aspecto verbal em portugues ataliba castilho

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  • 7/23/2019 Aspecto Verbal Em Portugues Ataliba Castilho

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    Ataliba T. de Castilho

    INTRODUO AO E S T U D O DO A S P E C T O V E R B A L NALNGUA P O R T U G U E S A

    M A R L I A19 6 8

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    Para Theodora Henrique Maurer Jr. eAmaury de Assis Ferreira,Mestres e Amigos.

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    12 nem sequer acreditamos ter extrado daqueles mesmos jatos todas aslies que encerravam. Eis por que nos pareceu bom aceitar o conselho de von der Gabelentz e exibir o material recolhido, pois

    "Cada um tem os seus prprios hbitos e, muitas vezes,to prprios que ningum mais pode continuar as suascolees ou utiliz-las. Podia e devia ser de outra maneira , se o ensino dos mtodos da cincia que cultivamosno julgasse indigno de si ocupar-se da tcnica externa.Sem dvida que no indiferente que a utilizao dasminhas coletneas me leve duas ou trs vezes mais tempodo que o normal; no indiferente que os frutos da minha atividade em reunir material, no caso de eu os nopoder aproveitar, sirvam a outras pessoas ou se percamirremediavelmente para a cincia". *Cumpre finalmente agradecer a quantos concorreram para aelaborao de nosso estudo. Em verdade, se saiu mofino no foi porfalta da assistncia e da colaborao de tantos amigos- Devemos aoProf. Dr. Theodoro Maurer Jr. a indicao do tema e as muitas eoportunas sugestes com que nos facilitou a tarefa. A FundaoCalouste Gulbenkian, de Lisboa, concedendo-nos uma bolsa de estudos, facultou o contacto direto com instituies e pessoas, dentre

    estas os Profs. Dr. Manuel de Paiva Bolo e Dr- Jacinto do PradoCoelho. Deixamos tambm consignada nossa gratido aos professores que passaram sucessivamente pela Direo da Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Marlia, os quais asseguraram as condiesnecessrias elaborao do trabalho.* * *

    O texto que se vai ler essencialmente o mesmo da tese dedoutoramento defendida perante a Universidade de So Paulo emdezembro de 1966; as alteraes feitas devem-se s sugestes dosmembros da Banca Examinadora e de outros especialistas a cujaapreciao submetemos a redao original. de justia que destaquemos o Prof. Dr- Isaac Nicolau Salum. cujas inmeras observaesenriqueceram sobremaneira nosso trabalho.

    Marlia, 1968.(* ) Citado por M . de Paiva Bolo na Introduo ao Estudo da Filologia Portuguesa, Lisboa, Edio da Revista de Portugal, 1946, pp. 73-74.

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    CAP. I P R E L I M I N A R E S

    1 . O verbo e suas categorias1. Na considerao das partes do discurso importa distinguirduas espcies de palavras: o nome, que representa os seres e osobjetos, e o verbo, que figura as aes (processo) e os estados ( 1 ) .Mais do que isso, o verbo "a palavra que pode exprimir as modalidades de um processo ou estado (tempo, durao , etc.) por meiode mudanas da forma (2 ) ; recorde-se, com efeito, que tambm osnomes podem indicar um processo ("pensamento" = "pensar"), porm desconhecem a categoria de pessoa.2. O conceito expresso pelo verbo pode ser dimensionado dediferentes formas atravs das categorias verbais, em nmero de seis;aspecto, tempo, modo, voz, pessoa e nmero . A funo dessas ca-

    (1) Conservamos praticamente na n tegra a lio de A. M e i l l e t , dissentindoapenas na identificao de estado a processo ("le verbe indique des " p r o c s " ,Qu'il s'agisse factions, d'tats ou de passages d'un ta t un autre" ;Linguistique historique et linguistique gnrale, vol . I , p. 175). Acreditamos, como R. Godel "Verbes d'tat, Verbes d'Evnement"( 35, queo processo verbal corresponde a uma representao dinmica dos latose implica em certo grau de atividade exercida ou sofrida. Ora, os verbosde estado parecem o oposto da noo de processo. Outro cri trio de dist ino entre verbo e nome est em avaliarmos as diferentes funes dessas classes de palavra.

    (2) Jacques Pohl Forme et pense, p. 31; J. Fourquet "La Notion deVerbe", In Grammaire et psychologie, Paris, PUF, pp. 72-96.

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    14 tegorias atualizar (3) o processo virtualmente considerado, definin-do-lhe a durao (aspecto), localizando-o numa data ou perspectiva(tempo), esclarecendo a interferncia do sujeito falante (modo) ouo papel a le atribudo (voz), bem como sua relao com o ouvintee o assunto (pessoas, assim distribudas: primeira pessoa, sujeitofalante; segunda pessoa, ouvinte; terceira pessoa, assunto) e quantidade dessas entidades ( n m e r o ) . Examinemos de perto as quatroprimeiras categorias, esclarecendo, antes de mais nada, que elas nos o exclusivas, podendo ocorrer simultaneamente na mesma forma

    3. O aspecto a viso objetiva da relao entre o processoe o estado expressos pelo verbo e a idia de durao ou desenvolvimento. pois, a representao espacial do processo. Esta definio,baseada na observao dos fatos, atende realidade etimolgica dapalavra "aspecto" (que encerra a raiz * spek = "ver") e insiste naobjetividade caracterstica da noo aspectual, a que contrapomos asubjetividade da noo temporal (4) . Obviamente no afastamos ahiptese de que ela venha a ser aperfeioada no momento em quedispusermos de uma quantidade razovel de estudos sobre a matria.Se ao verbal indica uma durao, temos o aspecto imperfecti-vo; se uma ao cumprida, contrria noo de durao , o aspectoperfectivo; se uma ao repetida, o aspecto iterativo; se nada disso,

    vestindo-se o verbo de um tom virtual, indiferente atualizaopo r qualquer categoria (e no caso interessa-nos a ausncia da categoria aspectual), teremos o aspecto indeterminado.Consideramos o aspecto uma categoria de natureza lxico-sin-ttica, pois em sua caracterizao interagem o sentido que a raizdo verbo contm e elementos sintticos tais como adjuntos adverbiais,complementos e tipo oracional.Deve ser o aspecto a categoria verbal mais antiga, quer porexpressar uma idia mais concreta e objetiva que a do tempo, quer,

    (3 ) Empregamos aqui o termo "atualizar" no sentido de "transformar p o t n c ia em ato"; no caso presente, as categorias t r a n s p e m o verbo de infinitumpara finitum.

    (4 ) Veremos no 100 as r e l a e s entre os aspecto e o tempo; t a m b m nestad e f i n i o nos aproximamos de A. M e i l l e t , quando diz: "la c a t g o r i e del'aspect non moins v a r i e que celle du temps, embrasse tout ce qui estr e l a t i f la d u r e et au d g r e d ' a c h v e m e n t des p r o c s i n d i q u s par lesverbes": Ibid,, p. 183.

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    15 e principalmente, por estar mais essencialmente ligado noo deprocesso ( 5) .

    Observamos por f im, que certos autores tm encontrado noesde aspecto at mesmo nos substantivos deverbais; essa matria noser objeto de consideraes no presente estudo, mas serve para comprovar a importncia do semantema (presente em verbos e substantivos) como gerador daquela noo ( 6 ) .4- A categoria do tempo localiza o processa num dado mo

    mento, servindo-se de pontos de referncia ein nmero de crs: oprpr io falante, o momento em que se desenrola outro processo e omomento em que idealmente se situa o falante, deslocando-se empensamento para o passado ou para o futuro.(5 ) H t a m b m quem diga corresponder a n o o de aspecto mentalidadep r i m i t i v a , mais interessada no movim ento, no modo como se produz a a oe em seu resultado do que propriamente no f l u i r do tempo, n o o abstrataque s mais tarde surgiria. um tema de que os l i n g i s t a s a n t r o p l o g o sse tm ocupado: cf. Benjamin L . W h o r f "The Punctual and SegmentativeAspects in H o p i " ; Bonfante "Semantics" e "Language", In Encyclopae-dia of Psychology, Ne w Y o r k , 1946; Stephen Gilman Tiempos y Formas

    Temporales..., pp . 29-31. V. t a m b m L v y - B r u h l , cit. por Mattoso C m a r aJr. Princpios de Linstica Geral, p. 146. Quanto p r e c e d n c i a doaspecto em r e l a o ao tempo, defende-a o mesmo Mattoso C m a r a Jr .nestes termos: "Nas l n g u a s ocidentais modernas que se fz do tempoo cerne do paradigma verbal e se deu ao aspecto uma a p r e s e n t a o subs i d i r i a e gramaticalmente e x g u a , porque se acolhe mais na d i f e r e n c i a ol x i c a e em l o c u e s ou moldes frasais". Cf. Uma Form a Verbal Portuguesa, p. 16. Sobre este parti cular, ver ainda L . Jenaro Maclennan ElProblema dei Aspecto Verbal, pp. 51, 54 e 57. Out ro problema que ocorrequando analisamos historicamente a m a t r i a o da f o r m a o de tempos apartir de aspectos, como o p r e t r i t o , que se desentranhou do aspecto per-fectivo indo-europeu. Indicando c perfectivo processo acabado, f acilitou-seo desenvolvimento da n o o de tempo passado; cf. A. M e i l l e t Linguistiqu e historique et linguistique gnrale, vol . I , p. 188: "ce d v e l o p p e m e n t ,q u i se r p t e sans cesse, montre comment la c a t g o r i e expressive et conc r t e de l'aspect f o u r n i t , en perdant par l'usage son c a r a c t r e expressifet concret, un moyen de rendre la c a t g o r i e de tem ps". E realmente s s edesenvolvimento se repetiu quando o p a s s compos f r a n c s , criado paraexpressar o resultado atual dum fato passado, se i d e n t i f i c o u com o possesimple, passando a indicar o p r e t r i t o . A i n d a recentemente K a r l HnrstSchmidt retomou a m a t r i a , estudando a e v o l u o do perfeito de estadoindo-europeu para p r e t r i t o ; v. "Das Perfektum in indogermanischen Spra-chen. Wande l einer verbal kategorie".

    (6 ) Cf. Charles B a l l y Linguistique gnrale et linguistique franaise, 587e 588; v. t a m b m 291; J. H o l t tudes d'aspect, p. 2; Ai M i r a m b e l "Aspect verbal et s y s t m e " , 73.

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    16 O desvio do ponto de referncia faz oscilar todo o sistema nada mais abstrato que a noo de tempo e temos assim os tempos absolutos (primeira hiptese: presente, passado, futuro), os tempos relativos (segunda hiptese: imperfeito, mais-que-perfeito, futuroe perfeito do subjuntivo, futuro perfeito) e os tempos histricos (terceira hiptese) , em que o sujeito se inclui na histria, assumindo opapel de "dramatis persona" ("Napoleo desembainha a espada") ouento adotando um tom proftico de quem no duvida da veracidadede suas palavras ("Esta foi a deciso que mudar o curso da his

    tria ( 7 ) .Sobre as relaes entre o tempo e o aspecto tornaremos adiante.5. O modo indica a atitude do sujeito em relao ao processoverbal, ,que pode ser encarado como algo real (Indicativo), eventual(Subjuntivo) ou necessrio (Imperativo). Esta conceituao fundamenta-se na de A. Meillet, formulada em 1920 nos seguintes termos:

    "Sous le nom de modes on entend les formes au moyendesquelles est indiqu l'attitude mentale du sujet parlantpar rapport au procs indiqu par le verbe" (8).J Rodolfo Lenz parte em sua formulao de consideraeslogicistas: os modos correspondem aos juzos assertivo (Indicativo),problemtico (Subjuntivo), apodtico (Optativo e Imperativo, dife-renando-se este daquele por indicar uma ordem direta) ( 9 ) .

