ataliba castilho p. 120 – 144. · doc. agora a terra como é que era preparada? manualmente ou...
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CONSTRUÇÃO DA SENTENÇA POR DESATIVAÇÃO
¢ O falante escolhe um verbo e ativa nele a propriedade da transitividade selecionando nomes ou pronomes argumentais e não-argumentais, compondo a sentença.
¢ Um componente discursivo acarreta a reativação ou desativação dessas propriedades.
¢ A sentença tem duas estruturas: ¢ Estrutura de fundo – verbos e argumentos ¢ Estrutura de figura – elementos discursivos que
permeiam o fundo.
¢ Na Gramática do português falado é proposto o seguinte modelo de sentença:
S -> [... Top (Suj...V+Flex...C 0...C1...) antitóp..] ¢ Kato (1987) supôs a possibilidade de rupturas nos
espaços sentenciais – entre predicador e argumentos. ¢ Tarallo-Kato et alii (1989) mostrou que 23,6% das
sentenças apresentaram rupturas. Ex. Você se quiser vai a pé (Suj./Verbo) eu pago... agora não me lembro assim de cor, mas é um determinado número... não sei quanto de UCPs (Verbo/ C0) ele é...é...era do dois mil e oitocentos (Cópula/Predicativo)
TARALLO-KATO ET ALII (1990)
Este segundo estudo mostrou quais elementos preenchem os espaços interfuncionais:
¢ 62,8% a fronteira intersentencial não tem preenchimento;
¢ Maior preenchimento antes do tópico e do sujeito; ¢ Principais preenchedores: Elementos discursivos
e adjuntos ¢ Mulheres lexicalizam mais que os homens os
espaços intersentenciais.
Desativação do núcleo do predicado: elisão do verbo Ex. Doc. Agora a terra como é que era preparada? Manualmente ou mecanicamente? Loc. Bom até o:: bom... Manualmente sempre quer dizer com enxada Omissão de “era preparada” Rema com advérbios e adjuntos adverbiais
Desativação do argumento externo: ¢ Categoria Vazia (nula, elíptica, oculta) - Em
nossa língua é possível representar os argumentos do verbo simplesmente fazendo um silêncio.
¢ O silêncio sintático dispara em nossa mente uma instrução do tipo “procure por aí um OD”.
¢ No Brasil omite-se mais o OD do que o sujeito, enquanto que em Portugal relação é inversa.
¢ A agentividade do sujeito favorece a elisão, enquanto a não-agentividade favorece sua retenção.
DUARTE (1993) – SUJEITO OCULTO
1) 1a p. sing. Em oração independente ¢ Preciso dar um jeito na minha vida.
2) Na mesma pessoa, em orações subordinadas: ¢ Eu não sei se vou conseguir numa sessão só.
3) Na 2a. p., nas interrogativas ¢ Já se esqueceu? ¢ Falou com ele?
D E S A T I V A Ç Ã O D O S A R G U M E N T O S INTERNOS (OD e OI) Duarte (1989) distinguiu dois tipos de estruturas
sentenciais: ¢ Simples > S+V+OD ou S+V+OD+OI ¢ Complexas > S+V+OD+Predicativo No estudo ela descobriu que: ¢ Se o falante constrói uma estrutura simples
aumentam as chances de elidir OD Ex. Conta essa história do seu avô de novo. Você já contou pra ele? ¢ Se o falante opta por estrutura complexa,
aumentam as possibilidades da retenção de OD ¢ Ex. Eu não tenho nada pra reclamar não. Eu acho
ela sensacional.
FREQUÊNCIA DA RETENÇÃO DE OD ANAFÓRICO NO PB
¢ 1ª metade séc. XVIII – 82% ¢ 2ª metade do séc. XVIII – 96,2% ¢ 1ª metade do séc. XIX – 83,7% ¢ 2ª metade do séc. XIX – 60,2% ¢ Corpus sincrônico (1982) – 18%
LIGAÇÕES SENTENCIAIS E GRAMATICALIZAÇÃO DAS CONJUNÇÕES
¢ Gramaticalização – Processo “(...) caminho percorrido por uma palavra, ao longo do
qual ela muda de categoria sintática, recebe prioridades funcionais na oração, sofre alterações semânticas, morfológicas e fonológicas e inclusive desaparece como consequência de uma cristalização extrema” (CASTILHO, 1987)
¢ Hierarquia lexical: Palavras principais > Palavras acessórias > palavras
gramaticais
TIPOS DE LIGAÇÃO SENTENCIAL
¢ Estruturas independentes ou coordenadas – nenhum termo da segunda oração está subcategorizados ou ligado por adjunção a algum termo da primeira. Cada uma constitui um ato de fala. Ex: O professor saiu e o aluno falou.
¢ Estruturas dependentes ou subordinadas – as duas orações constituem um único ato de fala e há uma clara relação de dependência entre elas.
Ex: O aluno falou que ficou rouco. ¢ Estruturas interdependentes ou CORRELATAS Ex. O aluno falou tanto que ficou rouco. (tanto não pode ser omitido) *Que ficou rouco o aluno falou tanto.
