as intervenções viárias e as transformações do espaço urbano. a via de contorno norte-ilha -...
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Maria Inês SugaiTRANSCRIPT
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que na década de 50, dos 107 loteamentos aprovados em Florianópolis,!"~./'
53% situava-se no Continente e 16% na península central na Ilha (40)0 A '~$~1
década de 40, por outro lado, havia apresentado índice de 46% do total
dos loteamentos aprovados no Continente e 41% na área central, na Ilha.
s
Houve, entre a década de 40 e a de 50, uma inversão na
localização dos loteamentos. No entanto, é preciso alertar que, na
década de 40, com exceção de um loteamento próximo ao Estádio de
Futebol, registrado em 1945, todos os demais loteamentos do Continente
só apareceram nos registros da prefeitura de Florianópolis a partir de
1947, o que provavelmente reforçou a diferença entre os índices
apresentados na IIJJae no Continente na década de 40 e na de 50. Deve-
se considerar, ainda, que todos estes índices obtêm ainda maior peso se
considerarmos que boa parte dos loteamentos, principalmente nas
periferias, são executados clandestinamente (41). No caso dos bairros
40 _ Parte considerável dos loteamentos elaborados nas áreas urbanas, emespecial nas, áreas periféricas, são tidos como "clandestinos", ou seja, são feitosà revelia dos registros ~ das exigências legais. Em função de sua execuçãoclandestina, este grande número de loteamentos não está computado,evidentemente, nas Tabelas sobre Loteamentos e Desmernbramentosapresentadas, visto que estes se baseiam nos registros oficiais da Prefeitura.Portanto, estas tabelas não apresentam todo universo de loteamentosimplantados em Florianópolis. No entanto, e é o que aqui nos interessa, estesdados representam excelentes indicadores dos movimentos e das mudançasde interesses dos setores imobiliários e fundiários, ao longo do últimos 50anos em Florianópolis.
41 _Quando surgiram os primeiros loteamentos, tanto em Florianópolis como emSão José, praticamente não existiam exigências legais para a aprovação dosmesmos, ainda que, a partir da década de 40, tenha se tomado obrigatória aaprovação e o registro na administração municipal. As exigências legais surgirama partir da década de 50, com a aprovação do Plano Diretor, Lei no246/55 e,posteriormente, pelá Lei no 1215/74, que regulamentou os Loteamentos,Arruamentos e Desrnembramentos em Florianópolis. O termo "clandestino",portanto, refere-se àoslotearnentos e desmembramentos efetuados sem a)icençaconcedida pela prefeitura e, a partir da década de 50, também sem obediência àsexigências de diménsões, infra-estrutura e serviços públicos definidos pelalegislação rnunicípaí. Deve-se atentar para a contingência desta clandestinidade,da mesma forma que há a "variação no grau da clandestinidade" em função do
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mais pobres do Continente, isto pôde ser evidenciado e, como em geral
ocorre nesses casos, sem o correspondente crescimento de infra-
estrutura e serviços urbanos, como depreende-se .do relato do padre
Baldessar:
':4 década de 1950 foi decisiva. O Estreito se expandiu emtodas as direções( ..) Não havia infra-estrutura preparada. Haviaum verdadeiro comércio imobiliário desenfreado que traçava ruasinviáveis e marcava terrenos muito pequenos. Os diversosloteadores não entravam em acordo, muitas vezes, nem mesmo noacerto das ruas que deveriam percorrer os diversos terrenosloteados. Água e esgoto eram desconhecidos do dicionário dosprimeiros moradores. As ruas eram traçadas mas nãoterraplanadas. Bueiros não havia (..) Luz elétrica chegava sempreatrasada. Não havia transformadores em quantidade suficiente e,por esta ratão, os últimos servidos recebiam uma voltagem muitobaixa ..." (In Soares, 1990: 44)
A população que vinha ocupando estas áreas no Continente
também foi sendo alterada' ao longo do tempo. No final da década de 40
havia no Continente duas áreas ocupadas pela população de maior
renda, que durante algumas décadas, mantiveram nesse local suas
casas de veraneio: uma voltada para a baía norte - Praia do Balneário e
entorno - e outra para a baía sul - Praia de Coqueiros em direção à orla
sul (Ver Figura 11). Estas áreas - Balneário e Coqueiros - que vinham
sendo ocupadas por alguns setores de maior renda situavam-se fora do
limite urbano então em vigor e também distantes da cabeceira da ponte,
embora com acesso direto a ela. Posteriormente, estas áreas passaram a
ser utilizadas como área residencial destas mesmas camadas sociais,
sendo também ocupadas, como veremos no próximo capítulo, outras"
município ou do loteamento abordado. Ver VALLADARES, Lícia. Repensando aHabitação no Brasif. RJ: Zahar ed, 1983, p.49.
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praias vizinhas
paisagisticamente.
igualmente bastante privilegiadas física e
As camadas de baixa renda, no entanto, constituíam-se na maior
parte dos habitantes do Continente. Ocupavam, principalmente, as terras
no interior do sub-distrito do Estreito, dirigindo-se para oeste (Capoeiras
e Barreiros), ao longo dos caminhos que se direcionavam para a BR·59
(atual BR-101). A BR-101, que começou a ser implantada no início da
década de 40, efetuava a ligação litorânea com os de~ais estados ~
constituiu-se na mais importante via regional, ao mesmo tempo que
assentavam-se nas suas proximidades as camadas populacionais mais
pobres. Não se obteve mapeamentos que pudessem ajudar a localizar
as áreas ocupadas pelas camadas mais pobres com maior precisão, e
mesmo o IBGE, naquele período, não efetuava pesquisa por faixa de
renda. Para poder localizar estas áreas e organizar a Figura 11 foram
utilizados os relatos de geógrafos e depoimentos de fontes secundárias.
(42)
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42 _ Foram consultados especialmente: Wilmar Dias (1947), Armem Mamigonian(1958), Victor Pelu$o{1'981),'depoimentos contidos em Soares (1990) e mapas doDEGC de 1951.
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1.2.4 - Análise da integração Ilha-Continente e suas repercussões na
estruturação urbana e na distribuição' territorial das classes
sociais na Ilha.
A ligação rodoviária da Ilha com o Continente, ocorrida em 1926,
garantiu, como vimos, a rápida expansão e transformação das áreas
continentais próximas à Capital, permitindo o seu desenvolvimento
iniobiliário e, posteriormente, o interesse pela anexação deste território
continental a Florianópolis. No bojo deste processo ocorreram também
uma série de' repercussões em todo espaço urbano da península; na Ilha,
onde se concentrava o centro administrativo e comercial de
Florianópolis.
A primeira mudança ocorreu nodirecionamento do fluxo interno e
no eixo de crescimento comercial da cidade. Antes da construção da
ponte Hercílio Luz, as vias na área central direcionavam-se para os
trapiches da área portuária, na orla sul, próximos à Praça XV de-
Novembro. A área situada na extremidade oeste da península central,
I como foi visto, não havia interessado aos setores dominantes durante o
processo de expansão urbana, sendo por isto suporte das atividades
menos "nobres" como cemitério, fomo do lixo, fábricas, vila operária e, nor;
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percurso, a área de prostituição. Com a implantação da cabeceira da
ponte, na extremidade oeste da península, ocorreu uma mudança na
direção dofluxo de escoamento viário principal dentro da área urbana,
que agora privilegiava o eixo leste-oeste, próximo à orla sul. As vias.-'"
existentes torarnadensando-se no sentido oeste ,assim como as novas,:---- \;--:':«,:-\:-,.,~.:-, :<-,.;::,-.' '. ,: -" ~.~
viascomeçaram':a·s~ecdjrecionaciastambém no sentido da ponte Hercíli o
Luz. Aponte cd~~iitma?~e;agp(ª,nonovoacesso"paraa Ilha.
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A construção da ponte Hercílio Luz e sua localização a oeste da
península alterou completamente o mercado imobíüério de Florianópolis.
Valorizaram-se as áreas comerciais e residenciais com acessibilidade no
sentido leste-oeste e,em especial, toda área central próxima à baía sul,
onde localizavam-se as únicas ruas com acesso direto à ponte: -a Rua
Conselheiro Mafra e posteriormente, a Rua Felipe Schmidt AJ~oQ!~,
com<:)_vi~_os, abriu novas frentes para o capital imobiliário, tanto no
Continente como na área central da Ilha, gerando acesso rodoviário a
áreas antes desocupadas ou mesmo rarefeitas. Além disso, também
permitiu a retomada pelo setor imobiliário de áreas de ocupação mais
antigas, próximas à área central, que começaram a sofrer grande procura
(43).
o norte da península, por outro lado, continuava a. ser ocupado
pelas populações de mais alta renda, nas áreas antes ocupadas pelas
chácaras que, desd.e o final do século XIX, vinham sendo desmembradas.
Algumas destas chácaras, no final da década de 40, ainda conservavam--
se intactas, "contrastando ...com a feição geral das demais áreas
residenciais" (Dias, 1947:35). As chácaras que permaneceram inteiras,
muitas à espera de maior valorização fundiária e localizadas na área\
-mais central da península, constituíam imensos vazios dentro da malha
,.~ - Um caso que exemplifica a situação é o da Av. Hercílio Luz, situada a lesteda Praça XV de Novembro. Esta área foi, no século XIX e início deste, em funçãoda sujeira do Córreqo Fonte da Bulha ou rio da Fonte Grande (pó r onde passa aatual avenida), área bastante desprezada, onde localizavam-se, como foi vistoanteriormente, o bairro.da Toca e da Pedreira, local dos cortiços e das populações~,de baixa renda. Em 191-8;' o rio foi saneado e retificado, sendo aberta nas suaslaterais a avenida H~rcíH6 Luz. Os cortiços foram sendo retirados e seus " .habitantes foram impelidos a ocuparem os morros. Segundo Wilmar Dias, estaobra altercuevalórízeuá área.jjoentanto, somente a partir do final da década de30, "após a excessiva e brusca valorização imobiliária", as ruas sofreram _.pavimentação e os seus terrenos começaram a serem edificados. (Dias, 1947:36)
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urbana, dificultando a ocupação e a abertura de acessos de integração
entre o norte e o sul da península.
Ainexistência de uma integração viária direta e com dimensões
mais adequadas, da área residencial ao norte da península com a
cabeceira da ponte, interferiu no processo de crescimento da parte norte
da cidade. O fluxo entre esta parte norte e a cabeceira da ponte exigia,
até o início da década de 40, a passagem pelo centro da cidade, situada
ao sul, fato que, segundo Dias, interferiu no comércio da área norte: "...0
pequeno movimento comercial distribuído no lado norte, ao longo da rua
paralela ao mar, florescente antes da construção da ponte, entrou em
declínio logo depois que o tráfego terrestre substituiu o tráfego de lanchas
entre as duas penes da cidade." (Dias, 1947:32) A ligação da Avenida
Rio Branco (sentido leste-oeste) com a Rua Felipe Schmidt, próximo à
cabeceira da ponte, facilitou o acesso. No entanto, apenas a partir do
final da década de 50, com o início dos planos urbanos e das
intervenções nesta área da cidade, a situação começou a ser alterada.
