as transnacionais nas universidades: a educação contra o povo

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As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo

Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

Associação dos Estudantes de Engenharia Florestal do Brasil

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“As Transnacionais nas

Universidades: A Educação

Contra o Povo”

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Expediente:

Realização:

Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal – ABEEF

Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB

Descrição:

Cartilha de textos de subsídio aos debates sobre As Transnacionais nas

Universidades

Edição e Diagramação:

Coordenação Nacional da FEAB – Gestão 2008/2009 – Aracaju/SE

Coordenação Nacional da ABEEF – Gestão 2008/2009 – Piracicaba/SP

E-mails:

ABEEF – [email protected]

FEAB – [email protected]

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Sumário

Apresentação ....................................................................................................................... 5

Apresentação das executivas:

ABEEF ..................................................................................................................... 7

FEAB .................................................................................................................... 10

CONCLAEA .......................................................................................................... 14

Textos:

As Transnacionais ao volante do Brasil ....................................................... 16

As Transnacionais nas Universidades: A Educação contra o Povo ........... 20

Conferindo caráter “científico” aos interesses econômicos: como as

corporações se apoderam das universidades ...................................................... 25

As Transnacionais nas Universidades: Notícias e Dados ........................... 33

Agronegócios, Quem te Pariu? ...................................................................... 49

Transnacionais e a Agricultura Brasileira ................................................... 51

Ciência & Tecnologia: Atuação do Movimento Estudantil nas

Universidades ......................................................................................................... 57

Boa Leitura!!!

Bons Estudos!!!

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Apresentação "...É tempo sobretudo de deixar de ser apenas a solitária vanguarda de nós mesmos. Se trata de ir ao encontro. (Dura no peito, arde a límpida verdade dos nossos erros.) Se trata de abrir o rumo. Os que virão, serão povo, e saber serão, lutando."

É com esta orientação na mente, coração e pés que o poeta Thiago de Melo embeleza o inacabável trilho das lutas populares. Assim nós da FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil) e ABEEF (Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal) fortalecemos nossas lutas, mística e horizonte.

Trata-se de abrir o rumo, e assim faremos! Trata-se de destruir os velhos muros das universidades. Trata-se de não perder de vista a luz que paira nos horizontes dos

acampamentos que insistem em nos apontar o caminho da vitória, logo ali onde o mais severo vendaval não apaga uma brasa sequer.

Também se trata de não esquecermos de onde viemos e para onde vamos.

Nós, estudantes, temos com esta Campanha/Luta a justeza entre as palavras e o passo para conquistas concretas compartilharmos com o povo. E não teríamos momento melhor para debatermos a educação que temos e que queremos para o POVO. Mas não basta debatermos! Sabemos que existe um gigante entre nós e a palavra, que nos exige grandes tarefas.

A América Latina, já cansada de entregar seu sangue, não suporta mais a predação exploradora das grandes empresas do norte. Os seus índios já não tem o direito de pisar em seu solo, beber da água límpida e sequer podem semear os grãos que a natureza lhes presenteou.

Os estudantes por sua vez não podem conviver se avizinhado com os piratas do século XXI. Estes que não precisam de navios, espadas e lendas; mas de poder, pesquisas, fundações, patentes e latifúndios. É tempo de lutar contra as CORPORAÇÕES TRANSNACIONAIS nos campos e cidades; e nós das universidades, de mãos dadas, também não exitaremos em montar nossas barricadas.

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Aos poetas clássicos

Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva)

“...Poeta niversitaro, Poeta de cademia, De rico vocabularo Cheio de mitologia, Tarvez este meu livrinho Não vá recebê carinho, Nem lugio e nem istima, Mas garanto sê fié E não istruí papé Com poesia sem rima. Cheio de rima e sintindo Quero iscrevê meu volume, Pra não ficá parecido Com a fulô sem perfume; A poesia sem rima, Bastante me disanima E alegria não me dá; Não tem sabô a leitura, Parece uma noite iscura Sem istrela e sem luá. Se um dotô me perguntá Se o verso sem rima presta, Calado eu não vou ficá, A minha resposta é esta: — Sem a rima, a poesia Perde arguma simpatia E uma parte do primô; Não merece munta parma, É como o corpo sem arma E o coração sem amô.

Meu caro amigo poeta, Qui faz poesia branca, Não me chame de pateta Por esta opinião franca. Nasci entre a natureza, Sempre adorando as beleza Das obra do Criadô, Uvindo o vento na serva E vendo no campo a reva Pintadinha de fulô. Sou um caboco rocêro, Sem letra e sem istrução; O meu verso tem o chêro Da poêra do sertão; Vivo nesta solidade Bem destante da cidade Onde a ciença guverna. Tudo meu é naturá, Não sou capaz de gostá Da poesia moderna. Deste jeito Deus me quis E assim eu me sinto bem; Me considero feliz Sem nunca invejá quem tem Profundo conhecimento. Ou ligêro como o vento Ou divagá como a lesma, Tudo sofre a mesma prova, Vai batê na fria cova; Esta vida é sempre a mesma.

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ABEEF – Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal

A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal - ABEEF,

fundada em 03 de abril de 1971, entidade sem fins lucrativos, surgiu da necessidade de organizar e articular nacionalmente, regionalmente e localmente os estudantes de Engenharia Florestal do Brasil. Assim, ao longo de sua história a Associação atuou em torno do objetivo de construir uma sociedade justa, igualitária, sem exploradores e explorados e que utilize os recursos naturais de forma equilibrada, harmônica e sustentável. Ainda hoje esses objetivos se mantem firmes, e definem o horizonte de trabalho de nossa organização bem como a nossa forma de atuação. Para isso, a ABEEF tem a universidade como principal área de atuação, entendendo que todos devem ter direito a uma educação pública, gratuita, autônoma e de qualidade, mas não a enxerga como uma bolha isolada dentro da sociedade em que vivemos e por isso expande seus horizontes para além dos muros da universidade.

Através de diversas atividades e eventos (como os Estágios Interdisciplinares de Vivencia, Cursos de Formação Política, Curso de Formação em Agroecologia, Encontros Regionais, etc), a ABEEF vem trabalhando para que os estudantes de Engenharia Florestal tenham uma formação ética e política, para compreender e atuar sobre a realidade social de nosso país, uma vez que a Universidade nos moldes atuais, cada vez menos cumpre papel de construção de sujeitos críticos à realidade na qual estão inseridos. É Nesse contexto também, que atualmente a Associação tem se aproximado dos movimentos sociais populares ligados ao campo, à floresta e à cidade, além de estreitar ainda mais os laços com outras entidades do Movimento Estudantil. Esta parceria além de estar proporcionando uma maior compreensão do papel dos estudantes no processo de transformação social, principalmente de nós que atuamos na área da Engenharia Florestal; também esta nos trazendo a clareza da necessidade de articular com os movimentos parceiros lutas mais amplas que acumulem para a transformação que queremos.

Como exemplo concreto mais recente, temos a inserção da ABEEF na Via Campesina Brasil, participando de espaços nacionais como reuniões, seminários e

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jornadas de lutas, bem como das articulações estaduais onde elas existem. Isso estreitou ainda a nossa aproximação com os movimentos que compõem a Via, principalmente da FEAB, MST e MAB. Isso se deve ao fato de entendermos que nossas lutas devem estar vinculadas à disputa de um projeto de sociedade, e que além de sermos estudantes, somos parte da juventude brasileira, juventude que é o potencial de transformação social ao mesmo tempo em que é o setor da sociedade em que a dominação ideológica se dá de forma mais intensa, e acima de tudo somos futuros trabalhadores. É a partir dessa compreensão, que acreditamos que devemos expandir os horizontes de nossa atuação enquanto um movimento organizado.

Para conseguir fazer nosso caminho e alcançar os objetivos que nos colocamos, temos uma estrutura organizativa com base nos grupos que constroem a ABEEF localmente e com algumas instâncias descritas abaixo:

• Estrutura Organizativa:

Coordenação Nacional (CN): Tem como função representar a Associação nacionalmente, planejar e executar atividades e projetos definidos no Seminário de Planejamento, efetivando as decisões do CBEEF. A CN também deve auxiliar as Coordenações Regionais, fazendo articulação nas escolas transmitindo um sentimento mais concreto de ABEEF, bem como convocar e coordenar as instâncias em espaços nacionais da Associação encaminhando as deliberações. Além da articulação e integração interna, a CN e responsável por iniciar e/ou manter relações com outros movimentos e entidades que lutem por uma sociedade melhor.

Coordenação Regional (CR): Tem como função representar a Associação regionalmente, fazendo a articulação nas e entre as escolas da região. As CR’s devem realizar passadas freqüentes para transmitir o “sentimento de ABEEF” e acompanhar os trabalhos que são feitos pelos estudantes dos CA’s e DA’s) – Entidades de base, sem as quais não existiria Associação. Além de levar ao conhecimento das novas escolas as políticas da ABEEF, bem como transmitir a importância da organização estudantil.

Atualmente a ABEEF esta estruturada em cinco regionais:

- Regional Amazônia (PA, AM, AC, RO, AP, RR); - Regional Caatinga (BA, SE, AL, PE, PA, RN, CE, PI, MA); - Regional Cerrado (DF, GO, MT, TO, MS); - Regional Mata Atlântica (SP, RJ, MG, ES); - Regional Araucária (PR, SC, RS);

Núcleo de Conjuntura Política (NCP): Tem como função coletar,

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sistematizar, produzir e divulgar materiais que sirvam de subsídio para as atividades da Associação, servir de órgão consultivo para as ações das instâncias, bem como pensar eventos que permitam a formação política dos estudantes.

Núcleo de Trabalho em Agroecologia (NTA): Tem como função coletar, sistematizar, produzir e divulgar materiais que sirvam de subsidio para as atividades da Associação, bem como pensar e participar de eventos que permitam a discussão sobre a matriz tecnológica e produtiva em que nossa sociedade está atualmente inserida, sendo propositivo para inversão da mesma, assim cuidando da formação agroecológica e política dos estudantes.

Núcleo Arquivo Histórico (NAH): Localizado permanentemente na UFMT -Cuiabá, este núcleo reúne o acervo histórico da Associação. Tem como função guardar e organizar o acervo da Associação de modo a facilitar o acesso e pesquisa de seus documentos, além de sempre realizar nos eventos da ABEEF apresentações que permitam aos estudantes conhecer a história de luta da Associação.

CBEEF: O Congresso Brasileiro dos Estudantes de Engenharia Florestal é a instância máxima de deliberação da Associação, por reunir o maior número de estudantes. Acontece anualmente numa das escolas de Engenharia Florestal e permite aos estudantes um aprofundamento a respeito das linhas defendidas pela ABEEF, definindo as políticas sobre as mesmas que serão encaminhadas no período até o próximo CBEEF. A sua realização é feita pela comissão organizadora formada por estudantes da escola sede e representantes das Coordenações Nacional e Regional. Seu eixo temático é definido nos conselhos da Associação. A sucessão das instâncias da ABEEF ocorre no CBEEF.

Por fim, vale falar um pouco da linha de ação que a ABEEF definiu para trabalhar nesse ano de gestão. Além das bandeiras históricas que nós trabalhamos em nossa organização (o debate de gênero, questão agrária, agroecologia, universidade e sociedade, movimento estudantil, etc.) nessa gestão, nós definimos em nosso seminário de planejamento, uma linha central de trabalho que serviria de eixo central de nossas ações e permearia todas s nossas bandeiras. Esse eixo foi o do debate em torno do agronegócio florestal, que norteou nossas atividades durante esse ano. Nesse contexto, buscando avançar nesse debate e acumular forças em nossa luta, que nos envolvemos nessa campanha e conjunto com nossos parceiros da FEAB, que pretende amarrar nosso ano de trabalho discutindo esse tema das transnacionais e sua interferência em nossa formação profissional e na disputa da universidade.

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FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

• Histórico

A organização dos estudantes de Agronomia teve inicio há mais de 50 anos. A primeira organização estudantil ocorreu juntamente com os estudantes de Medicina Veterinária, onde foi criada em 1951 a União dos Estudantes de Agronomia e Veterinária do Brasil (UEVAB) durante o II Congresso dos estudantes de Agronomia e Veterinária.

Essa organização durou somente até 1955, onde os estudantes de Agronomia criaram sua própria organização. Em 1954 os estudantes de Agronomia realizaram seu primeiro congresso, na época o CBEA – Congresso Brasileiro de Estudantes de Agronomia. Durante o II CBEA foi criado o Diretório Central dos Estudantes de Agronomia do Brasil (DCEAB). O DCEAB sofreu duros golpes durante o regime militar, onde a exemplo da União Nacional dos Estudantes (UNE), movimentos sociais populares e partidos políticos, em 1968 caíram na clandestinidade, através do Ato Institucional número 5 (AI-5). Este decreto proibiu a reunião de pessoas para fins políticos. Ocorreu ainda, prisão de líderes estudantis e o roubo dos materiais dos arquivos. As atividades dos estudantes de agronomia foram quase totalmente interrompidas entre os anos de 1968 e 1971.

Em 1972 realizou-se o 15° Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia – CONEA, em Santa Maria/RS. Neste evento retorna-se o movimento a nível nacional, com a fundação da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil – FEAB.

Desde sua fundação a entidade é protagonista de inúmeras conquistas que asseguram mudanças no curso de agronomia, tais como: o fim da Lei do Boi (cota de 50 por cento de vagas para filhos de fazendeiros), o Currículo Mínimo da Agronomia, a Lei dos Agrotóxicos (receituário agronômico); a discussão diferenciada de Ciência e Tecnologia, frente à necessidade de modelos agrícolas alternativos ao da “revolução verde”; a participação na construção da

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Agroecologia, entre outras.

Durante seu processo histórico travou várias lutas junto aos movimentos sociais populares do campo, a exemplo da campanha nacional de reflexão sobre o gênero; campanha nacional pelo limite da propriedade da terra; campanha nacional “Sementes Patrimônio da Humanidade”. Além de contribuir com a organização dos estudantes na América Latina com a criação de uma entidade que abrange as federações de estudantes de agronomia dos países latinos e Caribe, a CONCLAEA – Confederação Caribenha e Latino Americana de Estudantes de Agronomia. Sendo assim, sua atuação é um marco na luta em defesa da Educação e nas ações do movimento estudantil brasileiro e internacional.

• Objetivo

A FEAB tem como objetivo a construção do socialismo, entendendo-o como uma sociedade onde não haja a exploração do ser humano pelo ser humano e não exista a propriedade privada dos meios de produção. Para chegar ao nosso objetivo temos como foco a transformação da universidade, com vistas a atender as demandas da classe trabalhadora oprimida. Para isso é necessária a realização de lutas em conjunto com as demais organizações de estudantes, movimentos sociais populares, e demais organizações que possuam afinidades políticas com a FEAB. Atuando dessa forma, para fortalecer o ME através da realização de lutas sociais que concretizem uma coesão organizativa e reivindicatória e que construa uma política constante de formação em defesa da universidade pública financiada pelo Estado, de qualidade, socialmente referenciada, democratizada em seu acesso e popular.

• Estrutura organizacional

A FEAB está estruturada através de uma Coordenação Nacional (CN), 8 Superintendências Regionais, 8 Núcleos de Trabalho Permanente (NTP’s), os Centros e Diretórios Acadêmicos – CA’s e DA’s e alguns outros grupos organizados nas escolas de Agronomia.

Coordenação Nacional: Responsável por operacionalizar as políticas deliberadas no Congresso, possui sede em uma única escola, durante a gestão de um ano, hoje sediada na Universidade Federal de Sergipe (UFS) em Aracaju/SE.

