente. Mesmo sorrindo. E não precisamos de ir muito longe para nos lembrarmos de políticos que sorriem enquanto mentem, que comprometem o futuro apenas para ganharem eleições, aqueles que são lobos apesar de se fazerem de víti-mas, de se vestirem com pele de cordeiro. Um bom político, pergunta-me, deve ser aquele que imita o voluntário: oferece--se e não quer nada em retorno. Dá o melhor de si pelos outros e não pela carreira, pelo lugar, pelo ordenado, pela vaidade.

Que balanço faz da sua expe-riência de vereador na Câma-ra Municipal de Odivelas?Às vezes, fico com a sensação de que ficou muito por fazer. Ser vereador, sem pelouro, é ingra-to. Facilmente podem acusar--nos de não termos feito nada, de todo um mandato ficar redu-zido a palavras. Mas, no meio dessa impotência, fico com a consciência de ter sido uma espécie de Provedor do Muníci-

pe, a voz dos sem voz. E isso, não tem preço. Tive, ao longo do mandato, algumas vitórias. A maior das quais será, segu-ramente, a de ter demonstrado, em todas as reuniões em que participei, que Odivelas poderia ser uma terra bem governada, gerida de forma competente, em que as pessoas fossem aju-dadas genuinamente e não fos-sem, isso sim, apenas palavras em discursos. A minha passa-gem pela Câmara, durante este mandato, provará isso mesmo: há outro caminho, mais verda-deiro, com mais competência. Melhor.

Qual o maior problema, ou problemas, que identifica em Odivelas?São tantos que não é possível falar no maior problema. Co-meça, claro, no desemprego, na insuficiência económica das famílias que atravessam dificul-dades como não há memória, e acaba na incapacidade de a Câmara Municipal de Odivelas – esta Câmara, entenda-se – resolver este problema. A isto, soma-se a situação terrível de termos um município endividado – nomeadamente por causa do Pavilhão Multiusos, que vai one-rar Odivelas durante décadas e que foi entregue, de mão beija-da ao Sporting Clube de Portu-gal, um clube que nem sequer é do concelho. Hipotecados, ma-nietados, sobra-nos olhar para as próximas eleições e perceber que é preciso mudar. Ou é preci-so dizer os nomes dos que têm governado Odivelas durante os últimos mandatos e a que parti-dos pertencem?

Integra a coligação “Odivelas Merece Mais”, que irá concor-rer às próximas eleições au-tárquicas em Odivelas. Quais são as prioridades imediatas de intervenção no município de Odivelas?Lançar um Plano SOS para aju-dar as pessoas que estão em apuros com a situação econó-mica terrível em que o país se encontra. Ajudar as instituições que dão de comer todos os dias aos odivelenses, aumentar a

eficácia desse trabalho, colocar todos os meios da câmara, os seus funcionários, os seus veí-culos, tudo, ao serviço dos que mais sofrem. E isso não é para amanhã, é para agora. Não há tempo a esperar. Depois, temos de revitalizar o tecido económi-co do concelho. A câmara tem de ajudar os que querem criar empregos, tem de estar do mesmo lado da barricada dos empresários, tem de fazer diplo-macia económica, tem de trans-formar o maior património do concelho, a memória de El-Rei Dom Dinis, num factor diferen-ciador a nível regional e a nível nacional. Numa palavra, tem de fazer com verdade, espírito de militância, saber e acreditar.

Num jornal dedicado essencial-mente a Lisboa, não deixamos a oportunidade de lhe pedir uma opinião sobre a cidade vi-zinha: Da sua experiência rela-tivamente a Lisboa, que proble-mas lhe saltam mais à vista na capital?Lisboa é hoje uma cidade suja, com demasiados prédios, de-masiado património em ruína, e que precisa, julgo eu, de ter um caminho, de encontrar uma voz, de liderar. Olho para Lis-boa e vejo uma contabilidade partidária, como se os Paços do Concelho fossem um reduto para a conquista de partidos ou de palácios. Sejam no Rato ou em Belém. Quando olho para o passado recente de Lisboa, fico com a sensação de que, por cir-cunstâncias muito particulares, a capital desencontrou-se com um dos seus melhores presi-dentes da sua história: Pedro Santana Lopes. Em poucos meses deixou mais memória do que outros em mandatos completos. Hoje, olho para os mercados de Lisboa e, onde devia ver cor, alegria, vida, vejo degradação, tristeza, fracasso. Vamos a Espanha, e que di-ferença! Se nem os mercados conseguimos reabilitar…

