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LILLIAN NASCIMENTO RIBEIRO ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE PRECONIZADA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NO BRASIL BELO HORIZONTE 2015

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Page 1: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

LILLIAN NASCIMENTO RIBEIRO

ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE PRECONIZADA NA ATENCcedilAtildeO

PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO BRASIL

BELO HORIZONTE

2015

Lillian Nascimento Ribeiro

Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no

Brasil

Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Farmacologia do Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Especialista em Farmacologia

Orientadora Dra Andrea de Castro Perez

Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas

Universidade Federal de Minas Gerais

Belo Horizonte

2015

043

Ribeiro Lillian Nascimento Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil [manuscrito] Lillian Nascimento Ribeiro ndash 2015

62 f il 295 cm

Orientadora Andrea de Castro Perez

Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Farmacologia do Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Especialista em Farmacologia

1 Tuberculose - Tratamento - Teses 2 Mycobacterium tuberculosis - Teses 3 Cuidados primaacuterios de sauacutede - Teses 4 Antibioacuteticos antituberculose 5 Farmacologia - Teses I Perez Andrea de Castro II Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas III Tiacutetulo

CDU 615

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus pelas becircnccedilatildeos concedidas em minha vida e pela forccedila que me

permitiu chegar ateacute aqui

Agrave professora Andrea de Castro Perez minha orientadora neste trabalho pela

escuta paciecircncia apoio e compreensatildeo

A todos os professores do Curso de Especializaccedilatildeo em Farmacologia em especial

ao professor Antocircnio Carlos Pinheiro de Oliveira pela disponibilidade atenccedilatildeo

cuidado e auxiacutelio constante

Aos colegas de turma pela parceria que formamos durante os longos finais de

semana de estudo

Aos meus familiares que mesmo distantes sempre se mostraram presentes pelas

oraccedilotildees e torcida

Finalmente agradeccedilo ao meu parceiro de vida Hilton pelo apoio fundamental

cumplicidade companheirismo incentivo e por me fortalecer nos momentos mais

difiacuteceis

RESUMO

A tuberculose eacute um grave problema de sauacutede puacuteblica mundial representando a

segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa O Brasil faz parte de um

grupo de 22 paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo por

isso o controle desta doenccedila eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da atenccedilatildeo primaacuteria

agrave sauacutede no paiacutes O principal agente etioloacutegico da tuberculose pulmonar eacute o

Mycobacterium tuberculosis um bacilo aeroacutebio estrito aacutelcool-aacutecido resistente A via

de contaacutegio eacute quase sempre inalatoacuteria e a fonte de infecccedilatildeo habitual eacute o indiviacuteduo

baciliacutefero poreacutem o desenvolvimento da doenccedila ativa depende de fatores

relacionados agrave imunidade do hospedeiro e agrave carga bacilar infectante O diagnoacutestico

eacute feito atraveacutes da avaliaccedilatildeo do quadro cliacutenico exames bacterioloacutegicos (baciloscopia

eou cultura) e radioloacutegicos aleacutem da realizaccedilatildeo de testes moleculares Os princiacutepios

baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo medicamentosa

adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente bem como a supervisatildeo

da tomada dos medicamentos Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e

etambutol satildeo atualmente considerados como os agentes antituberculose de

primeira linha e constituem o atual esquema padratildeo para casos novos da doenccedila na

atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil O Programa Nacional de Controle da

Tuberculose preconiza que a cadeia de transmissatildeo da doenccedila seja interrompida

mediante o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de casos de tuberculose baciliacutefera

e a conclusatildeo do tratamento pelos pacientes Isso eacute um grande desafio para a sauacutede

puacuteblica jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose eacute a natildeo

adesatildeo dos pacientes ao tratamento proposto o que pode transformaacute-los em

doentes crocircnicos com microrganismos resistentes aos faacutermacos usuais Portanto eacute

fundamental que o serviccedilo e os profissionais de sauacutede tenham condutas adequadas

com abordagens que visem agrave reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da

doenccedila e agrave melhoria das estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento a fim

de reduzir as taxas de abandono e aumentar a proporccedilatildeo de cura da tuberculose

Palavras-chave tuberculose Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave

sauacutede faacutermacos antituberculose

ABSTRACT

Tuberculosis is a serious public health problem worldwide representing the second

largest cause of death from infectious disease Brazil is part of a group of 22

countries that account for 80 of tuberculosis cases in the world so the control of

this disease is a strategic priority of primary health care in the country The main

etiologic agent of pulmonary tuberculosis is Mycobacterium tuberculosis a strict

aerobic bacillus acid-resistant The route of contamination is often inhalation and the

usual source of infection is the infected pacient The development of the disease

depend on factors related to host immunity and infectious bacterial load The

diagnosis is made by evaluating clinical bacteriological (smear and or culture) and

radiological tests in addition to performing molecular tests The basic principles for

the treatment of tuberculosis include the appropriate combination of medicaments

with the correct dose and lengh of time under supervision The drugs rifampicin

isoniazid pyrazinamide and ethambutol are currently considered as antituberculosis

frontline agents and are the current standard regimen for new cases in primary health

care in Brazil The National Tuberculosis Control Programme provides that the

disease transmission chain is interrupted by the diagnosis of the greatest possible

number of cases of tuberculosis bacillus and the completion of the treatment by

patients This is a major challenge for public health as a major problem in this fight

against tuberculosis is the non-adherence of patients to the proposed treatment

which can turn them into chronic patients with organisms resistant to the usual drugs

It is therefore critical that the service and health professionals have appropriate

protocols with approaches aimed at reducing the stigma that still exists around the

disease and improve strategies for patient adherence to the treatment in order to

reduce medical treatment dropout rates and increase cure rates of tuberculosis

Keywords tuberculosis Mycobacterium tuberculosis primary care to health anti-

tuberculosis drugs

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APS Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede

PNCT Programa Nacional de Controle da Tuberculose

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

WHO World Health Organization

BCG Bacilo Calmette Guerin

SINAN Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

SIM Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade

BK Bacilo de Koch

BAAR Bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes

MS Ministeacuterio da Sauacutede

R Rifampicina

H Isoniazida

Z Pirazinamida

E Etambutol

PM Peso Molecular

CYP Citocromo P450

CPmaacutex Pico da concentraccedilatildeo

CIM Concentraccedilatildeo inibitoacuteria miacutenima

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 08

2 OBJETIVOS 10

3 METODOLOGIA 11

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE 12

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO 17

51 Agente infeccioso 17

52 Contaacutegio 20

53 Patogecircnese 21

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas 24

6 DIAGNOacuteSTICO 26

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL 29

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano 29

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria 31

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica 34

731 Isoniazida 34

732 Rifampicina 40

733 Pirazinamida 43

734 Etambutol 48

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo 51

75 Medidas profilaacuteticas contra a tuberculose 51

751 Quimioprofilaxia 52

752 Vacinaccedilatildeo BCG 53

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE 54

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 56

REFEREcircNCIAS 58

8

1 INTRODUCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma das doenccedilas mais antigas de que se tem conhecimento foi

detectada em muacutemias egiacutepcias haacute 3400 anos antes de Cristo (CAMPOS 2006

SALDIVA et al 2011) Na atualidade continua a merecer atenccedilatildeo especial dos

profissionais de sauacutede e da sociedade como um todo jaacute que se apresenta como

grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil e no mundo sendo a segunda doenccedila

infecciosa que mais causa morte em humanos1 Por isso exige o desenvolvimento

de estrateacutegias para o seu controle considerando aspectos humanitaacuterios

econocircmicos e de sauacutede puacuteblica (BRASIL 2011 GUMBO 2012 BARBOSA et al

2014)

Anualmente o Brasil ainda registra cerca de 45 mil oacutebitos por tuberculose (BRASIL

2011) A maioria dos oacutebitos eacute evitaacutevel jaacute que as pessoas infectadas podem ter

acesso a serviccedilos de sauacutede para o diagnoacutestico e o tratamento eacute fornecido

gratuitamente Os regimes de tratamento com os faacutermacos de primeira linha podem

curar cerca de 90 dos casos e estatildeo disponiacuteveis haacute deacutecadas nos serviccedilos de

sauacutede (WHO 2014)

O controle da tuberculose eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave

Sauacutede (APS) no Brasil com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional (BRASIL 2006)

Para o controle dessa doenccedila eacute necessaacuterio que os serviccedilos de sauacutede realizem de

maneira eficiente e rotineira as atividades de identificaccedilatildeo precoce dos casos novos

intervenccedilatildeo raacutepida em grupos de maior risco promoccedilatildeo da adesatildeo ao tratamento e

prevenccedilatildeo do oacutebito especialmente nas aacutereas de maior transmissatildeo da doenccedila

Aleacutem disso eacute de grande importacircncia que exista uma vigilacircncia epidemioloacutegica

efetiva para orientar decisotildees dos gestores da sauacutede relativas a este programa

(BIERRENBACH et al 2007)

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) estaacute integrado na rede de

serviccedilos de sauacutede sendo desenvolvido por intermeacutedio de um programa unificado

executado em conjunto pelas esferas federal estadual e municipal O programa

________________________

1 Atualmente a siacutendrome de imunodeficiecircncia adquirida (AIDS) eacute a doenccedila infecciosa de maior

mortalidade em humanos no mundo

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 2: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

Lillian Nascimento Ribeiro

Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no

Brasil

Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Farmacologia do Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Especialista em Farmacologia

Orientadora Dra Andrea de Castro Perez

Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas

Universidade Federal de Minas Gerais

Belo Horizonte

2015

043

Ribeiro Lillian Nascimento Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil [manuscrito] Lillian Nascimento Ribeiro ndash 2015

62 f il 295 cm

Orientadora Andrea de Castro Perez

Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Farmacologia do Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Especialista em Farmacologia

1 Tuberculose - Tratamento - Teses 2 Mycobacterium tuberculosis - Teses 3 Cuidados primaacuterios de sauacutede - Teses 4 Antibioacuteticos antituberculose 5 Farmacologia - Teses I Perez Andrea de Castro II Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas III Tiacutetulo

CDU 615

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus pelas becircnccedilatildeos concedidas em minha vida e pela forccedila que me

permitiu chegar ateacute aqui

Agrave professora Andrea de Castro Perez minha orientadora neste trabalho pela

escuta paciecircncia apoio e compreensatildeo

A todos os professores do Curso de Especializaccedilatildeo em Farmacologia em especial

ao professor Antocircnio Carlos Pinheiro de Oliveira pela disponibilidade atenccedilatildeo

cuidado e auxiacutelio constante

Aos colegas de turma pela parceria que formamos durante os longos finais de

semana de estudo

Aos meus familiares que mesmo distantes sempre se mostraram presentes pelas

oraccedilotildees e torcida

Finalmente agradeccedilo ao meu parceiro de vida Hilton pelo apoio fundamental

cumplicidade companheirismo incentivo e por me fortalecer nos momentos mais

difiacuteceis

RESUMO

A tuberculose eacute um grave problema de sauacutede puacuteblica mundial representando a

segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa O Brasil faz parte de um

grupo de 22 paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo por

isso o controle desta doenccedila eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da atenccedilatildeo primaacuteria

agrave sauacutede no paiacutes O principal agente etioloacutegico da tuberculose pulmonar eacute o

Mycobacterium tuberculosis um bacilo aeroacutebio estrito aacutelcool-aacutecido resistente A via

de contaacutegio eacute quase sempre inalatoacuteria e a fonte de infecccedilatildeo habitual eacute o indiviacuteduo

baciliacutefero poreacutem o desenvolvimento da doenccedila ativa depende de fatores

relacionados agrave imunidade do hospedeiro e agrave carga bacilar infectante O diagnoacutestico

eacute feito atraveacutes da avaliaccedilatildeo do quadro cliacutenico exames bacterioloacutegicos (baciloscopia

eou cultura) e radioloacutegicos aleacutem da realizaccedilatildeo de testes moleculares Os princiacutepios

baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo medicamentosa

adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente bem como a supervisatildeo

da tomada dos medicamentos Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e

etambutol satildeo atualmente considerados como os agentes antituberculose de

primeira linha e constituem o atual esquema padratildeo para casos novos da doenccedila na

atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil O Programa Nacional de Controle da

Tuberculose preconiza que a cadeia de transmissatildeo da doenccedila seja interrompida

mediante o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de casos de tuberculose baciliacutefera

e a conclusatildeo do tratamento pelos pacientes Isso eacute um grande desafio para a sauacutede

puacuteblica jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose eacute a natildeo

adesatildeo dos pacientes ao tratamento proposto o que pode transformaacute-los em

doentes crocircnicos com microrganismos resistentes aos faacutermacos usuais Portanto eacute

fundamental que o serviccedilo e os profissionais de sauacutede tenham condutas adequadas

com abordagens que visem agrave reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da

doenccedila e agrave melhoria das estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento a fim

de reduzir as taxas de abandono e aumentar a proporccedilatildeo de cura da tuberculose

Palavras-chave tuberculose Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave

sauacutede faacutermacos antituberculose

ABSTRACT

Tuberculosis is a serious public health problem worldwide representing the second

largest cause of death from infectious disease Brazil is part of a group of 22

countries that account for 80 of tuberculosis cases in the world so the control of

this disease is a strategic priority of primary health care in the country The main

etiologic agent of pulmonary tuberculosis is Mycobacterium tuberculosis a strict

aerobic bacillus acid-resistant The route of contamination is often inhalation and the

usual source of infection is the infected pacient The development of the disease

depend on factors related to host immunity and infectious bacterial load The

diagnosis is made by evaluating clinical bacteriological (smear and or culture) and

radiological tests in addition to performing molecular tests The basic principles for

the treatment of tuberculosis include the appropriate combination of medicaments

with the correct dose and lengh of time under supervision The drugs rifampicin

isoniazid pyrazinamide and ethambutol are currently considered as antituberculosis

frontline agents and are the current standard regimen for new cases in primary health

care in Brazil The National Tuberculosis Control Programme provides that the

disease transmission chain is interrupted by the diagnosis of the greatest possible

number of cases of tuberculosis bacillus and the completion of the treatment by

patients This is a major challenge for public health as a major problem in this fight

against tuberculosis is the non-adherence of patients to the proposed treatment

which can turn them into chronic patients with organisms resistant to the usual drugs

It is therefore critical that the service and health professionals have appropriate

protocols with approaches aimed at reducing the stigma that still exists around the

disease and improve strategies for patient adherence to the treatment in order to

reduce medical treatment dropout rates and increase cure rates of tuberculosis

Keywords tuberculosis Mycobacterium tuberculosis primary care to health anti-

tuberculosis drugs

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APS Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede

PNCT Programa Nacional de Controle da Tuberculose

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

WHO World Health Organization

BCG Bacilo Calmette Guerin

SINAN Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

SIM Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade

BK Bacilo de Koch

BAAR Bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes

MS Ministeacuterio da Sauacutede

R Rifampicina

H Isoniazida

Z Pirazinamida

E Etambutol

PM Peso Molecular

CYP Citocromo P450

CPmaacutex Pico da concentraccedilatildeo

CIM Concentraccedilatildeo inibitoacuteria miacutenima

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 08

2 OBJETIVOS 10

3 METODOLOGIA 11

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE 12

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO 17

51 Agente infeccioso 17

52 Contaacutegio 20

53 Patogecircnese 21

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas 24

6 DIAGNOacuteSTICO 26

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL 29

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano 29

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria 31

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica 34

731 Isoniazida 34

732 Rifampicina 40

733 Pirazinamida 43

734 Etambutol 48

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo 51

75 Medidas profilaacuteticas contra a tuberculose 51

751 Quimioprofilaxia 52

752 Vacinaccedilatildeo BCG 53

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE 54

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 56

REFEREcircNCIAS 58

8

1 INTRODUCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma das doenccedilas mais antigas de que se tem conhecimento foi

detectada em muacutemias egiacutepcias haacute 3400 anos antes de Cristo (CAMPOS 2006

SALDIVA et al 2011) Na atualidade continua a merecer atenccedilatildeo especial dos

profissionais de sauacutede e da sociedade como um todo jaacute que se apresenta como

grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil e no mundo sendo a segunda doenccedila

infecciosa que mais causa morte em humanos1 Por isso exige o desenvolvimento

de estrateacutegias para o seu controle considerando aspectos humanitaacuterios

econocircmicos e de sauacutede puacuteblica (BRASIL 2011 GUMBO 2012 BARBOSA et al

2014)

Anualmente o Brasil ainda registra cerca de 45 mil oacutebitos por tuberculose (BRASIL

2011) A maioria dos oacutebitos eacute evitaacutevel jaacute que as pessoas infectadas podem ter

acesso a serviccedilos de sauacutede para o diagnoacutestico e o tratamento eacute fornecido

gratuitamente Os regimes de tratamento com os faacutermacos de primeira linha podem

curar cerca de 90 dos casos e estatildeo disponiacuteveis haacute deacutecadas nos serviccedilos de

sauacutede (WHO 2014)

O controle da tuberculose eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave

Sauacutede (APS) no Brasil com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional (BRASIL 2006)

Para o controle dessa doenccedila eacute necessaacuterio que os serviccedilos de sauacutede realizem de

maneira eficiente e rotineira as atividades de identificaccedilatildeo precoce dos casos novos

intervenccedilatildeo raacutepida em grupos de maior risco promoccedilatildeo da adesatildeo ao tratamento e

prevenccedilatildeo do oacutebito especialmente nas aacutereas de maior transmissatildeo da doenccedila

Aleacutem disso eacute de grande importacircncia que exista uma vigilacircncia epidemioloacutegica

efetiva para orientar decisotildees dos gestores da sauacutede relativas a este programa

(BIERRENBACH et al 2007)

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) estaacute integrado na rede de

serviccedilos de sauacutede sendo desenvolvido por intermeacutedio de um programa unificado

executado em conjunto pelas esferas federal estadual e municipal O programa

________________________

1 Atualmente a siacutendrome de imunodeficiecircncia adquirida (AIDS) eacute a doenccedila infecciosa de maior

mortalidade em humanos no mundo

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 3: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

043

Ribeiro Lillian Nascimento Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil [manuscrito] Lillian Nascimento Ribeiro ndash 2015

62 f il 295 cm

Orientadora Andrea de Castro Perez

Monografia apresentada ao Curso de Especializaccedilatildeo em Farmacologia do Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Especialista em Farmacologia

1 Tuberculose - Tratamento - Teses 2 Mycobacterium tuberculosis - Teses 3 Cuidados primaacuterios de sauacutede - Teses 4 Antibioacuteticos antituberculose 5 Farmacologia - Teses I Perez Andrea de Castro II Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciecircncias Bioloacutegicas III Tiacutetulo

CDU 615

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus pelas becircnccedilatildeos concedidas em minha vida e pela forccedila que me

permitiu chegar ateacute aqui

Agrave professora Andrea de Castro Perez minha orientadora neste trabalho pela

escuta paciecircncia apoio e compreensatildeo

A todos os professores do Curso de Especializaccedilatildeo em Farmacologia em especial

ao professor Antocircnio Carlos Pinheiro de Oliveira pela disponibilidade atenccedilatildeo

cuidado e auxiacutelio constante

Aos colegas de turma pela parceria que formamos durante os longos finais de

semana de estudo

Aos meus familiares que mesmo distantes sempre se mostraram presentes pelas

oraccedilotildees e torcida

Finalmente agradeccedilo ao meu parceiro de vida Hilton pelo apoio fundamental

cumplicidade companheirismo incentivo e por me fortalecer nos momentos mais

difiacuteceis

RESUMO

A tuberculose eacute um grave problema de sauacutede puacuteblica mundial representando a

segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa O Brasil faz parte de um

grupo de 22 paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo por

isso o controle desta doenccedila eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da atenccedilatildeo primaacuteria

agrave sauacutede no paiacutes O principal agente etioloacutegico da tuberculose pulmonar eacute o

Mycobacterium tuberculosis um bacilo aeroacutebio estrito aacutelcool-aacutecido resistente A via

de contaacutegio eacute quase sempre inalatoacuteria e a fonte de infecccedilatildeo habitual eacute o indiviacuteduo

baciliacutefero poreacutem o desenvolvimento da doenccedila ativa depende de fatores

relacionados agrave imunidade do hospedeiro e agrave carga bacilar infectante O diagnoacutestico

eacute feito atraveacutes da avaliaccedilatildeo do quadro cliacutenico exames bacterioloacutegicos (baciloscopia

eou cultura) e radioloacutegicos aleacutem da realizaccedilatildeo de testes moleculares Os princiacutepios

baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo medicamentosa

adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente bem como a supervisatildeo

da tomada dos medicamentos Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e

etambutol satildeo atualmente considerados como os agentes antituberculose de

primeira linha e constituem o atual esquema padratildeo para casos novos da doenccedila na

atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil O Programa Nacional de Controle da

Tuberculose preconiza que a cadeia de transmissatildeo da doenccedila seja interrompida

mediante o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de casos de tuberculose baciliacutefera

e a conclusatildeo do tratamento pelos pacientes Isso eacute um grande desafio para a sauacutede

puacuteblica jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose eacute a natildeo

adesatildeo dos pacientes ao tratamento proposto o que pode transformaacute-los em

doentes crocircnicos com microrganismos resistentes aos faacutermacos usuais Portanto eacute

fundamental que o serviccedilo e os profissionais de sauacutede tenham condutas adequadas

com abordagens que visem agrave reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da

doenccedila e agrave melhoria das estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento a fim

de reduzir as taxas de abandono e aumentar a proporccedilatildeo de cura da tuberculose

