atividades para o primeiro bimestre

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ATIVIDADES – ÉTICA POLÍTICA E SOCIEDADE 1º BIMESTRE PROFª NOEMI CARDOZO DE OLIVEIRA ATIVIDADE PARCIAL 01 (1,0) Identifique falácias em discursos da mídia ou políticos. Traga para a sala e apresente suas considerações. FALÁCIAS 1. Introdução e Definição: O que são falácias? Essa pergunta é, na verdade, bastante simples de se responder: são argumentos que, apesar de falsos segundo a forma, têm a seu favor a "aparência" de um raciocínio legítimo. Usamos muitas falácias em nosso dia-a-dia, mas algumas pessoas são verdadeiras especialistas em enganar os outros com seus discursos. Se estivéssemos na Grécia de Platão, provavelmente, as chamaríamos de Sofistas, mas hoje em dia, sabemos que advogados, políticos e até mesmo professores também cometem erros do ponto de vista lógico. O que as diferencia é a intenção ou o desejo deliberado de enganar. 2. Sofismas e Paralogismos As falácias, portanto, podem ser divididas, segundo a intenção do argumentador em: Sofismas ou falácias intencionais - argumentos tendenciosos que visam deliberadamente induzir-nos ao erro. É o caso de um advogado que, diante da inevitável condenação de seu cliente e réu, dirige-se ao júri para convencê-lo de sua inocência através de um "desvio" de assunto. [VER Ignorância da questão] Paralogismos ou falácias involuntárias - argumentos elaborados sem a intenção de nos enganar. É muito comum a utilização em nosso cotidiano de palavras com múltiplos sentidos ou mesmo empregadas de modo ambíguo. Mas, devemos, todavia, tomar muito cuidado com os paralogismos, pois mesmo sem a intenção consciente, podemos levar outras pessoas a uma interpretação equivocada do que dissemos. 3. Principais Falácias:

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ATIVIDADES – ÉTICA POLÍTICA E SOCIEDADE

1º BIMESTRE

PROFª NOEMI CARDOZO DE OLIVEIRA

ATIVIDADE PARCIAL Nº 01 (1,0)

Identifique falácias em discursos da mídia ou políticos. Traga para a sala e apresente suas considerações.

FALÁCIAS

1. Introdução e Definição: 

O que são falácias? Essa pergunta é, na verdade, bastante simples de se responder: são argumentos que, apesar de falsos segundo a forma, têm a seu favor a "aparência" de um raciocínio legítimo. Usamos muitas falácias em nosso dia-a-dia, mas algumas pessoas são verdadeiras especialistas em enganar os outros com seus discursos. Se estivéssemos na Grécia de Platão, provavelmente, as chamaríamos de Sofistas, mas hoje em dia, sabemos que advogados, políticos e até mesmo professores também cometem erros do ponto de vista lógico. O que as diferencia é a intenção ou o desejo deliberado de enganar. 2. Sofismas e Paralogismos

As falácias, portanto, podem ser divididas, segundo a intenção do argumentador em:  Sofismas ou falácias intencionais - argumentos tendenciosos que visam deliberadamente induzir-nos ao 

erro. É o caso de um advogado que, diante da inevitável condenação de seu cliente e réu, dirige-se ao júri para convencê-lo de sua inocência através de um "desvio" de assunto. [VER Ignorância da questão]  

Paralogismos ou falácias involuntárias - argumentos elaborados sem a intenção de nos enganar. É muito comum a utilização em nosso cotidiano de palavras com múltiplos sentidos ou mesmo empregadas de modo ambíguo. Mas, devemos, todavia, tomar muito cuidado com os paralogismos, pois mesmo sem a intenção consciente, podemos levar outras pessoas a uma interpretação equivocada do que dissemos. 

3. Principais Falácias:

(1)Ignorância da questão ou Conclusão Irrelevante (Ignoratio elenchi)- Caracteriza-se por um "desvio temático" na intenção de substituir o assunto em pauta por outro. 

(2)Petição de Princípio (Petitio principii) e Círculo vicioso (Circulus in demonstrando)- Apesar de serem duas falácias distintas encontramo-las quase sempre juntas em uma argumentação. Na petição de princípio tomamos por evidente aquilo que deveria aparecer na conclusão. O efeito círculo é provocado quando tentamos provar uma coisa pela outra - igualmente carente de demonstração, gerando o efeito "Tostines" (é fresquinho porque 

vende mais e vende mais porque é fresquinho...).

(3)Apelo à ignorância (Argumentum ad ignorantiam)- Baseia-se na impossibilidade momentânea de se 

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demonstrar a sua contrária. Essa falácia é muito empregada sobretudo em questões polêmicas onde, até o momento, não ficou suficientemente demonstrada nem sua verdade ou mesmo sua falsidade.

(4)Apelo à Piedade (Argumentum ad misericordiam)- Consiste no recurso à piedade ou compaixão dos envolvidos com o único intuito de justificar a inferência desejada.

(5)Apelo à autoridade (Argumentum ad verecundiam)- Ocorre quando nos referimos à opinião (ou mesmo à figura) de indivíduos de prestígio para promover uma maior aceitação de argumentos que, na verdade, 

encontram-se além dos limites de sua especialização ou conhecimento.

(6)Apelo popular ou populismo (Argumentum ad populum)- Falácia muito utilizada pela mídia em geral e em campanhas eleitorais quando utilizam-se da opinião popular como fator relevante de convencimento.

(7)Contra o homem (Ad hominem) - Quando ao invés de utilizar-se de meios legítimos, o argumentador ataca a pessoa em questão com a intenção de refutar a sua posição.

(8)Recurso à Força (Argumentum ad baculum)- Falácia cometida quando o argumentador, visando legitimar a sua conclusão, se utiliza da "força" como forma de intimidação e convencimento.

(9)Redução ao Absurdo (Reductio ad Absurdum) – Consiste em levar um determinado raciocínio, de modo indevido, ao extremo.

(10)Paradoxo ou Oxímoro - Construto intelectual onde parte-se de uma premissa que leva os contra-argumentadores a duas conclusões que se excluem mutuamente.

(11)Falsa Causa - Argumento falacioso que conclui a partir de uma relação de causa e efeito fundamentada numa mera antecedência de fatos.

(12)Causa Comum - Trata-se de uma "confusão entre causas e efeitos". Isso se dá quando dois acontecimentos são tomados como causa um do outro, esquecendo-se, porém, que ambos são causados por um terceiro.

(13)Anfibologia ou Anfibolia - Falácia freqüentemente utilizada pelas chamadas "ciências esotéricas" e que consiste no emprego de frases ou proposições ambíguas e vagas de modo a gerar múltiplas interpretações.

(14)Equívoco e Ambigüidade - Apesar de serem duas falácias distintas, ambas induzem-nos ao erro através dos múltiplos sentidos das palavras. Se no equívoco o argumentador utiliza-se de uma mesma palavra com sentidos diferentes para coisas igualmente distintas; na ambigüidade vê-se o emprego de palavras que nos levam a uma 

interpretação duvidosa do assunto em questão. 

(15)Pergunta Complexa - Consiste em elaborar uma pergunta cuja resposta implicará necessariamente na aceitação de outras premissas logicamente independentes.

(16)[Falácia da] Composição - Ocorre quando atribuímos as características das partes ou dos indivíduos, considerados isoladamente, ao grupo.

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(17)[Falácia da] Divisão - Inverso da falácia anterior, a divisão ocorre quando atribuímos as características do todo ou do grupo às partes.

(18) Ênfase – Ocorre quando algumas palavras são destacadas com o intuito de induzir o receptor ao erro devido a aparente mudança de significado.

ATIVIDADE PARCIAL Nº 02 (1,0)

ALUNOS(AS)

1) ________ _________________________________________________________________________2) __________________________________________________________________________________

3) _____________________________________________________________________________________

A estrutura do discurso

Na concepção aristotélica , o discurso, obrigatoriamente tem que ter duas partes a exposição do assunto e a prova, pois é importantíssimo indicar o assunto de que se trata e em seguida fazer a demonstração , para dar clareza e confiabilidade ao assunto exposto.

No máximo, o discurso pode ser constituído de exórdio, exposição, prova e epílogo, sendo a refutação uma amplificação  das  provas  do  orador,   fazendo,  portanto,  parte  delas   .  Esses  quatro  elementos   (  exórdio, exposição, prova e epílogo ) são integrantes de discursos em geral, mas dependendo do gênero no qual o discurso é feito, cabem  algumas especificidades.

Exórdio

Sua função é conquistar o auditório, fazendo-o se interessar pelo tema a ser tratado pelo orador e, com isso, criar a predisposição favorável para o mesmo. 0 exórdio é o começo do discurso, sua introdução. [...] os exórdios dão uma indicação do assunto para que o ouvinte seja informado da questão tratada e para que seu pensamento não fique em suspenso, visto que o que é indeterminado faz vaguear o espírito.

Narração/Exposição

Para a narração demonstrativa, Aristóteles orienta que o orador a divida em partes, para que seja possível expor detalhadamente para o auditório os atos que formam o fundo do discurso.

As provas

As provas devem ser precisas, exatas, e a contestação deve se referir somente ao ponto contestado.

Refutação

A refutação,  de acordo com Aristóteles  é parte  integrante das provas porque ela também se propõe a destruir os dizeres do adversário, seja por meio de uma objeção, seja por meio de um silogismo. O filósofo grego propõe várias  maneiras  do orador  refutar  uma acusação:  dissipar  a  má  impressão que o público 

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poderia ter dele, ir contra os fatos contestados, dar um motivo diferente à acusação feita, verificar se o acusador já não esteve envolvido no mesmo fato que hoje acusa, dentre outras.