¢ Sentenças complexas – duas ou mais sentenças que funcionam como constituintes de uma unidade maior, estruturando-se tais constituintes de uma unidade maior, estruturando-se tais constituintes coordenada, subordinada ou correlatamente.
Elas podem ser: ¢ Estruturadas por justaposição – uma sentença se
opõe a outra (justapostas ou assindéticas) Ex: Escreveu, não leu, o pau comeu. ¢ Estruturadas por coordenação – as orações se
coordenam por meio de nexos conjuncionais. Ex: Não pagou e foi pra cadeia.
¢ Estruturadas por encaixamento – uma sentença está encaixada num constituinte da outra.
Ex: O menino que chegou. ¢ Estruturadas sem encaixamento – uma sentença
está em relação de adjunção com outra. (Subordinadas adverbiais)
Ex: Saiu quando eu cheguei. ¢ Estruturadas de tal forma que na primeira
sentença figura uma expressão correlacionada com outra expressão constante da sentença seguinte.
Ex: Falou tanto, que ficou rouco.
A COORDENAÇÃO
¢ Conjuntiva ou aditiva – promovida pela conjunção. O que é dito do primeiro termo vale para o segundo.
Ex: Vi um homem e um cão. ¢ Disjuntiva ou alternativa – Marcada pela conjunção
ou. O que é dito para o primeiro termo não vale para o segundo.
Ex: Às oito da noite estarei em casa ou na universidade.
O USO DO “MAS”
¢ Como marcador conversacional – O mas ocorre no lugar relevante da transição, ligando turnos para organizar uma Unidade de construção de turno.
(Ex. texto p. 135) ¢ Como conectivo textual – Valores léxico-
semânticos de mas o predispõem a atuar como conectivos de marcadores conversacionais.
¢ Como conjunção adversativa: gramaticalização • Perda da propriedade de advérbio de inclusão; • Perda da massa fonética; • Ganho de propriedade de contrajunção.
MAS - COMO CONJUNÇÃO ADVERSATIVA
¢ Não contrajuntivo em sentenças afirmativas. Ex: Nós temos tantos amigos desintegrados (...)
mas nós só temos amigos assim de família desestruturada.
¢ Contrajuntivo, unindo segmentos negativos. Ex: Eu gosto de ficar em lugares isolados, mas não
por muito tempo. ¢ Contrajuntivo em sentenças afirmativas. Ex: Pertence ao Banco do Brasil, mas é aberta ao
público.
A SUBORDINAÇÃO ¢ Subordinadas substantivas – Podem ser conjuncionais
(com verbos no indicativo ou subjuntivo) ou não-conjuncionais (com verbos no infinitivo).
Ex: Eu acho que não vai mais parar de chover. ¢ Subordinadas adjetivas – resultam do processo de
relativização, isto é, do relacionamento de dois SNs co-referênciais, em que o segundo se interioriza no primeiro.
• Pronominalização do segundo SN. • Apagamento deste SN • Movimento do pronome,quando argumento interno para a cabeça da
sentença.
Ex: Um senhor que sabe muito. Esta casa que você comprou.
LEMLE (1978) RELATIVIZAÇÃO Destacou três estratégias de relativização: ¢ Relativa padrão – iniciada por qualquer dos
pronomes relativos. Ex: O livro de história cuja capa é amarela sumiu. ¢ Relativa copiadora – Iniciada por que preenchendo o
lugar vazio com outro pronome. Ex: O livro de história que a capa dele é amarela sumiu. ¢ Relativa cortadora – iniciada por que cortando-se as
preposições exigidas pela regência. Ex. O livro de história que a capa é amarela sumiu.
SUBORDINADAS ADVERBIAIS
Tradição gramatical as divide em: ¢ Causais ¢ Condicionais ¢ Temporais ¢ Finais ¢ Concessivas ¢ Comparativas ¢ Consecutivas ¢ Conformativas ¢ Proporcionais
SUBORDINADAS ADVERBIAIS CONCESSIVAS
¢ Servem ao jogo argumentativo. ¢ “duas hipóteses existem no pensamento concessivo
que o aproximam do pensamento condicional: elaboração de hipótese de objeção por parte do ouvinte e refutação dessa objeção”
(BECHARA, 1954: 9-10) Ex. Viajei de de ônibus... de avião...de trem... de
navio... embora tudo dentro do Brasil (DID RJ 364)
CORRELAÇÃO ¢ Certas conjunções que encabeçam uma sentença estão
correlacionadas com expressões adverbiais de focalização.
¢ Oiticica (1952) destacou que relações de independência e dependência não captam todas as possibilidades de ligação intra ou intersentencial.
¢ Propôs que as sentenças correlatas compreendiam quatro possibilidades: aditiva, alternativa, consecutiva e comparativa.
¢ As correlativas podem ser vistas emblematicamente como uma sorte da sintaxe dialógica, em que ambas as sentenças atuam como turnos emparelhados.
Ex. O aluno não só estuda como trabalha. Seja o aluno, seja a aluna, ambos dão duro na universidade.