Palavras-chave tuberculose Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave

sauacutede faacutermacos antituberculose

ABSTRACT

Tuberculosis is a serious public health problem worldwide representing the second

largest cause of death from infectious disease Brazil is part of a group of 22

countries that account for 80 of tuberculosis cases in the world so the control of

this disease is a strategic priority of primary health care in the country The main

etiologic agent of pulmonary tuberculosis is Mycobacterium tuberculosis a strict

aerobic bacillus acid-resistant The route of contamination is often inhalation and the

usual source of infection is the infected pacient The development of the disease

depend on factors related to host immunity and infectious bacterial load The

diagnosis is made by evaluating clinical bacteriological (smear and or culture) and

radiological tests in addition to performing molecular tests The basic principles for

the treatment of tuberculosis include the appropriate combination of medicaments

with the correct dose and lengh of time under supervision The drugs rifampicin

isoniazid pyrazinamide and ethambutol are currently considered as antituberculosis

frontline agents and are the current standard regimen for new cases in primary health

care in Brazil The National Tuberculosis Control Programme provides that the

disease transmission chain is interrupted by the diagnosis of the greatest possible

number of cases of tuberculosis bacillus and the completion of the treatment by

patients This is a major challenge for public health as a major problem in this fight

against tuberculosis is the non-adherence of patients to the proposed treatment

which can turn them into chronic patients with organisms resistant to the usual drugs

It is therefore critical that the service and health professionals have appropriate

protocols with approaches aimed at reducing the stigma that still exists around the

disease and improve strategies for patient adherence to the treatment in order to

reduce medical treatment dropout rates and increase cure rates of tuberculosis

Keywords tuberculosis Mycobacterium tuberculosis primary care to health anti-

tuberculosis drugs

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APS Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede

PNCT Programa Nacional de Controle da Tuberculose

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

WHO World Health Organization

BCG Bacilo Calmette Guerin

SINAN Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

SIM Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade

BK Bacilo de Koch

BAAR Bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes

MS Ministeacuterio da Sauacutede

R Rifampicina

H Isoniazida

Z Pirazinamida

E Etambutol

PM Peso Molecular

CYP Citocromo P450

CPmaacutex Pico da concentraccedilatildeo

CIM Concentraccedilatildeo inibitoacuteria miacutenima

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 08

2 OBJETIVOS 10

3 METODOLOGIA 11

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE 12

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO 17

51 Agente infeccioso 17

52 Contaacutegio 20

53 Patogecircnese 21

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas 24

6 DIAGNOacuteSTICO 26

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL 29

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano 29

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria 31

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica 34

731 Isoniazida 34

732 Rifampicina 40

733 Pirazinamida 43

734 Etambutol 48

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo 51

75 Medidas profilaacuteticas contra a tuberculose 51

751 Quimioprofilaxia 52

752 Vacinaccedilatildeo BCG 53

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE 54

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 56

REFEREcircNCIAS 58

8

1 INTRODUCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma das doenccedilas mais antigas de que se tem conhecimento foi

detectada em muacutemias egiacutepcias haacute 3400 anos antes de Cristo (CAMPOS 2006

SALDIVA et al 2011) Na atualidade continua a merecer atenccedilatildeo especial dos

profissionais de sauacutede e da sociedade como um todo jaacute que se apresenta como

grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil e no mundo sendo a segunda doenccedila

infecciosa que mais causa morte em humanos1 Por isso exige o desenvolvimento

de estrateacutegias para o seu controle considerando aspectos humanitaacuterios

econocircmicos e de sauacutede puacuteblica (BRASIL 2011 GUMBO 2012 BARBOSA et al

2014)

Anualmente o Brasil ainda registra cerca de 45 mil oacutebitos por tuberculose (BRASIL

2011) A maioria dos oacutebitos eacute evitaacutevel jaacute que as pessoas infectadas podem ter

acesso a serviccedilos de sauacutede para o diagnoacutestico e o tratamento eacute fornecido

gratuitamente Os regimes de tratamento com os faacutermacos de primeira linha podem

curar cerca de 90 dos casos e estatildeo disponiacuteveis haacute deacutecadas nos serviccedilos de

sauacutede (WHO 2014)

O controle da tuberculose eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave

Sauacutede (APS) no Brasil com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional (BRASIL 2006)

Para o controle dessa doenccedila eacute necessaacuterio que os serviccedilos de sauacutede realizem de

maneira eficiente e rotineira as atividades de identificaccedilatildeo precoce dos casos novos

intervenccedilatildeo raacutepida em grupos de maior risco promoccedilatildeo da adesatildeo ao tratamento e

prevenccedilatildeo do oacutebito especialmente nas aacutereas de maior transmissatildeo da doenccedila

Aleacutem disso eacute de grande importacircncia que exista uma vigilacircncia epidemioloacutegica

efetiva para orientar decisotildees dos gestores da sauacutede relativas a este programa

(BIERRENBACH et al 2007)

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) estaacute integrado na rede de

serviccedilos de sauacutede sendo desenvolvido por intermeacutedio de um programa unificado

executado em conjunto pelas esferas federal estadual e municipal O programa

________________________

1 Atualmente a siacutendrome de imunodeficiecircncia adquirida (AIDS) eacute a doenccedila infecciosa de maior

mortalidade em humanos no mundo

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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Page 4: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

AGRADECIMENTOS

Agradeccedilo a Deus pelas becircnccedilatildeos concedidas em minha vida e pela forccedila que me

permitiu chegar ateacute aqui

Agrave professora Andrea de Castro Perez minha orientadora neste trabalho pela

escuta paciecircncia apoio e compreensatildeo

A todos os professores do Curso de Especializaccedilatildeo em Farmacologia em especial

ao professor Antocircnio Carlos Pinheiro de Oliveira pela disponibilidade atenccedilatildeo

cuidado e auxiacutelio constante

Aos colegas de turma pela parceria que formamos durante os longos finais de

semana de estudo

Aos meus familiares que mesmo distantes sempre se mostraram presentes pelas

oraccedilotildees e torcida

Finalmente agradeccedilo ao meu parceiro de vida Hilton pelo apoio fundamental

cumplicidade companheirismo incentivo e por me fortalecer nos momentos mais

difiacuteceis

RESUMO

A tuberculose eacute um grave problema de sauacutede puacuteblica mundial representando a

segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa O Brasil faz parte de um

grupo de 22 paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo por

isso o controle desta doenccedila eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da atenccedilatildeo primaacuteria

agrave sauacutede no paiacutes O principal agente etioloacutegico da tuberculose pulmonar eacute o

Mycobacterium tuberculosis um bacilo aeroacutebio estrito aacutelcool-aacutecido resistente A via

de contaacutegio eacute quase sempre inalatoacuteria e a fonte de infecccedilatildeo habitual eacute o indiviacuteduo

baciliacutefero poreacutem o desenvolvimento da doenccedila ativa depende de fatores

relacionados agrave imunidade do hospedeiro e agrave carga bacilar infectante O diagnoacutestico

eacute feito atraveacutes da avaliaccedilatildeo do quadro cliacutenico exames bacterioloacutegicos (baciloscopia

eou cultura) e radioloacutegicos aleacutem da realizaccedilatildeo de testes moleculares Os princiacutepios

baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo medicamentosa

adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente bem como a supervisatildeo

da tomada dos medicamentos Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e

etambutol satildeo atualmente considerados como os agentes antituberculose de

primeira linha e constituem o atual esquema padratildeo para casos novos da doenccedila na

atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil O Programa Nacional de Controle da

Tuberculose preconiza que a cadeia de transmissatildeo da doenccedila seja interrompida

mediante o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de casos de tuberculose baciliacutefera

e a conclusatildeo do tratamento pelos pacientes Isso eacute um grande desafio para a sauacutede

puacuteblica jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose eacute a natildeo

adesatildeo dos pacientes ao tratamento proposto o que pode transformaacute-los em

doentes crocircnicos com microrganismos resistentes aos faacutermacos usuais Portanto eacute

fundamental que o serviccedilo e os profissionais de sauacutede tenham condutas adequadas

com abordagens que visem agrave reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da

doenccedila e agrave melhoria das estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento a fim

de reduzir as taxas de abandono e aumentar a proporccedilatildeo de cura da tuberculose

Palavras-chave tuberculose Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave

sauacutede faacutermacos antituberculose

ABSTRACT

Tuberculosis is a serious public health problem worldwide representing the second

largest cause of death from infectious disease Brazil is part of a group of 22

countries that account for 80 of tuberculosis cases in the world so the control of

this disease is a strategic priority of primary health care in the country The main

etiologic agent of pulmonary tuberculosis is Mycobacterium tuberculosis a strict

aerobic bacillus acid-resistant The route of contamination is often inhalation and the

usual source of infection is the infected pacient The development of the disease

depend on factors related to host immunity and infectious bacterial load The

diagnosis is made by evaluating clinical bacteriological (smear and or culture) and

radiological tests in addition to performing molecular tests The basic principles for

the treatment of tuberculosis include the appropriate combination of medicaments

with the correct dose and lengh of time under supervision The drugs rifampicin

isoniazid pyrazinamide and ethambutol are currently considered as antituberculosis

frontline agents and are the current standard regimen for new cases in primary health

care in Brazil The National Tuberculosis Control Programme provides that the

disease transmission chain is interrupted by the diagnosis of the greatest possible

number of cases of tuberculosis bacillus and the completion of the treatment by

patients This is a major challenge for public health as a major problem in this fight

against tuberculosis is the non-adherence of patients to the proposed treatment

which can turn them into chronic patients with organisms resistant to the usual drugs

It is therefore critical that the service and health professionals have appropriate

protocols with approaches aimed at reducing the stigma that still exists around the

disease and improve strategies for patient adherence to the treatment in order to

reduce medical treatment dropout rates and increase cure rates of tuberculosis

Keywords tuberculosis Mycobacterium tuberculosis primary care to health anti-

tuberculosis drugs

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APS Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede

PNCT Programa Nacional de Controle da Tuberculose

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

WHO World Health Organization

BCG Bacilo Calmette Guerin

SINAN Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

SIM Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade

BK Bacilo de Koch

BAAR Bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes

MS Ministeacuterio da Sauacutede

R Rifampicina

H Isoniazida

Z Pirazinamida

E Etambutol

PM Peso Molecular

CYP Citocromo P450

CPmaacutex Pico da concentraccedilatildeo

CIM Concentraccedilatildeo inibitoacuteria miacutenima

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 08

2 OBJETIVOS 10

3 METODOLOGIA 11

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE 12

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO 17

51 Agente infeccioso 17

52 Contaacutegio 20

53 Patogecircnese 21

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas 24

6 DIAGNOacuteSTICO 26

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL 29

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano 29

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria 31

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica 34

731 Isoniazida 34

732 Rifampicina 40

733 Pirazinamida 43

734 Etambutol 48

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo 51

75 Medidas profilaacuteticas contra a tuberculose 51

751 Quimioprofilaxia 52

752 Vacinaccedilatildeo BCG 53

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE 54

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 56

REFEREcircNCIAS 58

8

1 INTRODUCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma das doenccedilas mais antigas de que se tem conhecimento foi

detectada em muacutemias egiacutepcias haacute 3400 anos antes de Cristo (CAMPOS 2006

SALDIVA et al 2011) Na atualidade continua a merecer atenccedilatildeo especial dos

profissionais de sauacutede e da sociedade como um todo jaacute que se apresenta como

grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil e no mundo sendo a segunda doenccedila

infecciosa que mais causa morte em humanos1 Por isso exige o desenvolvimento

de estrateacutegias para o seu controle considerando aspectos humanitaacuterios

econocircmicos e de sauacutede puacuteblica (BRASIL 2011 GUMBO 2012 BARBOSA et al

2014)

Anualmente o Brasil ainda registra cerca de 45 mil oacutebitos por tuberculose (BRASIL

2011) A maioria dos oacutebitos eacute evitaacutevel jaacute que as pessoas infectadas podem ter

acesso a serviccedilos de sauacutede para o diagnoacutestico e o tratamento eacute fornecido

gratuitamente Os regimes de tratamento com os faacutermacos de primeira linha podem

curar cerca de 90 dos casos e estatildeo disponiacuteveis haacute deacutecadas nos serviccedilos de

sauacutede (WHO 2014)

O controle da tuberculose eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave

Sauacutede (APS) no Brasil com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional (BRASIL 2006)

Para o controle dessa doenccedila eacute necessaacuterio que os serviccedilos de sauacutede realizem de

maneira eficiente e rotineira as atividades de identificaccedilatildeo precoce dos casos novos

intervenccedilatildeo raacutepida em grupos de maior risco promoccedilatildeo da adesatildeo ao tratamento e

prevenccedilatildeo do oacutebito especialmente nas aacutereas de maior transmissatildeo da doenccedila

Aleacutem disso eacute de grande importacircncia que exista uma vigilacircncia epidemioloacutegica

efetiva para orientar decisotildees dos gestores da sauacutede relativas a este programa

(BIERRENBACH et al 2007)

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) estaacute integrado na rede de

serviccedilos de sauacutede sendo desenvolvido por intermeacutedio de um programa unificado

executado em conjunto pelas esferas federal estadual e municipal O programa

________________________

1 Atualmente a siacutendrome de imunodeficiecircncia adquirida (AIDS) eacute a doenccedila infecciosa de maior

mortalidade em humanos no mundo

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 5: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

RESUMO

A tuberculose eacute um grave problema de sauacutede puacuteblica mundial representando a

segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa O Brasil faz parte de um

grupo de 22 paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo por

isso o controle desta doenccedila eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da atenccedilatildeo primaacuteria

agrave sauacutede no paiacutes O principal agente etioloacutegico da tuberculose pulmonar eacute o

Mycobacterium tuberculosis um bacilo aeroacutebio estrito aacutelcool-aacutecido resistente A via

de contaacutegio eacute quase sempre inalatoacuteria e a fonte de infecccedilatildeo habitual eacute o indiviacuteduo

baciliacutefero poreacutem o desenvolvimento da doenccedila ativa depende de fatores

relacionados agrave imunidade do hospedeiro e agrave carga bacilar infectante O diagnoacutestico

eacute feito atraveacutes da avaliaccedilatildeo do quadro cliacutenico exames bacterioloacutegicos (baciloscopia

eou cultura) e radioloacutegicos aleacutem da realizaccedilatildeo de testes moleculares Os princiacutepios

baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo medicamentosa

adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente bem como a supervisatildeo

da tomada dos medicamentos Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e

etambutol satildeo atualmente considerados como os agentes antituberculose de

primeira linha e constituem o atual esquema padratildeo para casos novos da doenccedila na

atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil O Programa Nacional de Controle da

Tuberculose preconiza que a cadeia de transmissatildeo da doenccedila seja interrompida

mediante o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de casos de tuberculose baciliacutefera

e a conclusatildeo do tratamento pelos pacientes Isso eacute um grande desafio para a sauacutede

puacuteblica jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose eacute a natildeo

adesatildeo dos pacientes ao tratamento proposto o que pode transformaacute-los em

doentes crocircnicos com microrganismos resistentes aos faacutermacos usuais Portanto eacute

fundamental que o serviccedilo e os profissionais de sauacutede tenham condutas adequadas

com abordagens que visem agrave reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da

doenccedila e agrave melhoria das estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento a fim

de reduzir as taxas de abandono e aumentar a proporccedilatildeo de cura da tuberculose

Palavras-chave tuberculose Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave

sauacutede faacutermacos antituberculose

ABSTRACT

Tuberculosis is a serious public health problem worldwide representing the second

largest cause of death from infectious disease Brazil is part of a group of 22

countries that account for 80 of tuberculosis cases in the world so the control of

this disease is a strategic priority of primary health care in the country The main

etiologic agent of pulmonary tuberculosis is Mycobacterium tuberculosis a strict

aerobic bacillus acid-resistant The route of contamination is often inhalation and the

usual source of infection is the infected pacient The development of the disease

depend on factors related to host immunity and infectious bacterial load The

diagnosis is made by evaluating clinical bacteriological (smear and or culture) and

radiological tests in addition to performing molecular tests The basic principles for

the treatment of tuberculosis include the appropriate combination of medicaments

with the correct dose and lengh of time under supervision The drugs rifampicin

isoniazid pyrazinamide and ethambutol are currently considered as antituberculosis

frontline agents and are the current standard regimen for new cases in primary health

care in Brazil The National Tuberculosis Control Programme provides that the

disease transmission chain is interrupted by the diagnosis of the greatest possible

number of cases of tuberculosis bacillus and the completion of the treatment by

patients This is a major challenge for public health as a major problem in this fight

against tuberculosis is the non-adherence of patients to the proposed treatment

which can turn them into chronic patients with organisms resistant to the usual drugs

It is therefore critical that the service and health professionals have appropriate

protocols with approaches aimed at reducing the stigma that still exists around the

disease and improve strategies for patient adherence to the treatment in order to

reduce medical treatment dropout rates and increase cure rates of tuberculosis

Keywords tuberculosis Mycobacterium tuberculosis primary care to health anti-

tuberculosis drugs

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APS Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede

PNCT Programa Nacional de Controle da Tuberculose

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

WHO World Health Organization

BCG Bacilo Calmette Guerin

SINAN Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

SIM Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade

BK Bacilo de Koch

BAAR Bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes

MS Ministeacuterio da Sauacutede

R Rifampicina

H Isoniazida

Z Pirazinamida

E Etambutol

PM Peso Molecular

CYP Citocromo P450

CPmaacutex Pico da concentraccedilatildeo

CIM Concentraccedilatildeo inibitoacuteria miacutenima

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 08

2 OBJETIVOS 10

3 METODOLOGIA 11

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE 12

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO 17

51 Agente infeccioso 17

52 Contaacutegio 20

53 Patogecircnese 21

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas 24

6 DIAGNOacuteSTICO 26

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL 29

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano 29

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria 31

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica 34

731 Isoniazida 34

732 Rifampicina 40

733 Pirazinamida 43

734 Etambutol 48

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo 51

75 Medidas profilaacuteticas contra a tuberculose 51

751 Quimioprofilaxia 52

752 Vacinaccedilatildeo BCG 53

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE 54

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 56

REFEREcircNCIAS 58

8

1 INTRODUCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma das doenccedilas mais antigas de que se tem conhecimento foi

detectada em muacutemias egiacutepcias haacute 3400 anos antes de Cristo (CAMPOS 2006

SALDIVA et al 2011) Na atualidade continua a merecer atenccedilatildeo especial dos

profissionais de sauacutede e da sociedade como um todo jaacute que se apresenta como

grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil e no mundo sendo a segunda doenccedila

infecciosa que mais causa morte em humanos1 Por isso exige o desenvolvimento

de estrateacutegias para o seu controle considerando aspectos humanitaacuterios

econocircmicos e de sauacutede puacuteblica (BRASIL 2011 GUMBO 2012 BARBOSA et al

2014)

Anualmente o Brasil ainda registra cerca de 45 mil oacutebitos por tuberculose (BRASIL

2011) A maioria dos oacutebitos eacute evitaacutevel jaacute que as pessoas infectadas podem ter

acesso a serviccedilos de sauacutede para o diagnoacutestico e o tratamento eacute fornecido

gratuitamente Os regimes de tratamento com os faacutermacos de primeira linha podem

curar cerca de 90 dos casos e estatildeo disponiacuteveis haacute deacutecadas nos serviccedilos de

sauacutede (WHO 2014)

O controle da tuberculose eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave

Sauacutede (APS) no Brasil com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional (BRASIL 2006)

Para o controle dessa doenccedila eacute necessaacuterio que os serviccedilos de sauacutede realizem de

maneira eficiente e rotineira as atividades de identificaccedilatildeo precoce dos casos novos

intervenccedilatildeo raacutepida em grupos de maior risco promoccedilatildeo da adesatildeo ao tratamento e

prevenccedilatildeo do oacutebito especialmente nas aacutereas de maior transmissatildeo da doenccedila

Aleacutem disso eacute de grande importacircncia que exista uma vigilacircncia epidemioloacutegica

efetiva para orientar decisotildees dos gestores da sauacutede relativas a este programa

(BIERRENBACH et al 2007)

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) estaacute integrado na rede de

serviccedilos de sauacutede sendo desenvolvido por intermeacutedio de um programa unificado

executado em conjunto pelas esferas federal estadual e municipal O programa

________________________

1 Atualmente a siacutendrome de imunodeficiecircncia adquirida (AIDS) eacute a doenccedila infecciosa de maior

mortalidade em humanos no mundo

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 6: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

ABSTRACT

Tuberculosis is a serious public health problem worldwide representing the second

largest cause of death from infectious disease Brazil is part of a group of 22

countries that account for 80 of tuberculosis cases in the world so the control of

this disease is a strategic priority of primary health care in the country The main

etiologic agent of pulmonary tuberculosis is Mycobacterium tuberculosis a strict

aerobic bacillus acid-resistant The route of contamination is often inhalation and the

usual source of infection is the infected pacient The development of the disease

depend on factors related to host immunity and infectious bacterial load The

diagnosis is made by evaluating clinical bacteriological (smear and or culture) and

radiological tests in addition to performing molecular tests The basic principles for

the treatment of tuberculosis include the appropriate combination of medicaments

with the correct dose and lengh of time under supervision The drugs rifampicin

isoniazid pyrazinamide and ethambutol are currently considered as antituberculosis

frontline agents and are the current standard regimen for new cases in primary health

care in Brazil The National Tuberculosis Control Programme provides that the

disease transmission chain is interrupted by the diagnosis of the greatest possible

number of cases of tuberculosis bacillus and the completion of the treatment by

patients This is a major challenge for public health as a major problem in this fight

against tuberculosis is the non-adherence of patients to the proposed treatment

which can turn them into chronic patients with organisms resistant to the usual drugs