Epílogo/Peroração

Quanto à peroração, ela é dividida por Aristóteles (op. cit., p. 220) em quatro partes:

• na primeira, o orador procura ganhar prestígio perante o ouvinte e desprestigiar o adversário;

• na segunda, o que foi dito no discurso é amplificado ou atenuado;

•  na   terceira,   procura-se  motivar  de   forma   sentimental   o  envolvimento  do  ouvinte,   despertando  nele compaixão, indignação e etc.;

• e na quarta parte, é feita uma recapitulação de todo o discurso.

ANALISE O EDITORIAL BAIXOEditorial no 1: "Sem defesa"16/02/2006 - Opinião - Sem defesa – Editorial

Aos 29 anos de idade, anteontem, mais um ciclista foi atropelado e morto em Maceió. Segundo os registros oficiais do Instituto Médico Legal (IML) foi o quarto óbito neste ano de 2006. 0 acidente ocorreu na Via Expressa, Tabuleiro do Martins, enquanto a vítima pedalava rumo ao trabalho; ao lado do corpo ficaram estiradas no asfalto a bolsa com roupas  e  demais  objetos pessoais  necessários  a  quem passa o dia  no batente.

É   forçoso   reconhecer  a   inexistência  de   faixas  específicas  para   ciclistas  e/ou  quaisquer  outras  atenções àqueles que pedalam ou caminham em Maceió. Por mais de uma vez, os editoriais da Gazeta retornaram a este ponto: não existe esforço, nenhuma ação significativa, das autoridades no sentido de reconhecer a pedestres e ciclistas seus direitos mínimos à cidadania urbana . Até nas áreas nas quais foram destinados trechos de pista ( nas calçadas, nunca nas rodovias) para os ciclistas esses mesmos trechos são misturados

- pela prática corrente e falta de fiscalização - ao uso comum de pedestres e até mesmo como pontos fixos de ambulantes . No fim e ao cabo , nem mesmo as ciclovias ( destinadas a lazer e esporte , e não ao trânsito para trabalho) funcionam corretamente. "Pedalantes" e "caminhantes" seguem entregues à própria sorte, posto não encontrarem guarida em ciclovias ou passeios públicos dignos destes nomes. E têm muita sorte, pois pelos enormes riscos cotidianos - testemunhados por todos, a todas as horas de todos os dias, em Maceió - o número de acidentes é muito pequeno, diante do total abandono público a essas futuras vítimas. Sinalização e faixas para ciclistas; sinalização , calçadas e faixas para pedestres são iniciativas urgentes a se implementar usando a criatividade comprovada dos técnicos da prefeitura e do governo do Estado. Não se pode mais ficar a esperar amanhãs, pois os riscos ululantes são obviamente fatais.

Análise jornalística

Tema: Segurança em vias públicas.

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Escrito em terceira  pessoa do singular,  caracterizando  impessoalidade  .  Este editorial  aborda a  falta  de estrutura e segurança para ciclistas e pedestres , caracterizando topicalidade . É um editorial de ação porque abrange  o  assunto  a  partir  do   impacto  de  um  fato.   Texto   curto  e   claro,   embora   se  utilize  de   termos rebuscados . 0 texto aborda um fato atual , que aconteceu ainda na mesma semana que ele foi escrito , caracterizando plasticidade. Morfologícamente, este editorial é um suelto , pois analisa um fato atual.

Quanto ao conteúdo , é normativo ; e o estilo, embora apele para o emocional , é racionalizante também , no sentido de que relata um problema na cidade que existe há anos , fazendo com que o leitor reconheça isso.

Quanto à natureza, este editorial é polêmico , pois não só relata o fato, mas exige providências imediatas por parte dos poderes públicos, provocando-os.

Análise retórica

Tendo   como   base   os   três   gêneros   retóricos   divididos   por   Aristóteles   (1999,   p.   39),   esse   editorial   se enquadraria no gênero demonstrativo ou epidítico porque ele critica as autoridades por não terem ainda tomado providência quanto à solução do problema da falta de espaço e sinalização para pedestres e ciclistas em Maceió:

"[...] não existe esforço, nenhuma ação significativa, das autoridades no sentido de reconhecer a pedestres e ciclistas seus direitos mínimos à cidadania urbana".

Exórdio

"Ais 29 anos de idade, anteontem, mais um ciclista foi atropelado e morto em Maceió".

Neste exórdio , o texto indica o que vai ser abordado ao longo de todo o editorial . Não é uma simples narração dos fatos porque quando escreve que foi "mais um ciclista " mostra que é algo recorrente e o editorial vai falar exatamente sobre isso: o fato de ser um fato que se repete.

Narracão

"Segundo os   registros  oficiais  do  Instituto Médico  Legal   (IML)   foi  o  quarto  óbito  neste  ano de 2006.  0 acidente ocorreu na Via Expressa, Tabuleiro do Martins, enquanto a vítima pedalava rumo ao trabalho; ao lado do corpo ficaram estirados no asfalto a bolsa com roupas e demais objetos pessoais necessários a quem passa o dia no

batente".

Este trecho expõe a fato através de dados confiáveis, como o do IML, e relatando o próprio acidente.

Provas

"É   forçoso   reconhecer   a   inexistência   de   faixas   específicas  para   ciclistas  %u  quaisquer  outras   atenções àqueles que pedalam ou caminham em Maceió. Por mais de uma vez, os editoriais da Gazeta retornaram a este ponto: não existe esforço, nenhuma ação   significativa, das autoridades no sentido de reconhecer a pedestres e ciclistas seus direitos mínimos à cidadania urbana. Até nas áreas nas quais foram destinados 

Page 6: Atividades Para o Primeiro Bimestre

trechos de pista (nas calçadas, nunca nas rodovias ) para os ciclistas esses mesmos trechos são misturados - pela prática corrente e falta de fiscalização - ao uso comum de pedestres e até mesmo como pontos fixos de ambulantes.

No fim e ao cabo, nem mesmo as ciclovias (destinadas a lazer e esporte, e não ao trânsito para trabalho ) funcionam corretamente   .   'Pedalantes   '  e   'caminhantes   '   seguem entregues  à  própria   sorte,  posto  não encontrarem guarida em ciclo vias ou passeios públicos dignos destes nomes . E têm muita sorte, pois pelos enormes riscos cotidianos testemunhados por todos, a todas as horas de todos os dias, em Maceió - o número de acidentes é muito pequeno, diante do total abandono público a essas futuras vítimas".

As provas cabem ao segundo e terceiro parágrafos quando o texto começa a mostrar , na prática , as causas deste e de outros acidentes que acontecem ou poderão acontecer com ciclistas e/ou pedestres . Ou seja , essas provas mostram não só que o problema existe , mas que é perceptível no dia-a-dia.

Epílogo

"Sinalização e faixas poro ciclistas; sinalização, calçadas e faixas para pedestres são iniciativas urgentes a se implementar usando a criatividade comprovada dos técnicos da prefeitura e do governo do Estado. Não se pode mais ficar a esperar amanhãs, pois os riscos ululantes são obviamente fatais".

Este quarto, e último, parágrafo funciona como epílogo , pois é a conclusão do editorial ; e como tal , recorre a uma recapitulação do que  já  foi  dito  ,  mostrando a necessidade urgente da resolução do problema . "Sinalização e faixas para ciclistas; sinalização, calçadas e faixas para pedestres são iniciativas urgentes..."; e utiliza -se também de uma dose de ironia : "(...J usando a criatividade comprovada dos técnicos da prefeitura e do governo do Estado". A última frase do editorial "Não se pode mais ficar a esperar amanhãs , pois os riscos ululantes são obviamente fatais" é bem incisiva , despertando , portanto , a indignação do leitor e indispondo -o para com as autoridades locais.

Escreva um editorial com o tema "Celas Abertas", e troque o exercício com o colega possa proceder a análise jornalística e a análise retórica de seu trabalho.

"Celas abertas?"

Análise jornalísticaTema:Análise retórica1.Exórdio2. Exposição,3. Prova4. Refutação5. Epílogo

ATIVIDADE PARCIAL Nº 03

Page 7: Atividades Para o Primeiro Bimestre

ÉTICA E FELICIDADE

Atividade: Elabore um esquema do texto abaixo para exposição – grupo 01 pessoa

Após a leitura do livro Ética à Nicômaco, , a análise do texto aludido, nos leva à conclusão de que, em sua ética, Aristóteles preocupa-se, acima de tudo, com o bem humano. Esse bem é determinado por dois fatores:

1. fator bastante constante, a natureza humana , que se constitui de uma série de elementos corporais ligados a uma forma dinâmica por ele chamada de alma (psyché, donde se origina o adjetivo psíquico).

2. segundo fator variável, o conjunto de circunstâncias concretas, chamadas pelos gregos de ocasião.

O  homem  que   consegue   organizar   as   possibilidades   de   sua   própria   natureza   (sem   rebaixá-las   nem sobrestimá-las) e ainda leva em conta as circunstâncias que o rodeiam, utilizando-as como apoio e não como obstáculo à sua ação, alcança o bem que deseja, isto é, consegue levar uma boa vida. 

Essa boa vida, que todo ser humano almeja, é o que chamamos de felicidade (eudaimônia), que se refere a uma certa forma de viver - não se trata de um estado mas sim de uma atividade do homem; tal atividade deve seguir certas normas coerentes com a natureza humana - no entanto, como a natureza humana é complexa e muitas vezes apresenta tendências opostas, é preciso submetê-la a certas regras ou critérios racionais que a equilibrem - conseguir esse equilíbrio é o que Aristóteles chama de possuir a  virtude, componente essencial da felicidade. 