Pode fazer uma avaliação da actuação de António Costa, como presidente da CML?Poderá ser injusto afirmar que a

sua ambição está em São Ben-to ou Belém, mas é difícil não pensar nisso mesmo quando garante a pés juntos que nada se atravessa no seu caminho por Lisboa. Não posso deixar de registar coisas positivas em Lisboa, como o corredor ver-de até Monsanto, por exemplo, mas basta-me andar atento pe-las ruas da capital para perce-ber que há uma cidade que está a morrer todos os dias, que há uma cidade que se degrada, e não estou apenas a falar em prédios, em edifícios. Estou, essencialmente, a pensar em pessoas. Na multidão dos sem--abrigo, nas lojas que fecham portas, nos idosos que conti-nuam enclausurados em casa, sabe Deus que casas…, sem conseguirem descer até à rua.

Algo o fascina em particular em Lisboa?Em Lisboa, fascina-me tudo. Os bairros, os prédios, as pes-soas. A cidade é encantadora e tem sobrevivido aos erros su-cessivos que têm vindo a ser cometidos a nível da gestão autárquica. Esse é o lado mais encantador da cidade. É que ela sobrevive aos que a maltratam.

Afirmou que gostaria um dia de poder viver exclusivamen-te da escrita. Tem algum pro-jeto literário em mente e que queira confidenciar aos nos-sos leitores? Nenhum livro acontece sem trabalho. Mesmo um romance. A investigação é, talvez, o mais importante num livro. Só depois de termos reunido a “matéria--prima”, podemos avançar com o livro em si… Continuo a so-nhar com essa possibilidade, de viver da escrita. Se não o conseguir, seguramente que será por incompetência minha, mas o sonho mantém-se. O próximo livro é sempre o mais importante. Neste momento es-tou na fase de investigação, a tal que é mais saborosa. Só es-pero que tenham tanto prazer em ler os meus livros como eu tenho em escrevê-los. E obriga-do a todos. Tenho-os, todos, no meu coração!

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entrevista

Page 12: Atualis 04 agosto 2013

Não percebo muito de futebol, mas não é uma “coisa” que re-negue, embora as histórias (ou factos) que se ouvem ou publi-cam nos órgãos de comunicação deixem muito a desejar em ter-mos de reputação e seriedade de algumas figuras ditas colunáveis. Isso, todavia, não é motivo para que não gaste algum tempo com o assunto, tanto mais que, pe-riodicamente, gosto de ir ao baú das minhas memórias de jovem e desfiá-las como livros escondidos no pó.Num dia em que Lisboa sofria com o calor, com um bafo quen-te do demónio mais próprio do Alentejo, dei comigo à sombra de uma árvore, no interregno de uma marchinha anti-stress, a olhar para o belo estádio do Restelo, tendo como vizinhos dois anciãos que, em amena cavaqueira, lem-bravam os velhos tempos do seu clube. “Já não era sem tempo”, dizia um deles, alegremente, ao que o outro ripostou “com o avan-ço que tínhamos, só se fossemos coxos”.Deduzi que estavam a falar do seu “Belém”, que na época de 2012/2013 se sagrou campeão nacional da 2.ª Liga de futebol, e fiquei a pensar sobre a dor que devem sentir aqueles que sofrem com as derrotas do seu clube do coração. Aqueles sorriam. Ainda bem.Passado algum tempo, essa con-versa veio-me à memória quando um amigo me perguntou se que-ria ir ao Matateu comer umas ta-pas e beber um copo. Para quem não saiba, o Matateu é uma petis-queira propriedade de um famoso locutor/apresentador da nossa praça, aberto recentemente no tal estádio.E foi assim que nasceram estas linhas, não para falar de futebol ou petiscos, mas para trazer as

recordações que tenho daquilo que li, vi ou outros me contaram sobre alguns nomes grandes de

