aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica

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1 Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica. Fredie Didier Jr. Professor-adjunto de Direito Processual Civil da Universidade Federal da Bahia (graduação, especialização, mestrado e doutorado). Mestre (UFBA) e Doutor (PUC/SP). Advogado (Bahia e Pernambuco). Sumário. 1. Consideração introdutória. – 2. A premissa constitucional da teoria da desconsideração da personalidade jurídica: a função social da propriedade. – 3. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica: generalidades. – 4. A citação dos sócios e o devido processo legal. – 5. Notas ao Projeto de Lei n. 2.426/2003, que disciplina o procedimento de aplicação da sanção da desconsideração da personalidade jurídica. – 6. Íntegra do Projeto de Lei n. 2.426/2003. – 7. Bibliografia. 1 Consideração introdutória. O CC-2002 consagrou o instituto da desconsideração da pessoa jurídica (art. 50). Cumpre ao direito processual, então, criar os mecanismos para efetivá-lo. É preciso, portanto, processualizá-lo. O objetivo deste ensaio é examinar alguns dos aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica, partindo de duas premissas dogmáticas: a necessidade de preservação da garantia do contraditório e a de que a desconsideração é uma sanção e, como tal, somente poderia ser aplicada se respeitado o devido processo legal (passe o truísmo). 2 A premissa constitucional da teoria da desconsideração da personalidade jurídica: a função social da propriedade. A exploração da atividade econômica, pela via empresarial, é manifestação do direito de propriedade. “A jurisprudência alemã reconhece

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Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica.

Fredie Didier Jr. Professor-adjunto de Direito Processual Civil da Universidade Federal da Bahia (graduação, especialização, mestrado e doutorado). Mestre (UFBA) e Doutor (PUC/SP). Advogado (Bahia e Pernambuco).

Sumário. 1. Consideração introdutória. – 2. A premissa constitucional da teoria da desconsideração da personalidade jurídica: a função social da propriedade. – 3. A teoria da desconsideração da personalidade jurídica: generalidades. – 4. A citação dos sócios e o devido processo legal. – 5. Notas ao Projeto de Lei n. 2.426/2003, que disciplina o procedimento de aplicação da sanção da desconsideração da personalidade jurídica. – 6. Íntegra do Projeto de Lei n. 2.426/2003. – 7. Bibliografia.

1 Consideração introdutória.

O CC-2002 consagrou o instituto da desconsideração da pessoa jurídica (art. 50). Cumpre ao direito processual, então, criar os mecanismos para efetivá-lo. É preciso, portanto, processualizá-lo.

O objetivo deste ensaio é examinar alguns dos aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica, partindo de duas premissas dogmáticas: a necessidade de preservação da garantia do contraditório e a de que a desconsideração é uma sanção e, como tal, somente poderia ser aplicada se respeitado o devido processo legal (passe o truísmo).

2 A premissa constitucional da teoria da desconsideração da

personalidade jurídica: a função social da propriedade.

A exploração da atividade econômica, pela via empresarial, é manifestação do direito de propriedade. “A jurisprudência alemã reconhece

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que o ‘direito ao exercício de uma exploração empresarial organizada’ constitui objeto da garantia constitucional da propriedade”.1

A personalidade jurídica das sociedades é instrumento fundamental para a chamada iniciativa privada, realizando importantíssimo papel na propulsão da atividade econômica — na verdade, o sistema de apropriação privada dos bens de produção, como o nosso, se organiza fundamentalmente em empresas. É possível, assim, relacionarmos o princípio da livre iniciativa (parágrafo único do art. 170, CF/88) com o também princípio constitucional da função social da propriedade (art. 5º, XXIII e art. 170, III). É possível falar, portanto, em função social da pessoa jurídica empresária, corolário da função social da propriedade, o que acaba por demonstrar a relação existente entre esses dois princípios constitucionais

Para continuar a análise, torna-se fundamental estabelecer a distinção entre bens de produção e bens de consumo. No atual contexto histórico—em que a vida social orienta-se para a produção e distribuição de bens em massa— esta distinção assume grande relevância.2 Esta classificação se funda na destinação que se lhes dê, e não na sua natureza ou consistência: instrumento de produção ou coisa consumível.3

Prossegue COMPARATO: “Especificamente no tocante aos bens de produção, a propriedade, no sentido que resulta da norma do art. 524 do Código Civil, veio a ser profusamente confundida com o poder de controle empresarial. Mas a partir do momento em que a empresa é criada, com a organização do trabalho alheio, já não há confundir o direito absoluto sobre o capital com o poder de organização e comando das forças produtivas.”4

Nem sempre o proprietário da empresa coincide com o controlador; nem sempre o controlador é quem tem maioria do capital etc. As figuras de controlador e proprietário são distintas. Conclui, mais adiante, COMPARATO: “...em se tratando de bens de produção, o poder-dever do proprietário de dar à coisa uma destinação compatível com o interesse da coletividade transmuda-se, quando tais bens são incorporados a uma exploração empresarial, em poder-dever do titular do controle de dirigir a empresa para a realização dos interesses coletivos”.5

1 COMPARATO, Fábio Konder. Direitos e deveres fundamentais em matéria de propriedade. A questão agrária e a justiça. Juvelino José Strozake (org.). São Paulo: RT, 2000, p. 139, nota 25. 2 COMPARATO, Fábio Konder. “Função Social da Propriedade de Bens de Produção”. Direito Empresarial. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 29. 3 Sobre o assunto, mais longamente, COMPARATO, Fábio Konder. “Função Social da Propriedade de Bens de Produção”, cit., p. 29-31. 4 COMPARATO, Fábio Konder. “Função Social da Propriedade de Bens de Produção”, cit., p. 32. 5 COMPARATO, Fábio Konder. “Função Social da Propriedade de Bens de Produção”, cit., p. 34.