    (7 ) Cf. Georges Galichet Essa de grammaire psychologique, p. 91; J. Ven-dryes Le Langage, p. 114; R. Lenz La Oracin y sus Partes, 311.(8 ) Linguistique historique et linguistique gnrale, vol. I ( p. 190. Os gregosentendiam o modo como uma d i s p o s i o da alma", " d i a t h s e i s ts p s y c h s " .R . Le Bidois parece ter retomado essa e x p r e s s o ao d e f i n i r assimo subjuntivo: "() la valeur p r e m i r e essentielle de ce mode n'est pas,

    comme on le dit parfois ( ) ( de marquer la doute, mais de traduire unmouvement de l'me" ( g r i f o nosso). Cf. "La D f e n s e de la Langue Fran a i s e " , in Le Monde, s l e c t i o n , hebdomadaire, n. 815 (28 mai-3 j u i n 1964),p . 10. V. t a m b m M e y e r - L b k e Grammaire des langues romanes, vol . I I I 90.(9 ) "Modo es la categoria gramatical segun la cual se clasif ican las form asverbales propiamente taies (es decir, con exclusion de los verboldes), subjetivamente (desde ei punto de vista dei que habla), en c o r r e s p o n d n c i a c msu valor l g i c o " . La Oracin y sus Partes, 285; v. t a m b m 276 e 278.

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    17 Registram-se mais recentemente novos esforos para a concei-tuao dessa categoria (10).6. A voz esclarece o papel do sujeito, que poder ser agente(Voz Ativa), paciente (Voz Passiva) ou ambas as coisas (Voz Reflexiva) .7. Anotamos no 2 que uma forma verbal pode abrigar vriascategorias ao mesmo tempo, sendo certo que h sempre uma predominante (11). Assim, "esteve falando" tanto passado (tempo)quanto durao (aspecto).Por outro lado, uma forma temporal pode assumir valores notemporais e este o caso dos tempos de funo modal; citaremosalguns exemplos: presente: "Mas enfim, se eu embirro com ela no me importa, posso bem mand- la embora" (12). "A princpio olham-medesconfiados, com medo uns dos outros. Sem dvida gostam de vivermais um sculo, mais dois sculos, mas no sabem ainda que empregoho de dar existncia". R. Brando H 47 (13).

    (10) Referimo-nos ao estudo de A. Garcia Calvo " P r e p a r a c i n a un E s t d i oO r g n i c o de los Modos Verbales sobre el Ejemp lo dei Griego Antiguo",que, infortunadamente reflete a "poca nitidez" da m a t r i a (p. 47).(11) Paul Imbs L'Emploi des temps verbaux en franais moderne, p. 15.C f . t a m b m Mattoso C m a r a Jr . o.c, p. 23 e M. Criado de Val Sintaxisde i Verbo Espaol Moderno, p. 36, que diz ser i m p o s s v e l separar radicalmente as categorias e as f u n e s gramaticais como se fazia naantiga l i n g s t i c a , admitindo-se atualmente a p r e s e n a de " n o e s e signospredominantes" ao lado de " n o e s e signos s e c u n d r i o s " . E A. Mirambel "Aspect verbal et s y s t m e " , p. 78, exemplifica a p r e s e n a de diversascategorias numa s forma.(12) Ea de Q u e i r s O Primo Baslio. S o Paulo , B rasili ense , 1961, P. 93.(13) Adotamos os seguintes c r i t r i o s na t r a n s c r i o do e x e m p l r i o : as formasde interesse vo sempre grifadas; os t t u l o s so abreviados, bastando recorrer Bibliografia, terceira s e c o , para o destrincamento das abreviaturas; sempre que uma obra (texto ou doutrina) no foi objeto de consultademorada, cito-a por inteiro em notas de r o d a p . Dois p a r n t e s e s voltados,( ) , indicam que se saltou trecho d e s n e c e s s r i o c o m p r e e n s o do exemplodado.

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    18 imperfeito: "Um passo a mais e a carruagem me matava"."Se lhe viessem dizer que Domcio virara o maior cantador do sertole acreditava"- Lins do Rgo PB 205. pretrito: "Girou!", [valor de ordem]. "Com mais outraobra [que escrevas], transpuseste as portas da imortalidade" (14). perfeito (pretrito perfeito composto): "Se tem demoradoum pouco mais, teria assistido ao bombardeio do Rio". MagalhesJr. AA 73. "Se o rapaz tem sado me, eu acabava tudo". M.de Assis D. Casmurro 236 (v. nota 116). mais-que-perfeito: "Ah, se um dia respondesses, / ao meubom dia: bom dia! / Como a noite se mudara/ no mais cristalinodia!". C. Drummond de Andrade P 266. futuro do presente: "A saia estava encharcada e frios osp s . Estar morta" [ d v i d a ] . R. Brando P 43. "Deus ter compaixo de mim" [dvida dolorosa] (15)- " Honrars pai e me!"[ordem].Devem tambm ser aqui includos os tempos dotados de funotemporal diversa da que sua forma expressa habitualmente (16).

    (14) V. M. de Paiva Bolo "Tempos e Modos em P o r t u g u s " , 28-29, queinterpreta esse curioso emprego do p r e t r i t o . O segundo exemplo vem damesma fonte, sendo considerado equivalente ao fut uro. O que n o prej udica nossa i n t e r p r e t a o , j por ser o futuro muito carregado de modalidade, j por corresponder aos exemplos de perfeito adiante enumerados. Com efeito, "transpuseste" vale tanto como "tens transposto", mormente se nos damos conta do valor condicional do conjunto"com mais outra obra [que escrevas]": "Se escreveres mais uma obra,tens transposto as portas da imortalidade".

    (15) Idem Ibidem, 31.(16) Diversos tempos mudaram de esfera temperai no l a t i m vulg ar. O mais-que-perfeito do subjuntivo passou a imperfeito do subjuntivo (substituindo a

    forma em -re) e o passado passivo tomou o valor de presente passivo(substituindo a passiva s i n t t i c a ) , etc. Cf. Th. Henrique Maurer Jr. Gramtica do Latim Vulgar, pp. 128-129.

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    19 presente pelo futuro (17): "Eu mesmo posso-te agora matar, posso-te fazer o mal que quiser. No grites, que pior. Ningumte acode". R. Brando P 157. "No lhe escrevo sem ter em meupoder resposta sua ( ) " . Pao D'Arcos AV 261. presente pelo pretrito: "Quando acorda, Maria Clara j tinha tirado a mercedes da garagem". C. H. Cony A V 59.E bem assim as formas do modo indicativo com valor de subjuntivo, uso cada vez mais acentuado (pop. "Ela pede que voc vai direitinho") e de imperativo negativo ("No fala assim") ou afirmativo("Diogo. . . Olha. Tu desces a rua, vais at l baixo ao p daquelelampio. Esperas o sr. Conde. Dizes-lhe que eu j c estou") (18)-8. O sistema verbal, p orm, mais complexo, permitindo quemais de uma modalidade da mesma categoria possa ocorrer em determinada forma; por outras palavras, do-se casos em que, predominando por exemplo a categoria de aspecto, pelo menos dois valoresaspectuais paralelos podem ser encontrados: inceptivo/iterativo: " Ps-se a cuspir". G. Ramos VS 98."O pobre moo desatou a espirrar"- V. Ferreira A 194. "Como

    vivia sempre sisuda e no achava graa em cousa alguma chamavam-na Cara de Pau". Do conto "Cara de Pau", transcrito por H. Meierem seu artigo "Sintaxe Gramatical, Sintaxe Funcional, Estilstica",136 (19). inceptivo/cursivo: "Cantavam j os galos e o alferes de cavalos props ( )" . A. Ribeiro JT 162. Nota-se claramente queos galos "comeavam a cantar" e "estavam cantando".

    (17) Uma excelente discusso do caso se encontra no artigo de M. Sanchez Barrado "Es td ios Comparativos dei "Praesens pro Futuro".

    (18) O lt imo exemplo foi recolhido por Paiva B o l o , Ibidem. Como bem observou o Prof. I . N . Salum. trata-se aqui de um uso esti l s t ico em que ofalante prefere descrever o processo a ditar normas.

    (19) Karl-Heinz Klppel Die Aktionsart und Modalitt in den portugiesischenverbalumschreibungen, pp. 20 e 22, analisa casos semelhantes, denominan-do-os "inceptivos sucessivos": " ( ) comearam de braadar altas vozes aosde cim a ( )" "os cristos novos comearam a esconder-se espavoridos".

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    20 Outros casos de paralelismo: 54, 63 e 86.

    2 . Estado da Questo do AspectoA ) A descoberta da noo aspectual9. Historiaremos brevemente nesta parte a descoberta da no o de aspecto e a extenso de seu estudo a novos domnios l ingsticos (19a).J os esticos, (20) ao analisarem os tempos, davam-lhes denominaes que sublinhavam certos valores no temporais por eles encerrados: agremiando os tempos em dois grandes grupos, o dos determinados, horismnoi, e o dos indeterminados ou aristoi(aoristo e futuro), subdividiam os do primeiro grupo em duas classesdistintas: a) o presente, ho enests paratatiks e o imperfeito,ho parachemnos paratatiks. Paratatiks vem de parateino, "estender, desenvolver, durar'; com as palavras enests e parachemnos"presente" e "passado", queria-se situar a durao em diferentesperspectivas temporais; b) o perfeito, ho enests synteliks vemde syntelo, "acabar, cumprir". Eis a, em suma, as noes aspectuaisde durao e acabamento descritas pelos gregos. Veremos no momento oportuno como essa primeira compreenso do verbo grego praticamente no mudou ( 2 2 ) .10 . Entre os latinos, Var ro em seu De Lngua Latina, IX,96 , parece ter sido o primeiro a levar em conta o aspecto quandofalou em tmpora injecta e tmpora perfecta; A . Meillet viria o retomar estas idias em seus trabalhos.

    (19a) Diversos trabalhos trazem h i s t r i c o s da q u e s t o do aspecto; a l m do l i v r obem documentado de L . Jenaro Maclennan, citado na b i b l i o g r a f i a , ver tamb m J. Wackernagel Vorlesungen ber Syntax, vol . I , p. 152 e ss; H .H . Christm ann "Zum Aspekt in Romanischen"; J. Roca Pons Estu.dios sobre Perifrases Verbales del Espanol, pp. 24-55; K a r l van der Heyde "L'Aspect verbal en l a t i n " ; Arne K l u m Verbe et adverbe, pp. 105-152.

    (20) Jesse L . Rose The Durative and Aoristic Tensea in Thucydide, p. 6;t a m b m J. Humbert Syntaxe grecque, 240.

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    21 11. Coube a Georg Curtius, todavia, insistir nesses valores notemporais, o que fz em 1846, num livro intitulado A Formao dosTempos e dos Modos em Grego e em Latim (21). Atendia a umimpulso comparatista, pois ocorreu-lhe buscar no verbo grego aquelanoo constatada no eslavo, e ali denominada vid.Foram de fato as lnguas eslavas dentre as do indo-europeu asque conservaram de forma mais vivaz a categoria de aspecto.Teoricamente, todos os verbos eslavos podem ser imperfectivose perfectivos, segundo indiquem a ao de que no se considera otrmino (imperfectivo) e a ao com considerao do trmino (per-fectivo); em conseqncia disso, o pretrito dos verbos imperfectivosequivale ao nosso imperfeito, e o pretrito dos perfectivos ao pretrito simples ou ao ntais-que-perfeito, equivalendo o presente ao futuro.H uma roupagem morfolgica para essas duas possibilidades,pois, de modo geral, ao aspecto imperfectivo correspondem os verbossimples, e ao perfectivo os verbos dotados de prevrbio. A conjugao do verbo eslavo apresenta, portanto, a originalidade de ter umsistema de dois verbos emparelhados (22).12. Estudando o verbo grego deste ngulo, descobriu GeorgCurtius que era possvel distinguir nele os "graus do tempo" (al.Zeitstufe), ou seja, o presente, o passado e o futuro, e a "qualidadedo tempo" (Zeitart), que comportava trs possibilidades: a) aoduratiya, indicada pelas formas do tema do presente; b) ao incipiente, expressa pelas formas do tema do aoristo, e c) ao completa, representada pelas formas do tema do perfeito (23) .

