assédio moral no trabalho: caracterização e consequências

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ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO:CARACTERIZAÇÃO E CONSEQUÊNCIAs

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PAULO EDUARDO VIEIRA DE OLIVEIRA

ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO:CARACTERIZAÇÃO E CONSEQUÊNCIAs

Juiz do trabalho livre-docente em Direito do Trabalho pela USP.Professor de Direito do Trabalho da USP.

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EDITORA LTDA.

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R

Oliveira, Paulo Eduardo Vieira de

Assédio moral no trabalho : caracterização e consequências/ Paulo Eduardo Vieira de Oliveira. — São Paulo : LTr, 2013.

1. Ambiente de trabalho 2. Assédio moral 3. Dano moral4. Indenização 5. Medicina do trabalho 6. Direito do trabalho I. Título.

13-03381 CDU-34:331.101.37

1. Ambiente de trabalho : Assédio moral : Direito do trabalho 34:331.101.37

2. Assédio moral : Ambiente do trabalho : Direito do trabalho 34:331.101.37

Versão impressa - LTr 4772.7 - ISBN 978-85-361-2622-7

Versão digital - LTr 7664.5 - ISBN 978-85-361-2779-8

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1 — O ASSÉDIO MORAL

COMO FENÔMENO PSICOLÓGICO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11

2. DENOMINAÇÃO ..................................................................................................... 12

3. CONCEITO ............................................................................................................. 14

CAPÍTULO 2 — O ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO:CONCEITO, CARACTERÍSTICAS E DIMENSÕES.

1. NOÇÕES PRELIMINARES .......................................................................................... 17

2. A OIT E A VIOLÊNCIA NO TRABALHO ...................................................................... 22

3. DEFINIÇÃO DE ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO ......................................................... 22

4. CARACTERÍSTICAS DO ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO .............................................. 29

4.1. ATENTADOS ÀS CONDIÇÕES DE TRABALHO ...................................................... 31

4.2. ISOLAMENTO E RECUSA DE COMUNICAÇÃO ...................................................... 36

4.3. ATENTADOS À DIGNIDADE.............................................................................. 38

4.4. VIOLÊNCIA VERBAL, FÍSICA OU SEXUAL ........................................................... 42

4.5. O CARÁTER REPETITIVO E SISTEMÁTICO DA CONDUTA DO AGRESSOR ................. 43

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5. DIMENSÕES DO ASSÉDIO MORAL .............................................................................. 44

5.1. DIMENSÃO LABORAL ...................................................................................... 44

5.2. DIMENSÃO SOCIAL ......................................................................................... 45

6. DISTINÇÃO DE FIGURAS AFINS ................................................................................. 45

CAPÍTULO 3 — ESPÉCIES DE ASSÉDIO MORAL NO

TRABALHO E SUA CONFIGURAÇÃO

1. ESPÉCIES DE ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO ............................................................ 47

1.1. ASSÉDIO MORAL DESCENDENTE ...................................................................... 47

1.2. ASSÉDIO MORAL HORIZONTAL ........................................................................ 51

1.3. ASSÉDIO MORAL ASCENDENTE ........................................................................ 53

1.4. ASSÉDIO MORAL MISTO .................................................................................. 54

1.5. ASSÉDIO MORAL INSTITUCIONAL ..................................................................... 54

2. CONFIGURAÇÃO DO ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO ................................................ 57