Superintendência Regional: Cada superintendência tem uma Coordenação Regional (CR) que é responsável por encaminhar as políticas deliberadas no Congresso em uma determinada região geográfica, possui sede em uma única escola. Segue abaixo, a relação das superintendências regionais, com a sua respectiva área de abrangência e escola sede da Coordenação Regional:

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- Regional I: RS – CR: Porto Alegre – RS

- Regional II: PR e SC – CR: Curitiba - PR

- Regional III: MG, RJ e ES – CR: Seropédica – RJ

- Regional IV: DF, GO, MT, MS, RO e AC – CR: Tangará da Serra - MT

- Regional V: PE, RN, PB, PI e CE – CR: Recife - PE

- Regional VI: MA, PA, AM e TO – CR: Marabá - PA

- Regional VII: SP – CR: Botucatu - SP

- Regional VIII: BA, SE e AL – CR: Cruz das Almas - BA

Núcleos de Trabalho Permanente: Constituem-se em órgãos consultivos e de elaboração teórica sobre as bandeiras de luta da federação. Os NTP’s possuem sede numa única escola. Segue abaixo os NTP’s e suas respectivas sedes atuais:

- Arquivo e Histórico: Curitiba - PR

- Educação: Montes Claros - MG

- Estudos Amazônicos: Cuiabá - MT

- Ciência e Tecnologia: Campos - RJ

- Relações Internacionais: Lavras - MG

- Juventude e Cultura: Florianópolis - SC

- Movimentos Sociais Populares: Diamantina - MG

- Agroecologia: Belém - PA

• Os Eventos

A instância máxima de deliberação da FEAB é o CONEA – Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia. É o encontro anual de todos os estudantes de agronomia do Brasil de cunho integrativo onde se discute questões inerentes ao curso, a conjuntura nacional, a situação agrária e agrícola regional e nacional, a educação, avaliando e apontando perspectivas, com o intuito de apresentar propostas e formas de encaminhamentos que visem solucionar os problemas levantados no evento.

Dentre as principais atividades promovidas atualmente pela FEAB, estão os ERA’s (Encontros Regionais de Agroecologia), os EREA’s (Encontros Regionais dos Estudantes de Agronomia), os Seminários de Questão Agrária, os CEPA’s (Curso de Economia Política e Agricultura) e os EIV’s (Estágios interdisciplinares

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de vivência) em comunidades de pequenos agricultores (as) e assentamentos de reforma agrária. Os EIV’s foram premiados pela UNESCO em 1992, como iniciativa de destaque da juventude latino-americana.

• As Bandeiras de Luta

São as linhas norteadoras das discussões realizadas pela FEAB, deliberadas no CONEA, e que devem ser colocadas em prática por todas as entidades que compõem a FEAB. Devendo, assim, serem priorizadas pela coordenação nacional e pelas coordenações regionais. Algumas de nossas principais bandeiras são:

- Formação Profissional

- Ciência e Tecnologia

- Universidade

- Juventude, Cultura, Valores, Raça e Etnia

- Agroecologia

- Movimentos Sociais

- Relações Internacionais

- Gênero e Sexualidade

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CONCLAEA – Confederação Caribenha e Latino Americana de Estudantes de Agronomia

• Histórico

O movimento estudantil da agronomia discute o tema de relações internacionais desde os anos 60, quando se realizou a 1ª Convenção Latino Americana de Estudantes de Agronomia, evento de teor acadêmico, visando a questão agrária e o ensino agronômico principalmente. Uma segunda edição foi realizada no México posteriormente, mas o período de regimes militares que já começava a se instalar no continente interrompeu esta articulação e colocou na clandestinidade diversas organizações estudantis na América Latina.

É no ano de 1989, durante o XIII Festival Mundial da Juventude, realizado na República Popular da Coréia, que sete países, dentre eles o Brasil, assinam um manifesto para a realização do I Congresso Latino Americano e Caribenho de Entidades Estudantis de Agronomia – CLACEEA. Também neste ano são criados os Núcleos de Trabalho Permanente da FEAB, dentre estes o NTP de Relações Internacionais, sediado em Pelotas, onde se realiza este primeiro congresso em 1991. Pela participação de poucos países, optou-se por realizar o II CLACEEA, no ano seguinte, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. Surge então, em 1992, a Confederação Caribenha e Latino Americana de Estudantes de Agronomia – CONCLAEA.

• Lutas

A CONCLAEA nasce como uma articulação do movimento estudantil de agronomia, que luta pela transformação do ensino agronômico, em defesa de uma universidade pública, autônoma, democrática e de qualidade, pela soberania dos povos e relação com os movimentos sociais. Ao longo destes anos a CONCLAEA tratou de se consolidar, crescer e definir politicamente, levantando bandeiras próprias do movimento estudantil e buscando os meios para se vincular com os setores populares. Tem um papel importante de intercâmbio de experiências (políticas, organizativas, sociais e culturais) dos modelos de resistência dos diversos países, a exemplo dos estágios de vivencias, realizados também na

Argentina e Colômbia.

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• Organização

CLACEEA - Todos os anos realiza-se o congresso que é o fórum de deliberação da confederação. É também um espaço para discussão política e intercâmbio, além de realizar estágios, junto com os movimentos sociais do país de acolhimento.

Pré-CLACEEA - Espaço para a organização conjunta do CLACEEA. Mas é também um espaço de articulação e discussão.

Coordenação Geral (CG) - A GC tem um papel de facilitar as organizações dos países; bem como coordenar e executar as deliberações do CLACEEA; além de fazer a articulação e comunicação entre os países.

Coordenações Sul e Norte – Estas coordenações, assim como a CG, têm como função facilitar a organização da CONCLAEA, mas, em suas regiões. A Coordenação Sul inclui os países da América do Sul e a Coordenação Norte envolve os países da América Central e Caribe.

No ano de 2008 a FEAB esteve com a coordenação geral da CONCLAEA, e alguns de nossos companheiros estiveram por nossa América Latina, fazendo passadas nas universidades e contribuindo para a organização dos estudantes nos diversos países. Em janeiro de 2009, no XIX CLACEEA realizado em Tunja, Colômbia, a FEAB assumiu a Coordenação Sul. O pré-CLACEEA, segunda instância da confederação, será realizado no México, e o XX CLACEEA, no Instituto de Agroecologia da América Latina da Via Campesina, em Barinas, Venezuela.

Sigamos em frente, a levar a bandeira do internacionalismo e da CONCLAEA, a resgatar a cultura mochileira e a sair pelos caminhos da América, a conhecer nuestros hermanos e a lutar juntos...

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As Transnacionais ao Volante do Brasil "Sem sombra de dúvida, a vontade do capitalista consiste em encher os bolsos, o mais que possa. E o que temos a fazer não é divagar acerca da sua vontade, mas

investigar o seu poder, os limites desse poder e o caráter desses limites." Karl Marx

Corporação Multinacional, Corporação Global, Transnacional e Empresa Internacional; são termos que as novas gerações brasileiras viram tornar-se comum no cotidiano da sociedade, quase como um termo natural e iliquidável. Na literatura sobre o tema costuma-se utilizar o termo CMN (Corporações Multinacionais). Os autores que não permitem que se dilua caráter dominante e inerente, dessas corporações, preferem utilizar o termo Corporações Transnacionais em detrimento de Multinacionais.

• A origem

A modernização do sistema produtivo após a 2ª guerra mundial nos trouxe novos parâmetros para a produção industrial. Após a queima massiva da produção de guerra, a superprodução tecnológica e as ampliações de bases militares, aliada as alianças decorrentes da guerra; abriu-se terreno para um novo modelo de relação mercantil e de dominação política no momento em que ainda havia uma forte disputa entre o bloco capitalista (EUA e aliados) e socialista (URSS e aliados). Este foi o marco da nova forma que as indústrias, até então nacionais, começavam a adquirir e/ou maturar. Foi o momento em que as indústrias se deslocaram, amadureceram e ramificaram seus negócios para o restante do globo na tentativa de hegemonização do modelo.

Logo este modelo teve que se ampliar diante de territórios em disputa e com características interessantes para seu desenvolvimento, como o caso da América Latina e África; algumas das condições observadas:

- Abundância de mão-de-obra com baixos custos, em comparação aos salários pagos em países desenvolvidos.

- Riqueza em matéria-prima (água, minérios, energia, agricultura, dentre outros).

- Infra-estrutura promovida pelo governo do país onde a empresa se instala.

- Leis ambientais brandas.

- Incentivos tributários, como isenção parcial ou total de impostos.

- Permissão para enviar os lucros aos seus países de origem.

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Todas estas características compõem implicitamente as regras gerais e vitais para o desenvolvimento das corporações transnacionais, cujas explicitaremos mais adiante.

Em primeiro plano identificamos a origem aliada ao domínio militar que por muitas vezes fora utilizado severamente para a inserção e controle político dessas corporações, porém o sistema capitalista aperfeiçoou-se de um ponto onde a rigidez política antidemocrática e ditatorial assegurasse a inserção e ideológica, para um ponto em que condicionasse o território para o crescimento sorrateiro da nova lógica, já com a sociedade impregnada ideologicamente, e com uma falsa idéia de democracia diante de um povo anestesiado.

Algumas tarefas, ou problemas, a serem resolvidos pelos novos imperialistas era a relação com os estados nacionais e com as massas populares.

• As Transnacionais e o estado

A atuação destas empresas se dá em todos os âmbitos da sociedade, o que é uma característica fecunda para esta forma de organização do capital. Como nos traz Herbert J. de Souza: “No momento em que o capital mundial já é uma realidade em centenas de países (isto é, já é a forma dominante de produção em centenas de países) a grande contradição que ele enfrenta é a de como fazer coexistir a sua vocação e suas necessidades mundiais com os limites e as necessidades “nacionais” das sociedades onde opera. Esta contradição tem sua dimensão econômica (as necessidades da economia pensada em termos mundiais não correspondem necessariamente às necessidades pensadas em termos nacionais) e política. Para poder existir nos espaços nacionais, o capital mundial necessita do fiat do poder político de cada país. E aí onde começa o nosso problema, o da relação entre as corporações transnacionais e os estados nacionais.”1.

Depois de instalado nos países - podemos extrair essa análise de inúmeras experiências latinas - o perfil do sistema de poder transnacional nos deixou as seguintes características:

- Os processos eleitorais foram banidos por algum tempo e com o passar das etapas, controlados de forma a não ameaçar o núcleo do poder executivo.

- Os movimentos e partidos populares foram submetidos à lógica das leis de Segurança Nacional. O inimigo, agora interno, é o próprio povo.

1 SOUZA, Herbert José de. O Capital transnacional e o estado. Petrópolis: Vozes, 1985. 160 p.

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- Por algum Tempo os órgãos de formação de opinião pública foram submetidos à censura e posteriormente controlados diretamente pelas corporações, sob à cunha da liberdade crítica enquanto conquista popular.

- E obviamente que para todo o processo de inserção, o estado militarizado tratou toda e qualquer ameaça popular como caso de guerra.

- Por fim sintetizamos essa herança com a perda da soberania nacional, perda de movimento popular e perda de substância democrática.

• Formas e estratégias de controle político do capital Transnacional na atualidade

O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann em conversa com alguns partidos políticos sobre a crise, afirmou: “Diferente da crise de 1929, que teve início no setor produtivo e avançou para o setor financeiro, a atual crise foi explodida no mercado financeiro, atinge o setor produtivo e provoca graves e sérios problemas sobre a geração de emprego, manutenção de postos de trabalho e distribuição de renda”.

E continou: “hoje, as 500 maiores corporações do mundo detêm o faturamento de 46% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. No Brasil, apenas três maiores empresas transnacionais acumulam o valor correspondente ao PIB brasileiro”.

Hoje a América Latina é um dos palcos centrais para as mais profundas e diversas disputas entre organizações populares e corporações de capital transnacionalizado. Inclusive temos alguns países que mantém uma postura rígida junto às empresas estrangeiras, como o caso do Equador quando proibiu a presença de transgênicos (tecnologia dominada pelas transnacionais) no auxílio escolar alimentar. Esta medida compõe parte da recente Lei de Segurança Alimentar aprovada pelo congresso e construída, também, por organizações indígenas e camponesas.

O Brasil, como pólo estratégico, é um grande território sem porteiras para a atuação das CMNs. Podemos hoje, com clareza, identificar a participação destas corporações nos principais meios de decisão e pesquisa do estado. Estas empresas tem passe livre nas Universidades, compõem indiretamente a CTNBio2 (A composição desta Comissão é atrelada a indicações do “estado”), formam seletos grupos detentores de ações da Petrobrás, Vale, etc; além de financiarem inúmeras

2 Comissão Técnica Nacional de Biossegurança composta por integrantes indicados pelo governo, e parte deles são professores de universidades que também fazem pesquisas com transgênicos junto comas transnacionais.

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campanhas eleitorais para a ramificação, ampliação e controle das políticas essenciais do estado preferencialmente estabilizado.

Toda dominação de povos se dá na esfera econômica e ideológica trazendo inúmeras características necessárias para essa relação. As formas globais ou hegemonizantes do capital nada mais é do que o seguro imperialista dos países ricos para absorção dos lucros das operações em questão. Por mais que se dêem novos nomes ao modelo capitalista, ele sempre se pautará na sua característica fundamental, a maximização dos lucros através da expropriação de capital e acumulação, em primeiro lugar.

É interessante refletirmos sobre esta pauta justamente para observarmos os elos que a história nos deu. Nunca é demais exercitar a memória e vasculhar as raízes da Bancada Ruralista, da CTNBio, dos Canaviais, democracia, partidos, privatizações logo após as ditaduras e também as raízes das mobilizações e lutas populares. Hoje em dia ainda nos espanta observar a incrível sistematicidade das ações dessas corporações. Daí nos perguntamos: Ninguém ta vendo isso? A CTNBio, o MEC, as Câmaras, o estado e o povo? Esse é ponto da questão, as CMNs estão inseridas em todas as brechas do estado, ou seja, elas respondem e executam com a retaguarda coberta pelo estado, quando não são o próprio. Mas e o povo? Na história o povo sempre foi perigoso para a ordem, por isso o povo deve se curtir apenas da participação eleitoral – longe de negá-la enquanto conquista - depositando lá suas perspectivas de mudanças longe das grandes mobilizações e organizações.

O espetáculo democrático brasileiro (apelido que rede/corporação globo concedeu às eleições) concretizou seu papel, como apontavam os estudiosos contrários às CMNs; mais do que nunca podemos falar que o “espetáculo democrático” não ameaça o projeto hegemônico, ou melhor, alicerça e legítima as operações.

A Aracruz lidera a lista de doações para campanhas eleitorais. Foram mais de R$ 900 mil doados a campanhas de deputados estaduais e federais. Entre os candidatos que receberam dinheiro da Aracruz, 21 elegeram-se deputados estaduais (do PP, PMDB, PSDB, PPS, PT e PDT) e 14 deputados federais (do PSB, PFL, PDT, PMDB, PSDB e PP). A Votorantim destinou R$ 348 mil para campanhas eleitorais no RS e a Stora Enso, R$ 103 mil. Uma das campeãs de doações em todo o país, a Aracruz divulgou uma nota oficial afirmando que as doações são uma “contribuição ao amadurecimento do processo democrático” 3.

3 Marco Aurélio Weissheimer, Carta Maior, 8 de dezembro de 2006

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AS TRANSNACIONAIS NAS UNIVERSIDADES:

A EDUCAÇÃO CONTRA O POVO “Tenho que dizer que se pinte de negro, que se pinte de mulato, não só entre os

alunos, mas também entre professores; que se pinte de operário e camponês, que se pinte de povo, porque a Universidade não é patrimônio de ninguém e pertence ao povo”

Che Guevara

A ação ofensiva do capital internacional na América Latina e no Brasil, que é visto como campo estratégico de exploração econômica, a exemplo das Transnacionais, como a Votorantim em Rondônia, Suez em Manaus, Aracruz Celulose no Rio Grande do Sul, Bahia, Espírito Santo, nos mostra como este tipo de organização política hegemonista vem interferindo na nossa soberania territorial e popular, e para além também nos encalça em todos os âmbitos, inclusive nas universidades.

Como já debatemos inúmeras vezes na FEAB/ABEEF e no combativo Movimento Estudantil geral, não é novidade a fragmentação da Reforma Universitária para driblar a oposição dos Movimentos pela educação. Mas neste momento chamamos a atenção para os pontos que permitiram, permitem e permitirão a aproximação sorrateira do capital transnacional com a educação e conseqüentemente com o estado cumprindo sua meta de inserir-se no poder político de cada país onde atua.