It is therefore critical that the service and health professionals have appropriate

protocols with approaches aimed at reducing the stigma that still exists around the

disease and improve strategies for patient adherence to the treatment in order to

reduce medical treatment dropout rates and increase cure rates of tuberculosis

Keywords tuberculosis Mycobacterium tuberculosis primary care to health anti-

tuberculosis drugs

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APS Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede

PNCT Programa Nacional de Controle da Tuberculose

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

WHO World Health Organization

BCG Bacilo Calmette Guerin

SINAN Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

SIM Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade

BK Bacilo de Koch

BAAR Bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes

MS Ministeacuterio da Sauacutede

R Rifampicina

H Isoniazida

Z Pirazinamida

E Etambutol

PM Peso Molecular

CYP Citocromo P450

CPmaacutex Pico da concentraccedilatildeo

CIM Concentraccedilatildeo inibitoacuteria miacutenima

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 08

2 OBJETIVOS 10

3 METODOLOGIA 11

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE 12

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO 17

51 Agente infeccioso 17

52 Contaacutegio 20

53 Patogecircnese 21

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas 24

6 DIAGNOacuteSTICO 26

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL 29

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano 29

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria 31

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica 34

731 Isoniazida 34

732 Rifampicina 40

733 Pirazinamida 43

734 Etambutol 48

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo 51

75 Medidas profilaacuteticas contra a tuberculose 51

751 Quimioprofilaxia 52

752 Vacinaccedilatildeo BCG 53

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE 54

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 56

REFEREcircNCIAS 58

8

1 INTRODUCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma das doenccedilas mais antigas de que se tem conhecimento foi

detectada em muacutemias egiacutepcias haacute 3400 anos antes de Cristo (CAMPOS 2006

SALDIVA et al 2011) Na atualidade continua a merecer atenccedilatildeo especial dos

profissionais de sauacutede e da sociedade como um todo jaacute que se apresenta como

grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil e no mundo sendo a segunda doenccedila

infecciosa que mais causa morte em humanos1 Por isso exige o desenvolvimento

de estrateacutegias para o seu controle considerando aspectos humanitaacuterios

econocircmicos e de sauacutede puacuteblica (BRASIL 2011 GUMBO 2012 BARBOSA et al

2014)

Anualmente o Brasil ainda registra cerca de 45 mil oacutebitos por tuberculose (BRASIL

2011) A maioria dos oacutebitos eacute evitaacutevel jaacute que as pessoas infectadas podem ter

acesso a serviccedilos de sauacutede para o diagnoacutestico e o tratamento eacute fornecido

gratuitamente Os regimes de tratamento com os faacutermacos de primeira linha podem

curar cerca de 90 dos casos e estatildeo disponiacuteveis haacute deacutecadas nos serviccedilos de

sauacutede (WHO 2014)

O controle da tuberculose eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave

Sauacutede (APS) no Brasil com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional (BRASIL 2006)

Para o controle dessa doenccedila eacute necessaacuterio que os serviccedilos de sauacutede realizem de

maneira eficiente e rotineira as atividades de identificaccedilatildeo precoce dos casos novos

intervenccedilatildeo raacutepida em grupos de maior risco promoccedilatildeo da adesatildeo ao tratamento e

prevenccedilatildeo do oacutebito especialmente nas aacutereas de maior transmissatildeo da doenccedila

Aleacutem disso eacute de grande importacircncia que exista uma vigilacircncia epidemioloacutegica

efetiva para orientar decisotildees dos gestores da sauacutede relativas a este programa

(BIERRENBACH et al 2007)

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) estaacute integrado na rede de

serviccedilos de sauacutede sendo desenvolvido por intermeacutedio de um programa unificado

executado em conjunto pelas esferas federal estadual e municipal O programa

________________________

1 Atualmente a siacutendrome de imunodeficiecircncia adquirida (AIDS) eacute a doenccedila infecciosa de maior

mortalidade em humanos no mundo

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 7: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APS Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede

PNCT Programa Nacional de Controle da Tuberculose

OMS Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede

WHO World Health Organization

BCG Bacilo Calmette Guerin

SINAN Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

SIM Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade

BK Bacilo de Koch

BAAR Bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes

MS Ministeacuterio da Sauacutede

R Rifampicina

H Isoniazida

Z Pirazinamida

E Etambutol

PM Peso Molecular

CYP Citocromo P450

CPmaacutex Pico da concentraccedilatildeo

CIM Concentraccedilatildeo inibitoacuteria miacutenima

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 08

2 OBJETIVOS 10

3 METODOLOGIA 11

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE 12

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO 17

51 Agente infeccioso 17

52 Contaacutegio 20

53 Patogecircnese 21

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas 24

6 DIAGNOacuteSTICO 26

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL 29

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano 29

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria 31

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica 34

731 Isoniazida 34

732 Rifampicina 40

733 Pirazinamida 43

734 Etambutol 48

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo 51

75 Medidas profilaacuteticas contra a tuberculose 51

751 Quimioprofilaxia 52

752 Vacinaccedilatildeo BCG 53

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE 54

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 56

REFEREcircNCIAS 58

8

1 INTRODUCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma das doenccedilas mais antigas de que se tem conhecimento foi

detectada em muacutemias egiacutepcias haacute 3400 anos antes de Cristo (CAMPOS 2006

SALDIVA et al 2011) Na atualidade continua a merecer atenccedilatildeo especial dos

profissionais de sauacutede e da sociedade como um todo jaacute que se apresenta como

grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil e no mundo sendo a segunda doenccedila

infecciosa que mais causa morte em humanos1 Por isso exige o desenvolvimento

de estrateacutegias para o seu controle considerando aspectos humanitaacuterios

econocircmicos e de sauacutede puacuteblica (BRASIL 2011 GUMBO 2012 BARBOSA et al

2014)

Anualmente o Brasil ainda registra cerca de 45 mil oacutebitos por tuberculose (BRASIL

2011) A maioria dos oacutebitos eacute evitaacutevel jaacute que as pessoas infectadas podem ter

acesso a serviccedilos de sauacutede para o diagnoacutestico e o tratamento eacute fornecido

gratuitamente Os regimes de tratamento com os faacutermacos de primeira linha podem

curar cerca de 90 dos casos e estatildeo disponiacuteveis haacute deacutecadas nos serviccedilos de

sauacutede (WHO 2014)

O controle da tuberculose eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave

Sauacutede (APS) no Brasil com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional (BRASIL 2006)

Para o controle dessa doenccedila eacute necessaacuterio que os serviccedilos de sauacutede realizem de

maneira eficiente e rotineira as atividades de identificaccedilatildeo precoce dos casos novos

intervenccedilatildeo raacutepida em grupos de maior risco promoccedilatildeo da adesatildeo ao tratamento e

prevenccedilatildeo do oacutebito especialmente nas aacutereas de maior transmissatildeo da doenccedila

Aleacutem disso eacute de grande importacircncia que exista uma vigilacircncia epidemioloacutegica

efetiva para orientar decisotildees dos gestores da sauacutede relativas a este programa

(BIERRENBACH et al 2007)

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) estaacute integrado na rede de

serviccedilos de sauacutede sendo desenvolvido por intermeacutedio de um programa unificado

executado em conjunto pelas esferas federal estadual e municipal O programa

________________________

1 Atualmente a siacutendrome de imunodeficiecircncia adquirida (AIDS) eacute a doenccedila infecciosa de maior

mortalidade em humanos no mundo

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 8: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

SUMAacuteRIO

1 INTRODUCcedilAtildeO 08

2 OBJETIVOS 10

3 METODOLOGIA 11

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE 12

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO 17

51 Agente infeccioso 17

52 Contaacutegio 20

53 Patogecircnese 21

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas 24

6 DIAGNOacuteSTICO 26

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL 29

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano 29

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria 31

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica 34

731 Isoniazida 34

732 Rifampicina 40

733 Pirazinamida 43

734 Etambutol 48

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo 51

75 Medidas profilaacuteticas contra a tuberculose 51

751 Quimioprofilaxia 52

752 Vacinaccedilatildeo BCG 53

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE 54

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 56

REFEREcircNCIAS 58

8

1 INTRODUCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma das doenccedilas mais antigas de que se tem conhecimento foi

detectada em muacutemias egiacutepcias haacute 3400 anos antes de Cristo (CAMPOS 2006

SALDIVA et al 2011) Na atualidade continua a merecer atenccedilatildeo especial dos

profissionais de sauacutede e da sociedade como um todo jaacute que se apresenta como

grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil e no mundo sendo a segunda doenccedila

infecciosa que mais causa morte em humanos1 Por isso exige o desenvolvimento

de estrateacutegias para o seu controle considerando aspectos humanitaacuterios

econocircmicos e de sauacutede puacuteblica (BRASIL 2011 GUMBO 2012 BARBOSA et al

2014)

Anualmente o Brasil ainda registra cerca de 45 mil oacutebitos por tuberculose (BRASIL

2011) A maioria dos oacutebitos eacute evitaacutevel jaacute que as pessoas infectadas podem ter

acesso a serviccedilos de sauacutede para o diagnoacutestico e o tratamento eacute fornecido

gratuitamente Os regimes de tratamento com os faacutermacos de primeira linha podem

curar cerca de 90 dos casos e estatildeo disponiacuteveis haacute deacutecadas nos serviccedilos de

sauacutede (WHO 2014)

O controle da tuberculose eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave

Sauacutede (APS) no Brasil com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional (BRASIL 2006)

Para o controle dessa doenccedila eacute necessaacuterio que os serviccedilos de sauacutede realizem de

maneira eficiente e rotineira as atividades de identificaccedilatildeo precoce dos casos novos

intervenccedilatildeo raacutepida em grupos de maior risco promoccedilatildeo da adesatildeo ao tratamento e

prevenccedilatildeo do oacutebito especialmente nas aacutereas de maior transmissatildeo da doenccedila

Aleacutem disso eacute de grande importacircncia que exista uma vigilacircncia epidemioloacutegica

efetiva para orientar decisotildees dos gestores da sauacutede relativas a este programa

(BIERRENBACH et al 2007)

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) estaacute integrado na rede de

serviccedilos de sauacutede sendo desenvolvido por intermeacutedio de um programa unificado

executado em conjunto pelas esferas federal estadual e municipal O programa

________________________

1 Atualmente a siacutendrome de imunodeficiecircncia adquirida (AIDS) eacute a doenccedila infecciosa de maior

mortalidade em humanos no mundo

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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Page 9: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

8

1 INTRODUCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma das doenccedilas mais antigas de que se tem conhecimento foi

detectada em muacutemias egiacutepcias haacute 3400 anos antes de Cristo (CAMPOS 2006

SALDIVA et al 2011) Na atualidade continua a merecer atenccedilatildeo especial dos

profissionais de sauacutede e da sociedade como um todo jaacute que se apresenta como

grave problema de sauacutede puacuteblica no Brasil e no mundo sendo a segunda doenccedila

infecciosa que mais causa morte em humanos1 Por isso exige o desenvolvimento

de estrateacutegias para o seu controle considerando aspectos humanitaacuterios

econocircmicos e de sauacutede puacuteblica (BRASIL 2011 GUMBO 2012 BARBOSA et al

2014)

Anualmente o Brasil ainda registra cerca de 45 mil oacutebitos por tuberculose (BRASIL

2011) A maioria dos oacutebitos eacute evitaacutevel jaacute que as pessoas infectadas podem ter

acesso a serviccedilos de sauacutede para o diagnoacutestico e o tratamento eacute fornecido

gratuitamente Os regimes de tratamento com os faacutermacos de primeira linha podem

curar cerca de 90 dos casos e estatildeo disponiacuteveis haacute deacutecadas nos serviccedilos de

sauacutede (WHO 2014)

O controle da tuberculose eacute uma das estrateacutegicas prioritaacuterias da Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave

Sauacutede (APS) no Brasil com atuaccedilatildeo em todo o territoacuterio nacional (BRASIL 2006)

Para o controle dessa doenccedila eacute necessaacuterio que os serviccedilos de sauacutede realizem de

maneira eficiente e rotineira as atividades de identificaccedilatildeo precoce dos casos novos

intervenccedilatildeo raacutepida em grupos de maior risco promoccedilatildeo da adesatildeo ao tratamento e

prevenccedilatildeo do oacutebito especialmente nas aacutereas de maior transmissatildeo da doenccedila

Aleacutem disso eacute de grande importacircncia que exista uma vigilacircncia epidemioloacutegica

efetiva para orientar decisotildees dos gestores da sauacutede relativas a este programa

(BIERRENBACH et al 2007)

O Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT) estaacute integrado na rede de

serviccedilos de sauacutede sendo desenvolvido por intermeacutedio de um programa unificado

executado em conjunto pelas esferas federal estadual e municipal O programa

________________________

1 Atualmente a siacutendrome de imunodeficiecircncia adquirida (AIDS) eacute a doenccedila infecciosa de maior

mortalidade em humanos no mundo

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 10: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

9

preconiza como uma das estrateacutegias de erradicaccedilatildeo da doenccedila interromper a cadeia

de transmissatildeo mediante a descoberta e o tratamento dos casos de tuberculose

baciliacutefera Para isso torna-se essencial o diagnoacutestico do maior nuacutemero possiacutevel de

casos e que estes pacientes concluam o tratamento o que representa um grande

desafio jaacute que um dos principais problemas no combate agrave tuberculose refere-se a

natildeo adesatildeo dos pacientes agrave terapia (BRASIL 2011)

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 11: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

10

2 OBJETIVOS

Delinear o tratamento preconizado na atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede no Brasil para

o controle da tuberculose pulmonar e pleural e os aspectos farmacoloacutegicos

dos faacutermacos de primeira linha utilizados

Revisar a literatura em busca de dados epidemioloacutegicos recentes

Descrever a fisiopatologia da infecccedilatildeo e os meacutetodos diagnoacutesticos utilizados

Discutir a importacircncia e o papel do farmacecircutico na equipe de sauacutede

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 12: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

11

3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo realizado atraveacutes de revisatildeo da literatura sobre a temaacutetica da

doenccedila tuberculose no Brasil e no mundo Para o levantamento dos artigos

realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados Portal de Perioacutedicos

CAPESMEC Scielo e LILACS utilizando as palavras-chave tuberculose

Mycobacterium tuberculosis atenccedilatildeo primaacuteria agrave sauacutede e faacutermacos antituberculose

Os criteacuterios de inclusatildeo definidos para a seleccedilatildeo dos artigos foram artigos

publicados em portuguecircs inglecircs ou espanhol que estavam disponiacuteveis na iacutentegra e

que foram publicados e indexados nos referidos bancos de dados no periacuteodo de

2000 a 2015 Aleacutem disso foram utilizados para a pesquisa livros claacutessicos de

Farmacologia Microbiologia e Patologia em suas ediccedilotildees mais recentes bem como

publicaccedilotildees e recomendaccedilotildees da Organizaccedilatildeo Mundial de Sauacutede e do Ministeacuterio da

Sauacutede do Brasil

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 13: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

12

4 ASPECTOS EPIDEMIOLOacuteGICOS DA TUBERCULOSE

A tuberculose eacute a segunda maior causa de morte por doenccedila infecciosa

mundialmente e de acordo com as uacuteltimas estimativas da Organizaccedilatildeo Mundial de

Sauacutede (OMS) no ano de 2013 foram detectados 90 milhotildees de casos novos em

todo mundo e 15 milhatildeo de oacutebitos por tuberculose sendo 11 milhotildees entre as

pessoas HIV-negativos e 04 milhatildeo entre as pessoas HIV-positivas (WHO 2014)

O Brasil faz parte do grupo dos 22 paiacuteses de alta carga priorizados pela OMS que

satildeo os paiacuteses que concentram 80 dos casos de tuberculose no mundo e

atualmente ocupa a 16ordf posiccedilatildeo em nuacutemero absoluto de casos No paiacutes no periacuteodo

de 2005 a 2014 foram diagnosticados em meacutedia 73 mil casos novos de

tuberculose por ano e em 2013 ocorreram 4577 oacutebitos (BRASIL 2015)

A doenccedila apresenta distribuiccedilatildeo desigual nas populaccedilotildees dependendo das

caracteriacutesticas bioloacutegicas sociais culturais e econocircmicas particulares Estudos

apontam maior ocorrecircncia de casos em pessoas com baixa escolaridade

condicionante de sua situaccedilatildeo de sauacutede e de seu acesso aos serviccedilos de sauacutede

(BARBOSA et al 2014)

Haacute maior prevalecircncia da tuberculose em indiviacuteduos do sexo masculino decorrente

de fatores como maior exposiccedilatildeo a riscos relativos em ambientes de trabalho

alcoolismo e tabagismo aleacutem de retardo na procura de serviccedilos de sauacutede pelos

homens (BARBOSA et al 2014) Embora a maioria dos casos e oacutebitos por

tuberculose ocorra entre homens a prevalecircncia da doenccedila entre as mulheres

tambeacutem eacute alta De acordo com dados da OMS em 2013 havia uma estimativa de

33 milhotildees de casos e 510 mil mortes por tuberculose entre as mulheres no mundo

(WHO 2014)

Nas uacuteltimas deacutecadas tem sido observada a elevaccedilatildeo das taxas de incidecircncia e

mortalidade por tuberculose em idosos Esta transiccedilatildeo etaacuteria pode ser devido ao

aumento (relativo e absoluto) da populaccedilatildeo idosa no Brasil consequecircncia da

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 14: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

13

reduccedilatildeo da mortalidade precoce e do aumento da expectativa de vida bem como ao

fato dos idosos terem vivido em deacutecadas em que a transmissatildeo de tuberculose era

mais elevada e a possibilidade de infecccedilatildeo cumulativa aleacutem do risco aumentado de

desenvolvimento da doenccedila devido agrave imunodeficiecircncia proacutepria da idade

(BIERRENBACH et al 2007 BARBOSA et al 2014)

Os idosos apresentam uma maior probabilidade de desenvolverem formas atiacutepicas

de tuberculose aleacutem das associaccedilotildees desta com outras doenccedilas Isso pode

contribuir para atrasos no diagnoacutestico e iniacutecio do tratamento o que determina

elevada mortalidade nessa faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al

2007 BARBOSA et al 2014)

Por outro lado houve uma reduccedilatildeo do nuacutemero absoluto de casos da mortalidade

proporcional e das taxas de mortalidade em crianccedilas Isso pode ser consequente da

diminuiccedilatildeo da incidecircncia de tuberculose na populaccedilatildeo adulta especialmente da

forma pulmonar baciliacutefera altamente contagiosa que representa a principal fonte de

infecccedilatildeo para as crianccedilas Aleacutem disso o aumento da cobertura vacinal por BCG no

Brasil e a eficaacutecia da vacinaccedilatildeo contribuem para a diminuiccedilatildeo da incidecircncia nesta

faixa etaacuteria (CHAIMOWICZ 2001 BIERRENBACH et al 2007)

Apesar do grande nuacutemero de mortes e casos novos detectados desde 1993

quando a OMS declarou a tuberculose como uma emergecircncia de sauacutede puacuteblica

mundial grandes progressos foram feitos Globalmente a taxa de mortalidade caiu

45 desde 1990 e as taxas de incidecircncia de tuberculose estatildeo sendo reduzidas na

maior parte do mundo Entre 2000 e 2013 estima-se que 37 milhotildees de vidas foram

salvas no mundo atraveacutes de um diagnoacutestico eficaz e tratamento correto (WHO

2014)

Em 2001 foi fundada a Stop TB Partnership que tem como missatildeo garantir

tratamento de alta qualidade e atender cada pessoa que eacute vulneraacutevel agrave tuberculose

A meta deste programa eacute reduzir em 50 a prevalecircncia e a mortalidade por

tuberculose em 2015 em todo mundo em comparaccedilatildeo com os dados do ano de

1990 (WHO 2006) De acordo com o Relatoacuterio Global da Tuberculose da OMS o

14

Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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Page 15: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

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Brasil atingiu todas as metas internacionais relacionadas agrave incidecircncia prevalecircncia e

mortalidade por tuberculose (BRASIL 2015)

No ano de 2014 foram diagnosticados 67966 casos novos de tuberculose no Brasil

De acordo com a figura 1 eacute observada uma reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia no

paiacutes que passou de 415 por 100 mil habitantes em 2005 para 335 por 100 mil

habitantes em 2014 o que corresponde a uma reduccedilatildeo meacutedia de 23 ao ano

nesse periacuteodo (BRASIL 2015)

Figura 1 ndash Coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil 2005-2014

Fonte Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatiacutestica (IBGE) (BRASIL 2015)

Os valores do coeficiente de incidecircncia variaram muito entre os estados sendo que

o menor valor foi encontrado no estado de Goiaacutes e o maior no estado do Amazonas

de 110 a 684 por 100 mil habitantes respectivamente De acordo com dados do

Sistema de Informaccedilatildeo de Agravos de Notificaccedilatildeo (SINAN) no ano de 2013 o

estado de Minas Gerais apresentou coeficiente de incidecircncia de 174 por 100 mil

habitantes jaacute a capital Belo Horizonte apresentou coeficiente de 245 por 100 mil

habitantes acima da meacutedia do estado (BRASIL 2015) O maior coeficiente de

incidecircncia em Belo Horizonte pode ser decorrente do acesso agrave assistecircncia agrave sauacutede