CAPÍTULO 4 — SUJEITOS DO ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

1. SUJEITO ATIVO: O ASSEDIANTE ................................................................................. 60

2. SUJEITO PASSIVO: A VÍTIMA ..................................................................................... 62

CAPÍTULO 5 — AS CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

1. CONSEQUÊNCIAS PARA O TRABALHADOR ................................................................. 66

1.1. O TRABALHADOR COMO VÍTIMA ..................................................................... 66

1.2. O TRABALHADOR COMO ASSEDIADOR ............................................................. 69

2. CONSEQUÊNCIAS PARA O EMPREGADOR: COMO ASSEDIADO E COMO AGRESSOR .......... 71

3. CONSEQUÊNCIAS PARA O ESTADO ............................................................................ 73

CAPÍTULO 6 — A INDENIZAÇÃO POR ASSÉDIO MORAL:FUNDAMENTOS E MÉTODOS DE FIXAÇÃO DO

VALOR DA INDENIZAÇÃO TRABALHISTA

1. FIXAÇÃO DO QUANTUM DA INDENIZAÇÃO ............................................................... 75

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1.1. POR ARBITRAMENTO ...................................................................................... 76

1.2. POR CÁLCULO ............................................................................................... 76

1.3. ATRAVÉS DE FIXAÇÃO PELO JUIZ. .................................................................... 77

CAPÍTULO 7 — A PREVENÇÃO DO ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO

1. MUDANÇAS NAS CONDIÇÕES DE TRABALHO ............................................................ 81

2. MUDANÇAS NO COMPORTAMENTO DA DIREÇÃO ...................................................... 81

3. MELHORIA DA POSIÇÃO SOCIAL DE CADA INDIVÍDUO ............................................... 82

4. MELHORIA DO PADRÃO DE MORALIDADE DO SETOR ................................................. 82

5. MELHORIA DO RELACIONAMENTO COM OS SINDICATOS ............................................ 83

CAPÍTULO 8 — JURISPRUDÊNCIA SOBRE OASSÉDIO MORAL NO TRABALHO NO BRASIL

1. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO — TST........................................................... 84

2. POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS REGIONAIS DO TRABALHO .................................. 91

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 99

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INTRODUÇÃO

Uma das mais fortes razões que explicam o interesse crescente que otema assédio moral tem despertado na sociedade e nas ciências de um modogeral é a consolidação de um corpo de conhecimentos, abrangente esistemático, sobre a sua incidência.

Atualmente é impossível negar a existência deste fenômeno e o seuimpacto nos indivíduos, nas organizações e na sociedade de uma forma geral.

Um contingente cada vez maior de pessoas tem sido vítima do assédiomoral, levando os doutrinadores e os Tribunais a se manifestarem concre-tamente quanto a esse fenômeno.

O presente estudo pretende abordar o tema do assédio moral no Direitodo Trabalho.

O significado do trabalho para homens e mulheres identifica-se com aprópria vida; constitui percepções determinadas socialmente e que, interna-lizadas como signos sociais, configuram modos diferentes de pensar, agir esentir. Nesse sentido, o sentido do trabalho constitui um processo resultantede um contexto de interações e construções sociais que envolvem o campo daautorrealização, da independência, da valorização e da sobrevivência,envolvendo um intrincado jogo de sentimentos, emoções, pensamentos,desejos e necessidades.(1)

Inicialmente procurar-se -á efetuar uma caracterização do assédio moraldo ponto de vista psicológico, com a identificação de suas principaiscaracterísticas.

A denominação adotada será sempre assédio moral, vez que os outrostermos encontrados (sendo os mais comuns mobbing e bullying) têm o mesmo

(1) BARRETO, Margarida. Violência, saúde e trabalho (uma jornada de humilhações). São Paulo: PUCSP,2006. p. 127-128.

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significado, não sendo necessária a utilização do termo inglês, conforme seexplicará no capítulo primeiro.

Posteriormente far-se-á uma transposição do conceito sob o ponto devista psicológico para o Direito e, mais precisamente, para o Direito doTrabalho, com todas suas implicações e consequências.

O local de trabalho, onde empregado e empregador passam a maior partedo dia, representa uma indiscutível fonte de tensões entre os indivíduos queo compõem e que explodem, na maior parte das vezes, sob a forma depequenos conflitos, ainda que graves, mas esquecidos, passado o calor daemoção.