~.. Os vazios urbanos nas 'áreas ao norte da península, a falta de
acessibilidade direta destas áreas com a ponte (que será solucionada
somente na década de ~O), o incremento do transporte rodoviário e,
ainda, a singularidade da cidade que, situada numa ilha, possuía uma
única ligação Ilha-Continente, produziram as seguintes conseqüências noI
espaço urbano de florianópolis:,C". ./~._~geraram a valoriz~ção das áreas centrais da Ilha que possuíam boa
acessibilidade à ponte;
(2: rnantíveramconcentradas as áreas comerciais em sua área urbana
central na baía sul;
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3. incrementaram o desenvolvimento imobiliário no Continente e,
inclusive, a ocupação, inicialmente para veraneio, de algumas áreas
localizadas na orla norte continental por segmentos das elites;
4. incentivaram parte das camadas de mais alta renda a permanecerem
residindo próximo ao centro da cidade, na Ilha, num processo de
constante retomada, por parte dos setores imobiliários, de áreas já
ocupadas, demolindo e reerguendo edificações num mesmo lugar, ao
mesmo tempo em que a população de menor renda foi sendo "retirada"
da penínsuta.>"
'/ O .processo de refazer constantemente áreas urbanas já
constituídas é uma conhecida característica das cidades capitalistas,
onde o capital imobiliário busca, através das renovações ou
investimentos urbanos, urna constante atualização da renda fundiária. No
entanto, o que chama a atenção em Florianópolis é que, neste refazer da
primeira metade do século XX, não houve, com exceção da ponte (1926). A.fl".l/e da canalização do rio na Av. Hercílio Luz (1918), um processo Jfconstante de investimentos nestas áreas, o que só começará a ocorrer a
partir da década de 60. Este fato nos leva a acreditar que esta
permanência de parte das camadas de- alta renda próxima ao "centro"
tenha ocorrido, fundamentalmente, pela, ínrra-estrutura e serviços ali
existentes, pela proximidade do porto e,também, do único ponto de
escoamento rodoviário da IIha(.•....
As-camadas populacíonais de menor renda, ao longo da primeira
metade do século XX , como vimos, foram sendo obrigadas a ocupar os
morros a Ieste.da-península central da Ilha e, no Continente, os rnorros e- ~
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áreas mais a o.este.-;,Jocias,estas.localidaciessitué,!vam-senas periferias
da .cidâde,"e:ió'ra do's"limites urbanos- de Florianópotis, definidos em 1943
57
58
(Ver Figura 07). Este processo de deslocamento da população mais
pobre para as periferias, situação hoje comum nas cidades brasileiras,
pôde ocorrer apenas com a disseminação dos ôníbus (44), e resultou, em
Florianópolis, no contínuo afastamento destes setores populacionais da ,-"
área da península entre 1920 e 1940 (Peluso, 1981 :343). Houve.
portanto, neste período, um constante deslocamento e mudança das
áreas residenciais das populações de baixa renda em Florianópolis, ao
inverso do ocorrido com os setores populacionais de maior renda.
A dinâmica da ocupação do solo urbano de Florianópolis
obedeceu, principalmente, aos interesses dos setores sociais mais
influentes, muitos vinculados ao capital imobiliário, que mantiveram a
ocupação da .península pelas elites, apesar das dificuldades· de acesso
das áreas norte à ponte. Houve também, como foi visto, um interesse
destes setores das elites na ocupação dos balneários no Continente
(Praias do Balneário e de Coqueiros) a partir da década de 20,
inicialmente como área de veraneio. A acessibilidade gerada pela Ponte ,~
r-
ampliou este interesse, que culminou com a anexação à Capital daquelas
terras situadas no Continente.
Apesar dos Setores dominantes das elites terem mantido suas
áreas resídenctaisna IIha,na área da península, todos os indícios têm -"
44 - A importância de transporte coletivo para o desenvolvimento das periferiasurbanas; sejam linhas de ônibus ou estradas de ferro, tem sido demonstrada emdiversos estudos. No caso da evolução urbana de São Paulo, como mostra NabilBonduki, o surgimento do sistema de transporte baseado no ônibus, a partir dadécada de 20, foi fundamental para a ocupação dos loteamentos periféricos.BONDUKI, N. HaDitaçãóPopular:Contribuição para o Estudo da EvoluçãoUrbana de SãoPaulo,.1981.lnValadares, L., op,cit.,1983, p.119. Ver tambémLANGENBUCH;J.R: AEstruturaçao.dagrande São Paulo - estudo de,.geografia urbana ..Rio d~ Janeiro: IBGE, Depto. Docum. e Divulg. Geogr.Cartografica,1911.·; ., .• ,
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59
demonstrado que, entre a década de 20 e a década de 40, ocorreu uma
"indecisão" das elites em relação à expansão de' suas áreas residenciais,
se deveria ocorrer na Ilha (ao norte e a nordeste da península) ou no
Continente (na orla norte e na sul). Contribuíram para esta hesitação,
como vimos, os seguintes aspectos: a .9Jfi~uldade de ocupação s- de
alguns trechos centrais da península devido à permanência de grandes
propriedades, . resquício das antigas chácaras; a__JQe~t~1~l}çia_...de..
acessibilidade viária direta entre a Ponte Hercílioluz e a área norte da
península; a disseminação e o incentivo ao transporte rodoviário; e a
redução das atividades portuárias. /._ ..../
Esta "indecisão" das elites entre as décadas de 20 e 40 pode ser
evidenciada pela distribuição e localização dos equipamentos e
instalações públicas no espaço urbano de Florianópolis, tanto pelo//
governo estadual como pelo municipal. Até o iníci?~~' '~éculo interessava
às elites, como foi visto, a preservação do norte da península e sua
exter1~ã~__.é!_._r1()rd~stepara localização e expansão de suas áreas
residen~iais, ocorrendo, por outro lado, o desinteresse pelo. oeste da
península. Entre as décadas de 20 e 40 ocorreram alterações nestes
interesses. Preservou-se, é certo, a península, que continuava a
concentrar as atividades administrativas, comerciais e qe serviço. No
entanto, as atividades menos "nobres", algumas retiradas da extremidade
oeste, começaram a ser implantadas a nordeste da península, no
caminho obrigatório para quem se dirigia, por terra, para as praias ao
norte da Ilha.'
Entre as intervenções mais significativas a nordeste da península,. ~
resultantes".cJ.~$,~;~;,;:P(3r.Í()do.de"lndeclsáo" das elites, deve-se citar: o
Cemitérfo' MunÚ~i~artransferido para o bairro doItacorubi em 1926; a
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Penitenciária Estadual, cujo complexo começou a ser implantado na
Agronômica em 1930 (1ª etapa) e concluído em 1945; o despejo do lixo
urbano que começou a' ser jogado, na década de 40, no aterro sanitário
formado no mangue do Itacorubi, em frente ao cemitério (45); e ainda, o
b.brigo de Menores (Fucabem) que foi inaugurado em :1940 também na
Agronômica (Ver Figura 22). A Colônia Penal Agrícola foi instalada pelo
Estado, como vimos, em antigas áreas de uso comunal em Canasvieiras,
em 1937.
Uma série de motivos, a partir de meados da década de 40,
permitiram às elites uma definição das sua áreas prioritárias de expansão
residencial. São eles:,-;/,-,\
./ ,J!;' o crescimento das atividades administrativas, da máquina estatal e de
seu funcionalismo, que ocorreu paralelamente à redução do desempenho
econômico das atividades portuárias;
2. a ampliação das atividades da construção civil, impulsionadas pelo
aumentada demanda, pela melhoria do setor energético regional (Usina
Termoelétrica de Capivari) e pela mão de obra disponível, recém
chegada e em processo de integração com as atividades urbanas;
3. a ampliação do sistema de fornecimento de águas tratadas com a
construção da 1ª Adutora de Pilões (1946), solucionando o então precário
abastecimento d'água na área urbana da Ilha;
4. o início da construção da atual BR-1 01, que iria concentrar o trânsito
de cargas regional na área continental;
5. o potencial que a ampliação das classes médias urbanas
representavam para o desenvolvimento do turismo e o grande interesse
45 _ O forno de lixo foi implantado próximo à atual cabeceira da Ponte HerêitioLuz,em 1914, quando esta área não se constituía em área de interesse daselites. O forno, utilizado para incinerar o lixo urbano, foi desativado na década de50.
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que, conseqüentemente, passavam a ter as praias situadas ao norte da
Ilha.
--,,_,Na década de 50 a "indecisão" dos setores dominantes das elites "\
estava completamente superada. Começaram-se a estabelecer as áreas \\,
de interesse ou as áreas urbanas privilegiadas e prioritárias para \~
receberem benfeitorias, em especial, investimentos em acessibilidade. 1!
Solidificaram-se os antigos interesses de investimentos no norte da )
península e, principalmente, a intensificar-se as atenções do setor íimobiliário para um grande filão quase inexplorado - as praias ao norte da I
,Ilha e o desenvolvimento do turismo, em especial na região de j_.. --~--//
Canasvieiras.
Em decorrência das mudanças que começaram a se evidenciar,
foi etaboradorio início da década de 50, um Plano Diretor para a cidade,
que absorveu muitas das aspirações que surgiam, principalmente da
classe dominante, ao mesmo tempo que direcionou os primeiros passos
para a sua efetivação. As décadas seguintes foram marcadas por
diversas ações no espaço urbano, principalmente do Estado, que tiveram
importante papel na .evolução territorial das classes sociais em
Florianópolis. _f
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GAPÍTUL02
AS AÇÕES DO ESTADO SOBRE O ESPAÇO URBANO E SUA
REPERCUSSÃO NA ESTRUTURA URBANA E NA DINÂMICA
IMOBILIÁRIA.
A partir da década de 50, quando as elites redefiniram a primazia
da Ilha - área norte da península - para a localização de suas áreas
residenciais e para os investimentos imobiliários, começou a ocorrer uma
série de ações do Estado que reforçaram esta ocupação e repercutiram
na estruturação urbana de Florianópolis"Ao longo de trinta anos estas
ações vieram também a alterar e impulsionar a dinâmica imobiliária local.
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Neste período, o Estado, em sua esfera municipal, estadual e_\
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federal, elaborou planos urbanos, efetuou constantes alterações na \j</'<;.~/"""\4:r<--~-"·dr-'\
legislação de uso e ocupação do solo, ~mPlanto~ gran~,e~ eqUiP~mentos )- ~.~
urbanos e executou grandes obras e intervenções vianas, muitas d~ ~""'r"\
hquais exigiram alterações na legislação e nos planos existentes. A
exposição e análise destas -ªyQes.c:toEstado que precederam os grandes
investimentos .viários e que resultaram na implantação da Via de
Contorno Norte-Ilha irão nos ajudar a esclarecer a relação entre .aorganização territorial das classes sociais e a execução desta via.. ~
expressa nesta reqiâo.da cidade, assim como seu papel no processo de
produção do espaço urbano de Florianópolis.
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63
AS DÉCADAS DE 50 E DE 60
2.1 - O Plano Diretor de Florianópolis. Lei n.246/55.
Em 1952 a Prefeitura Municipal de Florianópolis contratou a
equipe formada pelos arquitetos e urbanistas Edvaldo P. Paiva, Demétrio
Ribeiro e Edgar A. Graeff para elaborarem o primeiro Plano Diretor da
cidade. A equipe entregou à prefeitura um relatório explicativo do Estudo
Preliminar ainda em 1952, sendo a versão final aprovada na Câmara
Municipal em 1955, transformada na Lei n. 246/55.
Este Plano sofria influências das formulações definidas pelos
pesquisadores da Cepal, criada em 1948, e cujos preceitos refletiram-se
*em Planos Governamentais eem setores intelectuais, durante os anes
50 e 60. j\s orientações formuladas pela Cepal que influenciaram o Plano
propunham a superação do atraso econômico através do incentivo às-- - .. ... - - -"
atividades índustriais, consideradas dinâmicas e modernas. (')
------....O Plano adotava comoípremissa.que as dificuldades apresentadas
----._-- ------- - o-o •••• s->: .....
pela cidade de Florianópolis advinham de seu fraco desenvolvimento:/
- econômico, do baixo poder aquisitivo de sua população e, por
conseguinte, também dos reduzidos recursos de sua administração
1 - Francisco de Oliveira efetua análise-crítica ao pensamento dualistaformulado pela Cepal (Comissão Econômica para a América Latina-ONU) '."no texto: A Ecopomia.Brasileira: Crítica à Razão Dualista. In EstudosCebrap2. S.Paulo:;Ed,Cebrap/Ed.Brasileira de Ciências Ltda.,outl1972,p.1S:-24.