    (21) Die Bildung der Tempora und Modi im Griechischen und Lateinischen.Em 1873 refundiu essa obra, dando-lhe novo t t u l o : Das Verbum der griechischen Sprache. V. Michel B r a l , na introduo que escreveu para aGrammaire compare des langues indoeuropennes de Fr. Bop p, vol. I , p.X X X V I I I .

    (22) A. M e i l l e t Le Slave commun, 306-328; J . H o l t tudes d'aspect, pp.55-65. Para um resumo das pesquisas efetuadas pela eslavstica v. L . J.Maclennan El Problema dei Aspecto Verbal, pp. 55-83.(23) Grammatica della Lingua Greca, 484. Delbrck substituiria Zeitart por

    Aktion em 1880; em 1885 apareceu o termo Aktionsart, proposto por Brug-mann. Quem d estas informaes Schwyzer, em sua Griechische Grammatik, vol . I I , pp. 251-252.

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    22 Duas reflexes devem ser feitas sobre, a posio de Curtius emface do problema. Inicialmente, constata-se que concebia o aspecto(termo que viria a substituir Zeitart) como categoria com fundamentao morfolgica, mas os autores que se lhe seguiram entenderam-na como categoria semntica, sem morfologia correspondente.Em segundo lugar, nota-se que Curtius no desvinculou do tempoo aspecto, pois Zeitart significa "qualidade do tempo", como j sedisse. Modernamente ambas as categorias so postas em oposio,

    conquanto se admita que coexistam numa mesma forma verbal.13 . Com estas idias conseguiu Georg Curtius chamar a ateno dos estudiosos para a categoria do aspecto, que comeou a serobjeto de pesquisa em diferentes domnios lingsticos.Franz Bopp no quis faz-lo, e assim, embora reconhecesse aexistncia de noes que hoje consideramos aspectuais, negava a existncia do aspecto como categoria dotada de morfologia, nestes termos:

    "A un point de vue plus gnral, je ne crois pas que lalangue ait besoin d'exprimer par un signe particulier ladure d'une action. Il s'entend de soi que chaque espced'acte, non moins que chaque espce de repos, exige uncertain laps de temps. Quand je dis " i l mange", " i l boit"," i l dort", " i l est assis", on sait bien qu'il n'est pas question d'une action instan tane; i l en est de mme quandje dis " i l mangeait", " i l buvait", "i l dormait", " i l taitassis" (pendant que se faisait telle ou telle autre action).Je ne puis donc pas souscrire cette opinion de Pott queles temps spciaux prennent, l'exclusion des autrestemps, les caractristiques des classes, parce qu'ils ont exprimer une action qui ne se prolonge" (24).

    Estudos posteriores demonstraram que o verbo indo-europeupossua temas verbais independentes uns dos outros, regulando-seseu emprego pelo aspecto e no pelo tempo; os temas mais importantes eram o do aoristo, que expressava o processo considerado emsi mesmo, o do presente, que indicava o processo em seu desenvol-

    (24) Grammaire compare des langues indoeuropennes, vol. I I I , 511, nota 3.E observe-se que tendo falecido em 1867 e c o n c l u d o as duas primeiras edi e s de sua G r a m t i c a em 1852 e 1861 (saindo a t r a d u o francesa entre1866-1827) poderia, se quisesse, ter dado curso s i d i a s de Curtius, de 1846.

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    23 vimento, e o do perfeito, que representava o estado conseqente aum processo cumprido (25).

    Hermann H ir t supe que os aspectos no indo-europeu se expressassem atravs da raiz, explicando assim a razo por que os verbosimperfectivos no tm em grego e em latim o aoristo ou o perfectum;o aoristo de basiluo tardio, e verbos como albeo, aceo,colleo, egeo, lateo, esse s contam com o imperfeito, dentre os tempos do passado (26) .14. Vimos ( 12) como o grego conservou a distino entreos trs temas herdados ao indo-europeu; j o latim organizou seusistema volta de dois temas de natureza aspectual: o do injectum eo do perfectum. Os traos morfolgicos mais salientes na caracterizao desses temas so, para o infectum, o infixo nasal, e para operfectum, a reduplicao, a alternncia voclica, o sufixo sigmticoe o sufixo -u.O infectum corresponde ao presente no grego, e o perfectum aoperfeito e ao aoristo; dessa forma, scripsi tanto pode significar "acabode escrever" como "escrevi" (27) . Tal como ocorre no grego e noindo-europeu (nota 26), tendiam as razes durativas latinas a tomarde emprstimo a razes pontuais as formas do perfectum; assim, fero"estou conduzindo", recebeu de tollo "apanho" o pretrito tuli.

    (25) Cf. A. M e i l l e t Introduction l'tude comparative des langues indoeuro-pennes; J. Vendryes e E. Benveniste "Langues i n d o e u r o p e n n e s " , in Leslangues du monde, nouv. d . Paris CNRS, 1952, pp . 11-12; H. V. Velten "On the O r i g i n of the Catgories of Voice and Aspect", in Language,v o l . V I I (1931), 241.

    (26) Indogermanische Grammatik, T e i l V I , Syntax I , 157; cf. t ambm A. Burger "Sur le passage du sys tme des temps et des aspects de l'indicatif,du l a t i n au roman comun", 35: "En indoeuropeen, l'aspect reste a t tach ausens mme de la racine qui influe sur la forme du thme verbal. A i n s i ,sur la racine * a l l i "aller",, essentielement d urative, i l cons truit un t hme, de prsen t gr. eimi, sker. mi, mais pas d'aoriste; par contre, sur laracine ponctuelle *gvie2 signifiant probablemen t "f aire un pas" (cf. gr.berna "pas"), i l construit un thme d'aoriste gr. be skr. dgart; pouren tirer un prsen t i l doit recourir un procd par ti cu li er, le redoublement valeur sans dout iterat ive. Comp. Horn, O 686 m a k r bebs, "faisantde grands pas".

    (27) T. Henrique Maurer Jr. Gramtica do Latim Vulgar, p. 124; sobre osist.ma verbal latino ver t ambm A. M e i i l e t et J. Vendryes Trait degrammaire compare des langues classiques, 388 e ss. : sobre o valoraorst ico do perfectum, consultar A. Ernout et A. Thomas Syntaxe latine 251b, 255c 253 e 268.

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    24 Foi Meillet quem retomou as idias de Var ro ( 10), dispondoos tempos latinos segundo duas sries formando uma oposio detemas do tipo ud/ud, isto , ao inacabada /ao acabada (28).Houve quem o criticasse por entender assim as coisas, mas semdvida as restries feitas prendem-se sobretudo desintelignciageral que reina sobre o que a categoria do aspecto; dentre as crticas,costuma-se sublinhar a de Kar l van der Heyde, que no aceita a oposio inacabado/acabado, pois um imperativo como dic no podesignificar "estejas dizendo" (p. 73) . A dificuldade pode ser contornada lembrando-se que a noo aspectual mais patente no indicativodo que em outros modos. Este autor discorda tambm do termoperfectum, propondo "resultativo", p. 140, (e parece-nos que o resultado nada mais que um dos matizes da ao perfeita), e concluindo : "dans la prsente tude mon intention n'a pas t de nier l'existence des phnomnes d'aspect ou d'Aktionsart dans le domaine dulatin" (p. 156).15 . Algumas questes particularmente delicadas tm-se apresentado aos sintaticistas que examinam o aspecto no latim. Referi-las-emos aqui a ttulo de informao apenas, por ser matr ia aindaem pendncia.Disse A . Meillet que se encontra no perfectum o valor de perfeito, citando estes exemplos: uixit = "est morto"; dixit "acabade falar"; "Fuimus Troes, fuit I l i um " ; parte a observao de Heyde,que considera raros tais casos (o.c, 71), temos a interessante hiptese de A . Magarinos, pela qual a forma redobrada do perfectum perfectiva, sendo aorstica a forma em -si; ignoramos se essa hiptese foi retomada, pois Magarinos a estudou apenas quanto ao verboparco (29), com resultados positivos. Ainda sobre esse valor, nofaltou quem o atribusse a condies semnticas especiais, tentando-se classificar os poucos verbos suscetveis de express-lo; Meyer-Lbke escreveu:

    ( 2 8 ) K a r l van der Heyde "L'Aspect Verbal en L a t i n " , 70 indica os diferentespassos em que M e i l l e t e x p s sua teoria, devendo-lhe ser apenas acrescentadaa Esquise d'une histoire de la langue latine, pp. X I e ss. e 28 e ss.

    (29) A. Magarinos "Peperci parsi"

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    25 "C'est prcisment avec les verbes qui expriment uneactivit intellectuelle que s'accomplit le plus facilement lepassage l'ide de parfait, c'est--dire l ' ide rsultantde cette activit" (30).

    Parece, pois, que no qualquer verbo que assume valor deperfeito, to logo conjugado no perfectum.Em segundo lugar, temos as discusses em torno do valor deperfectivao atribudo aos prevrbios; dividem-se as opinies, afir

    mando uns que o verbo simples durativo, transformando-se emperfectivo quando dotado de prevrbio. Outros vem no uso dosprevrbios uma funo meramente estilstica, distanciada de umagramaticalizao; referncias bibliogrficas e maiores detalhes podem ser encontrados no citado A. Magarios (31)- vista do exposto, pode-se falar numa categoria de aspecto gramaticalmente configurada no latim? A . Ernout e F. Thomas optampela negativa:

    "On ne peut considrer la notion d'aspect comme constituant une catgorie grammaticale en latin, et, dans cedomaine, l'examen des faits relve moins de la syntaxeque du vocabulaire et de la stylistique" (32).A afirmao em nada desmente a existncia da categoria, apenas coloca-a em suas justas dimenses: se de um lado no contamais com uma representao morfolgica notvel, de outro no deixade assinalar sua presena na l ngua: toda a interessante histria daconstituio da perfrase de habere + particpio passado a est paracomprov-lo (v. 77c), restando avaliar at que ponto isto maisvlido para as l nguas romnicas do que para o l a t im .

    (30) Grammaire des langues romanes, vol. I I I , 288. P o n d e r a o semelhantefo l feita por K a r l Horst Schmidt "Das Perfektum in indogermanischenSprachen", 5: o perfeito grego in tensivo com sentido de presente encontra-se

    principalmente nos verbos que representam vozes, como kkrague = g r i ta, e nos uerba affectuum como bbryche = chora. V. t a m b m J. H o l t , t u d e s d'aspect, 19 e G. Ivanescu "Le Temps, l'aspect."..., 47 ( = verboscomo amar, estimar, marchar no expressam o resultado em romen o).

    (31) "Scbre los Valores dei P r e v r b i o en "Consequor"" e "Not as sobre el Po-slble V a l o r de los P r e v r b i o s " . V. t a m b m M. Eassols de Climent Sinia-xis Latina, vol . I , 295.

    (32) Syntaxe latine, 239. Para um estudo estritamente s e m n t i c o do aspecto,v . C. Guiraud Les Verbes signifiant "voir" en latin. t u d e d'aspect.