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FLÁVIA LEFÈVRE GUIMARÃES posicionou-se no sentido de que a personalidade jurídica (das sociedades empresariais) é manifestação do direito de propriedade, devendo, da mesma maneira, obedecer à sua função social.6

Subjacente à finalidade da sociedade, está a vontade de seus membros, que, depois de fixada em forma de objeto nos estatutos de constituição, ganha autonomia e independência com relação à vontade daqueles que a compõem. Os membros da sociedade recebem os frutos do resultado da atividade desenvolvida pelo ente personalizado, e como a propriedade significa o direito de usufruir, dispor e gozar de algo, a empresa ou sociedade é para seus membros um bem por meio do qual se exercem esses direitos. O bem jurídico constitui-se justamente na possibilidade de revestir de personalidade jurídica a concretização de vontades individuais, acompanhada de todos os apetrechos necessários para a sua consecução, bem como a autonomia patrimonial que daí surge e a limitação da responsabilidade dos sócios, fundamentais para incentivar o desenvolvimento da atividade econômica. O objeto da propriedade é a cota social —que confere ao sócio duas espécies de direito: uma patrimonial, relativa ao crédito; outra pessoal, relativa ao status de sócio.7

É com base nesta função social da sociedade empresarial que floresceu a teoria da desconsideração da pessoa jurídica, como forma de evitar os abusos que se vinham cometendo com as manipulações do instituto da pessoa jurídica —basta que se verifiquem as hipóteses clássicas que autorizavam o manejo desta técnica de responsabilização patrimonial dos sócios (abuso e fraude). Também com base nisso é que se pode analisar a

6 GUIMARÃES, Flávia Lefèvre. A desconsideração da personalidade jurídica no Código de Defesa do Consumidor — Aspectos processuais. São Paulo: Max Limonad, 1998, p. 24. 7 GUIMARÃES, Flávia Lefèvre. A desconsideração da personalidade jurídica no Código de Defesa do Consumidor, cit., p. 29-30. Ainda: “Deve, porém, ter-se presente que a pessoa jurídica é instrumental. Sua reconhecida autonomia não a transforma num ente abstrato e totalmente alheio às pessoas dos sócios. Basta verificar que, pertencendo aos sócios tanto o capital quanto os frutos do capital, o patrimônio da pessoa jurídica é, através da ação ou quota social, expressão também do patrimônio dos sócios”. (AMARO, Luciano. “Desconsideração da pessoa jurídica no CDC”. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: RT, n. 5, p. 169.) Mais uma vez FÁBIO CC OMPARATOOMPARATO, em seu clássico livre sobre o poder de controle: “Ora, não existem em direito interesses e relações que não digam respeito unicamente aos homens. Por conseguinte, toda a disciplina jurídica concernente às pessoas jurídicas reduz-se, finalmente, a uma disciplina de interesses dos homens que as compõem, uomini nati da ventre di donna, como enfatizava. Toda e qualquer hipóstase, aí, é de rejeitar-se. A esse respeito, Ascarelli relembra a as conhecida interpretação da sociedade como um contrato plurilateral e afirma que as ações em que se divide o capital de uma sociedade anônima nada mais são do que ‘bens de segundo grau’”. (COMPARATO, Fábio Konder. O Poder de Controle na Sociedade Anônima. 3ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 267-268).

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técnica da despersonalização, mais radical, que implica a própria dissolução da entidade ou da cassação da autorização para o seu funcionamento.8

JOSÉ AFONSO DA SILVA, após asseverar que a função social aplica-se a todas as espécies de propriedade, afirma que, correlacionando este princípio com o princípio da valorização do trabalho humano (art. 170, caput, CF/88), a defesa do consumidor (art. 170, V, CF/88), a defesa do meio-ambiente (art. 170, VI, CF/88), a redução das desigualdades regionais e sociais (art. 170, VII) e a busca do pleno emprego (art. 170, VIII, CF/88), tem configurada a sua direta implicação com a propriedade dos bens de produção, “especialmente imputada à empresa pela que se realiza e efetiva o poder econômico, o poder de dominação empresarial”. Conclui, mais adiante: “...a iniciativa econômica privada é amplamente condicionada no sistema da constituição econômica brasileira. Se ela se implementa na atuação empresarial, e esta se subordina ao princípio da função social, para realizar ao mesmo tempo o desenvolvimento nacional, assegurada a existência digna de todos, conforme ditames da justiça social, bem se vê que a liberdade de iniciativa só se legitima quando voltada à efetiva consecução desses fundamentos, fins e valores da ordem econômica.”9

EROS ROBERTO GRAU examina o problema de outra forma, embora chegue a conclusões semelhantes. Assevera que a disciplina da propriedade é elemento que se insere no processo produtivo, e que este particular enfoque pertine unicamente aos bens de produção. Isto leva a que se delineie um novo perfil do direito de propriedade: a fase dinâmica. E como os bens de produção são postos em dinamismo, no capitalismo, em regime de empresa, visualiza-se o fenômeno como função social da empresa.10

A pessoa jurídica é, portanto, um instrumento técnico-jurídico desenvolvido para facilitar a organização da atividade econômica. Se assim

8 “Importa, no entanto, distinguir entre despersonalização e desconsideração (relativa) da personalidade jurídica. Na primeira, a pessoa coletiva desaparece como sujeito autônomo, em razão da falta original ou superveniente das suas condições de existência, como, por exemplo, a invalidade do contrato social ou a dissolução da sociedade. Na segunda, subsiste o princípio da autonomia subjetiva da pessoa coletiva, distinta da pessoa de seus sócios ou componentes; mas essa distinção é afastada, provisoriamente e tão-só para o caso concreto”. (COMPARATO, Fábio Konder. O Poder de Controle na sociedade anônima, cit., p. 283.) 9 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 11ª ed. São Paulo: Malheiros, 1996, p. 745. 10 GRAU, Eros Roberto. A Ordem Econômica na Constituição de 1988. 6a ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 267-268.

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é, o caráter de instrumentalidade implica o condicionamento do instituto ao pressuposto do atingimento do fim jurídico a que se destina11.

A pessoa jurídica é técnica criada para o exercício da atividade econômica e, portanto, para o exercício do direito de propriedade. A chamada função social da pessoa jurídica (função social da empresa) é corolário da função social da propriedade, já tão estudada e expressamente prevista na Constituição Federal.

O estudo da desconsideração da personalidade jurídica, portanto, deve iniciar-se desta premissa: é indispendável a análise funcional do instituto da pessoa jurídica, a partir da análise também funcional do direito de propriedade, para que se possa compreender corretamente a desconsideração, que, em teoria geral do direito, é sanção aplicada a ato ilícito (no caso, a utilização abusiva da personalidade jurídica).

Eis, portanto, a premissa constitucional da teoria da desconsideração da personalidade jurídica.