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 16: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

15

na capital ser maior que nas cidades do interior do estado gerando mais

atendimentos e notificaccedilotildees de diagnoacutestico

Apesar da reduccedilatildeo do coeficiente de incidecircncia da tuberculose no Brasil ainda

restam desafios para a reduccedilatildeo do nuacutemero de casos da doenccedila visto que o paiacutes

ainda registra cerca de 73 mil casos novos por ano (BRASIL 2015)

O coeficiente de mortalidade por tuberculose tambeacutem apresentou reduccedilatildeo no

periacuteodo de 2004 a 2013 como eacute mostrado na figura 2 No ano de 2013 o estado de

Minas Gerais apresentou coeficiente de 11 por 100 mil habitantes e a capital Belo

Horizonte de 10 por 100 mil habitantes ambos tiveram menor risco de morte por

tuberculose que o total do paiacutes que foi de 23 por 100 mil habitantes (BRASIL

2015)

Figura 2 ndash Coeficiente de mortalidade por tuberculose no Brasil 2004-2013

Fonte Sistema de Informaccedilotildees sobre Mortalidade (SIM) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

(IBGE) (BRASIL 2015)

Eacute recomendaccedilatildeo mundial que a proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera seja de 850 juntamente com uma proporccedilatildeo de abandono de

tratamento abaixo de 50 e agrave taxa de detecccedilatildeo acima de 70 Estes fatores

aliados possibilitam reduccedilatildeo da incidecircncia em torno de 50 a 100 ao ano

auxiliando no controle da tuberculose no paiacutes (BRASIL 2015)

16

Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

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Page 17: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

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Um dado preocupante para o estado de Minas Gerais e a capital Belo Horizonte eacute

relativo agrave proporccedilatildeo de cura de casos novos de tuberculose pulmonar baciliacutefera um

dos indicadores prioritaacuterios para o controle da tuberculose que em 2013 foi de

apenas 672 e 623 respectivamente Os valores encontrados estatildeo abaixo do

percentual do paiacutes que registrou 725 de cura no ano de 2013 e tambeacutem satildeo

inferiores ao que eacute preconizado pela OMS (BRASIL 2015)

Aleacutem disso as taxas de abandono do tratamento de casos novos de tuberculose

pulmonar baciliacutefera estatildeo muito acima de 50 no estado de Minas Gerais sendo

registrados 90 de abandono em 2013 Jaacute em Belo Horizonte esta proporccedilatildeo foi

ainda mais alta alcanccedilando 127 o que superou a meacutedia nacional de 109 de

abandono do tratamento em casos novos (BRASIL 2015)

A alta taxa de abandono e baixa taxa de cura corroboram com a assertiva de

fragilidade nos serviccedilos de sauacutede locais A efetividade limitada da atenccedilatildeo baacutesica

em diversas partes do paiacutes leva comumente a retardo eou inadequaccedilatildeo no

tratamento dos doentes com tuberculose que acabam desenvolvendo quadros mais

arrastados da doenccedila com baixa porcentagem de cura e elevado nuacutemero de

abandono do tratamento (BARBOSA et al 2014)

Diante dos problemas enfrentados a OMS estabeleceu no ano de 2013 uma

estrateacutegia global e metas para a prevenccedilatildeo cuidado e controle da tuberculose a

partir do ano de 2015 intitulada ldquoGlobal strategy and targets for tuberculosis

preventioncare and control after 2015rdquo na qual estabelece metas desafiadoras para

os paiacuteses no futuro tendo como visatildeo ldquoum mundo livre de tuberculose zero mortes

adoecimento e sofrimento devido agrave doenccedilardquo Neste relatoacuterio estabelece metas para

os anos de 2025 e 2035 bem como o objetivo de acabar com a epidemia global de

tuberculose (WHO 2013)

Para o alcance desse compromisso a Stop TB Partnership lanccedilou o tema

ldquoAlcanccedilando os 3 milhotildees de casos natildeo detectados rastrear tratar e curar a todosrdquo

A mobilizaccedilatildeo visa marcar o compromisso poliacutetico e social em busca da eliminaccedilatildeo

da tuberculose como um problema de sauacutede puacuteblica mundial (BRASIL 2015)

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 18: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

17

5 FISIOPATOLOGIA DA INFECCcedilAtildeO

A tuberculose eacute uma doenccedila infecciosa granulomatosa crocircnica causada por

micobacteacuterias tipicamente pelo complexo Mycobacterium tuberculosis Pode afetar

qualquer oacutergatildeo ou tecido sendo mais comum o acometimento dos pulmotildees Eacute

caracteriacutestico da doenccedila o desenvolvimento de necrose caseosa nos centros dos

granulomas tuberculosos (HUSAIN 2013)

51 Agente infeccioso

As micobacteacuterias pertencem ao gecircnero Mycobacterium famiacutelia Mycobacteriaceae

sub-ordem Corynebacteriaceae ordem Actinomycetales O gecircnero Mycobacterium

compreende cerca de 100 espeacutecies a maioria saproacutefitas de vida livre (BRASIL

2002 CAMPOS 2006)

O bacilo Mycobacterium tuberculosis foi identificado por Robert Koch em 1882

sendo por isso tambeacutem chamado de bacilo de Koch (BK) em sua homenagem

(BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

O M tuberculosis eacute a espeacutecie-tipo do gecircnero Mycobacterium Dessa forma natildeo eacute

uma espeacutecie uacutenica mas sim um complexo de espeacutecies com 999 de similaridade

em niacutevel de nucleotiacutedeo O complexo eacute constituiacutedo pelas espeacutecies M tuberculosis

(typus humanos) M bovis M canettii e M microtti Todos causam tuberculose

sendo mais comum em humanos a infecccedilatildeo pelo M tuberculosis (BRASIL 2002

CAMPOS 2006 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As caracteriacutesticas que permitem diferenciar os bacilos do complexo M tuberculosis

das outras micobacteacuterias satildeo a presenccedila das sequecircncias geneacuteticas IS6110 IS1081

e mpb70 a ausecircncia de pigmentaccedilatildeo das colocircnias a ausecircncia de crescimento em

18

meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 19: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

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meio com 500gmL de p-nitrobenzoato (PNB) 5 de cloreto de soacutedio catalase

termoestaacutevel e arilsulfatase e ausecircncia de crescimento a 45degC (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias satildeo denominadas bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) o que

significa que quando satildeo coradas a quente com fucsina fenicada de Ziehl ou a frio

com auramina (propriedade utilizada na teacutecnica de coloraccedilatildeo de Ziehl-Neelsen)

reteacutem os corantes natildeo podendo ser descoradas apoacutes lavagens com aacutecido ou aacutelcool

etiacutelico (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014

MURRAY et al 2014)

As bacteacuterias do complexo M tuberculosis satildeo bacilos aeroacutebios retos ou ligeiramente

curvos imoacuteveis natildeo formadores de esporos natildeo encapsulados que medem de 02

a 06 microm de diacircmetro por 1 a 10 microm de comprimento As colocircnias dessas

micobacteacuterias ou apresentam uma coloraccedilatildeo castanho-brilhante ou natildeo satildeo

pigmentadas e dificilmente podem ser corados pelo meacutetodo de Gram No entanto

satildeo considerados como bacteacuterias Gram-positivas pela estrutura baacutesica da sua

parede celular que eacute tiacutepica destas bacteacuterias uma membrana plasmaacutetica interna

recoberta por uma camada espessa de peptidoglicano e ausecircncia de membrana

externa (BRASIL 2002 CAMPOS 2006 MURRAY et al 2014)

Figura 3 ndash Colocircnias de M tuberculosis em aacutegar Loumlwenstein-Jensen apoacutes oito semanas de incubaccedilatildeo

Fonte Murray et al 2014

As propriedades de crescimento sobre o aacutegar satildeo utilizadas para dividir as

micobacteacuterias em dois grupos organismos de crescimento raacutepido que satildeo visiacuteveis a

olho nu em sete dias e satildeo suscetiacuteveis aos antimicrobianos usados contra outros

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 20: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

19

tipos de bacteacuterias e os organismos de crescimento lento que soacute satildeo visiacuteveis mais

tarde e tendem a ser suscetiacuteveis aos antimicrobianos especificamente desenvolvidos

para as micobacteacuterias (GUMBO 2012) O M tuberculosis e as espeacutecies intimamente

relacionadas do complexo satildeo bacteacuterias de crescimento lento (MURRAY et al

2014) consumindo cerca de 20 horas para a duplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et

al 2012)

Aleacutem dessas caracteriacutesticas uma peculiaridade importante eacute o agrupamento dos

bacilos em forma de ramos alongados e tortuosos conhecidos como cordas A

observaccedilatildeo de cordas agrave baciloscopia eacute uma indicaccedilatildeo de que se trata de

micobacteacuterias do complexo M tuberculosis (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Figura 4 ndash Esfregaccedilo de tecido pulmonar evidenciando o arranjo em forma de cordatildeo do M

tuberculosis corado em vermelho Fonte Tortora et al 2012

O termo Mycobacterium do grego ldquomycosrdquo refere-se agrave aparecircncia de cera das

micobacteacuterias que eacute decorrente da composiccedilatildeo de suas paredes celulares

constituiacutedas em mais de 60 por lipiacutedeos principalmente aacutecidos graxos micoacutelicos

(aacutecidos graxos de cadeia longa) A parede celular rica em liacutepides forma uma barreira

hidrofoacutebica o que confere resistecircncia agrave dessecaccedilatildeo agrave descoloraccedilatildeo por aacutelcool e

aacutecido e a diversos agentes quiacutemicos Isso impede que diversos compostos

farmacoloacutegicos cheguem agrave membrana celular bacteriana ou ao citosol Aleacutem disso o

alto conteuacutedo lipiacutedico da parede celular eacute responsaacutevel por importantes efeitos

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 21: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

20

bioloacutegicos como a induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (BRASIL 2002 CAMPOS

2006 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012 BROOKS et al 2014)

As micobacteacuterias apresentam uma abundacircncia de bombas de efluxo na membrana

celular que bombeiam agentes quiacutemicos potencialmente prejudiciais do citoplasma

para o espaccedilo extracelular Estas proteiacutenas de transporte satildeo responsaacuteveis pela

resistecircncia intriacutenseca das micobacteacuterias agrave maioria dos antimicrobianos padrotildees

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Outra forma de defesa das micobacteacuterias eacute a

propensatildeo de alguns bacilos a se esconderem no interior das ceacutelulas do paciente

Dessa forma criam uma barreira fisicoquiacutemica extra que deveraacute ser atravessada

pelos agentes antimicrobianos para que sejam eficazes (GUMBO 2012)

Uma peculiaridade das micobacteacuterias eacute a capacidade de entrarem em estado de

dormecircncia no qual sobrevivem sem se dividir Isso apresenta um significado cliacutenico

importante jaacute que a tuberculose frequentemente representa a reativaccedilatildeo de uma

infecccedilatildeo antiga subcliacutenica ocorrida vaacuterios anos antes Este estado de dormecircncia

permite que os bacilos permaneccedilam em pequenos grupos populacionais o que

dificulta de uma maneira geral a erradicaccedilatildeo da doenccedila (BRASIL 2002)

52 Contaacutegio

A via de infecccedilatildeo tuberculosa eacute quase sempre inalatoacuteria Em situaccedilotildees excepcionais

a infecccedilatildeo pode ser feita por inoculaccedilatildeo direta do bacilo A fonte de infecccedilatildeo habitual

eacute o indiviacuteduo baciliacutefero isto eacute portador da forma pulmonar da doenccedila com

baciloscopia de escarro positiva que ao tossir espirrar ou falar elimina gotiacuteculas de

secreccedilatildeo com as micobacteacuterias no ar ambiente (BRASIL 2002 CAMPOS 2006

BRASIL 2011 HUSAIN 2013) As formas exclusivamente extrapulmonares natildeo

transmitem a doenccedila (BRASIL 2011) Segundo Souza e Vasconcelos (2005) o

espirro ou tosse de um indiviacuteduo baciliacutefero joga no ar cerca de dois milhotildees de

bacilos que permanecem em suspensatildeo durante horas

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 22: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

21

As partiacuteculas contaminadas com os bacilos (gotiacuteculas de Fluumlgge) apresentam

tamanhos variados As gotiacuteculas mais pesadas depositam-se rapidamente e as mais

leves permanecem em suspensatildeo no ar que ao serem expostas ao vento e aos

raios solares satildeo ressecadas e passam a ter volume ainda menor Somente os

nuacutecleos secos das gotiacuteculas (nuacutecleo de Wells) podem atingir os bronquiacuteolos e

alveacuteolos pulmonares As gotiacuteculas meacutedias satildeo na sua maioria retidas pela mucosa

do trato respiratoacuterio superior e removidas dos brocircnquios atraveacutes dos movimentos

muco-ciliares Os bacilos removidos satildeo deglutidos inativados pelo suco gaacutestrico e

eliminado nas fezes (BRASIL 2002 CAMPOS 2006)

As correntes de ar dispersando as partiacuteculas no ambiente a luz ultravioleta solar e a

radiaccedilatildeo gama destruindo os bacilos satildeo fatores ambientais que reduzem as

possibilidades das partiacuteculas infectantes serem inaladas Se a inalaccedilatildeo dos nuacutecleos

de Wells acontecer esses indiviacuteduos passam a ser chamados de infectados

Entretanto a probabilidade dessa infecccedilatildeo evoluir para doenccedila depende de fatores

ligados agrave carga bacteriana e agraves defesas imunes do indiviacuteduo (BRASIL 2002

SALDIVA et al 2011 HUSAIN 2013 MURRAY et al 2014) De um modo geral

estima-se que 10 dos infectados desenvolveratildeo a doenccedila sendo que o risco de

adoecimento eacute maior nos dois primeiros anos apoacutes a infecccedilatildeo (BRASIL 2002

CAMPOS 2006)

53 Patogecircnese

Como exposto anteriormente a tuberculose representa uma doenccedila da imunidade

Dessa forma condiccedilotildees que reduzem o sistema imunoloacutegico do hospedeiro como

desnutriccedilatildeo alcoolismo faacutermacos imunossupressores bem como a co-infecccedilatildeo com

o viacuterus da AIDS aumentam a incidecircncia e a gravidade da doenccedila (SALDIVA et al

2011 MURRAY et al 2014) Aleacutem disso a produccedilatildeo e o desenvolvimento de

lesotildees assim como sua cicatrizaccedilatildeo ou progressatildeo satildeo tambeacutem determinados pelo

nuacutemero de micobacteacuterias inoculadas (dose infectante) e pela subsequente

22

multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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Page 23: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

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multiplicaccedilatildeo dos bacilos (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014 MURRAY et

al 2014)

O bacilo possui trecircs componentes baacutesicos em sua parede celular que

desempenham funccedilotildees determinadas na reaccedilatildeo inflamatoacuteria (1) lipiacutedeos que satildeo

responsaacuteveis pela ativaccedilatildeo de monoacutecitos e macroacutefagos e sua posterior

transformaccedilatildeo em ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes multinucleadas aleacutem de

contribuiacuterem para induccedilatildeo da formaccedilatildeo de granuloma (2) proteiacutenas

(tuberculoproteiacutenas) que conferem sensibilizaccedilatildeo ao bacilo e contribuem para a

formaccedilatildeo de ceacutelulas epitelioacuteides e ceacutelulas gigantes aleacutem de uma variedade de

anticorpos (3) carboidratos responsaacuteveis pela reaccedilatildeo neutrofiacutelica (SALDIVA et al

2011 BROOKS et al 2014)

Quando um hospedeiro entra em contato pela primeira vez com o bacilo denomina-

se primoinfecccedilatildeo ou tuberculose primaacuteria que eacute uma forma de doenccedila que se

desenvolve em pacientes natildeo expostos e portanto natildeo sensibilizados (SALDIVA et

al 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

Apoacutes a infecccedilatildeo pela micobacteacuteria o hospedeiro isola os patoacutegenos em uma lesatildeo

fechada denominada tubeacuterculo uma caracteriacutestica que originou o nome da doenccedila

Os tubeacuterculos bacilares que alcanccedilam os alveacuteolos pulmonares desencadeiam uma

reaccedilatildeo inflamatoacuteria e satildeo ingeridos pelos macroacutefagos mas alguns frequentemente

sobrevivem Neste estaacutegio haacute presenccedila da infecccedilatildeo poreacutem sem sintomas da doenccedila

(SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012)

Os tubeacuterculos multiplicam-se no interior dos macroacutefagos o que gera uma resposta

quimiotaacutetica com a liberaccedilatildeo de citocinas e linfocinas que atraem macroacutefagos

adicionais e outras ceacutelulas de defesa como monoacutecitos e neutroacutefilos

polimorfonucleares Alguns macroacutefagos desenvolvem maior habilidade de eliminar o

microrganismo poreacutem a maioria natildeo tem sucesso e podem ser mortos pelo bacilo

Entretanto estas ceacutelulas de defesa liberam enzimas e citocinas que causam uma

lesatildeo pulmonar inflamatoacuteria (TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

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dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

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manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

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6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

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no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

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Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

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7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

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Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

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precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

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O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

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73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

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constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

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Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 24: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

23

Apoacutes algumas semanas os sintomas da doenccedila aparecem agrave medida que muitos

macroacutefagos morrem liberando bacilos do tubeacuterculo e formando um centro caseoso

nele Os bacilos aeroacutebios natildeo crescem bem neste local poreacutem muitos permanecem

dormentes nestes focos por deacutecadas o que determina a tuberculose latente Tais

pacientes estatildeo infectados poreacutem natildeo apresentam a doenccedila ativa e natildeo podem

transmitir os bacilos a outras pessoas Ainda assim condiccedilotildees que comprometam a

funccedilatildeo imune do hospedeiro podem desencadear uma reativaccedilatildeo posterior da

infecccedilatildeo (TORTORA et al 2012 HUSSAIN 2013 MURRAY et al 2014)

Quando a doenccedila eacute interrompida neste estaacutegio ocorre uma cicatrizaccedilatildeo lenta de

modo que todo o exsudato eacute absorvido contendo o avanccedilo do bacilo Em

sequecircncia haacute a calcificaccedilatildeo das lesotildees formando o complexo primaacuterio ou complexo

de Ghon O complexo primaacuterio pode evoluir para cura atraveacutes da eliminaccedilatildeo do

microrganismo e processo reparativo de cicatrizaccedilatildeo e calcificaccedilatildeo das lesotildees

deixando apenas uma pequena sequela nos pulmotildees (SALDIVA et al 2011

TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

Entretanto se as defesas do hospedeiro falharem a infecccedilatildeo pode progredir

processo denominado liquefaccedilatildeo Neste processo haacute o aumento do centro caseoso

formando uma cavidade tuberculosa cheia de ar fora dos macroacutefagos onde

acontece a multiplicaccedilatildeo dos bacilos aeroacutebios A extensatildeo da necrose caseosa nos

granulomas eacute proporcional agrave carga de bacilos e ao grau de hipersensibilidade do

hospedeiro A liquefaccedilatildeo continua ateacute ocorrer o rompimento do tubeacuterculo o que

permite que os bacilos liberados atinjam os bronquiacuteolos e entatildeo se disseminem

atraveacutes dos pulmotildees para os sistemas circulatoacuterio e linfaacutetico dando origem agrave doenccedila

tuberculose (SALDIVA et al 2011 TORTORA et al 2012 MURRAY et al 2014)

A tuberculose secundaacuteria tambeacutem conhecida como tuberculose de reinfecccedilatildeo

(endoacutegena ou exoacutegena) ou tuberculose do adulto eacute um padratildeo de doenccedila que surge

em hospedeiros previamente sensibilizados Pode surgir logo apoacutes a primaacuteria

poreacutem eacute mais comum ocorrer com a reativaccedilatildeo de lesotildees primaacuterias dormentes

quando haacute queda da imunidade do hospedeiro Essa reativaccedilatildeo pode acontecer

muitas deacutecadas apoacutes a infecccedilatildeo inicial com a multiplicaccedilatildeo dos bacilos dormentes

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 25: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

24

dando origem a novos granulomas e a novas lesotildees Em outros casos pode surgir

em indiviacuteduos que tiveram a primoinfecccedilatildeo curada bacteriologicamente e sofrem

reinfecccedilatildeo exoacutegena devido agrave queda na proteccedilatildeo proporcionada pela doenccedila

primaacuteria ou agrave inoculaccedilatildeo de uma dose infectante alta (SALDIVA et al 2011

BROOKS et al 2014) Independente da origem do bacilo menos de 5 dos

pacientes com a doenccedila primaacuteria desenvolve a tuberculose secundaacuteria (BROOKS et

al 2014)

54 Manifestaccedilotildees cliacutenicas

As manifestaccedilotildees cliacutenicas da tuberculose pulmonar podem ser variadas Na maioria

das vezes ocorre febre habitualmente moderada persistente por mais de quinze

dias e frequentemente vespertina Outros sintomas claacutessicos satildeo tosse persistente

produtiva ou natildeo (com muco e eventualmente sangue) sudorese noturna

irritabilidade anorexia2 emagrecimento e adinamia3 (BRASIL 2002 SOUZA e

VASCONCELOS 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

A presenccedila de tosse produtiva por trecircs semanas ou mais caracteriza o sintomaacutetico

respiratoacuterio (BRASIL 2002) Eacute recomendaccedilatildeo mundial realizar a busca ativa do

indiviacuteduo sintomaacutetico respiratoacuterio o que deve ser uma estrateacutegia priorizada nos

serviccedilos de sauacutede em todos os niacuteveis de complexidade Eacute de fundamental

importacircncia identificar precocemente os casos baciacuteliferos para interromper a cadeia

de transmissatildeo da tuberculose (BRASIL 2011)