• As Transnacionais, a Educação e as Fundações de Apoio

De acordo com a socióloga Marilena Chauí, a educação atual é colocada no campo dos Serviços Não-Exclusivos do Estado, isto é, aqueles que podem ser executados por instituições não-estatais, na qualidade de prestadoras de serviços, o Estado provê tais serviços, mas não executa uma política, nem executa diretamente o serviço. Nestes serviços estão incluídas a educação, a saúde, a cultura, as utilidades públicas; portanto o estado se desobriga de uma atividade eminentemente política, uma vez que pretende desfazer a articulação democrática entre poder e direito. Dessa maneira, ao colocar a educação no campo de serviços, deixa de considerá-la um direito dos cidadãos e passa a tratá-la como qualquer outro serviço público, que pode ser terceirizado ou privatizado. A educação, nesta forma, são organizações sociais prestadoras de serviços que mantêm uma relação de contrato de gestão com o estado, denominando, portanto, uma nova conotação à autonomia, resumindo-a ao gerenciamento empresarial das instituições. A ‘’autonomia’’ prevê que, para cumprir as metas e alcançar os indicadores impostos pelo contrato de gestão, a universidade tem ‘’autonomia’’ para ‘’captar recursos’’ de outras fontes, fazendo parcerias com empresas privadas. Cria-se também um

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Fundo de Apoio Universitário, com recursos públicos que podem ser repassados a qualquer universidade, desde que ela se apresente como prestadora de serviços e cumpridora das cláusulas do contrato de gestão. Estas cláusulas são baseadas nas diretrizes Tempo/Qualidade/Quantidade, onde os estudantes se caracterizam enquanto mercadoria, e consequentemente incorporados de preceitos industriais como: Padronização, especificação (como no modelo industrial fordista4), acumulação, valorização, desvalorização, etc. Nesta ordem temos claramente a idéia que os estudantes ficam alheios aos anseios populares na medida em que viram peças do mercado.

Dentre os pontos que destacamos abaixo poderemos ver claramente as brechas que vão se completando logicamente para dar sentido ao fortalecimento do capital privado. Iniciando pela compra de vagas nas grandes instituições/corporações privadas através do PROUNI; em seguida pela legitimação da ineficiência do ensino público através da precária avaliação chamada SINAES, que aponta como solução para as metas não atingidas a captação de recursos privados que também coloca em jogo os interesses de lucro; pela certificação jurídica atribuída pelas PPP’s e por fim a lei de inovação tecnológica que permite as patentes e sigilo dos resultados de pesquisas dentro das estruturas do estado, ou melhor, do povo brasileiro!

1- Prouni (Programa Universidade Para Todos) onde uma importante parcela de atribuições que hoje cabem ao Estado, por força da Constituição, está sendo transferida para a iniciativa privada.. Em decorrência, o princípio da universalização da oferta dos serviços públicos poderá ser abandonado, cabendo ao Estado tão somente o investimento em ações focais através de programas assistenciais destinados à população mais pobre e miserável. (MANCEBO; SILVA, 2004).

2 - Sinaes (Sistema Nacional da Educação Superior) regulamenta a avaliação institucional e de alunos de modo tal que, na prática, anula a autonomia universitária, criando comissões de avaliação que, no limite, são superiores aos Conselhos Universitários 5.

3 - As PPP’s (Parcerias Público-Privadas) que transferem atribuições do Estado em todos os tipos de empreendimento e gestão à iniciativa privada,

4 Modelo forjado pela indústria automobilística norte americana (ford) na intenção de otimizar os lucros enquanto reorganizava a produção e relações de trabalho. Neste modelo identificamos a especialização dos trabalhadores e incorporação dos mesmos no valor de mercadoria. Na educação tivemos a departamentalização do ensino, a mercantilização e diversas características fabris nas relações sociais. 5 http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/10/292112.shtml

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inclusive no que diz respeito a serviços públicos sociais como saúde e educação. Através do projeto, a produção e os serviços de natureza pública e coletiva da pesquisa e desenvolvimento tecnológico, assim como a defesa do meio ambiente, do patrimônio histórico e cultural, dos interesses da Nação junto aos órgãos internacionais ficarão abertos à parcerias. Apenas a regulamentação, legislação e policiamento continuarão sob o monopólio do Estado, que fica claro o investimento e abertura do governo pra o capital internacional, onde a universidade perdem seu papel perante à sociedade 6.

4 - Lei de Inovação Tecnológica que aprofunda o processo de privatização da universidade pública, tem o intuito de transformar a pesquisa realizada nas universidades públicas (que se enquadram no que a lei chama de Instituições Científicas Tecnológicas – ICT’s) mais adaptáveis às leis de mercado. Já no seu 3º artigo, a lei prevê “alianças estratégicas” entre universidades, empresas nacionais ou multinacionais sem fins lucrativos. O artigo prevê parcerias na produção de conhecimento, bem como a utilização de laboratórios e equipamentos das universidades públicas por essas empresas. O capítulo 3º regimenta todo o tipo de criação de patentes (artigo 6º) sobre a produção científica das instituições públicas. Além disso, institucionaliza possíveis remunerações extras recebidos aos pesquisadores envolvidos com projetos lucrativos (artigo 8º §2º). Isso contraria a lógica na qual a produção de conhecimento está calcada: pública e com imediata publicização (publicações em revistas e apresentações em congressos).

O governo coloca a discussão desta lei descolando-a do processo de Reforma Universitária. Outra forma de alienar todos estes processos de privatização das universidades. Delegar a outro ministério, que não o da Educação, a questão da inovação tecnológica e discuti-la de maneira desarticulada da questão da Reforma Universitária, pode acarretar em graves conseqüências para produção tecnológica na universidade, bem como para formação profissional. Trata-se do empobrecimento do ensino, aprofundamento da mercantilização do conhecimento e arrefecimento do potencial crítico da universidade.

• As Transnacionais

Agora ordem é o estado limpar o meio de campo para os “Mercadores da educação”. Com a educação transformada em mercadoria e as portas abertas para os investimentos privados, todo conhecimento produzido nas universidades com a nossa mão de obra barata, servirá para as grandes empresas aumentarem cada vez mais seus lucros longe das necessidades reais dos trabalhadores que pagam seus pontuais impostos.

6 http:// www.enecos.org.br/docs/barrar_reforma.doc

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Como claro e, infelizmente, corriqueiro exemplo, temos abaixo a notícia de um lançamento e patenteamento de um produto fruto da parceria (PPP’s) de 30 universidades com empresa Syngenta:

“A multinacional Syngenta está lançando no mercado nacional o produto Actara (Tiamethoxam). Esse produto é eficiente na proteção do cultivo e pouco tóxico ao meio. A nova tecnologia é fruto de mais de dez anos de pesquisas, envolvendo 30 universidades brasileiras e uma alemã, e resultou no desenvolvimento de um produto único, o primeiro bioativiador para cana-de-açúcar do mercado. Os estudos científicos foram realizados pela Syngenta em parceria com entidades de pesquisa e tecnologia agrícola, tais como Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq), Universidade Estadual Paulista (Unesp), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal (Unipinhal), entre outras, e confirmaram que o Tiamethoxam contribui para o aumento da produtividade da cana em até 12% por hectare.”7.

Esse exemplo apesar de corriqueiro e sedutor para uma promessa de desenvolvimento para o Brasil, merece alguns complementos, cujo não encontramos nos editais para estagiários, nem tampouco nos seus boletins eletrônicos diários. A Syngenta lidera as pesquisas e a produção de sementes transgênicas com aval da CTNBio, além de ser uma das maiores empresas com patente sobre a tecnologia Terminator8 . Esta mesma empresa também foi acusada de fazer experimentos com transgênicos em áreas de amortecimento de uma reserva ambiental no Paraná, protegidas inclusive pela lei. E ainda pior, em 2007 foi acusada por ter contratado uma empresa de segurança para executar o camponês e militante do MST Valmir Mota, o Keno, que se encontrava acampado na região onde o Movimento e a Via Campesina faziam denúncias sobre as infrações da Syngenta.

A FEAB e a ABEEF já lançou diversas campanhas contra a reforma Universitária, pela qualidade do ensino, entre outras lutas. No ano passado lançamos a campanha “Qual o Papel da CTNBio?” denunciando o papel que o estado vem cumprindo em desacordo com o povo, e agora além destas lutas, que são permanentes, estamos levantando outro eixo polêmico, “As Transnacionais nas Universidades: A educação contra o Povo!” Fazendo uma denúncia direta ao projeto que rege inclusive os governos.

7 http://ethanolbrasil.blogspot.com/2008/02/syngenta-lana-produto-para-cana-de-acar.html

8 A tecnologia Terminator, também conhecida como sementes suicidas, são sementes modificadas para germinar somente uma vez, por esta razão foram banidas de vários países por interferir na soberania alimentar dos povos.

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Esta a campanha deverá se complementar, a partir do nosso lócus de ação, com outras lutas de organizações populares, formando uma unidade que há muito têm sido esquecida entre o Movimento Estudantil e demais Movimentos Sociais. Para tanto é preciso demarcar nosso campo objetivo de atuação na esfera das instituições de ensino e sob a pauta educacional, mapeando e publicisando os gastos e pesquisas de professores com Transnacionais nas Universidades, trazendo à tona o que acontece diariamente, mas quase secretamente, sem que façamos o devido debate que é de responsabilidade de todos.

Temos uma grande tarefa pela frente, a responsabilidade com a educação popular que liberta, com os milhares de camponeses que morrem envenenados ou assassinados, com o meio ambiente e sempre com os trabalhadores e trabalhadoras. Por tanto, nossa tarefa está posta, contribuir com a denúncia contra a atuação desenfreada e desrespeitosa das Corporações Transnacionais.

Juventude que ousa LUTAR! Constrói o poder POPULAR!

O POVO

Passeava o povo suas bandeiras rubras e entre elas na pedra que tocaram estive, na jornada fragorosa e nas altas canções da luta. Vi como passo a passo conquistavam. Somente a resistência dele era um caminho, E isolados eram como troços partidos Duma estrela, sem bocas e sem brilho. Juntos na unidade feita em silêncio, Entre o fogo, o canto indestrutível, O lento passo do homem na terra Feito profundidades e batalhas. Eram a dignidade que combatia O que foi pisoteado, e despertava Como um sistema, a ordem das vidas Que tocavam as portas e se sentavam Na sala central com suas bandeiras.

Pablo Neruda, “Canto Geral – XIV”

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Conferindo caráter “científico” aos interesses econômicos: como as corporações se apoderam das universidades∗∗∗∗

Roberto Leher (UFRJ) 9

“Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar. É da empresa privada o seu passo em frente, seu pão e seu salário. E agora não contentes

querem privatizar o conhecimento, a sabedoria, o pensamento, que só à humanidade pertence.”

Bertold Brecht

A relação das universidade com empresas e com o complexo militar é algo já muito conhecido na literatura acadêmica (ver a este respeito o clássico trabalho de Horowitz, 1969). O comprometimento das universidades com as corporações tornou-se muito mais importante no contexto neoliberal, quando as corporações passaram a estabelecer contratos com as instituições universitárias mediados muitas vezes pelos órgãos de fomento do Estado. Muitos desses contratos estabelecem que as universidades públicas podem e devem atuar diretamente como suporte para a Pesquisa e Desenvolvimento das corporações, seja engajando-se na produção de mercadorias tangíveis (extração e beneficiamento de minérios, sementes, insumos agroquímicos, equipamentos), seja na de mercadorias simbólicas (processos industriais, patentes, certificações, pareceres favoráveis diante de controvérsias ambientais e para a saúde humana, produção no campo das ideologias).

Como muitas vezes a universidade é chamada a emprestar seu prestígio social para validar negócios das corporações que os movimentos consideram nefastos, os conflitos com as universidades têm sido cada vez mais comuns, envolvendo confronto com populações indígenas, camponeses, moradores de regiões atingidas por barragens etc. Em virtude da amplitude dos conflitos, o presente estudo privilegiou os que vêm acontecendo nos eixos econômicos do IIRSA, notadamente na área do agronegócio, particularmente soja e etanol, e da exploração mineral (Leher, 2007). Na América Latina, esses conflitos vieram à tona, frequentemente, em virtude de lutas sociais que denunciaram os efeitos ambientais, sociais e para a saúde da expansão da fronteira agrícola da soja e do etanol e dos projetos de extração mineral.

Congruente com a teoria do capitalismo dependente é possível propugnar que

9 Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, coordena o GT Universidade e Sociedade do CLACSO e foi dirigente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior do Brasil (2000-2002).

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o tipo de convênio entre as corporações e as universidades nos países centrais é distinto do presente nos países capitalistas dependentes, envolvendo somas consideravelmente maiores e, sobretudo, objetivos “acadêmicos” distintos; isso não significa, contudo, que as pesquisas nas universidades latino-americanas sejam apenas operacionais e afastadas das chamadas fronteiras do conhecimento e que inexistam capilaridades entre os projetos estratégicos das instituições dos países centrais e as universidades latino-americanas. A rigor, esses nexos são imprescindíveis para que os objetivos das corporações sejam alcançados, pois, concretamente, precisam interferir em territórios determinados, concretos e as universidades locais podem ser úteis a esses propósitos.

O caso relatado a seguir é ilustrativo do grau de interferência das corporações no campo universitário. O convênio da British Petroleum (BP) com as universidades da Califórnia e de Illinois, em nome de um pool de corporações dos setores de sementes, insumos, combustíveis e automobilístico, está inscrito na luta pelo monopólio do promissor mercado planetário de agrocombustíveis e, por isso possui um forte braço no Brasil, pais estratégico para a produção dos agrocombustíveis.

O recente acordo entre o MCT e a FAPESP não está desvinculado da iniciativa da BP e das universidades de Berkeley e Illinois. No contexto do mega-projeto liderado pela BP a corporação fez uma associação com uma empresa estratégica no Brasil e, considerando as vantagens relativas do país na produção do etanol a partir da cana-de-açúcar, inclusive climático-ambientais, necessitou, também, de uma consistente base de Pesquisa e Desenvolvimento no país. A instituição escolhida para este fim foi a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo. Com este acordo foi possível conformar um complexo de empresas e universidades localizadas nos países hegemônicos e nos capitalistas dependentes.

Miguel A. Altieri, professor da Universidade da Califórnia, Berkeley, e Eric Holt-Gimenez (2007), Diretor Executivo da "Food First", Oakland, relatam o contexto em que se deu o citado acordo da British Petroleum com a Universidade da Califórnia em Berkeley, em fevereiro de 2007. A BP doou uma enorme soma de recursos, a primeira instituição público-privada desta escala no mundo, totalizando U$ 500 milhões, para os fundos de pesquisa da referida universidade, para os Laboratórios Lawrence Livermore e para a Universidade de Illinois, instituição em que está situado um dos maiores bancos genéticos do mundo. O objetivo do convênio é desenvolver novas fontes de energia, concretamente agrocombustível, por meio da biotecnologia. Os recursos serão aplicados em grande parte em um centro exclusivamente criado para esse fim: o Energy Biosciences Institute (EBI). "Ao lançar este instituto visionário, a BP está criando um novo modelo de cooperação universidade-indústria", disse Beth Burnside, UC Berkeley Vice-

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Chanceler de Pesquisa (Holleman e Clausen, 2008).

Este Instituto (EBI) é a primeira instituição mundial de investigação exclusivamente dedicada ao novo campo de energia produzida por manipulação da biomassa, e focaliza inicialmente o desenvolvimento da próxima geração de biocombustíveis, mas também vislumbrará as várias aplicações da biologia para o setor de energia. O EBI acolhe cerca de 25 equipes de investigação, alojados na Universidade da Califórnia, Berkeley, no campus e na Universidade de Illinois.10

Altieri e Holt-Gimenez (2007) observam que o acordo da universidade com a BP resultou de uma associação inter-corporativa de amplitude inédita, constituída em tempo recorde e sem qualquer fiscalização pública. Nesta iniciativa estão as maiores corporações mundiais do agronegócio (como a ADM, Cargill y Bunge), de biotecnologia (Monsanto, Syngenta, Bayer, Dupont), e do petróleo (BP, TOTAL, Shell) e das indústrias automobilísticas (Volkswagen, Peugeot, Citroen, Renault, SAAB). É importante salientar que o referido acordo compreende os principais operadores dos agrocombustíveis mundiais. Monsanto, Dupont-Pioneer y Syngenta, são as três maiores empresas em transgênicos e também lideram o setor de sementes tradicionais. Somente a Monsanto controla quase 90% das sementes transgênicas; juntas, estas empresas controlam 39% do mercado mundial de sementes e 44% das sementes sob propriedade intelectual (Ribeiro, 2008). As corporações e financeiras que atualmente comandam o avanço dos agrocombustíveis em escala planetária – e por isso pressionam os governos a não ceder em relação à reforma agrária que, no Brasil está, de fato, paralisada – não ultrapassam duas dúzias: ADM, Cargill, Bunge, ConAgra, Dreyfus, DuPont, Syngenta, Monsanto, Marubenji, Tate & Lyle, Wyerhauser, Tembec, British Petroleum, Misui, Royal Dutch Shell, Chevron, Mitsubishi, Petrobras, Total, Barclays, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Societe Generale, and the Carlyle Group.