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    26 16 . No poderemos, como era nosso desejo, historiar nestebreve apanhado a sorte das idias sobre o aspecto no campo romnico (33); entretanto, a bibliografia (ainda que incompleta) quecerra nosso trabalho poder dar uma idia da extenso desses estudos, sendo o francs, como era de esperar, a lngua mais intensamente explorada.Algumas referncias faremos ao caso particular do portugus,resenhando os trabalhos que pudemos consultar.Tanto quanto de nosso conhecimento, no h em nossa lngua,exceo feita de um trabalho de Simes Ventura, que no pudemosler (34), nenhum estudo consagrado especificamente a esta matr ia .As referncias que lhe fazem os autores sempre en passant; significativo que em sua maioria quase absoluta tiveram a ateno chamada para as noes aspectuais a partir da observao das perfrasesverbais, em que o aspecto tem uma presena portemente marcada( v . 101).

    (33) Fr . Diez fala em verbos perfectivos e imperfectivos (Grammaire des langues romanes, vol. I I I , pp. 186-187), em d u r a o no passado (p. 253), a od u r v e l e passado n o cumprido, passado inteiramente cumprido (p. 255) epassado cum prido (p . 257) ; estas parecem ser as n i c a s m a n i f e s t a e ssobre o aspecto que se podem achar em sua obra. A isto M e y e r - L b k eacrescentou que se deve considerar no verbo o "momento da d u r a o " e a"modalidade da a o " , isto , o tempo e "les d i f f r e n c e s dans la m a n i r edont s'accomplit une action : elle apprend donc si une, action est durable our p t e ou m o m e n t a n e ou inchoative ou accomplie". E exemplifica: "lel a t i n cantat renferme donc au moins quatre sens d i f f r e n t e s ' i l chante, sanss ' a r r t e r , pendant un espace de temps d t e r m i n " , " i l chante diverses reprises ( i l a coutume de chanter) ", " i l chante just ement cette heu re"," i l commence a chante r"" [o que j parece um pouco f o r a d o ] . Acreditaque o romance deixou de lado a u t i l i z a o de sufixos como recursos paraa e x p r e s s o do aspecto ( d i r e o que o l a t i m parecia estar seguindo ac const i t u i r os conjuntos uirere/uirescere, cantare/cantitare), voltando-se para ac r i a o de p e r f r a s e s com essa finalidade. Reconheceu M e y e r - L b k e , portanto, a categoria de aspecto, mas no lhe consagrou em sua obra nenhumc a p t u l o especial. Cf. Grammaire des langues romanes, vol. I I I ) 101. Tem-se considerado o trabalho de A. Burger "Sur le passage du s y s t m e destemps et des aspects de l ' i n d i c a t i f , du l a t i n au roman commun" como oprimeiro estudo de conjunto sobre o aspecto no romance; Burger fundamentou-se no f r a n c s arcaico. Suas c o n c l u s e s foram contraditadas porEmidio de Felice "Problemi di Aspetto nei pi antichi Testi Francesi".

    (34) Reflexes sobre o Aspecto Verbal. Coimbra, 1921.

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    27 Epiphanio da Silva Dias fala em presente iterativo e em perfeitoindicador de ao passada que se repete e que continua (3 5) .Ernesto Carneiro Ribeiro, sem servir-se da palavra "aspecto",demonstrou ter sentimento dessa categoria, ao escrever:

    "Os verbos estar, andar, ir, vir como auxiliares indicama existncia continuada. O primeiro pode-se chamar con-tmuativo freqentativo; o terceiro e o quarto continua-tivos progressivos" (36). p. 566, preocupando-se com os verbos dotados de sufixoaspectual (e veremos no 103 como esse recurso de expresso doaspecto restrito em relao aos demais), fala em verbos freqente-tativos (bafejar, almejar [ ? ] bodejar, etc.) e incoativos (amanhecer,anoitecer, escurecer, etc). V. 56a deste.Tambm Said A l i no se serve da palavra aspecto mas referediversas noes aspectuais; veja-se sua definio de presente momentneo e os exemplos de imperfeito durativo e freqentativo (37) .Modesto de Abreu e Gomes de Moura fazem algumas observaes sobre as perfrases (38).Karl-Heinz Kloppel comps um trabalho srio e bem documentado; estuda as perfrases de infinitivo formadas com os auxiliares comear, cuidar, andar, pensar, ir, vir, e querer. Na introduoesclarece que considerar as perfrases a partir do sentido primitivodo verbo -tomado isoladamente (39). Gostaramos de fazer-lhe algu-

    (35) Sintaxe Histrica Portuguesa, 252 e 253 a 2.(36) Estudos Gramaticais e Filolgicos. Salvador, Livraria Progresso Editora,1957, p. 557 [vo l. 3 das Obras Compl etas] .(37) Quanto ao presente: "Praticamente, porm sempre que os momentos i n i c i a le terminal no nos parecem muito afastados do instante da palavra, con

    sideramos a expresso verbal como presente m o m e n t n e o " , p. 310; quantoao imperfeito, v. p. 313. Gramtica Histrica, l.c.(38) "Costuma o verbo comear vir seguido de um complemento introduzidocom a preposio por, quando se quer determinar precisamente o l i m i t ei n i c i a l da a o : "Os do bispo comearam por segurar sua presa"", p. 83.V . a nota 112 deste. Outras o b s e r v a e s : dar + i n f i n i t i v o preposicionadopara indicar incio da a o : p. 137; entrar + i n f i n i t i v o preposicionado paraindicar o mesmo: p. 168. Cf. Regncia Verbal. Sintaxe e Esti l s t ica dosPrincipais Verbos. Rio de Janeiro Livraria Freitas Bastos S.A., 1957.(39) Aktionsart und Modalitt in den portugiesischen verbalumschreibungen, p. 16.

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    28 mas observaes: 1) pena que o autor tenha deixado de lado asperfrases de gerndio, fundamentais num estudo sobre o aspecto;2) objetivando tanto estudar aspecto quanto modo, estranhvelque na introduo s se refiram trabalhos sobre o aspecto, omitindo-se os problemas suscitados pelo modo (que no so poucos!),3) tendo partido de um ponto de vista formalista (pois selecionouas perfrases que estudaria e que relacionamos acima), abandonafacilmente os limites que se impusera, encaminhando-se para consideraes sobre o tempo (pp. 25, 31, 49, 50, 60 e 86) quando nose entrega a anlises semnticas to somente (v. sua digresso nocaptulo consagrado perfrase de cuidar de + inf init ivo); 4) a diferena que faz entre iterativo (p. 63) e freqentativo (p. 46) noficou muito clara, mormente porque os exemplos oferecidos socoincidentes (pp. 50 e 85); a repetio de abonaes tambm ocorre quando exemplifica modo e aspecto (pp. 57 e 73).

    Cludio Brando d questo um desenvolvimento maior, conquanto haja ficado na apresentao do respectivo quadro e na enumerao no circunstanciada dos recursos lingsticos para sua expresso (40). C- Brando considera os seguintes aspectos: 1) pontual momentneo, perfectivo), "em que se considera a ao comoconcluda apenas comeada ou mediante um s movimento: 'FreiR ui saltou no cho, apagou a lmpada ' "; 2) durativo (cursivo,progressivo, imperfectivo): durao ou desenvolvimento, portantocomo inacabado: "A cidade dormia"; 3) iterativo: repetio sucessiva ou freqente, ou rara, peridica ou irregular do mesmo fato : "A luz crua dos longos dias flameja sobre a terra imvel e nua anima"; 4) perfeito (consumativo): o fato se realizou e subsisteno sujeite um estado resultante da consumao de tal fato: "Sei",isto , procurei conhecer e atualmente conheo. "Quem de si adoecetarde ou nunca guarece"; 5) "terminativo (durativo-perfectivo), queexprime uma ao progressiva, tendo-se em vista um ponto determinado de sua durao o incio ou o fim: transpor um cimo,atingir um alvo, chegar a um lugar, partir de uma cidade, zarpar deum porto, concluir um trabalho, etc.: 'Partiu D. Estvo da Gamacom doze navios de alto bordo".N o nos parece conveniente subtitular o terminativo com termos antitticos ("durativo-perfectivo"); por outro lado, o terminativo no pode indicar o incio de uma durao .(40) Sintaxe Clssica Portuguesa. Belo Horizonte, Imprensa da Universidade deMinas Gerais , 1963, 286.

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    29 pena que o autor no se tenha estendido mais, a fim de queavalissemos com preciso seus pontos de vista.Outras referncias: J. Mattoso C mara Jr. "Uma categoriaverbal: o aspecto", cap. dos Princpios de Lingstica Geral a quenos reportaremos mais de uma vez nestas pginas; Jos Cretella Jr. "O Aspecto e o Tempo no Sistema Verbal"; A. J. Chediak, apropsito do "Anteprojeto de Unificao da Nomenclatura Gramatical Brasileira" comenta a palavra "aspecto" apresentando curiosas

    (mas freqentes, v. 26) confuses entre essa categoria e a de modo, pois fala em aspecto necessitativo, obrigativo conativo, enftico,potencial, volitivo" (41); Slvio Elia, "Aspecto", verbete do Dicionrio Gramatical (42); Eldio dos Santos Ramos (43).17. Concluindo esta breve sinopse histrica sobre a origeme a difuso dos estudos do aspecto, no podemos deixar de referiro simpsio que o "Cercle Belge de Linguistique" fz celebrar em26 de outubro de 1957, objetivando estabelecer o respectivo statusquaestionis; apresentaram-se na ocasio sete comunicaes, das quaisa Revue Belge de Philologie et d'Histoire publicou apenas quatro,at esta data: L. Roche "L'Aspect verbal en vieil indien"; M. Leroy "L'Aspect verbal en grec ancien"; A. Maniet "L'Aspect

    verbal en celtique"; J. Pohl "L'Expression de l'aspect verbal dansle franais contemporain" (44).B ) A Contribuio das "Escolas Lingsticas".18 . Recordamos no item anterior o modo como se deu adescoberta da noo de aspecto e a constatao de sua existnciaprimeiramente no eslavo, depois no grego, no indo-europeu, no latim e nas l nguas romnicas.Nesta altura de nossa Introduo, gostaramos de retratar maisde perto a evoluo dos estudos do aspecto, agrupando-os de acordocom as tendncias metodolgicas que representam

    (41) A Nomenclatura Gramatical Brasileira e sua Elaborao. Rio de Janeiro,CADES, 1960, p. 79.(42) 3. a e d i o . Porto Alegre, Editora. Globo 1962.

    (43) Da Syntaxilogia Portuguesa. Recife, 1926, pp . 166-167 ( = r e l a e s temporaisconotadas pelo presente m o m e n t n e o presente durativo e presente f r e q e n -t a t l v o ) .(44) V. vol. X X X V I (1958), respect ivamente 118-127, 128-137, 138443, 861-868;uma i n t r o d u o pequena e pouco informativa sobre os resultados do s i m p s i o vem p. 118.

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    30 A Lingstica Histrica teve papel destacado, sendo possveldivisar duas fases em suas atividades.A primeira levou prpria descoberta da categoria, pois foiuma inspirao comparatista que guiou Curtius. Diversos autoresretomaram suas idias, ampliando-as ou modificando-lhes a feio.Inicialmente, ops-se o presente ao aoristo e ambos ao perfeito , pois, enquanto os dois primeiros indicam o processo em seu desenrolar ou em si mesmo, atm-se o perfeito a indicar o estado.Desta sorte, o tema do presente indica a durao e o do aoristo amera constatao do fato, o que pode ser assim exemplificado:" Sokrtes toide t tropo apthneske" : "Scrates com estas palavras,morria" (imperfeito: noo de durao ) . " Sokrtes apthane gue-nios": "Scrates morreu com nobreza" (aoristo: constatao purae simples do valor moral de Scrates diante da morte). Entretanto,nem sempre h muita clareza na escolha de um ou de outro tempo,surgindo por vezes o imperfeito onde 'selon notre logique nousattendrions un aoriste" (45).A . Meillet contrasta o tema do presente com o do aoristo nosmesmos termos: enquanto este indica o processo puro e simples,insiste aquele em sua durao , como se pode ver em Xenofonte,Hell., I , 1, 3: ". . .emchonto mchri hoi Athenaioi appleusan":" . . . lutaram at que osi atenienses embarcaram de volta". (46).J o valor aspectual do tema do perfeito consiste em expressarum estado resultante de estados anteriores ou de uma ao acabada: tthneke = "est morto". Eurpedes, Ale. 541a: "Tethnsin hoiXhanntes": = "os que morreram esto mortos".