futebolistas que honraram a cami-sola do clube da Cruz de Cristo.Quanto ao primeiro de que que-ro falar começo pelo fim. Em 23 de Outubro de 1931, deu entrada no Hospital de Marinha um jovem torneiro de metais, de fato de ganga e boina, queixando-se de violentas dores na barriga. Viria a falecer no dia seguinte. Tinha 23 anos e chamava-se José Manuel Soares, aquele que o mundo do futebol conheceu como Pepe.Nascido no seio de uma família pobre, em que o pai vendia hor-taliça e a mãe tinha uma banca de fruta, Pepe foi um prodígio, a mais cintilante estrela do clube, titular indiscutível da selecção. A sua estreia pela equipa principal aconteceu no dia 28 de Fevereiro de 1926, num jogo contra o Ben-fica, tinha ele apenas 18 anos. Vinha dos infantis, o Belenenses chegou a estar a perder 1-4, mas a um minuto do fim, com o resul-tado em 4-4, o árbitro assinalou penalty. Ninguém da equipa da casa queria ser responsável pela marcação, já que a vitória podia abrir o caminho para a conquista

do primeiro campeonato de Lis-boa.Por indicação do capitão de equi-pa, Pepe foi chamado a batê-lo (como se diz agora, salvo erro) e

marcou o golo que derrotou o Ben-fica por 5-4 e levou o Belenenses à conquista do campeonato.A partir daí, a sua carreira foi acu-mulando sucessos, tanto a nível de clube como ao serviço da se-lecção nacional, até ao dia da sua morte.Ainda no campo das Salésias (nome do campo do clube nes-sa data) foi construído um busto para lhe perpetuar a memória, que mais tarde foi transferido para o actual estádio e onde o Futebol Clube do Porto (FCP), sempre que lá joga, coloca uma coroa de flores em sua honra.Se Pepe é um ídolo que, pode-mos dizer sem grande margem de erro, apenas os mais idosos recordam com algum sentimento, já os nomes de Matateu e Vicen-te – talvez por serem de vivência mais recente – ainda andam na boca de muitos, alguns mesmo com o carinho que só de dedica aos da família.Oriundos de Moçambique, eram

irmãos de verdade, mas muito diferentes, tanto ao nível físico como da forma de jogar.Primeiro chegou Matateu, nome porque ficou conhecido Sebastião Lucas da Fonseca, corria o ano de 1952, numa altura em que o Sporting Clube de Portugal domi-nava, com uma equipa onde se juntavam cinco violinos, denomi-nação porque ficaram conhecidos os seus avançados. Esteve prestes a ser campeão nacional por duas vezes, mas em ambas, o destino – que já nessa época tinha um nome diferente – não deixou que tal acontecesse: em 1955, o árbitro só considerou dois dos quatro golos que marcou ao Sporting, apesar de num dos não considerados a bola tives-se estado mais de 20 centime-tros dentro da baliza; na época 1958/59, quando o Belenenses disputava o título com FCP e o Sport Lisboa e Benfica, num jogo contra esta equipa e quando aos 90 minutos o resultado ainda es-tava em 0-0, Matateu apontou um canto, a bola entrou na baliza, mas o árbitro anulou-o alegando que a bola fizera uma curva e ti-nha saído de campo antes de en-trar na baliza, por acção do vento que se fazia sentir. Lembro-me bem de um cartoon no jornal A Bola no qual o esférico passava por detrás do Cristo Rei, voltava ao campo e entrava na baliza.O seu estilo forte e vigoroso ficou para sempre ilustrado numa foto-grafia publicada no mesmo jornal, em que, todo no ar, executava aquilo a que, quatro décadas de-pois, se veio a chamar “pontapé de moinho”. Quanto ao seu irmão Vicente Lucas, a elegância e a eficiên-cia eram a marca do seu futebol, adequado, aliás, ao seu aspecto franzino.Os seus maiores momentos vi-

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desporto Belém, Belém

O (en) canto do clube da cruz de Cristo

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veu-os ao serviço da selecção nacional, como sucedeu em 21 de Abril de 1963, num jogo em que Portugal venceu pela primei-ra vez a selecção do Brasil, então bi-campeã mundial, tendo o mé-dio belenense efectuado uma exi-bição de grande nível, “secando” o rei Pelé, levando a que o jornal A Bola escrevesse: “Sessenta mil pessoas viram, com os seus próprios olhos, como Vicente con-seguiu transformar um rei num plebeu, converter um fenómeno num jogador vulgar. Pelé não lhe ganhou uma única jogada”.