O problema ocorre quando essas tensões se concentram sob uma únicavítima de forma protelada no tempo, podendo levá-la à exclusão e margi-nalização e, não raro, à sua deterioração psicológica, ocasionando doençaspor vezes incuráveis.(2)

Parte-se da hipótese de que o assédio moral trabalhista caracteriza-sepela degradação das condições de trabalho mediante condutas negativas daspartes integrantes do contrato de trabalho, constituindo expediente queacarreta prejuízos para as partes, para a empresa, para o Estado e para asociedade em geral.

A Constituição Federal tem como um de seus princípios fundamentais adignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III). A Carta também vedaquaisquer tipos de discriminações em razão de cor, sexo, idade, preferênciareligiosa, dentre outros motivos (arts. 5º, I e 7º, XXX).

O objetivo da pesquisa é, assim, estudar o assédio moral em toda suaabrangência, com sua caracterização sob o ponto de vista psicológico etrabalhista, suas modalidades, os sujeitos ativos e passivos, as consequênciasde sua ocorrência para todas as partes envolvidas, e o cálculo da indenizaçãocompensatória.

Por último será feito um levantamento da jurisprudência do TribunalSuperior do Trabalho e dos Tribunais Regionais do Trabalho da 2ª, 3ª e 15ªRegiões.

(2) PARREIRA, Isabel Ribeiro. O assédio moral no local de trabalho. Separata da Obra V Congresso Nacionalde Direito do Trabalho. Coimbra: Almedina, 2003. p. 209-210.

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CAPÍTULO 1

O ASSÉDIO MORAL COMOFENÔMENO PSICOLÓGICO

1. INTRODUÇÃO

Antes do início do estudo do assédio moral sob o ponto de vista doDireito, mais especificamente do Direito do Trabalho, cabe fazer suacaracterização como fenômeno psíquico que é.

Inicialmente é preciso frisar que as relações humanas são muitocomplexas, e que existem muitas diferenças entre as pessoas. Dessa forma,tanto nas relações conjugais, como nas familiares, sociais ou na empresa podemsurgir situações em que uma pessoa se sinta humilhada, agredida ou hostili-zada por outra, e nem por isso teremos aí um fenômeno jurídico, mas social.Assim, a proposta do presente trabalho não é definir todas as situações emque pode ocorrer o assédio moral, mas, antes disso, entender um pouco melhoras relações entre as pessoas e evitar consequências decorrentes do assédioque possam prejudicá-las.

O assédio moral é um fenômeno psíquico-social cuja existência é tãoremota quanto a de qualquer grupo ou coletividade. Atitudes hostis e agres-sivas de um determinado indivíduo em relação a outro sempre ocorreramem qualquer contexto social e, por isso, também podem ocorrer no ambientede trabalho, onde homens e mulheres passam grande parte do seu dia e paraonde transportam o melhor e o pior de sua condição humana.(3)

No mundo de competição e consumismo em que vivemos, é inequívocoafirmar que as formas predominantemente psicológicas de comportamentos

(3) REDINHA, Maria Regina Gomes. Assédio moral ou mobbing no trabalho. Separata de Estudos emhomenagem ao professor doutor Raúl Ventura. Coimbra: Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa,2003. p. 833.

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agressivos são mais frequentes que agressões físicas. Além disso, diversosestudos têm demonstrado que essa violência psicológica tem efeitos maisdevastadores que a violência física. Ocorre que esse tipo de violência nãoatinge apenas a vítima diretamente, mas também seus familiares, amigos,vizinhos e toda a sociedade de forma geral.

O Estado também é atingido pela violência psicológica, seja de formadireta, custeando o tratamento médico das vítimas, seja de forma indireta,arcando com os efeitos decorrentes dos afastamentos previdenciários.

Como situação de violência psicológica, o assédio pode ter diferentesmotivações, autores distintos e manifestar-se em várias condutas abusivasdiversas. Porém, tem sempre em sua origem uma situação de abuso de poder,seja na família, seja na sociedade, seja no trabalho.(4)

Os fatores que podem levar ao comportamento caracterizador do assédiomoral são diversos e variados. Vão desde as características de personalidadedo agressor, características de personalidade e físicas do agredido, a dinâmicado grupo onde o agressor e agredido se inserem, bem como as característicasda empresa onde trabalham.