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municipal. Em vista disso, partia da idéia básica de que seria necessário
criar um "fator positivo" que pudesse transformar o desenvolvimento
econômico da cidade. O ~I~~~, definiu que este' "fator positivo", a
alavanca para o progresso econômico e urbano local, seria a
construção de um moderno porto em Florianópolis:
"Esse é o fato mais importante a considerar para uma justainterpretação do futuro desenvolvimento da cidade. O porto será umfator importante para o seu progresso econômico. Esse progresso,significando desenvolvimento lndu.stria.I,e comerciel, virá condicionarfundamentalmente a concepção do Plano." (2)
Ainda que considerassem outros dois fatores defendidos na cidade
como fundamentais ao desenvolvimento econômíco de Florianópolis, os
autores discordavam de sua eficácia. Um destes fatores, a função .-A
universitária deFlorianópolis, constituía-se "...para alguns, o fator
fundamental do progresso futuro da cidade." (Paiva, 1952: 7tJLQye, p~ra
os autores do plano, estariadeterminado p~lo crescimento econômico.2,§I
,cidade. Outro fator, o desenvolvimento turístico da região, não poderia vir
a ser a base de sustentação econômica da cidade, segundo o plano, mas
apenas uma "função acessória" que não iria sobressair-se em relação à-~._.- ... ..:'... ."
função portuária; ') f.::~.:/ .- ".",' '-~.~ :
Apoiando-se nestas premissas, o plano definiu uma Q~ypa~o e<.
uma utilização. do solo-que tratou e caracterizou de forma diferenciada a_.~-~--_._- ------'-- . .
ocupação da ,Uha e a do Contil1ente, tendo em vista os equipamentos e
as atividades previstas para cada uma das áreas.
2 - In PAIVA, Edvaldó;RIBEIR0; Demétrio;'GRAEFF,E. Plano Diretorde Florianópolis. EstudQsPrelimjn.ares. Relatório Explicativoapresentado à Prefeitúiá"Mynicipâl, agosto/1952,mfmeo.
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65
Na área continental, o plano deteve-se, praticamente, apenas no
bairro do Estreito. Propunha, na parte norte continental, entre a Ponta do
Leal e a ponte Hercílio Luz, um grande aterro de mais de 60 hectares
ande iriam localizar-se as novas instalações portuárias, as atividades
industriais e também, ao longo de uma avenida de ligação intermunicipal,
um centro comercial "mais moderno", única área da cidade onde permitiu-
.§e gabarito de até 12 pavimentos (Ver Figura 15-a e Figura 15-b). Ao
redor deste complexo portuário- e industrial teriam lugar áreas
residenciais e de expansão urbana No entanto, já previam que no
Estreito, nas proximidades do porto e das zonas industriais, e em função
das "facilidades oferecidas pela regulamentação das edificações de tipo
comerciar, estas iriam futuramente substituir as residências (Paiva, 1952:
14).
Na Ilha o plano deteve-se nos limites da área urbana em vigor, ou
seja, apenas na área da península. Propunha, na parte sul da península,
a implantação de uma Via-Tronco. Esta via, que se originava no
Continente, efetuava conexão com a ponte Hercílio Luz e, na Ilha,
contornava a orla sul da península. Ao longo desta Via-Tronco seriam
instalados um Centro Cívico, um centro religioso-comercial na área da
Praça XV e, no coroamento do eixo, sobre o aterro ali existente, a
"cidade-universitária" .
Na parte norte da península seriam localizadas as áreas
residenciais, que teriam como "requisito tndispenseve!' a existência de-- ._". - ---"-- _., •• - •• -_.-.-- .- "- •• "-- -"-' --'-"".- ,~ ••••• -_._-_._ •• _~-----_ •• -.- - - _.- ••• _. o _~ • - - _. ,. __ •••• ~
~_i_~~~~a~__~~:as v:rdes internas ao zoneamento. O Plano prQPunha a
ocupação das grandes glebas situadas ao norte na península, resquícios
das antigas chácaras, a partir da. ampliação do sistema viário que
Deve-se evidenciar aqui' também os debates existentes na época
do Plano sobre a construção e a localização de uma futuravcidade .~
universitária". Os autores expõem em seu relatório as diversas áreas que
estavam sendo propostas, as suas discordâncias e, ainda, os motivos
que os íevararn ia situar as instalações da futura Universidade no aterro
existente pró~irpo ao centro da cidade, junto ao Morro d~~'Cruz: a
dimensão da área ea sua possibilidade de expansão através de aterro
sobre o mar; a sua boa acessibilidade; e a sua proximidade do centro, do.
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desmembraria essas glebas. A abertura destas novas ruas garantiria a
ocupação e a acessibilidade a essa área norte da península, fazendo sua
ligação a oeste, com a 'ponte, e com o centro administrativo-comercial
da cidade na parte sul da península.
Nos desmembramentos das glebas da área norte, o plano previa
loteamentos de ,.=t~"enos bem contormedos'; além das áreas verdes
públicas situadas num "recuo obrigatório do alinhamento de fundo das
edifícações" que formaria "uma área livre contfnua no fundo das casas,
com grande vantagem para a higiene, a comodidade e a estética do
conjunto" (Paiva, 1952: 13). Propunham, ainda, uma avenida Beira-Mar
contomandoa orla norte que, possuindo 30 metros de largura, seria
implantada sobre o fundo das propriedades existentes e em parte sobre
aterro (Ver Figura 16,?eFigura .19). Esta avenida seria conectada com a
avenida Tronco Sul, alcançando o centro administrativo-comercial da
cidade pela orla. O plano autorizava, ao longo desta nova avenida beira-
mar, edificações com gabarito de até 8 pavimentos. Esta nova avenida, -kconhecida posteriormente como Av. Beira-Mar Norte, foi implantada na
dér?r1a rlp- f;() e constituiu-se na intervenção viária precursora da atual
Via de Contorno Norte-Ilha.
66
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67
Hospital de Caridade e do futuro Estádio Municipal. (Ver Figura 15-a e
Figura 15-b)
o que interessa ressaltar deste debate sobre a localização da
universidade é que, já no início da década de 50, intensificavam-se .os
interesses de ocupação da área situada à leste do Morro da Cruz, no
então longínquo bairro da Trindade. Havia o empenho de setores das
elites locais na implantação do futuro campus universitário na área da
Fazenda Estadual Assis Brasil, antigas terras comunais da Trindade,
proposição que tinha total discordância dos autores do Plano:
" ...abandonamos a suçestêo feita de um local para implantaçãodesse núcleo nes proximidades do subúrbio chamado Trindade,situado (..) á 8 qui/6metros do centro atual. Nessa zona o poderpúblico dispõe de áreas extensas, nas quais já se projeta aconstrução de quartéis, polígonos de tiro, ete. Tretendo-se delocalizar a' Universidade em maior união com a cidade (...) esteterreno (da Trindade) é completamente inadequado( ...) pelasseguintes razões: relativa grande distância do centro atual;tsotemento, devido à existência de um maciço montanhososeparador, e por sua posição geográfica, fora, completamente, dadireção real do crescimento urbano (a cidâde cresce na dià~ção tiocontinente e esse processo será acelerado pela construçáo;J!PJ20ftº ...A idéia de um oosstvet crescimentone direção da Trindqr;!'Rqqotemnenhuma base real, nenhuma possibilidade histórica de ~fetiváção)." ,
.(Paiva, 1952: 17)
Contrariandoestas proposições, nas décadas seguintes, o poder
público acabou implantando a cidade universitária na Trindade, j;expandindo, como veremos mais adiante, a área urbana também para
nordeste e leste.
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68
Algumas das proposições deste Plano Diretor foram implantadas
na década seguinte, em especial as intervenções viárias na área norte da
península, como a Avenida Beira-Mar Norte. A proposta-eixo do Plano -\
. a implantação do porto - continuou durante muitos anos a ser objeto de ~
reivindicação pelos governos locais, s~nºo, inclusive, novamente
proposta no Plano de Desenvolvimento Integrado elaborado no final da
década de 60. ".
2.2 - As intervenções na área urbana da Ilha: a Avenida Beira-Mar
Norte e os demais equipamentos urbanos.
Ao mesmo tempo que, durante a década de 50 e início dos anos
60, polemizava-se sobre a localização do campus uníversítárto, o Estado
efetuava uma série de investimentos na Ilha, na área norte da península.
Vinham sende-dmplantados na região norte e a nordeste da
península, desde meados da década de 40, diversos equipamentos que
privilegiavam esta área da cidade. O Plano Diretor, aprovado em 195~,
coadunou-~~~ com estas intervenções que vinhamsendo ..efetivadas. O -'~1
Estado, portanto, havia suspenso a implantação, nas áreas a nordeste da
península, das .atlvldades "indesejáveis" que, como foi visto, ocorrera nas
três décadas anteriores. Dentre as intervenções mais significativas deve-
se citara inauguração, no ano de 1~q4" em ampla área, da casa oficial-": - ,,-. -' ~. -- . -, - -;- , ...-
do governador, o.cnamadoPalácio da Agronômica. Foram implantadas,
também ~~--dé~~~' d~~~9)e .próximo ao Palácio da Açronõrníca, as
dependências~05Q[)i~~ritoNaval. '.
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69
A localização e a concentração dos equipamentos hospitalares,
que ali vinham sendo implantados, também evidenciam o privilégio
concedido à área norte. Nesta época existiam 9 hospitais no município de
Florianópolis. Deste total, 8 hospitais localizavam-se na Ilha, na área da
península e, apenas 1 no continente. Dos 8 hospitais localizados na
península, 5 hospitais, ou seja, mais que 50% do total, situavam-se
próximos à Av. Beira-Mar Norte, na orla norte: Hospital Celso Ramos.
(1966), Hospital Nereu Ramos "(1943), Maternidade Carmela Outra"'~(1955),' Casa de Saúde São Sebastião (1941) e Hospital Naval
(posteriormente transferido) (Ver Figura 22). O Hospital de Caridade e o
Hospital Militar, situados próximos à baía sul, foram erguidos,
respectivamente, no século XVIII e XIX. A Maternidade dr. Carlos Correa
foi implantada na península, em posição intermediária entre as duas
baías. Deve-se ainda evidenciar que os dois únicos hospitais construídos
na cidade na década de 70 - Hospital Infantil Joana de Gusmão e o
Hospital Universitário - e ainda, o Centro Hemoterápico, foram
localizados também neste mesmo eixo, onde seria implantada a futura
Via de Contorno Norte-Ilha.p)
3 - A inserção de grande número de Instituições Hospitalares nasproximidades das áreas residenciais da população de mais alta rendanão se constitui numa singularidade local: Há interesse por parte daselites em permanecer próximo ou ter acessibilidade a.estes '.equipamentos, Ocaso da Cidade de São Paulo é bem representativo,onde; ao longo do corredor viário na região daAv. Paulista concentram-se pelo menos uma dúzia de 'Instituições Hospitalares (Hospital das "',Clínicas, Hospital do Coração, Hospital Emílio Ribas, INCOR, HospitalSírio-Libanês, Hospital Matarazzo, Hospital Santa Catarina, HospitalOswaldo Cruz, Hospital Pró-Mater, Hospital 9 de-Julho, HospitalBrigadeiro, Hospital da Beneficência Portúguesa).
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70
2.2.1 - A Avenida Beira-Mar Norte.
Das proposições do Plano Diretor, foram implementadas, em
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especial, aquelas de caráter rodoviário, que garantiram acessibilidade àso~~
áreas ao norte da península. A principal avenida proposta pelo Plano
Diretor - a Via-Tronco - que ligaria a Ponte Hercíllo Luz, através da orla ~
sul, ao futuro Centro Cívico, ao centro administrativo e à futura
Universidade, não chegou a ser executada. Das proposições viárias mais
importantes definidas na península, apenas uma foi executada de acordo
com o Plano, a Avenida Beira-Mar Norte.