Com esse convênio, a BP e as empresas coligadas esperam obter, para seus próprios fins, conhecimentos produzidos durante décadas com recursos públicos nas universidades, convertendo-os em seus patrimônios, pois têm preferência no registro das patentes e, principalmente, adquirirão conhecimentos para ampliar a produção de etanol em diversas partes do planeta, fortalecendo, desse modo, o monopólio de sementes e cultivares adequados a diversos tipos de ambiente.

Mais preocupante para os críticos é a estrutura de governo e de supervisão destacadas no convênio descrita como "um ponto de partida para a discussão", o que significa que a BP poderia forçar ter ainda mais controle. No momento, a

10 Ver http://www.fapesp.br/english/materia/4683/research-innovation/realizing-cellulosic-biofuels-and-benefiting-the-environment-november-17-2008-.htm

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proposta diz que a EBI seria dirigido por um diretor selecionado pela BP e o diretor adjunto seria sugerido pela empresa, o que expressa que a BP teria mais influência sobre a alocação de financiamentos e da direção de pesquisas do que quaisquer das instituições públicas. Ademais, cinqüenta pesquisadores da BP comporão a equipe do EBI, ampliando a esfera da ingerência e de controle no cotidiano do fazer científico.

Todas as publicações que saiam da EBI serão submetidas a "revisão da pré-publicação" na qual a BP "será capaz de analisar se as publicações não incluem quaisquer informações confidenciais incluídas inadvertidamente e pertencentes à BP”. O mesmo vale para as patentes. Mais significativamente, a “BP terá em primeiro lugar o direito, exclusivo, de duração limitada, de exercer uma opção pré-definida para a obtenção de uma licença exclusiva” para quaisquer invenções totalmente financiadas pela BP.

Jennifer Washburn, examinando a corrupção corporativa do ensino superior, explica que o negócio com a BP irá ampliar o controle que as empresas privadas exercem sobre as agendas das universidades (Washburn, 2007). Na verdade, como os cientistas Richard Levins e Richard Lewontin salientam no seu livro mais recente, “Biology Under the Influence” (2007), as chamadas parcerias público-privado estão aumentando e em virtude do financiamento, um fator importante na orientação das investigações, estão cada vez mais determinadas pelas necessidades da indústria privada e com o apoio dos governos. Essas "parcerias" são ideologicamente aceitas e promovidas, como foram os primeiros fechamentos dos campos na Inglaterra e os esquemas de privatização contemporâneos, como evolução natural e inevitável das instituições da sociedade. Os debates sobre a viabilidade cultural, política, tecnológica de soluções baseadas no mercado para os problemas ambientais e sociais são diretamente influenciados pela forma como a ciência interage com a ideologia dominante para moldar e reforçar decisões que afetam o mundo. O processo aparentemente natural das tendências degradantes de desenvolvimento capitalista deve ser confrontado.

No momento em que a maior parte da sociedade está cada vez mais dominada pelos imperativos de um sistema opressivo da propriedade privada, "o conhecimento e a ignorância são determinados, como em todas as pesquisas científicas, por quem detém a investigação da indústria, que comanda a produção do conhecimento." Na verdade, "há luta de classe nos debates em torno de que tipo de investigação deve ser feita" (Lewontin e Levins, 2007: 319, apud Holleman e Clausen, 2008).

Em um contexto em que em todo planeta os embates sobre a energia, os transgênicos, a oligopolização da produção de alimentos e o futuro da água estão pulsando, mais do que nunca os povos necessitam de suas universidades públicas

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para que o debate possa ter fundamentação científica desinteressada (pois não atrelada aos interesses das corporações). Entretanto, dificilmente os laboratórios beneficiados pelo mega acordo com a BP estarão à frente da denúncia de que os agrocombustíveis não satisfarão as necessidades energéticas dos povos, reduzirão a produção de alimentos e não estarão contribuindo para a melhoria do meio ambiente, inclusive para a redução do aquecimento global.

Historicamente, as universidades públicas cumpriram com limites e contradições, é certo, a função imprescindível de serem espaços críticos das sociedades e da busca realista pela verdade. A critica à política econômica da ditadura empresarial-militar, ao seu modelo educacional, às suas prioridades em termos de C&T etc., por exemplo, não teria tido a profundidade e consistência que teve sem a universidade; a rigor, não existem outras instituições que possam antecipar o que podem ser grandes problemas para os povos e de denunciar problemas provocados por interesses particularistas com a legitimidade, a sistematicidade e a amplitude das universidades. Com a perda da autonomia, que outras vozes poderão questionar os fundamentos técnicos e científicos desse modelo que já acarretam graves problemas para toda humanidade?

O referido contrato da BP com Berkeley e Illinois, distintamente, tem como pressuposto a ofensiva das corporações em direção aos países capitalistas dependentes. Como os EUA não poderão satisfazer suas incessantes demandas de agrocombustível com o plantio interno, está subentendido no contrato que o plantio desses agrocombustíveis será localizado nos países periféricos, por meio de extensas plantações de cana-de-açúcar, de soja etc., ampliando a fronteira agrícola e agropecuária, em detrimento das matas nativas e, não menos significativo, recrudescendo a expropriação de terras camponesas e indígenas. Por isso, o referido mega-projeto de “pesquisa” encabeçado pela BP para alcançar seus objetivos de difundir nos países capitalistas dependentes o agrocombustível, atrelado às corporações do agronegócio, precisa ter bases de apoio nas universidades mais relevantes dos países produtores.

Imediatamente após o acordo com a BP, as universidades de Berkeley e Illinois saíram a campo para se associar às universidades dos países escolhidos para serem o celeiro das plantas que produzirão etanol e diesel vegetal. Como era de se esperar, contudo, não explicitaram que, a rigor, estão representando os interesses das maiores corporações de transgênicos, sementes, agrotóxicos e automobilísticas que, explicitamente, financiam o projeto.

Como assinalado, na última década a presença das grandes corporações mundiais no setor do agrocombustível teve um crescimento extraordinário que, entretanto, ganhou ainda maior presença no governo de Lula da Silva. Em seu primeiro mandato (2003-2007) o Ministro da Agricultura foi Roberto Rodrigues,

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membro da Comissão Interamericana do Etanol por ele coordenada juntamente com o governador da Flórida, Jeb Bush e com Luis Moreno, atualmente presidente do BID, uma coordenação que expressa um largo espectro de forças envolvido na concretização da iniciativa.

Segundo um relatório conjunto de 2008 da U.S.-based Oakland Institute e Terra de Direitos do Brasil, "O plano de agroenergia brasileiro (2006-2011) é a mais ambiciosa política pública em Agroenergia do mundo." (Moreno e Mittal, 2008). Desse modo, o convênio da Universidade de Illinois com a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, não foi um fato isolado. Além de ser a mais prestigiosa instituição que produz conhecimento e quadros para a organização do agronegócio no país, não casualmente esta instituição foi escolhida pelo governo Federal para sediar o Pólo Nacional de Biocombustíveis, instituição com fortes conexões com as empresas do setor.

O braço “acadêmico” desse mega-projeto das corporações estruturado pela BP no Brasil, a ESALQ-USP, foi conduzido por intermédio de Harris Lewin, diretor do The Institute for Genomic Biology da UIUC, um centro envolvido no acordo com a BP. Na ESALQ o projeto está estruturado no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Biologia Celular e Molecular na Agropecuária e Ambiente (Biocema)11.

A divulgação desse mega acordo com a universidade de Illinois-ACES, firmado em 24 de julho de 2007, no boletim da Assessoria de Comunicação da ESALQ-USP omite o fato de que o projeto “desinteressado” de Illinois é parte do mega projeto das corporações organizado pela BP e que tem suscitado forte polêmica nos EUA. Meses antes, em julho, o referido boletim informou a existência de um convênio de cooperação internacional que levaria a criação de uma representação “dentro do campus da ESALQ” da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (UIUC), através do College of Agricultural, Consumer and Environmental Sciences (ACES), mas, igualmente, não há qualquer menção ao fato de que o UIUC/ACES é parte do mega projeto liderado pela BP.

As conexões entre as corporações lideradas pela BP, as universidades estadunidenses, e de uma destas com uma prestigiosa instituição brasileira, ao mesmo tempo em que a corporação amplia sua presença mundial e local no setor do agrocombustível, colocam em questão a função social das universidades e a ética na produção do conhecimento. Não se trata de fazer um juízo moral sobre os pesquisadores envolvidos, nem, tampouco, criticar a instituição brasileira, mais ampla do que o grupo comprometido com os objetivos da UIUC/ACES. Entretanto, é sumanente grave que um projeto de forte propósito imperialista – parte de uma iniciativa planetária para controle do mercado de agrocombustível,

11 Ver http://www.esalq.usp.br/destaques.php?id=245&ano=2007 (14/12/07).

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sementes e cultivares transgênicos, defensivos agrícolas, abertamente liderado por uma coalizão de corporações – seja apresentado ao público como um programa de colaboração acadêmica, destituído de interesses materiais e geopolíticos, como se não colocasse em risco a soberania alimentar e o meio ambiente no país. Tal como sublinhado para o caso de Berkeley as implicações acadêmicas são de uma gravidade sem precedentes, comprometendo o que é mais fundamental em uma universidade: sua autonomia acadêmica.

O comprometimento das universidades com dispositivos de poder do capital, em um contexto de aprofundamento do capitalismo dependente, como expresso no IIRSA, reconfigura a função social da universidade e reatualiza o debate realizado nas lutas de Córdoba (1918). Naquela ocasião, os estudantes criticavam o apego da universidade à ordem estabelecida, em especial aos interesses das oligarquias e da Igreja, mas foi a sua ala mais radical – José Ingenieros, Aníbal Ponce, Julio Mella e Mariátegui – que concluiu que uma universidade de fato comprometida com os problemas dos povos somente seria possível com o fim do imperialismo e, por isso associaram as lutas pela reforma universitária as lutas antiimperialistas (Leher, 2008).

Passados noventa anos das lutas de Córdoba, a universidade pública está crescentemente conformada e ajustada ao padrão de acumulação que caracteriza econômica, ambiental e socialmente o brutal imperialismo de hoje. Neste contexto, as palavras dos radicais de Córdoba a respeito do necessário protagonismo anti-sistêmico parecem ter sido proferidas no presente. De fato, as universidades somente têm recuado de acordos espúrios com corporações que provocam devastação ambiental, energética e agravam os problemas sociais quando confrontadas pelos movimentos sociais.

Por ásperos, fragmentados e incipientes que sejam os conflitos entre os movimentos sociais e por mais débeis que sejam os laços dos setores acadêmicos com as lutas sociais, é certo que o futuro da universidade pública latino-americana dependerá, fortemente, do avanço desses nexos virtuosos entre a universidade e as lutas anti-imperialistas e anti-capitalistas. O contexto de crise estrutural pode ter um efeito destrutivo sobre essas expectativas, caso a imagem da crise seja a dos dominantes; alternativamente, caso prevaleça a imagem de que a crise é do capitalismo como um todo e, socialmente, que as lutas tenham organicidade e capacidade organizativa autônoma, novas páginas da história das universidades poderão ser escritas por muito mais mãos, notadamente as mãos calejadas dos que são explorados e expropriados do conhecimento científico, tecnológico, artístico, cultural e histórico-social. Assim estaremos consolidando as melhores utopias dos reformadores radicais de Córdoba no século XXI.

∗ Excerto do texto Universidade pública e negócios privados: um poderoso

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obstáculo para o pensamento crítico apresentado para publicação do GT Universidade e Sociedade do CLACSO, Reunião Anual, UAM, México D.F. (2008/2009) sob a coordenação de Hugo Aboites.

Bibliografia

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Holleman, Hannah e Clausen, Rebecca 2008 “Biofuels, BP-Berkeley, and the New Ecological Imperialism” em http://mrzine.monthlyreview.org/hc160108.html.

Horowitz, Irving L. 1969 Ascensão e queda do projeto Camelot (Rio de Janeiro: Civilização Brasileira).

Leher, Roberto 2007 “Iniciativa para a Integração da Infra-Estrutura Regional da América Latina, Plano de Aceleração do Crescimento e a Questão Ambiental: Desafios Epistêmicos” em Loureiro, Carlos Frederico B. (org) A questão ambiental no pensamento crítico - natureza, trabalho e educação (Rio de Janeiro: Quartet).

Leher, Roberto 2008 “Reforma universitária de Córdoba, noventa anos. Um acontecimento fundacional para a Universidade Latino-americanista”. Aboites, Hugo y Gentili, Pablo y Sader, Emir (comp.) La reforma universitária: desafios y perspectivas noventa años después (Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciências Sociales – CLACSO).

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AS TRANSNACIONAIS NAS UNIVERSIDADES: NOTÍCIAS E DADOS

"Ou os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam do seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que

exploram o povo." Florestan Fernandes

1 - Relação da UFV (Universidade Federal de Viçosa) com as Transnacionais (Sociedade de Investigação Florestal)

Trabalho de Conclusão de Curso do ex-militante da ABEEF Vladimir Filho12.

Em 1974 é fundada a Sociedade de Investigações Florestais - SIF, uma fundação de direito privado que não têm papel de captar quantidade significativa de recursos para as Instituições, e sim aos seus membros (os professores do Departamento do Engenharia Florestal da UFV – DEF-UFV), que se aproveitam do peso institucional da Universidade para auferir ampliações salariais, muitas vezes de forma ilegal. Em grande medida, é através dela que penetra a concepção e se arraiga a lógica privatista dentro desta instituição pública.

Além de quebrar a isonomia salarial, as atividades privadas (cursos pagos, projetos de consultoria e outras) vêm induzindo modificações na graduação e na pós-graduação gratuitas, afetando a grade curricular, o programa das disciplinas e a relação entre docentes e alunos, bem como o objeto das pesquisas, que passou a ser determinado, em larga escala, pelo “mercado”; (ADUSP, 2004, p. 9)

A SIF possui hoje cerca de 70 empresas vinculadas entre “associadas” e “co-participantes”. Dentre elas estão os principais grupos econômicos transnacionais como a Vale, V&M, Arcelor-Mittal, Grupo Votorantim, entre outros e também nacionais. A maioria deles possui ficha corrida quanto a passivos ambientais e trabalhistas (FASE, 2003; 2006; KOOPMANS, 2005; WRM, 2003; 2005).

O Gráfico 1 abaixo representa a participação de cada setor no financiamento das pesquisas registradas pelo DEF. Ele mostra que dos quase doze milhões de reais que foram investidos no período, 83% tem origem de algum órgão público e 17% (cerca de dois milhões de reais) de instituições privadas, o que é bastante significativo. Mas devemos lembrar que o mais pesado é sempre infra-estrutura, pagamento de salários, e todo o investimento na formação até o doutoramento, o que não está contabilizado e são pagos com dinheiro público. Neste mesmo gráfico podemos observar que as empresas privadas apossam-se de 53% da verba pública

12 OGANAUSKAS FILHO, Vladimir. A Racionalidade Privada no Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa. Orientador: Dileno Dustan Lucas de Souza.

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destinada à pesquisas no Departamento, ou seja, ao longo dos últimos oito anos e sete meses, a iniciativa privada abocanhou 251% a mais do que investiu.