A virtude  impede que tendências  opostas entrem em choque trazendo efeitos  destrutivos para o ser humano. Aristóteles distingue dois tipos de virtude:

1. virtudes intelectuais ou virtudes da mente.

2. virtudes morais, que consistem no controle das paixões, movimentos espontâneos do caráter humano.

A virtude não é, diversamente da felicidade, uma atividade, senão que um hábito, ou maneira habitual de ser; como tal, não pode ser adquirida da noite para o dia, porque depende de muito exercício - repetindo certos atos o homem acaba por transformá-los numa segunda natureza, isto é, numa disposição (e não atividade) para no futuro agir sempre da mesma forma. O processo é sempre o mesmo, sejam os atos bons ou maus : no primeiro caso temos a virtude e, no segundo, o vício. 

Quando se adquire uma virtude, age-se de acordo com ela sem esforço e com prazer, porque se age de acordo com a própria natureza; o vício, ao contrário, acaba por trazer desprazer uma vez que se coloca contra a natureza. A atividade daquele que age de acordo com os bons hábitos que adquiriu durante a maior parte de sua vida é o que chamamos de felicidade. 

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A felicidade mais perfeita é a que se baseia no exercício da virtude igualmente mais perfeita, da virtude de maior excelência, a sabedoria, que é a contemplação das verdades fundamentais da ciência e da filosofia. Também a felicidade mais auto-suficiente, porque não precisa de bens materiais para se efetivar.

Vimos, portanto, que o objeto da ética aristotélica é o estudo da felicidade como supremo fim ou bem do ser humano. Mas, como a condição fundamental para a realização da felicidade é a virtude, e esta só pode ser adquirida mediante exercício e esforço, o homem tem que desenvolver mecanismos de ação que garantam a sua aquisição. Tais mecanismos são a educação e as leis. 

A educação deverá desenvolver no homem os hábitos virtuosos; as leis organizarão e protegerão o exercício da virtude pelos membros da sociedade. Podemos concluir, afirmando que a ética tem o seu prolongamento no que se constitui no ápice da filosofia prática: a política.

                                               Aristóteles, Ética Nicomaqueia, (Santillana, S.A., Madrid, 1997).

ARISTÓTELES E A JUSTIÇA

Na apreciação da doutrina moral  de Aristóteles,  deve-se dedicar especial  atenção aos estudos específicos do filósofo, referentes à Justiça e ao que os gregos chamavam de Amizade, que, hoje em dia, denominamos sociabilidade, em seu sentido mais amplo. Os dois temas estão incluídos na ética a Nicômaco 

De acordo com Aristóteles, todos estão em perfeito acordo em chamar justiça à disposição que nos faz capazes de realizar atos justos, que nos faz efetivamente realizá-los e que nos faz desejar realizá-los. O mesmo deve ser dito da injustiça, que nos faz cometer e querer atos injustos. Sirva-nos esta definição como definição geral. 

O justo nos faz viver conforme as leis e a equidade; o injusto nos leva à ilegalidade e à desigualdade. Também, designamos com uma única palavra, justo, tudo aquilo que é capaz de criar ou salvaguardar, em sua totalidade ou em parte, a felicidade da comunidade política. 

A lei prescreve, inclusive, a cada um, portar-se como homem valente e forte; manda, por exemplo, não abandonar o posto em combate; manda não fugir nem abandonar as armas; prescreve a sobriedade; manda, por exemplo, que não se cometa adultério nem se ultraje a ninguém; prescreve a sociabilidade: manda, por exemplo, não agredir nem falar mal de ninguém. O mesmo faz, referindo-se às outras virtudes e vícios; virtudes que manda praticar e vícios aos quais propõe  entregar-se.   Tudo   isso  de  uma  maneira   conveniente,   se  a   lei   foi   convenientemente  elaborada;   de   forma deficiente, se a lei foi improvisada. 

A Justiça, assim entendida, é uma virtude completa, não em si, mas em relação a outra.  Por esta razão, a Justiça parece ser a mais importante das virtudes e mais admirável que a estrela da tarde e a da manhã. E, por essa mesma razão, empregamos comumente  esse provérbio: na Justiça está contida toda outra virtude.

Aristóteles distingue três tipos de Justiça:

1) Justiça distributiva, que leva em consideração a desigualdade de méritos. Assim se exprime o filósofo : No que se 

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refere   à   Justiça   parcial   e   ao   direito   que   dela   deriva,   ela   tem  um  primeiro   aspecto   distributivo,   que   consiste   na distribuição  das  honras,   riquezas  e   todas  as  demais  vantagens  que  possam corresponder  a   todos  os  membros  da sociedade. 

Se  as  pessoas  não são  iguais,  não  terão  igualdade na maneira  como são tratadas.  Daqui  vêm as  disputas  e contendas, quando as pessoas, em pé de igualdade, não obtêm partes iguais, ou quando, em pé de desigualdade, obtêm um tratamento igual. 

A coisa fica clara, se se tem em conta o mérito das partes. No que se refere às partilhas, todo mundo admite que se deve fazer de acordo com os méritos de cada um; sem dúvida,  não se está ordinariamente de acordo sobre a natureza desse mérito: os democratas o põem na liberdade; os oligarcas, na riqueza ou na estirpe, e os aristocratas, na virtude

2) Justiça reparativa, ou de emenda, que, ao contrário, restabelece o direito igual das pessoas. 

Como nos ensina Aristóteles, a lei não tem presente a natureza da infração, sem levar em conta as pessoas que ela põe em pé de igualdade.  Pouco importa que seja este ou aquele que comete a injustiça ou a sofre, que seja este ou aquele que comete o dano ou o recebe. Por conseguinte, essa injustiça, que descansa na desigualdade, é a que se esforçar o juiz por corrigir.

De fato, quando uma pessoa recebe pancadas e outro as dá, quando um indivíduo causa uma morte e outro morre, o dano e o delito não têm entre eles nenhuma relação de igualdade; o juiz tenta remediar essa desigualdade por meio da pena que inflige, reduzindo, através dela, a vantagem obtida. 

Se emprega comumente essas palavras num sentido geral nos casos dessa natureza, embora a expressão não parece convir a alguns deles; por exemplo, se diz do proveito do que bate em outro e do prejuízo do que é golpeado. 

Mas, quando o juiz avalia o mau trato, o primeiro vem a ser o que perde e o segundo o que ganha. 

De maneira que o igual vem a ser o exato meio termo entre o mais e o menos. ... Em conseqüência, a Justiça corretiva ou reparativa será o termo médio entre a ganância de um e a perda de outro. 

Por isso, quando ocorre entre os homens alguma diferença, eles recorrem ao juiz, que é, por assim dizer, a Justiça encarnada. Finalmente, a injustiça cometida deve ser voluntária, deve proceder de uma eleição deliberada e deve ser anterior a toda ofensa; de fato, não se comete injustiça quando se foi vítima e se devolve mal por mal. 

3) Justiça comutativa, que parece dizer respeito à troca de serviços, tendo, portanto, um caráter econômico.

 Muito do que Aristóteles aborda no campo da Justiça deriva das condições sociais e econômicas da sua época. No entanto, interessa à teoria geral da Justiça sua afirmação de que a injustiça se situa nos dois extremos entre os quais está a Justiça.

 O extremo, isto é, o injusto exigindo mais vantagens e menos encargos dos que os que  lhe são devidos é, a um tempo, um excesso e um defeito, ou no mesmo sujeito ou em dois sujeitos diferentes, conforme se considere o autor ou a vítima da injustiça. 

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A moral de Aristóteles foi incapaz de alçar-se acima dos preconceitos de seu meio - dedica-se a explicar em que casos o próprio direito natural perde autoridade diante do direito de família. Uma vez que, diz ele, ninguém pratica injustiça contra si próprio e o escravo e a criança são partes daqueles de quem dependem (o dono ou o pai), nenhum dos dois possui direito - se não têm direito, não pode haver injustiça para com eles!  O direito familiar atribui à mulher um estatuto político superior. Como vemos, o filósofo adapta suas idéias aos costumes vigentes, sem procurar alterá-los. 

Aristóteles, em sua ética, refere-se à amizade , afirmando que o Homem, mesmo aquele que alcançou os mais altos níveis de intelectualidade, continua sendo o vivente sociável e nascido para a vida em comum. 

Seria, assim, estranho pretender que, mesmo aqueles que   exercem  a   atividade  mais   elevada   e   agradável   -   a contemplação -, pudessem viver solitários e encerrados em si mesmos. Preciso que haja colaboração, homens entregues ao mesmo esforço intelectual, sustentando-se, mutuamente, em seu esforço. 

Tal   amizade   ou   sociabilidade,   orientada   para   o   que   é   realmente   mais   útil,   propícia   abr>especulação desinteressada.

Aristóteles expressa uma decidida preferência pela lei não escrita sobre a lei escrita, talvez porque deseje evitar o erro (do qual a democracia ateniense era frequentemente acusada) de transformar a lei em instrumento puramente pragmático da vontade do povo; para Aristóteles como para Platão ela deve ser mais do que isso: deve incorporar princípios imutáveis de conduta correta que têm de estar idealmente no controle de toda atividade legislativa.  

Procurar a Justiça é procurar uma autoridade neutra; e a lei é uma autoridade neutra. Mas as leis que repousam no costume não escrito são ainda mais soberanas e dizem respeito a assuntos de importância ainda mais soberana do que as leis escritas; e isso sugere que, mesmo que o governo de um homem seja mais seguro do que o império da lei escrita, pode não ser mais seguro do que o 

império da lei não escrita.