Outros momentos de sonho vi-veu-os em 1966, durante o Mun-dial de Inglaterra, onde efectuou grandes exibições, embora nos dois últimos jogos, contra a Ingla-terra e a União Soviética, tenha jogado com uma fratura na mão direita, sofrida no memorável jogo com a Coreia do Norte. Em resultado da sua prestação, Vicente viria a ser condecorado pelo Presidente da República com a Medalha de Mérito Despor-tivo, tendo recebido da Federação Portuguesa de Futebol a Medalha de Ouro e cartão perpétuo.

Viu-se afastado da prática do fu-tebol aos 31 anos, em resultado de um acidente de viação.Depois destas recordações, quem sabe se num qualquer ano futuro, ao passar pelo mes-mo sítio, não ouvirei os mesmos (ou outros) adeptos do Belenen-ses dizer que o título desse ano é o 29.º, juntando-se a marcos históricos como o único campe-onato nacional, conquistado em 1945/1946; as três Taças de Por-tugal (1941/1942, 1959/1960 e 1988/1989); ao título de campeão da 2.ª Divisão, em 1983/1984;

ao campeonato da 2.ª Liga, em 2012/2013; a três campeonatos de Portugal, seis campeonatos de Lisboa, doze Taças de Honra da Associação Futebol de Lisboa e um título de veteranos na mes-ma associação?Está de novo calor e sento-me à sombra da mesma árvore a sor-ver um gelado. Olho à volta. Não vejo vivalma. Apenas o eco de “Be-léém, Be-léém”.

Machado dos Santos

Clube Futebol BenficaHóquei em campo com excelente época, mas com o travo amargo da ausência de títulos

Depois do futebol, o hóquei em cam-po é a modalidade com maior proje-ção no Clube Futebol Benfica, embo-ra esta seja uma das denominadas “modalidades pobres”, pois apesar de estar incluída nos Jogos Olímpi-cos, não tem representatividade en-tre os chamados clubes grandes do nosso país.Em jeito de rescaldo da época tran-sata e quando se está prestes a iniciar-se a de 2013/2014, Sidónio Serpa, seccionista da modalidade do popular clube que todos conhecem por FóFó, faz um balanço positivo do desempenho das equipas, embora com ausência de títulos, salientando, no entanto, que “poderíamos ter sido campeões no escalão de sub-12, versão sala, caso os regulamentos ti-vessem sido cumpridos, mas, lamen-tavelmente, alguém na Federação Portuguesa de Hóquei entendeu-os

de uma forma diferente”.Na época que pode ser considerada a melhor dos últimos anos, o Clube Futebol Benfica participou nas diver-sas provas do calendário nacional, nos escalões de seniores masculi-nos, sub-12, sub-14, sub-16 e ve-teranos, envolvendo um total de 92 atletas, tendo alcançado a classifica-ção de vice campeões, em Seniores; sub-12 (misto), sala e campo; sub-14 (misto), sala; e sub -6 (feminino), sala. Para além disso, a equipa de seniores foi finalista derrotada da Taça de Portugal, onde já não mar-cava presença há 34 anos.Ao recordar o que foi o final de época da equipa principal, tem-se a consci-ência de que, com um pouco de sor-te, a mesma poderia quebrar a hege-monia que a Associação Desportiva Lousada vem demonstrando nos últi-mos anos, principalmente depois de,