Eacute estimada na populaccedilatildeo geral que cerca de 80 dos casos de tuberculose sejam

da forma pulmonar e 20 sejam extrapulmonar Como a forma pulmonar da doenccedila

eacute a forma infectante eacute esperada maior prevalecircncia desses casos Na APS eacute

realizado o acompanhamento da tuberculose pulmonar e pleural As demais formas

extrapulmonares estatildeo geralmente associadas a casos de imunodepressatildeo ou

infecccedilotildees concomitantes como infecccedilatildeo pelo HIV (BARBOSA et al 2014) e devem

ser acompanhadas em locais de referecircncia secundaacuteria ou terciaacuteria As

________________________

2 Anorexia diminuiccedilatildeo ou perda de apetite

3 Adinamia reduccedilatildeo da forccedila muscular fraqueza debilidade muscular

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

60

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

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Page 26: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

25

manifestaccedilotildees extrapulmonares dependem do sistema do oacutergatildeo envolvido (HUSAIN

2013)

A tuberculose pleural cursa com dor toraacutecica do tipo pleuriacutetica Em 70 dos

pacientes ocorre astenia4 emagrecimento e anorexia Febre com tosse seca eacute

comum em cerca de 60 dos indiviacuteduos acometidos pela doenccedila A dispneia5 pode

aparecer somente nos casos com maior tempo de evoluccedilatildeo dos sintomas

Eventualmente a tuberculose pleural apresenta-se clinicamente simulando

pneumonia bacteriana aguda (BRASIL 2011 HUSAIN 2013)

________________________

4 Astenia perda ou diminuiccedilatildeo da forccedila fiacutesica

5 Dispneia dificuldade de respirar falta de ar

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

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Page 27: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

26

6 DIAGNOacuteSTICO

O diagnoacutestico cliacutenico-epidemioloacutegico da tuberculose eacute feito atraveacutes da anaacutelise das

diferentes manifestaccedilotildees cliacutenicas Dessa forma devem ser investigados

individualmente todos os sinais e sintomas desenvolvidos pelo paciente (BRASIL

2011) Para o diagnoacutestico da tuberculose pulmonar aleacutem da avaliaccedilatildeo do quadro

cliacutenico devem ser realizados exames bacterioloacutegicos (baciloscopia eou cultura) e

radioloacutegicos (FERREIRA et al 2005)

A baciloscopia eacute um meacutetodo diagnoacutestico simples e de baixo custo que identifica os

bacilos aacutelcool-aacutecido resistentes (BAAR) poreacutem apresenta baixa sensibilidade pois a

positividade do exame soacute eacute alcanccedilada com uma contagem significante de bacilos

(5000cmsup3) Isso acarreta uma grande probabilidade da ocorrecircncia de falsos-

negativos tanto em funccedilatildeo do estaacutegio inicial da doenccedila tendo em vista que o bacilo

apresenta um crescimento lento quanto devido agrave imunidade do indiviacuteduo que pode

manter os niacuteveis de infecccedilatildeo controlados (FERREIRA et al 2005)

A teacutecnica mais utilizada no Brasil eacute a pesquisa do BAAR pelo meacutetodo de Ziehl-

Nielsen realizada atraveacutes do esfregaccedilo de amostra cliacutenica com observaccedilatildeo ao

microscoacutepio de campo claro O escarro eacute a amostra clinica mais utilizada O material

colhido deve ser proveniente da aacutervore brocircnquica obtido por tosse profunda apoacutes a

lavagem preacutevia da boca Deve ser realizada em no miacutenimo duas amostras sendo

uma delas na ocasiatildeo da primeira consulta e a outra independentemente do

resultado da primeira na manhatilde do dia seguinte preferencialmente ao despertar O

resultado da baciloscopia eacute expresso em cruzes (+ ++ ou +++) conforme a

quantidade de bacilos encontrada por campo (BRASIL 2008 BRASIL 2011)

A cultura eacute um meacutetodo de elevada especificidade e sensibilidade no diagnoacutestico da

tuberculose considerada padratildeo-ouro para confirmaccedilatildeo da doenccedila Entretanto

apresenta como desvantagem o diagnoacutestico tardio devido agrave lenta reproduccedilatildeo do

bacilo que pode durar de quatro a oito semanas Isso pode influenciar no controle

da doenccedila pois o diagnoacutestico precoce interrompe o ciclo de transmissatildeo Por isso

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 28: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

27

no Brasil a maioria dos pacientes inicia o tratamento somente com base no

diagnoacutestico cliacutenico-radioloacutegico e da baciloscopia Os meacutetodos claacutessicos para cultura

de micobacteacuterias utilizam a semeadura da amostra em meios de cultura soacutelidos

mais comumente os soacutelidos agrave base de ovo Loumlwenstein-Jensen e Ogawa-Kudoh

(FERREIRA et al 2005 BRASIL 2011 HUSAIN 2013 BROOKS et al 2014)

O teste de sensibilidade eacute um meacutetodo secundaacuterio que avalia em geral os faacutermacos

isoniazida rifampicina etambutol pirazinamida e estreptomicina Eacute importante para

auxiliar na seleccedilatildeo dos medicamentos e garantir a eficaacutecia do tratamento (BRASIL

2011 BROOKS et al 2014) Os meacutetodos disponiacuteveis no Brasil satildeo o meacutetodo das

proporccedilotildees que utiliza meio soacutelido e portanto tem seu resultado apoacutes 42 dias de

incubaccedilatildeo e os meacutetodos que utilizam o meio liacutequido com resultados disponiacuteveis

apoacutes 5 a 13 dias (BRASIL 2011)

A radiografia de toacuterax deve ser solicitada para todo paciente com suspeita cliacutenica de

tuberculose pulmonar Entretanto ateacute 15 dos casos de tuberculose pulmonar natildeo

apresentam alteraccedilotildees radioloacutegicas principalmente pacientes imunodeprimidos Os

achados radioloacutegicos apontam para a suspeita de doenccedila em atividade ou doenccedila

no passado aleacutem do tipo e extensatildeo do comprometimento pulmonar Nos pacientes

com suspeita cliacutenica o exame radioloacutegico permite a diferenciaccedilatildeo de imagens

sugestivas de tuberculose ou de outra doenccedila sendo indispensaacutevel submetecirc-los a

exame bacterioloacutegico (BRASIL 2011)

Outro meacutetodo utilizado eacute a prova tuberculiacutenica que consiste na inoculaccedilatildeo

intradeacutermica de um derivado proteacuteico do M tuberculosis obtida por precipitaccedilatildeo de

culturas em caldo para medir a resposta imune celular a estes antiacutegenos No Brasil

a tuberculina usada eacute o PPD-RT 23 aplicada por via intradeacutermica no terccedilo meacutedio da

face anterior do antebraccedilo esquerdo na dose de 01mL A teacutecnica de aplicaccedilatildeo de

leitura e o material utilizado satildeo padronizados pela OMS e devem ser realizadas por

profissionais treinados (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012) A positividade do

teste tuberculiacutenico natildeo indica necessariamente a presenccedila de doenccedila ativa sendo

utilizado em adultos e crianccedilas para o diagnoacutestico de infecccedilatildeo latente pelo M

tuberculosis (BRASIL 2011 TORTORA et al 2012 BROOKS et al 2014)

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 29: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

28

Os testes moleculares para o diagnoacutestico da tuberculose devem ser utilizados

apenas para uso em amostras respiratoacuterias ou seja para a investigaccedilatildeo de

tuberculose pulmonar em pacientes adultos sem histoacuteria preacutevia de tratamento

antituberculose Natildeo devem ser utilizados para o monitoramento do tratamento e

natildeo substituem o exame de cultura para micobacteacuterias Estes meacutetodos satildeo

baseados na amplificaccedilatildeo e detecccedilatildeo de sequecircncias especiacuteficas de aacutecidos nucleicos

do complexo M tuberculosis em espeacutecimes cliacutenicos fornecendo resultados raacutepidos

em 24 a 48 horas Recentemente novos testes moleculares foram desenvolvidos

para detecccedilatildeo da tuberculose e da resistecircncia ao faacutermaco rifampicina para uso em

paiacuteses de elevada carga da doenccedila (BRASIL 2011)

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

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Page 30: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

29

7 TRATAMENTO PRECONIZADO NA ATENCcedilAtildeO PRIMAacuteRIA Agrave SAUacuteDE NO

BRASIL

71 Princiacutepios do tratamento antimicobacteriano

Os princiacutepios baacutesicos para o tratamento da tuberculose incluem a associaccedilatildeo

medicamentosa adequada com doses corretas e uso por tempo suficiente aleacutem da

supervisatildeo da tomada dos medicamentos Se obedecidos os princiacutepios da

quimioterapia e a operacionalizaccedilatildeo adequada do tratamento garante-se a cura em

praticamente 100 dos casos novos e a reduccedilatildeo do periacuteodo de transmissibilidade

da doenccedila (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

Para a definiccedilatildeo do tratamento devem ser consideradas trecircs caracteriacutesticas

importantes do complexo M tuberculosis aerobiose estrita multiplicaccedilatildeo lenta e alta

proporccedilatildeo de mutantes resistentes (BRASIL 2002)

Os bacilos satildeo aeroacutebios estritos e portanto necessitam de oxigecircnio para seu

metabolismo por isso comportam-se de maneira distinta de acordo com a

localizaccedilatildeo e tipo de lesatildeo no organismo Dessa forma os medicamentos tambeacutem

precisam agir de forma diferente conforme o tipo de populaccedilatildeo baciliacutefera (BRASIL

2002)

As micobacteacuterias satildeo patoacutegenos intracelulares e no interior dos macroacutefagos os

bacilos se multiplicam de forma lenta jaacute que as condiccedilotildees satildeo desfavoraacuteveis devido

ao pH aacutecido do meio agrave accedilatildeo enzimaacutetica da ceacutelula e agrave deficiente oferta de oxigecircnio

(BRASIL 2002) Em virtude do crescimento lento das micobacteacuterias quando

comparado ao de outras bacteacuterias os antimicrobianos mais ativos contra ceacutelulas em

crescimento mostram-se relativamente ineficazes (CHAMBERS 2010) Dessa

forma no interior dos macroacutefagos as drogas que agem melhor satildeo as que se

difundem em meio intracelular e atuam em pH aacutecido que satildeo rifampicina

pirazinamida e etambutol (BRASIL 2002)

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 31: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

30

Em lesotildees fechadas caseosas com pH neutro ou aacutecido os bacilos tecircm que

acumular uma certa quantidade do oxigecircnio proveniente do metabolismo tecidual

para entatildeo se multiplicarem apresentando um crescimento intermitente Nestas

aacutereas a droga mais efetiva e de maior rapidez de accedilatildeo eacute a rifampicina sendo a

atuaccedilatildeo da isoniazida mais lenta e demorada Na parede cavitaacuteria as accedilotildees da

rifampicina da isoniazida e da estreptomicina que soacute age em pH neutro satildeo boas

(BRASIL 2002)

Os bacilos apresentam divisatildeo celular lenta pois transferem seu metabolismo para

construccedilatildeo da caacutepsula em detrimento da proacutepria construccedilatildeo proteica celular Os

medicamentos encontram dificuldades de penetraccedilatildeo atraveacutes da caacutepsula por isso

soacute agem durante o metabolismo ativo na divisatildeo bacilar Dessa forma quanto mais

lento o metabolismo mais demorada tambeacutem seraacute a atividade medicamentosa No

estado de infecccedilatildeo sem desenvolvimento da doenccedila e sem atividade bacilar os

medicamentos natildeo apresentam atividade (BRASIL 2002)

As micobacteacuterias apresentam grande capacidade em desenvolver resistecircncia Em

geral a prevalecircncia dos mutantes resistentes ao faacutermaco em populaccedilotildees sensiacuteveis

de micobacteacuterias eacute de aproximadamente 1 em cada 106 bacilos Como as lesotildees da

tuberculose frequentemente podem conter de 107 a 109 microrganismos verifica-se

a raacutepida seleccedilatildeo de cepas resistentes a qualquer faacutermaco em monoterapia Visto

que as mutaccedilotildees que resultam na resistecircncia ao faacutermaco satildeo eventos

independentes a probabilidade de que um bacilo seja resistente a dois faacutermacos eacute

pequena cerca de 1 em cada 1012 (1 em 106 x 106) ou seja vaacuterias ordens de

magnitude acima do nuacutemero de microrganismos infectantes Portanto o uso

associado de dois ou mais faacutermacos com mecanismos de accedilatildeo independentes eacute

muito mais efetivo para evitar o desenvolvimento de resistecircncia durante a

quimioterapia (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Todas essas caracteriacutesticas do bacilo determinam uma evoluccedilatildeo crocircnica para a

doenccedila o que exige um tempo prolongado de tratamento com associaccedilotildees de no

miacutenimo dois agentes ativos (BRASIL 2002 CHAMBERS 2010 MURRAY 2014)

Dessa forma o esquema terapecircutico antituberculose deve ter atividade bactericida

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

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Page 32: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

31

precoce e atividade esterilizante aleacutem de ser capaz de prevenir a emergecircncia de

bacilos resistentes (BRASIL 2011)

72 Esquemas de tratamento preconizados na atenccedilatildeo primaacuteria

O primeiro antimicrobiano efetivo no tratamento da tuberculose foi a estreptomicina

introduzida em 1944 Este faacutermaco ainda eacute utilizado poreacutem eacute considerado de

segunda linha (TORTORA et al 2012)

Os faacutermacos rifampicina isoniazida pirazinamida e etambutol satildeo atualmente

considerados como os agentes antituberculose de primeira linha (CHAMBERS

2010 GUMBO 2012) constituindo o atual esquema padratildeo para casos novos da

doenccedila na APS no Brasil (BRASIL 2011)

Os faacutermacos de segunda linha satildeo mais toacutexicos eou menos eficazes e por isso soacute

devem ser utilizados em circunstacircncias excepcionais como falha do tratamento com

o esquema baacutesico intoleracircncia ou resistecircncia aos agentes de primeira linha

(GUMBO 2012 BROOKS 2014) Se for necessaacuterio o tratamento da tuberculose

com esquemas especiais deve ser realizado em locais de referecircncia secundaacuteria ou

terciaacuteria com a conduccedilatildeo dos casos por profissionais capacitados (BRASIL 2011

MIRANDA 2012)

No Brasil os esquemas de tratamento da tuberculose satildeo padronizados desde 1979

pelo Ministeacuterio da Sauacutede (MS) e a partir do ano de 2009 foi introduzido o etambutol

ao esquema apoacutes uma revisatildeo no sistema de tratamento da tuberculose pelo

PNCT em conjunto com seu comitecirc teacutecnico assessor que mostrou um aumento da

resistecircncia primaacuteria agrave isoniazida de 44 para 60 (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) De acordo com Gumbo (2012) a inclusatildeo de etambutol na terapia inicial eacute

indicada em casos de resistecircncia agrave isoniazida ateacute que a suscetibilidade agrave isoniazida

seja documentada

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 33: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

32

O tratamento indicado pelo MS para todos os casos novos de tuberculose estaacute

disponiacutevel na apresentaccedilatildeo farmacoloacutegica de comprimidos com doses fixas

combinadas de rifampicina (R) 150mg isoniazida (H) 75mg pirazinamida (Z) 400mg

e etambutol (E) 275mg Esta combinaccedilatildeo eacute recomendada durante a fase intensiva

da quimioterapia durante dois meses Na fase de manutenccedilatildeo do tratamento que

dura quatro meses satildeo utilizados comprimidos com doses fixas de rifampicina

150mg e isoniazida 75mg (figura 5)

Figura 5 ndash Esquemas baacutesicos para o tratamento da tuberculose em adultos Fase intensiva (agrave

esquerda) e fase de manutenccedilatildeo (agrave direita)

O esquema (2RHZE4RH) eacute preconizado pela OMS para adultos e adolescentes

com posologia determinada atraveacutes da faixa de peso do paciente (ARBEX et al

2010 BRASIL 2011) de acordo com a tabela 1 Em todos os esquemas a

medicaccedilatildeo deveraacute ser administrada em uma uacutenica tomada diaacuteria (BRASIL 2011)

Tabela 1 Esquema baacutesico para tratamento da TB em adultos e adolescentes no Brasil

Regime Faacutermacos Faixa de peso Dose diaacuteria Duraccedilatildeo

2 RHZE

Fase intensiva

RHZE 15075400275mg

comprimido em dose fixa

combinada

20 a 35kg 2 comprimidos

2 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

RH 15075mg

20 a 35kg 2 comprimidos

4 meses 36 a 50kg 3 comprimidos

gt 50kg 4 comprimidos

Fonte BRASIL 2011

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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Page 34: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

33

Para crianccedilas menores de 10 anos eacute recomendado o esquema somente com

rifampicina (R) isoniazida (H) e pirazinamida (Z) como indicado na tabela 2 (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011) Segundo Gumbo (2012) o uso de etambutol em

crianccedilas deve ser cauteloso uma vez que haacute risco de toxicidade ocular com o uso

deste medicamento e o monitoramento da acuidade visual eacute difiacutecil de ser feito em

menores de cinco anos

Tabela 2 Esquema baacutesico para tratamento da TB em crianccedilas (menores de 10 anos) na atenccedilatildeo

primaacuteria agrave sauacutede no Brasil

Fases do

tratamento Faacutermacos

Peso do paciente

Ateacute 20kg 21 a 35kg 36 a 45kg gt 45kg

mgkgdia mgdia mgdia mgdia

2 RHZ

Fase de

ataque

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Z 35 1000 1500 2000

4 RH

Fase de

manutenccedilatildeo

R 10 300 450 600

H 10 200 300 400

Fonte BRASIL 2011

Os faacutermacos rifampicina e isoniazida satildeo os faacutermacos mais ativos para o controle da

doenccedila A adiccedilatildeo de pirazinamida agrave associaccedilatildeo de rifampicina-isoniazida nos

primeiros dois meses permite uma reduccedilatildeo da duraccedilatildeo total do tratamento em seis

meses sem qualquer perda da eficaacutecia O etambutol natildeo contribui de modo

significativo para a atividade global do esquema jaacute que natildeo se pode reduzir ainda

mais a duraccedilatildeo do tratamento com sua utilizaccedilatildeo poreacutem este faacutermaco proporciona

uma cobertura adicional se o microrganismo isolado for resistente agrave isoniazida

rifampicina ou a ambos os faacutermacos (CHAMBERS 2010)

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

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Page 35: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

34

73 Aspectos farmacoloacutegicos dos medicamentos utilizados no tratamento da

tuberculose na atenccedilatildeo baacutesica

731 Isoniazida

A isoniazida eacute o faacutermaco primaacuterio mais ativo para a quimioterapia da tuberculose

Todos os pacientes com cepas sensiacuteveis do bacilo devem usar este faacutermaco se

forem capazes de toleraacute-lo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

A isoniazida eacute uma pequena moleacutecula hidrossoluacutevel (PM = 137) In vitro inibe a

maioria dos bacilos da tuberculose em uma concentraccedilatildeo de 002 a 02microgmL Eacute

bactericida para as micobacteacuterias em fase de crescimento ativo (multiplicaccedilatildeo

raacutepida) mas tem accedilatildeo restrita para os bacilos de crescimento lento e intermitente

sendo pouco efetiva para espeacutecies atiacutepicas (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010

GUMBO 2012)

O faacutermaco penetra nos macroacutefagos sendo ativo contra microrganismos

intracelulares e extracelulares (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012)

Mecanismo de accedilatildeo

Inibe a siacutentese de aacutecidos micoacutelicos que satildeo componentes essenciais da parede

celular das micobacteacuterias (GUMBO 2012 DALE et al 2011 ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010) A isoniazida eacute um proacute-faacutermaco que natildeo eacute diretamente toacutexico ao

bacilo poreacutem eacute convertido em sua forma toacutexica no interior do bacilo pela Kat-G a

catalase-peroxidase das micobacteacuterias A Kat-G catalisa a partir da isoniazida a

produccedilatildeo de um radical isonicotinol que interage em seguida com o NAD e NADP

micobacteriano Esta reaccedilatildeo espontacircnea gera um isocircmero nicotinoil-NAD que

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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DALE M Maureen et al Farmacologia 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2011 768 p FERREIRA Aurigena Antunes de Arauacutejo et al Os fatores associados agrave tuberculose pulmonar e a baciloscopia uma contribuiccedilatildeo ao diagnoacutestico nos serviccedilos de sauacutede puacuteblica Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 8 n 2 p 142-149 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1415-790X200500020 0006gt Acesso em 03 Jul 2015 GUMBO Tawanda Quimioterapia da tuberculose complexo Mycobacterium avium e hanseniacutease In BRUNTON Laurence L et al (Ed) Goodman amp Gilman As Bases Farmacoloacutegicas da Terapecircutica 12ed Porto Alegre AMGH 2012 Cap 56 1549-1570 HIJJAR Miguel Aiub et al Retrospecto do controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S0034-89102007000800008ampscript=sci_abstractamptlng=esgt Acesso em 02 Abr 2015 HUSAIN Aliya Noor Pulmatildeo In ROBBINS Stanley L et al Robbins patologia baacutesica 9 ed Rio de Janeiro Elsevier 2013 Cap 12 459-515 MENDES Aderlaine de Melo FENSTERSEIFER Liacutesia Maria Tuberculose porque os pacientes abandonam o tratamento Bol Pneumol Sanit Rio de Janeiro v 12 n 1 2004 Disponiacutevel em lthttpscieloiecpagovbrscielophppid=S0103-460X2004000100005ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Jun 2015 MIRANDA Silvana Spiacutendola de Tratamento da Tuberculose em Situaccedilotildees Especiais Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v 21 n 1 p 68-71 2012 Disponiacutevel em lthttpsopterjcombrprofissionais_revista2012n_0116pdfgt Acesso em 10 Mai 2015 MURRAY Patrick R et al Microbiologia meacutedica 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2014 873 p OLIVEIRA Gisele Pinto de et al Uso do sistema de informaccedilatildeo sobre mortalidade para identificar subnotificaccedilatildeo de casos de tuberculose no Brasil Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 15 n 3 Set 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S1415-790X2012000300003ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Abr 2015