    Em suma, h uma oposio presente-aoristo/perfeito admitida por todos os sintaticistas; mais tarde, chegariam os estruturalistas ao mesmo resultado, ainda que percorrendo caminhos diferentes.19 . Aprofundavam-se nesse intrim os estudos tanto do lado

    das lnguas eslavas quanto do grego, o que concorreu para uma

    (45) J. Humbert Syntaxe grecque, 229. " V o u l o i r chercher dans la successiondes imp arfaits et des aoristes l 'app lication d'u n princi pe d f i n i serait fausserles faits": 244.(46) Cf. a Introduction l'et. comp, des langues indoeurop., pp. 249-250.

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    31 nova comparao entre os respectivos sistemas de aspecto, na segunda fase do esforo historicista.

    Correspondeu esta fase fixao da tipologia do aspecto, caqui surgiram algumas dificuldades, pois os pesquisadores buscaram aproximar a oposio grega "aoristo/presente" da oposioeslava "perfectivo/imperfectivo" (47), o que veio acarretar umaconfuso terminolgica, pois inicialmente entendia-se por presenteno grego "ao durativa", enquanto que imperfectivo no eslavoera o mesmo que "ao sem considerao de t rmino" . De outrolado, aoristo significa "ao pontual" e perfectivo "ao com considerao de trmino" . Alm disso, deve-se observar que o sistemaeslavo compreende dois termos, e o grego t r s .

    Para contornar a dificuldade, afirmou A . Meillet (48) queo perfectivo eslavo designava a ao pura e simples, sem considerao de durao , e o imperfectivo a ao considerada em suadurao, no que, todavia, no foi seguido pelos eslavistas.Nova tentativa de adequao do sistema grego ao eslavo efetuada, agora por Schwyzer, que considera o presente e o perfeito como "infectivos" (termo equivalente ao imperfectivo eslavo)e o aoristo como "confectivo" ( = perfectivo eslavo) (49 ). O

    termo "infectivo" indica o processo que no chegoa a seu termo;a designao "confectivo" foi dada ao aoristo para abarcar-lhe ovalor pontual e suas nuanas quer ingressivas (nossai "enfermar, pr-se enfermo"), que momentneas (apothanein ="morrer"), quer corrplexivas (" ebasleuse trikonta te"= aoristo indicador de ao pura e simples).Ainda na mesma trilha comparatista temos o trabalho de J.Brunei, que partiu de duas consideraes:a) a oposio dos temas de aoristo e de presente no suficiente para contrastar em todos os casos o processo cujo termo entrevisto com o processo cujo termo no entrevisto; s mesmoa constatao da existncia de um sistema secundrio, que se cruza

    com o anterior, sem anul-lo, pode facultar-nos a viso daquelasduas funes. Esse sistema representado pela oposio determinado ( = considerao do termo do processo)/indeterminado ( = o(47) J. Maclennan El Problema dei Asp. Verbal, p. 40 e ss.(48) tudes sur l'etymologie et le vocabulaire du vieux slave, I , p. 99, apud P.R.Adrados "Observaciones sobre el Aspecto Verbal, 13.(49) Apud Adrados, Ibidem.

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    32 termo do processo no entrevisto), e, segundo reconheceu Brunei,a descoberta de sua existncia no grego se fz graas ao cotejocom o eslavo (50).

    Os aspectos determinado/indeterminado podem ser encontrados dentro do tema do presente anyto, "acabar (determinado)/'anyo, "lapressar-se" (indeterminado) e do tema do aorisito,considerando-se determinados os aoristos m -then (50?); tekein indeterminado neste passo de Eurpides, Med., 251: ". . . trs anpar'aspda/sthnai thloirrian tekein hpax" ("preferiria manter-me trs vezes [no campo de batalha] com o escudo na mo quesofrer uma s vez as dores do parto").

    b) Apesar do seu carter fugidio, pde essa oposio tomargrande relevo graas aos prevrbios, que marcam o aspecto determinado. Brunei amplia com esta considerao o ponto anteriormente exposto por A . Meillet (51), entre outros, e passa a examinar os valores do aspecto determinado, estudando as formas dotadas de prevrbio do aoristo e do presente (52); o perfeito notem grande interesse nesta perspectiva, por expressar sobretudo oestado (52a)- Numa segunda etapa, investiga a possvel afinidadeentre a forma simples (=indeterminada) e o presente de um lado,e a forma composta ( = determinada) e o aoristo de outro, mediante o levantamento total dos casos ocorridos no jax de Sfoclese no discurso V I I , Sobre a Oliveira, de Lsias. A relao numricaentre a indeterminao e a ausncia de prevrbios e a determinaoe a presena dos mesmos ento estabelecida levou-o afirmativa.

    (50) J. Brunei L'Aspect verbal et l'emploi des prverbes en grec, particulirement en attique, pp. 3 e 255.(50a) O. c, p. 11.(51) Cf. o Aperu d'une histoire de la langue grecque, p. 209: "La prsence oul'absence du prverbe un verbe marque que l'acte indiqu par ce verbearrive son terme. Le cas le plus clair de ce genre est celu i qu 'on observequand un verbe signifiant "battre", comme caedere du lat in ou biti duslave, prend par l'addition d'un prverbe le sens de "tuer": oc-cidere, u-biti;em grec. kteino signife "je tue", et katakteimo souligne lef a i t que l'acte de tuer est men jusq u'au bout. On conoit pourquoi l'attiquea gnralis katakteino e apothnesko: il s'agit de faits qui, par natuiie,s 'achvent".(52) So os seguintes sses valores: ingresso, t rmino , afastamento, resultado,acabamento.

    (52a) O.c, p. 276.

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    33 N o lhe parecendo satisfatrias as concluses a que chegou(e haver concluses inteiramente satisfatrias neste campo?), reconheceu que so raros os bons exemplos de aspecto determinado,e que a oposio determinado/indeterminado, desde que expressapelo verbo dotado de prevrbio ou simples, um fato de vocabulri o e de estilo, unicamente gramatical quando posta em relao como sistema presente/aoristo/perfeito (52b).O livro de L. Jenaro Maclennan a que nos temos reportadorepresenta um esforo de reposio do problema em termos histo-ricistas, e esta a tese fundamental da obra. O que parece necessrio a Maclennan pesquisar:

    "los orgenes histricos, genticos, de la formacin feno-menolgica que concurre sobre la direccin "tiempo"gramatical, hasta ver como adquiere sta una significacinplural, bimembre, con el nacimiento ms reciente dei"aspecto"" (53).Particularmente, parece-nos impossvel desconsiderar as recentes conquistas da Cincia Lingstica, em especial a que consiste em examinar o fato em suas relaes com os demais, fugindo atomizao comum nos estudos anteriores- Dessa forma, o quemais acertado se nos mostra ser proceder inicialmente apreensodos sistemas sincrnicos do aspecto portugus para, somente depois, historiar-lhe a evoluo dentro do conceito moderno de histria lingstica formulado por Wartburg (54). Pretendemos nestetrabalho atacar a primeira dessas tarefas.20 . A tendncia psicolgica conduziu definio do aspectocomo uma espcie de "tempo metafsico" e tem seu ponto de partida nas consideraes de Bergson sobre a durao; di- lo claramente M . Criado de Val, nestes termos:

    "Entre las ideas aprovechables que la Psicologia nos proporciona hay dos que destacan por su evidente transcendncia. Una es la idea de la "duracin" que Bergson situa

    (52b) o.c., p. 281.(53) El Problema dei Aspecto Verbal, p. 54; v. t a m b m pp. 82 e 139.(54) "( ) la L i n g s t i c a , en una nueva fase de su e v o l u c i n , se convierte enh i s t r i a de la estructura i d i o m t i c a " . Problemas y Mtodos de la Linguistica, p. 299.

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    34 en la base de su filosofia. Frente al tiempo matemtico ,cronologicamente medido, opone una duracin cualitativa,interna, cuyo desenvolvimiento orgnico no est sujetoa progresin numrica.

    Fcil es ver la semejanza de esta idea de la duracincon lo que la lingstica conoce bajo el nombre de aspecto, y es bien digno de destacar el hecho de que haya siem-pre existido en el lenguaje esta distincin entre el tiempo"cronolgico" divisible en fechas y el tiempo "durativo"que transcurre y cuya medida es puramente interna y subjetiva" (55).G . Guillaume deu considervel desenvolvimento s teoriaspsicolgicas sobre o verbo. Procurou em seus trabalhos averiguaras relaes entre a linguagem e o pensamento, direo que o levoua elaborar uma teoria a que chamou "psicomecnica" e que naverdade um vasto inqurito em torno do pensamento subjacente expresso lingstica. Foi a partir dessas consideraes que edificousua compreenso acerca das categorias verbais, por le consideradas fases internas de um fenmeno de natureza singular (56); Guil laume fundiu a fase do desenvolvimento do processo (aspecto) e omomento em que se encontra esse desenvolvimento (tempo), dizendo que "aspecto tempo implicado" e tempo "tempo explicado"- Entende-se por tempo implicado a noo integrante da substncia verbal, segundo Guillaume. Assim, quando falamos "caminhar", aparece ao lado da noo do processo a do tempo necessri o sua realizao (57).

    (55) Sintaxis del Verbo Espaol Moderno, p. 29.(56) "Aspect, mode, temps, ne se r f r e n t pas ( comme l'enseigne la grammairetraditionnelle, des p h n o m n e s d i f f r e n t s , mais aux phases internes d'unp h n o m n e de nature unique, la c h r o n o g e n s e ; en un mot, l'aspect, lemode, le temps r e p r s e n t e n t une seule et m m e chose, c o n s i d r e en desmoments d i f f r e n t s de sa propre c a r a c t r i s a t i o n " . Temps et Verbe, apud.G . Moignet Essai sur le mode subjonctif, Paris, PUF , 1959, t. I , p. 88.(57) G. Guil laum e "Inmanencia y Trascendencia en la Categoria del Verbo "." L ' p o q u e et l'aspect nous semblent t r e les deux composantes du "temps";les p o q u e s sont p a s s , p r s e n t ^ futur; les aspects: imperfectif, perfectif.

    A i n s i , p a s s - l m p e r f e c t i f = "imparfait"; p a s s - p e r f e c t i f " p r t r i t " ; futur-imparfait = "futur". Temps et verbe, apud Bernard Pottier "LesInfixes modificateurs en portugais", in Boletim de Filologia, vol . X I V (1953),238, nota 10. Sobre Guil laum e, ver G. Moignet "Gustave Guill aume et laScience du Langage", in Travaux de linguistique et de littrature, I I , 1(1964) ; Gabri el Guill aume "Echos d'un message ling uisti que: oeuvres etl e o n s de Gustave Guillaume", in Revue de linguistique romane, t. X X I X(1965) , 295-313.