A abertura da Av. Beira-Mar Norte ao longo da orla da baía norte,
além de garantir a acessibilidade e a conseqüente valorização da área
norte da península, foi a intervenção viária que procurou diferenciare
definir a marca de modernidade a__~~!~setor residencial, Apesar de ser
uma avenida lntra-urbana, foi construída pelo governo estadual através
do DER-SC (Ver Figuras 16-a a 16-e). _A cons!~ç?_<?9~~_~~_~v~r1id~12i
iniciada em meados da década de 60, na gestão do governador Celso-~ - ~-'-'---"-"--' .....------" ..... - ._- ---- .. - - -" . ---_._----------, .... - ~-
~~~s, sendo concluída e pavimentada no início d~ ~é~~a <J.~70; pelo ~
governador Ivo Silveira. A Av. Beira-Mar Norte iniciava-se na Praça Celso
Ramos, divisa com o bairro Agronômica, beirava a orla em aterro sobre
a Praia de Fora e a Praia do Müller, até alcançar a cabeceira da ponte
Hercílio Luz. Possuía, aproximadamente, 2.300 metros de extensão. Não
foi feita, na época, a sua conexão com a avo Tronco, na baía sul,
conforme previa o Plano Diretor. No início dos, anos 70, começaram a
ser construídos os.prirneíros edifícios residenciais ao longo da orla da Av.0- •• 0.0 o • o .'. •• _.\
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Beira-Mar Norte, posteriormente denominada Av. Jornalista Rubens de
Arruda Ramos (Ver Fotos 02 a 06). (4)
Duas outras importantes avenidas, que efetuavam a ligação norte-
sul da península, foram abertas em 1958: a Avenida Othon Gama D'Eça e
a Avenida Prefeito Osmar Cunha. Estas duas avenidas e a sua conexão
não constavam do Plano Diretor, mas apoiavam-se no traçado de ruas
locals definidas pelo plano. Além de efetuarem -a ligação norte-sul no
centro da península, garantiram também o reloteamento das áreas
centrais da península, onde situavam-se - antigas chácaras ainda não de
desmembradas. A avenida Othon Gama D'Eça, iniciando-se na Av.
Beira-Mar Norte, atravessou a antiga chácara do Barão Wangenheim até
alcançar a Av. Rio Branco, que efetuava a ligação leste-oeste da cidade.
Em conexão com a Av. Othon Gama D'Eça, foi aberta, na direção sul, a
Av. Osmar Cunha, atravessando terras da antiga chácara da família
Línnares, para atingir o centro comercial e administrativo na '.baía sul.
Com estas duas avenidas criou-se uma maior acessibilidade dentro da
península, em especial na sua área norte. Este corredo~ viári~!l0rt~_~~~I,
que seccion~~L~!l10dificou as características do setor resid~nci~ler~vi~to_
no Plano, estimulou o desenvolvimento comercial- e a verticalização da
4 - Peluso (1981:16) observa que "A obra de maior importância para oplano urbano realizada nos.anos sessenta foi a construção da AvenidaRubens de Arruda Ramos, desde logo aproveitada pelas empresasincorporadoraspàrà-a construção de edifícios até doze andares-destinados a apartamentos. Essa avenida enriqueceu o plano urbanosem'alteré-tó, pois substituiu a praia da baía norte; mudou, porém a '\signifieaçãoda baía Norte no contexto urbano, eis que a Beira -MarNorte,comofreqüentemente-ã- cha.mada, -passou a constituir a área nobre dacidade, com fácil acesso ao centro comercial através das avenidas OthonGamà D'Eçae Osmar çl.Jnha."
2.3 - A implantação do campus unlversltárlo da UFSC. A ocupação
da Trindade e dos balneários ao norte ea leste da Ilha.
Concomitante à execução dos investimentos urbanos na área norte
da península, desenvolviam-se pressões de frações da classe dominante
para que a implantação do campus da futura universidade não se
efetuasse na área central, como havia sido previsto pelo Plano Diretor,
Lei nO.246/55. Revigorava-se, no final da década de 50, a idéia de
implantar o campus universitário no bairro da Trindade. Deve-se~ ,
ressaltar que este debate, surgido durante a execução do Plano Diretor, '
ocorreu muito antes da formação da Universidade, tanto da estadual
como da federal.
A Tr~_rl~iJ~~, antiga freguesia situada a leste do Morro da Cruz,
constítuia-se, no início da década de 50, em um bairro periférico de
~~~~t~~í~~icassemi-rurais. Apesar de sua paróquia datar de H335,sendo, "7'f!
inclusive, transformada num suo-distrito do Distrito Sede em 1943, sua
ocupação na década de 50 era incipiente. A partir da praça da Igreja da~ . .,
Trindade, havia apenas quatro caminhos de terra: três destas "estradas"
faziam a ligação da Trindade com a península central, contornando o
Morro da Cruz pelo norte, outra contornando pelo sul e uma terceira
cruzando o morro; uma quarta via direcionava-se para o Córrego Grande
e para a Lagoa da Conceição, situada a leste da Ilha. Ao longo destes
quatro caminhos localizavam-se algumas casas, com ocupação ainda
bastante esparsas.
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Na área da Trindade, o Estado e a Igreja Católica possuíam
grandes extensões de terras, sobressaindo-se entre os proprietários
fundiários locais. As' terras pertencentes ao -qovemo estadual,
originavam-se de apropriações, efetuadas por volta de 1940, das áreas
de uso comum existentes nos campos da Trindade (Campos,1990:t33).
As terras comunais, como foi visto anteriormente, ocorreram em toda
extensão da Ilha, tendo sido apropriadas não apenas pelas camadas
sociais mais influentes, mas também pelo-Estado. Segundo relatou
Campos (1990), o Estado, através do Decreto Estadual N°.46 de
11/7/1934, pôde apropriar-se tanto das áreas públicas como das terras
de uso comum dos pequenos produtores, como ocorreu com as terras da
Trindade, transformadas, posteriormente, na Fazenda Assis Brasil:
"Por via direta, o Estado também se apoderou de terras de áreascomunais, desenvolvendo nelas fazendas de fomento e orientação àprodução do gado leiteiro, com o objetivo de desenvolver a' produçãoleiteira da Ilha. São exemplos importantes a FéJzendaRessacada e oposto Assis Brasil, as quais se especializavam na criação de gadoholandês e jersey, respectivamente." (Campo, 1991: 131)
Eram as terras da Fazenda Assis Brasil, somadas a mais algumas
propriedades em seu entorno, as áreas pleitea~as pelos defensores da
localização do campuâ universitário na Tríndade. Para entender estej • _." "'-
processo, é preciso que se esclareça a!~r~é!çã.o da universidade, como
definiu-se a ocupação destas áreas, o acirrado debate ocorrido nas
congregações e no Conselho Universitário e o interesse de setores,..
influentes da sociedade local sobre o assunto.
No mlcioda-década de 50 existiam duas correntes nos meios".', .
acadêmicos 'ro~r§:que se debatiam. 'pela 'formação da primeira "71',
73
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universidade de Santa Catarina. As discussões iniciaram-se na
Faculdade de Direito de Santa Catarina, transformada, naquela década,
em estabelecimento federal. Um grupo, liderado pelo-professor Henrique
da Silva Fontes, lutava pela criação de uma Universidade Estadual e
outro grupo, liderado pelo professor João David Ferreira Lima, defendia a
formação de uma Universidade Federal. (5)
Estas disputas refletiam os embates políticos e as divergências de
interesses existentes entre as elites locais, representadas, depois de
1945, pelas duas maiores agremiações partidárias: o PSD e a UDN.
Nestes partidos aglutinavam-se os interesses das duas oligarquias
regionais, que tiveram uma maior estruturação após o movimento. de 30
(6) e eram constituídas por três famílias: a família Ramos (PSD) e as
famílias Konder e Bomhausen (UDN) (7).
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5 - 'In LIMA, João David Ferreira. UFSC: Sonho e Realidade.Florianópolis, UFSC, 1980, p.50-57.
6 - Segundo o historiador Carlos Humberto Corrêa, foi após a Revoluçãode 30, com nomeaçãodoslnterventores pelo poder central, que começoua consolidar-se a estrutura oligárquica catarinense, em especial a dafamília Ramos. In CORRÊA,C.H., OS govemantes de Santa Catarinade 1739 a 1982. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1983.
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7- A família Rar;nos,<originária de propríetáríos rurais e pecuaristas deLages--'SC~'tévevarios de seus membros no poder legislativo e executivo,inclusive um - _Ner~u RaIl1Ps.:-'-esteve<quatromesesna Presidência daRepública (195Sfê, nop~:dódo dejüanos (1935-1945), foi interventor edepoisqovernadondo.Estado. Entre outros membros da tamüiaRamosdeve-se.citar: Aristides Ramos, Cândido Ramos; Vidal Ramos(govemadorentre1902.:.1906e 1910'-14), seus filhos, Nereu Ramos(1935-45) e Celso Ramos (gov. entre 1961-66) e o sobrinho 'destes,Aderbal Ramos da Silvá (gov. 1947-51), além de vários correligionários do"PSD, entre eles oex-govemador Ivo Silveira (1966-71). AsfamiliasKonder e Bomhausensâo'oriqináriasdc Vale do Itaiai, uniram-se.porlâÇôslamiflares edesenvolviam 'atividades' bancárias, empresariais etlnanceiras:/Eritreseusrriernbros, muitostoramqóvernaãores 'do Estado:Adolpho Konder(1~26130), o cunhado deste, lrineu Bornhausen (1951-56); seüfilhbJorgé'Konder Bornnaúsen (1979:'82), 'seu tióAntônio'CarlosKonder Reis (1975-"79), além de outrosgovemadores vinculados àfamília.
h;~;,
'l", :~'~,
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~~
75
Estas disputas pelo poder refletiram-se, desde então, em todos os
níveis. Repercutiram, também, em função dos interesses fundiários e
imobiliários que envolviam estes grupos,.na organização do espaço
urbano de Florianópoli~,
Em conseqüência da correlação de forças políticas locais, o grupo
liderado pelo professor Henrique Fontes conseguiu que o então
governador Irineu Bornhausen criasse a "Fundação Universidade '1~7Estadual de Santa Catarina", através da Lei n..1362 de 29/10/1955.
Conseguiu também que o governo do Estado, então vinculado à UDN,
doasse a área da Fazenda Assis Brasil, na Trindade, onde pretendia
implantar o carnpus. Deve-se ressaltar que, nesta disputa entre a criação
de uma universidade federal ou estadual, havia membros dos dois
partidos em cada um dos grupos; e ainda, que os governadores
empossados i,posteriormente viam com reservas a criação da
universidade estadual, em função dos altos custos que esta Instituição
iria absorver dos cofres estaduais.
Em função disso, o grupo liderado pelo professor Ferreira Lima
continuou as articulações: para a formação da Universidade Federal. O
fato do professor Ferreira Lima ser secretário-geral do PSD local
favorecia as articulações, pois, naquele momento, o presidente do PSD
catarinense - Nereu Ramos - ocupava o posto de Ministro da Justiça. No
entanto, o memorial de solicitação foi assinado, em 4/7/1960, por
membros de diferentes posições p~r:tidárias: pelo então governador
Heriberto Hülse (UDN) e tam·b~~:>pelos diversos diret~res das.,">.";,;:.
Faculdades existentes (Direito, F;#rmácia e Odontologia, Ciências
Econômicas, Serviço Social, Filosqfia e Medicina). A Universidade
, i:
. '". '~ -"o'_ .. __ •.: __
76
Federal de Santa Catarina foi criada pelo então Presidente Juscelino ".... :ff,'>/
Kubitschek, através da Lei n. 3.849 de 18/12/1960, sendo designado seu ..
reitor o professor João David Ferreira Lima, que ficou no cargo durante
10 anos.