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Page 36: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

35

constitui um complexo covalente e inibe as atividades da proteiacutena carreadora enoil-

acil-redutase (InhA) e da proteiacutena sintetase carreadora β-cetoacil-acil-sintase (KasA)

A inibiccedilatildeo destas proteiacutenas bloqueia a siacutentese de aacutecido micoacutelico o que gera a morte

celular do bacilo (GUMBO 2012 CHAMBERS 2010)

Figura 6 ndash Mecanismo de ativaccedilatildeo da isoniazida Fonte Gumbo 2012

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave isoniazida estaacute associada a mutaccedilotildees que resultam na

superexpressatildeo de inhA que codifica uma proteiacutena redutase carreadora de acil

dependente de NADH Outros possiacuteveis mecanismos de resistecircncia satildeo mutaccedilotildees

ou supressatildeo do gene da enzima katG e mutaccedilotildees nos gentes da proteiacutena kasA

Aleacutem disso podem ocorrer mutaccedilotildees de promotores com consequente

hiperexpressatildeo de ahpC um suposto gene de virulecircncia envolvido na proteccedilatildeo da

ceacutelula contra o estresse oxidativo (CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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DALE M Maureen et al Farmacologia 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2011 768 p FERREIRA Aurigena Antunes de Arauacutejo et al Os fatores associados agrave tuberculose pulmonar e a baciloscopia uma contribuiccedilatildeo ao diagnoacutestico nos serviccedilos de sauacutede puacuteblica Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 8 n 2 p 142-149 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1415-790X200500020 0006gt Acesso em 03 Jul 2015 GUMBO Tawanda Quimioterapia da tuberculose complexo Mycobacterium avium e hanseniacutease In BRUNTON Laurence L et al (Ed) Goodman amp Gilman As Bases Farmacoloacutegicas da Terapecircutica 12ed Porto Alegre AMGH 2012 Cap 56 1549-1570 HIJJAR Miguel Aiub et al Retrospecto do controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S0034-89102007000800008ampscript=sci_abstractamptlng=esgt Acesso em 02 Abr 2015 HUSAIN Aliya Noor Pulmatildeo In ROBBINS Stanley L et al Robbins patologia baacutesica 9 ed Rio de Janeiro Elsevier 2013 Cap 12 459-515 MENDES Aderlaine de Melo FENSTERSEIFER Liacutesia Maria Tuberculose porque os pacientes abandonam o tratamento Bol Pneumol Sanit Rio de Janeiro v 12 n 1 2004 Disponiacutevel em lthttpscieloiecpagovbrscielophppid=S0103-460X2004000100005ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Jun 2015 MIRANDA Silvana Spiacutendola de Tratamento da Tuberculose em Situaccedilotildees Especiais Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v 21 n 1 p 68-71 2012 Disponiacutevel em lthttpsopterjcombrprofissionais_revista2012n_0116pdfgt Acesso em 10 Mai 2015 MURRAY Patrick R et al Microbiologia meacutedica 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2014 873 p OLIVEIRA Gisele Pinto de et al Uso do sistema de informaccedilatildeo sobre mortalidade para identificar subnotificaccedilatildeo de casos de tuberculose no Brasil Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 15 n 3 Set 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S1415-790X2012000300003ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Abr 2015

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

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Page 37: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

36

Farmacocineacutetica

A isoniazida eacute prontamente absorvida pelo trato gastrintestinal e difunde-se

rapidamente em todos os liacutequidos e tecidos corporais (CHAMBERS 2010 DALE et

al 2011) Sua biodisponibilidade administrada por via oral eacute de aproximadamente

100 para a dose de 300mg (GUMBO 2012) Este faacutermaco penetra bem nas lesotildees

caseosas da tuberculose (DALE et al 2011)

O metabolismo da isoniazida eacute hepaacutetico e geneticamente determinado sobretudo a

acetilaccedilatildeo pela N-acetiltransferase hepaacutetica que produz acetilisoniazida e aacutecido

isonicotiacutenico Dessa forma a velocidade de acetilaccedilatildeo eacute caracteriacutestica geneacutetica de

cada paciente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) Assim a concentraccedilatildeo plasmaacutetica meacutedia de isoniazida nos acetiladores

raacutepidos eacute cerca de 33 a metade daquela observada nos acetiladores lentos com

meia-vida de menos de 1h e 3h respectivamente (CHAMBERS 2010) A depuraccedilatildeo

mais raacutepida do faacutermaco pelos acetiladores raacutepidos natildeo tem nenhuma consequecircncia

na atividade antimicrobiana desde que sejam administradas doses apropriadas

diariamente (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

A meia-vida eacute em torno de 1 hora nos acetiladores raacutepidos (variaccedilatildeo 05 - 16 horas)

e de 2 a 5 horas nos pacientes com fenoacutetipo de acetilaccedilatildeo lenta elevando-se ainda

mais na presenccedila de hepatopatias e de insuficiecircncia renal (ARBEX et al 2010)

Segundo Chambers (2010) natildeo haacute necessidade de ajustar a dose na presenccedila de

insuficiecircncia renal Entretanto o ajuste da dose natildeo estaacute bem estabelecido para

pacientes com insuficiecircncia hepaacutetica grave preexistente e deve ser orientado pelas

concentraccedilotildees seacutericas caso se planeje uma reduccedilatildeo da dose e caso a isoniazida for

a causa da hepatite seu uso eacute contraindicado (CHAMBERS 2010)

Os metaboacutelitos inativos da isoniazida e uma pequena quantidade do faacutermaco

inalterado satildeo excretados principalmente por via renal (70-96) na urina (DALE et

al 2011 ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010) De acordo com Chambers

(2010) 7 do faacutermaco excretado na urina podem aparecer de forma livre nos

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 38: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

37

pacientes com acetilaccedilatildeo raacutepida e 37 dessa pode aparecer de forma conjugada

nos pacientes com acetilaccedilatildeo lenta Uma pequena proporccedilatildeo do faacutermaco eacute

eliminada nas fezes (CHAMBERS 2010)

Efeitos adversos

Os efeitos adversos ao esquema baacutesico de tratamento antituberculose satildeo divididos

em efeitos adversos menores em que normalmente natildeo eacute preciso suspender o

medicamento e efeitos adversos maiores que normalmente causam a suspensatildeo

do tratamento (BRASIL 2011)

A incidecircncia e a gravidade das reaccedilotildees adversas agrave isoniazida estatildeo relacionadas

com a dosagem e a duraccedilatildeo do uso (CHAMBERS 2010) Quando utilizada ateacute o

maacuteximo de 300mg por dia a isoniazida geralmente natildeo causa efeitos colaterais em

indiviacuteduos sem hepatopatia ou insuficiecircncia renal Essa eacute a dose proposta para o

tratamento da tuberculose no Brasil em associaccedilatildeo com outros faacutermacos (ARBEX et

al 2010) Os efeitos adversos menores e maiores agrave isoniazida satildeo listados a seguir

Efeitos adversos menores

bull Naacuteuseas vocircmitos e epigastralgia ocorrem com pouca frequecircncia no iniacutecio do

tratamento com isoniazida quando usada isoladamente na quimioprofilaxia da

tuberculose Para aliviar os sintomas eacute recomendado reformular o horaacuterio da

administraccedilatildeo do medicamento para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o

cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica das enzimas hepaacuteticas o aumento da enzima

alanina aminotransferase em ateacute trecircs vezes acima dos niacuteveis seacutericos normais pode

ocorrer em ateacute 10-20 dos pacientes que utilizam a isoniazida isoladamente Os

niacuteveis das enzimas hepaacuteticas retornam ao normal com a continuidade do tratamento

(ARBEX et al 2010)

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 39: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

38

bull Dor articular (artralgia) acontece raramente e responde ao tratamento com

analgeacutesicos ou anti-inflamatoacuterios natildeo hormonais (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011)

bull Alteraccedilotildees de comportamento podem ocorrer cefaleia insocircnia euforia agitaccedilatildeo

ansiedade ou sonolecircncia Deve-se orientar o paciente sobre a possiacutevel ocorrecircncia

desses sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Acne na face e tronco eacute uma manifestaccedilatildeo comum que desaparece com a

suspensatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010)

bull Prurido cutacircneo ou exantema leve recomenda-se medicar o paciente com um anti-

histamiacutenico (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica ocorre em cerca de 20 dos casos e eacute dose dependente

sendo incomum com a posologia de 5mgkgdia A incidecircncia aumenta com doses

maiores que 300mg por dia o que natildeo eacute preconizado no tratamento antituberculose

no Brasil O risco de polineurite aumenta em condiccedilotildees associadas tais como idade

avanccedilada diabetes mellitus alcoolismo deficiecircncia nutricional fenoacutetipo de

acetilaccedilatildeo lenta infecccedilatildeo pelo HIV insuficiecircncia renal gravidez e amamentaccedilatildeo Eacute

recomendada a utilizaccedilatildeo de piridoxina (vitamina B6) na dosagem de 50mg por dia

para prevenir a neuropatia perifeacuterica com o uso de isoniazida (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Psicose crise convulsiva confusatildeo mental encefalopatia toacutexica ou coma satildeo

manifestaccedilotildees graves pouco frequentes e de difiacutecil diagnoacutestico Deve-se considerar

o diagnoacutestico diferencial com meningite tuberculosa e encefalopatia hepaacutetica

(ARBEX et al 2010) O MS recomenda suspender a isoniazida e reiniciar o

esquema especial sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

bull Alteraccedilotildees hematoloacutegicas ou vasculite satildeo raras e ocorrem por hipersensibilidade

(ARBEX et al 2010) Em casos de hipersensibilidade grave o medicamento deve

ser retirado e natildeo pode ser reiniciado apoacutes a suspensatildeo pois na reintroduccedilatildeo a

reaccedilatildeo adversa eacute ainda mais grave (BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade eacute necessaacuterio suspender o tratamento aguardar a melhora dos

sintomas e reduccedilatildeo das enzimas hepaacuteticas No caso de esquema com muacuteltiplas

39

drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

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Page 40: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

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drogas deve-se reintroduzir cada medicamento separadamente um a um apoacutes

avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica para identificar a droga causadora da

hepatotoxicidade e reiniciar o tratamento sem esse faacutermaco (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Luacutepus-like os pacientes podem desenvolver anticorpos antinucleares durante o

uso do faacutermaco poreacutem menos de 1 dos usuaacuterios desenvolve luacutepus eritematoso

sistecircmico A isoniazida tambeacutem pode agravar o luacutepus preacute-existente (ARBEX et al

2010)

Interaccedilotildees medicamentosas

A isoniazida eacute um potente inibidor das isoformas das enzimas hepaacuteticas CYP2C19

CYP3A e um fraco inibidor da isoforma CYP2D6 Por outro lado a isoniazida eacute

indutor da CYP2E1 Dessa forma os faacutermacos que satildeo metabolizados por essas

enzimas seratildeo potencialmente afetados se usados concomitantemente com a

isoniazida As interaccedilotildees medicamentosas entre a isoniazida e outro faacutermaco via

inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo das enzimas CYPs satildeo listadas na tabela 3 (GUMBO 2012)

Tabela 3 Interaccedilotildees isoniazida-faacutermaco via inibiccedilatildeo ou induccedilatildeo de CYPs

Faacutermaco coadministrado Mecanismo Efeitos

Carbamazepina Inibiccedilatildeo de CYP3A Toxicidade neuroloacutegica

Diazepam Inibiccedilatildeo de CYP3A e CYP2C19 Sedaccedilatildeo e depressatildeo

respiratoacuteria

Etossuximida Inibiccedilatildeo de CYP3A Comportamento psicoacutetico

Fenitoiacutena Inibiccedilatildeo de CYP2C19 Toxicidade neuroloacutegica

Isoflurano e enflurano Induccedilatildeo de CYP2E1 Eficaacutecia reduzida

Paracetamol Inibiccedilatildeoinduccedilatildeo de CYP2E1 Hepatotoxicidade

Teofilina Inibiccedilatildeo de CYP3A Ataques palpitaccedilotildees naacuteuseas

Vincristina Inibiccedilatildeo de CYP3A Fraqueza e formigamento nos

membros

Varfarina Inibiccedilatildeo de CYP2C9 Aumento da possibilidade de

sangramento (registro de um

uacutenico caso)

Fonte GUMBO 2012

40

732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 41: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

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732 Rifampicina

A rifampicina eacute um derivado semi-sinteacutetico da rifamicina um antibioacutetico produzido a

partir do microrganismo Streptomyces mediterranei (CHAMBERS 2010) Este

faacutermaco inibe o crescimento de vaacuterios isolados cliacutenicos de M tuberculosis in vitro em

concentraccedilotildees de 006-025 mgL e penetra nos bacilos de uma forma dependente

da concentraccedilatildeo atingindo concentraccedilotildees de equiliacutebrio em 15 minutos (GUMBO

2012)

Eacute bactericida para as micobacteacuterias e pode matar os microrganismos que satildeo pouco

acessiacuteveis a muitos outros faacutermacos como os intracelulares e aqueles sequestrados

em abscessos e cavidades pulmonares (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de accedilatildeo

A rifampicina liga-se agrave subunidade beta da RNA polimerase dependente de DNA

(rpoB) das micobacteacuterias para formar um complexo estaacutevel faacutermaco-enzima o que

impede a formaccedilatildeo da cadeia na siacutentese de RNA (CHAMBERS 2010 GUMBO

2012) Isso impossibilita a siacutentese de RNAm e de proteiacutenas pelo bacilo causando

morte celular (ARBEX et al 2010) A RNA polimerase humana natildeo se liga agrave

rifampicina e portanto natildeo eacute inibida pelo faacutermaco (CHAMBERS 2010)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave rifampicina surge em decorrecircncia de mutaccedilotildees do gene rpoB que

codifica a cadeia da subunidade beta da RNA polimerase (ARBEX et al

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) Essas mutaccedilotildees reduzem a ligaccedilatildeo da

41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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41

rifampicina agrave RNA polimerase (CHAMBERS 2010) A prevalecircncia dos isolados

resistentes da rifampicina eacute de 1 em cada 107-108 bacilos (GUMBO 2012)

Verifica-se a presenccedila de micobacteacuterias mutantes resistentes em todas as

populaccedilotildees microbianas em uma frequecircncia de 1 em 106 Esses mutantes satildeo

rapidamente selecionados se a rifampicina for utilizada em monoterapia sobretudo

se houver infecccedilatildeo ativa (CHAMBERS 2010)

Farmacocineacutetica

A rifampicina eacute bem absorvida apoacutes a administraccedilatildeo oral (CHAMBERS 2010) O

pico seacuterico plasmaacutetico de 5-10 microgmL eacute atingido entre 2 e 4 horas apoacutes a ingestatildeo

oral de uma dose de 600mg (ARBEX et al 2010) De acordo com Gumbo (2012) o

alimento reduz o pico da concentraccedilatildeo (CPmaacutex) da rifampicina em um terccedilo devendo

portanto ser administrada com o estocircmago vazio (GUMBO 2012)

O faacutermaco distribui-se amplamente pelos tecidos e liacutequidos corporais incluindo o

liacutequido cefalorraquidiano dando coloraccedilatildeo avermelhada agrave saliva escarro laacutegrimas e

suor (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) A ligaccedilatildeo da rifampicina agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas eacute relativamente alta (CHAMBERS 2010)

A meia-vida do faacutermaco torna-se mais curta durante o tratamento devido agrave induccedilatildeo

das enzimas microssocircmicas hepaacuteticas Dessa forma ao final de aproximadamente

14 dias ocorre a produccedilatildeo destas enzimas que aumentam o metabolismo do

faacutermaco (autoinduccedilatildeo metaboacutelica) com reduccedilatildeo da meia-vida de 3-5 horas para 2-3

horas (ARBEX et al 2010 DALE et al 2011)

Aproximadamente 85 do medicamento satildeo metabolizados no fiacutegado atraveacutes das

esterases B e colinesterases microssomais integrantes do sistema CYP450 A

excreccedilatildeo se faz por via biliar (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 43: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

42

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Reaccedilotildees gastrointestinais podem ocorrer naacuteuseas vocircmitos anorexia e dor

abdominal A incidecircncia eacute variaacutevel poreacutem os sintomas raramente satildeo severos Eacute

recomendado reformular o horaacuterio da administraccedilatildeo do medicamento para duas

horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou com o cafeacute da manhatilde Aleacutem disso pode ser

indicado o uso de medicaccedilatildeo sintomaacutetica e a avaliaccedilatildeo da funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX

et al 2010 BRASIL 2011)

bull Suor laacutegrima e urina de cor avermelhada a incidecircncia eacute universal Eacute importante

orientar o paciente que essa coloraccedilatildeo eacute inoacutecua e que natildeo deve interromper o

tratamento por este motivo As lentes gelatinosas podem ser coradas

permanentemente (ARBEX et al CHAMBERS 2010 BRASIL 2011)

bull Reaccedilatildeo cutacircnea pode ocorrer prurido com ou sem eritema Essa reaccedilatildeo

geralmente eacute discreta e na grande maioria das vezes natildeo impede a continuaccedilatildeo do

tratamento (ARBEX et al 2010) O Ministeacuterio da Sauacutede recomenda medicar com

anti-histamiacutenico os pacientes com esses sintomas (BRASIL 2011)

bull Siacutendrome flu-like eacute uma siacutendrome de tipo gripal caracterizada por febre calafrios

e mialgias Ocorre em 20 dos pacientes que utilizam a rifampicina em altas doses

em esquema de administraccedilatildeo com frequecircncia inferior a duas vezes por semana A

siacutendrome tambeacutem pode incluir trombocitopenia anemia hemoliacutetica eosinofilia

nefrite intersticial necrose tubular aguda e choque (ARBEX et al CHAMBERS

2010 GUMBO 2012)

bull Tambeacutem podem ocorrer cansaccedilo tonturas cefaleia dispneia e ataxia com o uso

do faacutermaco (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema ou hipersensibilidade moderada a grave pode ocorrer devido ao uso de

rifampicina ou de outro medicamento associado Eacute recomendado suspender o

tratamento e introduzir os medicamentos um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro para

43

identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 44: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

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identificar o faacutermaco causador Substituir o esquema nos casos reincidentes ou

graves por esquemas especiais sem a medicaccedilatildeo causadora do efeito (ARBEX et

al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade Pode ocorrer elevaccedilatildeo transitoacuteria e assintomaacutetica nos niacuteveis

seacutericos das bilirrubinas e das enzimas hepaacuteticas seguida de sua normalizaccedilatildeo sem

a necessidade de interrupccedilatildeo do medicamento (ARBEX et al 2010) Foram

observados casos raros de hepatite e morte por insuficiecircncia hepaacutetica em pacientes

aos quais foram administrados outros agentes hepatotoacutexicos aleacutem da rifampicina ou

que apresentavam doenccedila hepaacutetica preacute-existente (GUMBO 2012)

bull Reaccedilotildees imunoloacutegicas pode ocorrer trombocitopenia leucopenia eosinofilia

anemia hemoliacutetica agranulocitose vasculite nefrite intersticial aguda e choque

Essas reaccedilotildees satildeo raras ocorrendo em menos de 01 dos pacientes poreacutem satildeo

graves sendo necessaacuterio suspender a rifampicina e reiniciar o esquema sem este

faacutermaco (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

A rifampicina eacute um potente indutor enzimaacutetico das isoformas das CYPs 1A2 2C9

2C19 e 3A4 Dessa forma sua administraccedilatildeo concomitante com faacutermacos

metabolizados por estas CYPs gera uma diminuiccedilatildeo da meia-vida destes agentes o

que leva agrave falha terapecircutica (GUMBO 2012)

733 Pirazinamida

A pirazinamida eacute um derivado do aacutecido nicotiacutenico estaacutevel e levemente hidrossoluacutevel

com estrutura molecular similar a da isoniazida mas sem resistecircncia cruzada com a

mesma (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010)

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 45: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

44

Eacute inativa em pH neutro poreacutem em pH aacutecido a pirazinamida inibe o crescimento das

micobacteacuterias (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011) O M tuberculosis eacute o uacutenico

microrganismo suscetiacutevel a pirazinamida sendo que a concentraccedilatildeo inibitoacuteria

miacutenima (CIM) para este microrganismo varia de 625 - 500 microgmL em pH 55

(ARBEX et al 2010)

O faacutermaco eacute bactericida e tem uma potente accedilatildeo esterilizante principalmente no

interior dos macroacutefagos e em aacutereas de inflamaccedilatildeo aguda (ARBEX et al 2010) jaacute

que depois da fagocitose os microrganismos estatildeo contidos nos fagolisossomos

onde o pH eacute baixo e o faacutermaco captado pelo macroacutefagos exerce bem sua atividade

contra as micobacteacuterias neste meio aacutecido (CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