Gráfico 1 – Recursos investidos em pesquisa totais por setor (público e privado) e a apropriação deles no DEF-UFV – jan. 2000 – jul. 2008

Diante de tudo isso, são necessárias muitas disputas, embates, disposição e ousadia, como vem demonstrando o movimento estudantil ao realizar o trabalho militante do dia a dia na construção e fortalecimento das suas entidades representativas em todos os níveis, através de diversas assembléias, debates e congressos sobre estas questões, e ações como passeatas, as mais diversas formas de manifestações culturais, ocupação de reitorias, e mais recentemente a ocupação de uma fundação, como foi o caso da SIF em 2007.

Essa luta dos estudantes culminou num manifesto assinado por várias entidades:

• Manifesto:

A universidade pública a serviço dos lucros transnacionais não serve ao povo.

A Universidade Pública tem sido alvo das reformas políticas e sociais do projeto neoliberal. As organizações internacionais detentoras da hegemonia do capital, conforme documentos do Banco Mundial, "sugerem" – leia-se impõem - diretrizes para as políticas de ensino superior no Brasil. A meta é camuflar a

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privatização das universidades através das Parcerias Público-Privadas (PPP), que aparelham e corroem o caráter público da universidade.

A política neoliberal aplicada ao Estado brasileiro diminuiu e cortou diversos investimentos na universidade pública, invibializando o exercício de uma autonomia universitária, precarizando enormemente a assistência estudantil e a qualidade de ensino. As ordens de ampliação desenfreada dos cursos não foram acompanhadas da ampliação dos alojamentos, restaurantes universitários, contratação de professores e servidores, ampliação de bibliotecas e laboratórios. Esta desresponsabilização do ensino pelo Estado enseja uma medida de concessão para que as empresas privadas interfiram no setor e possam gozar de liberdade na definição dos rumos das instituições públicas de ensino, a critério de seus interesses.

Situação exemplar é o caso da Sociedade de Investigações Florestais (SIF) – uma entidade de direito privado marcada pela presença de transnacionais como a Acesita S.A, V&M Florestal e Aracruz Celulose - que sobre consentimento do poder público, manifestado nas ações do Departamento de Engenharia Florestal (DEF) da UFV, detém os recursos materiais e humanos do curso de engenharia florestal, além de vincular todos os conteúdos acadêmicos a hegemonia política e ideológica do Capital.

Uma ocupação da sede da Acesita S.A. em Belo Horizonte (19/01) realizada por diversos estudantes presentes no IV Estágio Interdisciplinar de Vivência do Estado de Minas Gerais*, atingiu o ego desta transnacional, que reagiu em confluência com o DEF na perseguição política dos estudantes. Saindo em defesa das transnacionais, o DEF reprimiu e puniu abertamente a entidade representativa dos estudantes de Engenharia Florestal – Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (ABEEF) – ao deliberar pela expulsão da sala que tinham dentro do Departamento.

Com esse fato, que deixou claro as formas de intervenção das transnacionais na Universidade Pública, o movimento estudantil da UFV, com apoio do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, e da Associação dos Servidores Administrativos de Viçosa ocupou a SIF e a chefia do departamento, apresentando uma pauta de reivindicações, exigindo como pontos principais: retirada da V&M das empresas associadas à SIF (Sociedade de Investigação Florestal) por assassinar um trabalhador camponês em suas terras, inquérito de empresas associadas às fundações na UFV e que a UFV não firme contratos com empresas que tenham passivos ambientais, trabalhistas e sociais, retirada das medidas que caracterizam perseguição política aos estudantes universitários como processo na polícia federal.

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Certamente entendemos esta manifestação como legítima e necessária à soberania nacional da população, por compreender a importância da educação que edifique no estudante um senso de perspectiva histórica, de consciência crítica, um instrumento pedagógico transformador e libertador, elemento preponderante na contribuição à superação das injustiças e desigualdades sociais.

Entidades que assinam essa carta:

DCE – Gestão Voz Ativa ABEEF – Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil CMA – Comissão dos Moradores de Alojamento ITCP – Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares MEH – Movimento de Estudantes de Humanas ALA – Articulação Local de Agroecologia

• Algumas declarações13:

"É um movimento de denúncia, para alertar a comunidade sobre as empresas transnacionais que se beneficiam do conhecimento da universidade para promover seus próprios lucros" Antonio David, na época diretor de Políticas Educacionais da UNE.

Segundo a Diretora de Comunicação do DCE da UFV na época, Vivian Fernandes, “A influência dessas empresas na Universidade está também causando o sucateamento de alguns setores da instituição, impedindo a distribuição de recursos e prejudicando outros setores como a assistência estudantil”.

2 - USP e MONSANTO 14

Recentemente a USP assinou um convênio com a Monsanto e o banco Santander para o financiamento de um projeto de pré-iniciação científica para estudantes da rede estadual de São Paulo. O primeiro contrato entre a universidade e a Monsanto, obtido pela reportagem, submetia a universidade a uma lei estadunidense, garantia à transnacional o direito de supervisionar “o bom andamento” do projeto e exigia sigilo das partes envolvidas. O contrato foi rejeitado no Conselho de Pesquisa. Algumas cláusulas foram alteradas, mas a de sigilo permaneceu.

13 http://www.une.org.br/home3/movimento_estudantil/movimento_estudantil_2007/m_8769.html 14 http://www.eca.usp.br/jc/342_univ_monsanto.asp

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Fonte: Jornal do Campus, edição 342 – 1º quinzena de setembro de 2008.

• Descrição do Projeto15

Nº. do Projeto: 1842. Título: “Pré-Iniciação Científica da USP”. Objetivo: O presente projeto tem como objetivo a realização de atividades visando desenvolver a pré-iniciação científica da USP, através da participação dos alunos e professores de ensino médio da rede pública estadual de São Paulo em atividades científicas desenvolvidas na USP, com a participação efetiva da Pró-Reitoria de Pesquisa. Coordenador: Pedro Primo Bombonato. Unidade/Núcleo: PRP – Pró-Reitoria de Pesquisa. Financiador: Monsanto do Brasil Ltda. Data de Início: 06/08/2008 Data de Término: 05/08/2009 Valor: R$ 220.000,00.

• Algumas declarações16/17:

A professora Lisete Arelaro, da Faculdade de Educação, disse que ficou muito surpresa com a parceria, “porque para se poupar e evitar problemas e críticas, a USP, a princípio, se resguarda e evita parcerias com empresas polêmicas. Não dá para nós, professores, dizermos que não sabemos quem é a Monsanto, nem ignorarmos todas as críticas em relação à empresa, até porque somos pagos pelo povo para sermos bem informados. O que eu estranhei também é uma certa recusa da própria Pró-Reitoria [de Pesquisa] em prestar as informações que ela deveria”

O professor Wilson da Costa Bueno, da ECA, disse que esse tipo de parceria é uma estratégia comum de algumas empresas privadas que querem se aproximar do setor acadêmico, pois, ao ligar seu nome a uma instituição de prestígio, acabam se beneficiando. Ele acredita que muitas limpam seu nome quando se aliam à USP. “Temos o direito de suspeitar quando as coisas não são transparentes”, afirmou.

“Ela atua num campo de atividades econômicas que está no cerne de uma problemática mundial. Há uma vasta bibliografia sobre a forma nefasta, irresponsável, antisocial e antiambiental que a Monsanto atua no mundo. Esse convênio soa como uma derrota de projeto da universidade pública pelo fato dela recorrer financeiramente a uma empresa como essa” Roberto Leher, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que já foi presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e é doutor pela USP.

15 http://www.fusp.org.br/detproj-1.php3?wcodigo=1842 16 http://www.eca.usp.br/jc/342_univ_monsanto.asp 17

http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/nacional/educadores-criticam-convenio-da-usp-com-a-transnacional-monsanto

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3 - ESALQ e Votorantim Celulose e Papel

VCP investe em laboratório18

Com o investimento de R$ 1,2 milhão, patrocinado pela Votorantim Celulose e Papel (VCP), a ESALQ reinaugurou o novo Laboratório de Química, Celulose e Energia (LQCE). Pertencente ao departamento de Ciências Florestais (LCF), o centro de pesquisa é referência nacional em formação de recursos humanos na área de celulose e papel, química da madeira e produtos florestais não-madeireiros, carvão vegetal e energia da biomassa florestal. Os recursos foram utilizados na ampliação e na modernização do laboratório, cujo projeto gerou um acréscimo dos atuais 600 para 1.800 m² de área construída.

Para o professor José Otávio Brito, responsável pelo laboratório, "as novas instalações trarão para a universidade um significativo incremento no campo da pesquisa e formação de recursos humanos, que estimulam a todos os seus integrantes a imaginarem, futuramente, novos desafios nas áreas de graduação e pós-graduação".

Fonte: ESALQ Notícias, Agosto de 2008.

4 - USP e VALE

Dados retirados do Site da FUSP (Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo).

• Projeto: “Formação Acadêmica nas Áreas de Mineração Geologia e Química”.

Descrição do Projeto19:

Nº. do Projeto: 1836. Título: “Formação Acadêmica nas Áreas de Mineração Geologia e Química”. Objetivo: O presente projeto tem como objetivo a realização de atividades visando o desenvolvimento de trabalhos de pesquisa e formação acadêmica nas áreas de mineração, geologia e química, através de bolsas de estudos - programa de bolsas. Coordenador: Colombo Celso Gaeta Tassinari. Unidade/Núcleo: IGc - Instituto de Geociências da USP. Financiador: VALE - Cia Vale do Rio Doce. Data de Início: 05/08/2008 Data de Término: 04/08/2009 Valor: R$ 95.884,80

• Projeto: “Execução, pela USP, da Segunda Fase do Plano de Desenvolvimento Portuário Contemplando 4 Sub-Projetos”.

18 http://www.esalq.usp.br/acom/docs/ESALQNoticias14.pdf 19 http://www.fusp.org.br/detproj-1.php3?wcodigo=1836

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Descrição do Projeto20:

Nº. do Projeto: 1834. Título: “Execução, pela USP, da Segunda Fase do Plano de Desenvolvimento Portuário Contemplando 4 Sub-Projetos”. Objetivo: O presente projeto tem como objetivo a realização de atividades visando o desenvolvimento de trabalhos de atualização do plano diretor de expansões portuárias no que diz respeito aos terminais Praia Mole e terminal de produtos diversos TPD3. Coordenador: Marcos Mendes de Oliveira Pinto. Unidade/Núcleo: EP/PNV - Departamento de Engenharia Naval e Oceânica. Financiador: VALE - Cia Vale do Rio Doce. Data de Início: 10/05/2008 Data de Término: 09/05/2010 Valor: R$ 2.412.000,00

5 - PESQUISAS COM EUCALIPITO TRANSGÊNICOS21

As plantações de eucalipto ocupam, no Brasil, mais de 3,7 milhões de hectares, segundo a Abraf (Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas), e são responsáveis por 70% da exportação de produtos derivados de florestas plantadas, que somou US$ 6,1 bilhões em 2007. Mesmo com este ótimo desempenho, os especialistas dizem que é possível ir além.

De acordo com Cesar Augusto dos Reis, diretor-executivo da Abraf, “as florestas de eucalipto estão em franca expansão, tendo em vista as novas unidades industriais em construção nas áreas de celulose e papel, siderurgia a carvão vegetal e indústrias de painéis de madeira reconstituída, todas consumidoras de eucalipto”.

“O Brasil deu um salto grande quando começou a realizar clonagem de eucalipto, pois conseguiu plantas e florestas uniformes, gerando mais produtividade”, explica Luciana Di Ciero, engenheira agrônoma, Mestre em Agronomia e Doutora em Ciências. “Mas o melhoramento genético, depois de atingir um patamar de excelência, estacionou e agora acreditamos que a biotecnologia será o diferencial para a continuidade do avanço agronômico desta cultura”, completa.

Segundo Cesar Augusto dos Reis, da Abraf, muitas ONG’s e movimentos sociais impõem resistência ao eucalipto e o excesso de burocracia no licenciamento, colheita e transporte da madeira para as pesquisas com variedades transgênicas podem atrasar o processo.

O “aspecto positivo”, para o executivo, é que há centros de excelência em pesquisa e desenvolvimento de produtividade de eucalipto, como a SIF (Sociedade de Investigações Florestais)/UFV (Universidade Federal de Viçosa), IPEF

20 http://www.fusp.org.br/detproj-1.php3?wcodigo=1834 21 http://www.cib.org.br/midia.php?ID=37195&data=20080919

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(Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais)/ESALQ (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP), Fupef (Fundação de Pesquisas Florestais), Cepef (Centro de Pesquisas Florestais) e Universidade Federal de Lavras (UFL). Grande parte dos estudos é promovida pelas próprias empresas envolvidas neste ramo.

6 - Parceria UFRGS - Aracruz é suspensa22

No dia 8 de março, mulheres da Via Campesina e estudantes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul conseguiram a suspensão de um protocolo de cooperação entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Aracruz Celulose. Em audiência com o reitor da UFRGS, José Carlos Hennemann, e o vice-reitor, Pedro Fonseca, foi manifestada a preocupação com o aumento dos desertos verdes no Rio Grande do Sul.

As integrantes da Via Campesina e os estudantes alertaram que a expansão da monocultura do eucalipto já estaria provocando nefastas conseqüências no estado, como intensificação da concentração de terras, aumento das secas, elevação das temperaturas e destruição do Bioma Pampa, que só existe nas terras gaúchas. E questionaram a natureza e os objetivos de um acordo com a empresa de celulose.

Os manifestantes defenderam que estabelecer uma parceria com a Aracruz significa concordar com a destruição ambiental e social provocada pelas multinacionais do eucalipto. Os estudantes também lembraram “as práticas de violações aos direitos humanos que marcam a trajetória da Aracruz Celulose em todos os estados, em especial contra indígenas e quilombolas no Espírito Santo”.

O reitor e o vice da UFRGS se comprometeram em suspender o protocolo com a Aracruz que seria votado na próxima reunião no Conselho da Universidade. “A UFRGS tem uma história de defesa do meio ambiente, tem cursos e pesquisas voltadas para a ecologia. Inclusive nos jornais da universidade têm sido publicadas matérias sobre os eucaliptos no estado. Creio que precisamos aprofundar o debate deste tema na comunidade universitária. Por isso o processo está suspenso. Não vamos assinar nenhum protocolo ou convênio para pesquisas que sejam prejudiciais a sociedade”, disse Hennemann.

A jornada de luta das mulheres da Via Campesina no Estado foi encerrada com o lançamento, de uma campanha em defesa da produção de alimentos saudáveis. “O agronegócio gera os desertos verdes, a agricultura camponesa produz alimentos, cultiva a vida. Queremos que a universidade forme profissionais para trabalhar para a vida não para o projeto de morte das transnacionais”, defende a Via Campesina.

22 http://www.adur-rj.org.br/5com/pop-up/universidades_acao_celulose.htm

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No Rio Grande do Sul, advertiu a organização, as universidades têm sido um alvo preferencial das empresas de celulose com o objetivo de obter aval científico para seus projetos. Em Santa Maria, a Via Campesina também conversou com a reitoria da UFSM, mas não obteve a mesma receptividade que encontrou na UFRGS. O reitor da universidade defendeu os convênios com a Aracruz e a Votorantim, alegando que as universidades públicas estão sem recursos e as parcerias com empresas têm dado condições de manter as pesquisas. As empresas apostam justamente nesta escassez de recursos para aumentar sua influência entre os pesquisadores, professores e alunos das instituições.

Fonte: Ag. Carta Maior, Marco Aurélio Weissheimer, Porto Alegre, 13/3/2007

7 - Estudantes são perseguidos/as na Universidade Rural do Rio de Janeiro 23

Após realizarem uma manifestação pacífica durante a realização da palestra do Programa de Seleção de Trainees da Syngenta, empresa Suíça notoriamente conhecida por contratar milicianos armados para assassinar camponeses24 e desrespeitar normas ambientais25, estudantes de diversos cursos e grupos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro estão sofrendo ameaças e perseguições de um grupo de alunos e professores.

A palestra da Syngenta foi organizada pelo professor do Departamento de Fitopatologia Luiz Antônio Siqueira de Azevedo, que em carta aberta publicada no jornal semanal da UFRRJ reafirma o “compromisso de inserir os agronomandos no mercado competitivo do agrobusiness”, parte de um “grande” projeto seu para a Universidade Rural.