Referências Bibliográficas:

Aristóteles, Obras, Aguillar S/A, de Ediciones, Madrid, 1.967. Morrall, J. B., Aristóteles, Ed.. Universidade de Brasília, 1.985. Robin, Leon, A Moral Antiga, Ed. Despertar, Porto, 1.970.

ATIVIDADE PARCIAL Nº 04 - A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

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A obra “A Revolução dos Bichos” de George Orwell é uma fábula que trata sobre temas atemporais, como corrupção, traição, poder e ganância. Lançado em 1945, o livro é uma grande crítica ao contexto político-econômico mundial daquela época, mas sem ser explícito demais  já que os personagens da história são animais  de  uma  fazenda.  A  opressão,   tema  tão  discutido  durante  as   revoluções  burguesas  e  uma  das questões abordadas na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, criada em agosto de 1789 se tornou uma das bases que justificam o levante dos animais da Granja do Solar contra seu proprietário, o nefasto e violento Sr. Jones. Toda e qualquer revolução legítima tem como motor que mobiliza suas forças situações de penúria e escassez a que são submetidos os populares. Remexendo os escritos de Karl Marx pode-se lembrar de um de seus mais célebres conceitos como definidor dessa ação, a clássica definição de “Luta de Classes”.

Leia o texto abaixo e analise o filme “A Revolução dos Bichos”

IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO A variação das condições materiais  de uma sociedade constitui  a História dessa sociedade e Marx as 

designou como modos de produção. A História é a mudança, passagem ou transformação de um modo de produção para outro. Tal mudança não se realiza por acaso nem por vontade livre dos seres humanos, mas acontece de acordo com condições econômicas, sociais e culturais já estabelecidas, que podem ser alteradas de uma maneira também determinada, graças à práxis humana diante de tais condições dadas.O fato de que a mudança de uma sociedade ou a mudança histórica se faça em condições determinadas, 

levou Marx a afirmar que: “Os homens fazem a História, mas o fazem em condições determinadas”, isto é, que não foram escolhidas por eles. Por isso também, ele disse: “Os homens fazem a História, mas não sabem que a fazem”.Estamos, aqui, diante de uma situação coletiva muito parecida com a que encontramos no caso de nossa 

vida psíquica individual. Assim como julgamos que nossa consciência sabe tudo, pode tudo, faz o que pensa e quer, mas, na realidade, está determinada pelo inconsciente e ignora tal determinação, assim também, na existência social, os seres humanos julgam que sabem o que é a sociedade, dizendo que Deus ou a Natureza ou a Razão a criaram, instituíram a política e a história, e que os homens são seus instrumentos; ou, então, acreditam que fazem o que fazem e pensam o que pensam porque são indivíduos livres, autônomos e com poder para mudar o curso das coisas como e quando quiserem.Por   exemplo,   quando   alguém  diz   que   uma   pessoa   é   pobre   porque   quer,   porque   é   preguiçosa,   ou 

perdulária, ou ignorante, está imaginando que somos o que somos somente por nossa vontade, como se a organização e a estrutura da sociedade, da economia, da política não tivesse qualquer peso sobre nossas vidas. A mesma coisa acontece quando alguém diz ser pobre “pela vontade de Deus” e não por causas das condições concretas em que vive. Ou quando faz uma afirmação racista, segundo a qual “a Natureza fez alguns superiores e outros inferiores”.A   alienação   social   é   o   desconhecimento  das   condições   histórico-sociais   concretas   em  que   vivemos, 

produzidas pela ação humana também sob o peso de outras condições históricas anteriores e determinadas. Há uma dupla alienação: por um lado, os homens não se reconhecem como agentes e autores da vida social com suas  instituições,  mas, por outro  lado e ao mesmo tempo,  julgam-se  indivíduos plenamente  livres, capazes de mudar suas vidas  individuais como e quando quiserem, apesar das  instituições sociais e das condições históricas. No primeiro caso, não percebem que instituem a sociedade: no segundo caso, ignoram que a sociedade instituída determina seus pensamentos e ações  As três formas da alienação social

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Podemos falar em três grandes formas de alienação existentes nas sociedades modernas ou capitalistas: 1. A alienação social,   na   qual   os   humanos   não   se   reconhecem   como   produtores   das   instituições sociopolíticas e oscilam entre duas atitudes: ou aceitam passivamente tudo o que existe, por ser tido como natural,   divino   ou   racional,   ou   se   rebelam   individualmente,   julgando   que,   por   sua   própria   vontade   e inteligência,  podem mais do que a realidade que os condiciona.  Nos dois  casos,  a sociedade é o  outro (alienus), algo externo a nós, separado de nós, diferente de nós e com poder total ou nenhum poder sobre nós. 2. A alienação econômica, na qual os produtores não se reconhecem como produtores, nem se reconhecem nos objetos produzidos por seu trabalho. Em nossas sociedades modernas, a alienação econômica é dupla:Em primeiro lugar, os trabalhadores, como classe social, vendem sua força de trabalho aos proprietários 

do capital (donos das terras, das indústrias, do comércio, dos bancos, das escolas, dos hospitais, das frotas de automóveis, de ônibus ou de aviões, etc.). Vendendo sua força de trabalho no mercado da compra e venda de trabalho), os trabalhadores são mercadorias e, como toda mercadoria, recebem um preço, isto é, o salário. Entretanto, os trabalhadores não percebem que foram reduzidos à condição de coisas que produzem coisas; não percebem que foram desumanizados e coisificados.Em segundo lugar, os trabalhos produzem alimentos (pelo cultivo da terra e dos animais), objetos de 

consumo (pela indústria), instrumentos para a produção de outros trabalhos (máquinas), condições para a realização   de   outros   trabalhos   (transporte   de   matérias-primas,   de   produtos   e   de   trabalhadores).   A mercadoria-trabalhador  produz  mercadorias.   Estas,   ao  deixarem as   fazendas,   as  usinas,   as   fábricas,  os escritórios e entrarem nas lojas, nas feiras, nos supermercados, nos shoppings centers parecem ali estar porque lá foram colocadas (não pensamos no trabalho humano que nelas está cristalizado e não pensamos no trabalho humano realizado para que chegassem até nós) e, como o trabalhador, elas também recebem um preço.O   trabalhador  olha  os  preços  e   sabe  que  não  poderá  adquirir  quase  nada  do  que  está  exposto  no 

comércio, mas não lhe passa pela cabeça que foi ele, não enquanto indivíduo e sim como classe social, quem produziu tudo aquilo com seu trabalho e que não pode ter os produtos porque o preço deles é muito mais alto do que o preço dele, trabalhador, isto é, o seu salário.Apesar disso, o trabalhador pode, cheio de orgulho, mostrar aos outros as coisas que ele fabrica, ou, se 

comerciário,   que   ele   vende,   aceitando   não   possuí-las,   como   se   isso   fosse  muito   justo   e   natural.   As mercadorias deixam de ser percebidas como produtos do trabalho e passam a ser vistas como bens em si e por si mesmas (como a propaganda as mostra e oferece). Na primeira forma de alienação econômica, o trabalhador está separado de seu trabalho - este é alguma coisa que tem um preço; é um outro (alienus), que não o trabalhador.Na segunda forma da alienação econômica, as mercadorias não permitem que o trabalhador se reconheça nelas.   Estão   separadas   dele,   são   exteriores   a   ele   e   podem mais   do  que   ele.  As  mercadorias   são  um igualmente um outro, que não o trabalhador. 3. A alienação intelectual, resultante da separação social entre trabalho material (que produz mercadorias) e trabalho intelectual (que produz idéias). A divisão social entre as duas modalidades de trabalho leva a crer que o   trabalho material  é  uma tarefa  que não exige  conhecimentos,  mas apenas habilidades  manuais, enquanto o trabalho  intelectual  é  responsável  exclusivo pelos conhecimentos.  Vivendo numa sociedade alienada, os intelectuais também se alienam. Sua alienação é tripla:Primeiro, esquecem ou ignoram que suas idéias estão ligadas às opiniões e pontos de vista da classe a que 

pertencem, isto é, a classe dominante, e  imaginam, ao contrário,  que são idéias universais,  válidas para todos, em todos os tempos e lugares.Segundo, esquecem ou ignoram que as idéias são produzidas por eles para explicar a realidade e passam 

a crer que elas se encontram gravadas na própria realidade e que eles apenas as descobrem e descrevem sob a forma de teorias gerais.