Assim, uma mãe que tem ciúmes ou inveja da filha, um casal que temproblemas de relacionamento, um problema de inveja entre irmãos, umpotencial “concorrente” na empresa, dentre outros fatores, são suficientespara iniciar ou justificar um comportamento assediante.

O assédio moral pode se caracterizar de diversas formas distintas comochantagem afetiva, ignorância, humilhações, degradações, desqualificações,exclusão, falta de reconhecimento, falta de consideração, encorajamento àautodestruição etc. Toda esta violência cotidiana inicia-se no seio da família eé esta aprendizagem que os assediadores veiculam fora da família, no lugarpúblico que é a vida profissional ou associativa.(5)

Ariana Bilheran afirma, a título de exemplo, que Sócrates foi um caso de“assédio público”, e que a condenação de Sócrates foi fruto de intrigaoligárquica que não mais suportava este personagem que criticava sua políticaguerreira e suas injustiças.(6)

2. DENOMINAÇÃO

Tanto a literatura científica, como os diferentes autores e instituições,utilizam diversas denominações para se referirem ao assédio moral, nãoexistindo ainda uma designação que seja utilizada universalmente.

(4) FERREIRA, Andréa. Assédio moral no local de trabalho. Tese de Mestrado em Ciências Jurídicas.Lisboa, 2005. p. 11.(5) BILHERAN, Ariane. Le harcèlement moral. Paris: Armand Clin, 2006. p. 27.(6) BILHERAN, Ariane. Op. cit., p. 16-17.

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Na literatura internacional, mobbing e bullying são os termos maisutilizados pela generalidade dos autores para designar essa forma específicade violência psicológica, chegando alguns a utilizar indistintamente os doistermos, embora haja autores que se utilizam de outras terminologias, comoterror psicológico, emotional abuse, workplace trauma etc.

O termo mobbing é utilizado predominantemente na Alemanha, Suíça,Itália e nos Estados Unidos, enquanto o termo bullying é utilizado na Inglaterra,Irlanda, Austrália e Canadá.

Simultaneamente, mas não coincidindo com esta distribuição geográfica,existem duas tradições na literatura que, estudando o fenômeno da exclusãosocial por assédio psicológico, remetem o uso do termo bullying para nomearas atitudes hostis ocorridas no ambiente escolar, entre os alunos, e o termomobbing para a violência psicológica a que estão sujeitos os trabalhadores noambiente de trabalho, que é originada dentro da empresa e é entendida comoum dos fatores de estresse no trabalho.

Deste modo, assumindo que os dois termos têm em comum o fato dedesignarem um fenômeno interpessoal de estigmatização e exclusão de umapessoa ou grupo, Leymann distinguiu-os e sugeriu que se reservasse o termomobbing para o comportamento de agressão dos adultos no trabalho,caracterizado por uma grande violência psicológica, e que se utilizasse o termobullying para a violência perpetrada pelas crianças e jovens na escola, marcadapor atos de agressão física.(7)

Heinz Leymann, psicólogo nascido na Alemanha, foi o primeiro a estudarprofundamente o fenômeno do assédio moral e a escolher o termo mobbingpara o qualificar na língua inglesa. Derivado do verbo inglês to mob (que signi-fica atacar, maltratar), este vocábulo oferecia a designação adequada àclassificação dos relatos feitos pelas vítimas, das situações que tinham passadoou ainda estavam passando, ou seja, uma forma de terrorismo psicológicocaracterizado por ações e comportamentos de hostilização, realizados de formasistemática e continuada no tempo, por um indivíduo o grupo, contra umapessoa.