Entretanto segundo Gumbo (2012) a pirazinamida pode natildeo ser eficaz no interior

dos macroacutefagos sendo que as condiccedilotildees aciacutedicas para a ativaccedilatildeo deste faacutermaco

podem estar nas margens das cavidades necroacuteticas da tuberculose onde ceacutelulas

inflamatoacuterias produzem aacutecido laacutectico

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) na lesatildeo pulmonar por tuberculose

os bacilos fagocitados pelos macroacutefagos e os que se encontram nas zonas

inflamatoacuterias da parede cavitaacuteria apresentam seu crescimento inibido pelo ambiente

aacutecido Esses bacilos denominados persistentes e em fase de multiplicaccedilatildeo

esporaacutedica satildeo os responsaacuteveis pela recaiacuteda bacterioloacutegica da tuberculose e a

pirazinamida eacute o medicamento mais eficaz para eliminar essa populaccedilatildeo Essa

atividade esterilizante do faacutermaco permitiu a reduccedilatildeo do tempo de tratamento da

tuberculose para seis meses

Mecanismo de accedilatildeo

A pirazinamida eacute uma proacute-droga que necessita ser convertida em sua forma ativa

por enzimas micobacterianas As pirazinamidases que satildeo codificadas por pncA

desaminam a pirazinamida transformando-a em aacutecido pirazinoico (POA-) que eacute a

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 46: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

45

forma ativa do faacutermaco (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Em seguida o aacutecido pirazinoico eacute transportado para o meio extracelular aciacutedico por

uma bomba de efluxo onde uma fraccedilatildeo POA- eacute protonada a POAH uma forma mais

lipossoluacutevel que penetra no bacilo (GUMBO 2012)

Embora o mecanismo que causa a morte microbiana ainda seja desconhecido eacute

suposto que a pirazinamida penetre no bacilo de forma passiva seja convertida em

aacutecido pirazinoico pela pirazinamidase bacteriana e atinja altas concentraccedilotildees no

citoplasma do bacilo em virtude de um ineficiente sistema de efluxo O acuacutemulo de

aacutecido pirazinoico diminui o pH intracelular a niacuteveis que causam a inativaccedilatildeo de

enzimas como a aacutecido graxo sintase tipo I que eacute fundamental para a siacutentese dos

aacutecidos graxos e consequentemente a biossiacutentese do aacutecido micoacutelico eacute prejudicada

(ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia agrave pirazinamida pode ser decorrente de uma reduccedilatildeo da captaccedilatildeo do

faacutermaco (CHAMBERS 2010) ou de mutaccedilotildees no gene pncA que codifica a enzima

nicotinamidasepirazinamidase e impede a conversatildeo da pirazinamida para a forma

ativa (ARBEX et al CHAMBERS 2010) O M tuberculosis resistente agrave pirazinamida

possui uma pirazinamidase com afinidade reduzida pelo faacutermaco (GUMBO 2012)

De acordo com Gumbo (2012) foram encontradas mutaccedilotildees pontuais isoladas no

gene pncA em ateacute 70 dos isolados cliacutenicos resistentes e os mecanismos que

contribuem para a resistecircncia em 30 dos isolados cliacutenicos resistentes eacute

desconhecido

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 47: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

46

Farmacocineacutetica

A pirazinamida eacute bem absorvida pelo trato gastrintestinal apoacutes a administraccedilatildeo oral e

se distribui amplamente em todo o organismo incluindo as meninges (ARBEX et al

2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011)

O composto original sofre metabolizaccedilatildeo hepaacutetica pela desaminase microssomal

Os metaboacutelitos gerados satildeo depurados pelos rins principalmente por filtraccedilatildeo

glomerular (ARBEX et al 2010 CHAMBERS 2010 DALE et al 2011 GUMBO

2012) A depuraccedilatildeo do faacutermaco encontra-se reduzida em pacientes com

insuficiecircncia renal o que gera necessidade de ajuste da dosagem (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Sintomas gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos e anorexia satildeo frequentes e

recomenda-se reformular o horaacuterio de tomada do medicamento para duas horas

apoacutes o cafeacute da manhatilde ou junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser indicado o uso de

medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Artralgia natildeo gotosa eacute um sintoma comum associado agrave hiperuricemia natildeo gotosa

Isso ocorre devido ao aacutecido pirazinoico principal metaboacutelito da pirazinamida que

inibe a secreccedilatildeo tubular renal do aacutecido uacuterico (ARBEX et al 2010) Natildeo eacute necessaacuterio

suspender o faacutermaco e recomenda-se medicar o paciente com analgeacutesicos ou

antinflamatoacuterios natildeo esteroides para aliacutevio dos sintomas (BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia natildeo gotosa a hiperuricemia assintomaacutetica ocorre com relativa

frequecircncia e a pirazinamida natildeo precisa ser suspensa neste caso (ARBEX et al

2010) O paciente deve ser orientado a manter dieta hipopuriacutenica (BRASIL 2011)

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 48: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

47

bull Hiperuricemia com artralgia acontece raramente exceto em pacientes que

apresentam histoacuteria preacutevia de gota Deve-se orientar o paciente a manter dieta

hipopuriacutenica e hidrataccedilatildeo Se necessaacuterio deve-se medicar o paciente com alopurinol

e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Exantema e prurido satildeo relativamente comuns e na maioria dos casos os sintomas

satildeo aliviados com a administraccedilatildeo de anti-histamiacutenicos (ARBEX et al 2010)

Efeitos adversos maiores

bull Exantema e prurido graves exigem a suspensatildeo do tratamento e reintroduccedilatildeo dos

faacutermacos do esquema um a um apoacutes a resoluccedilatildeo do quadro (ARBEX et al 2010

BRASIL 2011)

bull Rabdomioacutelise com mioglobinuacuteria e insuficiecircncia renal ocorre raramente poreacutem

exige a suspensatildeo da pirazinamida e a reintroduccedilatildeo do esquema sem o faacutermaco

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hepatotoxicidade a pirazinamida eacute o faacutermaco mais hepatotoacutexico do esquema

baacutesico por isso eacute essencial ajustar as doses da droga de acordo com o peso do

paciente Em doses limitadas a 35 mgkg ao dia o comprometimento hepaacutetico eacute

raro No Brasil eacute preconizada a dose maacutexima de 1600mg para pacientes acima de

50 kg o que provavelmente reduziraacute os efeitos adversos hepaacuteticos produzidos pelo

faacutermaco (ARBEX et al 2010) Nos casos de hepatite medicamentosa eacute necessaacuterio

suspender o esquema de tratamento aguardar melhora dos sintomas e reduccedilatildeo dos

valores das enzimas hepaacuteticas para reintroduzir os medicamentos Deve-se avaliar

a continuidade ou substituiccedilatildeo do esquema baacutesico de tratamento (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo pirazinamida

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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Page 49: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

48

734 Etambutol

O etambutol eacute um antimicrobiano sinteacutetico hidrossoluacutevel e termoestaacutevel

(CHAMBERS 2010 GUMBO 2012) O isocircmero utilizado em cliacutenica eacute o (SS)-

etambutol jaacute que o (RR)-etambutol causa cegueira (SOUZA e VASCONCELOS

2005)

O faacutermaco eacute ativo contra uma ampla variedade de micobacteacuterias poreacutem natildeo eacute

efetivo contra outros microrganismos (DALE et al 2011 GUMBO 2012) Eacute captado

pelas micobacteacuterias e sua accedilatildeo eacute bacteriostaacutetica nas doses usuais (ARBEX et al

2010 DALE et al 2011) Atua sobre os bacilos intracelulares e extracelulares

sobretudo os de multiplicaccedilatildeo raacutepida (ARBEX et al 2010) A CIM do etambutol nos

isolados cliacutenicos do M tuberculosis situa-se entre 05 - 20 microgmL (GUMBO 2012)

Mecanismo de accedilatildeo

O etambutol interfere na biossiacutentese de arabinogalactano um polissacariacutedeo

essencial da parede celular da micobacteacuteria Atua inibindo a enzima arabinosil

transferase III codificada pelos genes embAB interrompendo dessa forma a

transferecircncia da arabinose para a biossiacutentese do arabinogalactano Dessa forma haacute

um desarranjo da estrutura da parede celular micobacteriana (ARBEX et al 2010

CHAMBERS 2010 GUMBO 2012)

Mecanismo de resistecircncia

A resistecircncia ao etambutol in vitro desenvolve-se de maneira lenta (ARBEX et al

2010) atraveacutes de mutaccedilotildees no gene embB (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

que podem levar a hiperexpressatildeo dos produtos gecircnicos emb (CHAMBERS 2010)

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

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Page 50: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

49

Segundo Gumbo (2012) em 30-70 dos isolados cliacutenicos que satildeo resistentes ao

etambutol satildeo encontradas mutaccedilotildees no coacutedon 306 do gene embB No entanto as

mutaccedilotildees nesse coacutedon tambeacutem satildeo encontradas em micobacteacuterias suscetiacuteveis ao

etambutol Portanto esta mutaccedilatildeo eacute necessaacuteria poreacutem natildeo eacute suficiente para

conferir resistecircncia ao etambutol

Farmacocineacutetica

O etambutol eacute administrado por via oral e sua biodisponibilidade eacute cerca de 80

Aproximadamente 10 a 40 do faacutermaco encontram-se ligado agraves proteiacutenas

plasmaacuteticas (ARBEX et al 2010 GUMBO 2012)

Sua meia-vida seacuterica eacute de 3 a 4 horas podendo atingir 10 horas em pacientes

portadores de insuficiecircncia renal grave Tem ampla distribuiccedilatildeo corporal exceto no

liacutequido cefalorraquidiano com a meninge iacutentegra (ARBEX et al 2010) O etambutol

atravessa a barreira hematoencefaacutelica apenas se houver inflamaccedilatildeo das meninges

(CHAMBERS 2010)

A metabolizaccedilatildeo eacute hepaacutetica e o mecanismo principal eacute a oxidaccedilatildeo do etambutol para

um aldeiacutedo intermediaacuterio atraveacutes da enzima aacutelcool desidrogenase Em seguida eacute

convertido a aacutecido dicarboxiacutelico pela enzima aldeiacutedo desidrogenase (ARBEX et al

2010 GUMBO 2012) Entretanto cerca de 80 do faacutermaco natildeo satildeo metabolizados

de forma alguma e satildeo excretados por via renal atraveacutes da urina (GUMBO 2012)

Efeitos adversos

Efeitos adversos menores

bull Efeitos gastrointestinais naacuteuseas vocircmitos dor abdominal Podem ocorrer com

todos os faacutermacos do esquema baacutesico e para aliviar os sintomas deve-se reformular

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 51: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

50

o horaacuterio de administraccedilatildeo do esquema para duas horas apoacutes o cafeacute da manhatilde ou

junto com o cafeacute da manhatilde Pode ser usada medicaccedilatildeo sintomaacutetica e deve-se

avaliar a funccedilatildeo hepaacutetica do paciente (BRASIL 2011)

bull Neuropatia perifeacuterica eacute muito incomum a ocorrecircncia desse efeito com o uso de

etambutol ocorrendo raramente O uso de piridoxina (50mg por dia) melhora os

sintomas (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

bull Hiperuricemia com artralgia ocorre por reduccedilatildeo da excreccedilatildeo renal de aacutecido uacuterico

Deve-se orientar dieta hipopuriacutenica e se necessaacuterio medicar o paciente com

alopurinol e colchicina (ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

Efeitos adversos maiores

bull Neurite oacuteptica as fibras centrais do nervo oacuteptico satildeo afetadas com maior

frequecircncia causando sintomas de visatildeo borrada No exame oftalmoloacutegico observa-

se queda da acuidade visual presenccedila de escotomas e perda da capacidade de

discriminar a cor verde e em algumas vezes tambeacutem a vermelha O

comprometimento das fibras perifeacutericas eacute menos comum manifestando-se por

reduccedilatildeo no campo visual O risco aumenta em pacientes portadores de insuficiecircncia

renal e em idosos cuja funccedilatildeo renal esteja comprometida (ARBEX et al 2010) Esse

efeito eacute dose-dependente e quando detectado precocemente eacute reversiacutevel

Raramente a toxicidade ocular eacute desenvolvida durante os dois primeiros meses de

uso com as doses recomendadas Caso ocorra deve-se suspender o uso do

etambutol e reiniciar o esquema de tratamento sem o faacutermaco (BRASIL 2011)

Interaccedilotildees medicamentosas

De acordo com Gumbo (2012) natildeo existem interaccedilotildees medicamentosas

significativas envolvendo o etambutol

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

59

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Page 52: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

51

74 Uso do esquema de tratamento da tuberculose durante a gravidez e

lactaccedilatildeo

O uso do esquema com RHZE eacute considerado seguro durante toda a gravidez e pode

ser administrado nas doses habituais para gestantes Todavia eacute recomendado pela

OMS o uso de piridoxina (40 a 50mg por dia) a toda gestante em uso de isoniazida

devido ao risco de toxicidade neuroloacutegica e crise convulsiva no receacutem-nascido

(ARBEX et al 2010 BRASIL 2011)

De acordo com Arbex e colaboradores (2010) deve-se administrar por precauccedilatildeo

vitamina K ao receacutem-nascido para evitar a ocorrecircncia de hemorragia poacutes-natal

devido ao uso de rifampicina pela gestante

Os faacutermacos do esquema baacutesico satildeo considerados compatiacuteveis com a lactaccedilatildeo

desde que a matildee natildeo seja portadora de mastite tuberculosa6 poreacutem sugere-se

monitorar a crianccedila quanto agrave ocorrecircncia de icteriacutecia (ARBEX et al 2010 BRASIL

2011) Eacute recomendaacutevel tambeacutem o uso de maacutescara ciruacutergica ao amamentar e cuidar

do bebecirc (BRASIL 2011)

75 Medidas profilaacuteticas contra tuberculose

As medidas preventivas eficazes contra a tuberculose satildeo a quimioprofilaxia e a

vacinaccedilatildeo BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

6 Mastite tuberculosa tipo de tuberculose que se desenvolve nas mamas (tuberculose mamaacuteria) Eacute

uma doenccedila rara que pode ser causada por inoculaccedilatildeo direta do bacilo no tecido mamaacuterio ou por disseminaccedilatildeo de outros locais (SILVA et al 2002)

52

751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

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Page 53: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

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751 Quimioprofilaxia

A quimioprofilaxia da tuberculose consiste na administraccedilatildeo de faacutermacos capazes de

prevenir a infecccedilatildeo ou de impedir que o indiviacuteduo infectado desenvolva a doenccedila

(BRASIL 2002)

A isoniazida eacute o faacutermaco de escolha para a quimioprofilaxia porque tem forte poder

bactericida e accedilatildeo esterilizante aleacutem de ser a droga com menos efeitos colaterais e

de menor custo Estudos controlados demonstraram que a utilizaccedilatildeo da isoniazida

em indiviacuteduos infectados pela micobacteacuteria com comprovaccedilatildeo pelo teste

tuberculiacutenico reduzia o desenvolvimento da doenccedila em mais de 90 em adultos e

em 95 em crianccedilas quando utilizada por seis meses (BRASIL 2002)

O termo quimioprofilaxia primaacuteria ou prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo latente refere-se agrave

administraccedilatildeo de isoniazida a uma pessoa natildeo infectada com a finalidade de

prevenir a infecccedilatildeo Recomenda-se a prevenccedilatildeo da infecccedilatildeo tuberculosa em receacutem-

nascidos coabitantes de caso iacutendice7 baciliacutefero Administra-se isoniazida por trecircs

meses e em seguida deve-se fazer o teste tuberculiacutenico Se o resultado do teste for

maior ou igual a 5mm deve-se manter a quimioprofilaxia por mais trecircs a seis meses

Se o resultado for menor que 5mm deve-se interromper o uso da isoniazida e

vacinar o bebecirc com BCG (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A quimioprofilaxia secundaacuteria ou tratamento da infecccedilatildeo latente consiste na

administraccedilatildeo de isoniazida em pessoa jaacute infectada mas sem sinais e sintomas

para prevenir que a infecccedilatildeo evolua para a doenccedila tuberculose Deve ser realizada

por um periacuteodo miacutenimo de seis meses (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A isoniazida deve ser utilizada por via oral na dose de 5 a 10mgkg de peso

corporal ateacute a dose maacutexima de 300mg por dia O paciente deve ser avaliado a cada

trinta dias para monitoramento cliacutenico de efeitos adversos e estiacutemulo da adesatildeo

(BRASIL 2002 BRASIL 2011)

________________________

7 Caso iacutendice todo paciente com tuberculose pulmonar ativa prioritariamente com baciloscopia

positiva (BRASIL 2011)

53

752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

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REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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DALE M Maureen et al Farmacologia 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2011 768 p FERREIRA Aurigena Antunes de Arauacutejo et al Os fatores associados agrave tuberculose pulmonar e a baciloscopia uma contribuiccedilatildeo ao diagnoacutestico nos serviccedilos de sauacutede puacuteblica Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 8 n 2 p 142-149 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1415-790X200500020 0006gt Acesso em 03 Jul 2015 GUMBO Tawanda Quimioterapia da tuberculose complexo Mycobacterium avium e hanseniacutease In BRUNTON Laurence L et al (Ed) Goodman amp Gilman As Bases Farmacoloacutegicas da Terapecircutica 12ed Porto Alegre AMGH 2012 Cap 56 1549-1570 HIJJAR Miguel Aiub et al Retrospecto do controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S0034-89102007000800008ampscript=sci_abstractamptlng=esgt Acesso em 02 Abr 2015 HUSAIN Aliya Noor Pulmatildeo In ROBBINS Stanley L et al Robbins patologia baacutesica 9 ed Rio de Janeiro Elsevier 2013 Cap 12 459-515 MENDES Aderlaine de Melo FENSTERSEIFER Liacutesia Maria Tuberculose porque os pacientes abandonam o tratamento Bol Pneumol Sanit Rio de Janeiro v 12 n 1 2004 Disponiacutevel em lthttpscieloiecpagovbrscielophppid=S0103-460X2004000100005ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Jun 2015 MIRANDA Silvana Spiacutendola de Tratamento da Tuberculose em Situaccedilotildees Especiais Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v 21 n 1 p 68-71 2012 Disponiacutevel em lthttpsopterjcombrprofissionais_revista2012n_0116pdfgt Acesso em 10 Mai 2015 MURRAY Patrick R et al Microbiologia meacutedica 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2014 873 p OLIVEIRA Gisele Pinto de et al Uso do sistema de informaccedilatildeo sobre mortalidade para identificar subnotificaccedilatildeo de casos de tuberculose no Brasil Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 15 n 3 Set 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S1415-790X2012000300003ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Abr 2015

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

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Page 54: ASPECTOS DA TERAPIA ANTITUBERCULOSE ......3. 043 Ribeiro, Lil lian Nascimento. Aspectos da terapia antituberculose preconizada na atenção primária à saúde no Brasil [manuscrito]

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752 Vacinaccedilatildeo BCG

A vacina BCG foi desenvolvida entre 1906 e 1919 no Instituto Pasteur em Paris

pelos pesquisadores Camille Calmett e Albert Guerin recebendo por isso o nome de

BCG (Bacilo Calmette Guerin) Eacute uma cultura viva de M bovis que foi tornada

avirulenta pelo longo cultivo em meios artificiais e a partir de 1921 passou a ser

utilizada em humanos (PEREIRA et al 2007 TORTORA 2012) A vacina eacute

administrada por via intradeacutermica e cada dose contem cerca de 200 mil a mais de

um milhatildeo de bacilos (BRASIL 2011)

A vacinaccedilatildeo natildeo evita o adoecimento por infecccedilatildeo tuberculosa mas oferece

proteccedilatildeo a natildeo infectados contra as manifestaccedilotildees mais graves da primo-infecccedilatildeo

tais como a meningoencefalite tuberculosa e a tuberculose miliar Como natildeo haacute

cobertura em indiviacuteduos jaacute infectados pelo M tuberculosis recomenda-se que a

partir do nascimento todas as crianccedilas sejam vacinadas o mais precocemente

possiacutevel (BRASIL 2002 BRASIL 2011)

A maioria dos paiacuteses no mundo incluindo o Brasil recomenda uma dose uacutenica de

BCG ao nascer conforme recomendaccedilatildeo da OMS pois estudos cliacutenicos realizados

demonstraram que a segunda dose de BCG natildeo apresentou proteccedilatildeo similar Aleacutem

disso a experiecircncia cliacutenica mostra que a vacina eacute bastante eficaz para crianccedilas

poreacutem para adolescentes e adultos na maioria das vezes a eficaacutecia aproxima-se de

zero (BRASIL 2002 PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011 TORTORA 2012)

O MS no Brasil indica que a aplicaccedilatildeo da vacina BCG seja realizada em

maternidades para receacutem-nascidos sadios com peso maior ou igual a dois quilos ou

na primeira visita a uma unidade de sauacutede crianccedilas HIV positivas filhos de matildees

soropositivas tuberculino-negativas e sem sintomas profissionais de sauacutede natildeo

reatores militares natildeo reatores populaccedilatildeo indiacutegena contatos intradomiciliares de

portadores de hanseniacutease Haacute contraindicaccedilatildeo absoluta em indiviacuteduos adultos HIV-

positivos independente dos sintomas em crianccedilas HIV positivas sintomaacuteticas e em

casos de imunodeficiecircncia congecircnita (PEREIRA et al 2007 BRASIL 2011)