na última jornada da fase regular, a mesma ter sido derrotada no Campo Francisco Lázaro, tendo com esse resultado a equipa terminado em 1.º lugar, o que permitia encarar o play off final com alguma vantagem, pois, caso fosse necessário terceiro jogo ele teria sempre lugar em casa.“E tudo caminhava nesse sentido quando, após três jogos, nos conse-guimos classificar para a final, dei-xando pelo caminho o Sport Clube do Porto”, recorda Sidónio Serpa.Todavia, no dia 2 de Julho, o Clube Futebol Benfica perdeu o primeiro jogo da final com o Lousada por de-cisão nos livres directos, depois do 2-2 com que terminou o tempo regu-lamentar, embora o começo tivesse sido auspicioso, com Tiago Arnauth a marcar um golo nos momentos ini-ciais da partida.O segundo jogo, no campo do ad-versário, adivinhava-se, por isso, de dificuldade máxima, já que, por jogar em casa, o Lousada queria festejar o título de campeão nacional com os seus adeptos, tal como viria, infeliz-mente, a suceder, “embora nos minu-tos finais pudéssemos ter empatado o jogo, pois tivemos uma oportunida-de flagrante, que não conseguimos concretizar”, lamenta-se o nosso in-terlocutor.Em relação à Taça de Portugal, de-

pois de terem sido afastados os diversos adversários, a equipa do Clube Futebol Benfica chegou à fi-nal, tendo o Lousada também como adversário.Pese embora todo o empenho dos jogadores, com uma “entrada de leão” que levou a que aos 21 minu-tos de jogo o Futebol Benfica já ven-cesse por 2-0, com golos de Ricardo Fernandes, a maior valia coletiva e a melhor forma física da equipa de Lousada veio ao de cima, ajudada pelo lance controverso que daria o golo do empate, com o árbitro a as-sinalar um canto curto por um toque com o pé, que não existiu, terminan-do o jogo com a vitória da equipa campeã nacional por 5-2.Segundo Sidónio Serpa, os desejos do clube é que todos aqueles que estiveram envolvidos nas competi-ções, qualquer que seja a sua fun-ção, continuem ao seu serviço, com redobrado empenho, se tal for pos-sível, embora se reconheça a dificul-dade que alguns têm em participar, nomeadamente nos jogos em que a Federação altera as datas sem ouvir os clubes e sem ter em conta os pro-blemas que esse tipo de atitude pode acarretar.Espera-se e deseja-se que a época 2013/2014 seja mais uma para mais tarde recordar.

Cozinha tradicional portuguesa

Almoços e jantares

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cultura Na crónica anterior deixámos em aberto uma re-

flexão sobre a “cozinha lisboeta”, ou seja, as par-ticularidades culinárias da mesa dos alfacinhas. Lembramos o nosso ponto de partida, enunciado naquelas linhas, com uma definição da cozinha tradicional: “aquela decorrente duma continuida-de no modo de preparação e de consumo dos alimentos, transmitido de geração em geração, associada, por sua vez, a um espaço geográfico específico”, exposta no precioso livro-guia, de João Pedro Ferro, Arqueologia dos hábitos alimentares (1996). Convém, entretanto, ter em atenção o que se poderá entender por “espaço geográfico espe-cífico”, a partir do qual se identificam as distintas cozinhas: cozinha portuguesa, francesa, italiana, etc. referentes aos espaços nacionais, ou, no que toca às cozinhas regionais ou locais (alentejana, transmontana, etc.). Raramente os limites culturais duma dada cozinha coincidem exactamente com os respectivos limites político-administrativos, nacionais ou regionais. Desde logo pela mutabilidade histórica desses li-mites. O caso das zonas de fronteira é exemplar pela vizinhança, e daí a partilha, de “tradições” culi-nárias distintas. Por sua vez, a plasticidade tempo-ral dos fenómenos culturais, em termos de longa duração, remete-nos para uma visão das socieda-des abertas a influências exteriores, sujeitas a tur-bulências sociológicas de vária ordem e à tensão entre continuidades e mutações, ou a modos de criatividade diversos. Dito de outro modo, devemos pensar a formação duma cozinha não com um pro-cesso autónomo e fechado, centrado na geografia e nas características edafo-climáticas locais, mas antes como o resultado de trocas e aquisições que o genius loci adapta, “apura” ou “tempera”, ao seu gosto, também este, por sua vez, objecto duma construção… cultural. Temos pois que observar a “cozinha lisboeta”, que aqui nos ocupa, à luz da

sua filiação histórica e ligação a outros espaços culturais mais vastos: seja a Estremadura, a cozi-nha portuguesa, ou o mundo mediterrânico com a remota herança romana e árabe.Voltando àquela definição, teremos também de aprimorar o entendimento do que seja a “continui-dade no modo de preparação e de consumo dos alimentos, transmitido de geração em geração”,