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    35 21. O Estruturalismo no , como se sabe, uma tendnciaunitria, cindindo-se em escolas diferentes. No que diz respeito aoaspecto contam mais as Escolas de Copenhague e de Praga, compontos de vista um pouco diferentes, unicamente identificadasquando se trata de entender a lngua como um sistema dotado deelementos solidrios, definidos pelos contrastes existentes entre unse outros.22. Os autores filiados Escola de Copenhague, de um modogeral mais logicista e apriorista que a de Praga, dizem haver no

    sistema um termo positivo A, de funes bem delimitadas, um termo negativo B, privado dessa delimitao, podendo mesmo ocuparfunes prprias ao termo positivo, e um termo zero C, que temo condo de no ser nem uma coisa nem outra, mas que pode porvezes assumir valores do termo positivo, pois somente este possuifunes claramente delimitadas (58).Jens Holt foi o primeiro a aplicar essas idias ao estudo doaspecto, em 1943, retomando a tripartio dos temas gregos segundo a velha concepo estica ( 9) e apresentando-a com tempero moderno.Procura inicialmente descobrir o termo positivo, de empregomais delimitado, e que o perfeito; o contedo aspectual do per

    feito reside na designao do processo acabado, que ultrapassouseu ponto final transformando-o em estado.Como o perfeito indica o termo do processo, obviamente oelemento negativo dever figurar o no termo, isto , o processosem seu termo. O presente, portanto E como o termo negativopode s vezes carregar-se da significao do positivo ("les opposi-tions linguistiques ne sont pas exclusives, elles sont participatives"(58a), sucede que o presente pode assumir o valor do perfeito.Assim, akouo tanto pode ser "escuto", como "tendo escutadio,sei"; nikmen: "vencemos", mas, "tendo vencido, somos vitoriosos".

    (58) J. H o l t tudes d'aspect, p. 34. M. Leroy informa que foi Viggo Brondai emseus Essais de linguistique gnrale quem pela primeira vez falou em termo negativo, termo posit ivo e term o zero. Cr. Les Grands courants... p. 91.

    (58a) J. H o l t o.c, p. 23; ver t ambm pp. 29 e 31.

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    36 Falta determinar o termo zero, C, o que no difcil para umapriorista como J. H o l t . Transcrevamos:

    "Quand l'aspect du parfait a t dfini comme terme positif et celui du prsent comme ngatif, une seule placeest rserv l'aspect de l'aorist: celle de zro" (58b).Valor aspectual do aoristo: indicao do processo que no considerado nem antes nem depois de seu termo. Exemplificaoescassa.Knud Togeby outro autor filiado Escola de Copenhague,mas, ao contrrio de J. Holt , no parece to preocupado com surpreender a posio que cada elemento ocupa no sistema (59). Estudou em seu livro as trs principais categorias do verbo, averiguando suas relaes com os advrbios, as conjunes, o tipo ora-cional e o semantema do verbo, tanto no interior de uma proposio, quanto entre duas proposies ou ao mesmo tempo no interior de uma proposio e entre duas proposies.A cada passo Togeby indaga sobre a influncia que os elementos que convivem com a categoria exercem sobre ela; este gnero de preocupaes marcou fortemente a estrutura de seu livro,repetindo-se para cada categoria o " r i tual" j observado para asoutras.Verificadas as relaes possveis para cada categoria so elasdefinidas vista dessas relaes, renunciando-se a uma conceitua-o essencialista; trata-se, em suma, do estudo das "competncias"entre as categorias do verbo e as classes de palavras, caminho peloqual chega o autor s funes (ou "regras", (59a) dessas mesmascategorias. Utiliza-se ento dos termos "extensivo" ( = aquele queapresenta certo nmero de relaes possveis) e "intensivo", desig-nador do trmo de distribuio limitada, concluindo que o imperfec-tivo extensivo e o perfectivo, de funes mais delimitadas, ointensivo (60) .

    (58b) O . c , p. 32.( 5 9 ) K n u d Togeby Mode, aspect et temps en espagnol.(59a) O.c, p. 11; sobre o aspecto, v. pp. 65-97.

    (60) Pp. 105 e 106; v. t a m b m p. 122: "Par con tre i l fau t donner une d f i n i t i o ns m a n t i q u e positive des deux autres aspects [referira-se anteriormente aoaspecto do p r s e n t e ] , parce qu'ils sont extensifs l'un par rapport l'autre.L'aspect p e r f ec t i f indique un p h n o m n e "a limites d t e r m i n s " , l'aspecti m p e r f ec t i f un p h n o m n e "dans son d r o u l e m e n t " ,

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    37 A compreenso que Togeby tem do sistema lingstico, funda-mentando-o numa oposio binria, lembra a Escola de Praga.23- Essa Escola aplicou Sintaxe os princpios de "trmcmarcado" ou caracterizado, portador de um s significado, e "termo no marcado" ou no caracterizado que Trubetzkoy usara nadescrio do sistema fonolgico (61); este ltimo uma espcie detrmo-omnibus, tambm chamado extensivo (62) .Martin Sanchez Ruiprez foi o primeiro a estudar o aspectc

    deste ngulo, num trabalho de 1954 que se afasta algo do de J.Holt (63). Partindo do sistema aceito por A. Meillet quanto aoverbo grego (perfeito/presente-aoristo), considera termo caracterizado o perfeito, "en virtud de su unidade de sentido" (63a) etermo no caracterizado o conjunto presente-aoristo.Como o perfeito expressa o estado resultante de uma ao anterior e o conjunto presente-aoristo expressa a ao em si (querdesenvolvendo-se, quer sem noo de desenvolvimento), poderiatal sistema ser assim representado graficamente, segundo o mesmoAutor:

    A B cAB=ao em si (conjunto presente-aoristo)crestado resultante do acabamento total da ao AB (perfeito)Exemplificando: tethnnai ("estar morto")/thenskei e thanein/"morrer"; hestnai ("estar de r)")/histasthai e stnai ("pr-se dep " ) ; (63b).

    (61) Prncipes de phonologie. Faris j Klincksieck, 1957, p. 77.(62) Holger Sten assim estuda os tempos, mas hesita em resolver se o presente ou o imperfeito o termo no marcado. Cf. Les Temps du verbe fini,PP. 14-15.(63) M. Sanchez Ruiprez . Estructura dei Sistema de Aspectos y Tiempos del

    Verbo Griego Antiguo. Anlisis Funcional Sincrnico, F.R. Adrados justifica,num comentrio ao l ivro de Ruiprez, o porqu dessa diversidade: enquanto Holt segue a orientao de Hjelmslev e Guillaume (o primeiro da Escola de Copenhague), Ruiprez, adotando os pressupostos de Martinet, T r u betzkoy e Jakobson (Escola de Praga) nem assim se afastou do mtodo f i l o l g i c o , habitualmente emprico. Daqui o equil brio que se observa emseu estudo. Cf. "E l Mtodo Estructural y ei Aspecto Verbal Griego", 258.(63a) M . Sanchez Ruiprez oc,, p. 45.(63b) O. c, p. 45.

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    38 Aps estas consideraes (e outras, que omitimos por brevidade), d o professor salmanticense sua definio dos diferentes aspectos. Reside o valor do perfeito na considerao do contedo verbaldepois de seu termo; com isto Ruiprez rejeita a compreenso habitua1 do aspecto do perfeito como "estado resultante de uma ao" ,lembrando que um perfeito normal como bebkei ("esitado demarchar"?) e um perfeito anmalo como ida no tm cabimento dentro daquele modo de ver as coisas, motivo por que apresentaesta soluo.Quanto ao valor aspectual do presente e do aoristo, principiapor resenhar as diferentes opinies, para concluir que tambm entreeles cabe a distino "termo caracter izado/ trmo no caracterizado".O tema do presente, definido como durativo, constitui o termo caracterizado do conjunto, figurando o aoristo como termo no caracterizado, expressivo da no durao, vale dizer, da pontualidade- Seo ponto fr o inicial do processo teremos o aoristo in i t ivo (Herdoto , I , 1, 1: kai oiksantes [tendo comeado a habitar] toutontn chrov tn kai nyn oikousin "tendo comeado a habitareste pas, que ainda agora habitam"); se final, aoristo finitivo(perva = "consegui persuadir"). Admite-se tambm o aoristoneutro, denotador do fato verbal isento de qualquer noo de durao ou de pontualidade (64).Finalizando,mostra-nos o A. que muitas vezes a escolha do tema do presente ou do aoristo meramente subjetiva ou de motivao psicoigico-estilstica, com o que nos faz recuar posio de J.Humbert (v. nota 45). O que tudo, afinal, serve de mostrar que,acima da variedade dos mtodos e das formulaes, paira a dificuldade natural desta matr ia .N o fcil avaliar os resultados da contribuio estruturalistapara o estudo do aspecto; cremos que parte certa rigidez com queencaram os fatos lingsticos (65) e o tom por vezes excessivamenteabstrato de suas consideraes, a presena estruturalista neste campo

    (64) O.c, p. 80. Diz R u i p r e z que nem sempre f c i l d i f e r e n a r este aoristoneutro do pontual.(65) Refiro-me aos fatos do n v e l s i n t t i c o , nos quais no p o s s v e l encontraraquele esquematismo que tanto entusiasmou os estruturalistas e que pareceser privativo do n v e l f o n o l g i c o .

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    39 teve um saldo positivo, que foi insistir numa viso totalizadora dascategorias verbais, renunciando ao seu estudo atomstico e valorizando os elementos ao lado dos quais o verbo se situa ( 66) .

    C ) Aspecto e Modo da A o24 . Um nmero to grande de estudos deveria ter esclarecidoo problema; tal infelizmente no se deu. Em verdade, so to dspares os conceitos de aspecto na rica bibliografia existente que umexaustivo levantamento analtico deste ponto nos levaria a todo um

    variado corpo de doutrinas lingsticas; quem se lanasse a tal empresa encontraria pela frente problemas muito complexos, e os menores no lhe adviriam daqueles autores que emitem logo de entradasua opinio acrca dessa categoria- Pois dentre a centena de autoresque pudemos consultar, nada raros so os que, esquecidos de que aconceituao do aspecto est longe de ser matria pacf ica, pem-selogo a enumerar seus casos, forando o leitor a deduzir por contaprpria aquela conceituao. Surgem daqui os freqentes desentendimentos e a multiplicidade de interpretaes desses mesmos fatos, oque levou Vendryes exclamar certa vez:" I l n'y a gure en linguistique de question plus difficileque celle de l'aspect, parce qu'il n'y en a pas de pluscontroverse et sur laquelle les opinions divergent davantage. . . On n'est d'accord ni sur la dfinition mme del'aspect- ni sur les rapports de l'aspect du temps, ni surla faon dont l'aspect s'exprime, ni sur la place qu' il convient de reconnatre l'aspect dans le systme verbal desdiffrentes langues" (67).

    A primeira vez que se falou na categoria hoje denominada aspecto foi para consider-la uma "qualidade do tempo" ( 12); como andar das pesquisas, notou-se que a nova categoria, conquantorelacionada em diversas pontos com o tempo, dele se afasta nistoque representa uma atualizao espacial, qualitativa do processoverbal, enquanto que o tempo se empenha sobretudo em sua vinculao com um dado momento.

    (66) A c r t i c a mais severa abordagem estruturalista do aspecto foi formuladap o r L . Jenaro Maclennan, que em seu El Problema del Aspecto verbal ataco u a realidade mesma das o p o s i e s l i n g s t i c a s e a negativa saussuriana c o n c e p o da l n g u a como organismo h i s t r i c o . Trabalhos estruturalistasmenores foram escritos por Mirambel, Banta e Burger; v. Bibliografia.(67) Citado por A. K l u m Verbe et adverbet p. 23, nota 7.