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Terceiro,   esquecendo  ou   ignorando  a  origem  social   das   idéias   e   seu  próprio   trabalho  para   criá-las, acreditam que as idéias existem em si e por si mesmas, criam a realidade e a controlam, dirigem e dominam. Pouco a pouco, passam a acreditar que as idéias se produzem umas as outras, são causas e efeitos umas das outras e que somos apenas receptáculos delas ou instrumentos delas. As idéias se tornam separadas de seus autores, externas a eles, transcendentes a eles: tornam-se um outro.As três grandes  formas da alienação (social,  econômica e  intelectual)  são a causa do surgimento,  da 

implantação e do fortalecimento da ideologia.  A ideologia A alienação social se exprime numa “teoria” do conhecimento espontânea, formando o senso comum da 

sociedade.  Por  seu   intermédio,   são   imaginadas  explicações  e   justificativas  para  a   realidade   tal   como é diretamente percebida e vivida.Um exemplo desse senso comum aparece no caso da “explicação da pobreza, em que o pobre é pobre 

por sua própria culpa (preguiça, ignorância) ou por vontade divina ou por inferioridade natural. Esse senso comum social,  na  verdade,  é  o   resultado  de  uma elaboração   intelectual   sobre  a   realidade,   feita  pelos pensadores   ou   intelectuais   da   sociedade   -   sacerdotes,   filósofos.   cientistas,   professores,   escritores, jornalistas,   artistas   -,   que  descrevem e  explicam o  mundo  a  partir  do  ponto  de  vista  da   classe  a  que pertencem e que é a classe dominante de sua sociedade. Essa elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social é a  ideologia. Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as idéias de uma das classes sociais - a dominante e dirigente - tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as classes e de toda a sociedade.A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de 

indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Indivisão: apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da idéia de “humanidade”, ou da idéia de “nação’ e “pátria”, ou da idéia de “raça”, etc. Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais,   econômicas   e  políticas   não   são  produzidas   pela   divisão   social   das   classes,  mas  por   diferenças individuais dos talentos e das capacidades, da inteligência, da força de vontade maior ou menor, etc.A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem 

as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as idéias.Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos; os idosos não têm direitos; os direitos culturais das crianças nas escolas públicas é inferior aos das crianças que estão em escolas particulares, pois o ensino não é de mesma qualidade em ambas;  os  negros  e   índios   são  discriminados   como   inferiores;  os  homossexuais   são  perseguidos   como pervertidos, etc.A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor, pagar as dívidas e contribuir com os impostos já nos 

faz cidadãos, sem considerar as condições concretas que fazem alguns serem mais cidadãos do que outros. A função da ideologia é impedir-nos de pensar nessas coisas.  Os procedimentos da ideologia Como procede a ideologia para obter esse fantástico resultado? Em primeiro lugar, opera por inversão,

isto  é,   coloca  os  efeitos  no  lugar  das  causas  e   transforma estas  últimas em efeitos.  Ela  opera  como o inconsciente: este fabrica imagens e sintomas; aquela fabrica idéias e falsas causalidades.

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Por exemplo, o senso comum social afirma que a mulher é um ser frágil, sensitivo, intuitivo, feito para as doçuras do lar  e da maternidade e que,  por  isso, foi  destinada,  por natureza,  para a vida doméstica, o cuidado do marido e da família. Assim o “ser feminino” é colocado como causa da “função social feminina”.Ora, historicamente, o que ocorreu foi exatamente o contrário: na divisão sexual-social do trabalho e na 

divisão dos  poderes  no  interior  da  família,  atribuiu-se  à  mulher  um  lugar   levando-se  em conta o   lugar masculino:   como   este   era   o   lugar   do   domínio,   da   autoridade   e   do   poder,   deu-se   à  mulher   o   lugar subordinado e auxiliar, a função complementar e, visto que o número de braços para o trabalho e para a guerra aumentava o poderio do chefe da família e chefe militar, a função reprodutora da mulher tornou-se imprescindível, trazendo como conseqüência sua designação prioritária para a maternidade.Estabelecidas essas condições sociais, era preciso persuadir as mulheres de que seu lugar e sua função 

não provinham do modo de organização social, mas da Natureza, e eram excelentes e desejáveis. Para isso, montou-se a ideologia do “ser feminino” e da “função feminina” como naturais e não como históricos e sociais. Como se observa, uma vez implantada uma ideologia, passamos a tomar os efeitos pelas causas.A segunda maneira de operar da ideologia é a produção do  imaginário social, através da imaginação 

reprodutora.  Recolhendo  as   imagens  diretas  e   imediatas  da  experiência   social   (isto  é,  do  modo  como vivemos as relações sociais), a ideologia as reproduz, mas transformando-as num conjunto coerente, lógico e sistemático   de   idéias   que   funcionam   em   dois   registros:   como   representações   da   realidade   (sistema explicativo ou teórico) e como normas e regras de conduta e comportamento (sistema prescritivo de normas e valores). Representações, normas e valores formam um tecido de imagens que explicam toda a realidade e prescrevem para toda a sociedade o que ela deve e como deve pensar,  falar,  sentir e agir.  A  ideologia assegura,  a   todos,  modos  de  entender  a   realidade e  de se  comportar  nela  ou diante  dela,  eliminando dúvidas,   ansiedades,   angústias,   admirações,   ocultando   as   contradições   da   vida   social,   bem   como   as contradições entre esta e as idéias que supostamente a explicam e controlam.Enfim, uma terceira maneira de operação da ideologia é o silêncio. Um imaginário social se parece com 

uma frase onde nem tudo é dito, nem pode ser dito, porque, se tudo fosse dito, a frase perderia a coerência,  tornar-se-ia incoerente e contraditória e ninguém acreditaria nela. A coerência e a unidade do imaginário social ou ideologia vêm, portanto, do que é silenciado (e, sob esse aspecto, a ideologia opera exatamente como o inconsciente descrito pela psicanálise).Por  exemplo,  a   ideologia  afirma que o adultério  é  crime (tanto assim que homens que matam suas 

esposas e os amantes delas são considerados inocentes porque praticaram um ato em nome da honra), que a virgindade feminina é preciosa e que o homossexualismo é uma perversão e uma doença grave (tão grave que, para alguns, Deus resolveu punir os homossexuais enviando a peste, isto é, a Aids).O que está sendo silenciado pela ideologia? Os motivos pelos quais, em nossa sociedade. o vínculo entre 

sexo  e  procriação  é   tão   importante   (coisa  que não acontece  em todas  as   sociedades,  mas  apenas  em algumas, como a nossa). Nossa sociedade exige a procriação legítima e legal a que se realiza pelos laços do casamento,  porque ela garante,  para a classe dominante,  a transmissão do capital  aos herdeiros.  Assim sendo, o adultério e a perda da virgindade são perigosos para o capital e para a transmissão legal da riqueza; por isso, o primeiro se torna crime e a segunda é valorizada como virtude suprema das mulheres jovens.Em nossa sociedade, a reprodução da força de trabalho se faz pelo alimento do número de trabalhadores 

e, portanto, a procriação é considerada fundamental para o aumento do capital que precisa da mão-de-obra. Por esse motivo, toda sexualidade que não se realizar com finalidade reprodutiva será considerada anormal, perversa e doentia, donde a condenação do homossexualismo. A ideologia, porém, perderia sua força e coerência se dissesse essas coisas e por isso as silencia. Ideologia e inconsciente Dissemos que a ideologia se assemelha ao inconsciente freudiano. Há, pelo menos, três semelhanças 

principais entre eles: 1. o fato de que adotamos crenças, opiniões, idéias sem saber de onde vieram, sem pensar em suas causas e motivos, sem avaliar se são ou não coerentes e verdadeiras;

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 2.  ideologia e inconsciente operam através do imaginário (as representações e regras saídas da experiência imediata)  e do silêncio,  realizando-se  indiretamente perante a consciência.  Falamos,  agimos,  pensamos, temos comportamentos e práticas que nos parecem perfeitamente naturais e racionais porque a sociedade os repete, os aceita, os incute em nós pela família, pela escola, pelos livros, pelos meios de comunicação, pelas relações de trabalho,  pelas práticas políticas.  Um véu de  imagens estabelecidas  interpõe-se entre nossa consciência e a realidade; 3.   inconsciente   e   ideologia   não   são   deliberações   voluntárias. O   inconsciente precisa de imagens, substitutos,   sonhos,   lapsos,   atos   falhos,   sintomas,   sublimação  para  manifestar-se  e,   ao  mesmo  tempo, esconder-se da consciência.  A  ideologia  precisa das  idéias-imagens,  da  inversão de causas e efeitos,  do silêncio para manifestar os interesses da classe dominante e escondê-los como interesse de uma única classe social.  A   ideologia  não é  o   resultado  de  uma vontade deliberada  de  uma classe  social  para  enganar  a sociedade,  mas é o efeito necessário da existência social  da exploração e dominação,  é a  interpretação imaginária da sociedade do ponto de vista de uma única classe social.  Erguendo o véu, tirando a máscara

Diante do poder do inconsciente e da ideologia poderíamos ser levados a “entregar os pontos”, dizendo: Para  que tanto  esforço  na teoria  do conhecimento,  se,  afinal,   tudo é   ilusão,  véu e  máscara?  Para  que compreender a atividade da consciência, se ela é a “pobre coitada”, espremida entre o id e o super-ego, esmagada entre a classe dominante e os ideólogos?Todavia, uma pergunta também é possível:

Como, sendo a consciência tão frágil, o Inconsciente e a ideologia tão poderosos, Freud e Marx chegaram a conhecê-los, explicar seus modos de funcionamento e suas finalidades?No caso de Freud, foram a prática médica e a busca de uma técnica terapêutica para os indivíduos que 

permitiram a descoberta do inconsciente e o trabalho teórico de onde nasceu a psicanálise. No caso de Marx,   foi   a   decisão  de   compreender   a   realidade  a  partir   da  prática  política  de  uma   classe   social   (os trabalhadores)  que permitiu a percepção dos mecanismos de dominação e exploração sociais,  de onde surgiu a formulação teórica da ideologia.A busca da cura dos sofrimentos psíquicos, em Freud, e a  luta pela emancipação dos explorados, em 

Marx,   criaram condições  para  uma   tomada  de   consciência  pela  qual  o   sujeito  do   conhecimento  pôde recomeçar a crítica das ilusões e dos preconceitos que iniciara desde a Grécia, mas, agora, como crítica de suas próprias ilusões e preconceitos.Em  lugar  de   invalidar  a   razão,   a   reflexão,  o  pensamento  e  a  busca  da  verdade,   as  descobertas  do 

inconsciente e da ideologia fizeram o sujeito do conhecirnerto conhecer as condições - psíquicas, sociais, históricas - nas quais o conhecimento e o pensamento se realizam.Como disseram os filósofos existencialistas acerca dessas descobertas:

 Encarnaram o sujeito num corpo vivido real e numa história coletiva real, situaram o sujeito. Desvendando os obstáculos psíquicos e histórico-sociais para o conhecimento, puseram em primeiro plano as relações entre pensar e agir, ou, como se costuma dizer entre a teoria e a prática.