asserção que lida à letra nos transmite a ideia duma certa imutabilidade nos hábitos e práticas alimentares numa dada região. Uma ideia que é contrariada pela realidade histórica ao observar-mos as transformações dos costumes alimentares, sobretudo na época contemporânea, com o recuo dos modos de vida autárcicos mais dependentes da autossubsistência alimentar característica do mundo rural pré-industrial. É certo que os hábitos alimentares adquiridos desde a tenra infância são, por natureza, conservadores. Hábitos que, por sua vez, foram transmitidos à geração anterior, esta-belecendo-se aí a ideia duma continuidade local. A demonstração prática desse apego às raízes do gosto alimentar é a maior ou menor incompatibili-dade com hábitos alimentares estranhos ou a “sau-dade” da cozinha da terra natal, por parte de quem desta vive afastado há muito tempo.Quando falamos de uma cozinha tradicional, de um dado espaço geográfico, referimo-nos habi-

tualmente a um conjunto de particularidades que a distinguem de outas cozinhas. Particularidades que, para simplificar, correspondem aos chamados pratos típicos específicos duma localidade. Dir-se--ia que uma cozinha tradicional é um conjunto de determinados pratos típicos. Esta tipicidade, por assentar em pressupostos bem definidos, delimi-tados pela obediência à autenticidade receituária, fora da qual o tal prato típico passa a ser outra coisa, remete-nos ainda para outra distinção e tal-vez a mais importante: a diferença entre o que se compreende por alimentação, informal e pragmáti-ca relativamente aos imperativos da subsistência, e por gastronomia, que se sobreleva a esses im-perativos ao situar-se noutras dimensões do acto alimentar, como sejam a comensalidade festiva, a experimentação de novidades, ou o sublinhar da identidade cultural… no prato e à mesa.Mas, perguntará o leitor destas linhas, mais pacien-te, como se formou ou forma a tal tipicidade culiná-ria duma região, o que é ou não típico e porquê? Bem, essa resposta, se é que a conseguimos dar, ficará para a próxima ocasião. Entretanto e para abrir os apetites ficamo-nos pela apresentação dum velho cardápio, de há um século, da casa de comidas da então popular “Maria Botas”, estabe-lecida na desaparecida Feira de Alcântara, com o qual atraía e deliciava os fregueses e que nos servirá de mote para essas futuras colheradas… perdão, linhas: Sopa de feijão, sopa de camarão, canja de galinha, frango corado, pato com arroz, bifes, costeletas de porco, lombo assado, chispe com feijoada, coelho à caçador, coelho com arroz, paio com ervilhas, presunto com ovos, omelete de camarão, lulas de caldeirada, eiró de caldeirada, peixe-espada, pescadinhas, linguado, carapaus, sardinhas e amêijoas à espanhola… Bom apetite e bom proveito!

Manuel Paquete

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Lisboa com GostoOs ingredientes da tradição

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acontece

LISBOA STORY CENTRE

Situado na Praça do Comércio, o antigo Terreiro do Paço, o Lisboa Story Cen-tre propõe aos visitantes uma viagem no tempo e a descoberta das memórias de Lisboa, desde a sua fundação até aos nossos dias.O centro interpretação da cidade, com base em recursos tecnológicos, permi-tindo a interatividade do público, está organizado em distintos núcleos que co-brem vertentes tão diversas quanto o “Rio, a Terra, o Mar, o Céu”, “Primórdios mitológicos”, “Colonizadores e conquistadores e as Muralhas da Cidade”. No núcleo dedicado a Lisboa: “Cidade Global”, que apresenta a cidade cosmopo-lita, “O Armazém do Mundo”, “Para Além do Horizonte”, “O Padre Voador”, “A Cidade Magnificente”, “Morte e Política e a Igreja”. Outra secção dedicada ao terramoto de 1 de Novembro de 1755, passando para o núcleo sobre a Visão de Pombal, onde é apresentado o Planeamento da Cidade Moderna no pós--terramoto e a Reconstrução da Cidade. Por fim, o núcleo dedicado ao Terreiro do Paço é abordado sob as vertentes da Política e do Lazer.