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    40 O conceito de aspecto depurava-se assim de valores que lheeram estranhos, mas abria-se uma nova perspectiva de indagaesque acabou por desembocar no longo conflito entre aspecto e "mododa ao" . Vejamos como isso se deu.O verbo eslavo, como j se disse, possua uma morfologia adequada expresso do aspecto, dividindo-se em duas espcies (dondeo termo vid, da mesma raiz de eidos, "espcie", "forma") materialmente configuradas. No momento em que os estudos do aspecto

    deixaram os quadro do eslavo e comearam a ter curso em outroscampos, percebeu-se que nestes ora se estava diante de realidadeslxicas (pois era o semantema o recipiente da noo aspectual) orase defrontavam realidades morfolgicas (flexes e per f rases) . Noaf de bem caracterizar essas duas vertentes da noo de aspecto, comeou-se a falar de aspecto (al. Aspekt) e de modo da ao (al.Aktionsart). (68).25. O modo da ao representa uma compreenso lato sensudas noes aspectuais, uma vez que abrange um nmero ilimitadode possibilidades, englobando e ultrapassando a bipolaridade quecaracteriza o aspecto (69). Decorre essa variedade de possibilidadesdo fato de assentar o modo da ao no prprio valor semntico doverbo, cujos caracteres objetivos se tem tentado apreender atravsde anlises diversas, levadas sempre pela perspiccia dos lingistas apontos cada vez mais distanciados dos limites da pura e simples noo de durao e de completamento.

    (68) O primeiro a fazer essa d i s t i n o fo i A g r e l l , em 1908; seguiram-se-IheJakobson, Porzig, Hermann, van W i j k e Faddegon, discutindo-se j aobjetividade da Aktionsart contrastada com a subj etiv idade do Aspekt. Cf.Klaus Heger Die Bezeichnung temporal-deiktischer Begriffskategorien...,p . 50 e ss. O termo a l e m o Aktionsart foi traduzido por "modo da a o "(Pierre Naert), "ordem dos processos (J. Brunei), "qualidade da a o ' ' (Bas-sols de C l i m e n t ) ; e como ora se dizi a Aktionsart, ora Aktion, sucedeu que um novo termo se agregou a estas e x p r e s s e s , ao, usada porRodolfo Lenz La Oracin y sus Partes, 239 (e t a m b m vocs, 268 e s.) .Adotamos a primeira das t r a d u e s sem temor de c o n f u s o com o modot a l como foi definido no 5, pois enquanto se refere ali a i n t e r f e r n c i a dosujeito sobre a a o , encara-se aqui a p r p r i a a o em sua objetividade.

    (69) "O la cualidad de la a c c i n puede revestir multiples e imprevisibles modalidades, no s l o por el n m e r o practicamente i l i m i t a d o de aspectos bajolos cuales se presentam las acciones, sino t a m b i n porque cabe d r s e l e suna i n t e r p r e t a c i n subjetiva distin ta de la real". M. Bassols de Climent" L a Cualidad de la A c c i n Verbal en E s p a o l " , 136.

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    41 Basta examinar as classificaes dos "modos da ao" elabora-vdos por Chmelicek e Schossig, para se avaliar quanto se havia jafastado daquelas noes, com a incluso de valores at ento considerados modais.Lembraremos primeiramente a classificao de Deutschbein ci-

    Vtada e perfilhada por Chmelicek (70). Deutschbein dividira numestudo de 1917 os modos da ao em trs grupos: a) Phasenaktion-sarten, que compreende as seguintes variedades: momentneo-pontual ,ingressivo, inceptivo, perfectivo-egressivo, imperfectivo; b) Mutation-saktionsarten: incoativo, continuativo, resultativo, iterativo e intensivo; c) Intentionaleaktionsarten; freqentativo, causativo e desidera-t ivo.

    A segunda classificao reflete um grande esforo lgico e foielaborada por Alfred Schossig; fazendo um levantamento de todosos verbos que ocorrem na Histoire du Seigneur de Bayart, disp-lospelo infinitivo nas seguintes classes: 1) durativo: baiser la terre; 2)durativo com significao unitiva: arriver a; 3) durativo-perfectivo:avoir + part, pas.; 4) momen tneo : donner ung coup; 5) incoativo:devenir blesme; 6) distributivo: dpartir de l'argent; 7) iterativo/fre.qentativo: repasser, reconquester (v. sobre isto o 83 deste),saulteler; 8) factitivo: faire aller; 9) ingressivo: commencer+infin.,10) terminativo: cesser de faire; 11) consuetudinr io : s'appeler, senommer; 12) gnmico, que ocorre em sentenas, ditados, etc., apresentando-se em geral o presente, vazio de temporalidade: "Je fais ceque je doy" (71).

    26. Aspecto, ao contrrio, o ponto de vista subjetivo (emrelao ao modo de ao, bem entendido: v. 3) do falante sobreo desenvolvimento da ao (7 2). Reduz-se a uma compreensostricto sensu do problema, pois se reporta apenas aos graus de realizao da ao e no sua natureza mesma, que a AktionSart. Daqui reduzirem-se as noes aspectuais a uma bipolaridade, segundo aao dure (imperfectivo) ou se complete (perfectivo).(70) Hans Clumelicek Die Ger und ial ums chr eib ung im Altspanischen zum

    Ausdruck von Aktionsarten, pp. 1-3.(71) Verbum, Aktionsart und Aspekt in der Histoire du Seigneur de Bayart par

    le Loyal Serviteur""", pp. 209-220.(72) A ao de "m orre r", v.g ., tende a um fim, sem o qual o processo no

    se dar; todavia, quando dizemos "Fulano morria lentamente" supomospossvel uma d u r a o . , pois, um fato de aspecto: v. 27.

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    42 O semantema do verbo expressa o modo da ao; as flexes eas perfrases expressam o aspecto; fala-se ento em "verbos aspec-tuais" e em "tempos aspectuais", distribudos pela oposio presentee imperfeito (imperfectivo) /futuro, pretrito e mais-que-perfeito(perfectivo) (73) (v. nosso ponto de vista quanto a isto nos 99e 100).27. Aspecto e modo da ao podem confundir-se (v. 44 c99) ou conflitar-se ( 45 e 100-102), nos casos em que a flexotemporal ou os adjuntos adverbais provocam aleraes no valor se

    mntico do verbo. H. Sten, entre vrios outros, estudou este ponto,analisando a passagem de um verbo imperfectivo a perfectivo quandoconjugado no imperfeito (v. notas 73 e 106).U m grande embarao surgiu para o mundo romnico quando osfranceses traduziram Aktionsart por "aspecto", deixando intraduzidoo termo Aspekt (74); a incompreenso ento estabelecida quanto aoque se vinha designando por Aspekt e Aktionsart, baralhando noesque diziam respeito a nveis lingsticos distintos (Aktionsart: nvelsemntico; Aspekt: nvel morfolgico), aprofundou a crise comeadapelos esmiuadores das Aktionsarten. Descobriram-se assim "aspectos" que no eram mais que filigranas de significao encontrveis nosverbos: ["aspecto"] intensivo, diminutivo, desiderativo, potencial,

    reflexivo, recproco, conativo, pejorativo, benefactivo, comitativo,obrigatrio, aparencial, inferencial ou putativo, reservativo, negativo( 7 5 ) ; Louis Roussel fala em "aspectos" de velocidade, de plenitude,(73) J. Roca Pens Estdios sobre Perfrases... p. 37. H. Sten parece deslocar para aqui o p r i n c i p a l do b i n m i o aspecto modo da a o " : " ( ) noussemple d e f i c i l e de d t e r m i n e r pour chaque verbe quelle c a t g o r i e i lappartient, m m e " g n r a l e m e n t parlant". Cest l'aspect du temps qui comte, non l'Aktionsart du verbe". .Les temps..., p. 99; v. 9 e 28.(74) "Je ferai d'abord remarquer q u ' i l est i n f i n i m e n t regrettable que le f r a n a i s ait choisi le terme d'aspect pour rendre Aktionsart de l'allemand sanss ' i n q u i t e r de c r e r un terme pour rendre celui de Aspekt, de qui a m e n chez beaucoup d'auters. ainsi Marouzeau (Lexique...) une confusion totale des deux notions. () le mode d'action est la nature de l'action ene l l e - m m e ( ) " . P. Naert "Mode de P r s e n t a t i o n , Aspect, Mode d ' A c t i o n " ,p. 3. E no apenas Marouzeau: leia-se R. Lucot, para quem o aspecto ( =modo da a o ) traduz uma atitude geral do e s p r i t o , "mais ne se manifestant que dans le particulier, i n h r e n t aux notions verbales, l i e des t a t s delangue, ne se saisissant que dans les nuances toujours d l i c a t e s , souvent fuyantes, baignant dans le subje ctif ". Cf. "Remarques sur l'expression del'aspect", 53.(75) Noes relacionadas per L u i s Cifuentes Garcia "Acerca, dei Aspecto", fil.

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    43 de fraqueza, "aspecto" inversivo, cessativo, negativo, aditivo, desi-derativo, intencional, de predileo, reflexivo, aspecto de interessepessoal, aspecto determinado (76). Fcil ver que uma grande confuso entre aspecto e modo ia-se estabelecendo (cf. as designaes"aspecto conativo (77), desiderativo e intencional [estes propostospor L . Roussel (77a), distanciando-se o intencional do desiderativopor se poder ter uma inteno que deriva do dever e no do desej o . . . ] , potencial, obrigatrio) o que concorreu para a crescente com-

    (76) L'aspect en grec attique, pp. 28-38. R. Lenz La Oracin y sus Partes, 268 acrescenta o causativo e o factitivo; Brunot-Bruneau Prcis degrammaire historique..., 542 estudam a ao "quase realizada". G. Piffard "L'A spec t", 4, fala em " alte rativo" ; ex.: "O Presidente morreu. . ."

    (77) Cf. A. Traglia La Flessione Verbale Latina, p. 225; L . Roussel o.c,p. 28. Outra confuso quanto verdadeira natureza da conao verifiquei emH . Sten Les temps..., p. 136: tentanto justificar a mudana de verbes t -licos em atl icos (v. 44), como tomber, mourir, nas oraes " I I tombait defatigue", " I l mourait de f a i m " , chama conativos a estes imperfeitos para,a seguir, inquinar de impropriedade o t rmo imperfectum de conatu,talvez por verificar que no se nota qualquer idia de esforo nos exemplos dados. Tambm B. de Climent, na Sintaxis Latina, 1, 304, classificoutorneios como esses de conativos; diz que o imperfeito de conatu anunciauma ao que no se realiza, mas em que "el sujeto puede sentir el deseode que se realice la accin verbal o no sentir deseo alguno a este respecto' ' ;como exemplo para o primeiro caso cita os versos "talibus Aeneas arden-tem [Didoneml / en iba dictis animum" ( V i r g . , En. V I , 467-468); mas "enel segundo caso tiene [o imperfeito] una acepcin ms bien inceptiva yequivale a una p e r f r a s i s , como "estaba a punto de". En espafiol este usoes muy frecuente; por ej. "se ahogaba de risa" , "se mo rta", etc". Emnosso estudo A Sintaxe do Verbo..., 41, escrevemos sobre tais casos:" H um emprego discutidssimo do imperfeito, no qual se indica aoiminente no passado, podendo o processo no ter comeado cu ter entodado os primeiros passos para seu desenvolvimento. Exem plo da prim eirapossibilidade: "Sentada na cama, afinal ela ia embo ra". D. Trevisan CE52. " porta da p e n s o , quando ia introduzir a chave na fechadura, ouvirumor l den tro" . G. Ramos C 114. Exemplos da segunda possibilidade:" A criana afogava-se quando surg iu o salvador". "Teve sorte em encontrar-me, pois j safa". Compreende-se que nos dois primeiros exemplosa ao no se deu, ficando apenas a noo temporal de i m i n n c i a , inexistindoa categoria aspectual. J no segundo grupo alm da noo de iminnciaentende-se que o processo percorreu cs primeiros passos para sua completa e f e t i v a o , que entretanto no se consuma; h, pois, um valor temporal ( iminncia) e outro aspectual (pri meiro s graus de uma d u r a o ) " .

    (77a) L'aspect en grec attique, pp. 36-37.

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    44 plicao da matria (78). No admira que Vaillant houvesse dito dosistema gramatical do aspecto que le "reste tout encombr de smantique" (79) .