Embora haja amplo uso internacional do termo mobbing, este não temtradução direta para as línguas latinas. Por esta razão, a psiquiatra francesaMarie-France Hirigoyen, ao estudar o tema e querer utilizar uma denominaçãona sua língua de origem, criou a expressão “assédio moral”, caracterizando--o como comportamento característico de uma “relação perversa”, em que oagressor perverso atua de forma dissimulada mas insidiosa, para encurralare humilhar a vítima, empurrando-a para uma espiral depressiva.

(7) LEYMANN, Heinz. The content and development of mobbing at work. In: European Journal of Workand Organizational Psychology, v. 5, n. 2, p. 31, 1996.

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Para Marie-France Hirigoyen, o termo “assédio” é utilizado comosignificado de ataques constantes e repetidos que, neste caso, ameaçam aintegridade psicológica da pessoa a quem são dirigidos. O termo “moral” éescolhido com o sentido de uma “tomada de posição” que pretende assinalaros comportamentos que não são aceitáveis na vida em sociedade, pois afetamo bem-estar psicológico de outra pessoa.(8)

Segundo o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, o substantivomasculino “assédio” tem um significado original de operação militar queestabelece cerco a um território com a finalidade de exercer o domínio sobreele, e um significado figurativo de insistência impertinente, perseguição,sugestão ou pretensão constantes em relação a alguém. Já o termo moral temtrês dimensões de significado, consoante sua utilização sintática. Comosubstantivo masculino significa o estado de espírito ou a disposição de umapessoa para agir. Como substantivo feminino significa o conjunto de valoresorientadores das relações sociais e do comportamento humano, e comoadjetivo, aquilo que é próprio da moral ou pertencente ao espírito humano,os costumes, os valores, as regras e os estudos filosóficos sobre o bem e omal.(9)

O termo inclui, em síntese, duas dimensões de significado: uma querespeita os fenômenos da vida mental, no âmbito da motivação e da atitude,num sentido próximo de outras expressões que são utilizadas na linguagemcomum, como a “moral da equipe”; e outra dimensão, de significado referenteaos valores dos costumes e do comportamento humano.

Assim, a expressão “assédio moral” remete diretamente para a ideia deuma perseguição ao estado de espírito da vítima, com um efeito desmora-lizador, atuando de forma contrária aos valores pelos quais se devem pautaro comportamento em sociedade e as relações humanas, razão pela qual será aterminologia utilizada no presente trabalho.

3. CONCEITO

O termo “assédio” é genérico e engloba diversas espécies (físico, sexual,moral). Tal como não existe uma única designação, também não existe umadefinição aceita por todos que estudam o fenômeno.

O assédio moral pode ser entendido, genericamente, como o compor-tamento de um indivíduo ou de um grupo que visa a destruição psicossomática

(8) HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral. A violência perversa no cotidiano. 8. ed. Tradução de MariaHelena Kuhner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 32.(9) HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. 1. ed. Rio deJaneiro: Objetiva, 2001. p. 36.

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de outro indivíduo ou outro grupo mediante pressões reiteradas destinadasa obter, à força, qualquer coisa contra sua vontade e, assim fazendo, suscitandoe entretendo no indivíduo um estado de terror.

Isabel Ribeiro Parreira ensina que o assédio moral, de modo geral, podeser caracterizado por comportamentos com as seguintes características:

“a) Uma perseguição ou submissão da vítima a pequenos ataquesrepetidos;

b) constituída por qualquer tipo de atitude por parte do assediador,não necessariamente ilícita em termos singulares, e concretizadade várias maneiras (por gestos, palavras, atitudes, omissões etc.), àexceção de condutas, agressões ou violações físicas;

c) que pressupõe motivações variadas por parte do assediador;

d) que, pela sua repetição ou sistematização no tempo;

e) e pelo recurso de meios insidiosos, subtis ou subversivos, nãoclaros nem manifestos, que visam a diminuição da capacidade dedefesa do assediado;

f) criam uma relação assimétrica de dominante e dominado psicolo-gicamente;

g) no âmbito da qual a vítima é destruída na sua identidade;

h) o que representa uma violação da dignidade pessoal e profissionale, sobretudo, da integridade psicofísica do assediado;

i) com fortes danos para a saúde mental deste;

j) colocando em perigo a manutenção de seu emprego;

k) e/ou degradando o ambiente laboral.”(10)

Como o assédio moral foi identificado inicialmente no campo psicológicoe, visando uma maior facilidade para a compreensão e estudo deste fenômeno,cabe a análise dos conceitos elaborados pelos estudiosos da psicologia.