LISBOA STORY CENTRETerreiro do PaçoTodos os dias da semana: das 10h00h às 20h00Os visitantes que apresentam o Lisboa Card usufruem de um desconto de 20% sobre o preço de entrada.

Peço desculpa, mas não resisto em contar-vos uma anedota que me chegou recentemente ao facebook. Imaginem um par de gémeos em amena cava-queira antes de nascerem… Um deles, o mais espevitado, pergunta ao outro:- Eh pá, tu acreditas na vida depois do parto?- Claro que sim. Deve existir alguma coisa depois do parto. Talvez estejamos aqui porque precisamos de nos preparar para o que seremos mais tarde.- Tu não estás bem, meu irmão! Não há vida depois do parto. Como seria essa vida?- Não sei, mas de certeza que… deve haver mais luz do que aqui. Talvez caminhemos pelos nossos pés e nos alimentemos pela boca…- Isso é um absurdo completo! Tu não vês que é impossível caminhar. E, comer pela boca? Que coisa mais ridícula! O cordão umbilical é a única forma de nos alimentarmos. E digo-te mais: a vida depois do parto não existe… O cordão umbilical é demasiado curto para andarmos por aí na boa-vai-ela...- Seja como for, eu cá acredito que deve haver mais alguma coisa. Pro-vavelmente um pouco diferente daquilo a que estamos agora habituados, mas que deve haver alguma coisa, disso não tenho dúvidas.- Olha lá. Já alguém voltou do além, do pós-parto? Não, pois não? O parto é o final da vida. E no fim de contas, a vida não é mais do que uma angus-tiosa existência na escuridão que não leva a nada.- Bom, eu não sei exactamente como será a coisa depois do parto, mas de certeza que veremos a nossa mamã e ela cuidará de nós.- Mamã? Tu acreditas em mamãs? Onde é que elas estão? Onde é que está a nossa?-Onde? À nossa volta. É nela e através dela que vivemos. Sem ela não existiríamos.- Pois, eu não acredito! Nunca viste a mamã… por isso, é lógico que ela não existe.- Mas, … às vezes, no silêncio, podemos ouvi-la a cantar ou senti-la quan-do acaricia o nosso mundo. Sabes…? Penso que deve haver uma vida real que está à nossa espera, e que agora estamos apenas a prepararmo-nos para ela…Como anedota, não terá muita graça, mas se virmos este diálogo enquanto alegoria, talvez encontremos aí algumas razões que consubstanciem a fé – num Deus invisível, mas omnipresente –, a esperança na dinâmica da vida que tudo acaba por equilibrar, ou, numa visão mais pragmática, a existência de um novo paradigma que, tal como os degraus de uma escada, nos leve a viver sob outros pressupostos, com novas expectativas, em condições diferentes e porventura com uma surpreendente falta de definição nos ob-jectivos. A crise ao ser permanente é, por isso, gémea da condição humana, o que nos remete para o conforto da escuridão, para o não se querer mexer, e consequentemente para o medo de nos tornarmos indivíduos, o que nos leva a ver a vida como um somatório de paradigmas, para que não nos an-gustiemos tanto pela leitura dos jornais, pelo desaforo dos “opinion-makers”, ou pela insegurança onde assenta a sociedade moderna. Se aceitarmos este novo paradigma – que nos retira a capacidade de compra todos os dias, que nos limita a criatividade, que nos faz temer pelos filhos e pelos netos, que nos dá pouco e nos tira muito –, talvez só nos reste mesmo a hi-pótese da tal mãe que por vezes ouvimos cantar e que sentimos a acariciar o mundo, como se ela fosse o sol quando nasce todas as manhãs. Eu cá sempre disse ao meu irmão, que nunca se esquecesse que o sol quando nasce é para todos, muito embora, já depois de ambos nos termos tornado indivíduos, e perto da sua morte, ele insistisse em me explicar que isso dos paradigmas é como uma escada: há alturas em que se sobe, mas na maior parte das vezes... desce-se!