    28 . Aprofundaram-se com isto as "diferenas" entre o aspectoe o modo da ao, tal como se este conceito fosse distinto do primeiro (e sabemos que o modo da ao engloba o aspecto, pois indicatambm durao e completamento). Mas o impasse gerado pelas discusses em torno do aspecto e do modo da ao anula-se se nos pomos no papel do falante que precise figurar espacialmente o processoverbal, valendo-se dos recursos que a lngua lhe oferece, tanto lxicosquanto morfolgicos ou sintticos.

    Vistas as coisas desse modo, evidencia-se o que h de comumentre o aspecto e o modo da ao , marginalizando-se os tipos queescapam s noes de durao e completamento (e que, como vimos,invadem muitas vezes a rea do modo).N o hesitamos, pois, em juntar o que se havia separado, usandoo termo aspecto onde o escrpulo dos que opem aspecto a modo daao adotaria este ltimo termo. Sobretudo no nos desviamos dasnoes fundamentais indicadas no pargrafo anterior, adotando aOnomasiologia como o mtodo mais indicado para o desvendamentodo quadro dos aspectos em portugus, reduzindo ao mesmo tempo o

    conflito entre aspecto e modo da ao s suas reais dimenses.(78) Pierre Guiraud La grammaire. Paris, PUF , 1961, p. 31 fo i v t i m a dan o d i s t i n o modo-aspecto ( A kti ons art) quando escreveu: "L e modeexprime la m a n i r e dans laquelle l'action s'accomplit, c'est une forme del'aspect". V. n. 68.(79) Apud J. Maclennan El Problema..., p. 78. Muitos so os estudos em quese pode encontrar a c a r a c t e r i z a o do aspecto e do modo da a o : F. L z a r oCarreter Diccionario de Trminos Filolgicos, 2. a ed. M a d r i d , Gredos,1962, s. v. "aspecto; K . van der Heyde "L'aspect verbal en l a t i n " , 115;H . L d t k e Sobre a F u n o do Verbo...", 160; Oskar K e l l e " A k t i o n sart oder periphrastisches Perfekt", 522; J. Roca Pons E s t d i o s sobrePerfrases Verbales, pp. 28 e 55. P. Naert "Mode de p r s e n t a t i o n , aspectmode d'action...'; A. K l u m Verbe et adverbe, pp. 107-122 e b i b l i o g r a f i a

    na p. 22; ver t a m b m o c o m e n t r i o f e i t o a esse autor por R. M a r t i n "Temps et aspect en F r a n a i s mo der ne. .. ", 77 e ss.; G. Ivanescu "Letemps, l'aspect et la d u r e de l'action dans les langues i n d o e u r o p e n n e s " ;J. B rune i "L'aspect et l'o rdre de p r o c s en grec" ; G. Devoto "L' Asp ett od e i Verbo "; L. Cifuentes Garcia "Acerca dei Aspect o"; E . Alarcos Ll o-rach "Sobre la Estru ctura dei Verbo Espafiol ", 72, nota 34; K . Heger Die Bezeichnung..., pp. 50 e ss. ; A. Schossig Verbum, Aktionsartun d Aspekt...; S. G i l i y Gaya Curso Superior de Sintaxis Espafiola, p.132; B. de Climent "La Cualidad de la A c c i n Verbal en E s p a o l " .

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    45 3. O Mtodo29 . A Onomasiologia fundamentalmente a investigao dasformas a partir dos conceitos. Dois fatos concorreram para seu desenvolvimento como mtodo de estudo lingstico.1) Foi a Geografia Lingstica que passou a certido de nascimento Onomasiologia; o grande nmero de termos regionais reco

    lhidos pelos inquritos lingsticos reclamava dos dialetlogos ummtodo capaz de avaliar-lhes a extenso e a profundidade, encaran-do-os de modo orgnico; somente assim se poderia compreender ohomem regional em sua totalidade alvo buscado por aqueles pesquisadores, movidos que foram pelo desejo de conhecer a cultura popular (80). Decidiu-se ento dispor esses termos segundo campossemnticos, surgindo assim uma srie de estudos monogrficos bastante conhecidos (81) .2 ) As afirmaes de Bally, Brunot e Jespersen, expendidas apropsito da necessidade de se renovar a descrio cientfica dos fatos da lngua. Esses autores no falam propriamente em Onomasiologia, mas o que disseram se pode considerar sem dificuldade referente

    a ela; recordaremos inicialmente Charles Bally, que dizia num estudode 1912:"Les grammairiens partent des formes grammaticales;comment ne voit-on pas combien cette mthode paralyseles tudes de syntaxe? Quand on y rflchit, c'est une chose monstrueuse que la description d'un tat de langagequi procde par numeration des emplois des modes, destemps, des conjonctions, des prpositions, etc. Cette mthode est le chaos organis (). Si au contraire l'on partd'une forme de pense typique, mais non pose a priori,d'une forme que l'usage mme d'une langue rvle commecaractristique du groupe qui la parle, si l'on chercheensuite, mais ensuite seulement, par quels procdes cette

    (80) B. E. Vidos Manual de Linguistica Romnica, trad. de F. de B. M o l l .M a d r i d , A g u i l a r , 1963, p. 65.(81) Um r e l a o deles se pode achar no r e l a t r i o que escrevemos de parceriaco m Enzo Del Carratore e que fo i apresentado no I S e m i n r i o de L i n g u i s

    tica de M a r l i a "A Onomasiologia no L x i c o 6 na Sintaxe", Alfa 11m a r o de 1967.

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    46 forme de pense se reflte dans l'idiome que l'on dcrit,alors tout change et les faits linguistiques apparaissentdans leur vritable perspective" (82).

    Ferdinand Brunot, que renovou os estudos da lngua francesa,deslocando o ponto de partida da forma para os valores, teoriza:" I l faut se rsoudre dresser des mthodes de langage,o les faits ne soient plus rangs d'aprs l'ordre des signes,mais d'aprs l'ordre des ides. Ce sont elles qui doiventtre classes, non point sans doute en elles-mmes et pourelles mmes comme elles le seraient en psychologie pure,mais en vue de leurs signes et relativement a eux. La sco-lastique, ici encore, doit mourir" (83).

    E Otto Jespersen, conclua que:"Now any linguistic phenomenon may be regarded eitherfrom without or from within, either from the outwardform or from the inner meaning. In the first case wetake the sound (of a word or of some other part of a linguistic expression) and then inquire into the meaning attached to i t ; in the second case we start from the signification and ask ourselves what formal expression it has foundin the particular language we are dealing with. If we denote the outward form by the letter 0, and the inner meaning by the letter I , we may represent the two ways asO > I and I > O respectively" (84).

    (82) Cf. "Le Style indirect libre en franais moderne", in Germanisch Romanis-che Monatsschrift, IV (1912) 605, cit . por E . Lo rc k "Pass Dfini, Imparfait", 43. O mesmo Bally retomou a questo em outros locais: cf. Le langage et la vie, p. 67, e Trait de stylistique franaise, 3me. ed., Paris,Klincksieck, 1951, 251: "E n revanche la syntaxe peut tre autre chose sielle part du peint o elle aboutit gnralement, autrement dit, si elle procde de la pense pour en tudier les ralisations linguistiques. Au lieu decollectionner et de classer les procds formels de la pense, autrementdit, les ides formes, et chercher les types grammaticaux que ces ides-fermesrevtent dans une langue donne une poque donne".(83) F. Brunot La pense et la langue, p. XX. As idias segundo as quaisBrunot disps os fatos lingsticos so cinco: os seres e as coisas, os fatosas circunstncias, as modalidades e as relaes.

    (84) Cf The Philosophy of Grammar, p. 33; v. tambm pp. 39-49 e 45. In fo rm ac A. p. 57 que, ao sair o livro de Brunot, encontrava-36 o seu em redaopelo que se deve levar conta da casualidade a coincidncia de pontosde vista.

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    47 Finalmente, deve-se lembrar que a Onomasiologia o estudo dosigno a partir do conceito. A representao grfica desse princpiofo i feita por Ogden e Richards, atravs de um tr ingulo, matria queStephen Ullmann retomou (85):

    Se partirmos das formas para o conceito, teremos o estudo dasignificao ou Semasiologia; se do conceito para a forma, teremoso estudo da designao ou Onomasiologia.30 - Da lexicologia bandeou-se o mtodo para o campo da sintaxe; os tempos verbais foram assim estudados por F. Brunot, William E. Buli e Klaus Heger (86); ignoramos se tambm o aspecto

    foi assim estudado, salvo quanto ao que vem em Brunot.Constatamos a validade do mtodo, no levantamento dos dadosque nos desvendaram o quadro do aspecto em por tugus; nem estauma categoria cuja presena no sistema verbal se patenteasse por generosos recursos formais, para que pudssemos, com xito, adotarprocedimento metodolgico diverso.U m ponto, contudo, precisa ficar esclarecido: os resultados deuma pesquisa como a que empreendemos devem ser completados poruma abordagem formalista. Exemplificamos: indagando sobre a expresso da durao, encontramos vrios casos de gerndio que nosautorizam a considerar essa forma nominal tipicamente durativa. Imediatamente uma pergunta se formulou: ser o particpio passado ex

    pressivo da noo contrria? Vamos ao exemplrio e constatamos que

    (85) K. Baldinger "Semasiologie et Onomasiologie", 11. Para maiores detalhes sobre a d i s c u s s o atual em torno desse m t o d o , v. o trabalho citadona nota 81.

    (86) V. nosso estudo A sintaxe do Verbo..., 14-17.

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    48 por um desses acasos enfadonhos a busca em torno do processo completado no nos havia levado a anotar nenhum particpio passado.Seria oportuno perquirir os valores dessa forma, numa abordagemcontrria onomasiolgica, para que se completasse o trabalho.

    31 . Quanto aos textos utilizados, procuramos reunir os quefossem representativos das diferentes camadas da linguagem escrita.Subdivide-se a linguagem escrita em linguagem tensa, mais polidae estilizada, e linguagem distensa, que retrata com mais fidelidade o

    falar livre e despreocupado.A linguagem tensa est aqui representada pelos textos de linguagem erudita (ensaios de Pandi Calgeras, Raimundo Magalhes Jr,Jos Honr io Rodrigues: romances como os de Adonias Filho, Cirodos Anjos, Pao D'Arcos, Raul Brando, Graciliano Ramos, FernandoNamora); a distensa, em que se inclui a linguagem das crnicas jornalsticas (Rubem Braga, Carlos Heitor Cony, E. Moniz ) , do teatro( J . de Andrade, P. Bloch, A . Callado, A . Cortez, G. de Figueiredo, Dias Gomes, A . Redol, A . Ribeiro, B . Santareno), e do romance moderno, com seus impulsos de renovao e de fidelidade ao falarespontneo e desataviado (J. Amado, M . de Andrade, J. Bethen-court, A . Callado, C. H . Cony, Alcntara Machado, F. Marins, J.

    Lins do Rgo, A . R ibe i ro ) .Quanto linguagem falada, no pudemos pesquis-la de modosistemtico, recolhendo os fatos apanhados ao acaso de um dilogoou de conversas da vida diria; tais exemplos aparecem sem indicaode autoria. Mostrou-se til a consulta ao repertrio de contos populares recolhidos por O. E. X i d i e h .Os textos compulsados pertencem fase contempornea da lngua, situando-se em geral aps o Modernismo (1920 no Brasil, 1930em Portugal).

    4. O aspecto verbal na lngua portuguesa.32 . Nosso objetivo foi estudar o quadro dos aspectos no portugus e os recursos de que a lngua dispe para sua expresso-Havendo considerado o conjunto dos exemplos recolhidos, julgamos divisar-lhes quatro valores fundamentais, a que corresponde