Assim que foi sancionada a nova Universidade pelo govemo
Federal e, tendo em vista que o então governador de Santa Catarina não ,~
apoiava a formação da universidade estadual, .o Governo do Estado
declarou extinta a "Fundação Universidade de Santa Catarina", e ainda,
"pela Lei n. 2.664 de 20/1/196t autorizou a doação à União, para
incorporação à nova Universidade Federal, dos terrenos da Trindade,
onde funcionava a Fazenda Modelo Assis Brasil." (Lima, 1980: 81)
A..if!1e.I_~~!~~Odo campus da Universidade Federal representava a
posstbihdade de mudanças na economia e na dinâmica imobiliária da_.--" -_.-'
~çal2!.!?l. Previa-se que seriam escoados para a cidade e, em especial,
para a área do futuro campus imensos investimentos federais. Conforme
comprovou-se posteriormente, havia fundamento nesta previsão.
Segundo o reitor Ferreira Lima, "nos primeiros 1 O anos de existência da .
Universidade Federal, o seuorçemento foi sempre, várias vezes maior do
que o daEr~leitura da Cepite!" (Lima, 1980: 54), situação que_
permanece até hoje. Estes fatos ajudam a esclarecer as grandes disputas
pela criação e localização do campus na Trindade,. e ainda, a extinção
da universidade pelo Governo Estadual e a doação de seu patrimônio
para a Universidade Federat.,
Transferido todo Patrimônio das faculdades estaduais, para a
UFSC, nomeadosos 300 professores e funcionários, empossados os
catedráticos,o reitor, os diretores das unidades, aprovado o Estatuto
77
(Decreto n.50.580/61), composto o Conselho Universitário, entre outras
medidas de cunho administrativo, tiveram início os trabalhos da nova
universidade. Deu-se prosseguimento também, prolongando-se com
maior intensidade durante o ano de 1962, à grande polêmica sobre a
localização do campus da Unlversldade: se este permaneceria no centro,
na área aprovada pelo Plano Diretor Municipal ou se iria para a Trindade,
nos terrenos doados pelo governo do Estado. Havia ainda grupos sociais
que indicavam o Continente para sediar o campus, mas eram pouco
representativos.
Desde maio de 1962 as Congregações das diversas Faculdades
vinham discutindo o assunto - "Planejamento e Localização dos Prédios
das Unidades e demais dependências da Universidade" -, para que a
posição destas Congregações pudessem ser debatidas e votadas no\
Conselho Universitário (CUn). Houve~ três reuniões do CUn sobre o
assunto e somente na reunião de 27 de novembro conseguiu o Conselho,
após imensas polêmicas, deliberar o assunto (8). Além do reitor, dos
representantes das 7 faculdades e de seus diretores, estavam presentes,
sem direito a voto, representantes dos Docentes Livres e dos
representantes discentes.
8 - Os debates, ao longo de meses, foram extremamente polêmicos,como demonstra o pronunciamento do conselheiro João Bonassis, quesolicitava, no início da sessão, serenidade aos demais membros, porque"...os espíritos estão armados; o ambiente criado se tomou hostil; velhas"amizades ficarão estremeciaest. ..) Chegamos a um ponto onde a coaçãotolhe-nos até a liberdade de extemarmos o nosso ponto de vista. Osprocessos, as formas empregadas para se impôr uma idéia que talvez, "nem todos aceitem e que, também, talvez, não seja a melhor, é que nãosêotoleréveís" extraídbda Ata da Sessão Extraordinária do Ctln - 150sessão- 27/11/1962," In Livro de Atas docun, p.100. O professorBonassis votou pela transferência para a Trindade.
.~.~ ~.",-.
78
A Universidade era composta por 7 Faculdades. As congregações
de 4 destas Faculdades deram pareceres favoráveis à permanência da
universidade no centro e 3 propuseram a transferência para a Trindade.
No entanto, a segunda proposição acabou tornando-se vitoriosa, tendo
.em vista que alguns representantes das faculdades não votaram de
acordo com a decisão de suas Unidades de Ensino.
o reitor, contrário à transferência para a Trindade e, inclusive, de
implantação de um campus, efetuou longo discurso onde levantava os
problemas que se evidenciavam na transferência para a Trindade. Entre
outros aspectos, comentava: a) os altos custos que significavam a
construção de um campus, considerando que outras universidades
federais mais antíqas, como as de Porto Alegre, Recife e mesmo a do
"Fundão" no Rio de Janeiro, apresentavam dificuldades para concluir
seus campi; b) a localização da Trindade, muito distante da área central
da cidade, com péssimas estradas, transportes coletivos precários, assim
como os serviços de água e luz e a inexistência de esgoto, cujos
problemas seriam ampliados com a concentração e transporte diário de
mais de 1.000 pessoas para a área, dificultando aos alunos, inclusive,
manterem vínculos de trabalho no centro; c) sobre a qualidade da área
da Fazenda evidenciava ser o terreno alagadiço, pois situava-se numa
"bacta hidrográfica cercada de morros", que exigiriam caras obras de
canalização e drenagem; d) relatou ainda que o Governo Estadual, além
de doar a Fazenda Assis Brasil, havia se comprometido a desapropriar
44 terrenos ao redor da Fazenda para doar à UFSC, mas destes apenas
dois terrenos foram pagos. (9)
9 - No discurso proferido em 27/11/1962, na 150 sessão do CUn, Livrode Atas do Clfn, PR: 101 a 105, frente e verso. Trecho entre aspas: Lima,op.cít., 1980: 160.', .
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79
Toda polêmica envolveu os setores mais influentes da cidade,
muitos dos quais enviaram ao Conselho Universitário telegramas de
congratulações e cumprimentos tão logo souberam da deliberação, entre,
eles, o então Presidente da Câmara Municipal de Ftortanópoüsu«).
Sabia-se que a implantação' do campus universitário na Trindade iria
interferir, a médio prazo, e dependendo dos investimentos urbanos
efetuados pelo Estado, na expansão e na estruturação urbana de
Florianópolis. Representava, sem dúvida nenhuma, uma imensa frente de
expansão e investimentos para o capital imobiliário.,,ç
A universidade federal dispunha, em 1962, de 100 hectares de
terras na Trindade, acrescidos depois de 232 hectares de áreas junto ao
mangue, pertencentes à União (Lima, 1980: 162). O processo de
construção do campus universitário ocorreu nos primeiros anos de forma
bastante lenta, ocupando inicialmente as edificações que já existiam nas
propriedades, em torno de 6.689,00 m2. As primeiras obras começaram a--, '
ser concluídas a partir de 1965; mantendo até o final da década de 70 um
acréscimo médio de 3.600,00/m2 de área construída ao ano. A partir do
fim da década de 70, coincidindo com o início das obras da Via de
Contorno Norte-Ilha, houve~, como veremos adiante, imensos
investimentos efetuados via PREMESU-MEC.
10 - Livro de Atas 'do eUn, 160 sessão, de 19112/1962,p. 108-frente.
"
I,
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80
2.4 - Análise das repercussões das ações do Estado na dinâmica
imobiliária nas décadas de 50 e 60.
2.4.1 - O centro urbano e a área continental:
As principais proposições do primeiro Plano Diretor, Lei No.
246/55, como a implantação do porto e das áreas industriais, que :\_,
representariam alterações econômicas e espaciais em Florianópolis, não
foram concretizadas nos anos posteriores. No entanto, a expectativa de
implantação destas propostas, em especial das instalações portuárias,
repercutiram na dinâmica imobiliária da área continental na década de cld.
50.
As alterações nos interesses dos setores imobiliários podem ser
evidenciados também através da avaliação do número de loteamentos
aprovados numa parte da cidade em relação ao conjunto urbano (11).
Deve-se evidenciar ainda que, em função da dimensão variável nas áreas:. ,
dos loteamentos, e, também, das Leis de regulamentação de tJ".,-, '
loteamentos, surgidas durante a década de 70, .é importante que os
dados da Tabela 06, sobre os Loteamentos Aprovados, e ainda, os dados
das Tabelas 07 e 08, que indicam os Desmembramentos e Condomínios
aprovados em Florianópolis, entre 1959 e 1992, sejam confrontados com
as Figuras 21-a, 21-b e 21-c, que indicam a sua localização.
." .:..-..
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11 - Estes indicadores, como já foi alertado anteriormente, por nãocontabilizarem os loteamentos clandestinos, não representam a suatotalidade, o quê, no entanfo,nãó reduz a sua importância para a análiseda dinâmica e das.aíterações ·ocorridas nos interesses dos setoresimobiliários numa área"urbân'àj7(
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..~81 )
Na área continental, especialmente nas proximidades do Estreito,
continuou, por toda década de 50, o intenso desenvolvimento imobiliário.
Os empreendimentos na área do Estreito eram dirigidos, em sua maior
parte, para as classes médias. Na área continental situavam-se, como t>lvimos, 53% dos loteamentos aprovados no município no período 1950-59
(Ver Tabela 6 e Figura 21-a). A expectativa dos grandes investimentos
estatais previstos pelo Plano no bairro do Estreito (12), a perspectiva de
conctusãoda BR-101 localizada a 3 km de distância da área, e ainda, o
estabelecimento de gabaritos mais altos nas edificações próximas à
futura área portuária (Lei n. 246/55), ajudaram a gerar um grande
interesse do setor imobiliário em tomo daquelas terras.
Durante 'a década de 60 os interesses imobiliários na área
continental começaram a sofrer uma redução na intensidade inicial. Nas
adjacências do Estreito, em especial, esse processo tomou-se mais i
~evidente. Na década anterior, nestes bairros, situavam-se 41 % do total
dos loteamentosaprovados no município, reduzindo-se para 23,6% do
total, no período 1960-69. Apesar desta redução na região do Estreito, a
área continental manteve, no período, um expressivo interesse de
investimentos, localizando-se na área 39% dosloteamentos aprovados
na cidade.
A redução dos interesses de investimentos imobiliários no
continente resultou, também, das diversas intervenções urbanas que
privilegiavam e vinham sendo executadas pelo Estado na Ilha, abrindo ali
12 - Durante muitos-anos houve empenho dos diversos governosestaduais no sentido de se obter empréstimos externos para aimplantação do porto. Na década de 50, em função do-Plano Diretor,reivindicava-se o porto 'situado no Estreito 'e, no final da década de 60,proposto pelo Plano de Desenvolvimento Integrado de Florianópolis,pleiteava-se o Porto de Anhatomirim.
82
" novas frentes de investimentos. Além disso, no final da década de 60,
ainda que se mantivesse o interesse pela implantação do porto, os
planos governamentais que vinham sendo elaborados não propunham
mais a implantação das instalações do porto na área do Estreito.