Ruy de Carvalho

A dança dos paradigmas

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Mostra que inclui no total 107 obras de Jorge de Oliveira, repartida entre a o Museu Nacional de Arte Contemporânea (núcleo central das mostra) e a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, com obras sobre papel da década de 1950, com “afinidades com as poéticas de Maria Helena Vieira da Silva, com quem o pintor conviveu” (Paulo Henriques, Diretor MNAC-MC).Uma oportunidade para conhecer de perto o trabalho do pintor Jorge de Oli-veira (1924-2012), cultor de vários programas estéticos, entre os quais o Neo--realismo, entre 1945 e 1946, até 1992, ano em que deixou de pintar. Entre 1947 e 1952, a sua obra enquadrou-se no “automatismo psíquico”, pouco re-presentativo na História da Pintura em Portugal.Entre 1958 e 1992, dedicou-se às sucessivas Sínteses, segundo a sua própria designação, mais perto dos domínios do Surrealismo e do expressionismo abstrato.

MNAC - MUSEU DO CHIADOPiso 0 e 1Rua Serpa Pinto, 4 - LisboaTel. 213 432 148Terça-feira a domingo: 10.00-18.00hÚLTIMA ENTRADA: 17.30

Jorge de Oliveira (1924-2012).A Invenção Contínua

Até 1 de Dezembro

FUNDAÇÃO ARPAD SZENES-VIEIRA DA SILVAGaleria piso 0Praça das Amoreiras, 56Tel.:213 880 044/53Quarta-feira a domingo: 10.00-18.00Encerra às segundas, terças e feriados

cultura

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Inaugurado em 1 de Junho de 1996, o Museu da Farmácia nasceu da iniciativa do Dr. Salgueiro Basso que, em 1981, doou sua colecção par-ticular à Associação Nacional das Farmácias (ANF), impulsionando a doação de peças, por parte de farmacêuticos e outros particulares, para o acervo do futuro museu.

O Museu da Farmácia documenta 5000 anos de história dos cuidados de Saúde e as peças apresentadas tem as mais variadas origens. Entre os inúmeros motivos de interesse, salientam-se as reconstituições de algumas farmácias antigas: a Farmácia Barbosa (c. 1790), a Farmácia Pacheco Pereira (c. 1880), a Farmácia Liberal (c.1910), com os seus laboratórios de fabrico de especialidades farmacêuticas e de análises químicas e a Farmácia Tai Neng Tong (c.1890), uma farmácia chinesa tradicional de Macau. Realça-se também a farmácia portátil do século XVIII e a farmácia por-tátil que serviu a bordo do Space Shuttle Endeavour (o célebre vaivém espacial), da NASA, na missão STS-9, em 30 de Novembro / 11 de De-zembro de 2000.

MUSEU DA FARMÁCIARua Marechal Saldanha, 1Tel. 213 400 600 Segunda a Sexta-feira: 10.00-18.00

entrevista

cultura

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MUSEU DA FARMÁCIAMUSEU COLECÇÃO BERARDO

O Consumo Feliz. Publicidade e Sociedade no Século XXAté 27 de outubro

A exposição “O Consumo Feliz. Publicidade e Sociedade no Século XX” reúne uma selecção de mais de 350 obras, do mais vasto acervo de 1500 exemplares, da Colecção Berardo de Arte Publicitária. Esta colecção teve origem no espólio da firma James Haworth & Company, uma das principais produtoras de publicidade do Reino Unido, no activo entre cerca de 1900 e 1980. Estes originais, destina-dos à reprodução em larga escala através de processos mecânicos, geralmente litográficos e rotográficos, cobrem os vários aspectos da vida quotidiana ocidental naquele período.A moda do automóvel, o turismo, as duas Guerras Mundiais e a Guerra Civil de Espanha, o lazer, a alimentação, a moda, os electrodomésticos, o impacto do jazz, o cinema (as imagens das “estrelas” de Hollywood), a higiene e a beleza, entre ou-tras temáticas, traduzem a realidade das contingências políticas e sociais do sécu-lo XX, bem como os inerentes índices de desenvolvimento económico e cultural. Do ponto de vista artístico, a Art Nouveau, a Art Déco, ou a Pop Art são alguns dos recursos estéticos sucessivamente utilizados nestas verdadeiras obras de arte.

MUSEU COLECÇÃO BERARDO – ARTE MODERNA E CONTEMPORÂNEA Praça do ImpérioTel. 213 612 637Terça a domingo: 10.00-19.00

H.C. Rooke, Sunbeam, 1965.