3 A teoria da desconsideração da personalidade jurídica:

generalidades. Há situações em que a utilização da pessoa jurídica é feita ao

arrepio da sua função. Não raras vezes, surgem notícias de utilização indevida do ente moral para fins de locupletamento pessoal dos sócios, ocultos pela aparente licitude da conduta da sociedade empresária.

É forçoso admitir que, nesses casos, assim como o direito reconhece a autonomia da pessoa jurídica e a conseqüente limitação da responsabilidade que ela invoca, a própria ordem jurídica deve encarregar-se de cercear os possíveis abusos, restringindo, de um lado, a autonomia e, do outro, a limitação. É nesse cenário, portanto, que desponta a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, visando corrigir essa eventual falha do direito positivo. Trata-se, pois, de uma sanção à prática de um ato ilícito.

É como diz o pioneiro RUBENS REQUIÃO: "Se a personalidade jurídica constitui uma criação da lei, como concessão do Estado à realização de um fim, nada mais procedente do que se reconhecer no Estado, através de sua justiça, a faculdade de verificar se o direito concedido está sendo adequadamente usado. A personalidade jurídica passa a ser

11 “Trata-se de uma técnica de incentivação, pela qual o direito busca conduzir e influenciar a conduta dos integrantes da comunidade jurídica.” (JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da Personalidade Societária no Direito Brasileiro. São Paulo: RT, 1987, p. 49).

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considerada doutrinariamente um direito relativo, permitindo ao juiz penetrar o véu da personalidade para coibir os abusos ou condenar a fraude através do seu uso."12

A teoria da desconsideração não tem por finalidade extinguir a

pessoa jurídica trata-se de uma técnica de suspensão episódica da eficácia do ato constitutivo da pessoa jurídica, de modo a buscar, no patrimônio dos sócios, bens que respondam pela dívida contraída.13

Cumpre alertar, ainda, que a teoria da desconsideração da personalidade jurídica não pretende destruir o histórico princípio da separação dos patrimônios da sociedade e de seus sócios, mas, contrariamente, servir como mola propulsora da funcionalização da pessoa jurídica, garantindo as suas atividades e coibindo a prática de fraudes e abusos através dela. “Assim, de um lado, permanece intacta a personalidade jurídica, valendo a desconsideração apenas para aquele caso específico. Nesse sentido, a desconsideração é um eficaz antídoto contra as situações falimentares, já que permite a proteção do patrimônio social. (...) De outro lado, a desconsideração não influi sobre a validade do ato ou atos praticados, o que permite preservar direitos e interesses de terceiros de boa-fé”14.

É importante frisar, curiosamente, que a aplicação da teoria da desconsideração pressupõe a prática de atos aparentemente lícitos (ao menos aparentemente). Aplica-se a teoria da desconsideração, apenas, se a personalidade jurídica autônoma da sociedade empresária colocar-se como obstáculo à justa composição dos interesses; se a autonomia patrimonial da sociedade não impede a imputação de responsabilidade ao sócio ou administrador, não existe desconsideração. Uma regra geral que atribua responsabilidade ao sócio, em certos ou em todos os casos, não é regra de desconsideração da personalidade jurídica. Como visto, o método da desconsideração caracteriza-se por ser ela casuística/episódica15.

Enquanto o ato é imputável à sociedade, ele é lícito; torna-se ilícito apenas quando se o imputa ao sócio, ou administrador: se o ilícito,

12 “Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica (disregard doctrine)”. Revista dos Tribunais. São Paulo: RT, 1969, n. 410, p. 15. 13 Ainda RUBENS REQUIÃO: “O mais curioso é que a ‘disregard doctrine’ não visa a anular a personalidade jurídica, mas somente objetiva desconsiderar no caso concreto, dentro de seus limites, a pessoa jurídica, em relação às pessoas e os bens que atrás dela se escondem. É caso de declaração de ineficácia especial da personalidade jurídica para determinados efeitos, prosseguindo todavia a mesma incólume para seus outros fins legítimos”. (“Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica (disregard doctrine)”, cit., p. 14) 14 SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo direito societário. São Paulo: Malheiros Ed., 1998, p. 109. 15 SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo direito societário, cit., p. 108.

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desde logo, pode ser identificado como ato de sócio ou administrador, não é caso de desconsideração. A personalidade jurídica é desconsiderada quando não se puder imputar diretamente o ato fraudulento ao sócio; o ato era aparentemente lícito. Não se deve falar em desconsideração da personalidade jurídica quando o sócio já for responsável pela dívida societária, de acordo com o regime de responsabilidade patrimonial do tipo de sociedade de que faz parte (limitada ou ilimitada, por exemplo).

Ex.: a) a responsabilização do administrador de instituição financeira sob intervenção por atos de má-administração faz-se independentemente da suspensão da eficácia do ato constitutivo da sociedade16; b) responsabilidade civil ilimitada decorrente de ilícito ambiental (art. 4º da Lei Federal n. 9.605/1998; c) responsabilidade civil ilimitada nas relações de consumo (art. 28, §5o, CDC); d) responsabilidade civil no direito da concorrência (art. 18 da Lei Federal n. 8.884/1994)17. O art. 592, II, do CPC, que atribui responsabilidade patrimonial