A perseguição explícita dos milicianos universitários da Syngenta, que consiste desde ofensas diretas à bombas jogadas nos alojamentos dos estudantes durante a madrugada, ganhou força com as declarações do professor João Pedro Pimentel, também do Departamento de Fitopatologia, que durante uma aula ministrada na Rural defendeu abertamente a ameaça e perseguição aos estudantes.

23 http://passapalavra.info/?p=1770 24 Em 21 de outubro de 2007, o trabalhador rural e também integrante do MST Valmir Mota de Oliveira, o “Keno”, foi assassinado por pistoleiros contratados pela Syngenta no assentamento Terra Livre, no Paraná. 25 Em 2006 a transnacional cultivava experimentos de sementes transgênicas dentro da zona de amortecimento do Parque Nacional do Iguaçu, o que era proibido pela lei de biossegurança e produzia poluentes que agrediam a biodiversidade do parque. Multada pelo IBAMA, nunca pagou a dívida. Todas essas denúncias estão no Relatório feito pelo MST, CPT e Terra de Direitos, entregue à Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, em audiência pública realizada no Paraná, na quinta-feira, dia 18 de outubro de 2007.

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A manifestação contra a atuação desta multinacional foi organizada pelos membros do GAE (Grupo de Agricultura Ecológica), GETERRA (Grupo de Estudo e Trabalho em Ensino e Reforma Agrária) e da FEAB (Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil).

Segue um trecho de entrevista realizada pelo Informativo Autonomia com um dos estudantes que, por razões óbvias, prefere não se identificar:

Informativo Autonomia (IA): Qual era o motivo e como foi feita a manifestação durante a palestra da Syngenta?

X.: O Ato questionava a ação de um professor da Fitopatologia que, com o apoio do Decanato de Extensão, promoveu uma palestra na Rural para a seleção de trainees para a Syngenta. Pela tarde fomos para o Prédio Principal da Universidade, onde estava acontecendo a palestra, com faixas, cartazes, som e uma banca com sementes crioulas. Conseguimos colar os cartazes por todo o P1, entre eles o cartaz em solidariedade ao companheiro Keno do MST, que fora assassinado por capangas contratados pela Syngenta em outubro de 2007. Colocamos nossas faixas e a barraca de sementes crioulas no saguão de entrada do P1, fizemos uma marcha por todos os andares do prédio, puxando gritos como “transgênico é veneno, Syngenta é assassina” e fazendo falas colocando o nosso posicionamento a respeito das multinacionais do agronegócio e sua entrada nas Universidades. Nosso objetivo não era boicotar a palestra, mas apresentar os motivos de nossa insatisfação para os participantes da palestra, para a administração superior e para a comunidade que transitava pelo P1. No final da mobilização, quando as pessoas estavam saindo da palestra, fizemos um grande panelaço e praticamente expulsamos o professor e o assessor da Syngenta do prédio. Todas as ações foram filmadas para posterior divulgação.

IA: E quando começaram as perseguições?

X.: No mesmo dia, durante a noite, os estudantes que tinham participado do ato já eram insultados e ameaçados verbalmente quando passavam pelos corredores dos alojamentos, por anônimos. Na semana seguinte, foram afixados cartazes na porta dos quartos onde residem alguns dos participantes, com os dizeres “Morte aos haribols [hippies]!”. Também encontramos cartazes com os dizeres “Está aberta a temporada de caça aos haribols”.

Quase todas as noites bombas explodiam nos corredores e próximo às janelas das residências dos participantes. Foram jogados também lixo e lama nas portas das residências desses estudantes. Durante as aulas, a situação é de total constrangimento, com direito a cochichos e olhares ameaçadores e repreensivos por parte dos próprios estudantes. Essa situação continuou até o fim do período, em

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dezembro.

IA: É verdade que há alguns professores envolvidos nesse processo de intimidação contra os que participaram da manifestação?

X.: Sim. Após o ato, diversos/as professores/as utilizaram o tempo de suas aulas para proclamar suas opiniões pessoais sobre os estudantes rebeldes e os grupos organizados. Após brindar os estudantes de agronomia com a pérola “Quanto mais praga, melhor para nossa profissão!”, o professor Luiz Antônio “Luizão”26, em sua aula de Fitopatologia Geral proferiu as sentenças “Esses agroecológicos vão tudo morrer de fome!” e “ Eu não falo com quem não toma banho!”, demonstrando preconceito, ignorância e intolerância às diferenças. Alguns participantes do ato estão matriculados em sua disciplina e após terem sido identificados por este distinto cavalheiro, estão sendo sistematicamente ignorados pelo professor. Suas dúvidas não são respondidas, ou são respondidas com chacotas como “não sei”, “me recuso a te responder isso” e “alguém ouviu algum barulho?”.

Outro professor, João Pimentel, se referindo ao momento do ato, disse que “Se fosse eu mandava os estudantes (na plenária) saírem e dar na cara deles (manifestantes)”, claramente incitando a violência dentro da sala de aula, ao invés de lecionar.

Esses são apenas alguns dos casos relatados. A situação infelizmente está nesse nível

"Um dos grandes deveres da Universidade é implantar suas práticas profissionais ao seio do povo."

Che Guevara

26 O professor Luis Antônio Siqueira de Azevedo graduou-se em Agronomia na UFRuralRJ em 1977, especializou-se em defensivos agrícolas em 1980 e fez doutorado em fungicidas da soja em 2005. Autor de diversos livros sobre fungicidas, trabalhou pesquisando e desenvolvendo fungicidas por 12 anos na Syngenta e por 2 anos na Bayer. Mais informações em http://lattes.cnpq.br/6306189935902283. Cuidado para não se intoxicar…

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AGRONEGÓCIOS, QUEM TE PARIU? "As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante"

Karl Marx e Friedrich Engels

Sebastião Pinheiro27

Um promotor público manda fechar as escolas itinerantes do MST. Há crianças fora da escola no RS? Sim, muitas. Há insegurança nas ruas, bairros, cidades no RS? Sim, muita. Há febre amarela no RS? Há corrupção?... Por quê ele não manda acabar?

“Fiat Lux” é a ordem suprema de religiosos (e ficcionistas), onde o início é a “luz” e assim se educa, vive e crê. Outra fé ou discernir leva as consciências para o limbo. No centro o verbo monista oculta, manipula e corrompe qualquer ação, cria neologismos atendendo interesses e poder (ideologia e dogma), disfarces de totalitarismo, pois antes de haver luz é necessária energia, tempo e espaço.

A grande maioria aprende a crer e repetir que “Sustentabilidade”, “Agrobusiness” e “Solidariedade” são luzes recentes, surgidas durante a Rodada Uruguai (1986-1994), do GATT28. E isto é ensinado, alardeado e adotado após a “queda do muro” impondo a Nova Ordem Internacional, onde o liberalismo econômico subordina a agricultura (e economia) aos interesses bancários e corporativos (ver Acordo Multilateral de Inversões).

Para evitar que a maior escuridão interna seja posterior à alvorada externa, a meditação é a memória energia da luz, que permite entender:

- “Sustentabilidade” é muito anterior ao período Edo de 250 anos (1607 – 1867) da história japonesa, Eisuke Ishikawa.

- “Agribusiness” idem à Companhia das Índias Ocidentais e Orientais, mas nasceu academicamente com Liebig em 1840 e foi organizada sua implantação no início do Século XX com a aplicação da Lei Anti-Truste29 contra John Davisson Rockefeller Jr. pelo Congresso dos Estados Unidos da América e não é o nome da agricultura no Século XXI. 27 Engenheiro agrônomo e florestal, funcionário do Departamento de Educação e Desenvolvimento Social da UFRGS; ambientalista da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN). 28 A Rodada do Uruguai foi iniciada em setembro de 1986 e durou até abril de 1994. Baseada no encontro ministerial de Genebra do GATT (1982), foi lançada em Punta del Este, no Uruguai, seguido por negociações em Montreal, Genebra, Bruxelas, Washington e Tóquio. A rodada transformou o Acordo Geral de Tarifas e Comércio (conhecido como GATT) na Organização Mundial do Comércio (OMC). 29 Conjunto de leis promulgadas nos EUA (Estados Unidos da América) para restringir a ação monopolista de certas grandes empresas.

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- “Solidariedade” nasceu muito antes da construção de Ur ou Babilônia, quando alguém se preocupou com seu semelhante de fora de sua comunidade; consolidado por Buda, Cristo ou modernamente por Gandhi e milhões de milhões de anônimos, porém virtuosos. Agora, somos iludidos que esta virtude é “luz” desde Gdańsk30 por ação papal. Transformada em oportunidade mercantil de terceiro setor, com o mesmo estilo e resultado dos “chás beneficentes das vovós”: Dignidade através de publicidade e mercado.

Os três neologismos acima são encontrados nas entrelinhas do livro “O Complexo Agroindustrial Brasileiro: Agribusiness”, do presidente da “Agroceres”, Ney Bittencourt de Araújo, (requiescant in limbo), presidente da Associação Brasileira de Agribusiness, publicado à época. Foi a “luz” da nova ordem do Banco Mundial à escuridão do modelo anterior sem origem, energia, espaço ou tempo para reflexão na periferia.

Na alvorada, o que foi a Agroceres? Uma empresa de tecnologia genética, criada por professores da Escola de Agronomia e Veterinária de Viçosa (Minas Gerais) com sementes de milho seqüestradas dos agricultores, por ordem da American International Association, do Rockefeller Brothers Fund e Fundação Rockefeller31, proprietária da mesma e fonte ideológica do ensino, pesquisa e extensão para o saber rural desde que com valor mercantil.

No obituário da Columbia College Today32 está escrito (16 de março de 2009): John "Jack" Ware, é engenheiro químico aposentado pela Westport, Connecticut, em 9 de agosto de 2005. Ware foi gerente do Columbia's Club e jogador do time All-American de pólo aquático. Ele recebeu o título de mestre de mar em 1927 e foi selecionado para Tau Beta Pi, engenheiro acadêmico honorário. Ware foi um engenheiro e químico, culminando - com um resultado de dois dos seus E.U. patentes - no Ware Chemical Corp, finalmente adquirida pela Kraft-Dart. Ele foi reconhecido pelo embaixador americano e outros. A sua contribuição para a agricultura brasileira foi como co-fundador da empresa pública, então, Agroceres, pro bono financiados pela Fundação Rockefeller e General Mills.

As teses acadêmicas sobre agroecologia e extensão rural registram com erudição servil citas de Bobbio, Gramsci, mas omitem o que foi feito. Agora, a denuncia acadêmica se satisfaz com trazer o relato do ocorrido como se fosse “luz”

30 É uma cidade da Polônia, e foi em Gdańsk, no Estaleiro Naval de Lenine, que nasceu em 1980 o único sindicato independente da antiga Europa de Leste socialista, o Solidariedade. 31 A Fundação Rockefeller (Rockefeller Foundation) é uma entidade sediada em Nova Iorque, EUA. Foi fundada pelos milionários John Rockefeller e Frederick Gates para, em suas palavras, "promover o bem-estar da humanidade ao redor do mundo". 32 http://www.college.columbia.edu/cct_archive/jan06/obituaries.php

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nova. Não percebem que continuam induzidos, manipulados preparando o novo negócio na agricultura.

Para entender agribusiness é necessário enfocar: O Brasil desenvolveu-se de forma similar às colônias manufatureiras, disponível e subordinado ao ultramar por sua natureza e riquezas minerais. Sua estrutura socioeconômica, mesmo depois da independência continuou patrimonialista, manipulada e induzida pela escala de valores do poder mercantil de além-mar.

Dia a dia isto se aperfeiçoou através de educação, ciência, tecnologia e cultura subordinadas, além de fatores de impacto psicossocial embutidos em propaganda, políticas públicas e alienação cívica. É impossível entender o que é agribusiness sem saber quem foi e o que fez John Greefing, da American Internacional Association, professor e diretor da Escola de Agronomia de Viçosa, que junto com John Jack Ware criaram a Agroceres e como o Rockefeller Brothers Fund se apropriou das estruturas de ciência, tecnologia, ensino, pesquisas tanto na agricultura como na saúde de quase todos os países do mundo para construção de seu modelo de eugenia totalitária, truncando o valor do esporte (Jogos Olímpicos da Era moderna).

Medidas de “inteligência” (manipulação e indução psicossocial) manejadas em uníssono por transnacionais, bancos e organismos multilaterais não é algo recente.

No planeta, na virada do século XX, tivemos realçado o confronto da urbanização entre campo e cidade que tanto interessava à oligarquia e indústria cumprindo dogmas e liturgias de eugenia para a construção do Estado Mundial.

Entre nós isto pode ser visto superficialmente com os estereótipos do “Jeca Tatu”, “caipiras”, “matutos”, “botocudos”, “tabaréus”, “colonos” antíteses criadas para ridicularizar a ignorância, atraso, miséria, pobreza e, principalmente, o arraigo à escuridão (valores antigos), de forma que ficassem submersos na onda do modernismo totalitário.

Para mudar totalmente o campo, os “insumos” foram apresentados pelo ensino, pesquisa e extensão como um instrumento, tecnológico, científico, político, social, econômico, cultural e revolucionário. Coube aos meios de informação e comunicação manipular e induzir seu monismo selecionando os públicos conforme o interesse do mercado sem preocupação com os riscos, perigos ou impactos culturais, econômicos sociais e ambientais advindos de seus usos.

Este “estudo” esbarra na situação de não poder usar o passado como referencial (ou marco teórico) para sobrepujar as manipulações, induções e outras carências da memória e honestidade coletivas. Usa insurgência para seu mister

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rebelde!

A dificuldade aumenta quando vemos que a grande maioria da elite tem comportamento dogmático por vaidade, ignorância, corrupção ou crença genuína em seu “know how” (saber fazer, mas sem se importar com o que, e para quem o faz).

Para ultrapassar estas dificuldades vamos tomar o exemplo das formigas, fora do contexto da fábula de Esopo (La Fontaine), e seu combate com formicidas.

No Brasil, os venenos mais antigos e utilizados para matar formigas, no Século XIX e XX foram o bissulfureto de carbono (formicida Tatu), BHC (pó-de-gafanhoto), Aldrin, Dieldrin, Heptacloro, Dodecacloro e Sulfluramida. Por isso, “cachimbar formiga” é nossa herança cultural, que ainda perdura, com a conotação de perda de tempo. Entretanto altissimamente lucrativa para meia-dúzia de empresas.

A quase totalidade dos estudos realizada foi sobre a eficiência do controle com estes produtos, mas em abril de 2001 foi lançado o livro: Relaciones Químicas entre organismos: Aspectos Básicos y Perspectivas de su Aplicación, coordenados por Ana Luisa Anaya, Francisco Javier Espinosa-García e Rocío Cruz Ortega, da Editora Plaza y Valdez Editores, que aborda a herbivoria33, onde se concluiu que formigas saúvas (e também outras pragas) atacam uma plantação ou vegetação por que detectam desequilíbrios metabólicos nas mesmas e sua função biológica é atuar como agentes evolutivos para manter a harmonia entre os seres impedindo que o ser desequilibrado perca energia, pois depois de atacadas pelas saúvas, as plantas recuperam-se e em pouco tempo equiparam-se as não-atacadas. ("Todos los seres vivos producen compuestos químicos diversos que, al se liberar al medio ambiente, afectan de manera significativa la biología de otros organismos y determinan la existencia de interacciones químicas en ellos. En esta dinámica compleja, la ecología química encuentra su nicho particular dentro de la ciencia.

É impactante o utilitarismo e manipulação industrial nas denominações Agroecologia; "Defesas Químicas", "Teoria das Apariencias", "Teoria de Defesa Óptima" e "Herbivoria".

De nada adiantaram os milhões de toneladas de formicidas e agrotóxicos utilizados nos últimos 150 anos em direção e sentido errado, combatendo as formigas, quando o correto seria fazer o inverso, contudo a ciência, tecnologia,

33 A herbivoria é um tipo de relação, onde animais herbívoros se alimentam de tecidos vegetais vivos. Esse processo é fundamental em praticamente todos os ecossistemas da Terra, sendo uma das mais importantes relações na natureza. A energia luminosa capturada pelas plantas é convertida em energia química pela fotossíntese é passada para os níveis tróficos seguinte através dos herbívoros.