Previam-se as instalações do Porto de Anhatomirim na área continental,
mas situado a 30 km ao norte de Florianópolis. De qualquer forma, deve-
se ressaltar que o setor imobiliário no Continente ainda mostrava-se, na
década de 60, bastante dinâmico. "
o interesse especulativo na área continental talvez ajude a explicar
porque, apesar dos intensos problemas de infra-estrutura existentes no
Estreito, os setores da população de maior renda tenham mantido, até o
final da década de 60, propriedades próximas à Praia do Balneário no
Estreito, como mostra a Figura 12, que localiza a população segundo os
extremos de renda, em 1970. Essa situação foi totalmente alterada no
final da década de 70, como se vê na Figura 13-a, que localiza a
população de acordo com a renda familiar média (13) . No entanto,
devem, ser efetuadas importantes ressalvas em relação a Figura 12: "foi
selecionada uma faixa de renda muito ampla para indicar a população
com rendas mais elevadas, pois o autor considerou naquela" situação
toda população com rendimento mensal acima de 5 salários mínimos,
13 - A Figura 12 localiza a ocupação da área urbana de Florianópolissegundo os Extremos de Renda, indicando a localização dos habitantescom maior renda e aqueles de menor renda. Toma como base asinformações por setor censitário do Censo de 1970, In DIGIÁCOMO,Milton. Ecologia Fatorial da Aglomeração de Flortanópolis. Dissertaçãode Mestrado. UFRJ, 1979. As Figuras 13-a e 13-b localizamespacialmente todas as camadas populacionais deFlorianópolis segundoa Renda Média Familiar no ano de 1980." As informações; tendo porbase o salário mínimo, foram.divididasem quatrogrupos de renda (classe ...•alta, média, média baixa e baixa). Os dados brutos foram obtidos nolevantamentoporrendamédia familiar por setor censitárío do Censo de1980.·, "
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equivalente na época a US$ 213,00 (14). Das cinco classes de rendimento
estratificadas pelo IBGE, o autor utilizou a população do último estrato
mais baixo (até 1s.rn.) de rendimento para localizar espacialmente as
populações mais pobres. Entretanto, utilizou-se dos dois estratos mais
.altos (de 5 a tos.m. e acima de tos.m.) para indicar a população; com
renda mais elevada. Portanto, as áreas' indicadas na Figura 12, situando
as populações de renda mais elevadas, absorvem, certamente, parcela
considerável dos setores populacionais de renda média (15). Outro
aspecto importante a ser observado e considerado nesta comparação é a
maior densidade populacional apresentada pela área urbana da Ilha em
relação ao Continente, conforme mostra a Figura 20.
Havia, sem dúvida, na década de 60, setores populacionais de alta
renda que ocupavam os bairros continentais, em especial, próxirnos.à
Praia do Balneário. Existia; inclusive, interesse dos setores imobiliários
pela formação de loteamentos residenciais de alta renda na orla sul da
Continente - nas praias de Itaguaçu, Coqueiros e Bom Abrigo (Figura 3-
b). Este interesse apoiava-se não apenas na belíssima paisagem e
14 - o IBGEutilizou, no Censo Demográfico de 1970, para estratificarem cinco classes de rendimento a população economicamente ativa(PEA), a seguinte classificação: até Cr$ 200,00 (1 salário mínimo); deCr$201,OOa Cr$400,OO; de.Cr~4Q1;QOétCf$,1;.OPO,OO; de Cr$ 1.001,00 aCr$ 2.000,00 (de 5 a 10s.m.) é mais de Cr$ 2.000,00. No caso deFlorianópo!is, na primeira classe.de rendatatéts.rns situavam-se 58,6%da PEA; na segunda, terceira, quarta e quinta classe de renda situavam-se, respectivamente, 24,7%; 11,9%, 3,7% e 1,7% da PEA, In OLIVEIRA,L. et alii. Indicadores Sociais para Áreas Urbanas. Rio de Janeiro:IBGE,1977.
15 - Em razão desproblernas apresentados-neste rnapearnento,pretendíamos reorqanízá-lo, utilizando os dados brutos do Censo. Noentanto, apesar dó intenso empenho junto àsàgênciasda FundaçãoIBGE, tanto em Flo~§mqp()lisc9mo po Ri() de Janeíro, não consequirnosobter os dados sobre'rendà pbpulacional ei'nFlonanópolis, por setorcensitário, dosC~I)~Ps9~.,;19.Zge,.1~6p, apenas os dados de H)80.As .'informações sobré''cl"rertda:medi<iNâhliliar, 'porsetor' censitáno, do Censode .1991, aindan~,QI?$t~g,di~P9J)íy~is p~rª.c()nsulta, impedindo, portanto,a execução destÉ{mâpe'âlT1(~ritõ\Jtiliza:haO::s~b"setor censitário.
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conformação natural desta orla sul, mas, também, na perspectiva de
implantação de uma nova ponte IIha-Continen'te situada naquela área da._-- ........•.
cidade e que vinha sendo qestada-nos setores governamentais.c,~)
É preciso ressaltar, no entanto, que não ocorria, na » área
continental, o processo que vinha se desenvolvendo na Ilha, de
concentração e expansão. das áreas residenciais das elites. Na Ilha, estas__ .••.. ------ ••. __ . ._ •. ------ .• , _ .. o.. _ . ', • ••
áreas residenciais impulsionavam-se no sentido norte-nordeste-teste qa_. ,_ ••• ---- -- .- -- - •• --.-_ - " __ '0 .••• •••• • ••• "
área central. As áreas residenciais de mais alta renda na parte
continental da cidade, inclusive os bairros de Itaguaçu e Coqueiros, que
mais tarde estruturaram-se, constituíam-se em bairros esparsos,
isolados.
A organização territorial que se estabelecia em F/orianópolis não
indicava que o crescimento das áreas residenciais de alta renda iria
expandir-se para os bairros continentais. Ao contrário, disseminava-se
nos bairros situados no interior da área continental - Monte Cristo,
Coloninha e parte de Capoeiras - a ocupação pela população de mais
baixa renda e, mais tarde, também de algumas favelas próximas à BR-
282. A ocupação territorial da população mais pobre desenvolvia-se,
principalmente, no eixos que se direcionavam para a BR-101 e para os
caminhos que levavam para os municípios de São José, Palhoça e
Biguaçu, em processo de conurbaçãocom a Capital.
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É interessante evidenciar, inclusive, que o município de São José,
situado na divisa com Florianópolis, começou a apresentar, a partir da
década de 60, um grande crescimento populacíonal. Este prQfesso foi
determinado, em .grande parte, pelos movimentos míçratórlos+des ...
populações vin,das. do interior do' estado e, inclusive, de Florianópolis,
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formadas por setores de mais baixa renda. O município de São José
apresentava, na década de 60, taxa de crescimento populacional de
6,38% a.a., portanto, o dobro da taxa de crescimento apresentada por
Florianópolis, de 3,13% a.a. no mesmo período (Tabela 01). A maior
parte da população migrante que se dirigia à Capital em busca de
trabalho acabava instalando-se, em função do alto custo das terras na
Ilha, na área continental de Florianópolis e nos municípios vizinhos, onde
também começavam a instalar-se as primeiras índústrías.p-)
/'/"7 A península da Ilha, por outro lado, em especial a sua área
residencial norte, foi extremamente privilegiada durante as décadas de 50
e de 60. O benefício ocorreu não apenas em função das proposições I
contidas no PJano Diretor mas, principalmente, pela execução de ~tbinvestimentos urbanos previstos e não previstos no Plano. Garantiu-se,(~
como foi visto, acessibilidade à área norte, privilegiou-se todo este setor
não apenas com definição de novo sistema viário, infra-estrutura,
equipamentos e áreas verdes mas, também, com o benefício de sua---~_ .•_.
qualificação e preservação, restringindo a ocupação das atividades
indesejáveis, como as atividades industriais e portuárias, através de
legislação urbana (Lei n.246/55). P'
/}/ Fortaleceu-se, nesse período, o processo de concentração das
áreas residenciais das elites no setor norte da península na Ilha que,
como procurou-se mostrar, vinha se delineando nesta área desde o final
do século XIX/ No final da década de 60 a área norte da península, .consagrava-se, em função dos investimentos ali efetuados, na principal
área residencial das camadas sociais de alta rendaem Florianóeolis ..'.. \ P16- Dados do IBGE.apontam que, em 1970,19,64% da população deSão José constituía-se de população migrante, contra 9,85% dapopulação de Florianópolis. In OLIVEIRA, Lúcia, IBGE, op.cit.
-
I.-- .._-_._~ ..__ ._-----_ .. -- . __ .... _.-_._._-,.,.,....~-~-~-~."......----~
86
__º~LlJ.y~-~-tjrnen~osd~.~~~~do, tanto na área norte da península como
a no~º~~t~.çI.~s~ª,~_º!? interesses imobiliários no Continente, repercutiram. .
em outras .áreas da cidade, Os bairros situados mais ao sul da península,
como o Saco dos Limões, a Costeira do Pirajubaé e a Ressacada,
tiveram, na década de 60, seu interesse de ocupação bastante reduzido.
Durante a década de 50,)havia ocorrido um repentino interesse imobiliário
por estes bairros, em especial a Ressacada, com empreendimentos
. voltados para os setores populares. Os loteamentos aprovados nesses
bairros, no período 1950-59, representaram 10% do total do município. ckPara efeito de comparação deve-se lembrar que na península central,
nesse mesmo período, localizavam-se 16% dos loteamentos aprovados
(ver Tabela 06). Tudo leva a crer que este interesse para os bairros ao
sul foi decorrente da construção e alargamento, em 1956, da estrada que
levava ao Aeroporto de Florianópolis e às instalações da Base Aérea,
situados na Ressacada. No entanto, essa procura pela área reduziu-se
também abruptamente nos anos subseqüentes, situando-se ali apenas
4% dos loteamentos aprovados no período 1960-69. (Ver Tabela 06)
2.4.2 - A Trindade e os balneários ao norte ~ a leste da Ilha.
Antes mesmo da decisão sobre a construção do campus
universitário, já começaram a ocorrer alguns loteamer:ttos na área da
Trindade. Estes empreendimentos foram surgindo lentamente: entre
1940-1959 foram aprovados 13 loteamentos próximos à área do campus,.~numa média de 1 loteamento a cada 1 ano e meio: após a formação da'
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UFSC, entre 1961-1967, foram aprovados próximos ao campus 8
loteamentos, evidenciando um ligeiro aumento de interesse pela área. (17)
Os dados sobre os loteamentos aprovados, como já se alertou,
indicam e nos ajudam a entender, fundamentalmente, os movimentos da
dinâmica imobiliária: a localização e as alterações nos interesses de
investimento do setor imobiliário, em relação ao conjunto da cidade, ao
longo de um determinado período.f\!0 caso enfocado, indicavam o
aumento do interesse pela área a leste do Morro da Cruz, a partir da ~
década de 50.
É preciso também ter claro que o interesse dos setores
imobiliários por uma determinada área da cidade não significa o imediato
loteamento eneqoclação da área; em geral, simplesmente é feita a
compra de glebas para especulação, à espera de benfeitorias urbanas,
ou ainda, implantado parte do loteamento para depois pressionar os
poderes públicos para investir na área e executar a sua intra-estrutura.j
Da mesma forma, a aprovação de um loteamento pela Prefeitura não
significa uma imediata ocupação da área. Muitos loteamentos,
dependendo do interesse do mercado pela área, podem ser ocupados
rapidamente ou mesmo permanecerem anos, ou até décadas, para
serem edificados ou comercializados./p(/
/ O que importa aqui ressaltar é que os fatos têm confirmado que o
interesse do capital imobiliário por uma determinada região da cidade é
17 - Levantamento efetuado junto à Prefeitura Municipal de Florianópolis "- SUSP, setor de aprovação de projetos. A localização dos loteamentosaprovados no período de ·1940-1992 estão indicados nas Figuras 21-a,21-b e 21-c. Os dados gerais sobre os loteamentos, desmembramentos econdomínios estão expostos, respectivamente, nas Tabelas 06,07 e 08.
~~--~~----~~-~-'----~~------------------------------------~,~88
muito anterior à sua efetiva ocupação e aos investimentos públicos ali
implantados. Foi justamente esse o processo ocorrido nas áreas
situadas a leste do Morro da Cruz, nos bairros da Trindade e adjacências.
A idéia de localizar um campus universitário na Trindade já ocorria, como'
~vimos, pelo menos desde o início da década de 50 e intensificou-se
durante a elaboração e aprovação do Plano Diretor, portanto, muito antes
de ser criada uma universidade em. Florianópolis. Esses antiqos
interesses pela área da Trindade também evidenciam-se pelos
loteamentos que ali vinham sendo aprovados desde o final da década de
40.