ao sócio, aplica-se às hipóteses em que a própria lei, ao determinar o regime jurídico do tipo societário, já imputa ao sócio a responsabilidade por dívidas da pessoa jurídica.18-19 Nada tem a ver, pois, com a teoria da 16 Adotamos, como se percebe, a concepção de FÁBIO ULHOA COELHO. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 1999, v. 2, p. 42-43. 17 “Nesses casos, e nos demais relacionados a titulares de direito à indenização, o tecnologicamente correto seria a responsabilização ilimitada dos sócios empreendedores majoritários, sem referência à desconsideração da personalidade jurídica”. (COELHO, Fábio Ulhoa. A sociedade limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 9.) 18 Alguns exemplos de responsabilidade direta do sócio, que prescinde e dispensa a aplicação da teoria da desconsideração: a) sociedade cooperativa, art. 1.095, §§ 1o e 2o, CC-2002; b) sociedade simples, art. 1.023 do CC-2002; c) sociedade em nome coletivo, art. 1.039 do CC-2002; d) os comanditados, na sociedade em comandita simples, art. 1.045, CC-2002; e) sociedade limitada, art. 1.052 do CC-2002; f) sociedade de advogados, art. 17 da Lei Federal n. 8.906/94. 19 Em razão da importância do tema, convém apontar a divergência doutrinária que surgiu, após a edição do CC-2002, sobre a responsabilidade do sócio que não integralizou as cotas sociais na sociedade limitada (art. 1.052 do CC-2002). Se o sócio tiver integralizado sua participação no capital social, não será chamado para responder por dívidas negociais da sociedade. O sócio pode ser responsabilizado se qualquer um dos demais não tiver integralizado sua parcela no capital social: o valor do capital social subscrito e não-integralizado é o limite da responsabilidade do sócio na sociedade limitada. A dúvida é a seguinte: qualquer credor pode exigir a responsabilidade do sócio, mesmo em execução individual, ou esta legitimação é exclusiva da massa falida, portanto, em execução coletiva? MODESTO CARVALHOSA defende que qualquer credor pode exigir a responsabilidade do sócio pelo capital subscrito e não-integralizado. Verificadas a insuficiência dos bens da sociedade e a não-integralização do capital, os bens dos sócios poderiam responder pela dívida social, dentro daquele limite, mesmo em execução singular. (CARVALHOSA, Modesto. Comentários ao Código Civil — parte especial: do direito de empresa (artigos 1.052 a 1.195). São Paulo: Saraiva, 2003, v. 13, p. 13-15. Cf., ainda, com a mesma opinião: LOBO, Jorge. Sociedades limitadas, Rio de Janeiro: Forense, 2004, v. 1, p.202-203; CAMPINHO, Sérgio. O direito de empresa à luz do novo Código Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 142-143). FÁBIO ULHOA COELHO trilha outro

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desconsideração, que exige a verificação do preenchimento dos pressupostos legais que autorizem a aplicação da sanção (art. 50 do CC, por exemplo).

“Na verdade, não se pode falar em desconsideração da personalidade jurídica, quando pela lei já existe uma previsão expressa de responsabilidade direta do sócio. Em tal caso, a obrigação é originariamente do sócio, mesmo que tenha praticado o ato na gestão social. A teoria da disregard não foi concebida visando a esse tipo de responsabilidade solidária ou direta, mas para aqueles casos em que a pessoa jurídica se apresenta como um obstáculo a ocultar os verdadeiros sujeitos do ato fraudulentamente praticado em nome da sociedade, mas em proveito pessoal do sócio. Se o sócio ou controlador, pelos atos de gestão, se apresentam, por regra legal, como responsáveis pelo prejuízo acarretado à pessoa jurídica ou a terceiros, não há lugar para desconsideração alguma. Justamente por se considerar a personalidade da sociedade é que ela poderá cobrar a indenização do prejuízo que lhe causou o mau administrador. (...) Para se cogitar da desconsideração é preciso que o sócio não possa ser alcançado senão ‘afastando-se o véu’ da personalidade jurídica. O negócio tem de

caminho, com argumentos bem impressionantes. Parte da premissa de que a responsabilidade do sócio, na sociedade limitada, é sempre subsidiária. Assim, antes de atacar o patrimônio dos sócios numa demanda executiva, é necessário que constate a ausência de bens sociais bastantes para "cobertura" daquele passivo. Trata-se, como afirma, de questão atinente ao direito falimentar. Ora, se a sociedade não tem bens suficientes para pagar o débito, encontra-se em estado jurídico de insolvência; impõe-se, então, a decretação da falência, com lastro no art. 2º, I, da Lei Falimentar. Constatada, posteriormente, a ausência da integralização por parte de um, alguns ou todos os sócios, o síndico deverá aforar a denominada "ação de integralização" do art. 50 da Lei Falimentar em face de qualquer um dos sócios (ou de alguns, ou, quiçá, de todos), para que este realize as entradas as quais estava compelido. Seria o único meio processual existente para impor aos sócios da sociedade limitada a responsabilidade pelo capital social subscrito e não integralizado. Nenhum credor individualmente poderia pretender a responsabilização do sócio, eis que o direito caberia exclusivamente ao concurso de credores. Se permitisse a execução em face do sócio, para atacar o patrimônio deste na quantidade faltante de integralização, estar-se-ia privilegiando este credor em detrimento dos demais, o que macularia princípios comezinhos do concurso de credores. É fundamental, segundo esta concepção, que a massa falida obtenha título executivo contra o sócio. Sucede que, “realizada a constrição judicial, suspende-se essa execução, no aguardo do desenvolvimento do processo falimentar”, pois, em razão da subsidiariedade, a venda judicial dos bens dos sócios não pode ser realizada antes da completa realização do ativo da sociedade falida. (COELHO, Fábio Ulhoa. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 1-18).

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ser camuflado de tal modo que não se chegue ordinariamente à responsabilidade do sócio”.20 Exatamente em razão disso, é impertinente discutir benefício de

ordem (art. 596 do CPC) na desconsideração da personalidade jurídica21. É irrelevante que a pessoa jurídica tenha ou não bens passíveis de ser executados. Na desconsideração, reputa-se o ato praticado pelo sócio, ou outra sociedade do mesmo grupo, que deverá responder, isoladamente, pela obrigação. O benefício de ordem, mencionado no art. 596 do CPC, aplica-se aos casos em que o sócio, juntamente com a pessoa jurídica, é também responsável pela obrigação, limitada ou ilimitadamente. Nesses casos, uma vez executado o sócio, que é responsável, poderá ele requerer primeiro sejam executados os bens da sociedade para que, só então, em caso de insucesso na satisfação do crédito, sejam os seus bens próprios sujeitos à execução.

O art. 50 do CC-2002 consagrou a teoria: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, o juiz pode decidir, a requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios das pessoas jurídicas”.

O desvio da finalidade da pessoa jurídica ou a confusão patrimonial (entre os bens dos sócios e os bens da sociedade; adota-se a concepção objetiva apregoada por FÁBIO KONDER COMPARATO22) são os pressupostos de aplicação da disregard doctrine.