54

8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

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REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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DALE M Maureen et al Farmacologia 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2011 768 p FERREIRA Aurigena Antunes de Arauacutejo et al Os fatores associados agrave tuberculose pulmonar e a baciloscopia uma contribuiccedilatildeo ao diagnoacutestico nos serviccedilos de sauacutede puacuteblica Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 8 n 2 p 142-149 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1415-790X200500020 0006gt Acesso em 03 Jul 2015 GUMBO Tawanda Quimioterapia da tuberculose complexo Mycobacterium avium e hanseniacutease In BRUNTON Laurence L et al (Ed) Goodman amp Gilman As Bases Farmacoloacutegicas da Terapecircutica 12ed Porto Alegre AMGH 2012 Cap 56 1549-1570 HIJJAR Miguel Aiub et al Retrospecto do controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S0034-89102007000800008ampscript=sci_abstractamptlng=esgt Acesso em 02 Abr 2015 HUSAIN Aliya Noor Pulmatildeo In ROBBINS Stanley L et al Robbins patologia baacutesica 9 ed Rio de Janeiro Elsevier 2013 Cap 12 459-515 MENDES Aderlaine de Melo FENSTERSEIFER Liacutesia Maria Tuberculose porque os pacientes abandonam o tratamento Bol Pneumol Sanit Rio de Janeiro v 12 n 1 2004 Disponiacutevel em lthttpscieloiecpagovbrscielophppid=S0103-460X2004000100005ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Jun 2015 MIRANDA Silvana Spiacutendola de Tratamento da Tuberculose em Situaccedilotildees Especiais Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v 21 n 1 p 68-71 2012 Disponiacutevel em lthttpsopterjcombrprofissionais_revista2012n_0116pdfgt Acesso em 10 Mai 2015 MURRAY Patrick R et al Microbiologia meacutedica 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2014 873 p OLIVEIRA Gisele Pinto de et al Uso do sistema de informaccedilatildeo sobre mortalidade para identificar subnotificaccedilatildeo de casos de tuberculose no Brasil Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 15 n 3 Set 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S1415-790X2012000300003ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Abr 2015

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

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8 PAPEL DO FARMACEcircUTICO NA EQUIPE DE SAUacuteDE

Para que seja atingido o objetivo proposto pela OMS referente agraves prioridades

relacionadas ao diagnoacutestico precoce de casos ao tratamento e agrave cura do paciente eacute

necessaacuterio que sejam desenvolvidas atividades com abordagens que visem agrave

reduccedilatildeo do estigma que ainda existe em torno da doenccedila e agrave melhoria das

estrateacutegias para adesatildeo do paciente ao tratamento que eacute o fator chave para o

sucesso de qualquer terapia (BRASIL 2015)

Entretanto uma das principais dificuldades no combate agrave tuberculose eacute a baixa

adesatildeo dos pacientes agrave terapecircutica oferecida O fato de o tratamento ser longo e os

pacientes apresentarem melhora raacutepida dos sintomas faz com que muitos se sintam

bem e se determinem curados o que gera o abandono do tratamento Isso pode

provocar o desenvolvimento de uma forma da doenccedila resistente aos medicamentos

conhecida como tuberculose multirresistente Aleacutem disso o indiviacuteduo continua a

transmitir a doenccedila o que eacute um problema de sauacutede puacuteblica (RUFFINO-NETTO

2000 BRASIL 2002)

Outras causas de abandono do tratamento antituberculose foram relatadas em

estudo realizado por Mendes e Fensterseifer (2004) Dentre elas estatildeo o alcoolismo

o uso de drogas iliacutecitas a natildeo aceitaccedilatildeo da doenccedila e o surgimento de efeitos

colaterais com o tratamento mais comumente as manifestaccedilotildees cutacircneas e

intoleracircncia gaacutestrica

Diante disso eacute primordial que os pacientes tenham um acompanhamento

multiprofissional para garantir o sucesso terapecircutico (MIRANDA 2012) jaacute que para

isso eacute preciso que o paciente tenha regularidade com a tomada dos medicamentos

complete o regime prescrito e compareccedila regularmente agraves consultas com os

profissionais de sauacutede (BRASIL 2002 BRASIL 2011) A equipe multidisciplinar

com conhecimentos diversos tem potencial para contribuir no controle desta doenccedila

que eacute multideterminada

55

Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

56

9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

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REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

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Neste cenaacuterio o farmacecircutico como o profissional responsaacutevel por acompanhar e

gerenciar a terapia medicamentosa deve fornecer informaccedilotildees ao paciente sobre

sua doenccedila os medicamentos utilizados a duraccedilatildeo do tratamento prescrito a

importacircncia da regularidade no uso diaacuterio das medicaccedilotildees e os riscos da interrupccedilatildeo

e do abandono do tratamento Aleacutem disso eacute importante esclarecer sobre as

principais reaccedilotildees adversas orientando-o a retornar agrave unidade de sauacutede caso

ocorram e tambeacutem pesquisar sobre os medicamentos jaacute utilizados pelo paciente

para investigar possiacuteveis interaccedilotildees medicamentosas e prevenir efeitos indesejaacuteveis

decorrentes delas

Todos os profissionais de sauacutede devem ter uma postura de escuta para responder

agraves necessidades do paciente e promover o cuidado com responsabilidade

solidariedade e compromisso Tal entendimento requer perceber o usuaacuterio a partir

de suas queixas das necessidades pessoais eou familiares de suas condiccedilotildees de

vida de sua cultura da autonomia no seu modo de viver e de ser algueacutem uacutenico O

profissional aleacutem de conscientizar o paciente da importacircncia de sua colaboraccedilatildeo no

tratamento estabelece com ele e familiares uma relaccedilatildeo de cooperaccedilatildeo muacutetua

(BRASIL 2011) Uma adequada conduta dos profissionais de sauacutede reduz o risco de

recidiva abandono do tratamento e surgimento de resistecircncia das micobacteacuterias aos

medicamentos utilizados (MIRANDA 2012)

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9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

57

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

58

REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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DALE M Maureen et al Farmacologia 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2011 768 p FERREIRA Aurigena Antunes de Arauacutejo et al Os fatores associados agrave tuberculose pulmonar e a baciloscopia uma contribuiccedilatildeo ao diagnoacutestico nos serviccedilos de sauacutede puacuteblica Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 8 n 2 p 142-149 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1415-790X200500020 0006gt Acesso em 03 Jul 2015 GUMBO Tawanda Quimioterapia da tuberculose complexo Mycobacterium avium e hanseniacutease In BRUNTON Laurence L et al (Ed) Goodman amp Gilman As Bases Farmacoloacutegicas da Terapecircutica 12ed Porto Alegre AMGH 2012 Cap 56 1549-1570 HIJJAR Miguel Aiub et al Retrospecto do controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S0034-89102007000800008ampscript=sci_abstractamptlng=esgt Acesso em 02 Abr 2015 HUSAIN Aliya Noor Pulmatildeo In ROBBINS Stanley L et al Robbins patologia baacutesica 9 ed Rio de Janeiro Elsevier 2013 Cap 12 459-515 MENDES Aderlaine de Melo FENSTERSEIFER Liacutesia Maria Tuberculose porque os pacientes abandonam o tratamento Bol Pneumol Sanit Rio de Janeiro v 12 n 1 2004 Disponiacutevel em lthttpscieloiecpagovbrscielophppid=S0103-460X2004000100005ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Jun 2015 MIRANDA Silvana Spiacutendola de Tratamento da Tuberculose em Situaccedilotildees Especiais Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v 21 n 1 p 68-71 2012 Disponiacutevel em lthttpsopterjcombrprofissionais_revista2012n_0116pdfgt Acesso em 10 Mai 2015 MURRAY Patrick R et al Microbiologia meacutedica 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2014 873 p OLIVEIRA Gisele Pinto de et al Uso do sistema de informaccedilatildeo sobre mortalidade para identificar subnotificaccedilatildeo de casos de tuberculose no Brasil Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 15 n 3 Set 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S1415-790X2012000300003ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Abr 2015

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

62

WHO World Health Organization Global strategy and targets for tuberculosis prevention care and control after 2015 [online] Geneva World Health Organization 2013 Disponiacutevel em lthttpappswhointgbebwhapdf_filesEB134 B134_12-enpdfua=1gt Acesso em 04 Jun 2015 WHO World Health Organization The Stop TB Strategy vision goal objectives and targets [online] Geneva World Health Organization 2006 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbstrategystop_tb_strategyengt Acesso em 04 Jun 2015

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9 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Apesar dos avanccedilos obtidos mundialmente no controle da tuberculose ainda

existem muitas metas a serem alcanccediladas para conseguir abolir a epidemia global

desta doenccedila o que exige o desenvolvimento de poliacuteticas de sauacutede e estrateacutegias

econocircmicas

O acesso aos serviccedilos de sauacutede eacute universal com diagnoacutestico e tratamento gratuitos

Entretanto eacute preciso que haja maior empenho das equipes de sauacutede para detecccedilatildeo

precoce dos casos novos com a busca ativa dos sintomaacuteticos respiratoacuterios Assim

com o diagnoacutestico e tratamento raacutepidos dos indiviacuteduos baciliacuteferos haacute a interrupccedilatildeo

da cadeia de transmissatildeo da doenccedila

O esquema de tratamento preconizado na APS com os faacutermacos de primeira linha

pode curar cerca de 90 dos casos de tuberculose desde que utilizado

corretamente e durante o tempo determinado As principais caracteriacutesticas

farmacoloacutegicas dos faacutermacos de primeira escolha estatildeo sintetizadas no quadro

abaixo

Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Isoniazida Bactericida para

micobacteacuterias de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Ativa contra bacilos

intra e extracelulares

Faacutermaco de escolha

para quimioprofilaxia

Inibiccedilatildeo da siacutentese de

aacutecido micoacutelico

componente da

parede celular

micobacteriana o que

gera morte celular

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Rifampicina Bactericida e ativa

contra microrganismos

intracelulares e em

locais de difiacutecil acesso

Impossibilita a siacutentese

de RNAm e de

proteiacutenas pelo bacilo

o que gera a morte

celular

Mutaccedilotildees que

reduzem a

ligaccedilatildeo do

faacutermaco agrave

RNA polime-

rase do bacilo

Boa absorccedilatildeo oral

e ampla

distribuiccedilatildeo

Metabolismo

hepaacutetico

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Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

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REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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DALE M Maureen et al Farmacologia 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2011 768 p FERREIRA Aurigena Antunes de Arauacutejo et al Os fatores associados agrave tuberculose pulmonar e a baciloscopia uma contribuiccedilatildeo ao diagnoacutestico nos serviccedilos de sauacutede puacuteblica Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 8 n 2 p 142-149 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1415-790X200500020 0006gt Acesso em 03 Jul 2015 GUMBO Tawanda Quimioterapia da tuberculose complexo Mycobacterium avium e hanseniacutease In BRUNTON Laurence L et al (Ed) Goodman amp Gilman As Bases Farmacoloacutegicas da Terapecircutica 12ed Porto Alegre AMGH 2012 Cap 56 1549-1570 HIJJAR Miguel Aiub et al Retrospecto do controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S0034-89102007000800008ampscript=sci_abstractamptlng=esgt Acesso em 02 Abr 2015 HUSAIN Aliya Noor Pulmatildeo In ROBBINS Stanley L et al Robbins patologia baacutesica 9 ed Rio de Janeiro Elsevier 2013 Cap 12 459-515 MENDES Aderlaine de Melo FENSTERSEIFER Liacutesia Maria Tuberculose porque os pacientes abandonam o tratamento Bol Pneumol Sanit Rio de Janeiro v 12 n 1 2004 Disponiacutevel em lthttpscieloiecpagovbrscielophppid=S0103-460X2004000100005ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Jun 2015 MIRANDA Silvana Spiacutendola de Tratamento da Tuberculose em Situaccedilotildees Especiais Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v 21 n 1 p 68-71 2012 Disponiacutevel em lthttpsopterjcombrprofissionais_revista2012n_0116pdfgt Acesso em 10 Mai 2015 MURRAY Patrick R et al Microbiologia meacutedica 7 ed Rio de Janeiro Elsevier 2014 873 p OLIVEIRA Gisele Pinto de et al Uso do sistema de informaccedilatildeo sobre mortalidade para identificar subnotificaccedilatildeo de casos de tuberculose no Brasil Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 15 n 3 Set 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielo brscielophppid=S1415-790X2012000300003ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Abr 2015

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

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Faacutermaco Particularidades Mecanismo de accedilatildeo Resistecircncia Farmacocineacutetica

Pirazinamida Eacute uma proacute-droga

bactericida ativa

somente em pH aacutecido

Accedilatildeo esterilizante

potente que

possibilitou a reduccedilatildeo

do tempo de

tratamento para seis

meses

O mecanismo eacute

desconhecido Eacute

suposto que o

acuacutemulo de aacutecido

pirazinoico interfira

com a siacutentese de

aacutecido micoacutelico

causando a morte

celular

Reduccedilatildeo da

captaccedilatildeo do

faacutermaco ou

mutaccedilotildees que

impedem a

conversatildeo

para a forma

ativa

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico

Etambutol Bacteriostaacutetico Atua

sobre bacilos intra e

extracelulares

principalmente de

multiplicaccedilatildeo raacutepida

Interfere na

biossiacutentese de

arabinogalactano

gerando um

desarranjo da

estrutura da parede

celular

micobacteriana

Mutaccedilotildees em

genes

Absorccedilatildeo oral e

ampla distribuiccedilatildeo

pelos liacutequidos e

tecidos corporais

Metabolismo

hepaacutetico Cerca

de 80 do

faacutermaco natildeo eacute

metabolizado

sendo eliminado

por via renal

Os faacutermacos de primeira linha podem causar efeitos adversos menores e maiores O

manejo destas reaccedilotildees indesejaacuteveis iraacute depender do quadro apresentado pelo

paciente com recomendaccedilotildees preconizadas pela OMS Na maioria das vezes o

tratamento pode ser continuado normalmente somente em alguns casos seraacute

necessaacuteria a interrupccedilatildeo do tratamento Aleacutem disso o uso do esquema de

tratamento antituberculose eacute considerado seguro durante toda a gestaccedilatildeo e

lactaccedilatildeo podendo ser utilizadas doses habituais

Para garantir o sucesso terapecircutico eacute preciso que o paciente cumpra o tratamento

proposto com as doses preconizadas e pelo tempo determinado A equipe

multidisciplinar de sauacutede deve desenvolver estrateacutegias para otimizar a terapia

medicamentosa visando agrave reduccedilatildeo do abandono agrave melhora da qualidade de vida e

agrave cura do paciente

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REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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RAS inisteacuterio da Sa de undaccedilatildeo Nacional de Sa de entro de Refer ncia Professor Heacutelio raga Sociedade rasileira de Pneumologia e Tisiologia Controle da tuberculose uma proposta de integraccedilatildeo ensino-serviccedilo ed Rio de aneiro FUNASACRPHFSBPT 2002 236 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Boletim Epidemioloacutegico Vol 46 N 9 2015 Disponiacutevel em lthttpportalsaudesaude govbrimagespdf2015marco272015-007---BE-Tuberculose---para-substitui----o-no-sitepdfgt Acesso em 20 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual de recomendaccedilotildees para o controle da tuberculose no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2011 284 p BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Vigilacircncia em Sauacutede Departamento de Vigilacircncia Epidemioloacutegica Manual nacional de vigilacircncia laboratorial da tuberculose e outras micobacteacuterias Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2008 458 p Disponiacutevel em lt httpbvsmssaudegovbrbvspublicacoesmanual_vigilancia_ laboratorial_tuberculosepdfgt Acesso em 21 Jun 2015 BRASIL Ministeacuterio da Sauacutede Secretaria de Atenccedilatildeo agrave Sauacutede Departamento de Atenccedilatildeo Baacutesica Poliacutetica nacional de atenccedilatildeo baacutesica Brasiacutelia Ministeacuterio da Sauacutede 2006 60 p Disponiacutevel em lthttpbvsmssaudegovbrbvspublicacoes politica_nacional_atencao_basica_2006pdfgt Acesso em BROOKS Geo F et al Microbiologia meacutedica de Jawetz Melnick e Adelberg 26 ed Porto Alegre AMGH 2014 864 p CAMPOS Hisbello S Etiopatogenia da tuberculose e formas cliacutenicas Rev Pulmatildeo Rio de Janeiro v15 n1 p29-35 2006 Disponiacutevel em lt httpbasesbiremebrcgi-binwxislindexeiahonlineIsisScript=iahiahxisampsrc=googleampbase=LILACSamplang=pampnextAction=lnkampexprSearch=612376ampindexSearch=ID gt Acesso em 04 Jun 2015 CHAIMOWICZ Flaacutevio Age transition of tuberculosis incidence and mortality in Brazil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 35 n 1 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102001000100012ampscript=sci_abstra ctamptlng=ptgt Acesso em 28 Mar 2015 CHAMBERS Henry F Faacutermacos antimicobacterianos In KATZUNG Bertram G Farmacologia baacutesica e cliacutenica 10ed Porto Alegre AMGH 2010 Cap 47 697-705

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

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REFEREcircNCIAS ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 1 faacutermacos de primeira linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 626-640 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1806-37132010000500016ampscript=sci_arttextgt Acesso em 04 Mai 2015 ARBEX Marcos Abdo et al Drogas antituberculose interaccedilotildees medicamentosas efeitos adversos e utilizaccedilatildeo em situaccedilotildees especiais Parte 2 faacutermacos de segunda linha J Bras Pneumol Satildeo Paulo v 36 n 5 p 641-656 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1806-37132010000500017gt Acesso em 04 Mai 2015 BARBOSA Deacutebora Regina Marques et al Caracteriacutesticas epidemioloacutegicas cliacutenicas e espaciais de casos de tuberculose em aacuterea hiperendecircmica do nordeste do Brasil Revista de Epidemiologia e Controle da Infecccedilatildeo Rio Grande do Sul v 4 n 3 2014 Disponiacutevel em lthttponlineuniscbrseerindexphpepidemiologiaarticle view42053902gt Acesso em 30 Mar 2015 BARREIRA Draurio GRANGEIRO Alexandre Avaliaccedilatildeo das estrateacutegias de controle da tuberculose no Brasil Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800002amplng=ptampnrm=isoamptlng=ptampuserID=-2gt Acesso em 02 Abr 2015 BARRETO Anne Jaquelyne Roque et al Organizaccedilatildeo dos serviccedilos de sauacutede e a gestatildeo do cuidado agrave tuberculose Ciecircnc sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 17 n 7 Jul 2012 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid= S1413-81232012000700027gt Acesso em 15 Mar 2015 BIERRENBACH Ana Luiza et al Tendecircncia da mortalidade por tuberculose no Brasil 1980 a 2004 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800004amp script=sci_arttextgt Acesso em 28 Mar 2015 BRAGA Joseacute Ueleres Vigilacircncia epidemioloacutegica e o sistema de informaccedilatildeo da tuberculose no Brasil 2001-2003 Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamp pid=S0034-89102007000800011gt Acesso em 28 Mar 2015

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

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PEREIRA Susan M et al Vacina BCG contra tuberculose efeito protetor e poliacuteticas de vacinaccedilatildeo Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 41 supl 1 p 59-66 Set 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-89102007000800009amp script=sci_arttextgt Acesso em 30 Jul 2015 RUFFINO-NETTO Antocircnio Controle da tuberculose no Brasil dificuldades na implantaccedilatildeo do programa Jornal de Pneumologia Satildeo Paulo v 26 n 4 Ago 2000 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0102-35862000000400 001ampscript=sci_arttextgt Acesso em 12 Abr 2015 SALDIVA Paulo Hilaacuterio Nascimento et al Pulmotildees Pleura In BOGLIOLO Luigi BRASILEIRO FILHO Geraldo Patologia 8 ed Rio de Janeiro Guanabara Koogan 2011 Cap 12 357-407 SILVA Elisvania Rodrigues da et al Tuberculose Primaacuteria da Mama Rev Bras Ginecol Obstet Rio de Janeiro v 24 n 4 p 241-246 Mai 2002 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-7203200200040 0005gt Acesso em 30 Jul 2015 SOUZA Marcus Viniacutecius Nora de VASCONCELOS Thatyana Rocha Alves Faacutermacos no combate agrave tuberculose passado presente e futuro Quiacutemica Nova Satildeo Paulo v 28 n 4 p 678-682 Ago 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S0100-40422005000400022gt Acesso em 30 Mai 2015 SOUZA Wayner Vieira et al Tuberculose no Brasil construccedilatildeo de um sistema de vigilacircncia de base territorial Rev Sauacutede Puacuteblica Satildeo Paulo v 39 n 1 Jan 2005 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S0034-8910200 5000100011ampscript=sci_arttextgt Acesso em 02 Abr 2015 TORTORA Gerard J FUNKE Berdell R CASE Christine L Microbiologia 10 ed Porto Alegre Artmed 2012 934 p VIEIRA Rafael da Cruz Arauacutejo et al Perfil epidemioloacutegico dos casos de tuberculose multirresistente do Espiacuterito Santo Rev bras epidemiol Satildeo Paulo v 10 n 1 Mar 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophppid=S1415-790X200 7000100007ampscript=sci_arttextgt Acesso em 30 Mar 2015 WHO World Health Organization Global tuberculosis report 2014 [online] Geneva World Health Organization 2014 Disponiacutevel em lthttpwwwwhointtbpublicationsglobal_reportengt Acesso em 04 Jun 2015

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