Na década de 40 os loteamentos aprovados na Trindade e bairros -r-,+-,
adjacentes (1.8) representavam 11% do total de loteamentos aprovados na _~
cidade, passando na década de 50 para 15% do total (Ver Tabela 06). Os -r-,
fatos demonstram, portanto, que os acalorados debates registrados nos,* '""
meios universitários, em 1962, não eram simples desentendimentos -<.
acadêmicos e administrativos. Representavam, mesmo que
involuntariamente, as disputas que já vinham ocorrendo entre setores das
elites locais, em especial vinculadas ao capital imobiliário, na localização
dos equipamentos e na distribuição dos investimentos urbanos, ou seja,
no processo de produção do espaço urbano de Florianópolis.
A decisão de implantar o campus da UFSC na Trindade manteve,
na década de 60, em números absolutos, praticamente o mesmo número
de loteamentos aprovados na década anterior. Mas, proporcionalmente à
quantidade total de loteamentos aprovados, representou um aumento
18 - Os dados indicados no item "Ilha/Distrito Sede/Leste-Norte", naTabela 06, incluem os bairros da Trindade, Córrego Grande, Itacorubi,Saco Grande, Pantanal e Agronômica.
~----------------------------------------------------------------------------~-
89
expressivo que, na região da Trindade, passou de 15% para 27% do total
de loteamentos aprovados na cidade. (Tabela 06)
Este aumento relativo no número de loteamentos aprovados na
.reqiâo leste-nordeste não significou a imediata ocupação desta área. O. '"
desenvolvimento da região da Trindade ainda ocorreu de forma lenta
durante a década de 60. Deve-se considerar que, nesse período,
. houve;# poucos investimentos do Estado na área, principalmente
intervenções que melhorassem a acessibilidade à região do campus
universitário. Também não ocorreram grandes investimentos do Governo
Federal, na década de 1960, no espaço físico do campus universitário da
Trindade, permanecendo a maior parte dos Cursos nos antigos prédios
do centro da cidade até meados da década de 70. (Ver Tabela 09).e=----~
\\
O lento desenvolvimento da região da Trindade, decorrente \\
também dos ainda escassos investimentos urbanos na área. contribuiu ,III
Continente onde, como vimos, apesar de bastante inferior em relação Iàqueles expressos na década de 50, ainda representavam quase 40% do //0;1total dos loteamentos aprovados na década de 60 em FlorianóPolis.(Ve: . o
Tabela 06) »>
para que se mantivessem os interesses imobiliários na área do
Para se compreender os motivos que induziram à ampliação dos
interesses imobiliários pela região da Trindade, no eixo nordeste-leste,
deve-se considerar o crescente interesse das elites, do setor imobiliário e
do turístico pelos balneários situados ao norte (área de Canasvieiras) e a
leste (Lagoa da Conceição) da Ilha.
90
Esta atração pelos balneários situados ao norte e a leste da Ilha
impulsionava e direcionava o eixo de expansão das áreas residenciais
das camadas demais alta renda, qu~_~~ desenvolviam na área norte _d._ª-
península. Os bairros situados a nordeste-leste da área urbana central,
em especial a Agronômica e a Trindade, constituíam-se, portanto.. na
"passagem" para aqueles balneários e' no eixo "natural" de expansão
urbana. A implantação do campus universitário da UFSC na Trindade
constituiu-se, portanto, numa intervenção que procurava marcar a área
como futuro local para ocupação e expansão das elites, evitando
intervenções que viessem a desvalorizar a região, como aquelas
efetuadas ali em décadas anteriores (cemitério. penitenciária, aterro
sanitário, etc). Tratava-se, como procurou-se demonstrar, da abertura de
novas frentes para o capital imobiliário.
\, \.
(/No final da década de 60 este processo de expansão urbana nà,\
Ilha definiu a alteração dos limites urbanos", que até então ocupava \
praticamente apenas a península, central, Id~íi~;;~~~'-~~-~~rte-aoMõ~da cruz_no bairro da Agronômica--~-~~:~I no bairro de José Mend~
Através da Lei n.898/68, foi definido novo perímetro urbano de
Florianópolis que fixava os seguintes limites da zona urbana:
.-~
"em direção ao Norte da Ilha, no Grupo Escolar "José do ValePereira", na localidade de Saco Grande; em direção ao centro-oesteda Ilha, no, Córrego Grande, quer via Itacorobi ou via Trindade; emdireção ao sul da Ilha até o aeroporto e fazenda Ressacada; no ladodo Continente o limite será mantido com o município de São José."(Ver Figura 08)
;--A região norte da Ilha que até as primeiras décadas deste século o 'r.,
era utilizada, fundamentalmente, para o desenvolvimento das atividades
agrícolas e pesqueiras, começou, a partir da década de 50, a atrair a
atenção das elites para a sua utilização balneária. Deve-se lembrar a
apropriação, desde a década de 30, das grandes' glebas de terras
comunais ao norte da Ilha por setores influentes das elites,
principalmente por muitos membros da família Ramos:/y
A região do balneário de Canasvieiras (19), em especial, era
extremamente visada pois apresentava excelentes praias com águas
limpas e de temperatura amena, protegidas dos ventos constantes, além
de belíssimas paisagens e de conformação física bastante rica.
Canasvieiras, situada a 27 km do centro da cidade, possuía como única
barreira para o seu desenvolvimento o precário acesso rodoviário. As
estradas de acesso aos balneários norte, a SC-01 (atual SC-401),
originavam-se ainda dos antigos caminhos do século XVIII que levavam
ao Forte de São José da Ponta Grossa (Jurerê) e que, até a década de
60, ainda não haviam sido retificados e pavimentados.
A região da Lagoa da Conceição, situada a leste da Ilha, vinha
também despertando atenção dos setores imobiliários e turistlcos.
Apresentava a região, além da vila originária no século XVIII, situada à
beira da Lagoa, uma excepcional paisagem e uma imensa gama de
atrativos: as águas quentes e calmas da Lagoa, as dunas, as praias
voltadas para alto mar, como a Praia da Joaquina, uma exuberante
vegetação dos morros ao redor da Lagoa, a pesca do camarão, entre
outros. A estas qualidades somava-se a vantagem de sua proximidade
19 - Nessa orla norte, além da Praia de Canasvieiras, encontram-se aspraias de Jurerê, do Forte, da Daniela, Ponta das Canas, da Lagoinha eCachoeira do Bom Jesus. Na orla nordeste, com desenvolvimentoturístico mais recente, encontram-se as praias de Ingleses, Brava eSantinho. A partir' da década de70, em função de sua melhor infra-estrutura, a Praia de Canasvieiras vem polarizando toda a região.
91
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92
com a área de expansão da região da Trindade e, principalmente, do
centro da cidade, situado a apenas 12 km de distância.
É importante que se diga, também, que os balneários vinham
tornando-se focos de atenção e procura, paralelamente- ao
desenvolvimento turístico que começava a tornar-se mais acessível a
grandes parcelas da população. O turismo, segundo demonstra Luiz
Trigo, "nasceu e desenvolveu-se com o capitalismo,( ...) mas foi a partir de
1960 que o turismo explodiu como possibilidade de prazer para milhões
de pessoas e como fonte de lucros e investimentos, com "status"
garantido no mundo das finanças intemacionais. "(20)
--------
O desenvolvimento do turismo no Brasil também esteve vinculadc>,
ao enorme peso social que as classes médias começaram a ter dentro da \\
nova estruturação de classes do Brasil urbano, quando, a partir de sua Imaior influência na estrutura política e no aparelho de Estado, ampllararn-z"
se os investimentos do Estado para atender às suas demandas (21~
O crescimento do turismo começou a intensificar-se em
Florianópolis, principalmente a partir da década de 70. Neste período,~ .
com a conclusão da BR-101, foi implantado o complexo viário intra-
urbano, ampliando-se também a infra-estrutura urbana local. No entanto, ., i
já na década de 60 ocorriam os intercâmbios turísticos, tendo o Est~
20 - In TRIGO, Luiz G. Turismo e Qualidade: tendênciascontemporâneas. Campinas: Papirus, 1993, p.19. Este livro é baseadonas pesquisas desenvolvidas pelo autor na Dissertação de Mestrado emFilosofia Social pela Puccamp, 1991.
21 - Ver OLIVEIRA, Francisco de. "O Estado e o UrbancNo Brasil". !nRevista Espaço & Debates. São Paulo: 1982, n.6, junho/set1982,.p.50-53.
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93
promovido nesta época os primeiros contatos com agentes turísticos
argentinos. (22)
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"Durante as décadas de 50 e 60; portanto, além de definir a\
localização da mais importante área residencial das elites, situada no \\
norte da península, na Ilha, e dos investimentos urbanos ali efetuados tk,pelo Estado, iniciou-se, também, os interesses turísticos e imobiliários
pelos balneários ao norte e a leste da Ilha. A atração, principalmente I. !
Ipelos balneários norte, por parte do setor hegemônico das elites, ajudou /
Ia direcionar e estruturar o processo de expansão da área urbana, nçl
.~.//;
sentido nordeste-leste da Ilha. ~-----
A DÉCADA DE 70
2.5 - A proposta de integração rodoviária: O Plano de
Desenvolvimento Integrado da Grande Florianópolis (1969-71).
As ações do Estado na década de 70, em especial aquelas
relativas ao sistema viário, foram fundamentais no processo de ocupação
territorial das classes sociais em Florianópolis. Para se entender o papel
dessas intervenções rodoviaristas na década de 70, as disputas que
envolveram e, principalmente, sua repercussão na organização territorial
22 - Em artigo publicado no Jornal "O Estado", o arquiteto ValmyBittencourt faz o seguinte depoimento: "Em 1966, o Prefeito Paulo Vieira
'\da Rosa, por sugestão minha traz até aqui mais de 30 agentes deviagens.doRio daPrata, começando então o fluxo de argentinos, até osufoco de hoje. n no artigo nA sina de Florianópolis-IX", InJomal "OEstado", 28/02/1993.
94
urbana, é importante que se esclareça o Plano Urbano que precedeu e
fundamentou estas intervenções e a singularidade da conjuntura política
e econômica vigente. 'Este plano, semelhante a outros emergentes no
país na década de 60, refletia as condições econômicas e políticas do
.perlodo e dava sustentação ideológica àquelas intervenções.
2.5.1 - A conjuntura política e econômica do período.
A década de 60 foi marcada, politicamente, pelo golpe militar de
1964, que ocorreu num momento de crise da economia brasileira. O
regime, autoritário que se instalou evidenciava não apenas o poder
político militar, 'mas também o crescente poder da burguesia industrial
vinculada a setores mais influentes da tecnocracia estatal. Em linhas-'}'
gerais, sustentadas pela repressão política, desenvolveram-se uma série t *de medidas - entre elas um grande arrocho salarial e ações do Estado
,favoráveis ao fortalecimento do grande capital nacional e internacional, - :
que geraram-
grande acumulação de capitais e uma crescente
concentração de renda. Estas medidas, paralelamente à recuperação da i\
economia mundial a partir de 1967, garantiram a consolidação da Iexpansão capitalista no Brasil e o "boom" econômico do período 1968-73~
chamado de "milagre brasileiro".