CALIXTO SALOMÃO FILHO explica o critério da confusão patrimonial:

“A confusão de esferas caracteriza-se em sua forma típica quando a denominação social, a organização societária ou o patrimônio da sociedade não se distinguem em forma clara da pessoa do sócio, ou então quando formalidades societárias necessárias à referida separação não são seguidas. Com relação a primeiro caso (confusão de denominação), pode-se mencionar o emprego de nomes semelhantes ou de fácil confusão com o nome da sociedade

20 THEODORO Jr., Humberto. “Partes e terceiros na execução”. O processo civil no limiar do novo século. Rio de Janeiro: Forense, 1999, p. 266. 21 Discorda-se, assim, do posicionamento de GILBERTO GOMES BRUSCHI, para quem, na aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, deve ser observado o disposto no art. 596 do CPC (Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004, p. 93-94). 22 O poder de controle na sociedade anônima. 3a. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1983, p. 343.

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controladora para designar a sociedade controlada. (...) Já os demais modos de identificação da confusão de esferas baseiam-se sobretudo em critérios formais, como a existência de administração e contabilidade separadas entre sócio e sociedade”23 Na verdade, quer-se, com essa técnica, impedir a utilização

fraudulenta da pessoa jurídica. FÁBIO ULHOA COELHO bem sintetiza a questão: haverá propósito fraudulento sempre que, encoberto pela "máscara" da pessoa jurídica, o sócio vise a prejudicar interesse de terceiros, em nome de anseios próprios.24

CALIXTO SALOMÃO FILHO dá outros exemplos, além da confusão das esferas, de situações em que se admite a desconsideração. a) Subcapitalização qualificada: ocorre quando o “capital social é claramente insuficiente ao cumprimento dos objetivos e da atividade social e, conseqüentemente, o perigo criado pelo(s) sócio(s) no exercício do comércio é suficiente para caracterizar a responsabilidade”. b) Abuso de forma, que pode ser individual, que se verifica quando “há a utilização da personalidade jurídica com o objetivo específico de causar dano a terceiro”, hipótese em que apenas este terceiro está legitimado a pleitear a desconsideração, ou institucional, que se caracteriza “por uma utilização do privilégio da responsabilidade limitada contrária a seus objetivos e à sua função... e tem como característica diferencial o fato de implicar a possibilidade de desconsideração a favor de qualquer credor”.25 4 A citação dos sócios e o devido processo legal.

Muito se discute a respeito do problema do cerceamento de

defesa e da ofensa ao princípio do contraditório, nas hipóteses em que se busca dar efetividade à desconsideração da personalidade jurídica. O cerne da questão é o seguinte: é possível desconsiderar a existência da pessoa jurídica sem prévia atividade cognitiva do magistrado, de que participem os sócios ou outra sociedade empresária, em contraditório? A resposta é negativa: não se pode admitir aplicação de sanção sem contraditório.

A despeito da discussão doutrinária e jurisprudencial sobre o tema — alguns se mostram mais flexíveis quanto à exigência de citação dos sócios na etapa de certificação —, adota-se a posição de FÁBIO ULHOA 23 SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo direito societário. São Paulo: Malheiros Ed., 1998, p. 90. 24 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 1999, v. 2, p. 31-56. 25 SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo direito societário. São Paulo: Malheiros Ed., 1998, p. 90-91.

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COELHO26, para quem, inexoravelmente, deve o membro da sociedade ser citado, já na fase de conhecimento, haja vista ser o entendimento mais afinado à segurança no processo.27 A garantia do contraditório é um direito fundamental e, nessa condição, qualquer questão que envolva a possibilidade de sua mitigação ou eliminação deve ser vista com muita reserva.

O sócio, ou a sociedade (em caso de grupo de empresas), pode ser chamado em litisconsórcio eventual com a pessoa jurídica devedora. CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO aborda o tema:

"Questão elegantíssima, sobre a qual nada se conhece na literatura especializada brasileira, é a que diz respeito à admissibilidade do litisconsórcio alternativo ou eventual em nosso sistema de direito positivo. Igualmente na Itália pouco se escreveu a respeito, existindo algumas manifestações no direito alemão. Será lícito colocar em juízo, cumulativamente, duas demandas dirigidas a pessoas diferentes, invocando o art. 289 do Código de Processo Civil (cúmulo eventual), para que uma delas só seja apreciada no caso de rejeitada a primeira? Será lícito comparecerem dois autores, na dúvida sobre qual deles seja o verdadeiro credor, pedindo que o juiz emita um provimento contra o adversário comum, em benefício de um dos dois (cúmulo alternativo)?"28. O CPC autoriza que se formulem mais de um pedido, em

ordem sucessiva, a fim de que o segundo seja acolhido, em não o sendo o primeiro. É a chamada cumulação eventual ou subsidiária, concretizada no artigo 289 deste diploma legal. Em assim sendo, repita-se a pergunta de CÂNDIDO RANGEL DINAMARCO: será lícito colocar em juízo, cumulativamente, duas demandas dirigidas a pessoas diferentes, invocando o art. 289, do Código de Processo Civil?

A resposta é positiva. O litisconsórcio eventual, aplicado à hipótese em comento, permite atacar o patrimônio pessoal dos sócios, apenas e tão-somente, se for impossível liquidar o débito por intermédio do 26 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 1999, v. 2, p. 54-56. Também assim, SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade – aspectos processuais. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 167 e segs. 27 A propósito, observe-se o que preconiza o ilustre professor: "...será sempre inafastável a exigência de processo de conhecimento de que participe, no pólo passivo, aquele cuja participação se pretende, seja para demonstrar sua conduta fraudulenta (se prestigiada a formulação maior da teoria) seja para condená-lo, tendo em vista a insolvabilidade da pessoa jurídica (quando adotada a teoria menor)". (Curso de Direito Comercial, cit., p. 56.) 28 Litisconsórcio. 5ª ed. São Paulo: Malheiros Ed., 1998, p. 390-391.

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capital social da pessoa jurídica. Ora, na medida em que se poderá desconsiderar a personalidade jurídica de uma sociedade empresária —e, conseqüentemente, se instaurando a busca no patrimônio de seus sócios de bens para a satisfação da obrigação—, nada mais razoável, assim, que sejam citados, ab ovo, os sócios, ou outra sociedade do mesmo grupo, já que, com a desconsideração, poderão ser tomadas medidas que acarretem a excussão dos seus patrimônios para a satisfação das pretensões de direito material postas em juízo29.