Marilena Chauí, “Convite à filosofia” – Ed. Ática, p.172-5

EXERCÍCIOS

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1) Na Revolução dos Bichos estes eram os 7 mandamentos originais:

1. qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo 2. qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo 

3. nenhum animal usará roupas 

4. nenhum animal dormirá em cama 

5. nenhum animal beberá álcool 

6. nenhum animal matará outro animal 

7. todos os animais são iguais

Identifique falácias nas mudanças dos mandamentos originais.

2) relacione o uso da televisão no filme ao pensamento do jornalista abaixo:

“O que torna a mídia tão perigosa é a sua capacidade de andar de mãos dadas com o Estado, enquanto vendem a imagem de neutralidade, objetividade e democracia. É a sua capacidade de condicionar o imaginário, moldar percepções, gerar consensos, criar a base psicossocial para uma operação de grande envergadura, como a guerra.” José Arbex Jr (Editora Casa Amarela)

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3) Leia o hino "Bichos da Inglaterra" e relacione com o hino do MST (movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) para levantar aspectos como a organização de movimentos social e a importância da simbologia para criação da noção de pertencimento, idéia de unidade.

Bichos da Inglaterra

Bichos da Inglaterra e da Irlanda, Daqui, dali, de acolá, Escutai a alvissareira Novidade que virá. 

Mais hoje, mais amanhã, O Tirano vem ao chão, E os campos da Inglaterra Só os bichos pisarão. 

Não mais argolas nas ventas, Dorsos livres dos arreios, Freio e espora enferrujando E relhos em cantos alheios. 

Riqueza incomensurável, Terra boa, muito grão, Trigo, cevada e aveia, Pastagem, feno e feijão. 

Lindos campos da Inglaterra, Ribeiros com águas puras, Brisas leves circulando, Liberdade nas alturas. 

Lutemos por esse dia Mesmo que nos custe a vida Gansos, vacas, cavalos, Todos unidos na lida. 

Bichos da Inglaterra e da Irlanda, Daqui, dali, dacolá, Levai esta minha mensagem E o futuro sorrirá. 

Hino do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

Letra: Ademar BogoMusíca: Willy C. de Oliveira 

Vem teçamos a nossa liberdadebraços fortes que rasgam o chãosob a sombra de nossa valentiadesfraldemos a nossa rebeldiae plantemos nesta terra como irmãos! Refrão:Vem, lutemos punho erguidoNossa Força nos leva a edificarNossa Pátria livre e forteConstruída pelo poder popular Braços Erguidos ditemos nossa históriasufocando com força os opressoreshasteemos a bandeira coloridadespertemos esta pátria adormecidao amanhã pertence a nós trabalhadores ! Refrão:Vem, lutemos punho erguidoNossa Força nos leva a edificarNossa Pátria livre e forteConstruída pelo poder popularNossa Força regatada pela chamada esperança no triunfo que viráforjaremos desta luta com certezapátria livre operária camponesanossa estrela enfim triunfará! Refrão:Vem, lutemos punho erguidoNossa Força nos leva a edificarNossa Pátria livre e forteConstruída pelo poder popular

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ATIVIDADE PARCIAL Nº 05

Filosofia Medieval

Embate entre as verdades de fé e as verdades da razão.

 

“O que distingue o gênio dos homens deste tempo é o perfeito equilíbrio entre fé e razão, entre a autonomia do homem e a sua mais completa submissão a deus” Tomás de Aquino (1225 -1274)

Escolha um dos filmes sugeridos sobre Idade Média e faça uma análise  crítico-compreensiva do mesmo. São as possibilidades : “Lutero” , “O nome da rosa”, “Giodano Bruno” . Será feito um trabalho avaliativo sobre as perguntas orientadoras do filme. Valor: 2,0

ROTEIRO PARA SESSÃO FÍLMICA

I -Filme: O nome da rosa, baseado no romance policial homônimo escrito por Umberto Eco.

Conteúdo: 1. História Medieval: A hegemonia católica nos campos da educação e da cultura. 2. Filosofia: Platão / Santo Agostinho; Aristóteles / São Tomás de Aquino.

Síntese do conteúdo:

A Idade Média é caracterizada pela hegemonia católica nos campos da cultura e da educação. A chamada Patrística se caracterizou pelo filosofar na fé, ou seja, pelo exercício de pensamento de acordo com a mensagem bíblica e a ela submetida. No  vértice do pensamento da Patrística está Agostinho de Hipona (Santo Agostinho). Em oposição, a Escolástica procurou valorizar a razão, além da fé, como caminho para a verdade. Na Patrística tinham acesso aos saberes mais elaborados os padres e os jovens de alta corte que pretendessem formação para o alto clero, sempre tendo padres altamente preparados como professores; na Escolástica, leigos podiam ministrar aulas sob a supervisão de autoridades religiosas. (no filme Em nome de Deus,   retrata-se  a  biografia  de  Abelardo,  que  viveu  entre  1079  e  1142  e  atuou   como professor   casto mantido pelo clero).      

Tanto  Na  Patrística  quanto  na  Escolástica  o  ensino  e  a   cultura  estiveram sujeitas  aos  crivos canônicos,   todavia,  na  Escolástica  se  deu um maior  desenvolvimento  das  escolas  palatinas   (ligadas  aos palácios) para além das escolas monacais (ligadas a abadias) e episcopais (ligadas a catedrais)        

Agostinho de Hipona (354 – 430) sistematizou a doutrina cristã com base na filosofia de Platão (427 – 347 aC). São características do pensamento platônico o idealismo e a projeção de uma existência perfeita  a ser alcançada (para Platão,  o Hiperurânio;  para Agostinho,  a Cidade de Deus)  e  que é muito 

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diferente   da   existência   temporal   e   humana   (a   imanência,   no   platonismo;   a   cidade   dos   homens,   em Agostinho).

Tomás de Aquino (1221 – 1274) procurou interpretar as verdades cristãs a partir do pensamento de Aristóteles (384 – 322 aC). O aristotelismo se diferencia do platonismo por valorizar eventos sensíveis na elaboração do conhecimento; assim, para Aristóteles, é a partir do que se sente pelas vias sensoriais que se conhece o mundo e se desenvolve o pensamento pelo seu aprimoramento. 

Platão e Aristóteles representam dois paradigmas clássicos do pensamento ocidental. A diferença entre tais paradigmas filosóficos está representada no afresco Escola de Atenas, pintado por Rafael Sanzio em 1511 (anexo).

ECO, Umberto. O nome da rosa. Trad. Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas de Andrade. 41. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.

REALE, Giovani; ANTISSERI, Dario. História da Filosofia: Antigüidade e Idade Média. Vol. I. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 1990. 

Provocações:

1. Segundo REALE e ANTISSERI (1990, p. 433)

Em uma série de obras, santo Agostinho mostrou que a revelação cristã gira essencialmente em torno da necessidade da graça, ao contrário do que acreditavam os pelagianos. A sua tese triunfou no Concílio de Cartago de 417 e o papa Zózimo condenou o pelagianismo. A tese   de   Pelágio   estava   em   sintonia   substancial   com   as   convicções   dos   gregos   sobre   a autarquia da vida moral do homem, enquanto a tese de Agostinho era de que o cristianismo subvertia aquela convicção.   Escreve   com  razão  M.   Pohlenz:   “O   fato  de   a   Igreja   Ter   se pronunciado por tal doutrina assinalou o fim da ética pagã e de toda a filosofia helênica – e assim começou a Idade Média”. (com grifos do original)

A primazia da graça sobre os julgamentos humanos aparece no filme? Em que momentos?

2. REALE e ANTISSERI (1990, p. 436 - 437) observam que

[...]  Platão   já  havia   compreendido  que  a  plenitude  da   inteligência,  no  que  se   refere  às verdades   últimas,   só   podia   se   realizar   através   de   uma   revelação   divina,   escrevendo   o seguinte: “Em se tratando dessas verdades, é impossível deixar de fazer uma destas coisas: aprender  dos  outros  qual  é  a   verdade,  descobri-la  por   si  mesmo ou  então,   se   isso   for possível, aceitar, dentre os raciocínios humanos, o melhor e menos fácil de refutar e sobre ele,   como   sobre  uma  barcaça,   enfrentar  o   risco  da   travessia  do  mar  da   vida”.   E  havia acrescentado, profeticamente: “A menos que não se possa fazer a viagem de modo mais seguro e com menor risco, sobre uma nave mais sólida, isto é, confiando-se a uma revelação

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divina”. E, para Agostinho, essa nave é o ignum crucis”, ou seja, Cristo crucificado. Diz ele: Cristo “pretendeu que passássemos através dele”. E mais: “Ninguém pode atravessar o mar do século se não for carregado pela cruz de Cristo”. Nisso consiste precisamente o “filosofar na fé”, ou seja, a “filosofia cristã”: uma mensagem que mudou por mais de um milênio o pensamento ocidental. (com grifos do original)     

Considerando a expressão “cruz de Cristo” como a metáfora da mortificação da carne no pensamento cristão mais tradicional, entende-se que seria pela negação dos prazeres do mundo que se atravessaria os tempos desta Cidade dos Homens. Que personagem do filme melhor se presta a tal defesa? Como o faz?