, No período do "milagre", "...os bens duráveis (automóveis eeletrodomésticos) e a construção civil tomaram a liderança,veiendo-se inicialmente da capacidade ociosa existente (...) citou-se um mercado financeiro, captando-se poupanças voll{ntárias nopaís e recursos baratos no exterior. O Estado fortaleceu suacapacidad~ de controle de fluxos .ae investimentos (. ..) Os setores
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públicos e privados tomaram-se mais integrados; mais e mais oEstado dispunha-se a cobrir os riscos dos grandes investidores. Aeconomia voava mais alto do que nunca ... " (23)
Esse processo, que gerou o empobrecimento e a expropriação de
grande massa de trabalhadores, refletia-se a nível urbano. As áreas
urbanas passaram a receber fluxos de migração rural-urbana mais
intensos do que o crescimento do mercado de trabalho, gerando tensões
crescentes e intensificando-se os chamados problemas urbanos.r=)
Concomitante à reorganização do aparelho de Estado e às imensas
transformações que se operavam nas áreas urbanas, começaram a
fortalecer-se os discursos tecnocráticos, que atribuíam imensa eficácia ao
planejamento. A 'eficiência do planejamento e das soluções "técnicas e
racionais" permitiria, segundo esse discurso, resolver os problemas
sociais e urbanos emergentes. Nesse período, portanto, "...0 poder
federal tenta dominar o caos urbano através de imposições
administrativas, partindo do pressuposto que a ausência de um
planejamento local seria responsável pela má aplicação dos recursos
municipais( ..)Assim estabelece que todos os municípios devem elaborar
seus Planos Diretores de Desenvolvimento Integrado (PDDI), sem os
23 - ANDRADE, Régis S.C. "Brasil: A economia do capitalismoselvagem". In KRISCHKE, Paulo (Org.) Brasil: do "milagre" à"abertura". S.Paulo: Cortez Editora; 1982, p.141 ..Ver também sobre o "milagre econômico" e o período que o antecede:SINGER, Paul. O "milagre econômico" causas e conseqüências.S.Paulo: Cebrap, 1972; OLIVEIRA, Francisco. A Economia daDependência Imperfeita. RJ: Ed. GraaJ, 1977; SKIDMORE, Thomas.Brasil: de Castelo a Tancredo. R. Janeiro: Paz e Terra, 1988.
" .24.:-;.As.pé~sirnas.condições urbanas da década de 70, expressão maisevidente do contraste entre acumulação e pobreza, são apresentadas deforma clara em: CAMARGO, Cândido et alii. São Paulo 1975.Crescimento e Pobreza. SoPaulo: Ed.Loyola, 1975.
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quais nenhum recurso de ordem federal ou estadual será concedido. "(25).
Foi o período de disseminação das empresas especialízadas em produzir
Planos Diretores.
todos centros urbanos do país.
As condições, gerais da economia e da sociedade brasileira
refletiram-se, evidentemente, na área urbana de Florianópolis e'
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municípios vizinhos, 'apesar do incipiente desenvolvimento industrial da
região e do crescimento das atividades do setor terciário em Florianópolis-,..•;.,-:i-
(27). Evidenciou-se, em especial, no aumento da especulação e das
25 - BLA.Y, EV8. "Planejar para quem?". In BLAY, Eva (Orq.). A lutapelo espaço. Petrópolis: Vozes, 1978, p.171.
26 - Entre outros estudos, pode-se citar: CHAUí, Marilena. "Crítica eIdeologia", In CHAUí,M. Cultura e Democracia. S.Paulo: Ed.Modema,1981; REZENDE. Vera. Planejamento Urbano e Ideologia. R.Janeiro:Civil.Brasileira, 1982; LEVY, E Planejamento Urbano: do Populismo ,~ao Estado Autoritário. EAESP/FGV, Dissertação de Mestrado, 1984; ~VILLAÇA, Flávio. Sistematização Critica da Obra Escrita sobre EspaçoUrbano. FAU-USP, Tese de Livre-Docência, 1989.
27 - Segundo o Censo Populacional de 1970, a participação dapopulação economicamente ativa por setor de atividade em Florianópolis .\indicava 15,5% de participação no setor primário, 20% no setorsecundárioe- ;,6,4;6%'ri~:setór terciário. As aglomerações urbanas daregião sul do paístapfê§~ntava,m a média de participação de 19,1%,21;9% e de 58';9%; respectivamente, nas atividades do setor primário,
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atividades imobiliárias, na ampliação de órgãos da administração pública,
no afluxo de migrantes que se instalaram nas encostas dos morros da
Ilha e, principalmente; nas periferias urbanas da' área continental, e,
ainda, na intensificação da construção civil e nas diversas intervenções
urbanas efetuadas pelo Estado, a partir de 1970. "
2.5.2 - Plano de Desenvolvimento Integrado da Área Metropolitana de
Florianõpolis.
Justificado pelas transformações urbanas, pelas pressões por
investimentos viários e, em consonância com as determinações federais
acerca da obrigatoriedade do PDDI, começou a ser elabo~acro em
Florianópolis, na segunda metade da década de 60, o Plano de
Desenvolvimento Integrado da Área Metropolitana de Florianõpolis,
depois também denominado Plano de Desenvolvimento Integrado da
Micro-Região de Ftorlanõpolls.
o .Plano de Desenvolvimento Integrado de Florianópolis, à
semelhança dos planos urbanos que vinham sendo desenvolvidos no
país neste pertodot=), apoiava-se na nova ordem política-econômica e
também propunha uma nova organização viária intra e interurbana, parte
da política de consolidação do transporte rodoviário e da indústria
automobilística no Brasil. Da mesma forma que o PUB de São Paulo, o
secundário e terciário. In OLIVEIRA, L. et alii, Indicadores Sociais paraÁreas Urbanas. R.J.: ISGE, 1977.
28 -Entreeleso.Plano'Doxiadis doRio de Janeiro (1965); o PlanoUrbanístico Base de São Paulo -PUS (1967-68) eo Plano Diretor deDesenvolvnnenro'tnteqradc de São Paulo-PDDI (1972).
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\ Este Plano, ainda que efetuasse estudos de desenvolvimento!I integrado de 21 municíP~os (29) localizados próximos à Capítal.. estava
\ vinculado à administração municipal de Florianópolis. O grupo que.
elaborou o Plano Integrado surgiu a partir da formação, em 1967, de um
organismo denominado Conselho de Engenharia, Arquitetura e
Urbanismo da Prefeitura Municipal de Florianópolis (CEAU). O Conselho,:~\~
criado pela Câmara Municipal, era composto por quatro membros, que
possuíam a atribuição de efetuar parecer sobre projetos emtramitação na
Câmara, que envolvessem reformulações no antigo Plano Diretor de
r I 1955. A administração municipal solicitou, posteriormente, a elaboração
I I de um !l0vo Plano Diretor a membrosdo CEAU, que iniciaram a
\ \ montagem da equipe de trabalho coordenada por um de seus membros,I ,
\ \o arquiteto Luís Felipe Gama Lobo D'Eça (30).
Plano de Desenvolvimento Integrado de Florianópolis constituiu-se na
base de orientação das principais intervenções urbanas efetuadas, nas
décadas seguintes, na capital catarinense. Baseando-se nas proposições
que estavam sendo elaboradas no Plano de Desenvolvimento Integrado,
foram definidas algumas ações do Governo Ivo Silveira (1966-71),,,assim
como as intervenções rodoviárias constantes do programa da Ação
Catarinense de Desenvolvimento, plano de governo de Colombo Salles
(1971-75) e de governos posteriores.
29 - Os municípios abrangidos pelo Plano de Desenvolvimento Integradosão: Florianópoüs, São José, Palhoça, Biguaçu, Santo Amaro daImperatriz, Águas Mornas, Garopaba, Paulo Lopes, São Bonifácio,Anitápolis, Rancho Queimado, Angelina, Antônio Canos, GovernadorCelso Ramos, Tijucas, Canelinha, São João Batista, Nova Trento, MajorGercino e Leoberto Leal. Estes municípios situam-se dentro de 'um raioaproximado de 65 km de distância de Florianópolis. .
30:.. As íntormações-sobre-ostatos que originaram o Plano, a-estruturação das.equípes.fodo processo de trabalho desenvolvido e osconflitos de interesses durante e depois da elaboração do Plano, foram
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Com a criação do SERFHAU (Serviço Federal de Habitação e
Urbanismo) e com o intuito de habilitar-se ao financiamento do plano
através do FIPLAN, foi necessário à equipe então formada organizar-se
nos padrões preconizados pelo SERFHAU. Constituíram então' o
Escritório Catarinense de Planejamento Integrado - ESPLAN, uma
entidade que, embora privada, funcionava no prédio da administração
. municipal. Todo trabalho inicial, de organização de equipes e estrutura de
pesquisas, foi orientado pelos técnicos do SERFHAU, segundo as
normas definidas pelo órgão. Foram formadas 4 equipes (Planejamento
Físico, Econômico, Social e Administrativo-Institucional), constituídas por
50 profissionais de nível universitário e 70 auxiliares técnico-
administrativos. Durante a organização inicial dos trabalhos,
desentendimentos com os técnicos do SERFHAU levaram ao rompimento
entre o SERFHAU e a Prefeitura de Florianópolis, determinando a não
concessão de empréstimos pelo FIPLAN. Este fato exigiu que os
trabalhos de elaboração do Plano fossem financiados pela administração
municipal.
A premissa básica do Plano de Desenvolvimento Integrado
apoiava-se na idéia de que o da região dedesenvolvimento
Florianópolis e e- do Estado de Santa Catarina só poderia ocorrer se
houvesse um esforço de integração e homogeneização das diversas
regiões do Estado. Este esforço iria "contribuir para o objetivo nacional
obtidas em entrevistas com o arquiteto Luís Felipe Gama D'Eça. Todasas demais informações obtidas sobre o Plano estão expressas nos 3volumes que compõem o estudo preliminar do "Plano deDesenvolvimentoedaÁreaMetropolitana de Florianópolis"(1967-71), nasdocumentações contidas nos 7 volumes de anexos (1969-71), no .~conjunto de plantas que compõem o Plano e nos 2 volumes sobre oestudocomplemeritâr'deste~Plano, o "Módulo Indutor - Setor OceânicoTurístico da Ilha de 'Santa Catarina"(1974}, todos elaborados peloESPLAN. .
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100
permanente da integração", em consonância com as determinações
ideológicas e políticas vigentes (31). Considerava ainda o Plano que cabia
a Florianópolis o papel de promover este processo de integração e
desenvolvimento.
e
o Plano de Desenvolvimento Integrado objetivava, portanto,
transformar Florianópolis num grande centro urbano. Propunha-se a criar
um "polo de desenvolvimento na área metropolitana' de Florianópolis( ...)
capaz de equilibrar a atração de São Paulo, de Curitiba e de Porto Alegre,
polarizando progressivamente o espaço catarinense e catalizando a
inteqrsçõo e o desenvolvimento harm6nico do Estado ..." (Plano, 1971 :5)
Para a vtabilizaçâo destes objetivos era necessário que houvesse
uma priorização de investimentos na região de Florianópolis, ou seja,
."uma concentração maciça de todos os recursos que o Estado pudesse
mobilizar" (Plano, 1971 :8). Os autores do Plano tinham consciência de
que esta priorização exigiria, como condição básica, um intenso trabalho
ideológico, onde pretendiam convencer a população catarinense de que,
sem este esforço, "estaria em risco a própria autonomia e integridade do
Estado"(32).
31 - Entre as epígrafes apresentadas no volume 1 do Plano deDesenvolvimento Integrado da Área Metropolitana de Florianópolis, háum trecho da "Doutrina difundida pela Escola Superior de Guerra" queevidencia o pensamento que norteou as diretrizes do Plano:"Uma das características do desenvolvimento é ahomogeneidade: asdisparidades regionais esetotieis, verticais ou horizontais não interessamao desenvolvimento. A homogeneidadeinteressa, também, à segurançanacional, porque atua no sentido de preservar ou ampliar as condiçõesde unidade e integração nacional." Apresenta ainda duas epígrafes, doex-presidente Emílio G. Médici e do coronel de reserva e arquiteto LF. daGama Lobo D'Eça.
32 - Entre as condições para consecução dos objetivos, o Plano definia anecessidade de.: '''Colaboração de todo o Estado no ingente esforço desalvação da autonomia catarinense, por um convencimento da população
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As intervenções viárias e as transformações do espaço urbano. A via de contorno norte-ilha - parte 4
As intervenções viárias e as transformações do espaço urbano. A via de contorno norte-ilha - parte 1