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governo, economia e corrupção se nutriram desta situação, muito bem manipulado pelo poder quando a intelectualidade modernista lançou o adágio metafórico: “Ou o Brasil acaba com a formiga ou a formiga acaba com o Brasil”.

A concentração de formigas no Brasil chega a oito milhões de indivíduos por hectare, mas entre 1920 e 1980 a quase totalidade de bolsas de estudos expedidas no mundo eram estimular o mercado de agrotóxicos, fertilizantes, máquinas agrícolas, monocultivos, sistemas de concentração da terra e correlatos. É por isso que as teses acadêmicas dão a agroecologia e extensão rural como fato consumado?

Nos últimos cinqüenta anos, a indústria química gastou milhões de dólares para ocultar a luz (ciência) de Francis Chaboussou (Trofobiose34), uma forma anterior a herbivoria, combatida, pois deixava de controlar o inseto e passava a eliminar as condições que o faziam atacar às plantas (eliminar as causas e não corrigir efeitos).

Hoje, contudo as mesmas empresas investem aceleradamente em herbivoria para comprovar o comprovado. É que as empresas, agora às voltas com a biotecnologia caçam genes reguladores do metabolismo secundário das plantas para suas novas criações e serviços, na forma de sementes patenteadas, insumos da biotecnologia.

O triste é que, a partir da publicação do livro sobre herbivoria os cientistas, professores e técnicos especializados transformam-se em inúteis. A vaidade e submissão impedem que o sistema fique desnudo através da manipulação, indução e propaganda. Não se preocupem, a partir de 1980, as quase totalidades das bolsas de estudos expedidas no mundo são para a nova matriz tecnológica da biotecnologia e seus correlatos e os anteriores já estão descartados, pois na periferia não se acumula saber e assim é medido o crescimento cientifico e tecnológico.

34 A teoria da trofobiose, desenvolvida por Francis Chaboussou apesar de ser conhecida desde a década 60, é raramente ensinada e discutida nas faculdades e órgãos de pesquisa agronômica, pois evidencia os aspectos negativos dos adubos minerais altamente solúveis e agrotóxicos ao metabolismo vegetal. Dentro dos parâmetros da metodologia científica, este autor interpreta o ataque de insetos e a presença de moléstias como um desequilíbrio nutricional causado por estresse hídrico, agrotóxicos, excesso de adubação ou condições climáticas inadequadas que impedem a síntese de proteínas (proteosíntese). Estes fatores acarretam, no tecido vegetal, o acúmulo de açúcares e aminoácidos solúveis que consequentemente não são transformados em carboidratos e proteínas (proteólise). Crescendo em condições nutricionais equilibradas, as plantas desenvolvem uma imunidade adquirida a insetos e microorganismos.

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Isto fica evidente quando, recentemente foi descoberta a “terra preta dos índios” na Amazônia. Especula-se que em função das saúvas (e pragas) os nativos a tenham desenvolvido um solo agrícola de altíssima qualidade para não necessitar preocupar-se em combater as referidas “pragas”. O dramático é quem descobriu a “terra preta” foram antropólogos estrangeiros (Cornell University) e não os edafólogos nacionais, o que comprova nosso enfoque e permite voltar ao início.

Os ciclos econômicos nacionais cana-de-açúcar, café, algodão, soja, laranja atraíram interesses industriais e financeiros que modernizaram a agricultura brasileira em sua forma de Ensino, Pesquisa e Extensão.

Entender este “três em um” criado, para de forma sistemática e estrutural atender o reino, depois o mercantilismo europeu, e por último sistematizado pelo poder industrial norte-americano através da petroquímica ancorada em indústria sanitário-farmacêutica e agrícola. Nela os agrotóxicos e fertilizantes são pontas de lança de uma reestruturação de toda a sociedade transformando-se nos principais segmentos de investimento.

Contrariar o fluxo de interesses sempre foi arriscado.

Napoleão desafiou o império estabelecido. Ingratos e vassalos veneram a “chegada do Vice-Rei” e “Abertura dos Portos”, pela possibilidade de vender açúcar de cana-de-açúcar que o Império comercializava como droga e não ensinar a refletir que a alternativa napoleônica desenvolveu o açúcar de beterraba, transformando, desde então, aquela monocultura tropical em excrescência escravista (Cuba, México, Haiti, EUA, Brasil e Índia), hoje “bóia-fria” (assalariado rural migrante). Sim, nos somos medíocres não sabemos economia e o açúcar de beterraba é a maior comodidade industrial dos séculos XIX, XX e XXI.

Napoleão também necessitava de nitrato para a fabricação de pólvora para seus canhões, granadas e fuzis, mas desconhecemos que ele não tinha acesso às minas de Salitre no Chile, Bengala ou Rússia, bloqueadas pelo Império Britânico. Seus canhões, que não eram poucos, funcionavam com pólvora obtida de fermentação de esterco bovino usado como matéria-prima para alimentar e multiplicar micróbios em 1790 no final do Século XVIII. Como papagaios, bem tropicais e coloridos repetidos que o futuro são as biotecnologias e os bio-combustíveis com a mesma mentalidade escravista da época da chegada do Vice-Rei.

O importante permanece em nosso inconsciente como naquela época. Depois do leite materno todos os seres vivos necessitam comer alimentos e que estes somente podem ser produzidos através de carbono polimerizado pelo Sol direta ou indiretamente e que esta é a tarefa mais estratégica para a sobrevivência da humanidade, contudo o neoconceito de fome da FAO/ONU/BM e suas políticas

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pariram o agrobusiness, quando o trinômio se transformou em OMC.

A melhor forma de perceber a falsa “fome” é “ver” os amplos e crescentes espaços nos supermercados com comida para animais de estimação. Se isto não é suficiente, vejamos o caso da água.

A água vendida pode causar contrariedade temporal ou ideológica, mas saber que toda a água do mundo é comercializada por apenas duas empresas deixa de ser um absurdo absoluto e nos permite entender o que é fome no sentido de não ter o que comer (inedia em latim ou starvation no inglês antigo), diferente de não ter dinheiro para comprar o que comer (fome ou hunger), ambos, bem usado pela estrutura da Rockefeller University y adotada pelos organismos multilaterais e imposta pelo Banco Mundial aos governos periféricos. Isso foi e ainda é escondido pela propaganda e interesses mercantis, sendo necessário saber de onde surge isto para entender esta etapa onde a agricultura se transforma em agronegócios.

Os estudantes da Via Campesina me pedem um artigo. Reluto, pois na década de 60, mais de 75% de todos os trabalhos apresentados no CBICCA35 eram sobre insumos (venenos e alabação de transnacionais), na década de 90, mais de 85% dos mesmos são sobre biotecnologia e idem. O que mudou? Nada. E os milhares de estudantes que se transformaram em profissionais, na área dos agrotóxicos, por exemplo, está pior que antes. Bem na próxima década de 20, mais de 98% dos trabalhos do CBICCA serão sobre agroecologia e idem. E o que mudará? Nada. Disse o prêmio Nobel argentino36 na aula magna da UFPR: “A universidade brasileira é perfeita, seu profissional eclético trabalha sob qualquer regime, ideologia ou condição, mas infelizmente ele não é capaz de mudar a sua sociedade”. Insurgência continuará meu grito solitário!

“Aos que degradam a democracia, fazendo da juventude apenas eleitores, e se

apegam ao princípio da Ordem de Direito. Aos que pensam fabricar o futuro deste jeito, enquanto se divertem nos escombros da paciência, saberão pela desobediência, o que é

da história ser sujeito.” Ademar Bogo

35 Congresso Brasileiro de Iniciação Científica das Ciências Agrárias, congresso esse era promovido pelas três executivas da área de ciências agrárias: FEAB (Agronomia), ABEEF (Engenharia Florestal) e ENEV (Veterinária). E tinha como objetivo de discutir e divulgar as pesquisas por eles realizadas. Com o passar dos anos sua eficácia foi diminuindo, tornando-se um encontrão de estudantes com painéis, busca por certificados e outros espaços de discussão esvaziados. As executivas reunidas em Santa Maria (RS), resolveram extinguir o CBICCA. 36 Adolfo Pérez Esquível, ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1980.

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Transnacionais e a Agricultura Brasileira

Adaptado da Cartilha “O Problema dos Alimentos: A Agricultura Camponesa é a Solução!” Via Campesina Brasil – 1ª edição, outubro de 2008.

“Enquanto houver a fome e a miséria atingindo a classe trabalhadora, tem que haver luta dos camponeses, dos operários, das mulheres, dos estudantes e de todos

aqueles que são oprimidos e explorados. Não pode parar" Elizabeth Teixeira

Hoje existe um avanço do capital internacional na agricultura brasileira, através das grades empresas transnacionais, que vêm ao Brasil e demais países da América Latina e da África em busca principalmente de matérias primas agrícolas, minerais e energética; no intuito de dominar as terras, os alimentos, a água, a energia, os minérios e a biodiversidade (especialmente as sementes).

Estas empresas dominam e monopolizam toda a cadeia de produção de alimentos, desde a produção de sementes, passando pelos fertilizantes até a comercialização e distribuição dos alimentos. Porém, não se limitam a área de produção. Para aumentar seus lucros especulam e apostam o alimento (para eles commodities) do povo nas Bolsas de Contratos de Futuro dos Cereais e de Outros Alimentos. Assim o alimento vira um negócio lucrativo sem nenhuma preocupação com a alimentação das populações. As Empresas produzem o quê e para quem der mais lucro.

• Principais Empresas do agronegócio que atuam no Brasil e suas Vendas em 2007

Grupos Número de empregados

Origem do Capital

Vendas (valor em R$ milhões)

Cargill 5.570 EUA 14.656,00 Bunge Alimentos 5.337 Holanda 14.384,80

Souza Cruz 7.236 Inglaterra 10.385,70

Unilever 12.000 Inglaterra /

Holanda 10.199,50

Sadia 53.247 Brasil 9.592,70 Perdigão

Agroindustrial 37.247 Brasil 6.799,80

Nestlé NI Suíça 6.613,90

Bunge Fertilizantes 3.264 Alemanha 4.949,20

Basf 3.149 Alemanha 4.949,20 Copersucar 173 Brasil 4.713,90

JBS 44.700 Brasil 4.668,70 ADM NI EUA 4.605,80

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LDC Brasil 1.759 França 4.423,90 Bracol Holding 31.369 Brasil 4.123,70

Suzano 3.546 Brasil 3.984,70 Kraft Foods 8.748 EUA 3.826,30

Klabin 7.137 Brasil 3.528,40 Coamo 4.172 Brasil 3.494,80 Bayer 2.958 Alemanha 3.236,80

DuPont 2.470 EUA 3.014,60 CNH NI Itália 2.831,60 VCP 2.742 Brasil 2.736,00

Marfrig 11.820 Brasil 2.702,40 Syngenta 868 Suíça 2.691,00 Aracruz 2.281 Brasil 2.641,20

Elma Chips NI EUA 2.544,60 Eleva NI Brasil 2.515,20

Heringer 2.312 Brasil 2.424,10 Seara NI EUA 2.364,50

Aurora 11.343 Brasil 2.347,50 Yara Brasil Fertilizantes

1.126 Noruega 2.315,10

Duratex 5.782 Brasil 2.250,10 Caterpillar 5.121 EUA 2.235,00

Sotreg 2.792 Brasil 2.178,30 Mosaic 873 EUA 2.089,90

International Paper 1.976 EUA 2.046,20

Amaggi 751 Brasil 2.020,90 Monsanto NI EUA 1.913,70

Itambé 2.937 Brasil 1.835,00 AGCO 1.705 EUA 1.789,60

Ultrafértil 1.636 Brasil 1.768,50 Frigorífico Minerva

NI Brasil 1.701,50

Coteminas 14.913 Brasil 1.676,60 Usina da Barra 19.166 Brasil 1.662,80 M. Dias Branco 6.901 Brasil 1.635,00

Doux 8.670 França 1.630,70 Cosan 16.105 Brasil 1.625,10 Garoto NI Suiça 1.553,30

Vicunha NI Brasil 1.503,70 C. Vale 4.418 Brasil 1.479,40

Fonte: Revista EXAME, 2007.

Alguns setores são exemplos deste avanço do Capital Internacional na

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agricultura brasileira, como o setor da cana: açúcar e etanol; Papel e Celulose: Monocultura de Eucalipto e o Complexo da Soja.

• O setor da Cana: Açúcar e Etanol

O Brasil e os EUA produzem 70% do etanol no mundo. Em 2007, no Brasil, cerca de 6,9 milhões de hectares foram plantados, com 320 usinas. A perspectiva para 2013 é de ter uma área plantada de 10,3 milhões de hectares e com 450 a 470 novas usinas. A pretensão brasileira é abastecer 5% do mercado mundial do álcool, para isso é necessário expandir a produção atual de 18,5 bilhões de litros para 110 bilhões/litros, numa área de 28 milhões de hectares.

O custo de produção no Brasil é o menor do mundo, em SP o custo é de 165 dólares por tonelada, já na Europa o custo é de 700 dólares por tonelada. Assim facilitando a exploração das empresas nesse setor.

Depois da enorme devastação que o monocultivo da cana causou na Mata Atlântica, especialmente no Nordeste e no Centro-Sul, se acentuando na época do Proálcool nas décadas de 70 e 80, a produção canavieira avança agora no Cerrado (especialmente Goiás e Mato Grosso), na Amazônia, no Noroeste Paulista, Triângulo Mineiro e Norte do Paraná.

Os grandes grupos do setor são:

� Dreyfus (Grupo Francês) – atua como empresa Coinbra � Tereos (Grupo Francês) – compraram a Açúcar Guarani � Cosan (Família Ometo) � Cargill – adquiriu a CEVASA (maior usina do Brasil)

• O setor do Papel e da Celulose: Monocultivo do Eucalipto

O Brasil possui 5,3 milhões de hectares de florestas plantadas com monoculturas de eucalipto e pinus, destinadas para papel e celulose e à produção de carvão vegetal para a siderurgia. Para esta produção, as empresas necessitam de muita terra, pois 100% da produção do país vem de “áreas reflorestadas”.

As perspectivas da indústria de papel e celulose é de investir cerca de 20 bilhões entre 2007 a 2010, sendo 60% de recursos financiados pelo BNDS; na exportação, projetam passar um faturamento de U$ 2,1 bilhões (2002) para U$ 4,4 bilhões, ampliando a área plantada em mais 2,6 milhões de hectares. Já a área plantada de Eucalipto é passar de 3 milhões de hectares (2006) para 13,8 milhões em 2020.

As empresas transnacionais que controlam esse setor são marcadas pela grande destruição ambiental e social, além das práticas de violação dos direitos humanos,

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em especial contra indígenas e quilombolas.

Os grandes grupos do setor são:

� Aracruz e Votorantim � Stora Enso � Veracel

• O setor do Complexo da Soja

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja, e desde 2003 é o maior exportador do grão, porém, quem controla a maior parte destas exportações são as empresas transnacionais. A safra 2007/2008 foi de 60,05 milhões de toneladas com uma área plantada de 21,3 milhões de hectares. A previsão é alcançar 30 a 40 milhões de hectares em 2020, principalmente pela presença da China como crescente compradora da soja brasileira.

Quatro grandes empresas controlam 66% da soja no Brasil e dominam 60% da exportação de grãos brasileiros. São elas:

� Bunge � ADM � LouisDreyfus � Cargill

• Consequências deste modelo

O modelo agrícola dominado pelas grandes empresas transnacionais em aliança com os fazendeiros capitalistas organiza a produção em grandes extensões de terra e na forma de monocultivo. Essa forma de produzir exige a aplicação de grande quantidade de Agrotóxico, para substituir a mão-de-obra e para garantir o aumento da produtividade de uma só planta para o mercado, trazendo como conseqüência a alta contaminação dos alimentos consumidos pela população, que estão com os índices de envenenamento cada vez maiores.