Admite-se como lícita, também, a citação do sócio já no processo de execução, desde que se instaure um incidente cognitivo — o que não é raro nem esdrúxulo, basta ver o exemplo do concurso de credores — no processo executivo, para que se apure, em contraditório, o preenchimento dos pressupostos legais que autorizam a aplicação da teoria, bem como se lhe permita o exercício da sua ampla defesa.30 Não é necessária a instauração de um processo de conhecimento com esse objetivo; o que se impõe é a existência de uma fase cognitiva, mesmo incidente, de modo que o contraditório possa ser exercitado.

Observe-se o enunciado n. 268 da súmula da jurisprudência dominante do STJ: “O fiador que não integrou a relação processual na ação de despejo não responde pela execução do julgado”. Ora, se o fiador, que é responsável contratual, precisa participar do processo de conhecimento, quanto mais o sócio, que não responde ordinariamente pelas dívidas da sociedade.

Cabe, porém, uma observação. Se a desconsideração por incidente ocorrer em execução de

título judicial, tendo em vista que o sócio/sociedade não participou do processo de conhecimento, a ele será permitido formular defesa ampla, podendo rediscutir a existência da dívida. Esse embaraço deve ser evitado. Por isso, reafirma-se o litisconsórcio eventual como uma solução dogmática aceitável para esse problema. Se ocorrer em execução fundada em título extrajudicial, a defesa do sócio/sociedade será ampla, como já o é, nesta circunstância, a defesa de qualquer executado (art. 745 do CPC).

29 É o que pensam, também, ALBERTON, Genacéia da Silva. “A Desconsideração da Pessoa Jurídica no Código do Consumidor − Aspectos Processuais”. Revista de Direito do Consumidor. São Paulo: RT, v. 7, p. 25-26; GUIMARÃES, Flávia Lefèvre. Desconsideração da personalidade jurídica no Código do Consumidor – Aspectos processuais. São Paulo: Max Limonad, 1998, p. 147; SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade – aspectos processuais. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 172-176; FREITAS, Elizabeth Cristina Campos Martins de. Desconsideração da personalidade jurídica. São Paulo: Atlas, 2002, p. 184-185. 30 DINAMARCO, Cândido Rangel. “Desconsideração da personalidade jurídica. Fraude e ônus da prova”. Fundamentos do processo civil moderno. 3a. ed. São Paulo: Malheiros Ed., 2000, t. 2, p. 1.198.

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GILBERTO BRUSCHI, que segue a corrente que reputa desnecessária a prévia instauração do contraditório, vale-se de argumento por analogia, para fundamentar o seu posicionamento. Afirma o autor que, assim como a ineficácia relativa da alienação do bem em fraude à execução pode ser decretada por simples decisão nos autos, a desconsideração também poderia sê-lo, dispensado o processo autônomo de conhecimento com esse objetivo31. O argumento não convence, ao contrário: reforça a postura aqui defendida, notadamente porque a doutrina e a jurisprudência já vêm exigindo a integração do terceiro adquirente ao contraditório, ensejando-lhe a oportunidade de defender os seus interesses, até porque para a configuração da fraude à execução exige-se o conhecimento do terceiro-adquirente acerca da pendência da ação executiva32.

O mesmo autor, porém, defende a criação (de lege ferenda) de um incidente de desconsideração da personalidade jurídica no processo de execução, de modo a viabilizar o contraditório (10 dias, por analogia ao art. 392 do CPC)33. Discorda-se do autor em apenas três pontos, que não são essenciais: a) o incidente faria parte do processo de execução; não seria um processo autônomo, como afirma; b) em razão disso, o sócio ou sociedade empresária tornar-se-iam partes do processo de execução; c) a decisão judicial que resolvesse o incidente seria uma decisão interlocutória, pois não encerraria o processo, e não uma sentença, como afirma.

Pois bem. Seja pelo litisconsórcio eventual, seja pela instauração de um

incidente cognitivo no processo de execução, o que importa é dar oportunidade ao debate, não sendo lícita a aplicação da sanção sem o prévio contraditório.

Não se podem, na ânsia por uma efetividade do processo, atropelar garantias processuais conquistadas após séculos de estudos e conquistas. Imaginar a aplicação de uma teoria eminentemente excepcional, que inquina de fraudulenta a conduta deste ou daquele sócio, sem que se lhe dê a oportunidade de defesa —ou somente se lhe permita o contraditório eventual dos embargos à execução, com necessidade da prévia penhora34,

31 BRUSCHI, Gilberto Gomes. Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004, p. 91-92. 32 THEODORO Jr, Humberto. “A fraude de execução e o regime de sua declaração em juízo”. Revista de Processo. São Paulo: RT, 2001, n. 102, p. 84-86, com amplas referências; SOUZA, Gelson Amaro de. “A fraude de execução e o devido processo legal”. Revista Brasileira de Direito Processual. Curitiba: Gênesis, 2000, n. 16, p. 272. 33 Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica, cit., p. 107. 34 Com esse posicionamento, aqui rechaçado, MEIRELES, Edilton. “Legitimidade passiva do sócio na execução judicial”. Revista de Direito Processual Civil. Curitiba: Gênesis, 1998, v. 9, p. 460-468;

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dos embargos de terceiro ou do recurso de terceiro35—, é afrontar princípios processuais básicos.

Nada impede, porém, que o credor solicite a tomada de providência cautelar, como o arresto, que pode ser concedida liminarmente, dês que preenchidos os respectivos pressupostos, como forma de preservar a utilidade/efetividade da prestação jurisdicional. 5 Notas ao Projeto de Lei n. 2.426/2003, que disciplina o

procedimento de aplicação da sanção da desconsideração da personalidade jurídica.

Tramita no Congresso Nacional projeto de lei de autoria do

Deputado Ricardo Fiúza, cujo conteúdo é uma proposta de lei federal para regulamentar a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica.

É conveniente fazer algumas anotações. a) Há falhas técnicas no projeto, que devem ser corrigidas. Em primeiro lugar, a desconsideração é uma sanção e, portanto,

deve ser decretada e não declarada, como afirma o projeto em diversos momentos (arts. 3o, caput, 5o e 6o).