3. Os escritos de Platão foram influenciados pelos mistérios órficos (pensamento mítico-religioso embasado nos versos de Orfeu) “[...] alimentando-se mais de fé e crença do que de logos  [...] já Aristóteles teve um enorme   interesse   por   quase   todas   as   ciências   empíricas   [...]   e   também   pelos   fenômenos   empíricos considerados enquanto tais,  ou seja,  como fenômenos puros – e,  portanto,  apaixonou-se pela  coleta  e classificação de dados empíricos enquanto tais”. (REALE e ANTISSERI,  1990, p. 178) 

Questões norteadoras para análise do filme “O nome da rosa”

1. Sobre o que versava o “livro proibido”? Por que o Venerável tinha tanto medo de que ele caísse em mãos de outros monges?2. A proibição de entrar na biblioteca tinha uma razão maior. Qual o significado desta proibição para a Igreja da época?3. Qual o papel que o demônio ocupava ao longo do filme? Por que a Igreja reforçava tanto seu uso?4. Qual o papel que a Inquisição ocupava na Idade Média?5. Onde podemos perceber a presença do movimento da Renascença no filme?6. Como estavam estabelecidas as relações de poder entre as classes sociais? (Igreja X camponeses; Igreja X nobres; Igreja X Imperador; Igreja X Igreja).7. Qual foi a grande questão religiosa debatida entre a ordem dos Franciscanos e Delegados Papais? Descreva-a e interprete seu significado.8. Qual era a questão defendida pelos Dolcilianos (Dolcinites)? Como os mesmos agiam?9. Identificar no filme elementos de corrupção e/ou decadência moral dentro da Igreja.10. Liste os elementos do filme que já apontam para a preparação e andamento do processo da Reforma Protestante de 1517.11. Qual a visão que a igreja da época tinha referente à condição da mulher?12. O filme trabalha com algumas representações simbólicas. Cite algumas.13. Como Deus era visto pela Igreja da época?14. Caracterize a ordem dos Beneditinos.15. Situe historicamente o filme (entre dois fatos importantes da Igreja cristã).16. Descreva o perfil intelectual de William/Guilherme de Baskerville.

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ROTEIRO PARA SESSÃO FÍLMICA

Ii - Filme: LUTERO

Conteúdo: 1. História Medieval: A hegemonia católica nos campos da educação da economia  e da cultura. 2. Filosofia: Platão / Santo Agostinho; Aristóteles / São Tomás de Aquino.

Síntese do conteúdo:

SINOPSE: Muito polêmico, esta biografia de Lutero é uma super-produção recheada de ação que retrata um dos períodos mais revolucionários e conturbados da história da humanidade! Momento em que a Idade Média cedeu ao poder das convicções de um homem que mudou o mundo, Martinho Lutero! Ainda jovem, no monastério, Lutero se vê atormentado pelas práticas da Igreja Católica da época. As tensões se intensificam quando prega suas 95 teses na porta da Igreja! Obrigado a se redimir publicamente, se recusa a negar os seus escritos até que a Igreja Católica consiga provar que suas palavras contradizem a Bíblia. Preso e excomungado, foge. Mesmo vivendo como um criminoso numa aventura emocionante mantém sua fé e luta para que todas as pessoas tenham acesso a Deus.

Relatar a história que é contada no vídeo (reconstrução da história)? Contextualizar o período em que se passa a história, ou seja, descrever como era a sociedade, suas 

principais características econômicas, políticas e sociais.

Identificar os principais personagens e suas respectivas funções sociais.

Relatar os posicionamentos políticos dos principais personagens na comunidade, relacionando-os com os discursos presentes em suas falas.

Identificar como são apresentados conceitos como trabalho, justiça, amor e riqueza (valores afirmados e negados pelo vídeo) e como cada participante julga esses valores (concordâncias e discordâncias nos sistemas de valores envolvidos).

Elaborar uma reflexão e comentário sobre os principais depoimentos, as ações e os discursos, objetivando aprofundar a compreensão do vídeo, escrevendo sua opinião sobre as questões colocadas.

Questões norteadoras do filme “Lutero”

1. Qual foi a motivação para Lutero abandonar os estudos de Direito e entrar num mosteiro, escolhendo a vocação religiosa?2. Qual era a visão inicial de Lutero a respeito da figura de Deus? Como ele via a relação de Deus com o ser humano?

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3. Qual foi a mudança que ocorreu em Lutero, depois de algum tempo, na relação com este Deus?4. Qual foi a principal questão religiosa que gerou em Lutero a reação contra a Igreja e que provocou o debate entre Lutero e a cúria papal?5. Qual foi o papel da questão política no andamento do processo da Reforma?6. Como você percebeu a relação de Lutero na questão da revolta dos camponeses?7. O que representou para a Reforma a tradução da Bíblia para a língua alemã. Qual o efeito disto para o poder da Igreja Católica?8. Na discussão entre Lutero e o representante papa, o que foi exigido para que Lutero não recebesse a bula de excomunhão da Igreja?9. Lutero provocou algumas mudanças na vida religiosa de monges e padres que aderiram à Reforma. Cite.10. Qual a importância da invenção da tipografia de Gutemberg para o processo da Reforma?11. Identifique questões de cunho social, político, econômico que se fazem presentes no filme.12. Qual o papel que as relíquias sagradas tinham para os fiéis cristãos da época?

III - Filme: GIORDANO BRUNO (Ano: 1973)

Conteúdo: 1. História Medieval/ Renascentista: Magia, Religião, Ciência . 2. Filosofia: Santo Alberto Magno; São Tomás de Aquino.

Síntese do conteúdo:

O filme mostra  um dos  episódios  mais  polêmicos  da  história:  o  processo  e  a  execução do astrônomo, matemático e filósofo italiano Giordano Bruno (1548-1600), queimado na fogueira pela Inquisição por causa de suas teorias contrárias aos dogmas da Igreja Católica

Inquisição de Roma. Em Roma, um frade, Celestino de Verona, junta novos testemunhos acusadores. Inicia-se um novo processo em 1593, este mais sério, acompanhado de torturas, e que haveria de prolongar-se por sete anos.

O papa Clemente VIII (1592-1605) viria a ter papel decisivo no julgamento de Bruno. O papa encarregou o cardeal Bellarmino de analisar e acompanhar o processo de Giordano Bruno.

No ano de 1.591, começou o processo de Giordano e, em 1593, ele foi transferido a Roma onde se deu continuidade ao processo. As principais acusações contra ele eram as seguintes:

– Defender a tese do astrônomo alemão Johannes Kepler (1.571–1.630) de que a Terra girava em torno do Sol.– Defender o uso da magia.– Defender que Jesus Cristo não fez milagre algum e sim magia.– Pregar que todos progrediam, sendo que até os demônios eram salvos.– Acusar a Igreja de promover a ignorância de seus fiéis, para que estes permanecessem como “asnos”

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Não se sabe com precisão os detalhes do processo, e exatamente quais as acusações lhe foram feitas porque o seu processo tem paradeiro desconhecido. Sabe-se porém que o cardeal Bellarmino extraiu das obras de Bruno 8 heresias, as quatro mais graves são duas teológicas e duas filosóficas:

Teológicas:

a) negaria a transubstanciação;

b) prioridade ideal e real do Pai e da subordinação do Filho, este originado de um ato da vontade do Pai, que lhe é preexistente.

Filosóficas:

a) pluralidade dos mundos (os atos divinos devem corresponder à potência infinita de Deus) implicaria também várias incarnações de Cristo um número infinito de vezes...(raciocínio tipicamente escolástico)

b) alma presente no corpo como o piloto no barco.

Bruno faz sua defesa sempre tentando convencer os inquisidores, 

1.) da legitimidade das suas idéias filosóficas e da possibilidade de concilia-las com a revelação religiosa, e 

2.) alegando que a acusação toma peças isoladas do contexto de seu trabalho, e 

3.) que não sabe sobre o que se emendar. Bruno finalmente declarou que não tinha nada de que retratar-se e que ele nem sabia de que se esperava que retratasse. 

Depois  de  diversas   tentativas,   de   convencê-lo   a   se   retratar   sobre   suas   teses  mais   revolucionárias, Giordano Bruno foi condenado à fogueira, em 16 fevereiros de 1.600, sob a acusação de heresia, e por seu pensamento e suas idéias  irem contra a Igreja Católica.  Segundo historiadores,  ao ouvir sua sentença, Giordano Bruno disse a seus algozes: “Vocês pronunciam esta sentença contra mim com um medo maior do que eu sinto ao recebê-la”.

Giordano Bruno morreu, mas não renegou seus pontos de vista. Sua morte causou um movimento pela liberdade de pensamento na Europa.  Seria um charlatão?

ATIVIDADE PARCIAL Nº 06

APÓS DIVISÃO DOS CAPÍTULOS APRESENTAR EM SEMINÁRIO O LIVRO EM QUESTÃO. RELACIONAR AOS CONCEITOS DE MARX

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SENNETT,   Richard   –  A Corrosão do caráter: conseqüências pessoais do trabalho no novo capitalismo.  Trad. Marcos Santarrita. Rio de Janeiro: Record, 1999.

Resumo: CADERNO CRH, Salvador, n. 30/31, p. 363-367, jan./dez. 1999

O livro está organizado em 8 capítulos e um apêndice, escritos numa linguagem simples e com uma profunda análise sociológica das transformações do mundo do trabalho.  

Na   primeira   parte   do   livro   o   autor   argumenta   que   o     capitalismo   vive   um   novo  momento caracterizado   por   uma   natureza   flexível,   que   ataca   as   formas   rígidas   da   burocracia,   as conseqüências da rotina exacerbada e os sentidos e significados do trabalho; criando uma situação de ansiedade nas pessoas, que não sabem os riscos que estão correndo e a que lugar irão chegar, colocando em teste o próprio senso de caráter pessoal. Nas próprias palavras do autor, caráter é (...) o valor ético que atribuímos aos nossos próprios desejos e às nossas relações com os outros, ou se   preferirmos   ...   são   os   traços   pessoais   a   que   damos   valor   em  nós  mesmos,   e   pelos   quais buscamos que os outros nos valorizem (p. 10).