O uso intensivo de maquinas agrícolas e agrotóxicos, destrói toda a biodiversidade existente no campo deixando apenas o produto de interesse lucrativo. Trazendo como conseqüência a alteração do clima na região, o aumento da intoxicação dos venenos que descem para as águas subterrâneas, que seguem para os rios, e lagos. Portanto, há um processo continuo de destruição do meio ambiente e da qualidade da água. Além do uso intensivo dos fertilizantes químicos, alterando a saúde do solo, destruindo os microorganismos, tornando as terras estéreis que só reage com fertilizantes químicos. Isso a médio prazo poderá trazer consequências enormes, com a “morte do solo”.

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As altas taxas de lucro do mercado internacional do etanol, da soja, do eucalipto, fizeram com que essas lavouras se expandissem para toda fronteira agrícola. Avançando em direção da Amazônia -principalmente- alterando as condições das florestas e do clima em todo país, além de contribuir para expulsão de povos tradicionais de suas terras para dar lugar aos pastos de bois, plantações de soja, a cana de açúcar, etc.; Em muitas regiões do Brasil aumentaram os conflitos sociais em função dos interesses das grandes empresas que querem controlar imensas áreas de terras, que são ocupadas por populações tradicionais, posseiros, ribeirinhos, e também povos indígenas e quilombolas.

Além disso, o controle do comércio agrícola de grãos no Brasil está praticamente e sistematicamente nas mãos das empresas transnacionais, colocando soberania nacional em risco quando não temos o controle dos estoques, do abastecimento e dos preços. Portanto, o país inteiro fica mercê da taxa de lucro das empresas. Gerando assim a concentração e centralização da riqueza nas mãos de poucas empresas; enquanto o povo brasileiro perde o controle dos recursos naturais em nosso país.

• Nossos desafios para mudar o modelo

O que está em disputa são dois modelos de desenvolvimento: um centrado no latifúndio, controlado pelos grandes grupos multinacionais e baseado nas monoculturas dependentes dos insumos químicos e o outro centrado nas pequenas e médias unidades de produção agropecuária, organizando em redes de cooperativas, agroindústrias locais, empresas nacionais, empresas públicas estratégicas e baseadas na diversificação produtiva e em tecnologias orgânicas e agroecológicas.

O atual modelo econômico adotado no Brasil, transforma tudo em mercadoria tendo como objetivo apenas o lucro das grandes empresas, na maioria transnacionais. Para isso, desmata, privatiza, constrói represas, se apropria da terra, das águas, dos minerais, da biodiversidade, da educação, das estradas, da saúde e da cultura. Este modelo representa um verdadeiro perigo à vida do planeta. Gera crises freqüentes, destruindo, envenenando, poluindo e matando cada vez mais. Aumentando a exploração dos trabalhadores, precariza e retira direitos, aumenta o desemprego, aumenta a pobreza e a violência. De forma resumida, este formato é comprovadamente inviável tanto economicamente, quanto sócio-ambientalmente para o POVO; privilegia e concentra riqueza nas mãos dos mais ricos, especialmente os banqueiros e das transnacionais, enquanto aumenta a desigualdade e a pobreza para a maioria.

Com isso, o que precisamos...

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Precisamos de um novo modelo agrícola e hídrico, baseado na agricultura camponesa, na reforma agrária, na distribuição de renda e fixação das pessoas no meio rural. Precisamos impedir a concentração da propriedade da terra, das florestas e da água, e fazer uma ampla distribuição das maiores fazendas, instituindo inclusive o tamanho máximo da propriedade em milha. A agricultura brasileira precisa ser controlada pelos brasileiros. O alimento é questão de soberania popular e nacional do país. Precisamos de alimentos sadios e de agroindústria em cooperativas.

A produção deve ser diversificada, na forma de policultura, respeitando o meio ambiente e usando técnicas de produção da agroecologia. Combatendo o uso de agrotóxicos, que afetam os alimentos. Precisamos preservar nosso meio ambiente, evitando o aquecimento global. Produzir papel apenas para as necessidades brasileiras, e em menor escala. Defendemos desmatamento zero, na Amazônia e demais biomas brasileiros, preservando a riqueza e usando os recursos naturais de forma adequada e em favor do povo que lá vive. Queremos preservar, difundir e multiplicar as sementes nativas e melhoradas, de acordo com nosso clima e biomas, para que todos os agricultores tenham acesso.

Aprovação imediata da lei que determina expropriação de toda fazenda com trabalho escravo. E pesadas multas às fazendas que não respeitam as leis trabalhistas e previdenciárias. E retomada da normativa do INCRA, para regularizar com maior celeridade todas as áreas pertencentes a quilombolas.

A implementação das medidas propostas pela agência nacional de águas (Atlas Nordeste), que prevê obras e investimentos em cada município do semi-árido, e que com menor custo, resolveria o problema de água de todos os camponeses e residentes da região. A água é um bem natural, um direito de todo cidadão. Não pode ser uma mercadoria, e deve ser gerenciada como um bem público, acessível a todos e todas.

Precisamos de um novo modelo energético e de transporte, baseado na soberania energética, em pequena e medias usinas, de hidrelétricas, de óleo vegetal e de álcool, assim como desenvolvimento da energia solar e eólica, em que cada município tivesse as condições de produzir a energia necessária. Revisão das atuais tarifas de energia elétrica, garantindo tarifa social a todos os trabalhadores.

A produção camponesa sustentável é imprescindível para alimentar o mundo. Queremos e podemos construir um novo modelo de produção baseado numa agricultura de pequena escala, diversificada, centrada nas pessoas, com mercados locais e modos de vida saudáveis, usando menos energia e menos dependência de recursos externos. As famílias camponesas cumprem uma missão fundamental da agricultura: alimentar as pessoas.

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Ciência & Tecnologia: Atuação do Movimento Estudantil nas Universidades 37

"Quem tem consciência para ter coragem, quem tem a força de saber que existe e no centro da própria engrenagem inventa a contra-mola que resiste."

Secos e Molhados

Nem sempre os acontecimentos durante períodos históricos da humanidade foram explicados cientificamente, em vários momentos foi explicado atribuindo a divindades, onde nós humanos não teríamos controle sobre isso. Nem sempre foi algo tranqüilo de aceitar-se, a fé e a ciência se chocam, isso vive na historia da humanidade por muito tempo.

Existe um marco na história com o advento do capitalismo, que surge sob um modo de produção, mas também como um conjunto de idéias. O debate de que não é algo exterior a nós que dá as respostas começa a crescer, e sim a idéia de que nós somos capazes de explicar muitas coisas. Neste momento a humanidade é arrebatada de um otimismo muito grande por não se sentir mais obrigado a viver amordaçado por algo externo a si.

A partir destas descobertas, com o desenvolvimento tecnológico, a humanidade teve avanços incríveis. Um exemplo é na questão da mortalidade que havia e depois dos avanços o quanto diminuiu, aumentando a expectativa de vida. Assim as pessoas não vão mais viver como antes, e nem vão querer mais viver como antes.

A emancipação humana esta estreitamente ligada com o desenvolvimento das forças produtivas, e a tecnologia é o que proporciona o desenvolvimento humano, a emancipação do trabalho. É fundamental para desenvolver as condições dignas de vida da população, e se não tiver esses avanços o ser humano terá que trabalhar toda vida apenas para sobreviver.

Porém, com o sistema capitalista que vivemos hoje, em um determinado momento a ciência e a tecnologia foi apropriada pelo sistema para que este continue desenvolvendo a sua lógica, que é manter as taxas de lucro crescente se apropriando da força de trabalho, da mais valia que é o trabalho não pago ao trabalhador. Para o capitalista se manter no mercado ele estará sempre concorrendo com os demais, e isso implica na eliminação dos outros concorrentes, para isso precisa vender mais que o concorrente, barateando o preço da mercadoria aumentar

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Texto foi formulado a partir da relatoria do debate ocorrido no espaço de formação sobre Ciência & Tecnologia na PNEB (Plenária Nacional de Entidades de Base)/FEAB em Montes Claros/MG – em Abril de 2009.

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a exploração do trabalho ou aumentar a produtividade através da tecnologia. Nesse processo a apropriação da ciência e tecnologia vem a servir para esse objetivo. Precisa produzir para se manter no mercado.

Temos como exemplo a produção de cana-de-açúcar, onde está acontecendo a substituição do/as trabalhadores/as das lavouras por máquinas, onde uma máquina substitui em média 500 trabalhadores/as em muito menos tempo. E as tecnologias desenvolvidas por uma empresa não são reveladas para as demais empresas, surgindo assim as leis de patentes. A ciência e tecnologia passam então a atender a lógica do capital.

As conseqüências desse modelo têm levado a uma enorme perda da biodiversidade; a super exploração da força de trabalho, aumentando da violência devido à piora na vida dos trabalhadores por conta do desemprego, ausência de condições de vida digna; o aumento da degradação ambiental e esgotamento dos recursos. Pois, os capitalistas não têm projeto para a humanidade, só tem projeto para manter seus lucros. Nesse sentido o sistema é contraditório, por não ter um projeto para humanidade, colocando sua própria existência em risco.

E para dentro da Universidade?

A universidade é um dos espaços de produção da Ciência e Tecnologia. Na divisão social do trabalho não é papel do Brasil pensar, mesmo assim no Brasil ainda as Universidades são espaços de pensar a C & T, talvez muito mais de reproduzir essa ideologia. Assim é nítida nas universidades a presença das transnacionais no direcionamento das pesquisas, seja no investimento em laboratórios, nas bolsas pagas para estudantes, etc. E onde está o espaço para quem não quer trabalhar para o projeto das transnacionais?

E com tantas tecnologias como ainda existem pessoas sem as condições mínimas de alimentação? Como ainda existem tantas doenças? É possível a ciência ser neutra?

É possível ter esses espaços nas universidades para além das transnacionais onde se possa atuar de outra forma? Quais são estes espaços e como atuamos? Qual o papel da universidade na produção da ciência e tecnologia?

Como devemos atuar cercados pelo tripé: Ensino, Pesquisa e Extensão?

Se perguntarmos a um cubano como funciona a política de extensão nas suas universidades ele provavelmente não saberá responder. O pressuposto da extensão é que haja um centro pesquisador que estenda seus resultados a um plano externo, mas como lá as universidades não têm “muros” não existe extensão, apenas educação, e tudo se envolve dialeticamente teórica e praticamente nesse processo

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em que o povo é o centro.

Porém no Brasil temos uma Universidade alicerçada no tripé: Ensino, Pesquisa e Extensão. Dá para dizer que se trata de um avanço ou não? Acreditamos que não é o caso, e não devemos comparar com Cuba, mas deveremos tê-la como exemplo. Com este tripé como devemos disputar uma extensão, ainda que com modelos antigos?

Verificamos que nessa batalha os melhores instrumentos que temos na trincheira da popularização da universidade e contra hegemonia, são os Grupos de Agroecologia, Núcleos de Apoio a Reforma Agrária e alianças com Movimentos Sociais.

Por isso devemos fortalecer estes direcionamentos a ponto de ganharmos corpo para compormos uma frente contra-hegemônica, que é uma trincheira importantíssima para manter a chama da mudança acesa.

Se fossemos debater “Ensino”, isoladamente, iríamos nos contradizer com nossa concepção por não termos condições de debater, assim como ressaltamos anteriormente, separadamente do debate amplo de educação, como faz o MEC. Temos hoje um ensino bancário que não liberta o estudante, uma pesquisa direcionada pelas transnacionais e uma extensão assistencialista.

Fica difícil apontarmos soluções diante uma estrutura sistematicamente feita para não funcionar diante dos anseios populares, por isso nossa tarefa se coloca em conduzir este debate para nosso campo de atuação, a organização militante que porá as fórmulas tradicionais em cheque diante à mobilização e as demandas populares quando aproximarmos, de fato, o POVO das Universidades.

Para esse período de mobilização devemos ressaltar nosso protagonismo na organização das lutas contra as Fundações de Apoio às Universidades e denúncia de gastos com pesquisas privadas.

Para a pesquisa devemos contrapor a fórmula excludente de saberes cunhada pela academia. Neste âmbito aproximaremos as pautas populares ao passo que destacamos as formas tradicionais de fazer ciência popular.

Algumas universidades apresentam mais espaço para pesquisa direcionada para os MSP´s e outras menos. Isso está relacionado com professores que apóiam e com a direção da universidade. Mesmo onde existem iniciativas de agroecologia por parte da universidade, é colocado como algo não antagônico ao agronegócio. As transnacionais entram nas universidades com um debate de consciência ambiental, de contribuição com a pesquisa e abertura de mercado de trabalho.

Além da denúncia contra a relação das instituições públicas com as

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transnacionais, a exemplo dos estudantes do Rio Grande do Sul quando combateram a relação UFRGS/Aracruz Celulose, devemos disputar grandes projetos de pesquisa paralelamente com as tarefas das lutas e explicitação da causa.

• E agora?

Para seguirmos em marcha na construção de outra sociedade é necessário irmos acumulando experiências organizativas dentro do sistema onde atuamos neste momento, as experiências organizativas se dão no momento em que forjamos na luta um caráter de educação coletiva e com perspectivas amplas. Nesta tarefa devemos combater o formato moderno e individualista regido pelo jargão “Faça sua parte”, propondo sempre uma análise crítica, dialética e coletiva.

O capitalismo não domina a sociedade absolutamente! A realidade é dialética. O modelo domina, é hegemônico, mas não domina exatamente como ele quer. Vamos tendo nossas conquistas dentro do próprio sistema e acumulando para a sua superação, mas somente com duras lutas e mobilizações.

A opinião dos estudantes ao longo da história ganhou um grande respaldo da sociedade, pois por diversos motivos, inclusive excludentes, adquiriu uma condição privilegiada com relação ao acesso a informação. Por isso, mesmo que não sejamos numerosos temos que aproveitar este fator para colocar em xeque a atuação das universidades.

Quanto aos espaços institucionais devemos ter muita cautela, eles não devem ser “o fim” da nossa luta, mas sim um passo para a massificação das lutas. Devemos estar em todos os ambientes e levar em mente que uma experiência na luta concreta que extrapola a instituição é sempre mais educativa para as massas, como dizia Lênin.

Nesse processo coletivo de organização temos por tarefa intensificarmos nossa formação através do estudo conectando nos com a organização e um objetivo de luta, sem esquecer que o momento de se forjar uma educação coletiva nas lutas é o momento de incorporar novos valores fraternos, novas relações de gênero, culturais e sociais; assim traremos novas relações sociais e concretas teorias.

Neste caso temos que temperar muito bem nossas formas de organização com certa inserção nas instituições, conselhos e assembléias, mas sempre com o objetivo de ampliar as lutas. Essa balança só se dará com a experimentação de cada organização nas lutas. Além disso, nunca poderemos perder de vista a intenção de massificar as lutas.

É com esse espírito, que nós da FEAB e ABEEF devemos encarar essa tarefa. Sabemos que não é fácil enfrentar aqueles que são os donos do poder dentro do

nosso palco de atuação que é universidade, mas acima de tudo sabemos

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que não há transformação sem luta. O nosso papel, enquanto movimento estudantil combativo, é abraçar esse compromisso de não calar diante dessa situação, e de enxergar que somos nós que podemos criar esse contraponto que, passo a passo, pode permitir o desmonte do controle ideológico hegemônico que hoje se instala dentro da Universidade. A tarefa não é fácil, mas é necessária. Que os estudos nos auxiliem nesse compromisso e que a ousadia nos alimente em nossas ações.

Seguiremos em luta !

“Nós nos forjaremos na ação cotidiana, criando um homem novo com uma nova técnica” - Che Guevara.

Elogio da Dialética

A injustiça passeia pelas ruas com passos seguros. Os dominadores se estabelecem por dez mil anos. Só a força os garante. Tudo ficará como está. Nenhuma voz se levanta além da voz dos dominadores. No mercado da exploração se diz em voz alta: Agora acaba de começar: E entre os oprimidos muitos dizem: Não se realizará jamais o que queremos! O que ainda vive não diga: jamais! O seguro não é seguro. Como está não ficará. Quando os dominadores falarem falarão também os dominados. Quem se atreve a dizer: jamais? De quem depende a continuação desse domínio? De quem depende a sua destruição? Igualmente de nós. Os caídos que se levantem! Os que estão perdidos que lutem! Quem reconhece a situação como pode calar-se? Os vencidos de agora serão os vencedores de amanhã. E o "hoje" nascerá do "jamais".

Bertolt Brecht