Em segundo lugar, “lide” não é termo sinônimo de “processo”, não podendo ser utilizado em seu lugar. Na parte final do art. 2o, por exemplo, há menção à participação do Ministério Público, nos “casos em que lhe couber intervir na lide”. Rectius: “lhe couber intervir no processo”. A mesma crítica é feita à utilização da palavra “lide” no § 2o do art. 3o.

b) A proposta consagra a distinção entre responsabilidade do sócio (limitada ou ilimitada), de acordo com o tipo societário, e desconsideração da personalidade jurídica, nos exatos termos aqui expostos. Propõe-se a adoção de disciplina processual semelhante para ambas as situações (art.1o, par. ún.), o que reforça a preocupação com a efetivação da garantia do contraditório. Nesse ponto, o projeto é digno de elogios.

c) O projeto consagra o posicionamento doutrinário, aqui defendido, que reputa indispensável a instauração do contraditório para que a desconsideração possa ser aplicada (art. 3o).

BRUSCHI, Gilberto Gomes. Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2004, p. 78. 35 BRUSCHI, Gilberto Gomes. Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica, cit., p. 86.

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d) No projeto, consta exigência de que a desconsideração somente possa ser aplicada se houver pedido da parte ou do Ministério Público neste sentido, que deve indicar, necessária e objetivamente, “quais os atos praticados e as pessoas deles beneficiados” (art. 2o).

É imperiosa a menção às pessoas beneficiadas com o ato abusivo, porque “os efeitos da declaração de desconsideração da personalidade jurídica não atingirão os bens particulares de membro, instituidor, sócio ou administrador que não tenha praticado ato abusivo da personalidade em detrimento dos credores da pessoa jurídica ou em proveito próprio” (art. 6o)36-37.

Há, ainda, autorização para a desconsideração ex officio, quando estivermos diante de execução que possa ter sido iniciada pelo magistrado, sem qualquer provocação da parte (art. 2o, par. ún.). Neste caso, o magistrado deve observar os mesmos pressupostos exigidos para o requerimento da parte (indicação das pessoas que serão responsabilizadas e quais foram os atos praticados), inclusive respeitando-se o princípio do contraditório. A permissão de desconsideração sem provocação está em conformidade com o sistema, que admite o reconhecimento ex officio da fraude à execução e da simulação (art. 168, par. ún., CC-2002)38.

Como a desconsideração é útil principalmente na execução de prestação pecuniária, e essa somente pode começar ex officio no âmbito da Justiça do Trabalho, a incidência deste parágrafo único ficará restrita à execução destes créditos. Obviamente, essa realidade normativa pode ser alterada com a edição de lei federal que generalize a possibilidade de o magistrado dar início de-ofício à execução para pagamento de quantia.

e) O projeto cria, portanto, um incidente processual de desconsideração da personalidade jurídica. Trata-se de incidente cognitivo ao processo de execução, que segue o modelo já mencionado em item anterior deste ensaio.

36 Conclusão n. 7 da I Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “Só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando houver a prática de ato irregular, e limitadamente, ao administradores ou sócios que nela hajam concorrido”. 37 “Correto o legislador, em nosso sentir, quando exigiu, para a desconsideração, que fossem indicados, em requerimento específico, o agente causador do dano e o ato abusivo que praticou. Nada mais fez do que admitir o óbvio: o nexo de causalidade como elemento fundamental da responsabilidade civil. Isso evitará a imputação de responsabilidade a um sócio que já houvesse se retirado da sociedade, ou nunca tivesse exercido cargo de gerência. Claro está, todavia, que, existindo prova do beneficio experimentado por um dos sócios, ainda que não houvesse diretamente praticado o ato abusivo, poderá o mesmo, neste caso, e por razão de justiça, submeter-se à medida de desconsideração”. (GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil. 6a ed. São Paulo: Saraiva, 2005, v. 1, p. 261.) 38 Já defendia a desconsideração ex officio, SILVA, Osmar Vieira da. Desconsideração da personalidade – aspectos processuais. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 158.

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Não se pode ignorar, não obstante o silêncio do projeto, a possibilidade de a desconsideração ser requerida já no processo de conhecimento originário, valendo-se o demandante da técnica do litisconsórcio eventual.

Pela proposta apresentada pelo Deputado Ricardo Fiúza, o incidente processual teria as seguintes características: i) teria autos próprios, que seriam apensados aos autos principais; ii) o prazo de defesa seria de cinco dias, o que me parece razoável; iii) seria possível a produção de provas, o que é corolário da garantia do contraditório e a própria razão de ser da instauração do incidente; iv) a decisão do incidente seria interlocutória (o que está correto, pois não se trata de decisão que encerra a execução) e o recurso cabível seria o agravo de instrumento (todas as características, até aqui, encontram-se no § 1o do art. 3o); v) há exigência de citação, no caso de o responsável ainda não fizer parte do processo, e de intimação pessoal, para o caso em que ele já fazia parte do processo. A exigência de intimação pessoal, e não pelo advogado, não se justifica e está em dissonância com o sistema do CPC, que, em diversas situações semelhantes, autoriza que a comunicação processual se perfaça na pessoa do advogado da parte, que a receberá, normalmente, por meio do órgão de publicação oficial (p. ex.: arts. 57, 316, 603, par ún, 659, § 5o); vi) se a citação ou intimação se efetuar por edital ou por hora certa, e o citado/intimado for revel, impõe-se a nomeação do curador especial (§3o do art. 3o); vii) o Ministério Público deve ser intimado para intervir no incidente, obrigatoriamente (art. 5o): essa exigência não se justifica, pois nada indica que se trata de hipótese em que há interesse indisponível, fundamento da intervenção do Ministério Público no processo civil39.

f) Este incidente processual também deve ser observado nos casos de responsabilidade patrimonial decorrente de fraude à execução ou simulação (art. 4o).

g) Cria-se uma regra de interpretação em relação aos dispositivos legais que a autorizam: todos devem ser interpretados restritivamente (art. 5o, caput)40.

O grande problema deste dispositivo é o seguinte: como se viu, as hipóteses de abuso na utilização da personalidade jurídica não se restringem à fraude e à confusão patrimonial. Ademais, “desvio de

39 Neste sentido, GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil. 6a ed. São Paulo: Saraiva, 2005, v. 1, p. 262. 40 Conclusão n. 146 da III Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “Nas relações civis, interpretam-se restritivamente os parâmetros de desconsideração da personalidade jurídica previstos no art. 50 (desvio de finalidade social ou confusão patrimonial)”.

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finalidade social” é conceito vago, que, portanto, permite diversas interpretações. Para pouco eficaz impor interpretação restritiva de um enunciado que consagra um conceito indeterminado.

i) O projeto consagra a idéia, também aqui defendida, de que não é pressuposto para a desconsideração da personalidade jurídica “a mera inexistência ou insuficiência de patrimônio para o pagamento dos débitos contraídos pela pessoa jurídica” (art. 5o, par. ún.).