Para Sennett, o novo capitalismo afeta o caráter pessoal dos indivíduos, principalmente porque não oferece condições para construção de uma narrativa linear de vida, sustentada na experiência. Ele demonstra, ao utilizar o recurso metodológico de história de vidas, como o trabalhador fordista (exemplificado  pela  história  de   vida  de  Enrico),   apesar  de   ter  o   seu   trabalho  burocratizado  e rotinizado, consegue construir uma história cumulativa baseada no uso disciplinado do tempo com expectativas a longo prazo. Já para o trabalhador flexibilizado (como no caso de Rico – filho de Enrico), as relações de trabalho, os laços de afinidade com os outros não se processam no longo prazo, em decorrência de uma dinâmica de incertezas e de mudanças constantes de emprego e de moradia que impossibilitam os indivíduos de conhecer os vizinhos, fazer amigos e manter laços com a própria família. Diante das mudanças no mundo do trabalho,  ...como se pode buscar objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? Como se podem manter relações duráveis? (p.27). Este é o grande desafio, segundo o autor, que as pessoas no contexto atual têm que enfrentar. 

Nos dias atuais, a sociedade está em contínua revolta contra o tempo rotineiro, com o trabalho taylorista/fordista,  e  assim parece endossar  as  palavras  de Adam Smith:  a   rotina embrutece  o espírito, sendo o trabalho de rotina degradante   (p. 41). Neste sentido, Sennett considera que a sociedade procura resolver o problema da rotina com a reestruturação do tempo, com instituições mais flexíveis, criando novas formas de poder e controle, sendo este um segundo elemento central de   sua   problematização.   As   novas   formas   de   poder   da   flexibilização   apresentam-se   num movimento  estrutural   que   reúne:   a   reinvenção  descontínua  de   instituição,   ou   seja,  uma   total ruptura do presente com o passado como forma de atacar a burocracia; a especialização flexível, 

isto é,  ... as empresas cooperam e competem ao mesmo tempo, buscando nichos no mercado que cada uma ocupa temporariamente, e não permanentemente, adaptando a curta vida de produto de roupas, têxteis ou peças de máquinas   (p.59);  a concentração de poder sem centralização,  que 

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aparente-mente parece dar ao trabalho em equipe maior controle sob o trabalho que desenvolve, mas   na   verdade   quem   decide   o   que   fazer     e   quando,   ainda   é   o   capitalista,   restando   aos trabalhadores apenas como fazer suas atividades. Além disso, esta nova estrutura de poder cria novas formas de controle, co mo por exemplo o trabalho em casa, no qual troca-se “o controle face-a-face” pelo controle eletrônico. 

A flexibilidade do tempo requer uma flexibilização  também do caráter, caracterizada pela ausência de apego temporal a longo prazo e pela tolerância com a fragmentação. Por esta razão Sennett argumenta que o trabalho flexível leva a um processo de degradação dos trabalhadores de ofício, pois com a introdução de novas tecnologias organizacionais, o trabalho tornou-se fácil, superficial e ilegível. Exemplifica com o caso dos padeiros de Boston que há vinte e cinco anos, na sua maioria, eram gregos e filhos de padeiros, sendo o seu trabalho caracterizado pelo contato direto com a massa do pão, com o calor dos fornos e o desgaste físico que a atividade exigia. Atualmente a padaria transformou-se numa delicatessen, fundamentada nos princípios da organização flexível, e socialmente não é mais um “estabelecimento grego”. 

Além disso, com a automação da padaria o pão tornou-se virtual, uma representação de tela para os padeiros, tendo como conseqüência a ilegibilidade da sua própria atividade realizada no referido estabelecimento, onde o trabalho tornara-se degradante porque não era mais necessário fazer pão ou ser padeiro; os laços sociais com o trabalho são rompidos, há uma perda de identidade social que o “ser padeiro” lhes conferia.  

No   regime  flexível   as   dificuldades   sempre   se   consolidam  no  ato  de   correr   riscos,   as  próprias incertezas   das   organizações   flexíveis   impõem   aos   trabalhadores   correrem   riscos   com   seus trabalhos,   colocando  em  prova  o   caráter   pessoal.   A   nova  ordem   concentra-se  na   capacidade imediata, não leva em conta que acumulação dá sentido e direito às pessoas; e daí a preferência do capitalismo pelos mais jovens, por serem mais adaptáveis às formas flexíveis de trabalho. Os riscos, além de  colocar  em questão  o   senso  de  caráter,  propiciam aos   indivíduos  um sentimento  de esvaziamento completo em todos os sentidos (moral, social, cultural ou político). O exemplo da história de Rose, apresentada pelo livro, demonstra como o risco se tornou tão desnorteante e deprimente no capitalismo flexível. 

Neste sentido, a nova ética do trabalho contribui para tal degradação humana. A ética do trabalho nos dias de hoje é o campo na qual a profundidade das experiências é contestada, fundamenta-se no   trabalho   em   equipe,   onde   os   trabalhadores   precisam   ser   polivalentes   e   adaptáveis   às circunstâncias. É um cenário onde as relações humanas são uma simulação   teatral, lugar de um poder sem autoridade.  

Um ponto claro na discussão de Sennett é que embora o trabalho flexível tente romper com a rotina e a burocracia, ele não conseguiu ainda superar o trabalho fordista, mas, pelo contrário, precarizou as relações de trabalho e os próprios homens ao extremo, assim como também a ética do trabalho em equipe não superou a ética da rotina; as duas convivem em uma relação dialética. O trabalho em equipe gera um novo tipo de caráter, onde o homem motivado dá lugar ao homem 

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irônico,   em   decorrência   de   viver   em   um   tempo   flexível,   sem   padrão   de   autoridade   e responsabilidade. Por isso o grande problema é construir uma história de vida em um capitalismo em que as pessoas estão à deriva. A resposta para esta questão encontra-se na maneira como as pessoas enfrentam o fracasso. 

Na atualidade o fracasso é um fenômeno social  que atinge todas as pessoas,  é  o grande tabu moderno, para o qual os livros de auto-estima não dispõem de fórmulas prontas. Os tabus que rondam o fracasso significam que ele é uma experiência que muitas vezes se apresenta de maneira confusa,  e,  portanto,  a  solução para enfrentar   tal  problema precisa ser  coletiva,  é  através  das experiências   compartilhadas   que   se   encontra   a   saída.   No   livro   a   história   dos   programadores demitidos da IBM mostra que para se enfrentar o fracasso é necessário recuperar o senso coerente entre o eu e o tempo, através da discussão partilhada dos problemas com os outros. E por isso, um senso  de   comunidade  e  de   caráter  mais   amplos   se   fazem necessários  para   combater  o  novo capitalismo, numa sociedade em que as pessoas  estão cada vez mais condenadas a fracassar.

Além disso, outro grande dilema desafia o caráter neste novo capitalismo: quem precisa de mim, em um regime onde as relações entre as pessoas no trabalho são superficiais e descartáveis e os laços de lealdade, confiança e compromisso mútuo se afrouxam em decorrência das experiências de curto prazo? O problema do caráter nesse tipo de capitalismo é que há história, mas não existe narrativa partilhada com os outros e, assim, o caráter se corrói.  O pronome “nós” é um perigo gigantesco para os capitalistas que vivem da desordem da economia e temem a organização e o ressurgimento dos sindicatos,  e  por   isso,     (...)  um regime que não oferece aos seres  humanos motivos para ligarem uns para os outros não pode preservar sua legitimidade por muito tempo (p.176)  Por fim, o grande mérito do autor deste livro é que de maneira feliz e criativa, aborda as questões   sobre   o   trabalho   e   caráter   numa   sociedade   que  mudou   radicalmente,   conseguindo combinar narrativas históricas e teorias sociais. Ao mesmo tempo que recorre às entrevistas, ele também se utiliza de dados estatísticos e econômicos.  

Quando explora a problemática da flexibilização demonstra quais são os impactos sociais que este novo regime traz para o trabalho e as suas implicações sobre a vida pessoal, desde à depressão à corrosão do caráter. 

Um elemento importante e fundamental, que se destaca no livro, é como o trabalho assume uma centralidade indispensável nas  narrativas de Enrico, 

Rico, Rose e dos programadores da IBM, mostrando, desta maneira, que o trabalho é uma arena onde as pessoas se afirmam ou se negam em termos de senso de si mesmas, dotando de sentido ou não as suas vidas e se reconhecendo ou não nos outros. O trabalho continua sendo  um valor ético, pelo qual sempre nos pautamos para construirmos uma identidade forte e com laços vindouros. Embora a temática apresentada esteja se referindo especialmente à realidade norte-americana, com todas as peculiaridades históricas, sociais, políticas e culturais que já conhecemos, ela se aplica também à realidade latino-americana e brasileira. O livro faz com que o leitor se desdobre diante dos próprios questionamentos que ele traz, questionando sobre as nossas próprias histórias de 

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vida, e sobre como estamos enfrentando os fracassos e construindo as nossas narrativas em um sistema   capitalista   que   valoriza   o   descartável,   o   volúvel,   o   curto   prazo,   e,   acima   de   tudo,   o individualismo.   Induz   a     pensar   sobre   os   nossos   laços   sociais   com  os   outros,   sobre   a   nossa concepção de caráter, e a fazer a seguinte pergunta:  “QUEM PRECISA DE MIM”?.