Assim sendo, a psiquiatra, psicanalista e psicoterapeuta de família Marie--France Hirigoyen conceitua o assédio moral como sendo “qualquer condutaabusiva (gesto, palavra, comportamento atitude...) que atente, por sua repe-tição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou

(10) PARREIRA, Isabel Ribeiro. O assédio moral no trabalho. Separata da Obra V Congresso Nacional deDireito do Trabalho, Coimbra: Almedina, 2003. p. 213-214.

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física de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima detrabalho”.(11)

Marie-France Hirigoyen entende, ainda, que os assediadores são, namaioria das vezes, pessoas com problemas de autoconceito, que precisamsentir que tem poder sobre os outros e que usam o assédio para se sentirempoderosos. Dessa forma, todas as pessoas que possuam as característicasdesejadas pelo agressor seriam potenciais vítimas.(12)

Neste mesmo sentido, Patrícia Piovessan e Paulo César Rodriguesconceituam: “Assédio Moral é todo comportamento abusivo (gesto, palavra eatitude) que ameaça, por sua repetição, a integridade física ou psíquica deuma pessoa. São microagressões, pouco graves se tomadas isoladamente, masque, por serem sistemáticas, tornam-se destrutivas”.(13)

Para Leymann, o assédio moral “envolve uma comunidade hostil econtrária à ética, dirigida sistematicamente por um ou alguns indivíduossobretudo contra um indivíduo que é, assim, colocado numa posição deimpotência e vulnerabilidade e aí mantido pela continuação das atividadesdo mobbing”.(14)

Já para Vartia, o assédio moral é “a ocorrência de sérias e recorrentesações negativas e comportamentos que irritam e oprimem, durante um tempoprolongado”.(15)

Hoel e Cooper definem o assédio moral como sendo “uma situação ondeum ou vários indivíduos percebe estar sendo alvo de ações negativas porparte de uma ou várias pessoas, persistentemente, durante um período detempo, tendo dificuldade em defender-se dessas ações”.(16)

Salin, por sua vez, ensina que pode se entender como assédio moral“todos os atos negativos, repetidos e persistentes, dirigidos a um ou váriosindivíduos, criando um ambiente hostil. A pessoa alvo tem dificuldade em sedefender, não sendo, portanto, um conflito entre partes de igual força”.(17)

Após a análise das definições supraverifica-se a presença de trêscaracterísticas comuns e relevantes, que serão estudadas no próximo tópico.

(11) HIRIGOYEN, Marie-France. Mal-estar no trabalho — redefinindo o assédio moral. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil, 2002. p. 17.(12) HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio moral. A violência perversa no cotidiano. 8. ed. Tradução deMaria Helena Kuhner. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. p. 32.(13) Disponível em: <http://www.assediomoral.com.br> Acesso em: 6.4.2006.(14) LEYMANN, Heinz. Op. cit., p. 168.(15) VARTIA, M. The sources of bullying. In: European Journal of Work and Organization Psychology,Lisboa, n. 5, p. 203, 1996.(16) HOEL, H.; COOPER, C. Destrutive conflict and bullying at work. Manchester: University of Manchester— Institute of Cience and Technology (UMIST), 2000. p. 5.(17) SALIN, D. Prevalence and forms of bullying among business professionals: a comparison of twodifferent strategies for measuring bullying. In: European Journal of Work and Organizational Psychology,Lisboa, p. 43, 2001.

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