Nada impede que a lei crie hipóteses de responsabilidade ilimitada dos sócios, como o fez em relação às questões ambientais e relativas ao Direito do Consumidor. Quando o fizer, porém, já não se falará mais de desconsideração, mas de responsabilidade patrimonial ilimitada e subsidiária.

j) Essas regras processuais não precisariam ser aplicadas se “pela expressão percentual da participação atual de um sócio, verificável na data em que requerida a desconsideração, a pessoa jurídica devedora, que haja regularmente sido chamada a integrar a lide de conhecimento, se identificar com a pessoa física” (art. 8o).

Não se reputa conveniente a restrição, que é muito perigosa, pois pressupõe que há situações “obviamente fraudulentas”, que dispensariam contraditório, e outras não tão escancaradas, para as quais o contraditório se impõe. Em toda discussão judicial, a única certeza que devem ter os litigantes é a da previsibilidade dos meios, pois o resultado do debate é sempre incerto (LUHMANN). A decisão judicial é construída pelo diálogo das partes, que, ao longo do embate, apresentam as suas razões e provas e que têm, enquanto ele durar, apenas expectativas de vitória. Não se deve aceitar que o “óbvio” dispense o contraditório. Trata-se de precedente assaz perigoso.

l) Como se trata de regras de direito processual, o art. 7o determina a aplicação imediata dos dispositivos “a todos os processos em curso perante quaisquer dos órgãos do Poder Judiciário referidos no art. 92 da Constituição Federal, em qualquer grau de jurisdição, sejam eles de natureza cível, fiscal ou trabalhista”. 6 Íntegra do Projeto de Lei n. 2.426/2003. Projeto de Lei n. 2.426/2003

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Art. 1º. A desconsideração da personalidade jurídica, para fins de imputar obrigação passiva da pessoa jurídica a seu membro, instituidor, sócio ou administrador obedecerá aos preceitos desta lei. Parágrafo único. Aplica-se, também, o disposto nesta lei às decisões da justiça comum, federal e estadual, e da justiça do trabalho que implicarem na responsabilização direta, em caráter solidário ou subsidiário, do membro, instituidor, sócio ou administrador pelos débitos da pessoa jurídica. Art. 2º. A parte que postular, no processo de execução, a desconsideração da personalidade jurídica ou a responsabilidade pessoal de membro, instituidor, sócio ou administrador por débito da pessoa jurídica, indicará, necessária e objetivamente, em requerimento específico, quais os atos praticados e as pessoas deles beneficiados, o mesmo devendo fazer o Ministério Público nos casos em que lhe couber intervir na lide. Parágrafo único. Nas hipóteses em que a execução puder ser promovida de ofício pelo juiz, a decisão que declarar a desconsideração da personalidade jurídica ou aquela cujos efeitos implicarem na responsabilização pessoal de terceiros por débito da pessoa jurídica, além de nominar as pessoas atingidas, deverá indicar, objetivamente, quais os atos por elas praticados, sob pena de nulidade. Art. 3º. Antes de declarar que os efeitos de certas e determinadas obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos membros, instituidores, sócios ou administradores da pessoa jurídica, o juiz estabelecerá o contraditório, facultando-lhes o prévio exercício da ampla defesa. § 1º. O Juiz, ao receber a petição, ou mesmo nos casos em que verificar, de ofício, a presença dos pressupostos que autorizem a desconsideração da personalidade jurídica ou a responsabilização direita dos membros, instituidores, sócios ou administradores da pessoa jurídica, mandará instaurar o incidente, em autos apartados, determinando o chamamento dos terceiros eventualmente atingidos em seus patrimônios pessoais para se defenderem no prazo de 05 dias, facultando-lhes a produção de provas. Em seguida, decidirá o incidente, e dessa decisão, de natureza interlocutória, caberá recurso ao tribunal competente. § 2º. Sendo várias as pessoas eventualmente atingidas, os autos permanecerão em cartório e o prazo de defesa para cada um deles contar-se-á a partir da respectiva citação, quando não figuravam na lide como partes, ou da intimação pessoal se já integravam a lide, sendo-lhes assegurado o direito de obter cópia reprográfica de todas as peças e documentos dos autos ou das que solicitar, e juntar novos documentos.

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§ 3º. Nos casos de citação por edital ou com hora certa, aplicar-se-á o disposto no art. 9º, inciso II, da Lei nº 5.869/73 (Código de Processo Civil). Art. 4º. Sempre que constatar a existência de simulação ou de fraude à execução, o juiz, depois de declarar a ineficácia dos atos de alienação e constringir os bens alienados em fraude ou simulação, poderá determinar a responsabilização pessoal dos membros, instituidores, sócios ou administradores que hajam concorrido para fraude, observado o disposto no artigo anterior, sendo vedado o chamamento de outras pessoas antes de esgotados todos os meios de satisfação do crédito por parte dos fraudadores. Art. 5º. O juiz somente poderá declarar a desconsideração da personalidade jurídica ouvido o Ministério Público e nos casos expressamente previstos em lei, sendo vedada a sua aplicação por analogia ou interpretação extensiva. Parágrafo único. A mera inexistência ou insuficiência de patrimônio para o pagamento dos débitos contraídos pela pessoa jurídica não autoriza a desconsideração da personalidade jurídica quando ausentes os pressupostos legais. Art. 6º. Os efeitos da declaração de desconsideração da personalidade jurídica não atingirão os bens particulares de membro, instituidor, sócio ou administrador que não tenha praticado ato abusivo da personalidade em detrimento dos credores da pessoa jurídica ou em proveito próprio. Art. 7º. As disposições desta lei aplicam-se imediatamente a todos os processos em curso perante quaisquer dos órgãos do Poder Judiciário referidos no art. 92 da Constituição Federal, em qualquer grau de jurisdição, sejam eles de natureza cível, fiscal ou trabalhista. Art. 8º. Não se aplicam os dispositivos desta lei quando, pela expressão percentual da participação atual de um sócio, verificável na data em que requerida a desconsideração, a pessoa jurídica devedora, que haja regularmente sido chamada a integrar a lide de conhecimento, se identificar com a pessoa física. Art. 9º. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação. 7 Bibliografia.

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